carta ao presidente do psd

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António Costa responde a Passos Coelho

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  • 1

    Lisboa, 19 de outubro de 2015

    Recebi a sua carta de ontem, que tem como nico propsito procurar inverter o

    nus de pr o ponto final - que j anunciara no que designou conversas entre

    o PS, o PSD e o CDS com vista a um entendimento que pudesse garantir a

    estabilidade e a governabilidade.

    Na prpria noite das eleies tive ocasio de expressar publicamente o que a

    Comisso Poltica Nacional do PS reafirmou na sua deliberao de 6 de Outubro:

    - o PS reconheceu que cabe em primeiro lugar ao PPD/PSD, como partido

    com maior representao parlamentar, criar condies de governabilidade;

    - responsavelmente, o PS assumiu tambm e desde logo que no

    contribuiria para formar uma maioria negativa, apostada em obstaculizar a ao

    de um governo, ou a inviabilizar a sua formao sem assegurar uma alternativa

    real e credvel.

    Ou seja, no s reconhecemos o legtimo primado de iniciativa do PPD/PSD como

    partido com maior representao parlamentar, como assegurmos uma atitude

    construtiva e de no obstaculizao da sua ao governativa ou de inviabilizao

    da formao de um governo de sua iniciativa, sem que houvesse uma alternativa

    real e credvel.

    Do mesmo modo, sublinhmos o dado poltico essencial resultante das eleies

    de 4 de Outubro:

    - A perda da maioria pela coligao constitui um novo cenrio poltico, fruto de

    uma expressiva vontade de mudana que coloca no PSD e no CDS o nus de

    criarem condies de governabilidade neste novo quadro parlamentar. A coligao

  • 2

    tem de perceber que no pode governar como se nada tivesse acontecido e deve

    explicar como pretende assegurar a governabilidade.

    Por isso, correspondemos ao convite para a reunio que tivemos em 9 de

    outubro, solicitmos informao financeira que detalhmos por escrito,

    aguardmos um documento que finalmente nos enviou em 12 de outubro e que

    pudemos apreciar longamente na reunio de 13 de Outubro, conforme sintetizei

    por escrito na minha carta de 16 de Outubro, expondo a reorientao poltica que

    no nosso entendimento traduz a vontade dos portugueses expressa no s em

    bases programticas como tambm em medidas concretas.

    Em vez de, como fizemos, analisar a minha carta, identificando os pontos de

    concordncia e discordncia, porventura at parcial, limita-se a rejeit-lo em

    bloco, com o extraordinrio argumento de serem as bases programticas e as

    medidas constantes do programa do PS.

    Mas o que esperava? Que propusssemos as medidas do programa do PSD/CDS?

    Nada acrescentando a sua carta ao anterior documento que considermos muito

    insuficiente, nada mais posso acrescentar, para alm de insistir na necessidade

    de nos ser disponibilizado integralmente o conjunto de informao financeira que

    oportunamente solicitmos e que s foi parcialmente respondido.

    Quero contudo deixar claro a quem leia esta carta, o que j lhe tive oportunidade

    de transmitir: o que nos separa no so lugares no governo, que recusmos

    desde o incio, ou o relacionamento pessoal - bastante cordial, devo reconhec-lo

    - mas a imperiosa necessidade do pas e a soberana vontade dos portugueses de

    uma reorientao de poltica, que persistem em no aceitar.

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    Por fim, reafirmo-lhe que, responsavelmente, o PS procurar assegurar as

    melhores condies de estabilidade e governabilidade que garantam esta

    reorientao, no quadro plural da nova representao parlamentar.

    Com os melhores cumprimentos,

    Antnio Costa