características gerais da poesia camoniana

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Características Gerais da Poesia Camoniana Características da corrente tradicional As formas poéticas tradicionais: cantigas, vilancetes, esparsas, endechas, trovas... Uso da medida velha: redondilha menor e maior. Temas tradicionais e populares; a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; o ambiente cortesão com as suas “cousas de folgar” e as futilidades; a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena (a “Barbara, escrava”); a infelicidade presente e a felicidade passada. Características da corrente renascentista O estilo novo: soneto, canção, écloga, ode, entre outros. Medida nova: decassílabos. O amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano; A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e com o tratamento dado à Natureza (“locus amenus”), oscila igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior), representado pelo modelo de Laura e o modelo renascentista de Vénus. Camões traz-nos uma conjunção dessas duas correntes, de uma maneira bem subtil, que quase não conseguimos notar. O soneto clássico (que é o que Camões segue) segue a forma de duas quadras e dois tercetos, e nestes, a chave do poema geralmente se encontra no último verso do segundo terceto. Os versos são decassílabos e a rima segue o esquema abba / abab. Camões seguiu esta forma e adicionou certos aspectos que verificamos em vários dos seus sonetos. Ele usa nas duas primeiras quadras o exemplo da natureza, nos dando um exemplo concreto, e logo depois, nos dois tercetos ele interioriza (para o eu lírico) os sentimentos implícitos nas quadras. Usando muitas figuras de estilo, ele finaliza o soneto, classicamente, com a chave de ouro. Recursos Estilísticos Utilizados por Camões Anáfora: Repetição intencional de uma palavra ou palavras no início de frases ou versos seguintes, para destacar o que se repete. Antítese: Consiste no contraste entre dois elementos ou ideias. Comparação: Consiste em estabelecer uma relação de semelhança através de uma palavra, ou expressão comparativa, ou de verbos a ela equivalentes. Enumeração: Consiste na apresentação sucessiva de vários elementos (frequentemente da mesma classe gramatical) Eufemismo: Consiste em transmitir de forma atenuada uma ideia ou realidade que é desagradável

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  • Caractersticas Gerais da Poesia Camoniana

    Caractersticas da corrente tradicional

    As formas poticas tradicionais: cantigas, vilancetes, esparsas, endechas, trovas...

    Uso da medida velha: redondilha menor e maior.

    Temas tradicionais e populares; a menina que vai fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor

    simples e natural; a saudade e o sofrimento; a dor e a mgoa; o ambiente corteso com as suas

    cousas de folgar e as futilidades; a exaltao da beleza de uma mulher de condio servil, de olhos

    pretos e tez morena (a Barbara, escrava); a infelicidade presente e a felicidade passada.

    Caractersticas da corrente renascentista

    O estilo novo: soneto, cano, cloga, ode, entre outros.

    Medida nova: decasslabos.

    O amor surge, maneira petrarquista, como fonte de contradies, entre a vida e a morte, a gua e o

    fogo, a esperana e o desengano;

    A concepo da mulher, outro tema essencial da lrica camoniana, em ntima ligao com a temtica

    amorosa e com o tratamento dado Natureza (locus amenus), oscila igualmente entre o plo

    platnico (ideal de beleza fsica, espelho da beleza interior), representado pelo modelo de Laura e o

    modelo renascentista de Vnus.

    Cames traz-nos uma conjuno dessas duas correntes, de uma maneira bem subtil, que quase no

    conseguimos notar.

    O soneto clssico (que o que Cames segue) segue a forma de duas quadras e dois tercetos, e nestes,

    a chave do poema geralmente se encontra no ltimo verso do segundo terceto. Os versos so

    decasslabos e a rima segue o esquema abba / abab. Cames seguiu esta forma e adicionou certos

    aspectos que verificamos em vrios dos seus sonetos. Ele usa nas duas primeiras quadras o exemplo da

    natureza, nos dando um exemplo concreto, e logo depois, nos dois tercetos ele interioriza (para o eu

    lrico) os sentimentos implcitos nas quadras. Usando muitas figuras de estilo, ele finaliza o soneto,

    classicamente, com a chave de ouro.

    Recursos Estilsticos Utilizados por Cames

    Anfora: Repetio intencional de uma palavra ou palavras no incio de frases ou versos seguintes,

    para destacar o que se repete.

    Anttese: Consiste no contraste entre dois elementos ou ideias.

    Comparao: Consiste em estabelecer uma relao de semelhana atravs de uma palavra, ou

    expresso comparativa, ou de verbos a ela equivalentes.

    Enumerao: Consiste na apresentao sucessiva de vrios elementos (frequentemente da mesma

    classe gramatical)

    Eufemismo: Consiste em transmitir de forma atenuada uma ideia ou realidade que desagradvel

  • Hiprbole: Consiste no emprego de uma expresso que exagera o pensamento para dar mais nfase

    ao discurso.

    Ironia: Consiste em atribuir s palavras um significado diferente daquele que na realidade tm.

    Metfora: Consiste em designar um objecto ou uma ideia por uma palavra (ou palavras) de outro

    campo semntico, associando-as por analogia. Se, no contexto, essa analogia por vezes fcil de

    identificar, outras vezes permite interpretaes diversificadas...

    Paradoxo: Expressa uma contradio, atravs da simultaneidade de elementos contrrios.

    Perfrase: Consiste em dizer por vrias palavras o que poderia ser dito por algumas ou apenas uma.

    Personificao: Consiste na atribuio de propriedades humanas a animais irracionais ou a seres

    inanimados.

    ENDECHA

    Termo derivado do latim indicta, declarao das virtudes dos mortos, designa a composio potica

    que tem origem no epicdio grego, canto fnebre, variante da elegia e do treno ou trenodia, termos com

    que entre os gregos se cunhavam as ladainhas ou cantos fnebres. A trenodia e o epicdio podem

    considerar-se variedades do encmio j que a lamentao fnebre era antes de mais um hino elogioso. A

    distino entre trenodia e epicdio resulta da primeira ser cantada junto ao corpo do defunto ao passo que

    tal podia no suceder com a segunda composio. A trenodia possui a variante mondia, canto triste e

    solitrio de tom fnebre. O epicdio, a trenodia e a mondia correspondem s nnias latinas, ladainhas ou

    oraes cantadas pelas carpideiras em memria dos defuntos durante as procisses funerrias em Roma. O

    epicdio foi cultivado, por exemplo, por Catulo e Ovdio e a trenodia por Pndaro e Proprcio. Estas

    composies poticas foram introduzidas no Cristianismo estando presentes nas lamentaes bblicas de

    Jeremias. Na Idade Mdia, os poetas ligaram a forma latina aos temas cristos no canto de devoo aos

    mortos.

    A endecha seguiu na Europa esta tradio elegaca como em Inglaterra ilustram a Exequy (Poems,

    Elegies, Paradoxes and Sonnets, 1657) de Henry King e a cano de Ariel morte do pai de Ferdinand em

    The Tempest (1611) de W. Shakespeare. A endecha distingue-se da elegia por ser um poema mais curto e,

    na sua origem, destinado a ser cantado.

    Em Portugal, a endecha foi cultivada do sc.XVI ao sc.XVIII e no possui o fundo fnebre

    originrio. Trata-se antes de uma composio de tom melanclico e triste em versos de cinco ou seis

    slabas geralmente agrupados em quadras segundo os esquemas rimticos ABCB, ABAB ou ABBA. O plural

    endechas deve-se ao facto de a cada quadra se atribuir a designao de endecha e o poema ser constitudo

    por mais de uma estrofe. A famosa composio de Cames a uma cativa com quem andava de amores na

    ndia, chamada Brbara exemplo de endechas apesar de em algumas edies da Lrica tambm ser

    designada de trovas. As endechas foram ainda cultivadas por outros poetas tais como Rodrigues Lobo ou

    Correia Garo

    CLOGA (OU GLOGA)

  • Poema em forma de dilogo ou de solilquio sobre temas rsticos, cujos intrpretes so em regra

    pastores. Inicialmente, o termo, que significava "poesia seleccionada", foi aplicado aos poemas buclicos de

    Virglio. A partir da, aplica-se s pastorais e aos idlios tradicionais que Tecrito e outros poetas sicilianos

    escreveram. Outros poetas italianos como Dante, Petrarca e Boccaccio recuperaram o gnero, que acabaria

    por se tornar um dos preferidos dos poetas renascentistas e maneiristas europeus. A grafia gloga,

    popularizada por Dante, parte de uma falsa etimologia latina que derivava de aix ("cabra, bode") e logos

    ("palavra", "discurso", "dilogo"). De acordo com o comentrio irnico do poeta ingls Spenser, em "E. K.",

    ter sido construda para significar qualquer coisa como "Goteheards tales" ("contos de cabreiros").

    Lus de Cames, Bernardim Ribeiro, Antnio Ferreira e S de Miranda esto entre os muitos poetas

    portugueses que nos legaram poemas do gnero. As suas composies seguem os modelos clssicos, no

    existia at ento qualquer teorizao portuguesa sobre as clogas. A rigor, nem os modelos clssicos

    (Horcio e Diomedes) teorizam em particular sobre a cloga. O que sabemos sobre as regras da cloga

    advm dos prprios textos. No caso portugus, s em 1605 Francisco Rodrigues Lobo teoriza sobre o

    assunto em Discurso sobre a Vida e o Estilo dos Pastores (1605). Os poetas rcades do sculo XVIII ainda

    exploram o gnero tendo mesmo teorizado sobre a cloga, como Dinis da Cruz e Silva. Um dos melhores

    intrpretes da cloga nesta poca Joo Xavier de Matos, destacando-se Albano e Damiana (1758).

    A cloga clssica parte quase sempre de um quadro idlico, o locus amoenus ou lugar aprazvel, e

    desenvolve com certa brevidade o louvor de uma pessoa, por razes sentimentais, reflecte sobre a

    condio do poeta e/ou da prpria poesia, ou entretm-se com subtilezas polticas ou religiosas. Outro

    tema clssico das clogas o da libertao espiritual, a renncia aos bens terrenos e sociais para uma total

    entrega natureza e aos mais puros ideiais de vida perseguindo a chamada aurea mediocritas. O longo

    poema de S de Miranda conhecido por "cloga Basto" ilustra este desejo: "Quando tudo era falante /

    pascia um cervo um bom prado ...".