bubalinocultura leiteira no brasil

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 Bubalinocultura leiteira no Brasil tendências, parcerias e fomento Wanderl ey Bernardes -1997 Histórico e Generalidades Os búfalos dividem-se em duas grandes famílias: o búfalo do pântano e o búfalo de rio.  No Brasil existem hoje quatro raças, uma de búfalos de pântano, o Carabau, a nimal utilizado principalmente para tração na região norte do país, e as demais, da família de  búfalos do rio, que são o Jafarabadi, animal que chega a atingir 1.600Kg que, apesar de  produzir leite, é destinado principalmente para exploração de carne; a raça Murra h de origem asiática, particulrmente da Índia e os da raça Mediterrânea, de origem it aliana, estas últimas destinadas ta nto à exploração de carne quanto de leite. Estima -se a  população mundial em cerca de 180 milhões de animais, responsáveis pela produção de 7% do leite do planeta (FAO-1.983), e que se encontram distribuidos praticamente em todos os continentes, particularmente na Ásia (Índia, Paquistão, Tailândia, China, Vietna), África (Egito), Europa (Itália, Bulgária) e América do Sul (Brasil, Argentina,Venezuela,Perú) . A espécie é explorada para a produção de carne, tração animal, produção de esterco e de leite, sendo que na Índia, 80% do leite produzido é de  búfalos, que representam 30% dos rebanhobovideo do país. Há pouco mais de 100 anos, aportaram no Brasil, precisamente na Ilha de Marajó, alguns búfalos da raça Cara bau que forma trocados por víveres, com cida dãos das Guianas. Durante longo período, ficou praticamente confinado em alguns esta dos do norte, particularmente no Pará, mais  precisamente na Ilha de Marajó, onde chego u a sere caçado c omo animal selvagem em "safaris" organizados para esse fim. Outras importações, a gora das demais raças, ocorreram por volta de 1940/50, em pequenos lotes junto a grupos de bovinos importados. Há cerca de 25/30 anos, a espécie passou a s er melhor observada como de grande potencial econôm ico, atendo-se os seu novos criadores, dos estados mais ao sul do país, à sua exploração para o abate. Há cerca de 20 anos, alguns criadores no Sul e Sudeste, observando o inegáve l potencial leiteiro destes a nimais, particularmente os da raça Murrah e Mediterrâneo, passaram a promover uma seleção neste sentido e deram início à produção experimental de laticínios derivados de leite de búfalas no país. Assim, em 1.972, estavamos no Vale do Ribeira-SP, criando búf alos da raça Murra h visando a produção leiteira e começamos a experimentar a produção da Mozzarella para consumo fresco, ao estilo da produzida na Itália onde aliás, não se confunde com aque la  produzida de forma similar com leite bovino e denominada "Fiori diLatte". Produção e Produtividade Leiteira da Búfala 

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Bubalinocultura leiteira noBrasil

tendências, parcerias efomento

Wanderley Bernardes-1997 

Histórico e Generalidades 

Os búfalos dividem-se em duas grandes famílias: o búfalo do pântano e o búfalo de rio.

 No Brasil existem hoje quatro raças, uma de búfalos de pântano, o Carabau, animalutilizado principalmente para tração na região norte do país, e as demais, da família de búfalos do rio, que são o Jafarabadi, animal que chega a atingir 1.600Kg que, apesar de produzir leite, é destinado principalmente para exploração de carne; a raça Murrah deorigem asiática, particulrmente da Índia e os da raça Mediterrânea, de origem italiana,estas últimas destinadas tanto à exploração de carne quanto de leite. Estima-se a

 população mundial em cerca de 180 milhões de animais, responsáveis pela produção de7% do leite do planeta (FAO-1.983), e que se encontram distribuidos praticamente emtodos os continentes, particularmente na Ásia (Índia, Paquistão, Tailândia, China,Vietna), África (Egito), Europa (Itália, Bulgária) e América do Sul (Brasil,Argentina,Venezuela,Perú). A espécie é explorada para a produção de carne, traçãoanimal, produção de esterco e de leite, sendo que na Índia, 80% do leite produzido é de

 búfalos, que representam 30% dos rebanhobovideo do país. Há pouco mais de 100 anos,aportaram no Brasil, precisamente na Ilha de Marajó, alguns búfalos da raça Carabauque forma trocados por víveres, com cidadãos das Guianas. Durante longo período,ficou praticamente confinado em alguns estados do norte, particularmente no Pará, mais

 precisamente na Ilha de Marajó, onde chegou a sere caçado como animal selvagem em"safaris" organizados para esse fim. Outras importações, agora das demais raças,ocorreram por volta de 1940/50, em pequenos lotes junto a grupos de bovinosimportados. Há cerca de 25/30 anos, a espécie passou a ser melhor observada como degrande potencial econômico, atendo-se os seu novos criadores, dos estados mais ao suldo país, à sua exploração para o abate. Há cerca de 20 anos, alguns criadores no Sul eSudeste, observando o inegável potencial leiteiro destes animais, particularmente os daraça Murrah e Mediterrâneo, passaram a promover uma seleção neste sentido e deram

início à produção experimental de laticínios derivados de leite de búfalas no país.Assim, em 1.972, estavamos no Vale do Ribeira-SP, criando búfalos da raça Murrahvisando a produção leiteira e começamos a experimentar a produção da Mozzarella paraconsumo fresco, ao estilo da produzida na Itália onde aliás, não se confunde com aquela

 produzida de forma similar com leite bovino e denominada "Fiori diLatte".

Produção e Produtividade Leiteira da Búfala 

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Uma búfala produz, em condições de exploração à pasto e em uma ordenha diária cercade 1.000 Kg de leite por lactação, com duração média de 250-270 dias. Por sua grandevariabilidade genética, vem apresentando resposta expressiva ao processo seletivo, a

 ponto de observarmos em nosso rebanho uma produção média acima de 2.400Kg leite por animal, e em grupos de elite, produções superiores a 3.500 Kg, havendo aindaindivíduos com produções ajustadas a 305 dias acima de 5.000 Kg (pico de produção de

22-24 Kg/dia). Característicamente, a espécie apresenta um ciclo sazonal de parições bastante marcado, sendo que em nosso rebanho, cerca de 90% dos nascimentos ocorrementre os mesas de janeiro e março, ocasianando um pico de produção nos meses de

 junho e julho, ou seja, uma curva de lactação praticamente inversa da observada em bovinos. Desta forma, os bezerros são desmamados na primavera, garantindo seudesenvolvimento sem descontinuidade, e permitindo um bom desenvolvimento dasnovilhas, que darão a primeira cria em média aos 36 meses, sob condições normais decriação à pasto. A fertilidade supera naturalmente os 90%, e quanto à longevidade

 produtiva, observamos com frequencia animais com mais de 15 crias sem quedasignificativa na produção ou fertilidade. Estes fatores somados, garantem a rápidamultiplicação da espécie, mesmo sob condições não muito favoráveis de manejo, comocostuma frequentemente ocorrer em nosso meio.

O Sistema de Parcerias 

Em 1.983, saimos da região do Vale do Ribeira-SP para Sarapuí, no planalto do Estadode São Paulo, onde hoje nos encontramos, com o objetivo de implantar na região, acriação de búfalos, principalmente o leiteiro. Como praticamente únicos criadores daespécie na região, passamos a faer um fomento particular, estrategicamente junto a

 pequenos produtores, que recebiam em parceria 10 femeas e um macho, além deassistencia na criação, cabendo ao mesmo após a lactação 50% das crias além do leite,que lhe pertencia integralmente, sendo normalmente este entregue para uma usina daregião. Após alguns anos, o pequeno produtor já possuia seu próprio rebanho em

 produção. Os animais eram então destinados a um novo parceiro, e assimsucessivamente. Iniciado há 13 anos, este sistema gerou, direta ou indiretamente umnúmero de cerca de 60 criadores num raio de aproximandamente60Km, com umrebanho oriundo essencialmente de nosso plantel, formado por animais de bom

 potencial leiteiro. Surgiram ainda mercados paralelos de recria e engorda de machos, bem como de matrizes, consolidadando ainda mais o rebanho da região. A partir destafase, e a fim de melhor aproveitar as qualidades industriais do leite de búfalas, com altosteores de gordura e proteínas em relação ao leite bovino, o que proporciona excelenterendimento na industrialização do produto, passamos a efetuar um novo sistema de

 parcerias, desta vez com o leite oriundo das propriedades da região. Assim sendo,organizamos um pequeno laticínio específicamente para o processamento de leite de

 búfalas. O maior valor industrial do leite, nos permite remunerar o produtor a preços de

cerca do dobro do obtido na venda do leite tipo "C" às usinas tradicionais. Esta políticaé exaustivamente esclarecida ao produtor, de forma que ele sabe que o preço da matéria prima está diretamente relacionado à qualidade da mesma e do derivado resultante, bemcomo por sua aceitação no mercado. A contra-partida que solicitamos dos cerca de 35"parceiros" fornecedores (hoje em sua maioria proprietários de seus animais) é aqualidade do leite produzido. Dando cobertura aos parceiros, o que chamados de"insistência tecnica", principalmente no que diz respeito à qualidade do leite,oferecemos ao mesmo orientação que envolve desde aspectos das instalações paraordenha e manejo, rotinas higiênicas da ordenha, manejo sanitário dos animais,

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 procedimentos de coleta de amostras para exames efetuadas pelo próprio produtor (sangue, leite), manejo alimentar e até mesmo formação de "grupos de compras" deinsumos e utensílios necessários à criação. Promovemos ainda, alguns encontros onde

 procuramos discutir e difundir tecnicas de manejo objetivando a produção maiseconômica e higiênica do leite. Todo o material de simples utilização para a higiene daordenha (baldes com tampas 3/4, funis, peneiras, produtos para sanitização do úbere e

toalhas de papel descartável para sua limpeza é fornecido pelo laticínio. Dispondo deum pequeno laboratório, ao suspeitarmos de infecção em algum dos latões fornecidos,enviamos ao produtor vidros para que efetue a coleta de material para identificação deanimais contaminados. Mensalmente, enviamos pelo infalível mensageiro - o caminhãode leite - uma balança adequada para que o próprio produtor realiza o controle leiteirode seus animais, cujos dados, após processamento, lhe serão enviados a fim de se tornar subsídio para sua seleção e adequação de manejo. O mesmo processo é utilizado para oenvio de tubos para coleta e dessora de amostras de sangue dos animais para exame.Além de provas de plataforma, que procuramos interpretar de forma adequada ao leite

 bubalino, realizamos diariamente a prova da redutase, a cada latão, cujos resultados sãofornecidos diariamente ao produtor e servirão de base ao prêmio por qualidade. Assim,o leite com redutase inferior a 2:30hs é enviado a um laticínio convencional e submetido

à política de preços e devoluções desta, cujo valor líquido é repassado ao produtor (que paga inclusive o segundo percurso). Entre 4:00hs e 5:00hs, o produtor recebe um premio de R$ 0,01 por Kg, e acima de 5:00 hs, mais R$ 0,01 por Kg. Atualmente, comos adicionais, o produtor pode receber até R$ 0,46 por Kg. Em algumas regiões, deinteresse estratégico ao desenvolvimento da bacia, subsidiamos em até 50% o valor dofrete. Apesar da falta de cultura, principalmente do pequeno produtor brasileiro, osnossos parceiros vem sendo bastante receptivos às orientações de higiene da ordenha esanidade do rebanho. Este fato demonstra que tem faltado assistencia efetiva, trabalhode extensão rural e incentivos verdadeiros aos produtores brasileiros para que possamatravés de cuidados básicos de higiene, manejo e aplicação da tecnologia melhorar sua

 produção e produtividade. Assim, vemos hoje, com satisfação, a possibilidade daconsolidação de uma bacia leiteira bubalina na região, a qual vem "pedindo rédea" sob oentusiasmo de novos produtores.

Perspectivas 

Quando de nossa estada na Índia e Paquistão onde vimos o comportamento dos búfalos,concluímos que bastaria uma adaptação do manejo desses animais ao regime maisextensivo no Brasil, para que obtivessemos resultado econômico superior ao obtido coma exploração do bovino, seu parâmetro mais próximo. E mais, enquanto animal de duplaaptidão permite ao produtor além do resultado obtido com o leite, a produção de machos

 para abate entre 30-36 meses à pasto, produzindo carne reconhecidamente de excelentequalidade. Tendo-se em vista a rusticidade, a precocidade, a longevidade produtiva e a

fertilidade do búfalo, aliadas a um aumento crescente de sua produção leiteira promovidas pelo processo seletivo implementado em diversos rebanhos e, facilitada pelo recente desenvolvimento em nosso meio de tecnicas de Inseminação Artificial,entendemos a perspectiva de crecimento da bubalinocultura em nosso país com bastante

 promissora. No que diz respeito a seus produtos, vimos um mercado em constanteexpansão, com um consumidor cada dia mais esclarecido e exigente, buscando cada vezmais um produto diferenciado como o derivado de leite de búfalas. Concluimos dizendoque o búfalo tem, especialmente no Brasil, uma caminhada irreversível e que, quem não

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acompanhar seu desenvolvimento, ficará à margem de uma das mais promissorasatividades economicas no segmento da pecuária em nossa terra.

derivado de leite de búfalas. Concluimos dizendo que o búfalo

tem, especialmente no Brasil, uma caminhada irreversível e que, quem

não acompanhar seu desenvolvimento, ficará à margem de uma das mais

 promissoras atividades economicas no segmento da pecuária em nossa

terra.