brasil, meu brasil brasileiro - repositorio.ufc.br · bti/ufc o o s s i Ê "brasil, meu brasil...

8
Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" O título deste trabalho toma de emprestado o verso que Ari Bar- roso usou para abrir sua música "Aquarela do Brasil"na qual faz uma es- pécie de declaração de princípios. Pretendo aqui, entretanto, traçar um per- curso de uma noção de "Brasil" e "Brasileiro" pre- sente no que se afirma ser este país e seus habitan- tes. Neste artigo vou utili- zar material empírico coletado em veículos de co- municação de massa tanto de circulação nacional, a revista "ISTO É", quanto local, o jornal "O Povo". Também, usarei os resultados de um conjunto atual de pesquisas sobre migrações internacionais de brasileiros para os Estados Unidos, a partir da década de 80. A revista "ISTO É" tem uma seção de- nominada Gente que funciona como a coluna social da revista. Nessa sessão aparecem ba- sicamente registros sobre as celebridades da moda, da música, do cinema bem como refe- rências a algum acontecimento de destaque da semana. Na seção Gente do dia 08 de se- tembro de 1999 há uma nota que diz "A Cara do Brasil' e, ocupando toda a sua extensão, está a fotografia da cantora EIsa Soares (62 anos, natural do Rio de Janeiro). Ao lado des- sa foto, há um texto que informa a participa- ção da cantora no projeto Milenium Concert, idealizado e produzido pela BBCde Londres, no qual foi eleita a artista do Milênio do Bra- sil. O texto prossegue esclarecendo que a partir do dia 12 de setem- bro (999), a cada mês, a rede britânica de televisão transmitirá para todo o mundo dez artistas escolhi- dos a dedo pela emissora para representar seu país. E termina com uma decla- ração de EIsa Soares na qual ela não apenas pro- mete incluir a música Aquarela do Brasil no seu recital, como também, afir- ma que essa canção É a minha cara. A cara do Brasil. Além do curioso fato de se atribuir a um país 500 anos de existência e ele produzir, nes- se intervalo de tempo, alguém que repre- sente um milênio, três pontos se destacam. Primeiro, o método utilizado para selecio- nar os cantores que iriam compor a catego- ria artista do milênio: "escolhidos a dedo". Isto significa que os realizadores promove- ram uma seleção fina, rigorosa e criteriosa. O segundo ponto diz respeito aos objetivos de tal seleção: ela visa destacar alguém para "representar" seu país. Isto é, aparecer como a imagem dos habitantes de um de- terminado território. O terceiro ponto é o fato de a cantora dizer que promete cantar uma determinada canção. Isto significa aten- der a uma expectativa em torno do repertó- rio musical que representará o Brasil. Com isso, ela remete para uma suposta unanimi- dade em torno de uma canção que seria percebida por todos os brasileiros como ex- pressão de sua brasilidade. Além disso, EIsa LúCIA ARRAIS MoRAlES* RESUMO o artigo discute questões da cultura brasileira. Toma como ponto de partida a análise de uma notícia na "Revista Isto é" dando conta de um evento programado para festejar a chegada do terceiro milênio. Examinando as noções de Brasil e Brasileiro. Este trabalho demonstra como estas categorias estão atravessadas por uma concepção racial. • Doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-qraduação em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e professora do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal do Ceará. MORALES, LÚCIA ARRAIS. "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO". P. 51 A 58 51

Upload: hacong

Post on 18-May-2018

222 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

Bti/UFC

o o S S I Ê

"BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO"

Otítulo deste trabalhotoma de emprestadoo verso que Ari Bar-roso usou para abrir

sua música "Aquarela doBrasil"na qual faz uma es-pécie de declaração deprincípios. Pretendo aqui,entretanto, traçar um per-curso de uma noção de"Brasil" e "Brasileiro" pre-sente no que se afirma sereste país e seus habitan-tes. Neste artigo vou utili-zar material empíricocoletado em veículos de co-municação de massa tantode circulação nacional, arevista "ISTO É", quanto local, o jornal "OPovo". Também, usarei os resultados de umconjunto atual de pesquisas sobre migraçõesinternacionais de brasileiros para os EstadosUnidos, a partir da década de 80.

A revista "ISTOÉ" tem uma seção de-nominada Gente que funciona como a colunasocial da revista. Nessa sessão aparecem ba-sicamente registros sobre as celebridades damoda, da música, do cinema bem como refe-rências a algum acontecimento de destaqueda semana. Na seção Gente do dia 08 de se-tembro de 1999 há uma nota que diz "A Carado Brasil' e, ocupando toda a sua extensão,está a fotografia da cantora EIsa Soares (62anos, natural do Rio de Janeiro). Ao lado des-sa foto, há um texto que informa a participa-ção da cantora no projeto Milenium Concert,idealizado e produzido pela BBCde Londres,no qual foi eleita a artista do Milênio do Bra-sil. O texto prossegue esclarecendo que a

partir do dia 12 de setem-bro (999), a cada mês, arede britânica de televisãotransmitirá para todo omundo dez artistas escolhi-dos a dedo pela emissorapara representar seu país.E termina com uma decla-ração de EIsa Soares naqual ela não apenas pro-mete incluir a músicaAquarela do Brasil no seurecital, como também, afir-ma que essa canção É aminha cara. A cara doBrasil.

Além do curioso fatode se atribuir a um país

500 anos de existência e ele produzir, nes-se intervalo de tempo, alguém que repre-sente um milênio, três pontos se destacam.Primeiro, o método utilizado para selecio-nar os cantores que iriam compor a catego-ria artista do milênio: "escolhidos a dedo".Isto significa que os realizadores promove-ram uma seleção fina, rigorosa e criteriosa.O segundo ponto diz respeito aos objetivosde tal seleção: ela visa destacar alguém para"representar" seu país. Isto é, aparecercomo a imagem dos habitantes de um de-terminado território. O terceiro ponto é ofato de a cantora dizer que promete cantaruma determinada canção. Isto significa aten-der a uma expectativa em torno do repertó-rio musical que representará o Brasil. Comisso, ela remete para uma suposta unanimi-dade em torno de uma canção que seriapercebida por todos os brasileiros como ex-pressão de sua brasilidade. Além disso, EIsa

LúCIA ARRAIS MoRAlES*

RESUMO

o artigo discute questões da culturabrasileira. Toma como ponto de partida aanálise de uma notícia na "Revista Isto é"dando conta de um evento programado parafestejar a chegada do terceiro milênio.Examinando as noções de Brasil e Brasileiro.Este trabalho demonstra como estascategorias estão atravessadas por umaconcepção racial.

• Doutora em Antropologia pelo Programa dePós-qraduação em Antropologia Social doMuseu Nacional da Universidade Federal doRio de Janeiro e professora do Departamentode Ciências Sociais e Filosofia daUniversidade Federal do Ceará.

MORALES, LÚCIA ARRAIS. "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO". P. 51 A 58 51

Page 2: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

Soares se coloca e é colocada como a legí-tima representante desse país. Tanto sua pes-soa quanto a música escolhida são vistascomo a cara, o rosto, a face dos indivíduose grupos que habitam um território descritocomo Brasil. Em outras palavras, elas funci-onam a semelhança de uma carteira de iden-tidade. Documento que, obrigatoriamente,exibe, uma fotografia do rosto, da cara dealguém. Portanto, com esses três pontos sevai construindo um discurso daquilo que ésuposto crer ser a essência do povo brasi-leiro e, por causa disso, será apresentadopara todo o mundo através da BBC.

Mas por que Rita Lee não é a cara doBrasil?CássiaEller?MarinaLima?Zélia Duncan?Gal Costa? Maria Betânia? Antes de procuraressa resposta é melhor examinar os versos da"Aquarela do Brasil" que dizem o seguinte:

"Brasil/ meu Brasilbrasileiro/ meu mulato inzoneiro/ voucantar-te nos meus versos/ o Brasil, samba que cIáIbam-boleio que faz gingar/ o Brasil do meu amor/ terra denosso Senhor/ Brasil, Brasil/ Pra mim, pra mim/ ôi !abrea cortina do passado/ tira a mãe preta do cerrado/ bota orei-congo no congado/ Brasil,Brasil/Deixa cantar de novoo trovador/ a merencória luz da lua/ toda a canção domeu amor/ Quero ver a Sá dona caminhando/ Pelos sa-lões arrastando/ o seu vestido rendado/ Brasil,Brasil/ Pramim, pra mim/ Oh! ôi essas fontes murmurantes/ ôi ondeeu mato minha sede/ e onde a lua vem brincar/ oh! esseBrasil lindo e trigueiro/ És meu Brasil, brasileiro/ Terrade samba e pandeiro/ Brasil, Brasil/ Pra mim, pra mim".

Essa música inicia afirmando que háum Brasil brasileiro. Isto supõe a existênciade um Brasil que não é brasileiro. Ou seja,está implícito de que há duas modalidadesde Brasil. Mas é sobre a primeira que o au-tor se detém e, para tanto, indica o que pos-sibilita o Brasil ser brasileiro. Nesse sentido,não é apenas a condição de mulato, mas tam-bém, de inzoneiro. Inzoneiro no sentido demanha, de jogo de cintura, enfim, de flexibi-lidade adaptativa. Este atributo não se reduzà conotação de "jeitinho", isto é, a noção delevar vantagem, ignorar de forma reativa asregras ou explorar o outro. Ao contrário,aponta para a habilidade de descortinar saí-

52 REVISTA DE CI~NCIAS SOCIAIS V. 31 N. 2 2001

das frente ao adverso, aos obstáculos e aosmomentos difíceis. Nesse sentido, inzoneiroé aquele que não se deixa aprisionar na di-mensão da tragédia e prefere escapar para avida. Assim, ao falar "Brasil brasileiro", elese dirige para as fontes de vitalidade exis-tentes nesse país. Ari Barroso firma nessadireção e conclui essa canção da forma comoiniciou reafirmando que "esse brasil lindo etrigueiro é meu brasil brasileiro". Portanto,não é apenas uma exaltação da mestiçagem,mas de um tipo específico: o mulato. Nessamúsica o mestiço oriundo das relações entrebrancos e índios não aparece. Ou seja, nãose fala do caboclo, ou sertanejo ou caipira.Fala-se do começo ao fim em mulato. Alémdisso, elege-se o samba como o ritmo musi-cal por excelência. O que permite pergun-tar se outros ritmos como o forró e o carimbó,por exemplo, também não fariam gingar ebambolear o corpo?

Aquarela do Brasil foi escrita em 1939por Ari Barroso. Nesse momento, o país atra-vessava o regime do Estado Novo no qual umvigoroso vetar nacionalista estava presente. Éo momento em que se pretende forjar umnovo país, um novo brasileiro para responderpositivamente à direção que estava sendoimposta. O "trabalhador nacional", leia-se amassa de mestiços, antes considerado inaptopara operar numa economia capitalista e in-dustrial é alçado, nos anos 30 deste século, aatributos para desfazer essa crença. Se no "OsSertões", obra do início deste século e cir-cunscrita ao contexto da Primeira República,Euclides da Cunha relaciona a mestiçagemcom uma visão sombria acerca das possibili-dade de o Brasil vir a se constituir como umanação de envergadura, na década de 30, masprecisamente em 1933, Gilberto Freire emCasa Grande & Senzala vai na direção contrá-ria. Freyre conduz seus argumentos para pro-duzir um efeito de positividade sobre omestiço. É oportuno ressaltar que durante oEstado Novo buscava-se definir as raízes doBrasil, a brasilidade. Procurava-se construir umdiscurso que definisse o ser brasileiro e, comisso, fizesse um Brasil avançar sobre o Brasil,

Page 3: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

ou seja, produzisse uma homogeneidade, umaunidade. É de dentro desse contexto que sur-ge a música Aquarela do Brasil. Além disso,há outro elemento importante. Ela passa a serbastante executada no momento em que oBrasil estabelece a aliança com os EstadosUnidos, em 1942. Nesse instante, o governoamericano instala um bureau de assuntos cul-turais, dirigido por Nelson Rockfeller, e in-veste massissamente num intercâmbio cultural.Vinham para cá e iam para lá escritores, artis-tas, professores universitários e estudantes.Entre os que foram estão Érico Veríssimo eCarmem Miranda. Entre os que vieram, está ocineasta Orson Wells que faz, inclusive, fil-magens no Ceará e cuja produção foi quasetoda vetada pelo governo americano. Alémdele, vem Walt Disney e desenha o persona-gem Zé Carioca: um papagaio falante,inzoneiro e natural do Rio de Janeiro. Assim,para compor a sua galeria de personagens emontar Histórias em Quadrinhos que tives-sem ressonância com o que julgava ser o povobrasileiro, Walt Disney escolhe o papagaio eo associa ao exótico e ao Rio de Janeiro. As-sim, no momento de efervescência do EstadoNovo exalta-se o mulato, elege-se um estilode música, o samba e reafirma-se um lugardo Brasil, o Rio de Janeiro.

EIsa Soares é mulata, carioca e sam-bista. Portanto, nela estão reunidos todos oselementos básicos que fundam essa noção debrasilidade. Além do que, e não menos im-portante, ela tem 62 anos. Esta senhora, porconseguinte, se desenvolveu no interior doespírito dessa época. Foi socializada dentrode suas estruturas, adquiriu um habitus, ouseja, uma disposição permanente para sentir,agir e pensar de uma determinada maneira.

Mas como explicar que migrantes bra-sileiros nos Estados Unidos na faixa etária dos30 anos também adotem o samba e o Rio deJaneiro como os elementos que os singulari-zam enquanto indivíduos portadores da cida-dania brasileira? Em sua recente pesquisasobre brasileiros na cidade de São Francisco,na Califórnia, Gustavo Lins Ribeiro (1996)mostra como a identidade destes migrantes

está subordinada a um conjunto de estereóti-pos sobre o Brasil. Ele analisa festas, shows edesfile de carnaval. Esse último é denomina-do de "Carnaval Parade" e se encontra entreum dos maiores festivais multiculturais dosEstados Unidos. Faz, inclusive, parte do ca-lendário cultural de São Francisco no qual es-tão presentes uma diversidade de estilosmusicais. Nele se apresentam grupos da Bolí-via, Bulgária, Cabo Verde, Cuba, Espanha, Fi-lipinas, Jamaica, Japão, Haiti, Itália, México,Panamá, Porto Rico e Trinidad Tobago.

Ribeiro chama atenção para o fato deque os grupos brasileiros e os caribenhos sãoos maiores, mais freqüentes e os que produ-zem um maior clímax não apenas pelo o rit-mo, pelas fantasias e pela coreografia, mastambém, pelo que o público considera como"entusiasmo" e "sensualidade" das mulheresbrasileiras. Além disso, Ribeiro encontrou umdado curioso. Em São Francisco, predominambrasileiros oriundos do estado de Goiás e seusmodos de representar o Brasil não estão liga-dos a um "estado rural, do centro-oeste, ondegado, cerrado, piqui, rio Araguaia e músicacountry supostamente seriam os elementosconstrutores de sua identidade'. Ao contrário,eles lançam mão de elementos subordinadosbasicamente a uma matriz carioca, apontan-do, com isso, que o Rio de Janeiro funcionacomo a fonte de representação que prevale-ce nesse país. Sobre isso, é bom lembrar que,a partir de 1763, o Rio de Janeiro passou aser a sede da administração colonial, e emseguida, dos governos imperial e republica-no. Foi, portanto, durante quase dois séculoso centro do poder político e administrativodesse país. Além disso, e tão importante quan-to se constituiu como um ponto de conver-gência e difusão da cultura brasileira. Daí aimportância do Rio de Janeiro como emble-ma nacional. Se os promotores do MilleniumConcert escolheram a carioca e sexagenáriasambista EIsa Soares para representar o Bra-sil, os migrantes brasileiros, em São Francis-co, na faixa etária dos 30 anos tambémescolhem o Rio de Janeiro para expressar suabrasilidade.

MORALES, LOCIA ARRAIS. "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO". P. 51 A 58 53

Page 4: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

Além dos resultados dessa pesquisaque, junto com a reportagem da "ISTO É",apontam para elementos comuns, há um ou-tro dado que eu gostaria de apresentar. OJornal O Povo trouxe uma matéria, no dia 30de setembro de 1999, sobre o lançamento dolivro "Brasil, A Europa dos Trópicos' do Pro-fessor Caio Lóssio Botelho, professor titulardo Departamento de Geografia da Universi-dade Federal do Ceará. Nessa reportagem, oautor dá uma entrevista explicando que seulivro trata da colonização portuguesa no Bra-sil. Numa determinado ponto, ele faz a se-guinte comparação entre Brasil e EstadosUnidos:

"Existeno Brasil algo inusitado que não aconteceulá fora. O português incentivou o cruzamento dediversas raças. Não como nos EUA,onde o cruza-mento só existiu entre um grupo racial: ocaucasóide. Entre alemães, ingleses, holandeses. Apopulação branca marginalizou a população ne-gra, destruiu a população indígena. No Brasil, oportuguês incentivou o cruzamento da populaçãobranca, negra e indígena. Daí por que somos amaior nação mestiça do planeta. O país se superpõenuma harmonia tão perfeita que foi incapaz defragmentar a nossa unidade política".

Ao comparar Brasil e Estado Unidos, oProf. Botelho o faz através da variávelmestiçagem e coloca nela a razão de ser daunidade política brasileira. Além disso, amestiçagem é um fator que singulariza o Bra-sil e o coloca na posição da "maior naçãomestiça do planeta". Essa posição do profes-sor Caio Lóssio também está desenvolvida porGilberto Freyre em "Casa Grande & Senzala".No capítulo de abertura que tem por título"Características Gerais da colonização portu-guesa do Brasil: formação de uma SOCiedadeagrária, escravocrata e bibrida ",Freyre fazumelogio à colonização portuguesa no Brasil eprocura introduzir no leitor o orgulho por tercomo herança um povo cujo traço fundamen-tal é sua plasticidade. Em outras palavras, seusargumentos destacam a colonização portugue-sa por sua capacidade em criar formas deadaptação expressas através de uma acentua-

54 REVISTADECI~NCIASSOCIAIS v.31 N.2 2001

da disposição para explorar novos espaços,uma contundente miscibilidade e um despren-dimento para viver em ambientes ecológicosdistintos, diversos e até hostis. O que eu que-ro ressaltar aqui é o fato de que a obra deGilberto Freyre é datada de 1933, justamenteno período em que esforços se concentrampara dar uma outra interpretação sobre o Bra-sil e onde a mestiçagem ocupa um lugar depositivo relevo. O curioso é observar a forçadessa interpretação tanto na fala de um re-presentante do mundo acadêmico-científicoquanto na de Eisa Soares que, ao montar orepertório do recital que fará como represen-tante do Brasil, incluiu de formasuperdestacada a música Aquarela do Brasil.

Nesses três discursos há uma conver-gência: todos remetem a questão racial noBrasil. Nesse sentido, é oportuno lembrar queno início do século XX era intensa a discus-são sobre a constituição da nação brasileiranos meios político, científico e intelectual.Ressoavade forma bastante desconfortável naselites brasileiras o parecer que estudiososeuropeus e norte-americanos produziram so-bre o Brasil.Tanto Gobineau, na França, quan-to LouisAgassiz,nos Estados Unidos, teceramconsiderações sobre o Brasil nos seus livros.Ambos estiveram aqui, tendo Gobineau, in-clusive, exercido o cargo de embaixador. Paraeles, o país era inviável porque os mestiçosconstituíam a grande parcela da população.Os cruzamentos entre branco, negro e índioeram vistos como altamente indesejáveis paraa preservação, progresso e bem-estar de umanação. O mestiço era considerado um ele-mento de degeneração, uma vez que se cons-tituía num tipo híbrido, indefinido, e,consequentemente, desprovido da vitalidadenecessária para responder aos desafios davida. Para estes estudiosos, o Brasil apresen-tava não apenas perspectivas sombrias, mastambém, era o exemplo dos efeitos deletéri-os da mestiçagem: atraso, miséria, preguiça,ignorância e doença.

Contudo, as elites brasileiras ansiavamintroduzir-se no mundo da "civilização" e,conseqüentemente, da modernização. Procu-

Page 5: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

raram, então, um modelo explicativo que per-mitisse a solução para o diagnóstico demestiçagem racial como causa do estado deindigência do país. As concepçõesdeterministas de raça, em vigor na Europa,são elaboradas aqui em torno da teoria dobranqueamento. Baseada na superioridade daraça branca e na inferioridade das demais, talteoria supunha que o negro estava fadado aextinção e o elemento branco predominariana "dosagem" dos mestiços. Isto ocorreria atra-vés de dois mecanismos: a seleção natural ea seleção sexual. Pela seleção natural se ex-plicava a inexorável extinção do negro su-pondo que ele era portador de baixa taxa denatalidade, de propensão a doenças e da in-capacidade de civilizar-se. Pela seleção se-xual, se engendrava uma outra visão damiscigenação. Esse mecanismo possibilitariaa reprodução de indivíduos mais claros por-que a preferência por um parceiro recairiasobre o branco. Além disso, como a teoria dobranqueamento sustentava a idéia da superi-oridade da raça branca e pretendia criar umapositividade para o fato da miscigenação, elaafirmava que mesmo na união com indivíduoportador de uma herança negra o elementobranco predominaria. Essa teoria não estavaapenas no plano do pensamento social brasi-leiro. Ela se encontrava incorporada à visãooficial e, portanto, servia como instrumentopara a formulação de políticas de migração ecolonização. Regulamentos e leis, que deli-beravam sobre a entrada de trabalhadores es-trangeiros no país, eram elaboradas a partirdessas concepções. Através da teoria do bran-queamento, a Primeira República procuravaproduzir instrumentos de intervenção quepossibilitasse a homogeneização do povo bra-sileiro: ele se tornaria basicamente branco.Com isso, o Estado estaria dotado de uma na-ção apta a participar dos benefícios do pro-gresso junto as demais nações "civilizadas".Em última instância, o que estava em jogo, aoolhos da elite, era a possibilidade de o Brasilvir a se transformar numa população de infe-riores e incapazes de civilização. Dessa ma-neira, o branqueamento era percebido como

o instrumento que viabilizaria a construção danação. Ela não apenas "melhoraria" a peledos indivíduos, mas também, os seus cére-bros: melhor caráter, brilhante inteligência evigorosa capacidade empreendedora.

Seyferth (985) analisando esta teoriatrabalha com a tese de João Batista de Lacerda,antropólogo e diretor do Museu Nacional, apartir de dois textos. Um, apresentado no "Pri-meiro Congresso Universal das Raças - Lon-dres (911) e o outro (912) em resposta àscríticas que recebera quando da divulgação doprimeiro. Levando em conta o contexto políti-co e científico da época, o exame da autora sedetém basicamente, a apontar as contradiçõese ambigüidades presentes na argumentação deLacerda. Ela afirma que Silvio Romero, em 1888,foi um dos primeiros autores a tratar a teoriado branqueamento de forma sistemática e que,portanto, antes de Lacerda lhe conferir statusde ciência, estas idéias já circulavam no meiodo público. A questão em foco é o fato deLacerda ter ido ao congresso representando ogoverno brasileiro e, por isso, investido na con-dição de porta-voz do pensamento oficial.Seyferth aponta que o desafio de tal teoria,frente ao mito ariano prevalecente, era de-monstrar como através da miscigenação se al-cançaria uma nação constituída por uma raçasuperior. Ou seja, como se alcançaria a condi-ção de branco num país onde predominam onegro e o mestiço. Seyferth mostra os artifíciosde raciocínio e o malabarismo lógico que oautor produz para juntar proposições mutua-mente excludentes, como por exemplo, afir-mar que todas as raças são iguais e, ao mesmotempo, apresentar o negro como incapaz deatingir o estágio da "civilização". Ao longo dotexto, Seyferth tem a preocupação de apontarpara a dimensão ideológica da teoria do bran-queamento e seus objetivos políticos dentrodo contexto da Primeira República. Além dedar sustentação a política imigracionista brasi-leira, dirigida para contingentes brancos, elatinha no seu bojo uma justificativa para ocolonialismo: os brancos, por natureza, maisevoluídos e superiores estavam habilitados aconduzir negros e mestiços.

MORALES, LÚCIA ARRAIS. "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO". P. 51 A 58 55

Page 6: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

A partir dos dados coletados, ele dis-tribui a população brasileira em quatro clas-ses denominadas de Leucodermo (branco),Phaiodermo (branco x negro = mulato),Xanthodermo (branco x índio = caboclo),Melanodermo (negro). Esta classificação setorna de ampla utilização não somente nocampo da Antropologia Física, onde as pes-quisas passam a tomá-Ia como ponto de parti-da, mas também, na literatura nacional. Estareceptividade extensa se deve, entre outrasrazões, ao fato de Roquete Pinto ser a pessoano Brasil a fazer este tipo de estudo e não terformado ninguém com a sua envergadura in-telectual. Naquele momento, ele era a últimapalavra da ciência antropológica no Brasil.Seutrabalho marca o momento histórico em que aAntropologia se volta para estudar o homemmiscigenado, com o objetivo de examinar seo atraso do país estava associado à composi-ção genética do seu povo, como sustentava avisão de fora. É interessante notar que RoquetePinto usava o termo "brasiliano", provavel-mente para distinguir a perspectiva de quemexamina uma realidade de dentro e, por isto,acredita ter os requisitos para fornecer ele-mentos singulares para a sua compreensão.

A apresentação dos resultados de suapesquisa, contidos no capítulo XVdos "Ensai-os de Antropologia Brasiliana", segue doismomentos distintos e pretende desfazer a co-nexão entre atraso e mestiçagem. Seu intentoé provar que a causa da ineficiência brasilei-ra situa-se para fora do corpo de sua gente.

Usando uma linguagem marcada pelasimplicidade, trabalha com duas modalidadesde dados: o histórico e o antropométrico. Nosmomentos iniciais, quando está situando oproblema e criando as condições necessáriaspara o surgimento da pergunta pertinente, eletrabalha com dados históricos. Estes são doconhecimento corrente e, portanto, de fácilassimilação pelo leitor, não exigindo esforçode raciocínio nem de concentração. Ele cita omovimento bandeirante, a ocupação da Ama-zônia e a conquista de Rondônia como exem-plos variantes de um único fenômeno: acapacidade do "mestiço" em trabalhar e se

É nesse ambiente político e intelectu-al que Roquete Pinto inicia, em 1919, a pes-quisa para a determinação dos tiposantropológicos brasileiros, que pretendia seruma contribuição do Museu Nacional às co-memorações do centenário da Independên-cia. O ano de 1822 marcara, com um ato deDom Pedro I às margens do Ipiranga, apretensa ascensão do Brasil à categoria de"nação livre e soberana". O ano de 1922, porseu turno, pretendia inaugurar, com a ajudada ciência, a consciência do "brasileiro" so-bre si próprio. A pesquisa de Roquete Pintovinha atender à pergunta sobre quem são os"brasileiros", respaldando-se nas técnicasantropométricas do alemão RudolfMartinque,criando novas possibilidades de medir o cor-po humano, de forma minuciosa, tornara-seum autor de referência. Além dessa corrente,Roquete Pinto busca a vertente francesa lide-rada por Bertillon que, introduzindo outroscálculos estatísticos, ampliou as interpretaçõese o manejo dos dados.

Assim, munido de um arsenal teórico,metodológico e técnico, Roquete Pinto partepara produzir uma interpretação sobre a cons-tituição racial do Brasil. Naquelas circunstân-cias históricas, esta aspirava por ser arepresentação fiel do país, uma vez que, alémde ser gerada com base na ciência da época,era feita por um nativo. Seria a fala da pró-pria nação frente às atribuições vinda de fora,notadamente da Europa e dos Estados Uni-dos. O nativo em questão era a voz da Antro-pologia Física da época e tinha o aval de sero diretor de uma instituição do porte do Mu-seu Nacional.

Para determinar os tipos antropológi-cos brasileiros, Roquete Pinto faz o levanta-mento de medidas em cerca de 2.000indivíduos nascidos em todos os estados doBrasil e na faixa etária entre 20 e 22 anos. Apesquisa é publicada na íntegra, pela primei-ra vez, em 1928, no volume XXXdos Arqui-vos do Museu Nacional. Posteriormente, em1933, é incluída numa coletânea de textos dopróprio autor com o título "Ensaios de Antro-pologia Brasiliana".

56 REVISTADECI~NCIASSOCIAIS V.31 N.2 2001

Page 7: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

apropriar da riquezas do país. Posto isto, eleafirma: "visto que seu modo de agir na lutapela conquista da terra não permite que seconsiderem os mestiços do Brasil como gentemoralmente degenerada, vejamos si as suascaracterísticas antbropolôgicas mostramsignaes de decadência anatômica oupbysiolõgica. vejamos si é gente physicamentedegenerada" 0933:125). Ele gera, assim, umdesafio e uma curiosidade. Isto lhe permitecriar um terreno favorável para introduzirdados antropométricos (índices numéricos,gráficos, tabelas explicações sobre meto-dologia estatística), os quais exigem um ní-vel maior de abstração e interesse para seguirna leitura. Contudo, uma mesma linha de ra-ciocínio comparativo domina toda a análisedestes dados. Roquete Pinto toma comoparâmetro principal o tipo branco. Para tan-to, a primeira providência é provar, atravésda estatística, que esse é o tipo predominan-te na população brasileira. Isto lhe possibili-ta desmentir Gobineau e Agassiz, comotambém, apontar para a pretensão em forçaruma mudança da posição do Brasil no pano-rama internacional da época. O argumentoembutido, neste momento da análise, é quea população brasileira é branca, portanto, opaís é potencialmente viável. Nas demons-trações seguintes, as medidas de estatura, ín-dices nasal e cefálico de mulatos e caboclosaparecem com um afastamento pequenoquando comparados com as medidas encon-tradas para o tipo branco. Com isto, RoquetePinto produz o argumento de que a miscige-nação não é biologicamente deletéria e, por-tanto, mulatos e caboclos não são a causa doatraso do país. Além disto, como as causasdesta falta de progresso não residem na cons-tituição biológica do povo, é precisoidentificá-Ia no ambiente e tratá-Ias atravésda educação.

Assim,por um lado, Roquete Pinto re-afirma a crença na existência de uma hierar-quia racial na qual a branca é superior àsdemais e, por outro, rompe o vínculo entremestiçagem e atraso. Com isso, ele abre umveio para a construção de uma outra narrativa

sobre o país, de uma outra tradição na qual sefaça o elogio à mestiçagem.

É com a Revolução de 30, abrindo ca-minho para a implantação do Estado Novo,que a mestiçagem, vista em sua positividade,vai encontrar abrigo. Nesse regime que seinicia em 1938 e vai até 1945 há o fortaleci-mento do executivo e a centralização políticoadministrativa. Isto gerou medidas como o fe-chamento do Congresso e das Assembléiasestaduais, a suspensão dos partidos políticos,das associações e dos direitos individuais.Enquanto isto, o aparato repressivo e as For-ças Armadas eram aperfeiçoadas. Além doautoritarismo, o Estado Novo combina fortesmarcas de conservadorismo e nacionalismocomo princípios que organizavam o pensa-mento político e a vida nacionais.Conservadorismo concebido dentro de umavisão de mundo que privilegia a tradição, ahierarquia e a ordem. Nacionalismo, por suavez, engendrado na percepção de que a na-ção é um dado da natureza e, por conseguin-te, de existência e criação imemoriaisprecisando apenas ser reconhecida. Atravésdo nacionalismo, o Estado Novo se empenha-va em indicar traços étnicos, culturais, geo-gráficos e históricos que pudessem definirnoções como brasileiro e brasilidade (Lippi,1982: 14-30). Uma das estratégias utilizadaspara construir este nacionalismo é uma reto-mada do passado colonial português. Neleestaria contido as referências do verdadeiroBrasil. A larga influência européia durante aPrimeira República era apontada como res-ponsável pelo abandono das tradições, dacultura e da história do país. Assim, volta-separa o passado e elege-se a colonização por-tuguesa. Ela é vista como dotada de peculia-res qualidades as quais possibilitariam aexistência de um país de dimensões territorial,ética e cultural excepcionais. A plasticidadeadaptativa do português, sobretudo sua tole-rância racial, era um dos pontos de ênfase.Com isso e os trabalhos de Roquete Pinto es-tava preparado o terreno para produzir umapositividade em torno da questão damestiçagem. O negro, o índio e o branco são

MORALES, LÚCIA ARRAIS. "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO". P. 51 A 58 57

Page 8: BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO - repositorio.ufc.br · Bti/UFC o o S S I Ê "BRASIL, MEU BRASIL BRASILEIRO" Otítulo deste trabalho toma de emprestado o verso que AriBar-roso usou

)

apresentados como os elementos constitutivosde um povo exemplar. Instala-se, então, umalouvação à mestiçagem.

. Dessa forma, o que está sendo afirma-do, na segunda metade da década de 90 des-te século, pela cantora EIsa Soares, pelosmigrantes brasileiros na cidade de São Fran-cisco e pelo professor Botelho tem um traje-to. Ele pode ser localizado no início da décadade 20 com desdobramentos que ganham con-tornos mais definidos na experiência do Esta-do Novo. É neste instante, portanto, que estavisão sobre o povo brasileiro ganha magnitu-de. Sua presença, em 1999, aponta para umacontinuidade, uma permanência e significaque algo se constituiu como tradição.Hobsbawm (984) demonstra que,freqüentemente, certas tradições consideradasantigas são, na realidade, recentes. Trabalhan-do com a noção de "tradição intentada', esteautor faz a ressalva de que, apesar de ser umtermo amplo, não é indefinido pois nele se"inclui tanto as tradições realmente inventa-das, construídas e formalmenteinstitucionalizadas, quanto as que surgiram demaneira mais difícil de localizar num períodolimitado e determinado de tempo". No casoaqui exposto, não se trata de algo difícil delocalizar no tempo. A exaltação à mestiçagem,enunciada nas formulações do professor daUniversidade Federal do Ceará, vem acom-panhada de uma glorificação ao samba e aoRio de Janeiro nos discursos da cantora EIsaSoares e dos migrantes brasileiros nos Esta-dos Unidos. Todavia, todos esses casos de-monstram que o Estado Novo ainda estápresente, balizando o olhar sobre os indiví-duos e os grupos que habitam um território

-c:Q

58 REVISTA DE CIÊNCIAS SOCIAIS v.31 N.2 2001

chamado Brasil. Esses discursos parecem ace-nar na direção do que diz Marx (984), aochamar atenção para a tradição que insisteem perdurar: eles são "os mortos que marte-lam o cérebro dos vivos'.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Castro Faria, Luís. Pesquisa de Antropologia Físi-ca no Brasil: História. Rio de Janeiro: Bole-tim do Museu Nacional, 13: 1-106, 1952.

Freyre, Gilberto - Casa Grande & Senzala.Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.

Gould, Stephan - A Falsa Medida do Homem.São Paulo: Martins Fontes, 1991.

Hobsbawm, Eric & Ranger, Terence - A In-venção das Tradições. Rio de Janeiro: Paze Terra, 1984.

Lippi, Lúcia (org.) - Estado Novo: Ideologia ePoder. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

Marx, Karl - O 18 Brumário de Luiz Bonaparte.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.

Morales, Lúcia Arrais - Vai e Vem, Vira e Volta:As Rotas dos Soldados da Borracha. Rio deJaneiro: UFRJ/Museu Nacional, 1999. Tese.

Moura, Gerson - Tio Sam chega ao Brasil. SãoPaulo: Brasiliense, 1984.

Reis, Rossana & Sales, Teresa (org.) - Cenas doBrasil Migrante. São Paulo: Boitempo, 1999.

Raquete Pinto, Edgar - Ensaios de Antropolo-gia Brasiliana. São Paulo: CompanhiaEditora Nacional, 1933.

Seyfert, Giralda - A Antropologia e a Teoriado Branqueamento da raça no Brasil: Atese de João Batista de Lacerda. In: Revis-ta do Museu Paulista (5), São Paulo, Mu-seu Paulista (30), 1985.