bourdieu e a comunicação
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10 anos da morte de Pierre Bourdieu. Estes slides fazem parte do seminário que apresentei na pós-graduação da Cásper Líbero baseado no meu livro: "Pierre Bourdieu: questões de sociologia e comunicação". Compartilho com vocês e aproveito para fazer um pequeno "esboço de homenagem"TRANSCRIPT
Seminário “Pierre Bourdieu: Questões de
Sociologia e Comunicação”
Liráucio Girardi JúniorFaculdade Cásper LíberoCIP / Pós-graduação2 e 3 de Junho de 2008
Bacharel em Ciências Sociais (UNICAMP) Mestre em Ciência Política (UNICAMP) Doutor em Sociologia (USP)
Professor da disciplina
“Sociologia Geral e da Comunicação” Faculdade Casper Líbero Universidade IMES – S.C. do Sul
Pesquisador - Faculdade Casper Líbero Comunicação, Tecnologia e Política
(Linha de Pesquisa 1 - C.I.P) Comunicação, Tecnologia e Cultura de Rede
(Grupo de Pesquisa C.I.P. – Pós-graduação)
Prof. Liráucio Girardi Júnior
Algumas breves informações sobre Bourdieu.Ver, de sua autoria, Esboço de auto-análise . Nasceu em Denguin (sul da França) em 1930 – Faleceu em
25/01/2002 Foi aluno da École Normale Superieure Professor na Argélia (período da guerra de independência), período
em que estudou a vida dos kabyla (Esquisse d’une theorie da la pratique)
Diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales – VIe em 1964
Fundou em 1975 a Revista Actes de la Recherche en Sciences Sociales, resgatando uma proposta de intelectual coletivo presente em Durkheim (L’Année Sociologique)
Assume a cadeira de Sociologia no Collège de France em 1981 Em sua trajetória intelectual desloca-se da Filosofia para a
Etnologia e da Etnologia para a Sociologia
Uma proposta de trabalho
Propõe o esboço de uma teoria da prática Procura demonstrar as diferenças entre a lógica da
lógica e a lógica da prática Procura explicar e compreender processos de
“objetivação” do mundo social Procura os fundamentos de uma Economia das trocas
simbólicas
"Aquilo que se sabe quando ninguém nos interroga, mas que não se sabe mais quando devemos explicar, é algo sobre o que se deve refletir.(E evidentemente algo sobre o que, por alguma razão, dificilmente se reflete)."
(Wittgenstein, Investigações filosóficas)
O SENSO PRÁTICO
“A preocupação básica do presente trabalho é com a fundamentação de uma estratégia de análise sociológica das relações entre sistemas simbólicos e sistemas sociais, aplicável a uma modalidade historicamente específica de sua manifestação: qual seja, a sociedade contemporânea altamente complexa e industrializada, em que a produção e o consumo em grande escala se estendem até sua dimensão cultural.”
(Gabriel Cohn, Sociologia da Comunicação, 1973 p.13)
Gabriel Cohn: a homenagem a um pioneiro na sociologia da comunicação
Apresentação Entrecampos”: Comunicação, Economia e
Sociedade
As particularidades da produção simbólica
Economia e Sociedade
As propriedades dos campos
Bourdieu e a Sociologia A sociologia identifica leis tendenciais (objetivações),
isto é, a lógica característica de um certo jogo num certo momento.
Essa lógica que “joga a favor daqueles que, dominando o jogo, estão em condições de definir de fato ou de direito as suas regras”.
Ao enunciar estas leis, elas podem “ se tornar objeto de luta: luta para conservar, conservando as condições de funcionamento da lei; luta para transformar, modificando essas condições”. (Bourdieu, Questões de Sociologia p. 37).
Uma visão construtivista Bourdieu, de algum modo, enquadra-se em uma
perspectiva construtivista, que supõe sempre em suas análises um processo de desconstrução dos “objetos” que estuda.(ver a noção de objetivação em Bourdieu)
“Dizer que uma casa está ‘construída’ significa simplesmente dizer que ela é o resultado de um trabalho humano e que ela não esteve ali toda a eternidade, e não que ela não exista, bem ao contrário.”(Philippe Corcuff. Novas sociologias, 2001)
MARCEL MAUSS
Esboço de uma teoria da magia
MAX WEBER
Categorias econômicas deslocadas para a análise das religiões
HOWARD S. BECKER
O ambiente organizacional/gêneros : processos de seleção, tradução, arranjo e interpretação
PIERRE BOURDIEU
A noção de campo e a de Illusio
Uma Economia das Trocas Simbólicas
Essa economia dos bens simbólicos se apresenta, como toda economia, sob a forma de um sistema de probabilidades objetivas de lucro (positivo ou negativo) ou, para falar como Marcel Mauss, de um conjunto de expectativas coletivas com as quais se pode e se deve contar.
(Bourdieu,Marginália p. 9)
Mauss“Em semelhantes casos, o mágico não pode ser concebido como um indivíduo que age por interesse, a seu favor e por seus próprios meios, mas como uma espécie de funcionário investido, pela sociedade, de uma autoridade na qual ele próprio é obrigado a crer”
“De fato, vimos que o mágico era designado pela sociedade(...) Ele tem naturalmente o espírito de sua função, a gravidade de um magistrado; é sério porque é levado a sério, e é levado a sério, porque se tem necessidade dele.” (Mauss, Sociologia e Antropologia p.131).
Propriedades dos campos (Bourdieu)
O campo é uma rede de posições, um espaço de lutas em torno de certos objetos, práticas, representações, interesses etc. (envolve estratégias, hegemonia, subversões, alianças, efeito de envelhecimento no campo)
Tem uma história (comparar com os estudos sobre a “genealogia do poder” em Foucault)
Produz e reconhece um discurso capaz de classificar certas ordens de objetos, certos modos de visão, de agir, de pensar, de viver (ver as teorias da enunciação de Foucault e Bakhtin)
Propriedades dos campos (Bourdieu)
Valoriza certos tipos de capitais e deve contar com o aproveitamente ou desenvolvimento de certas disposições (exige o desenvolvimento de um habitus e uma Illusio)
Um espaço relativamente autônomo que produz um encantamento (Illusio) muito particular naqueles que participam da sua construção (comparar com a noção de “mundo” de Howard Becker)
Produz e reconhece certas práticas, objetos e ritos de consagração próprios.
Regras da Arte Deve-se tomar cuidado com a imagem do autor como um “criador”
É preciso analisar “tudo que se acha inscrito na posição do autor no seio do campo de produção e na trajetória social que ali o conduziu”
É preciso reconstruir “...a gênese e a estrutura do espaço social inteiramente específico no qual o ‘criador’ está inserido, e constituído como tal, e onde seu próprio ‘projeto criador’ se formou”
Observar as “disposições, a uma só vez genéricas e específicas, comuns e singulares, que ele introduziu nessa posição. (Bourdieu, Regras da Arte p.219)
Ver Esboço de auto-análise e o risco do “narcisismo por procuração”
Regras da Arte
Compreender-se-iam melhor as hesitações, os arrependimentos, as voltas se se soubesse que a escrita, navegação arriscada em um universo de ameaças e de perigos, é também guiada, em sua dimensão negativa, por um conhecimento antecipado da recepção provável, inscrita em estado de potencialidade no campo.(...)
Regras da Arte
Consciente de que nenhuma obra cultural existe por si mesma, isto é, fora das relações de interdependência que a unem a outras obras, ele propõe chamar “campo de possibilidades estratégicas” o “sistema regrado de diferenças e de dispersões” no interior do qual cada obra singular se define.
(Bourdieu. Regras da Arte p.225)
Howard S. Becker
Termos abstratos como “filme”, “tabela estatística” são somente versões reduzidas para expressões como “tabelas-feitas-para-o-Censo” ou “grande-orçamento-para-filmes-tipo-Hollywood”. (...)
As representações produzidas em ambientes organizacionais desenvolvem certos processos legítimos de seleção, tradução, arranjo e interpretação(Becker. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais)
Howard S. Becker
A forma e o conteúdo de representações variam porque a organização social molda não somente o que é feito, mas também o que as pessoas querem que as representações façam (...) e que padrões usarão para julgá-las.”
(Becker. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais)
Bakhtin e os gêneros
Ambientes organizacionais (esferas de comunicação) produzem representações na forma de gêneros do discurso de acordo com seu conteúdo temático, seu estilo verbal (recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais) e sua construção composicional (tipos de estruturação e de conclusão, tipo de relação com o interlocutor etc.).
Bakhtin
“Quando escolhemos um determinado tipo de oração, não escolhemos somente uma determinada oração em função do que queremos expressar com a ajuda dessa oração, selecionamos um tipo de oração em função do todo do enunciado completo que se apresente à nossa imaginação verbal e determina nossa opção.”
A idéia que temos da forma do nosso enunciado, isto é, de um gênero preciso do discurso, dirige-nos em nosso processo discursivo”
(Bakhtin, Estética da Criação Verbal, 2000 )
Parte I
A construção social de um objeto: a gênese de um “problema” sociológico
Capítulo 1
A comunicação mediada e o mundo moderno Cultura e Civilização
Adorno, o mundo moderno e a indústria cultural
Teorias Sociais / Teorias da Comunicação
A comunicação mediada e o espaço privado
Público x Multidão x Massa (Gabriel Tarde/Gustave Le Bon)
Ambivalência da experiência moderna (individualização/massificação)
Sentido negativo: gosto, consumo, opinião p. 45
Sentido positivo: trabalho, organizações, movimentos p. 45
O CAMPO SEMÂNTICO
A tecnologia e as condições sociais da experiência moderna p. 49/54
A razão instrumental/sociedade administrada (A superorganização e uma caótica desarticulação)
1938 - Projeto na Universidade Colúmbia com Paul Lazarsfeld no Princeton Radio Research que se tornará o poderoso Bureau of Social Applied Research em 1940 com apoio da Rockfeller Foundation e contava com Frank Stanton e Hadley Cantrill
O choque com a pesquisa administrativa
Theodor W. Adorno
John Peters/ James Beniger
A questão do corpo, questão da individualização /expansão do corpo político (homens vazios, alienação, anomia, apatia)
Novas experiências com o erotismo e reconstrução do corpo político
A Revolução do controle (p. 59/60) Reestruturação dos mecanismos de controle
sobre a comunicação e a informação/ aparecimento das “feedback technologies”
Formação do Centro de Estudos Culturais Contemporâneos (com R. Hoggart e E.P. Thompson)
Editor da New Left Review
A tecnologia e sua forma cultural
Crítica à noção de massa (massa são os outros). Noção de comunicação muito próxima daquela proposta por Paulo Freire
Construção de uma experiência de privatização móvel ou mobilidade privada
Processo de implantação de tecnologias públicas/ “redes” e “protocolos” analógicos
RAYMOND WILLIAMS
O lugar dos media
“A nova tecnologia de ‘consumo’ que alcançou seu estágio decisivo nos anos 20 serviu a este complexo de necessidades dentro de certos limites e pressões. Houve melhorias imediatas nas condições e eficiência do lar privatizado; houve novas facilidades no transporte privado, entregas em domicílio; e então, com o rádio, houve uma facilidade para um novo tipo de inputs sociais: notícias e entretenimento trazidos para o interior do lar.” (Williams. Technology and cultural Form 1990)
Massa são os outros/ Ambivalência “Para se engajar no trabalho de massa, para pertencer
às organizações de massa, para se valer de encontros de massa e movimentos de massa para viver completamente a serviço das massas: estas expressões são de uma tradição revolucionária.”
“Mas, para estudar o gosto das massas, o uso dos mass media, o controle do consumo de massa, para se envolver na observação de massa, para compreender a psicologia das massas ou a opinião das massas: estas expressões são de uma tendência política e social oposta.” (Williams. Cultura e Sociedade 1988)
Capítulo 2
O “lugar” da comunicação na Sociologia
A retomada de um problema sociológicoA moderna tradição sociológica
O surgimento do campo da comunicação: a sociologia estigmatizada/ ausência de estudos de comunicação na formação de sociólogos
Qual é o “lugar” da sociologia nos estudos de comunicação e o lugar da “comunicação” nos estudos sociológicos?
A comunicação é uma instituição entre outras em uma sociedade (como a família, a escola, aos valores morais etc.) ou ela é a condição para a existência das instituições?
“A tradição da cultura popular e da cultura brasileira constitui uma tradição entre nós. Com isso quero dizer que ela manifesta um traço constante, eu diria constituinte, de um itinerário intelectual coletivo. (...)Em contrapartida, há um relativo silêncio sobre a existência de uma ‘cultura de massa’, assim como sobre o relacionamento entre produção cultural e mercado.”
(Renato Ortiz, A moderna tradição brasileira)
Capítulo 3
A escola de Chicago e a Communication Research - duas tradições?Robert Park: a comunicação e a cidadeBlumer e o internacionalismo simbólicoOs estudos sobre propagandaO significado histórico da Communication
Research
O interacionismo simbólico A produção social do sentido (Mead/Blumer): as três
premissas, o outro generalizado, os objetos e o universo social
A cidade, a comunidade e a comunicação A Pragmática e o papel do “engenheiro social” Os riscos do trabalho interdisciplinar (Goffman) A etnografia e o mito chamado “Escola de Chicago” Robert Park, o jornalismo e a sociologia
Escola de Chicago
A Communication Research
O projeto de Wilbur Schramm Um condomínio intelectual e administrativo A busca dos pais fundadores A questão da comunicação “de massa” (e os
funcionalistas) O mito da interdisciplinaridade Expansão e fragmentação: ruptura e continuidades
Depoimento de Rogers& Chaffee (pioneiros nas pesquisadores no campo da comunicação)
“ Olhando para trás, percebe-se que 1959 foi realmente um momento de transição no modo como a pesquisa em comunicação se move dos departamentos de sociologia, psicologia e ciência política para institutos especializados, como os de Lazarsfeld ou independentes.”
(Journal of Communication – Ferment in Field)
A crítica de John Peters
“Não há linhas teóricas para definir o campo. Porque o único princípio de organização conceitual que realmente funciona no campo é administrativo, cada departamento contribui com suas próprias definições” (...)
A metáfora do campo como um condomínio intelectual/administrativo ou um Estado Nação
(John D.Peters, The institutional sources of intellectual poverty in Communication Research p.539)
OS PRODUTORES MIDIÁTICOS
Preocupação com os corpos ausentes As novas tecnologias: a política e o erotismo O reestabelecimento do contato com o receptor/ a
construção de um novo tipo de contato Em busca dos corpos e da atenção perdidos (os
estudos de audiência, a construção de novos gêneros midiáticos)
Capítulo 4
Ritos de instituição e instâncias de legitimaçãoA construção social do broadcastingA indústria cultural e suas instâncias de
legitimaçãoO negócio da audiênciaA audiência como construção discursivaPara que servem as pesquisas de audiência?
Quadro 4 RITOS DE INSTITUIÇÃO
O rádio e a televisão conquistam o seu lugar no lar – a construção de um ambiente de recepção
A construção do ato de “ouvir rádio” e “ver TV” (a integração da televisão às práticas cotidianas
Uma ecologia midiática em curso A racionalização da grade de horários/técnicas e
tecnologias de controle ( a busca de um consenso sobre o significado das novas experiências midiáticas)
Uma pedagogia dos novos meios (Revistas do Rádio, Vida doméstica, Revistas de Celebridades)
A pesquisa de audiência (a associação entre a pesquisa acadêmica e a pesquisa comercial aplicada – surge a “pesquisa administrativa”. A audiência como ficção bem fundamentada.
Uma negociação entre produtores, anunciantes e acadêmicos/institutos de pesquisa na construção das variáveis que caracterizam um receptor (Becker)
Institutos de pesquisa, tecnologia e mudanças sociais/culturais
O sentido social das múltiplas formas de fruição mediadas.
Instâncias de Legitimação
Parte II
Bourdieu: A Economia das trocas simbólicas, as teorias da comunicação e o consumo cultural
Capítulo 5
As trocas midiáticas O poder simbólico, o porta-voz e a Esfera PúblicaAs teorias em ato e as “intervenções” no campo
da comunicaçãoSobre a Televisão e os estudos de newsmakingValores-notícia: os óculos especiais dos
jornalistasO poder mágico da Illusio
A fixação da Agenda
Na sua sempre anunciada pretensão de transparência do social e de todos os seus campos, emergidos na modernidade clássica ou tardia, os media expõem seu próprio cerne, em seu aspecto mais essencial: o ato de publicizar. Dom de tornar as coisas comuns, compartilhadas, públicas. (...)
Publicizar ou não, eis então um dos momentos onde se instaura uma relação de poder: um dos poderes dos media para além das mensagens. (Rubim. Dos poderes dos media, 1994)
A esfera pública
Aparecem, para Habermas, várias arenas que se sobrepõem, que podem ser divididas segundo “especificações funcionais”, “focos temáticos”, “campos de políticas” etc.
Elas podem ser classificadas, ainda, em diferentes níveis de complexidade, que envolvem a maior ou menor “densidade da comunicação”, diante da complexidade das ações de representação na esfera pública.
A Esfera Pública A Esfera Pública constrói-se, desta forma, pela ação
mediada das estruturas de comunicação e pela luta simbólica dos movimentos sociais e seus porta-vozes, criando um ponto de encontro entre as formas de integração sócio-política e as formas de integração comunicativa.
Nela, os movimentos sociais, os agentes do mundo da vida, funcionam como sensores não especializados desse mundo, capazes de detectar e apresentar problemas, tematizá-los, apresentar solucões ou dramatizá-los, transformando-os em “objeto legítimo” da discussão parlamentar e do debate público.
Esfera Pública
Os meios de comunicação - com sua organização administrativa e seu corpo de profissionais da notícia, com seu próprio capital simbólico (“credibilidade”) - produzem também todo um espectro discursivo (de palavras de ordem, metáforas etc., ) signos capazes de representar e “enquandrar” esses movimentos sociais, criar frames e interferir, de algum modo, na sua representação perante os agentes do campo político.
O poder simbólico
O poder simbólico é o “ ...poder de constituir o dado pela enunciação, de fazer ver e fazer crer, de confirmar ou de transformar a visão do mundo e, deste modo, a ação sobre o mundo, portanto, o mundo”
“poder quase mágico que permite obter o equivalente que é obtido pela força (física ou econômica), graças ao efeito específico de mobilização, só se exerce se for reconhecido, quer dizer, ignorado como arbitrário.” (Bourdieu. O poder simbólico, 1989 p. 14-15)
O poder simbólico
“O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem, poder de manter a ordem ou de a subverter, é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia, crença cuja produção não é da competência das palavras”
Bourdieu. O poder simbólico, 1989
O porta-voz
“A política é o lugar, por excelência, da eficácia simbólica, ação que se exerce por sinais capazes de produzir coisas sociais e, sobretudo, grupos.”
“O porta-voz é aquele que, ao falar de um grupo, ao falar em lugar de um grupo, põe, sub-repticiamente, a existência do grupo em questão, institui este grupo, pela operação de magia que é inerente a todo o ato de nomeação.”(Bourdieu. O poder simbólico)
A magia da representação
“...capazes de fazer falar a “classe operária” – e de uma só voz -, de a evocar, como se evocam os espíritos, de a invocar, de a exibir simbolicamente através da manifestação, espécie de aparato teatral da classe em representação, com o corpo dos representantes permanentes e toda a simbólica constitutiva da sua existência – siglas, emblemas, insígnias”
Bourdieu. O poder simbólico
O porta-voz e o capital simbólico
Porta-vozes dessa força simbólica mobilizadora, as lideranças produzem pontes discursivas com seus possíveis aliados no campo de forças político, identificam seus inimigos, conduzem negociações.
Essas negociações marcam a sua aparição física e discursiva (simbólica) – como parte da história das lutas anteriores do movimento – portadoras de uma espécie de capital simbólico, acumulado nas lutas passadas junto ao grupo.(Sua voz deixa de ser percebida como “ruído” no campo político)
Sobre a televisão(ou Bourdieu precisa de ajuda aqui) “Tudo o que digo aqui teria de ser precisado e
verificado: é a uma só vez um balanço baseado em certo número de pesquisas e um programa.”
“São coisas muito complicadas, em que apenas se pode
fazer avançar realmente o conhecimento por um trabalho empírico muito importante”
“Arrêt sur images”, La Cinquième, 23 janvier 1996 et 1 3 mars 1996.
(Bourdieu, Sobre a televisão p. 72)
A velocidade da produção, a expectativa quanto aos índices de audiência, interfere diretamente na produção de um pensamento crítico, impedindo que se diga algo realmente sério na televisão.
O mais grave, o que aparece como realmente perigoso nesse processo, não é que ele ocorra na televisão, mas que a lógica da televisão passe a imperar, paulatinamente, no funcionamento dos demais campos da esfera cultural, impondo a eles suas instâncias de legitimação, seus próprios critérios de legitimidade e ritmos de produção.
É importante realçar que esses agentes, no campo jornalístico, produzem e reproduzem um campo de jogo, um jogo que se encontra historicamente formado, reconhecido ou em luta para se fazer reconhecido.
É um campo de forças, um espaço de lutas por posições, um espaço de tomadas de posição, um campo para o exercício da práxis jornalística.
Valores-notícia os óculos especiais dos jornalistas
A noticiabilidade é constituída pelo conjunto de requisitos que se exigem dos acontecimentos - do ponto de vista da estrutura do trabalho nos órgãos de informação e do ponto de vista do profissionalismo dos jornalistas - para adquirirem a existência pública de notícias.(Mauro Wolf. Teorias da Comunicação)
“A criação de notícias é sempre uma interação de repórter, diretor, editor, constrangimentos da organização da sala de redação, necessidade de manter os laços com as fontes, os desejos da audiência, as poderosas convenções culturais e literárias dentro das quais os jornalistas freqüentemente operam sem as pensar.”
(Schudson. Por que as notícias são como são? 1988 )
A doxa (o “problema social” não é o mesmo que um “problema” sociológico)
Para Bourdieu, pensar no formato é pensar por idéias pré-formadas, por idéias feitas, lugares-comuns.
O pensamento, que procura escapar dos “problemas” formulados pela doxa jornalística, precisa desenvolver uma cadeia de razões e, para isso, necessita de tempo.
Muitas vezes, deve-se usar esse tempo para reformular as próprias perguntas propostas para o debate.
Valores-notícia
Um caso “extraordinário” é, sem dúvida, a matéria-prima do jornalismo.
Valores-notícia relacionados às noções de importância e interesse estão geralmente associados: ao nível sócio-econômico das pessoas ou a
dimensão das corporações envolvidas nos acontecimentos;
à sensação de proximidade geográfica ou cultural que o acontecimento produz (causando identificação);
ao número de pessoas envolvidas; à possibilidade de se explorar o evento durante
diversas edições; à capacidade de entretenimento; ao interesse humano das histórias e dramas
cotidianos; à existência de fatos insólitos presentes no
acontecimento; às inversões de papéis (estas duas últimas, marcas
do fait-divers) etc.
A atualidade é uma relação com o tempo bastante destacada na prática jornalística.
Ela sofre variações na televisão, no rádio, no jornal, na internet (o único lugar em que um jornal poderia se chamar Último Segundo) e se manifesta na competição por furos, expectativas de publicação de matérias pelos concorrentes etc
Illusio e senso prático Os repórteres desenvolvem gradualmente um senso de
domínio sobre seu ofício – ser capaz de escrever uma coluna em uma hora, sobre qualquer coisa, por mais difíceis que sejam as condições. (...)
Não cumprir o prazo de fechamento é considerado absolutamente não profissional. (...)
Ao ouvirem as conversas profissionais e observando os modelos de comportamento, eles assimilam princípios: imperturbabilidade, precisão, velocidade, esperteza, firmeza, pragmatismo e energia.
(Robert Darnton, Jornalismo: tudo o que couber a gente publica, 1990)
Capítulo 6
Estudos Culturais, Teoria das Mediações, Teoria da Prática Os Estudos Culturais e seus vínculosO contexto latino-americanoAs mediações e o consumo culturalO universo doméstico como um campo de forças:
o papel dos objetosA objetivação da experiência domésticaUm espaço de táticas?
O Centro de Estudos Culturais Contemporâneos
Raymond Williams Richard Hoggart Stuart Hall Roger Silverstone David Morley
Stuart Hall (Encoding/Decoding)
Hall mostrava que diversas camadas abriam-se na produção de sentido nos meios de comunicação mediada, destacando o seu caráter multireferencial
As representações, os textos, os discursos estariam diretamente relacionados a certos mapas de significados que permitiriam aos agentes sociais interpretar, conhecer, reconhecer, contestar e agir no mundo social
Mapas de significados
Nesses mapas de significados, produzidos pela fruição cultural, encontra-se uma estrutura em dominância, capaz de impor certas regras performativas, regras que sinalizam competências e usos dominantes e legítimos na sua interpretação. O trabalho interpretativo enfrentaria com maior ou menor intensidade uma situação de dominância simbólica.
Morley & Silverstone
Para Morley & Silverstone (1990) existem 04 importantes dimensões a serem abordadas nos estudos das tecnologias de comunicação e entretenimento (basicamente, a televisão): a) o significado da televisão não está no ato de ligá-
la, mas na sua inclusão às atividades rotineiras e ritualizadas centradas no lar,
b) a televisão está inserida em um campo de experiências (traduzido no interior do ambiente doméstico e nas relações sociais externas) que é mobilizado no processo de interpretação dos espectadores,
c) os graus de envolvimento com as tecnologias de comunicação e entretenimento (televisão, telefone, vídeo, DVD, ipod etc.) variam entre os membros da família
d.) os variados modos de direcionamento ou endereçamento (“modes of address”) dessas tecnologias integram-se a contextos culturais e sociais muito particulares.
Estética da Recepção
Wolfgang Iser Hans-Robert Jauss Karlheinz Stierle Hans Ulrich Gumbrecht
Horizonte de significados
Potencial recepcional
A pragmática e a recepção . Para K. Stierle:
“A comunicação pragmática, portanto, funciona apenas quando o produtor e receptor dialeticamente mediados, intervêm com posições de papéis em um campo de ação. A comunicação pragmática funciona apenas porque o produtor consegue imaginar o papel do receptor e vice-versa. (...) O sujeito da produção e o sujeito da recepção não são pensáveis como sujeitos isolados, mas apenas como social e culturalmente mediados, como sujeitos ‘transubjetivos’ (...)” (Luiz Costa Lima, A Literatura e o Leitor 2002 )
Jésus Martín-Barbero e as mediações
“Na redefinição da cultura, é fundamental a compreensão de sua natureza comunicativa. Isto é, seu caráter de processo produtor de significações e não de mera circulação de informações, no qual o receptor, portanto, não é um simples decodificador daquilo que o emissor depositou na mensagem, mas também um produtor.”
“O desafio apresentado pela indústria cultural aparece com toda a sua densidade no cruzamento dessas duas linhas de renovação que inscrevem a questão cultural no interior do político e a comunicação, na cultura”
(Martín-Barbero. Dos meios às mediações, 1997).
Mediações
“Por isso, em vez de fazer a pesquisa partir da análise das lógicas de produção e recepção, para depois procurar as relações de imbricação ou enfrentamento, propomos partir das mediações, isto é, dos lugares dos quais provêm as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão”
(Martín-Barbero, Dos meios às mediações, 1997).
Canclini e a teoria socio-cultural do consumo
Essa “teoria” sociocultural do consumo seria, por natureza, multidisciplinar. Ela deveria contemplar não apenas os processos de racionalização econômica geradas no interior das grandes corporações por meio de planificações e estratégias de marketing, mas os processos de apropriação por parte da audiência e dos usuários desses bens.
A relação entre consumo e cidadania começava a ficar cada vez mais visível e o antigo espaço de “reprodução” da força de trabalho, transformava-se, também, em um espaço de produção e apropriação simbólica em meio ao qual a produção social de sentido era negociada.
Consumir é tornar inteligível um mundo onde o sólido se evapora. Por isso, além de serem úteis para a expansão do mercado e a reprodução da força de trabalho, para nos distinguirmos dos demais e nos comunicarmos com eles, como afirmam Douglas e Isherwood, ‘as mercadorias servem para pensar’”
(Canclini, Consumidores e cidadãos, 1996)
Guilhermo Orozco
Mediações Cognitivas (gêneros/“scripts”) Situacionais institucionais de referência
Comunidades de apropriação de interpretação
(Orozco. A audiência frente à televisão)
Capítulo 7 Habitus, mercados simbólicos e a “força do
sentido” A lógica da prática e o conhecimento simbólicoO espaço social: tipos de capital, habitus e
estilos de vidaA objetivação do mundo: pensar
relacionalmenteSituações de comunicação ou mercados
simbólicos?O discurso, o habitus e os mercados simbólicosRiscos da semiologização das teorias da ação
O Espaço Social, o Gosto e os Estilos de Vida
passado
presente
futuro
Espaço Socialdistribuição de posições no espaço segundo os tipos de capital familiar
Habitus/Héxis (disposições)Herança/ Patrimônio
familiarTipos de capital
familiar
(Econômico, cultural, social e simbólico)
Gostos e Estilos de vida(bens e
práticas sociais)
Trajetória Social e expectativas sociais
Capital econômico e cultural
É preciso pensar numa espécie de cruz: numa primeira dimensão, vertical, as posições e os agentes distribuem-se e opõem-se segundo o volume global do capital (capital econômico e/ou capital cultural); e, na segunda dimensão, perpendicular à oposição principal, temos uma oposição entre um pólo mais cultural e um pólo mais econômico, em posições e agentes que se diferenciam segundo sua riqueza, sobretudo em capital cultural (à esquerda) ou em capital econômico (à direita). (Pierre Bourdieu, A Distinção )
Habitus/héxis
Uma crítica ao interacionismo simbólico.
A mediação entre essa posição no espaço social e as práticas, as preferências, é o que chamo de habitus, uma disposição geral diante do mundo, que pode ser relativamente independente da posição ocupada no momento considerado, por ser o rastro de toda uma trajetória passada, que está no princípio de tomadas sistemáticas de posição. (...)
Disposições
A palavra disposição parece particularmente apropriada para exprimir o que recobre o conceito de habitus (definido como sistema de disposições): com efeito, ele exprime, em primeiro lugar, o resultado de uma ação organizadora, apresentando então um sentido próximo ao de palavras tais como estrutura; designa, por outro lado, uma maneira de ser, um estado habitual (em particular do corpo) e, em particular, uma predisposição, uma tendência, uma propensão ou uma inclinação.
(Pierre Bourdieu. Esboço de uma teoria da Prática)
Bakhtin e a sociologia
“A língua, a palavra, são quase tudo na vida do homem. Essa realidade polimorfa e onipresente não pode ser da competência apenas da lingüística e ser apreendida apenas pelos métodos lingüísticos.”
(Bakhtin., Estética da criação verbal, 2000)
Bakhtin/Bourdieu
a) qualquer enunciação é uma "fração de uma corrente de comunicação verbal ininterrupta” (concernente à vida cotidiana, à literatura, ao conhecimento, à política etc.”) e
b) “a comunicação verbal é sempre acompanhada por atos sociais de caráter não-verbal (gestos do trabalho, atos simbólicos de um ritual, cerimônica etc.) dos quais ela é muitas vezes apenas o complemento, desempenhando um papel meramente auxiliar" (Bakhtin, 1997 p. 12)..
Atos de fala
O discurso é o produto do encontro de um habitus lingüístico e um mercado simbólico.
A fala pressupõe o domínio de dois tipos de competência: técnica (a capacidade de produzir fonemas) e social (a capacidade de aprender formas socialmente reconhecidas de comunicação)
Bakhtin
Em qualquer enunciado, desde a réplica cotidiana monolexemática até as grandes obras complexas científicas ou literárias, captamos, compreendemos, sentimos o intuito discursivo ou o querer-dizer do locutor que determina o todo do enunciado: sua amplitude, suas fronteiras.”
(Bakhtin, Estética da Criação Verbal 2000)
Competência/performanceAs formas sociais da fala dependem do desenvolvimento de um habitus lingüístico (um senso prático) que pressupõe:
Um senso de oportunidade da fala (o kairós)Um senso de aceitabilidade da fala (antecipação do valor da fala em um mercado simbólico)
O habitus é produto da interação social e produz um senso prático do mundo, um senso de reconhecimento dos mercados simbólicos e ao, mesmo tempo, funcionando como princípio de invenção (um reconhecimento de gêneros e mercados simbólicos)
Doxa/ Poder simbólico Quando falamos, produzimos um produto que não está
sujeito apenas a interpretação, mas, também, a avaliação.
Falar pressupõe uma relação com a produção de valor e poder (autoridade e legitimidade).
“Os rituais representam o limite de todas as situações de imposição, nas quais, por meio do exercício de uma competência técnica, que pode ser muito imperfeita, se exerce uma competência social, a do locutor legítimo, autorizado a falar e a falar com autoridade”
(Bourdieu. Economia das trocas lingüísticas, 1996)
“Em outros termos, os discursos não são apenas (a não ser excepcionalmente) signos destinados a serem compreendidos, decifrados”
são também signos de riqueza a serem avaliados, apreciados
signos de autoridade a serem acreditados e obedecidos.
(Bourdieu. Economia das trocas lingüísticas, 1996)
Situação de comunicação
ou mercado simbólico
Toda dominação simbólica supõe, por parte daqueles que sofrem seu impacto, uma forma de cumplicidade que não é submissão passiva a uma coerção externa nem livre adesão a valores. (...)
Foucault/Bourdieu
“A tarefa do analista do discurso é dupla: o arqueólogo do saber localiza e descreve os discursos como práticas que dispõem as coisas para o saber (...) e o genealogista do poder mostra a proveniência, a formação da vontade de verdade que tem produzido discursos. (...)
(Araújo, 2004)
Os discursos não possuem âmago, não são um conjunto de significações. São séries de acontecimentos que a ordem do saber produz e controla. (...)
Daí as perguntas sobre como o discurso funciona, quem o detém, de que lugar se fala, como seus efeitos são produzidos e regulados, serem as armas críticas mais eficientes para reconhecer o tipo de saber/poder que tem por alvo e produto o indivíduo moderno.” (Araújo, 2004)
Discurso: saber/poder
“Sabe-se que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual da circunstância, direito privilegiado ou exclusivo do sujeito que fala”
“o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar.” (Foucault, A Ordem do discurso 2006 )
O poder simbólico
O poder simbólico é um poder (econômico, político, cultural ou outro) que está em condições de se fazer reconhecer, de obter reconhecimento(...) exerce-se não no plano da força física, mas sim no plano do sentido e do conhecimento. (...)
“Ora o sentido e conhecimento não implicam de modo algum a consciência (...) os agentes sociais e os próprios dominados estão unidos ao mundo social (até mesmo ao mais repugnante e revoltante) por uma relação de cumplicidade padecida que faz com que certos aspectos deste mundo estejam sempre além ou aquém do questionamento crítico.”
“Na realidade, as palavras exercem um poder tipicamente mágico; fazem ver, fazem crer, fazem agir. Mas como no caso da magia, é preciso perguntar-se onde reside o princípio dessa ação ou, mais exatamente, quais são as condições sociais que tornam possível a eficácia mágica das palavras. O poder das palavras só se exerce sobre aqueles que estão dispostos a ouvi-las e a escutá-las, em suma a crer nelas.”(Bourdieu. O campo econômico, 2000)
Uma escritura sociológica
Um dos meus professores relembrou, certa feita, uma confissão do mesmo Max Weber, que, ao contemplar a partitura do Tristão, teria afirmado: “Essa é a técnica de escritura que me faz falta. Com ela à minha disposição eu poderia finalmente fazer o que deveria: dizer muitas coisas separadas, uma ao lado da outra, mas simultaneamente”. (Leopoldo Waizbort. Pequena Sociologia da Nota de Rodapé)
Obras do autor 1958 : Sociologie de l'Algérie
1963 : Travail et travailleurs en Algérie 1964 : Le Déracinement et Les Héritiers 1966 : L'Amour de l'art 1968 : Le Métier de sociologue 1972 : Esquisse d’une Théorie de la pratique 1979 : La Distinction 1982 : Ce que parler veut dire 1984 : Homo Academicus 1988 : L'Ontologie politique de Martin Heidegger 1989 : La Noblesse d'Etat 1993 : La Misère du monde 1997 : Méditations pascaliennes 1998 : Contre-feux (Raison d'agir éditions) et La Domination masculine 2000 : Les Structures sociales de l'économie
Agradecimentos
Faculdade Casper Líbero Pós-graduação (Prof. Laan CIP FAPESP ANABLUME Universidade IMES