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CAPACIDADES DETERMINANTES DA POBREZA: UM RETRATO DO
BRASILEIRO NA PESQUISA DE ORÇAMENTOS FAMILIARES
Pier Francesco De Maria*
RESUMO
A análise de pobreza por meio das capabilities é uma metodologia recente, e que busca a
compreensão do fenômeno a partir da definição de carências que podem afetar a autonomia
do indivíduo perante a sociedade. Neste ensaio, procura-se definir um conjunto de
indicadores, a partir da POF 2008-09, que reflitam as necessidades de alimentação mínima, o
tempo trabalhado para poder almejar um padrão mínimo de vida, a dependência dos fatores
internos à moradia, e a disponibilidade de recursos para garantir o tal “padrão mínimo”.
Ademais, define-se o ICH (Índice de Capacidades Humanas), que busca avaliar o nível de
carências de capacidades no país, com base na POF. Os resultados apontam nitidamente para
um distanciamento entre as regiões do eixo Norte e do eixo Centro-Sul, mais concentrada nos
indicadores de dependência interna e de disponibilidade de recursos. Para além da
discrepância entre regiões, percebe-se a correlação altamente negativa entre rendimento
médio e falta de capacidades, mostrando como a renda influencia positivamente o alcance de
objetivos e metas. Conclui-se apontando a necessidade de reverter este quadro de forte
desigualdade, por meio de políticas públicas capazes redistributivas de médio prazo.
Palavras-Chave: capacidades humanas, nível de consumo, análise de pobreza
ABSTRACT
The analysis of poverty using capabilities is a recent methodology, which seeks to understand
the phenomenon using the definition of deficiencies that may affect the autonomy of the
individual in society. In this essay, we seek to define a set of indicators, created using the POF
2008-09, that reflect: the minimal power requirements; the time worked in order to aim for a
minimum standard of living; the internal dependence on housing-factors; and the availability
of resources in order to ensure this “minimum standard”. Moreover, we define the HCI
(Human Capabilities Index), which aims to assess the level of skills shortages in the country,
based on POF. The results clearly point to a gap between the regions of the North and Middle-
South axis, more focused on internal indicators of dependence and resource availability. Apart
from the discrepancy between regions, we find a strong negative correlation between average
income and lack of skills, showing how income influences positively the achievement of
objectives and goals. We conclude pointing out the need to revert this strong inequality
through redistributive mid-term public policies.
Keywords: human capabilities, consumption level, poverty analysis
Classificação JEL: C02, I32
* Acadêmico do penúltimo semestre do curso de Ciências Econômicas (IE/UNICAMP), bolsista pelo CNPq.
Endereço eletrônico: [email protected].
mailto:[email protected]
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1. INTRODUÇÃO A pobreza pode ser analisada de formas variadas e com metodologias diferentes,
dependendo do interesse do pesquisador e das perguntas que ele se põe. Diferentes resultados
podem, e sem dúvidas irão, ser obtidos, dependendo da escola de pensamento adotada, do
acesso aos dados, das variáveis analisadas, dos métodos de cálculo da pobreza, e de outros
mais. A pesquisa na área de análise de pobreza compreende as mais variadas técnicas, além de
ter um profundo caráter interdisciplinar, integrando economia, ciências sociais, matemática
aplicada e história.
A pobreza pode ser vista em seu aspecto qualitativo, mediante análise da qualidade e
condições de vida, ou em seu caráter quantitativo e metodológico, por meio das mais variadas
ferramentas matemáticas e estatísticas existentes. Dentre as opções quantitativas, têm-se
métodos univariados, como a clássica linha de pobreza, cujo esboço se tem em Rowntree
(1901); métodos econométricos avançados, como dados em painel e modelos defasados; e
métodos multivariados, dentre os quais há abordagens alternativas, como lógica fuzzy.
Modelos econométricos são utilizados para identificar os vários determinantes da pobreza, a
fim de descobrir as principais características do fenômeno, com base em uma região ou em
um período específicos.
Com este trabalho, busca-se entender como a visão das capabilities de Sen (1985;
2001) pode ser aplicada no caso brasileiro, de modo a criar um indicador que meça o nível de
capacidades humanas, encontrando possíveis correlações entre tais níveis e indicadores
convencionais de pobreza. O ensaio gira em torno da seguinte questão central: “Quais as
carências existentes na população brasileira?”, com objetivo de abordar mais elementos que
possam sinalizar uma situação de privação, a qual extrapola as visões monetária e objetiva.
Ademais, buscam-se respostas para as seguintes questões. Primeiramente, “Quais relações
existem entre o nível de capacidade, consumo e pobreza?” e, em segundo lugar, “Como as
capabilities influenciam a pobreza?”. Objetivamos assim entender mais profundamente as
diferenças existentes entre as diferentes regiões do Brasil, buscando enfatizar as medidas de
capacidade, associando-as à renda, ao consumo e a outras variáveis clássicas de pobreza.
Este ensaio conta com esta introdução e outras quatro partes. Na primeira destas,
trabalharemos as principais correntes de análise de pobreza (atualmente divisível em objetiva,
subjetiva e relativa), de modo a dar um panorama geral a respeito do tema. A segunda seção
contará com a metodologia do trabalho, na qual se definirá o conceito de capability,
commodity, usando tal conceito para a elaboração da metodologia deste trabalho. Na terceira
parte, serão apresentados os resultados, dando ênfase às relações empíricas entre capacidades
e consumo, apresentando os resultados do Índice de Capacidades Humanas (ICH) e fazendo a
análise regional dos resultados. Derradeiramente, estarão postas as conclusões, a partir dos
resultados obtidos por região analisada e das relações estabelecidas.
2. AS PRINCIPAIS CORRENTES DE ANÁLISE DE POBREZA1 Antes do surgimento do sistema capitalista, as comunidades locais – principalmente
paroquiais – eram as responsáveis pelas políticas de contenção da pobreza (CODES, 2008).
Após se instituir o modo de produção capitalista, a necessidade de se definir, e combater, a
pobreza veio à tona, sendo uma problemática social antiga, que só se ampliou ao consolidar-
se o atual modo de produção (CASTEL, 1998). Cabe dizer que o problema da pobreza se
amplia, tornando-se uma necessidade analisá-lo e entendê-lo, à medida que surgem obstáculos
à alocação do total da população ativa no novo modo de produção, naquela que Smith (2009)
define como divisão social do trabalho.
1 Esta seção é uma revisão da literatura acerca da análise de pobreza, realizada fundamentalmente a partir do
trabalho de Codes (2008).
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Percebe-se que o estudo de políticas públicas de combate à pobreza é algo remoto,
mas que não começou com a pobreza vista da forma que a conhecemos, tão menos com o
Estado como agente de tais políticas. Codes (2008) ressalta que foram as comunidades locais
as primeiras a se preocuparem com os pobres, e não o Estado em si. E é no período da
Primeira Revolução Industrial que há uma inflexão neste tipo de acompanhamento. Embora,
até hoje, exista acompanhamento da comunidade local para focos de pobreza, é o Estado o
interventor oficial, o qual toma decisões sobre as políticas públicas a serem adotadas e,
especialmente, para quem tais políticas valerão. Nesta seção, vamos abordar duas grandes
correntes de pensamento da pobreza, a abordagem da pobreza relativa e subjetiva, e a teoria
das capabilities.
A análise da pobreza por meio da abordagem das basic needs, que predominou até os
anos 60, levou, com o tempo, a um embate entre pesquisadores, especialmente no que
concerne à qualidade da análise por meio deste critério. Townsend (1993) aponta que o
problema reside na capacidade da abordagem ponderar características intrínsecas aos grupos
de cada sociedade; especificamente, bairros, regiões, grupos étnicos, aglomerados religiosos e
faixas etárias apresentam necessidades diferentes, sendo condição sine qua non para a
formação de uma sociedade heterogênea e oriunda de transformações longoprazistas. Outro
problema nesta abordagem é a capacidade de captar as verdadeiras necessidades de cada
grupo social. Ainda que em um mesmo bairro, haverá necessidades diferentes em cada
família, seja por herança histórico-sócio-cultural, seja por restrições orçamentárias distintas.
Deste modo, surge a necessidade de relativizar a condição social de cada família,
sendo esta uma nova abordagem que surge no cenário da análise de pobreza. A análise
relativista se desenvolve assim na intersecção entre a visão das basic needs e a necessidade de
mostrar relações intrasocietárias; especificamente, a corrente relativista se fundamenta na
interrelação existente entre pobreza e a sociedade em que este conceito é aplicado, sendo
levados em conta fatores idiossincráticos – sociais, históricos e culturais –, com os quais o
retrato da pobreza é obtido de forma mais precisa.
Townsend (1993) aponta para uma diferença fundamental desta abordagem para as
anteriores: além de se levar em conta mais indicadores e medidores de pobreza, o fator tempo
exerce um papel fundamental, pois a condição de pobreza pode variar ao longo do tempo;
ademais, o fator geográfico também interfere na relativização da pobreza, pois existe, em
vários casos, correlação espacial. Salama e Destremau (2001, p. 53) resumem de forma
adequada o porquê de se abordar a pobreza pela corrente relativista: “qualificar a pobreza
absoluta parece lhe dar um aspecto objetivo que poderia ser falacioso, na medida em que as
necessidades não são as mesmas, ontem ou hoje, aqui ou acolá”. Para Rocha (1997), a
pobreza relativa é explicada pela condição insatisfatória de sustentação de um padrão de vida
digno dentro da sociedade na qual a pessoa vive. Percebe-se que a terceira abordagem da
pobreza é o primeiro momento no qual se dá a interligação do tempo, do espaço e da estrutura
social de um lugar. Além disso, é a partir desta abordagem que a pobreza assume traços que
vão além do que, no senso comum, poder-se-ia considerar pobreza, sendo incluídas questões
de cunho social e moral e análises sobre a cidadania2.
Uma vantagem da análise relativa da pobreza reside no poder de comparação que esta
traz a nível regional e nacional; como não se tem um desenvolvimento uniforme e homogêneo
ao longo do espaço territorial nacional ou internacional, a análise de pobreza precisa levar
estes fatores em conta. Dado que a abordagem relativa leva em conta os diferentes níveis de
desenvolvimento, esta resulta ser um instrumento poderoso para o estudo comparativo de
condições de pobreza em lugares totalmente distintos. Entretanto, como chama a atenção
Rocha (2003), é fundamental que se conheça a realidade de cada lugar que se analisa, a fim de
2 Para um entendimento mais aprofundado da relação entre cidadania e pobreza, sugere-se a leitura de Telles
(1999) e Carvalho (2002).
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entender suas peculiaridades e realizar os procedimentos de análise da forma mais adequada
possível.
Corroborando com a vantagem acima apresentada, Townsend (1993) vê a abordagem
relativista como uma estrutura pertinente e dinâmica, por levar em conta o fator tempo.
Retomando a questão do tempo, o problema das abordagens pré-relativistas está na falta de
dinamismo de suas estruturas: não há uma evolução temporal na estrutura definida, isto é, nas
abordagens anteriores não se leva em conta a mudança estrutural das condições de pobreza.
Este tipo de mudança é inevitável e deve ser levado em conta, e qualquer estrutura que não
leve este tipo de fenômeno em conta se torna altamente insignificante ao longo do tempo.
Tomando-se como exemplo a linha monetária de pobreza – oriunda da abordagem
subsistencialista –, vemos que esta pode ser fixada em um momento do tempo e, com o passar
dos anos, não mudar; ao não ter esta mudança, o processo de análise se torna precário e
esvaziado de fundamentos teóricos – em outras palavras, os motivos que definiram aquele
valor para a linha de pobreza podem não ser mais válidos, após certo período de tempo.
Deste modo, há uma segunda grande diferença entre as abordagens anteriores (como a
das basic needs) e a estrutura relativista, além do fator relativo em si: a questão temporal
assume um papel importantíssimo na determinação dos padrões corretos de pobreza em cada
lugar. Estruturas que não levam em conta esta evolução temporal, para Townsend (1993), são
problemáticas, por darem a impressão, aos analistas, que a situação é – pelo menos a médio
prazo – estável e altamente previsível, o que despreza possíveis revés no cenário econômico
regional, ou até mesmo deficiências nos dados disponíveis.
Embora pareça a melhor forma de se analisar o fenômeno “pobreza”, sendo também o
primeiro momento no qual o fator social da pobreza emerge de forma mais proeminente, o
grande problema desta abordagem recai sobre a possibilidade – seja em função de tempo, de
verbas disponíveis ou de dados – de se operacionalizar este tipo de metodologia. Ademais,
outro grande problema desta abordagem é o estabelecimento de uma linha relativa de pobreza,
que seja capaz de captar: as características de cada família que for analisada; as peculiaridades
da região analisada; as relações inter e intrarregionais; as correlações entre esta região e o
padrão de desenvolvimento nacional; e as políticas públicas de contenção e/ou saneamento da
pobreza na região. Em outras palavras, precisa-se de evidências que auxiliem na definição
deste nível de pobreza, sendo estas evidências empíricas (SAUNDERS e WHITEFORD,
1989) e capazes de se adaptarem a estruturas sociais diferentes. A partir dos elementos
apresentados, fica clara a dificuldade de aplicar este tipo de metodologia.
Uma subcorrente da abordagem relativa ampliou, ao longo da segunda metade do
século XX, a visão até aqui descrita, dando origem à abordagem subjetiva da pobreza. Nesta
concepção, a análise de pobreza tem de, necessariamente, passar por aquilo que os indivíduos
estudados sentem. Em outras palavras, também conta o que o indivíduo julga ser pobreza,
sendo uma componente fundamental a resposta à pergunta: “você se julga pobre neste
quesito?”. Salama e Destremau (2001) chamam a atenção que esta resposta subjetiva é
relevante no estudo da pobreza, mostrando que há um pano de fundo que vai muito além da
interpretação quantitativa ou qualitativa explícita, mostrando que a sensação intrínseca de
privação é componente-chave para a análise da pobreza.
Embora esta quarta – e mais recente – abordagem tenha um poder explicativo
altamente relevante, os estudos e pesquisas acerca da pobreza, especificamente nos países em
vias de desenvolvimento, não passam pelo crivo da subjetividade, devido a vários fatores
endógenos e exógenos. Destes fatores, os principais são: nível de investimentos em pesquisa;
capacidade de agregação dos dados; viés das respostas subjetivas; extensão temporal da
pesquisa; e possibilidade de estudos, em grande escala, acerca da pobreza subjetiva.
Ademais, há empasses entre os que rejeitam tal ampliação e os que a aprovam; a
exemplo do primeiro grupo, Lok-Dessallien (2000) acreditam que o viés nas respostas seja
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suficientemente significativo para que não se possa levar em conta esta opinião. Na outra
ponta, Townsend (1993) defende a interrelação entre as análises objetivas e subjetivas, sendo
uma o pilar da outra, e vice-versa. Narayan et al. (2000) acreditam que a pobreza subjetiva é
definida a partir de um juízo de valor, sendo este ouvir o que os pobres têm a dizer sobre sua
condição, pois a população, neste caso peculiar, tem voz em capítulo, podendo dizer se se
julga pobre ou não, a partir das suas condições de vida. Para os autores, não há ninguém,
melhor do que os pobres, para dizer o que lhes falta ou não.
Outrossim, cabe ainda ressaltar que as diferenças existentes entre o estudo relativo e o
subjetivo da pobreza. Se, no primeiro, o objetivo é a comparação espaço-temporal, no
segundo o balizador é a opinião das pessoas acerca de suas condições de vida. E não se pode
definir uma como sinônimo da outra, pois incorporam pensamentos amplamente distintos,
especificamente no que diz respeito ao conceito de pobreza. Embora uma seja fruto da outra,
as duas abordagens diferem no seu núcleo, por verem o indivíduo sob perspectivas
amplamente diferentes: se, para os relativistas, o indivíduo é classificado – por ser avaliado
com base na estrutura social existente –, para os subjetivistas ele é classificador – já que ele
mesmo é quem diz se e por que é pobre ou não.
Estas duas abordagens são, indiscutivelmente, pontos cruciais no desenvolvimento do
pensamento sobre pobreza e na sua trajetória. Especificamente na abordagem subjetiva,
percebe-se como a privação percebida é um fator crucial na determinação adequada do nível
de pobreza de uma família ou indivíduo. Neste caminho, evoluíram os pensamentos de
Amartya Sen, economista indiano que deu origem à quinta abordagem de pensamento da
pobreza: a abordagem das capabilities, ou privação de capacidades.
A abordagem das capabilities se diferencia substancialmente de todas as anteriores, à
medida que, nesta, a análise da pobreza incorpora as perspectivas de justiça e igualdade. Sen
(1988) define a pobreza como uma mistura de elementos socioeconômicos das outras
abordagens com elementos políticos e legais; estes elementos estruturam uma nova
componente de análise da condição de cada indivíduo, a qual leva em conta o nível de
liberdade que se tem, dando origem às “capacidades básicas” (SEN, 2001). Na visão do autor,
a possibilidade de acesso a itens básicos – como alimentação e bens primários – é fruto da
capacidade de tê-los, a partir de elementos econômicos e legais. Deste modo, muda a
concepção de pobreza, passando da falta de bens para todos para a falta de capacidade de tê-
los, sendo este o elemento fundamental para medir e avaliar a pobreza.
Na abordagem das capabilities, o bem-estar é o ponto central da discussão acerca de
pobreza; sem uma boa condição de vida, não se tem capacidade de estar de posse dos itens
necessários a uma boa vida. A capacidade está diretamente relacionada com a possibilidade
de se ter o padrão de vida desejado, e não está explicitamente ligada à renda. É fundamental,
para uma boa compreensão desta abordagem, entender que não se trata da mensuração da
pobreza como renda ou insuficiência de bens, mas sim dela como desenvolvimento humano.
Deste modo, percebe-se que o enfoque são dados como: anos de estudo; qualidade dos
serviços de saúde; mortalidade infantil; etc. A pobreza, para Sen, surge a partir da falta de
condições dignas para se viver, isto é, se o indivíduo não tem as bases para uma vida digna,
ele será pobre, pois não será capaz de ter o que ele precisa.
A partir desta abordagem, o papel do estado como formulador de políticas públicas se
torna mais claro e exigente. Ações de caráter público, em prol da redução do nível de pobreza,
são necessárias; entretanto, não são ações como variação salarial ou desconto no imposto de
renda – sendo estas ações a posteriori –, mas sim ações que alterem a qualidade do que é
considerado serviço fundamental ao bem-estar da sociedade. Para sair da pobreza, segundo
Salles e Tuirán (2002), é necessário assim romper com o círculo vicioso que o pobre vive, por
meio de ações que possibilitem a melhora das capacidades de cada um.
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Como já dito anteriormente, fica claro que, nesta abordagem, a pobreza é função do
bem-estar faltante, e não dos baixos níveis de renda ou de utilidade. Entretanto, não se pode
excluir a falta de renda do entendimento da pobreza, por ser ela a maior patologia do
fenômeno em si – já que, sem renda, quase nada é possível de ser obtido, salvo em
comunidades autossuficientes. Mesmo assim, Sen (2001) apresenta quatro características que
fazem da abordagem das capabilities uma abordagem melhor, a saber: diversificação;
exogeneidade; distribuição de renda; relatividade.
A diversificação se define como o poder, da abordagem, de observar pobreza em
várias dimensões, sabendo identificar quais são fundamentais e quais secundárias, enquanto o
estudo da renda se resume a uma órbita que, por si só, é significante apenas como meio, e não
como fim. Ademais, esta característica diz respeito à capacidade da abordagem de se valer
dos vários fatores que influenciam a pobreza, não se limitando à visão subsistencialista. No
que concerne a exogeneidade, a abordagem das capabilities é capaz de identificar empecilhos
para a obtenção das necessidades. Questões de gênero, idade, localização geográfica e grau
epidêmico são fatores que o indivíduo não tem controle pleno, o que pode reduzir – ou
ampliar – suas capacidades dentro da sociedade em que está.
Quanto à distribuição, esta se associa à exogeneidade, por ser um fator que pode não
ser de pleno controle do indivíduo. Em uma família com vários membros ativos, pode
acontecer que não se tenha distribuição de renda de forma a satisfazer todas as necessidades
de cada indivíduo, o que provocaria uma redução na capacidade de manutenção do padrão de
vida de cada um dos atingidos. Por fim, no que diz respeito à relatividade, o lugar geográfico
influencia na qualidade de vida que uma pessoa pode ter. Embora R$ 5.000 mensais sejam
uma grande quantia para um indivíduo que mora no sertão nordestino, tendo ele a capacidade
de obter tudo o que precisa para seu padrão de vida, esta mesma quantia, nos EUA, pode não
ser capaz de oferecer o mesmo padrão de vida desejado pelo mesmo indivíduo, o que traria
privação de capacidades. Codes (2008, p. 22) nos diz que, “em um país opulento, mais renda é
necessária para adquirir bens e serviços suficientes a fim de se obter o mesmo funcionamento
social”, o que explica, de forma sucinta, a relatividade.
Ao cabo da análise desta abordagem, percebe-se que ela é a mais abrangente de todas,
e isto implica em maiores dificuldades em produzir pesquisas de qualidade. De fato, as
pesquisas que se valeram desta abordagem não trouxeram um procedimento metodológico
satisfatório, como aponta Ravallion (1994). Percebe-se a intensa dificuldade em aplicar esta
metodologia à análise de pobreza extensiva – no sentido de se estudar países inteiros –, tendo
de se recorrer a abordagens mais materiais, como as anteriormente apresentadas.
3. ELEMENTOS PARA A ANÁLISE DE CAPACIDADES3 Após este primeiro momento, diferenciando as várias correntes de pensamento em
análise de pobreza, passamos à definição da metodologia de análise das capacidades e da
mensuração do consumo. Para tal, vamos recorrer a duas importantes pesquisas feitas pelo
IBGE: a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares); e a PNAD (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios).
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) nos fornece um vasto conjunto de dados
acerca dos padrões de consumo da população brasileira. Esta pesquisa é dividida em dois
grandes ramos: despesas; e rendimentos. Segundo o IBGE (2010), despesas com alimentação,
vestuário, higiene, e saúde, entre outras, são avaliadas na POF; para os rendimentos, temos a
divisão em monetários e não-monetários. Para aferir o consumo pela POF, vamos gerar uma
série de indicadores, a fim de termos como avaliar o tipo e a quantidade de gastos com certos
3 A não ser que tenha indicação contrária, é aqui utilizado para indicar o Estado da Federação.
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itens, para gerarmos proxies de pobreza. Estes indicadores vão relacionar despesas e
rendimentos em vários aspectos, como veremos logo mais.
Um primeiro modo de mensurar a pobreza, por meio do consumo, é averiguando a
alocação de recursos em cada tipo de despesa. Vamos, para tal, dividir os tipos de despesas
(que são 11 ao todo) em grupos, para facilitar na análise. O primeiro grupo é o que
chamaremos de gastos fundamentais (Grupo 1), no qual estão incluídos os gastos
indispensáveis (alimentação, habitação e vestuário); o segundo é o grupo das gastos primários
(Grupo 2), no qual estão incluídos gastos importantes, mas que não necessariamente são
indispensáveis (transporte e educação); o terceiro grupo é o de gastos preventivos (Grupo 3),
que inclui o dinheiro alocado para a saúde (higiene e cuidados pessoais, assistência à saúde); e
gastos próprios (Grupo 4), que são os recursos utilizados para lazer e satisfação de
necessidades pessoais (recreação e cultura, fumo, sérvios pessoais e diversos).
A primeira pergunta que nos fazemos é: como determinar quem é pobre? Uma boa
aproximação (que será útil para a criação de um dos indicadores de capacidade mais adiante)
é analisar a relação existente entre gastos fundamentais e gastos primários. Temos claro em
mente que os gastos nos Grupos 1 e 2 somam, sempre, mais que 80%4. Entretanto, o quanto o
Grupo 2 contribui para este conjunto nos dá uma boa medida de carência, pois, se há um
maior gasto com alimentação e habitação, menos dinheiro sobrará para o desenvolvimento do
capital humano (investimento em educação) ou para a mobilidade espacial (transporte).
Deste modo, um primeiro indicador de carência pode ser dado como segue, pela
relação entre os gastos necessários ( ), ao qual damos o nome de Índice de Dependência Interna ( ), por analisarmos o quanto da renda está comprometido com as necessidades internas ao domicílio – isto é, medimos o grau de dependência da unidade de análise em
relação aos gastos para melhoria das condições internas de vida. Esta análise é feita para cada
Estado da Federação .
(1a)
Cabe agora estabelecer categorias, para avaliar os resultados. Os limites superiores e
inferiores desta relação estão dados abaixo, e por eles faremos a categorização dos resultados.
{ {
⟩
{
⟩ [ ] (1b)
Claramente, estes limites são hipotéticos, pois os outros grupos deveriam ter valores
extremamente específicos para que completar 100%. Entretanto, servem para nosso interesse.
Tabela 1 – Categorização do Índice de Dependência Interna
Valor de Dependência Interna
[ ) Baixa
[ ) Média
[ ) Elevada
[ ) Extrema
Fonte: elaboração própria a partir de POF 2008-09.
4 Este resultado pode ser visualizado a partir do Apêndice A.
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Vamos, então, dividir uniformemente os Estados em quatro grandes grupos, como consta pela
tabela acima. Quanto menor , menor o grau avaliado de dependência de um domicílio. Uma segunda medida de análise pode ser criada a partir da proporção de alimentos
consumidos. Para tal, vamos recorrer aos dados antropométricos da POF, e compará-los com
a Taxa Metabólica Basal (TMB, aqui , em kcal) da OMS (1985), corrigida com base em Henry e Rees (1991), que estimou empiricamente a TMB para países tropicais (no caso, o
próprio Brasil).
{
( ) ( )
( ) ( )
( ) ( )
( ) ( )
( ) ( )
(2a)
A ideia é saber se o que é consumido de calorias, diariamente, é suficiente para cobrir
a TMB. Na equação acima, é a TMB corrigida, e são coeficientes estimados, é a massa corporal (em quilogramas), é a coorte analisada (em faixas variáveis), é o coeficiente de superestimação obtido por Henry e Rees (1991), e é o gênero (sendo 1, caso a observação seja do sexo masculino e 0, caso seja do sexo feminino). Abaixo, se encontram os
resultados corrigidos para os coeficientes da TMB, correções feitas a partir da equação acima,
diferenciando-se por gênero.
Tabela 2 – Coeficientes α e β corrigidos para a TBM, por gênero
Masculino
Idade 0 a 3 3 a 10 10 a 18 18 a 30 30 a 60 60+
0,26 0,09 0,07 0,06 0,04 0,06
-0,23 2,07 2,72 2,57 3,30 2,04
Feminino
Idade 0 a 3 3 a 10 10 a 18 18 a 30 30 a 60 60+
0,26 0,09 0,05 0,06 0,03 0,04
-0,21 2,09 3,12 2,00 3,16 2,49
Fonte: elaboração própria a partir de OMS (1985), Henry e Rees (1991) e Wahrlich e Dos Anjos (2001).
A partir do coeficiente obtido, a ideia é ver se, na média, há um consumo suficiente de alimentos, isto é, qual (e quanto) é a diferença entre o valor mínimo (representado por um
múltiplo da TMB) e o médio (consumido pela população). De acordo com a FAO (2004), para
obter o valor mínimo, devemos considerar que não estamos em completo repouso (o que
levaria à necessidade mínima ser a própria TMB). Para chegar ao gasto calórico diário
mínimo, é necessário ponderar o resultado pelo Nível de Atividade Física (NAF, ou aqui), que, empiricamente, é um multiplicador obtido pela relação entre o valor mínimo (TMB) e o
efetivamente gasto, em média, ao longo de um dia (chamado de Gasto Total de Energia, GTE,
aqui representado por ). Ao dividir-se este novo produto pela Quantidade de Calorias Consumidas (QCC, aqui), chegamos ao Índice de Carência Energética ( ):
(2b)
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O ideal é ter-se um valor de menor ou igual a 1, de modo que o que é consumido seja pelo menos suficiente para suprir as necessidades diárias mínimas de alimentos. Resta saber o
valor de , pois é fundamental saber o NAF para estimar o índice . A OMS (1985) e a FAO (2004) computaram os dados de NAF para uma variada gama de atividades, e se computaram
três grandes grupos de pessoas para obter um valor aproximado de : sedentários ou estilo de vida leve; estilo de vida moderado; e estilo de vida vigoroso/pesado. Para a FAO, o NAF de
uma pessoa sedentária fica em 1,53, de uma pessoa de estilo moderado em 1,76 e de uma
pessoa de estilo vigoroso, 2,25.
Recorrendo à PNAD de 2008 e de 2009, podemos estimar, a partir dos grupamentos
ocupacionais do trabalho principal, o NAF da população brasileira, por regiões e por estados.
Para tal, separamos os grupamentos nos três tipos de estilo de vida definidos pela FAO. Para
as macrorregiões (e para o Brasil como um todo) os resultados obtidos são apresentados
abaixo5, o que nos mostra que, na média, os trabalhadores brasileiros têm padrão de vida de
nível moderado. A partir destes resultados do NAF, podemos calcular o Índice e, a partir dele, definir os problemas de alimentação da população.
Tabela 3 – Nível de Atividade Física médio da população brasileira, por macrorregiões
NAF ( ) % de ocupados em cada setor, por NAF
BR NO NE SE SU CO
Nível I 1,53 21,5 16,8 14,8 25,5 23,0 23,6
Nível II 1,76 37,4 38,7 35,3 39,9 33,0 39,1
Nível III 2,25 41,1 44,5 49,9 34,7 44,1 37,3
NAF ( ) 1,91 1,94 1,97 1,87 1,92 1,89
Fonte: elaboração própria a partir de FAO (2004) e das PNAD 2008 e 2009.
Um terceiro indicador de capacidades remete à relação entre salário ganho e salário
necessário. A ideia é perceber, em termos monetários, a mesma relação percebida pelo Índice
de Carência Energética, isto é, ver quanto se está distante do salário mínimo visto como
necessário pelo DIEESE (1993) passando por três pontos: o custo da Cesta Básica Nacional
(CBN, doravante ); o salário mínimo necessário ( ); e o tempo de trabalho necessário para a sustentação ( ). O primeiro passou é a análise da CBN, calculada a partir de uma lista de itens de consumo mínimo, a “ração essencial” (DIEESE, 1993, p. 1). A ideia desta lista é ser
um padrão mínimo de alimentação, que é capaz de sustentar um indivíduo durante um mês.
Esta lista foi definida pelo Decreto Lei 399/1936, e é assim composta: 6,0 quilogramas
de carne; 15 litros de leite; 4,5 quilogramas de feijão; 3,0 quilogramas de arroz; 1,5
quilogramas de farinha; 6,0 quilogramas de batata; 9,0 quilogramas de legumes; 6,0
quilogramas de pão francês; 90 unidades de frutas; 3,0 quilogramas de açúcar; 1,5
quilogramas de óleo; e 0,9 quilogramas de manteiga. Esta é a “cesta média para a massa
trabalhadora em atividades diversas e para todo o território nacional” (DIEESE, 1993, p. 2,
grifo próprio), sendo compatível com os dados até aqui apresentados.
Seguindo a metodologia do DIEESE (1993), para sabermos o tempo necessário ,
devemos proceder ao seguinte arranjo matemático:
( ) (3)
5 Para os dados por Estados da NAF, da TMB e da QCC, ver o Apêndice B.
-
10
Sendo o salário mínimo definido pelo Governo, o custo da CBN em cada Estado e 220
o número de horas da jornada de trabalho, regulamentado pela Constituição Federal de 1988.
O Índice de Desgaste ( ) nos diz a proporção de tempo trabalhado, em relação à jornada de trabalho da Constituição, para obter-se a CBN , dados os preços do Estado . A esperança do Índice é sempre menor ou igual a 1 (isto é, espera-se que o número de horas necessárias sempre seja inferior à jornada constitucional de trabalho).
O próximo passo é analisar o valor de , isto é, do salário mínimo necessário. Para chegar a este valor, vamos fazer algumas atualizações metodológicas em relação aos
pressupostos do DIEESE (1993), isto é, vamos mudar alguns elementos básicos do cálculo, a
partir dos dados da POF 2008/09. Primeiramente, o número de integrantes da família
brasileira não é mais 4 (2 adultos e 2 jovens), variando, em cada Estado, em torno da média
nacional de 3,3. Embora isto, vamos manter as suposições de que: se precise de dois jovens
para ter-se o consumo de um adulto; e haja 2 adultos na família. Isto nos leva à relação:
( )
( )
(4a)
Sendo o custo, ajustado para uma família, da CBN, o custo da cesta para um adulto, o
tamanho médio da família, e a capital (isto é, o Estado) pesquisado. À data da última POF, o cálculo do DIEESE era feito em 16 capitais do país
6, e, para
calcular-se o valor do salário mínimo necessário , adota-se o valor mais elevado da cesta, assim obtido:
[
( )
] (4b)
Sendo o custo máximo da CBN para uma família com pessoas, e o custo máximo
da CBN para um adulto. Esta cesta é inteiramente composta por alimentos, de modo que
devamos ponderar tal valor pela proporção, na POF, dos gastos com alimentação em cada
Estado da Federação ( ).
( )
( ) (4c)
Obtivemos, assim, o salário mínimo necessário . Para termos uma noção de quão cada Estado está longe, em média, deste patamar, vamos estimar o Índice de Carência Salarial ( ), que relaciona o salário médio do Estado ̅ com o salário necessário, cuja esperança é sempre menor ou igual a 1 (pois espera-se que o salário médio de um Estado não seja tão elevado
quanto o salário mínimo definido com base no DIEESE)7.
̅
( ) ( ) (5)
Criamos, assim, quatro indicadores de capacidades, baseados na POF de 2008/09, que
podem ser utilizados para mensurar o nível de carência de capacidades no Brasil. O último
passo é a agregação destes indicadores, a fim de obtermos uma medida sintética de pobreza de
capacidades. O Índice de Capacidades Humanas (ICH, doravante ) pode ser definido como
6
Para os Estados sem pesquisa, usamos o valor do Estado mais próximo ou, caso tenha muitos Estados
próximos, o valor do maior. Deste modo, adotamos o valor do Pará para Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima,
Amapá e Maranhão. Usamos o valor de Goiás para Tocantins, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Para Piauí e
Alagoas, utilizamos a Bahia.
7 No Apêndice C, apresentamos os resultados para o tamanho médio da família, o tempo necessário, os gastos
com alimentação, o custo local e o custo máximo da CBN e os índices e .
-
11
sendo função dos quatro indicadores aqui desenvolvidos. Entretanto, devem ser feitos ajustes
nos índices assinalados, para que a escala seja a mesma.
(
)
{
(6a)
Para obter o ICH, vamos ponderar os índices intermediários, levando em conta que: se baseia nos grupos 1 e 2 de gasto das famílias; é pautado nos gastos com alimentação ( ), assim como ; e é estruturado, por hipótese, nos gastos fundamentais (que definimos aqui como ). Chegamos, assim, à seguinte ponderação, variável para cada Estado
8.
[ ( )] [ (
)]
[ ]
|
(6b)
4. RESULTADOS ALCANÇADOS Na seção anterior, definimos quatro índices de carências e um índice ponderado, a fim
de mensurar a pobreza por capacidades. Vamos analisar os resultados a partir de cada índice
ajustado (assim como apresentados em 6a). No que concerne o Índice de Dependência
Interna, percebe-se uma clara separação entre os Estados do eixo Norte-Nordeste e os demais,
em que os primeiros são mais dependentes do que os segundos. Em termos numéricos, há um
claro distanciamento, da ordem de 2:1, entre as macrorregiões analisadas.
Apreciando os dados do Apêndice A, vemos que há uma clara distribuição assimétrica,
entre os Estados, no que concerne este índice, ficando a cargo do Norte e do Nordeste a
maioria dos Estados de dependência média e elevada, enquanto os Estados do Sul e Centro-
Oeste concentram os índices de baixa dependência. No Sudeste, a situação tende à média
dependência, devido ao maior peso que as despesas com habitação têm no orçamento familiar
(chega a 40% no Espírito Santo e no Rio de Janeiro).
Tabela 4 – Distribuição, absoluta e por proporções, do Índice
Em termos absolutos Proporção por região (%) Proporção por classe (%)
A B C A B C A B C
NO 1 3 3 14,3 42,9 42,9 14,3 17,6 100,0
NE 0 9 0 0,0 100,0 0,0 0,0 52,9 0,0
SE 1 3 0 25,0 75,0 0,0 14,3 17,6 0,0
SU 2 1 0 66,7 33,3 0,0 28,6 5,9 0,0
CO 3 1 0 75,0 25,0 0,0 42,9 5,9 0,0
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF.
Em termos absolutos, constatamos que a maior parte dos Estados ainda está com um
nível médio de dependência interna (63% dos Estados estão nesta condição, não havendo uma
região que não tenha pelo menos um Estado nesta situação). Este índice já aponta para uma
8 No Apêndice D, apresentamos os resultados dos indicadores e do ICH, além de outras informações básicas.
-
12
necessidade de recuperação de outros gastos que não os internos ( ), que estão corroendo entre 58% e 70% dos rendimentos auferidos.
Ao analisarmos o Índice de Carência Energética, todavia, há um nivelamento das
regiões do país. Como fica claro no Apêndice B, o NAF e a QCC são similares entre Estados,
o que resulta em indicadores parecidos. Isto nos indica a situação de carência generalizada do
país que, em média, consome 808 kcal a menos do que o NAF exigiria, como pode ser
analisado a partir da tabela abaixo. O NAF da população é, em média, de nível II (isto é, o
brasileiro tende a desenvolver uma rotina de esforço mediano), o que implica necessitar de
mais energia para o desenvolvimento das tarefas diárias em relação a pessoas com estilos de
vida pacatos.
Entretanto, fica claro o maior comprometimento com trabalhos de nível III (vigorosos)
no Nordeste, onde há também maior o déficit nutricional. O Sudeste é a segunda região com
maior déficit nutricional médio, que pode ser explicado pelo excessivamente acelerado ritmo
de vida da população, sendo ¼ alocada em atividades de nível I, de modo que haja um maior
descuido com relação à alimentação. A menor carência se dá na região Norte, na qual se tem
um maior gasto com alimentação, muito por causa da predominância das atividades vigorosas
em detrimento das atividades sedentárias.
Tabela 5 – Nível de atividade, déficit nutricional e gastos com alimentação por Região
Região Nível de atividade Déficit nutricional
(kcal) Gastos com
alimentação (%) I II III (III)/(I)
NO 16,8 38,9 44,3 2,6 591,1 25,8
NE 14,8 35,4 49,8 3,4 869,7 24,2
SE 25,5 40,0 34,5 1,4 859,8 18,3
SU 23,0 33,0 44,1 1,9 693,5 18,5
CO 23,7 39,2 37,0 1,6 743,8 17,7
BR 21,3 37,5 41,2 1,9 808,3 19,8
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF.
No que concerne o gasto com alimentação, este é pouco variado, girando em torno de
20%, sendo maior nas regiões onde a razão entre os níveis de atividade III e I é maior do que
2,0. Em suma, consome-se mais renda com alimentos onde há maior demanda de energia,
embora dever-se-ia consumir mais, se levarmos em conta o NAF médio.
Estudando o Índice de Desgaste, temos que, em geral, a população trabalha metade do
mês para garantir sua cesta básica de alimentos. Isto quer dizer que, em geral, a remuneração
da população é baixa (especialmente para quem ganha salário mínimo, na época de R$
415,00), pois o valor da CBN não variou muito em 2008, como pode ser visto na tabela
abaixo.
Como nas regiões do eixo Norte-Nordeste a cesta é relativamente barata, o índice tende a ser menor nestas regiões, em detrimento das do eixo Centro-Sul. Embora custe
relativamente mais cara a CBN para os trabalhadores com salário mínimo nas regiões Sul e
Sudeste, isto não se verifica para um trabalhador com salário médio. Em outras palavras,
averígua-se que o salário médio do eixo Norte é bem menor do observado no eixo Centro-Sul.
-
13
Tabela 6 – Valor da CBN para as regiões metropolitanas do Brasil
Valor da Cesta (em R$) Taxas (%)
Estado Mínima Média Máxima Variação Sal. Mínimo Sal. Médio
MG 206,42 225,77 247,01 6,2 54,4 8,5
RJ 203,82 221,86 240,03 16,3 53,5 6,6
SP 223,94 235,87 252,13 4,5 56,8 6,8
PR 196,50 218,35 244,30 16,0 52,6 7,9
RS 214,27 235,12 259,29 18,9 56,7 8,3
PA 190,41 199,59 211,13 3,2 48,1 10,0
CE 164,69 184,09 199,49 19,8 44,4 12,3
PE 166,13 178,68 200,85 10,0 43,1 9,3
BA 167,77 180,80 195,65 11,6 43,6 9,6
Fonte: elaboração própria a partir dos dados do DIEESE.
Analisando-se o Índice de Carência Salarial, percebemos que há um novo sensível
descolamento entre o Norte e o Sul do país, passando-se de 0,29 (Sudeste) para quase o dobro,
0,52 (Nordeste). Isto reflete as diferenças de padrão salarial médio entre as regiões do eixo
Norte e Sul do país: se, no Nordeste, o salário médio é de R$ 1.761,10, no Sudeste é quase o
dobro (R$ 3.186,82), representando uma amplitude de quase 3,5 salários mínimos.
Tabela 7 – Índice de Capacidade Humana, subitens e salário médio
Região População Salário (R$)
NO 15.401.931 0,59 0,24 0,48 0,46 0,4890 1.978,66
NE 53.639.558 0,40 0,34 0,44 0,52 0,4361 1.761,10
SE 80.075.003 0,27 0,34 0,55 0,29 0,3110 3.186,82
SU 27.636.631 0,20 0,27 0,54 0,35 0,2940 2.872,13
CO 13.835.865 0,24 0,29 0,49 0,42 0,3275 2.744,84
Amplitude 0,39 0,11 0,11 0,23 0,1951 1.425,72
(3,4 SM)
Fonte: elaboração própria, com dados da POF 2008/09 para a população.
Ademais, analisando-se o padrão salarial da população brasileira, percebe-se uma
diferença gritante entre o maior e o menor salário médio por Estados, tendo uma diferença de
7,5 salários mínimos entre Alagoas (menor rendimento médio, R$ 1.396,71) e o Distrito
Federal (maior rendimento médio, R$ 4.513,16). Em outras palavras, analisando o Apêndice
C, vemos que há um notável distanciamento (chegando a parecerem mundos diferentes): se,
em todo o eixo Norte, somente um Estado tem rendimento médio superior a R$ 3mil
(Sergipe/NE), no eixo Centro-Sul não há um Estado abaixo de R$ 2mil (sendo o Estado mais
próximo deste nível o Mato Grosso/CO).
Finalmente, vamos analisar os resultados gerais. Como se percebe em 6b, as
ponderações para cada índice são dinâmicas, isto é, variam com base na importância de cada
gasto no orçamento familiar. Deste modo, não há padronização excessiva das ponderações,
que poderia acontecer, por exemplo, usando-se uma média simples ou ponderada. Podemos
analisar o ICH comparativamente ao salário médio auferido, como consta na tabela abaixo.
Pelo que podemos perceber, independentemente do ICH obtido, há uma clara e maior
-
14
concentração no substrato salarial E (14 observações), enquanto que, independentemente do
salário, a dispersa do ICH é razoavelmente uniforme.
Tabela 8a – Matriz de comparação: versus ̅ Tabela 8b – Classes para e ̅
̅
A B C D E
A 1 1 3
B 1 2 3 1
C 2 3
D 6
E 4
̅ (R$)
A [ ) [ ]
B [ ) [ )
C [ ) [ )
D [ ) [ )
E [ ] [ )
Fonte: elaboração própria.
Fonte: elaboração própria.
Os dados deixam evidente a correlação negativa entre ICH (quanto menor, melhor) e
rendimento médio (quanto maior, melhor). Em outras palavras, há forte relação entre o nível
de capacidade existente e o nível de renda de uma família: quanto maior a renda, maior o
nível de capacidade (isto é, menor o ICH). A estimativa empírica nos dá um coeficiente de
correlação de Pearson ( ̅) , apontando a suspeita, já clara, de elevada relação
inversa entre as variáveis.
As componentes ajustadas do ICH têm a seguinte relação: quanto maior o índice,
maior o ICH; deste modo, maior o ICH, menor tende a ser o nível de renda observado9.
Derradeiramente, podemos comparar os dados do ICH com o logaritmo do rendimento médio,
obtendo a seguinte relação empírica:
( ̅) ̂
(7)
pela qual podemos afirmar que, se não houvesse carência de capacidades, o rendimento médio
a ser esperado seria de R$ 5.930,88 e que, se houvesse total carência de capacidades, se
9 Perceba-se que a causalidade é da renda para a capacidade, e não o contrário.
Figura 1 – Divisão dos Estados por ICH (à esquerda) e por rendimento médio (à direita)
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da POF
-
15
esperaria um rendimento médio de R$ 495,56. Ademais, a cada aumento, de 1 ponto-
percentual, no ICH, temos uma queda de 2,45% no salário (esta queda, no limite, converge
para 2,48, que é o coeficiente do regressor ). Esta relação pode ser observada satisfatoriamente nas duas figuras acima.
5. CONCLUSÕES Elaborou-se, neste ensaio, uma metodologia para tentar captar as diferentes
capacidades de uma família, para analisar a pobreza no Brasil. Resumidamente, as
capabilities desenhadas foram: necessidade de uma alimentação mínima (calculado pelo
índice ); tempo trabalhado para alcançar um padrão mínimo de vida (mensurado com o índice ); possibilidade de se dedicar a elementos externos à casa (medido pelo índice ); e disponibilidade de recursos para um padrão mínimo de vida (derivado a partir do índice ). Estes índices, apropriadamente ponderados, geraram o ICH, Índice de Capacidade Humana
( ). Com este índice, pôde-se averiguar a pobreza por falta de capacidades nos Estados brasileiros, além de perceber a relação das capacidades humanas com o nível médio de
rendimentos auferidos. Com os dados obtidos, buscou-se relacionar os indicadores à pobreza,
fazendo ajustes nos índices originais. Como resultado, tem-se uma clara separação, em termos
de capabilities, entre os Estados do eixo Norte e os do eixo Centro-Sul, sendo tal diferença
mais gritante quando se leva em conta a dependência interna ( ) e a relação entre renda média e salário mínimo estilo-DIEESE ( ). No que concerne os indicadores de gasto energético ( ) e de tempo trabalhado ( ), os Estados do eixo Norte estão em condições iguais, e até “menos piores”, em relação aos do outro eixo, devido a dois fatores: para o índice , a explicação se dá pelo maior gasto em alimentação dos Estados do eixo Norte; para o índice , a resposta está no custo da cesta básica.
Os resultados apontam para pelo menos quatro direções. Primeiramente, há um gasto
excessivamente elevado da renda com despesas de alimentação e habitação, em detrimento de
outros gastos que poderiam ser realizados, caso tais itens não fossem tão caros (tanto em
termos absolutos, quanto em termos relativos à renda). Em segundo lugar, os gastos com
alimentação são mal direcionados, pois há um sério déficit nutricional, em média, de 800
kcal/pessoa, o que reflete o desequilíbrio alimentar proporcionado pelas atividades
desenvolvidas, especialmente entre aquelas de menor intensidade (que já são 20% do total).
Em terceiro lugar, no que diz respeito aos salários, os Estados do Norte e Nordeste estão em
muito atrasados, vivendo com rendimentos médios que, em média, são 3,5 salários mínimos
menores dos obtidos nos outros Estados, chegando ao absurdo de ter-se diferenças de 7,5
salários mínimos entre os Estados mais e menos abastados. Por último, há uma clara
correlação negativa entre rendimento médio e carência de capacidades, isto é, menor o
rendimento médio, maior se espera a carência de capabilities de uma família.
Os resultados convergem para a clara problemática existente: os rendimentos auferidos
são ainda reduzidos, o que limita o desenvolvimento das capacidades humanas. Entre
possíveis soluções, tem-se a melhora dos níveis salariais mínimos, a redução dos custos de
itens básicos da cesta alimentar e dos itens de necessidade mínima (tais como habitação).
Entretanto, tais soluções não necessariamente resolveriam o problema da desigualdade que se
apresentou. Para tal problema, a solução seria, no médio prazo (que não necessariamente daria
certo), a redistribuição da renda e a melhora das condições e da jornada de trabalho dos
trabalhadores alocados em atividades de nível III, muito vigorosas.
O caminho se resume, portanto, ao desenho e à implementação de políticas públicas
que enfrentem os problemas colocados. Entretanto, tal solução deve garantir que haja uma
efetiva redistribuição de capacidades e de renda, atualmente concentradas no eixo Sul do país,
para que não tenha a perpetuação de padrões desiguais de vida Brasil afora.
-
16
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17
APÊNDICE A – Distribuição, por grupos de gastos, dos rendimentos (%, exceto )
G1 G2 G3 G4 G1+G2
NO 66,7 18,9 8,5 5,9 85,6 3,534
NE 63,6 21,0 9,6 5,7 84,7 3,024
SE 60,3 22,9 10,0 6,8 83,2 2,638
SU 59,5 24,4 9,2 6,9 83,9 2,434
CO 60,7 24,0 8,9 6,4 84,7 2,533
RO 61,3 22,8 9,6 6,3 84,1 2,693
AC 65,1 19,4 10,3 5,2 84,5 3,356
AM 70,8 16,9 6,4 5,9 87,7 4,189
RR 67,3 18,2 8,8 5,7 85,5 3,698
PA 67,8 17,3 8,8 6,1 85,1 3,919
AP 64,4 20,7 8,8 6,1 85,1 3,111
TO 62,1 24,1 8,4 5,4 86,2 2,581
MA 65,6 19,6 9,0 5,8 85,2 3,352
PI 64,0 20,0 10,7 5,3 84,0 3,200
CE 64,9 20,4 9,0 5,7 85,3 3,181
RN 64,9 19,8 9,5 5,8 84,7 3,283
PB 62,3 21,9 9,9 5,9 84,2 2,849
PE 63,7 18,7 10,9 6,7 82,4 3,406
AL 65,9 19,4 10,3 4,4 85,3 3,392
SE 63,6 21,5 9,6 5,4 85,0 2,963
BA 61,8 23,3 9,1 5,8 85,1 2,652
MG 60,6 22,9 9,5 7,0 83,5 2,646
ES 62,1 23,1 9,2 5,7 85,1 2,693
RJ 63,3 20,7 9,9 6,1 84,0 3,063
SP 59,1 23,7 10,2 7,0 82,8 2,494
PR 58,9 25,3 9,7 6,1 84,2 2,332
SC 58,5 26,5 7,9 7,1 85,0 2,208
RS 60,6 22,4 9,5 7,5 83,0 2,705
MS 60,5 23,4 9,9 6,2 83,9 2,590
MT 63,5 22,4 8,4 5,7 85,9 2,835
GO 59,9 24,8 8,9 6,4 84,7 2,415
DF 60,9 24,1 8,2 6,8 85,0 2,523
BR 61,3 22,6 9,6 6,5 83,9 2,708
-
18
APÊNDICE B – Dados sobre as atividades físicas e o gasto energético por Estados
Níveis de atividade (em %) Energia (em kcal)
I II III TMB QCC GTE NAF
RO 17,4 32,1 50,5 1.301,0 1.905,8 2.559,7 1,97 1,34
AC 20,2 38,1 41,7 1.260,2 1.663,5 2.416,7 1,92 1,45
AM 18,2 40,0 41,8 1.275,8 1.798,8 2.453,6 1,92 1,36
RR 22,0 43,5 34,5 1.263,9 1.425,1 2.374,1 1,88 1,67
PA 14,8 39,9 45,3 1.266,1 1.958,3 2.466,3 1,95 1,26
AP 18,6 48,7 32,6 1.287,5 1.543,0 2.416,6 1,88 1,57
TO 19,0 33,0 48,0 1.293,9 2.041,2 2.525,2 1,95 1,24
MA 12,5 34,0 53,5 1.250,6 1.637,7 2.493,2 1,99 1,52
PI 12,7 29,9 57,5 1.264,4 1.935,8 2.544,6 2,01 1,31
CE 14,9 35,5 49,6 1.284,5 1.786,4 2.528,9 1,97 1,42
RN 16,9 38,5 44,6 1.298,4 1.757,2 2.518,9 1,94 1,43
PB 16,9 36,2 46,8 1.302,7 1.795,5 2.541,0 1,95 1,42
PE 17,0 38,0 45,0 1.313,5 1.557,9 2.550,3 1,94 1,64
AL 14,2 33,2 52,6 1.282,8 1.268,0 2.546,7 1,99 2,01
SE 17,4 38,3 44,3 1.293,5 1.616,7 2.505,3 1,94 1,55
BA 13,8 34,6 51,6 1.298,7 1.675,5 2.572,5 1,98 1,54
MG 20,2 35,2 44,5 1.327,2 1.908,8 2.563,5 1,93 1,34
ES 21,3 34,9 43,8 1.344,4 1.924,2 2.589,0 1,93 1,35
RJ 27,2 47,0 25,8 1.363,7 1.551,1 2.487,0 1,82 1,60
SP 27,8 40,1 32,1 1.361,3 1.575,8 2.522,9 1,85 1,60
PR 23,6 34,9 41,6 1.351,9 1.882,5 2.581,2 1,91 1,37
SC 24,6 30,8 44,5 1.359,8 1.858,1 2.613,0 1,92 1,41
RS 21,4 32,4 46,2 1.368,5 1.996,9 2.650,9 1,94 1,33
MS 20,4 38,0 41,5 1.343,7 1.729,5 2.575,3 1,92 1,49
MT 21,0 35,1 43,8 1.340,9 1.806,6 2.582,9 1,93 1,43
GO 20,7 38,7 40,6 1.330,4 1.796,5 2.543,3 1,91 1,42
DF 37,2 46,4 16,4 1.330,9 1.733,4 2.335,9 1,76 1,35
BR 21,3 37,5 41,2 1.328,5 1.731,3 2.539,6 1,91 1,48
-
19
APÊNDICE C – Dados sobre a cesta básica necessária
(nº)
(%)
Dados sobre a cesta (R$) Salário (R$)
̅
RO 3,32 19,18 199,59 105,81 281,44 854,80 4.456,54 2.362,27 0,48 0,53
AC 3,81 26,50 199,59 105,81 307,36 933,53 3.522,77 1.925,98 0,48 0,55
AM 4,02 27,90 199,59 105,81 318,47 967,28 3.466,94 1.913,77 0,48 0,55
RR 3,90 19,70 199,59 105,81 312,13 947,99 4.812,15 1.686,25 0,48 0,35
PA 4,05 28,00 199,59 105,81 320,06 972,10 3.471,77 1.988,57 0,48 0,57
AP 3,98 22,40 199,59 105,81 316,36 960,85 4.289,50 1.913,77 0,48 0,45
TO 3,60 22,28 199,39 105,70 295,96 899,79 4.038,97 1.799,92 0,48 0,45
MA 3,84 24,38 199,59 105,81 308,95 938,35 3.849,56 1.496,41 0,48 0,39
PI 3,65 27,70 180,80 95,85 270,76 907,82 3.277,35 1.610,45 0,44 0,49
CE 3,67 27,30 184,09 97,59 276,67 911,04 3.337,14 1.502,28 0,44 0,45
RN 3,56 26,07 193,87 102,77 285,71 893,36 3.426,27 1.680,59 0,47 0,49
PB 3,44 24,08 180,82 95,85 260,72 874,08 3.630,52 1.675,53 0,44 0,46
PE 3,32 22,50 178,68 94,72 251,96 854,80 3.799,12 1.914,20 0,43 0,50
AL 3,65 21,42 180,80 95,85 270,76 907,82 4.237,93 1.396,71 0,44 0,33
SE 3,60 26,45 180,16 95,51 267,42 899,79 3.402,23 3.193,05 0,43 0,94
BA 3,50 23,00 180,80 95,85 263,58 883,72 3.842,27 1.888,66 0,44 0,49
MG 3,25 18,40 225,77 119,68 314,17 843,55 4.584,53 2.644,85 0,54 0,58
ES 3,17 16,87 214,13 113,52 293,44 830,70 4.925,21 2.467,80 0,52 0,50
RJ 3,01 17,88 221,86 117,61 294,62 804,99 4.501,66 3.346,37 0,53 0,74
SP 3,14 18,60 235,87 125,04 321,35 825,88 4.440,21 3.450,94 0,57 0,78
PR 3,22 18,18 218,35 115,75 302,11 838,73 4.613,03 2.763,96 0,53 0,60
SC 3,09 16,80 220,25 116,76 297,15 817,85 4.868,13 3.111,03 0,53 0,64
RS 3,01 19,80 235,12 124,64 312,22 804,99 4.065,61 2.843,88 0,57 0,70
MS 3,19 18,88 199,39 105,70 274,29 833,91 4.416,65 2.637,66 0,48 0,60
MT 3,10 19,00 199,39 105,70 269,53 819,45 4.312,91 2.053,23 0,48 0,48
GO 3,14 17,90 199,39 105,70 271,65 825,88 4.613,85 2.380,82 0,48 0,52
DF 3,26 16,02 220,94 117,12 308,04 845,16 5.276,97 4.513,16 0,53 0,86
-
20
APÊNDICE D – Dados sobre o ICH e suas componentes
Índices Ponderações
População
RO 0,28 0,26 0,48 0,47 0,46 0,10 0,10 0,33 0,361 1.521.915
AC 0,48 0,31 0,48 0,45 0,42 0,13 0,13 0,32 0,450 695.192
AM 0,74 0,27 0,48 0,45 0,41 0,13 0,13 0,33 0,547 3.417.647
RR 0,59 0,40 0,48 0,65 0,44 0,10 0,10 0,35 0,579 424.195
PA 0,65 0,21 0,48 0,43 0,41 0,13 0,13 0,32 0,498 7.404.789
AP 0,74 0,27 0,48 0,45 0,44 0,12 0,12 0,33 0,558 629.453
TO 0,24 0,19 0,48 0,55 0,45 0,12 0,12 0,32 0,365 1.308.740
MA 0,48 0,34 0,48 0,61 0,43 0,12 0,12 0,33 0,507 6.415.764
PI 0,43 0,24 0,44 0,51 0,41 0,14 0,14 0,31 0,431 3.170.175
CE 0,43 0,29 0,44 0,55 0,42 0,13 0,13 0,32 0,451 8.509.772
RN 0,46 0,30 0,47 0,51 0,42 0,13 0,13 0,32 0,456 3.166.136
PB 0,33 0,29 0,44 0,54 0,43 0,12 0,12 0,32 0,404 3.805.128
PE 0,50 0,39 0,43 0,50 0,43 0,12 0,12 0,33 0,476 8.768.807
AL 0,49 0,50 0,44 0,67 0,44 0,11 0,11 0,34 0,548 3.183.530
SE 0,36 0,35 0,43 0,06 0,42 0,13 0,13 0,32 0,275 2.036.344
BA 0,27 0,35 0,44 0,51 0,44 0,12 0,12 0,32 0,374 14.583.902
MG 0,26 0,26 0,54 0,42 0,46 0,10 0,10 0,33 0,345 19.981.228
ES 0,28 0,26 0,52 0,50 0,47 0,09 0,09 0,34 0,374 3.458.603
RJ 0,39 0,38 0,53 0,26 0,46 0,10 0,10 0,35 0,357 15.703.799
SP 0,22 0,38 0,57 0,22 0,46 0,10 0,10 0,33 0,272 40.931.373
PR 0,17 0,27 0,53 0,40 0,47 0,10 0,10 0,33 0,291 10.644.341
SC 0,13 0,29 0,53 0,36 0,48 0,09 0,09 0,33 0,259 6.106.739
RS 0,28 0,25 0,57 0,30 0,45 0,11 0,11 0,33 0,315 10.885.551
MS 0,25 0,33 0,48 0,40 0,46 0,10 0,10 0,33 0,331 2.381.510
MT 0,32 0,30 0,48 0,52 0,46 0,10 0,10 0,34 0,404 3.019.648
GO 0,19 0,29 0,48 0,48 0,47 0,10 0,10 0,33 0,328 5.895.689
DF 0,23 0,26 0,53 0,14 0,48 0,09 0,09 0,34 0,229 2.539.018
BR 0,32 0,32 0,51 0,39 0,45 0,11 0,11 0,33 0,362 190.588.988