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Anais do VIII Seminário do Museu D. João VI / IV Colóquio Internacional Coleções de Arte em

Portugal e Brasil nos Séculos XIX e XX

ARTE E SEUS LUGARES: COLEÇÕES EM ESPAÇOS REAIS

Novembro, 2017 Rio de Janeiro/RJ

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Roberto Leher Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Flora de Paoli Faria Decana do Centro de Letras e Artes

Carlos Gonçalves Terra Diretor da Escola de Belas Artes

Madalena Grimaldi Vice-Diretora da Escola de Belas Artes

Felipe Scovino Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais

Ana Cavalcanti Coordenadora do Museu D. João VI

ARTE E SEUS LUGARES: COLEÇÕES EM ESPAÇOS REAIS Anais do VIII Seminário do Museu D. João VI / IV Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX.

Coordenação Ana Cavalcanti Arthur Valle Maria João Neto Marize Malta Sonia Gomes Pereira Organização editorial Adriana Nakamuta Capa Rafael Bteshe Apoio editorial Marco Antonio Pasqualini de Andrade

Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são de inteira responsabilidade de seus autores.

Arte e seus lugares: coleções em espaços reais. VIII Seminário do Museu D. João VI / IV Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX (1. : 2017 : Rio de Janeiro)

A700 Anais do VIII Seminário do Museu D. João VI / IV Colóquio Internacional Coleções de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX [ edição digital], 08-10 novembro 2017, Rio de Janeiro (RJ), Brasil ; organizado por EBA/PPGAV e Museu D. João VI – Rio de Janeiro, 2017.

“Arte e seus lugares: coleções em espaços reais” ISBN 978-85-87145-73-4

1. Acervos. 2. Coleções. 3. Brasil-Portugal. I. Museu D. João VI. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. III. Arte e seus lugares: coleções em espaços reais

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APRESENTAÇÃO O Grupo de Pesquisa Entresséculos é ligado ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes (PPGAV) da Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e reúne as pesquisadoras Ana Cavalcanti, Marize Malta e Sonia Gomes Pereira. Desde 2010 organiza seminários anuais sempre voltados para a discussão da arte brasileira nos séculos XIX e XX.

Inicialmente comprometido com o estudo e a valorização do acervo do Museu D. João VI da EBA / UFRJ, seu território de interesses tem-se ampliado. Em 2014 teve início uma parceria com o ARTIS (Instituto de Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) - liderada pela professora Maria João Neto pelo ARTIS e por Marize Malta pelo PPGAV - em torno do tema coleções de arte em Portugal e Brasil, que se tem desdobrado em colóquios internacionais anuais, alternando-se entre Lisboa e Rio de Janeiro.

Neste ano de 2017, os dois eventos se uniram: VIII Seminário do Museu D. João VI e IV Colóquio Internacional Coleções de Arte. Tomando como tema a questão dos lugares da arte e seus espaços reais, procurou explorar cinco eixos principais de discussão: Em percurso: uma obra, vários lugares; Locações de obras e modos de aparição; Privativo: coleções em intimidade; Por debaixo dos panos: o avesso das obras; Vir a público: meios de compartilhamento no real; e Materialidades e suportes de coleções.

Ao mesmo tempo, temos procurado nos unir a pesquisadores de outras universidades brasileiras que compartilham conosco interesses temáticos e abordagens metodológicas. É o caso do professor Arthur Valle, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que, desde o ano passado, tem trabalhado conosco nesses seminários.

É, portanto, como fruto desse trabalho conjunto que apresentamos este livro. Ele compreende a totalidade dos trabalhos apresentados no evento: palestras, comunicações e pôsteres. Reúne pesquisadores de vários estados do Brasil, assim como colegas de Portugal, França e Argentina.

Para a realização do evento e dessa publicação, contamos com o apoio de várias instituições e pessoas. Entre as instituições, destaco o Museu Nacional de Belas Artes – que nos tem apoiado há alguns anos – e a CAPES, da qual recebemos recursos, que possibilitaram, especialmente, a vinda de especialistas estrangeiros. Quanto a pessoas, colegas e estudantes de graduação e pós-graduação têm sido sempre um apoio indispensável. Entre eles, gostaria de destacar Adriana Nakamuta e Marco Antonio Pasqualini de Andrade – ambos em pós-doutorado no nosso programa em 2017 –, além de Flora Pereira Flora e Rafael Bteshe – entre alunos e ex-alunos.

Esperamos que esse livro sirva para divulgar as novas abordagens que historiadores da arte – brasileiros e estrangeiros – têm realizado dentro do cenário mais amplo de uma revisão historiográfica da arte tanto brasileira quanto ocidental.

Rio de Janeiro, novembro de 2017.

Ana Cavalcanti Arthur Valle Maria João Neto Marize Malta Sonia Gomes Pereira

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PAINÉIS DE FORMATURA NO ACERVO MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE: UMA VISÃO DO AVESSO

Sandra Makowiecky

Beatriz Goudard

Introdução

O Museu da Escola Catarinense (criado em 1992), está localizado em edifício que foi

construído para abrigar a Escola Normal Catharinense (1892 -

1926), em Florianópolis.

Trata-se de um edifício tombado como Patrimônio Histórico e é um monumento que permeia

a história da Educação em Santa Catarina. O MESC tem como objetivo principal sua

consolidação como espaço educativo não formal, responsável pela preservação do

patrimônio cultural catarinense ligado à Educação. Integra oficialmente os Sistemas

Nacional e Estadual de Museus e possui inscrição no Instituto Brasileiro de Museus

(IBRAM). Apresenta salas de exposição de caráter permanente, todas de

conteúdo didático

e pedagógico, com acervo de móveis, livros, brinquedos.

Nas paredes é possível vislumbrar

uma tradição que se perdeu com os anos: os quadros/painéis

de formatura. No século

passado era costume que cada turma depois de formada deixasse de recordação para a

instituição, um quadro com fotografias dos alunos, mestres e homenageados. Os quadros

que retratavam os alunos da Escola Normal e Instituto Dias Velho se perderam no tempo,

mas no Museu são apresentados outros quadros contemporâneos àqueles, que

pertenceram à extinta Academia de Comércio de Santa Catarina e foram recuperados pela

equipe técnica do MESC e por profissionais de restauração (Fig.1). O objetivo desta

comunicação é contar esta história por seu avesso e por debaixo dos panos. Se trata de

uma história em que a exibição dos quadros na parede não permite perceber. Atendendo à

laudo exarado por especialista, procedeu-se ao que foi recomendado, recuperando um

acervo que constitui

registro importante da memória dos

catarinenses ilustres que tiveram

sua formação escolar na Academia do Comércio. Dos 13 (treze) painéis recebidos,

conseguimos recuperar todos, sendo que dois deles estavam praticamente destruídos, os

de 1946 e 1949 (Fig.2). Este trabalho de grande envergadura, apresenta várias

problemáticas com os quais nossos museus se defrontam, tanto por suas dificuldades

operacionais, financeiras, por falta de investimentos bem como de equipes especializadas.

Sobre a Academia de Comércio de Santa Catarina

Petry

(2013), (Faria et al., 2014), (Sanson e

Nicolau, 2006)

e Vieira

(1986) descrevem

a

história, que reproduzimos, sinteticamente. Em Florianópolis, as primeiras tentativas de criar

um estabelecimento de nível superior datam do início do século XX. No governo

de Vidal

Ramos o ensino público catarinense foi reestruturado e, nesta campanha de reforma

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pedagógica, a Escola Normal foi o primeiro estabelecimento de ensino a ser reformulado.

Até então as unidades escolares mais destacadas em Florianópolis eram o colégio Coração

de Jesus, o Ginásio Catarinense, a Escola Normal e o liceu de Artes e Ofícios. Após

completar o curso ginasial, os alunos não

tinham

perspectivas de continuidade nos estudos

dentro da capital, ingressando então nas atividades profissionais, ou, poucos, que dirigiam-

se a centros maiores, dedicavam-se a algum curso superior. Desta carência educacional

surgiu a

intenção de implantar um estabelecimento de ensino superior na capital. Criou-se

então o Instituto Politécnico,

a princípio sem sede própria, funcionando num sobrado

alugado situado à rua João Pinto, nº

411, de propriedade do Liceu de Artes e Ofícios. O

Instituto Politécnico de Florianópolis foi a primeira instituição de ensino superior do Estado

de Santa Catarina,

sua fundação data de 13 de março de 1917, sob a liderança de José

Arthur Boiteux, considerado o patriarca do ensino superior no Estado e era uma instituição

privada que dependia, em parte, de subsídio público. Durante sua existência ofereceu

diversos cursos, dentre eles, os de Odontologia, Farmácia, Engenharia (Geologia),

Veterinária, Botânica, Agrimensura e Topografia. Desde o início oferecia também cursos de

técnicas comerciais: o preparatório, com dois anos, e o de especialização, com três anos

(Vieira,

1986, p. 51). Infelizmente, esses cursos não atraíram estudantes dos melhores

colégios, em geral filhos das famílias mais ricas, que preferiam uma formação que os

levasse às áreas tradicionais, tais como Direito, Medicina e Engenharia, na época só

possível fora do Estado. A demanda foi fraca também por parte dos estudantes de menor

renda ou que trabalhavam, apesar de os cursos serem noturnos. O Instituto Politécnico era

submetido à fiscalização federal e estadual. Até 1922, a diretoria do Instituto dedicou-se à

implantação de diversos cursos e à instalação das unidades

pedagógicas necessárias.

Neste período

o governador Hercílio Luz cedeu a área de terra para a construção

do prédio

próprio do Instituto. Foi aberta concorrência

para

confecção

da planta, feito o

orçamento

do

novo edifício

e lançada

a sua pedra

fundamental, acontecimento solene ocorrido no dia da

comemoração

do centenário da independência do Brasil. Em 1923 o Instituto

Politécnico

foi

reconhecido como de utilidade pública, por meio de decreto federal.

O governo liberou verba para a

construção

do seu prédio em um terreno situado na avenida

Hercílio luz, antiga avenida do saneamento, entre as ruas

Nunes Machado e General

Bittencourt. Além do auxílio financeiro dos governos Federal e Estadual, o Ministério da

Agricultura, banqueiros, industriais e comerciantes catarinenses doaram diversos materiais

para a construção

do prédio, num terreno de 720m², com uma área edificada de 682m², o

que

constituía

na época, depois do prédio da Escola Normal, o maior prédio da cidade de

Florianópolis

(onde hoje funciona o Museu da Escola Catarinense).

A transferência dos

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alunos para seu prédio definitivo ocorreu entre 1924 e 1925. Em 1926, 1928 e 1929

surgiram novas questões sobre a condução

das obras do prédio, referindo-se às

instalações

de água, luz, esgoto,

pintura e acabamentos o que dificulta datar a sua exata

conclusão. Os

cursos de técnicas comerciais do Instituto, segundo as evidências disponíveis, formaram a

última turma em 1930, tendo sido a primeira das quatro áreas a fechar (Vieira, 1986, p. 62).

Com a morte de Boiteux, em 1934, o instituto encerrou suas atividades no ano seguinte,

e

em 1935,

foi extinto o Instituto

Politécnico.

Ao encerrar seus últimos cursos, o Instituto

tecnológico foi absorvido pela Escola Prática de Comércio

em meados de 1934/35. O

prédio

passou a abrigar a Escola do Comércio de Santa Catarina, subordinada ao então

Departamento de Educação.

A Instituição

foi criada pelo Decreto Estadual nº

782 de 5 de

abril de 1935 que previu a adoção do Instituto Politécnico

pelo Estado, tendo este ficado

com a incumbência

de manter o curso de Comércio.

Mesmo

tendo sido criada por força de

Decreto Estadual, em 1935, a Academia de Comércio, a partir de 1938, retornou à condição

de sociedade civil sem fins lucrativos. Foi por iniciativa de professores do Instituto

Tecnológico que surgiu a Faculdade de Direito de Santa Catarina, cujo funcionamento

começou em 1932. Essa faculdade, no entanto, teve suas primeiras aulas em outro prédio

do centro da cidade, junto à Praça XV. E ali, no primeiro dia letivo do novo curso, foi

proferida pelo Prof. Henrique da Silva Fontes a primeira aula catarinense de Economia em

nível superior. A disciplina era Economia Política e Ciências das Finanças. Desta forma, o

Instituto Politécnico foi a primeira instituição universitária do Estado, precursora da

Faculdade de Direito (1932), que foi a semente da UFSC, no final da década de 1950. Em

18/12/1960, foi uma das faculdades fundadoras da Universidade de Santa Catarina, atual

UFSC (Lei no 3.849/60), de onde saiu também, o Curso de Economia. Muitos dos alunos

que fizeram curso superior na Academia de Comércio, também continuaram seus estudos

na UFSC, em especial, em Direito.

Esse curso era ainda do tipo misto, mas surgiu na época em que se discutia, no Brasil, a

separação entre Economia e Contabilidade. A reforma de 1945 as separou. Isso

transformou o Curso Superior –

que estava em processo de reconhecimento oficial junto ao

Ministério da Educação –

no Curso de Ciências Econômicas da Faculdade de Ciências

Econômicas. O Curso Superior de Administração e Finanças, que concedia o diploma de

Bacharel em Ciências Econômicas, foi criado em Florianópolis pela Academia de Comércio

no mês de agosto de 1942 e começou a funcionar no início do ano letivo de 1943,

com uma

turma de cinco alunos.

Era uma instituição mantida por uma associação, mas sustentada

pelo governo, que financiava as bolsas de estudos dos alunos.

A Portaria nº

512 de

11/12/1945 (do Diretor Geral do Departamento Nacional de Educação) alterou sua

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denominação para Curso de Ciências Econômicas. O curso recebeu reconhecimento oficial

pelo Decreto Federal 37.994/55. Seu corpo docente foi inicialmente formado por alguns

professores catedráticos da Academia de Comércio. Foram também expedidos convites a

professores da Faculdade de Direito de Santa Catarina para regência de outras cadeiras. A

Academia de Comércio de Santa Catarina era mantida basicamente por subvenções do

governo do Estado e por taxas de matrícula e mensalidades dos alunos. A Academia

enfrentou problemas financeiros para manter o novo curso, que só não foi interrompido em

1950 porque professores concordaram em lecionar gratuitamente naquele ano. Nos anos

seguintes, o orçamento da Academia voltou a equilibrar-se, principalmente a partir de 1954,

quando o prof. Elpídio Barbosa, nome de projeção junto ao governo estadual, assumiu a

direção da Faculdade. A partir de 1958, a Faculdade passou a receber subvenção federal e

em 1959 obteve do governo do Estado, dez apólices inalienáveis no valor de 10 milhões de

cruzeiros, que lhe renderiam juros de 5% a.a. O governo estadual também lhe cedeu para

uso o prédio da Travessa Ratcliff, no centro

de Florianópolis. Nesse mesmo ano, a partir de

09 de dezembro, com as novas fontes de recursos e o novo prédio, a Faculdade de Ciências

Econômicas tornou-se independente da Academia de Comércio.

A Academia de Comércio de Santa Catarina funcionou no prédio até a década de 1990,

quando foi extinta. Em 2010 foram inauguradas as obras de restauração da edificação, em

um ato onde foi sancionada a lei que autoriza a cessão e o uso do imóvel pelo Instituto

Histórico e Geográfico de Santa Catarina e da Academia Catarinense de Letras, duas

instituições também fundadas por José A. Boiteux, sendo que o prédio recebeu a

denominação de Casa José A. Boiteux, em merecido reconhecimento. José A. Boiteux,

nascido em Tijucas, em 1865, foi jornalista, deputado, historiador e advogado. Sua

participação na vida intelectual foi constante, nos deixando extenso legado.

Este relato sobre a Academia do Comércio tem por objetivo realçar a importância desta

Instituição na formação de catarinenses ilustres e na vocação do ensino

superior da Ilha de

Santa Catarina, o que irá reforçar a importância da preservação dos painéis. Pelas fotos e

nomes constantes no painéis, percebemos de imediato, nomes de homens e mulheres que

participaram ativamente da construção de uma sociedade mais representativa, sobretudo na

produção e transmissão de conhecimento como professores, advogados, prefeitos,

administradores públicos, entre tantos outros. Personalidades que saíram mais fortes dos

processos educacionais, reinventando as regras de convívio para além dos interesses

meramente personalistas e individualizantes ou das práticas da omissão e da indiferença.

Essas histórias precisam ser revistas, necessitando pesquisas sobre cada painel.

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Sobre os Painéis de Formatura/ Quadros de formatura

Como sabemos, no século passado era costume que cada turma depois de formada

deixasse de recordação para a instituição, um quadro com fotografias dos alunos, mestres e

homenageados. Infelizmente, quase desapareceu um dos mais importantes registros

históricos de

nossas escolas: o quadro de formatura. No passado, eram verdadeiras

relíquias,

feitos por artesãos reconhecidos, peças que enobreciam escolas e que faziam

parte da história dos formandos.

Podemos dizer que são verdadeiros monumentos, obras comemorativas

ou uma recordação

importante a ser perpetuada, um sinal do passado, na conceituação de Jacques Le Goof: “O

monumento tem como características o ligar-se ao poder de perpetuação, voluntária ou

involuntária, das sociedades históricas (é um legado à memória coletiva) e o reenviar a

testemunhos que só numa parcela mínima são testemunhos escritos”

(1990, p. 536).

Segundo Werle (2006, p.9 -10) os quadros de formatura são monumentos que comemoram

a conclusão do curso, perpetuam a memória do acontecimento e do grupo, são uma forma

específica do mesmo grupo estar e apropriar-se da instituição escolar -

dimensão

pessoal/grupal de sucesso –, proclamam a presença institucional na memória coletiva e o

sucesso da escola no alcance de seus objetivos e missão pedagógica -, dimensão

institucional de sucesso. Apresentam um significado social afirmativo para a escola e para o

grupo de alunos formados.

Até os colégios tinham e preservavam os quadros de formatura. Além de contribuição

histórica como registro de alunos, muitos dos quais se tornaram e são personalidades da

cidade, do estado e do País, são peças de artesania primorosa. istos de l um foto f ico

e artesanato, os quadros de formatura podem ser analisados sob diversas perspectivas.

Uma dela, trata da perspectiva de objetos pertencentes ao acervo da cultura material

escolar na concepção proposta por Souza (2007), que permite compreender esses objetos

como documentos de investigação

histórica

que possibilitam tanto a análise

de sua

materialidade quanto das relações

intrínsecas

provocadas pelos usos, por suas

compreensões, pelo registro da história. Dessa forma, os quadros de formatura da

Academia do Comércio de Santa Catarina, podem ser entendidos como objetos

componentes da cultura material do lugar, que guardam em sua materialidade a capacidade

de perenizar rituais, saberes e práticas

na passagem do tempo. Alguns destes quadros de

formatura eram mais simples, com moldura, fotografias e desenhos.

Outros, extremamente

elaborados, em madeira maciça, de grandes proporções. A análise desses artefatos, onde

predominam imagens fotográficas, os concebe como suportes de marcas que podem revelar

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nuances do investimento político, institucional e pessoal engendrados pela efervescência da

construção social de necessidades e crenças na formação através da educação. São

componentes de uma trama de relações da tessitura social constituída por seus produtores

e consumidores que, em contato com eles, deram sentido mútuo as suas existências no

universo de uma escola pulsante, de saberes e práticas vividas, sentidos e reproduzidos

(COELHO Jr, 2013).

Todavia, cabe ressaltar, não chegamos neste estágio

ainda.

Neste

trabalho, trataremos de outra coisa: a pulsão de morte, vista por seu avesso. Estes painéis e

sua história nos remetem de imediato a pulsão de morte a que se refere Derrida,

em “ al de

a quivo”,

uma pulsão de agressão e de destruição que impele ao esquecimento, à amnésia,

à aniquilação da memória.

A pulsão de morte é acima de tudo, anarquívica [...] sempre foi, por vocação, silenciosa, destruidora do arquivo. A pulsão de morte é também uma pulsão de agressão e de destruição, ela leva não somente ao

esquecimento, à amnésia, à aniquilação da memória como mneme ou anamnesis, mas comanda também o apagamento radical, na verdade a erradicação daquilo que não se reduz jamais à mneme ou à anamnesis; a saber, o arquivo, a consignação, o dispositivo documental ou monumental (DERRIDA, 2001, p. 21-2).

Como evitamos a morte desses painéis? Em sendo salvos, para que poderão ser úteis? Em

texto muito elucidativo de Werle (2006), denominado: “Ancorando quadros de formatura na

história institucional”, podemos amplia o conhecimento so e estes o jetos. A autora se

refere a quadros mais simples e aos painéis mais complexos, como os do Museu da Escola.

Iremos nos deter nestes, utilizando as descrições que constam do texto. Diz a autora, que

os quadros de formatura não são apenas fotografias de um conjunto de formandos, mas são

fotografias de um grupo de alunas(os), concluintes de um curso, identificados

individualmente, organizados numa totalidade - o quadro -

referidas ao momento histórico e

às propostas da escola, tendo como finalidade colocar-se como conjunto articulado, em

exposição, nas dependências da escola.

As fotografias em suas propriedades –

papel plano,

em preto e branco –

nas quais as pessoas fotografadas –

alunos, homenageados, paraninfo

são representados em face e busto, homogeneizados pela iluminação, dimensão, formato

geralmente ovais -

pela vestimenta e pela posição, são articuladas, superando a redução

aos indivíduos representados em cada uma delas isoladamente, rearticuladas num todo: o

quadro de formatura. Tais quadros (início do século XX) são peças grandes -

alguns com

dois metros de altura -, agregando fotografias sustentadas em madeira pintada ou esculpida

em relevo. Quando feitos de variados tipos de madeira, exploram esteticamente, texturas e

tons de espécies diferentes. Não apenas esculturas, mas dizeres compõem a estética dos

quadros de formatura. Os elementos escritos são identificadores da instituição escolar, da

cidade em que a escola se situa, do ano de conclusão e sempre trazem o nome completo

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dos alunos, alguns mencionam a cidade de origem, bem como dos professores

homenageados e paraninfo, ancorando as imagens no social, no institucional, no tempo e no

espaço.

Os quadros de formatura dão visibilidade às pessoas que passaram pela escola e

ao acontecimento de sua formatura, adornam os corredores da escola e são uma peça

apreciável, digna de ser guardada. Eles são um objeto cultural que tem uma intenção

determinada: celebrar um fato notável, não cotidiano –

a

conclusão de um curso -, festejado

como uma solenidade –

a formatura marcada com vestes não usuais, postura estudada -,

importante de ser lembrada.

Os quadros de formatura hierarquizam. Alunos são

homogeneizados em roupas, cabelos e poses, bem como na regularidade com que as fotos

são distribuídas no conjunto do quadro. Em separado, e em fotos de maiores dimensões do

que as dos alunos, estão homenageados e paraninfo, figuras ilustres, por isto, maiores,

distintas e articuladas, como grupo, em espaço diferente do de alunos. Não há mulheres

paraninfando turmas de formandos, ou seja, o lugar de patrono ou protetor de turma estava,

na época, reservado a homens. Os quadros de formatura, na época em que foram

construídos eram expostos em salas de visitas, em salões reservados para solenidades, em

corredores. No Museu, encontram-se na sala Euterpe, constituindo parte do acervo

museológico, em uma ideia de imersão (Fig.3), derivado do latim immersio, sinônimo de

mergulho, que significa possibilitar a introdução dos visitantes do museu num determinado

ambiente, seja este real ou imaginário. Este movimento de olhar projetado para o passado é

discutido por Agamben em O que é contemporâneo? no livro “O que é contemporâneo e

outros ensaios” (2009), quando diz que a “via de acesso ao p esente tem necessa iamente a

fo ma de uma a queolo ia” (p. 70) no sentido d e situações que já aconteceram,

já foram

vividas e no presente não podemos mais viver nem alcançar, um olhar para o não vivido no

que é vivido, um movimento que não cessa em se repetir.

Tais quadros e sua exposição

pública explicitam redes de relacionamento pessoal e a importância institucional.

Os símbolos utilizados nos painéis.

Os painéis de formatura também contextualizam valores de época. Observa-se pelo texto de

Werle (2006), que era muito comum que os quadros/painéis fossem decorados com

esculturas que lembram instrumentos de estudo e leitura

mapa mundi,

mapa do Brasil,

mapas dos estados, das cidades,

esquadro, pergaminho, compasso, livros -

elementos

cívicos –

bandeira dos estados e do Brasil, escudo nacional, pira da pátria, entre outros –

e

religiosos –

imagem de santos, Nossa Senhora e Cristo

(Fig.4). De maneira geral,

apresentam uma aparência ordenada, sóbria e coerente.

Identificam-se como elementos

contextualizadores, ao lado da moldura e suas esculturas, os lemas inscritos nos quadros e

a indumentária dos fotografados.

As vestimentas também formam padrões. Chapéus, paletó

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e gravata, no mais das vezes com padrões definidos entre os formandos. As fotos de

professores homenageados e paraninfos não mantém um único padrão como as dos

formandos(as) que olham para um mesmo lugar, inclinam a cabeça uniformemente e

transmitem, em seu conjunto, um significado de alinhamento disciplinado.

Outros elementos

comuns são os lemas, um preceito escrito, uma sentença. Os lemas dos

quadros de formatura são breves afirmativas escritas em latim ou português. Um bastante

significativo no painel de 1945 da academia do Comé cio é: “La o Omnia Vincit” -

“O

t a alho vence tudo”, f a mento de ve sos de Vi ílio, que se to na am p ove iais. Outro

elemento bastante presente é o Caduceu de Mercúrio, que é a insígna do Deus do

Comércio.

O Caduceu

que nada mais é do que um bastão (poder, que no caso, tem por

objeto o patrimônio de quaisquer entidades),

entrelaçado com duas serpentes (sabedoria,

isto é quando se deve estudar antes de agir, para escolher o caminho correto e ao mesmo

tempo mas vantajoso para o cliente), tendo na parte superior duas pequenas asas

(diligências, ou seja, a presteza, a solicitude, a dedicação e o cuidado no exercer da

profissão) e um elmo alado (pensamentos elevados, uma peça de armadura antiga que

cobria a cabeça, tem significado de proteção contra pensamentos baixos que levem a ações

desonestas), e que é um dos atributos do deus Mercúrio (Hermes), protetor do comércio,

emblema da paz e prosperidade. Os livros, muito comuns, adequados para a nutrição do

espírito e da mente. A roda da Fortuna, presente no painel de painel de 1949, uma roda com

seis raios, indica destino, reflexão, em que tudo acontece a seu tempo, fazendo lembrar da

garantia de cumprimento de um destino, representado pela lei de causa e efeito e também

pela lei da compensação. Fortuna quer dizer sorte, destino e não fortuna material.

De uma flor e vaso, no painel de 1945 – Administração e Finanças,

saem moedas. Outro

símbolo recorrente são

as Tábuas da Lei com a legenda "LEX",

que advém da antiga

tradição judaica de que a lei foi entregue por Deus a Moisés em tábuas, contendo os Dez

Mandamentos.

No caso, mencionam 12 leis. Há cinco focos temáticos que predominam nos

lemas dos quadros de formatura, conforme o caso: religião, ascese, sucesso, civismo e

ciência. Ascese é uma ideia

que se estabelece na relação com sucesso e religião. O mapa

de Santa Catarina, elementos da Cidade de Florianópolis, como a Ponte Hercílio Luz (painel

de 1940) também aparecem. Os lemas compunham, com as esculturas dos quadros, um

contexto simbólico modelar para os(as) formandos(as), alinhados com as propostas

formativas da instituição. Um lema inscrito num quadro de formatura, sempre exposto à

vista, tem um impacto mais permanente, como que relembrando seu conteúdo

constantemente.

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O processo de recuperação dos

painéis da Academia de Comércio:

uma visão do

avesso.

Os painéis que pertenceram à extinta Academia de Comércio de Santa Catarina, foram

doados ao MESC em 2005,

ficando por praticamente 7

(sete) anos, abandonados. A

recuperação pela equipe técnica do MESC, com pesquisa,

sistematização e guarda do

material, iniciou no ano de 2013 e na parte de recomposição técnica, por Cassiano Reinaldin

e por Dario Luciano de Aguiar e Emília Aguiar, entre os anos de 2015, 2016 e 2017.

Não

sabemos precisar em que estado de conservação chegaram ao MESC, mas com certeza já

estavam infectados por xilófagos. As fotos (Fig.5) mostram o

estado de decomposição em

que se encontravam os painéis,

que aos poucos foram recuperados. O Laudo do Estado de

Conservação dos painéis em madeira e composição fotográfica da Escola do Comércio –

Florianópolis, que recebemos em 2013, realizado por Márcia Regina Escorteganha,

Conservadora-Restauradora

da Fundação Catarinense de Cultura,

atestava o estado de

degradação geral dos painéis. Após este laudo, procedemos ao que foi recomendado e

hoje, estamos com 13 (treze) painéis, podendo

mostrar em nosso museu, o que

conseguimos recuperar, bem como fotografias que constituem

um registro importantíssimo

da memória dos catarinenses ilustres que tiveram sua formação escolar na Academia do

Comércio. Recomendava a retirada urgente do suporte secundário, dizendo que a medida

era necessária por se tratar somente de um suporte de sustentação que não afetaria a

estruturação nem a estética da obra em si, além disso com estado de degradação avançado

e a infestação por insetos xilófagos generalizada, o que tornava inviável sua conservação.

Portanto deveria ser descartado para não contaminar o restante do acervo e nem mesmo as

estruturas arquitetônica do Museu Escola Catarinense. Esta retirada deveria

ser efetuada

por um profissional conservador e com os devido cuidados em manter intacta a estrutura

original do suporte principal. Indicava ainda formas de armazenamento dos elementos dos

painéis, das fotografias, em que as áreas

em desprendimento deveriam ser acondicionadas

e agrupadas em dossiês relativos a cada painel e fornecia também instruções para sua

remontagem posterior, indicando realizar um registro fotográfico detalhado e descritivo de

cada um dos painéis (Fig.6). Ao nosso modo, empreendemos a tarefa, tirando molde em

papelão, fazendo anotações sobre as imagens e sua localização.

Em 3 (três) painéis (1938, 1939 e 1943), os suportes secundários originais foram mantidos,

bem como os ornamentos originais. Em outros 9 (nove) painéis, a saber –

1940, 1941, 1942,

1944, 1945, 1945 -

adm. e finanças

-

1947, 1949, 1950 -

os suportes originais foram

descartados e foram criados novos suportes secundários, mantendo ornamentos originais,

bem como reposição de ornamentos faltantes, através de recuperação cuidadosa e atenta

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aos detalhes, usando também chapas que reproduzem a madeira da época de criação

desses quadros de formatura. Dois dos painéis, a saber –

1946 e 1949 -

estavam

praticamente destruídos por insetos xilófagos e foram refeitos através de registros

fotográficos, mantendo e mesclando os ornamentos e letras originais e recuperadas, quando

possível. Do painel de 1946, praticamente

tudo precisou ser refeito, era o mais danificado.

Dos 13 (treze) painéis recebidos, conseguimos recuperar todos,

sendo que dois deles

estavam praticamente destruídos. O que seria essa visão do avesso? De fato, para que

esses painéis continuassem

a existir, muitas batalhas foram travadas, desde o

convencimento dentro da Universidade para contratar especialistas

que realizassem sua

reconstituição,

procurando soluções dentro das leis de licitação, até admitir que a própria

Universidade deixou este material se

deteriorar por um bom tempo. De 2005 a 2012, eles

ficaram jogados em uma sala, sem o menor cuidado, sendo que neste período, os cupins

continuaram em sua ação frenética a

devorar a madeira e

por conta de

uma reforma

no

telhado do Museu, alguns painéis receberam água

da chuva, o que estragou muitas das

fotos, em um final de semana sem assistência alguma, acrescido do fato de que estavam

completamente desprotegidos. Ressalta-se que apesar de providenciarmos uma avaliação

técnica e contar com ajuda de conservadora em orientação para desmonte, a equipe que

atuou no trabalho não tem formação na área. O trabalho foi feito com intuição,

planejamento, sentido de organização e muito cuidado. Em 2017, concorreu ao Premio

Rodrigo Melo Andrade Franco de Andrade, que prestigia as ações de preservação do

patrimônio cultural brasileiro, por Santa Catarina. Jacques Derrida, em “Pensar em não ver:

escritos sobre as artes do visível” (2012), diz que temos a necessidade de memória, porque

temos o medo de perder. Para Derrida, “O a quivo, não é uma questão de passado, é uma

questão de futu o” (p. 132), pois selecionamos o que conside amos que seja impo tante e o

que p eciso que se epita no futu o. “É o que fazemos todo o tempo na vida, a pulsão de

arquivo: o que vamos deixar de

lado e o que vamos epeti ?” (pa .132). A memó ia no

arquivo está em trazer para a atualidade o que está distante e dar continuidade ao passado

garantindo que este sobreviva amanhã. Para Didi-Huberman (2012, p. 130), o arquivo é

semp e “uma histó ia em const ução”, pois a cada nova desco e ta apa ece nele como uma

“ echa na histó ia conce ida”, uma sin ula idade que o investi ado vai uni com tudo o

que j sa e pa a possivelmente “p oduzi uma histó ia epensa da do acontecimento em

questão”.

Importante destacar

que alguns visitantes,

quando entram no ambiente de

imersão com os painéis de formatura, acabam por emocionar-se de tal forma que nos

surpreende verificar o efeito que exercem na memória das pessoas. Muitos relatam fatos e

histórias vivenciadas naquela época, outros buscam por familiares e/ou conhecidos que

podem estar ali. Outros, mais jovens, ficam extasiados com a riqueza de detalhes que se

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apresentam nestes painéis, como por

exemplo os entalhes na madeira e

o significado

destes detalhes. O que sabemos até o momento está aqui descrito sinteticamente,

esperando que o futuro reserve a esses painéis, novas e mais completas arqueografias.

Fig. 1.Treze

painéis em estado original (2012) ,

antes de recuperação. O painel de 1947 aparece em frente e verso. Acervo MESC. Nas fotos nesta dimensão, não são perceptíveis os estados de degradação do material.

Fig. 2. Treze Painéis apos a recuperação (2017). Um deles, do ano de 1946, em processo final. Acervo MESC.

Fig. 3. Vista geral da sala expositiva, onde os painéis estão expostos como ace vo (2017). “Ime são”. Acervo MESC.

Figura 4. Símbolos presentes na ornamentação-

Flores, caduceu, Lex com doze leis, lemas em latim, fotografias, livros, mapa de Santa Catarina. No detalhe, a fotografia de João Makowiecky, pai de uma das autoras, painel de 1945, que depois cursou Direito. Acervo MESC.

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Figura 5. Painéis em estado original

(2013) , antes de recuperação, em que se observa o estado de degradação.

Acervo MESC.

Figura 6. Detalhes das etapas do processo de desmonte e acomodação das peças para armazenamento (2013), no aguardo da recuperação.

Acervo MESC.

Referências bibliográficas

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ARTE E SEUS LUGARES: COLEÇÕES EM ESPAÇOS REAIS Anais do VIII Seminário do Museu D. João VI / IV Colóquio Internacional Coleções

de Arte em Portugal e Brasil nos séculos XIX e XX.

COORDENAÇÃO Ana Cavalcanti (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Arthur Valle (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Maria João Neto (Universidade de Lisboa)

Marize Malta (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Sonia Gomes Pereira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

COMISSÃO ORGANIZADORA Adriana Nakamuta (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Ana Cavalcanti (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Arthur Valle (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) Flora Pereira Flor (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Maria Cristina Volpi (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Maria João Neto (Universidade de Lisboa)

Marco Antonio Pasqualini de Andrade (Universidade Federal de Uberlândia) Marize Malta (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Rafael Bteshe (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Sonia Gomes Pereira (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

COMISSÃO CIENTÍFICA Alain Bonnet (Université Grenoble Alpes, França)

Emerson Dionísio de Oliveira (Universidade de Brasília, Brasil) Gonçalo de Vasconcelos e Sousa (Universidade Católica Portuguesa – Porto, Portugal)

Jorge Coli (Universidade Estadual de Campinas, Brasil) Luiz Alberto Freire (Universidade Federal do Bahia, Brasil)

Maria de Fátima Morethy Couto (Universidade Estadual de Campinas, Brasil) Raquel Henriques da Silva (Universidade Nova de Lisboa, Portugal)

Vítor Serrão (Universidade de Lisboa, Portugal)

COMISSÃO DE APOIO Denilda Bortolleto (Universidade Estadual de Campinas)

Márcia Valéria Rosa (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Patrícia Telles (CEAACP da Universidade de Coimbra, CHAIA da Universidade de Évora)

REALIZAÇÃO Grupo de pesquisa ENTRESSÉCULOS

Programa de Pós Graduação em Artes Visuais/ Escola de Belas Artes/ Universidade Federal do Rio de Janeiro Departamento de Artes/ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

ARTIS/ Instituto de História da Arte/ Faculdade de Letras/ Universidade Lisboa

APOIO Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)

Museu Nacional de Belas Artes (MNBA)