boletim osmsp 0 agosto 2009

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Boletim do Projeto Memória OSM-SP “É mais importante entender do que lembrar, embora para entender também seja preciso lembrar” - Susan Sontag Publicação Mensal - São Paulo - Agosto de 2009 - Edição Especial - Ano 1 REUNIÃO EM OSASCO COM MILITANTES DA GREVE DE 1968 APRESENTAÇÃO Como somos grande, nossa gestação é muito demorada. Depois de 2 anos (!) vem à luz nosso primeiro Boletim. Se não receber muito carinho e atenção, se não for amamentado, certamente vai entrar nas estatísticas brasileiras de morte prematura. E quem precisa amamentar e cuidar deste recém-nascido é você leitor, você leitora, lutadores do pas- sado, construtores do presente e ainda sonhadores do futuro. O objetivo deste Boletim é dar notícias de como anda o Projeto, as dificuldades que temos, os avanços que consegui- mos. Contamos com a colaboração, a crítica e as sugestões de todos aqueles que militaram na Oposição, que conheceram a Oposição, que amaram a Oposição, e também dos que odiaram a Oposição. Venham todos, que o Nenê precisa mamar ! Cortejo de 30.000 pessoas em 1979 pelo assassinato de Santo Dias A OSM, da mesma forma que o Marxismo, também teve várias fontes na sua origem. Uma das fontes da Oposição foi o sindicalismo de origem católica. Vivendo as contradições de uma prática européia cristã de criar Sindicatos, Centrais Sindicais e Partidos confessionais, os militantes operários católicos no Brasil optaram por outro caminho: atuar nas entidades existentes, levar seus valores, princípios e propostas para a classe operária onde ela estivesse, independentemente de orientações religiosas. A atuação de João Batista Cândido, militante da Juventude Operária Católica (JOC) nos anos 40 e 50, criador da Comissão de Fábrica (CF) da Cobrasma em 1963, é uma referência para a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Cândido deu uma entrevista para seu filho João Carlos em 1998, e fez seu depoimento para o Projeto Memória em 2009. Nessas duas ocasiões, a questão central colocada por ele foi o trabalho de organização que desenvolveu na Cobrasma, e que culminou com a greve de 1968. Nesta ocasião, Cândido era Secretário Geral dos Metalúrgicos de Osasco e continuava como trabalhador na fábrica. Como o Cândido fez algumas colocações polêmicas sobre esse acontecimento, o Projeto Memória reuniu vários companheiros de Osasco que participaram ativamente desse processo. Foi na casa de José Groff (presidente da CF), com a presença de Cândido, João Joaquim (vice-presidente do Sindicato), Tigrão (1º Secretário do Sindicato), Albertino (advogado do Sindicato), Luiz, Amaro, Paulo (filho de Cândido), Marlene (esposa de Groff), Geraldo (da CF da Asama nos anos 80) e o pessoal da coordenação do Projeto Memória. Durante mais de três, horas tivemos o privilégio de ouvir depoimentos apaixonantes e comoventes de trabalhadores envolvidos numa luta desigual, precisando tomar decisões sob a ameaça da cavalaria, das armas e da violência da Tropa de Choque. As principais questões levantadas e discutidas foram: - A greve foi precipitada ou não? - Qual o papel dos grupos políticos no processo? - A greve foi um avanço ou um retrocesso para os trabalhadores? - É possível ter havido uma vitória política e uma derrota operária? É impossível colocar num Boletim a riqueza dos debates que essas questões provocaram. Mas toda a reunião foi gravada e filmada. Esperamos ter em breve esse material para o conhecimento de todos. Groff, Albertino, Cândido. Tigrão, Joao Joaquim, Waldemar Rossi Foto: Projeto Memória - Munir O PROJETO MEMÓRIA DA OSM-SP Foi lançado publicamente, em novembro de 2007, por iniciativa de ex- militantes da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP). O objetivo central deste projeto é recuperar a história da OSM sob o ponto de vista dos trabalhadores e torná-la disponível às gerações atuais e futuras. É uma história que teve início na década de 1960 e se estendeu até início dos anos 90. Na década de 1980 a OSM-SP passou a se chamar MOSM/SP (Movimento de Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo). As principais ações do projeto são: o ARQUIVO DA OSM-SP, a MEMÓRIA ORAL, a CRIAÇÃO DE PROJETOS para revisitar e divulgar a história do OSM-SP e a COMUNICAÇÃO. Lançamento do Projeto Memória - nov. 2007 Foto: Projeto Memória - Munir ACONTECE NO MEMÓRIA

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“É mais importante entender do que lembrar, embora para entender também seja preciso lembrar” - Susan Sontag É impossível colocar num Boletim a riqueza dos debates que essas questões provocaram. Mas toda a reunião foi gravada e filmada. Esperamos ter em breve esse material para o conhecimento de todos. desigual, precisando tomar decisões sob a ameaça da cavalaria, das armas e da violência da Tropa de Choque. Lançamento do Pr ojeto Memória - nov. 2007

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Page 1: Boletim OSMSP 0 agosto 2009

Boletim do Projeto Memória OSM-SP“É mais importante entender do que lembrar, embora para entender também seja preciso lembrar” - Susan Sontag

Publicação Mensal - São Paulo - Agosto de 2009 - Edição Especial - Ano 1

REUNIÃO EM OSASCO COM MILITANTES DA GREVE DE 1968

APRESENTAÇÃOComo somos grande, nossa gestação é muito demorada. Depois de 2 anos (!) vem à luz nosso primeiro Boletim.Se não receber muito carinho e atenção, se não for amamentado, certamente vai entrar nas estatísticas brasileiras de morte prematura. E quem precisa amamentar e cuidar deste recém-nascido é você leitor, você leitora, lutadores do pas-sado, construtores do presente e ainda sonhadores do futuro.O objetivo deste Boletim é dar notícias de como anda o Projeto, as dificuldades que temos, os avanços que consegui-mos. Contamos com a colaboração, a crítica e as sugestões de todos aqueles que militaram na Oposição, que conheceram a Oposição, que amaram a Oposição, e também dos que odiaram a Oposição.Venham todos, que o Nenê precisa mamar !

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A OSM, da mesma forma que o Marxismo, também teve várias fontes na sua origem.Uma das fontes da Oposição foi o sindicalismo de origem católica. Vivendo as contradições de uma prática européia cristã de criar Sindicatos, Centrais Sindicais e Partidos confessionais, os militantes operários católicos no Brasil optaram por outro caminho: atuar nas entidades existentes, levar seus valores, princípios e propostas para a classe operária onde ela estivesse, independentemente de orientações religiosas.A atuação de João Batista Cândido, militante da Juventude Operária Católica (JOC) nos anos 40 e 50, criador da Comissão de Fábrica (CF) da Cobrasma em 1963, é uma referência para a Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.Cândido deu uma entrevista para seu filho João Carlos em 1998, e fez seu depoimento para o Projeto Memória em 2009. Nessas duas ocasiões, a questão central colocada por ele foi o trabalho de organização que desenvolveu na Cobrasma, e que culminou com a greve de 1968. Nesta ocasião, Cândido era Secretário Geral dos Metalúrgicos de Osasco e continuava como trabalhador na fábrica.Como o Cândido fez algumas colocações polêmicas sobre esse acontecimento, o Projeto Memória reuniu vários companheiros de Osasco que participaram ativamente desse processo. Foi na casa de José Groff (presidente da CF), com a presença de Cândido, João Joaquim (vice-presidente do Sindicato), Tigrão (1º Secretário do Sindicato), Albertino (advogado do Sindicato), Luiz, Amaro, Paulo (filho de Cândido), Marlene (esposa de Groff), Geraldo (da CF da Asama nos anos 80) e o pessoal da coordenação do Projeto Memória.Durante mais de três, horas tivemos o privilégio de ouvir depoimentos apaixonantes e comoventes de trabalhadores envolvidos numa luta

desigual, precisando tomar decisões sob a ameaça da cavalaria, das armas e da violência da Tropa de Choque.

As principais questões levantadas e discutidas foram:

- A greve foi precipitada ou não?- Qual o papel dos grupos políticos no processo?- A greve foi um avanço ou um retrocesso para os trabalhadores?- É possível ter havido uma vitória política e uma derrota operária?

É impossível colocar num Boletim a riqueza dos debates que essas questões provocaram. Mas toda a reunião foi gravada e filmada. Esperamos ter em breve esse material para o conhecimento de todos.

Grof f, Albertino, Cândido. Tigrão, Joao Joaquim, Waldemar Rossi

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O PROJETO MEMÓRIA DA OSM-SP

Foi lançado publicamente, em novembro de 2007, por iniciativa de ex-militantes da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (OSM-SP). O objetivo central deste projeto é recuperar a história da OSM sob o ponto de vista dos trabalhadores e torná-la disponível às gerações atuais e futuras. É uma história que teve início na década de 1960 e se estendeu até início dos anos 90. Na década de 1980 a OSM-SP passou

a se chamar MOSM/SP (Movimento de Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo).As principais ações do projeto são: o ARQUIVO DA OSM-SP, a MEMÓRIA ORAL, a CRIAÇÃO DE PROJETOS para revisitar e divulgar a história do OSM-SP e a COMUNICAÇÃO.Lançamen to do Pr o j e t o Memór ia - nov. 2007

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ACONTECE NO MEMÓRIA

Page 2: Boletim OSMSP 0 agosto 2009

PROJETO MEMÓRIAS REVELADAS Nos dias 30 e 31 de julho, duas representantes do Projeto Memória da OSM-SP participaram do treinamento para alimentação do banco de dados cooperativo do Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985): MEMÓRIAS REVELADAS, realizado por intermédio do Arquivo Nacional, do Arquivo Público do Estado de São Paulo, do Centro de Documentação e Informação Científica da PUC-SP e do Centro de Documentos e Memória da UNESP. Participaram do treinamento 14 instituições arquivísticas e de preservação da memória de todo o Brasil. Este portal é um importante passo na divulgação e confluência dos arquivos da ditadura, tanto os públicos como os privados.O Projeto Memória da OSM-SP, através do IIEP (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas), é membro desta rede de informações.

DIGITALIZAÇÃO DO ACERVO TEXTUALNuma colaboração entre Projeto Memória da OSM-SP e CPV (Centro de Pesquisa Vergueiro), está em processo a digitalização do acervo textual da OSM-SP. As ações realizadas foram:Em 2007 e 2008 selecionamos 580 imagens das Eleições Sindicais – OSM-SP (1972,1978,1981,1984,1987,1990) digitalizamos e indexamos pela tecnologia docpro e produzido um CD piloto;Em 2009, através do trabalho voluntário de Valdo Ruviaro,

Yara e Geraldo foram desmetalizadas e digitalizadas toda a documentação das Comissões de Fábrica da OSM-SP, taotalizando 3.570 imagens e produzido CD piloto da Comissão da Asama e das Comissões da zona sul;No momento, há um esforço para a digitalização do restante da documentação sobre as Eleições Sindicais, Greves e Campanhas Salariais. A previsão até o final de 2009 é a digitalização de 12.000 imagens.

Para mais informações acesse o portal: www.memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br

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NÓS ESTÁVAMOS LÁ...

MULHERES QUE FIZERAM A HISTÓRIA DA OPOSIÇÃO SINDICAL METALÚRGICA

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: OSM

/SP

Mulheres no Seminário de Formação Política da MOSM-SP (1987). Da esq. p/dir.: ?, Zéza,?, Anaí, Angela (sul), Lucinha, Angela (leste) e Carmem

As mulheres sempre estiveram presentes na luta dos trabalhadores por melhores condições de vida e trabalho. Na Oposição Metalúrgica de SP não foi diferente. Num ambiente preferencialmente masculino e muitas vezes machista, as mulheres defenderam desde o pão, a creche para o filho, a soltura do marido que foi preso, a refeição na fábrica, até um projeto de sociedade socialista. Estavam lá e estão até hoje na luta por uma vida mais digna.

Você pode nos ajudar. Para registrar os momentos vividos nesta trajetória precisamos identificar as fotos do arquivo da OSM. Enviem um e-mail ou um sinal de fumaça, se participou deste evento. As perguntas chaves que devemos fazer para a foto são: Que situação é essa? Onde foi? Quando foi? Quem está na foto? Responder estas simples perguntas depende de você, sujeito desta história, guardião desta memória. Se você, trabalhador, não abrir este baú e contar suas histórias, quem o fará?

Arq

uivo

: OSM

/SP RESGATANDO A MEMÓRIA

Page 3: Boletim OSMSP 0 agosto 2009

E POR FALAR EM...

Se você quer conhecer um pouco mais do Brasil, não precisa ler textos chatos e enormes de Sociologia ou História. Leia dois pequenos contos de Machado de Assis:

- “A Sereníssima República”, uma gozação da reforma política que Liberais e Conservadores queriam fazer na época de D.Pedro II. A propósito, esse tema de reforma política está sendo discutido no Congresso, e com o mesmo objetivo do tempo de Machado de Assis: “vamos mudar bastante prá deixar tudo do mesmo jeito que está!”

- “Teoria do Medalhão” nos ajuda a entender os princípios e os valores que formavam o caráter dos nossos bacharéis do século 19. E continuam sendo os mesmos que formam nossos políticos e nossas elites dominantes.

Expediente Projeto Memória OSM-SPwww.iiep.org.br/index1.htmlTel: (11) 3362-1513 / (11) 7110-2474

LANÇAMENTONo dia 15 de julho, na APEOESP, foi lançado o livro dos companheiros Waldemar Rossi e William Gerab, editado pela Expressão Popular, “Para entender o sindicalismo brasileiro: uma visão classista”.

Livros:

Filmes:

Assista dois, que retratam a brutalidade nazista (na Polônia, 2ª guerra) e a opressão stalinista (na Alemanha Oriental, anos 70 e 80). Mostram também como a arte (a música e o teatro, no caso) pode mudar a cabeça das pessoas e até salvar vidas:

“O Pianista” de Roman Polanski: O pianista polonês Wladyslaw Szpilman (Adrien Brody) interpretava peças clássicas m uma rádio de Varsóvia quando as primeiras bombas caíram sobre a cidade, em 1939. Com a invasão alemã e o início da 2ª Guerra Mundial, começaram também restrições aos judeus poloneses pelos nazistas. Wladyslaw é o único que consegue fugir de sua família e é obrigado a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesadelo da guerra acabe.

“A Vida dos Outros” de Florian Henckel von DonnersmarckO personagem Anton Grubitz (Ulrich Tukur), recebe a tarefa do ministro de seu pais, a Alemanha Oriental do meio do

século XX, de investigar a vida de um famoso dramaturgo, que estaria na mira da polícia especial do país. Uma rede de chantagens e investigação entre os envolvidos, fará eclodir um conjunto de percepções e sensibilidades em Anton, que terá de decidir sobre suas prioridades, e rever suas posições.

Já está à venda, por apenas R$ 13,00. Todos devem ler.Durante o evento, Elias Stein levantou algumas questões que o livro coloca, e algumas outras que o livro não coloca, e pediu aos companheiros e companheiras da Oposição que entrem nesse debate.

E-mail: [email protected]: Acervo Projeto Memória / MunirProjeto Gráfico: Cesar Habert Paciornik