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CÂNONE E A LITERATURA MARGINAL

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estudo de introdução ao cânone para sala de aula

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  • CNONE E A LITERATURA MARGINAL

  • (...) a pobreza decorrente da globalizao assume dimenso diferenciada, ao que denomina de pobreza estrutural, de disseminao planetria, produzida pelas empresas e instituies globais. (SANTOS, 2001)

    O estruturalismo, com seu af cientfico e universalizante, elaborou pouco sobre a questo do valor, optando por um projeto que tinha um carter mais descritivo que valorativo, embora seus principais tericos, como Roland Barthes e Julia Kristeva, jamais tivessem escondido suas preferncias literrias, mesmo nos momentos de maior formalizao do mtodo.

    Os textos de Roland Barthes em que a preocupao com o valor se torna explcita so aqueles escritos a partir do final dos anos 1960, depois da progressiva ruptura com a formalizao do estruturalismo, j numa fase de seu pensamento em que so visveis as inspiraes nietzscheana e lacaniana, discursos com fortes componentes axiolgicos.

    Hegemnico durante dcadas na crtica estadunidense, o New Criticism focalizou a valorao na diferena entre a literatura e a cultura de massas, mas no em distines efetuadas no interior da srie literria.

  • Anatomia da crtica sugere, simultaneamente, que 1) a crtica uma esfera separada da histria do gosto; 2) bvio que alguns poetas so melhores que outros; 3) qualquer tentativa de explicar essa obviedade est fadada a ser parte da histria do gosto, no da crtica. Preso num discurso que postula a separabilidade da crtica ante a histria do gosto, mas tropea na constante interferncia desta sobre aquela, Frye no pode seno sugerir que os fundamentos das escolhas valorativas permaneam sem discusso.

    Na histria do gosto, onde no h fatos, e onde todas as verdades j foram, de maneira hegeliana, quebradas em meias-verdades , sentimos talvez que o estudo da literatura relativo e subjetivo demais para ter sentido consistente. Mas como a histria do gosto no tem vnculo orgnico com a crtica, ela pode ser facilmente separada (Frye, 1957, p. 18).

  • a histria da literatura elabora uma narrativa que nasce no bojo da poltica, e no da arte. Ela responde a anseios de uma nao, que quer se reconhecer na trajetria constituda pelo aparecimento das obras poticas e de fico. Por isso, evolutiva, marchando na direo do aperfeioamento contnuo, o que configura sua faceta preferentemente eufrica.

    Cada nao formula uma imagem de si mesma, mas sua carnadura provm dos textos literrios. Eles se tornam cannicos, quando respondem positivamente a esse desiderato ideolgico, amarrando as pontas da construo social, para criar a impresso de unidade. Assim, se o cenrio imaginrio que no se realizou at hoje se concretizar nos prximos anos, podemos supor que aquela narrativa emergir, circulando com legitimidade no mbito do ensino da literatura e consolidando-se integralmente, ao contar com a anuncia tcita de seus usurios.

    Em O Cnone Ocidental, ele desloca esse desejo para os sculos XVI e XVII, poca em que William Shakespeare produziu seus dramas, no quer dizer que se altere o pressuposto terico: o bardo ingls a influncia de que todos pretenderiam fugir, procurando criar obras originais, logo, vanguardistas e revolucionrias, como aspiraram todos os modernistas desse sculo.

  • "Ningum nunca descobriu um mtodo para separar o erudito das circunstncias da vida, do fato do seu envolvimento (consciente ou Inconsciente) com uma classe. com um conjunto de crenas, uma posio social, ou de mera atividade de ser um membro da sociedade. Tudo isso continua a ter influncia no que ele faz profissionalmente, ainda que, naturalmente, a sua pesquisa e os frutos dela tentem alcanar um nvel de relativa liberdade com respeito s inibies e restries da crua realidade cotidiana."Edward Said (Orientalismo).

    A insero dos escritores no cnone de uma histria da literaturaest diretamente articulada com o ponto de vista e com oscritrios adotados pelo historiador que se encontra submetido aoparadigma maior. construdo pela episteme da modernidade ocidental,ao mesmo tempo que o crflico, como Indivduo, est imersoe Interage com o seu momento histrico. Reconhecendo a interaoentre o cotidiano e os paradigmas, e mesmo que este paradigmaapresente nuanca. o momento da critica que vou recortar pela eleiode procedimentos tericos intratextuais. exclui qualquer tratamentoextrfnseco da obra.

  • O momento histrico cultural em que estilo inseridas as histrias literrias dos anos sessenta/setenta. ltimos momentos da modernidade. segundo S1lviano Santiago. privilegia os aspectos estticos do texto sobre todos os outros. t momento de exarcebamento das teorias formais, que tomam como categoria de an4lise e de avaliao a literariedade. O valor, o julgamento positivo estabelece-se pelo refinamento dos materiais - a linguagem, a reflexo sobre a mesma, a metalinguagem, a pardia. O fazer literrio e sua representao tomam como vetor a maior ou menor aproximao com o trip europeu Joyce-Proust-Kafka. O paradigma do literrio, tomado como universal para a produo do Ocidente, deixa de lado o quadro de referncias que pudesse identificar a literatura com seu momento histrico-cultural.