brito neves_crátons e faixas móveis
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CRTONS FAIXAS MVEIS
Benjamim Bley de Brito Neves Professor Titular do Departamento de Geologia Geral
Instituto de Geocincias da Universidade de So Paulo
Pesquisador IA do CNPq
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1. INTRODUO
1.1. Objetivos
A dinmica intensa do progresso do conhecimento cientfico, e mais
ainda a extraordinria profuso das publicaes em peridicos, em atas e anais de
simpsios e congressos, entre outros meios, chegam a abalar os pesquisadores,
sejam eles de geocincias ou de quaisquer outros ramos. Tanto mais quanto maior for o seu nvel de interesse em acompanhar o que est se passando.
Entre esta produo e divulgao e a necessria maturao -
geralmente veiculada em livros-texto - trazendo principalmente o que consensual e
o que est afastado da poeira da emoo e das polmicas, vai um longo e precioso
tempo. No caso das geocincias e da Tectnica em particular, isto grande verdade,
e muitas vezes os livros-texto no conseguem acompanhar a contento a velocidade
do progresso dos conhecimentos, e h um vazio em muitos temas, onde uma soluo
paliativa - quando menos - deve ser procurada.
O gelogo comum, ou o gelogo apenas ocupado com uma das
vertentes e searas da geologia, e mais ainda, o estudante de geologia, tm
enfrentado com freqncia esta dificuldade de chegar s fontes, de acompanhar
mesmo de longe a dinmica de produo e divulgao. Alm do problema, crucial
para alguns de enfrentar debates e averiguar terminologias que brotam de forma
inesgotvel em lnguas estrangeiras e em verses nem sempre adequadas. O
problema de terminologia ascende a nveis vertiginosos, de certa forma por algumas
vezes assustando e afastando potenciais interessados.
O objetivo desta Srie Didtica o de uma sntese sobre dois dos tipos crustais e litosfricos continentais mais importantes, e que esto no cotidiano de
todos os gelogos e estudantes de geologia: crtons e faixas mveis. Ou seja, move o autor a tentativa de fazer uma ponte entre as publicaes consideradas mais
modernas (sentimento e classificao do autor) e o usurio potencial, antecipando o advento dos livros-texto que devero sintetizar tais noes para um futuro no
determinado. E, mais, em lngua portuguesa, o que para muitos um atrativo, tendo
em vista que todos os nmeros de Srie Didtica anteriores (na rea da Tectnica) se encontram esgotados no Instituto de Geocincias da USP.
Os crtons e faixas mveis (orgenos e colagens orognicas) so tipos crustais de interesse geral, e j foram assim vislumbrados/reconhecidos desde o
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sculo passado, nas suas respectivas importncias, entre as expresses da face da
Terra.
Objetivo correlato desta sntese demonstrar que a Geotectnica no um ramo de privilegiados e visionrios, mas tem preocupaes com temas
palpveis do dia a dia do gelogo. E, que ela no se encontra mais dividida em
escolas e faces antagnicas ("fixistas", "mobilistas", "plaquistas", etc.), mas que encontrou um caminho relativamente unificado, irretorquvel e futuroso, devidamente
respaldado do ponto de vista cientfico, desde o limiar da dcada passada. Este
caminho significa considerar a Tectnica como Global (no h processos isolados), escala de planeta, e sua evoluo irreversvel com o tempo geolgico, e cujo motor -de todos os processos e desta vinculao com o tempo - a perda de calor do
interior da Terra. Ter cincia que este faccionismo no tem mais razo e espao
uma obrigao de todos os gelogos.
Alm dessa conexo (processos tectnicos - tempo geolgico -perda de calor do interior da Terra), em parte devido a ela, cada vez mais a Geotectnica, e todo o comboio das cincias geolgicas procura se aproximar e se
encaixar nos trilhos das cincias exatas, estreitando laos e ganhando credibilidade,
e avanando cientificamente, banindo mitos, testando e afastando dogmas e outras
assunes meramente empricas.
Termos como "geossinclinal", "fixismo", "mobilismo", nmero
reduzido de placas litosfricas, "tectnica de placas" esto fadados ao arquivo do
conhecimento, so obsoletos hoje, ou j prestaram o servio (ou o desservio) que tinham de prestar, e devem gradativamente passarem a ser descartados de nossos
textos, nossas mentes, e do corao de alguns.
Estas observaes a que o objetivo do texto vai procurar cobrir no significam que no haja dissenes, debates, ramificaes, e mesmo descompasso entre os diferentes centros de investigao tectnica. De fato, isto continua a existir,
mas todas as querelas esto vindo de um mesmo tronco e das mesmas raizes. O
motor de todos os processos - em quaisquer vises e ramificaes da anlise - est
na perda de calor do interior da Terra, e h uma seqncia (a perda em exponencial negativa) e uma srie de etapas, no necessariamente sincrnicas, que seguida por estes processos globais.
Se estes objetivos acima discriminados forem parcialmente cumpridos, em estimativa pretensiosa e otimista, o autor se considerar satisfeito,
mesmo porque se trata de um profissional, gerado, tecido e sofrido em outro contexto
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e outra viso bem diferentes, nas hostes naturalistas. Os objetivos, em sntese, tm a preocupao de facilitar a vida do leitor, dando-lhe uma viso mais ampla e accessvel possvel do que moderno em Tectnica Global, ao mesmo tempo que expressa os conceitos dos tipos crustais e litosfricos.
1.2. Meios e dificuldades
A pesquisa bibliogrfica, no Brasil e no exterior, constituiu o
embasamento fundamental deste texto, pelo menos nos ltimos cinco anos. Sempre
foi procurada a conexo ideal entre este levantamento bibliogrfico e a experincia
do autor em domnios cratnicos e faixas mveis, principalmente de nosso
continente.
Os estudos de campo, as snteses anteriores, a contraposio entre
os resultados da pesquisa bibliogrfica e a realidade de nossos mapas, de nossos
faixas mveis e crtons foram a um s tempo desafios/dificuldades e estmulos de
rotina.
O limitado conhecimento de campo dos crtons antigos e das faixas
mveis fanerozicas outra deficincia natural do autor, cuja experincia profissional foi sempre mais restrita (Crton do So Francisco e faixas mveis proterozicas do Brasil). Mas, em vrias oportunidades, em viagens ao exterior, em congressos e simpsios, foram feitas excurses especficas a crtons (La Plata, Sino-Coreano, Superior, Dharwar, etc.) e faixas mveis fanerozicas (Andes, La Ventana, Alpes Escandinavos, Alpes Ocidentais, Apalaches) que serviram de referencial muito bom, mas incompletos, ao nosso propsito da Srie Didtica em tela.
Para cumprir fielmente ou da melhor maneira possvel os objetivos deste texto, os meios bibliogrficos e a vivncia de campo sero sempre limitadores.
Para compensar e suprir este fato, vieram os debates. francos com os colegas de
instituio e fora dela, ainda assim so subsdios distantes dos ideais. As dificuldades
so sempre maiores, por mais restritas e modestas que tenham sido as pretenses
iniciais.
Em textos desta ordem, nunca se ter a pesquisa bibliogrfica ideal
e finita, nem o conhecimento geolgico (e muito menos o geofsico) desejvel, e saber conviver com este fato j importante.
Muitas referncias bibliogrficas foram solicitadas pelo autor a
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outras instituies e a outros colegas. Muitos colegas foram conclamados por
bibliografia e em busca da experincia profissional nestes tipos crustais deste e de
outros continentes.
Para a realizao deste trabalho, contei com todos os meios e
"facilidades" viveis do Departamento de Geologia Geral e do Centro de Pesquisas
Geocronolgicas -CPGeo USP, e com a sensibilidade de seus participantes. Da parte
do CNPq (bolsa de pesquisador 1A) e da Fundao MEC/CAPES (bolsa de dedicao acadmica) vieram apios e estmulos indiretos para a pesquisa, tendo em vista que esta Srie Didtica fazia parte do plano de pesquisas do autor aprovado
para com estas agncias. Da FAPESP e da National Science Foundation, direta ou
indiretamente vieram fundos que subsidiaram muitas das nossas viagens de campo e
da pesquisa geolgica e geocronolgica.
1.3 Agradecimentos
Na realizao deste trabalho colaboraram decisivamente e foram
importunados pelo autor a maioria dos colegas do Departamento de Geologia Geral
do Instituto de Geocincias da USP, cabendo destaque a Umberto G. Cordani,
Wilson Teixeira, Mrio Campos Neto, Maria Szikskay, Rmulo Machado.
Do colega Fernando F. Alkmim, da Escola de Minas da Universidade
Federal de Ouro Preto, recebi estreita cooperao, tendo sido autorizado por ele de
usar um texto anterior de nosssa mtua autoria como base para desenvolver a parte
sobre os crtons.
Das chefias do Departamento de Geologia Geral e do Centro de
Pesquisas Geocronolgicas vieram apios indispensveis. Do CNPq, Fundao
CAPES, FAPESP e NSF, como j mencionados anteriormente, vieram suportes indispensveis para a realizao das pesquisas.
A bibliotecria Maria Aparecida Bezerra mostrou dedicao e
presteza na paciente coleta de dados para a montagem da bibliografia consultada, e
referida em anexo.
Itacy Krehne e Francisco J. Almeida foram os responsveis pelas
ilustraes, e com abnegao discutiram as melhores formas com o autor.
O Setor de Publicaes do IG-USP, D. Rosi Lemos e a geloga
Karina Roberta colaboraram decisivamente na edio final do texto, tendo o trabalho
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grfico recebido o suporte indispensvel e sempre gentil do Sr. Dalton Machado e de sua equipe.
Aos revisores cientficos deste texto, Prof. Dr. Victor Ramos, da
Universidade de Buenos Aires, Argentina, e Dr. Carlos Schobbenhaus, do DGM-DNPM, o agradecimento sincero do autor, pela pacincia, diligncia, comentrios crticos e contribuies substanciais. Os ltimos referenciados (eu s soube muito tempo depois), mas de modo algum nesta ordem de valores.
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2. FUNDAMENTOS DE SNTESE. CONSIDERAES PRELIMINARES NECESSRIAS
As observaes abaixo colocadas, na ordem considerada mais
lgica, so dados considerveis imprescindveis para a melhor compreenso da Srie
Didtica sobre crtons e faixas mveis. Em parte so fundamentos considerados sine
qua non para prefaciar quaisquer cursos de tectnica, e portanto subsdios
essenciais nesta oportunidade, podendo parcialmente recobrir - sem maiores
pretenses - alguns temas ou mesmo captulos do texto, sem constituir problemas.
a) A litosfera a camada rgida (torcionalmente) externa de nosso planeta, mais rgida, mais fria e mais viscosa, sendo limitada inferiormente pela "zona
de baixa velocidade", ou "ZBV" ou "LVZ", convencionalmente definida por uma
superfcie isotrmica, em torno de 1300-1400C (mais comumente 1333C, limite t e rma l ) . A litosfera m condutora de calor, transmitindo o calor recebido da astenosfera (por conveco) atravs de conduo e irradiao.
Ela constituda por definio pela crosta (continental ou ocenica) e pela parte no convectiva do manto sotoposto. A poro ocenica da litosfera
formada da mesma maneira em todo o mundo, sendo mais homognea, e tem sido (e pode ser) reciclada continuamente no manto. A poro continental da litosfera resiste ao processo de subduco por sua natureza fsica, altamente varivel e produto
de bilhes de anos de evoluo.
b) Outros conceitos e limites (afora estes de natureza termal acima expressos) para a litosfera so de ordem mecnica e qumica. Do ponto de vista mecnico, a mais simples expresso para a litosfera a espessura elstica, funo
da resposta mecnica da litosfera que pode ser modelada por uma camada elstica
sobreposta a um substrato fraco (a astenosfera) . Este limite mecnico nos continentes raramente superior a 100 km.
Abaixo dos crtons existe um limite qumico mais profundo - a
litosfera bem mais espessa - cujos componentes mantlicos consistem de peridotitos empobrecidos em componentes baslticos. Este modelo alternativo
(qumico) que resulta numa espessura maior para a litosfera abaixo dos crtons (tectosfera) tem implicaes considerveis na estrutura das placas continentais e na sua dinmica.
Nos oceanos, os conceitos de litosfera e tectosfera se confundem,
ou este ltimo termo no se faz necessrio.
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c) A litosfera no monoltica, sendo constituda por um contexto composto de vrios segmentos, em natureza, espessura e constituio, sendo estes
considerados grandes (>10 8 km 2), intermedirios (10 7-105 km 2), e pequenos (< 10 5
km 2), chamados de placas litosfricas. Entre os segmentos pequenos, alm das microplacas (segmentos que devem ter pelo menos uma margem ativa) e microcontinentes (balizados integralmente por margens passivas), destacam-se os chamados blocos (algum tipo de rigidez interna) e terrenos. Estes ltimos so deformados internamente durante as orogneses e geralmente afastados de sua
posio original por extenses muitas vezes superiores a sua maior dimenso (por conveno ) . Esta conceituao (placas grandes, intermedirias e pequenas, microcontinentes, blocos, "terrenos", etc.) muito controvertida ainda e longe do consensual, tendo aqui sido adotadas as designaes de Condie (1989) e Berckemann & Hs (1982). O nmero da segmentao da litosfera muito grande, e sua identificao vem sem sendo acrescida na proporo que se intensifica o
conhecimento geolgico e geofsico, sendo incorreto pensar em nmero pequeno e
finito de placas.
d) No contexto das placas grandes ocorre litosfera de natureza continental e ocenica (s vezes apenas ocenica), nos demais segmentos geralmente um ou outro tipo de litosfera predominante, precisando ficar claro que
mesmo nos segmentos da litosfera h variaes laterais de composio, estrutura e
comportamento muito importantes. No caso dos segmentos cada vez menores, um s
tipo de litosfera costuma ocorrer.
e) As placas litosfricas acionadas pelo processo sotoposto de conveco interagem de vrios modos:
divergncia -acreso ou interao construtiva
convergncia -sem coliso, ocorrendo a subduco
convergncia -com coliso, geralmente seguinte ao processo de subduco
transformncia -teoricamente uma interao conservativa, sem subduco nem
coliso (o que no fato concreto). Os processos de interao nunca so simples e exclusivos. Um
processo pode ser dominante localmente, mas haver sempre outros processos de
interao associados, em reas prximas ou remotas, contemporneos ou imediatos.
Em outras palavras a tectnica sempre global e resposta de fenmeno maior da
perda contnua de calor do interior da Terra. a forma de dissipao deste calor. f) A crosta terrestre a parte superior das placas litosfricas, e seu
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acoplamento parte superior do manto - dito no convectivo ou litosfrico -
responsvel pela formao das placas litosfricas. Desde o vislumbre inicial de
Suess, no sculo passado, at a exclamao incontida e procedente de Van Der Voo
(1993) (the most striking feature of the crust is the dichtomy of continents and oceans), a diferena entre crosta continental e ocenica deve ser insistida e repetida, e na repercusso desta presena nas fraes litosfricas por elas definidas.
g) A crosta continental (mais complexa, mais espessa, mais heterognea) e a crosta ocenica (menos complexa estruturalmente, menos espessa, mais homognea no seu todo) partilham de uma srie de diferenas importantes e fundamentais, estruturais, composicionais, processos de formao, evoluo,
reologia, retrabalhamento, destruio, etc. Estas diferenas so extensivas aos
respectivos mantos litosfricos e constituem ponto de partida para o entendimento
dos processos tectnicos em geral atravs dos tempos geolgicos. At a prpria
diversidade das escolas da tectnica (continente-centristas ou fixistas versus oceano-centristas ou mobilistas) est enraizada de certa forma nesta dicotomia.
h) A crosta continental a memria da Terra, preservada em quantidades excepcionais (graas s suas caractersticas fsicas, inclusive de flutuao positiva) ao longo de pelo menos quatro bilhes de anos, com processos de reciclagem e destruio sempre minoritrios. Ela tece o papel, escreve a histria,
dirige, protagoniza, muda os cenrios, edita e (res) guarda a histria do planeta nestes ltimos bilhes da anos, reforando a assertiva de Sengr (1990).
Bem ao contrrio da crosta ocenica, que s registra precariamente
os eventos meso-cenozicos (crosta ocenica mais antiga conhecida na faixa de 0, 18 Ga), e que teve ao longo do tempo geolgico complexa e numerosa histria de nascimento (na acreso), estgios de vida, destruio (subduco) e continentalizao (obduco, formao de sheets ofiolticos, e t c . ) . Estima-se (Sengr, 1990) que extenses superiores a 34 vezes o oceano atual passaram por estes processos, cujos arquivos foram dispersos. H dados concretos de remanescentes ocenicos ou ofiolitos (feies e traos continentalizados de paleo-oceanos) desde o Paleoproterozico e algumas indicaes inclusive de alguns do Arqueano.
i) Ainda que a crosta continental seja mais espessa e mais rica em elementos radioativos naturais do que a ocenica, as mdias de fluxo trmico
superficial medidos so semelhantes. Isto implica que o fluxo trmico que passa no
Moho nos dois tipos de litosfera deve ser diferente, e h indicaes de que esta
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quantidade de calor advindo do manto litosfrico ocenico aproxima-se do duplo, e
portanto o manto sub-continental "mais frio". Isto reitera a afirmao de que a
diferena entre oceanos e continentes vai alm da composio e comportamento de
suas crostas.
De uma maneira geral, o fluxo trmico decresce com a idade (raiz quadrada da) da placa, que por sua vez cresce em espessura com o tempo geolgico.
j) Mais que uma diferena fsica, como acima expresso, a diferena entre o manto abaixo dos continentes e oceanos tambm composicional. Para
entender isto preciso ter em mente os processos formadores da crosta continental
(subduco B, fuso parcial de litosfera ocenica, "underplating") e o tipo de formao da crosta ocenica (acreso na crista meso-ocenica), e aquilatar imediatamente as diferenas (e empobrecimentos/modificaes) impostas aos respectivos mantos sotopostos Estas observaes e outras de tomografia do interior
da Terra tm colocado cada vez mais a "teoria das correntes de conveco do
manto" numa posio delicada, com muitos problemas e adversidades, condio de
uma teoria ("mal"?) apenas ainda necessria, talvez de dias contados, carente de modificaes/adendos profundos.
I) A crosta continental tem como "clula mater" fundamental a subduco sob os arcos de ilhas e os arcos magmticos. Este processo dito lateral
de acreso continental majoritrio, e todos os demais processos (laterais, verticais) constituem complemento. De certa forma, os eventos de magmatismo intraplaca, "underplating" e sedimentao podem ter importncia enfatizada
localmente, circunstancialmente - grandes trapas, grandes e profundas bacias
sedimentares, reas especiais de ativao mantlica - para o processo de
espessamento/crescimento crustal.
Os processos de reciclagem e de retrabalhamento da crosta e da
litosfera previamente formadas (principalmente nos regimes colisionais) so muito importantes, mas no devem ser confundidos com processos formadores de fato.
m) Os fenmenos cclicos de sedimentao, magmatismo, deformao, etc. processam e reprocessam os materiais da crosta continental e a
tornam um dos domnios mais complexos da Terra. O grau de preservao das
massas continentais parece guardar relao estreita com sua dimenso e volume, e
portanto as fraes menores so as mais drasticamente retrabalhadas e modificadas
nos processos de interao de placa, e por conta disto, muitas vezes so de
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discriminao difcil e demorada. Igualmente, idade termal muito importante (aliada com descontinuidades preexistentes), sendo os tratos continentais mais velhos usualmente mais resitentes de que aqueles mais jovens ou rejuvenescidos (aquecidos) previamente.
A crosta ocenica, como j mencionado, tem seu bero nas cristas meso-ocenicas, e apenas sua camada superior (camada 1) tem influncia de materiais continentais reciclados/chegados do continente. No caso da crosta
ocenica, inversamente, quanto mais velha (e, portanto mais densa) for o trato considerado mais fcil se torna sua reciclagem por subduco no manto.
n) A crosta continental pode estar localmente estirada e afinada, penetrada por materiais bsicos (diques e sills) de origem mantlica, como ocorre nas margens passivas dos continentes. A crosta ocenica pode ter pores de
composio, definio e comportamento complexos, com prescrio ssmico-
petrolgica difcil (caso dos plats ocenicos). Mas, elas permanecem como tratos diferentes em essncia, e a designao de "crosta intermediria" deve ser usada
apenas de forma provisria ou chamativa, com precaues, no prembulo de uma
melhor definio. As distines estruturais, composicionais e das propriedades fsicas
entre ambas so muito amplas e no admitem termos como crosta "transicional",
"crosta intermediria", etc. sem complementos descritivos da circunstncia.
o) A expresso superficial das placas litosfricas (e de suas interaes) varia bastante de acordo com as caractersticas intrnsecas e locais: forma de nascer, de crescer, de reciclar, idade, estabilidade tectnica, posio
geogrfico-geolgica e outras caractersticas geolgicas e geofsicas. Em outras
palavras, a face da Terra bastante variada e os chamados tipos crustais e/ou
litosfricos retratam esta variedade. Os tipos crustais representam circunstncias
geomtrico-estruturais da face da Terra, e sejam eles continentais ou ocenicos, a caracterstica de transitoriedade (vide Fig. 2.1) fundamental, em funo do passar do Tempo Geolgico e como forma de dissipar o calor do interior da Terra.
Os principais tipos crustais esto expressos no Quadro I, e a possvel dinmica de mutao estar esquematizada no tectonograma da Figura 2 .1 .
p) A transitoriedade uma regra na definio dos principais tipos crustais, que so como poses instantneas logradas na viso zenital da litosfera, mas
que possuem respaldo sublitosfrico. Todo tipo crustal adveio de um outro ou de dois
outros, e ser transformado em outro ou outros com o tempo, toda esta dana
expressando a perda de calor do interior para o exterior da Terra. Nenhum tipo
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crustal se eterniza, podendo haver alguns mais "durveis" (como os velhos crtons, chamados de "ultra-longa durao") do que outros, assim como existem tipos de curta durao, muitas modificaes e rpida evoluo potencial (como as bacias de antearco).
q) As plataformas ou crtons so os tipos crustais continentais mais importantes em termos de expresso territorial, espessura litosfrica (tectosfera), volume, estabilidade tectnica, sendo os mais estveis e os mais duradouros. As
plataformas so constitudas de alguns ncleos cratnicos mais antigos circunscritos
por orgenos proterozicos j consolidados. Nas plataformas atuais - Figura 2.2 -est um bom exemplo da presena (j transformados) de tipos crustais anteriores, outros crtons, outros antigos orgenos, etc.
Considerando a evoluo da Terra do final do Arqueano (2, 5 Ga) para os nossos dias possvel diagnosticar um crescimento notvel destas reas
estveis, ou numericamente de prximo de zero para cerca de 56% do total das
reas continentais (23% no contexto geral atual do globo), no considerando o que suplantou este nmero e foi reestruturado.
r) Os orgenos so por definio os produtos naturais da interao imediata e lateral das placas litosfricas. Orogenia ("oros"+"genesis") hoje compreendida como um termo coletivo para os processos de convergncia (e transformncia) de placas. Como muitos edifcios orogenticos apresentam histrias complexa no tempo, consoante diversos ciclos tectnicos, se utiliza para estes o
termo coletivo colagem orognica. O debate entre estes diversos tipos de faixas
mveis (reas instveis) e as zonas cratnicas (reas estveis) tem sido motivao especial para o progresso do conhecimento da Geotectnica.
s) As zonas tafrognicas so aquelas caracterizadas por notvel extenso, com rupturas importantes da crosta e/ou da litosfera. Elas podem ser
geradas primariamente por ativao do manto (transferncia vertical de energia trmica, RMA) ou por atividades e interaes na prpria litosfera (RLA, transferncia lateral de energia mecnica), mas geralmente ao longo da evoluo um tipo se transforma noutro, e a distino prtica dos dois tipos geralmente discutvel.
Embora represente muito pouco do ponto de vista de expresso
territorial nos tipos continentais (1%), os riftes continentais so estruturas muito importantes, pelas inmeras possibilidades de desdobramentos (entre outras cousas) na sua evoluo, e isto pode ser caracterizadio no fato que so eles que esto no comando do fluxotectograma da Figura 2 .1 .
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t) H algumas fraes e tratos da litosfera cujo conhecimento demanda investigaes adicionais (da geologia e principalmente da geofsica) e esto todos eles de uma forma ou de outra integrados no contexto de outros tipos
crustais, estveis ou instveis, como os mares interiores, os terrenos ditos suspeitos
ou exticos (sejam continentais ou ocenicos, freqentes nas colagens orognicas). Na medida que o conhecimento destas unidades for avanando, dever ser feita sua
discriminao no tipo crustal mais adequado. Com respeito aos terrenos suspeitos -
que encerram muito debate - existe j uma boa concepo sobre os candidatos atuais para o futuro, ocenicos (plats, cristas asssmicas, ilhas vulcnicas, etc.) e continentais (flacas litosfricas, cones sedimentares, alguns microcontinentes, etc.), todos caracterizados pela dificuldade que oferecem no processo de subduco.
As margens continentais, como colocadas no Quadro I, configuram zonas ou situaes geogrfico-geolgicas de posio intermediria entre os tipos
continentais e ocenicos.
u) As massas continentais uma vez formadas tm ciclicamente crescido (acreso), se aglutinado (amalgamento, aglutinao, fuso) e depois se dispersado (disperso, divergncia, deriva, fisso), definindo neste processo os diferentes estgios de vida dos oceanos, e tudo isto em funo tempo geolgico e da
dissipao do calor do interior da Terra. Estes fatos e os demais sintetizados nos
itens anteriores parecem suficientes para consignar a Tectnica sua escala de
planeta (Global) e ao seu vnculo inseparvel com o tempo geolgico (a quarta dimenso), e dispensar quaisquer outros tratamentos setoriais e diferentes deste.
v) Os estudos isotpicos e estatsticos mostram que o crescimento da crosta continental teve seu auge nos tempos arqueanos (70 a 80% do total em cerca de 2,0 Ga) e decresceu substancialmente com o tempo geolgico, tendo crescido cerca de 20% no Proterozico (20% em torno de 1,9 Ga) e cerca de 10% no Fanerozico (ao longo dos ltimos 0,6 G a ) . Estas curvas e estatsticas de crescimento variam de autor para autor, mas so curvas coerentes com aquelas do
declnio do fluxo trmico, decrescentes exponencialmente do Arqueano remoto para
os nosso dias.
Nestes termos, no Fanerozico, lugar geogrfico-geolgico e bero inconteste da maioria das teorias geotectnicas (e das divergncias entre elas), a formao e o crescimento global da crosta so da ordem de apenas 10%, sendo mais importantes os eventos de reciclagem, reativao e deformao impingidos pela interao das placas. Neste sentido, justo acrescentar tambm (como crtica
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adicional s teorias) que em termos de tempo o Fanerozico tambm relativamente pouco significativo, representando cerca de 1/9 avos da histria geolgica.
x) Um continente pois uma acumulao grande e isostaticamente positiva da litosfera/crosta continental, soma algbrica positiva de processos de
acreso, fragmentao (fisso) e re-aglutinao (fuso). Acreso variada e multiforme, em diferentes tempos de tipos
crustais, crtons e orgenos (incluindo a os arcos magmticos s . l . ) . Por ex.: Gondwana.
Fragmentao, com preservao de remanescentes relativamente
extensos (tagrognese e d isperso). Por ex.: O fracionamento de Gondwana. Novos processos acrescionrios e aglutinadores. Por ex.: a Amrica do Sul.
Uma vez circunstancialmente reunidos, os tipos crustais passam a
agir com caractersticas tectnicas de conjunto (Amrica do Sul), mas os seus tipos crustais (Plataforma Sul Americana, Cadeia Andina, Terreno Patagnico, etc.) conseguem preservar peculiaridades geolgicas e geofsicas prprias e
intransferveis.
z) O quadro atual de continentes e oceanos, matria prima de nossa geografia, comeou a ser esboado nos ltimos 300 Ma, ou seja, em um espao de tempo que corresponde a 1/15 avos da histria geolgica da Terra, a partir da fisso
dos supercontinentes (Gondwana, Lawrentia, etc.) ento existentes. Para o passado muitos outros ciclos de aglutinao e disperso de
continentes so conhecidos ou tm sido apontados, como na metade (2,0 -1 ,8 Ga) e no final ((1,6 Ga) do Paleoproterozico, no final do Mesoproterozico (1,0 Ga, continente Rodnia), e no final do Neoproterozico (continente Gondwana), e novamente no Permo-carbonfero (continente/supercontinente Pangea), a partir do que comeou a disperso do final do Paleozico, cujos cenrios hoje contemplamos em termos da moderna geografia (adicionados das cadeias andino-alpinas).
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3. CRTONS/PLATAFORMAS
A idia acerca da existncia de pores continentais relativamente
estveis apareceu j no sculo passado (Dana, 1866; Suess, 1883), e da foi se consolidando gradativamente, chegando enriquecida aos nossos dias. A identificao
de reas continentais relativamente poupadas pelos processos tectnicos, durante
longos perodos (> 100 Ma), e passveis de delimitao no espao, foi tema importante da discusso geotectnica, e hoje conceito de propriedades e funcionalidades objetivas, previsto e contemplado pelos mais avanados textos em tectn ica. Embora, muitas vezes seja tema esquecido ou negligenciado em sua importncia e caracterizao geral na maioria dos livros-texto contemporneos.
Modernamente (por exemplo, em Park & Jaroszewski, 1994), o crton definido como a parte relativamente estvel do continente, ou do interior da
placa continental, parte esta no afetada pela atividade tectnica das margens da
placa. Este conceito e esta definio incorporam a noo de estabilidade tectnica
relativa.
A reviso/busca para contribuir sobre o histrico e a filosofia do
conceito, e de pores crustais associadas, procurando coerncia com a evoluo
dos conhecimentos geolgicos e geotectnicos at o presente, e tentar deixar claro o
conceito e sua caracterizao perante a Tectnica Global.
Neste sentido, deve ser acrescentado a notvel, recente e crescente
contribuio da Geofsica (Sismologia, entre outras) e da Geoqumica (Petrologia, Geologia Isotpica) para definio dos crtons a nvel global, precisando-os como unidades/entidades litosfrcas realmente especiais e distintas. Ou seja, preciso discrimin-los hoje como contextos de caractersticas prprias marcantes e intransferveis, realidades bem mais concretas respaldado em dados da terceira
dimenso, com supremacia sobre a ordinria viso/descrio a nvel de superfcie
que costumava aparecer na bibliografia.
Nesta parte concernente aos crtons, este texto constitui uma
ampliao, com aprimoramento, daquele apresentado por Brito Neves & Alkmim
(1993), modificando-o para os fins didticos aqui pretendidos.
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3.1. Histrico. Escolas e sinonmia
Coube a E. Suess reconhecer e postular pela primeira vez a
presena de extensas reas continentais dotadas de notvel estabilidade, referindo-
se ento a "Voriano" (do alemo, antepas), ou tambm, e com maior freqncia a "Tafef (do alemo, plataforma, tablete, mesa), como no caso de "Russiche Tafer (Plataforma Russa): reas destitudas de relevo significativo, estveis, cobertas por rochas sedimentares sub-horizontalizadas. Logrou Suess consignar a idia de
estabilidade de tais segmentos crustais continentais, por entender ele que o lugar por
excelncia dos processos tectnicos seria as cadeias de montanhas.
Na traduo francesa da obra de Suess, feita por Margene (1897 a 1946), o termo crton foi traduzido por "plate forme". Na traduo inglesa, Sollas (1904) usou os termos (segundo Dennis, 1967) "platform" e "tableland" para o mesmo conceito.
Depois desta semente, pelo menos trs linhagens bibliogrficas se
sucederam, ora em paralelo, ora de forma concorrente, enriquecendo sobremaneira a
sinonmia do conceito, a saber.
a) Kober (1914-1921) utilizou a designao "Kratogen" (do alemo, cratgeno, do grego "Kratos", duro, rgido), em oposio a "Orogerf (do alemo, orgeno, do grego "Oros", montanha) para os crtons ou plataformas antigos, estveis, consolidados. Nesta oportunidade foi introduzido outro atributo importante,
o de antigidade (vale dizer, longa estabilidade), negligenciado por autores que o sucederam, mas retomada tardiamente.
Stille (1936a, 1936b, 1940, 1955) usou a forma simplificada "Kraton" para a designao original de Kober, discriminando estes segmentos como peas
fundamentais da litosfera, caracterizados pela "imobilidade", contrapostos aos
"ortogeossinclinais", marcados pela mobilidade. A luz da teoria geossinclinal, ento
vigente e quase absoluta, chegou Stille a identificao de duas categorias de crtons,
os continentais - "Hochkratonen" (do alemo, altos crtons) - predominantemente silicos e os "ocenicos" - "Tiefkratonen" (do alemo, baixos crtons) -predominantemente "ensimticos". Ou seja, imaginando erroneamente estabilidade ento para os fundos ocenicos abissais, objetos desta ltima designao. Com Stille, o atributo de antiguidade foi praticamente colocado margem.
Nos termos de Stille foi definido o tectonismo "germanotipo", ou ainda "paratectnica" (em oposio a tectnica "alpinotipo" ou "ortotectnica" dos
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geossinclinais) para os crtons, que seria caracterizado por sistemas de falhas e dobras localizadas, envolvendo a cobertura e o substrato, em intensidades
moderadas sempre e descontnuas. Para Stille, o estgio "germanotipo" tinha
conotao de tempo (vide frente) na evoluo geolgica regional, sendo este estgio caracterizado pelo magmatismo andestico, dito "subseqente", anterior ao
estgio final de magmatismo, dito "simtico". Na verdade, ele postulou a sucesso
ordenada no tempo de estgios: geossinclinal (magmatismo simtico), orogenia (plutes sinorognicos), quasecratnico (vulcanismo "subseqente") e plenamente cratnico (magmatismo "simtico" f inal).
Mas, esta conotao acima descrita no prevaleceu conforme o
original, sendo a designao de tectnica "germanotipo" aplicada na maioria das
vezes para as feies de falhamentos localizados e dobramento (descontnuo), e estruturas associadas que adentram o crton, advindas da faixa mvel que lhe
perifrica, independente deste preceito original de tempo (vide Fig. 3.1).
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Na Europa Ocidental, em vrios trabalhos, sintetizados em Aubouin
(1965) e Aubouin et al. (1968), Aubouin e colaboradores consolidaram definitivamente a noo de "Hochkraton" ou simplesmente crton, no coroamento da chamada linha "Kober-Stille-Aubouin" da escola geossinclinal. Deve-se a estes autores a discriminao, como parte externa do crton continental do "avant pays" ou
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do "foreland", restituindo assim o conceito de "Vorland", nascido com Suess,
caracterizando este domnio de forma notvel. O antepas seria atingido apenas
tardiamente, na evoluo orognica, pelos processos deformacionais das zonas mais
externas ("externides") das faixas geossinclinais, inclusive por nappismo, sendo normalmente lugar geomtrico de movimentos verticais importantes e de instalao
das bacias molssicas ("foredeep") do tipo antefossa. b) Ainda, na Europa floresceu outra linhagem mais ou menos
independente da escola geossinclinal, a dos gelogos soviticos (com muitas ramificaes internas), onde o termo plataforma foi adotado desde o incio deste sculo para os segmentos crustais estveis. Esta linhagem dispe de vasta histria
e rica bibliografia, consignada em trs etapas de evoluo dos conhecimentos e dos
conceitos, segundo Yanshin et al. (1974), fazendo uma sntese, em nome da Adademia de Cincias da URSS, a saber: Karpinskiy (1919), Arkhangel'skiy (1923-1948) e Shatskiy (1937-1948).
Desta sntese se verifica que desde o incio da divulgao do
conceito, houve na antiga URSS uma preocupao com a idade (e o grau de mobilidade) das plataformas, tendo sido reconhecidas plataformas antigas, mais velhas (pr-cambrianas) e as plataformas jovens (paleozicas). Esta discriminao sempre mesclada com o conceito de menor (mais antigas, ou ortoplataformas) ou maior (jovens, ou paraplataformas) mobilidade relativa, e esta mesclagem conceitual chega at os mais recentes livros-texto dessa linhagem, que so da dcada passada.
Para outros autores, os conceitos de paraplataforma (quase-plataforma, semiplataforma) e ortoplataforma (plataforma verdadeira) so estgios evolutivos das plataformas, no necessariamente ligados ao problema da idade do
substrato, mas sim ao comportamento delas no tempo mediante ao de fenmenos
internos e externos plataforma (fenmenos de ativao). Os gelogos chineses (Huang & Chun-Fa, 1962) adotaram muito da
escola sovitica, e alm da caracterizao de orto e paraplataforma para a
mobilidade relativa (e grau de consolidao do substrato), estabeleceram vrias caractersticas destes estgios, como resumido no Quadro IV. Alm disso, eles enfatizaram a durao no tempo do estgio de plataforma, apontando "curta
durao" (um perodo geolgico"), "longa" e ultra-longa" durao (vrios perodos geolgicos), o que certo exagero, mas denota a importncia da persistncia no tempo das condies de segmento crustal estvel.
Estes autores deram nfase tambm muito grande distino entre
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orto e paraplataforma (muitas delas utilizadas no Quadro IV), e nestas ltimas identificaram movimentos tectnicos de oscilao e movimentos de falhamentos e
dobramentos (mais importantes e mais extensivos que aqueles das ortoplataformas), conseguindo apontar cerca meia dzia de subtipos, na sia e na Europa. A estes vrios exemplos de estruturas cratognicas, policclicos, atriburam o fenmeno da
ativao tectnica.
Da escola sino-sovitica tambm so muitos os trabalhos de Guo-
Da (1959) e seguidores, acerca destes processos tectnicos de ativao, a que ele chegou a discriminar como um terceiro elemento fundamental da crosta (ao lado de geossinclinais e plataformas), criando o conceito de Tiwa ou Diwa, e estes compreendendo um sem nmero de tipos (vide Brito Neves, 1 9 9 2 ) . Estas classificaes e desdobramento hoje no tm mais sentido (a no ser histrico), tendo em vista o progresso feito no conhecimento dos movimentos que so
induzidos por interao de placas litosfricas e que adentram em muito o interior dos
crtons (por acreso, subduco/transformncia e coliso, em ordem inversa aproximada de importncia), mas que no passado eram muito empurrados qualitativa e descritivamente para um conceito ento abstrato de ativao.
c) Na escola ou linhagem americana dos geossinclinais, devem-se a M. Kay (1947, 1951), entre outros, as melhores snteses da conceituao, e uma das mais importantes contribuies ao tema, ao abordar dois tpicos fundamentais:
A idia da transitoriedade dos crtons, ou transcrevendo-o: A
craton is a transitory, expanding as orogenies add rocks of former orthogeosynclines,
contracting as new orthogeosynclines reduces its area... (Kay, 1947, p. 1291). Nestes termos, reedita os conceitos de consolidao/cratonizao para o crescimento e
regenerao para a volta s condies geossinclinais, conforme fizera Stille, op.cit.
Alm disso, Kay aponta um critrio lgico e importante, algo
tangvel, para a delimitao dos crtons (problema muito debatido at hoje), aplicando-o ao caso do continente norte-americano. Trata-se da "linha de charneira
da flexura monoclinal que marca a entrada do domnio eugeossinclinal". Nestes
termos figurou o crton norte-americano (Mapa Paleogeogrfico da Amrica do Norte), definindo suas delimitaes (linha Wasatch, a oeste e linha Adirondack, a leste), e consignou a grande longevidade deste crton assim delimitado por miogeossinclinais, definindo-o como hedreocraton ("steadfast" = imutvel, permanente), o que a um s tempo um exagero e uma excelente chamada para o tpico da estabilidade (ortoplataformal) daquele caso.
-
A sntese dos conceitos vigentes nestas trs escolas pode no ser
tudo em termos de histrico e sinonmia, mas o essencial, o mais importante.
Outras incurses nesta seara no traria luzes adicionais, e parecem ser suprfluas e
dispensveis nesta oportunidade, onde os fins didticos so majoritrios. Crton e plataforma so conceitos de origem comum e so
sinnimos, em termos de caracterizao tectnica de rea continental relativamente
estvel. Apesar das tergiversaes de uso, so sinnimos, como acusados e assim
tratados por vrios autores.
Almeida (1977) tentou introduzir no Brasil a conveno sugerida pela reunio da Subcomisso da Carta Tectnica do Mundo, na cidade do Cabo,
frica do Sul, em 1973, com o objetivo de designar a seguinte forma de uso: Crton - segmentos de embasamento consolidado em tempos pr-Brasiliano/
Panafricano. Sentido prximo das "velhas" plataformas dos
gelogos soviticos (ou seja no Transamaznico, no Barramundi, no Grenville, etc.).
Plataforma - designao aplicvel quelas grandes plataformas consolidadas ao
final do Ciclo Brasiliano/Panafricano e coetneos (ou seja Sul Americana, Norte Americana, Africana, Indiana, etc., vide Fig 2.2) Esta tentativa de regulamentar o uso procurou contornar a dicotomia
existente, mas, a bem da verdade, no conseguiu se impor. Nem no Brasil, nem fora
dele, o que no lhe tira o mrito e a boa inteno. Na escola sovitica, os termos
crton e plataforma so usados indistintamente at hoje, ou nos artigos mais recentes. Nos trabalhos mais recentes da Amrica do Norte - grande foco irradiador
da linguagem mobilista - crton tem sido usado para o conjunto de rea de escudo (reas onde o embasamento est amplamente exposto) mais reas estveis recobertas de sedimentos (a que eles reservam a designao, ao nosso ver incorreta - pelo histrico - de "plataforma"). Isto visto em vrios livros-texto e mesmo em lxicos tectnicos modernos (vide Bates & Jackson, 1987), tem registro aqui, mas no nossa concordncia.
Nos demais continentes e centros de produo cientfica (frica do Sul, Austrlia, etc) h misturas de tratamento, conotaes afeitas a paradigmas locais e regionais, utilizao dos termos crton e plataforma como sinnimos, e at mesmo
a designao (incorreta) ou indefinio de crton e rea de escudo ("shield areas"). No apelo aos lxicos e dicionrios tectnicos editados nas ltimas
dcadas (Dennis, 1967; Bates & Jackson, 1980, 1987; Allaby & Allaby, 1990; entre
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outros) no se denota preocupao com esta dicotomia de tratamento nem com a nfase dos atributos aqui considerados fundamentais: antiguidade, transitoriedade
e estabilidade relativa. Alm disto, mesmo que crton e plataforma continuem
utilizados como sinnimos (no so todos os autores), a designao de escudo deve ser preservada para amplas reas do crton onde seu embasamento cristalino est
exposto, onde existe vocao ascencional comprovada, perfazendo assim uma
estrutura de primeira ordem dos crtons, lado a lado com zonas de cobertura (a "plataforma", na designao usual, no apropriada e indesejvel dos norte-americanos) .
3.2. Atualizao do conceito
What is a craton? A craton may be defined as the relatively stable part of a continent, or the interior of a continental plate
What distinguishes "stable" from "unstable" tectonic zone is, essentially, their comparatively slow rate of movement over the time interval in question
Park & Jaroszewski (1994)
Os quadros, sucessivamente apresentados a seguir, II, III, IV, V e VI,
objetivam de uma maneira esquemtica sintetizar as principais caractersticas dos crtons, suas estruturas e estgios evolutivos, procurando a melhor forma de fugir de
detalhes desnecessrios, e recorrer aos tens consensuais. Devem ficar em destaque
desde j que a trilogia estabilidade relativa, antiguidade e transitoriedade, e mais espessura litosfrica privilegiada, e baixo fluxo trmico so condies bsicas, bem como a supremacia em rea dos crtons em termos dos tipos crustais
continentais.
O conceito de estabilidade relativa implica na falta de atividade
tectnica importante, ou ainda homogeneidade nos valores e taxas dos gradientes
tectnicos em geral, sempre tendo um referencial para este julgamento por perto. O que distingue estas zonas estveis (crtons) das zonas instveis (faixas mveis) o comportamento comparativo das taxas de atividade tectnica num intervalo de
tempo (ou ciclo) considerado. Da mesma forma, a distino de ortoplataformas (verdadeiras,
velhas) das paraplataformas (quase-plataformas, semi-plataformas) muito relativa -o que facilmente deduzvel de anlise crtica do Quadro IV - no sentido das taxas
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de atividade tectnica, muito sutil, e muito ao gosto exclusivo dos gelogos da escola fixista. H uma tendncia moderna para o desuso desta distino, que se baseia numa srie de caractersticas gerais, qualitativas por excelncia (tectnicas, sedimentares, magmticas e metalogenticas) do registro geolgico constitudo e preservado, num determinado intervalo de tempo (uma crise na estabil idade).
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Dos gelogos do ocidente destacam-se Sloss & Speed (1974), que tentaram imprimir uma interpretao moderna para as fases de maior ou menor
estabilidade relativa, em consonncia com os acontecimentos nas margens das
placas (estgios ou estilos emergentes, oscilatrios, etc.), sem nenhuma referncia a orto e paraplataforma, tendo em vista a natureza das seqncias sedimentares
formadas, que ser abordada mais adiante (Quadro VII) . O conceito de plataformas jovens, ps-cambrianas (tambm muito
ao gosto da escola sino-sovitica) tende a desaparecer tambm, por razes do moderno conhecimento tectonofsico. A estabilidade relativa delongada parece
inatingvel (ou rarssimo) para quaisquer fraes crustais/litosfricas consolidada nos ciclos do Fanerozico. Quanto mais jovem for a idade termal (original ou imposta por rejuvenescimento importante) de um trato litosfrico tanto mais ele ser afetado e remobilizado com intensidade com a evoluo das faixas mveis vizinhas. a
recproca verdadeira, quanto mais velho, menos retrabalhado (Dewey et al., 1986), dando reforo premissa que antiguidade fundamental para condicionar
estabilidade e caracterizar crton.
As reas instveis tm se transformado gradativamente com o
tempo geolgico em reas estveis, desde o final do Arqueano (aps a chamada etapa "permvel"). ao curso de diferentes ciclos tectono-magmticos. Este processo chamado de "cratonizao" ou "consolidao" desde Stille (diversos trabalhos) apresenta um estgio intermedirio de condies tectnicas, chamado de "estgio de transio" (Tuyezov, 1967), pelos gelogos da escola fixista, durante o qual prevalecem aspectos gerais do tipo paraplataforma, que pode perdurar por at
centenas de milhes de anos, at a estabilidade se concretizar realmente (passando ao estgio de ortoplataforma).
Por seu turno, reas continentais de comportamento estvel,
durante um ou mais ciclos tectnicos (autnticas ortoplataformas) podem sofrer crises de estabilidade relativa, de maior ou menor vulto, extensivas ou em reas definidas
(fenmeno de "ativao tectnica"), sem perder suas caractersticas e prerrogativas de tipo crustal estvel, consubstanciando estgios paraplataformais. A volta s
condies de ortoplataforma pode ocorrer com o tempo ("re-estabilizao"), e, naturalmente com a cessao das c a u s a s . Modernamente, se reconhece dois
grupos fundamentais de causas (vide Brito Neves, 1992) que levam a ativao tectnica, conforme sintetizado no Quadro III:
a) Distrbios Termais Profundos, subcrustais, sublitosfricos, ou por
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ativao do manto - a chamada ativao autnoma, da escola fixista. b) Interao de placas contemporneas (subduces, coliso,
transformncia) e esforos de membrana - a chamada ativao reflexa, da escola fixista.
Estes processos de "ativao" interferem diversamente na periferia
dos ncleos cratnicos (no exclusivamente), e mesmo em corredores que adentram o remoto interior dos continentes, modificando os gradientes tectnicos e trazendo
conseqncias notveis no registro geolgico e metalogentico. Mas no ao ponto da
condio de entidade estvel ser descartada (no deixa de ser crton). Alguns pores de reas cratnicas podem ser tambm, em ciclos
subseqentes, envolvidas completamente de forma mais contundente, a nveis
crustais/litosfricos profundos (retrabalhamento termal, tectnico, magmtico), de forma a que a condio de estvel no subsiste, e passam a fazer parte da faixa
mvel adjacente. Este processo, chamado de "regenerao" por Stille (diversos trabalhos), costuma ocorrer mais na periferia dos crtons (mas no exclusivamente, podendo penetrar pores interiores dos crtons), mas raramente envolvem completamente um crton preexistente.
De modo geral, consoante a observao de vrios autores, o
crescimento dos crtons (e da crosta continental) se faz pela soma algbrica positiva dos processos de consolidao (faixas mveis transformando-se em crtons) e de regenerao (crtons transformando-se em faixas mveis). Vide Figuras 3.1 e 3.2.
A transformao de faixa mvel em crton vem tendo supremacia
na histria da terra, em todos os processos orogenticos e conexos, e isto so dados
facilmente palpveis e mensurveis. Conforme Khain (1980), tudo acontece como no bolero, dois passos para um lado (crescimento, cratonizao) e um passo para o outro (regenerao, decrescimento na poro estvel).
Os crtons se formam (transio e consolidao), crescem por adio de orgenos e colagens orognicas (neocratonizao), podem ter crises de estabilidade passageiras (ativao) e circunstancialmente podem vir a desaparecer (regenerao) - parcial mais que totalmente -, ou ainda serem integrados a outros crtons e faixas mveis (aglutinao, fuso) em etapas posteriores da evoluo. assim sendo em praticamente todos os casos cumprem a premissa de
transitoriedade.
O processo de crescimento dos crtons, a "quelognese",
representada na Figura 3.1, extrada de Sengr (1990), e no exemplo da poro
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norte da plataforma Sul Americana. Figura 3.2., feito por anexao anelar de
orgenos e colagens, edificaes sucessivamente neoconsolidadas, com muitas
implicaes tectnicas para o precursor ncleo central, hospedeiro ou ncleo
semente, e/ou para os anis mais antigos e internos. O crescimento por quelognese
pode to somente "ativar" (nveis crustais rasos) os tratos lito-estruturais preexistentes (estruturas ditas "germanotipo", ou "saxnica") ou podem modific-los substancialmente (nveis crustais profundos, com imposio de novo "imprint" tectogentico), causando a acima descrita "regenerao". Naturalmente, com estes processos, a definio precisa dos limites dos crtons e a demarcao de suas zonas
estruturais internas afetadas pela quelognese (e outras formas de interaes tectnicas) costumam ser temas ricos de feies a serem analisadas, e muito polmicos em geral.
3.3. Estgios estruturais e estratigrficos
Os crtons apresentam dois estgios maiores estruturais-
estratigrficos, separados por uma discordncia angular e erosiva importante: o
embasamento e a cobertura, como sintetizado no Quadro V. O primeiro estgio de grande complexidade lito-estrutural em geral (no varejo), mas pode ser sintetizado sem problemas, ainda que incorrendo em certo simplismo, mas devidamente
fundamentado nos exemplos de todo mundo. Do bloco sino-coreano ao crton do S.
Francisco, da Austrlia ao Canad, no Dharwar (ndia) e na Sibria, os terrenos de baixo grau e de alto grau, mais as intrusivas posteriores (conforme esquema montado) so a tnica dominante.
Os escudos (estruturas de primeira ordem) so historicamente definidos como amplas reas de exposio de rochas do embasamento do crton,
com vocao epirogentica ascencional secular - milhes de anos - de forma que no
permitem a fixao de contingentes sedimentares expressivos. H, inclusive, alguns
autores, como Crough (1979), que vem nesta caracterstica uma possibilidade de conexo das reas escudais com existncia de "hot spots" no devidamente
conhecidos, explcitos ou localizados, mas isto no pode ser comprovado ainda.
Para as reas menores, onde o embasamento se expe tm sido usados muitos
termos, como "macios" (e.g. macio uruguaio-sul riograndense, macio do Rio Apa, etc.), "altos", "arcos", etc., todos pouco felizes face o comprometimento destes
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termos com outros elementos tectnicos e outras situaes geolgicas.
A riqueza mineral do embasamento dos crtons muito decantada,
principalmente dos terrenos de baixo grau (greenstone e assemelhados) e nas litologias mficas e uitramficas, sejam de alto grau ou sejam aquelas intrusivas mais tardias.
O antepas a zona do crton (com embasamento ou cobertura presentes) bordejando uma faixa mvel, ou ligada de certa forma evoluo da faixa mvel vizinha para onde se dirigem os falhamentos inversos e as dobras
recumbentes. Concebido desde os tempos de Suess, e com vrios seguidores e
vasta sinonmia (Vorland, Dauerland, Foreland, Avant-Pays), o termo/zona est em estgio de fluxo, no havendo consenso at onde estender esta zona crton a
dentro. Em tese, toda borda e mesmo o interior do crton deformado de alguma
forma pelas faixas mveis vizinhas, sem regenerao do embasamento (nveis crustais rasos), vem sendo includa como "antepas" e a aluso feita a "tectnica de antepas" (vide Fig. 3.3)
A cobertura s.l. de um crton tem normalmente vrias fases de
evoluo. Um estgio/fase de cobertura pode inclusive preexistir a individualizao
do crton como entidade tectnica, trata-se do estgio de pr-plataforma, podendo
este estgio herdado junto com o embasamento ser de origem e natureza bastante diversas. As coberturas paleo e mesoproterozicas hoje ainda preservadas nos crtons do S. Francisco, Amaznico e S. Luis-frica Ocidental so exemplos (Chapada Diamantina, Roraima, Beneficente, etc., etc.) so exemplos muito bons deste fato.
A cobertura pr-tectognese ou singeossinclinal aquela correlata
aos depsitos das faixas mveis prximas do Crton (tipo Supergrupo So Francisco, Grupo Alto Paraguai), nas fases de mxima extenso da lmina d'agua, e que podem cobrir zonas de antepas e mesmo se estender a partes do interior remoto e estvel
("full cratonic areas"). Os depsitos ps-tectnicos ou molssicos so aqueles postados na periferia do crton e advindo por eroso dos altos gerados pela
orognese das faixas mveis vizinhas (tipo formaes Palmares, Piri, etc.). Neste contexto de ps-tectnicos devem ser colocados os depsitos oriundos de processos
de extruso ou "escape tectonics" (a serem discutidos mais frente) das fases finais de evoluo das faixas mveis, quando estes se estenderem aos domnios
cratnicos. Outros mecanismos locais do interior ou da periferia do crton
-
contingentes sedimentares e estruturas, geralmente descontnuas. Esta referncia
aos depsitos da "tectnica de ativao" (interna ou autnoma, externa ou reflexa) tem vrios exemplos no Crton Amaznico (Surumu, Iricoum, Iriri, Beneficente, etc.) e So Francisco (Rio dos Remdios, Paraguau, Chapada Diamantina, etc.), ou seja, principalmente para aquelas coberturas mais antigas, pr-plataformais.
Para as coberturas "no-dobradas", no caso se falando das
coberturas sedimentares fanerozicas e suas estruturas de diferentes bacias, da
histria evolutiva aps a formao do crton, o cotejo desponvel para classificao muito amplo, e foge at dos objetivos deste texto. Mas h duas linhas de abordagens que merecem ser incentivadas.
a) Uma mais antiga (mais sempre atual), que a aquela das seqncias sedimentares cratnicas de Sloss (1963), Sloss & Speed (1974; recentemente revista por Sloss, 1988), na qual cada seqncia sedimentar materializa o registro de um estgio evolutivo do crton de descida e posterior
asceno. Estas seqncias so unidades lito-estratigrficas informais de categoria
superior a supergrupo, separadas por discordncias angulares de carter
interregional, e que compreendem o conjunto de depsitos acumulados e preservados em cada ciclo de subsidncia e soerguimento generalizado do crton
(sinnimo de holossoma). Nas bacias sedimentares brasileiras (plataforma Sul-Americana), este tipo de abordagem foi aplicado (Almeida, 1969: Soares et al.,1984) com sucesso, e devidamente atualizado pode ser aplicado, numa forma elegante e
inteligente de apreciar a evoluo dos estgios de cobertura com a tectnica.
No esquema de Sloss & Speed, so consideradas trs
possibilidades de estilos tectonico-sedimentares (Quadro VII) : -Estilo emergente - episdios de soerguimento e eroso lentos
(seguidos de subsidncia) predominam, correspondendo ausncia de processos convergentes nas margens da placa onde est o crton. Predomnio de eroso.
-Estilo oscilatrio - episdios rpidos de soerguimento e submerso,
atividade de blocos importantes, sedimentos imaturos predominam (corresponde s fases de ativao dos gelogos soviticos, sem que a referncia seja evocada). Atribudo presena de uma margem ativa (com bacia de retroarco) ou margem transformante.
-Estilo submergente - progressiva depresso abaixo do nvel do mar,
importantes depsitos de mares epicontinentais, com baixas taxas de sedimentao.
Atribudo presena de margem ativa na placa onde est situado o crton, sem
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bacias de retroarco intervenientes. Esta formao de amplas seqncias
sedimentares cratnicas tabulares corresponde aos estgios ortoplataformais dos
gelogos soviticos, novamente sem a aluso ter sido feita (fases talasssocrtica e geocrtica de Almeida, 1969, no paleozico brasileiro, por exemplo).
b) Outra linha de abordagem mais contida regionalmente, ou de expresso mais local, no trato dos sedimentos acumulados e suas estruturas, com
relao aos conceitos modernos de tectnica global, merecendo destaque, entre
muitos outros Bally & Snelson (1981) e Kingston et al. (1983), que merecem ser alvos de leitura/anlise mais direta, no original. Na viso deste autor so as classificaes
de bacias sedimentares cratnicas (e outras no cratnicas) mais atualizadas e inteligentes na praa, sob a gide dos princpios modernos da Tectnica Global.
Neste segundo trabalho, os autores identificam oito tipos
fundamentais de bacias sedimentares, sendo deles quatro em crosta continental
(IS=sinclise, IF=fratura interior, MS=sinclise marginal e LL= rifte associada com transcorrentes), que esto sinalizados no Quadro V, com referncia tectnica formadora das bacias sedimentares. Alm disso, oferecem um quadro com os vrios
estilos e intensidades de tectnica de deformao possveis, desde muito fraco(a) at muito forte (f), ou seja um leque muito bom para analogias, e que tambm foi aplicado com sucesso nas bacias sedimentares brasileiras (Figueiredo & Raja Gabaglia, 1986).
Nesta linha de abordagem devem ser sempre considerados a
tectnica formadora, os ciclos deposicionais, e a tectnica deformadora ou
sobreposta e avaliao da intensidade desta, ficando claro que toda bacia
sedimentar tem uma evoluo poli-histrica. A aplicao bem conduzida destes
parmetros para os sedimentos fanerozicos "no dobrados" devida a maior
disponibilidade de valores de tempo geolgico nas bacias fanerozicas (fsseis), mas no exclui em princpio a apreciao das coberturas ditas "dobradas". Da intensidade
"a" at a intensidade "f", so muitas as possibilidades de classificao e analogias,
desde coberturas absolutamente no dobradas (a) at mesmo fortemente dobradas (f), e destas para verdadeiras faixas mveis.
3.4. Estruturas cratognicas
As estruturas de primeira ordem dos crtons foram acima
-
consideradas, as zonas de escudo (soerguimentos amplos, interregional, continentais) e as coberturas (bacias/zonas de subsidncia). A estas devem ser acrescentadas as margens continentais passivas, ou depresses pericratnicas, que
delimitam os crtons, e que, ao menos parcialmente (umas mais, outras menos) esto localizadas dentro do domnio cratnico (a sendo includas sinclises marginais, aulacgenos, sistemas de rftes e grbens, etc.).
As estruturas adiante discutidas, de ordem imediata sero aquelas
do interior do crton (podendo chegar s margens), de repercusso geolgico-estrutural regional ou local. Elas so de vrias naturezas e variam em magnitude e
intensidade de acordo com o estgio evolutivo do crton.
3.4.1. Estruturas de Subsidncia ("bacia") e Soerguimento ("uplift")
As sinclises (IS), j mencionadas anteriormente, so produtos de depresso lenta, gradual e ampla dos crtons ("dobras de fundo"), ao curso de centenas de milhes de anos, caracterizadas por mergulhos centrpetos de baixa
intensidade dos sedimentos ali depositados (seqncias sedimentares cratnicas), e que podem atingir at mais de um milho de quilmetros quadrados em rea,
consoante amplas formas subcirculares ou ovaladas. A esta normalmente grande
extenso em rea correspondem depocentros na faixa de 4 a 6 km, e
excepcionalmente maiores.
Em tese, so circundadas por estruturas antnimas, de
soerguimento igualmente lento e gradual (para alguns autores no h soerguimento e sim comportamento neutro relativo), as chamadas antclises, de extenses muito grandes. Estruturas positivas de extenses menores, antiformais ou
braquiantiformais, podem limitar as sinclises, e recebem nomes de domos ou de
forma menos adequada, a designao de swells. Algumas vezes, domos, antdises
e "swells" (e at "arcos") aparecem na bibliografia como sinnimos, mas no so estas designaes adequadas.
Quando a sinclise muito rasa em profundidade (1 km ou menos), para grandes extenses proporcionais em rea, aparecem na literatura termos
distintivos como dala (Bogdanov, 1963, in Muratov, 1977), mesa e/ou tableland (muito comum na Amrica do Norte). Para os gelogos soviticos a conformao de dala a expresso estrutural do crton para perodos/estgios de mxima estabilidade
(ortoplataformas) relativa.
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No caso de sinclises bastante deprimidas, com mergulhos
centrpetos fortes das seqncias sedimentares, preservando fundos chatos,
vertentes abruptas e incidncia de magmatismo basltico como soleiras e trapas -
grandes derrames interregionais mais intenso do que os riftes usuais e associados
com grandes falhas -, os gelogos soviticos usam a designao muito particular de
anfclise, e apontam Tunguska, na Sibria, como o melhor exemplo (Muratov, 1977). Segundo este conceito, estas estruturas caracterizam estgios paraplataformais
(durante forte ativao dos crtons), e consoante a maior expresso vertical da subsidncia na bacia, verifica-se soerguimento importante e linear nos flancos, que
passam a ser chamados de arcos, onde tambm o magmatismo basltico e alcalino
vigoroso.
De uma forma geral, as grandes bacias sedimentares brasileiras
foram sinclises no Paleozico, do Siluriano ao Trissico, no sentido moderno do
termo (IS, de Kingston et al., 1983). Elas se transformaram em anfclises no Mesozico, pelo importante processo de ativao ento consignado (abertura do Atlntico, dobramento dos Andes e outros eventos de manto ativado do interior do
continente). No caso de Solimes e Mdio-Baixo Amazonas, este processo de transformao/ativao foi precoce, comeando no Permiano. Isto, para usar a
terminologia praticamente exclusiva da escola sovitica.
As zonas de soerguimento, ou de uplift (em geral) so mais difceis de estudar devido falta de registros estratigrficos concretos, diferentemente das
zonas de subsidncia. Acredita-se que volumetricamente eles devem balancear com
o suprimento sedimentar verificado nas bacias.
Um outro tipo especial de soerguimento (sem designao formal ou informal) de grande amplitude se verifica atualmente naquelas regies do hemisfrio norte que estiveram cobertas pelo gelo quaternrio, o qual atinge valores calculados
e/ou medidos na ordem uma centena de milmetros por ano por sobre perodos de
tempo de at 10.000 anos.
3.4.2. Estruturas Rpteis e Rpteis-Dcteis
Os lineamentos e falhas profundas so estruturas comuns de muitos
crtons, muitas delas tendo sido formadas antes dos processos de cratonizao (estgio de faixa mvel), mas persistindo ao longo dos estgios de evoluo do crton, com perodos de menor (ortoplataforma) ou maior atividade (paraplataforma).
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Elas so reativadas diferentemente de acordo com as solicitaes tectnicas, sendo
responsveis por muitas estruturas extensionais (grbens, riftes, aulacgenos, etc.), e mesmo compressionais (falhas reversas, pequenos empurres), consorciados de alguma forma ao rejeito direcional.
Na Plataforma Sul-Americana so muitos os exemplos destes
lineamentos, e de suas influncias, interferindo na evoluo tanto das grandes
sinclises como na definio da maioria das estruturas tafrognicas interiores.
Sistemas de riftes e grbens, e aulacgenos e outras estruturas
extensionais assemelhadas so muito comuns do interior (no exclusivamente) da maioria dos crtons, formando bacias tafrognicas (yoked basins) de vrios desenhos (grbens, semigrbens, sistemas complexos de grbens) e lado a lado com altos estruturais, horstes e sistemas de horstes. Os exemplos de Nordeste (Tucano-Jatob, Alto e Mdio Jaguaribe) e Sudeste brasileiros (sistema de riftes e grbens da Guanabara a Curitiba) so suficientes para ilustrar estes casos.
Ramos abortados de junes trplices ou aulacgenos so muitas vezes estruturas intermerdirias entre riftes e bacias, muitos deles adentrando o
interior das plataformas, e servindo de precursores para sinclises sobrepostas
(como no caso da Bacia de Moscou e outras). O sistema Potiguar Central-Araripe, no Nordeste do Brasil outro exemplo importante (vide Cordani et al., 1984). Outras estruturas de igual importncia so aquelas geradas por coliso nas margens das
placas, afetando o remoto interior cratnico (os impactgenos, Burke, 1980) com estruturas e bacias extensionais. O sistema do Baikal, na sia, e o rifte do Mdio e Baixo Amazonas (do final do Pr-Cambriano) so exemplos destas estruturas no interior de reas cratnicas.
Estrutruras de falhas de rejeito direcional tm sido apontadas em muitos crtons, com exemplos em praticamente todos os continentes, ligados ou no
aos grandes lineamentos. Eles promovem dobramentos locais (estruturas em flor), lineares, ou mais espraiados (dobras en echelon, sistemas transpressionais) na cobertura sedimentar, com intensidades bastante variveis, sendo considerado fator
importante na tectnica deformadora das coberturas cratnicas (Kingston et al., 1983). De certa forma, sob condies gerais de compresso e ou extenso, antigas zonas de falhas sempre vo produzir movimentos direcionais, que tm sido
detectados mais pela expresso transferida aos sedimentos, mas tambm por
estruturas cataclsticas observada em vrias escalas.
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3.4.3. Estruturas Compressionais. Dobramentos
Em contraste com as estruturas extensionais, relativamente comuns
nos crtons, as estruturas compressionais so raras, ou at mesmo a priori
suficientes para afastar o conceito de domnio cratnico. Isto conseqncia natural
do fato da maior resistncia da litosfera continental (e dos ncleos cratnicos) s deformaes compressivas.
A presena de estruturas de compresso envolvendo crtons
apontada taxativamente por alguns autores (como Kamaletidikov et al., 1987), a diversos nveis crustais. Para grande maioria dos autores, isto s possvel a nveis
crustais superiores, de cobertura (tegumentar). Para outro grupo de autores, a presena mesmo de dobramentos gerados por compresso a nveis crustais rasos
seria suficiente para no mais considerar a rea dentro do crton. A abordagem do
tema controvertido em diferentes escolas, em diferentes pocas de apreciao.
Apenas o chamado dobramento do tipo "estruturas de blocos falhados"
("Blockgebirge" ou tipo Saxnico ou Germanotipo) parece consensual como pertencente ao contexto dos crtons, na grande maioria dos textos consultados.
Como mencionado acima, nas escolas fixista e mobilista varia
bastante o grau de admisso e/ou rejeio das estruturas compressionais em domnios cratnicos, sendo este ponto sem consenso inter e intra-escolas, e o que
vai repercutir muito no traado dos limites entre rea estvel (crton) e rea instvel (faixa mvel). como ser visto, este problema em aberto e de franco debate na Tectnica.
Um exame nos estilos dos dobramentos nas reas cratnicas, ao
mximo dentro do consensual possvel, permite distinguir:
a) Dobramentos Induzidos da Cobertura Dobras monoclinais ou em caixa, descontnuas, formadas em
resposta ao movimento de blocos falhados do embasamento sotoposto, horstes e
grbens ou ainda por reverso no rejeito de falhas normais e inversas. Este o clssico dobramento descontnuo ou germanotipo (tambm chamado de tipo Saxnico, "Drape-folds", etc.), como exemplificado na Figura 3.4.
b) Dobramentos desenvolvidos sobre falhas transcorrentes O dobramento produzido na cobertura, em vrias escalas
(inclusive ao nvel de orgenos) e em vrias intensidades, em resposta a movimentos direcionais de blocos falhados sotopostos. As dobras so arranjadas "en echelon",
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com direes oblquas em relao ao trao da falha. Dobramentos em flor (positiva ou negativa) resultantes destes tipos de deslocamento so detectados com freqncia nas grandes sinclises, e mesmo em outros tipos de bacias sedimentares
brasileiras, em indiscutvel condio de crton. Na Bacia do Paran h vrios
exemplos conhecidos de campo e registrados na literatura desta feio, que por seu
turno est devidamente apontada na classificao de Kingston et al. (1983), anteriormente comentada.
c) Dobras produzidas por diapirismo Dobramentos gerados nos topos de massas com importante
deslocamento vertical, ascencional, sais, argilas e outras litologias pouco densas.
Estes so tipos muito comuns nas bacias sedimentares do domnio equatorial da
margem continental brasileira.
d) "Dobramento Superficial" ou "Dobras sem raiz" Trata-se do dobramento restrito cobertura do crton, por sobre
uma superfcie de descolamento importante ("detachment"), e conduzida por vetores compressionais advindos da tectognese das faixas mveis vizinhas. Muitas vezes
esta deformao includa como parte do "foreland thrust-and-fold belt", como ser
visto no trato com as faixas mveis. Alguns autores j as incluem no contexto das faixas mveis, outros no contexto dos crtons (como agora), mas isto ser sempre uma deciso discutvel quando tratado com dados de geologia de superfcie apenas.
Exemplos brasileiros so muitos, praticamente ladeando
externamente todas faixas mveis circunadjacentes ao Crton do So Francisco (vide Fig. 3.3). Na Europa Ocidental, na Sibria, em muitos crtons de todo mundo h exemplos destes dobramentos relativamente contnuos, destacados do
embasamento ("dobramentos superficiais de Argand, 1922). Um dos mais belos exemplos que pode ser citado o do dobramento cerrado de direo este-oeste que
caracteriza o Supergrupo So Francisco (no caso, Grupo Una) na estrutural sinformal de Irec, na Bahia, deslocado por sobre um embasamento rgido( do Grupo Chapada Diamantina), estruturado claramente na direo mais antiga, norte-sul.
Algumas vezes estes dobramentos trazem fraes do embasamento
envolvidas ("thrusts sheets"), como exemplificado na Figura 3.5, e por isto s com os parmetros bidimensionais de anlise no se deve considerar estes dobramentos
como no domnio do crton. Muitos autores excluem estes dobramentos do crton,
como surpreendentemente o fez Aubouin (1965), que os coloca nos tpicos referentes tectnica "geossinclinal"), e trata estas unidades lito-estruturais como
-
parte ou um tipo de faixa mvel.
3.5. O problema dos limites dos crtons
Os tipos crustais so definidos como poses circunstanciais e
transitrias de uma poro (zenital) da crosta, com repercusso subcrustal, litosfrica. Nas definies dos limites dos tipos crustais continentais (crtons e faixas mveis entre eles) vai existir estreita dependncia da escola do conhecimento cientfico e mais ainda do nvel de conhecimento geolgico e geofsico, tridimensional, da
entidade em questo e de suas adjacncias. No primeiro caso, as dissenes so naturalmente muitas, de
conciliao difcil e de discusso cansativa e repetitiva, tendo em vista os pontos de
partida e de chegada distintos da anlise do problema, antagnicos em muitos
aspectos. No segundo caso, a experincia vem demonstrando que com o
crescimento do nvel do conhecimento, muitas das dissenes e discusses
anteriores eram improcedentes ou desnecessrias. E, chega-se quase sempre
prximo de uma mxima antiga das geocincias que "a natureza no d saltos" (parafraseando F. Almeida) e que as condies de transio so as mais freqentes: ou pelo menos que a fixao em limites concretos, lineares e precisos, so carncias
do homem e no preocupao da natureza.
A necessidade de precisar limites bidimensionais ou discriminar com
exatido geomtrica os domnios corresponde mais a uma ansiedade do pesquisador
do que a realidade da poro rgida e externa da Terra no seu mbito tridimensional.
A experincia mostra que cada vez que o nvel do conhecimento
avana, ou cada vez que nova tecnologia de anlise vem a ser empregada, os
l imites" antes delineados, de forma convencional ou arbitrria sempre so revistos.
a reviso com o progresso do conhecimento pois necessidade imperiosa em todos
os casos, e deixar o problema sempre em aberto uma deciso inteligente e no
uma via de escape. Os tipos crustais so diferentes, dos pontos de vista geolgico e
geofsico, com grande repercusso quanto a isto, mas a discriminao absoluta de
limites entre eles nem sempre de pronta e geomtrica identificao.
Os limites considerados abruptos e bem definidos (linearmente) para os crtons so geralmente aqueles com os tafrgenos (riftes e aulacgenos, que podem inclusive estar contidos no crton) e as margens continentais passivas
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(para com os demais tipos crustais ocenicos, e mais raramente ou localmente (partes de um limite) aqueles com os orgenos e colagens orognicas, consoante as chamadas "falhas profundas" ou "lineamentos".
Nas margens passivas, entre o crton e os demais tipos crustais
ocenicos pode interagir uma srie de aulacgenos e riftes, e as bacias
sedimentares ali formadas partilham o substrato com tipos crustais continentais (o crton) e ocenicos, e alm disso o limite da crosta continental colocado por conveno na parte mediana do talude. Ou seja, as designaes de limite abrupto so na verdade convencionais!
Entre crtons e faixas mveis h vrios tipos de limites, passagens
e transies (ou pelo menos assim descritos), e mais raramente os chamados limites bruscos, prontamente definidos, como acima mencionado. Nestes casos de limites
abruptos, pelo menos no Brasil (em vrias pores dos "limites" usualmente propostos para os crtons S. Francisco e Amaznico), o avano do conhecimento geolgico de campo e mais ainda com a utilizao de dados geofsicos, verifica-se
que a feio superficial de brusquido, ou retilinearidade importante dos limites pode
ser enganosa. Tanto a anlise estrutural em escalas maiores como os dados
geofsicos mostram que estes "limites" previamente estabelecidos no correspondem
realidade, ou pelo menos so discutveis (tratam-se de convenes luz do aspecto superficial, e de escalas menores de conhecimento), e carecem de reviso.
Como ser visto a seguir, dentre e entre os adeptos das escolas
ditas "geossinclinal" e de "tectnica global" h variaes no tratamento do problema e
dos critrios para discriminar os domnios de crtons e faixas mveis.
3.5.1. "Escola Geossinclinai"
A questo dos limites, a se deduzir pelas snteses das reas
clssicas do Leste Europeu (Bogdanov, 1966) e Siberiana (Savinskiy et al., 1973) est longe de consenso. Em primeiro lugar h o problema de conceituao muito varivel de plataformas, faixas mveis, e as designaes dos limites passam por outros termos de forte conotao conceitual e pessoal, como "geossuturas marginais", "depresses pericratnicas", antefossas, etc.
Todos estes conceitos apresentam problemas de forma, dimenses,
abrangncia, natureza do embasamento, grau de retrabalhamento do embasamento, tipo de deformao da cobertura, etc. Na falta absoluta de unanimidade sobre estes
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conceitos, os limites definidos para estas plataformas de reas clssicas variam
amplamente. Na prtica, verifica-se que h uma tolerncia bem maior no trato com o
carter da estabilidade relativa, sendo includo no domnio de reas cratnicas
contingentes importantes de reas afetadas pela tectnica das faixas mveis vizinhas
(isto em comparao com os critrios atuais da escola mobilista). Almeida, em 1977, ao traar os limites do Crton do S.Francisco,
dentro do esprito da escola fixista, definiu vrios dos critrios (convencionais) que devem ser considerados na separao do crton para a faixa mvel. Mesmo
sabendo-se da falta de consenso e da conotao pessoal que pode envolver estes
critrios, eles so aqui repetidos, como sntese muito boa:
a) Descontinuidades estruturais significativas, com grande expresso fisiogrfica, em geral com
b) Justaposio de unidades litoestratigrficas distintas c) Sistemas de falhas (reversas de grande rejeito) mais externas dos
sistemas de dobramentos
d) Dobramento descontnuo ou idiomrfico-sentido de Beloussov (1962), no domnio cratnico, contraposto ao dobramento holomrfico na faixa mvel
e) Retrabalhamento do embasamento, a nvel dos sistemas isotpicos, ficando o crton indene aos processos de "rejuvenescimento isotpico"
f) Contraste entre os padres gravimtricos, magnetomtricos e cintilomtricos, da faixa mvel para o crton.
3.5.2. Escola da "Tectnica Global"
Nos autores mais modernos de tectnica nota-se clara tendncia de
restringir a designao de crton para aqueles redutos da placa continental preservados integralmente da deformao, mais interiores ou no. Assim sendo, de acordo com Sengr (1991; comunicao escrita), muitas bacias de antefossas esto na verdade totalmente fora da rea cratnica. Neste sentido, preciso discriminar
vrios contextos desde a faixa mvel, como: i) faixa mvel, ii) foreland thrust-and-fold-belt, iii) zona de antepas (foreland ou hinterland), quase-cratnicas e iv) reas plenamente cratnicas ("full cratonic areas").
De acordo com os dados geolgicos de detalhe de superfcie e de subsuperfcie e com dados geofsicos, a deformao se faz de forma contnua no espao e no tempo, da zona de sutura at o ncleo estvel. Alm disso est sendo
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comprovado que a deformao se faz de forma diferente, quantitativa e
qualitativamente, de um compartimento a outro, de uma seco a outra, em
distncias laterais relativamente pequenas (Brown, 1968), de forma que a falta de balanceamento de uma seco a outra comum. Em outras palavras, o avano da
deformao se faz de formas bastante diferentes, de um compartimento a outro, no
sentido da rea estvel.
Assim sendo, as tentativas de definir e precisar limites geomtricos
rgidos, e de zonear de forma taxativa (orgeno-antepas-ncleo estvel ou outras) recaem sempre em produtos simplistas e irreais, mais ainda quando se usam apenas
dados da geologia de superfcie.
Como exemplo desta realidade, e desta tnica de anlise para onde
devem convergir as preocupaes futuras, vale apenas analisar a figura de um
orgeno idea l , de Hatcher & Williams (1986), Figura 3.5 e destacar: a) a deformao segue de forma contnua da sutura colisional para
o crton, existindo contingente lito-estrutural deformado para o lado do hinterland
(alm pas) e outro para o lado do foreland (ante pas), sendo irrealstico discriminar/estabelecer limites na superfcie.
b) o foreland-thrust-and-fold belt em grande parte est sobre o embasamento no deformado, mas em parte traz consigo "thrust sheets" do
embasamento.
c) o perfil gravimtrico cai gradativamente do interior do ncleo para a faixa mvel, atravessando toda a "zona pericratnica" sem quebras notveis, at o
gradiente mais proeminente definido j sob o interior da faixa mvel. Considerando estes fatos e mais as observaes (no contexto das
faixas mveis) sobre a diversidade dos stios orogenticos (tranpressionais, subduco, obduco, colisionais), a variedade das margens continentais e do comportamento destas, devido suas idades termais, os processos de extenso e
colapso ps-orogentico, e tc , todos so indicativos que a posio sobre o tema dos
limites dos "globalistas" a mais correta, e que a discusso exaustiva do problema
na escola geossinclinal tende simplesmente a ser abandonada como um passo
evolutivo das cincias geolgicas. Em outras palavras, a condio de transio a
mais freqente, e ela deve ser acompanhada e palmilhada (e compreendida em trs dimenses), deixando de lado a sofreguido por linhas divisrias conspcuas em superfcies e/ou zoneamentos geomtricos absolutos. Por isto e para isto, a reviso e
o aprofundamento - com geologia e geofsica - nestas reas de limites constituem
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temas inesgotveis da pesquisa. Cada vez que uma reviso mais acurada feita nestes limites, so
propostas modificaes na silhueta externa do crton. No caso do Crton do S. Francisco, exemplo bem nosso e corrente, cada reviso ultimamente tem tendido
para o lado "globalista" e tem sido notrio o "emagrecimento" do crton, em relao a sua proposta original (1966, 1967).
3.6. Os crtons e suas razes
Uma srie de dados novos, chamados de fronteira das pesquisas
geolgicas, geofsicas (sismologia, geologia isotpica) e geoqumica vem demonstrando que o conceito de crton tem substncia mais alm do que supunham
vrias geraes de gelogos ao longo deste sculo em que o tipo crustal foi
delineado. Esto sendo confirmadas raizes profundas nas partes mais antigas dos
crtons, de centenas de quilmetros de espessura (300-400 km) e at mais, que acompanham os movimentos das placas litosfricas. Esta constatao e seus dados
ainda no chegaram condensados aos livros-texto usuais (vide Jordan, 1981, 1986; e, sntese de James, 1994) implicam numa reviso drstica no conceito de litosfera continental e mais ainda na sua distino de litosfera ocenica.
A definio de litosfera como foi visto inicialmente tem obedecido a
critrios mecnicos (resposta mecnica, espessura elstica) e termais (transferncia de calor por conduo acima de um limite sob o qual ocorre conveco). As inconsistncias destes critrios e as novas evidncias geolgicas e geofsicas
conduzem a investigar a existncia de um limite qumico, e distinto no manto superior
(para a litosfera continental, pelo menos). Numa primeira anlise elementar, a existncia de temperaturas mais
baixas a grandes profundidades seria a causa original da estabilidade cratnica ao
curso dos tempos geolgicos. Mas o problema revela-se mais complexo, sendo
requerida e comprovada uma diferenciao geoqumica importante nas raizes
cratnicas, e em toda a litosfera continental.
As evidncias sismolgicas so variaes importantes nos tempos de percurso das ondas ScS (alm de outros dados de ondas superficiais, ondas S e S mltiplas) que conduzem a interpretao que debaixo dos crtons, a litosfera no somente mais espessa, mas tambm de natureza diferente, altamente resistente
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deformao.
H outra considervel massa crtica de dados sobre a composio
do manto superior dos domnios cratnicos, a partir do estudo de xenlitos de "pipes"
vulcnicos, de geobarometria, geotermometria e isotpicos condizentes com a
existncia de uma profunda raiz mantlica composta de um reservatrio de baixa
densidade (devido ao empobrecimento em componentes baslticos). Nestes termos, Jordan (1981) props usar o termo tectosfera para
designar estas entidades coerentes das placas, espessas e composicionalmente
diferentes, e restringir o termo litosfera continental sua definio clssica de
camada rgida externa do planeta. A tectosfera definida tambm por seu
comportamento cinemtico (acompanha o movimento das placas), enquanto que a litosfera e a astenosfera permaneceriam definidas por seus comportamentos
mecnicos. Assim, nos continentes, tectosfera e litosfera so conceitos nitidamente
distintos, a tectosfera cratnica se colocando por sob a litosfera at profundidade de
400 km ou mais.
Segundo ainda Jordan (1981), a espessura da tectosfera controlaria a estrutura trmica do manto, e existe uma relao estreita entre a espessura da
litosfera e a idade da crosta (as zonas mais espessas so localizadas sob os mais velhos tratos continentais). Existe uma boa correlao entre as variaes de espessura da tectosfera - deduzido dos dados de ondas ssmicas - e as estimativas
de fluxo de calor subcrustal. Como a espessura da tectosfera aumenta com a idade
da crosta, paralelamente o fluxo de calor em superfcie diminui.
A este propsito, no contexto dos continentes, Aswal & Burke
(1989), distinguiram em frica dois tipos de mantos litosfricos, um para a poro subcrustal dos ncleos cratnicos antigos (semelhante aos definidos por Jordan, que ento citado) e outro para a poro subcrustal, hoje cratnica, das faixas mveis panafricanas. Este manto litosfrico (das faixas mveis) de acordo com os estudos geoqumicos e geofsicos dos autores seria menos espesso, mais quente,
contribuindo mais com o fluxo de calor em superfcie, e produzindo velocidades
ssmicas inferiores de aquele das velhas reas cratnicas. As conseqncias destes
fatos se traduz no vulcanismo cenozico intra-placa, que especialmente
concentrado nas reas panafricanas (manto litosfrico frtil) e praticamente ausente dos ncleos cratnicos mais antigos (manto litosfrico empobrecido). Ou seja, o manto no s diferente debaixo dos crtons, como apresenta diferenas passveis
de discriminao, consoante a idade e tipo crustal acima.
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Se para os continentes estas diferenas so importantes, tectosfera e litosfera devam ser considerados separadamente e at mesmo apresentem
distino em rea, isto no acontece com os oceanos. Todos os dados convergem para que o conceito de litosfera ocenica esteja bem assentado, e o termo tectosfera neste caso seja dispensvel ou equivalente ("les parties les plus minces se trouvent sous Ia crote oceanique recent...", referindo-se Jordan tectosfera).
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4. AS FAIXAS MVEIS
4 .1 . Evoluo do conceito e sinonmia
"All regions, then, which today appear as less mobile segments must have been mobile belt once".
W.H. Bucher (1933)
A sinonmia de faixas mveis prolfera, em parte pelas razes
expostas na epgrafe escolhida, em parte pela diversidade natural deste tipo crustal e
litosfrico no cenrio geolgico de diferentes continentes, em diferentes tempos, e
tambm pela varieda