capÍtulo 7 – construção da noção política de educação: as ... · educação nacional...
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CAPÍTULO 7 – Construção da noção política de educação: as Constituições e as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
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Introdução Quando se fala em lei, nossa tendência é achar que isso será algo
maçante e chato. Realmente, muitos tem dificuldade de entendê-las e, por isso,
acham cansativo discuti-las. Mas elas são parte de nosso fazer pedagógico e,
como tal, precisamos conhecê-las.
Todas as constituições brasileiras, de forma mais ou menos intensas,
fazem referência à educação e sua forma de aplicação. Porém, é apenas no
final dos anos 40 que se inicia um processo de discussão mais centrada em
uma legislação específica para a educação: uma lei que fixasse diretrizes e
bases para uma educação nacional. É isso que iremos conhecer nesse
capítulo.
Os objetivos deste capítulo é levá-lo a conhecer a construção da noção
de educação como direito presente nas constituições brasileiras de 1824 a
1988 e a compreender as idéias centrais das Leis de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96. Para que sua
compreensão do conteúdo desta aula seja satisfatória, é importante a leitura do
texto de Luiz Antonio Cunha, intitulado O desenvolvimento meandroso da
educação brasileira entre o estado e o mercado, disponível no sítio
http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a0928100.pdf. Nesse texto, discutiam-se
os meandros em que a educação brasileira tem passado entre o público e o
privado, e como as legislações caminharam em mão duvidosa, objeto desta
aula.
7.1 Constituições e Educação Nossa construção histórica da sociedade brasileira é cheia de ‘altos e
baixos’, isto é, não podemos entender nossa história como se fosse ‘reta e
direta’ ao ponto. Na verdade, nossa legislação e os direitos que atribuíram ao
cidadão são mais parecidos a uma estrada sinuosa, com diversas curvas,
desvios e ruas sem saída.
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Isso fica evidente com as determinações e direitos atribuídos pelas
constituições no Brasil. No Brasil (Império e República), tivemos 8
constituições, a saber: Constituição/ano Contexto
histórico Endereço para consulta ao texto integral
Constituição de 1824 (25
de março)
Brasil Império <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao24.htm>
Constituição de 1891 (24
de fevereiro)
Brasil República
Democrática
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao91.htm>
Constituição de 1934 (16
de julho)
Brasil República
Democrática
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao34.htm>
Constituição de 1937 (10
de novembro)
Brasil República
Estado Novo
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao37.htm>
Constituição de 1946 (18
de setembro)
Brasil República
Democrática
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao46.htm>
Constituição de 1967 (24
de janeiro)
Brasil República
Ditadura Militar
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao67.htm>
Constituição de 1969 ou
Emenda Constitucional nº
1 (17 de outubro)
Brasil República
Ditadura Militar
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Emendas/Emc_anterior1988/emc01-69.htm>
Constituição de 1988 (5
de outubro)
Brasil República
Democrática
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituica
o/Constituiçao.htm>
Ao acessar o texto integral, você notará que vários tópicos somem e
aparecem de uma constituição para outra. Quanto à educação, ela é uma
marca permanente de cada constituição. Obviamente, algumas somente falam
do direito; já outras, definem-no e garante-o. Vamos conhecê-las?
7.2 A Constituição de 1824 A Constituição Política do Império do Brazil foi outorgada pelo
Imperador D. Pedro I, em 25 de março de 1824, na cidade do Rio de Janeiro. O
texto constitucional, como próprio de um império, é destinado, em sua maioria,
a descrever um governo monárquico, hereditário, constitucional e
representativo.
Nessa constituição, uma pequena parcela da ‘letra da lei’ fala sobre o
direito a educação. O artigo nº 179, do título 8º, afirmava
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A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. (...)XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes.
É claro que existência da diretriz na lei não assegurava garantia de
acesso às escolas, já que não existia um sistema escolar público e gratuito no
Brasil Império. As poucas escolas existentes eram mantidos por grupos
religiosos e destinados aos filhos de brasileiros ilustres que não fossem
enviados a Europa para estudar.
7.3 A Constituição de 1891 A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi
promulgada em 24 de fevereiro de 1891, sob os ‘auspícios’ da recém-criada
República Brasileira de 1889. Ela foi redigida por um grupo de intelectuais
republicanos, tendo Ruy Barbosa como sua principal figura.
É interessante que, antes da constituição, o governo provisório modificou
o decreto eleitoral (Decreto n° 200-A de 8 de fevereiro). É significativo que o
artigo 4° decretava que “todos os cidadãos brasileiros natos, no gozo dos seus
direitos civis e políticos, que souberem ler e escrever (Decreto no 6, de 19 de
novembro de 1889)” eram eleitores. Não mais renda e religião imporiam
diferenças, mas a educação assume essa posição (PÔRTO JR., 2004, p.20).
Como, praticamente, o grupo revolucionário que depôs a Monarquia de
Pedro II era de indicação positivista, a constituição teve como bandeira
principal a criação de um estado laico e uma forte descentralização do poder,
conferindo aos estados mais decisão.
Nessa constituição, a educação teve um pouco mais de atenção.
Vejamos os trechos que abordam sobre educação: Art 34 - Compete privativamente ao Congresso Nacional: [...]30º) legislar sobre a organização municipal do Distrito Federal bem como sobre a polícia, o ensino superior e os demais serviços que na capital forem reservados para o Governo da União; [grifo meu] [...] Art 35 - Incumbe, outrossim, ao Congresso, mas não privativamente:
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[...] 2º) animar no Pais o desenvolvimento das letras, artes e ciências, bem como a imigração, a agricultura, a indústria e comércio, sem privilégios que tolham a ação dos Governos locais; 3º) criar instituições de ensino superior e secundário nos Estados; 4º) prover a instrução secundária no Distrito Federal. Art 72 - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...] § 6º - Será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos.
É claro que percebemos que mais poderia ser feito. Sobre o silêncio da
Carta a obrigatoriedade do ensino, CURY (1996, p. 78) afirma: “Já a
obrigatoriedade não passou, seja por causa do Federalismo, seja e, sobretudo,
pela impregnação do princípio liberal de que a individualidade é uma conquista
progressiva do indivíduo que desenvolve progressiva e esforçadamente a sua
virtus.”
7.4 A Constituição de 1934 A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi
promulgada em 16 de julho de 1934, durante o governo de Getúlio Vargas.
Essa teve inspiração na Constituição de Weimar (1919) e, incluiu diversos
elementos novos, especialmente àqueles relativos à ordem econômica, social,
à família, à educação e à cultura.
Quanto aos elementos voltados à educação, essa teve profunda
influência do movimento dos Pioneiros da Educação Nova, que em 1932,
haviam publicado um manifesto pró-educação laica, gratuita e de qualidade
(Pôrto Jr., 2004).
Nessa constituição, a educação esteve no eixo central da atenção.
Vejamos os trechos que abordam sobre educação: Art 5º - Compete privativamente à União: [...] XIV - traçar as diretrizes da educação nacional; Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos termos das leis respectivas: [...]b)estimular a educação eugênica; [...]e) proteger a juventude contra toda exploração, bem como contra o abandono físico, moral e intelectual; [...]g) cuidar da higiene mental e incentivar a luta contra os venenos sociais. Art 139 - Toda empresa industrial ou agrícola, fora dos centros escolares, e onde trabalharem mais de cinqüenta pessoas, perfazendo estas e os seus filhos, pelo menos, dez analfabetos, será obrigada a lhes proporcionar ensino primário gratuito.
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Art 149 - A educação é direito de todos e deve ser ministrada, pela família e pelos Poderes Públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolva num espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana. Art 150 - Compete à União: a) fixar o plano nacional de educação, compreensivo do ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados; e coordenar e fiscalizar a sua execução, em todo o território do País; b) determinar as condições de reconhecimento oficial dos estabelecimentos de ensino secundário e complementar deste e dos institutos de ensino superior, exercendo sobre eles a necessária fiscalização; c) organizar e manter, nos Territórios, sistemas educativos apropriados aos mesmos; d) manter no Distrito Federal ensino secundário e complementar deste, superior e universitário; e) exercer ação supletiva, onde se faça necessária, por deficiência de iniciativa ou de recursos e estimular a obra educativa em todo o País, por meio de estudos, inquéritos, demonstrações e subvenções. Parágrafo único - O plano nacional de educação constante de lei federal, nos termos dos arts. 5º, nº XIV, e 39, nº 8, letras a e e , só se poderá renovar em prazos determinados, e obedecerá às seguintes normas: a) ensino primário integral gratuito e de freqüência obrigatória extensivo aos adultos; b) tendência à gratuidade do ensino educativo ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível;
c) liberdade de ensino em todos os graus e ramos, observadas as prescrições da legislação federal e da estadual; d) ensino, nos estabelecimentos particulares, ministrado no idioma pátrio, salvo o de línguas estrangeiras; e) limitação da matrícula à capacidade didática do estabelecimento e seleção por meio de provas de inteligência e aproveitamento, ou por processos objetivos apropriados à finalidade do curso; f) reconhecimento dos estabelecimentos particulares de ensino somente quando assegurarem. a seus professores a estabilidade, enquanto bem servirem, e uma remuneração condigna. Art 151 - Compete aos Estados e ao Distrito Federal organizar e manter sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as diretrizes estabelecidas pela União. Art 152 - Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Educação, organizado na forma da lei, elaborar o plano nacional de educação para ser aprovado pelo Poder Legislativo e sugerir ao Governo as medidas que julgar necessárias para a melhor solução dos problemas educativos bem como a distribuição adequada dos fundos especiais. Parágrafo único - Os Estados e o Distrito Federal, na forma das leis respectivas e para o exercício da sua competência na matéria, estabelecerão Conselhos de Educação com funções similares às do Conselho Nacional de Educação e departamentos autônomos de administração do ensino. Art 153 - O ensino religioso será de freqüência facultativa e ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno manifestada pelos pais ou responsáveis e constituirá matéria
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dos horários nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais. Art 154 - Os estabelecimentos particulares de educação, gratuita primária ou profissional, oficialmente considerados idôneos, serão isentos de qualquer tributo. Art 155 - É garantida a liberdade de cátedra. Art 156 - A União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento, da renda resultante dos impostos na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos. Parágrafo único - Para a realização do ensino nas zonas rurais, a União reservará no mínimo, vinte por cento das cotas destinadas à educação no respectivo orçamento anual. Art 157 - A União, os Estados e o Distrito Federal reservarão uma parte dos seus patrimônios territoriais para a formação dos respectivos fundos de educação. § 1º - As sobras das dotações orçamentárias acrescidas das doações, percentagens sobre o produto de vendas de terras públicas, taxas especiais e outros recursos financeiros, constituirão, na União, nos Estados e nos Municípios, esses fundos especiais, que serão aplicados exclusivamente em obras educativas, determinadas em lei. § 2º - Parte dos mesmos fundos se aplicará em auxílios a alunos necessitados, mediante fornecimento gratuito de material escolar, bolsas de estudo, assistência alimentar, dentária e médica, e para vilegiaturas. Art 158 - É vedada a dispensa do concurso de títulos e provas no provimento dos cargos do magistério oficial, bem como, em qualquer curso, a de provas escolares de habilitação, determinadas em lei ou regulamento. § 1º - Podem, todavia, ser contratados, por tempo certo, professores de nomeada, nacionais ou estrangeiros. § 2º - Aos professores nomeados por concurso para os institutos oficiais cabem as garantias de vitaliciedade e de inamovibilidade nos cargos, sem prejuízo do disposto no Título VII. Em casos de extinção da cadeira, será o professor aproveitado na regência de outra, em que se mostre habilitado.
Percebe-se que alguns ideais centrais, tais como gratuidade e educação
como direito tornam-se bandeiras do discurso pedagógico. Também surge,
pela primeira vez, no texto constitucional, a referência ao financiamento da
educação como responsabilidade do Estado. Ainda se faz referência à
elaboração de um Plano Nacional de Educação, que levaria algumas décadas
para se concretizar.
A proposta da Constituição de 1934 incluía a criação de programas
escolares que visavam a permitir aos alunos menos favorecidos a permanência
na escola, tais como fornecimento de material escolar, bolsas de estudo e
assistência alimentar, dentária e médica (Art. 157 § 2).
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Saiba mais Acesse http://www.brasilescola.com/historiab/constituicao-1934.htm> e saiba
mais sobre a Constituição de 1934. Neste sítio você também verá fotos e
depoimentos acerca do assunto.
7.5 A Constituição de 1937 A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi
outorgada em 10 de novembro de 1937, durante a ditadura estabelecida pelo
Estado Novo de Getúlio Vargas.
É interessante a análise do preâmbulo desta Constituição. Ele afirmava
os motivos para a edição de uma nova constituição: ATENDENDO às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de desordem, resultantes da crescente a gravação dos dissídios partidários, que, uma, notória propaganda demagógica procura desnaturar em luta de classes, e da extremação, de conflitos ideológicos, tendentes, pelo seu desenvolvimento natural, resolver-se em termos de violência, colocando a Nação sob a funesta iminência da guerra civil; ATENDENDO ao estado de apreensão criado no País pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios, de caráter radical e permanente; ATENDENDO a que, sob as instituições anteriores, não dispunha, o Estado de meios normais de preservação e de defesa da paz, da segurança e do bem-estar do povo; Sem o apoio das forças armadas e cedendo às inspirações da opinião nacional, umas e outras justificadamente apreensivas diante dos perigos que ameaçam a nossa unidade e da rapidez com que se vem processando a decomposição das nossas instituições civis e políticas; Resolve assegurar à Nação a sua unidade, o respeito à sua honra e à sua independência, e ao povo brasileiro, sob um regime de paz política e social, as condições necessárias à sua segurança, ao seu bem-estar e à sua prosperidade, decretando a seguinte Constituição, que se cumprirá desde hoje em todo o Pais.
O discurso é antigo, mas a prática é constante: todo governo ditatorial
precisa justificar sua existência e a legislação que passa a criar. Essa também
foi a atitude de Vargas. Sob a égide de um “estado de apreensão criado [...]
pela infiltração comunista”, revogam-se as liberdades e a Constituição de 1934
é enterrada.
Nessa constituição, a educação torna-se arma de controle. Vejamos os
trechos que abordam sobre educação.
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Art 15 - Compete privativamente à União: [...] IX - fixar as bases e determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes a que deve obedecer a formação física, intelectual e moral da infância e da juventude; Art 16 - Compete privativamente à União o poder de legislar sobre as seguintes matérias: [...] XXIV - diretrizes de educação nacional; Art 128 - A arte, a ciência e o ensino são livres à iniciativa individual e a de associações ou pessoas coletivas públicas e particulares. § É dever do Estado contribuir, direta e indiretamente, para o estímulo e desenvolvimento de umas e de outro, favorecendo ou fundando instituições artísticas, científicas e de ensino. Art 129 - A infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de receber uma educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais. § O ensino pré-vocacional profissional destinado às classes menos favorecidas é em matéria de educação o primeiro dever de Estado. Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais. § É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera da sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado, sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo Poder Público. Art 130 - O ensino primário é obrigatório e gratuito. A gratuidade, porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma contribuição módica e mensal para a caixa escolar. Art 131 - A educação física, o ensino cívico e o de trabalhos manuais serão obrigatórios em todas as escolas primárias, normais e secundárias, não podendo nenhuma escola de qualquer desses graus ser autorizada ou reconhecida sem que satisfaça aquela exigência. Art 132 - O Estado fundará instituições ou dará o seu auxílio e proteção às fundadas por associações civis, tendo umas; e outras por fim organizar para a juventude períodos de trabalho anual nos campos e oficinas, assim como promover-lhe a disciplina moral e o adestramento físico, de maneira a prepará-la ao cumprimento, dos seus deveres para com a economia e a defesa da Nação. Art 133 - O ensino religioso poderá ser contemplado como matéria do curso ordinário das escolas primárias, normais e secundárias. Não poderá, porém, constituir objeto de obrigação dos mestres ou professores, nem de freqüência compulsória por parte dos alunos.
Observamos na lei uma mudança drástica de preceitos ao que fora
aprovado na Constituição de 1934. Essa, outorgada por Vargas, concentrava
poderes nas mãos da União das definições sobre educação nacional.
Diferentemente da Constituição de 1934, o financiamento da educação é
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pouco esclarecido e, adicionalmente, cria-se a noção de que “a gratuidade,
porém, não exclui o dever de solidariedade dos menos para com os mais
necessitados; assim, por ocasião da matrícula, será exigida aos que não
alegarem, ou notoriamente não puderem alegar escassez de recursos, uma
contribuição módica e mensal para a caixa escolar” (Art. 130).
É interessante o art. 132, visto que aponta uma das finalidades da
educação fascista do Estado Novo iniciante: “promover-lhe a disciplina moral e
o adestramento físico, de maneira a prepará-la ao cumprimento dos seus
deveres para com a economia e a defesa da Nação”.
7.6 A Constituição de 1946 A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil foi promulgada
em 18 de setembro de 1946, após o fim da ditadura do Estado Novo, já no governo de
Eurico Gaspar Dutra.
É interessante que, já no art. 1º da referida carta, evoca-se o preceito central
da democracia, que praticamente foi esquecida durante o governo Vargas: “Todo
poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Novamente, esse ideal
volta ao centro das discussões, após sua “supressão” na constituição anterior.
Vejamos os trechos que abordam sobre educação.Art 5º - Compete à União: XV - legislar sobre: d) diretrizes e bases da educação nacional; Art 166 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana. Art 167 - O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos Poderes Públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem. Art 168 - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios: I - o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional; II - o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao primário sê-lo-á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos; III - as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que trabalhem mais de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino primário gratuito para os seus servidores e os filhos destes; IV - as empresas industrias e comerciais são obrigadas a ministrar, em cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores, pela forma que a lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores;
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V - o ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal ou responsável; VI - para o provimento das cátedras, no ensino secundário oficial e no superior oficial ou livre, exigir-se-á concurso de títulos e provas. Aos professores, admitidos por concurso de títulos e provas, será assegurada a vitaliciedade; VII - é garantida a liberdade de cátedra. Art 169 - Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino. Art 170 - A União organizará o sistema federal de ensino e o dos Territórios. Parágrafo único - O sistema federal de ensino terá caráter supletivo, estendendo-se a todo o País nos estritos limites das deficiências locais. Art 171 - Os Estados e o Distrito Federal organizarão os seus sistemas de ensino. Parágrafo único - Para o desenvolvimento desses sistemas a União cooperará com auxílio pecuniário, o qual, em relação ao ensino primário, provirá do respectivo Fundo Nacional. Art 172 - Cada sistema de ensino terá obrigatoriamente serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar. Art 173 - As ciências, as letras e as artes são livres. Art 174 - O amparo à cultura é dever do Estado. Parágrafo único - A lei promoverá a criação de institutos de pesquisas, de preferência junto aos estabelecimentos de ensino superior. Art 175 - As obras, monumentos e documentos de valor histórico e artístico, bem como os monumentos naturais, as paisagens e os locais dotados de particular beleza ficam sob a proteção do Poder Público.
Alguns elementos retornam a essa constituição com mais intensidade: a
educação é um direito, tendo como princípios a “liberdade e nos ideais de
solidariedade humana”; o ensino é público, porém é livre à iniciativa privada;
financiamento garantido, proveniente da União (nunca menos de 10%) e
Estados/DF/Municípios (nunca menos de 20%); União assume caráter
supletivo em que Estados tiverem deficiência; criação de serviços de
assistência educacional que assegurem aos menos privilegiados condições de
permanência (aqui chamado de “eficiência escolar”).
É claro que o retorno desses elementos, por si só, não garantiria uma
“transformação” na educação, mas esse resgate de parte do que a Constituição
de 1932 tinha garantido foi extremamente necessário.
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7.7 Um preâmbulo para o nascimento de legislações específicas É importante entendermos que, após a queda do Estado Novo de
Getúlio Vargas (1937-1945), houve uma reestruturação da sociedade brasileira
em torno dos ideais democráticos, que tinham sido suprimidos. O primeiro
passo foi à aprovação de uma constituição. Também, a finalização da II
Guerra Mundial gerou uma mudança nos padrões decisórios, que
anteriormente eram centralizados na figura de Getúlio Vargas e seus
interventores.
A economia muda, paulatinamente, seu foco das importações, próprio de
um período de guerra, para a industrialização nacional e exportação. Com isso,
o processo de diversificação do mercado consumido aumenta, gerando novos
empregos e, necessariamente, novas demandas sociais e educacionais. Esse
período – 1945 a 1964 – foi marcado pelo chamado desenvolvimentismo, que
assume uma marca mais industrial.
Obviamente, ressalte-se que, em nível político, esse processo era fruto
de um pacto frágil entre empresariado nacional, setores populares e antigas
oligarquias. O empresariado nacional tencionava lucros maiores e imediatos,
que não foram plenamente possíveis durante a ditadura Vargas; os setores
populares sonhavam com a melhoria de sua situação socioeconômico-
educacional em continuidade ao que Vargas tinha desencadeado a partir de
1930, porém continuavam a ser manipulados pelo empresariado nacional; e, as
antigas oligarquias, desejavam retomar seu projeto de dominação local/regional
e, que não tencionavam uma emancipação de seus ‘currais eleitorais’
permanentes (Faoro, 2001).
É nesse período turbulento que entra em cena, com mais intensidade, a
figura do capital estrangeiro. A participação de novos atores sócio-
econômicos aumentou o ‘caldo’ social e que, mesmo em face do influxo de
novos capitais, manteve as diferenças. Como reagiu o capital nacional a esse
processo? Inicialmente, a chegada de novos recursos, aparentemente não era
desnacionalizante e, portanto, não feria a idéia do desenvolvimentismo;
também, não haveria expropriação dos espaços já ocupados pelo capital
nacional; e que isso permitiria a abertura de novos espaços de investimentos
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industriais e, conseqüentemente, sociais. Porém, isso trouxe outros problemas,
principalmente do ponto de vista educacional.
O Brasil preparava-se para uma reorganização econômica, porém essa
não poderia ser alavancada sem uma contrapartida real: as massas não tinham
acesso à educação necessária que as permitisse dar retorno às demandas
econômico-industriais que se ampliavam! O país necessitava modernizar-se
não apenas nas indústrias, mas na educação. Isso ficou claro, quando a
Constituição de 1946 apontou para a necessidade de criação da uma lei de
diretrizes e bases da educação nacional (art. 5º), que delimitasse uma
formação para o povo brasileiro.
7.8 A LDB 4.024/61 Em meio a essa demanda, ainda em 1946, o ministro da Educação e
Saúde Pública, Clemente Mariani, constitui uma comissão de educadores para
formular e propor um projeto que definiria a organização da educação
brasileira. Essa comissão, presidida por Lourenço Filho, era organizada em três
sub-comissões: ensino primário (definiria os percursos e necessidades básicas
do início da escolarização do brasileiro); ensino médio (definiria as condições
para implementação de um ensino que atendesse as camadas populares) e
ensino superior (responsável pelo redimensionamento do ideal liberal
universitário brasileiro).
Em 1948, o projeto é apresentado ao Congresso Nacional, e inicia-se aí
a maior disputa educacional da história brasileira: a defesa da escola pública
versus a defesa da escola privada. O anteprojeto propunha que todo o sistema
de ensino fosse estatal, significando uma educação pública e gratuita de
qualidade, desde a pré-escola até o ensino superior, proposta por Anísio
Teixeira desde 1930 (PORTO Jr, 2001). Esse embate político com a iniciativa
privada, ligada ao segmento católico, que detinha o maior conjunto de escolas
particulares do país desde o Brasil-Império, frutificou em ardorosos debates
públicos e passeatas, apontando que o projeto da LDB era de cunho
‘comunista’.
102
A situação ficou ainda mais acirrada quando, em 1959, o Deputado
Carlos Lacerda apresentou um substitutivo que vetava a educação estatal total
e incluiu a defesa pela presença privada na educação. Com esse substitutivo,
Lacerda invertia o texto aprovado da Constituição de 1946, em seu artigo 167
que estabelecia: "O ensino dos diferentes ramos será ministrado pelos poderes
públicos e é livre à iniciativa particular, respeitadas as leis que o regulem".
O substitutivo apresentado por Lacerda previa na alínea “c” que caberia
ao poder público "fundar e manter escolas oficiais em caráter supletivo, nos
estritos limites das deficiências locais, onde e quando necessário ao pleno
atendimento da população em idade escolar" (VILLALOBOS, 1969, p.78). Em
outras palavras: onde não interessasse, economicamente, a iniciativa privada e
sua proposta de ensino, caberia ao poder público abrir escolas.
Se isto já não fosse um ‘tiro’ no ensino público, Lacerda ainda
estabelecia no artigo 7º do citado substitutivo: "O Estado outorgará igualdade de condições às escolas oficiais e às particulares: (a) pela representação adequada das instituições educacionais nos órgãos de direção do ensino; (b) pela distribuição das verbas, consignadas para a educação, entre as escolas oficiais e particulares, proporcionalmente ao número de alunos atendidos". (Coutinho, S.D.)
Lacerda ainda propôs o financiamento do ensino privado, por meio de
bolsas de estudo, empréstimos para que a iniciativa privada pudesse construir
e aparelhar suas unidades e a utilização de recursos públicos para equiparar
os salários da iniciativa privada ao da rede pública. Em suma: Lacerda propôs
que o governo financiasse o negócio particular.
Essa batalha entre o público e o privado, entre a vanguarda
escolanovista e o segmento católico-privatista, culminou com o texto aprovado
em 20 de dezembro de 1961, como a Lei 4.024. Essa não conseguiu
salvaguardar a educação estatal, que ficou em um misto entre educação
pública e educação privada.
A Lei 4.024/61, em linha geral, determinava que a estrutura da educação
brasileira fosse composta por:
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- Educação pré-primária: para menores de 7 anos, ministrada em escolas
maternais ou jardins de infância;
- Ensino primário: mínimo de 4 séries anuais, sendo que a duração poderia
ser ampliada até 6 anos pelos sistemas de ensino;
- Ensino médio: dividido em dois ciclos - ginasial de 4 anos e colegial de 3
anos. Foram criadas modalidades: o curso médio (ginasial ou colegial), o
curso técnico (industrial, agrícola, comercial e outros) e o curso de formação
de professores para o primário e o pré-primário (ginasial, de quatro séries,
que levava ao diploma de regente de ensino primário e, o colegial, de três
séries anuais, que levava ao diploma de professor primário);
- Ensino Superior ministrado em estabelecimentos, agrupados ou não em
universidades, disponibilizando cursos: graduação após conclusão do ensino
médio; pós-graduação após conclusão da graduação; e especialização,
aperfeiçoamento e extensão.
Quanto aos conteúdos curriculares, a LDB 4.024/61 flexibilizou a forma
de transmissão de conhecimentos. Esses seriam estruturados em três partes:
- Uma nacional – com disciplinas obrigatórias indicadas pelo Conselho
Federal de Educação (CFE), a saber: português, história, geografia,
matemática, ciências e educação física;
- Uma regional – com disciplinas obrigatórias indicadas pelo Conselho
Estadual de Educação (CEE) de cada unidade da federação;
- Uma dos estabelecimentos – com disciplinas escolhidas pelas próprias
escolas, a partir de uma lista elaborada pelos Conselhos Estaduais de
Educação (CEE).
Com essas mudanças, permitiu-se a equivalência dos cursos entre as
unidades federativas, possibilitando a mobilidade dos alunos e quebrando a
rigidez dos sistemas estaduais de ensino. Também foi possível que cada
estado tivesse sua própria proposta de educação local, ampliando a pluralidade
de experiências curriculares no país.
7.9 A Constituição de 1967
104
Muita água rolou desde a aprovação da Lei 4.024/61! Ela, por conseguir
agradar a “gregos” e “troianos” no ditado popular, consegui sobreviver ao Golpe
Militar de 1964.
O Golpe de 1964, que introduziu o Brasil em uma ditadura até meados
dos anos 1980, foi motivado por transformações econômicas, sociais e
políticas, que deixaram a estrutura brasileira instável. Que transformações
foram essas? Podemos citar a renúncia de Jânio Quadros, a posterior
parlamentarização do Brasil e o desenvolvimentismo sindical de João Goulart,
que geraram uma crise nacional que desencadeou as insatisfações de facções
militares, culminando na ação dos militares.
Assim como aconteceu na Ditadura Vargas durante o Estado Novo
(1937-1945), uma nova constituição foi elaborada, para que desse sustentação
ao ‘novo’ regime existente. Essa ficou conhecida como Constituição da República Federativa do Brasil, sendo “promulgada” (pelo menos no texto)
em 24 de janeiro de 1967, estando no Governo o Marechal Humberto de
Alencar Castello Branco. Vejamos os trechos que abordam sobre educação. Art 8º - Compete à União: XIV - estabelecer planos nacionais de educação e de saúde; XVII - legislar sobre:[...] q) diretrizes e bases da educação nacional; normas gerais sobre desportos; Art 168 - A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola; assegurada a igualdade de oportunidade, deve inspirar-se no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana.
§ 1º - O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Poderes Públicos.
§ 2º - Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à Iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bolsas de estudo.
§ 3º - A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
I - o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;
II - o ensino dos sete aos quatorze anos è obrigatório para todos e gratuito nos estabelecimentos primários oficiais;
III - o ensino oficial ulterior ao primário será, igualmente, gratuito para quantos, demonstrando efetivo aproveitamento, provarem falta ou insuficiência de recursos. Sempre que possível, o Poder Público substituirá o regime de gratuidade pelo de concessão de bolsas de estudo, exigido o posterior reembolso no caso de ensino de grau superior;
IV - o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio.
105
V - o provimento dos cargos iniciais e finais das carreiras do magistério de grau médio e superior será feito, sempre, mediante prova de habilitação, consistindo em concurso público de provas e títulos quando se tratar de ensino oficial;
VI - é garantida a liberdade de cátedra. Art 169 - Os Estados e o Distrito Federal organizarão os seus sistemas de ensino, e, a União, os dos Territórios, assim como o sistema federal, o qual terá caráter supletivo e se estenderá a todo o País, nos estritos limites das deficiências locais.
§ 1º - A União prestará assistência técnica e financeira para o desenvolvimento dos sistemas estaduais e do Distrito Federal.
§ 2º - Cada sistema de ensino terá, obrigatoriamente, serviços de assistência educacional que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar. Art. 170 - As empresas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a manter, pela forma que a lei estabelecer, o ensino primário gratuito de seus empregados e dos filhos destes.
Parágrafo único - As empresas comerciais e industriais são ainda obrigadas a ministrar, em cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores. Art 171 - As ciências, as letras e as artes são livres.
Parágrafo único - O Poder Público incentivará a pesquisa científica e tecnológica.
Alguns elementos retornam a essa constituição com outra roupagem.
Por exemplo: a educação, assim como na constituição de 1946, é um direito,
tendo como princípios a “liberdade e nos ideais de solidariedade humana”,
porém acrescenta-se que essa é inspirada no “princípio da unidade nacional”
(unidade essa dada pelos militares!); o ensino é público, porém é livre à
iniciativa privada, como previsto na Constituição de 1946, com um adendo: a
união financiaria a iniciativa privada (“a qual merecerá o amparo técnico e
financeiro dos Poderes Públicos, inclusive bolsas de estudo”); a referência ao
financiamento some da letra da lei e surge algo novo: o princípio da gratuidade
poderia ser substituído: “sempre que possível, o Poder Público substituirá o
regime de gratuidade pelo de concessão de bolsas de estudo, exigido o
posterior reembolso no caso de ensino de grau superior”.
7.10 A Constituição de 1969 É importante entender, nesse momento, que, mesmo entre as facções
militares que chegaram ao poder, havia disputas de força e de como deveriam
ser geridos os processos nacionais. Cada novo ‘general’ que assumia tendia,
ora para uma abertura, ora para um endurecimento. Esse é o caso que
106
culminou com a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969(também chamada de Constituição).
A Emenda nº 1 foi motivada pelas manifestações de vários grupos
sociais que queriam o retorno à democracia e que ‘causava’ um transtorno aos
militares no poder. Com a aprovação dessa Constituição, os militares
endureceram ainda mais a ação sobre sociedade brasileira. Vejamos os
trechos que abordam sobre educação.Art. 176. A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e
nos ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na escola.
§ 1º O ensino será ministrado nos diferentes graus pelos Podêres Públicos.
§ 2º Respeitadas as disposições legais, o ensino é livre à iniciativa particular, a qual merecerá o amparo técnico e financeiro dos Podêres Públicos, inclusive mediante bôlsas de estudos.
§ 3º A legislação do ensino adotará os seguintes princípios e normas:
I - o ensino primário somente será ministrado na língua nacional;
II - o ensino primário é obrigatório para todos, dos sete aos quatorze anos, e gratuito nos estabelecimentos oficiais;
III - o ensino público será igualmente gratuito para quantos, no nível médio e no superior, demonstrarem efetivo aproveitamento e provarem falta ou insuficiência de recursos;
IV - o Poder Público substituirá, gradativamente, o regime de gratuidade no ensino médio e no superior pelo sistema de concessão de bôlsas de estudos, mediante restituição, que a lei regulará;
V - o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas oficiais de grau primário e médio;
VI - o provimento dos cargos iniciais e finais das carreiras do magistério de grau médio e superior dependerá, sempre, de prova de habilitação, que consistirá em concurso público de provas e títulos, quando se tratar de ensino oficial; e
VII - a liberdade de comunicação de conhecimentos no exercício do magistério, ressalvado o disposto no artigo 154.
§ 4º - Anualmente, a União aplicará nunca menos de treze por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 24, de 1983) Art. 177. Os Estados e o Distrito Federal organizarão os seus sistemas de ensino, e a União, os dos Territórios, assim como o sistema federal, que terá caráter supletivo e se estenderá a todo o País, nos estritos limites das deficiências locais.
§ 1º A União prestará assistência técnica e financeira aos Estados e ao Distrito Federal para desenvolvimento dos seus sistemas de ensino.
107
§ 2º Cada sistema de ensino terá, obrigatoriamente, serviços de assistência educacional, que assegurem aos alunos necessitados condições de eficiência escolar.Art. 178. As emprêsas comerciais, industriais e agrícolas são obrigadas a manter o ensino primário gratuito de seus empregados e o ensino dos filhos dêstes, entre os sete e os quatorze anos, ou a concorrer para aquêle fim, mediante a contribuição do salário-educação, na forma que a lei estabelecer.
Parágrafo único. As emprêsas comerciais e indústriais são ainda obrigadas a assegurar, em cooperação, condições de aprendizagem aos seus trabalhadores menores e a promover o preparo de seu pessoal qualificado.
Vamos às particularidades: semelhante a Constituição de 1967, a
educação é mantida como um direito, e inspirada no “princípio da unidade
nacional” dada pelos militares, suprimi-se a expressão “assegurada a igualdade
de oportunidade” que existia na constituição anterior; o ensino continua público,
livre à iniciativa privada com a União financiando a iniciativa privada por meio
de bolsas; o financiamento volta, por meio da Emenda Constitucional nº 24, de
1983, sendo proveniente da União (nunca menos de 13%) e
Estados/DF/Municípios (nunca menos de 25%); mantém-se a supletividade da
União às ações educativas dos Estados.
É importante destacarmos que uma outra emenda – a Emenda Constitucional nº 12, de 17 de outubro de 1978, acrescentou uma outra
demanda obrigatória a educação: o direito a educação especial e gratuita!
7.11 A LDB 5.692/71 É importante que recordemos que o ambiente sócio-econômico pré-
golpe militar de 1964 estava incerto. Mesmo com vistas a promissores dias
para a educação, as transformações econômicas, sociais e políticas instáveis
levaram a uma mudança drástica.
Como já afirmado, a renúncia de Jânio Quadros, a posterior
parlamentarização do Brasil e o desenvolvimentismo sindical de João Goulart
geraram uma crise nacional que desencadeou as insatisfações de facções
militares, culminando no chamado Golpe de 64. Na visão de Roberto Campos,
o Golpe Militar de 1964 foi resultado de “(...) uma crise sistêmica. Uma perda
de eficiência e um colapso da disciplina, seja sindical, seja militar.
Marchávamos para uma situação caótica...” (Couto, 1999, p.35).
108
Obviamente, todo novo governo ditatorial necessita de uma nova
constituição e, dentro desse período (1964-1984), não faltaram constituições e
reformas à constituição, como já aprendemos. As manifestações populares,
culturais e intelectuais desse período foram reprimidas, como ameaça ao novo
sistema imposto, com uma série de Atos Institucionais (nº 1 a 5), que
culminaram com a retirada dos poderes decisórios individuais, em 1968.
A Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971 foi concebida posterior a esse
período do regime militar no Brasil. Todos os documentos da época apontam-
na como ‘Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)”, porém
muitos educadores não a aceitam como tal, fundando seu argumento que, para
ser uma LDB, ela deveria ter sido fruto de uma discussão nacional da
sociedade civil e não uma imposição do regime militar, além do que, seu texto
aponta apenas para o ensino de 1º e 2º graus (atual ensino fundamental e
médio).
Nesse sentido, iremos apresentá-la em conjunto com outra lei anterior, a
Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, conhecida como a lei da reforma do
ensino superior. Ambas se complementam, representando o pensamento do
regime militar sobre as bases da educação brasileira, ‘pós-revolução’ de 1964.
A lei 5.540/68, aprovada após as revoltas estudantis de 1968 em
diversos cantos do país, tinha o objetivo de desarticular a massa estudantil e
intelectual brasileira. Também, ficava claro que, apesar de necessária uma
grande transformação na educação brasileira, com ampliação do espaço
acadêmico e recebimento da demanda reprimida no ensino superior, o governo
militar, assim como seus antecessores, não estava interessado no acesso à
educação superior, das massas populares. Entre outras, a lei 5540/68,
determinou no âmbito do ensino superior:
� Instituição do vestibular classificatório e unificado, com o objetivo de
melhor controlar a entrada de indivíduos dentro do espaço acadêmico e
determinar quais os conteúdos a serem ensinados no ensino médio;
� Criação de um ciclo básico, comum a estudantes de diversos cursos,
onde os ideais do novo regime eram, paulatinamente, incutidos nas ‘mentes
jovens’, sendo também, uma forma de dominação. É importante destacar que
109
essa proposta era diferente da feita por Anísio Teixeira por ocasião da criação
da Universidade de Brasília (UnB), que visava a dar uma base propedêutica
comum a todos e não massificar (PORTO Jr., 2001).
� Criação do sistema de créditos, em substituição ao regime anual. Com
isso, o alunado poderia determinar quais disciplinas poderia seguir. A princípio,
isso pareceria algo bom, mas revelou-se uma forma de quebrar os vínculos
entre os acadêmicos, que eram separados de seus colegas, em turmas onde
não se estabeleciam laços de amizade. Foi essencial para o regime militar
diminuir a participação dos estudantes universitários nas manifestações
populares.
� Criação de cursos de curta duração, que viessem a diminuir a estadia
do alunado no espaço universitário e que atendessem prontamente à demanda
do mercado de trabalho.
� Extinção da cátedra, substituindo-a pelo departamento, o que levou à
diminuição dos quadros de docentes que circundavam professores formadores
de opinião. A departamentalização afastou professores, confinando-os em
seus guetos profissionais.
� Organização da universidade em unidades isoladas, diminuindo o
poder de decisão dos diretores de unidade, pró-reitores e reitores nos
processos de organização universitária.
� Reduziu a universidade ao modelo empresarial: ela deveria estar
menos preocupada em educar para a transformação e mais em capacitar para
o mercado. Em outras palavras: menos conversa intelectual e mais capacitação
de quadros que atendessem ao mercado.
Isso foi uma verdadeira bomba dentro dos espaços acadêmicos. As
manifestações ocorriam por todos os cantos do país, porém foram reprimidas
com todo o rigor que o AI-5 permitia.
Já a Lei 5.692/71 complementou esse pensamento do novo regime, com
modificações significativas no âmbito do ensino de 1º e 2º graus (atuais ensino
fundamental e médio). Assim como a Lei 5540/68, esta tinha o objetivo de
diminuir as formas de manifestação universitária e, ‘enquadrar’ a educação ao
110
modelo em vigor. Entre outras, a lei 5.692/71, determinou no âmbito do ensino
de 1º e 2º graus:
� Ampliação da obrigatoriedade escolar para 8 anos (faixa etária dos 7
aos 14 anos), gerando, com isso, a crise dos sistemas municipais e
estaduais que não estavam preparadas para receber as massas populares
dentro de suas unidades escolares. Com isso, muitas escolas optaram por
reduzir o número de horas-aula para instituir o turno intermediário,
conhecido como ‘turno da fome’, já que ocorria entre 11:00 e 14:00 horas.
Também gerou um déficit acentuado de docentes nos sistemas, criando a
idéia de que ‘qualquer um podia ser professor, bastava seguir o
planejamento’.
� Destinação do ensino de 1º grau a formação geral do alunado, o que
positivamente permitiu uma definição do papel da educação nesse período.
Porém, levou também a uma diminuição dos ‘padrões de excelência’,
fixados em gerações anteriores e, segundo alguns, um empobrecimento
dos currículos do ensino primário. Com a lei 7.044, de 12.10.1982, incluiu-
se nesse currículo, obrigatoriamente, a formação para o trabalho como
elemento central.
� Eliminação do exame de admissão ao ginásio, que era um limitador a
continuidade dos estudos das massas que adentravam dentro do espaço
educativo escolar. Sem exame de admissão, ficaria mais fácil maquiar os
resultados negativos de uma política educacional equivocada em âmbito
municipal/estadual/nacional.
� Criação de uma escola única de 1º e 2º graus, eliminando a figura da
escola secundária e da escola técnica, com isso o ensino secundário passa
a ter 3 anos de duração, para cursos de auxiliar técnico, ou 4 anos de
duração, para cursos técnicos. Com isso, o governo militar indica o tom da
formação de nível médio: essa se destinava a habilitação profissional, em
atendimento ao ‘milagre econômico’ que o Brasil vivenciaria durante o
regime.
111
� A estrutura curricular (ou grade curricular, como era chamada) passa a
ter um núcleo comum obrigatório, com 10 disciplinas e de uma partediversificada para atender as peculiaridades das comunidades locais.
Com essas mudanças, impulsionadas pelas Leis 5540/68 e 5692/71, fica
claro o pensamento do regime militar sobre as bases da educação brasileira
‘pós-revolução’ de 1964: essa seria tecnicista, visando a atender as demandas
do mercado industrial em desenvolvimento, em detrimento de uma formação
integral e intelectual do homem brasileiro.
7.12 A Constituição de 1988 e a LDB 9.394/96 Com o fim da ditadura militar e a reabertura política em meados dos
anos 1980, a sociedade civil clamava por mudanças. Essa veio em 1987, com
a Constituinte, e, posteriormente em 1988, com a Constituição aprovada. A
Constituição de 1988, em seu artigo 6º, tratou a educação como um direito social (mantido posteriormente pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000).
Com isso, impunha-se a necessidade de mudança no que a Lei 5.692/71
dispunha sobre a educação nacional. Acrescente-se a isso que o modelo
econômico brasileiro sofria consideráveis mudanças, exigindo outras
competências, que a lei não previa.
Dessemelhante do que houve anteriormente no regime militar, a
sociedade civil participou integralmente por meio de entidades e associações,
tais como ANPED, ANDE, OAB, UNDIME, entre outras. Com isso, o texto do
projeto ganhou feições mais progressista e democrática, pendendo para uma
concepção mais socialista da educação.
Em dezembro de 1988, o deputado Octávio Elísio (PSDB-MG) deu
entrada no projeto discutido pela sociedade civil na Câmara dos Deputados.
Com as sucessivas emendas e a criação das comissões para avaliação do
projeto da nova LDB, o deputado Jorge Hage é eleito para delator do projeto.
Esse demonstrou atenção às demandas da sociedade civil, ampliando a
discussão nas bases popular e universitária.
Com isso, o projeto ficou conhecido como substitutivo Jorge Hage. Esse
projeto tinha a princípio 172 artigos dispostos em 20 capítulos, recebendo no
plenário da câmara dos deputados 1.263 emendas. Com isso, o projeto ficou
112
extenso, porém minucioso na defesa do ensino público, gratuito e de qualidade.
A ênfase dada era na educação realmente pública e, cogitou-se a possibilidade
de uma educação estatal plena, como a inicialmente proposta pelo anteprojeto
da 4.024/61.
Porém, ressalte-se que, em uma democracia, a disputa se dá no âmbito
dos acordos previamente realizados. O anteprojeto da LDB não escapou a
isso. Quando passou pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto da
Câmara dos Deputados, a Deputada Ângela Amim (PPB-SC), que era relatora,
mudou o projeto, que tinha caráter social-democrata, para uma concepção
mais conservadora, visto que essa comissão defendia os interesses da
iniciativa privada.
Complementando essa disputa, em 20 de maio de 1992, um outro
projeto de LDB entra em cena, por meio do Senado. Esse era um projeto que
tinha tudo para ser arquivado, já que entrou pelo caminho contrário. Apesar de
um projeto de lei, conforme a legislação brasileira poder tramitar inicialmente
em qualquer das casas do congresso, iniciar pela Câmara significava que
seguiria para o Senado para revisão, com menor número de possíveis
emendas, e retornaria para a Câmara para aprovação final e envio ao
Presidente. Porém, entrar pelo Senado significaria que a Câmara dos
Deputados faria a revisão, o que seria mais desgastante, face ao número de
possíveis emendas. Esse projeto foi proposto pelo Senador Darcy Ribeiro
(PDT-RJ), figura ilustre, conhecido por seus ideais progressistas e um defensor
da democracia, porém seu projeto de lei estava longe disso.
Sobre isso, Saviani (1997) afirma:Tal iniciativa causou perplexidade em vários sentidos: pela forma açodada e intempestiva com que foi apresentado; pela quebra do bom senso na relação entre as duas casas do Congresso; pela contradição entre a “ exposição de motivos” e os dispositivos adotados; e por ter, um projeto com essas características, se originado de um intelectual respeitável com um passado político identificado com as forças progressistas” (p.196).
A proposta de Darcy Ribeiro teve como relator o Senador Fernando
Henrique Cardoso (PSDB-SP) e foi resultado de uma elaboração conjunta
entre Ministério da Educação (MEC) e Governo Collor. Infelizmente, essa
113
proposta deixou de fora questões importantes, não fazendo mudanças
profundas e necessárias à educação brasileira pós-golpe de 1964, que tinham
sido propostas pelo substitutivo Jorge Hage, que tramitava na Câmara.
Com o impeachment de Fernando Collor, assume o vice-presidente
Itamar Franco. O novo ministro da Educação, Murílio Hingel, apóia o projeto
que tramitava na Câmara, o substitutivo Jorge Hage, o que levou o substitutivo
Darcy Ribeiro, para o esquecimento.
Porém, as transformações político-sociais levaram os ‘ventos
democráticos’ a mudar de lado e, com a eleição de Fernando Henrique
Cardoso, o novo ministro da educação, Paulo Renato de Souza, em fevereiro
de 1995, começa um grande empenho para a aprovação do substitutivo Darcy
Ribeiro. Por meio de uma série de manobras políticas que viriam ao encontro
das exigências dos novos acordos com o World Bank (Banco Mundial), o
governo consegue aprovar o substitutivo Darcy Ribeiro em Dezembro de 1996,
como a Lei 9.394/96.
A Lei 9.394/96, conhecida também como “Lei Darcy Ribeiro” ficou assim
composta por 92 artigos, dispostos em 9 títulos, a saber:Título Artigo(s) Elementos gerais
TÍTULO I Da Educação
Art. 1º Educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
TÍTULO II Dos Princípios e
Fins da Educação Nacional
Art. 2º e Art. 3º
Educação como dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Ministrada com base nos princípios: igualdade de condições; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar; pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância; coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização do profissional da educação escolar e gestão democrática do ensino público.
TÍTULO III Do Direito à
Educação e do Dever de Educar
Art. 4º ao Art. 7º
Efetivação dos deveres do Estado com educação escolar pública. Acesso ao ensino fundamental é direito público subjetivo. Dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula dos
114
menores. O ensino é livre à iniciativa privada.
TÍTULO IV Da Organização da Educação Nacional
Art. 8º ao Art. 20
Regime de colaboração entre União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Incumbências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Incumbências dos estabelecimentos de ensino e dos docentes; Composição dos sistemas de ensino: federal, estadual/distrital e municipais. Enquadramento das instituições de ensino: públicas e privadas.
TÍTULO V Dos Níveis e das Modalidades de
Educação e Ensino
Art. 21 ao Art. 77
Composição da educação escolar: educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; e educação superior. Modalidades: educação de jovens e adultos, educação profissional, educação especial.
TÍTULO VI Dos Profissionais
da Educação
Art. 61 ao Art. 67
Formação de profissionais da educação: em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades. Valorização dos profissionais da educação, nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público.
TÍTULO VII Dos Recursos
financeiros
Art. 68 ao Art. 77
Composição dos recursos públicos destinados à educação. Alíquotas de investimento: 18% União, 25% Estados/DF e Municípios, na manutenção e desenvolvimento do ensino público. A ação supletiva e redistributiva da União e dos Estados para a correção progressiva de disparidades de acesso e garantia de padrão mínimo de qualidade de ensino.
TÍTULO VIII Das Disposições
Gerais
Art. 78 ao Art.86
União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilingüe e intercultural aos povos indígenas. União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas. Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada.
TÍTULO IX Art. 87 ao Art. 92
Instituição da Década da Educação (1996-2006). Das Disposições
Transitórias Organização dos sistemas e universidades as novas normas da educação.
115
Fonte: Lei 9.394/96, de 20.12.1996. Publicado em D.O.U. em 23.12.1996.
Com a aprovação da LDB 9.394/96, ficou claro a postura que o Estado
brasileiro estaria assumindo no mundo globalizado: Estado minimalista, com
fortes tendências neoliberais.
Em suma, podemos perceber que a trajetória das leis de diretrizes e
bases da educação nacional – Lei 4.024/61, Lei 5.692/71 e Lei 9.394/96 –
seguiram pari passu às modificações econômicas que eram impostas à
sociedade brasileira por seus mercados consumidores e financiadores. Elas
trouxeram avanços em determinados momentos, porém também incluíram
imensos retrocessos na forma de se tratar educação popular, ampliando ainda
mais as disparidades sociais presentes na sociedade brasileira.
Resumo Estudamos três leis de diretrizes e bases da educação nacional (LDB),
aprovadas no período de 1961 a 1996: Lei 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96.
Também estudamos a Lei 5.540/68, que complementa a estruturação do
ensino, que a 5.692/71 dispõe.
Vimos que a Lei 4.024/61 foi aprovada num período marcado pelo
chamado desenvolvimentismo, que assume uma marca mais industrial. Isso
levou a mudança nas percepções sociais e econômicas, conseqüentemente
mudando a forma de entender educação. Vimos também que a 4.024/61 não
conseguiu salvaguardar a educação estatal, que ficou em um misto entre
educação pública e educação privada.
Estudamos que a Lei 5.692/71 foi concebida posterior ao período do
regime militar no Brasil, que é apontada como LDB, porém muitos educadores
não a aceitam como tal. O argumento se funda que, para ser uma LDB, ela
deveria ter sido fruto de uma discussão nacional da sociedade civil e, não, uma
imposição do regime militar, além do que, seu texto aponta apenas para o
ensino de 1º e 2º graus (atual ensino fundamental e médio). Que ela,
complementa a lei 5.540/68, que tinha o objetivo de diminuir as formas de
manifestação universitária e, ‘enquadrar’ a educação ao modelo em vigor.
116
Também vimos que a Lei 9.394/96 conhecida como “Lei Darcy Ribeiro”
ficou composta por 92 artigos, porém não atingiu a expectativa dos educadores
por uma educação verdadeiramente pública e de qualidade e, que com sua
aprovação ficou claro a postura que o Estado brasileiro estaria assumindo no
mundo globalizado: Estado minimalista, com fortes tendências neoliberais
Atividades1. Leia as assertivas.
I. É a partir da aprovação da Lei 4.024/61 que se discute, pela primeira vez,
educação na legislação brasileira.
II. A reorganização econômica do Brasil não poderia ser alavancada sem a
contrapartida da educação das massas, pois era necessário devido às
demandas econômico-industriais que se ampliavam.
III. Todo novo governo ditatorial necessita de uma nova constituição e, durante
o período militar brasileiro, tivemos diversas leis que apoiaram o regime
existente, tais como as Constituições de 1937, 1967 e 1969.
IV. A lei 9.394/96 foi marcada por avanços e retrocessos, principalmente por
não ser fruto de uma ampla discussão com a sociedade civil, em comparação
com o substitutivo Jorge Hage, porém mesmo assim sua base é a Constituição
democrática de 1988.
Assinale a opção que retrata as assertivas corretas
a) I e II, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) II, III e IV, apenas.
d) I e IV, apenas.
2. Associe a segunda coluna com a primeira coluna: a) Lei 4.024/61 ( ) Sua aprovação foi uma mostra de que o país estaria
assumindo no mundo globalizado uma postura minimalista, com fortes tendências neoliberais.
b) Lei 5.692/71 ( ) Criou o sistema de créditos, em substituição ao regime anual. Com isso, o alunado poderia determinar quais disciplinas poderia seguir, sendo uma forma de quebrar
117
os vínculos entre os acadêmicos, que eram separados de seus colegas, em turmas onde não se estabeleciam laços de amizade.
c) Lei 5.540/68 ( ) Estabeleceu uma estrutura curricular que passa a ter um núcleo comum obrigatório com 10 disciplinas e de uma parte diversificada para atender as peculiaridades das comunidades locais.
d) Lei 9.394/96 ( ) Determinava que a estrutura da educação brasileira fosse composta por: educação pré-primária; ensino primário; ensino médio e ensino superior.
A opção que retrata a associação correta é a alternativa:
a) a, b, d, c
b) d, c, b, a
c) d, c, a, b
d) c, b, d, a
3. Acesse e leia o artigo de Lisete R. G. Arelaro, intitulado Formulação e
implementação das políticas públicas em educação e as parcerias público-
privadas: impasse democrático ou mistificação política?, disponível no sítio
<http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a1328100.pdf>. Utilizando as discussões
propostas pelo autor, analise, em um texto dissertativo de 20 linhas, como as
Constituições e as LDB estudadas trataram as questões de financiamento e
manutenção da educação pública brasileira.
4. Acesse e leia o artigo de Gaudêncio Frigotto, intitulado A relação da
educação profissional e tecnológica com a universalização da educação
básica, disponível no sítio <http://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2328100.pdf>.
Após isso, retome as discussões feitas sobre as legislações em nossa aula, e
posicione-se em um texto dissertativo de 15 linhas sobre como as LDB
trataram a educação profissional no âmbito da educação como direito.
Comentário das atividades Na atividade 1, a opção correta é a alternativa (c), pois as assertivas II,
III e IV, contêm os argumentos que se adéquam as discussões presentes neste
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capítulo. As alternativas (a), (b) e (d) estão erradas, pois incluem a assertiva I,
onde de forma equivocada, aponta a não existência de outras legislações
anteriores a 4.024/61, esquecendo-se de que cada constituição fazia referência
à educação, mesmo que de forma minimalista.
Na atividade 2, a opção correta é a alternativa (b), pois retrata a perfeita
associação das idéias presentes nas leis 4.024/61, 5.540/68, 5.692/71 e
9.394/96, aplicadas à educação nacional e que tiveram profundas marcas na
segunda metade do século XX. Já as alternativas (a), (c) e (d) trazem ordens
que não satisfazem as determinações de cada legislação. Caso tenha
apontado algumas delas, isso é compreensível, pois essas leis possuem
proximidades determinativas. Retome-as cuidadosamente para melhor fixar o
conteúdo desta aula.
Na atividade 3, você deve observar que a participação popular
impulsionou a uma discussão sobre a qualidade do ensino. Porém, falar em
qualidade, é falar em financiamento da educação, que, no início desse novo
milênio, vem sendo permeado pela idéia das parcerias público-privado. Serão
essas novas formas de um Estado neoliberal? Será que sua existência
descaracteriza a Lei 9.394/96 e o papel atribuído ao estado brasileiro? Essas
são questões que você poderá desenvolver ao realizar esta atividade.
Na atividade 4, você deve retomar a discussão sobre as Constituições e
as LDB. É importante relembrar que, efetivamente é a lei 9.394/96 que traz um
capítulo a parte para a discussão da educação profissional, porém também é
possível encontrarmos referência na lei 5.692/71. Verifique também como cada
Constituição tratou o assunto. Lembre-se de pesquisar como isso se dava.
Atente também para as modificações que o autor aponta que ocorrem nas
últimas três décadas do ensino brasileiro.
Ao realizar essas atividades, você demonstrará conhecer o percurso da
construção da noção de educação como direito, presente nas constituições
brasileiras de 1824 a 1988 e compreendido as idéias centrais das Leis de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 4.024/61, 5.692/71 e 9.394/96
que são objetos deste capítulo. �
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Referências BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Dispõe sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Congresso Nacional, 1996. COUTINHO, Maria A. G. C. Carlos Lacerda e o Projeto de Educação Nacional. Disponível em:<http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-coautorais/eixo01/Maria%20Angelica%20da%20Gama%20Cabral%20Coutinho%20-%20Texto.pdf> . Acessado em: 20.03.2008. COUTO, Ronaldo Costa. Memória Viva do Regime Militar Brasil: 1964-1985. Rio de Janeiro: Record, 1999.CURY, Carlos. R. J. A Educação e a Primeira Constituinte Republicana. In: FÁVERO, Osmar (Org.). A Educação nas Constituintes Brasileiras (1823-1988).Campinas, SP: Autores Associados, 1996.FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro. São Paulo: Globo, 2001.SAVIANI, Dermeval. A nova lei da educação: trajetória, limites e perspectivas. São Paulo: Autores Associados, 1997.PORTO Jr., Gilson. Anísio Teixeira e a UnB: um breve olhar. In: PORTO Jr. Gilson (Org.) Anísio Teixeira e o ensino superior. Brasília: Bárbara Bela, 2001, p. 205-230. PORTO Jr., Gilson. Raízes da modernidade: a construção do sonho liberal republicano. In: PORTO Jr. Gilson (Org.) Raízes da Modernidade: opensamento de Fernando de Azevedo. Brasília: Ativa, 2004, p. 15-40. VILLALOBOS, João Eduardo Rodrigues. Diretrizes e Bases da Educação:Ensino e Liberdade. São Paulo: Pioneira, 1969.