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CARACTERIZAÇÃO DA SITUAÇÃO DE REFERÊNCIA DO
EMISSÁRIO DA FOZ DO ARELHO E DA LAGOA DE ÓBIDOS
Relatório Semestral – Campanhas de Outubro de 2004 e Março de
2005
TCoordenação Científica: Carlos Vale, Patrícia Pereira
Equipa Científica e Técnica: Patrícia Pereira, Miguel Caetano, Ana Maria Ferreira, Odete Gil, Paulo Antunes, Joana Amado, Miguel Gaspar, Susana Carvalho, Manuela Falcão, Maria de Jesus Vicente, Maria de Lurdes Inácio, Cristina Micaelo, Pedro Brito, João Canário, Hilda de Pablo, Rute Cesário, Marta Martins, Frederico Rosa Santos, Dolores Luz e Isabelina Santos, Carlos Vale.
ABRIL DE 2005
IPIMARIPIMARIPIMAR
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1 OBJECTIVO DO TRABALHO
O presente relatório refere-se às duas primeiras campanhas de amostragem na zona do
futuro emissário submarino da Foz do Arelho e Lagoa de Óbidos, realizadas em Outubro de
2004 e Março de 2005. A caracterização ambiental apresentada neste trabalho foi elaborada
no âmbito do protocolo de colaboração entre o IST e o IPIMAR com vista a monitorizar a
situação ambiental na zona de descarga do emissário submarino da Foz do Arelho e Lagoa de
Óbidos.
Este relatório apresenta uma avaliação da qualidade da água da Lagoa e caracterização da
água na zona do futuro emissário. Os parâmetros analisados foram: (a) concentrações de
contaminantes metálicos (Cu, Cr, Ni, Pb, Hg, Cd e Zn) e orgânicos (PAH, PCB e DDT) na
matéria particulada em suspensão, fracção dissolvida, sedimentos e macroalgas; (b)
nutrientes, clorofila a e feopigmentos. Nos sedimentos identificaram-se as comunidades
bentónicas.
2 AMOSTRAGEM
Em 7 e 12 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005 foram realizadas campanhas de
amostragem em 5 estações na Lagoa de Óbidos e em 2 estações na zona do futuro emissário
da Foz do Arelho. A Tabela 1 apresenta as coordenadas geográficas das estações acima
referidas e a Figura 1 a sua localização. Recolheram-se amostras de água no interior da
Lagoa em duas condições de maré e na zona do emissário a três níveis da coluna de água
(superfície, meio e fundo) com vista a uma caracterização físico-química (salinidade, pH,
temperatura oxigénio dissolvido), determinação de nutrientes na fracção dissolvida e
determinação de metais e compostos orgânicos na matéria particulada em suspensão. No
interior da Lagoa procedeu-se ainda à recolha de amostras da macroalga Ulva sp. e de
sedimentos superficiais com o auxílio de uma draga tipo Van Veen. Os sedimentos foram
homogeneizados e processados de forma diferente, tendo em vista a análise a realizar. Os
sedimentos destinados à determinação de carbono, azoto, clorofila a, feopigmentos e
contaminantes foram recolhidos com uma espátula descontaminada e colocados em sacos de
polipropileno igualmente descontaminados e colocados numa arca refrigerada. Foi, ainda,
retirada uma porção de sedimento com cerca de 500g para análise granulométrica e matéria
orgânica e o restante sedimento (cerca de 5 kg) foi recolhido para a análise da macrofauna
bentónica após uma primeira triagem seguida de fixação com solução de formol a 10%.
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Tabela 1. Coordenadas geográficas das estações de amostragem na Lagoa de Óbidos (#1 - #5) e na zona do emissário da Foz do Arelho (EM#1 – EM#2)
Campanha Estação Coordenadas
(xm) Coordenadas
(ym)
#1 273961 105714
#2 273684 106600
#3 273333 106014
#4 271078 108336
07/10/04
#5 270518 106928
EM#1 276122 104173 12/10/04
EM#2 277121 105173
#1 273961 105714
#2 272961 106729
#3 272089 107093
#4 271078 108336
#5 270518 106928
EM#1 276122 104173
03/10/04
EM#2 277121 105173
Figura 1. Localização das estações de amostragem na Lagoa de Óbidos e zona do emissário da Foz do
Arelho a 7 e 12 de Outubro de 2004.
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Figura 2. Localização das estações de amostragem na Lagoa de Óbidos e zona do emissário da Foz do
Arelho a 3 de Março de 2005.
3 DETERMINAÇÕES E OBSERVAÇÕES IN SITU
3.1. Águas
A leitura da salinidade, pH e temperatura na coluna de água foi feita in situ, com uma sonda
multiparamétrica. Os teores de OB2 B foram determinados pelo método de Winkler. Foram ainda
traçados os perfis de salinidade, temperatura, clorofila a e turbidez com recurso a um CTD+F
(MiniPack) e a um turbidímetro (MiniTracka), ambos da Chelsea Instruments. Estas medições
foram realizadas no dia 9 de Março, durante a preia-mar, que ocorreu às 14h16min. Os
valores de salinidade são calculados automaticamente, pelo software, através dos valores de
condutividade medidos por indução, e não através do método tradicional de eléctrodos em
contacto com a água. No cálculo da salinidade entra, ainda, a temperatura, a qual é medida
por uma resistência de platina, de resposta rápida (300 msec.).
A concentração de clorofila a é determinada por fluorimetria (emissão de 685 nm, detecção
de 430 nm), recorrendo à iluminação da água por um LED de alta intensidade, modulado por
um relógio de alta precisão. A turbidez é determinada de modo semelhante ao da clorofila a,
ou seja, por fluorimetria. Neste caso é utilizado um comprimento de radiação diferente
recorrendo a filtros específicos (emissão de 470 nm, detecção de 470 nm). Todos estes
valores são fornecidos pelo equipamento juntamente com os valores de pressão
(profundidade), medidos por um transdutor de pressão com compensação de temperatura.
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3.2. Sedimentos
Previamente ao processamento das amostras de sedimentos, foram medidos os valores do
pH e do potencial redox (EBH B). Foi, ainda, realizada uma análise macroscópica da fauna
bentónica e das características sedimentológicas. O pH e o potencial redox foram medidos
através de um aparelho portátil digital Crison mod. 507 com controlo de temperatura,
acoplado a um eléctrodo combinado para medir o pH, Mettler-Toledo, calibrado com tampões
(4.00, 7.00 e 10.00 ± 0.02 a 20ºC). O potencial redox (EBh B) foi medido através de um
eléctrodo combinado, igualmente Mettler-Toledo com um sistema Ag/AgCl-Platina calibrado
com uma solução que estabelece na interface um potencial de 220 ± 5 mV vs. Ag/AgCl a
25ºC. Os valores medidos para o potencial redox foram depois convertidos para os potenciais
normais de hidrogénio (EBHB).
4 METODOLOGIAS ANALÍTICAS
4.1. Recolha de amostras de água
As águas superficiais foram recolhidas directamente em frascos de polipropileno a 20-30 cm
de profundidade. As amostras de fundo (zona do emissário) foram recolhidas com uma
garrafa de Niskin e colocadas em frascos de polipropileno. Paralelamente, foi também
realizada a colheita de águas para frascos escuros de 250 mL, que eram imediatamente
envolvidos em manga escura e colocados em arcas refrigeradas (determinação de clorofila a
e feopigmentos) e em frascos de Winkler de 250 mL para determinação do oxigénio
dissolvido, sendo o OB2 B imediatamente fixado com reagentes apropriados.
4.2. Determinação de nutrientes na fracção dissolvida
No laboratório, as amostras foram de imediato filtradas através de membranas Nuclepore
com 0.45 µm de porosidade e congeladas a -4 ºC para análise de nutrientes: amónia-NHB4PB
+P,
nitritos-NOB2 PB
-P, nitratos-NO B3 PB
-P, silicatos-Si(OH) B4 B fosfatos-POB4 PB
3-P, azoto orgânico total-NOT e
fósforo orgânico total-POT. Os compostos de azoto, fósforo e silício foram analisados por
colorimetria num autoanalisador “Skalar” com quatro canais em simultâneo, tendo-se
aplicado a metodologia “Technicon Industrial Methods” descrita em Falcão (1997). Os limites
de detecção foram 0.2 µM para a amónia e silicato e 0.05 µM para o nitrito, nitrato e fosfato
com erros de precisão <1%. O azoto total e fósforo total foram determinados, após oxidação
com peroxidissulfato a 120 ºC em autoclave, pelo método colorimétrico (Grassoff, 1976).
4.3. Determinação de metais na fracção dissolvida
Filtrou-se entre 250 e 1000 mL de água através de filtros de acetato de celulose de 0.45 µm,
cerca de 100 mL do filtrado foi acidificado para posterior determinação do mercúrio reactivo.
Para análise do mercúrio dissolvido, utilizou-se o método de espectrofotometria de
fluorescência atómica com vapor frio. Para determinação de Ni, Cu, Cd e Pb na fracção
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dissolvida recolheram-se cerca de 2.5 L de água em frascos descontaminados com HNOB3 B
(20%), onde se colocou durante 48 horas uma unidade DGT (diffusive gradient in thin film),
a temperatura constante. O processo de extracção de cada unidade DGT corresponde à
difusão dos metais dissolvidos (fracção <0.45 µm) através de uma membrana de nitrato de
celulose e retenção em resina quelante. Posteriormente esta resina foi eluída numa solução
de HNO B3B e determinados os teores de metais por ICP-MS.
4.4. Matéria particulada em suspensão
As amostras de água foram filtradas através de membranas de policarbonato com
porosidade de 0.45 µm e os filtros secos a 40 ºC até peso constante. A concentração de
matéria particulada em suspensão foi calculada como sendo a massa de partículas retidas no
filtro por unidade de volume (mg LP
-1P).
4.5. Determinação de carbono orgânico, clorofila a e feopigmentos na matéria
particulada em suspensão
As amostras de água foram filtradas através de membranas Millipore de fibra de vidro, secas
a 60 ºC e as partículas de matéria em suspensão foram cuidadosamente retiradas e pesadas
numa micro-balança antes e após incineração a 450ºC para determinação da fracção total e
inorgânica de carbono. Posteriormente foram colocadas em micro cápsulas de estanho e
passadas através de uma coluna de oxidação com enchimento de: óxido de crómio(III) e
óxido de cobalto e prata a 1000ºC, num analisador CHN “Carlo-Erba” Mod. 1106, com
padrão de acetanilida (CB8 BH B9 BNO) (Byers et al., 1978). As amostras de água para a
determinação de clorofila a e feopigmentos foram filtradas através de membranas Nuclepore
de policarbonato com porosidade de 0.45 µm. As partículas em foram extraídas com acetona
a 90% e o teor em clorofila a e feopigmentos foi determinado com um espectrofotómetro
Hitachi 150-20 de acordo com o método de Lorenzen (1967).
4.6. Determinação de metais na matéria particulada em suspensão, sedimentos e
Ulva sp.
As partículas retidas no filtro foram mineralizadas através de uma mistura de soluções ácidas
(Rantala & Loring, 1977). Os sedimentos e macroalgas foram liofilizados, moídos em
almofariz de ágata, mineralizados com uma mistura de soluções ácidas de forma a realizar
uma dissolução total da matriz (Rantala & Loring, 1977). As concentrações de metais nas
soluções obtidas foram determinadas por espectrometria de absorção atómica à chama e por
câmara de grafite (equipamento da marca Perkin-Elmer) e por ICP-MS. Para a determinação
de Hg as amostras de sedimento seco foram analisadas sem qualquer preparação prévia por
espectrometria de absorção atómica através de um analisador de mercúrio da LECO, modelo
AMA 254 Mercury Analyser. As concentrações destes metais foram determinadas através do
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método de adição padrão ou por interpolação na curva de calibração calculada a partir dos
teores obtidos com padrões internacionais certificados.
4.7. Determinação de compostos organoclorados na matéria particulada em
suspensão, sedimentos e Ulva sp.
Para a análise dos compostos organoclorados na matéria particulada em suspensão as
amostras de água foram filtradas sob pressão de azoto, no local da colheita, utilizando filtros
de fibra de vidro Gelman tipo a/E de 142 mm de diâmetro. Os filtros foram lavados com
hexano e mantidos na mufla a 350 ºC durante 17 horas, pesados e guardados em folhas de
alumínio. Após a filtração passou-se água destilada e os filtros secos numa estufa a 40 ºC.
Os organoclorados existentes na matéria particulada em suspensão, sedimentos e Ulva sp.
foram removidos através de uma extracção em Soxhlet com solvente orgânico durante 16
horas. Os extractos foram sujeitos a um clean-up numa coluna de Florisil e posteriormente
tratados com ácido sulfúrico. Periodicamente foram efectuados ensaios em branco para
controlo do processo analítico. A identificação e quantificação destes compostos foi efectuada
num cromatógrafo gás-líquido Hewlett-Packard equipado com um detector de captura de
electrões e uma coluna capilar J&W, DB5 (60m). Analisaram-se 18 congéneres de PCB
(CB18, CB26, CB44, CB49, CB52, CB101, CB105, CB118, CB128, CB138, CB149, CB151,
CB153, CB170, CB180, CB183, CB187, CB194), o p,p’-DDT e seus metabolitos (pp’DDE e
pp’DDD). Neste relatório designa-se por tPCB a soma das concentrações dos congéneres de
PCB e por DDT a soma das concentrações de p,p’-DDE, p,p’-DDD e p,p’-DDT. A quantificação
dos vários compostos foi efectuada através de soluções padrão, utilizando o método do
padrão externo.
4.8. Determinação de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) na matéria
particulada em suspensão e sedimentos
Os sedimentos foram extraídos em Soxhlet durante 36h com uma mistura de
hexano/acetona (1:1), adicionando-se uma solução com compostos deuterados como padrão
interno. Os extractos depois de purificados com uma coluna de sílica/alumina (1:1) foram
injectados em modo SIM num cromatógrafo acoplado a espectrómetro de massa GCQ, com
coluna capilar J&W, DB5 (30m) e amostrador automático. A quantificação dos compostos
(acenaftileno, acenafteno, fluoreno, fenantreno, antraceno, fluoranteno, pireno,
benzo[α]antraceno, criseno, benzo[β]fluoranteno, benzo[K]fluoranteno, benzo[α]pireno,
dibenzo[α,h]antraceno, benzo[ghi]perileno, indeno[1,2,3-cd]pireno) foi efectuada através de
soluções padrão com o método do padrão interno. A validação dos resultados foi efectuada
através da análise de padrões internacionais certificados (National Research Council of
Canada e United States Geological Survey). Designa-se por PAH a soma de todos os
compostos analisados.
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4.9. Determinação de matéria orgânica, carbono e azoto total e orgânico em
sedimento
A percentagem de matéria orgânica total foi determinada pela diferença entre o peso da
amostra (cerca de 200 mg) de sedimento seca numa estufa a 60ºC e o peso da mesma
amostra depois de incinerada numa mufla a 450ºC até peso constante (Castro, 1997). Para a
determinação dos teores de carbono e azoto total e orgânico da camada superficial dos
sedimentos, as amostras foram moídas até à obtenção de pó fino, sendo seguidamente
colocadas em micro cápsulas de estanho e passadas através de uma coluna de oxidação com
enchimento de óxido de crómio (III) e óxido de cobalto e prata, a 1000 ºC, num analisador
CHN “Carlo-Erba” Mod. 1106, com padrão de acetanilida (Byers et al., 1978).
4.10. Análise da macrofauna bentónica
Em cada estação de amostragem recolheram-se 3 replicados usando uma draga Van Veen
(0.05 mP
2P). As amostras foram lavadas sobre um crivo de 0.5 mm de malha, por forma a
eliminar o sedimento mais fino. O material retido no crivo foi guardado em caixas plásticas,
devidamente etiquetadas, e conservado em formol a 4%, neutralizado com carbonato de
cálcio, ao qual foi adicionado o corante vital Rosa de Bengal. As amostras de macrofauna
bentónica foram lavadas em água corrente sobre um crivo com 0.5 mm de malha, de modo
a eliminar a solução de formol e os sedimentos finos ainda presentes. O material retido no
crivo foi triado, separando os animais em grandes grupos taxonómicos, posteriormente
conservados em etanol a 70%. A identificação foi realizada em lupas binoculares, sempre
que possível ao nível específico.Com o intuito de avaliar os potenciais impactes ambientais
decorrentes da entrada em funcionamento do emissário submarino ao largo de Óbidos, foi
desenvolvida uma estratégia de amostragem que envolvia 11 estações em torno da saída do
emissário. Contudo, em virtude da tipologia de fundo ser predominantemente de natureza
rochosa, foi impossível a amostragem desta área, recorrendo ao amostrador selecionado
(draga Van Veen). Atendendo a que não é igualmente viável outro tipo de amostragem,
apenas se apresentam os dados recolhidos no interior da lagoa.
4.11. Análise estatística
A estrutura das comunidades macrobentónicas foi analisada recorrendo ao cálculo de índices
univariados (número de taxa, abundância, índices de diversidade de Shannon-Wiener e de
equitabilidade de Pielou) e a métodos multivariados. A matriz de abundância por replicado e
estação amostragem foi submetida a uma transformação de raíz quarta, aplicando-se, de
seguida, uma análise de classificação e de ordenação. Nestas análises multivariadas foi,
igualmente, aplicado o coeficiente de similaridade de Bray-Curtis e o método aglomerativo
das ligações médias. As análises multivariadas foram realizadas recorrendo ao programa
PRIMER v5.0 (Plymouth Routines in Multivariate Ecological Research). A rotina SIMPER foi
utilizada por forma a determinar as espécies que melhor discriminam os diferentes grupos
faunísticos encontrados.
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5 RESULTADOS
Neste relatório são apresentadas as características das amostras de água e sedimentos
recolhidos em duas campanhas realizadas na Lagoa e na Zona do Emissário (7 e 12 de
Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005). A interpretação destes resultados deve ser
considerada, ainda, preliminar por ser necessário cruzar dados registados nos diferentes
compartimentos e integrar informação obtida anteriormente.
5.1. Coluna de água da Lagoa
As amostras de água foram recolhidas em locais distintos da Lagoa em duas situações de
maré em cada campanha. A Tabela seguinte apresenta as condições de marés no porto de
Peniche para as datas das campanhas de amostragem.
Tabela 2. Condições de maré no Porto de Peniche nos dias de amostragem
Dia/Hora Altura (m) 2004-10-07 09:08 2.56 Preia-Mar 2004-10-07 15:58 1.64 Baixa-Mar 2005-03-03 07:09 2.77 Preia-Mar 2005-03-03 13:19 1.20 Baixa-Mar
5.1.1. Salinidade, temperatura, pH e oxigénio dissolvido
Os dados obtidos são apresentados na Tabela 3. Os resultados indicam que nestes dois
períodos a Lagoa tinha pouca influência de água doce (salinidade superior a 30), valores de
pH próximos de 8, e boa oxigenação durante o dia, com níveis muito superiores a 100% de
saturação nas estações 3, 4 e 5 na amostragem de Outubro.
Tabela 3. Dados de salinidade, temperatura, pH e oxigénio dissolvido na coluna de água da Lagoa em 7 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005
Campanha Estação Hora Salinidade
Temperatura (ºC)
pH O2 (mg/L)
O2 (% de
saturação) 9:00 35.8 16.0 (a) 5.3 66 #1 15:15 35.8 18.0 - 8.9 117
9:15 35.8 15.5 - 5.0 61
#2 15:30 35.8 18.5 - 10.0 132
9:45 35.8 16.0 - 8.6 109
#3 15:45 35.8 18.5 - 9.6 127
10:30 29.6 21.0 - 8.5 114 16:45 36.6 22.0 - 18.2 257
#4
07/10/04
#5 10:00 35.4 19.5 7.3 98
10
Salinity profile of all stations
020406080
100120140160180
20 25 30 35 40Concentration (gr/L)
Dep
th (c
m)
st 1b - 14:18
st 2 - 14:25
st 5 - 14:42
st 4 - 14:35
Temperature profile of all stations
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
11,7 11,9 12,1 12,3 12,5 12,7 12,9 13,1 13,3Temperature (ºC)
Dep
th (c
m)
st 1b - 14:18
st 2 - 14:25 st 4 - 14:35
st 5 - 14:42
16:15 35.7 20.0 11.5 156
10:00 35.8 12.2 8.2 8.9 104 #1 16:00 35.4 11.5 8.3 9.4 109
10:30 35.9 11.8 8.3 10.2 118
#2 16:15 35.0 11.0 - 10.4 121
10:45 34.3 10.5 8.1 9.8 113
#3 16:30 35.2 11.5 8.3 9.8 113
11:15 32.7 10.5 8.3 - - #4
15:45 31.9 12.0 9.5 13.3 150
12:00 34.0 10.0 8.3 9.5 109
03/03/05
#5 15:15 34.1 10.5 8.5 13.0 150
(a) valores de pH não registados por dificuldades com o equipamento
5.1.2. Observações in situ
Com vista a obter uma imagem mais detalhada da variação espacial de alguns parâmetros
interpretativos, nomeadamente salinidade, temperatura, turbidez e clorofila a, foram
realizadas medições com sensores específicos. A figura 3 mostra os perfis verticais destes
parâmetros registados no dia 9 de Março com diferenças de minutos entre as várias estações
de amostragem. Observou-se o seguinte:
(i) a salinidade foi inferior na estação 4 e a turbidez superior, reflectindo a entrada
esporádica de água doce na zona interior da Lagoa;
(ii) nestas zonas interiores a temperatura da água variou com a profundidade;
(iii) a clorofila a foi mais elevada na zona central e interior da Lagoa e registou-se um
aumento com a profundidade, o que sugere a presença de produtores primários junto
ao fundo, nomedamente macroalgas e microfitobentos.
Turbidity profile of all stations
020406080
100120140160180
0 2 4 6 8 10Turbidez (FTU)
Dep
th (c
m)
st 1b - 14:18
st 2 - 14:25
st 5 - 14:42
st 4 - 14:35
Chlorophyll a profile of all stations
020406080
100120140160180
0 5 10 15Concentration (umol/L)
Dep
th (c
m)
st 1b - 14:18
st 2 - 14:25
st 4 - 14:35
st 5 - 14:42
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Figura 3. Perfis verticais de algumas propriedades fisico-químicas da coluna de água da Lagoa (elevada resolução espacial)
5.1.3. Nutrientes, clorofila a e feopigmentos
As concentrações dos nutrientes (amónia, nitratos, nitritos, sílica, fosfatos, azoto orgânico,
fósforo orgânico) nas águas da Lagoa mostram um incremento muito acentuado na estação
4, localizada no interior da Lagoa. As diferenças foram mais evidentes na 1ª campanha de
amostragem. A estação 5, localizada na parte superior da Lagoa, apresentou também níveis
elevados de nutrientes. Este padrão de distribuição sugere a existência de fontes na parte
montante, provavelmente de natureza difusa, ou remineralização bêntica de nutrientes mais
intensa nesta zona da lagoa. A troca de nutrientes entre o sedimento e a água é favorecida
pela provável redução dos valores de oxigénio dissolvido junto ao fundo durante a noite.
Os teores de Clorofila a foram, em todas as estações, mais elevados na campanha de Março,
estando de acordo com o normal padrão de variação de produção biológica e, tal como
verificado para os nutrientes dissolvidos, os teores mais elevados em Março registaram-se
nas estações mais interiores da lagoa (#4 e #5).
Tabela 4. Concentrações de nutrientes (amónia, nitratos, nitritos, silicatos, azoto orgânico e fósforo orgânico-µM), clorofila a e feopigmentos (ug/L) na coluna de água da Lagoa de Óbidos em 7 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005
Campanha Estação Hora NHB4
(µM)
NOB3
(µM)
NOB2
(µM)
SiOB2
(µM)
POB4PB
3-PB
(µM)
Norg (µM)
Porg (µM)
Clor (µg/L)
Feop (µg/L)
9:00 1.2 1.2 0.19 0.03 0.22 1.0 0.60 1.1 <0.05 #1 15:15 2.5 8.3 0.34 0.80 0.15 0.50 1.1 0.05 <0.05
9:15 2.5 0.94 0.24 0.62 0.14 1.3 0.47 0.2 <0.05
#2 15:30 3.9 3.8 0.26 0.53 0.15 0.20 1.0 0.05 <0.05
9:45 1.9 0.76 0.19 0.79 0.14 4.3 0.80 11 <0.05
#3 15:45 1.6 0.55 0.14 0.47 0.14 0.88 1.2 2.1 <0.05
10:30 52 0.050 7.6 33 13 0.98 19 0.05 7.3 16:45 22 4.2 3.5 4.5 2.2 0.20 7.5 7.4 <0.05
#4
10:00 7.9 0.46 0.78 3.2 1.1 2.1 2.0 0.05 <0.05
07/10/04
16:15 3.4 0.53 0.38 5.4 0.65 0.33 2.7 0.05 <0.05
#5
10:00 0.67 0.46 0.13 0.94 0.90 2.1 0.54 2.1 0.11 #1 16:00 2.4 0.59 0.25 0.89 0.92 2.7 0.60 1.1 <0.05
10:30 3.1 2.6 0.11 0.92 0.86 3.8 0.30 1.1 0.43
#2 16:15 5.8 8.2 0.54 0.87 1.1 6.6 0.43 4.3 13
10:45 7.9 3.7 0.45 1.1 1.1 1.4 3.4 3.2 <0.05
#3 16:30 4.2 2.1 0.39 0.84 1.0 7.4 0.52 1.1 0.43
11:15 33 4.2 2.6 0.92 2.0 0.71 5.3 3.2 1.3
#4 15:45 33 1.6 2.3 0.85 2.9 1.1 2.5 7.5 <0.05
12:00 6.0 9.5 0.84 0.88 1.4 0.90 1.4 5.3 <0.05
03/03/05
#5 15:15 4.1 1.3 0.48 4.5 1.2 2.8 0.55 9.6 <0.05
12
5.1.4. Carbono e Azoto na fracção particulada
Os níveis de carbono total na matéria particulada em suspensão foram inferiores a 0.8% e os
de azoto geralmente menores que 0.001%. Mais de 90% do carbono encontra-se em formas
orgânicas, com excepção das estações #2 e #4.
Tabela 5. Carbono total (Ct), Carbono orgânico (Corg) e inorgânico (Cinorg), Azoto total (Nt) e Azoto orgânico (Norg) na matéria particulada em suspensão na Lagoa de Óbidos em 7 de Outubro de 2004. Análises relativas à campanha de 03/03/05 em processamento
Campanha Estação Hora Ct B
(%)
Corg/Ct (%)
Cinorg/Ct (%)
Nt (%)
Norg/Nt (%)
9:00 0.59 92 7.5 0.044 100 #1 15:15 0.37 89 11 <0.001 -
9:15 0.30 85 15 <0.001 -
#2 15:30 0.32 92 7.6 <0.001 -
9:45 0.43 91 9.4 <0.001 -
#3 15:45 0.33 90 10 <0.001 -
10:30 0.17 76 24 <0.001 - 16:45 0.73 95 4.6 0.047 100
#4
10:00 0.63 92 7.7 <0.001 -
07/10/04
16:15 0.68 92 8.3 0.004 100
#5
5.1.5. Metais na fracção dissolvida e particulada
Os teores de alguns metais analisados na fracção dissolvida apresentaram diferenças entre
os locais e as horas de amostragem. Os níveis de Cd e Hg, que normalmente são indicadores
de contaminação ambiental, foram baixos em todas as situações, embora teores
ligeiramente mais elevados de Hg reactivo tenham sido por vezes registados nas estações 1,
2 e 3. Os teores dos metais foram baixos quando comparados com outros ambientes
estuarinos e, por isso, indicativos da reduzida intensidade das emissões antropogénicas.
Tabela 6. Concentração de metais (µg/L) na fracção dissolvida da coluna de água na Lagoa em 7 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005
Campanha Estação Hora NiB
(µg/L) Cu
(µg/L) Pb
(µg/L) Cd
(ng/L)
Hg (ng/L)
9:00 0.28 0.21 0.46 8.5 10 #1 15:15 0.14 0.17 0.36 8.6 13
9:15 0.069 0.15 0.36 4.4 3.9
#2 15:30 0.17 0.17 0.39 6.6 3.1
9:45 0.27 0.45 0.42 9.4 9.7
#3 15:45 0.10 0.42 0.52 5.6 5.2
10:30 0.24 0.52 0.46 8.1 6.0 16:45 0.088 0.17 0.28 4.4 1.7
#4
10:00 0.25 0.52 0.29 6.0 0.89
07/10/04
16:15 0.11 0.41 0.35 5.3 1.6
#5
10:00 0.30 - 0.48 5.3 10.7 #1 16:00 0.19 0.49 0.45 5.6 4.1
10:30 0.214 0.59 0.33 4.2 9.5
03/03/05
#2 16:15 0.63 0.77 0.57 7.6 5.4
13
10:45 0.43 0.65 1.04 19 11.9
#3 16:30 0.50 1.00 0.51 10 8.5
11:15 0.35 1.13 0.43 4.7 1.2
#4 15:45 0.46 0.75 0.44 7.1 3.1
12:00 1.04 0.82 0.62 17 6.1
#5 15:15 0.36 0.69 0.45 8.3 0.67
Os teores dos metais analisados na fracção particulada apresentaram também diferenças
consideráveis entre as amostras, provavelmente explicadas pelas diferenças na natureza das
partículas que se mantêm em suspensão em cada local no tempo de amostragem. Contudo,
verificou-se que os teores de Cd e Pb são uniformemente baixos o que confirma a reduzida
contaminação do ecossistema.
Tabela 7. Concentração de metais na fracção particulada da coluna de água na Lagoa em 7 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005
Campanha Estação Hora Al (%)
Fe (%)
Mn (µg/g)
Zn (µg/g)
Cu (µg/g)
Cr (µg/g)
Ni (µg/g)
Pb (µg/g)
Cd (µg/g)
9:00 4.1 3.1 379 - 54 100 2.1 44 0.84 #1 15:15 4.1 2.0 217 2839 344 88 157 17 0.24
9:15 4.5 1.9 301 238 118 58 23 20 0.29
#2 15:30 2.6 1.2 92 2031 35 128 151 12 0.01
9:45 3.5 1.7 347 534 95 51 32 25 0.15
#3 15:45 5.6 2.9 544 383 325 - - 31 0.21
10:30 6.7 2.4 410 353 265 52 31 38 0.49 16:45 7.5 4.0 716 140 141 112 67 30 0.30
#4
10:00 5.0 1.6 307 177 291 82 69 25 0.18
07/10/04
16:15 4.4 1.2 243 154 227 53 40 15 0.01
#5
10:00 4.9 - 235 1144 41 29 53 37 0.90 #1 16:00 8.1 4.6 376 256 36 75 31 46 0.25
10:30 5.1 3.3 221 96 26 45 20 35 0.71
#2 16:15 7.0 3.6 318 119 30 65 25 36 0.09
10:45 10.6 3.5 363 247 18 58 22 42 0.29
#3 16:30 8.1 3.4 306 510 60 127 30 37 0.27
11:15 7.9 2.9 287 231 60 57 26 38 0.35
#4 15:45 6.2 3.4 312 175 42 58 23 48 0.90
12:00 5.1 - 353 353 12 39 20 25 0.29
03/03/05
#5 15:15 6.1 2.6 483 191 11 41 19 27 0.45
5.1.6. Níveis de PCB e PAH na fracção particulada
Devido à baixa concentração de material particulado em suspensão e à necessidade de maior
quantidade de material para a determinação destes compostos foi necessário juntar o
material recolhido nas estações 1, 2 e 3 que apresentam características mais semelhantes.
14
Os resultados obtidos nestas amostras compostas são apresentados na Tabela 8. Os níveis
de PCB e DDT são baixos, mas ligeiramente superiores nas estações mais interiores da Lagoa
(#4 e #5) do que na parte inferior. Por esta razão as determinações na segunda campanha
só foram realizadas naquelas estações. Foram registadas diferenças nas amostras recolhidas
em distintas horas da maré. Para os PAH, que podem ter uma origem natural e
antropogénica, registaram-se pequenas diferenças nos teores entre os locais amostrados.
Tabela 8. Concentrações de PCB e PAH em material particulado em suspensão na Lagoa em 7 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005 Campanha Estação Hora PCB
(ng / g) DDT
(ng / g) PAHs
(ng / g) - 12 5.9 #1+#2+#3 - 7.7 3.5
5740
10:30 8.1 9.5
#4 16:45 8.2 4.4 3470
10:00
#5
16:15 22 14
07/10/04
11:15 22 20 #4 15:45 5.9 11
3427
12:00 12 12
#5 15:15 7.3 7.6
3178 03/03/05
5.2. Sedimentos da Lagoa
Trabalhos anteriores mostraram a existência de um contraste acentuado em termos de
tamanho da partícula e composição elementar entre o material depositado na zona superior
da Lagoa e as areias da zona central e inferior.
5.2.1. Eh e pH
Os valores de Eh apontam para sedimentos surperficiais oxidados. Os valores de pH, apenas
registados na segunda campanha por razões técnicas, foram próximos de 7.
Tabela 9. Dados de Eh e pH em sedimentos da Lagoa
Campanha Estação EBh B
(mv) pH
#1 86 -
#2 11 -
#3 378 -
#4 319 -
06/10/04
#5 271 -
#1 499 7.1 03/10/04
#2 - 7.6
15
#3 - 7.4
#4 59 7.4
#5 - 7.6
5.2.2. Porosidade, LOI, carbono, azoto, clorofila a e feopigmentos
O carbono orgânico, a clorofila a e os feopigmentos foram notoriamente mais elevados nas
estações 4 e 5, devido à maior acumulação de matéria orgânica na zona mais interior da
Lagoa.
Tabela 10. Valores de porosidade, percentagens de carbono, azoto, LOI e concentrações de clorofila a e feopigmentos em sedimentos da Lagoa da campanha de 07/10/04; dados da campanha de 03/03/05 em processamento.
Campanha Estação Porosidade Ct (%)
Corg/Ct (%)
Cinorg/Ct (%)
Nt (%)
LOI (%)
Clor a (µg/g)
Feop (µg/g)
#1 0.25 0.31 0.32 93 <0.001 0.32 0.33 0.05
#2 0.20 0.25 64 0.14 <0.001 0.40 0.60 0.22
#3 0.30 1.1 47 1.3 <0.001 0.73 1.9 2.1
#4 0.69 1.5 93 0.12 <0.001 8.3 2.8 18
07/10/04
#5 0.75 1.8 93 0.14 <0.001 9.1 6.9 46
5.2.3. Níveis de Metais nos sedimentos
A composição elementar dos sedimentos de superfície é apresentada nas duas tabelas
seguintes. Os elementos maioritários (tabela 11) indicam diferenças acentuadas entre o
material recolhido nas estações 4 e 5 e as restantes Na segunda campanha a estação 3
apresentou características comparáveis as duas estações interiores da Lagoa. Estas
diferenças estão relacionadas com a granulometria do sedimento e os teores em Alumínio.
Os elementos vestigiários (tabela 12) apresentaram diferenças igualmente pronunciadas
entre as estações, podendo ser indicativo de alterações resultantes da natureza das
partículas. Quer as areias, quer os materiais finos contêm baixos níveis de contaminantes
metálicos, o que corrobora os resultados encontrados em outros compartimentos do
ecossistema.
Tabela 11. Composição de elementos maioritários em sedimentos superficiais da Lagoa.
Campanha Estação Al (%)
Fe (%)
Ca (%)
Mg (%)
Mn (µg/g)
#1 0.38 0.16 0.90 0.057 79
#2 0.32 0.12 0.080 0.070 77
#3 0.47 0.12 0.72 0.10 52
#4 10 4.4 0.32 1.1 335
07/10/04
#5 9.7 4.2 1.5 0.89 334
03/10/04 #1 0.32 0.10 0.88 0.053 61
16
#2 2.4 1.7 1.3 0.34 204
#3 5.1 2.5 0.54 0.57 333
#4 5.2 2.2 0.31 0.59 315
#5 5.2 2.6 0.83 0.60 325
Tabela 12. Composição de elementos vestigiários em sedimentos superficiais da Lagoa.
Campanha Estação Zn (µg/g)
Cr (µg/g)
As (µg/g)
Co (µg/g)
Cu (µg/g)
Ni (µg/g)
Hg (ng/g)
Pb (µg/g)
Cd (µg/g)
#1 4.3 <1.1 2.5 0.53 1.1 0.69 4.7 3.6 0.018
#2 7.1 <1.1 1.09 4.1 <1.1 0.40 4.7 2.3 <0.01
#3 - 1.5 1.7 0.60 <1.1 1.0 9.7 6.5 0.092
#4 67 97 15 14 57 33 51 41 0.19
07/10/04
#5 61 89 15 13 47 29 44 37 0.15
#1 8.6 1.8 2.0 0.70 1.2 1.2 2.8 5.9 0.08
#2 37 38 8.2 7.6 17 16 26 58 0.11
#3 57 36 15 14 38 32 40 95 0.14
#4 63 35 12 15 43 31 45 103 0.16
03/10/04
#5 77 34 12 15 40 31 40 92 0.14
5.2.3. Níveis de PCB, DDT e PAH
Tal como os elementos metálicos os teores de organoclorados e PAHs variam com os locais
de amostragem. As maiores concentrações encontram-se nas estações mais interiores da
Lagoa, podendo reflectir maiores teores em carbono, a presença de partículas com maior
área específica, assim como a entrada destes compostos no ecossistema costeiro devido a
fontes difusas existentes na bacia de drenagem.
Tabela 13. Níveis de PCB, DDT e PAH em sedimentos superficiais da Lagoa.
Campanha Estação PCB (ng / g)
DDT (ng / g)
PAHs (ng / g)
#1 0.2 0.07 116
#2 0.2 0.02 98
#3 0.8 0.16 101
#4 1.5 6.8 405
07/10/04
#5 0.9 7.3 416
#1 0.08 <0.01 150
#2 1.8 5.0 573
#3 1.7 15 499
#4 2.4 27 483
03/10/04
#5 2.1 14 488
17
5.3. Ulva sp. da Lagoa
Com vista a avaliar a retenção de contaminantes na Ulva foram recolhidas amostras nas
diversas estações. Os valores obtidos indicam uma relativa unformidade em amostras das
zonas estudadas.
Tabela 14. Níveis de PCB, DDT e PAH e metais em Ulva sp. da Lagoa.
Campanha Estação PCB (ng/ g)
DDT (ng/ g)
Mg (mg/ g)
Fe (mg/ g)
Zn (µg/g)
Cd (µg/g)
Pb (µg/g)
Cu (µg/g)
#1 - - 13 1.7 48 0.17 6.0 25
#3 - - 16 0.66 58 0.094 0.54 8.7
#4’ 7.3 17 11 1.6 49 0.19 3.7 29 06/10/04
#5 2.1 2.9 17 0.53 85 0.11 1.2 29
#1 2.5 0.27 14 2.9 35 0.15 5.9 11
#2 1.3 1.8 11 1.1 60 0.071 1.8 8.1
#3 2.3 10 10 1.5 70 0.16 3.4 10
#4’ 1.7 4.4 12 1.6 60 0.11 3.5 20
#4 1.0 1.2 14 2.6 64 0.10 4.2 20
03/03/05
#5 1.3 5.2 16 3.7 55 0.091 5.5 20
5.4. Macrofauna bentónica da lagoa
Em 2004 foram recolhidos 2278 indivíduos, pertencentes a 71 taxa repartidos por 15 grupos
taxonómicos principais. Na amostragem respeitante ao ano de 2005 foram contabilizados
1743 indivíduos, distribuídos por 60 taxa (12 grupos taxonómicos principais). Em ambas as
campanhas, os poliquetas e os gastrópodes foram os grupos mais abundantes,
representando, no seu conjunto, 57.8% e 64.5% da abundância total, em 2004 e em 2005,
respectivamente. Contudo, em 2004, a classe Oligochaeta assume alguma relevância,
contribuindo com 14.7% para a abundância total. A lista dos taxa inventariados, bem com as
suas respectivas abundâncias por estação de amostragem, é apresentada no Anexo I.
Índices univariados
A distribuição espacial dos índices univariados, número de espécie e abundância, calculados
para a Lagoa de Óbidos encontra-se representada na figura 4. Em 2004, o número médio de
taxa por estação variou entre 8.0±4.0 (estação 4) e 20.3±3.1 taxa (estação 3), enquanto a
abundância média por estação variou entre 51.7±3.2 (estação 1) e 337.7±82.9 ind/0.05mP
2P
(estação 3). De uma forma geral, quer o número de taxa, quer a abundância diminuiram em
Março de 2005 (figura 4). Com efeito, o número médio de taxa por estação variou entre
6.3±4.0 (estação 1) e 14.0±2.6 taxa (estação 2), enquanto a abundância média variou entre
59.3±29.7 (estação 4) e 209.0±144.8 ind/0,05mP
2P (estação 3). As alterações observadas
nestes índices univariados entre campanhas de amostragem reflectiram-se, na diminuição
18
dos valores de diversidade e de equitabilidade em 2005 (figura 5). Com efeito, e
especialmente no que respeita à diversidade, assistiu-se a uma dimunição acentuada deste
descritor nas estações 2, 3 e 5 de 2004 para 2005. Estas alterações podem dever-se aos
padrões de sazonalidade, característicos destes sistemas lagunares.
Da análise da repartição da abundância pelos principais grupos taxonómicos amostrados
(figura 6, Anexo I), verifica-se que em ambas as campanhas de amostragem, apenas as
classes Polycaeta e Gastropoda apresentam uma distribuição generalizada na Lagoa de
Óbidos. Os nemertes mostraram uma elevada abundância na estação 1, em ambas as
campanhas, decrescendo a sua importância para montante. Pelo contrário, os anfípodes
foram mais abundantes na estação 5. No que diz respeito aos bivalves, estes apenas
adquirem alguma expressão nas estações centrais (2 e 3), enquanto os oligoquetas são mais
abundantes nas estações 4 e 5.
Entre campanhas de amostragem, as estações 3 e 5 foram as que apresentam um maior
número de espécies em comum (5 e 6 taxa, respectivamente). À excepção da estação 1 da
campanha de 2004, o gastrópode Hydrobia ulvae está contemplado nos dez taxa mais
abundantes em cada estação. De uma maneira geral, as estações amostradas apresentam
elevados níveis de dominância (figura 7 e tabela 12), contribuindo as três espécies mais
abundantes de cada estação com mais de 60% da abundância total. Em 2004, nas estações
1 (63.87 ind./0.05mP
2P) e 4 (50.67 ind./0.05mP
2P) a espécie mais abundante contribui, inclusive,
com mais de 50% para a abundância total, verificando-se o mesmo padrão em 2005 para as
estações 1 (54.07 ind./0.05mP
2P) e 2 (51.49 ind./0.05mP
2P) (figura 7 e tabela 12).
19
Figura 4. Distribuição espacial dos índices univariados número de taxa (S) e abundância média (N) calculados para cada estação de amostragem na Lagoa de Óbidos.
20
Figura 5. Distribuição espacial da diversidade (H’) e da equitabilidade (J’) calculados para cada estação de amostragem na Lagoa de Óbidos.
21
Figura 6. Abundância relativa por estação e grupo taxonómico amostrado.
Contudo, na estação 1, da campanha de 2004, esta dominância é atenuada nas restantes
espécies, enquanto na estação 4 a tendência mantém-se e passa a ser visível na estação 5.
Em contrapartida, as estações 2 e 3 são as que apresentam uma estrutura mais equilibrada.
Já em 2005, as estações 1 e 2 sofrem uma atenuação da dominância, após a segunda
espécie mais abundante.
No que respeita à composição específica das estações amostradas, em 2004 as estações 1 e
2 apresentam como taxa característicos os nemertes e o polychaeta Pisione remota. Outras
espécies características destas áreas de influência marinha, tais como os arquianelídeos
Polygordius appendiculatus e Saccocirrus papillocercus foram igualmente amostradas nestas
estações (tabela 15). Esta última, é, inclusive, a segunda espécie mais abundante da estação
1 em 2005. A estação 2, em 2005, passa a ser dominada pelo gastrópode Hydrobia ulvae e
pelo poliqueta Capitella spp.. A estação 3 é dominada pelos mesmos taxa, às quais se junta
0%
25%
50%
75%
100%
1 2 3 4 5
Cnidaria Nemertea Gastropoda Bivalvia Polychaeta
Oligochaeta Amphipoda Isopoda Outros
0%
25%
50%
75%
100%
Outubro 2004
Março 2005
Abu
ndân
cia
rela
tiva
Abu
ndân
cia
rela
tiva
22
1 Cum 2 Cum 3 CumNemertea 63,87 Nemertea 28,06 Hydrobia ulvae 31,19Pisione remota 69,68 Pisione remota 55,82 Scoloplos armiger 55,18cf Litocorsa stremma 74,84 Hydrobia ulvae 62,69 Capitella spp 72,95Microphthalmus pseudoaberrans 78,71 cf Litocorsa stremma 68,06 Nemertea 77,49Polygordius appendiculatus 81,94 Pomatoceros lamarckii 73,43 Cerastoderma cf edule 81,24Saccocirrus papillocercus 85,16 Cumopsis spp 78,81 Tellina tenuis 84,70Nephtys cirrosa 87,74 Annelida n id 81,49 Notomastus latericeus 88,06Ophryotrocha sp 90,32 Saccocirrus papillocercus 84,18 Mediomastus fragilis 90,92Scoloplos armiger 92,26 Microphthalmus pseudoaberrans 86,27 Ophryotrocha sp 92,60Cnidaria 93,55 Nephtys cirrosa 88,36 Corophium acherusicum 93,984 Cum 5 CumTubificidae 50,67 Tubificoides benedeni 35,06Heteromastus filiformis 67,29 Anthozoa 67,90Streblospio shrubsolii 78,55 Malacoceros fuliginosus 78,27Capitella spp 84,72 Microdeutopus gryllotalpa 83,70Hydrobia ulvae 89,54 Corophium acherusicum 88,89Polydora ligni 93,57 Gammarus insensibilis 92,59Chironomidae 95,44 Hydrobia ulvae 95,80Melita palmata 97,05 Nemertea 97,28Desdemona ornata 98,39 Phoronida 97,78Malacoceros fuliginosus 98,93 Calyptraea chinensis 98,02
1' Cum 2' Cum 3' CumNemertea 54,07 Hydrobia ulvae 51,49 Capitella spp 41,15Saccocirrus papillocercus 86,99 Capitella spp 73,46 Hydrobia ulvae 59,17Opistobranchia n id 92,28 Mediomastus fragilis 77,80 Abra alba 68,42Exogoninae spA 93,50 Abra tenuis 81,69 Mediomastus fragilis 76,56Syllidae n id 94,72 Notomastus latericeus 84,67 Abra nitida 84,21Nassarius reticulatus 95,53 Malacoceros fuliginosus 87,64 Corophium acherusicum 88,68Annelida n id 96,34 Corophium acherusicum 89,02 Notomastus latericeus 92,03Spionidae n id 97,15 Melita palmata 90,39 Heteromastus filiformis 93,94Indeterminado 97,97 Microdeutopus gryllotalpa 91,76 Tubificoides benedeni 95,06Hydrobia ulvae 98,37 Abra nitida 92,91 Pectinaria koreni 95,854' Cum 5' CumHeteromastus filiformis 34,27 Tubificoides benedeni 25,68Streblospio shrubsolii 57,30 Gammarus insensibilis 49,81Nereis diversicolor 70,79 Tubificidae 66,93Tubificidae 84,27 Heteromastus filiformis 77,43Hydrobia ulvae 88,76 Corophium acherusicum 87,16Cyathura carinata 92,13 Microdeutopus gryllotalpa 88,49Cirratulidae n id 93,26 Phoronida 91,44Sabellidae n id 94,38 Corophium insidiosum 93,00Tubificoides benedeni 95,51 Hydrobia ulvae 94,16Anthozoa 96,07 Melita palmata 95,33
o poliqueta Scoloplos armiger, em 2004. Nesta área, os bivalves Cerastoderma cf edule e
Tellina tenuis, em 2004 e Abra alba e A. nitida, em 2005, atingem os valores mais elevados.
Tabela 15. Abundância cumulativa dos dez taxa mais abundantes em cada uma das estações amostradas (2005).
A estação 4 é quase exclusivamente dominada pelos anelídeos, apesar da importância dos
oligoquetas ser maior em 2004. Por outro lado, na estação 5, os anfípodes repartem a
abundância com os oligoquetas, e também com os cnidários no caso de 2004.
23
Figura 7. Curvas k de dominância para cada uma das estações amostradas.
A composição específica das estações amostradas é reflectida nos resultados obtidos com as
análises de classificação e de ordenação (figura 8). Com efeito, as estações 1 e 2 de 2004
apresentam elevada similaridade, constituindo um agrupamento. No entanto, a estação 2 de
2005 apresenta maior similaridade com a estação 3, enquanto as restantes estações (4 e 5)
de ambas as campanhas de amostragem formam grupos individualizados.
Ordem das espécies
Dom
inân
cia
cum
ulat
iva
(%) 1
2
3
4
50
20
40
60
80
100
1 10 100
Março 2005
1
2
3
4
50
20
40
60
80
100
1 10 100
Outubro 2004
Dom
inân
cia
cum
ulat
iva
(%)
24
1A
1B 1C
2A2B 2C
3A3B
3C
4A 4B
4C
5A5B5C1A'
1B'1C'
2A'
2B'2C'
3A'
3B'3C'
4A'4B'4C'
5A'
5B'
5C'
Stress: 0.13
Sim
ilarid
ade
1C'
1A'
1B'
1A 1B 1C 2A 2B 2C 4C'
4A'
4B'
4A 4B 4C 5B'
5A 5B 5C 5A'
5C'
3B 3A 3C 2C'
2A'
2B'
3A'
3B'
3C'100
80
60
40
20
0
Figura 8. Dendograma e diagrama de ordenação resultante das análises de classificação e de ordenação com base na matriz de dados biológicos. A, B e C correspondem a cada um dos três replicados por estação (2005). Da análise da figura 9 é possível observar que a dissimilaridade das estações intra- e inter
campanhas, reflecte os resultados evidenciados pela análise multivariada.
25
Figura 9. Dissimilaridade entre as diferentes estações de amostragem para as duas campanhas (2004 e
2005), utilizando a rotina Simper.
No presente estudo verificou-se que existe uma clara distinção entre as estações de
montante (4 e 5) e as que se localizam mais a jusante (1, 2 e 3). As primeiras encontram-se
sob a influência terrestre, onde ocorrem sedimentos com elevado teor em partículas finas e
em matéria orgânica. Os povoamentos macrobentónicos que ocorrem nesta zona da lagoa
são menos estruturados, reflectindo o efeito destas características sedimentares. Estas áreas
são dominadas por espécies que estão, usualmente, associadas a locais de enriquecimento
orgânico, tais como oligoquetas, os poliquetas Heteromastus filiformis e Streblospio
shrubsolii. No que respeita às estações mais a jusante, nomeadamente as estações 1 e 2,
estão localizadas numa zona de sedimentos arenosos e com baixo teor em matéria orgânica,
onde os povoamentos macrobentónicos apresentam como taxa característicos os nemertes e
o poliqueta Saccocirrus papillocercus, corroborando a influência marinha nesta zona da
Lagoa. Apesar das duas campanhas de amostragem apresentarem uma elevada similaridade
no que respeita aos povoamentos macrobentónicos, da comparação dos resultados obtidos.
A diferença mais notória prende-se com a estação 2, na medida em que de 2004 para 2005
apresentou uma maior influência lagunar em detrimento de uma maior influência marinha
observada em 2004. Esta diferença manifestou-se principalmente pelo desaparecimento dos
taxa Nemertea e Saccocirrus papillocercus, que foram substituídos pelos taxa Hydrobia ulvae
e Capitella spp. Esta alteração pode ser uma resposta ao efeito da sazonalidade, ou aos
parâmetros ambientais, como a salinidade.
5.6. Zona do Emissário
5.6.1. Coluna de água
2 3 4 5 1' 2' 3' 4' 5'123451'2'3'4'
<70 70-80 80-90 >90
26
Nas Tabela seguintes apresentam-se as características fisíco-químicas da coluna de água na
zona do emissário. Os valores de nutrientes registados nesta zona foram semelhantes aos
obtidos na zona inferior da lagoa e notoriamente inferiores aos encontrados na zona mais
interior.
Tabela 16. Características físico-químicas da coluna de água na zona do emissário
Campanha
Estação Hora Salinidade (%o)
O2 (mg/L)
# 1 s 10:45 35.83 8.0
# 1 m 10:50 35.83 6.7
#1 f 10:55 35.83 8.4
# 2 s 11:05 35.85 5.0
# 2 m 11:07 35.86 8.1
12/10/04
# 2 f 11:10 35.82 8.3
# 1 s 11:15 35.87 5.3
# 1 m 11:20 35.97 5.5
#1 f 11:25 35.87 4.5
# 2 s 11:45 35.87 8.1
# 2 m 11:50 35.87 5.3
03/03/05
# 2 f 11:55 35.87 -
Tabela 17. Concentrações de amónia, nitratos, nitritos, silicatos, azoto orgânico e fósforo orgânico (µM), clorofila a e feopigmentos (ug/L) na coluna de água da zona do emissário em 12 de Outubro de 2004 e 3 de Março de 2005.
Campanha Estação NHB4
(µM) NOB3
(µM) NOB2
(µM) SiO B2
(µM) POB4PB
3-PB
(µM) Norg (µM)
Porg (µM)
Clor (µg/L)
Feop (µg/L)
# 1 s 1.2 0.47 0.13 0.10 0.25 3.0 0.28 0.05 <0.05
# 1 m 0.91 0.41 0.09 0.10 0.15 3.4 0.22 2.1 <0.05
#1 f 1.7 1.4 0.19 1.1 0.15 2.5 1.4 0.05 <0.05
# 2 s 3.8 2.3 0.31 0.48 0.14 0.51 0.60 0.05 <0.05
# 2 m 6.1 2.6 0.12 1.1 0.13 0.20 0.68 0.05 <0.05
12/10/04
# 2 f 7.1 4.9 0.20 0.55 0.13 0.12 0.82 1.1 <0.05
# 1 s 1.3 0.41 0.10 0.88 1.1 1.6 0.70 3.2 <0.05
# 1 m 1.7 0.47 0.09 0.89 0.99 3.2 0.49 5.3 <0.05
#1 f 2.3 0.58 0.10 0.89 0.99 1.5 0.89 4.3 <0.05
# 2 s 0.65 0.64 0.06 0.85 0.95 2.1 0.35 3.2 <0.05
# 2 m 0.58 0.58 0.08 0.82 0.91 3.0 0.82 1.1 <0.05
03/03/05
# 2 f 1.2 0.50 0.08 0.92 0.91 1.6 0.09 1.1 <0.05
27
6 Conclusões
A realização destas campanhas permitiu obter dados sobre a qualidade da água e dos
sedimentos e sobre as comunidades bentónicas na Lagoa de Óbidos na situação em que as
descargas dos principais emissários ainda ocorrem no seu interior. Estas observações são
importantes por poderem servir de situação de referência para a entrada em funcionamento
do emissário na zona costeira adjacente e avaliar quais as transformações decorrentes da
transferência dessas emissões da Lagoa para a zona costeira. As campanhas também foram
realizadas na zona do emissário submarino, o que permitirá avaliar as alterações nesta zona
com as descargas do emissário.
Os resultados obtidos nestas campanhas apontam para o seguinte:
1. Acumulação de nutrientes, matéria orgânica e sedimentos finos nos dois braços interiores
da Lagoa que apresentam:
• elevada concentração de nutrientes na coluna de água, mesmo em situações de maior
diluição com água de elevada salinidade proveniente da zona central da Lagoa;
• elevada quantidade de matéria orgânica nos sedimentos finos depositados na zona dos
dois braços;
• elevados teores de oxigénio dissolvido durante o dia, devido à fotossíntese dos
produtores primários, e previsivelmente intenso consumo durante a noite (como
observado em estudo anterior);
• elevada densidade de Ulva sp., que em alguns locais cobre todo o sedimento em baixa-
mar;
• povoamentos bentónicos pouco estruturados reflectindo o enriquecimento em matéria
orgânica.
2. Os níveis de nutrientes foram consideravelmente mais baixos nas restantes áreas da
Lagoa, sugerindo uma baixa dispersão das descargas realizadas na zona superior da Lagoa.
Os elevados valores de salinidade indicam que a entrada da maré na Lagoa tem um efeito
preponderante na retenção de nutrientes nas zonas interiores, para a qual contribui
igualmente a morfologia da área. Esta retenção beneficia a proliferação de Ulva sp. nesta
zona, que tem baixa profundidade e elevadas temperaturas na Primavera e Verão.
3. Os contaminantes metálicos, os PCB e DDT apresentaram concentrações baixas na coluna
de água e as diferenças entre a zona superior e inferior da Lagoa foram muito menores do
que as registadas nos nutrientes. Os níveis destes compostos foram baixos nas areias da
zona inferior e consideravelmente mais elevados nos sedimentos finos depositados na zona
superior devido à presença de maior quantidade de partícula fina que apresentam maior
capacidade para associar os contaminantes. Em geral, os resultados dos três
compartimentos estudados apontam para que a Lagoa seja pouco contaminada por metais e
poluentes orgânicos.
28
4. A qualidade da água na zona do emissário, antes da sua entrada em funcionamento, é
característica da zona costeira não sujeita a descargas antropogénicas.
As diferenças registadas entre as estações 1, 2, 3 e as estações 4, 5 mostra que o
enriquecimento orgânico devido às cargas provenientes de montante se faz sentir
essencialmente na zona de superior da Lagoa, diminuindo à medida que a água doce se vai
misturando com a água do mar. Assim, é de esperar que nestas zonas a qualidade da água e
dos sedimentos melhore progressivamente quando os efluentes das ETAR’s forem
descarregados através do emissário submarino.
7 Recomendações
Em áreas confinadas da Lagoa de Óbidos os sedimentos apresentam elevadas concentrações
de matéria orgânica e moderados níveis de contaminantes, devido à presença de fontes
antropogénicas. Com a transferência destas descargas para o emissário submarino a
situação deverá começar a alterar-se. Os benefícios desta remoção deverão aumentar com o
tempo, uma vez que a curto prazo a mineralização da matéria orgânica entretanto
acumulada nos sedimentos deverá originar nutrientes que serão transferidos para a coluna
de água. A libertação de nutrientes é um processo já em curso e tem originado elevada
densidade de macroalgas e baixos níveis de oxigénio durante a noite. Nestes períodos
nutrientes e contaminantes podem ser libertados para a coluna de água.
O acompanhamento evolução da qualidade da água e dos sedimentos nestas regiões
constitui um caso de estudo de grande interesse científico e fornecerá informação de
referência para outros casos do mesmo tipo. Também o acompanhamento da evolução da
qualidade da água e dos sedimentos na zona da descarga do emissário e da forma como
uma zona costeira exposta a um elevado hidrodinamismo assimila este tipo alteração
ambiental é de grande interesse para a gestão de águas residuais urbanas em zonas
costeiras.
Nestas condições as recomendações genéricas para um futuro plano de Monitorização são as
seguintes:
A - No interior da Lagoa
• Avaliar a evolução da qualidade dos sedimentos e das comunidades bentónicas na
zonas interiores;
• Determinar taxas de decomposição da matéria orgânica nestes sedimentos e o
fraccionamento de azoto, fósforo e alguns contaminantes;
• Calcular fluxos de transferência de nutrientes e alguns contaminantes para a coluna
de água e para produtores primários;
B – Na zona do emissário
• Determinar a evolução da qualidade de água (nutrientes, alguns contaminantes) e
parâmentros biológicos (clorofila a e composição das comunidades planctónicas);
29
• Avaliar as eventuais alterações na qualidade dos sedimentos e nas comunidades
bentónicas;
Tarefas a executar num futuro Plano de Monitorização:
• Amostragem de água, sedimentos e organismos na zona interior da Lagoa onde se
deverá avaliar a recuperação e na zona do emissário;
• Observações e medições in situ nas escalas adequadas nas duas zonas;
Medições de temperatura, oxigénio dissolvido, pH e potencial redox
Descrição macroscópica do sedimento
• Caracterização fisico-química da coluna de água e dos sedimentos nestas zonas;
Nutrientes e contaminantes na coluna de de água
Granulometria do sedimento
Identificação da macrofauna bentónica
Carbono, N, P, metais e contaminantes orgânicos
• Avaliar a taxa de degradação da matéria orgânica na zonas interiores da Lagoa
• Avaliar o fraccionamento e disponibilidade de N e P em sedimentos destas zonas
interiores
• Estimar os fluxos de nutrientes e alguns contaminantes entre o sedimento e a água
nestas zonas
30
8 Referências
Byers, S. C., Mills, E. L. & Stewart, L., 1978. A comparison of methods of determining
organic carbon in marine sediments, with suggestions for a standard method. Hydrobiologia,
58:43-47.
Falcão, M., 1997. Dinâmica dos nutrientes na Ria Formosa: interacção da laguna com as
suas interfaces na reciclagem do azoto, fósforo e sílica. Tese de Doutoramento em Ciências
do Mar, pela Universidade do Algarve: 223p.
Grassoff, K. 1976. Methods of seawater analysis. Verlag chemie, New York 317pp.
Lorenzen, C. J. 1967. Determination of chlorophyll and phaeopigments: spectrometric
equations. Limnol. Oceanogr. 12: 343-347
Rantala, R. and Loring, D., 1975. Multi-element analysis of silicate rocks and marine
sediments by atomic absorption spectrophotometry. Atomic Absorption Newsletter, 14: 117-
120.
31
ANEXOS
32
Anexo I. Lista de taxa recolhidos nas estações amostradas. 1A 1B 1C 1A' 1B' 1C' 2A 2B 2C 2A' 2B' 2C' 3A 3B 3C 3A' 3B' 3C' 4A 4B 4C 4A' 4B' 4C' 5A 5B 5C 5A' 5B' 5C'
CNIDARIA ANTHOZOAAnthozoa n id 1 114 16 3 2Cnidaria n id 2NEMERTEA 29 39 31 31 51 51 12 52 30 13 13 20 1 1 1 3 2 1MOLLUSCAPOLYPLACOPHORALepidochitona cinereus 1Lepidochitona sp. 1GASTROPODACalyptraea chinensis 1 1Haminoea navicula 1Hydrobia ulvae 1 1 6 10 7 85 94 46 82 136 98 10 12 91 18 1 6 1 11 1 1 1 2Nassarius(Gussonea) cf pfeifferi 1Nassarius reticulatus 2 1 1 1Opistobranchia n id 13Rissoa sp1 3 3 1Rissoa sp2 1BIVALVIAAbra alba 47 11Abra nitida 3 2 10 38Abra ovata 2 3Abra tenuis 4 4 9Bivalvia juv 2 3 3Cerastoderma cf edule 2 1 7 18 13 1Corbula gibba 1cf Ervilia castanea 1Modiolus spp. 1 1Mytilidae juv 2 1 1 1Scrobicularia plana 3 1Tellina fabula 2Tellina tenuis 12 16 7cf Thracia sp. 4 2Venerupis cf decussata 1Venerupis juv 1 1Venerupis pullastra 1 2 2 3 5
33
1A 1B 1C 1A' 1B' 1C' 2A 2B 2C 2A' 2B' 2C' 3A 3B 3C 3A' 3B' 3C' 4A 4B 4C 4A' 4B' 4C' 5A 5B 5C 5A' 5B' 5C'ANNELIDAPOLYCHAETAAnnelida n id 2 2 6 1Capitella spp. 47 24 25 28 107 45 34 35 189 8 5 10 1Cirratulidae n id 1 2 1 1Desdemona ornata 5Eteone foliosa 1 1 2 1Eteone sp. 1Exogoninae sp1 1 2Glycera sp. 1Glycera tridactyla 2Goniadella sp. 1Heteromastus filiformis 4 8 36 26 17 32 12 1 26cf Litocorsa stremma 1 3 4 7 6 5Lumbrineris cf tetraura 1Malacoceros fuliginosus 3 3 7 2 1 14 13 15 2Mediomastus fragilis 1 19 17 6 6 11 32 8Microphthalmus pseudoaberrans 1 5 3 2 2 1Nephtys cirrosa 2 2 1 1 2 4 1Nephtys cf hombergii 1Nephtys sp. 1Nereis diversicolor 9 8 7Notomastus latericeus 5 8 16 4 14 9 12Ophryotrocha sp. 1 3 1 12 1 4Pectinaria koreni 1 1 3 2Pisione remota 1 2 6 53 35 5 2Platynereis dumerilii 1 1Polydora ligni 14 1Pomatoceros lamarckii 11 3 4 1Sabellidae n id 1 1 1 1Scoloplos armiger 3 1 2 4 56 103 84Sphaerosyllis taylori 1Spio decoratus 3 3 2 2 1Spionidae n id 2Spirorbidae n id 1Streblospio shrubsolii 40 1 1 10 26 5Syllidae n id 3
Anexo I. Lista de taxa recolhidos nas estações amostradas (continuação).
34
Anexo I. Lista de taxa recolhidos nas estações amostradas (continuação). 1A 1B 1C 1A' 1B' 1C' 2A 2B 2C 2A' 2B' 2C' 3A 3B 3C 3A' 3B' 3C' 4A 4B 4C 4A' 4B' 4C' 5A 5B 5C 5A' 5B' 5C'
ARCHIANNELIDAPolygordius appendiculatus 5 2Saccocirrus papillocercus 2 1 2 11 4 66 9 1OLIGOCHAETATubificidae 2 2 1 2 173 15 1 6 13 5 1 11 33Tubificoides benedeni 5 3 4 1 1 36 47 59 42 3 21ARTHROPODACRUSTACEAAMPHIPODAAmphipoda n id 1 2Bathyporeia sp. 1Corophium acherusicum 1 2 1 1 4 1 2 8 4 28 12 3 6 14 5 6Corophium insidiosum 4Corophium sextonae 1Erichtonius cf punctatus 1Gammarus insensibilis 1 6 2 7 29 2 31Maera cf grossimana 1Melita palmata 3 3 6 1 1 2Microdeutopus gryllotalpa 6 1 3 1 10 3 9 5 1Urothoe poseidonis 1CUMACEACumopsis spp. 2 11 5Iphinoe sp. 1 2Iphinoe tenella 1Iphinoe trispinosa 2DECAPODABRACHYURACarcinus maenas 1 1DIPTERA (larvas)Chironomidae 1 3 3 1 1ISOPODACyathura carinata 1 2 3 1Eurydice spinigera 2 1Lekanesphaera levii 1 1 1 5 2MYSIDACEAParamysis nouveli 1
35
Anexo I. Lista de taxa recolhidos nas estações amostradas (continuação) .
1A 1B 1C 1A' 1B' 1C' 2A 2B 2C 2A' 2B' 2C' 3A 3B 3C 3A' 3B' 3C' 4A 4B 4C 4A' 4B' 4C' 5A 5B 5C 5A' 5B' 5C'ECHINODERMATAAmphipholis squamata 1Amphiura spp. 2Echinodermata 2PHORONIDAPhoronida n id 1 2 5CHORDATAASCIDIACEACiona intestinalis 1
.