caso clÍnico cardiologia pediÁtrica anomalia de ebstein brasília, 18 de fevereiro de 2009 escola...
TRANSCRIPT
CASO CLÍNICOCARDIOLOGIA PEDIÁTRICA
Anomalia de Ebstein
Brasília, 18 de fevereiro de 2009
Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES;DF – Internato em Pediatria
Hospital Regional da Asa Sul (HRAS)/SES/DF
Eduardo Honorato Rodrigues AlvesMatheus Marques FrancaOrientadora: Drª. Sueli Falcãowww.paulomargotto.com.br
Caso Clínico Admissão – PSI – HRAS:
Informantes: pais Data: 07/02/09 Hora: 12:00
Identificação : R.V.T.B., sexo feminino, 17 dias de vida (Data de
nascimento: 22/01/2009), natural e procedente de Cocos – BA.
Queixa principal: “Cansaço desde o nascimento”.
HMA
Pais informam que, desde o nascimento, a neonata apresenta desconforto respiratório, caracterizado como taquipnéia e cianose perioral, principalmente quando chora e amamenta (por diversas vezes interrompe a amamentação para descansar). Há 5 dias, por não haver melhora do quadro, procuraram o serviço de saúde local onde foi diagnosticado pneumonia e orientado buscar tratamento em Brasília – DF. Nega febre, tosse e irritabilidade.
Revisão de Sistemas
Aceitação parcial de seio materno e de complemento NAN.
Refere secreção ocular fluida e amarelada.
Refere aparecimento de micropápulas eritematosas em pescoço, axilas e tronco há 4 dias.
Nega alterações urinárias e gastrintestinais.
Antecedentes Mãe realizou 5 consultas de pré-natal, informa ter
realizado USG que não mostrou qualquer alteração.
Mãe apresentou sangramento vaginal no 2º mês de gestação, associado a dor lombar com irradiação para hipogástrio. Fez uso de Buscopam® até o término da gestação.
Não há sorologias maternas no cartão da criança.
Vacinação completa até o momento.
Antecedentes Nascido de parto cesariano (DCP?, SFA?) à termo.
Peso de nascimento: 3000g
Mãe informa que neonata não chorou ao nascer, estava “roxa” e necessitou de oxigênio por algumas horas (não sabe especificar). Apgar ???
Após 4 dias de internação mãe e filha receberam alta. Mãe ainda sem amamentar RN.
Antecedentes patológicos e familiares
Nega doenças prévias.
Mãe, 27 anos, informa apresentar sopro cardíaco desde o nascimento. Nunca fez tratamento, apenas informa que antes havia desconforto e atualmente não há.
Pai, 30 anos, saudável.
Exame físico (Admissional)
Sat O2: 78 – 85% FC: 128 bpm FR: 76 irpm
Ectoscopia: REG, taquidispnéica, hidratada, corada, cianótica, afebril, ativa e reativa.
ACV: RCR em 2T, BNF com desdobramento amplo de B1, sopro contínuo em BEEB 4+/6+ com frêmito à palpação e irradiação para todo precórdio, e sopro sistólico de regurgitação em BEE 3ºEIC.
AR: MVF, sem RA, retração de fúrcula e TSC leve/moderada.
Exame físico
ABD: plano, RHA +, flácido, timpânico, com fígado palpável à 3 cm do RCD.
Extremidades: bem perfundidas, sem edema.
Pele: micropápulas eritematosas e descamativas, em pescoço, axilas e tronco.
SNC: Sem sinais de irritação meníngea.
Presença de hipertelorismo ocular e prega palmar única.
Caso Clínico Impressão Diagnóstica:
1. ICC2. Cardiopatia congênita cianótica a/e3. Cromossomopatia?
Conduta: 1. Colhidos gasometria e eletrólitos.2. Solicitado HC e hemocultura (sangue insuficiente).3. Solicitado Rx tórax e ecocardiograma.4. Prescrito Holliday 60% + Furosemida 6mg/kg/dia.5. Oxigênio em tenda e oximetria contínua.
Evolução
07/02/09 às14h00: Em berço aquecido. Glicemia capilar de 61 mg/dl. Sonda Orogástrica. HV 60ml/Kg com TIG 5,0. Furosemida 2mg/Kg/dia, Espironolactona 1mg/Kg/dia.
Gasometria: pH: 7,35 pCO2: 43 pO2:32 HCO3:23 BE:-2
Exames complementares
Glicemia: 68 mg/dl Uréia: 24 mg/dl Creatinina: 0,7 mg/dl TGO: 42 U/L TGP: 15 U/L BT: 1,86 mg/dl BD: 0,42 mg/dl Ca: 10,3 mg/dl Mg: 2,3 mg/dl
Leuc.: 14800/mm³ (Neu 66%, Lin 28%, Bas 1%,
Mon 3%, Eos 2%) Hb.: 17,9 g/dl Ht.: 49,4 % Plaq.: 273000/mm³ VHS: 60 mm/h Na, K e Cl (material
insuficiente)
Radiografia de tórax
Aumento da área cardíaca Índice cárdio-torácico: 2,5+5,0/9,5 = 0,78
(normal até 0,6) Aparentemente sem alterações pulmonares.
ECG
D1
D2
D3
aVR
aVL
aVF
V1
V2
V3
V4
V5
V6
D2 Longo
T
ECG
120º FVM: 150 bpm Ritmo juncional PR 0,08seg Repolarização normal Aumento do átrio direito Sem sinais de sobrecarga de VD
Ecocardiograma
Situs Sólitus em levocardia. Conexão AV e VA concordantes. A valva tricúspide é displásica com parte do folheto septal
aderida ao septo IV com implantação baixa. As câmaras direitas estão dilatadas. Valvas pulmonar, aórtica e mitral com aberturas normais. PCA grande, medindo > 4mm com fluxo E/D. FOP com “shunt” E/D. Refluxo tricúspide de grau importante. Função dos ventrículos preservados.
Cardiopatia Congênita Cianótica
Cianose
Concentração de hemoglobina reduzida < 5g/100ml. Fluxo sangüíneo lento maior extração de oxigênio
(acrocianose). Oxigenação ineficiente do sangue pelos pulmões
(causas pulmonares). Malformações congênitas do coração.
Conduta no RN cianótico
Cianose periférica (acrocianose) ou central. Monitorizar saturação de O2 com oxímetro de pulso ou
gasometria arterial. Realizar teste de hiperóxia (oferta de O2 a 100% durante 10
minutos): Bebês portadores de pneumopatias - paO2 >150mmHg. Portadores de cardiopatia congênita cianogênica não deverá
ocorrer aumento significativo da saturação de O2. Observar o padrão respiratório:
Cardiopatias congênitas cianóticas em que não há insuficiência cardíaca, geralmente há leve taquipnéia.
Nas pneumopatias há quadro evidente de dispnéia.
Conduta no RN cianótico
Avaliar pulsos de membros superiores e inferiores. Dificuldade na palpação dos pulsos dos membros inferiores
sugere coarctação da aorta. Observar a presença de sopros cardíacos:
Indicam o tipo de cardiopatia. Ausência de sopro não afasta o diagnóstico. Freqüentemente as cardiopatias congênitas cianóticas graves
cursam com precórdio silencioso. Rx de coração e vasos da base. Suspeita de cardiopatia providenciar eletrocardiograma e
ecocardiograma.
Principais cardiopatias congênitas cianóticas no RN
1. Por circulação pulmonar e sistêmica independentes – cianose severa, paO2 entre 20 e 50mmHg Transposição dos grandes vasos da base sem comunicação
intraventricular (CIV).
2. Por fluxo sangüíneo pulmonar inadequado – cianose severa. Atresia da valva tricúspide. Atresia da valva pulmonar sem CIV. Tetralogia de Fallot com estenose pulmonar crítica. Anomalia de Ebstein.
3. Por mistura de sangue venoso com arterial – cianose moderada, paO2 entre 50 e 80mmHg Drenagem anômala total das veias pulmonares.
Anomalia de Ebstein
Definição Descrita por Wilhelm Ebstein em 1886.
Cardiopatia congênita rara, em que folhetos da valva tricúspide estão anomalamente inseridos dentro da cavidade do ventrículo direito (VD).
Esboço à lápis de Wilhelm Ebstein (1836-1912) publicado em comemoração ao seu 70º aniversário.
Epidemiologia
Corresponde a 0,5 a 1,0 % das cardiopatias congênitas.
1 : 210.000 nascidos vivos. Mesma proporção entre os sexos. Na maioria das vezes ocorre em RN à termo, com
peso e comprimento adequados para a idade. Sobrevida para os nascidos-vivos :
Menores de 1 ano - 67% . Até os 10 anos - 59% .
Anatomia patológica
AE
AD
Anatomia patológica
1. Os folhetos septal e posterior da Tricúspide deslocados inferiormente em direção ao ápice do VD.
2. Folheto anterior insere ao nível do anel da tricúspide “Megafolheto”.
3. Redundância do folheto anterior altera fluxo pela Artéria Pulmonar.
4. Dilatação da junção átrio-ventricular direita.5. “Atrialização”.6. cavidade do VD.
Anatomia patológica
S – Septal P – Posterior AS – Septo Atrial VS – Septo VentricularVSD – Defeito de Septo Ventricular.
mLA – Morfologia de Átrio Esquerdo mLV - Morfologia de Ventrículo Esquerdo.mRA – Morfologia de Átrio Direito mRV – Morfologia de Ventrículo Direito
van Son J. A. M. et al.; J Thorac Cardiovasc Surg 1995;109:642-653
Anatomia patológica
Associações Persistência do forame oval ou defeito do septo
atrial – 90%.
Wolff-Parkinson-White - 10 a 25%.
Classificação de Carpentier - 1988
Chauvaud S. et al.; Eur J Cardiothorac Surg 1998;13:514-519
Classificação de Carpentier - 1988
Tipo A: Mínimo deslocamento do folheto septal. A atrialização do
VD é pequena. Tipo B:
Moderado deslocamento do folheto septal com grande atrializaçãoVD.
Tipo C: Importante deslocamento do folheto septal e póstero-inferior
associada ou não a discinesia da porção atrializada do VD, além de restrito movimento da cúspide anterior - cordoalhas relativamente curtas.
Tipo D: Completa atrialização do VD (Síndrome de Uhl).
Classificação de Celemajer - 1994
Área do AD + Área de VD atrializadoÁrea de VD (funcional) e VE
Grau 1: < 0,5 Grau 2: 0,5 – 0,99 Grau 3: 1,0 – 1,49 Grau 4: > 1,5
Quadro clínico
Variável:
Assintomática.
Cianose.
Dispnéia aos esforços.
Palpitações – Arritmias.
Influenciam o quadro clínico
A gravidade da insuficiência tricúspide.
Presença de defeitos do septo atrial.
Grau de hipoplasia do VD.
Idade de apresentação.
Outras anomalias cardíacas.
Exame Físico
Cianose.
Dispnéia.
Cardiomegalia.
Arritmias.
Frêmito sistólico em BEE.
Sopro cardíaco.
Estase jugular.
Hepatomegalia.
Ascite.
Edema.
Complicações
Insuficiência cardíaca.
Obstrução via de saída do VD.
Arritmia.
Endocardite bacteriana subaguda.
Déficit de crescimento.
Complicações
Embolia paradoxal.
Morte súbita: cardiomegalia X classe funcional de IC.
Complicações Abscesso cerebral:
Etiologia cardíaca - 5%. Doença valvular + endocardite, 2 a 4% (mais comum).
Lonnebakken, M.T. et al. Eur J Echocardiogr 2008 9:105-106;doi:10.1016/j.euje.2007.03.032
Diagnóstico - Radiografia
Índice
Cardio-torácico
RN < 0,60
Lactente < 0,55
6 anos < 0,50
Diagnóstico - ECG
Diagnóstico – Ecocardiograma
Diagnóstico – Doppler
Diagnóstico - RMN
Útil para calcular a dimensão e função do VD.
Tratamento clínico
Medidas gerais. AINEs Diuréticos:
Furosemida e Espironolactona Inibidores da ECA:
Captopril e Enalapril. Digoxina. Beta bloqueadores:
Metoprolol e Caverdilol.
Indicações de cirurgia
1. Classe funcional I e II NYHA, com cardiomegalia importante (índice cardiotorácico ≥ 0,65).
2. Classe funcional III e IV NYHA.
3. Cianose significativa e policitemia.
4. Apresentaram embolia paradoxal.
5. Taquicardia incontrolável e feixe AV acessório.
Tratamento cirúrgico
Substituição valvular.
Tratamento cirúrgico
Reparo valvular.
Fontan.
Reparo ventricular.
Transplante cardíaco.
Cirurgia de Carpentier
Reparo ou Substituição Valvular
Variação Técnica da Cirurgia de Carpentier
Reparo Valvular
F. tricuspídeo anômalo
Forame oval
Anel tricuspídeo
Seio Coronário
Linha de Sutura
Seio Coronário
Seio Coronário
Plicatura deAnel Tricuspídeo
Seio Coronário
Plicatura deAnel Tricuspídeo
Ecocardiograma pós-correção
VD – Ventriculo Direito, VE – Ventrículo Esquerdo, AD – Átrio Direito, AE – Átrio Esquerdo, VT – Válvula Tricúspide, FS – Folheto Septal
Referências1. CASTAÑEDA, Aldo R. et al. Cardiac Surgery of the Neonate and Infant. 1ª ed. United
States of America: W. B. Saunders Company,1994.
2. MOORE, Keith L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia Clínica. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2000.
3. [PDF] Anomalia de Ebstein. Resultados com a reconstrução cônica da valva ...JP da Silva et al. Anomalia de Ebstein. Resultados com a reconstrução cônica da valva tricúspide. Acesso em: 15 fev. 2009.
4. Late results of systemic atrioventricular valve replacement in ... Van Son JÁ et al. SURGERY FOR CONGENITAL HEART DISEASE: Late results of systemic atrioventricular valve replacement in corrected transposition. The Journal of Thoracic Cardiovascular Surgery. 1995. Acesso em: 14 fev. 2009.
Referências
5. [PDF] Microsoft PowerPoint - Ebstein Kritvikrom 2008. Durongpisitkul, Kritvikrom. Ebstein Anomaly from Pediatric to Adults Acesso em: 15 fev. 2009.
6. Brain abscess caused by paradoxical embolization in Ebstein's ...Lonnebakken MT et al. Brain abscess caused by paradoxical embolization in Ebstein’s anomaly. European Journal of Echocardiography (2008) 9, 105–106. Brain abscess caused by paradoxical embolization in Ebstein’s anomaly. European Journal of Echocardiography (2008) 9, 105–106. Acesso em: 14 fev. 2009.
7. Garcia EM, Sampietro V. Arritmias cardíacas\Insuficiência cardíaca congestiva/Cardiopatias congênitas. In.MARGOTTO, P.R., Assistência ao Recém-Nascido de Risco, Hospital Anchieta, Brasília,2006, 2ª edição,270-288 (disponível em www.paulomargotto.com.br no item LIVRO. Acesso em 16 fev 2009
Obrigado!