caminho e memÓria, a rua como arquivo · de conservação de imóveis históricos, relação de...
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CAMINHO E MEMÓRIA, A RUA COMO ARQUIVO:
Um Estudo Sobre A Rua Do Livramento Localizada Na Zona Especial
De Preservação 2 – Centro (Zep 2), Maceió/ Al
SILVA, SARA CRISTINA DA (1); HIDAKA, LÚCIA TONE FERREIRA (2)
1. Universidade Federal de Alagoas - UFAL. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU, Núcleo de
Programa de Educação Tutorial – PET Arquitetura e Urbanismo
Av. Lourival Melo Mota, S/N – Tabuleiro dos Martins, Maceió - AL
2 Universidade Federal de Alagoas – UFAL, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU, Núcleo de
Estudo de Projetos Especiais – NUPES
Av. Lourival Melo Mota, S/N – Tabuleiro dos Martins, Maceió - AL
RESUMO O que são arquivos? São apenas documentos escritos, fotográficos ou microfilmados guardados em armários? Pode uma rua guardar história? Pode ser ela um arquivo? Edgar Allan Poe, em MS. Found in a Bottle (1833), citou “Os cabelos brancos são arquivos do passado”. Assim como os cabelos brancos, os sítios, as praças, as ruas e os imóveis podem também ser arquivos. O aspecto antigo não conceitua algo como velho, ultrapassado, o aspecto antigo significa que determinado objeto construído no passado ainda é referência na atualidade. As ruas de uma cidade podem falar muito se observadas com atenção, através dos imóveis presentes, dos gabaritos destes, dos marcos existentes, do ponto de partida onde nasce; do ponto de chegada onde termina e até mesmo o pavimento. Este artigo apresenta uma pesquisa que se propõem a analisar a significância cultural da Rua do Livramento. Especificamente busca-se investigar seu surgimento, desenvolvimento, bem como as transformações sofridas ao longo do tempo e caracterizar os atributos materiais e não materiais que comunicam os valores patrimoniais, investigando os mais diversos tipos de arquivos e registros. Para a realização deste trabalho e o cumprimento de seus objetivos, foram investigados os registros de atributos materiais e imateriais, através de levantamento documental (estudo dos registros que fazem referência à Rua. Exemplo: registros fotográficos, escritos, entrevistas, reportagens, dentre outros) e levantamento in loco dos lotes lindeiros da Rua do Livramento. Os dados levantados a partir da investigação foram
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analisados e geraram resultados que expressam o desenvolvimento da rua no decorrer dos anos e sua influência no entorno. Foi evidenciada a caracterização de uso dos lotes, estado de conservação de imóveis históricos, relação de altura entre as edificações – como a correlação entre a Igreja de Nossa Senhora do Livramento e os Edifícios do Banco do Brasil e o Walmap – trazendo a tona parte da história da cidade. Localizada Na Zona Especial De Preservação 2 no Centro de Maceió, em Alagoas, a Rua do Livramento define um dos traços mais importantes do tecido urbano do bairro no qual está inserida. O traço desenhado no papel representa um caminho há muitas décadas definido. As edificações localizadas ao longo da rua carregam valores sagrados e profanos, de usos religiosos e comerciais. Estas construções possuem formas características de diversos tempos arquitetônicos, o que enriquece e embeleza mais o objeto estudado. A rua é conhecida pela Igreja de Nossa Senhora do Livramento, uma das mais belas obras construídas no bairro, ela também margeia a Praça Marechal Deodoro, uma das mais famosas praças da cidade. Na rua estão locados também dois prédios públicos, o Ministério do Trabalho e a Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio. Dada essa complexidade que o objeto estudado abriga, percebe-se que a Rua é um arquivo vivo, aberto, com o qual vivemos e interagimos, deixando nela registros materiais e imateriais na incessante construção de um patrimônio da cidade. Palavras-chave: Significância Cultural; Rua do Livramento; Patrimônio Urbano.
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INTRODUÇÃO
Este projeto foi impulsionado pela observação da formação da cidade e a contribuição do
objeto para a construção do patrimônio urbano. O trabalho tem como objetivo apresentar a
rua como um arquivo aberto e de fácil acesso, arquivo este que guarda diversas histórias e
memórias.
Maceió é uma cidade jovem, de apenas 200 anos. Mas mesmo jovem, tem sua história
construída de forma muito artesanal, por operários e trabalhadores. A cidade surgiu de um
engenho, construído onde, atualmente, é o bairro do Centro. Dentro desse bairro as ruas
foram desenhadas, também artesanalmente, seguindo o caminho dos carros de bois que
partiam do Largo dos Martírios em direção ao engenho. Dentre essas ruas há a Rua do
Livramento, objeto deste estudo, contribui de forma muito intensa para a formação da Vila
que logo se tornaria cidade.
A pesquisa1, que ainda encontra-se em desenvolvimento, visa identificar a significância
cultural da Rua do Livramento, observando seu surgimento, desenvolvimento, as
transformações as quais a rua sofreu no decorrer dos anos e a influência da mesma em seu
entorno. Especificamente, procura caracterizar os atributos materiais e não materiais que
possam expressar os valores patrimoniais, investigando os mais diversos tipos de arquivos
e registros.
Para que isto fosse possível foram adotadas etapas que partiam da revisão de referências
bibliografias sobre objeto empírico e dos conceitos utilizados neste trabalho, culminando
com a caracterização e análise do mesmo. Assim, o estudo para preservação deste
patrimônio é de fundamental importância para contribuição cultural da sociedade.
1 A autora Sara Cristina da Silva é bolsista do Programa de Educação Tutorial no Curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas, e a professora Dra.Lúcia Tone Ferreira Hidaka é a orientadora.
Esta pesquisa se desenvolve no Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos de Projetos Especiais (NUPES) e conta
com o apoio institucional da Universidade Federal de Alagoas.
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1 MÉTODOS E TÉCNICAS
1.1 METODOLOGIA
Para que o estudo sobre o objeto fosse realizado com êxito, foi necessária a divisão da
pesquisa em três etapas: 1ª- levantamento documental; 2ª - levantamento in loco dos lotes
lindeiros da Rua do Livramento e 3ª - Análise dos resultados obtidos. Por encontrar-se em
desenvolvimento, nem todas as etapas foram concluídas no aprofundamento necessário.
Portanto serão apresentados neste trabalho apenas resultados parciais.
1ª etapa - Levantamento documental: nesta etapa foram consultadas diversas referências e
documentos a respeito do objeto de estudo (tanto sobre a formação da cidade, o contexto
no qual surgiu o logradouro), sobre o conceito de significância e conservação urbana. Para
isto, foram feitas visitas aos acervos da Biblioteca da Universidade Federal de Alagoas, da
Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos, o Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas
(locais de extrema importância para a realização deste trabalho, pois neles estão
concentrados a maior parte dos registros históricos sobre o município), e acervos eletrônicos
de portais virtuais, como Vitruvius. O objetivo desta etapa era reunir o máximo de
informações sobre o objeto de estudo e os conceitos que serão aplicados ao trabalho;
2ª etapa - Levantamento in loco dos lotes lindeiros da Rua do Livramento: nesta etapa foram
realizadas três visitas à rua: a primeira, para observar o objeto como usuário do mesmo – o
objetivo desta visita era reconhecer e vivenciar a rua como os demais cidadãos; a finalidade
da segunda visita era fazer o reconhecimento do uso dos lotes e a influência desses usos na
rua, verificação do estado de preservação de prédios históricos, da situação atual da rua e a
caracterização dos atributos materiais e imateriais da rua, tomando como instrumento
orientador o quadro a seguir; a terceira visita teve como propósito colher depoimentos,
através de diálogos informais, a fim de montar a imagem da rua aos olhos da população;
Para a pesquisa, todos os elementos, serão estudados. No entanto, inicialmente, pelo
andamento do projeto, estes foram pouco explorados, tendo assim informações um pouco
restritas desses objetos. Todavia, percebe-se que há necessidade de uma análise mais
profunda destes itens. O estudo mais detalhado destes elementos se dará no decorrer da
pesquisa.
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Tabela 1 – Elementos Morfológicos. Fonte: Autora. 2015.
A coleta destes dados tem como objetivo auxiliar no estudo do objeto, da seguinte forma: 1)
O primeiro item da tabela (Traçado/Rua) visa estudar a forma do objeto, seu surgimento,
usos e mudanças; 2) O segundo item, Implantação do edifício no lote, visa estudar a
locação dos edifícios nos lotes lindeiros da rua; 3) Fachadas, o terceiro elemento, visa
avaliar as fachadas das edificações, a tipologia e estado de conservação; 4) Elementos
complementares (mobiliário urbano), quarto e último item da tabela, tem como objetivo
avaliar e estudar o mobiliário urbano disposto pela rua, sua caracterização, sua organização,
seu uso e sua influência. O estudo se dará através dos métodos dispostos na tabela.
3ª - Análise dos resultados obtidos: neste momento será realizado o confronto dos dados
encontrados na análise documental e no levantamento in loco a fim de evidenciar as
MATERIAL IMATERIAL
ELEMENTOS/ITENS FORMA
CAMPOS E
EFEITOS VISUAIS USO
1 Traçado/Rua
Mapas;
Desenhos;
Desenhos;
Fotografias;
Registro perceptivo
no local;
Avaliação
comparativa;
Listagem;
Mapeamento;
2
Implantação do
edifício no lote
Desenhos;
Tipologia edificada
e limites do lote;
Desenhos;
Fotografias;
Registro perceptivo
no local;
Listagem;
Mapeamento;
3
Fachadas
Desenhos;
Tipologias;
Desenhos;
Fotografias;
Registro perceptivo
no local;
Avaliação
comparativa;
Listagem;
Mapeamento;
4
Elementos
complementares
(mobiliário urbano)
Avaliação
comparativa
Desenhos;
Fotografias;
Registro perceptivo
no local;
Mapeamento;
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mudanças ocorridas na rua, no decorrer do tempo. Este confronto será feito através do
cruzamento das informações encontradas nos mapas, nas pinturas, nas fotografias, nos
registros e nos depoimentos coletados.
1.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Memória, faculdade psíquica, lembrança ou recordação? Durante décadas a definição de
memória esteve em discussão nas mesas filosóficas espalhadas pelo mundo. Santo
Agostinho (Sec. IV) chegava a igualar mente e memória. Já René Descartes (1979), alegava
que memória não existia. Mas para Bertrand Russell (1921), memória e recordação se
assemelham em eventos singulares que aconteceram no passado, para ele é uma
capacidade que só é possível a partir de duas condições: registros “fotográficos” dos fatos e
a convicção de que os mesmos aconteceram. (CUNHA e SILVA, 2010).
Com base nesta teoria de Russell (CUNHA e SILVA, 2010) destaca-se a questão: apenas
objetos abstratos podem ser considerados memória? O que acontece com objetos concretos
- que carregam consigo histórias, registros de um tempo e sentimentos de seus construtores
- construídos no passado? Apenas pessoas possuem memórias? Cidades, estados e países
não podem possuir memórias? O que significam os grandes templos gregos, que apesar da
passagem do tempo ainda contam histórias?
Segundo Craveiro Costa (1981), Maceió nasceu de um povoado que surgiu num engenho
de açúcar, localizado abaixo de uma ladeira, ao lado da antiga Capela de São Gonçalo.
Deste engenho não foram encontrados registros, dele, apenas sabe-se que era situado
onde hoje está o Palacete da Assembleia Legislativa.
No entorno do engenho foram construídas pequenas casas distribuídas de modo a formar
um pátio na frente da capela. Com o passar dos anos, o crescimento da população e o
desenvolvimento econômico percebeu-se a necessidade do povoado tornar-se vila, logo
depois, tornar-se capital da comarca. O antigo povoado estava situado na região do atual
bairro do Centro de Maceió. Bairro que possui o traçado de muitas ruas definidos séculos
atrás. (COSTA, 2010).
Dentre essas ruas seculares está a Rua do Livramento, objeto de estudo desta pesquisa,
que se principiava na Rua do Comércio e terminava no largo da Cotinguiba, atual Praça
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Marechal Deodoro. Por este logradouro, estão distribuídos imóveis históricos, patrimônios
históricos, prédios públicos e comerciais.
Não somente pessoas possuem memórias, cidades, estados e países também possuem. Os
templos gregos são memórias, documentos de um povo. As provas (estejam elas impressas
na arquitetura, no tecido urbano, nos registros literários ou nos depoimentos de indivíduos)
que o antigo povoado possui, são memórias. Memórias concretas, herdadas de artesãos
que com muito trabalho construíram um patrimônio por muitos desvalorizado.
1.2.1 O CAMINHO
Segundo Santos (2005), o ano era 1700 quando foi criada a Vila de Maceió com as ruas:
Rua da Boa Vista, Rua do Alecrim (Rua Barão de Alagoas), Largo do Cotinguiba (Praça
Marechal Deodoro) e Rua da Rosa (Rua do Livramento), dentre outras. No entanto, o
registro mais antigo da rua está no mapa elaborado, em 1820, por José da Silva Pinto a
pedido de Sebastião Francisco de Mello Povoas, presidente da província no determinado
período.
A Rua do Livramento nem sempre teve este nome, de acordo com Lima Jr. (1986) o
caminho inicialmente chamava-se Rua do Livramento e mudou seu nome quatro vezes: De
Rua do Livramento para Rua da Rosa, de Rua da Rosa para Rua do Livramento, depois
para Rua Senador Mendonça, e novamente, Rua do Livramento, nome que mantém até
hoje. (LIMA JR, 1986).
Figura 1- Pintura da Antiga capela de São Gonçalo em Maceió, sem data, autor desconhecido. Fonte: Costa,
1981.
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Mapa 1- Mapa de Maceió, 1820. Tratado pela autora.
Fonte: Reprodução de cópia existente no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. O original se encontra no IHGAL.
Dentro de uma malha em parte ortogonal, uma vez que a maioria das ruas do Centro está
distribuída de forma retilínea, a Rua do Livramento destaca-se pela influência comercial e
religiosa. Seguindo o traçado retilíneo, e não paralelo, das ruas circunvizinhas - fato que
passa despercebido aos olhos dos transeuntes -, a Antiga Rua Senador Mendonça possui
cerca de 590,00m de comprimento.
Atualmente, a Rua do Livramento é um dos logradouros mais importantes do Centro de
Maceió, tanto pela carga histórica que carrega quanto pela influência religiosa, econômica e
social que possui. No início do século passado se concentrava naquela rua o comércio mais
importante da Capital alagoana. (COSTA, 1981).
Ruas – A partir de 1700
Rua do Livramento
1 – Antiga Rua do Alecrim; 2 – Atual Rua Melo Morais; 3 – Rua Boa Vista; 4 – Rua do Comércio; 5 – Travessa Boa Vista; 6 – Antiga Trav. do Alecrim; 7 – Largo do Cotinguiba.
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Mapa 2 - Mapa de identificação de da Rua do Livramento na SPR 01.
Fonte: SEMPLA, 2007. Tratado pela autora.
Apesar das constantes mudanças por quais as edificações dispostas na Rua passam, é
notável que o traçado da rua, assim como o tecido urbano daquele entorno quase não
mudou.
E mesmo abrigando diversos imóveis e monumentos históricos e uma das praças mais
importantes do Bairro no qual está inserida, a Rua do Livramento não pertence totalmente
ao Setor de Preservação Rigorosa 01 (SPR 01), localizada na ZEP 2.
Observando o caminho é possível identificar quinze imóveis históricos existentes na rua.
Apesar do valor histórico grande parte dessas edificações, as mesmas não tiveram a sorte
do tecido urbano. Caminhando pelo logradouro é possível notar que boa parte dessas
edificações é utilizada para usos comerciais ou serviços e estão parcialmente degradadas.
Abaixo, segue um quadro com a identificação dos imóveis históricos, segundo o mapa
citado acima, seus usos e estado de conservação das fachadas.
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LEVANTAMENTO RUA DO LIVRAMENTO – PARTE 01
IMÓVEIS HISTÓRICOS
IMÓVEL USO
ESTADO DE
CONVERVAÇÃO DA
FACHADA
Observações
01 Comercial.
Não possui letreiros em
sua fachada. Observa-
se esforço na tentativa
de conservação da
fachada mantendo-a
sem modificações na
estrutura. Não possui
esquadrias originais
----
02
Comercial
(Galeria de lojas:
Drogaria São Luiz,
Gasoline, Lady Gi,
AQ Presentes e
Embalagens e Franci-
Color).
Péssimo estado de
conservação.
Mantem as esquadrias
originais apenas no
pavimento superior.
Mesmo com o
excesso de
equipamentos de
comunicação
visual ainda é
possível perceber
a arquitetura da
edificação.
03 Comercial – AKL
Móveis
Observa-se esforço na
tentativa de
conservação da
fachada, mantendo-a
sem modificações na
estrutura. Não há
esquadrias originais.
Apresenta, porém
grande letreiro. O
que dificulta a
leitura da
edificação.
04 Comercial –
Magazine Luiza
Percebe-se esforço na
tentativa de
conservação da
fachada. No entanto
foram fechadas algumas
Apresenta
letreiros discretos
que não
prejudicam a
leitura visual do
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aberturas no pavimento
térreo. Há apenas
esquadrias originais nos
pavimentos superiores.
objeto.
05
Misto (Galeria de
lojas e serviços:
Sorrifácil, Puppy
Moda Infantil,
Ragaza, INOFF e
Cromus.
Percebe-se
conservação da
fachada. No entanto
pátina leve. Ainda é
possível notar a
presença de esquadrias
antigas. Há apenas
esquadrias originais
somente nos
pavimentos superiores
Há excesso do
uso de letreiros
06 Comercial - Festança Não possui esquadrias
originais.
Devido ao
excesso de
letreiros não é
possível
identificar a
fachada principal.
07
Público – Secretária
de Planejamento e
Gestão
Estado de Conservação
considerado regular. No
entanto a pátina
encontra-se prejudicada.
Não há mudanças na
estrutura do edifício.
Possui ainda as
esquadrias originais da
edificação.
Mantém
esquadrias
originais
08 Comercial – Atual Bar
do Chopp
Atualmente, fechado
(durante o período de
levantamentos não foi
esclarecido o motivo de
fechamento – se era o
caso reforma ou não).
---
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09 Comercial - Paráclito ---
Devido ao
excesso de
letreiros não é
possível
identificar a
fachada principal.
10
Comercial –
Pastelaria Korban /
Requinte
Estado de conservação
considerado regular.
Pois não há mudanças
na estrutura. No entanto
pátina leve. Há apenas
esquadrias originais no
pavimento superior da
edificação.
Há excesso do
uso de letreiros.
11
Comercial – Farmácia
do Trabalhador de
Alagoas
Bom estado de
conservação. Não há
esquadrias originais.
Há presença do
uso de grande
letreiro.
12 Comercial – O
Boticário
Bom estado de
conservação. Pátina
prejudicada. Possui
esquadrias originais
apenas nos pavimentos
superiores.
Há presença de
letreiros
13 Comercial – Polo
Ótica
Bom estado de
conservação. Pátina
prejudicada. Possui
esquadrias originais
apenas nos pavimentos
superiores.
Não há presença
de letreiros.
14
Comercial –
Armarinho Cearense /
Korban
Bom estado de
conservação. Pátina
prejudicada. Possui
esquadrias originais
apenas nos pavimentos
superiores, as mesmas
Há presença do
uso de grande
letreiro.
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se encontram
danificadas.
Durante o levantamento foi constatado que apenas duas das catorze edificações históricas
espalhadas pela rua não possuem equipamentos de comunicação visual e apenas duas das
doze restantes procuram respeitar o imóvel adotando letreiros menores. Portanto dez dos
catorze imóveis abusam de grandes telas usadas como letreiros das lojas. Esses escondem,
muitas vezes, boa parte das fachadas onde estão instalados. São usados com o objetivo de
calar as expressões, registros de tempos arquitetônicos.
Aos olhos dos comerciantes essas expressões são ultrapassadas, banais e sem valor
algum. Ainda assim, com um olhar mais atento é possível constatar que por trás das
grandes telas há ainda vestígios destes imóveis. Muitos dessas edificações passaram por
muitas mudanças, tanto internas quanto externas, fato que cooperou para a degradação
desses objetos. Entretanto, são nas fachadas - principalmente nos pavimentos superiores,
que sofrem menos intervenções em suas reformas - que estão mais explícitos os traços das
edificações originais.
Percebendo ainda o mapa, notam-se três construções considerados patrimônios, são elas:
1) Museu Marechal Deodoro; 2) Academia Alagoana de Letras e 3) Igreja de Nossa Senhora
do Livramento. Além de imóveis e monumentos históricos, a Rua do Livramento ainda
margeia a Praça Marechal Deodoro.
Essas edificações que formam a paisagem e compõem a rua, atualmente dividem espaço
com comerciantes informais, com passeatas, manifestações e protestos, com bicicletas,
skates e carros dos correios. Mas principalmente com o grande número de barracas de
lanches e revistas, que tumultuam a paisagem e obstruem o fluxo de pessoas que transitam
pela rua.
No entanto, apesar de tudo não é o mobiliário urbano que se destaca neste contexto. Há
três elementos que marcam de forma profunda a história da rua: a construção da Igreja e a
demolição da antiga Praça da Rosa, a Praça Marechal Deodoro e o Edifício Breda, que
apesar de não se encontrar na rua está situado perto e trouxe muita influência para o
logradouro. Estes serão abordados a seguir:
Tabela 2 – Quadro com resultados do primeiro levantamento in loco. Fonte: Autor, 2015.
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Do Sacro ao Profano
Ainda segundo Santos (2005), junto com as primeiras populações surgiram, também, as
edificações de caráter religioso, que geralmente se encontravam em frente às praças. As
construções mais antigas eram caracterizadas pelo estilo românico, com uma única porta,
frontão triangular e óculo.
Como é o caso da Igreja que compartilha seu nome com a Rua. No lugar onde, atualmente,
está localizada a famosa Igreja de Nossa senhora do Livramento, inaugurada em 17 de
fevereiro de 1883, existia uma capela, modesta, que segundo Costa (1986), era coberta de
palha, fato que comprovava que os devotos de tal capela eram humildes tanto quanto ela.
Em frente à capelinha, de acordo com Lima Jr. (1986), existia a Praça de Nossa Senhora do
Livramento.
A praça que foi construída em frente à Igreja parecia não receber a mesma proteção que a
santa proporcionava ao templo. A Praça passou por três reformas: a primeira, após ter uma
reforma autorizada, em maio de 1909, por Demócrito Gracindo, então intendente, que
encarregou Rosalvo Ribeiro de elaborar um novo projeto para a praça, surgiu também a
proposta de trocar seu nome. Segundo Ticianeli (2015), em 21 de setembro do mesmo ano,
o Conselho Municipal de Maceió, hoje a Câmara Municipal, aprovou o Projeto nº 26 que
decretava que a Praça Do Livramento passaria a se chamar de Praça Dona Rosa da
Fonseca. Este mesmo decreto autorizava a disposição da um busto feito em bronze da
alagoana homenageada. O projeto nº 26 foi sancionado por Gracindo e transformado na Lei
nº 147, de 23 de setembro de 1909. (TICIANELI, 2015).
Ainda segundo Ticianeli (2015), o novo nome da Praça era uma homenagem à Dona Rosa
Maria Paulina Barros da Fonseca, esposa do Capitão Manoel Mendes e mãe de Marechal
Manuel Deodoro da Fonseca. A inauguração da Praça reformada e o Busto de Dona Rosa
aconteceram no dia 7 de setembro de 1910, e contou com a participação de militares e
estudantes que haviam desfilado pelas ruas de Maceió em homenagem à Independência do
Brasil. (TICIANELI, 2015).
A segunda reforma aconteceu em 1936, Álvaro Guedes Nogueira, prefeito na ocasião,
mudou a posição do busto da Praça que, anteriormente, estava voltado para a igreja
nascente pela frente. (TICIANELI, 2015).
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Figura 3 – Atual Bar do Chopp.
Fonte: Acervo pessoal, 2015.
A terceira e última reforma foi, de todas, a mais dolorosa. Ocorreu na década de 50, quando
a edificação onde funcionava a Mercearia Boa Vista passou a funcionar o Bar do Chopp. O
novo estabelecimento recebeu autorização para usar a Praça como extensão do Bar. Aos
poucos a Praça foi desaparecendo e hoje, a única lembrança que se tem é a estrutura do
bar que tomou para si a Praça. (TICIANELI, 2015).
Figura 2 - Antiga Praça Dona Rosa da Fonseca.
Disponível em : <http://alagoasbytonicavalcante.blogspot.com.br/2011/04/maceio-
antiga.html>. Acesso em: 19 ago 2015.
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O Ponto de Encontro
Ainda caminhando pela Rua do Livramento, encontra-se uma das três praças históricas do
bairro do Centro, a Praça Marechal Deodoro. Segundo Costa (1981), o local onde hoje está
localizada a Praça, funcionava um Largo destinado à parada dos carros de boi, que saíam
do atual bairro do Trapiche da Barra em direção ao Porto.
Cercada por diversos prédios comerciais e edificações de valores históricos – como a
Academia Alagoana de Letras, o Tribunal de Justiça e o Teatro Marechal Deodoro – a Praça
que substitui o Antigo Largo do Cotinguiba passou por 12 reformas desde que foi
inaugurada em, segundo Braga, em 03 de maio de 1910, na gestão do Intendente
Demócrito Gracindo, sob projeto de Rosalvo Ribeiro. (COSTA, 2015).
Figura 4 – Pintura da Capela de Nossa Senhora do Livramento.
Fonte: Costa, 1981, tratado pela autora.
Figura 5 – Foto da Igreja De Nossa Senhora do Livramento.
Fonte: Acervo pessoal, 2015.
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Desde sua inauguração a Praça passou a movimentar mais a rua (COSTA,1981) - que até
então era usada como acesso comercial - trazendo pessoas que saiam de suas residências
em busca de lazer. O espaço que em seus primeiros anos reunia famílias e amigos,
atualmente, é usado como: local de passagem e descanso; local de trabalho, como é o caso
dos jovens engraxates, taxistas e vendedores ambulantes que desfrutam do movimento de
pessoas que passam pela praça; e lazer, uma vez que, uma pequena parcela de jovens
costumam andar de skate no interior da Praça.
O FUTURO ENVELHECIDO
O prédio imponente, de estrutura extremamente marcada é um ícone de avanço no Centro
de Maceió. Construído em 1958 é referência modernista e ator marcante na história do
bairro e da cidade. (AMARAL e FERRARE, 2008).
A construção deste prédio foi um marco para a população, que intimidada via ganhando
forma a primeira edificação vertical de 11 pavimentos da cidade. No entanto, o edifício não
foi só por seu encanto marcado, em sua história há registros de diversos suicídios de jovens
que se jogavam do alto do prédio. (Silva, 1991, apud, Cavalcante, 2014, p. 55).
A edificação causou muito impacto, não só por ser o primeiro prédio com mais de seis
pavimentos, ou pelos inúmeros suicídios, mas também pela localização próxima à Igreja de
Figura 6 – Praça Marechal Deodoro.
Fonte: Autor. 2015.
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Nossa Senhora do Livramento, patrimônio histórico situado na Rua. Apesar da diferença na
altura das duas edificações não é constatado uma quebra na leitura da paisagem ou
descortesia por parte do edifício em relação ao patrimônio.
CONCLUSÃO
Observando a história da formação da cidade, nota-se a importância do bairro do Centro e
das ruas que o compõem. Foi visando o valor histórico deste sítio que se propôs o estudo da
Rua do Livramento. Um dos logradouros que mais contribuíram e ainda contribuem para a
formação e desenvolvimento da cidade.
O projeto base deste artigo tem como objetivo explorar a rua enquanto componente do sítio
histórico, relatando sua contribuição para a formação e desenvolvimento do bairro e da
cidade à qual pertence.
Ao estudar a rua, percebeu-se que a influência desta é maior do que se acreditava. A
história do logradouro, dos imóveis históricos e dos patrimônios existentes nele coopera
ricamente para construção da história, não só do município, mas também dos cidadãos e
usuários.
Através das visitas aos acervos bibliotecários, foi possível conhecer mais da história da
cidade e entender o contexto de sua formação. Foi possível, também, entender o cenário e
Figura 7 – Edifício Breda.
Fonte: Autor. 2015.
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o processo pelo qual se formou a rua. Foi permitido que através da narração dos autores
percebesse a percepção dos mesmos sobre a ambiência do objeto.
Através das visitas foi possível a percepção do espaço, e ambiência do objeto pela autora.
O Contato com a sob um novo olhar rua foi de extrema importância para entender os usos
que os transeuntes lhes dão. Os diálogos informais complementaram a construção do artigo.
Para o restante do projeto, espera-se o cruzamento das informações de forma mais
detalhada a fim de construir um arquivo, mais forte sobre a rua. Analisar a significância do
objeto e a conservação urbana do mesmo
Com base nos dados colhidos e nos resultados obtidos é imprescindível a importância da
rua diante da história da cidade e das mais variadas pessoas que passam e usam a rua.
Sua contribuição não é constatada apenas no crescimento econômico do munícipio, mas
também na vida dos cidadãos que constantemente constroem suas histórias ao mesmo
tempo em que interagem e deixam suas contribuições para a história da Rua.
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