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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO 1 FEITO PGT/CCR/ICP/Nº 2141/2013 CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Origem: PRT 4ª Região Interessado(s) 1: Sigiloso Interessado(s) 2: Fundação Cultural Piratini Rádio e Televisão Educativa TVE Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho Assuntos: Trabalho na Administração Pública 04.01.01 04.08. Temas Gerais 09.02.01. Procurador oficiante: Fabiano Holz Beserra RECURSO ADMINISTRATIVO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. As razões recursais não trazem fundamentos capazes de infirmar e reformar a proposição de arquivamento ora hostilizada. Pelo não conhecimento da peça recursal e, em atividade revisional, pela homologação da promoção de arquivamento.” RELATÓRIO Trata-se de inquérito civil público administrativo instaurado com gênese em denúncia formulada em face da Fundação Cultural Piratini (Rádio e Televisão Educativa TVE), dando conta das seguintes irregularidades nas contratações temporárias realizadas pela denunciada: contratação para atividades

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

1

FEITO PGT/CCR/ICP/Nº 2141/2013

CÂMARA DE COORDENAÇÃO E REVISÃO

DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

Origem: PRT 4ª Região

Interessado(s) 1: Sigiloso

Interessado(s) 2: Fundação Cultural Piratini – Rádio e Televisão

Educativa – TVE

Interessado(s) 3: Ministério Público do Trabalho

Assuntos: Trabalho na Administração Pública 04.01.01 –

04.08. Temas Gerais 09.02.01.

Procurador oficiante: Fabiano Holz Beserra

“RECURSO ADMINISTRATIVO.

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. As razões recursais não trazem fundamentos

capazes de infirmar e reformar a proposição

de arquivamento ora hostilizada.

Pelo não conhecimento da peça recursal e, em

atividade revisional, pela homologação da

promoção de arquivamento.”

RELATÓRIO

Trata-se de inquérito civil público

administrativo instaurado com gênese em denúncia formulada em face

da Fundação Cultural Piratini (Rádio e Televisão Educativa – TVE),

dando conta das seguintes irregularidades nas contratações

temporárias realizadas pela denunciada: contratação para atividades

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permanentes, não homologação de 24% (vinte e quatro inteiros por

cento) das inscrições dentre os 59 (cinquenta e nove) candidatos

selecionados e não cabimento desse tipo de contratação para uma

concessionária de serviços de telecomunicação.

Narra a denúncia (fls. 02/04 – anverso e verso):

“, vem respeitosamente à presença desta

Coordenadoria do MPT, exercer seu direito de petição

nos termos do art. 5e, inciso XXXIV, letra "a" da

CF/88, em razão de possíveis

ilegalidades/inconstitucionalidades com desvio de

finalidade na edição da Lei estadual ns 13.831/11,

denunciando também, indícios de uma provável quebra

do princípio da impessoalidade envolvendo o processo

seletivo para contratações emergenciais de servidores

na Fundação Cultural Piratini Rádio e TV, e a prática

de desvios funcionais de servidores do quadro

permanente da Fundação com a conivência dos

gestores e chefias desta instituição.

Entende o ora denunciante, com a devida

vênia do "parquet", haver um desvio de finalidade, uma

inconstitucionalidade material e uma flagrante afronta

ao princípio da razoabilidade na edição da Lei

estadual n913.831/11, pois, a mesma, destina-se a

contratar servidores para funções típicas do quadro

permanente de servidores da TVE e da Rádio FM

Cultura, contratações estas, que só pela via do

concurso público poderiam estar sendo autorizadas.

O edital deste processo seletivo foi

publicado no DOE em 27/02/2012, e relaciona 59

(cinqüenta e nove) cargos/funções para preenchimento

de atividades-fim da Fundação, tais como: Advogado,

Coordenador de Programação, Editor de Pós

Produção, Locutor/Apresentador/Animador, Jornalista,

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Locutor Noticiarista, Operador de Áudio, Operador de

Câmera, Operador de Controle Mestre, Operador de

Microfone, Operador de Rádio, Produtor Executivo,

Produtor Gráfico Visual, Roteirista de Intervalos,

Técnico Administrativo, Técnico em Estação

Retransmissora e Repetidora de Televisão, Técnico de.

Externas, Técnico em Manutenção e Técnico em

Informática.

A Administração motivou esta contratação

emergencial "na falta de recursos humanos na

Fundação para o atendimento às suas atividades

essenciais e gerais, necessárias à consecução dos seus

fins", entretanto, o argumento que ora pretende

justificar tais contratações emergenciais, vem sendo

utilizado reiteradas vezes pela Administração no

propósito de burla a exigência legal do concurso

público.

Esta mesma motivação, tem funcionado tal

qual um "canto de sereia", iludindo o judiciário e os

órgãos de controle interno, desde a edição da Lei n°

12.303/2005 e Lei 51° 12.586/2006; ambas,

autorizadoras de contratações emergenciais através de

processos simplificados nos anos de 2005 e 2006;

antes destas, a Fundação já vinha contratando

prestadores de serviço sem licitação, através de

contratos renovados automaticamente a cada 6 (seis)

meses. De outro norte, no transcurso do período

de seleção de candidatos às contratações emergenciais

autorizadas pela referida lei estadual, ora atacada na

presente - período de 28/02 a 13/03/2012 - pode-se

verificar um índice muito baixo de homologações de

inscrições: "Dos 4.5 mil candidatos que inscreveram-

se para participar da seleção, . apenas 1098 (hum mil e

noventa e oito) deles tiveram a inscrição

homologada." ('notícia publicada no site Coletiva.Net)

Nota-se que, pouco mais de 24% (vinte e

quatro por cento) do total das inscrições para o

certame foram homologadas, demonstrando possível

falha na publicização do certame, o que acarretou

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dúvidas que favoreceram alguns poucos candidatos em

detrimento dos demais, salvo melhor juízo, propiciando

a quebra da impessoalidade e da isonomia do certame. Outro fato que se quer alertar ao MP neste

momento é que, da* 59 pessoas classificadas à

contratação, verifica-se que 04 (quatro) destes já

haviam prestado serviços para a contratante em

outras oportunidades, desempenhando atividades

variadas, tais como: servidores com Cargos

Comissionados, servidora concursada, estagiária,

contratado emergencial e contratado para prestação

de serviços sem licitação (Yara M. Baungarten Bueno,

Angélica Coronel, Vicente Leonardo Leal Truda e José Moacir Bitencourt Pereira), este último,

constando como contrato em situação irregular pela

auditoria do TCE, “verbis”: (...) A Auditada celebrou com os Operadores de

Áudio José Moacir Bitensourt Pereira e (...)

contrato de prestação de serviços sem licitação,

com base no art. 24, IV, da Lei np 8.666/93(...)

Assim, concluem os auditores que a Fundação,

com tais contratações, persistiu, no período ora

analisado, infringindo ao disposto no art. 37,

II, da Constituição Federal, que determina que

a investidura em cargo ou emprego público

depende de aprovação prévia em concurso

público(...)

Quanto ao contrato firmado com operadores de

áudio e de transmissor, informam que se trata

da contratação de profissionais imprescindíveis

à manutenção da emissora de Rádio e

Televisão no ar, pois a Fundação não conta

com o número necessário de profissionais

nessas áreas, tendo tomado providências para

supri-lo, não obtendo êxito. Assim, a única

alternativa foi a contratação de prestadores de

serviço.

(grifou-se)

Temos em mente que contratações

temporárias são comumente realizadas a fim de

viabilizar a prestação de serviços essenciais à

comunidade e em respeito ao princípio da continuidade

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destes serviços. As contratações que ora pretende a

Fundação legitimar, apesar da existência de

autorização legal, esta por si só, constitui-se em mera

formalidade, não sendo suficiente para agasalhar à

pretensão do governo do Estado, uma vez que "o

Direito não decorre unicamente da lei promulgada,

devendo levar-se em consideração os demais Princípios

que regem a Administração Pública, nos termos do

disposto no artigo 37 da Constituição Federai".

A Lei 8.745/93, criada para regulamentar o

inciso IX, do art. 37 da Constituição da República,

estabeleceu os casos em que está presente a

necessidade temporária de excepcional interesse

público, situações estas que não se verificam no caso

concreto. Faz-se necessária, portanto, que a

autoridade demonstre justifique a exceção à regra do

concurso público para a investidura em cargos desta

natureza.

Ora, uma emissora pública de rádio e

Televisão presta sem sombra de dúvidas um relevante

serviço à sociedade, promovendo a cultura, a

informação, o esporte, o lazer e outros valores

inestimáveis à cidadania, contudo, sem constituir-se

em um Samoa essencial.

Mesmo assim, não está desobrigada de seus

deveres estipulados no ato de outorga desta concessão

pública. Um destes deveres foi comprometer-se

legalmente em manter os serviços de Rádio e TV,

sempre com a devida qualidade técnica e o

compromisso de "aprimorar através da seleção de seu

pessoal e das normas de trabalho, na estação, propiciar

as condições eficazes para evitar a prática das infrações

previstas na legislação específica de radiodifusão" (Decreto

n9 52.795/63 alterado pelo Dec. 88.067/83);

recentemente, a Fundação foi notificada pela ANATEL

por conta de infrações cometidas na área técnica(

repetidoras fora do ar há anos por falta de

equipamentos e mão de obra para manutenção).

Registre-se que as carências de pessoal na

TVE e na Rádio. FM Cultura, remontam ao ano de

1997, persistindo estas ao longo de mais de uma

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década sem que fossem adotadas medidas eficazes e

dentro da legalidade, capazes de sanar de uma vez por

todas esta grave e histórica falta de pessoal.

Resta aqui demonstrado, que todos estes

fatos e a crise vivida pela instituição são de

conhecimento da Administração. Inúmeros foram os

apontamentos, multas e glossas às contas dos gestores,

sendo verificados nas auditorias e pareceres do TOE.

Até mesmo CCs já foram empregados irregularmente

em funções do quadro permanente, fato denunciado no

ano de 2005 em uma ação civil pública de parte do MP

do trabalho (proc. nQ 0072100-

96.2009.5.04.0002/TRT4).

Segue transcrição que bem retrata as

reiteradas infrações a exigência de realização do

concurso público, verificadas em auditorias do TCE,

"verbis":. (...) Persistiram também, em 2003, as

contratações de forma direta de prestadores de

serviços visando suprir a carência de mão-de-

obra da Fundação, matéria já apontada na

TC/97, e repetida nas Tomadas de Contas

referentes aos exercícios de 1999 (Proc. n9

5200-02.00/00-2; Decisão TP n° 1948/2003),

2000 (Proc. n° 4855-02.00/01-5; Decisão TP ns

2012/2003), e 2001 e 2002, em tramitação

nesta Corte de Contas. (...) Quanto ao contrato

firmado com operadores de áudio e de

transmissor, informam que se trata o a

contratação de profissionais imprescindíveis à

manutenção das emissoras de Rádio e

Televisão no ar, pois a Fundação não conta

com o número necessário de profissionais

nessas áreas, tendo tomado providências para

supri-lo, não obtendo êxito. Assim, a única

alternativa foi a contratação de prestadores de

serviço.

O mesmo Tribunal, ao analisar

esclarecimentos prestados por ocasião da Tomada de

Contas do exercício de 2000, Processo ns 4855-

02.00/01-5 – Instrução Técnica n2 111/2003 e Processo

de Auditoria ne. 11363-02.00/03-1, pronunciou-se o

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TCE no seguinte sentido: (...) Quanto ao primeiro aspecto, em que pesem os

argumentos apresentados, o fato é que o

Responsável, em seus esclarecimentos, acaba por

reconhecer que referidas contratações foram

efetuadas para suprir a deficiência de pessoal da

Entidade, para que os contratados executassem

"tarefas operacionais" e "atividades de apoio", ou

seja, atividades-fim da emissora, "as quais deveriam

sei' preenchidas mediante concurso público, nos

moldes da Constituição Federal", conforme já havia

concluído o Exmo. Sr. Conselheiro-Relator, ao se

manifestar sobre essa questão, apreciada na Tomada

de Contas da Fundação, referente ao exercício de

1997(...)"

Processo de Auditoria n°. 11363-02.00/03-1 Item 2.1

e subitens (fls. 61/63) - A Fundação, no exercício sob

exame, deu continuidade nas contratações de forma

direta de prestadores de serviços, visando suprir a

carência de mão-de-obra contempladas no seu

Quadro de Pessoal, em afronta ao disposto no inciso

II do artigo 37 da Constituição Federai.(...)

Assim, conclui-se, que com tais

contratações emergenciais persistiriam as afrontas ao

art. 37, II, da Constituição Federal, e mesmo que haja

uma breve referência a realização de um concurso

público ao final do prazo de validade destas

contratações no art. 7 da Lei 13.831/11 - concurso

podendo ocorrer em até dois anos - os motivos de fato

e de direito alegados, não guardariam uma vez mais,

vinculação com o fim visado, demonstrando

claramente a falta de diligência do gestor em resolver

o grave déficit de pessoal através do devido concurso

público. O enorme lapso temporal verificado entre a

edição da Lei (Novembro/11) e a efetiva contratação

dos candidatos selecionados - possivelmente ocorrerá

em Junho/12 - vem reforçar ainda mais a tese da total

ausência de emergencialidade e excepcional idade

capazes de legitimar estas contratações emergenciais :

"com efeito, a excepciona/idade quase sempre carrega

consigo a urgência"(frase cunhado no TCE).

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Claramente estar-se-ia diante de uma

realidade que aponta para a necessidade da

contratação de pessoal concursado, não mais se

justificando a contratação emergencial, haja vista, as

inúmeras e sucessivas contratações irregulares levadas

a cabo ao longo desta última década e que só fizeram

por agravar ainda mais a crise da instituição.

Aliado a estes fatos todos, registre-se ainda

a utilização de estagiários em funções privativas do

quadro de servidores, e os desvios de função que são

históricos na TVE, segundo o próprio relato do

Presidente da Fundação em entrevista do dia

14/06/2011 ao Jornal Sul 21 na internet: (...) De acordo com o presidente da Fundação

Cultural Piratini, Pedro Osório, os problemas se

manifestam em vários setores. "O mais candente,

podemos dizer, é quanto ao pessoal", diz ele. De

acordo com Osório, a TVE e a FM Cultura estão

trabalhando com apenas 43% da equipe necessária

para um funcionamento ideal. Segundo os cálculos

do relatório entregue a Tarso Genro, seriam

necessários 361 funcionários para dar conta de todas

necessidades da Fundação. No momento, as

operações são garantidas por 168 pessoas - faltando,

portanto, 193 para equilibrar a balança.

A dificuldade foi agravada com a decisão, tomada em

dezembro do ano passado, de exonerar 19

funcionários em Cargos de Confiança (CCs), a

maioria deles trabalhando no setor de jornalismo. A

medida foi motivada por decisão do Ministério

Público do Trabalho, que proibiu a Fundação

Piratini de usar CCs em tarefas de apresentação,

reportagem, edição, produção e demais funções

técnicas relacionadas com rádio e televisão. "Essa

decisão agravou o que já era grave", lamenta Pedro

Osório. O impacto das exonerações, às vésperas da

mudança de direção, inviabilizou boa parte da

programação e forçou a retirada do ar de várias

atrações já tradicionais na FM Cultura e na TVE.

Desvio de função é "histórico", diz Pedro Osório

Pedro Osório admite sem reservas cue o desvio

de função é uma "questão histórica" da

Fundação Piratini. "O nosso Plano de Cargos e

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Salários (PCS) está ultrapassado", argumenta.

De acordo com o administrador, o cargo de

jornalista permite que o profissional ocupe

várias funções diferentes, o que dá dinamismo

ao manejo de pessoal. Pelo atual PCS, isso não

é viável. "Alguém que é contratado em um setor

deve permanecer nele a vida toda", lamenta.'

"Isso é um equívoco, engessa o administrador".

Para começar a jogar terra nesse buraco, o

relatório entregue ao Executivo solicita que

seja avaliada a contratação emergencial de 99

funcionários. Os quadros ajudariam a

preencher imediatamente algumas carências

críticas, como motoristas, repórteres, produção

e locutores. Ao mesmo tempo, a Fundação

sugere que as contratações já venham

acompanhadas do anúncio de concurso público

para o preenchimento definitivo dessas vagas.

O último concurso para a Fundação Cultural

Piratini foi realizado há mais de 10 anos, ainda

no governo de Olívio Dutra.

A falta de pessoal vai sendo driblada do jeito

que dá pela direção da TVE. A programação

jornalística da emissora, diminuída para 10

minutos no momento mais crítico, já voltou aos

20 minutos - mesmo gue. no/nomento. a TVE

disponha apenas de um repórter profissional e

outro em treinamento, ao invés dos 8

jornalistas de antes. Programas tradicionais da

casa, como o 'TVE Repórter", seguem fora da

grade de programação. "Mesmo que tivéssemos

como deslocar repórteres, estamos sem

motoristas para externas", lamenta Pedro

Osório. Ainda assim, alguns especiais estão

sendo retomados, como a recente transmissão

ao vivo do concerto da OSPA no Parque da

Redenção, em abril. O "Galpão Nativo", outra

atração histórica da emissora, foi retomado

recentemente, ainda que de forma "retraída",

segundo Pedro Osório.

O Presidente declara com todas as letras, dispor

de apenas um repórter profissional no quadro, mas não

cita o fato de haverem na atualidade, dois servidores

jornalistas cedidos à outros órgãos (Nilton Schuller e Vera

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Carpes, servidora cedida há mais de uma década, trabalhando

em Brasília/DF) e que o referido repórter que encontra-se

em treinamento (Alexandre Leboutte)', é um jornalista do

quadro, lotado no setor de arquivo e que também esta em

flagrante desvio funcional; o que é mais grave, consentido por

seus superiores. O corporativismo tem sido uma forma de

imoralidade ao privilegiar os interesses de uma determinada

corporação em detrimento do bem coletivo. Se alguns têm

privilégios, outros não os terão, pois os privilégios, por

definição, são exclusivos, só valendo para alguns. A imagem de

moralidade é essencial neste processo de contratação e na busca

de uma solução dentro da legalidade para se resolver esta grave

crise da TVE e da Rádio FM Cultura.

No presente momento, servidores do quadro

conjuntamente com a Administração desta Fundação,

preparam uma Justa e necessária revisão do Plano de

Classificação de Cargos e Salários. E importante,

entretanto, que haja uma acompanhamento do "parquet", para

que não ocorram transposições de cargos nem reestruturação

de carreiras, sob o falso manto da "legalidade" como já foi feito

no passado distante.

É vergonhoso o coorporativismo e as vaidades

pessoais sobrepondo-se ao interesse público, impedindo a

adequação do quadro de servidores aos ditames legais e

constitucionais. A sociedade clama pela moralidade e seriedade

na gestão pública, reprovando cada vez mais estas práticas

antigas, contrárias a legalidade e pautadas no clientelismo e no

apadrinhamento.

Nestes termos, requer, sempre de forma

respeitosa o ora denunciante, para que o "parquet",

salvo melhor juízo, atue dentro de suas prerrogativas

constitucionais de fiscal da lei da CF, verificando a

ocorrência das ilegalidades/inconstitucionalidades que

aqui foram denunciadas. Outrossim, requer ainda que lhe

seja garantido o sigilo do denunciante no presente

procedimento.”

O i. Procurador oficiante promoveu o

arquivamento do procedimento, conforme peça de fls. 181/182 -

anverso e verso, verbis:

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“Trata-se de denúncia acerca de

irregularidades nas contratações temporárias

(“emergenciais”) realizadas pela inquirida, em

síntese: - contratação para atividades permanentes; -

não homologação de 24% das intimações; - dentre os

59 candidatos selecionados, 04 já teriam sido

contratados em outras oportunidades; - não cabimento

desse tipo de contratação para uma concessionária de

serviços de telecomunicação.

Intimada a se manifestar sobre a denúncia,

a inquirida apresentou cópia dos procedimentos

administrativos relacionados às contratações e afirmou

que: - possuem prazo de 12 meses, prorrogável por

igual período; - a lei autorizadora condiciona as

contratações á realização de concurso público para o

cargo em questão, o que será providenciado, após

negociações com o sindicato da categoria.

A Constituição da República prevê:

"Art. 37. A administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e

eficiência e, também, ao seguinte: (...)

IX - a lei estabelecerá os casos de contratação

por tempo determinado para atender a

necessidade temporária de excepcional

interesse público;"

Por seu turno, a Constituição da República

prevê:

"Art. 19. A administração pública direta e

indireta de qualquer dos Poderes do Estado e

dos municípios, visando à promoção do bem

público e à prestação de serviços á comunidade

e aos indivíduos que a compõe, observará os

princípios da legalidade, da moralidade, da

impessoalidade, da publicidade, da

legitimidade, da participação, da razoabilidade,

da economicidade, da motivação e o seguinte:

IV - a lei estabelecerá os casos de contratação

de pessoal por tempo determinado, para atender

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a necessidade temporária de excepcional

interesse público:

Inicialmente, não vejo qualquer óbice em

uma fundação pública, ainda que preste serviços

relacionados com telecomunicação, realizar

contratações temporárias. Além de não haver limitação

expressa nesse sentido, o permissivo constitucional é

amplo e serve de válvula de escape (regrada) para a

contratação genérica de pessoal para a administração

pública em caso de necessidade temporária de

excepcional interesse público. Assim, não importa a

natureza jurídica do ente público e o serviço que

presta, mas sim a configuração da finalidade

constitucional.

Também não vejo impedimento para,

observada a exigência constitucional (necessidade

temporária de excepcional interesse público),

contratações para atividades do quadro permanente,

pedindo vênia para transcrever doutrina de minha

autoria, onde a matéria é abordada:

"A contratação deve, ainda, atender à

necessidade temporária, justificando a

transitoriedade do vínculo. Se a

necessidade é permanente, deve ser criado

o correspondente cargo ou emprego

público.

O Supremo vinha entendendo que a

contratação temporária não era aplicável

às atividades permanentes da

administração pública.1 Em julgado mais

recente, porém, alterou esse

posicionamento.2

Ainda que se refira a uma atividade

permanente, a necessidade deve ser

temporária.3 No exemplo acima da

vacância de cargos, somente há

necessidade temporária durante o prazo

necessário para a realização do concurso.

A sucessão de contratações e a

prorrogação sucessiva de contratos

descaracterizam a finalidade do instituto,

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configurando desvirtuamento e, portanto,

burla à exigência constitucional de concurso

público para os cargos e empregos públicos.

Em síntese, a contratação temporária deve se

referir, como regra, a atividades transitórias,

como nos casos de atendimento a

calamidades públicas e combate a epidemias.

Contudo, a reiteração da contratação a título

de atividade transitória desvirtua a sua

natureza temporária, caracterizando-a como

atividade permanente como, nos exemplos

citados, de defesa civil ou, respectivamente,

de saúde pública.

Como exceção, é admitida em atividades

permanentes, desde que presente a

necessidade temporária de excepcional

interesse público e apenas durante o

período estritamente necessário, como no

caso de substituição imprevista e

imprevisível de pessoal, decorrente, por

exemplo, de licença maternidade ou

aposentadoria por invalidez. .Ocorrendo

isso, a manutenção da contratação

temporária deve-se limitar,

respectivamente, à data do retorno da

servidora licenciada ou ao prazo da

conclusão do concurso público para o

preenchimento do cargo vago." (Ação Civil

Pública e Relações de Trabalho: tutela da

moralidade e da probidade administrativa.

Editora Método, São Paulo, 2008) De outra parte, as contratações em questão

estão autorizadas pela Lei 13.831/11, possuindo prazo

limitado a 12 meses, prorrogável por igual período (art.

1º,§ 1º),período durante o qual é exigida a realização de

concurso público (art. 7º).

Os critérios adotados para a seleção dos

candidatos são objetivos, consistindo em tabelas com

pontuação pré estabelecidas por modalidade de título

(ver fls. 102 a 104), o que satisfaz, numa contratação

temporária, as exigências de impessoalidade.

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Nessa ordem de ideias, se, dentre os 59

candidatos selecionados, apenas 04 já teriam sido

contratados em outras oportunidades, parece ser mais

um indicativo de inexistência de fraude. O índice de

não homologação das inscrições (24%), na falta de um

caso concreto de preterição indevida, também não

impressiona, pois, numa seleção para diversos cargos

de nível técnico e superior, afetivamente pode haver

não atendimento de exigências do edital.

Aplica-se, pois, ao caso o antigo

Precedente nº 12 do E. CSMPT: “PROCEDIMENTO

INVESTIGATIVO – INEXISTÊNCIA OU CORREÇÃO

DAS IRREGULARIDADES – HOMOLOGAÇÃO POR

DESPACHO. Nos casos de procedimentos

investigatórios onde restar comprovada a correção ou

a inexistência das irregularidades denunciadas,

atestadas pelo Procurador oficiante, deverá a Câmara

de Coordenação e Revisão do Ministério Público do

Trabalho homologar a promoção de arquivamento.

Por cautela, registro que o presente

arquivamento não impede nova investigação no âmbito

de denunciado, acaso noticiadas outras eventuais

irregularidades sob o mesmo objeto, ou não, deste

expediente.

3. conclusão

Isso posto, com fulcro no art. 10 da

Resolução nº 69, de 12 de dezembro de 2007, do

conselho Superior do Ministério Público do Trabalho

(CSMPT), arquivo o presente Inquérito Civil.

Notifiquem-se os interessados, conforme artigo 10,§ 1º

, da Resolução citada. Após a comprovação da

cientificação pessoal, remeta-se o expediente, no prazo

de 03 dias, à Egrégia Câmara de Coordenação e

Revisão do Ministério Público do Trabalho

(CCRMPT), para exame e deliberação.”.

Intimado o denunciante do arquivamento

promovido, conforme espelha as fls. 185/186 destes autos, sobrevêm

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FEITO PGT/CCR/ICP/Nº 2141/2013

aos mesmos, em 04.01.2013, recurso administrativo reprisando os

termos da denúncia inaugural (fls. 189/193).

Em seguida (fl. 194), despachou o i. Procurador

oficiante mantendo a decisão de arquivamento.

A recorrida apresentou contrarrazões às fls.

196/201.

Por distribuição deste feito na CCR/MPT,

vieram os autos a esta Relatora.

É o relatório.

VOTO - FUNDAMENTAÇÃO

O Recurso Administrativo ora em análise não

combate, em específico, a promoção de arquivamento exarada às fls.

181/182 do presente expediente, limitando-se a reiterar os fatos já

articulados na peça de ingresso, razão pela qual não merece

conhecimento, ante a ausência de requisito de admissibilidade inscrito

no art. 514, inciso II do CPC.

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Nesse sentido, entendimento sumulado no C.

Tribunal Superior do Trabalho, verbis:

SUMULA Nº422 – TRIBUNAL SUPERIOR DO

TRABALHO: RECURSO. APELO QUE NÃO ATACA

OS FUNDAMENTOS DA DECISÃO RECORRIDA. NÃO

CONHECIMENTO. ART. 514, II, do CPC (conversão da

Orientação Jurisprudencial nº 90 da SBDI-2) - Res.

137/2005, DJ 22, 23 e 24.08.2005. Não se conhece de

recurso para o TST, pela ausência do requisito de

admissibilidade inscrito no art. 514, II, do CPC, quando

as razões do recorrente não impugnam os fundamentos

da decisão recorrida, nos termos em que fora proposta.

(ex-OJ nº 90 da SBDI-2 - inserida em 27.05.2002)

Todavia, ultrapassada a barreira do

conhecimento, no mérito a peça de irresignação também não deve

prosperar. A justificativa contida na promoção de arquivamento

exarada às fls. 181/182 – anverso e verso é suficiente a ensejar o

encerramento do presente feito. Com efeito, não restou demonstrada

nos autos irregularidade na conduta da Fundação Cultural Piratini

(Rádio e Televisão Educativa-TVE) que agiu respaldada pela

Lei nº 13.831/11, autorizadora das contratações questionadas, ipsis

litteris:

“(...)

Inicialmente, não vejo qualquer óbice em uma

fundação pública, ainda que preste serviços

relacionados com telecomunicação, realizar

contratações temporárias. Além de não haver limitação

expressa nesse sentido, o permissivo constitucional é

amplo e serve de válvula de escape (regrada) para a

contratação genérica de pessoal para a administração

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17

pública em caso de necessidade temporária de

excepcional interesse público. Assim, não importa a

natureza jurídica do ente público e o serviço que

presta, mas sim a configuração da finalidade

constitucional.

Também não vejo impedimento para,

observada a exigência constitucional (necessidade

temporária de excepcional interesse público),

contratações para atividades do quadro permanente,

pedindo vênia para transcrever doutrina de minha

autoria, onde a matéria é abordada:

"A contratação deve, ainda, atender à

necessidade temporária, justificando a

transitoriedade do vínculo. Se a

necessidade é permanente, deve ser criado

o correspondente cargo ou emprego

público.

O Supremo vinha entendendo que a

contratação temporária não era aplicável

às atividades permanentes da

administração pública.1 Em julgado mais

recente, porém, alterou esse

posicionamento.2

Ainda que se refira a uma atividade

permanente, a necessidade deve ser

temporária.3 No exemplo acima da

vacância de cargos, somente há

necessidade temporária durante o prazo

necessário para a realização do concurso.

A sucessão de contratações e a

prorrogação sucessiva de contratos

descaracterizam a finalidade do instituto, configurando desvirtuamento e, portanto,

burla à exigência constitucional de concurso

público para os cargos e empregos públicos.

Em síntese, a contratação temporária deve se

referir, como regra, a atividades transitórias,

como nos casos de atendimento a

calamidades públicas e combate a epidemias.

Contudo, a reiteração da contratação a título

de atividade transitória desvirtua a sua

natureza temporária, caracterizando-a como

atividade permanente como, nos exemplos

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FEITO PGT/CCR/ICP/Nº 2141/2013 citados, de defesa civil ou, respectivamente,

de saúde pública.

Como exceção, é admitida em atividades

permanentes, desde que presente a

necessidade temporária de excepcional

interesse público e apenas durante o

período estritamente necessário, como no

caso de substituição imprevista e

imprevisível de pessoal, decorrente, por

exemplo, de licença maternidade ou

aposentadoria por invalidez. .Ocorrendo

isso, a manutenção da contratação

temporária deve-se limitar,

respectivamente, à data do retorno da

servidora licenciada ou ao prazo da

conclusão do concurso público para o

preenchimento do cargo vago." (Ação Civil

Pública e Relações de Trabalho: tutela da

moralidade e da probidade administrativa.

Editora Método, São Paulo, 2008) De outra parte, as contratações em questão

estão autorizadas pela Lei 13.831/11, possuindo prazo

limitado a 12 meses, prorrogável por igual período (art.

1º,§ 1º),período durante o qual é exigida a realização de

concurso público (art. 7º).

Os critérios adotados para a seleção dos

candidatos são objetivos, consistindo em tabelas com

pontuação pré estabelecidas por modalidade de título

(ver fls. 102 a 104), o que satisfaz, numa contratação

temporária, as exigências de impessoalidade.

Nessa ordem de ideias, se, dentre os 59

candidatos selecionados, apenas 04 já teriam sido

contratados em outras oportunidades, parece ser mais

um indicativo de inexistência de fraude. O índice de

não homologação das inscrições (24%), na falta de um

caso concreto de preterição indevida, também não

impressiona, pois, numa seleção para diversos cargos

de nível técnico e superior, afetivamente pode haver

não atendimento de exigências do edital.”.

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Tem-se, portanto, que o irresignado não trouxe

aos autos elementos de convicção mínimos a suportar a tese recursal,

razão pela qual improcede o recurso sub examine, que sem referidos

elementos torna-se inócuo e vazio.

Além do mais, como se sabe, o Supremo

Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que questões

envolvendo a contratação temporária (caso dos autos) por ente púbico

atraem a competência da Justiça Comum.

“o fato de o contrato de trabalho temporário ser nulo –

ou se ter tornado nulo em razão de sucessivas e ilegais

prorrogações – não transforma, automaticamente, o

seu caráter jurídico-administrativo em celetista. A sua

natureza é e continua sendo jurídico-administrativa, a

atrair a competência da justiça comum, estadual ou

federal.” (Rcl 8437/TO – Tocantins, Relator: Ministro

Joaquim Barbosa – DJE 21/10/2009)

“RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL. AUTORIDADE

DE DECISÃO PROFERIDA PELO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL: ARTIGO 102, INCISO I,

ALÍNEA L, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA.

MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE N. 3.395.

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDORES

PÚBLICOS: ARTIGO 37, INCISO IX, DA

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. AÇÕES

AJUIZADAS POR SERVIDORES TEMPORÁRIOS

CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. CAUSA DE

PEDIR RELACIONADA A UMA RELAÇÃO

JURÍDICO-ADMINISTRATIVA. AGRAVO

REGIMENTAL PROVIDO E RECLAMAÇÃO

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PROCEDENTE. 1. O Supremo Tribunal Federal

decidiu no julgamento da Medida Cautelar na Ação

Direta de Inconstitucionalidade n. 3.395 que o disposto

no art. 114, I, da Constituição da República, não

abrange as causas instauradas entre o Poder Público e

servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-

estatutária. 2. Apesar de ser da competência da Justiça

do Trabalho reconhecer a existência de vínculo

empregatício regido pela legislação trabalhista, não

sendo lícito à Justiça Comum fazê-lo, é da competência

exclusiva desta o exame de questões relativas a vínculo

jurídico-administrativo. 3. Se, apesar de o pedido ser

relativo a direitos trabalhistas, os autores da ação

suscitam a descaracterização da contratação

temporária ou do provimento comissionado, antes de

se tratar de um problema de direito trabalhista a

questão deve ser resolvida no âmbito do direito

administrativo, pois para o reconhecimento da relação

trabalhista terá o juiz que decidir se teria havido vício

na relação administrativa a descaracterizá-la. 4. No

caso, não há qualquer direito disciplinado pela

legislação trabalhista a justificar a sua permanência

na Justiça do Trabalho. 5. Agravo regimental a que se

dá provimento e reclamação julgada procedente.”

(STF-RCL. 4489/PA – Rel. Ministra Carmem Lúcia

Antunes Rocha – Tribunal Pleno – DJ 21/11/2008)

Diante do posicionamento do Pretório Excelso,

o colendo Tribunal Superior do Trabalho, adequando sua

jurisprudência, cancelou a Orientação Jurisprudencial 205 SBDI-

1/TST e passou a decidir da seguinte forma:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE

REVISTA. COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA

DO TRABALHO. CAUSAS ENVOLVENDO

PROVIMENTO COMISSIONADO PELO PODER

PÚBLICO. INTERPRETAÇÃO VINCULANTE

CONFERIDA PELO STF. CANCELAMENTO DA OJ 205

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DA SBDI-1/TST. EFEITOS PROCESSUAIS. DECISÃO

DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO. O Pleno do STF

referendou liminar concedida pelo Ministro Nelson Jobim

no julgamento da Medida Cautelar na ADI 3.395-6/DF,

no sentido de que, mesmo após a EC nº 45/2004, a Justiça

do Trabalho não tem competência para processar e

julgar causas instauradas entre o Poder Público e o

servidor que a ele seja vinculado por relação jurídico-

administrativa. No mesmo sentido, diversos precedentes

da Suprema Corte, que têm enfatizado a incompetência

desta Justiça Especializada mesmo com respeito a

contratações irregulares, sem concurso público, ou com

alegado suporte no art. 37, IX, da Constituição. Em face

da jurisprudência consolidada no Supremo Tribunal

Federal, este Tribunal Superior do Trabalho, por meio da

Resolução nº 156, de 23 de abril de 2009, cancelou a OJ

205/SBDI-1/TST. Nesse contexto, e estando devidamente

prequestionada a matéria (OJ 62 da SBDI-1/TST), impõe-

se reconhecer que decisão em sentido contrário viola o

art. 114, I, da CF. Não há como assegurar o

processamento do recurso de revista quando o agravo de

instrumento interposto não desconstitui as razões

expendidas na decisão denegatória, que subsiste por seus

próprios fundamentos. Agravo de instrumento

desprovido.” (AIRR – 131/2006-004-20-40.1 – Relator

Ministro Mauricio Godinho Delgado – 6ª Turma – DEJT

28/08/2009)

Portanto, é forçoso, em atenção à diretriz fixada

pelo excelso Supremo Tribunal Federal, reconhecer a incompetência

da Justiça do Trabalho para processar e julgar causas instauradas entre

o Poder Público e o servidor que a ele seja vinculado por relação

jurídico-administrativa - estatutária ou contrato administrativo por

excepcional interesse público.

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Ademais, o Tribunal Pleno do colendo Tribunal

Superior do Trabalho, em Sessão realizada no dia 23/04/09, aprovou,

unanimemente, a proposta da Comissão de Jurisprudência e de

Precedentes Normativos de cancelamento da Orientação

Jurisprudencial nº 205 da SBDI-1/TST, na esteira da jurisprudência

consolidada no excelso Supremo Tribunal Federal, no sentido de a

Justiça do Trabalho não deter competência material para apreciar

demandas ajuizadas por servidores admitidos por ente público

mediante contrato administrativo por tempo determinado para atender

necessidade temporária de excepcional interesse público.

Seguindo o mesmo entendimento no sentido de

ser da Justiça Comum a competência para julgar as causas instauradas

entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica

relação estatutária ou de caráter jurídico-administrativo, colhem-se os

seguintes precedentes específicos da SBDI-2 do C. TST, verbis:

“1. REMESSA NECESSÁRIA - NÃO-

CONHECIMENTO - ART. 475, § 2º, DO CPC. VALOR

NÃO EXCEDENTE A 60 (SESSENTA) SALÁRIOS

MÍNIMOS. Nos termos do art. 475, § 2°, do CPC,

introduzido pela Lei n° 10.352/2001, nas decisões

proferidas contra a União, os Estados, o Distrito Federal,

os Municípios e as respectivas autarquias e fundações de

direito público, não haverá reexame necessário quando a

condenação, ou o direito controvertido, for de valor certo

não excedente a 60 (sessenta) salários mínimos. 2.

RECURSO ORDINÁRIO - AÇÃO RESCISÓRIA -

SERVIDOR ADMITIDO MEDIANTE CONTRATO

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ADMINISTRATIVO POR PRAZO DETERMINADO

PARA ATENDER NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE

EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO -

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM E NÃO DA

JUSTIÇA DO TRABALHO - INTELIGÊNCIA DA

JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA NO STF, EM

RAZÃO DA QUAL ESTA CORTE CANCELOU A OJ

205 DA SBDI-1. I O Pleno do Tribunal Superior do

Trabalho, em sessão do dia 23/04/2009, por decisão

unânime, cancelou a Orientação Jurisprudencial nº 205

da SBDI-1, na esteira da jurisprudência consolidada no

Supremo Tribunal Federal, de a Justiça do Trabalho não

desfrutar de competência material para processar e

julgar as ações movidas por servidores admitidos

mediante contrato administrativo por tempo determinado

para atender necessidade temporária de excepcional

interesse público. II - Na oportunidade, o Colegiado

firmou tese consonante com a do STF no sentido de a

competência material, na espécie, ser da Justiça Comum.

III Precedentes. IV - Recurso provido.”

(TST-RXOF e ROAR-6900-93.2009.5.24.0000, Rel. Min.

Barros Levenhagen, DJ de 09/04/10). (destaques próprios)

“REMESSA DE OFÍCIO E RECURSO ORDINÁRIO

AÇÃO RESCISÓRIA - SERVIDOR ADMITIDO

MEDIANTE CONTRATO ADMINISTRATIVO POR

PRAZO DETERMINADO PARA ATENDER

NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL

INTERESSE PÚBLICO - COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA COMUM E NÃO DA JUSTIÇA DO

TRABALHO - INTELIGÊNCIA DA

JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA NO STF, EM

RAZÃO DA QUAL ESTA CORTE CANCELOU A OJ

205 DA SBDI-1. I - O Pleno do Tribunal Superior do

Trabalho, em sessão do dia 23/04/2009, por decisão

unânime, cancelou a Orientação Jurisprudencial nº 205

da SBDI-1, na esteira da jurisprudência consolidada no

Supremo Tribunal Federal, de a Justiça do Trabalho não

desfrutar de competência material para processar e

julgar as ações movidas por servidores admitidos

mediante contrato administrativo por tempo determinado

para atender necessidade temporária de excepcional

interesse público. II - Na oportunidade, o Colegiado

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firmou tese consonante com a do STF no sentido de a

competência material, na espécie, ser da Justiça Comum.

III Precedentes. IV - Remessa de ofício e recurso

ordinário providos.”

(TST-RXOF e ROAR-7100-03.2009.5.24.0000, Rel. Min.

Barros Levenhagen, DJ de 09/04/10). (destaques próprios)

“REMESSA EX OFFICIO - E RECURSO

ORDINÁRIO EM AÇÃO RESCISÓRIA –

CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA - ENTE PÚBLICO -

DECISÃODO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL -

REPERCUSSÃO GERAL - CANCELAMENTO DA

ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL Nº 205 DA

SBDI-1 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO -

INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO -

ART. 485, II, DO CPC. Em decorrência do entendimento

firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido da

incompetência da Justiça do Trabalho para processar e

julgar as ações ajuizadas por servidores admitidos

mediante contrato administrativo e por tempo

determinado, a fim de atender necessidade temporária de

excepcional interesse público, o Tribunal pleno desta

Corte cancelou em 23/04/2009, a Orientação

Jurisprudencial nº 205 da SBDI-1. Dessa forma, o

acórdão regional deve ser desconstituído, para, em juízo

rescisório, ser declarada a incompetência da Justiça do

Trabalho e determinada a remessa dos autos à Justiça

Estadual Comum. Remessa necessária e recurso

ordinário a que se dá provimento.”

(TST-RXOF e ROAR-6200-20.2009.5.24.0000, Rel. Min.

Pedro Paulo Manus, julgado em 13/04/10). (destaques

próprios)

Por fim, a bem elaborada decisão arquivatória

ora combatida, com a qual comungo e cujos fundamentos adoto como

parte integrante deste voto, deve subsistir por seus próprios

fundamentos.

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CONCLUSÃO

Pelo exposto, VOTO no sentido de NÃO

CONHECER o Recurso administrativo sub examine, por violação

ao disposto no art. 514, II, do CPC, bem como na Súmula 422 do

C. Tribunal Superior do Trabalho e, em atividade revisional,

VOTO pela HOMOLOGAÇÃO da promoção de arquivamento

às fls. 181/182 – anverso e verso, pelos seus próprios fundamentos,

determinando o retorno dos autos à origem para as providências

de estilo.

Cientifiquem-se os interessados, o douto

Procurador oficiante e a Chefia da Procuradora Regional do

Trabalho de origem.

Brasília, 22 de março de 2013.

VERA REGINA DELLA POZZA REIS

Subprocuradora Geral do Trabalho

Coordenadora da CCR - Relatora