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Candomblé e políticas públicas de saúde em Salvador, Bahia Autores: Ordep Serra, Maria Cristina Santos Pechine e Serge Pechine ORDEP SERRA (ORDEP JOSÉ TRINDADE SERRA): End. Rua Pedro Pondé 9/1202, Jardim Apipema, CEP 40155- 270 Salvador, Telefone: (71) 3331 1531 E-Mail: [email protected] . Bacharel em Letras e Mestre em Antropologia Social pela UnB, Doutor em Antropologia pela USP. Prof. Adjunto IV do Departamento de Antropologia da FFCH/UFBA. Secretário Adjunto da Associação Brasileira de Antropologia. MARIA CRISTINA SANTOS PECHINE: End. Travessa Julio das Neves, 12/02, Engenho Velho da Federação, CEP 40221-500 Salvador, Bahia. Telefone: (71) 3334 8543 E-Mail: [email protected] Graduação em Licenciatura, Bacharelado em Ciências Sociais, Especialização em Desigualdades Raciais e Educação pela UFBA, Mestranda em Antropologia. SERGE PECHINE: End. Travessa Julio das Neves, 12/02, Engenho Velho da Federação, CEP 40221-500 Salvador, Bahia. Telefone: (71) 3334 8543 E-Mail: [email protected] . Mestre em Ciências Sociais, Doutorando em Sociologia, em co-tutela pela École des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS Paris e pela Universidade Federal da Bahia.

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Candomblé e políticas públicas de saúde em Salvador, Bahia

Autores: Ordep Serra, Maria Cristina Santos Pechine e Serge Pechine

ORDEP SERRA (ORDEP JOSÉ TRINDADE SERRA): End. Rua Pedro Pondé 9/1202, Jardim Apipema, CEP 40155-270 Salvador,Telefone: (71) 3331 1531E-Mail: [email protected]. Bacharel em Letras e Mestre em Antropologia Social pela UnB, Doutor em

Antropologia pela USP. Prof. Adjunto IV do Departamento de Antropologia da FFCH/UFBA. Secretário Adjunto da Associação Brasileira de Antropologia.

MARIA CRISTINA SANTOS PECHINE: End. Travessa Julio das Neves, 12/02, Engenho Velho da Federação, CEP 40221-

500 Salvador, Bahia. Telefone: (71) 3334 8543E-Mail: [email protected]ção em Licenciatura, Bacharelado em Ciências Sociais, Especialização em

Desigualdades Raciais e Educação pela UFBA, Mestranda em Antropologia.

SERGE PECHINE: End. Travessa Julio das Neves, 12/02, Engenho Velho da Federação, CEP 40221-

500 Salvador, Bahia. Telefone: (71) 3334 8543E-Mail: [email protected]. Mestre em Ciências Sociais, Doutorando em Sociologia, em co-tutela pela École

des Hautes Études en Sciences Sociales - EHESS Paris e pela Universidade Federal da Bahia.

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ResumoNo passado, as comunidades religiosas afro-brasileiras foram objeto da perseguição

policial forte; além de racismo e intolerância religiosa, esta perseguição foi inspirada por um preconceito médico generalizado: etnomedicina afro-brasileiro foi examinado como charlatanismo e os ritos entusiásticos dos terreiros como a causa de desordens psíquicas. Os estudos antropológicos evidenciaram a inanidade deste preconceito e puseram-no claro que os terreiros não são só templos mas também agências de serviço de saúde populares importantes. Em duas décadas passadas o Movimento Preto Brasileiro conseguido na proposição de uma nova política de saúde pública de gente preta no Brasil e líderes dos terreiros no estado da Bahia continuou criando novas formas de cooperação com organizações governamentais e não governamentais com este objetivo. Discutimos neste artigo o estado presente e os desenvolvimentos possíveis desta cooperação incipiente.

Palavras-Chave: Candomblé, Saúde, Políticas Públicas, População negra, Intolerância religiosa.

AbstractCandomble Cult and Public Health Care Policy in Salvador, Bahia

In the past, the African-Brazilian religious communities have been object of strong policial persecution; besides racism and religious intolerance, this persecution was inspired by a generalized medical prejudice: African-Brazilian ethnomedicine was viewed as charlatanism and the enthusiastic rites of the terreiros as cause of psychic disorders. Anthropological studies have evinced the inanity of this prejudice and put it clear that terreiros are not only temples but also important popular health-care agencies. In the last two decades the Brazilian Black Movement succeeded in the proposition of a new public health policy for black people in Brazil and leaders of the Bahian terreiros went on to create new forms of cooperation with governmental and non governmental organizations with this aim. We discuss in this article the present state and the possible developments of this incipient cooperation.

Key-words - African-Brazilian, religious, intolerance, health, public policy

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Neste artigo, trataremos da relação entre os terreiros de candomblé de Salvador, o poder público e as políticas de saúde nesta cidade, tendo em vistas as novas propostas de colaboração entre os terreiros e órgãos de saúde do município e do estado. Tomamos como base uma pesquisa recentemente concluída.1

Vamos começar com uma pergunta ingênua: o que são mesmo terreiros de candomblé? Como eles são vistos, na Bahia, pelo poder público (e pela sociedade)?

A resposta mais simples logo acorre: terreiros são templos religiosos. Mas dá-se que, na prática, eles nem sempre são reconhecidos como tais pelos órgãos de governo. Mesmo aqueles que alcançaram grande fama e prestígio, chegando a ter sua importância reconhecida formalmente pelo Estado brasileiro através do tombamento, ainda tiveram (e têm!) dificuldades para ver respeitado seu direito à imunidade fiscal, direito este assegurado em lei a todos os templos religiosos pelo Artigo 150 da Constituição Brasileira. É significativo o exemplo da famosa Casa Branca do Engenho Velho, o primeiro templo afro-brasileiro tombado no país como patrimônio histórico nacional; recentemente este Ilê Axé voltou a sofrer a cobrança do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), com ameaça de arresto e leilão de seu terreno — aliás, uma Área de Proteção Cultural e Paisagística do município.2

É só um exemplo, que se destaca pelo grau de impertinência. Mas nada tem de excepcional. Quase todos os terreiros baianos arcam com taxas de que outros cultos estão isentos. Está claro que assim o próprio poder público os discrimina: na prática nem sempre os considera templos religiosos. Essa atitude reflete preconceitos arraigados.

Os mesmos preconceitos explicam a espantosa demora na constatação de uma evidência irrecusável para quem lida com planejamento em Salvador e estuda a evolução urbana da cidade: o fato de que terreiros são um tipo de assentamento muito importante neste complexo urbano. Seu número avultado e suas características especiais deveriam, desde muito, chamar a atenção dos técnicos que lidam com a ocupação e o uso do solo, com a gestão do espaço da metrópole baiana; mas foi apenas na década de 1980 que um órgão de planejamento da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS) os abordou assim (SALVADOR, 1982). Hoje, verifica-se uma nova preocupação em levá-los em conta na leitura da urbe. Um grande passo nessa direção foi o recente mapeamento dos terreiros empreendido pela PMS através de suas Secretarias da Habitação e da Reparação, em parceria com o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia. No entanto, ainda não há estudos suficientes sobre a forma de manejo do espaço que esses assentamentos representam e uma política que assim os contemple ainda está em esboço.3

Uma coisa é certa: demorou-se ainda mais a reconhecer os centros de culto das religiões de matriz africana como agências de saúde.

Os terreiros e os grupos de culto que eles concentram têm sido objeto de pesquisas antropológicas ao longo de muitos anos, porém essas pesquisas ainda estão longe de dar conta dos múltiplos aspectos da sua complexa atuação e do modo como esses grupos se relacionam com diferentes segmentos da sociedade da qual fazem parte. Poucos estudos se orientaram por esta preocupação.4 Em especial, o relacionamento do candomblé com o poder público tem

1 A pesquisa Candomblé, Saúde e Solidariedade em Salvador, financiada pelo CNPQ e realizada entre os anos de 2006 e 2008; dela participaram os signatários deste artigo, o primeiro dos quais é seu coordenador.2 A Prefeitura Municipal do Salvador só desistiu dessa esdrúxula medida depois de receber uma enxurrada de protestos de todo o Brasil e do exterior, rendendo-se, a muito custo, à plena demonstração do absurdo da cobrança que fazia, em face de laudos técnicos apoiados em sólida documentação.3 De qualquer modo, houve um avanço: a Secretaria da Reparação da PMS já promete empenhar-se na regularização da situação fundiária dos terreiros. Mas trata-se de definições muito recentes, que ainda estão por traduzir-se em práticas administrativas concretas.4 Constituem exceções o livro de Muniz Sodré, 1988, que contempla a relação entre terreiro e cidade e uma obra recente de Jocélio Teles dos Santos (2005).

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sido pouco estudado. Quanto a isso, quase toda a bibliografia se concentra na abordagem da repressão direta sofrida pelo povo-de-santo durante muitas décadas, principalmente na primeira metade do século passado. Ainda assim, não se pode dizer que o assunto está suficientemente esclarecido...

Uma das razões dessa repressão foi, como se sabe, o papel desempenhado por sacerdotes dos cultos afro-brasileiros enquanto agentes de saúde. A religião dominante, preocupada com uma concorrência que não queria aceitar no mercado dos bens de salvação, por certo muito contribuiu, com seu prestígio político, para alimentar a campanha proscritiva contra as religiões de matriz africana; mas também a medicina “oficial” fomentou e estimulou a penalização desses ritos, cujos protagonistas eram sistematicamente acusados de charlatanismo.

Hoje já se começa a ter uma idéia mais clara da importância dos “curandeiros” negros e suas terapias religiosas na prestação de serviços de saúde no Brasil, desde os tempos coloniais5; mas por muito tempo eles ficaram invisíveis, ou foram contemplados apenas negativamente pelos estudiosos. Como regra, eram malvistos pelo poder público.

Vale a pena chamar a atenção para um momento singular da história das relações entre o candomblé, a medicina oficial e o aparelho de estado em Salvador. Refiro-me ao projeto de controle psiquiátrico dos terreiros concebido por Nina Rodrigues. Em 1945, em prefácio a uma obra de Lins e Silva, Gilberto Freyre o evocou, louvando o “espírito humanitário” do luminar que imaginou essa alternativa às intervenções policiais, à repressão direta aos candomblés. Nina não conseguiu implantá-lo, mas, como atesta Gilberto Freyre, este projeto de monitoramento das religiões negras por psiquiatras e etnólogos mais tarde veio a ser realizado “com êxito” em Recife, por Ulysses Pernambucano. Em Salvador, diz Freyre ainda, executaram-no “técnicos capazes”, arregimentados pelo major Juracy Magalhães, que então governava a Bahia como interventor. Segundo o autor de Casa Grande e Senzala, essa iniciativa de Ulysses Pernambucano e dos peritos baianos veio a ser “uma das intervenções mais felizes da ciência e da técnica antropológica, orientada por uma psiquiatria social, na vida de uma comunidade brasileira”. 6

Na verdade, dita experiência não vingou em Salvador. Mas é notável que ela tenha sido concebida e ensaiada na capital baiana.

O precursor dos estudos antropológicos sobre o candomblé foi um campeão da Medicina Legal inspirada nas teses racialistas da Escola Italiana de Penologia, nas idéias de Lombroso. O primeiro ensaio de interpretação acadêmica do candomblé, que a Nina Rodrigues se deve, erigiu-se no contexto de uma construção singular: o complexo prático-teórico da “hygiene mental”, onde se associavam técnica legística, criminologia e psiquiatria, fundando um projeto de intervenção disciplinadora: visava o tratamento do desvio social, por suposto relacionado com as características inatas da população negra e negro-mestiça desta terra, considerada portadora das taras de uma raça inferior. Nessa perspectiva, o candomblé era um problema de saúde pública, relacionado, também, com o domínio do crime. Ilustra a tese a mostra de um museu que teve o nome de Nina Rodrigues e depois tomou o de um seu discípulo, Estácio de Lima.7

5 Ver, por exemplo, Silveira, 2006 p.24-68; Miller, 2007; Jeha, 2007.6Veja-se Freyre, G. “Nina Rodrigues recordado por um discípulo”. Prefácio ao livro de Augusto Lins e Silva: Atualidade de Nina Rodrigues. Rio de Janeiro: Leitura, 1945. O citado prefácio foi republicado em 1990, em Salvador, pela Fundação das Artes, numa coletânea de artigos do “Mestre de Apipucos” intitulada Bahia e Baianos. Cf. Serra, 2006. 7 A princípio sediado na Faculdade de Medicina da UFBA, donde se transferiu para dependências da Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia, instalando-se em prédio anexo ao Instituto Médico Legal, este museu tem um acervo singular: uma parte do material exposto se compõe de armas e instrumentos diversos empregados em homicídios, roubos e furtos, além de baralhos viciados, dinheiro falso etc.; outra parte encerra exemplares teratológicos da colheita dos legistas baianos, ou seja, aberrações anatômicas, como fetos hidrocéfalos, por

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Por longo tempo, os terreiros baianos continuaram a ser olhados com suspeita pelo poder público. Até a década de 1970, em Salvador e em todo o Estado da Bahia, os fiéis do candomblé tinham de pedir licença à Delegacia de Jogos e Costumes para realizar suas cerimônias religiosas. Mas essa atitude já vinha mudando aos poucos, pelo menos desde a terceira década do século passado. Alguns ilê axé conquistaram prestígio elevado, graças ao carisma de suas lideranças; artistas e intelectuais respeitados, como Jorge Amado, Dorival Caymmi, Carybé, Mário Cravo e outros, em obras significativas, celebraram a beleza dos seus ritos, que ajudaram a caracterizar como uma manifestação cultural notável. (Neste sentido também influíram os estudos de renomados antropólogos sobre a religião dos orixás).

Em fins da primeira metade do século XX, o candomblé já não era somente assunto de polícia... Começava a tornar-se objeto de interesse de empresas de turismo ligadas ao governo do Estado da Bahia e à Prefeitura Municipal de Salvador. Com a criação do seu Centro de Estudos Afro-Orientais, ainda na década de 1950, a Universidade Federal da Bahia veio a oferecer um novo espaço (acadêmico) em que o povo-de-santo se viu tratado com respeito, acolhido e prestigiado.

A ligação candomblé — cultura — turismo fortaleceu-se muito nos vinte anos seguintes, em que os orixás passaram a ser associados à “baianidade” na propaganda da Boa Terra. Já na década de 1980 e na última do século passado, o tombamento de grandes terreiros consagrou um novíssimo empenho do poder público na preservação de “monumentos negros” da cidade (SERRA, 2006a).

Abandonadas as teses racialistas dos começos, a pesquisa sócio-antropológica cedo se expandiu, enriquecendo-se de novos enfoques. Não se tardou muito a abordar o papel das religiões de matriz africana e de seus sacerdotes na prestação de serviços de saúde. Mas até a metade do século passado, em importantes círculos médicos prevalecia uma doutrina que estigmatizava esses cultos como nocivos, fatores de doença.8 Roger Bastide (1967) teve um grande mérito na superação dessa perspectiva, ao demonstrar que os estados de transe e possessão recorrentes em ritos afro-brasileiros explicam-se através da abordagem antropológica de mecanismos simbólicos e de seus fundamentos culturais, antes que com apelo à psicopatologia.

Nas décadas de 1970 e 1980, já se passou a considerar sob nova luz a prática dos “curandeiros” e suas difíceis relações com a medicina oficial (LOYOLA 1984); importantes estudos focalizaram as terapêuticas religiosas (MONTERO 1985), com destaque para as afro-brasileiras; o cuidado da saúde no candomblé, em particular, mereceu nova atenção (RATIS E SILVA 1987. SERRA 1978).

Ocupam um lugar especial na bibliografia pertinente aos recursos médicos das comunidades de terreiro os estudos que abordam o emprego terapêutico (além de litúrgico) de fármacos vegetais que compõem o repertório da “ciência das folhas” do povo-de-santo. Pesquisas pioneiras de Verger (1967) e Barros (1983) abriram caminho para outros trabalhos significativos a esse respeito; os autores citados aprofundaram suas investigações em obras maiores (VERGER 1995. BARROS 1993) e, com diferentes abordagens, novos estudos se

exemplo, mais as cabeças de cangaceiros decapitados (hoje substituídas por suas máscaras fúnebres). Já a terceira parcela desse espantoso acervo era formada por objetos de culto do candomblé, arbitrariamente apreendidos pela polícia durante o período mais violento da repressão. Por determinação do Ministério Público, acionado por associações civis representativas dos terreiros baianos, as peças de arte sacra negra foram transferidas para outro espaço: o Núcleo II do Museu Estácio de Lima, “hospedado” em dependências do Museu da Cidade, no Pelourinho. Até a década de 1980, na sede do Estácio de Lima, objetos sagrados do candomblé eram colocados lado a lado, numa imutável exposição, com exemplares mumificados do que a medicina chama de monstros e com evidências de crime. A respeito ver Serra, 2006.8 Nesses círculos, atribuía-se ao candomblé e à umbanda, assim como a outras religiões “mediúnicas”, responsabilidade pela gênese de vários distúrbios psiquiátricos; a propósito, ver Moreira-Almeida et alii , 2005. Cf. também Dalgalarrondo, 2007.

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sucederam sobre essa etnofarmacobotânica, tendo como campo de referência principal o candomblé baiano (ALMEIDA; PRATA 1990. LÜHNING, 1999. SERRA, et al., 2000. SERRA et Al. 2002.).9

Realizadas na perspectiva da antropologia da saúde, outras pesquisas, que floresceram no final do século passado e no início deste, focalizaram diferentes dimensões das práticas terapêuticas do povo-de-santo, assim como suas percepções de saúde, doença e sofrimento, suas representações do corpo e da alimentação; ou se debruçaram sobre o “idioma da possessão” e suas implicações na vivência, propiciada nos abaçás, de processos de recuperação, ressocialização, reconstrução de identidades deterioradas, controle e superação de aflições; ou ainda examinaram significados e valores que informam o cuidado e a cura nesse contexto etc.10 A massa crítica produzida por tais estudos já é significativa.

De modo decisivo, os pesquisadores logo tomaram plena consciência de que os terreiros são importantes agências de saúde, núcleos de uma ação social que repercute sobre segmentos consideráveis da sociedade.11 Mas esta compreensão não se impôs de imediato no plano prático das políticas públicas, nas esferas de governo — onde apenas começa a fazer-se valer.

Iniciativas da sociedade civil — de ong’s e de associações ligadas de algum modo ao candomblé — abriram caminho para um novo encontro entre os interesses dos terreiros e dos órgãos de governo encarregados do cuidado da saúde pública, em Salvador. A possibilidade de desenvolvimento sistemático de uma ação efetiva desses órgãos nos terreiros e com os terreiros abriu-se pouco depois, no horizonte de um processo novo, protagonizado pelo movimento negro: o processo que culminou com a proposição de uma política de saúde específica para a população negra.

Passos decisivos foram dados em 1996, com uma famosa Mesa Redonda sobre a Saúde da População Negra de que participaram cientistas, militantes de movimentos sociais e técnicos do Ministério da Saúde. Em 1997, este Ministério chegou a elaborar, com base nos resultados da dita Mesa Redonda, a proposta de uma Política de Saúde para a População Negra (OLIVEIRA, 2002:243).

O avanço maior deu-se já no começo do novo século, refletindo o impacto da Terceira Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, na África do Sul, entre 31 de agosto e 8 de setembro do ano de 2001, com expressiva participação de militantes brasileiros (MAGGIE; FRY, 2004. MAIO; SANTOS, 2005). Nesse mesmo ano, teve lugar no Rio de Janeiro uma reunião de que participaram membros de organismos internacionais (OPAS, UNICEF, UNESCO, PNUD), militantes do movimento negro e membros de instituições universitárias (UFBA, UFMT, UFF), além de representantes da Secretaria de Saúde do governo do estado fluminense; os trabalhos culminaram com a elaboração de um documento (OPAS, 2001) intitulado Política Nacional de Saúde da População Negra: uma questão de equidade. Deste documento já consta a demanda de reconhecimento oficial da medicina popular “de matriz africana”.

No ano de 2003, foi criada pela Presidência da República a Secretaria Especial de

9 Na década de 1990, a Prefeitura Municipal do Salvador abrigou o projeto “Folhas Sagradas” voltado para a preservação de áreas verdes ligadas aos terreiros. Mais tarde, chegou a ser proposto um convênio entre a PMS e a UFBA para a criação de um Jardim Etnobotânico de Salvador; porém essa proposta não vingou. 10 Ver, por exemplo: Teixeira, 1994. Caprara, 1996. Caroso et alii, 1997. Caroso; Rodrigues; Almeida Filho, 1998. Iriart, 1998. Nunes, 1999.11 Campanhas de saúde pública de iniciativa da sociedade civil que incluíram os abaçás no seu horizonte ajudaram nesta conscientização; é o caso do trabalho desenvolvido desde os anos de 1990 pelo Centro Baiano Anti-Aids, que constatou a grande vulnerabilidade do povo-de-santo a este síndrome e obteve a adesão dos sacerdotes para a adoção de medidas profiláticas (como o emprego de navalhas descartáveis em procedimentos iniciáticos que envolvem epilação e realização de incisões nos neófitos), além de colaboração no aconselhamento da clientela dos terreiros.

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Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR); no ano seguinte, por ocasião do Primeiro Seminário Nacional de Saúde da População Negra, foi instituído um comitê técnico para a implementação de suas propostas, integrado por membros da SEPPIR e do Ministério da Saúde. Já em 2006, no contexto do Segundo Seminário sobre o tema, oficializou-se a Política Nacional de Saúde da População Negra; no mesmo ano, o Conselho Nacional de Saúde lançou o Programa de Combate ao Racismo Institucional na Saúde (MONTEIRO; MAIO, 2008).

Nessa altura, já existia uma ampla mobilização do povo-de-santo, um movimento expressivo de comunidades religiosas afro-brasileiras empenhadas em garantir direitos à saúde. Assim é que no ano de 2003 realizou-se em Salvador, na chamada Praça de Oxum do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho (de nome litúrgico Ilê Axé Iyá Nassô Oká), a I Feira de Saúde do Terreiro da Casa Branca, promovida pela Associação São Jorge do Engenho Velho (que representa, no plano civil, o Egbé Iyá Nassô, ou seja, a comunidade do referido templo) e pelo Grupo Hermes de Cultura e Promoção Social, com apoio da Secretaria de Saúde da PMS, do Centro Ecumênico de Serviços - CESE e de Koinonia, Presença Ecumênica e Serviços.12 O evento teve lugar no contexto do I Seminário de Saúde da População Negra, organizado, em 2003, pela Universidade Federal da Bahia, em articulação com outras instituições e com significativa participação do povo-de-santo. O sucesso da iniciativa — que viabilizou o encontro entre lideranças das religiões de matriz africana, pesquisadores e técnicos em saúde da Bahia e de outros estados — levou à realização do I Seminário Nacional de Saúde da População Negra, o qual teve lugar no ano seguinte, em Brasília, com a participação de gestores de diversos municípios de todo o país. A II Feira de Saúde da Casa Branca, realizada em novembro de 2004, na mesma Praça de Oxum, de novo mobilizou não só o Egbé Iyá Nassô e a população das vizinhanças como também o povo-de-santo de várias outros templos de culto aos orixás, além de muitas entidades representativas da população negra soteropolitana, de ong’s e de agremiações diversas, com apoio da PMS e patrocínio da ong CESE.13

As discussões aí realizadas já desenhavam uma proposta política. Consolidava-se também um paradigma que logo seria adotado oficialmente: no ano de 2005, a Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal do Salvador assumiria o encargo da realização de feiras de saúde nos terreiros soteropolitanos, tornando essa iniciativa uma sua atividade sistemática.

Em março de 2003, durante o II Seminário Nacional Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, realizado em São Luís do Maranhão, foi criada a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, que associa adeptos de diferentes cultos de matriz africana (candomblé, umbanda, encantaria, batuque, xangô, xambá etc.), interagindo com gestores e profissionais da área de saúde, integrantes de ong’s e de órgãos de governo, pesquisadores e lideranças do movimento negro.14 Atualmente, a Rede conta com vinte e três núcleos espalhados pelo Brasil e tem representações em doze estados, a Bahia inclusive (SILVA, 2007).

Ainda no começo deste século verificaram-se, no particular, mudanças significativas na Bahia, com o acolhimento, no plano governamental, de reivindicações importantes do movimento negro: já em 2003, deu-se a criação da Secretaria Municipal da Reparação - 12 O Ilê Axé Iyá Nassô Oká foi o primeiro terreiro baiano a integrar-se ao movimento ecumênico, através de Koinonia, já em finais da década de 1980, quando a Associação São Jorge do Engenho Velho teve parte ativa na criação do Projeto Egbé. 13 Feiras de Saúde têm sido realizadas desde então em diversos terreiros de Salvador. Estamos preparando um artigo sobre elas. Como não podemos alongar-nos sobre o assunto nos limites deste, vamos aqui fazer referência apenas às Feiras de Saúde do Terreiro da Casa Branca, onde esta iniciativa nasceu. 14 São seus objetivos, entre outros, lograr o reconhecimento dos saberes tradicionais dos sacerdotes dos terreiros e exigir das autoridades um atendimento de qualidade para o povo-de-santo e toda a população negra, conscientizando gestores e técnicos em saúde pública dos impactos das desigualdades raciais e da intolerância religiosa nesse campo.

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SEMUR da Prefeitura Municipal do Salvador; em fevereiro de 2005 foi constituído o Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra (GTSPN / PMS), em que colaboram a SEMUR e a SMS (Secretaria Municipal da Saúde; cf. SALVADOR, 2006); esta última passou, então, a contar com uma Assessoria de Promoção da Equidade Racial em Saúde – ASPERS. Ainda em 2005, a SMS promoveu um encontro de que participaram, além de membros de sua Coordenação de Saúde Ambiental e do GTSPN, lideranças de doze terreiros soteropolitanos, dirigentes de destacadas organizações do povo-de-santo e representantes da Pastoral Afro da Igreja Católica. Iniciou-se oficialmente o diálogo...

Prosseguindo nessa busca de entendimento, nos dias 14 e 15 de setembro de 2007 as Secretarias de Saúde de Salvador e do município vizinho de Lauro de Freitas promoveram o seu I Seminário de Religiões Africanas e Saúde, com a participação de destacados representantes de comunidades do candomblé e equipes técnicas não só de órgãos dos referidos municípios como também do governo do Estado da Bahia, principalmente de sua Secretaria da Promoção da Igualdade. Proclamou-se a necessidade de diálogo franco entre as lideranças do candomblé e os agentes de saúde dos órgãos governamentais; tratou-se de refletir sobre o impacto do racismo e da intolerância religiosa na saúde da população negra. Um plano de ação foi traçado.

As propostas resultantes do referido Seminário cobriram um amplo (talvez muito amplo) leque: desde “sistematizar a visita de turistas aos terreiros”, garantindo a estes estabelecimentos “funcionamento/subsídios, sem discriminação” até “utilizar a estratégia da compostagem da matéria orgânica oriunda das oferendas das religiões de matriz africana”... Mas o foco principal incidiu em um duplo objetivo: a capacitação dos profissionais de saúde “para trabalhar em parceria com os terreiros” e a concomitante “formação de agentes multiplicadores nos candomblés” a fim de “desenvolver ações de educação em saúde”.

Até agora, pouco se conseguiu avançar para a efetivação desses bons propósitos.

Na Carta que resumiu as conclusões do encontro, deu-se grande ênfase à necessidade de sensibilização e formação tanto de lideranças do povo-de-santo como de profissionais de saúde atuantes nos órgãos governamentais, com vistas a garantir-lhes, a uns e outros, a possibilidade de uma eficaz colaboração. Reclamou-se o apoio dos sistemas de saúde estadual e municipal à ensejada tarefa de organização de uma rede integrada distrital de terreiros de candomblé a ser acionada com vistas ao desenvolvimento de ações em saúde nos municípios de Lauro de Freitas e Salvador. Insistiu-se, ainda, na importância de “estimular a participação de representantes das religiões de matriz africana nos espaços de controle social [dos serviços de saúde]” (SALVADOR, 2008).

Como não podia deixar de ser, a problemática do racismo e da intolerância religiosa constituiu um foco destacado de discussão: mobilizou todo um grupo de trabalho que fez uma série de propostas objetivas, reclamando, por exemplo, a capacitação da ouvidoria da saúde (do estado e do município) para atender adequadamente às queixas e denúncias relativas a problemas dessa ordem e a “educação dos profissionais de saúde” com o mesmo fim. Chegou-se a sugerir uma “articulação com universidades e [outros] centros de formação com vistas a inserir [nos currículos dos cursos que formam os peritos nessa área] disciplinas como antropologia cultural e outras que abordem a temática racial e a da diversidade religiosa”.

A ASPERS / SMS assumiu como tarefa sua a realização dessas propostas no município de Salvador. Entre os obstáculos que enfrenta, merecem destaque a falta de recursos e as deficiências crônicas de um serviço municipal precário, mal equipado, carente de meios. 15

Quando postos de saúde ficam sem água ou têm cortado o telefone por falta de pagamento, quando as equipes técnicas carecem de apoio logístico e de material indispensável para seu

15 É de conhecimento público a triste situação da Secretaria de Saúde do município de Salvador, fragilizada e sucateada, abalada por escândalos e episódios rocambolescos recentes que ainda não tiveram explicação.

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trabalho, quando os funcionários são mal remunerados, permanecem pouco equipados e se sentem desestimulados, não é fácil implantar programas novos. Manter a rotina já representa um desafio. As coisas ficam ainda mais difíceis quando se verifica, no corpo técnico, uma certa acomodação às limitações rotineiras.

O desiderato da nova política que se tenta pôr em prática é duplo, como facilmente se infere do que já foi exposto: por um lado, busca-se contemplar efetivamente o povo-de-santo nas ações de saúde pública, prestando-lhe o devido atendimento, sem discriminação; por outro lado — e concomitamente — persegue-se o objetivo de uma aliança entre órgãos de governo e as comunidades de candomblé, com vistas à melhoria do cuidado da saúde da população negra (e do povo em geral).

Quanto a este segundo ponto, o ideal é que os terreiros, com seu prestígio e capilaridade, possam vir a constituir-se em centros de atenção onde, sem prejuízo do exercício de suas práticas tradicionais (religiosas e terapêuticas), também se apóie o serviço público de saúde: onde, por exemplo, como já ocorre em templos de outras religiões, se exerça vigilância sobre a mortalidade materna e infantil, reúnam-se para mútua ajuda e recebimento de orientação mulheres grávidas e lactentes, idosos, grupos solidários empenhados em compartir o cuidado do diabetes, da hipertensão, da anemia falciforme e de outros síndromes de significativa incidência nessa faixa da população (carente, negra na maioria); onde membros da comunidade do terreiro e de seu entorno tenham acesso a orientações sobre DST’s e AIDS e se proceda à distribuição de preservativos; onde, mediante o treinamento de agentes comunitários recrutados nesse meio e capacitados por quem de direito — com uma preparação especial para tratar da problemática específica da saúde da população negra —, possam efetuar-se, quando necessário, os devidos encaminhamentos para serviços médicos do SUS (Sistema Único de Saúde). 16 Chegar a isso demanda, é claro, tempo e recursos. Estes são escassos, às vezes somente “virtuais”. Pois as verbas destinadas nem sempre chegam a tornar-se disponíveis.

Mas não é só a falta de meios (financeiros e de infra-estrutura) que se põe como obstáculo para a consecução de objetivos que os órgãos de governo em tese consagraram. Há outros óbices muito graves a ser vencidos. Um deles tornou-se a causa principal da preocupação manifesta em todos os diálogos entre o povo-de-santo e as autoridades responsáveis pela saúde pública em Salvador.

No encontro há pouco evocado, este problema foi claramente colocado: os agentes comunitários de saúde e de zoonooses se negam a realizar ações de saúde nos terreiros. Em suma, quando se trata de atender aos candomblés, eles esquivam-se ao desempenho de ações rotineiras que são de sua incumbência normal. O problema foi apontado de forma recorrente pelos entrevistados no curso da pesquisa CASOS em que se baseia este trabalho; foi e continua sendo assunto principal de discussões nos encontros e oficinas realizadas pela ASPERS nos distritos sanitários de Salvador, como acusa, por exemplo, o Relatório da Primeira Oficina de Religião de Matriz Africana e Saúde, que reuniu os distritos de Brotas, Boca do Rio, Cabula, Barra e Rio Vermelho; foi consenso então que “os primeiros intolerantes são os agentes comunitários”. Reiterou-se isso com muita ênfase na II Oficina, também realizada em maio de 2008, reunindo os distritos de Centro Histórico, Itapuã e Pau da Lima.

Isto significa que o povo-de-santo é diretamente marginalizado na provisão da saúde pública, em Salvador. E esta discriminação dificilmente resulta coibida.

Os membros do citado Seminário de Salvador / Lauro de Freitas tiveram razão de sobra para cobrar um trabalho de educação continuada voltado para a superação do preconceito entre esses funcionários públicos; exerceram seu direito ao exigir a realização de inquérito

16 A propósito ver, por exemplo, Oliveira, 2003:63.

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administrativo em casos de tal ordem; com justiça reclamaram a criação de sanções efetivas que combatam semelhante atitude e pediram melhor divulgação do papel da Ouvidoria nos órgãos onde isso se verifica. Mas trata-se de um ideal ainda distante da realização, como nossa pesquisa evidenciou. É imperioso concluir que o Programa de Combate ao Racismo Institucional ainda não funciona como deveria.

Ora, se mesmo o trabalho rotineiro dos agentes de saúde do aparelho de estado acontece de ser sonegado ao povo-de-santo, por aí já se vê a dificuldade de passar à colaboração — todavia indispensável — entre os órgãos em que eles atuam e os candomblés de Salvador.

A discriminação tem por base primeira um preconceito sedimentado: a convicção a priori de que o povo-de-santo é ignorante, supersticioso, portador de idéias “atrasadas”, dado a práticas irracionais, incompatíveis com o ideal de saúde. Combinam-se para alimentar essa convicção o racismo difuso que, mais ou menos veladamente, perpassa a sociedade brasileira (nutrido por deficiências da educação básica e pelos reflexos ideológicos de uma desigualdade crônica) e, por outro lado, a formação profissional precária de muitos agentes de saúde. Essa má formação inculca em muitos o sentimento de que práticas inspiradas no ideário de uma camada “inferior” vêm a ser, por força, inconciliáveis com a verdade médica, incompatíveis com uma verdadeira cultura da saúde. Mas não é tudo. Além disso, há o preconceito cultivado, estimulado, construído de forma doutrinária, alimentado por intolerância religiosa ensinada, pregada sistematicamente.

A “guerra santa” movida por igrejas neo-pentecostais de missão contra as religiões de matriz africana tem tido uma propagação extraordinária em todo o Brasil e é cada vez mais acirrada na Bahia.17 Os agentes de saúde do aparelho de estado que aderiram às novas igrejas fundamentalistas sentem verdadeira repulsa pelos candomblés, que consideram “casas do diabo”. Ódio e temor juntam-se em sua atitude para com o povo-de-santo e os levam a excluí-lo de seu cuidado, do horizonte de sua prática profissional.

É considerável o impacto da nova investida contra os ritos afro-brasileiros, promovida com virulência e com recursos muito poderosos por empresas eclesiais que têm o controle de meios de comunicação de massa e sabem muito bem empregá-los. Seus pastores promovem a incriminação do candomblé, da capoeira, das tradições negras — e logram sucesso inegável em induzir a auto-rejeição de homens e mulheres pobres, humilhados por preconceitos incidentes sobre sua condição de cor, de classe, de origem; fazem-no com uma pregação enfática baseada no convite a abandonar, em troca de sucesso, uma identidade sentida como deteriorada. Desse modo, levam muitos a dessolidarizar-se dos mais próximos — e principalmente dos mais envolvidos com os códigos da negritude assim rejeitada.

O povo-de-santo é duplamente atingido nesse processo. A intolerância religiosa afeta os fiéis do candomblé ao infligir-lhes vexames (agressões e calúnias) que geralmente ficam impunes; por outro lado, produz um cerceamento de seus direitos, quando leva profissionais a marginalizá-los e mesmo a excluí-los da prestação de serviços públicos a que fazem jus.

17 O Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho foi apedrejado por um fanático de uma igreja pentecostal durante a celebração de uma festa. Outros terreiros de Salvador foram invadidos por “exorcistas” da mesma extração. A Ialorixá Mãe Gilda, do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, fotografada ao participar de manifestações em favor do impeachment do Presidente Fernando Collor teve sua imagem estampada na revista Veja, em 1999 e teve a mesma foto reproduzida no Jornal Universal, da IURD, com uma tarja preta sobre o rosto e a legenda “Macumbeiros e charlatães lesam o bolso e a vida de clientes”. Abalada pela repercussão desta publicação e por agressões de fanáticos, a Ialorixá — que era cardiopata — veio a falecer em 21 de janeiro de 2001. Sua filha e sucessora, a Ialorixá Jaciara Ribeiro dos Santos, deu curso a uma ação por danos morais e uso indevido da imagem de sua mãe. Em 2004, a Justiça deu-lhe ganho de causa na primeira e na segunda instância. Recentemente, a condenação da IURD neste caso foi confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça. O dia 21 de janeiro tornou-se Dia de Combate à Intolerância Religiosa para os adeptos do candomblé e para o movimento negro, que então fazem passeatas e atos de protesto.

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Os interessados em estabelecer uma nova aproximação entre os órgãos incumbidos do cuidado da saúde pública e o pessoal dos terreiros têm sempre de começar o diálogo abordando este difícil tema, que desperta os mais vivos debates e é um prelúdio inevitável a qualquer proposição de trabalho conjunto. Hoje em dia, quando se vai tratar de saúde como o povo-de-santo, essa questão logo aflora — e quase todos os assuntos acabam por tangenciá-la, de uma forma ou de outra.

Uma constatação se impõe: a intolerância religiosa que se espalha na Bahia é causa de privação e sofrimento para um segmento importante da população do Estado, em particular de sua capital: o povo-de-santo, os sacerdotes e os adeptos do culto dos orixás. Produz, assim, efeitos negativos sérios: por um lado, embaraça o desempenho de um sistema tradicional de ação para a saúde que efetivamente socorre as aflições de muitos; por outro, impede uma ação mais efetiva do poder público nesse campo, na medida em que tolhe uma colaboração de cuja importância não é possível duvidar.

Soma-se este agravo a outros fatores que hoje conformam um quadro de grandes dificuldades para o povo do candomblé. Dá-se que a maioria absoluta dos terreiros baianos se localiza em áreas pobres da metrópole, em zonas desprovidas de infra-estrutura satisfatória, saturadas pelo crescimento desordenado, mal servidas de equipamentos e serviços públicos fundamentais; em muitos desses espaços, a degradação ambiental, hoje galopante na capital da Bahia, atinge níveis críticos. E a insegurança prevalece. A criminalidade, que tem tido crescimento exponencial na Região Metropolitana de Salvador nos últimos anos,18 revela-se quase infrene em muitos de seus bairros de maioria negra e pobre, sujeitos à violência já rotineira das gangs de narcotraficantes que os “zoneiam” e se dão feroz combate, colocando em risco toda a população, acossada também pelas investidas arbitrárias de uma polícia em grande medida despreparada, brutal, corrupta e contaminada pelo banditismo. São áreas em que o desemprego e o subemprego atingem picos e os indicadores epidemiológicos se mostram os mais negativos. Na Salvador informal, tremendamente empobrecida e desfigurada, a violência epidêmica dizima jovens de maneira constante — e a maioria dessas vítimas é de negros entre quatorze e vinte e cinco anos.

Numa reunião de que participamos recentemente com expressivas lideranças do povo-de-santo, entre os temas discutidos como os mais preocupantes para o candomblé, tiveram destaque: (1) a intolerância religiosa; (2) o crescimento da violência em Salvador; (3) a perda de espaço (e em particular de área verde) pelos terreiros. Esses tópicos já se tornaram recorrentes, quase obsessivos, nas entrevistas com gente do candomblé realizadas na pesquisa que desenvolvemos. Está claro que eles se interligam e se relacionam todos com a problemática da saúde da população negra.

Estudos realizados no final do século passado já mostravam com clareza as graves dificuldades enfrentadas pelos sacerdotes dos ilê axé19 com a progressiva desaparição de trechos de mato que seus terreiros incorporavam, ou que se achavam em sua vizinhança,

18 O documento “Enfrentamento da Violência em Salvador”, emanado da assembléia de 31 de julho de 2008 do Fórum Comunitário de Combate à Violência, mostra com clareza a dimensão crítica do problema: “A partir dos dados do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) - SSP, do Centro de Documentação e Estatística Policial (CEDEP) - SSP e da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), constata-se que a situação das violências agrava-se a partir década de 1990, mantendo-se  como primeira causa de morte na faixa etária dos 15 aos 39 anos e a segunda causa de morte da população em geral. Dentre as violências, o homicídio é a principal causa. Em Salvador, no ano 2000, os homicídios representavam 50% das mortes violentas e em 2007 a cidade atinge o patamar de 70% dessas mortes. Traduzidos em forma de índices (homicídios por 100.000 hab) esses óbitos passam de 30,0 por cem mil habitantes, no ano 2000, para 58,86 homicídios por cem mil habitantes, no primeiro semestre de 2008, o que significa um aumento de 28,86 desta taxa. Em termos de média diária de homicídios, passamos da média de 3 homicídios por dia em 2000 para 5,4 homicídios/dia em 2008. As vítimas preferenciais continuam sendo os homens pobres, negros, jovens, de baixa escolaridade e com empregos precários”. 19 Casa de axé ou terreiro.

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tornando muito árdua a coleta de vegetais necessários para a realização de vários ritos e para a preparação de fármacos tradicionais da sua terapêutica (SERRA, 1999); tal carência acarreta a ameaça de uma certa erosão do conhecimento etnobotânico dessas comunidades. Ainda se pode verificar que em muitos bairros soteropolitanos as manchas verdes são um indicativo da existência de terreiros; mas elas progressivamente diminuem e as Casas de Santo se vêem, com freqüência, mutiladas por uma ocupação desordenada dos espaços nessas áreas saturadas; são vítimas da ganância predominante no mercado imobiliário de Salvador, da iniquidade da distribuição das terras na capital baiana. No código do candomblé, essas perdas também representam perda de saúde, de bem estar.

O povo-de-santo tem uma clara percepção de que a violência crescente é uma doença terrível do coletivo; comparte os riscos e danos de sua infrene propagação. As redes de solidariedade que se entretecem nos terreiros são um fator de coesão muito poderoso. Como se sabe, o tecido social se esgarça quando organizações populares desse tipo são ameaçadas. Elas são um obstáculo ao domínio da violência. Uma prova dolorosa disso já foi dada no Rio de Janeiro, onde bandos de criminosos têm-se empenhado em expulsar candomblés dos territórios que dominam, na Baixada Fluminense.20 Na Bahia, corre-se perigo real com a “guerra santa” hoje movida ao culto dos orixás. A intolerância religiosa já se tornou um grave problema de saúde pública nesta terra.

A abertura do diálogo e a busca da colaboração (ainda incipiente) entre os candomblés baianos e os órgãos de saúde pública atuantes em Salvador deve-se à iniciativa de organizações da sociedade civil: a lideranças dos terreiros, a ong’s ligadas aos egbé21 e aos movimentos negros. Militantes que assumiram cargos na estrutura do governo municipal deram impulso a essa tentativa. Mas ela não avançou muito, travada pela falta de recursos e pelas limitações de poder que esses novos agentes de mudança sofrem no seu trabalho; a adesão dos principais gestores à proposta de uma política de saúde para a população negra é muito mais retórica do que efetiva. E o quadro de desorganização interna do serviço de saúde municipal é de fato muito grave em Salvador. Há também a barreira das resistências internas que se verificam nos quadros técnicos.

Até o momento, a iniciativa mais exitosa em termos de aproximação entre o candomblé e o serviço de saúde do município é a promoção das feiras de saúde nos terreiros, de acordo com um modelo que a PMS adotou, mas foi criado nos próprios egbé. Tratar detidamente deste assunto exigiria um outro artigo. Vamos limitar-nos a algumas considerações a respeito.

Essas feiras têm características próprias, que as singularizam. Têm muita coisa em comum, é claro, com as que são realizadas em diferentes espaços comunitários; mas têm algo mais, além da prestação de serviços e informações ao público (vacinação de pessoas e animais domésticos, pequenas conferências com esclarecimentos sobre problemas de saúde de diversas ordens, distribuição de preservativos, controle de hipertensão, pesagem de crianças, breves consultas, orientação didática odontológica etc.) Todavia, como logo percebemos em nossa pesquisa, nenhuma feira de saúde que se limitar a essas atividades terá êxito em um terreiro de candomblé baiano.

Evidência disso já existe. Há coisa de duas décadas, ensaiou-se fazer uma “feira – padrão” no Terreiro da Casa Branca — e o resultado foi sofrível. Tempos depois, com o protagonismo do próprio pessoal dos terreiros, a feira de saúde que se realizou nesse mesmo candomblé (e foi considerada oficialmente a primeira) teve um sucesso inegável, produzindo o modelo que se difundiu pelas Casas de Santo baianas.

No evento assim reestruturado, há sempre espaço para cantos e danças; há barracas onde se vende, além de artesanato relacionado com “coisas de santo”, comida e bebida (a cerveja,

20 Jornal Extra, 15 de março de 2008. Fala Egbé (Informativo do Projeto Egbé / Koinonia) agosto de 2008. 21 a comunidade do terreiro de candomblé.

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principalmente, é bastante consumida na ocasião). Não raro, sucedem nessas feiras exibições de grupos de teatro juvenil e de capoeira; cantores populares às vezes comparecem. Freqüentemente, tudo acaba em samba de roda.

As crianças da redondeza são mobilizadas através de gincanas e participam com grande entusiasmo.

Há também mesas redondas onde se discutem assuntos diversos, de interesse do pessoal dos terreiros. Mas seja qual for o temário escolhido, um assunto sempre retorna: a intolerância religiosa.

Na IV Feira de Saúde do Terreiro da Casa Branca, que teve lugar em setembro de 2008 na Praça de Oxum do Engenho Velho, o temário escolhido por lideranças da Casa anunciava: “A saúde da população negra de Salvador, a violência urbana e políticas públicas para os terreiros de Candomblé”. Mas a intolerância religiosa também foi abordada e discutida. E deu-se uma novidade: estando próximas as eleições para prefeito da cidade, os “prefeituráveis” foram convidados a participar (apenas dois compareceram). A iniciativa desse convite foi também de lideranças do terreiro.

A singularidade das feiras de saúde realizadas nos egbé tem a ver com o ideário do povo-de-santo. O nome “feira” sugere movimentação, diálogo e comércio; “saúde”, no entendimento desses grupos de culto, por força implica alegre expansão. Uma feira de saúde em que não se coma bem, em que falte bebida e animação, onde não haja risos, danças e brincadeiras, seria fraca, desanimada — o que, nessa perspectiva, representaria um contrasenso. Para ser feira, também precisa incluir algum movimento de compras e vendas, mesmo em pequena escala.

Em suma, dá-se que, para os devotos dos orixás, a vida saudável se manifesta como alegria, exige dança e canto. Só assim pode a saúde ser promovida.

Os orixás também devem ser homenageados nesses contextos: segundo o povo-de-santo, são eles que garantem o bem estar de todos. Geralmente, cada feira tem um patrono divino... Ainda que não aconteçam atos litúrgicos como os que os terreiros celebram no curso de sua atividade religiosa comum, sempre alguma cantiga-desanto deve ser entoada, alguma oração feita, pois se tem consciência de estar em território sagrado. Eesquecer os orixás não seria saudável.

Por outro lado, o novo interesse pelas mesas redondas e debates mostra uma crescente politização do povo-de-santo — ou melhor, de um segmento deste cada vez mais empenhado em discutir sua situação e os problemas da cidade.

Isso, sem dúvida, é um bom sinal para a saúde dos baianos.

Todavia, se esta iniciativa de promoção sistemática de feiras de saúde em terreiros de candomblé baianos tem tido êxito, se os seminários, encontros e debates sobre o assunto “saúde da população negra” têm prosperado e gerado novas propostas, o fato é que o quadro de saúde dessa população ainda não mudou; os terreiros continuam sofrendo discriminação e a nova política de colaboração entre os órgãos de saúde pública e o candomblé continua valendo quase somente no papel — e na voz entusiasmada de seus defensores.

Mas a esperança cresce. E não há dúvida de que já se deu um grande avanço, agora que os povo-de-santo se faz ouvir no cenário das discussões sobre saúde pública em Salvador.

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