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1 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF 020/2010 M745 Monken, Priscila Mattos O valor semântico-pragmático do conector se / Priscila Mattos Monken -- Campos dos Goytacazes, RJ, 2009. 216 f. : il Orientador: Gilberto Lourenço Gomes Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, 2009 Bibliografia: f. 202 - 210 1. Conjunções Condicionais – Semântica. 2. Análise do Discurso. 3. Linguística. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências do Homem. II. Título.

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1 FICHA CATALOGRÁFICA

Preparada pela Biblioteca do CCH / UENF

020/2010

M745

Monken, Priscila Mattos

O valor semântico-pragmático do conector se / Priscila Mattos Monken --

Campos dos Goytacazes, RJ, 2009.

216 f. : il

Orientador: Gilberto Lourenço Gomes

Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) – Universidade Estadual

do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências do Homem, 2009

Bibliografia: f. 202 - 210

1. Conjunções Condicionais – Semântica. 2. Análise do Discurso. 3. Linguística. I. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Centro de Ciências do Homem. II. Título.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO

DEPARTAMENTO DE COGNIÇÃO E LINGUAGEM – PÓS-GRADUAÇÃO

PRISCILA MATTOS MONKEN

ANÁLISE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA DO CONECTOR SE

CAMPOS

2009

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PRISCILA MATTOS MONKEN

O VALOR SEMÂNTICO-PRAGMÁTICO DO CONECTOR SE

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Cognição e Linguagem, como

requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre.

Área de concentração: Estudos da Linguagem. Sub-

área: Língua Portuguesa.

ORIENTADOR: Prof. Dr. GILBERTO

LOURENÇO GOMES

CAMPOS

2009

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A Deus que sempre me iluminou em cada passo

meu. Aos meus pais, as pessoas mais incríveis que

conheci, Neide e Kurt, pelo amor incondicional. A

meu marido Glauber, minha filha Júlia e a

Carminha pelo acompanhamento e dedicação nos

momentos mais difíceis; amo vocês. Ao meu tio

Guilherme por todo apoio e incentivo aos meus

estudos.

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AGRADECIMENTOS

Essa pesquisa só foi possível devido à colaboração de muitas pessoas,

colaboração esta que se iniciou desde o primeiro dia em que decidi participar do processo

seletivo de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem na Uenf.

Não haverá palavras que traduzam toda a minha gratidão aos familiares,

amigos e professores que me conduziram com suas presenças, palavras de conforto e

ensinamentos à realização do grande sonho que foi e é essa pesquisa.

Ao professor Dr. Gilberto Gomes, a quem agradeço por todo o conhecimento que me foi passado e por toda a paciência ao ajudar-me a superar minhas grandes dificuldades e assim alcançar meu tão esperado crescimento. Registro aqui meu carinho e gratidão a você, grande responsável por esta conquista.

Às professoras Dras. Arlete Parrilha Sendra

e Maria Luiza que me incentivaram a participar do Programa de Pós-Graduação em Cognição e Linguagem.

Ao professor Frederico Schwerin Secco por

suas palavras amigas que me confortaram em tantos momentos e ao professor Nilson e André Fernandes Meirelles pela ajuda no tratamento estatístico dos dados da pesquisa.

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Às amigas Ana Clarice Barroso, Ana Flávia,

Adriana-Flor de Souza, Cynthia Viviane Machado e Fernanda Renne pela amizade sempre disponível em todos meus momentos difíceis, por compreenderem minha ausência em tantos eventos e também pela indicação de algumas bibliografias fundamentais para minha pesquisa.

Agradeço a todos os informantes que

responderam meus questionários, viabilizando essa pesquisa.

Espero ter correspondido, dentro de minhas

limitações, a tudo o que desta pesquisa se pode esperar.

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EPÍGRAFE

ÍTACA

Constantino Kavafis

Se partires um dia rumo à Ítaca

Faz votos de que o caminho seja longo

repleto de aventuras, repleto de saber.

Nem lestrigões, nem ciclopes,

nem o colérico Posidon te intimidem!

Eles no teu caminho jamais encontrarás

Se altivo for teu pensamento

Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar

Nem lestrigões, nem ciclopes

Nem o bravio Posidon hás de ver

Se tu mesmo não os levares dentro da alma

Se tua alma não os puser dentro de ti.

Faz votos de que o caminho seja longo.

Numerosas serão as manhãs de verão

Nas quais com que prazer, com que alegria

Tu hás de entrar pela primeira vez um porto

Para correr as lojas dos fenícios

e belas mercancias adquirir.

Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos

E perfumes sensuais de toda espécie

Quanto houver de aromas deleitosos.

A muitas cidades do Egito peregrinas

Para aprender, para aprender dos doutos.

Tem todo o tempo Ítaca na mente.

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Estás predestinado a ali chegar.

Mas, não apresses a viagem nunca.

Melhor muitos anos levares de jornada

E fundeares na ilha velho enfim.

Rico de quanto ganhaste no caminho

Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.

Uma bela viagem deu-te Ítaca.

Sem ela não te ponhas a caminho.

Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.

Ítaca não te iludiu

Se a achas pobre.

Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.

E, agora, sabes o que significam Ítacas.

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RESUMO

Investigamos, neste trabalho, a hipótese de uma possível ambigüidade

factual do conector condicional se. Para testá-la propomos a paráfrase do se pelos

conectores já que e caso. Dessa forma, através de uma descrição e análise de tais

conectores, pretendemos explorar a semanticidade do se.

A primeira etapa da nossa dissertação consiste em uma discussão teórica

sobre a Teoria Variacionista da Sociolingüística, a Semântica, a Pragmática e a Análise do

Discurso. Isso fornece o suporte teórico para nossa pesquisa empírica, por conseguinte para

a nossa segunda etapa da dissertação. Esta consiste em uma pesquisa que visa a fornecer

dados quantitativos e qualitativos a respeito do uso do se. Para tanto, elaboramos dois

formulários em que o informante deve substituir o se pelos conectores expostos nas

alternativas deste.

Julgamos que as escolhas feitas por nosso informante ou por qualquer outro

falante da língua portuguesa nunca são aleatórias. Essas escolhas evidenciam intenções

comunicativas, e, portanto, aspectos semântico-pragmáticos da própria língua. Estes

aspectos relacionam-se com a factualidade do se e dos demais conectores escolhidos por

nós.

Através de uma visão funcionalista e discursiva, atrelaremos os dados

quantitativos aos dados qualitativos para obtermos uma melhor descrição do uso do se.

Objetivamos, com nossas pesquisas, contribuir para o desenvolvimento de estudos sobre a

língua portuguesa, mostrando que a língua é passível de uma sistematização sintática,

embora, não haja como delimitar seus usos no campo semântico-pragmático do discurso

proferido pelos falantes.

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ABSTRACT

We investigated, in this work, the hypothesis of a possible factual ambiguity of the

conditional connector if. For that test, we propose the paraphrase of if for the connectors

since and case. In that way, through a description and analysis of such connectors, we

intended to explore the semanticity of the if.

The first stage of our dissertation consists of a theoretical discussion on the

Varitionist Theory of Sociolinguistic, the Semantics, the Pragmatic and the Analysis of the

Speech. It consists in the theoretical support for our empiric research, consequently for our

second stage of the dissertation. This consists of a research that seeks to supply quantitative

and qualitative data regarding the use of the if. For that, we elaborated two forms which the

informer should substitute it if for the exposed connectors in the alternatives of this.

We judged that the choices done by our informer or for any other speaker of

Portuguese are never aleatory. Those choices evidence communicative intentions, and,

therefore, semantic-pragmatic aspects of the own language. These aspects link with the

factuality of if and of the other chosen connectors by us.

Through a functional and discursive vision, we will harness the quantitative

data to the qualitative data for us to obtain a better description of the use of if. We aimed at,

with our researches, to contribute for the development of studies on the Portuguese

language, showing that the language is susceptible to a syntactic sistematization, although,

there is not way to delimit it uses in the semantic-pragmatic field of the speech uttered by

the speakers.

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SUMÁRIO

PRIMEIRA PARTE – INTRODUÇÃO ................................................................... 12

1. CONSIDERÇÕES INICIAIS .................................................................................................................... 12

2. JUSTIFICATIVA................................................................................................................................... 19

3. OBJETIVOS.......................................................................................................................................... 20

3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................................... 20

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................................ 20

SEGUNDA PARTE – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................... 22

4. TEORIAS LINGUÍSTICAS RELEVANTES PARA O ESTUDO DOS CONECTORES

CONDICIONAIS. ........................................................................................................................................... 22

4.1- Teoria da Variação lingüística. .................................................................................................... 22

4.2- FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO ................................................................................................. 27

4.2.1 Funcionalismo X Formalismo ............................................................................................... 27

4.2.2 Gramaticalização...................................................................................................................... 33

4.2.3 Análise do discurso................................................................................................................. 40

4.2.4 Pragmática ................................................................................................................................. 41

4.2.5 Semântica .................................................................................................................................. 49

5. ASPECTOS TEÓRICOS DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS............................................. 52

5.1 Considerações gerais sobre condicionais ................................................................................ 52

5.2- Classificação dos condicionais quanto à factualidade ........................................................ 55

5.3 Modo e Tempo verbais e sua relação com a factualidade............................................. 76

5.4 Então nos condicionais.................................................................................................................. 78

5.5 Expressão do futuro nos condicionais ...................................................................................... 85

5.6- Esquemas verbais em orações condicionais.......................................................................... 88

5.7 Sobre o conceito de tempo ........................................................................................................... 89

5.8 Modo X modalidade ......................................................................................................................... 92

5.9 Aspectos pragmáticos das construções condicionais com presente do indicativo e

futuro do subjuntivo. ............................................................................................................................. 94

5.10 Diferenças gramaticais nos condicionais e sua finalidade ................................................ 99

5.11 Ironia nos condicionais .............................................................................................................. 102

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6. CONECTORES CONDICIONAIS .................................................................................................... 104

6.1 Os conectores condicionais ....................................................................................................... 104

6.2 Conector se e já que...................................................................................................................... 113

6.3 Distinção entre o se e o já que ................................................................................................... 117

TERCEIRA PARTE – PESQUISA EMPÍRICA.................................................... 123

7. Hipóteses ........................................................................................................................................... 123

8. Formulário 1 ........................................................................................................................................... 123

8.1 Metodologia ..................................................................................................................................... 123

8.2 Texto do Formulário1.................................................................................................................... 131

8.3 Percurso do formulário I .............................................................................................................. 137

8.4 Resultados ....................................................................................................................................... 139

8.5 Discussão......................................................................................................................................... 142

9. FORMULÁRIO II ..................................................................................................................................... 150

9.1 Metodologia ..................................................................................................................................... 150

9.1.1 Descrição geral............................................................................................................................ 150

9.2 Texto do formulário II .................................................................................................................... 159

9.3 Percurso do Formulário II ............................................................................................................ 167

9.4 Resultados ....................................................................................................................................... 169

9.5 Discussão......................................................................................................................................... 184

10. Discussão geral dos resultados da pesquisa empírica ............................................................ 192

11. Considerações finais ......................................................................................................................... 195

QUARTA PARTE – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................. 198

ANEXO ............................................................................................................... 207

Primeira parte – Introdução

1. CONSIDERÇÕES INICIAIS

As orações condicionais apresentam em suas construções uma

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grande variedade de esquemas sintáticos e semânticos, além de representarem

uma riqueza de possibilidades expressivas. Epifânio (apud Leão, 1961:74), sobre

o período condicional, afirma que:

[...] usa-se com os mais diferentes propósitos comunicativos e expressivos. Com ele apresentam-se argumentos de um raciocínio, prova-se ou refuta-se uma afirmação, acentua-se a oposição entre dois fatos ou dois seres, evidencia-se a coexistência de situações, supõe-se e dela se tiram conseqüências.

As construções condicionais são enunciadas, normalmente, como

observa Neves (2000), das seguintes formas:

Se Oração Condicional Oração Principal

Oração Principal Se Oração Condicional

Devemos registrar ainda a possibilidade de a oração condicional

ocorrer interpolada, no meio da oração principal.

Essa fórmula geral abriga uma ampla variedade de condicionais, pois

como visto em Ferrari (2001), podemos ter na oração principal orações

declarativas, interrogativas ou imperativas e podemos ter na oração condicional

uma conjunção ou locução conjuntiva diferente de se, como caso, a menos que,

mesmo se, só se, entre outras.

Também notaremos uma variação modo-temporal na oração

condicional e na oração principal, algumas dessas possibilidades são descritas por

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Ferrari (2001) nos seguintes exemplos:

• Se Marcos faltar à reunião, ele será/vai ser demitido.

• Se Marcos falta à reunião, ele é demitido.

• Se Marcos faltasse à reunião, ele seria demitido.

• Se Marcos tivesse faltado à reunião, ele teria sido/tinha

sido demitido.

Essas variações verbais marcam a perspectiva do falante em relação

ao evento descrito, assim como a escolha de conectores condicionais também a

marca.

Em relação à moldura sintática, Leão (1961:74) nos diz que, na

maioria das vezes, o período condicional estrutura-se com a oração subordinada

anteposta e que essa disposição das orações marcaria uma precedência lógica e

cronológica da hipótese à sua conseqüência. Ela nos explica que, quando

concebemos o fato, já vemos o mesmo submetido a determinadas condições.

Ao se referir à ordem das orações no período condicional, Leão nos

diz que tal estrutura seria explicada pela precedência lógica e cronológica,

contudo não concordamos com a precedência cronológica para explicar essa

estrutura. Em grande parte dos casos temos uma precedência lógica, não

obstante, em frases como Se a estrada estiver molhada, choveu, percebemos que

primeiro tem que haver a chuva e somente depois a estrada estará molhada. Em

casos como esse, observamos que o aspecto cronológico não é evidenciado pelo

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esquema “Se A, C”.

No texto “Ah, se eu fosse você, eu voltava pra mim: pensamento e

linguagem nas afirmações condicionais”, Gomes (2007) nos diz que, segundo

Bhatt e Pancheva, temos razões lingüísticas para considerar que a forma “Se A,

C” deriva da forma “C, se A”, tendo a oração principal antes da oração

subordinada condicional. Gomes exemplifica esse fato com algumas frases:

Podemos dizer ‘Se João vier, ele vai jogar’, usando ele para fazer referência a João, mas também podemos dizer, com o mesmo sentido, ‘Se ele vier, João vai jogar’. Ou seja, o pronome pessoal pode vir em primeiro lugar, mas ainda assim poderá fazer referência ao substantivo que vem depois. Já a frase ‘João vai jogar, se ele vier’, na qual ele refere-se a João, não é equivalente a ‘Ele vai jogar, se João vier’. Ou seja, o pronome pessoal, se vem em primeiro lugar, não pode fazer referência ao substantivo que vem depois, mas é naturalmente interpretado como se referindo a algum outro substantivo anteriormente citado [...].

Dessa forma, o autor supracitado nos mostra que, como o pronome

pessoal se refere a um substantivo anteriormente citado, na frase “João vai jogar,

se ele vier”, nós temos a ordem primitiva das orações.

A ordem “Se A, C” é forma mais utilizada. Notemos ainda que a

oração que exprime condição é também chamada de prótase e a que exprime o

que é condicionado é chamada de apódose.

Ainda que o se seja apenas uma das conjunções condicionais usada

nesse tipo de período, Leão (1961) afirma que o se é a conjunção condicional por

excelência por abarcar tempos verbais negligenciados por outras conjunções tidas

como condicionais.

Nas construções “Se A, C”, podemos ter na apódose a presença do

então, que nesse caso deixa de ser temporal e passa a ser usado como conector

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lógico discursivo. Bechara (2003:325) nos lembra que: “[...] em algumas

construções, se pode alterar o significado originário do advérbio, motivado pelos

significados dos lexemas que entram na oração e por uma interpretação

suplementar, contextual, do falante, calcada na experiência de mundo”. Sobre o

uso do então, Leão (1961:101) afirma que:

A correlação hipotética, que existe logicamente, costuma resolver-se na língua por uma estrutura de subordinação. Entretanto, o falante sente, às vezes, necessidade de por em maior evidência a relação entre os dois fatos por uma estrutura que lembre de perto a correlação lógica, isto é, com a presença de dois termos correlativos. O português recorre a se... então, o francês a si... alors, o inglês a if... then, o alemão a wenn... so

Verificamos que as afirmações condicionais representam uma

riqueza de possibilidades expressivas, e por isso mesmo tornam-se assunto de

grande importância para a lingüística e outras áreas.

A lógica foi a ciência que descobriu a importância dos condicionais.

Ela é uma ciência formal da linguagem, mas de uma linguagem muito peculiar,

construída com base no modelo da matemática.

Os períodos da oração, para a lógica, são tidos como proposições.

Utilizamo-nos de estruturas cognitivas para formularmos essas proposições.

Facilmente, criamos proposições, contudo, elas podem ser falsas ou verdadeiras,

dependendo do conteúdo da realidade do nosso pensamento.

A lógica não se importa com o conteúdo, cabe a ela somente o

cálculo das proposições, que permite estabelecer procedimentos para que se

possa determinar valor de verdade ou falsidade de uma proposição. Tais

procedimentos constituem um modelo sistemático não ambíguo.

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Os casos mais simples de cálculos de proposição referem-se à

conjunção (Ele bebe e come), negação (Ele não come), disjunção (Ele bebe ou ele

come) e implicação (Se ele bebe, então ele come).

Para que possamos entender um pouco mais sobre esse sistema,

vejamos como podemos simbolizar o cálculo das proposições:

Neste quadro, a afirmação condicional: (A B) obedece às

condições de verdade estabelecidas, na Antiguidade grega, por Filo de Mégara.

Esse condicional, dito “verofuncional”, foi consagrado pela Lógica Proposicional.

A B A e B A ou B A B

V V V V V

V F F V F

F V F V V

F F F F V

Dessa forma, um condicional só será falso quando seu antecedente

é verdadeiro e o seu conseqüente é falso, segundo a lógica proposicional. Nessa

teoria temos que considerar como verdadeiro um condicional como “Se a baleia é

um réptil, então ela é um mamífero”.

Como dito anteriormente, os condicionais também são um tema

estudado pela lingüística. Essa ciência desenvolveu-se a partir do século XX e,

segundo um de seus pioneiros teóricos, Saussure, a linguagem é formada de duas

dimensões: a língua e a fala. A primeira é tida como instituição social, enquanto a

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segunda é individual, ou seja, é a forma como o indivíduo emprega a língua. Em

uma determinada língua, como postula Saussure, temos o significante e o

significado. A relação dos significantes ou signos com a coisa que designam é

arbitrária, convencional. Contudo, uma vez estabelecida a relação constituída, a

língua como sistema de relações entre signos e significados, entre palavras e

coisas, torna-se necessária para todos os falantes da língua.

Sob a vertente da lingüística, verificamos uma preocupação com o

estudo das estruturas dos condicionais como um sistema dotado de princípios

internos de funcionamento e transformação. Nesse momento, adotamos uma

visão multidisciplinar, uma vez que sob essa vertente nos disponibilizamos do

dispositivo teórico da Teoria Variacionista, aliada à Semântica, à Pragmática e à

Análise do Discurso. Essa multidisciplinaridade ocorre porque ao nos dedicarmos

ao estudo dos condicionais lingüísticos, notamos que, na linguagem, junto a

restrições sintáticas, operam restrições semânticas, por isso um verbo como

comer não admite como sujeito gramatical um substantivo como televisão. Por

conseguinte, o conhecimento que um falante tem de sua língua não é somente

sintático, mas também semântico. O falante associa a signos significados que

influem nas restrições sintáticas, contudo não devemos nos ater apenas ao

sistema, mas à relação do sistema com aqueles que o empregam e o contexto em

que esse sistema é empregado. Nessa visão, surge a pragmática, que tenta dar

conta dos propósitos do falante ao utilizar determinadas construções lingüísticas.

Devemos notar que a linguagem, então, não pode ser concebida

apenas como instrumento externo de comunicação e transmissão de informação,

mas também como um meio de expressarmos e desenvolvermos nosso

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pensamento, atendendo não só a nossas intenções comunicativas e sociais, mas

também a nossas necessidades cognitivas. Quando a empregamos, não o

fazemos na forma de palavras soltas e estruturas gramaticais apenas, e sim em

forma de discurso que tem ao mesmo tempo dimensões lingüísticas e

extralingüísticas. Incorpora-se nas nossas pesquisas então a análise do discurso.

Notamos que os discursos veiculados são construídos de formas

diferentes por diferentes pessoas e para diferentes pessoas, dependendo de

fatores como escolaridade, idade, entre outros. Acrescenta-se então a

sociolingüística.

Utilizamo-nos da vertente da lingüística e da lógica para

encaminharmos nossas pesquisas sobre condicionais lingüísticos, mais

precisamente sobre o conector condicional se e outros conectores condicionais

utilizados, muitas vezes, no lugar do consagrado se – caso e já que. Nos tópicos

seguintes apresentaremos as diretrizes teóricas que orientam nosso estudo.

2. JUSTIFICATIVA

Consideramos que o estudo dos condicionais lingüísticos possa

colaborar na interdisciplinaridade que o programa de mestrado cultiva. Ao

estudarmos seus usos, notamos que favorecemos o processo de compreensão de

atos comunicativos, como também entendemos melhor os mecanismos da língua

portuguesa, em particular, e de linguagem em geral. Além disso, observamos que

os períodos condicionais envolvem aspectos cognitivos, possuem uma natureza

pragmática e ainda têm um valor semântico discutido sob várias vertentes,

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embora, ao consultarmos gramáticas, notemos que muitas se limitam a um

conceito meramente sintático e que muitos estudos acerca do assunto são

incompletos.

Dessa forma, pesquisar estruturas condicionais torna-se não

somente necessário como também fascinante.

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Mostrar em nosso trabalho a importância das estruturas condicionais,

que ultrapassam aspectos sintáticos, tratando-se também de um processo

cognitivo.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Evidenciar a relação estreita entre linguagem e suas funções.

• Contribuir para uma nova abordagem sobre os períodos condicionais e o

uso de seus conectores.

• Fortalecer a linha de pesquisa relativa à Sociolingüística Variacionista e ao

Funcionalismo com nossa pesquisa.

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• Verificar a semântica do se a partir da comparação com os conectores

condicionais caso e já que.

• Observar se determinados conectores condicionais estão ligados mais à

dúvida, enquanto outros mais a certeza.

• Evidenciar as estratégias interacionais a que os condicionais favorecem.

• Mostrar a mobilidade semântica de certos vocábulos na língua portuguesa

como o já que, o se e o advérbio então, muito utilizado nas orações

condicionais.

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Segunda Parte – Fundamentação Teórica

4. TEORIAS LINGUÍSTICAS RELEVANTES PARA O ESTUDO DOS

CONECTORES CONDICIONAIS.

4.1- Teoria da Variação lingüística.

A língua portuguesa não é falada do mesmo modo por todas as

pessoas que a utilizam. Se empreendermos uma viagem pelo Brasil, notaremos

que os modos de falar das pessoas são diferentes em diversos lugares. Todas as

línguas, em qualquer momento da história e em qualquer lugar, não serão nunca

expressas de modo uniforme, sendo sua principal característica a

heterogeneidade. As línguas mudam numa sucessão de passos, pois cada nova

geração introduz alguma mudança na língua. Lemle (1965:61) diz que:

Algumas pessoas, quando percebem mudanças na língua, reagem como se tivessem sofrido alguma ofensa moral. Essas pessoas crêem que a nova língua é inferior à anterior, no que diz respeito à beleza e à possibilidade de veicular idéias, conhecimentos, pensamentos, cultura. Alguns até, lutam em favor da conservação da língua. Isso acontece há muitos séculos.

Os modos de falar dos brasileiros mudam devido a diversidades

sociais, como o grau de escolaridade das pessoas, sua situação socioeconômica,

a faixa etária, sua origem geográfica, sua etnia e seu sexo. Os modos de falar dos

brasileiros cultos também variam, contudo apresentam muitos traços comuns em

razão de serem falados por pessoas com formação de nível superior de educação

formal. Os falantes cultos, por terem sido expostos à norma padrão por muito

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tempo, procuram muitas vezes se aproximar do ideal da língua culta padrão. Essa

aproximação, muitas vezes, decorre do fato da linguagem refletir um determinado

grupo social tão bem como outras formas de comportamento. Assim, as classes

com maior poder aquisitivo, quase sempre, dão-se conta desse fato e tentam

preservar traços lingüísticos mais próximos do preconizado pela gramática,

diferenciando-se de traços lingüísticos utilizados pela maior parte da população,

que normalmente é constituída pelas pessoas de classe social mais baixa. A

língua padrão, como Cunha & Cintra (2007) ponderam, é sempre a forma mais

prestigiada devido a atuar como modelo, como norma e como um ideal lingüístico

de uma comunidade.

Evanildo Bechara (2003:30), ainda sobre a linguagem, comenta, em

sua Moderna Gramática Portuguesa:

Só de um modo ideal se pensa em linguagem como um só sistema de signos, na realidade, há na linguagem diversos sistemas de signos – isto é, de línguas -, diversidade que varia entre países, entre comunidades sociais ou outros grupos de falantes.

Câmara (1976) ressalta que a língua, como unidade, é uma estrutura

ideal, que apresenta em si traços básicos comuns a todas as suas variedades.

Acrescenta que a língua é invariante, abstrata e virtual, sobreposta a um mosaico

de variantes concretas e atuais. Isto reforça o que Bechara afirma sobre a

linguagem, como defini-la apenas como um sistema de signos, situa-se em plano

um ideal. O estudo das relações que existem entre todas essas variantes sociais e

as variantes lingüísticas que caracterizam determinado fenômeno lingüístico

denomina-se sociolingüística. A sociolingüística não vê nenhum modo de falar

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como inferior, para ela, existem variantes da língua padrão e estas são utilizadas

em diferentes contextos. Isto significa dizer, que para a sociolingüística, todas as

variantes lingüísticas são estruturadas e correspondem a sistemas e subsistemas

que se modelam de acordo com as necessidades de cada usuário de língua

portuguesa.

O termo sociolingüística fixou-se em 1964, tendo surgido em um

congresso, na Universidade da Califórnia em Los Angeles. Tal termo constitui um

modelo teórico que tem por pressuposto teórico a possibilidade de sistematização

da heterogeneidade lingüística. Dessa forma, questiona vários conceitos do

estruturalismo, desde seu objeto, que é a língua, entendida como um sistema

homogêneo, até o corte temporal que é feito, isto é, nos eixos sincrônico e

diacrônico.

A ruptura entre sincronia e diacronia se faz na Teoria Variacionista a

partir da noção teórica de tempo aparente, uma vez que seria possível a análise

de um momento determinado da língua, isto é, a sincronia, tornar evidente uma

variação temporal, a diacronia. Para isso, em um recorte de tempo determinado,

as diferenças de faixa etária poderiam mostrar diferenças históricas e, também,

indícios de mudanças lingüísticas, quando a implementação da mudança se dá

nas faixas etárias mais jovens e as mais velhas permanecem com a forma

canônica.

Existe uma ruptura da dicotomia língua/fala, uma vez que o

Estruturalismo compreende que apenas os fatos da língua são passíveis de

análise, por serem os que apresentam regularidade. A sociolingüística entende

que é possível a sistematização da heterogeneidade lingüística, isto é, dos fatos

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denominados pelo Estruturalismo como pertencentes à fala. Esta sistematização

ocorre por fatos relativos à própria estrutura da língua, como também, por fatos

sociais, discursivos e pragmáticos.

Essa ciência enfatiza a importância da atuação de fatores sociais

sobre fenômenos lingüísticos, entende que a língua reflete os processos sociais

vivenciados por uma determinada comunidade lingüística. Segundo E. Labov

(apud Tarallo, 1986), é impossível existir uma teoria lingüística que não priorize a

relação entre língua e sociedade. Segundo a afirmativa de Labov (apud Tarallo,

1990), o termo Sociolingüística é redundante, uma vez que todo estudo da

linguagem deveria ser social, uma vez que a linguagem é um fato social, que

serve de base a todas sociedades. Labov relaciona fenômenos lingüísticos a fatos

sociais e assim observa que a variação lingüística existente pode ou não ter um

caráter estigmatizado ou, ao contrário, de prestígio. De acordo com Scherre

(2003), observamos, por exemplo, que na língua portuguesa alguns fenômenos

como ausência de concordâncias nominal ou verbal, são estigmatizados,

enquanto outros fatos, como o uso da pessoa verbal discordante no imperativo,

não o são. Os falantes utilizam indiscriminadamente a conjugação de um

determinado verbo no imperativo com a pessoa do discurso inadequada - um bom

exemplo está na frase Ei, você, pede isso para mim. No exemplo dado o verbo

está conjugado na segunda pessoa do singular (tu), no entanto o enunciador

utiliza a terceira pessoa do singular, que corresponderia à peça isso para mim.

Podemos verificar que o uso do pretérito imperfeito em ambiências do futuro do

pretérito não é estigmatizado, sendo, inclusive, utilizado com freqüência em textos

escritos. Também podemos observar que o uso de conectores como caso,

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supondo que, já que e dado que aparece nas gramáticas tradicionais com os

respectivos modos que devem ser usados nas orações que são iniciadas por

esses conectores. O uso de determinados conectores com formas verbais não

previstas nas gramáticas é estigmatizado.

As correntes que antecederam a sociolingüística laboviana

explicavam os fatos lingüísticos com outros fatos lingüísticos, limitando-se à

estrutura da própria língua. Saussure, no início do século XX, não exclui o

componente social em seus estudos sobre a língua. A langue ele reserva o fator

social, uma vez que é como instituição mantenedora de uma regra compartilhada

entre os membros de uma mesma comunidade lingüística. Enquanto a parole diz

respeito às realizações individuais do falante, a variação. Saussure (1916) diz: “[...]

a língua é um fato social, no sentido de que é um sistema convencional adquirido

pelos indivíduos no convívio social”.A lingüística saussureana estabeleceu a

homogeneidade do sistema lingüístico como um pré-requisito para a análise

lingüística.

Depois do Estruturalismo de Ferdinand de Saussure, Noam Chomsky

propõe o Gerativismo, contudo esta nova corrente continua dando à língua um

tratamento que não considera fatores que lhe são externos, continuando a dar á

língua um caráter homogêneo. Assim, o Estruturalismo e o Gerativismo

consideraram a língua como homogênea, desconsiderando que um indivíduo

participa de diferentes subsistemas lingüísticos e que muda seus hábitos

lingüísticos. William Labov reage a essas teorias com sua Teoria Variacionista,

afirmando a relação entre língua e sociedade, que só foi estabelecida com maior

precisão com a Sociolingüística. Percebemos que a concepção de língua como

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instrumento de comunicação social, diversificado em seus aspectos, como meio

de expressão de pessoas que vivem em sociedades diversificadas cultural, social

e geograficamente, é recente.

A tendência de relacionar linguagem e sociedade está presente em

reflexões de autores do século XX. Temos alguns estudiosos como Mikhail

Bakhtin, Emile Benveniste, Roman Jakobson, que apesar de suas diferenças

teóricas, constituem referências bibliográficas na consideração social dos estudos

lingüísticos.

A partir da nova concepção de língua, tornou-se possível esclarecer

casos de pluralidade de normas derivadas, inter-relação de fatores geográficos,

históricos e sociais que atuam no complexo operar de uma língua. Torna-se,

então, evidente que o uso de um conector condicional em detrimento de outro

deve estar condicionado de maneira consistente dentro de cada grupo social e das

partes integrantes da competência lingüística de seus membros. Cabe lembrar

que essa variação, que é inerente ao sistema da língua e à multiplicidade de

realização do sistema lingüístico, em nada prejudica suas condições funcionais.

4.2- FUNCIONALISMO LINGUÍSTICO

4.2.1 Funcionalismo X Formalismo

Atualmente, temos três principais abordagens teóricas lingüísticas:

estruturalismo, formalismo (abordagem gerativista) e funcionalismo.

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A noção de estruturalismo lingüístico é disseminada a partir de 1928

e 1929 nas teses dos primeiros fonologistas que inauguraram as atividades do

Círculo Lingüístico de Praga e que tinham como fundamento as idéias de

Saussure e Baudoin de Courtenay. O estruturalismo descreve as estruturas

gramaticais como fonemas, morfemas, relações sintáticas, semânticas e

sentenças. Com a Escola de Copenhague, o estruturalismo atinge sua mais

radical expressão. É o desdobramento da tese de Saussure de que linguagem é

forma e não substância. A língua sob essa ótica será constituída de peças e de

regras. Logo após o estruturalismo, temos o gerativismo, em que Chomsky

concebe as propriedades lingüísticas universais como parte da faculdade da

linguagem. Chomsky difere de Saussure ao ter a língua como um patrimônio de

toda uma comunidade e não de cada falante, que retém apenas parte do sistema.

Segundo ele, cada falante absorve a gramática de sua língua graças a sua

competência lingüística. Essa competência representa para ele a capacidade de

produzir, através de meios finitos de regras, um conjunto infinito de frases.

O formalismo veio, então, designar um estudo da forma lingüística,

objetivo da gramática tradicional. Porém, o termo passou a designar também um

estudo que utiliza dispositivos lógico-matemáticos, como é o caso da gramática

gerativa, que por frisar especialmente a forma lingüística, embora sem negar a

importância do significado ou do uso, e por dar continuidade à problemática

tradicional da morfossintaxe, passou a ter essa designação (Dillinger 19991:397).

O funcionalismo, semelhante ao gerativismo e ao estruturalismo,

analisa a estrutura gramatical, mas inclui na análise toda a situação comunicativa.

Para o Círculo Lingüístico de Praga, a língua é considerada concomitantemente

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estrutura e função. Cardoso (1999:18) comenta que:

Devido ao empréstimo de noções da Teoria da Comunicação, a dicotomia saussureana língua/fala é repensada em termos de código/mensagem. Os praguenses consideram a língua em uso, ou seja, as condições do exercício social da linguagem. Daí a importância de noções como ‘comunicação’, ‘intenção’, ‘função social’, ‘atos de fala’ etc. A significação, na perspectiva desses estudiosos, se desloca à medida que já não vai ser buscada nas propriedades formais das expressões lingüísticas, mas nas necessidades, funções e condições da comunicação, ou seja, da linguagem em uso, em condições adequadas, que envolvem contextos e enunciadores interagindo entre si, com o mundo e com uma cultura.

Neves (1997:22) observa que: “[...] a gramática funcional visa a

explicar regularidades dentro das línguas e através delas, em termos de aspectos

recorrentes das circunstâncias sob as quais as pessoas usam a língua”.

Uma das distinções dos modelos funcionalista e formalista –

estruturalismo e gerativismo - diz respeito ao primeiro, nas palavras de Costa

(1997:46), “[...] partir do princípio de que a sintaxe não é autônoma, mas depende

do discurso”, assim de acordo com o paradigma funcional, a língua é instrumento

de interação social, enquanto que o modelo formalista demonstra as descrições e

regras da língua com exemplos artificiais e isolados. A distinção entre formalismo

e funcionalismo se deriva de uma oposição entre o estudo da forma lingüística e o

estudo das suas funções na comunicação. Assim, Cunha e Cintra (2007) relatam

que o funcionalismo lingüístico contemporâneo se diferencia das outras

abordagens formalistas por entender a linguagem como interação social e por

investigar mais do que a estrutura gramática de uma língua, buscando as

motivações para as diversas ocorrências dessa língua.

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A visão funcionalista da linguagem tem, desse modo, a língua como

um instrumento de interação social entre os falantes de uma comunidade

lingüística, utilizado com o objetivo primeiro de estabelecer relações comunicativas

entre seus usuários. O objeto de estudo do funcionalismo pode, assim, ser

designado como referente aos processos utilizados pelos falantes na construção

do discurso, que é responsável pela forma da língua nas interações verbais. A

linha de pesquisa do funcionalismo tenta, assim, descobrir a fonte da estrutura, na

sua evolução funcional.

Dellinger (1991) cita Leech (1983:46) que menciona diferentes

aspectos dos formalitas e dos funcionalistas:

1- Os formalistas consideram a língua como fenômeno

mental; os funcionalistas encaram-na como um fenômeno

social.

2- Os formalistas explicam os universais lingüísticos, como

derivados de uma herança lingüística genética, própria da

espécie humana; os funcionalistas consideram os universais

lingüísticos, derivados da universalidade de empregos da

língua.

3- Os formalistas explicam a aquisição da linguagem, em

termos de uma capacidade própria do homem para aprender

a língua; os funcionalistas explicam-na em termos de

desenvolvimento das necessidades comunicativas e

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habilidades da criança na sociedade.

4- Os formalistas estudam a língua como um sistema

autônomo, enquanto os funcionalistas estudam-na em

relação a sua função social.

Nascimento (1990) acredita que os dois tipos diferentes de análise

(formalista e funcionalista) podem não se excluir, mas servir um de apoio para o

progresso do outro. Segundo o autor, ambas as análises definem objetos de

estudo diversos e se referem aos aspectos diversos no que diz respeito dos

fenômenos da linguagem. Para ele, o lingüista não deve apenas se contentar com

uma descrição exterior da língua, mas também com os elementos que a

constituem.

Ao falar de fenômeno da linguagem, cabe, aqui, ressaltar que há

uma diferença entre objeto e fenômeno. Dillinger (1991) cita Bunge, que distingue

objeto-modelo de uma teoria e o seu objeto propriamente dito, considerando

objeto-modelo, como um conjunto de fenômenos que envolvem algo em comum,

cujo estudo varia de teoria para teoria; e o objeto propriamente dito, a coisa com

existência material, cujas características são estudadas através dos fenômenos

selecionados. Dessa forma, afirma que os formalistas e funcionalistas estudam

fenômenos diferentes. Contudo, esses fenômenos envolvem um mesmo objeto de

estudo. Dillinger (1991:401) nos revela a importância de distinguirmos, claramente,

o fenômeno do objeto, a fim de que não afirmemos que as teorias formalista e

funcionalista abordam objetos diferentes.

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Naro e Votre (1992:288) ressaltam que “tanto o funcionalista quanto

o gerativista observam aspectos reais do comportamento humano; enquanto o

funcionalista estuda o comportamento lingüístico observado, o gerativista estuda

outro tipo de comportamento: o de refletir e raciocinar sobre a língua”.

Funcionalistas estudam o uso da língua no discurso, analisando-a

em seu contexto social. Os discursos analisados pelos gerativistas são

desprovidos de contexto, já que estudam intuições sobre a língua, fora de

qualquer contexto que seja além do sentencial.

Kato (1998:146) mostra a existência de mais de uma forma de

funcionalismo e ressalta que o contraste entre as diversas perspectivas dessa

teoria se assemelha aos contrastes das abordagens funcionalistas.

A autora diferencia o funcionalismo direcionado a um modelo

abstrato de uso da língua e o funcionalismo direcionado à língua tal como ela se

manifesta em seu uso efetivo, revelando que mesmo na perspectiva funcionalista

temos correlatos da língua I (interna) e da língua E (externa), definidas por

Chomsky como sendo, a primeira, representação da competência sintática do

falante e a segunda, o objeto gramatical externo, observável. A distinção, de

acordo com a autora, é que na perspectiva do funcionalista são estudados os

processos mentais que entram em jogo no uso da língua e não apenas o

conhecimento estrutural dos enunciados, e na visão E, leva-se em conta o

contexto social.

Com todo o exposto acima, podemos notar que estruturalismo,

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formalismo e funcionalismo se completam, uma vez que irão estudar de formas

diferentes fenômenos que se referem a um mesmo objeto. Essas correntes são,

portanto, alternativas, representando, assim, aspectos complementares que

contribuem para uma compreensão maior da linguagem. Em outras palavras, as

noções estruturais lingüísticas e o gerativismo analisam a estrutura gramatical da

língua que serve de apoio para o funcionalismo que engloba a essa noção

estrutural da língua o contexto sócio-comunicativo. Isso torna essas teorias parte

de um único conjunto: o que tenta explicar e compreender a linguagem.

4.2.2 Gramaticalização

O estudo funcionalista permite um novo olhar sobre as categorias

lingüísticas, evidenciando a influência do contexto nos padrões de uso de um

termo.

Notamos que existem muitas formas com mesma etimologia

apresentando funções e valores diferentes. Isso revela que as gramáticas das

línguas passam por remodelação, e que assim usos antigos podem assumir, de

forma linear e sucessiva, funções e valores novos. Essas mudanças lingüísticas

inscrevem-se no quadro da lingüística funcional como um processo associado à

gramaticalização, demonstrando o caráter não estático da gramática. O processo

de gramaticalização passa a ser visto como a atribuição de um caráter gramatical

a uma palavra autônoma com Meillet, no século XX.

Gramaticalização pode ser denominada, então, como um processo

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de mudança lingüística, em que um determinado item de uma categoria lexical se

transfere para uma categoria mais gramatical, ou então, um determinado item já

gramatical transforma-se em um item ainda mais gramatical (Hopper & Traugott,

1993).

Existem duas perspectivas de estudo da gramaticalização: a

histórica, que estuda as origens das formas gramaticais, como também as

mudanças típicas que as afetam, e a perspectiva sincrônica, que estuda o

fenômeno sob o ponto de vista de padrões fluidos de uso lingüístico.

A gramaticalização consiste em um fenômeno sincrônico e diacrônico

e possui um caráter gradual. Ainda que se possa encontrar uma estrutura

substituindo outra estrutura, por um tempo considerável ainda coexistirão a forma

nova e a velha, que entram em variação, sob diversas condições. Essa variação

encontrada caracteriza-se por ser um reflexo do caráter gradual da mudança

lingüística. É importante salientar que a nova forma não extirpa a forma velha de

imediato. Contudo, aquela começa a ser usada como variante cada vez mais

freqüente, até que seja possível a substituição da forma velha.

Como podemos observar, não podemos separar a diacronia da

sincronia, já que se trata de um processo contínuo.

Um aspecto relevante a ser mencionado sobre a gramaticalização diz

respeito aos cinco princípios de gramaticalização, úteis para verificar o status de

elementos gramaticais emergentes, postulados por Hopper (1991:22):

• Estratificação (layering): coexistência de diversas

camadas, isto é, de acordo com Hopper (1991), as camadas

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novas vão emergindo enquanto as mais velhas não são

rejeitadas obrigatoriamente.

Muitas vezes, em um processo de mudança lingüística, surgem

formas para desempenhar a mesma função. Estabelece-se o princípio de

estratificação. O surgimento de novas camadas/variantes não implica

eliminação das antigas, as antigas podem coexistir e interagir com as

camadas mais novas dentro de um mesmo ambiente funcional.

Hopper (1991) exemplifica esse princípio com a existência de

diversos elementos que denotam o futuro em inglês: be going + to, be + -ing,

be + to. Esses elementos denotam, como Park afirma, a mesma função

gramatical. “Assim quando um marcador gramatical evolui pode coexistir com

o velho.” (Park, 2003:29)

No exemplo dado por Hopper as formas novas estratificadas são be

+ ing e be + to.

Outro exemplo seria o caso das formas sintéticas e perifrásticas de

tempos verbais como o futuro do presente e o futuro do pretérito, em

português.

O uso do então, também pode ser citado como exemplo: ainda que

seja utilizado como conjunção, coexiste com outras formas como portanto,

logo, por isso, etc. Além do então, também se enquadram neste parâmetro o

já que e o se se enquadram neste parâmetro, visto que coexistem

respectivamente com formas como logo, porque e caso, que podem expressar

a mesma função que as expressões citadas.

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• Divergência: remete à preservação, conservação da

forma lexical que origina um processo de gramaticalização,

isto é, a unidade lexical que dá origem ao processo de

gramaticalização pode manter suas propriedades originais,

preservando-se como item autônomo. A forma fonte, na

terminologia de Heine et allii (apud Omena & Braga,

1996:79), pode continuar como um item lexical autônomo e,

enquanto tal, sofrer ou não mudanças que atingem os itens

da classe a que pertence.

Park (2003) exemplifica esse princípio citando a palavra well, em

inglês. Também em português, seu correspondente bem é usado como um

predicado adjetival como em eu estou fazendo bem, e pode ser utilizado como um

marcador pragmático como em bem, eu não penso assim. Outro exemplo é o

verbo IR que mantém seu estatuto de verbo pleno em Iria à escola hoje e aparece

também como verbo auxiliar na forma perifrástica como em Iria estudar hoje.

Podemos identificar a divergência no uso do então, pois ocorre em

uma mesma sincronia com funções sintático-semânticas de advérbio de tempo,

que deu origem, provavelmente, ao processo de gramaticalização, de conector

seqüenciador e de nexo conclusivo, expressando relações lógicas – de causa-

consequência ou de condicionalidade – e inferência do falante, funcionando como

operador argumentativo.O uso do se também se inclui nesse parâmetro, pois, em

uma mesma sincronia, ocorre com funções sintático-semânticas de conjunção ou

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conjunção integrante.

• Especialização: este parâmetro refere-se ao

estreitamento de escolhas sofridas por construções

gramaticais. Uma determinada forma pode se tornar

obrigatória, pelo estreitamento de opções para se codificar

determinada função, à medida que uma dessas opções tem

sua freqüência de uso aumentada, porque está mais

gramaticalizada. Hopper (1991) exemplifica esse princípio

com a negação francesa pas. Park (2003:29) comenta que,

entre muitos elementos da construção da negativa francesa,

seja no francês antigo ou médio, somente o pas

permaneceu como uma negação verdadeira no período

moderno, tendo uso freqüente, semanticamente não enfático

e não marcado.

Acreditamos que o uso do conector se possa se inserir nessa

categoria, pois seu uso se torna obrigatório quando o falante para designar

determinada condição deseja fazer uso de uma ambigüidade factual. Essa

ambigüidade nos parece ser somente evidenciada pelo uso da conjunção se.

Tentaremos comprovar esse fato em nossa pesquisa através da substituição do se

por conectores condicionais denotadores de maior ou menor factualidade. Tais

conectores foram elencados por nós.

• Persistência: refere-se à permanência e à manutenção

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de vestígios do significado lexical original de alguns traços

semânticos da forma fonte na qual sofre gramaticalização.

Podemos citar como exemplo o então. A forma-fonte do

então é o advérbio de tempo e a forma inovadora é a

conjunção. Percebemos que esta mantém traços do valor

temporal, ainda que sejam mais tênues quando o então

apresenta a função de conjunção conclusiva ou de operador

argumentativo.

A forma fonte do se era o pronome locativo, que passa a conjunção

condicional estabelecendo uma relação de conjunção, depois a conjunção

integrante. Observamos que o seu uso como conjunção integrante teve o sentido

condicional esvaído, mas ainda mantém um resquício de incerteza do sentido

primitivo. Dessa forma o se também se enquadra nessa categoria. Se

considerarmos o valor condicional da conjunção já que também a incluiremos

nessa categoria, uma vez que a associação da conjunção já que à factualidade

pode evidenciar um resquício de seu sentido primeiro de causa. É o que veremos

ao longo de nossa pesquisa.

• Descategorização: refere-se a uma diminuição do

estatuto categorial de itens gramaticalizados, e assim,

aparecimento de formas híbridas. As formas em processo de

gramaticalização tendem a perder ou neutralizar os

marcadores morfológicos e os privilégios sintáticos

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característicos das categorias plenas nome e verbo, e a

assumir atributos característicos de categorias secundárias

como, por exemplo, adjetivo, preposição, pronomes,

advérbios, conjunções, etc.(Hopper 1991:22)

Segundo Park (2003) durante o processo de descategorização da

categoria gramatical principal como nome e verbo à categoria menor, os

elementos lexicais perdem seus privilégios morfo-sintáticos como sua inflexão

e sua liberdade de distribuição.

O verbo IR está assumindo uma posição de verbo auxiliar na forma

perifrástica como na frase vou estudar no lugar de irei estudar, no entanto,

ainda, não adquiriu estatuto pleno de verbo auxiliar, pois a frase Eu vou ir para

escola hoje, em muitos casos, sofre estigmatização. O se e o já que já

adquiriram um estatuto pleno de conjunção, contudo o então não perdeu seu

caráter anafórico, típico da forma adverbial e também não possui ainda

posição fixa na oração, não podendo ser comprovado plenamente como

conjunção e assim não se classificando ainda como uma categoria plena.

A idéia de que o uso da língua nas situações reais de comunicação

envolve as modificações a que se sujeitam os elementos lingüísticos põe em

evidência a unidirecionalidade dessas mudanças. Martelotta et all (1996:59)

postula que:

[...] os elementos, com o processo de gramaticalização, perdem a liberdade típica da criatividade contextualmente motivada do discurso e tornam-se mais fixos e mais regulares. Assim, advérbios de lugar

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assumem função de conjunção, e não vice-versa; vocábulos transformam-se em afixos, e não vice-versa.

A unidirecionalidade se relaciona ao fato de que a língua, em um

continuum unidirecional, parte de um estágio mais concreto para um mais

abstrato, conforme a escala proposta por Traugott & Heine (apud Furtado da

Cunha, Costa & Cezario, 2003:54): espaço > (tempo) > texto. Esses estágios

levam à mudança de um item lexical para um item gramatical ou de um item

menos gramatical –nomes e verbos - para um item mais gramatical – conjunções,

verbos auxiliares, pronomes e demonstrativos -, sendo os adjetivos e advérbios

representantes de intermediários desse processo.

O uso da língua, conforme visto acima, passa por um processo de regularização

em uma trajetória unidirecional, do discurso à gramática, do concreto para o

abstrato. Nessa perspectiva, a gramática se encontra em um contínuo fazer-se,

mostrando-nos a relativa instabilidade da estrutura lingüística.

4.2.3 Análise do discurso

Entre várias linhas e abordagens sobre a Análise do Discurso, temos

aquelas que convergem com o funcionalismo lingüístico. Brown & Yule (apud

Costa, 1997:52) afirmam que “[...] a análise do discurso é, necessariamente, a

análise da língua em uso. Como tal, não pode restringir-se à descrição das formas

lingüísticas independentemente dos propósitos ou funções que desempenham nas

relações humanas”. Essa visão é compatível com o funcionalismo lingüístico e

também com a sociolingüística.

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Quando usamos a linguagem de forma significativa, objetivamos

produzir discurso, que envolvem condições como um locutor, um alocutário, um

referente, uma forma de dizer, um contexto. Dessa forma, jamais podemos afirmar

que as escolhas do falante ao produzir um discurso seriam aleatórias. O discurso

é um lugar de investimentos sociais, ideológicos, psíquicos, em que o falante

interage com pessoas de uma comunidade lingüística.

Sendo a estrutura condicional uma estrutura de múltiplas

interpretações que permite o falante ser mais polido, produzir humor, ser irônico,

argumentar, entre outras coisas, a análise do discurso nos auxilia em nossas

investigações. Quando fazemos entrevistas não podemos omitir fatores como para

quem falamos, estratégias que nosso interlocutor usa para expressar

determinados pensamentos, as circunstâncias em que estamos inseridos e os

fatores políticos, históricos e sociais em que nos encontramos. Assim, esse

dispositivo teórico vem ao encontro de outros aparatos utilizados por nós e faz

com que nossa pesquisa não seja meramente quantitativa, como também

qualitativa. Isso porque percebemos que a produção do discurso não envolve

somente a organização de elementos sintáticos, mas está atrelada às questões

semântico-pragmáticas que constituem o sentido do discurso. Discurso esse que

jamais é desprovido de uma visão pessoal, política e social que o falante tem de si

mesmo, do mundo e das experiências vivenciadas por ele.

4.2.4 Pragmática

De acordo com Armengaud (2006), ao utilizarmos a linguagem

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desejamos não apenas ser compreendidos, mas exercermos influência sobre os

outros. Para ele, a língua não serve para sermos somente compreendidos e sim

para influenciarmos uns aos outros (Armengaud, 2006). Nesse contexto temos a

pragmática que tenta relacionar não somente os signos entre si, mas os signos

com as coisas e também com seus intérpretes.

Para Joana Plaza Pinto (2001:48), “[...] os estudos pragmáticos

pretendem definir o que é linguagem e analisá-la trazendo para a definição

conceitos de sociedade e de comunicação descartados pela lingüística

saussureana na subtração da fala, ou seja, na subtração das pessoas que falam”.

Segundo a autora, quando utilizamo-nos desta ciência para fazer uma análise,

ultrapassamos o convencional, considerando também elementos criativos do uso

lingüístico.

São muitos os autores que tentam estabelecer um conceito para a

pragmática, contudo a pragmática não possui um conceito unívoco, possuindo

várias correntes. Entre essas correntes, encontramos a proposta por Grice, em

que a pragmática tem por tarefa o estudo dos signos em sua situação

comunicativa, o que ele nomeia de princípio da cooperação (PC).

O filósofo H. P. Grice em seus estudos sobre lógica e conversação,

reconhece a conversação como um acordo tácito entre os membros envolvidos

em uma determinada interação lingüística. Para ele, em nossos diálogos temos

esforços cooperativos para que a conversa não seja desconexa e faça sentido

entre os participantes dessa interação, que envolve um propósito comum entre os

falantes que participam dela.

O princípio da cooperação tem como princípio geral para a

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conversação o seguinte: “Faça sua contribuição conversacional tal como é

requerida, no momento em que ocorre, pelo propósito ou direção do intercâmbio

conversacional em que você está engajado” (Grice, 1982:86).

A partir desse princípio, Grice criou quatro categorias básicas,

denominadas máximas. Obedecer a essas categorias indica, para ele, que o

falante está sendo cooperativo. O falante, contudo, pode violar alguma dessas

máximas, não deixando de ser cooperativo. Quando isso acontece, temos um

recurso lingüístico que visa a transmitir o que está além do convencional e que

garante toda a riqueza da linguagem. Nesse caso, são geradas implicaturas

conversacionais, que exigem do ouvinte determinadas inferências que se baseiam

em alguns dados para que o ouvinte deduza o propósito do falante.

Armengaud (2006:91) afirma que a implicatura conversacional é “[...]

a hipótese pela qual a harmonia é restabelecida no mundo da fala cooperativa. A

aptidão do ouvinte em forjar tal hipótese é justamente sua aptidão a receber a

informação implícita que o falante não quer dar explicitamente”. Por a

decodificação do signo, somente, não ser suficiente para que seja entendida a

intenção do falante, a implicatura surge como essa habilidade de entender o que

está, nas palavras de Armengaud (2006), subentendido; habilidade de inferir algo

de determinado enunciado. Segundo Souza (2006: 14-15), o processo de

inferência é bem diferente do processo de decodificação, pois “na decodificação,

toma-se um sinal como input e produz-se como output, uma mensagem associada

como o sinal através de um código subjacente, que deve ser mutuamente

conhecido pelos participantes do ato comunicativo. Na inferência, toma-se um

conjunto de premissas como input e produz-se como output um conjunto de

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conclusões que se segue logicamente, de, ou, pelo menos são garantidas por

aquelas premissas”.

É importante ressaltar que as implicaturas não surgem sempre a

partir da violação de uma máxima. As implicaturas, como salienta Armengaud

(2006:87), correspondem a uma sugestão e a uma insinuação, portanto não

podemos afirmar que estejam, necessariamente, atreladas a alguma violação de

máxima.

Tentamos mostrar, aqui em nossos estudos, que, quando as

máximas são violadas, constatamos, na maioria das vezes, que o enunciado se

torna muito mais interessante. Isso porque temos mais informações do que o que

é dito explicitamente.

A violação, de alguma maneira que nos parece intuitiva, não nos

leva a pensar que o falante cometeu um erro. A implicatura que geramos a partir

da violação nos faz ter um sentido completo da conversa. Assim, a violação da

máxima se torna intencional em um discurso, não ocorre de forma aleatória. Esse

recurso lingüístico do falante é utilizado na construção do humor e pode dar

destaque a elementos já conhecidos na linguagem, como a ironia, a metáfora, a

ambigüidade, entre outros.

Vejamos agora as máximas propostas por Grice, que abarcam um

modelo inferencial, isto é, controem o sentido e a interpretação por meio de

evidências:

Quantidade

a) Faça com que sua contribuição seja tão informativa quanto requerida para o

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propósito corrente da conversação.

b) Não faça sua contribuição mais informativa do que é requerido.

Qualidade

a) Não diga o que você acredita ser falso.

b) Não diga senão aquilo para que você possa fornecer evidência adequada.

Relação

a) Seja relevante.

Modo

a) Evite obscuridade de expressão.

b) Evite ambigüidades.

c) Seja breve.

d) Seja ordenado.

Pela primeira máxima pressupõe-se que tudo o que o interlocutor diz

é necessário, pela segunda que ele só diz o que é verdadeiro, pela terceira que só

diz o que é pertinente para uma determinada comunicação e, por fim, a quarta

máxima mostra que o falante deve fazer a comunicação do melhor modo possível.

Percebemos que nos condicionais lingüísticos, muitas vezes,

podemos observar a violação dessas máximas, o que gera as implicaturas

conversacionais – significados adicionais ao que foi dito. Isso não é visto de uma

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maneira negativa, visto que essas implicaturas fazem parte de nossos diálogos

cotidianos e geram, muitas vezes, elementos da linguagem por nós já citados,

como a ironia.

As implicaturas, nos condicionais lingüísticos, podem se revelar

falsas sem que a proposição que a gerou se veja alterada em seu valor de

verdade. Por exemplo, quando recomendamos uma cozinheira para uma amiga e

dizemos que aquela é muito simpática, esta pode inferir que a cozinheira não deve

cozinhar muito bem. Contudo, posteriormente, nossa amiga pode descobrir que a

cozinheira que recomendamos é uma ótima cozinheira e assim nossa amiga pode

reclamar conosco de não termos falado outras características da cozinheira senão

a sua simpatia. Bem, nesse momento, podemos alegar que além de ótima

cozinheira a pessoa que recomendamos continua sendo simpática. Dessa forma,

a implicatura que nossa amiga fez a partir do nosso enunciado era falsa, todavia o

enunciado continua verdadeiro. Armengaud (2006:88), a respeito disso, tece o

seguinte comentário: “A implicatura não tem vínculo nem com os valores de

verdade, nem com a forma lingüística. Ela não é nem lógica, no sentido estrito,

nem lingüística. É discursiva e contextual. [...]”.

Para que um relacionamento seja mais harmonioso, o falante muito

das vezes utiliza um condicional para falar algo que de outra forma seria ofensivo.

Podemos dar como exemplo uma conversa entre duas pessoas, em que a

primeira diz: Se você fosse um idiota, teria ido lá. Ao pronunciar tal enunciado ela

viola a máxima de qualidade, pois ela utiliza-se de um período lingüístico,

comumente, utilizado para eventos dos quais o falante tem a certeza de que não

ocorreram para expressar de forma sutil o que ela acredita que possa ter ocorrido.

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Na verdade, a primeira pessoa sabe que a segunda pessoa foi lá e a considera

como uma idiota, contudo pelo enunciado que pronuncia, fala o que acredita ser

falso, não acreditando, portanto, que a segunda pessoa não possa ter ido lá.

Nesse caso, ela apenas encontrou uma forma menos direta de chamar a segunda

pessoa de idiota sem se comprometer. Esse é apenas um exemplo de situações

que nós podemos vivenciar em nossas conversas cotidianas.

O enunciado que pronunciamos não consiste em um fato isolado, é

um texto que para ser entendido precisa ao menos de três sentidos:

• Referencial

• Situacional

• Pragmático

No exemplo que demos acima qual seria o sentido referencial? A pessoa não é

idiota porque não foi lá. Qual seria o sentido situacional? Esse sentido se relaciona

com o momento de produção do enunciado; no caso citado, podemos especular

que foi algum momento depois de o falante descobrir que a outra pessoa

realmente foi lá. Assim, no sentido situacional, compreendemos que a primeira

pessoa chamou a segunda de idiota. O sentido pragmático nos revela imagens

sociais, faz-nos pensar no porquê da primeira pessoa não ter dito de forma clara

que a segunda pessoa é uma idiota. Podemos constatar que a primeira pessoa

utilizando-se de tal enunciado demonstra polidez e que, portanto, trata-se de uma

pessoa educada que merece nosso respeito.

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O sentido pragmático desenvolve imagens sociais de autoridade, não

autoridade, entre outras.

Para perceber os significados implícitos do enunciado devemos

elaborar perguntas. Por exemplo, quando é que você não dá informações sobre

algo que lhe perguntam?

1. Quando pressupomos que o outro saiba.

2. Quando não sabemos.

3. Quando a informação nos é prejudicial.

4. Quando a informação não é pertinente.

Assim, devemos pensar:

1. Se ele sabe que eu não sei essa informação, por que

não me diz? Ou: Se ele sabe que eu já sei isso, por que está

me dizendo?

2. Se ele não sabe sobre tal informação, por que

inventou?

3. Se a informação que ele deu o prejudica, por que fez

isso?

4. Se a informação não é pertinente, por que ele deu?

Esses são exemplos de como buscarmos depreender os significados

dos enunciados que nos são ditos e também do porquê das máximas quando

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violadas não serem vistas como uma forma de erro e sim como uma construção

que atende às pressões interacionais.

Os períodos condicionais são assim usados, por exemplo na

linguagem jurídica, no humor e cotidianamente em nossas conversas. Esse fato

ocorre devido a essas sentenças produzirem efeitos como o não

comprometimento do falante com o próprio enunciado e afirmações indiretas,

entre outros. Nota-se, então, que, em uma conversa, nosso interlocutor irá inferir

mais do que o dito no código lingüístico, contudo, se quisermos, poderemos negar

essa inferência – essa implicatura, mantendo-nos no distanciamento de certas

acusações, por exemplo. Nesse sentido as construções condicionais são

estratégias para que não passemos para nossos interlocutores que alguns

conteúdos dessas construções são impostos.

Nossas análises sobre condicionais lingüísticos tentarão mostrar,

entre outras coisas, os efeitos pragmáticos causados pelos condicionais

lingüísticos. Procuraremos evidenciar também as distintas implicaturas surgidas

na troca dos conectores condicionais.

4.2.5 Semântica

Todos sabem que a comunicação não ocorre apenas pela linguagem

verbal; através de gestos e olhares, através de nossa maneira de ser nos

comunicamos e interagimos com nossa comunidade lingüística.

A semiótica estuda o signo dos diversos tipos de linguagem: escrita,

falada, pictórica, gestual, etc. Os problemas concernentes à semiótica podem

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retroceder a pensadores como Platão, que previu a relação triádica do signo

(nome, idéia, coisa). Contudo, somente no início do século XX, devido a trabalhos

de especialistas como Saussure e C. S. Peirce é que a semiótica começa a ter

status de ciência e a conquistar sua autonomia.

Dentro da semiótica há várias subdivisões, como a Semântica.

Verificamos um crescente aumento de interesse por essa ciência nas últimas

décadas. Isso se deveu a nova visão da língua como estrutura altamente

organizada, formada por elementos que juntos constituem uma rede de relações

significativas. A importância que as palavras adquirem devido ao reconhecimento

de seu papel fundamental na modalização de nossos pensamentos, também

contribuiu para o aumento de interesse pela Semântica.

A semântica em nossos estudos é utilizada no intuito de fornecer

informações acerca da possível ambigüidade do se através da análise dos

conectores condicionais já que e caso.

A ambigüidade do conector se se deve a um traço da fala humana: a

polissemia. A ambigüidade assim como a polissemia é uma construção do texto e

não do dicionário, pois o se nos fará desvelar diversos valores através do

referente, da situação de produção e também da pragmática. Isso quer dizer que o

dicionário não nos revela a riqueza semântica das palavras, esta só é desvelada

em situação de uso, quando interagem com contextos extralingüísticos.

A Semântica encontra-se, desse modo, atrelada à Pragmática.

Somente através de uma análise discursiva textual é que podemos notar o sentido

do se. Sentido este que se constrói a partir não de si mesmo, mas de todo um

sintagma que o integra e do contexto em que se insere o mesmo.

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Assim como qualquer outra palavra, o conector se vai designar um

determinado número de aspectos semânticos diferentes de acordo com o contexto

em que é utilizado. Dessa forma, o se não indicará apenas uma condição, como

também um tempo, hipótese, argumentação, etc. Ainda em suas ramificações

semânticas, encontraremos aspectos subjacentes à verdade da proposição,

indicando maior ou menor probabilidade de realização do evento descrito no

enunciado iniciado por se.

O deslizamento semântico do se não depende somente do contexto,

mas também de fatores importantes como tonalidades emotivas.

De acordo com o filósofo W. M. Urban (apud. Ulllmann, 1974:338):

O fato de um signo poder designar uma coisa sem deixar de designar outra, o facto de que, por ser um signo expressivo da segunda tenha também de o ser para a primeira, é precisamente o que faz da linguagem um instrumento de conhecimento. Esta tensão acumulada das palavras é a origem fecunda da ambigüidade, mas é também a origem dessa predicação analógica, causa única do poder simbólico da linguagem.

Aristóteles, na sua retórica, criticou a polissemia. Segundo ele, as

palavras de significado ambíguo serviriam apenas para fazer com que sofistas

desorientassem seus ouvintes. (Ullmann, 1974). Na prática, percebemos que não

se trata de um defeito da língua; a polissemia, ao contrário do que afirmava

Aristóteles, garante a eficiência da língua. Ao atribuir diferentes sentidos a uma

mesma palavra, fazemos uma economia lingüística e, por conseguinte, evitamos

uma sobrecarga em nossa memória. “A polissemia é um fator inapreciável de

economia e flexibilidade da língua [...]” (Ullmann, 1974:347).

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Apesar do número de significados que uma palavra pode adquirir

apesar da ambigüidade que pode surgir, essa será desfeita pelo falante quando

somente um desses significados fizer sentido na situação em que o falante/ouvinte

se encontrarem, atendendo suas competências persuasivas e interpretativas.

5. ASPECTOS TEÓRICOS DAS CONSTRUÇÕES CONDICIONAIS

5.1 Considerações gerais sobre condicionais

Consideramos um enunciado como condicional quando temos duas

proposições, sendo que uma será introduzida pela conjunção condicional e a outra

poderá ser introduzida por então.

Koch (2000:129) postula que em um condicional não afirmamos que o

antecedente é verdadeiro, todavia se o antecedente for verdadeiro o conseqüente

também o será. Uma das explicações para essa relação é chamada de implicação

material, em que não há conexão necessária entre o antecedente e o

conseqüente, despreza uma abordagem cognitiva, há apenas valores de verdade

para as proposições constituintes do condicional e através desses valores é que

se infere a verdade ou não do condicional.

Com a implicação material, surge o que chamamos, de paradoxos do

condicional material, pois temos que aceitar como condicionais verdadeiras frases

como: “Se o Brasil fica na África, elefante é carneiro" Pela lógica esse condicional

é considerado verdadeiro, mas para nós, falantes de uma mesma comunidade

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lingüística, parece-nos estranho, ou seja, é um paradoxo. Tenta-se desfazer esse

paradoxo com uma outra relação entre as proposições condicional proposta por

Brennan (2003). De acordo com esse autor quando um condicional se A, B é

verdadeiro, dizemos que a verdade do antecedente é suficiente para a verdade do

conseqüente e, por conseguinte, a verdade do conseqüente é necessária para a

verdade do conseqüente. Ele nos afirma que em qualquer sentença condicional

parece ter uma relação de uma condição suficiente bem como uma relação de

uma condição necessária. Através do exemplo “Se eu abri a porta, eu usei a

chave”, Brennan (2003) mostra que a primeira proposição é uma condição

suficiente para eu ter utilizado a chave e, por conseguinte, ter usado a chave é

uma condição necessária para eu ter aberto a porta. Nesse exemplo, observa-se

que para o uso da chave ser uma condição necessária para abrir a porta, não

podemos ter nenhum esforço físico para a abertura da porta, consideramos que a

porta não poderá ser aberta através de um arrombamento, por exemplo. A

proposta de Brennan faz com que aceitemos bem essa teoria, contudo Brennan

diz que em condicionais como “Se você me tocar, eu gritarei” não temos essa

relação. Nessa frase, você me tocar parece-nos uma condição suficiente para

gritar, porém gritar não nos parece necessário para que nós sejamos tocados.

Esse problema é desfeito quando Gomes (2007) explica que ao considerarmos

não existir nessa frase uma relação recíproca de suficiência e necessidade,

estamos pensando em uma relação causal. Para ele, o correto é focar nossa

atenção para a verdade das declarações. Gomes pondera que gritar não é evento

causalmente necessário para a ocorrência da ação de tocar, no entanto é um

efeito necessário para que seja verdade a declaração da oração antecedente.

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Diferentemente de Brennan (2003), Gomes (2009) não fala apenas em causa

suficiente e causa necessária, mas salienta que em relação a uma causa

necessária teremos um efeito suficiente e em relação a uma causa suficiente,

teremos um efeito necessário. Esses termos acabam com os questionamentos de

Brennan sobre a relação, em uma proposição, de causa necessária e causa

suficiente.

Gomes (2009), ainda, pondera informações importantes acerca dos

condicionais ao comentar sobre condicionais lógicos e condicionais causais. Ele

afirma que esses dois tipos de condicionais possuem a mesma estrutura e ambos

excluem a conjunção de A com ~B. Porém, haveria uma diferença entre eles que

Gomes (2009) diz ser a de que nos condicionais lógicos existe uma razão lógica

para a exclusão de Se A, ~B, enquanto que nos condicionais causais não existe

uma incompatibilidade entre A e ~B. O autor sustenta que os condicionais de

causa suficiente como “Se ele foi à festa, ele chegou tarde em casa” possuem a

direção de inferência igual à direção da causalidade; já condicionais de causa

necessária como “Se ele passou na seleção de mestrado, ele teve nota maior do

que 6” possuem direção de causalidade contrária à inferência. Isso implica afirmar

que, a seqüência dos eventos nem sempre seguem a seqüência inferencial.

Outra questão sobre condicionais de causa necessária e causa

suficiente, é o questionamento do sentido causal ou necessário que o se admite

ao encabeçar uma determinada oração condicional. Muitos autores, como Gomes,

questionam se uma pessoa quando enuncia frase do tipo “Se não chover, vou à

praia”, ela considera vai à praia ainda que chova ou considera que só irá à praia

se não chover. Se a última hipótese for a escolhida por essa pessoa, ela considera

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a frase pronunciada por ela própria equivalente à “Se e somente se não chover,

vou à praia”. Quando digo “Se não chover, vou à praia” não afirmo que no caso de

chover deixaria de ir à praia. Nesse sentido temos uma condição suficiente na

oração subordinada. Enquanto ao falarmos “Somente se não chover, vou à praia”,

temos uma condição necessária na prótase. O problema parece surgir quando

constatamos que, muitas vezes, utilizamos apenas o se e inferimos no enunciado

uma condição necessária. Fica a pergunta: O se indica uma condição suficiente e

o falante ao inferir uma sentença encabeçada por tal conector entende como uma

condição necessária?

Além dos condicionais de conexão lógica e causal, citados

anteriormente por autores como Gomes, temos, segundo Koch (2003)

condicionais de caráter definidor e de conexão de decisão. A autora exemplifica o

primeiro com a frase “Se Paulo é solteiro, então Paulo não é casado, já o segundo

caráter ela exemplifica com “Se meu time perder, então beberei a noite inteira”

(Koch, 2003:129).

Adotamos em nossa pesquisa a concepção de Gomes por nos

parecer mais pertinente, justamente por não deixar fendas em suas definições.

Essa classificação dos condicionais constitui apenas uma das abordagens sobre

esse assunto. Outra classificação dos condicionais diz respeito da factualidade e

será mais detalhada a seguir.

5.2- Classificação dos condicionais quanto à factualidade

Quando emitimos um enunciado, procuramos alcançar nosso desejo.

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Esse discurso pronunciado por nós envolve nossa subjetividade, a temporalidade

e nossos sentimentos. O discurso nos aproxima das pessoas, estabelecendo

assim um contato social e também nos interage com o mundo em que estamos

inseridos. Através das atitudes que buscamos expressar em nossos discursos, tais

como dúvida, probabilidade, necessidade, certeza, obrigação, entre outras, temos

nosso discurso modalizado. Essa modalidade, de acordo com Koch (2003), nos

revela uma parte da atividade ilocucionária que revela nossa atitude perante nosso

enunciado. Parret (apud Koch, 2003:75) ressalta que esses atos ilocucionários são

motivados pelo reconhecimento das intenções do falante. Assim, temos na

modalidade um questionamento do falante com o outro a respeito de condições,

potencialidades, chances de realização ou não da proposição e o grau de adesão

do falante ao seu próprio enunciado.

Essa modalidade que pode ser encarada como a ação do falante

sobre o mundo, uma ação que é dotada de intencionalidade, pode ser vista como

requisito na classificação que autores atribuem aos condicionais.

Para Givón (1984; 1990) essa modalidade pode ser traduzida como realis

(certeza, verdade, factual) e irrealis (hipótese, possibilidade, dúvida, condição) e

definida a partir do ‘contrato’ falante-ouvinte.

O autor supracitado se refere à três tipos de modalidades, que se

constroem em relação ás atitudes do falante-ouvinte a respeito do discurso:

a- Conhecimento não contestado (verdade necessária,

analítica e pressuposta);

b- Conhecimento assertivo do realis (verdade factual,

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sintética);

c- Conhecimento assertivo do irrealis (verdade possível,

condicional).

No segundo volume da sua obra, Syntax (1990), Givón reduz as três

modalidades em apenas duas: realis e irrealis.

Muitos autores como Schwenter (1999:11) dissertam sobre o

conceito de realis e irrealis na classificação dos condicionais. Em sua obra, o autor

salienta que podemos ter uma visão tripartida dos condicionais, como Harris

(1986), e assim dividi-los em real (realis), potential (irrealis) e unreal

(contrafactual). Note aí que o autor acrescentou á visão de Givón o conceito de

unreal. Também é possível notar uma diferença na nomenclatura, ao chamar de

potential o que Givón nomeia de irrealis. Apesar da diferente nomenclatura há

uma aproximação de Givón e Harris, pois para aquele irrealis denota uma verdade

possível, o que pode ser traduzido em potential deste, uma vez que potential

denota uma possibilidade. Uma classificação muito semelhante a de Harris é a

classificação tripartida, vista em obras de autores como Gryner (apud Costa 1997),

que nos revela três tipos de condicionais a saber: realis, potentialis e irrealis.

Nessa classificação o irrealis, como o próprio nome sugere, designa condicional

em que o fato descrito é irreal, o realis designa condicional em que o fato descrito

é real e o potentialis engloba condicional em que o fato descrito pode ou não

acontecer, isto é, é hipotético. A diferença desta classificação da de autores como

Harris não parece distinguir-se pelos conceitos, e sim pelas inter-relações de

nomes e conceitos.

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Vejamos a Classificação de Gryner (apud Costa) para entendermos melhor a

proposta deste autor:

a- Período hipotético do real (realis) ou factual

Ex.: Se (=já que) é para bem de todos, fico.

(Considero que é para o bem de todos, uma vez que acabei de ser informado

disso);

b- Período hipotético do potencial (potentialis)

Ex.: Se for para o bem de todos, ficarei.

(Considero que pode ser ou não ser para bem de todos);

c-Período hipotético do irreal (irrealis) ou contrafactual

Ex.: Se fosse para bem de todos, ficaria.

(Considero que não é para bem de todos).

Segundo Leão (1961:31-32), temos três tipos de períodos

hipotéticos, a saber, período hipotético do real, período hipotético do potencial e

período hipotético do irreal. No realis “a condição é, foi ou deve ser realizada

efetivamente; trata-se de um fato cuja realidade se reconhece; às vezes é uma

realidade que se deseja acentuar”. A autora pondera que esse período é

caracterizado pelo fato de apresentar verbos no modo indicativo. No período

hipotético do potencial, “a condição é eventual, simplesmente possível. O fato

pode realizar-se ou não, mas não há nenhum pronunciamento do falante sobre a

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realidade desse fato”. Já o irrealis é expresso por uma “condição contrária à

realidade”. Isto é, não pôde e nem nunca poderá realizar-se.

Já Costa (1997:27) tem uma concepção bipartida de irrealidade, que

ela expressa no seguinte quadro:

IRREALIS

Não-factualidade Contrafactualidade

- Dúvida quanto à irrealidade.

- Não descarta possibilidade de

realização

- Certeza quanto à irrealidade

- Descarta qualquer possibilidade de

realização

Quadro 2: Concepção de irrealidade, extraído de Costa (1997:27)

Essa acepção parece ter sido originada de uma derivação latina, pois

sendo o modo indicativo utilizado, normalmente, no realis, o modo subjuntivo,

considerado como o modo da incerteza, ou irrealis, seria utilizado tanto no

potentialis como no contrafactual.

Outra classificação citada por Schwenter (1999:12) é a de Taylor,

baseada na distinção entre factual, hipotético e contrafactual. De acordo com

Taylor (apud Schwenter), em condicionais factuais o conteúdo da oração

subordinada condicional iniciada por se pode também ser entendida como causa.

Nos contrafactuais o conteúdo da oração subordinada iniciada por se é tido como

contrário ao fato. Entre essas duas categorias, temos condicionais hipotéticos, em

que o conteúdo da oração subordinada iniciada por se é tido como possibilidade.

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Taylor (apud Schwenter 1999:12) profere, ainda dentro dessas categorias, três

possibilidades epistêmicas a respeito da crença do falante na proposição

condicional e comenta sobre “words-to-world fit”, em que temos palavras + visão

do falante da realidade mundo se encaixando. Isto é, podemos caracterizar

condicionais proferidas em contextos particulares, de maneira mais precisa, se

utilizarmo-nos dessa perspectiva epistêmica. Assim, condicionais que parecem

cair entre a classificação factual e hipotética ou parecem cair entre a classificação

hipotética e contrafactual são mais bem distinguidas quando concebemos “words-

to-world fit”.

Então uma frase como Se isso é bom, eu farei, tradicionalmente por

sua morfologia é tida como uma oração condicional factual. Contudo, essa visão

epistêmica na classificação de Taylor faz com que uma frase como a citada

anteriormente seja classificada de acordo com o contexto do falante.

Há outras formas, de acordo com Schwenter (1999:12), de

conduzirmos uma determinada interpretação dos condicionais. Nos exemplos

abaixo, elaborados pelo autor e traduzidos por nós, podemos notar que o que é

descrito dentro do parêntesis auxilia a inferência do valor de factualidade dos

condicionais.

a- Se ele disse isso (e eu o ouvi), então ele é um

mentiroso. (factual)

b- Se ele disse isso (eu não sei se ele disse), então ele é

um mentiroso. (hipotético)

c- Se ele dissesse isso (eu sei que ele nunca diria), então

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ele seria um mentiroso. (contrafactual)

Esses exemplos ilustram que, como Taylor propôs, as orações

condicionais com o conector condicional se podem ser interpretadas como

factuais, hipotéticas e contrafactuais. Mais que isso, a factualidade da oração pode

não ser inerente ao conteúdo léxico somente, ou especificamente, à semântica da

conjunção. O léxico, nesta visão, encaixa-se com a crença de realidade do falante

para compor uma interpretação, o que evidencia uma ambigüidade do conector

se.

Schwenter (1999:13-14) também comenta sobre a classificação de

Sweetser que é distinguida em três tipos: condicionais de conteúdo, condicionais

epistêmicos e condicionais de ato de fala. Essa classificação é consoante com o

domínio epistêmico cognitivo no qual são empregados ou interpretados.

Vejamos a seguir, embora não nos aprofundemos, a classificação de Sweetser:

a- Condicionais de conteúdo – são aqueles em que o

falante faz uma predição sobre o mundo sócio-físico externo.

Os eventos descritos estão em relação condicional e causal,

como afirma Ferrari (1999:117). Nessa classificação temos

frases como Se chover, a festa será cancelada, em que não

podemos afirmar sem risco de erros que de fato irá chover

ou não, ainda que contemos com todo um aparato

metereológico.

b- Condicionais epistêmicos – são aqueles em que o

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falante desenha uma inferência na apódose e a prótase

fornece base para essa inferência. De acordo com Ferrari

(1999:117) temos nesses condicionais uma relação de

causalidade que não se estabelece entre eventos no mundo

descrito, mas sim entre o conhecimento do falante a respeito

de um evento e uma conclusão motivada por esse

conhecimento. São condicionais como Se ele foi à festa,

certamente o viu, em que temos dúvidas ligadas a uma base

epistêmica do falante.

c- Condicionais de ato de fala ou pragmáticas – são

aqueles em que o falante executa um ato de fala

condicionalmente na apódose e a prótase faz com que o ato

de fala seja relevante. Nesses condicionais não temos a

presença de uma relação causal entre os eventos descritos

na prótase e na apódose. Temos como exemplo: Se você

ficar chateado, venha aqui em casa.

Essa classificação proposta por Sweetser, apesar de representar

uma visão tripartida dos condicionais, difere-se da classificação tradicional por

considerar critérios de domínio cognitivo epistêmico.

A classificação de Taylor e Sweetser foram direcionadas em um

quadro elaborado por Schwenter (1999:16):

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Conteúdo Epistêmico Ato de fala

Factual - + +

Hipotético + + +

Contrafactual + + -

Conforme observado acima, condicionais de conteúdo como Se

chover, eles cancelarão a partida, exemplo de Schwenter (1999:13), são menos

factuais, uma vez que são preditivos e mais hipotético, e podem ser menos

factuais e mais contrafactuais se forem condicionais de conteúdo como Se

chovesse, eles cancelariam a partida.. Condicionais epistêmicos podem ser

factuais, hipotéticos ou contrafactuais, pois envolvem a crença do falante, o

conhecimento prévio de cada indivíduo. Na frase Se eles não pegaram suas

correspondências, eles saíram de férias, a apódose é desenhada com base na

prótase e eu devo considerar o conhecimento prévio deles terem ou não pegado

as correspondências para certificar-me de que viajaram ou não.

Condicionais de ato de fala podem ser tanto factuais quanto

hipotéticos, mas não contrafactuais. Em Se você se aborrecer, venha me ver no

trabalho, notamos o uso da forma imperativa na apódose, o que caracteriza um

dos tipos de condicional, segundo a concepção de Sweetser. Contudo,

apropriando-me da convergência dessas duas teoria, no condicional Se você

fizesse a lição de casa, sua nota subiria, temos um condicional, de acordo com

Sweetser, de conteúdo e na classificação de Taylor esse condicional pode ser

tanto um condicional hipotético como contrafactual. O que faz, então,

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classificarmos o condicional em hipotético ou contrafactual? A crença do falante,

ou o “worlds-to-world” de Taylor.

Como vimos, são diversas as formas de classificar os condicionais.

Em língua inglesa, por exemplo, temos uma divisão em condicionais indicativos e

condicionais subjuntivos. Essa classificação é comentada por Gomes (2008) e é

baseada em Edgington 1995, Dancygier 1998 e Bennet 2003.

Tal classificação tem, em línguas inglesas, o subjuntivo como o que

nós temos no português como contrafactual. Em língua portuguesa, essa

classificação não seria adequada, uma vez que temos o modo subjuntivo e este

não é utilizado somente em contrafactuais, mas também em condicionais em que

o fato descrito na prótase é tido como possível. Devido a esta inadequação,

Gomes (2008) propõe uma que chamemos de indicativo condicionais de fato

aceito e de fato incerto e que mantenhamos a nomenclatura contrafactual para o

que em língua inglesa pode ser chamado de condicional subjuntivo.

Em língua portuguesa, chamar um condicional de subjuntivo ou de

indicativo seria inadequado, já que um condicional de modo subjuntivo pode ter

uma forma indicativa: Se ele foi lá, ele certamente a viu. Assim, pela morfologia

verbal temos o uso do modo indicativo, todavia este não denota necessariamente

uma certeza, mas uma hipótese. Diante das falácias de transpormos tal

classificação para a língua portuguesa, é adequado comentarmos um pouco sobre

o que Gomes sustenta: uma proposta baseada no que ele chama de aceitação

suposta, que seria, simplesmente, classificar os condicionais de acordo com a

crença que o falante faz sobre o evento descrito na prótase. Ele então divide os

condicionais em três tipos: condicionais de fato aceito, condicionais de fato incerto

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e condicionais contrafactuais. (Gomes, 2008:219)

Neves (2000:836) nos explica que apesar da tradição classificar as

construções condicionais como reais, irreais e eventuais – que seria o potenciais -,

o período chamado de real, que é concebido como uma conseqüência necessária

e, dessa forma, real, não se confirma quando avaliamos o uso efetivo de uma

determinada língua. Ela ratifica essa afirmação ao salientar que não se pode falar

em realidade, tendo como referencial o que é visto em um enunciado. Isso porque,

para a autora, realidade não se confunde com linguagem. Real ou não-real não é

nunca o que é dito e sim um estado de coisas. Com base nesse pensamento não

é possível dizer que em uma construção condicional temos uma realidade ou não-

realidade de um estado de coisas afirmada. O que é afirmado é a factualidade ou

não-factualidade do que é dito em uma proposição. As denominações de Gomes

em relação às construções condicionais parecem estar em consonância com as

de Neves, contudo o conceito de cada definição se diverge um pouco. Veremos a

seguir os conceitos de Gomes.

Condicionais de fato aceito são, para o autor supracitado,

condicionais em que o falante aceita ou age como se aceitasse a verdade do

antecedente. Dessa forma, um condicional de fato aceito seria determinado pela

crença que o falante faz sobre o fato descrito na prótase. Estes condicionais são

constituídos de verbos no indicativo e assim a crença que o falante faz coincide

com a forma verbal indicativa.

Condicionais de fato incerto podem ser constituídos de verbos no

indicativo ou no subjuntivo, uma vez que esses condicionais se caracterizam pelo

fato do falante está incerto ou agir como se estivesse incerto sobre a verdade do

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antecedente. Essa crença do falante pode ser expressa pelos dois tipos verbais.

Condicionais chamados de contrafactual, normalmente, têm uma

forma verbal distinta, pretérito imperfeito do subjuntivo e futuro do pretérito. No

entanto, percebemos que há sim a possibilidade de termos condicionais

constituídos de morfologia verbal indicativa e ainda sim designarem um

condicional contrafactual. Podemos citar como exemplo o condicional: Se sou eu

lá, faço tudo diferente. Aí temos um contrafactual com o uso do indicativo, mas

que vai ao encontro da proposta de Gomes, por compartilhar da idéia de que o

falante acredita que o antecedente é falso ou age como se acreditasse que o

antecedente é falso. É importante notar que o uso do presente do indicativo neste

caso não indica que o fato descrito no enunciado é aceito pelo falante, o uso

desse tempo verbal indica uma contrafactualidade, já que o falante o tem como

algo que não foi vivido e, portanto, que não é verdade. Assim, podemos perguntar

o porquê do uso do indicativo no lugar do uso do subjuntivo. A resposta é

encontrada no cotidiano nosso. Quando nos encontramos em uma situação, ainda

que falemos um fato contrafactual, devido a estarmos vivenciando-o naquele

instante damos preferência a forma indicativa. O contrário acontece quando nos

projetamos para uma situação contrafactual distante de nosso momento de fala,

damos preferência a forma por excelência contrafactual.

Fica bem nítido que um condicional com uma única estrutura

lingüística pode abarcar diversas interpretações, dependentes dos conhecimentos

prévios dos participantes da conversa e da crença destes sobre os seus

enunciados.

Em relação aos contrafactuais também, creio que essa estrutura nem

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sempre designe que o falante finge acreditar no antecedente ou acredita na

falsidade do antecedente de um condicional. Irei explicar. Ao nos dar exemplos

como: Se você tomasse um táxi, você chegaria a tempo, Gomes argumentaria que

o falante pode muito bem se utilizar dessa forma verbal, ainda que acredite que o

antecedente possa não ser falso ou irreal. Nesse caso, apenas fingiria uma crença

para manter um certo distanciamento do enunciado. Gomes nos leva a refletir

sobre o porquê do falante não ter usado nenhuma outra forma verbal e ele poderia

nos perguntar por que o falante não usou, por exemplo: Se você tomar um táxi,

chegará a tempo. (Gomes 2008)

Ao enunciar Se você pegasse um táxi, você chegaria a tempo, o

falante não pensa necessariamente que age como se fingisse que não acredita no

antecedente, como seu interlocutor também não tem necessariamente em mente

que o locutor, com o qual compartilha uma conversa, finge algo. Pode,

simplesmente, pensar que essa é uma sugestão que o locutor criou através de

uma situação imaginária. Por acreditar, que pragmaticamente, com o enunciado

visto acima, o locutor e o interlocutor não fingem não crer no seu enunciado e nem

acreditam na falsidade deste é que chamaria esse condicional de imaginativo

hipotético, nomenclatura que autores, como Leão, chamariam de potential.

Podem perguntar por que o locutor não usou Se você tomar um táxi,

chegará a tempo? Creio que a forma Pretérito imperfeito + Futuro do pretérito seja,

comumente, vista em contrafactuais, é muito utilizada para sugestões e não

obrigatoriamente devido ao falante fingir a falsidade do evento descrito no seu

enunciado ou a acreditar na impossibilidade do evento descrito. O falante pode

acreditar que a forma que normalmente designa um contrafactual transmita melhor

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a sutileza de uma sugestão dita por outra forma. Apesar de não ser foco de nossa

pesquisa saber precisamente o porquê do falante preferir uma forma normalmente

contrafactual para designar, segundo nós, uma sugestão, iremos citar outra frase

em que sua análise favorece nosso argumento de que a forma Pretérito imperfeito

+ Futuro do pretérito não designa obrigatoriamente um contrafactual.

Observe as frases:

a- As pessoas estão inclinando seu corpo para frente e

pegando suas sacolas.

b- As pessoas fazem isso quando o ônibus chega.

Nas frases acima, o surgimento do ônibus é um fator que condiciona

as pessoas a fazerem tal movimento com o corpo. Reproduzindo tais enunciados

em uma estrutura condicional, tentando não fazer modificações lingüísticas e

mantendo-se fiel à oração subordinada, que é a chegada do ônibus, já que a

incerteza que temos é sobre esse fato, eu falo: Se o ônibus chegar, as pessoas

fazem esse movimento com o corpo. No entanto, o movimento com o corpo não

consiste em uma incerteza e sim em algo certo confirmado pelo sentido da visão.

Isso porque o autor de tal construção lingüística vê que as pessoas fazem esse

movimento com o corpo, se o ônibus chega. Essa construção parece então

inviável no uso do cotidiano, como também modifica muito a estrutura inicial da

frase original. A maioria das pessoas parafraseariam a frase original com Se o

ônibus estivesse chegando, as pessoas fariam esse movimento com o corpo. É

possível perceber que na frase que normalmente diríamos, não temos uma crença

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na falsidade do enunciado ou fingimos acreditar na falsidade do que é descrito

neste. O que se pretende ao pronunciar uma frase como essa é simplesmente

imaginar uma situação, demonstrar uma hipótese que em muitos casos parece

condicionar o uso da forma pretérito imperfeito + futuro do pretérito. Isso responde

por que um falante opta por uma forma lingüística em detrimento de outra, em

contextos determinados. Podemos considerar a preferência do falante, podemos

considerar a melhor forma lingüística, em alguns casos, para atender aos seus

propósitos comunicativos como uma sugestão. Se você pegar um táxi pode

representar uma possibilidade, mas Se você pegasse um táxi parece expressar

melhor um mundo hipotético e ao mesmo tempo imaginativo, uma construção de

todo um cenário de possibilidades e talvez por isso a melhor opção de sugerirmos

algo. Levamos nosso interlocutor a um convite de imaginar junto conosco,

chamamo-lo a se transportar dentro de todo o cenário que elaboramos. Quando

falo Se você pegar um táxi [...], haverá quem entenda esse enunciado como

possibilidade, mas não vejo nessa forma de denotar um convite ou de convidar

nosso interlocutor a uma reflexão sobre o que propomos. A única forma que

permite o locutor a inserir em seu discurso uma sugestão não é a forma verbal

utilizada em contrafactuais. Contudo, se essa forma, em alguns casos não designa

que o falante acredita na falsidade do antecedente e isto não é interpretado por

nenhum componente da conversa, não devemos chamar esse condicional de

contrafactual. Gomes em suas classificações se baseia sempre no uso da língua

e, considerando a língua em seu aspecto funcional, frases como a exposta

anteriormente não pode ser limitada à classificação de um condicional

contrafactual. Se não considerarmos tais condicionais como pertencentes à

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classificação dos condicionais de fato incerto, desconsideramos as pretensões

comunicativas dentro de uma interação verbal. É assistir a forma verbal um

significado intrínseco.

Gomes (2008), em seu artigo, sustenta sua classificação com a

paráfrase do conector se por caso e supondo que para condicionais de fato incerto

e já que e dado que para condicionais de fato aceito. Creio que estas não sejam

as únicas possibilidades de demonstrar as circunstâncias expressas pelos

condicionais, mas que nos sirva para sustentarmos nossa tese. Uma frase como

Se você pegasse um táxi, chegaria a tempo, pode ser parafraseada por Caso você

pegue um táxi, chegará a tempo ou Quando você pegar um táxi, não correrá o

risco de chegar atrasado. Assim, não temos um contrafactual, senão quando

observamos um condicional como Já que ela é uma rainha, eu sou um rei,

teríamos, obrigatoriedade de classificá-lo como condicional de fato aceito e jamais

como um contrafactual.

É evidente que em condicionais como Se eu fosse o assassino, eu

estaria lá naquela noite, ditos em uma audiência, por exemplo, podemos ter um

contrafactual. Visto que ainda que quem pronuncie essa frase seja um assassino,

ele finge não ser o assassino, utilizando-se dessa forma verbal para mostrar sua

inocência.

Neves (2000: 837-843) dispõem os condicionais em três grupos:

condicionais factuais/reais, condicionais contrafactuais/irreais e condicionais

eventuais/potenciais.

Em construções condicionais factuais, a autora verifica que há a

presença de um valor conclusivo na oração principal, contudo, há outros usos

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presenciados nessas construções como o de contraste. Um exemplo dado pela

autora para o matiz de contraste é Se os homens letrados eram poucos, as

mulheres alfabetizadas formavam um número bem reduzido. Ela nos mostra que

mesmo com uma conjunção prototípica de um determinado valor podemos

presenciar outros valores que não o prototípico.

Neves (2000:838) acrescenta ainda a idéia que nas orações condicionais

factuais: “[...] enquanto o elemento SE encabeça uma proposição de factualidade

verificada, o outro segmento que contrabalança a construção traz outra proposição

que também é factual [...]”.

Em contrafactuais/irreais, Neves (2000:840-841) comenta que há

casos em que a contrafactualidade é garantida e em outros casos apenas temos

uma indicação possível de contrafactualidade. Ela nos dá os seguintes exemplos:

• Se a pergunta partisse da Irmã Flora, a resposta teria

sido outra.

• Se eu estivesse livre – repisou Raul – não tenho dúvida

de que me casaria com ela, ainda que mamãe se zangasse.

Nesses exemplos, a autora explica que na primeira construção a

contrafactualidade é assegurada pelo modo verbal e tempo verbal da apódose,

futuro do pretérito composto – teria sido -. Dessa forma, afirma-nos que dizer que

teria sido é a mesma coisa que dizer que não foi e ainda que um interlocutor não

soubesse que a pergunta partiu da Irmã Flora, só pelo modo e tempo verbais a

construção seria contrafactual. Na segunda construção, com apódose em futuro

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do pretérito simples, me casaria, e a prótase em imperfeito do subjuntivo,

estivesse, indicam contrafactualidade, mas não a asseguram. A autora ainda

acrescenta que para que a leitura da construção não seja equivocadamente

contrafactual, nesses casos, é preciso que tenhamos uma convergência entre a

proposição e o contexto em que essa se insere.

Condicionais contrafactuais, também são, para Neves (2000) uma

construção que expressa contraste, como visto em seu exemplo: Se você é Rui do

Pajeú, eu sou Virgolino Lampeão.

Condicionais eventuais/potenciais são conceituadas para Neves

(2000:842) como construções em que a prótase denota eventualidade e a

apódose é tida como certa caso se satisfaça a condição expressa na prótase.

Essas construções são também nomeadas de acordo com seu sentido que,

consoante com a autora, é denominado construção condicional eventual de valor

privativo e construção eventual de valor não-privativo e implicativo. A construção

eventual de valor privativo é “[...] marcada pela locução conjuntiva de sentido

privativo SEM QUE. A oração principal, no caso, é negativa: Ela não pode ser

entendida SEM QUE sua religião seja considerada”. (Neves 2000:843) Com o

conectivo que Neves (2000) diz que também podemos ter a construção eventual

privativa. Contudo, ela observa que para tanto temos que ter forma negativa tanto

na prótase quanto na apódose. Neves (2000:843) nos mostra o seguinte exemplo:

Você não pode ver flor que não corra logo para cheirar e o traduz como Você não

pode ver flor sem que corra para cheirar. As construções eventuais não-privativas

ocorrem muitas vezes com o uso do elemento então, que Neves (2000:843)

conceitua como elemento conclusivo. Ela nos dá o seguinte exemplo: Se se

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montar a peça com dois cenários, organiza-se então a cena para o julgamento

que se segue. Com seu exemplo ela mostra que além de uma construção eventual

não-privativa, notamos a existência de uma implicação, pois a condição enunciada

implica o que se afirma na oração principal dessa construção. Assim, o fato de

alguém montar a peça com dois cenários implicará a organização da cena para o

julgamento que se segue.

Neves (2000:846) comenta que não temos sempre nas construções

eventuais uma implicação e nos mostra também que condicionais eventuais, ainda

que iniciadas pela conjunção se, podem mesclar a noção de condicionalidade com

outras noções como:

a- Alternância: Se você não consegue se controlar, você

não consegue dormir. (= Ou você consegue se controlar ou

você não consegue dormir)

b- Concessividade: Mesmo Se quisesse não conseguiria

trair.

c- Comparação: Como se tivesse mudado de idéia,

apertou a campainha.

Ela nos ressalta ainda que em uma construção condicional a alternância entre

condicionalidade e concessividade se torna ainda mais evidente quando temos o

elemento concessivo mesmo precedendo o elemento condicional se; e alternância

entre condicionalidade e comparação provém da coexistência entre o elemento

comparativo como com o elemento condicional se.

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Em nossa tese, adotamos a classificação tradicional em realis,

irrealis e potencialis, ainda que o termo realis não seja bem aceito por Neves

(2000), adotamos essa denominação com um conceito não de realização de um

estado de coisas e sim de uma factualidade.

Ao decorrer da pesquisa foi notório que a classificação dos

condicionais é devida a um contexto e não propriamente a semântica verbal,

principalmente se considerarmos a fala que desvia muitas vezes da norma padrão

da língua portuguesa. Ao escolher a classificação latina, reafirmo a dificuldade em

considerarmos tais classificações como elementos estanques, pois dependendo

da situação contextual temos um condicional que normalmente se encontra em

uma certa classificação, transitando por outras classificações. Podemos também

nos deparar com impossibilidade de uma classificação precisa.

Essa dificuldade em classificar condicionais é vista por Leão

(1961:85-86) quando comenta sobre a árdua tarefa de aceitarmos que o Se +

Imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito sempre traduza irrealidade.

Para melhor evidenciar tal questão a autora nos mostra exemplos

como:

a- Se eu tivesse asas, voaria para lá.

b- Se eu fosse você, agiria dessa maneira.

c- Se eu tivesse dinheiro, repartiria com você.

d- Se quisesses, ainda chegarias a tempo.

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Leão (1961:86) aponta as condições dos períodos a e b como irreais

ou impossíveis, enquanto que a condição de c, para a autora, é improvável,

contudo não impossível e a condição de d é possível, com maior grau de

possibilidade de realização que a de c. Seguindo seu raciocínio, a realidade ou

irrealidade dos períodos não está no molde das frases e sim no contexto.

Portanto, fatos da língua revelariam a impossibilidade de se manter uma distinção

entre realis, potencialis e irrealis somente baseando-se na forma lingüística e

assim surge, para Leão, a necessidade de um outro critério de classificação para

períodos hipotéticos.

Logicamente, não podemos desconsiderar aspectos morfológicos

dos verbos, mas estes devem permanecer atrelados a fatores como contexto,

crença do falante e semântica dos conectores. Leão (1961:98) demonstra, por

exemplo, que o tempo verbal somente não determina a classificação do

condicional. “Consideramos variações estilísticas os períodos que para exprimir

hipótese, provável ou não, usem indicativo em vez de subjuntivo, na oração

subordinada. Não haverá mudança do conteúdo intelectivo, mas o valor

expressivo será outro, refletindo a linguagem coloquial na obra literária e

realizando imaginariamente a hipótese e sua conseqüência”. É claro que Leão

utiliza-se de um corpus literário para verificar a classificação e por isso mesmo

considera tal caso como uma questão de coloquialidade na obra literária. Porém, é

evidenciada a questão de que ligar tempos verbais para classificar condicionais é

uma limitação gramatical, rompida no aspecto funcional da língua. Leão reforça

seu pensamento com a seguinte frase de Machado de Assis: “Agora, se querem

saber em que circunstâncias se deu o fenômeno, basta-lhes ler este capítulo até o

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fim”. E explica que nessa frase o se querem equivale a se quiserem.

No caso das orações subordinadas condicionais iniciadas por se, ou

até mesmo por já que, a ambigüidade destes mais a inadequação de uma análise

puramente morfológica do verbo tornam o contexto e a crença do falante fatores

mais relevantes na inferência das proposições condicionais.

Esse contexto, segundo Souza (2006:27), é um subconjunto de

suposições do ouvinte sobre o mundo, que é adquirida no decorrer da vida e

renovado a cada processamento de informações. O contexto usado para

interpretar um enunciado é restringido pela organização da memória enciclopédica

do indivíduo, pelas suas habilidades cognitivas e também pela atividade mental na

qual está engajado em determinado momento como afirma Sperber e Wilson.

Dessa forma, na interpretação dos enunciados, o contexto é individual e provoca

uma crença diferenciada em cada falante. Isso o torna fator preponderante na

interpretação dos condicionais.

5.3 Modo e Tempo verbais e sua relação com a

factualidade

De acordo com Neves (2000:848-854) há um esquema modo

temporal que indicaria a factualidade das orações condicionais. Sob essa

perspectiva temos para as orações condicionais factuais o seguinte quadro:

Oração condicional Oração principal

Presente do Indicativo Presente do Indicativo

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Passado do Indicativo Passado do Indicativo

Futuro do Indicativo ------------------

Através do quadro acima, notamos o que caracteriza as orações

condicionais factuais é o uso do modo indicativo.

Nas construções contrafactuais, a autora afirma que, normalmente,

os verbos da prótase estão no modo subjuntivo e numa forma passada, como

pretérito imperfeito e pretérito mais que perfeito. Ela ressalta que só há

contrafactual no passado, uma vez que o verbo da oração principal é sempre de

passado. (Neves 2000:850)

A autora explica que ao vermos uma construção condicional como

em Se eu não chego a tempo, o senhor bebia todo o rio Paraíba, apesar do uso do

presente do modo indicativo na prótase, isso não invalida a afirmação anterior de

que construções condicionais contrafactuais só apresentam verbos no passado,

pois embora a forma morfológica seja de presente o valor é de passado. Essa

construção poderia ser traduzida como Se eu não tivesse chegado a tempo, o

senhor beberia todo o rio Paraíba.

Nas construções condicionais eventuais, temos uma grande

variedade de esquemas modo-temporais, observada por Neves e apresentada no

seguinte quadro baseado em suas observações:

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Oração condicional Oração principal

Presente do Indicativo ou Subjuntivo Presente do Indicativo ou Subjuntivo

Passado do Indicativo ou Subjuntivo Passado do Indicativo ou Subjuntivo

Futuro do Indicativo ou Subjuntivo Futuro do Indicativo ou Subjuntivo

Neves (2000:852) constata que a forma modo-temporal mais comum

em construções eventuais é a prótase com o futuro do subjuntivo e que essa

forma é exclusiva dessas orações.

Pretendemos verificar se essa relação temporal está diretamente

atrelada à idéia de factualidade ou se existem fatores mais relevantes nessa

análise que tornam os aspectos verbais morfológicos coadjuvantes na

classificação de construções condicionais.

5.4 Então nos condicionais

Ao consultarmos uma gramática como a de Evanildo Bechara

(2003:289) nos deparamos com a grande polêmica: o fato de alguns advérbios,

entre os quais poderíamos incluir o então, serem tidos como conjunção. O autor

nos mostra que, muitas vezes, advérbios, como o então, devido à sua mobilidade

posicional na oração são vistos no início de orações e considerados, assim, uma

conjunção coordenativa explicativa ou conclusiva. Ele salienta, ainda, que:

Levada pelo aspecto de certa proximidade de equivalência semântica, a tradição gramatical tem incluído entre as conjunções coordenativas

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certos advérbios que estabelecem relações interoracionais ou intertextuais. É o caso de pois, logo, portanto, entretanto, contudo, todavia, não obstante. Assim, além das conjunções coordenativas já assinaladas, teríamos as explicativas (pois, porquanto, etc.) e conclusivas (pois [posposto], logo, portanto, então, assim, por conseguinte, etc.), sem contar contudo, entretanto, todavia que se alinham junto com as adversativas. Não incluir tais palavras entre as conjunções coordenativas já era lição antiga na gramaticografia de língua portuguesa; vemo-la em versões de sua Gramática [MMa.1]. Perceberam que tais advérbios marcam relações textuais e não desempenham o papel de conector das conjunções coordenativas, apesar de alguns manterem com elas certas aproximações ou mesmo identidades semânticas. (Bechara, 2003:316)

Carone (1988) defende que as conjunções são geralmente

expressões que deslizaram do estatuto de advérbio para o de conjunção. De

acordo com ela, o então figura entre os operadores (além disso, apesar disso, pelo

contrário, assim, aliás, etc.) que atuam como elementos de coesão entre partes de

um texto, incluindo-se, assim, na faixa de transição do advérbio para a conjunção.

Para alguns autores, como Faraco e Moura, o então ainda é

classificado apenas como advérbio de tempo, mas se consultarmos alguns

autores de gramáticas pedagógicas (Terra, 2002; Infante, 1995; Nicola & Infante,

1997; Sacconi, 1994) já notaremos o reconhecimento do caráter multifuncional e

polissêmico do termo. Eles o apresentam não só como um advérbio puramente,

mas também como um conector interfrásico que articula partes de um texto,

assumido, desse modo, o papel de conjunção. Neste caso, o então abarca um

novo valor semântico-pragmático. Esse termo pode, assim, comportar-se como

um nexo conclusivo, expressando uma relação factual de causa-consequência ou

uma relação de inferência entre proposições, sendo a primeira uma das

premisssas e a segunda uma conclusão.

A relação factual de causa-consequência e a relação de inferência

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entre proposições condizem respectivamente ao que Halliday & Hasan (1976,

apud Pezatti, 2002:191) entendem como função ideacional e função interpessoal

da linguagem. Nesse caso, o nexo conclusivo pode expressar uma conseqüência

factual ou assumir um valor argumentativo.

Gomes (2004) separa os condicionais em dois tipos: condicionais

típicos e atípicos.

Os condicionais típicos seriam aqueles em que poderíamos usar o

então, que nesse caso não se traduziria como um advérbio temporal, mas

implicaria a idéia de conseqüência. Esses condicionais constituiriam, desse modo,

uma operação específica do pensamento humano, que é a de estabelecer uma

relação de dependência entre duas proposições, na qual uma expressa uma

condição suficiente para que a outra se verifique.

O autor ainda cita que condicionais denominados atípicos, nos quais

não cabe o uso do então, podem ser representados por frases como Se você tiver

fome, há comida na geladeira. Não poderíamos dizer em tal frase Se você tiver

fome, então há comida na geladeira. Se há comida na geladeira, a comida está lá

independente de você ter fome ou não. Se não expressam a mesma relação entre

antecedente e conseqüente, por que condicionais atípicos têm a forma de um

condicional? Segundo Gomes, seu uso se justifica pela existência subjacente de

um condicional típico como Se você tiver fome, será útil para você a informação de

que há comida na geladeira.

Leão (1961:101) comenta que esse processo, de termos o uso do

então em condicionais é freqüente na linguagem familiar e encontra-se também na

língua literária. Ela postula que esse uso na língua literária talvez possa ser

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explicado:

a- Porque o escritor veja nos recursos orais a fonte

mesma da expressividade

b- Porque, sentindo muito longe o se, o autor tenha

necessidade de reavivar no espírito do leitor a relação que

supõe esquecida.

c- Porque o orador, querendo manter a atenção do

auditório, usa instrumentos que sublinhem a intenção de

suas frases e dêem tempo ao ouvinte de acompanhar-lhe o

pensamento.

Leão (1961:102) exemplifica esses usos com trechos de Machado de

Assis, Monteiro Lobato e Eduardo Frieiro:

a- Se o aneurisma lhe resiste ao embate, então é que o

aneurisma era uma potoca [...] (M. Lobato, p. 119).

b- Porém se, conservando o marido e o amante, tentam

novas aventuras, então o caso muda de figura: perdem o

direito a qualquer desculpa, equiparam-se às mulheres

perdidas, às que se vendem. (E. Frieiro, p. 160)

c- [...] se o senhor doutor algum dia chegar a casar com

Iaiá, então sim, é que há de ver o anjo que ela é. (M. Assis,

p. 251) nesse exemplo sente se bem a transição do sentido

temporal para o consequencial.

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Vários autores reconhecem, como visto acima, o uso do então não

somente com um advérbio.

Paremos para pensar sobre os usos do então:

1- Se ele esteve aqui ontem, então ele nos viu.

2- Eu fui lá e o vi, desde então nos falamos.

3- Fui atravessar a rua e vinha um ônibus, então me

desviei dele.

4- Ele tirou uma nota boa, e então se ele tivesse estudado

mais tiraria uma nota ainda melhor.

Nos exemplos dados, parece que na primeira frase o uso do então

articula as duas orações e possui um valor de seqüência lógica. No exemplo 2 o

uso do então é vislumbrado como anafórico de valor temporal. O exemplo 3,

embora também denote uma seqüência, esta seqüência é temporal,

diferenciando-se do exemplo 1. Já no exemplo 4 o então aponta uma conclusão.

Koch (1992) verificou o modo como os elementos lingüísticos se

relacionam entre si numa seqüência linear. Destacou aqueles por meio dos quais

se exprimem os diferentes tipos de interdependência semântica ou pragmática: os

conectores interfrásicos. Segundo a autora, a conexão interfrástica se dá mediante

conectores do tipo lógico e encadeadores de tipo discursivo. Apreciaremos agora

a relação pertinente ao comportamento sintático-semântico do então em relação à

orações condicionais iniciadas por se. Para Koch, conectores lógicos são aqueles

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que podem estabelecer relações lógicas entre as proposições do interior de um

enunciado resultante de um ato de fala único. Podemos ter nesse ato de fala uma

relação de condicionalidade, expressa pela combinação de duas proposições,

uma iniciada pelo conector se ou caso (antecedente) e outra por então, que pode

estar implícito (conseqüente). Nesse caso, o conteúdo proposicional da oração

conseqüente é considerado como certo, caso seja, eventualmente, satisfeita a

condição enunciada na proposição antecedente.

Daremos alguns exemplos retirados de Koch (1992:87):

1. Se aquecermos o ferro, (então) ele se derreterá.

2. Caso faça bom tempo, (então) iremos à praia.

3. Se você fosse realmente minha amiga, (então) teria

tentado ajudar-me nessa situação difícil.

Como podemos observar, em tais exemplos, o então estabelece uma

relação entre o antecedente e o conseqüente. Isso implica dizer que sendo o

antecedente verdadeiro, o conseqüente também o será. O então, nos

condicionais, pode estabelecer um valor anafórico, consequencial, em que temos

o equivalente a em conseqüência disso. Neves (2000:837) ressalta que em alguns

casos, na oração condicional factual, muitas vezes, apresenta um elemento

conclusivo e como exemplo cita o então, visto na oração principal.

Os usos do então não se limitam aos exemplos expostos acima,

bons exemplos são os dados na fala como: Então menina!, no sentido de vamos

lá. Através de seus usos variados fica muito difícil pensar no então apenas como

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advérbio. Isso seria desconsiderar toda a polissemia das palavras em nossa

língua, seria desconsiderar a abordagem funcional da língua.

De acordo com o funcionalismo, procura-se explicar os fatores

lingüísticos de acordo com o uso interativo da língua, analisando as diferentes

situações comunicativas em que temos esse uso.

Para essa teoria, a estrutura gramatical depende do uso que se faz

da língua (Furtado da Cunha, Costa & Cezario, 2003:29).

Com a diversidade dos usos do então, torna-se clara a necessidade

de analisá-lo dentro de um contexto e de um propósito comunicativo. Para reforçar

essa idéia é só lembrarmos da arbritariedade lingüística do signo lingüístico, vista

em Saussure, arbitrariedade essa que perde sua força quando passamos a

conceber o funcionalismo da língua. Para Martelotta & Áreas (2003:25), “o falante

não inventa arbitrariamente seqüências novas de sons, mas tende fortemente

utilizar material já existente na língua”. Isso quer dizer que, normalmente, não

criamos coisas novas, mas garantimo-nos da polissemia das palavras para

expressarmos todos nossos pensamentos e intenções comunicativas.

Os estudos sobre a trajetória do advérbio então à conjunção então

não são recentes. Almeida (1957:261) subdivide os advérbios em simples e

conjuntivos obedecendo a suas funções:

É simples o advérbio que só tem função de advérbio (hoje, amanhã,

sim, não, muito, pouco, sempre, nunca, etc.) e conjuntivo o advérbio que além de

funcionar na oração como advérbio, funciona também como conjunção: quando,

onde, como, enquanto, etc.

Ainda que não caiba aqui a análise de cada ocorrência do então, já

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se pode vislumbrar que a multifuncionalidade e a polissemia do termo não são

recentes e implicam não o considerar apenas como advérbio.

O então ocorre tanto como advérbio de tempo como articulador de

partes de textos e orações como as subordinadas condicionais.

5.5 Expressão do futuro nos condicionais

Ao consultarmos uma Gramática Normativa do português

perceberemos que os usos dos tempos verbais não fazem alusão a aspectos

subjacentes ao seu significado e ao seu funcionamento, relacionando tempo

verbal a tempo cronológico. Essas gramáticas preconizam a língua escrita ao

ditarem regras para regular e medir a língua escrita literária, não considerando

variações lingüísticas como a alternância entre a forma sintética do futuro do

pretérito (faria) e a forma perifrástica (ia fazer). Temos então uma carência de um

estudo sobre verbos, visto que essas considerações normativas, ainda que

tenham contribuído para nossos estudos, são incompletas e, portanto,

insatisfatórias.

Ao estudarmos os períodos condicionais, verificamos que ocorre

muito essa variação verbal do futuro e que esse assunto, por ser descartado por

gramáticas tradicionais, merece uma atenção maior.

O tempo futuro enquanto categoria lingüística ocorre com facilidade no

português, seja na língua escrita ou falada. O futuro nos aparece não como um

tempo concreto, mas como um tempo suposto. Por conseguinte o futuro pode ser

tido como um modo muito mais do que como tempo, uma vez que constrói um

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mundo de possibilidades para o falante/ouvinte. Para Corôa (2005:55), “É

justamente pelo lugar de ação do futuro ser no mundo do possível que optam por

representar esse tempus não como uma continuação linear do passado e

presente, mas como um feixe de ‘mundos possíveis’”. Para a autora, o futuro

expressa um pensamento que parte sempre do possível para a certeza,

envolvendo interpretações sobre esse percurso.

Martin (apud Corôa, 2005:57), afirma que o condicional inscreve-se

em um processo de um vir-a-ser repleto de incertezas. A natureza do condicional

não é concebida além da conjetura, é um tempus em que temos grande

freqüência do uso modal. Assim, ao passo que o futuro parte de um conjunto de

possibilidades para um mundo que é ou será temporal, o condicional parte de uma

base temporal para um mundo extremamente hipotético, que passa pelo modal.

Isso implica afirmar que em construções do tipo “Sairei amanhã” temos um futuro

modal, já que carrega consigo as noções de probabilidade – de sairmos, e logo

depois teremos o futuro que chamamos de temporal, marcado pela morfologia

verbal. Todavia, quando falamos “Se eu puder, eu sairei amanhã”, notamos o uso

modal como derivado da função temporal.

Para expressar o futuro o falante utiliza várias formas verbais, como

o futuro do presente do indicativo, o futuro do pretérito do indicativo e a forma

perifrástica. É de nosso interesse verificar se o uso das formas perifrásticas, que

designam futuro, nos condicionais, influi na escolha de determinados conectores.

Dubois (2001:300) chama o futuro do pretérito de condicional e

afirma que este é a combinação do futuro com o passado. Isso se comprova em

alguns contextos, como exemplo, podemos citar um diálogo em que um dos

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integrantes da conversa diga Iria ao cinema hoje, o seu interlocutor,

provavelmente inferiria que se algo não acontecesse, ele iria ao cinema hoje. O

futuro do pretérito aponta, nessa frase, para uma inferência condicional, para uma

oração subordinada condicional. Na frase Iria ao cinema hoje, temos a elipse da

oração subordinada condicional. Não podemos, no entanto, pensar que sempre o

futuro do pretérito irá sugerir uma condição. Ao imaginarmos um contexto em que

alguém diz Eu pensei que eu iria ao shopping, que iria ao cinema e que iria jantar

na rua notamos que as frase com o uso do futuro do pretérito são orações

subordinadas substantivas que complementam a oração principal Eu pensei.

Nesse contexto o futuro do pretérito não é uma condição, é um objeto direto da

oração principal. Ainda sendo o objeto direto e não apontando diretamente para

uma condição, alguém poderia argumentar que, na frase acima, houve algum

impedimento para que os fatos que alguém disse pensar que iriam acontecer não

acontecerem. Esse impedimento poderia ser traduzido em uma oração condicional

como Eu iria ao cinema, se tivesse recebido meu salário hoje ou Eu iria ao

shopping, se o meu carro não tivesse quebrado no meio do caminho. Sim, mas

outros exemplos não admitem tal argumentação. Pensemos em uma conversa em

que alguém diga Encontrei com meu amigo ontem e ele me disse que iria ao

cinema; nessa frase não temos o futuro do pretérito como designador de uma

condicionalidade e sim denotando apenas um futuro referente ao passado.

Com isso, percebemos que nem sempre temos no futuro do pretérito

uma condição e que a denotação de condicionalidade depende diretamente do

contexto ao qual estamos inseridos.

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5.6- Esquemas verbais em orações condicionais

Neves (2000:848) apresenta um esquema modo temporal das

construções condicionais. Segundo a autora, assim como Leão (1961), a

conjunção se inicia tanto orações com verbos no indicativo, quanto com verbos no

subjuntivo. Já as outras conjunções condicionais só se constroem com verbos no

subjuntivo.

Ao considerarmos a conjunção já que também como uma conjunção

condicional, admitimos que tal conjunção acompanhe verbos no indicativo e não

acompanhe verbos no subjuntivo, isso indica que tal conjunção é merecedora de

uma categoria intermediária entre o conector se e os outros conectores

condicionais. Poderíamos expressar o que foi dito da seguinte forma:

Conectores condicionais Modos verbais

Se Indicativo e Subjuntivo

Já que Indicativo

Outros conectores condicionais Subjuntivo

Na oração principal, Neves (2000:848) salienta que ocorre o modo

indicativo, o contrário só ocorrerá se tivermos um tipo de modalização que nos

leve ao uso do subjuntivo, como em seus exemplos:

a- Se tivesse podido prever o resultado, talvez nada

tivesse mandado dizer. (A)

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b- Se desse a autorização, talvez as duas famílias se

reconciliassem. (FR)

c- Se Solovieff tivesse sido executado, quem sabe Se o

futoro Lênin tivesse orientado de modo diferente a sua

atuação. (AM-O)

Em relação ao tempo verbal, a autora afirma que a conjunção se e

aquelas em que o se vem focalizado – salvo se, exceto se – iniciam orações no

tempo presente, passado e futuro. Isso foi verificado em nossa parte empírica, em

que frases iniciadas por essa conjunção podem atrelar-se a todos os tempos

verbais.

Neves (200:848) verifica que “Todas as outras conjunções

condicionais iniciam orações de presente e de passado”. Esse fato também nos é

confirmado, pois ao tentarmos produzir enunciados condicionais iniciados por

conjunções condicionais diferentes do se, verificamos que o uso do futuro se torna

inviável.

5.7 Sobre o conceito de tempo

O tempo, de acordo com Santos (apud Corôa, 2005:24), pode ser

dividido em tempo cronológico, que se caracteriza por um ponto em contínua

deslocação ao futuro; tempo psicológico, como aquele que existe em função do

mundo interior do indivíduo e o gramatical, que se caracteriza no português por

morfemas típicos.

Para as gramáticas tradicionais há três tipos de tempos fundamentais:

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presente, passado e futuro. Contudo, essas gramáticas de língua portuguesa

apresentam uma ambigüidade entre Tempo (tense), uma categoria gramatical, e

tempo (time), uma entidade fundamentalmente experiencial. Tal ambigüidade, de

acordo com Santos (2000), teve como conseqüência a prática de chamar tenses

(tempo verbal) de acordo com a seqüência de tempo (time) linear: passado,

presente e futuro. Diferenciando time e tense, temos que este é uma categoria

gramatical enquanto aquele uma construção mental. Sendo assim, temos tense

como uma expressão da seqüência de eventos, anterioridade, simultaneidade e

posterioridade.

Em nossa língua materna, comumente associamos ao verbo a noção

temporal. Contudo, temos outras expressões que podem dar informações em

relação à ordenação temporal – advérbios, conjunções, numerais e adjetivos

(Corôa, 2005).

Santos (apud Corôa, 2005:34) postula que, embora, normalmente,

definamos o verbo pelo seu caráter dinâmico, levando em conta assim o aspecto

semântico, essa seria uma maneira errônea, se não incompleta de conceituar o

verbo, pois na língua portuguesa encontramos nomes com um caráter dinâmico

maior do que alguns verbos. O autor exemplifica com o nome “desfile”, que

segundo ele tem mais dinamismo do que o verbo “permanecer”. Dessa maneira, o

mais sensato é distinguir o verbo dos nomes pelas suas características de voz,

modo, tempo, aspecto, pessoa e número, ou seja, pelo aspecto mórfico.

Na Gramática de Ingedore Koch e Mário Villaça (2001), podemos

observar que o verbo serve para marcar a posição que os fatos enunciados

ocupam no tempo, e que este, enquanto categoria gramatical, é realizado

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exclusivamente pelo verbo e, enquanto categoria nocional, por morfemas, lexemas

e outras expressões.

Jean Dubois (2001:300) conceitua o tempo como uma categoria

gramatical que normalmente está ligada a um verbo e que traduz diversas

categorizações do tempo real ou natural.

Ainda que conceituar verbo seja uma tarefa tão árdua, não podemos

negar que essa categoria verbal, seja lá qual for sua conceituação, sempre está

vinculada à noção temporal e que é de extrema importância no ato comunicativo,

uma vez que permite ao falante/ouvinte situar-se no tempo em relação a ações,

estados e eventos em seus processos.

No português, essa classe gramatical apresenta uma riqueza de

morfemas Temporais, temos então morfemas característicos para cada Tempo

verbal, como –ria para o futuro do pretérito e –va para o pretérito imperfeito, em

verbos pertencentes à Primeira conjugação e –ia para os de segunda e terceira

conjugação.

Maria Helena Mira Mateus et al. (1983:104) diz que “no português os

Tempos naturais são o presente, o passado e o futuro”; faz ainda a observação de

que, dado que o futuro exprime sempre um valor modal, em línguas em que não

está ainda gramaticalizado, é discutível considerá-lo um tempo.

Nos condicionais lingüísticos observamos que o futuro se torna um

assunto muito intrigante. Como exemplo, podemos citar o futuro do pretérito,

tempo verbal de conceituação muito difícil, uma vez que temos com freqüência

esse tempo em construções condicionais do irrealis, que possuem uma natureza

incerta ou irreal. Dessa forma, esse tempo que se encontra no modo indicativo,

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comumente caracterizado por exprimir fatos que se situam no âmbito do real,

apresenta-se em outra ambiência.

Aos enunciados que fazem referência ao passado é possível

atribuirmos valores de verdade, porém não podemos fazer isso com enunciados

sobre o futuro e dessa forma um de nossos objetos de estudo, o uso dos

conectores condicionais, quando estiverem atrelados ao uso do futuro, ao

expressarem realidade e irrealidade, envolvem também modalidade, que

estudaremos a seguir.

5.8 Modo X modalidade

Apesar de modo e modalidade muitas vezes serem vistos como

sinônimos, o modo apresenta-se como uma categoria gramatical, enquanto a

modalidade está relacionada com o evento de produção do enunciado, indicando

intenções e atitudes do falante em relação ao seu discurso. A modalidade, como

postula Mateus (1983), pode ser explicitada pelo modo do verbo e pelos verbos

modais como will, can, may e must na língua inglesa. Travaglia (1991) salienta

que a modalidade pode ser marcada também por advérbios como ‘talvez’, por uma

oração principal como ‘eu acho que’ ou ainda por verbos como ‘proibir’ e ‘crer’. O

autor também revela que a entonação da voz pode marcar modalidade.

O futuro, muitas vezes, tido como um conceito meramente temporal,

deve ser visto como um tempo verbal que indica modo e modalidade, já que, como

Lyons (19977) afirma, na enunciação do futuro temos suposição, inferência,

desejo, intenção e vontade.

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Quando queremos expressar o futuro, podemos utilizar o futuro do

pretérito, o futuro do presente e até mesmo o presente. O futuro do pretérito e o

futuro do presente podem ser representados por suas formas perifrásticas, Ir +

Infinitivo. As formas perifrásticas, vistas também em estruturas condicionais,

podem designar uma determinada modalidade.

As modalidades que são tradicionalmente reconhecidas, desde a

época de Aristóteles, são:

a- Modalidade alética – as relações denotarão noções de

possibilidade, necessidade, contingência e impossibilidade,

e referem-se ao valor de verdade de proposições.

b- Modalidade epistêmica – referem-se ao conhecimento

que o locutor possui sobre o conteúdo de suas proposições.

c – Modalidade deôntica – está relacionada às normas de

conduta, àquilo que devemos fazer.

A gramática tradicional herdou da modalidade epistêmica a oposição

entre realis e irrealis. Dessa maneira, o modo indicativo se opõe ao modo

subjuntivo, posto que o primeiro é tido como o modo ligado a fatos reconhecidos

pelo locutor como certos de serem realizados, já o segundo aparece ligado

fundamentalmente a eventos reconhecidos como não-realizados ou irreais. Dessa

maneira, temos, comumente, o modo indicativo em asserções do realis, e o modo

subjuntivo indicando asserções do potentialis e irrealis.

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Palmer (1986:191) nos lembra que condições irreais usam diversos

processos como o modo subjuntivo, tempo pretérito e verbos modais.

A noção de irrealis, potentialis e realis expressadas pelos

condicionais foram discutidas na seção 5.2 que descreve a classificação dos

condicionais.

5.9 Aspectos pragmáticos das construções condicionais com

presente do indicativo e futuro do subjuntivo.

O esquema “Se P, (então) Q”, como retrata Ferrari (2001), pode

aparecer de diversas formas com diversas variedades verbais na prótase e

apódose.

Ela nos mostra algumas dessas possibilidades nos seguintes

exemplos (Ferrari, 2002:226):

a- Se chove, eles cancelam o jogo.

b- Se chover, eles cancelam o jogo.

c- Se chovesse, eles cancelariam o jogo.

d- Se choveu, eles cancelaram o jogo.

A autora supracitada reconhece que cada uma dessas construções

sintáticas representa um significado particular, mas que analisará apenas as

construções a e b, focando na implicação sociocognitiva entre o presente do

indicativo e o futuro do subjuntivo em prótases condicionais. A perspectiva

sociocognitiva permite, como a autora afirma, o detalhamento das relações entre

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condicionalidade e modalidade. A autora analisa sob essa perspectiva a

introdução de um tópico e a mudança de tópico através dessas construções

condicionais.

Segundo Chafe (apud Ferrari 2005) “o tópico discursivo pode ser

definido como uma quantidade de informação que pode estar semi-ativa na

consciência”. Podemos ter nos tópicos uma organização hierárquica em que há a

presença de tópicos maiores e tópicos menores.

Para Chafe (apud Ferrari, 2002), o desenvolvimento do tópico se dá

através da elicitação e narração. Na elicitação, existe uma seqüência breve de

turnos, envolvendo dois ou mais interlocutores. O desenvolvimento do tópico é

interacional e quem introduz o tópico é o elicitador.

Na introdução de um tópico discursivo, Ferrari (2002) demonstra

através da transcrição, na qual o discurso se organiza através do supertópico

gêneros textuais, que a introdução de um tópico é feita com um condicional que

apresenta verbo no presente do indicativo, utilizado pelo coordenador em sua fala.

Coordinator: Se você pega aqui é um ensaio/ esse texto é

um ensaio tá vendo?

Teacher 1: [ahã]

Teacher 2: ce já tem no ensaio/ ce, ce já faz aquela

reflexão...argumentativo/

Teacher 3: [argumentativo é]

Teacher 2: que o autor vai nos levar a refletir sobre

determinado assunto, mas que ele não vai fechar questão,

vai...o leitor né/se questionar/

Coordinator: é o ensaio é até mais reflexivo até

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Coordinator: tem um ponto sei lá/(+) se pegar um editorial

que também é argumentativo/oeditorial/ele tem um tom

muito mais polêmico, enquanto texto argumentativo, do que

ensaio (++) né

Também é demonstrada, na transcrição acima, a mudança de tópico

que ocorre quando o editorial é citado, e com o uso de uma construção

condicional com protáse no futuro do subjuntivo.

Para Ferrari (2002) a utilização do futuro do subjuntivo constitui uma

estratégia na mudança de tópicos.

Na revista Marie Claire (Abril, 2009, n.27), na seção Abaixo as

Dúvidas, em que leitores escrevem para a revista com o intuito de esclarecerem

suas dúvidas, notamos que o uso do futuro do subjuntivo na prótase foi um

recurso na mudança de tópico. Vejamos a seguir uma dessas cartas:

Tenho a impressão de que as máscaras e as ampolas de

hidratação não proporcionam mais que um efeito puramente

cosmético. Dão um brilho discreto e deixam os fios macios

por algumas horas, mas depois de uma ou duas lavagens o

resultado desaparece.

Os consultores respondem:

Você tem razão. Os produtos cosméticos são ótimos aliados

para tratar a aparência externa do fio, mas não agem

internamente, nem alteram a qualidade do cabelo que ainda

vai nascer. Se quiser melhora em longo prazo, é

necessário avaliar a qualidade da sua alimentação e,

eventualmente, fazer uma complementação oral.

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Houve uma mudança de tópico, em que o consultor muda do tópico

da impressão que o leitor tem para o tópico sobre a melhora do cabelo do leitor.

Na mesma revista, observamos o uso de um condicional com

prótase do presente do indicativo, na resposta do consultor, contudo notamos que

não há mudança de tópico, o que reafirma a idéia de Ferrari. Vejamos:

Sou vegetariana e tenho notado que meus fios estão

enfraquecidos. Pode ser falta de carne?

O consultor responde:

Sim. O ferro, encontrado na carne, é essencial para que o

cabelo cresça saudável. Se você restringe esse alimento, a

saída é recorrer a cápsulas ou comprimidos do nutriente.

Na revista Época do mês de abril, em uma entrevista intitulada O

Brasil construiu um modelo próprio, com Marcelo Néri, sobre a crise, Época

pergunta:

Já que o modelo não é planejado, como o Brasil conseguiu

construí-lo?

Néri responde:

Como o Brasil tem muitas desigualdades, você não pode ter

uma visão ultraliberal da economia. O Brasil tem déficits

sociais que, numa democracia, são cobrados, e, portanto,

você tem de conciliar. Há uma dinâmica política na

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sociedade brasileira que leva a um equilibrismo. Nós

seguimos algumas coisas do Consenso de Washington, mas

mantivemos uma economia ainda relativamente fechada,

bancos públicos grandes e reformados, um mercado de

crédito que cresceu muito nos últimos anos, mas é

embrionário em relação a outros países. Essas coisas eram

vistas como defeitos, mas, com a crise, passaram a ser

vistas como qualidades, porque os mecanismos de

propagação dos choques financeiros externos não nos

atingem tanto. Por outro lado, se você começa a fazer

muitas coisas contra o mercado, as pessoas também

gritam. Foi isso que fez o Lula, em seu primeiro mandato,

ao colocar Antônio Palocci no Ministério da Fazenda [...]

Na entrevista acima, notamos que a mudança de tópico, feita por

Néri, não atendeu à forma prevista por Ferrari. Pois, na mudança de tópico,

presenciamos o uso do presente do indicativo em Se você começa a fazer. Isso

demonstra que não podemos estabelecer na análise funcionalista da língua uma

forma verbal como uma única possibilidade de expressar determinada idéia ou

como única estratégia de um propósito discursivo. Porém notamos que a forma

verbal mencionada por Ferrari é uma estratégia de mudança de tópico e, embora

não seja a única, talvez seja um recurso priorizado na mudança de tópico.

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5.10 Diferenças gramaticais nos condicionais e sua finalidade

Para Ferrari (2002:232-233) temos nos condicionais diferenças

gramaticais entre condicionais que representam sugestões e aconselhamentos

dos condicionais que representam pedidos e convites.

A autora salienta que em condicionais que sugerem ou aconselham,

o beneficiado é o ouvinte e a construção verbal utilizada nessas construções é o

presente do indicativo na prótase e o imperativo na apódose. Essa forma verbal

reforçaria a sugestão ou o aconselhamento. Ela nos dá a seguinte frase:

1- Se você detesta escutar gente buzinando, escute a JB

FM.

Já em convites e pedidos, em que o interesse do falante é focado em

si mesmo, notamos construções com prótase no futuro do subjuntivo como na

frase:

2- Se você puder, me ligue hoje à tarde. (Ferrari, 2002:233)

A autora nos fala que quando temos um pedido ou um convite,

precisamos evidenciar nosso desejo ou capacidade de realizá-lo, e por isso, as

condicionais hipotéticas, com o uso do futuro do subjuntivo, são utilizadas. Isso

garante segundo a autora a preservação da face do falante, isto é, no caso de

possíveis recusas o falante se preserva através de sua postura neutra, efetivada

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pela forma verbal do condicional utilizado.

Poderíamos argumentar que em contextos semelhantes ao dado

pela autora, ou seja, de sugestão ou aconselhamento, em que o ouvinte é

beneficiado, poderíamos ter a seguinte frase: Se beber, não dirija. É possível

falarmos dessa forma e vemos e ouvimos, constantemente, essa frase em

anúncios publicitários contra o uso de bebida alcoólica no trânsito. Essa frase é

um conselho, em que o maior beneficiado é a pessoa que o segue, pois ao seguir

o conselho, ela preserva sua própria vida. Podemos imaginar essa frase com o

uso do presente do indicativo, Se bebe, não dirija, mas não parece natural falar

dessa forma.

Temos uma frase que não admite, de forma natural, a estrutura com

o presente, mesmo que nessa frase tenhamos um conselho. Se o presente fosse,

realmente, usado nessa frase de combate do álcool no trânsito, não teríamos o

mesmo efeito, pois estaríamos admitindo que o interlocutor inferisse, por exemplo,

que o anúncio quis dizer que ele bebe habitualmente e que por isso não deve

dirigir. Com certeza esse não é o propósito da campanha.

Ao utilizar o futuro do subjuntivo, o conselho não atinge aos que não

bebem, não afirma que o interlocutor bebe sempre, o que transmite é que às

vezes as pessoas bebem e que nessas vezes não devem dirigir.

Assim, não constitui uma regra usar o presente do indicativo sempre

que tivermos um aconselhamento ou sugestão. Contudo, se observarmos os

principais anúncios publicitários, vistos em comerciais de televisão, por exemplo,

notaremos uma preferência pelo uso do presente do indicativo, em detrimento ao

uso do presente do subjuntivo.

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Na revista Marie Claire (Abril, 2009, n.27), em uma matéria intitulada

Depois daquela Festa, observamos os seguintes enunciados:

Se você adota o estilo curto...

A vantagem é que não precisa pensar duas vezes antes de

decidir se vai lavar o cabelo [...]

Se seus fios acordam sem volume...

A dica de Marcos Proença é, assim que você se levantar,

aplicar um spray de volume [...]

Se quer cachos cheios de bossa...

O cabeleireiro Almiro Nunes [...] ensina como reavivá-los [...]

Notamos nos exemplos acima sugestões que ocorrem de maneira

implícita como no primeiro exemplo ou de uma maneira explícita como no segundo

exemplo. Nos condicionais vistos acima, apesar de termos o uso do presente do

indicativo na prótase de condicionais, não temos o uso do imperativo na apódose.

Isso mostra que existem outras construções verbais que também transmitem

sugestões (explícitas ou implícitas) e conselhos. Não notamos em toda a revista

nenhum registro de uso de futuro do subjuntivo em construções condicionais que

designem esses valores. Isso sugere dizer que mesmo que possamos transmitir

um conselho ou sugestão com o uso do futuro do subjuntivo, essa não é a forma

preferencial. Também concluímos que há a combinação do presente do indicativo

com o presente do indicativo também na apódose. Essa seria uma outra forma de

sugerir ou aconselhar com a utilização de condicionais.

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5.11 Ironia nos condicionais

Silveira e Feltes (2002) comentam que desde a época de Aristóteles

se seguia o modelo de código semiótico, em que a comunicação é realizada por

meio da codificação e decodificação das mensagens. Tal modelo demonstra que

quando o falante diz algo, ele o transmite através de um canal de idéias

(codificação), cabendo ao ouvinte por um processo de decodificação,

compreender o que lhe foi dito. Contudo, há mensagens que precisam ser

interpretadas não só pelo que foi dito, mas por aquilo que está além do que foi

dito. Como exemplo, podemos citar a ironia de determinados enunciados

condicionais como:

Se você passou no vestibular, eu sou a rainha da Inglaterra.

O que se pode deduzir desse enunciado? Você passou no

vestibular? Eu sou a rainha da Inglaterra? Pelo que se percebe, decodificar

apenas a mensagem acima não explica esse caso porque é preciso que se

conheça o contexto em que tal enunciado foi dito para depreendermos

corretamente esse condicional. Há outros aspectos relevantes para

compreendermos tal enunciado, como a falta de relação entre prótase e apódose

e improbabilidade extrema da verdade da apódose, porém estes aspectos são

desvelados através de uma realidade compartilhada pelos membros de uma

conversa e pelo contexto.

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Não podemos, assim, negligenciar o contexto para entendermos a

ironia aí presente, temos que não só decodificar a mensagem acima como

também inferi-la.

A essência da ironia, segundo Freud (1969:199), consiste em dizer o

contrário do que se pretende comunicar a outra pessoa, mas poupando a esta

uma replica contraditória fazendo-lhe entender, seja pelo tom de voz ou por algum

gesto simultâneo, ou por pequenas indicações estilísticas que se quer dizer o

contrário do que se diz.

Para Searle (1969:104), a ironia se caracteriza como um ato de fala

indireto, sendo um enunciado cuja estrutura gramatical indica uma força

ilocucionária diferente daquela pretendida pelo falante. A estrutura gramatical do

exemplo “Você pode me passar o açúcar?”, aparentemente, indica uma pergunta,

enquanto na verdade o falante está fazendo um pedido.

Nos condicionais, poderíamos pensar como equivalente à frase “Se

você me permite, eu vou dar minha opinião”, nesse caso a estrutura gramatical

aponta para uma condicionalidade da expressão da sua opinião em relação a uma

suposta autorização que deveria ser dada pelo interlocutor, contudo, em tal frase,

o falante está apenas anunciando que dará sua opinião de uma forma mais polida.

De acordo com o autor, a força ilocucionária de enunciados como o

primeiro exemplo dado é seu verdadeiro significado. Nesse exemplo, o ato de fala

constitui uma condição e a força ilocucionária é aquela para qual aponta a

estrutura gramatical.

Os atos de fala ilocutórios – ato de fazer uma declaração, oferta,

promessa, etc; ao enunciar uma sentença, em virtude da força convencional

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associada a ela -, propostos por Austin e Searle, são elementos que contemplam

a ironia.

A ironia, como ato de fala não-direto, está entre uma dissociação

daquilo que o enunciado manifesta, o literal, e a proposição visada, que

corresponde ao que está implícito. (Brait, 1996:78) De acordo com a autora, o

valor ilocutório da ironia explica uma de suas particularidades formais, a que diz

respeito às coerções que pesam sobre a inversão semântica. Assim, a ironia

geralmente descreve em termos valorizantes uma realidade que ela trata de

desvalorizar.

Em nossas discussões sobre a ambigüidade do conector se,

retornaremos esse assunto.

6. CONECTORES CONDICIONAIS

6.1 Os conectores condicionais

Alguns gramáticos tradicionais, como Bechara (2003:498),

reconheceram a multiplicidade de relações exibidas pela articulação de orações.

Assim, o autor aponta que, além das orações condicionais exprimirem condição,

são capazes de encerrar idéias de hipótese, eventualidade, concessão, tempo,

sem que se consigam delimitar demarcações entre campos do pensamento.

O autor supracitado ainda postula que este tipo de período é muito

utilizado em argumentações e que tem como principais conjunções se, caso, sem

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que, uma vez que, desde que, dado que e contanto que. Ele menciona a

conjunção já que, todavia explica que esse conector pode ter uma interpretação

causal além da condicional. Para ele, essa interpretação é resultado de uma

motivação semântico-pragmática, uma vez que, como observado pelo mesmo

autor, algumas palavras que constituem a oração “[...] passam por uma

interpretação suplementar, contextual, do falante, calcada na sua experiência de

mundo”. (Bechara, 2003:325).

Podemos, portanto, afirmar, que as sentenças condicionais iniciadas

pela conjunção já que possuem aspectos inter-relacionados, que impedem que

possamos classificar construções iniciadas por esse conector somente como

condicionais ou somente como causais. Leão (1961) também percebe que há

casos em que a distinção entre causa e condição é quase impossível.

A autora ressalta que “Há casos em que é quase impossível saber se

se trata de causa ou condição, de condição ou tempo, concessão ou restrição”.

(Leão, 1961:22)

Neves (2000) ressalta que a noção de condicionalidade pode

mesclar-se a outras noções. Cita como exemplo algumas construções temporais,

que em certos tempos verbais, têm matiz condicional.

Será notória, então, uma imprecisão ao definir a circunstância de

uma oração adverbial através do conector que a inicia. Pensemos agora: qual é a

diferença significativa entre a partícula se e o já que? O se, de acordo com nossa

hipótese, pode implicar a certeza ou a dúvida do falante sobre a ocorrência do

evento expresso na oração.

O já que possui também uma ambigüidade factual, denotando orações

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factuais e não factuais? Se sim, a factualidade dessa conjunção em construções

condicionais se deve ao fato desta ser também uma conjunção causal?

Othon M. Garcia (1912:97) salienta que a conjunção condicional

típica é o se que, normalmente, exige o verbo no subjuntivo, mas que também

pode apresentar verbos no indicativo. Ele cita outras conjunções como caso,

contanto que, uma vez que, desde que, dado que, sem que e a menos que. Ele

não cita, assim como também não o fazem Neves (2000) e Luft (2002), a

conjunção já que, contudo fala na conjunção dado que, citada também por Neves

(2000) e que para ele equivale a contanto que (quando o verbo se apresentar no

subjuntivo). Quando o verbo ligado à conjunção dado que estiver no modo

indicativo, segundo o autor, teria um sentido causal. Luft (2002) é muito tradicional

em suas colocações sobre condicionais, não abrangendo outras conjunções

condicionais diferentes das vistas em gramáticas tradicionais. Contudo, Luft (2002)

fala que conjunções condicionais exprimem condição e ao citar as conjunções

tradicionais, como se, caso, exceto se, contanto que, com tal que, a não ser que, a

menos que, sem que, ele fala da existência de conjunções semelhantes. Essas

conjunções podem ser entendidas como qualquer conjunção que denote condição

e, consoante com tal interpretação, poderíamos dizer que ele poderia considerar o

já que como uma conjunção condicional, ainda que não a tenha citado.

Como Othon M. Garcia, Azeredo (2008:326) afirma que a conjunção

condicional típica é o se, que introduz, para ele, um fato real ou hipotético.

Ele distingue duas espécies de construções hipotéticas com se

(Azeredo, 2008:326):

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a- Aquelas que expressam a típica relação entre uma causa

e um efeito hipotético e apresentam correlação obrigatória

entre o tempo da oração subordinada e o da principal (neste

grupo, se é substituível por caso);

b- Aquelas que apresentam liberdade na combinação dos

tempos verbais e cuja oração principal contém uma

inferência do que se declara na oração subordinada.

O autor salienta que os conectivos desde que, contanto que, com a

condição (de) que são para um uso formal, e, ainda que não tenham variedade de

sentidos expressas por se, possuem valor condicional contundente e impositivo. O

autor exemplifica esses valores condicionais com as seguintes frases (Azeredo,

2008:326):

c- Vocês podem usar o salão para o ensaio, desde que

deixem tudo arrumado novamente.

d- O senador aceitará o cargo de ministro, contanto que

disponha de dinheiro para novos investimentos.

Nas frases acima o valor é impositivo. Se utilizarmos se, para que

essas frases tenham valor contundente, o autor ressalta que devem apresentar a

conjunção se reforçada, obrigatoriamente, por palavras que acentuem sua

exclusividade:

e- Vocês só podem usar o salão para o ensaio, se deixarem

tudo arrumado novamente.

f- O senador aceitará o cargo de ministro somente se

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dispuser de dinheiro para novos investimentos.

Azeredo (2008) observa que o conteúdo da oração condicional nem

sempre expressa a causa hipotética do conteúdo da oração principal. Para melhor

entendermos ele nos dá o seguinte exemplo: Se você mudar de idéia, aqui está

meu telefone e comenta que a frase condicional nesse exemplo possui uma

mensagem implícita no conteúdo da oração principal. Essa mensagem pode ser

traduzida como: Telefone-me. Na inferência dos condicionais, o autor já evidencia

que é preciso estarmos atentos a toda uma situação comunicativa e analisar não

somente o que foi dito, mas como também o que não foi dito.

Azeredo (2008) mostra também a condição expressa pelos

conectivos a menos que, a não ser que e exceto se e dá a estas um valor

imperioso. “O enunciador se serve da oração condicional para indicar a única

situação capaz de reverter o que vem expresso na oração principal” (Azeredo,

2008:327).

Ele nos dá os seguintes exemplos:

a- O senador não aceitará o cargo de ministro, a não ser

que disponha de dinheiro para novos investimentos.

b- “... não há velhice que nos detenha, a não ser que

tenhamos, por vontade própria, deixado de usar o

cérebro”.[MEDEIROS, Martha. O Globo, 27/4/2008]

c- “A advogada disse que seu cliente não tem nada o que

fazer do ponto de vista jurídico, a menos que o laudo técnico

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o responsabilize nominalmente pelo desabamento do

prédio”. [ Jornal do Brasil, 19/5/1998]

d- “Com certeza até o diabo terá que reciclar sua retórica

neste fim de século, a menos que depois de velho tenha

virado um anarquista capaz de encantar o Terceiro Mundo”.

[SPÍNOLA, Noênio. Jornal do Brasil 25/5/1998]

De acordo com o autor, as construções hipotéticas iniciadas por se

servem para exprimir também a relação entre dois conteúdos que se

contrapõem, mas não se anulam, funcionando o segundo como atenuação ou

compensação do primeiro. Temos abaixo as frases que reafirmam a fala de

Azeredo (2008:327):

a- “Se são justas as reivindicações das empregadas,

também é verdade que as donas de casa não são

empresas”.[O Globo, 17/5/1998]

b- “É saudável que o novo ministro assuma com propostas

que, se não resolvem o problema e até reabrem polêmicas

antigas, ao menos permitem que se inicie uma reflexão mais

aprofundada”.[Folha de S. Paulo, 14/4/1998]

“Às vezes estas construções vêm reforçadas por pares correlativos

do tipo por um lado...” (Azeredo, 2008:328). Temos frases como Se, por um lado,

ele fez coisas erradas, por outro também é verdade que ele fez isso sem querer,

tentando acertar.

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Azeredo nos mostra a diversidade dos usos dos condicionais, muito

embora não considere a conjunção já que como condicional, limitando-se a uma

visão puramente tradicional na análise dos condicionais.

Cunha & Cintra (2007:601) ponderam que as orações condicionais

indicam uma hipótese ou uma condição necessária para a realização do fato

principal. Dá-nos como exemplo de conjunções condicionais se, caso, contanto

que, salvo se, sem que, dado que, desde que, a menos que, a não ser que, entre

outras existentes. O interessante em sua obra é que os autores, em suas

explicações sobre conjunções, mencionam a conjunção já que denotando apenas

o sentido de causa, mas logo depois nos falam sobre polissemia conjuncional.

Nas palavras dos próprios autores (Cunha &Cintra, 2007:604):

Algumas conjunções subordinativas (que, como, porque, se, etc) podem pertencer a mais de uma classe. Sendo assim, o seu valor está condicionado ao contexto em que se inserem, nem sempre isento de ambigüidades, pois que há circunstâncias fronteiriças: a condição da concessão, o fim da conseqüência, etc.

Acrescentaria ao exposto acima que uma das ambigüidades que

percebemos também pode ser constatada entre a condição e a causa. Isto é

notado em orações encabeçadas pela conjunção já que. Mesmo que o autor não

cite tal conjunção como denotadora também de condição, ao falar em polissemia

conjunção, revela-nos a possibilidade de essa conjunção permear por outros

matizes semânticos.

Azeredo (2008:325) ressalta que a diferença entre causa e condição

consiste na distinção de atitudes do enunciador em relação à realidade da

informação contida na oração adverbial. Torna-se tarefa difícil distinguir a causa

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da condição, contudo, uma das formas é, justamente, a análise da situação

comunicativa.

Um outro aspecto interessante, merecedor de uma análise, é se

falantes utilizam o dado que apenas com verbos no indicativo ou se o uso do

subjuntivo também é comum. Será o verbo que denota junto à conjunção a idéia

de condição e causa ou será que, além do ambiente sintático, são fatores

discursivo-pragmáticos que inserem nesses períodos a relação condicional ou

causal?

A questão colocada por Garcia de que contanto que é uma

conjunção de valor mais impositivo à condição (Garcia, 2000:97), também é

merecedora de uma análise. Fica-nos a pergunta: será que dado que, que

possivelmente equivale a contanto que, denota também esse valor impositivo? Tal

questão foi uma de nossas propostas iniciais, que refletimos brevemente em

nosso primeiro formulário. No entanto, ao especificarmos mais nossa pesquisa,

deixamos tais reflexões como sugestão de futuros estudos e como um novo

caminho para trilharmos posteriormente.

Devemos lembrar que apesar de alguns gramáticos como Bechara

levantarem algumas reflexões, a análise tradicional das sentenças condicionais se

pauta no pressuposto de que sua classificação está relacionada à conjunção que

a inicia. Essa análise nos parece um tanto inadequada e insuficiente, por não

captar outros tipos de relação que poderiam ser inferidos através do contexto em

que a sentença é encontrada. A proposta funcionalista questiona, justamente, tal

postura tradicional, e entende que nem sempre as sentenças condicionais devem

ser consideradas apenas com esse único sentido, devido à sua mobilidade

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pragmática.

Um exemplo de gramática tradicional que, como muitas, é seguida

em salas de aula, é a gramática de Faraco & Moura. Para esses autores, as

orações condicionais “indicam a situação necessária para que ocorra ou não a

ação do verbo da oração principal”. (1999:487)

Eles citam como principais conjunções dos períodos condicionais o

se, caso, exceto, salvo, desde que, contanto que, sem que, a menos que e a não

ser que. A forma como apresentam as conjunções nos faz entender que as

ocorrências das relações condicionais nas sentenças são determinadas por seus

articuladores. Sabemos, no entanto, que não podemos desconsiderar fatores

importantes como as formas verbais que acompanham os conectivos e os valores

semânticos, pragmáticos e discursivos desempenhados pelas conjunções. Os

autores citados acima omitem tais informações que são apontadas por Cunha &

Cintra, ao mencionarem a ambigüidade semântica presenciada em certas orações

subordinadas.

Acreditamos que uma análise bem-sucedida de conectores

condicionais nas construções de períodos deve ser calcada nas inferências

suscitadas por meio da análise da linguagem como um instrumento imprescindível

à satisfação das necessidades comunicativas. Tais necessidades variam com o

tempo e por isso são apoiadas em contextos sociais. Assim, o propósito de nosso

trabalho é verificar o comportamento dos conectores por nós escolhidos, através

de uma análise que não descarte a sintaxe, mas alie a ela elementos semânticos,

pragmáticos e discursivos. “Se uma língua pode abarcar vários sistemas, ou seja,

as formas ideais de sua realização, dinamicidade, o seu modo de fazer-se, pode

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também admitir várias normas, que representam modelos, escolhas que se

consagram dentro das possibilidades de realizações de um sistema lingüístico”

(Cunha & Cintra, 2007:7).

6.2 Conector se e já que

A conjunção é um dos vários meios que a língua tem para articular

partes do texto, isto é, estabelecer conexão entre as palavras, grupos de palavras

ou frases. É uma categoria que comporta uma gama enorme de valores e

sentidos. Comentaremos um pouco sobre a conjunção condicional se e logo

depois sobre a conjunção já que que permeia pelo sentido causal e também pelo

sentido condicional.

O conector se provém da conjunção latina si. Essa forma, de

acordo com Rubio (1983:345), remonta a evolução natural das leis fonéticas

latinas, a sei, forma documentada em textos arcaicos, locativo do tema pronominal

so/as que significavam, em primeira instância, “neste caso”, “assim” e “em tal

situação”.

A forma sei, acrescida da partícula dêitica ce, originou a forma sic.

Como locativos indiferenciados, o si e sic ocorrem ainda no período

histórico da língua latina, embora apareçam com maior freqüência com sentidos e

funções diversificadas, o locativo com a partícula dêitica, sic, com função de

advérbio e si, como conjunção condicional.

Faria (1997:267) comenta que no próprio latim clássico, o si

condicional passou a funcionar como conjunção integrante.

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De acordo com Leão (1961:26), temos três hipóteses apresentadas

como explicação para a evolução semântica e sintática da palavra si. As

explicações são as de Bréal (1924), de Ernout e Meillet (1953) e de Hoffman

(1958).

Segundo Bréal, trata-se de um fenômeno de contágio, de reanálise,

em que a vizinhança do subjuntivo ou do optativo transmitiu ao advérbio si a

denotação de condição. Já de acordo com Ernout e Meillet a idéia de condição

surgiu em duas orações justapostas, sendo uma delas iniciada pelo advérbio si(c).

A interdependência das idéias determinou o surgimento de duas proposições

correlatas introduzidas por si...si ou sic...si, ou ita...si. Para ratificar as hipóteses,

os autores mostram a existência de vestígios dessa correlação em Cícero: Ita

enim senectus honesta est, si se ipsa defendit. A tradução seria Assim, pois, a

velhice é honrada se ela mesma se defende.

Contudo, Leão (1961:28) postula que Ernout e Meillet não explicam a

transição da relação sintática de interdependência para a de dependência,

considerando o período hipotético sempre como um conjunto de duas proposições

correlatas, o que leva a se concluir que consideram correlação gramatical, o que

seria uma correlação lógica.

Hoffman, afirma que as origens das orações iniciadas por si

encontram-se em outras situações lingüísticas. Ele considera provável que tenham

tido origem, ora em frases interrogativas, ora em frases declarativas, ora em

frases imperativas às quais justapunham outras proposições.

Transpondo tais idéias para dentro de uma concepção funcionalista,

podemos notar que Hoffmannn acredita que a noção de condição adveio de

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implicaturas conversacionais, já que fenômenos volitivos e afetivos eram

traduzidos por interrogações diretas, por imperativos ou pela entoação de certas

declarações.

A passagem de pronome interrogativo a conjunção condicional é

explicada por Dias (1956:273), ao afirmar que, no discurso animado, um período

hipotético pode ser facilmente substituído por uma oração interrogativa, seguida

por uma oração assertiva: Conta-me? Guardo segredo. (= se tu me contas, guardo

segredo).

No latim falado, como afirma Said Ali (1964:221), si era um pronome

interrogativo empregado no lugar das partículas ne, num, nonne, na, utum... na.

Usado em frases interrogativas, passou também a ser empregado como

conjunção condicional ou integrante. Conseqüentemente, seu emprego passou a

ser vinculado a um verbo principal de significação duvidosa, negativa, ou de

questionamento, como não saber, ignorar, perguntar.

Passando à conjunção integrante, o sentido condicional esvai-se,

ficando, no entanto, na conjunção integrante si, uma certa idéia de dúvida, que

seria um vestígio do sentido primitivo.

Notamos, dessa forma, que a trajetória do conector passar de um

conteúdo semântico mais concreto para um menos concreto ou mais abstrato.

Si pronome – locativo como em tal situação, neste caso - conjunção condicional –

conjunção integrante.

Observamos com toda a explanação acima que a gramaticalização

desse item conjuncional ocorreu no latim, passando este item ao português já

como conjunção condicional ou integrante.

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Portanto, o conector condicional se, em língua portuguesa, é

proveniente da conjunção latina si. “[...] a partícula se (port. Europeu [se], port.

Brasileiro [si]), [...] provém da conjunção latina si para expressar condição”.

(Câmara, 1976:185)

Si era empregada, no latim clássico, em três tipos de períodos

hipotéticos. Como explica Leão (1961:31), a conjunção se, de acordo com a

natureza da condição expressa na oração principal do período, poderia ser usada

em relação a: o real – a condição deve ser realizada efetivamente -, o potencial –

a condição é possível – e o irreal – a condição é contrária à realidade.

Em relação à gramaticalização da conjunção si, no latim temos a

passagem do pronome interrogativo, item menos gramatical, à conjunção

condicional e, posteriormente, integrante em itens mais gramaticais. Temos uma

mudança de distribuição na sentença e perda do conteúdo semântico.

A forma já advém do advérbio latino jam, que significava agora, já,

breve e que funcionava como conjunção coordenativa aditiva, com o valor de a

mais.

A transição do advérbio jam à conjunção já que é explicado por um

processo de reanálise, em que o advérbio se desloca de uma sentença para a

outra, dando origem a uma sintaticização e uma semanticização.

Temos, para tal, a combinação do advérbio com a partícula que; o

que, conjunção causal, junta-se com o já, que iniciando as sentenças seguintes,

passa a ser interpretado como elemento constituinte da sentença subordinada.

Como visto em Câmara (1976:185), a associação da conjunção que,

de valor semanticamente causal, faz com que o advérbio já perca sua denotação

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semântica original e passe a designar, juntamente com a partícula que, um valor

causal. Dessa forma, o advérbio já, quando seguido da conjunção que, com valor

causal, que inicia uma sentença seguinte, passa a ser interpretado como um item

constituinte da sentença subordinada.

A conjunção já que sempre tem sido abordada como conjunção

causal. Somente o autor Bechara, em nossos estudos, salientou o valor

condicional dessa conjunção, ainda que não tenha explicado esse valor e

exemplificado com frases o valor condicional do conector já que.

6.3 Distinção entre o se e o já que

Leão (1961:72) distingue a conjunção se das outras conjunções não

só por exigências semânticas, como também por exigências sintáticas. Ela afirma

que o se pode ser seguido de verbo no indicativo, o que não ocorre com nenhuma

outra conjunção condicional. De acordo com a autora, “[...] se todas elas admitem

o subjuntivo, se exige futuro ou imperfeito e não admite presente [...]”.

No decorrer de nosso trabalho mostraremos que a distinção do se

das outras conjunções não seria a impossibilidade de outras conjunções não

poderem estar atreladas a verbos no modo indicativo. Faremos agora uma breve

distinção entre o conector se e já que, que possibilitará notarmos o equívoco da

autora supracitada.

Schwenter (1999:77) nos mostra que a principal diferença entre if e o

since é o senso de certeza do falante que, segundo ele, é mais forte neste do que

naquele. De fato nos parece que ao usarmos o since transmitimos maior

probabilidade de acontecer o fato descrito na prótase. Assim, em exemplos como

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o dado pelo próprio autor Since the key fits, the door will open, o falante entenderá

que a chave se encaixou e, portanto a porta irá se abrir. Schwenter, no entanto,

não nos mostra essa frase de forma isolada.

Para explicar as diferenciações entre os conectores, vejamos os

exemplos dados (Schwenter, 1999:77):

a- If the key fits, the door will open.

b- (For all the speaker knows) the key may or may not fit;

the door may or may not open.

c- Since the key fits, the door will open.

Segundo o autor uma diferença marcante entre as frases acima é

que o if poderá implicar tanto certeza quanto incerteza, contudo o since evitará a

implicatura de incerteza. Apesar de uma inerência semântica dos conectores since

e if o que de fato os identifica seria sua distinção pragmática que só ocorre devido

ao registro de seu uso.

Na frase a podemos tanto inferir que a chave encaixou ou que não

encaixou e que a porta abrirá ou não abrirá. Já na frase c temos o descarte de

uma incerteza dos eventos descritos na oração. Parece simples notar que

dificilmente alguém diria a frase c querendo que seu interlocutor inferisse que a

porta não abrirá ou que a chave não encaixou. Mas isso não se deve apenas ao

fato de que o since também participa de construções adverbiais causais,

denotando assim certeza do evento da oração. Isto porque o que deve ser

considerado também, como já dito anteriormente, é o aspecto pragmático que

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considera o contexto de seu uso. Mesmo que Schwenter não tenha salientado isso

em sua tese, se apenas considerarmos o since desprovido de um contexto não

notaremos os efeitos pragmáticos que um orador nos quer passar quando

pronuncia Já que ele é inteligente, como dizem, não precisa de professores. Na

frase citada o falante em um primeiro momento mostra ao seu interlocutor que

acredita no fato descrito no seu enunciado, contudo, o interlocutor logo percebe

que o falante não acredita nem finge acreditar na inteligência dessa pessoa.

Sendo assim temos um condicional que expressa, através de sua forma verbal e

de seu conector, um evento factual, isto é, que é verificado na prótase. Contudo,

logo se nota que esse fato não é verificado e assim o falante enunciou um

discurso contrário àquilo que pensa. Ao analisarmos que o falante falou como se

seu enunciado fosse verdadeiro e percebermos que o contexto evidenciou que o

falante com seu enunciado disse o contrário do que queria dizer, notamos que

esse enunciado tem um efeito irônico. Para que seja irônico é necessário,

justamente, que o falante tenha a sensibilidade de notar que esse enunciado,

inserido em um contexto conversacional, denota o contrário do que as marcas

lingüísticas evidenciam. Temos um enunciado em que o falante finge acreditar no

que é descrito e provoca, então, um efeito discursivo: a ironia.

Outros exemplos dados pelo autor sobre o conector já que

(Schwenter, 1999:80):

a- Since it’s snowing, it’s winter.

b- If it’s snowing, it’s winter.

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O autor tenta demonstrar que a incerteza não é um valor intrínseco

de if através da seguinte ilustração de um contexto:

[It is the middle of October in Chicago. A is looking ou the window but B isn’t]

A: It’s snowing!

B: It’s not even winter!

A: if it’s snowing, then it’s winter.

Segundo ele, não temos nada de incerto no uso de if por A, dentro

desse contexto. Isso porque se A olhou pela janela ele construiu seu enunciado

baseado em uma evidência visual. Assim a implicatura gerada a partir de If it´s

snowing, it´s winter não será a mesma que a vista em If it´s snowing, then it´s

winter. No contexto dado acima, o if aproxima-se do sentido do since por descartar

uma interpretação de incerteza e conferir ao enunciado um maior grau de

aceitabilidade, isto é, de aceitar a verdade descrita na oração.

Caso o if tivesse o valor intrínseco de incerteza teríamos uma contradição

entre o que foi dito por nas duas frases A do contexto acima, uma vez que A

afirmou que nevava e assim na declaração If it´s snowing, then it´s winter

observamos uma declaração na qual o falante visa a transmitir que está nevando

e, portanto é inverno.

Um outro exemplo que pode exemplificar que o if ou si não carregam

em si mesmos necessariamente, o valor de incerteza é visto na frase:

Si eso pasa, y yo sé que va a pasar, va a haber problemas

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(Schwenter, 1999:81).

Na frase acima podemos observar que temos uma visão positiva do

falante expressa pelo verbo saber. Isso faz com que essa frase expresse um

condicional de fato aceito, ou seja, em que o falante age como se acreditasse que

isso vai passar.

Observamos em uma análise mais detalhada que nesses casos, em

que o falante usa o if ou si com o sentido de certeza, poderíamos substituir o if por

since.

Essa possível substituição, juntamente com todas as explanações do

autor acerca do valor do if, leva-nos a perceber uma ambigüidade do if. Uma

ambigüidade que pode ser comprovada pela paráfrase do if. Quando perguntamos

a uma pessoa que falou “Si eso pasa, y yo sé que va a pasar, va a haber

problemas” o que ela quis dizer, ela irá nos responder, provavelmente que “isso

vai se passar e vai haver problemas”. Dessa forma, notamos que a interpretação

do if envolve uma crença do falante sobre aquilo que ele enuncia e também

envolve um conhecimento prévio de mundo em enunciados que envolvem

situações que podem envolver outras pessoas além do orador. Poderíamos ter

como exemplo: Se ele foi à festa, ele a viu. Nessa frase é necessário que

consideremos o conhecimento do orador, se o orador sabe se ‘ele’ foi à festa ou

não. Desse modo, não podemos simplesmente considerar a semântica do if sem

considerar o seu contexto, pois não temos um valor intrínseco nos conectores,

sejam eles condicionais ou não. Mesmo em conectores como o since, temos que

considerar o contexto, pois em Já que ele é inteligente, não precisa de professores

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para perceber o sentido irônico da oração é necessário que eu não considere

apenas o valor do conector mas/também a crença do falante e seus

conhecimentos prévios. ’

O senso de certeza de que Schwenter (1999) nos fala, realmente, é

maior para conectores como since. Já o senso de incerteza é visto no if assim

como também o senso de certeza, o que nos mostra a ambigüidade do if.

Então por que o falante em orações em que sua crença é positiva

não usa, muitas vezes, o since? Justamente pelo maior senso de certeza que

esse nos traz é que o orador normalmente usa o if, para aproveitar-se do sentido

ambíguo desse conector e manter um distanciamento de seu discurso, sendo

assim, mais cortês em suas relações sociais.

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Terceira parte – Pesquisa Empírica

7. Hipóteses

As nossas hipóteses são:

1- O conector condicional se é passível de uma interpretação tanto do realis

(quando o falante assume um compromisso com a verdade do enunciado) quanto

do irrealis (quando o falante assume um compromisso com a falsidade do

enunciado) ou quanto do potentialis (quando o falante apresenta dúvida com

relação à realização do evento descrito no enunciado).

2- O conector já que se relaciona às proposições do realis.

3- O conector caso se relaciona às proposições do irrealis ou do potentialis.

Tentaremos comprovar essa hipótese com nossa pesquisa empírica

que propõe a paráfrase do se pelos conectores já que e caso.

8. Formulário 1

8.1 Metodologia

Essa dissertação provém da idéia primeira de fazermos um projeto

sobre os conectores condicionais se, já que, dado que, caso e supondo que.

Primeiramente, pensou-se nos efeitos pragmáticos e semânticos causados pela

substituição do conector se pelos outros conectores citados acima. Para tanto,

elaboramos um formulário, em que a linguagem utilizada por nós foi do tipo

informal, para que o informante não ficasse inibido e conseguisse expressar o que

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normalmente diria. A vantagem que o formulário apresenta, em relação a outros

métodos, segundo Cervo e Bervian (2005:49), é “[...] a assistência direta do

investigador, a possibilidade de comportar perguntas mais complexas, a garantia

da uniformidade na interpretação dos dados e dos critérios pelos quais são

fornecidos. O formulário pode ser aplicado a grupos heterogêneos, inclusive

analfabetos, o que não ocorre com o questionário”. Isso se deve ao fato de o

formulário poder ser preenchido pelo próprio investigador.

Em nosso formulário, o preenchimento foi feito por nós

investigadores, todavia notamos que o formulário devia ser preenchido pelos

respondentes para que não os induzíssemos a nenhuma resposta. Constatado

esse fato, os respondentes liam e preenchiam sozinhos os formulários, contudo

muitas vezes pelo cansaço e devido a algum desinteresse pela pesquisa, tivemos

que interferir, preenchendo o formulário para os nossos informantes.

O formulário consistia em trinta e duas frases, nas quais o

informante devia escolher a opção em que o conector condicional mantinha o

sentido da primeira frase dada por nós. O falante tinha a opção de marcar duas

alternativas ou ainda não marcar nenhuma. Na elaboração do formulário, criamos

trinta e dois enunciados que obedeciam aos seguintes critérios: alguns eram

compostos pelo uso de tempos no indicativo, outros compostos pelo uso de

tempos do subjuntivo. Essa disposição foi feita no intuito de sabermos a relação

dos modos verbais às questões de interpretação de factualidade que o falante

fazia sobre o enunciado.

A utilização de conectores diferentes nas alternativas dos enunciados

surgiu com o propósito de estabelecer uma ligação entre a factualidade e os

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conectores, isto é, se o falante acreditasse que o evento descrito no enunciado era

verdadeiro, ele substituiria o conector condicional do enunciado por qual conector

das alternativas? Ou não substituiria por nenhum conector das alternativas, devido

a estes não atenderem a sua interpretação factual do enunciado? Para analisar

tais questões, não nos limitamos apenas às marcações das alternativas,

buscamos explicações para cada opção assinalada.

A amostra coletada era do tipo controlada, uma vez que o formulário

era predeterminado de acordo com as variáveis lingüísticas demográficas que

consideramos. Os informantes se encaixavam nas características de variáveis

como sexo, faixa etária e nível de escolaridade.

A escolha dessas variáveis não foi aleatória, obedeceu aos seguintes

critérios:

1- Sexo: Acreditamos que a linguagem de homens e mulheres possa apresentar

alguns traços de distinção em seu modo de expressar pensamentos. Isso porque

podemos perceber que ao longo da história homens tiveram, muitas vezes, uma

posição de prestígio e de poder, enquanto mulheres ocuparam muitas posições de

menor prestígio, seja pessoal ou profissionalmente.

2- Faixa etária: esse fator é muito importante, pois através dele podemos verificar

se um fenômeno lingüístico se encontra em um estágio de variação ou se já pode

ser considerado como uma mudança em processo. Observaremos as formas de

comunicação de jovens e pessoas mais velhas, caso notemos que estas utilizam

os conectores condicionais indiferentemente, nosso fenômeno se trata de uma

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variação. Já se notarmos o contrário, temos um índice de um processo de

mudança.

3- Nível de escolaridade: esta variável visa a verificar se a força coercitiva da

escola influencia nas escolhas lexicais e gramaticais, já que, em geral, notamos

que quanto mais alto for o nível de escolaridade de uma pessoa, mais proximidade

a fala desta pessoa tem com a linguagem padrão.

A seleção dos informantes, referente a esse formulário, atendeu ao

critério básico de serem naturais de Campos ou filhos de pais campistas, além de

terem sempre morado nesta cidade. Contudo, foram aceitas pessoas que tenham

vindo morar em Campos até os cinco anos de idade, em casos em que

encontramos dificuldade de encontrar um determinado tipo de informante.

Realizamos somente um contato com os informantes selecionados,

em que explicamos um pouco sobre nossa entrevista e esclarecemos que não se

trata de uma pesquisa gramatical na qual o informante teria uma opção certa e

outra errada, mas sim uma pesquisa que busca saber o que, normalmente, as

pessoas diriam para expressar determinadas situações. Lemos as frases e

perguntamos qual a opção que o informante utilizaria para expressar determinado

pensamento. Posteriormente, perguntamos o porquê de suas escolhas e

anotamos as respostas para entendermos por que algumas opções escolhidas

pelos informantes não atendiam às nossas expectativas e assim verificamos por

que estavam ocorrendo certos fenômenos lingüísticos.

Na análise dos dados quantitativos desse formulário, consideramos

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não só as primeiras opções assinaladas pelo nosso informante, pois após o

inventário alguns informantes mudaram suas respostas e estas foram

consideradas.

Apesar de termos preparado um outro formulário diferente do

apresentado abaixo, aplicamos somente este. No formulário aplicado, todas as

questões, exceto uma, apresentam a ordem prótase-apódose O formulário que

tínhamos elaborado e que não aplicamos, consistia nas mesmas frases, todavia

com ordem inversa. Percebemos, com nossos estudos, que a segunda versão do

formulário que pretendíamos aplicar, centrada na ordem inversa da subordinação

nas estruturas condicionais, não era um fator de relevância na determinação do

uso dos conectores condicionais e da interligação destes com a factualidade. Isso

se deve ao fato de que, como Neves (2000) comenta, a grande parte das

construções condicionais serem estruturadas pela oração subordinada antes da

principal.

Neves (2000:836) salienta que a ocorrência dessa ordem revela um

princípio de iconicidade, prevendo para a seqüência – anteposição da oração

condicionante – a seguinte configuração:

• Enuncia-se primeiro a ocorrência de um estado de

coisas como assentamento de uma condição (prótase), que

pode ou não ser satisfeita;

• A partir daí (e, portanto, em subseqüência), enuncia-se

um estado de coisas como factual/contrafactual/eventual

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(apódose), em dependência do preenchimento daquela

condição.

A autora também afirma que a iconicidade é muito mais produtiva em

termos discursivos, pois o tópico correspondente a oração subordinada – porção

do discurso sobre a qual se vai dizer algo – justifica a tendência deste aparecer no

início da construção condicional.

A ordem inversa, como vista, além de ser a forma menos utilizada

pelos falantes de língua portuguesa, também não altera a interpretação do falante,

evidenciando somente o aspecto que o falante pretende ressaltar em seu

enunciado. Assim avaliar essa ordem se tornou inviável para nossa pesquisa.

Em nosso formulário, tivemos também a intenção de analisar alguns

fatores pragmáticos e semânticos sob a perspectiva da Sociolingüística e do

Funcionalismo.

Alguns fatores foram levantados para fazermos a análise do que

poderia influenciar a diversidade de expressões com conectores condicionais. No

entanto, nem todos os fatores se mantiveram em nossa pesquisa. O fator

ambiente sintático, por exemplo, foi retirado de nossa análise devido aos aspectos

já expostos anteriormente.

Os fatores foram considerados foram:

a- Tempo e factualidade

O tempo relaciona o enunciado ao momento da enunciação –

presente, passado e futuro, enquanto a factualidade trata da noção de como o

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falante se compromete com a falsidade ou verdade da proposição que enuncia.

b- Modo do verbo

Parte-se da hipótese de que o uso do presente do modo

indicativo, na protáse, tende a favorecer a paráfrase do se através do uso

dos conectores dado que e já que.

c- Contexto modalizador

Esse fator diz respeito à presença versus ausência de marcas

de modalização de incerteza ou certeza, além da categoria gramatical de

tempo/modo, que já apresenta em sua própria existência marcas de

modalização.

Não conseguimos atender a todos os critérios que elaboramos sem

que antes reformulássemos todo o projeto. Em nosso primeiro formulário não

obtivemos o número total de informante que necessitaríamos para termos maiores

dados sobre as variáveis escolhidas por nós. Apesar disso, obtivemos resultados

que nos apontaram informações relevantes a respeito dos condicionais.

Nos encontros em que preenchíamos os formulários juntamente com

nossos informantes, um total de quarenta formulários feitos, pudemos aprimorar

nossas idéias. Percebemos, pelos resultados, que veremos logo abaixo, que o

fator mais preponderante para as escolhas dos informantes foi o contexto que

cada um criava a partir de cada enunciado que dávamos. Isso porque os

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enunciados podiam ser interpretados de diversas formas devido a não termos feito

contextos indutores de certeza ou indutores de incerteza, através do uso de

algumas formas lingüísticas. Também notamos a necessidade de diminuir um

pouco a diversidade de idades, pois se tratando de uma dissertação feita em dois

anos, o tempo seria um fator preponderante na redução das análises. Notamos

que o fator ambiente sintático foi irrelevante, como já tínhamos mencionado, e que

os fatores Tempo e factualidade e Modo do verbo se encontrariam dentro de uma

mesma análise.

A pesquisa, que se iniciou com a proposta de análise do conector se

através da análise dos conectores já que, dado que, caso e supondo que, foi

reduzida, na segunda fase, à análise do conector se através da paráfrase apenas

pelos conectores já que e caso. Isso foi feito devido à complexidade de analisar

tantos conectores em tão pouco tempo e também à necessidade de reduzirmos

todas as variáveis que pudessem alterar nosso resultado. Ao trabalhar com os

conectores dado que e supondo que verificamos que devido às particularidades do

campo semântico destes, acabaríamos abordando assuntos não pertinentes a

nossa pesquisa no momento. Um exemplo é o uso do conector supondo que que

nos encaminhou a abordagem dos contrafactuais que não são alvo de nossas

pesquisas. O conector dado que também foi retirado de nossas pesquisas, na

elaboração do Formulário 2, devido a fatores semânticos, pois este conector

apresentava assim como o conector se, uma ambigüidade semântica, podendo

ser interpretado tanto como constituinte de uma construção condicional factual

quanto de uma construção não factual. Assim, além de fugirmos um pouco de

nossa proposta, trabalharíamos com variáveis que provavelmente afetariam nosso

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resultado. Apesar de termos conseguido alguns bons resultados, estes nos

mostraram que, para uma análise mais qualificada do conector se, não

poderíamos abarcar com todas as questões que surgiram durante os formulários.

8.2 Texto do Formulário1

No formulário abaixo não há resposta certa ou errada, queremos

apenas saber o que você, naturalmente, entende ou diria. Dessa forma, pedimos

que leia com atenção as perguntas e assinale a frase que você acha mais

adequada para expressar o mesmo pensamento da primeira frase de cada item.

Caso ambas sejam igualmente adequadas, assinale as duas. Caso nenhuma das

duas seja aceitável, não assinale nenhuma.

1- Se ela veio ontem, certamente o viu.

( ) Já que ela veio ontem, certamente o viu.

( ) Caso ela tenha vindo ontem, certamente o viu.

2- Se ele não é brasileiro, ele não pode se candidatar.

( ) Dado que ele não é brasileiro, ele não pode se candidatar.

( ) Supondo que ele não seja brasileiro, ele não pode se candidatar.

3- Se for para ficar aqui, então eu fico.

( ) Caso seja para eu ficar aqui, eu fico.

( ) Já que é para eu ficar aqui eu fico.

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4- Se ela, como você disse, irá viajar hoje, não poderá ir à festa.

( ) Supondo que ela, como você disse, viaje hoje, não poderá ir à festa.

( ) Dado que ela, como você disse, viaja hoje, não poderá ir à festa.

5- Se você quiser uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.

( ) Já que você quer uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.

( ) Caso você queira uma coisa mais fina, tem que ir a outro lugar procurar.

]

6- Vai dar para pescar, se não houver pedras altas.

( ) Supondo que não haja pedras altas, vai dar para pescar.

( ) Dado que não há pedras altas, vai dar para pescar.

7- Se ele for amanhã ao cinema, eu vou com ele.

( ) Já que ele vai amanhã ao cinema, eu vou com ele.

( ) Dado que ele vai amanhã ao cinema, eu vou com ele.

8- Se é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto, diga que

eu fico.

( ) Caso seja para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto, diga

que eu fico.

( ) Dado que é para o bem de todos e a felicidade geral da nação, estou pronto,

diga que eu fico.

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9- Se ele é inteligente, eu sou uma rainha.

( ) Caso ele seja inteligente, eu sou uma rainha.

( ) Já que ele é inteligente, eu sou uma rainha.

10- Se eu estou lá, não deixaria ela fazer isso.

( ) Dado que eu estive lá, não deixei ela fazer isso.

( ) Caso eu estivesse lá, não deixaria ela fazer isso.

11- Se eu não tenho opção, fico.

( ) Já que eu não tenho opção, fico.

( ) Supondo que eu não tenho opção, fico .

12- Se você acredita em Deus, tem que rezar.

( ) Já que você acredita em Deus, tem que rezar.

( ) Caso você acredite em Deus, tem que rezar.

13- Se você quer muito vencer, vencerá.

( ) Dado que você quer muito vencer, vencerá.

( ) Supondo que você queira muito vencer, vencerá.

14- Se você quiser, eu telefono para você.

( ) Caso você queira, eu telefono para você.

( ) Já que você quer, eu telefono para você.

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15- Se ele for o bandido, que seja preso.

( ) Já que ele é o bandido, que seja preso.

( ) Dado que ele é o bandido, que seja preso.

16-Se eu não tiver opção, eu faço isso.

( ) Já que eu não tenho opção, eu faço isso.

( ) Caso eu não tenha opção, eu faço isso.

17- Se sou eu no seu lugar, eu iria embora.

( ) Supondo que fosse eu no seu lugar, eu iria embora.

( ) Caso fosse eu no seu lugar, eu iria embora.

18- Se ele passou no concurso, viajamos hoje.

( ) Dado que ele passou no concurso, viajamos hoje.

( ) Supondo que ele tenha passado no concurso, viajamos hoje.

19- Se ele tem defeitos, tem virtudes também.

( ) Caso ele tenha defeitos, tem virtudes também.

( ) Já que ele tem defeitos, tem virtudes também.

20- Se você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o capítulo.

( ) Dado que você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o

capítulo.

( ) Supondo que você não tem interesse pelo assunto, como demonstra, pule o

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capítulo.

21- Se uma cidade queria adquirir status, era edificada uma catedral a custo de

muitas privações dos cidadãos.

( ) Caso uma cidade quisesse adquirir status, era edificada uma catedral a custo

de muitas privações dos cidadãos.

( ) Já que uma cidade queria adquirir status,era edificada uma catedral a custo de

muitas privações dos cidadãos.

22-Se não sabe falar, fique calado.

( ) Supondo que não saiba falar, fique calado.

( ) Dado que não sabe falar, fique calado.

23- Se lutamos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.

( ) Caso lutemos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.

( ) Já que lutamos pelo que é certo, não podemos admitir o que é errado.

24- Se eu o chamo de chato sempre, foi porque ele permitiu.

( ) Dado que eu o chamo de chato sempre, foi porque ele permitiu.

( ) Caso eu o chame de chato sempre, é porque ele permitiu.

25- Se é você no lugar dela, ele estava ferrado.

( ) Já que é você no lugar dela, ele estava ferrado.

( ) Supondo que fosse você no lugar dela, ele estava ferrado.

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26- Se as coisas não são assim, eu não ia para lá.

( ) Caso as coisas não fossem assim, eu não ia para lá.

( ) Dado que as coisas não são assim, eu não vou para lá.

27- Se o ônibus estiver chegando, as pessoas farão um movimento para frente

com o corpo.

( ) Caso o ônibus esteja chegando, as pessoas farão um movimento para frente

com o corpo.

( ) Já que o ônibus está chegando, as pessoas farão um movimento para frente

com o corpo.

28- Se você mandar um currículo padronizado a uma empresa, ele se parecerá

com centenas de outros currículos.

( ) Supondo que você mande um currículo padronizado a uma empresa, ele se

parecerá com centenas de outros currículos.

( ) Já que você vai mandar um currículo padronizado a uma empresa, ele se

parecerá com centenas de outros currículos.

29- Se isso acontece comigo, eu fico louca.

( ) Caso isso acontecesse comigo, eu ficava louca.

( ) Dado que isso acontece comigo, eu fico louca.

30- Se tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude dele.

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( ) Supondo que tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude

dele.

( ) Já que tudo que eu fiz foi para vê-lo feliz, não posso entender a atitude dele.

31- Se ele está aqui, é porque está interessado na matéria.

( ) Supondo que ele esteja aqui, será porque ele está interessado na matéria.

( ) Caso ele esteja aqui, será porque ele está interessado na matéria.

32- Se ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.

( ) Supondo que ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.

( ) Dado que ele vai viajar hoje, não vai poder sair com você.

8.3 Percurso do formulário I

Todos os informantes que participaram da nossa amostra foram

abordados de forma espontânea por nós.

Primeiramente, falávamos um pouco sobre a nossa pesquisa,

sempre evidenciando o caráter não normativo de nossos estudos. Explicávamos a

manutenção do anonimato em nosso formulário e o propósito de nossa pesquisa

que era saber como as pessoas expressavam determinados pensamentos em seu

cotidiano.

Nesse formulário que aplicamos, procuramos deixar que as pessoas

lessem sozinhas o enunciado e, somente, quando surgia alguma dúvida, líamos o

enunciado para elas e esclarecíamos as dúvidas que se mantinham. No decorrer

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do preenchimento do formulário, as perguntas liam os enunciados respondiam a

opção que expressaria melhor determinado pensamento. Lembrando que podiam

também não marcar opção nenhum ou marcar duas opções.

Depois de responderem todas as questões, conversávamos com

nossos informantes sobre suas escolhas e conseguíamos, desse modo, entender

um pouco mais sobre a escolha de determinadas formas que não condiziam com

nossas expectativas.

O formulário foi feito em escolas, nas residências de alguns

informantes e no Asilo Nossa Senhora do Carmo de Campos dos Goytacazes. Os

formulários feitos em ambiente escolar foram tanto da rede privada quanto da rede

pública.

A duração da aplicação do formulário, como dito anteriormente, foi de

quarenta e cinco minutos aproximadamente, pois houve casos particulares, em

que a aplicação do formulário durou mais de uma hora e meia; isso ocorreu

principalmente quando o formulário era feito na residência de pessoas com mais

de quarenta anos. Essas pessoas além de demorarem mais a responder o

formulário, também mantiveram uma relação de proximidade conosco, através de

conversas que não se referiam ao formulário.

O grande número de questões de nosso formulário, muitas vezes,

provocou um cansaço nas pessoas e tivemos, em alguns casos, que dar um

intervalo de tempo para que as pessoas descansassem e não o fizesse de forma

automática para diminuir o tempo cedido ao preenchimento do formulário. Por

isso, como veremos, diminuímos o número de questões da segunda versão do

formulário.

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O horário de visitação para coleta de amostras foi sempre na parte

da manhã, a partir das dez horas, e na parte da tarde, das duas horas a seis horas

da tarde. Tivemos algumas exceções, em que, por pedido do informante, fomos

aplicar o formulário depois das seis horas, devido a esse ser o horário que muitas

pessoas chegam do trabalho.

Existiu grande dificuldade na aplicação do formulário com o público

jovem, já que estes demonstraram muita impaciência no preenchimento do

formulário e também uma grande persistência na concepção de certo e errado.

Contudo, reafirmamos a estes que não se tratava de uma pesquisa gramatical e

aos poucos conseguimos contornar os obstáculos impostos por alguns

informantes.

8.4 Resultados

Na tabela 2, apresentamos os resultados da aplicação do Formulário

1. Os dados se referem à uma pequena amostra de nossa pesquisa e

representam o resultado da primeira etapa de nossa pesquisa, que se constituía

de quarenta formulários.

Nesse primeiro momento não foi possível verificar com precisão os

fatores que condicionam as escolhas dos conectores condicionais, visto que não

finalizamos todos os requisitos de nossos formulários.

É importante esclarecer que na tabela abaixo os conectores estão

numerados por obedecerem à ordem de sua apresentação nas alternativas de

cada questão. A questão 01, por exemplo, tem na sua segunda alternativa o

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conector caso e, assim, preenchemos a lacuna do caso 2.

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Tabela 1: Apresenta o resultado da paráfrase do se, com base no formulário 1, feito com quarenta pessoas. Para cada conector, diferenciamos, com os números 1 e 2, os quesitos em que a paráfrase com esse conector é a primeira daqueles em que ela é a segunda das duas opções.

CONECTORES CONDICIONAIS TEMPOS VERBAIS (protase + apodose) CASO

1 CASO

2 JÁ

QUE 1 JÁ

QUE 2 DADO QUE 1

DADO QUE 2

SUPONDO QUE 1

SUPONDO QUE 2

1 PRES. IND. + PRES. IND. - 22 40 - - - - -

2 PRES. IND. + PRES. IND. - - - -

27 - -

25

3 FUT. SUBJ. + PRES. SUBJ. 30 - - 16 - - - -

4 FUT. PRES. IND.+FUT. PRES. IND. - - - - -

30

23 -

5 FUT. SUBJ. + PRES. IND. - 33 16 - - - - -

6 FUT. SUBJ. + PRES. IND. - - - - - 07 31 -

7 FUT. SUBJ. + PRES. IND. - - 18 - - 10 - -

8 PRES. IND. + IMPERATIVO AFIRMATIVO 08 - - - - 16 - -

9 PRES. IND. + PRES. IND. 14 - - 27 - - - -

10 PRES. IND. + FUT. PRET. IND. 39 - - - - 01 - -

11 PRES. IND. + PRES. IND. - - - 37 - - 04 -

12 PRES. IND. + PRES. IND. - 16 40 - - - - -

13 PRES. IND. + FUT. PRES. IND. - - - - 37 - - 17

14 FUT. SUBJ. + PRES. IND. 39 - - 26 - - - -

15 FUT. SUBJ. + PRES. SUBJ. - - 15 - - 14 - -

16 FUT. SUBJ. + PRES. IND. - 32 11 - - - - -

17 PRES. IND. + PRET. IMP. IND. - 37 - - - - 35 -

18 PRET. PERF. IND. + FUT. PRES. IND. - - - - 13 - - 36

19 PRES. IND. + PRES. IND. 16 - - 10 - - - -

20 PRES. IND. + IMPERATIVO

AFIRMATIVO - - - - 31 - - 23

21 PRET. IMP. IND. + PRET. IMP. IND.

18 - - 04 - - - -

22 PRES. IND. + IMPERATIVO AFIRMATIVO

- - - - - 17 12 -

23 PRES. IND. + PRES. IND. 14 - - 33 - - - -

24 PRES. IND. + PRET. PERF. IND. - 10 - - 14 - - -

25 PRES. IND. + PRET. IMP. IND. - - 01 - - - - 40

26 PRES. IND. + PRET. IMP. IND. 33 - - - - 02 - -

27 FUT. SUBJ. + FUT. PRES. IND. 25 - - 03 - - - -

28 FUT. SUBJ. + FUT. PRES. IND. - - - 14 - - 29 -

29 PRES. IND. + PRES. IND. 37 - - - - 05 - -

30 PRET. PERF. IND. + PRES. IND. - - - 33 - - 17 -

31 PRES. IND. + PRES. IND. - 15 - - - - 17 -

32 FUT. PRES. IND. + PRES. IND. - - - - - 18 26 -

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8.5 Discussão

Analisando os resultados acima, foi possível perceber que nessa

primeira coleta de dados, o uso do modo indicativo não determinou a factualidade

da proposição, assim como o uso do modo subjuntivo também não foi

determinante na não-factualidade do condicional. Isso pôde se verificar em frase

como a número 1 do formulário, em que tínhamos Se ela veio ontem, certamente

o viu. Nas respostas, tivemos não somente a opção Já que ela veio ontem,

certamente o viu como também a opção Caso ela tenha vindo ontem, certamente

o viu. como Esse fato comprovou que o aspecto mórfico dos verbos não é

suficiente na determinação da factualidade do condicional, pois o uso do presente

na frase citada anteriormente, não foi determinante na factualidade do condicional,

uma vez que tivemos a paráfrase de tal enunciado por um outro que denota

incerteza através do uso do conector caso. O contexto é um fator que, segundo os

dados coletados nesse primeiro formulário, influencia muito na factualidade

condicional.

Em cada formulário respondido, as pessoas justificaram suas

escolhas através de contextos definidos em suas mentes. Por exemplo, na frase

do formulário, número 5, uma pessoa do sexo masculino, de 20 anos, cursando o

ensino médio, ao parafrasear a questão Se você quiser uma coisa mais fina, tem

que ir a outro lugar procurar, optou pela frase Já que você quer uma coisa mais

fina, tem que ir a outro lugar procurar. Sua justificativa foi um contexto que ele

mesmo criou A pessoa foi no lugar, não gostou e falaram isso para ela. A prótase

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foi aceita pelo falante como certa e a apódose veio como uma conseqüência do

fato descrito na prótase. Se esse informante não teve a mesma resposta que

muitos outros e, se nenhum informante foi capaz de produzir contextos

exatamente iguais para a justificativa de suas escolhas, isso mostra que o fator

preponderante nas escolhas dos conectores se encontra dentro do contexto

idealizado por cada participante de nossa pesquisa.

É possível observar que o conector caso está mais atrelado à idéia de não-

factualidade e contrafactualidade, enquanto o já que está vinculado à idéia de

factualidade. Isso é confirmado por pessoas entrevistadas que justificaram o uso

do caso pela falta de certeza da factualidade do condicional lingüístico.

Embora o dado que esteja associado, na maioria das vezes, a contextos

factuais, em alguns casos foi usado em relação a proposições não-factuais. Na

frase 4, Se ela, como você disse, irá viajar hoje, não poderá ir à festa, uma pessoa

do sexo masculino, de 27 anos e cursando o pós doutorado marcou as duas

opções desse enunciado: Supondo que ela, como você disse, viaje hoje, não

poderá ir à festa e Dado que ela, como você disse, viaja hoje, não poderá ir à

festa. Essa pessoa relatou que o dado que nesse exemplo expressa dúvida.

Um aspecto interessante em relação ao dado que se mostra no fato de 37

pessoas terem aceitado a paráfrase com esse conector com o presente do

indicativo e 7 pessoas acharem que uma oração encabeçada por esse conector

pode designar a idéia de dúvida e incerteza. Na frase número 6 do formulário a

maioria marcou a opção com supondo que. Ainda que nessa mesma questão 31

pessoas tenham marcado a opção com o conector supondo que e só 8 pessoas

tenham marcado a opção dado que, não podemos afirmar que as que marcaram

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dado que o fizeram por denotar certeza a oração. Isso porque tivemos quase um

empate entre os que marcaram essa opção por imprimirem certeza (3) à oração e

os que marcaram essa opção por imprimirem outro valor a essa oração. Dentre as

pessoas que optaram pela paráfrase com o dado que, tivemos o nível de

escolaridade com o Ensino Fundamental e o Segundo Grau não houve a

existência dessa escolha com pessoas do Ensino Superior.

Em relação ao supondo que, alguns respondentes apontaram uma

diferença semântica entre esse conector condicional e o caso, sendo o primeiro

mais ligado à idéia de imaginação. Assim, houve casos em que o informante

relacionou o supondo que com cláusulas contrafactuais. Em frases como a

número 17 do formulário 01, Se sou eu no seu lugar, eu iria embora, 37 pessoas

marcaram a opção em que temos o conector caso, enquanto 35 marcaram a

opção em que temos o conector supondo que. Duas pessoas que optaram pela

alternativa iniciada por supondo que distinguiram essa conjunção da outra,

justificando que supondo que equivale a imaginando que. Como a maioria dos

informantes marcou as duas opções, não tivemos uma diferenciação de uma

conjunção da outra, em termos de aceitabilidade da paráfrase. Ainda que, como

dito anteriormente, uma pequena parte dessas pessoas tenham feito uma

distinção entre uma opção e outra, não há dados que tornem essa diferença

relevante. Ainda precisamos de dados maiores para verificar se o supondo que

designa contrafactualidade.

Os universitários mostraram maior reflexão sobre a língua, e talvez

por isso, tenham sido eles os que relataram efeitos do discurso, como a ironia

provocada pelos conectores se e o já que. Uma universitária relatou que o já que

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mantém o efeito irônico do enunciado, enquanto o uso de supondo que, dado que

e caso fazem com que esse efeito seja perdido. Esse aspecto foi percebido no

enunciado 9, Se ele é inteligente, eu sou uma rainha. Brait (1996:44) diz que “a

ironia só pode ser empregada quando a outra pessoa está preparada para aceitar

o oposto, de modo que não pode deixar de sentir uma inclinação a contradizer.”

Assim, nossa informante não analisou somente um enunciado solto, mas

considerou como as informações sinalizam significados e como o contexto, no

caso criado por ela, é capaz de influenciar qualquer tipo de interpretação de

discursos. Ela ainda ponderou que o se é muito usado devido à sua ambigüidade

não somente no que diz respeito à certeza, dúvida ou impossibilidade do

acontecimento, como também da ambigüidade que o se carrega em relação à

ironia. Dessa maneira, para ela, o se seria a melhor forma de falarmos e

mantermos um distanciamento de nossos enunciados. O já que mantém o efeito

discursivo da ironia, porém não possibilita essa ambigüidade do se. Essa

informante não foi a única de escolaridade de nível universitário a relatar as

propriedades do se e do já que.

Na frase 9 do formulário 1, 27 pessoas marcaram o já que, enquanto

14 marcaram caso. Conforme esperávamos, não foram todos que, em sua

justificativa, perceberam os efeitos discursivos dos conectores, tais como a ironia.

Pessoas de nível escolar menos elevado possuem uma dificuldade

em refletir sobre a língua e, assim, quanto menor é o nível escolar maior é a

dificuldade de justificar as escolhas lingüísticas. Dessa forma, tais pessoas

justificam suas escolhas pelo uso destas em suas conversas cotidianas.

Quanto à idade das pessoas, as escolhas lingüísticas não parecem

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ter sido muito influenciadas por esse fator, pois pessoas mais velhas com menor

escolaridade tiveram escolhas semelhantes às escolhas de pessoas com nível de

escolaridade menor ou igual a das pessoas com idade maior que 30. Isso parece

mostrar que o tempo em que a pessoa permanece em uma instituição, em contato

com as normas gramaticais e assim com a língua padrão, influencia, notoriamente,

em seu desempenho lingüístico. Podemos ratificar essa afirmação com base em

formulários como a de um homem de quarenta anos, cursando a quarta série e da

entrevista de um outro informante do sexo masculino, de treze anos, cursando a

sexta série. Ambos tiveram respostas muito semelhantes no formulário. Por

exemplo, na questão de número 6, os dois marcaram a opção iniciada por

supondo que. Também houve semelhança nas justificativas para as respostas,

pois justificaram muito de suas escolhas com o fato de falarem daquela forma e

não com uma reflexão mais profunda sobre a língua.

A ambigüidade do se é constatada em nossos primeiros dados, pois

esse conector foi substituído por dado que, supondo que, já que e caso. As

possibilidades comunicativas do se parecem maiores do que as dos demais

conectores, além de notarmos também uma vasta possibilidade verbal em

construções iniciadas por se. Os outros conectores dependem mais de certas

formas verbais, um exemplo disso é o já que, que não é utilizado com verbos no

modo subjuntivo.

Em nossos inventários, todos foram unânimes ao não admitirem o já

que com formas verbais no subjuntivo, pois sempre que justificavam suas

respostas e mencionavam este conector, nossos informantes o atrelavam ao

modo indicativo. No entanto, com o conector supondo que, foi possível observar a

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aceitação de alguns, quando esse conector estava em uma oração com o verbo

no indicativo e não com o subjuntivo que é a forma prestigiada. O interessante é

que ainda que esse conector estivesse atrelado ao modo indicativo, a sua

semântica, em nenhum caso, foi alterada. Os respondentes continuaram a

designar para essa oração o sentido de dúvida, hipótese, imaginação.

Na questão 21, Se uma cidade queria adquirir status, era edificada

uma catedral a custo de muitas privações dos cidadãos, alguns estudantes do

ensino médio e alguns universitários não optaram por nenhuma alternativa e

disseram que no lugar do se deveria estar o conector adverbial temporal quando.

Nesse caso, notamos que o condicional também pode denotar uma

temporalidade. Uma outra interpretação, baseada em Ferrari (1999), é a de que o

conector quando, prototipicamente temporal, pode aparecer em frases como a da

questão 21 como um operador de domínio, que pode ser interpretado como nas

vezes em que. Segundo sua teoria, em uma interação conversacional, podemos

ter a necessidade de negociações de turnos e de estabelecimentos de domínios

cognitivo e a utilização de condicionais nesse aspecto se torna bastante produtiva.

A expressão de condicionalidade pode ocorrer através de alguns mecanismos

formais, como os citados pela autora (Ferrari, 1999:80):

B- conjunção Se + Pres. Indicativo. Ex: “Se você pega uma

narrativa, o tempo verbal mais utilizado é o pretérito

perfeito”.

C- Conjunção Se + Futuro do Subjuntivo. Ex: “Se você

pegar uma narrativa, o tempo verbal mais utilizado é o

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pretérito perfeito.”

D- Conjunção Quando (=nas vezes em que) + Pres.

Indicativo. Ex: “Quando você pega uma narrativa, o tempo

verbal mais utilizado é o pretérito perfeito”.

E- Condicional Não-Finita. Ex: “Sendo uma narrativa, o

tempo verbal mais utilizado é o pretérito perfeito”.

O quando, de acordo com Ferrari, nem sempre deve ser visto como

conector temporal. Nas construções citadas acima, a construção C é um dos

possíveis exemplos em que o quando aparece como constituinte de uma

expressão que expressa condicionalidade. Em nosso formulário o uso do quando

não está associado ao uso do presente do indicativo, contudo podemos substitui-

lo por nas vezes em que, o que implica que tal uso do quando gera uma

condicionalidade que também o faz ser um operador de domínio. E o que seria

esse operador de domínio? Ferrari (1999) explica que quando utilizamos um

condicional iniciando-o pelo conector se, estamos negociando uma introdução de

um espaço mental. Já quando temos uma construção condicional iniciada pelo

conector quando, o falante re-introduz um espaço mental que já negociou antes.

Isso significa dizer que ao usar esse conector temos um domínio cognitivo, pois

criamos espaços mentais, isto é, criamos modelos de situações do mundo real,

não necessariamente passíveis de descrição em termos de condições de verdade.

Percebemos através de nossas análises que o conector que

encabeça uma determinada oração não é suficiente para designar uma

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determinada circunstância; o contexto e algumas outras marcas lingüísticas

também são igualmente importantes.

Entretanto, pode-se observar, mesmo assim:

i. uma preponderância da paráfrase com caso quando o

verbo da prótase encontra-se no futuro do subjuntivo

(questões 3, 5, 14, 16, 27);

ii. uma preponderância da paráfrase com supondo que nas

duas questões com futuro do subjuntivo em que uma das

alternativas tinha este conector (tendo a outra dado que na

questão 6 e já que na questão 28);

iii. uma preponderância da paráfrase com já que na maioria

das questões com verbo da prótese no indicativo (questões

1, 9, 11, 12, 23, 30) (exceções: questão 21, com imperfeito

do indicativo tanto na prótase quanto na apódose, em que

a oração condicional tem valor temporal; e questão 25, com

presente do indicativo + imperfeito do indicativo, em que a

prótase tem valor contrafactual);

iv. uma preponderância das paráfrases com caso (questão 10,

26 e 29) e com supondo que (questão 25), nas quatro

questões em que o presente do indicativo na prótase tem

valor contrafactual (devido ao conteúdo da frase e ao

tempo da apódose).

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Outra observação a ser feita é que não foi notado efeito da ordem de

apresentação das alternativas. Assim, a preponderância de caso registrada no

item 1, acima, observou-se tanto nas questões “caso 1” (3, 14 e 27) quanto

naquelas em que este conector apareceu na segunda alternativa (5 e 16).

Também a preponderância de já que registrada no item 3 ocorreu tanto nas

questões em que a locução foi apresentada em primeiro lugar (1 e 12), quanto

naquelas em que aparecia em segundo (9, 11, 23 e 30).

9. FORMULÁRIO II

9.1 Metodologia

9.1.1 Descrição geral

Após a avaliação dos resultados do formulário 1, pensávamos em

dar continuidade a esse estudo através de uma análise mais detalhada do mesmo

formulário, com o número de questões estipulado por nós. Todavia, muitos

questionamentos mudaram nosso percurso e assim surgiram novas propostas. A

primeira foi a de trabalharmos, com os já citados se, já que e caso, deixando para

estudos futuros uma continuação do estudo dos outros conectores. O fato do

conector supondo que abarcar idéias de contrafactualidade e dado que apresentar

uma ambigüidade factual ao constituir orações condicionais tidas como factuais e

tidas como não factuais, foi preponderante em sua exclusão da pesquisa, pois não

era nosso propósito avaliar especificamente a contrafactualidade dos condicionais,

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nem lidar com a ambiguidade do dado que. No intuito de tornar a pesquisa mais

direcionada à ambigüidade do se, modificamos o método da pesquisa e a forma

de aplicá-lo.

Construímos um formulário formado de vinte e sete questões. As

questões foram divididas em três grupos de nove, dos quais o primeiro consiste

em enunciados com contexto indefinido. Isso quer dizer que nas frases do primeiro

grupo, os enunciados, possivelmente, poderiam ser interpretados de diversas

formas de acordo com o contexto imaginado por cada informante. Seguem-se

duas paráfrases em que o se é substituído por caso ou já que, variando-se a

ordem em que as duas são apresentadas. Como não foi observado efeito da

ordem no Formulário 1, contudo, não a levamos mais em conta na tabulação dos

resultados do Formulário 2. Em geral, a forma verbal original foi mantida na

paráfrase com já que. Com caso, o presente do indicativo foi substituído pelo

presente do subjuntivo, e o pretérito perfeito do indicativo pelo pretérito perfeito do

subjuntivo, de acordo com a norma gramatical. No item 7, o imperfeito do

indicativo, indicando ação habitual no passado, poderia ter sido substituído pelo

imperfeito do subjuntivo, na opção com caso. Entretanto, para reforçar o sentido

de habitualidade no passado, que poderia se perder, optamos pela perífrase

“costumasse falar”. No segundo e no terceiro grupos as mesmas frases foram

inseridas num contexto definido.

Tentamos, dessa forma, criar três tipos de contexto. O primeiro é um

contexto indefinido, sem nenhuma marca lingüística que induza nossos

informantes a o interpretarem dúvida ou incerteza. O segundo é um contexto

indutor de certeza. Colocamos nesse grupo marcas lingüísticas que julgamos

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induzir uma convicção de certeza, ou seja, de maior aceitabilidade da realização

do evento descrito na prótase condicional. O terceiro é um contexto indutor de

incerteza. Este possui marcas lingüísticas que tendem a fazer com que nossos

informantes interpretem a proposição como uma dúvida, ou seja, tenham uma

menor aceitação da realização do evento descrito na prótase. As questões de

número 1 ao número 9 representam o contexto indefinido; as questões 10, 12, 13,

16, 19, 23, 25, 26 e 27 representam o contexto indutor de incerteza; as questões

11, 14, 15, 17, 18, 20, 21, 22 e 24 representam o contexto indutor de certeza.

Procuramos com isso estabelecer uma relação entre o contexto com

as escolhas lexicais dos nossos informantes.

Partimos da hipótese de que no contexto indefinido teremos a

paráfrase do conector se tanto com caso como com já que no contexto indutor de

incerteza acreditamos que será maior o número de paráfrase do conector se com

o conector caso e já no contexto indutor de certeza prevemos que o número de

paráfrase do conector se pelo conector já que será maior.

Os nossos informantes não mais atenderam necessariamente ao

critério de serem campistas ou terem vindo morar na cidade com cinco anos de

idade. Entendemos que por não querermos registrar a fala campista e sim

pesquisarmos uma forma lingüística, não necessitaríamos de limitar nossa

pesquisa a esse critério.

É importante ressaltar que na maioria das vezes o informante

respondeu sozinho o nosso formulário, que adquiriu assim as características de

um questionário, mas com pessoas da terceira idade e com adolescentes que

apresentaram dificuldades no preenchimento, nós preenchemos o formulário no

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intuito de evitar que os respondentes o fizessem com pouco ou nenhum

comprometimento com a pesquisa.

O leitor perceberá que, em alguns casos, foram feitas modificações

nas formas verbais empregadas como já dissemos, mas tais modificações foram

feitas para melhor adaptação ao contexto de certeza ou de incerteza, bem como

ao tempo de ação. Essas frases se dispõem de modo alternado, de modo que

temos o grupo dois e três misturados. Isso foi feito para que o informante opte por

suas escolhas dentro de um processo cognitivo que não o faça reproduzir a

mesma resposta.

9.1.2 Variáveis demográficas estudadas

Os fatores relevantes para análise do novo formulário, que podem

influenciar a diversidade de expressões com conectores condicionais, foram:

9.1.2.1 Sexo

A linguagem de homens e mulheres pode representar visões de

mundo e atuações sociais diferentes e assim também apresentar diferenças em

suas linguagens.

Paiva (2004:34) nos revela que muitas pesquisas “mostram um

padrão bastante regular em que as mulheres demonstram maior preferência pelas

variantes mais prestigiadas socialmente”. O autor supracitado mostra, ainda, que

devido ao fato das mulheres passarem mais tempo diante de uma televisão e dos

homens terem uma postura diferente em relação a esse meio de comunicação é

que mulheres preferem a forma considerada prestigiada, enquanto homens

preferem a forma considerada estigmatizada. “Os homens tendem a manifestar

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maior reserva com relação à mídia do que as mulheres” (Paiva, 2004:39). Além

desse fator, as mulheres demonstram maior receptividade à atuação normativa

das escolas, sendo, portanto, mais receptivas à incorporação de modelos

lingüísticos.

Labov (2001), no oitavo capítulo de sua obra, afirma que podem

existir dois princípios básicos relacionados ao paradoxo da variável sexo:

• Em uma estratificação sociolingüística estável, os

homens usam, com maior incidência, as formas não-padrão.

• Os fenômenos de mudanças lingüísticas, em sua

grande parte, são representados por mulheres, posto que

essas inovam usando uma forma não padrão.

Depreendemos, então, que nos processos de variação estável,

mulheres tendem a preferir formas de maior prestígio e evitam formas

estigmatizadas. Já em processos de mudança lingüística, as mulheres

apresentam um comportamento inovador, utilizando formas não padrão.

Labov (2001) alerta que além da variável sexo, precisamos

considerar outras variáveis e interligá-las à variável sexo.

Salientamos que entre as variáveis estudadas por nós não há

nenhuma forma estigmatizada socialmente. Contudo, o uso do se e do caso como

conjunções condicionais parece ter um status mais prestigiado, posto que o já que

dificilmente é descrito pelas gramáticas como conector condicional.

Outra diferença entre homens e mulheres pode ser a maior

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vinculação das mulheres a uma maior interpretação não-factual das orações

condicionais, enquanto os homens, segundo nossa hipótese tenderiam a uma

interpretação mais factual dos condicionais lingüísticos. Tal hipótese advém do

percurso histórico de homens e mulheres, uma vez que homens, normalmente,

assumiam uma posição de liderança na história e já as mulheres ocupavam um

papel subalterno na sociedade.

9.1.2.2 Faixa Etária

Essa variável foi mantida devida a sua grande importância, pois esta

indica se determinado fenômeno é uma variação ou se já pode ser considerado

uma mudança em processo.

Quando comparamos a linguagem de diversas faixas etárias em um

determinado tempo, é possível visualizar diferentes estágios da língua, como

Labov (1972) afirma.

A linguagem é adquirida em sua grande parte até os 14 anos de

idade e por isso, ao observarmos a linguagem falada por um indivíduo que hoje

tem 60 anos, estaremos recuperando o vernáculo falado há 46 anos, quando esse

indivíduo tinha 14 anos de idade. Assim, obtemos uma escala de mudança em

tempo real, a partir de uma escala em tempo aparente.

Quando a faixa etária indica um processo de variação, os jovens e as

pessoas mais velhas apresentam um comportamento lingüístico semelhante.

Quando a faixa etária indica um processo de mudança lingüística, as formas

inovadoras são mais freqüentes em jovens e decaem à medida que aumenta a

faixa etária dos informantes.

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9.1.2.3 Nível de Escolaridade

Trabalhamos nesse segundo momento com três faixas de

escolaridade, a primeira composta por pessoas que tenham cursado ou estejam

cursando até 8ª, a segunda por pessoas que tenham cursado ou estejam

cursando o ensino médio completo e a terceira por pessoas que tenham cursado o

nível superior ou que estejam cursando o nível superior. Partimos da hipótese de

que quanto mais elevado for o nível de escolaridade, maior serão as respostas

condizentes com as definições estruturais e semânticas estabelecidas pela

gramática tradicional estudada nas escolas.

9.1.3 Análise estatística

Na quantificação de nossos dados, adotamos o método estatístico do

qui-quadrado. Esse método pode ser utilizado com duas variáveis como sexo

masculino e sexo feminino e com três variáveis como as três faixas utilizadas de

idade e de escolaridade. “Quando existem duas ou mais variáveis qualitativas de

interesse, a representação tabular das freqüências observada pode ser feita

através de uma tabela de contigência” (Oliveira, 2005:137)

Com essa tabela podemos testar se as variáveis qualitativas são

independentes ou dependentes. Dessa forma podemos testar as hipóteses:

1- Ho (hipótese nula): a freqüência relativa de respostas

caso e já que é a mesma tanto para uma determinada

variável quanto para outra.

2- H1 (hipótese não nula): a freqüência de respostas caso

dadas por uma determinada categoria é significantemente

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maior que a freqüência de respostas caso dadas por outra

categoria e, correlativamente, a freqüência de respostas já

que dadas por esta será menor do que a freqüência de

respostas já que dadas por aquela.

Esse teste pode ser feito com o cálculo do qui-quadrado, que

consiste na seguinte fórmula:

X²=∑ [(o-e)²/e]

Nessa fórmula, o é a freqüência observada e e é a freqüência

esperada.

A tabela de contingência tem a seguinte forma:

Valor 1 da variável B Valor 2 da variável B Totais

o o Valor 1 da variável A

(e) (e)

o o Valor 2 da variável A

(e) (e)

Totais

Os totais representam a soma das frequências observadas (o). O

cálculo da freqüência esperada (e) é dado por:

e = (total marginal da linha) (total marginal da coluna) / N.

Assim, para acharmos e multiplicamos a soma das frequências da

linha pelo soma das frequências da coluna e dividimos pela freqüência total N.

A frequência esperada corresponde ao que ocorreria se as duas

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variáveis fossem completamente independentes, ou seja, se não houvesse

qualquer influência de uma sobre a outra.

O cálculo do grau de liberdade [gl] com que a variável teste deverá

ser testada pode ser calculado pela fórmula:

gl = (r – 1) (c – 1)

onde r é o número de linhas e c é o número de colunas.

9.1.4 Análise qualitativa

Nossa pesquisa continuou a ser quantitativa e, principalmente,

qualitativa, pois como somente números não atenderiam aos nossos objetivos,

além dos números temos uma análise qualitativa dos dados, baseada em nossas

conversas com os entrevistados, que traduzem o ponto de vista dos falantes. É

claro que há uma convergência nos dados estatísticos com os dados qualitativos e

é isso que almejamos: unir fatores pragmáticos, semânticos, discursivos e sociais

da língua à incidência de certas escolhas em detrimento de outras. E o mais

interessante é constatar que alguns desvios lingüísticos cometidos por nossos

informantes, sejam desvios conscientes ou não, não podem ser analisados como

anormais. Eles refletem a existência de uma língua viva, que é fruto de uma

liberdade criadora de cada falante. Ainda que estes tenham, em alguns

momentos, infringido a gramática, nossa pesquisa mostrou que a infringem para

traduzirem uma verdade psicológica que lhes convém.

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9.2 Texto do formulário II

O formulário abaixo consiste em questões que possuem duas

possíveis respostas. Você deverá assinalar a que lhe parece mais de acordo

com a frase do enunciado proposto por nós. Assinale uma só resposta (a

melhor). O formulário não possui respostas certas ou erradas. Nosso

objetivo é saber como você naturalmente entende essas frases e como você

naturalmente falaria.

Obrigada.

Sexo:

Idade:

Escolaridade:

Entrevista realizada em: / /

1- Se ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.

( ) Caso ela seja italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.

( ) Já que ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a França.

2- Se sua ovulação veio mais cedo este mês, você pode ter engravidado.

( ) Já que sua ovulação veio mais cedo este mês, você pode ter engravidado.

( ) Caso sua ovulação tenha vindo mais cedo este mês, você pode ter

engravidado.

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3- Se você gostou dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar e colar".

( ) Caso você tenha gostado dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar

e colar".

( ) Já que você gostou dos exemplos que eu mandei, pode fazer "copiar e

colar".

4- Se tem pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.

( ) Já que tem pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.

( ) Caso tenha pedra nesse arroz, tem que catar primeiro.

5- Se ele vai fazer a obra lá em casa amanhã, vai precisar de cimento.

( ) Caso ele faça a obra lá em casa, vai precisar de cimento.

( ) Já que ele vai fazer a obra lá em casa, vai precisar de cimento.

6- Se ele esteve aqui ontem, você podia ter falado com ele.

( ) Já que ele esteve aqui ontem, você podia ter falado com ele.

( ) Caso ele tenha estado aqui ontem, você podia ter falado com ele.

7- Se ela falava mal da sogra, não gostava dela.

( ) Já que ela costumava falar mal da sogra, não gostava dela.

( ) Caso ela costumasse falar mal da sogra, não gostava dela.

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8- Se você recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário.

( ) Caso você tenha recebido a carta, não deveria ter alegado o contrário.

( ) Já que você recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário.

9- Se ele ganha no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.

( ) Caso ele venha a ganhar no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.

( ) Já que ele vai ganhar no pôquer hoje à tarde, vai sair para beber à noite.

10- Às vezes a ovulação vem mais cedo. Se sua ovulação veio mais cedo este

mês, você pode ter engravidado.

( ) Às vezes a ovulação vem mais cedo. Já que sua ovulação veio mais cedo

este mês, você pode ter engravidado.

( ) Às vezes a ovulação vem mais cedo. Caso sua ovulação tenha vindo mais

cedo este mês, você pode ter engravidado.

11- Ela é italiana. E se ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para a

França.

( ) Ela é italiana. E já que ela é italiana, não precisa de passaporte para ir para

a França.

( ) Ela é italiana. E caso ela seja italiana, não precisa de passaporte para ir

para a França.

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12- Talvez tenha pedra nesse arroz. Se tiver pedra, tem que catar.

( ) Talvez tenha pedra nesse arroz. Já que tem pedra, tem que catar.

( ) Talvez tenha pedra nesse arroz. Caso tenha pedra, tem que catar.

13- Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Se ele for fazer, vai precisar de

cimento.

( ) Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Caso ele vá fazer, vai precisar

de cimento.

( ) Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Já que ele vai fazer, vai precisar

de cimento.

14- Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje

à tarde. E se ganha, vai sair para beber à noite.

( ) Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje à

tarde. E caso venha a ganhar, vai sair para beber à noite.

( ) Jogando com aqueles principiantes, é certo que ele ganha no pôquer hoje à

tarde. E já que vai ganhar, vai sair para beber à noite.

15- Ele esteve aqui ontem. Ora, se ele esteve aqui, você podia ter falado com

ele.

( ) Ele esteve aqui ontem. Ora, caso ele tenha estado aqui, você podia ter

falado com ele.

( ) Ele esteve aqui ontem. Ora, já que ele esteve aqui, você podia ter falado

com ele.

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16- Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Se ela falava mal, não gostava

dela.

( ) Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Já que ela costumava falar mal,

não gostava dela.

( ) Ele quis saber se ela falava mal da sogra. Caso ela costumasse falar mal,

não gostava dela.

17- Você recebeu a carta. E se recebeu, não deveria ter alegado o contrário.

( ) Você recebeu a carta. E já que recebeu, não deveria ter alegado o contrário.

( ) Você recebeu a carta. E caso tenha recebido, não deveria ter alegado o

contrário.

18- Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação

veio mais cedo este mês. Bem, se ela veio mais cedo, você pode ter

engravidado.

( ) Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação

veio mais cedo este mês. Bem, já que ela veio mais cedo, você pode ter

engravidado.

( ) Vi o resultado da dosagem hormonal que você fez no dia 5. Sua ovulação

veio mais cedo este mês. Bem, caso ela tenha vindo mais cedo, você pode ter

engravidado.

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19- Talvez ela seja italiana. E se ela for italiana, não precisa de passaporte

para ir para a França.

( ) Talvez ela seja italiana. E caso ela seja italiana, não precisa de passaporte

para ir para a França.

( ) Talvez ela seja italiana. E já que ela é italiana, não precisa de passaporte

para ir para a França.

20- Esse arroz está com pedra. Se tem pedra, tem que catar.

( ) Esse arroz está com pedra. Caso tenha pedra, tem que catar.

( ) Esse arroz está com pedra. Já que tem pedra, tem que catar.

21- Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E se ele vai fazer, vai precisar de

cimento.

( ) Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E já que ele vai fazer, vai precisar

de cimento.

( ) Ele vai fazer a obra lá em casa amanhã. E caso ele vá fazer, vai precisar de

cimento.

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22- Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, se

gostou, pode fazer "copiar e colar".

( ) Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, caso

tenha gostado, pode fazer "copiar e colar".

( ) Que bom que você gostou dos exemplos que eu mandei! Pois bem, já que

gostou, pode fazer "copiar e colar".

23- Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas se ele esteve aqui, ela podia ter

falado com ele.

( ) Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas já que ele esteve aqui, ela podia ter

falado com ele.

( ) Não sei se ele esteve aqui ontem. Mas caso ele tenha estado aqui, ela podia

ter falado com ele.

24- Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, se falava mal, não

gostava dela.

( ) Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, caso costumasse falar

mal, não gostava dela.

( ) Todo mundo sabe que ela falava mal da sogra. Ora, já que costumava falar

mal, não gostava dela.

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25- Não sei se você recebeu a carta. Se recebeu, não deveria ter alegado o

contrário.

( ) Não sei se você recebeu a carta. Caso tenha recebido, não deveria ter

alegado o contrário.

( ) Não sei se você recebeu a carta. Já que recebeu, não deveria ter alegado o

contrário.

26- Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Se ganhar, vai sair para

beber à noite.

( ) Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Caso venha a ganhar,

vai sair para beber à noite.

( ) Ele pode ganhar ou perder no pôquer hoje à tarde. Já que vai ganhar, vai

sair para beber à noite.

27- Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Se gostou, pode

fazer "copiar e colar".

( ) Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Caso tenha gostado,

pode fazer "copiar e colar".

( ) Não sei se você gostou dos exemplos que eu mandei. Já que gostou, pode

fazer "copiar e colar".

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9.3 Percurso do Formulário II

O preenchimento desse formulário, assim como o primeiro, foi feito

em ambientes escolares e na casa dos informantes. Para atender aos

propósitos de nosso estudo, procuramos ser o mais informal possível,

buscando certa proximidade com nossos informantes.

Explicamos que participávamos de um programa de Pós-Graduação

na Uenf e que estávamos estudando quais eram as formas que as pessoas

utilizavam para expressar seus pensamentos. Esclarecemos que em nosso

formulário não havia a noção de certo ou errado, pois sabemos que uma língua

é capaz de abarcar vários sistemas de realizações obrigatórias, sejam eles

consagrados social ou culturalmente, e assim o seu modo de realizar-se

também admite várias normas que representam modelos, escolhas do falante.

Acreditamos que tais escolhas consagram possibilidades de realizações de um

sistema lingüístico.

Procuramos mostrar ao nosso informante que o foco de nossa

pesquisa é a descoberta das diferentes formas de expressão de um mesmo

pensamento, buscar saber como podemos representar atitudes em nosso

discurso e como marcamos nossas perspectivas em relação ao evento descrito

em nossos enunciados.

Após essa etapa, lemos o enunciado do nosso formulário, no qual

consta uma pequena explicação sobre a pesquisa.

Permanecemos ao lado da pessoa durante todo o preenchimento do

formulário. Isso para que ocasionalmente pudéssemos esclarecer dúvidas,

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como Posso não marcar nenhuma alternativa? Eu falaria das duas formas,

posso marcar as duas opções?

Em alguns casos, como aconteceu no preenchimento do formulário

01, preenchemos o formulário para o nosso respondente devido a um cansaço

ou a uma dificuldade na leitura das questões. Tivemos que adotar essa

postura, principalmente, com pessoas de idade mais avançada.

Ao término do formulário, fazíamos um inventário em que

perguntávamos a respeito de algumas opções assinaladas pelos informantes.

Mais uma vez, frisávamos que as escolhas não estavam erradas, mas que

gostaríamos de saber um pouco mais sobre o pensamento expresso por

algumas de suas opções. Evidentemente só perguntávamos sobre as opções

que não correspondiam às nossas expectativas.

Algumas pessoas mudavam sua resposta quando explicavam o

porquê de suas escolhas e registrávamos em nosso inventário essa mudança

e o porquê dela ter ocorrido. Porém, os dados quantitativos de nossa pesquisa

empírica se referem apenas as primeiras escolhas de nossos informantes.

Optamos por registrar quantativamente só as primeiras escolhas para não

corrermos o risco de computar dados que possam ter sido influenciados pelos

nossos questionamentos com o respondente.

Não exigíamos que os participantes de nosso estudo se

identificassem e pedíamos apenas que escrevessem, no formulário, a idade, o

sexo e a escolaridade, já que esses dados eram essenciais em nossa

pesquisa.

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O preenchimento do formulário, normalmente, durava cerca de 35

minutos, devido a não limitarmos nossa pesquisa a um simples preenchimento

deste, como também questionarmos as escolhas e mantermos um vínculo de

amizade com nossos informantes para tornar o resultado de nosso estudo o

mais próximo do natural.

O fato de o formulário ser composto por 27 enunciados a serem

respondidos, muitas vezes ocasionou, assim como no primeiro formulário,

cansaço nos informantes. Isso fez, em vários casos, com que tivéssemos que

dar uma pausa de uns dez minutos para que os informantes não os

preenchessem de forma automática. Nesses casos, ultrapassamos aos 35

minutos aproximados de nossa coleta de dados.

Ao fim de nossas coletas de dados ficou sempre o início de uma

amizade e um enorme sentimento de gratidão por aqueles que colaboraram

com a nossa dissertação. Sentimento este que não se traduz apenas no

obrigado ao término de cada visita.

9.4 Resultados

Nesta seção, mostraremos os dados de nossa pesquisa quantitativa,

referentes às porcentagens do uso de caso e já que por cada categoria escolhida

por nós e também a aplicação do teste do qui-quadrado, que nos revela a

significância das diferenças pesquisadas.

As tabelas com os números de indivíduos que optaram por caso ou

já que, estarão nos anexos de nossa dissertação, para que possamos visualizar

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não somente dados estatísticos, mas também o número de indivíduos que

marcaram determinadas paráfrases em lugar de outras.

Na tabela abaixo, apresentaremos nas duas primeiras colunas os

totais de resposta caso e já que para cada questão do formulário, e os totais

gerais e de cada um dos três grupos de questões: contexto indefinido, contexto

indutor de certeza e contexto indutor de incerteza (para os dois sexos e todas as

faixas etárias e de escolaridade). A terceira coluna da tabela apresenta as

porcentagens de respostas caso. As demais colunas apresentam os totais e

porcentagens, separados por sexo.

Tabela 2: Apresenta o resultado da paráfrase do se, com base no formulário

2, feito com cento e trinta e sete pessoas.

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Todas Idades

Todas Escolaridades

Questões ♀♂ Caso ♀♂ Já que ♀♂ % Caso ♀ Caso ♀ Já que ♂ Caso ♂ Já que ♀ % Caso ♂ % Caso

♀ % Caso Menos ♂ % Caso

1 69 68 50% 44 32 25 36 58% 41% 17%

11 Cer 1 25 112 18% 19 57 6 55 25% 10% 15%

19 Inc 1 113 24 82% 65 11 48 13 86% 79% 7%

2 78 59 57% 48 28 30 31 63% 49% 14%

18 Cer 2 52 85 38% 31 45 21 40 41% 34% 6%

10 Inc 2 88 49 64% 54 22 34 27 71% 56% 15%

3 77 60 56% 44 32 33 28 58% 54% 4%

22 Cer 3 49 88 36% 33 43 16 45 43% 26% 17%

27 Inc 3 115 22 84% 63 13 52 9 83% 85% -2%

4 61 76 45% 39 37 22 39 51% 36% 15%

20 Cer 4 30 107 22% 12 64 18 43 16% 30% -14%

12 Inc 4 103 34 75% 56 20 47 14 74% 77% -3%

5 73 64 53% 44 32 29 32 58% 48% 10%

21 Cer 5 32 105 23% 19 57 13 48 25% 21% 4%

13 Inc 5 122 15 89% 68 8 54 7 89% 89% 1%

6 65 72 47% 39 37 26 35 51% 43% 9%

15 Cer 6 51 86 37% 25 51 26 35 33% 43% -10%

23 Inc 6 92 45 67% 49 27 43 18 64% 70% -6%

7 56 81 41% 32 44 24 37 42% 39% 3%

24 Cer 7 32 105 23% 19 57 13 48 25% 21% 4%

16 Inc 7 43 94 31% 24 52 19 42 32% 31% 0%

8 48 89 35% 30 46 18 43 39% 30% 10%

17 Cer 8 40 97 29% 26 50 14 47 34% 23% 11%

25 Inc 8 97 40 71% 53 23 44 17 70% 72% -2%

9 107 30 78% 58 18 49 12 76% 80% -4%

14 Cer 9 57 80 42% 35 41 22 39 46% 36% 10%

26 Inc 9 104 33 76% 58 18 46 15 76% 75% 1%

Total 1879 1820 51% 1087 965 792 855 53% 48% 5%

Cont Indef 634 599 51% 378 306 256 293 55% 47% 9%

Cont Cert 368 865 30% 219 465 149 400 32% 27% 5%

Cont Incert 877 356 71% 490 194 387 162 72% 70% 1%

Excluído: ♣

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Destacamos que, nas questões de contexto indefinido, houve 51%

de respostas caso, enquanto que, nas de contexto indutor de certeza houve

30% e nas de contexto indutor de incerteza, 71%.

Quanto ao sexo, observamos que, no contexto indeterminado, houve

55% de respostas caso entre as mulheres e 47% entre os homens. No

contexto indutor de certeza houve 32% de respostas caso entre mulheres e

27% entre os homens. No contexto indutor de incerteza, houve 72% de

respostas caso entre mulheres e 70% entre os homens.

Apresentaremos a seguir uma comparação das Faixas etárias e uma

comparação das escolaridades.

Tabela 3: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável faixa

etária, com base no formulário 2, feito com cento e trinta e sete pessoas.

Feminino ou Masculino/ Todas as Escolaridades 14-25 26-49 >50 14-25 26-49 >50

Caso Já que Caso Já que Caso Já que % Caso % Caso % Caso Total 728 703 650 646 501 471 51% 50% 52% Cont Indef 253 224 213 219 168 156 53% 49% 52%

Cont Cert 176 301 127 305 65 259 37% 29% 20% Cont Incert

299 178 310 122 268 56 63% 72% 83%

Se considerarmos todas as escolaridades e ambos os sexos,

observamos que em contextos indefinidos, independente da idade, temos tanto

paráfrase do se com o conector caso quanto com o conector já que. Isso indica

que o falante cria seu contexto e com base neste escolhe seus conectores. Em

contextos indutores de certeza a escolha do conector caso foi maior com a

idade de 14 a 25 anos, pois 37% optaram pelo conector que está atrelado à

dúvida. Após esse grupo o número da porcentagem de escolha por esse

conector decresce, indicando um maior vínculo com o contexto indutor de

certeza. O grupo de 14-25 se apoiou em mundos possíveis que criaram, ou

seja, ultrapassaram o contexto lingüístico e estabeleceram contextos

pertinentes com as situações por eles imaginadas. Os grupos 26-49 e >50

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apresentaram, respectivamente, 29 % e 20% de paráfrase com caso.

Notamos que o conector caso está atrelado à dúvida e o já que à

certeza, uma vez que a predominância nos contextos indutores de certeza foi

pelo conector já que.

Referente à comparação das escolaridades veremos a tabela a

seguir:

Tabela 4: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, com base no formulário 2, feito com cento e trinta e sete

pessoas.

Feminino ou Masculino/Todas as idades EF EM ES EF EM ES

Caso Já que Caso Já que Caso Já que %Caso %Caso %Caso Total 539 514 865 836 475 470 51% 51% 50% Cont Indef 188 163 292 275 154 161 54% 51% 49%

Cont Cert 116 235 186 381 66 249 33% 33% 21% Cont Incert 235 116 387 180 255 60 67% 68% 81%

Considerando todos os sexos e idades, notamos que em contextos

indefinidos a paráfrase do se pelo conector caso e já que é igualmente utilizada

e confirma, assim, a ambigüidade do se já comentanda no decorrer de nosso

trabalho. Já em contexto indutor de certeza, vemos uma pequena diferença

entre as escolhas de cada escolaridade; o ensino superior utiliza a paráfrase

com caso apenas em 21% das questões, apresenta assim maior

comprometimento com o contexto indutor do que o ensino fundamental e o

médio que tiveram empate em suas escolhas escolheram 33% das vezes a

paráfrase com o conector caso. Em contextos indutores de incerteza, o ensino

fundamental e o ensino médio, novamente, aproximaram-se na porcentagem

de suas escolhas, tendo 67% e 68% de paráfrase com o conector caso. O

ensino superior se distinguiu desses dois grupos com 81% de paráfrase com o

conector caso. Notamos um aumento crescente da porcentagem de paráfrase

com caso, com o aumento da escolaridade, ou seja, maior comprometimento

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com o contexto indutor, quando aumentamos o nível de letramento.

Aplicando o teste do qui-quadrado, obtivemos os seguintes

resultados:

Tabela 5: Tabela de contingência referente ao contexto de certeza e

incerteza, com o número de respostas dos informantes (frequência

observada, “O”) e a frequência esperada (“E”).

Contextos Caso Não Caso Total

368 865 Contexto de Certeza 622,5 610,5

1233

877 356

Contexto de Incerteza 622,5 610,5 1233

Totais 1245 1221 2466

Tabela 6: Cálculo do qui-quadrado referente ao contexto de certeza e

incerteza.

O E O-E (O-E)2/E 368 622,5 -254,5 104,0485944

877 622,5 254,5 104,0485944

865 610,5 254,5 106,0937756

356 610,5 -254,5 106,0937756

Qui-quadrado calculado 420,2847399

Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 10,828. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os

contextos é significativa, no nível de 0,001

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Tabela 7: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto

indefinido, apresentando o número de respostas dos informantes

(freqüência observada, “O”) e a freqüência esperada (“E”)

Contexto indefinido Caso Não Caso Total 256 293 Respostas Homem

282,292 266,708 549

378 306 Resposta Mulher 351,708 332,292 684

Total 634 599 1233

Tabela 8: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto

indefinido

O E O-E (O-E2/E

256 282,292 -26,292 2,448768652

378 351,708 26,29197 1,965459049

293 266,708 26,29197 2,591851962

306 332,292 -26,292 2,080302232

Qui-quadrado calculado 9,086381895

Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,005 é de7,378. Como o valor do qui-quadrado

calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos é

significativa, no nível de 0,005.

Tabela 9: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto de

certeza

Contexto certeza Caso Não Caso Total 149 400 Respostas Homem

163,854 385,146 549

219 465 Resposta Mulher 204,146 479,854

684

Total 368 865 1233

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Tabela 10: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto

de certeza

O E O-E (O-E)2/E

149 163,854 -14,854 1,346575183

219 204,146 14,85401 1,080803765

400 385,146 14,85401 0,572878228

465 479,854 -14,854 0,459810157

Qui-quadrado calculado 3,460067333

. Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo

do número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 3,841. Como o valor do qui-quadrado

calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos não

é significativa, no nível de 0,05

Tabela 11: Tabela de contingência referente à variável sexo, com contexto de

incerteza.

Contexto Incerteza Caso Não Caso Total 387 162

Respostas Homem 390,4891 158,5109

549

490 194 Resposta Mulher 486,5109 197,4891 684

Total 877 356 1233

Tabela 12: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, com contexto

de incerteza.

O E O-E (O-E)2/E

387 390,4891 -3,48905 0,031174952

490 486,5109 3,489051 0,025022001

162 158,5109 3,489051 0,07679897

194 197,4891 -3,48905 0,061641278

Qui-quadrado calculado 0,194637201

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Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 3,841. Como o valor do qui-quadrado

calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os sexos não

é significativa, no nível de 0,05.

Tabela 13. Tabela de contingência referente à variável sexo, no conjunto dos

três contextos

3 contextos Caso Não Caso Total

792 855 Respostas Homem

836,635 810,365 1647

1087 965 Respostas Mulher

1042,365 1009,635 2052

Totais 1879 1820 3699

Tabela 14: Cálculo do qui-quadrado referente à variável sexo, no conjunto

dos três contextos.

O E O-E (O-E)2/E

792 836,635 -44,635 2,381308929

1087 1042,365 44,63504 1,911313746

855 810,365 44,63504 2,458505208

965 1009,635 -44,635 1,973273917

Qui-quadrado calculado 8,7244018

Havendo 2 linhas e 2 colunas na tabela de contingênca, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (2-1)(2-1)=1. Para 1 grau de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,005 é de 7,879. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre os

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sexos é significativa, no nível de 0,005.

Tabela 15: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com

contexto indefinido.

Contexto indefinido Caso Não Caso Total

253 224

Respostas 14-25 a. 245,2700 231,7299 477

213 219

Respostas 26-49 a. 222,1313 209,8686 432

168 156

Respostas ≥ 50 a. 166,5985 157,4014 324

Total 634 599 1233

Tabela 16: Cálculo do qui-quadrado à variável faixa etária, com contexto

indefinido.

O E O-E (O-E)2/E

253 245,270073 7,729927007 0,243616

213 222,1313869 -9,13138686 0,375373

168 166,5985401 1,401459854 0,011789

224 231,729927 -7,72992701 0,257851

219 209,8686131 9,131386861 0,397307

156 157,4014599 -1,40145985 0,012478

Qui-quadrado calculado 1,298415

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)= 2. Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 5,991. Como o valor do qui-quadrado

calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre as faixas

etáriasnão é significativa, no nível de 0,05.

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Tabela 17: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com o

contexto de certeza.

Contexto Certeza Caso Não Caso Total

176 301

Respostas 14-25 a. 142,3649 334,6350 477

127 305

Respostas 26-49 a. 128,9343 303,0656 432

65 259)

Respostas ≥ 50 a. 96,7007 227,2992 324

Total 368 865 1233

Tabela 18: Cálculo do qui-quadrado referente à variável faixa etária, com

contexto de certeza.

O E O-E (O-E)2/E

176 142,3649635 33,6350365 7,946588

127 128,9343066 -1,93430657 0,029019

65 96,70072993 -31,7007299 10,39223

301 334,6350365 -33,6350365 3,380745

305 303,0656934 1,934306569 0,012346

259 227,2992701 31,70072993 4,421203

Qui-quadrado calculado 26,18213

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as

faixas etárias é significativa, no nível de 0,001.

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Tabela 19: Tabela de contingência referente à variável faixa etária, com o

contexto de incerteza.

Contexto Incerteza Caso Não Caso Total

299 178

Respostas 14-25 a. 339,2773 137,7226 477

310 122

Respostas 26-49 a. 307,2700 124,7299 432

268 56

Respostas ≥ 50 a. 230,4525 93,5474 324

Total 877 356 1233

Tabela 20: Cálculo do qui-quadrado referente à variável faixa etária, com

contexto de incerteza..

O E O-E (O-E)2/E

299 339,2773723 -40,2773723 4,781535

310 307,270073 2,729927007 0,024254

268 230,4525547 37,54744526 6,117574

178 137,7226277 40,27737226 11,77923

122 124,729927 -2,72992701 0,059749

56 93,54744526 -37,5474453 15,07054

Qui-quadrado calculado 37,83289

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as

faixas etárias é significativa, no nível de 0,001.

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Tabela 21: Tabela de contingência referente à variável escolaridade, com o

contexto indefinido.

Contexto indefinido Caso Não Caso Total

188 163

Respostas EF. 180,4818 170,5182 351

292 275

Respostas EM. 291,5474 275,4526 567

154 161

Respostas ES 161,9708 153,0292 315

Total 634 599 1233

Tabela 22: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com

contexto indefinido.

O E O-E (O-E)2/E

188 180,4818 7,518248 0,313184

292 291,5474 0,452555 0,000702

154 161,9708 -7,9708 0,392254

163 170,5182 -7,51825 0,331484

275 275,4526 -0,45255 0,000744

161 153,0292 7,970803 0,415174

Qui-quadrado calculado 1,453542

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2 Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,05 é de 5,991. Como o valor do qui-quadrado

calculado é menor que o tabelado, concluímos que a diferença entre os contextos

não é significativa, no nível de 0,05.

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Tabela 23: Tabela de contingência referente à variável escolaridade, com o

contexto de certeza.

Contexto Certeza Caso Não Caso Total

116 235

Respostas EF 104,7591 246,2409 351

186 381

Respostas EM. 169,2263 397,7737 567

66 249

Respostas ES 94,0146 220,9854 315

Total 368 865 1233

Tabela 24: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com

contexto de certeza.

O E O-E (O-E)2/E

116 104,7591 11,24088 1,20617

186 169,2263 16,77372 1,662613

66 94,0146 -28,0146 8,347828

235 246,2409 -11,2409 0,513145

381 397,7737 -16,7737 0,707331

249 220,9854 28,0146 3,551446

Qui-quadrado calculado 15,98853

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as

escolaridades é significativa, no nível de 0,001.

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Tabela 25: Tabela de contingência referente à da variável escolaridade, com

o contexto de incerteza.

Contexto Incerteza Caso Não Caso Total

235 116

Respostas EF 249,6569 101,3431 351

387 180

Respostas EM. 403,292 163,708 567

255 60

Respostas ES 224,0511 90,94891 315

Total 877 356 1233

Tabela 26: Cálculo do qui-quadrado referente à variável escolaridade, com

contexto de incerteza.

O E O-E (O-E)2/E

235 249,6569 -14,6569 0,860484

387 403,292 -16,292 0,658154

255 224,0511 30,94891 4,275073

116 101,3431 14,65693 2,119787

180 163,708 16,29197 1,621352

60 90,94891 -30,9489 10,53157

Qui-quadrado calculado 20,06642

Havendo 3 linhas e 2 colunas na tabela de contingência, o cálculo do

número de graus de liberdade é: (3-1)(2-1)=2. Para 2 graus de liberdade, o valor

tabelado do qui-quadrado, para p=0,001 é de 13,816. Como o valor do qui-

quadrado calculado é maior que o tabelado, concluímos que a diferença entre as

escolaridades é significativa, no nível de 0,001.

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9.5 Discussão

Contexto

Em relação à variável contexto, notamos que em contextos

indefinidos as escolhas pela paráfrase com caso e com já que dependem do

contexto criado por nossos informantes e, portanto, não temos diferenças

significativas nessas escolhas, uma vez que 51% das paráfrases foram com o

conector caso, aproximando-se da paráfrase com o conector já que. Contudo,

quando analisamos os contextos indutores de certeza e incerteza, notamos uma

diferença significante. Contextos de certeza induzem maior frequência da

paráfrase com o conector já que, pois só temos 30% de escolhas com paráfrase

caso. Contextos indutores de incerteza geram maior freqüência da paráfrase com

o conector caso, pois 71% das paráfrases foram com esse conector. Isso indica

que o conector caso está atrelado à incerteza e que o conector já que está

atrelado a certeza. Tal fato evidencia a ambigüidade semântica do conector se.

Sexo

Em relação à variável sexo, em contextos indefinidos, notamos uma

maior preferência do uso do conector caso pelas mulheres, em relação aos

homens, já que 55% delas utilizaram esse conector, contrapondo-se a 47% dos

homens. Essa diferença foi significativa, como visto na tabela 8.

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Em contextos definidos de certeza, as mulheres também mostraram

maior freqüência (32%) de uso do conector caso do que os homens

(27%)..Contudo, essa diferença não foi significativa como visto na tabela 10.

É importante salientar que homens e mulheres que optaram pelo uso

do caso em contextos indutores de certeza, fizeram-no por interpretarem esses

contextos não como de certeza e sim de dúvida. Como interpretaram tais

contextos como de dúvida? Simplesmente elaboraram um novo contexto em cima

do que propusemos.

Em contextos indutores de incerteza, homens e mulheres quase

empatam na freqüência do uso do conector caso, as mulheres utilizaram 72%

desse conector contra 70% do uso desse conector pelos homens.

Os homens tendem um pouco mais a criarem contextos factuais

mesmo diante do contexto indutor de incerteza, porém a diferença entre homens e

mulheres também não se mostrou significativa conforme visto na tabela 12.

Contudo, a diferença entre homens e mulheres é significativa se

considerarmos todos os contextos e não apenas contextos particulares. Na

maioria das questões do formulário, a porcentagem de caso foi maior nas

escolhas femininas do que nas masculinas. Há algumas exceções em que

notamos mais caso nas escolhas femininas do que nas masculinas. Notamos tal

fato em questões como a de número 20 (Se tem pedra no arroz, tem que catar) e

a de número 15 (Ele esteve aqui ontem. Ora, se ele esteve aqui, você podia ter

falado com ele). Imaginamos que a frase de número 20 apresenta um contexto

mais distante da realidade dos homens, pois as tarefas do lar como cozinhar,

normalmente, são designadas às mulheres. Esse fato pode ter feito com que os

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homens por não catarem arroz terem optado pelo conector caso, o que sugere

uma segurança diante de contextos desconhecidos. Já na questão de número 15,

o conector ora pode ter tido um papel fundamental nas escolhas masculinas, pois

em alguns relatos masculinos vimos esse conector como designador de dúvida.

Um menino de quatorze anos, do ensino fundamental, disse-nos que optou pelo

conector caso na questão 15 por entender essa frase como uma dúvida, pois ao

falar ora o menino relatou que estava mostrando dúvida ao seu ouvinte. Essa

interpretação do ora foi presenciada mais nos homens e por isso homens

tenderam mais à escolha ligada à não-factualidade.

Notamos que as mulheres tendem a ter uma interpretação menos

factual do conector se do que os homens. Isso indica uma postura mais cautelosa,

em que optam pela dúvida para não passarem uma imagem de autoridade, uma

imagem que ao longo da história foi vinculada ao homem.

A diferença das interpretações femininas e masculinas sugere que

mulheres em contextos indutores tendem mais a burlar marcas lingüísticas e se

esforçarem para uma interpretação não-factual do enunciado, já os homens

tendem a um discurso mais autoritário.

Esse fato é constatado em nosso inventário, pois nas questões de

contexto indutor de incerteza, em que mulheres tendem a marcar mais o conector

já que do que os homens e ainda que nesses contextos tenhamos marcas

lingüísticas que denotem incerteza, as mulheres nos inventários construíram mais

contextos de certeza em cima desses contextos propostos por nós.

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Faixa Etária

Essa variável é de grande importância para nós, uma vez que ao

adotarmos faixa etária tivemos a possibilidade de perceber se certo fenômeno é

uma variação ou se já pode ser considerado como uma mudança em processo.

A faixa etária, conforme comentamos anteriormente em nossa

pesquisa, pode apontar para um processo de variação estável ou para uma

mudança lingüística. No primeiro caso, os jovens e os velhos apresentam

comportamento lingüístico semelhante, diferenciando-se de falantes de meia-

idade, que inseridos no mercado de trabalho, talvez tendam a utilizar as formas

mais clássicas. Em processo de mudança lingüística, as formas inovadoras serão

mais freqüentes em jovens, decaindo à medida que notamos um aumento da faixa

etária.

Em contextos de certeza, a primeira faixa etária, de 14 a 25 anos,

apresentou maior uso do conector caso, utilizaram 37% desse conector. Contudo

nenhuma ocorrência do caso foi associada à factualidade e sim a uma

interpretação não-factual que estes deram aos enunciados através de contextos

que imaginaram.

A faixa etária, de 26 a 49 anos, apresentou menor incidência do uso

do conector caso, 29% de uso, e com a faixa etária maior do que 50 anos essa

incidência diminuiu ainda mais, 20% de uso.

Os resultados acima expõem que os jovens são mais inovadores, na

medida em que, ainda que tenhamos um contexto indutor de certeza, eles

constroem um outro contexto e utilizam em maior quantidade o conector caso.

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Os jovens apresentam uma diferença significantemente maior do uso

desse conector do que as pessoas mais velhas. Isso sugere um processo em

mudança lingüística, que evidencia maior desprendimento com marcas lingüísticas

e o uso de um conector que normalmente indica incerteza, em frases com

marcadores de certeza. Os jovens desconsideram tais marcas, ou simplesmente

não as vêem como denotadoras de certeza, atribuindo a elas outros sentidos que

vão ao encontro de suas expectativas e seus contextos criados.

Tais dados sugerem que quanto maior a idade maior é atenção às

marcas lingüísticas que apontam para um determinado contexto e menos se

esforça para atribuir ao enunciado indutor de certeza um novo contexto.

Em contextos de incerteza o conector caso foi o mais utilizado e o

uso do conector já que foi associado a interpretações factuais dos enunciados de

incerteza. Notamos que quanto maior a idade maior é o comprometimento, como

visto no contexto de certeza, com uma interpretação pautada nas marcas

lingüísticas, ou seja, no contexto fornecido nas questões.

Os resultados mostram uma preferência pelas pessoas maiores de

cinqüenta a usarem, em contextos de incerteza, o conector caso; 83% optam pelo

seu uso. Já os mais jovens utilizaram, consideravelmente mais o conector já que

do que os mais velhos. Essa faixa utilizou apenas 63% de caso, na idade de 14-25

e utilizou 72% de uso de caso, na idade de 26-49. Isso nos revelou, novamente,

uma diferença entre a faixa etária mais velha da mais nova, o que caracterizou um

processo de mudança lingüística. Isto é, os mais jovens utilizam em condicionais

de contextos indutores de incerteza o conector já que, e atribuem as marcas

lingüísticas de incerteza uma conotação de certeza pautada em contextos

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imaginativos. Quanto menor é a faixa etária, maior a tentativa de romper padrões,

de não se limitar apenas a um determinado aspecto lingüístico e assim ter uma

postura mais inovadora.

A diferença de idade em contextos indefinidos não nos permitiram

afirmar um processo de mudança lingüística, pois as escolhas de todas as faixas

etárias foram muito próximas, 50% de caso na idade de 14-25, 49% de caso na

idade de 26-49 e 52% de caso para as pessoas com idade igual ou superior a 50.

Dessa forma não tivemos uma diferença significativa nos resultados.

Discussão dos resultados referentes à escolaridade

Em contextos indefinidos a escolaridade não foi um fator

preponderante, já que tivemos tanto o uso do caso quanto o do já que e estes

usos tiveram uma proporção quase de cinqüenta por cento para cada. O ensino

fundamental utilizou 54% de caso em suas escolhas, o ensino médio usou 51% de

caso e o ensino superior usou 49% de caso.

No contexto indefinido, como observado na tabela 21, a escolha

factual ou não-factual para parafrasear os enunciado iniciados com se não

apresentaram diferenças significantes. Isso revela que, em contextos indefinidos,

o falante cria o seu próprio contexto e através desse contexto faz suas escolhas

lexicais. Constatamos que o uso do já que e o uso do caso, em contextos

indefinidos, estavam sempre atrelados, respectivamente, à certeza e a dúvida.

Em contextos indutores de certeza, a escolaridade foi relevante, pois

o Ensino Fundamental e o Ensino Médio utilizaram mais o conector caso do que o

Ensino Superior. Ainda que o uso do caso não estivesse ligado à certeza, houve

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no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, maior esforço para elaborar contextos

em que o uso do caso fosse possível.

O Ensino Fundamental e o Ensino Médio apresentaram uma maior

resistência às marcas lingüísticas que denotavam certeza.

Podemos observar tal fato em frases como a de número 17, em que

temos Você recebeu a carta. E se recebeu, não deveria ter alegado o contrário.

Um menino de 15 anos, da 7 série, optou pela paráfrase Você recebeu a carta. E

caso tenha recebido, não deveria ter alegado o contrário. Nosso informante

pensou nessa frase como Você recebeu a carta. E caso tenha recebido mesmo,

não deveria ter alegado o contrário. Ainda que a primeira oração da questão 17

nos aponte para um contexto de certeza, nosso informante compreendeu esse

contexto como de incerteza ao acrescentar a ele a palavra mesmo. Ele criou uma

dúvida nessa frase ao acrescentar tal marca lingüística e ao duvidar que a pessoa

que ouvia essa frase teria realmente recebido a carta. Assim como ele, outro

menino de 14 anos, mas da 8 série, pensou da mesma forma, sendo a única

diferença a de que este optou por acrescentar ao seu raciocínio a palavra

realmente no lugar de mesmo.

Com todo o exposto acima, observamos que o grau de conformidade

com o contexto indutor de certeza aumenta, significantemente, conforme a

escolaridade, isso no grau de significância de 0,001.

Já no contexto indutor de incerteza, houve preferência pelo conector

caso e o uso do já que, novamente, foi interpretado como factualidade nos

enunciados.

O grau de conformidade com o contexto indutor de incerteza também

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aumenta, significantemente, com a escolaridade no grau de 0,001 de significância.

O Ensino Fundamental e o Ensino médio se esforçaram mais a

criarem um contexto factual para os enunciados indutores de incerteza. Esse

esforço foi menor no Ensino Superior.

No contexto indutor de incerteza, o Ensino Fundamental e o Ensino

Médio apresentaram maior uso do conector já que. Isso ocorreu, provavelmente,

pelo desejo maior de romper com o que é dito mais do que reproduzir o que é

imposto. Apresentaram, dessa forma, mais inovação e reflexão da língua, uma vez

que foram além do que denotavam as marcas lingüísticas.

O uso do já que, novamente, teve interpretação factual e o uso do

caso, novamente, uma interpretação não-factual. Contudo, tivemos um caso em

que o conector já que teve uma interpretação não-factual. Um menino de 14 anos,

da 7 série, na frase de número 12, em que tínhamos a frase Talvez tenha pedra

nesse arroz. Se tiver pedra, tem que catar optou pela paráfrase Talvez tenha

pedra nesse arroz. Já que tem pedra, tem que catar. Em sua explicação, disse-

nos que mesmo tendo usado o conector já que, o enunciado continuou a denotar

não-factualidade. Falou-nos que o conector expressaria uma ironia e que quando

ele diz Já que tem pedra, tem que catar ele pretende que seu ouvinte entenda

justamente o contrário.

A explicação dele não é capaz de justificar a não-factualidade do já

que, pois quando ele nos fala em ironia, esse conector passa a ter uma

interpretação factual, pois só assim é que podemos ter nesse enunciado o efeito

irônico. Ao interpretarmos o enunciado como factual e logo depois percebermos

que o falante quer que você entenda o contrário do que as marcas lingüísticas lhe

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mostram, temos a ironia.

Sendo esse o único caso em que tivemos uma possível associação

do conector já que a não-factualidade, não podemos falar em ambigüidade factual

da conjunção já que. Dessa forma, os dados quantitativos nos mostram que esse

conector está associado à factualidade e que em construções como a número 12,

esse conector também denota factualidade.

10. Discussão geral dos resultados da pesquisa empírica

Em nosso estudo sobre condicionais, percebemos que o aspecto de

maior relevância para entendimento dos enunciados condicionais, assim como

qualquer outro enunciado, é o contexto. Em contextos indefinidos, 51% dos

informantes optaram por parafrasear o enunciado com caso, em contextos

indutores de certeza 30% optaram pela paráfrase com caso e em contextos

indutores de incerteza 71% dos informantes optaram pela paráfrase com caso. Em

contexto de certeza a paráfrase com o conector caso foi feita devido ao fato de o

informante não compreender o contexto como de certeza e sim como o de

incerteza. Isso nos faz perceber que o conector caso está atrelado à dúvida e o

conector já que à certeza. O contexto se mostra preponderantemente mais

relevante do que qualquer uma das variáveis, pois ainda que tenhamos uma

tendência interpretativa diferente entre homens e mulheres, entre escolaridades e

faixa etária, notamos que ambas as variáveis se apóiam no contexto para

escolherem as paráfrases que melhor expressam seu pensamento. Observamos,

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então, que não há influência significativa entre as variáveis em contexto indefinido,

mas em contextos definidos as variáveis apresentam diferenças significativas em

relação à interpretação. Esse fato ocorre devido às experiências pessoais e ao

caráter criativo da língua. E nos mostra que o sentido das frases não se limitam ao

significado das palavras e vão além do que é convencionalmente percebido

quando consideramos somente a escrita.

O caráter pragmático dos condicionais revela a riqueza dessas

construções. Comprovada a ambigüidade do se, ao utilizarmos uma frase

condicional, infringimos a Máxima de Modo de Grice, na qual temos que um

enunciado deve evitar ambigüidades. Usamos, assim, uma frase como Se você

recebeu a carta, não deveria ter alegado o contrário, e que pode ser entendida

como um enunciado factual ou não-factual, para não criarmos uma desarmonia

em nossos relacionamentos. Ou seja, não somos totalmente claros para que

nós possamos nos proteger de eventuais situações desagradáveis em uma

interação social. Alguns poderiam argumentar que o contexto asseguraria uma

interpretação factual ou não-factual e que assim seria impossível evitarmos,

ainda que utilizássemos esse enunciado, uma desarmonia. O que nossa

pesquisa mostrou foi que os contextos que criamos, muitas vezes, não são

suficientes para garantir o entendimento de uma determinada interpretação,

pois as pessoas avaliam as situações que a cercam de formas diferentes. Por

isso, não conseguimos, em alguns momentos, fazer com que nosso

interlocutor entenda nossas intenções, mesmo que compartilhemos de um

mesmo contexto e que tentemos seguir todas as máximas. Desse modo, ao

utilizarmos, propositalmente, um enunciado que infringe uma máxima,

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tornamos as interpretações desse enunciado ainda mais instáveis. Portanto,

podemos sim, através de um enunciado ambíguo, protegermo-nos de certas

acusações, pois poderemos alegar ao nosso ouvinte que não afirmamos nada,

apenas criamos uma hipótese e que se essa hipótese for comprovada, aí sim o

conseqüente da frase terá validade.

Podemos também contrariar a máxima de qualidade de Grice com o

uso dos condicionais. Essa máxima afirma que não devemos falar aquilo que

acreditamos ser falso. Ao enunciar Se eu fosse você, não teria feito isso, o

falante pode apenas querer que seu interlocutor não execute uma determinada

atitude, mas pode ter plena consciência de que tomaria a mesma atitude no

lugar de seu interlocutor. Os condicionais também podem contrariar a máxima

de quantidade que diz que devemos fazer nossa contribuição o tanto quanto

for requerida. Se alguém pergunta Maria voltou para o namorado? e outra

pessoa reponde Se voltou, é uma idiota, a resposta não atende ao que foi

questionado, mas devemos notar que se uma pessoa não sabe se Maria voltou

ou não para o namorado, o uso de um condicional fez com que ela não

infringisse a máxima de modo.

As orações condicionais criam contextos hipotéticos, dentro dos

quais a informação da oração principal pode se validar ou ser considerada

relevante. Devido a esse fato, utilizamo-na para protegermos nossas relações.

Para tanto, em diálogos cotidianos infringimos as máximas, pois segui-las nem

sempre garante um relacionamento harmonioso.

Nossas conclusões sobre condicionais não se encerram nesta

pesquisa, contudo esperamos ter contribuído para uma melhor análise sobre

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essas construções que são muito utilizadas nas argumentações e para

produzir efeitos discursivos em interações sociais. Por esses fatores, os

condicionais estão tão presentes em nossos discursos. Seu uso contínuo

também os fizeram apresentar a riqueza de possibilidades sintáticas e

semânticas.

11. Considerações finais

A língua representa um universo inesgotável de recurso para nos

comunicar. É um universo infinito que está em constante transformação, pois

mesmo que nós conseguíssemos juntar todas as palavras da língua portuguesa e

seus respectivos sentidos, não apreenderíamos a língua em sua totalidade. Isso

se deve ao fato de que não podemos entendê-la como uma realidade estática e

que devemos entendê-la como uma realidade dinâmica da experiência humana.

Tal fato faz com que a língua forme uma multiplicidade de eventos de expressão e

interação que ocorrem cotidianamente em uma sociedade.

Podemos imaginar que alguém pudesse conhecer integralmente

todos os princípios de alterações semânticas dos vocábulos e o princípio da

criação e incorporação das palavras, mas mesmo assim, se tal fato fosse possível,

uma pessoa não teria como prever as direções do uso figurado da língua.

As diferentes e inesgotáveis formas de enunciar ou de estruturar

enunciados criam um ambiente sujeito à mudança.

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Tal mudança emerge da heterogeneidade, de fenômenos típicos de

algumas variedades da língua que acabam por ser adotados progressivamente

por falantes de uma outra variedade. Tal mudança pode resultar, então, na

alteração da pronúncia ou na estrutura dos enunciados.

A produção de linguagem, desse modo, implica o desenvolvimento

de formas e conteúdos, cuja validade será estabelecida sempre pela experiência

de cada falante.

As transformações da língua, muitas vezes, são rejeitadas e não

refletidas como variantes da linguagem padrão preconizada pela educação

sistemática que é propiciada pela escola. As pessoas que acham que a língua

deve se restringir à regras desconsideram todo o dinamismo dela.

Diante desse cenário, tentamos mostrar, em nossa pesquisa, que as

conjunções condicionais, embora tratadas em algumas gramáticas como

denotadoras somente de um sentido, permeiam por diversos significados. Outras

conjunções, como já que, podem implicar sentidos além do causal. Ou seja, o

sentido não pode ser algo previamente estabelecido, pois todo sentido é

construído.

O contexto, as experiências pessoais e as intenções do falante são

fatores que influem na construção de sentido de todos os enunciados.

Assim, em nosso estudo, pudemos perceber uma visível

heterogeneidade da língua portuguesa, que faz com que vejamos vários

“portugueses brasileiros”.

Uma frase como Talvez ele faça a obra lá em casa amanhã. Se ele

for fazer, vai precisar de cimento ao ser parafraseada por Talvez ele faça a obra lá

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em casa amanhã. Já que ele vai fazer, vai precisar de cimento provoca

estranheza, pois podemos pensar que se o enunciado diz talvez teríamos que

pensar na frase como produtora de dúvida e não de certeza. Contudo, o que

inaceitavelmente poderia constituir uma visão de erro, dentro de uma abordagem

funcional dos fenômenos da linguagem, constitui um novo sentido apoiado pelo

contexto individual do falante.

Esperamos ter colaborado para desmistificar a visão de erro e

possibilitar uma visão mais funcionalista da língua, que não desconsidere o valor

dinâmico e criativo de toda língua, que é o processo de ressignificar suas

palavras.

Vale lembrar, no entanto, que em nossos estudos, não achamos que

não devamos estudar a língua cientificamente. À medida que compreendemos a

língua, compreendemos a nós mesmos, seres da linguagem que somos. Sabemos

que a língua padrão cumpre um papel de extrema importância sociocultural de

representar uma tentativa de construção de uma unidade sobre sua imensa

variedade. Precisamos apenas superar criticamente a cultura do erro que tem sido

tradicionalmente incorporada por nós. Essa atitude negativa deve ser substituída

por uma atitude mais condizente, seja com relevância sociocultural, seja com sua

dinâmica.

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Quarta parte – Referências Bibliográficas

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Anexo

Tabela 12: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, sexo feminino e faixa etária de 14 a 25 anos. Considera o

número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com cento e

trinta e sete pessoas.

Feminino 14-25 EF EM ES

C J C J C J

1 4 1 12 5 2 2 2 2 3 13 4 4 0 3 3 2 11 6 3 1 4 4 1 9 8 3 1 5 3 2 6 11 2 2 6 5 0 9 8 1 3 7 1 4 7 10 1 3 8 2 3 8 9 0 4 9 3 2 10 7 2 2

10 3 2 10 7 4 0 11 2 3 3 14 2 2 12 3 2 13 4 3 1 13 3 2 14 3 4 0 14 2 3 6 11 3 1 15 2 3 7 10 2 2 16 1 4 6 11 0 4 17 3 2 8 9 0 4 18 3 2 10 7 2 2 19 5 0 12 5 4 0 20 1 4 5 12 1 3 21 2 3 5 12 2 2 22 4 1 9 8 2 2 23 2 3 7 10 1 3 24 4 1 2 15 1 3 25 4 1 9 8 3 1 26 3 2 12 5 3 1 27 4 1 13 4 3 1

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Tabela 13: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

sexo feminino e faixa etária de 26 a 49 anos, referentes a cada questão do

formulário dois, feito com cento e trinta e sete pessoas.

Feminino 26-49 EF EM ES

C J C J C J

1 3 5 8 7 1 4 2 5 3 6 9 3 2 3 5 3 7 8 4 1 4 3 5 8 7 3 2 5 6 2 10 5 3 2 6 3 5 7 8 2 3 7 2 6 8 7 3 2 8 3 5 2 13 3 2 9 6 2 12 3 5 0

10 5 3 10 5 3 2 11 0 8 7 8 0 5 12 2 6 12 3 4 1 13 5 3 15 0 5 0 14 4 4 8 7 4 1 15 3 5 5 10 1 4 16 4 4 3 12 3 2 17 5 3 5 10 2 3 18 4 4 5 10 1 4 19 6 2 12 3 5 0 20 0 8 2 13 1 4 21 3 5 4 11 1 4 22 3 5 6 9 2 3 23 6 2 9 6 4 1 24 3 5 2 13 1 4 25 4 4 11 4 3 2 26 4 4 10 5 5 0 27 6 2 12 3 5 0

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Tabela 14: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, sexo feminino e faixa etária igual ou maior que 50 anos.

Considera o número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito

com cento e trinta e sete pessoas.

Feminino >50 EF EM ES

C J C J C J

1 7 2 0 2 7 4

2 6 3 1 1 8 3

3 5 4 0 2 6 5

4 3 6 1 1 5 6

5 6 3 2 0 6 5

6 3 6 2 0 7 4

7 5 4 0 2 5 6

8 7 2 1 1 4 7

9 8 1 2 0 10 1

10 7 2 1 1 11 0

11 3 6 1 1 1 10

12 7 2 2 0 10 1

13 9 0 2 0 11 0

14 2 7 1 1 5 6

15 2 7 2 0 1 10

16 4 5 0 2 3 8

17 1 8 2 0 0 11

18 2 7 0 2 4 7

19 9 0 1 1 11 0

20 1 8 0 2 1 10

21 1 8 0 2 1 10

22 3 6 1 1 3 8

23 9 0 1 1 10 1

24 4 5 0 2 2 9

25 8 1 0 2 11 0

26 9 0 1 1 11 0

27 8 1 1 1 11 0

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Tabela 15: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, sexo masculino e faixa etária de 14 a 25 anos. Considera o

número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com cento e

trinta e sete pessoas.

Masculino 14-25 EF EM ES

C J C J C J

1 4 3 11 5 0 4

2 4 3 10 6 2 2

3 3 4 8 8 2 2

4 3 4 4 12 2 2

5 5 2 9 7 0 4

6 5 2 8 8 1 3

7 3 4 8 8 1 3

8 2 5 6 10 2 2

9 5 2 12 4 3 1

10 3 4 10 6 3 1

11 1 6 4 12 0 4

12 4 3 11 5 2 2

13 4 3 13 3 3 1

14 5 2 5 11 2 2

15 1 6 9 7 2 2

16 1 6 6 10 2 2

17 3 4 5 11 1 3

18 3 4 6 10 2 2

19 4 3 11 5 3 1

20 4 3 5 11 1 3

21 4 3 3 13 2 2

22 1 6 5 11 1 3

23 3 4 13 3 2 2

24 1 6 5 11 2 2

25 4 3 10 6 2 2

26 3 4 9 7 2 2

27 3 4 15 1 4 0

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Tabela 16: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, sexo masculino e faixa etária de 26 a 49 anos. Considera o

número de respondentes de cada questão do formulário 2, feito com

cento e trinta e sete pessoas.

Masculino 26-49 EF EM ES

C J C J C J

1 2 3 3 6 2 4

2 0 5 5 4 1 5

3 4 1 6 3 5 1

4 2 3 4 5 3 3

5 3 2 5 4 1 5

6 1 4 4 5 4 2

7 2 3 1 8 2 4

8 2 3 0 9 2 4

9 5 0 7 2 6 0

10 1 4 4 5 4 2

11 0 5 1 8 0 6

12 5 0 8 1 5 1

13 5 0 9 0 6 0

14 0 5 4 5 2 4

15 4 1 4 5 1 5

16 3 2 4 5 2 4

17 2 3 3 6 0 6

18 1 4 5 4 0 6

19 5 0 8 1 5 1

20 2 3 3 6 1 5

21 2 3 1 8 0 6

22 2 3 4 5 1 5

23 2 3 6 3 5 1

24 0 5 1 8 1 5

25 3 2 6 3 6 0

26 5 0 7 2 6 0

27 4 1 8 1 5 1

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Tabela 17: Apresenta o resultado da paráfrase do se, referente à variável

escolaridade, sexo masculino e faixa etária maior ou igual a 50 anos.

Considera o número de respondentes de cada questão do formulário 2,

feito com cento e trinta e sete pessoas.

Masculino >50 EF EM ES

C J C J C J

1 1 4 2 2 0 5

2 2 3 3 1 3 2

3 2 3 3 1 0 5

4 3 2 1 3 0 5

5 3 2 2 2 1 4

6 1 4 1 3 1 4

7 2 3 1 3 4 1

8 2 3 2 2 0 5

9 4 1 4 0 3 2

10 3 2 4 0 2 3

11 0 5 0 4 0 5

12 4 1 3 1 5 0

13 5 0 4 0 5 0

14 2 3 1 3 1 4

15 3 2 2 2 0 5

16 1 4 0 4 0 5

17 0 5 0 4 0 5

18 2 3 2 2 0 5

19 3 2 4 0 5 0

20 2 3 0 4 0 5

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22 1 4 1 3 0 5

23 4 1 3 1 5 0

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Page 213: CCH / UENF 02 0/2010 · conheci, Neide e Kurt, pelo amor incondicional. A meu marido Glauber, minha filha Júlia e a Carminha pelo acompanhamento e dedicação nos momentos mais difíceis;