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CAESP - Artes
Aula 13 - 26/07/2018TRANSFORMAÇÕES FINAIS DO SÉCULO XVI: MANEIRISMO, REALISMO E
PROTO-BARROCO.
De 1525 a 1600 temos uma profusão de diferentes
estilos artísticos que rivalizam entre si.
A forma de representação da realidade havia
sido explorada totalmente pela Renascença, o
equilíbrio e a harmonia haviam sido
conquistados.
O que haveria de novo para a Arte? Como seria
possível manter o fazer artístico nas fronteiras da originalidade como função precípua da Arte?
De 1525 a 1600:
Essa é uma época de crise artística, com
rivalidades e contradições, sem um ideal único
dominando toda a produção artística.
Mas não caia na tentação de interpretar “crise”
negativamente, pois, em Arte, a crise de uma
época é o catalizador do nascimento de outra.
Lembre do conceito de Polemos (Πόλεμος) em
Heráclito e os gregos clássicos.
Mesmo com a profusão de estilos, esse tempo pode ser
considerado como um período único justamente pela
superposição temporal e geográfica dos produtores dessas diferentes tendências rivais e pela principal
característica comum desses autores que foi uma
espécie de “negação” do Renascimento em busca da renovação da originalidade.
Eles vão buscar representar nas obras a emoção, a
imaginação e o dinamismo dissonante.
Exatamente o contrário de todo o racionalismo, o
realismo e a harmonia do Renascimento.
EMOÇÃO – IMAGINAÇÃO – DINAMISMO
Você deve lembrar que é muito comum nos
momentos de crise de um estilo e surgimento de
outro, que os artistas busquem diferentes formas
de expressão para poderem dar voz e forma às suas buscas interiores.
Para compreender melhor, imagine que você
pretende produzir uma obra de arte, mas o estilo
consagrado da sua época com os seus cânones,
não seja mais suficiente (ou mesmo interessante)
para que você expresse o que deseja com a
obra. Qual a solução?
A experimentação, buscando a sua própria
solução estilística para aquela necessidade ou
desejo artístico.
Por isso vemos no Maneirismo um estilo tão
visionário, inquietante e voluntarioso, pois existe
uma necessidade de inventar algo novo para
expressar o que urge no interior da mente
artística.
Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do
Renascimento e a emergência da subjetividade.
Inicialmente o Maneirismo foi visto de forma
muito preconceituosa. Esse preconceito é
originário do sarcasmo com que foi recebido
pelos seus próprios contemporâneos ainda
atados aos grilhões dos cânones renascentistas.
O Maneirismo foi visto em sua própria época
como um estilo “artificial”, uma imitação ruim
de algumas características dos grandes autores do Renascimento. Mas não era nada disso.
Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do
Renascimento e a emergência da subjetividade.
O Maneirismo é muito mais do que isso, uma
análise mais livre (dos preconceitos) e
cuidadosa das obras desses autores permite
vermos elas como veículos de expressão da
subjetividade de seus autores, superando (ou
burlando) as regras da autoridade da Natureza
e dos antigos clássicos greco-romanos, para
poder dar vazão a uma “leitura particular” dos
autores sobre os temas.
Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a
emergência da subjetividade.
Os autores maneiristas vão buscar se afastar
propositalmente da realidade objetiva para buscarem novas formas de expressividade.
Eles buscam se afastar do mundo estável, harmônico,
racionalizado e constante característico do
Renascimento.
O mundo será representado por figuras distorcidas
através de espelhos (Parmigianino, Autorretrato, 1524),
distorções do corpo físico e escolhas “arbitrárias”, no
sentido de desconectadas da realidade tangível, do cenário (Parmigianino, Madona de pescoço
comprido, 1535).
Parmigianino – Autorretrato em um espelho convexo – 1523–1524
Parmigianino – Madona de pescoço alongado – 1534–1540
Parmigianino – Madona de pescoço alongado – 1534–1540
Maneirismo (di maneira – da maneira do artista): superação dos cânones clássicos do Renascimento e a
emergência da subjetividade.
Contrapposto: é uma forma de representação do movimento com o corpo torcido (como em
movimento) como se a pessoa estivesse para dar o
passo, ou iniciado o mesmo. Dessa forma, o artista busca expressar “naturalidade” na postura da
imagem.
Seu uso é muito comum nas obras do Maneirismo. E
poderá ser encontrado em diversos artistas da época.
Uma visão importante sobre o contrapposto é que ele
servirá de base para as torções corporais típicas do
Barroco.
Parmigianino – A visão de São Gerônimo – 1527
As distorções e desproporções (de corpos e
objetos) são representadas nas obras com o
mesmo valor da própria realidade objetiva, como
se fosse uma declaração de que não existe
apenas um valor de medida e conhecimento da realidade, mas múltiplas possibilidades de
apreensão do real.
Evidentemente que essa é uma postura muito distante
do Monismo (Parmênides, Platão e Aristóteles), que era
reinante no pensamento filosófico da época e mais
próxima da Multiplicidade e da Transformação
(Heráclito).
Certamente, podemos muito bem argumentar que
havia pouco conhecimento da doxologia (δόξαλογία)
de Heráclito na época e menos ainda suporte à sua
visão filosófica. A justa retomada de Heráclito será
apenas com Nietzsche em seu “A Filosofia na era trágica
dos gregos”, mais de três séculos depois, em 1874.
Agnolo Bronzino – Pietá – 1530
Michelangelo Buonarroti - Pieta - 1498-1499
O sucesso comercial do Maneirismo: nem toda crítica
dura para sempre!
O Maneirismo fará muito o gosto dos mecenas da
época, sendo associada à sua apreciação (e posse) a um refinamento do gosto.
Será “elegante” possuir obras maneiristas e ser capaz de admirar suas obras. Dessa forma, serão muitos os retratos
produzidos da nobreza, do alto clero e dos ricos
comerciantes.
Os artistas maneiristas conseguiram fazer essas pessoas
representadas não parecerem com pessoas comuns,
mas como membros de uma classe de pessoas para
além do cotidiano, como se pertencessem a uma outra realidade.
Realismo: os artistas do Realismo Italiano do
século XVI (não confunda com o Realismo
Francês do século XIX) buscam apoio estilístico e
de composição nos mestres renascentistas, mas
buscam retirar a aura idealista e sagrada das
representações fazendo uma deliberada opção pelo mundo cotidiano.
RETRATAR O COTIDIANO DO MUNDO.
Agnolo Bronzino – Cosimo I de Medici em armadura – 1545
Agnolo Bronzino – Eleonora de Toledo com seu filho Giovanni – 1544–1545
Esse mundo cotidiano será tanto o dos
camponeses quanto da emergente burguesia
urbana e da nobreza cortesã. As figuras são
representadas no ambiente doméstico, seja ele o
da choupana camponesa ou dos salões dos
mansões e palácios.
Essas mesmas figuras também não posam de
forma divina, heroica ou galante, mas se
comportam normalmente como se não houvesse
um observador julgador ou se, mesmo na
presença desse, a opinião dele não tivesse
nenhuma importância frente ao viver e,
consequentemente, aproveitar o momento.
As pessoas são representadas sem nenhum dos
idealismos renascentistas e os ambientes
arquitetônicos são “reformados” pelo pintor, mas
são pessoas e ambientes apresentados em sua
crua cotidianidade e humanidade.
Essa é uma característica marcante que já vinha
do Gótico Tardio e é trazida de volta pelo
Realismo Italiano do século XVI. É provável que os
Realistas Italianos do século XVI tenham buscado
essas influências na Europa Setentrional dos Países
Baixos.
A iluminação também não está a inundar todo o
quatro de forma artificial, mas ela está
representada mais soturna, muito carente de
fontes luminosas, cheias de escuridões e
penumbras.
Não há uma luz especial para cada ser e objeto
representado na obra, existem, quando muito, as
luzes do ambiente, e todo o restante é banhado
ou não por elas. Esse recurso da iluminação,
permite obras com um caráter muito mais
intimista e mágico.
Gerolamo Savoldo – Lamentação sobre o Cristo morto – 1513–1520
Os realistas italianos do século XVI também
buscam remover das pinturas as referências
explícitas ao sagrado, quase como em um
movimento de laicização da pintura e dos seus
temas.
Nelas também os seres humanos não são
representados idealizados como à maneira
antropocêntrica, mas eles são pintados como
estão no mundo tangível. As cenas sacras são
laicizadas através da incorporação de elementos
do mundo tangível e a remoção das
representações dos seres e elementos sagrados.
Gerolamo Savoldo – São Mateus – 1535
Proto-Barroco:
Os autores proto-barrocos, especialmente
Corregio, vão desenvolver um estilo tão virtuoso e
especial que pode ser considerado como um
adiantamento do Barroco.
Eles produziram obras onde o equilíbrio clássico
renascentista é afastado completamente. Em seu
lugar são representados movimentos contínuos
que carregam todas as figuras da composição como um turbilhão.
Correggio – Natividade – 1530
Correggio – Júpiter e Io – 1531
Proto-Barroco:
As figuras são reais (como se fossem de carne e
osso), mas conseguem se mover nos turbilhões
como se a gravidade tivesse pouca, ou
nenhuma, influência sobre elas.
É buscado comunicar ao público que há pouca
diferença entre o êxtase espiritual e o carnal,
onde o corpo testemunha aquilo que acontece
no espírito.
Correggio – Assunção da Virgem (Catedral de Parma) – 1526–1530
Correggio – Assunção da Virgem (Catedral de Parma) – 1526–1530
Tintoretto:
Muito se fala de Tintoretto como um expoente do
Renascimento, mas é mais adequado classifica-
lo dentro da transição para o Barroco.
Seu vigor artístico, as formas contorcidas, as
cenas povoadas de elementos em movimento,
as cores belas e fortes, a composição dinâmica,
fazem dele um autor que se destaca tão
fortemente de seus contemporâneos
renascentistas, que não é possível coloca-lo no
mesmo grupo.
Tintoretto – Jesus no mar da Galiléia – 1575-1780
Tintoretto – Paraíso (Detalhe)– 1588
Tintoretto – Última Ceia – 1595
El Greco – Sepultamento do Conde Orgaz – 1586
Prof. Heleno Licurgo do Amaral <[email protected]>
Muito obrigado. Bons estudos!