"cê viu?" - agosto 2014
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Cê Viu? – Edição de agosto de 2014
Equipe:
Antônio Teixeira
Bárbara Paes
Gabriela Marques
Igor Rossi
Igor Tsuyoshi
Júlia Azeredo
Márcio Rolim
Márcio Sartorelli
Taminy Youssef
Agradecimentos
Daniel Martins
Luana Conceição de Oliveira
Daniel Torres de Carvalho Puliti
Prof. Dr. Benedito Braga
Prof. Dr. Alex Abiko
Editorial A cada edição do “Cê Viu?” procuramos aumentar a qualidade dos textos, das capas, da
edição e a pluralidade dos nossos temas; tudo isso ao mesmo tempo em que combatemos a
declividade natural de entusiasmo em relação ao início do trabalho.
Essa edição não foi diferente das demais, nas primeiras reuniões tivemos ideias para
preencher 40 páginas, encerramos com 20. Não tivemos tempo nem pessoal suficiente para
realizar todos nossos anseios editoriais, mas chegamos aqui com a que é, até o momento,
considerada por nós a melhor edição do “Cê Viu?” do ano.
Apresentamos nas páginas seguintes um panorama completo do CEC, uma análise do
centrinho no primeiro semestre e os projetos para o segundo. Damos destaque para a Semana
Técnica de Engenharia Civil e Ambiental, a Setec, a ser realizada nas próximas semanas.
Além de notícias relacionadas ao C.A. procuramos apresentar textos que explorem questões
de destaque nacional do ponto de vista da Engenharia Civil e Ambiental, nessa edição temos dois
textos nesse mote: a entrevista sobre o Sistema Cantareira com o presidente do Conselho Mundial
da Água, o professor Benedito Braga; e a análise dos estádios construídos para a findada Copa do
Mundo.
Com a intenção de apoiar os alunos da G.A. Civil nas suas decisões acadêmicas cotidianas
apresentamos 3 textos: um depoimento inspirador sobre um duplo diploma na França, um relato
sobre o diferencial oferecido pelo programa Poli Fau e a visão de um professor sobre a atuação
profissional de um engenheiro civil.
O último texto mencionado faz parte de uma proposta inicial do jornal de apresentar textos
que apoiem a escolha de opção de curso. Nossa ideia era apresentar um para cada área, um sobre
a Ambiental e outro sobre a Civil; no entanto todas as tentativas de entrar em contato com
professores da Engenharia Ambiental, até o momento, foram frustradas, impossibilitando a
publicação. Na próxima edição certamente apresentaremos o texto sobre a Ambiental ausente
nessa edição.
Para encerrar temos a parte artística do jornal, contamos nesse número com um poema e
com uma tirinha!
Esperamos que vocês gostem!
Caso tenha alguma sugestão, crítica ou se quiser participar de nossa equipe mande um e-
mail para [email protected] ou adicione o nosso novíssimo perfil no facebook (Cê-Viu Poli
Usp) e nos envie um inbox.
A Equipe
3
Panorama CEC 1º Semestre - 2014
Fala pessoal, por meio deste texto vou
falar um pouco das atividades que o CEC participou e realizou na segunda metade desse primeiro semestre. Primeiramente gostaria de pedir desculpas à todos os apreciadores da Festa Só Nóis Constrói, que infelizmente não aconteceu esse ano. As causas para isso foram diversas, por exemplo problemas na estrutura do prédio da FAU e o posicionamento da Prefeitura do Campus, que está extremamente receosa com festas abertas, devido aos incidentes com segurança que vem cada vez mais assombrando a Cidade Universitária.
Ainda no assunto de festas, tivemos uma nova em parceria com a Nutrição - USP chamada Wonderland. Foi um evento com um público mais reduzido, uma festa à fantasia e com open bar que ocorreu no Hotel Cambridge. Pelo que ouvimos dos presentes, foi um sucesso! Tinha um preço bem acessível, principalmente levando em conta a qualidade das bebidas que foram oferecidas. Esperamos que no próximo ano possa haver uma nova Wonderland, talvez com um público maior!
Para as P2 e P3 já conseguimos expandir o projeto Salvação com aulas de R2. As aulas foram ministradas também pelo aluno João Guilherme Caldas Steinstraesser. Aproveito essa deixa para agradecer ao Joãozinho seu esforço, comprometimento e disposição em ajudar os outros alunos. E também, em nome do CEC, desejo boa viagem e sucesso em seu intercâmbio! Agora estamos procurando outros alunos que desejem dar as aulas de Salvação, caso tenha interesse procure pela Julia Azeredo no CEC ou no facebook.
Nesse semestre, organizamos também um questionário que foi divulgado nos grupos no facebook para sabermos a opinião dos alunos a respeito das salas de estudos. Gostaria de pedir mais um pouco de paciência, pois junto à CAEC estamos tentando tomar as devidas providências para deixar o local mais adequado aos estudantes. Pretendemos, ainda esse ano, colocar mais tomadas, mesas e cadeiras e, também, corrigir o problema de má iluminação. A questão da internet é um pouco mais complicada, ainda estamos tentando
viabilizar algo, mas isso não depende mais da CAEC.
No dia 6/6 rolou a maior festa do semestre, a Só o Guimê Destrói. Estávamos planejando esse evento desde o começo do ano para que ele pudesse ser sensacional! No decorrer da festa tivemos alguns problemas pontuais e temporários na entrada e no bar, mas de uma forma geral a festa foi um grande sucesso. Recebemos muitos elogios de pessoas que estavam presentes, elas falaram que a festa foi bem completa, com open bar, distribuição de Trident e chá Lipton, show de funk com MC Guimê e um eletrônico frito com Viktor Mora. Nossa principal preocupação durante a festa foi a segurança dos convidados dentro e fora do Velódromo, para isso contratamos um efetivo maior de seguranças. Gostaria de agradecer à todos que foram e àqueles que ajudaram na organização desse evento! (EXPLOOODIU!!)
Agora vou falar de uma forma geral dos principais acontecimentos do semestre: a greve e os incidentes com segurança. No calor da greve, o Diretório se reuniu para discutir o que poderia ser feito em relação à esse assunto, então promovemos o plebiscito e algumas assembleias. O CEC chegou a realizar uma roda de conversa com os alunos da Civil e Ambiental para ver quais eram as suas principais demandas e também para debatermos sobre os eixos da greve. Em geral a roda fluiu tranquilamente e com discussões bastante proveitosas, o CEC ainda está indo atrás de algumas demandas que foram solicitadas na conversa, aguardem mais um pouco por favor.
Em relação à segurança, tivemos muitos problemas de assalto, sequestro relâmpago, furto e até de arrastão dentro da Cidade Universitária. O Diretório está tentando, junto à Reitoria, fazer algo para melhorar a segurança dos alunos, mas ainda não encontramos uma solução que pareça ser a mais correta.
Igor Tsuyoshi Kaga
Presidente CEC 2014
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O CEC no segundo semestre Depois de um primeiro semestre com
MC Guimê, visitas técnicas, aulas de salvação,
atuação junto aos RD’s e muito mais, só
podemos esperar fazer muito mais no segundo
semestre.
No primeiro semestre, tivemos muitos
acontecimentos político-acadêmicos, desde a
eleição do DCE à greve que ainda ocorre. O
CEC foi um dos centros-acadêmicos da Poli
que mais esteve presente nas assembleias
estudantis, CCA’s (Conselho de Centros
Acadêmicos) e outras reuniões de CA’s de toda
a USP. Vamos manter essa firme atuação,
trazendo sempre os problemas aos alunos da
G.A. Civil e buscando sempre o melhor para
nossos alunos.
Em conjunto com os RD’s dos quatro
departamentos (PCC, PTR, PEF e PHA), das
CoC’s Ambiental e Civil, da CAEC (Comissão
Administrativa), criamos um órgão extra-oficial
que visa reunir todos os representantes dos
alunos para debater o que ocorre em nosso
curso e propor sempre melhorias ao aluno da
G.A. Civil. As primeiras reuniões foram um
sucesso, de onde saíram questões pontuais
como o Questionário das Optativas Livres e
manual de matrícula para a EC3.
Programamos ainda uma atenção
especial pra você, bixo perdido. Ainda não sabe
se vai escolher civil ou ambiental? O CEC te
ajuda! Ao longo de todo o semestre teremos
conversas e palestras com professores, alunos
e ex-alunos formados das duas áreas da G.A.
Civil, trazendo seus pontos de vista sobre a
grade curricular e o mercado de trabalho.
Mesmo que sua decisão já esteja tomada,
participe das conversas. É sempre bom
entender como será a sua vida e dos seus
colegas de G.A. a partir do ano que vem.
As aulas de “salvação”, projeto iniciado
em 2013, sofreram uma baixa. Joãozinho,
nosso grande colaborador, foi fazer seu
intercâmbio na França, após ter ajudado um
número considerável de alunos ao longo desse
1 ano e meio. Para que as aulas continuem a
acontecer, precisamos de você! Sim, você
mesmo que manja tudo de R1, R3, Tráfego e se
acha capaz de ensinar quem precisa.
No começo de setembro, teremos a mais
do que tradicional viagem à Itaipu! A segunda
viagem do CEC no ano te levará à mais famosa
usina hidrelétrica do país. E já que estamos por
lá, não custa nada dar um pulinho no
Paraguai... A viagem será logo depois das P1,
então não há desculpa para não ir! Fique atento
ao Facebook para não perder as inscrições.
Estruturalmente, o CEC já adquiriu
novos sofás, que chegarão em breve para
deixar nossos alunos cada vez mais
confortáveis. A nossa mesa de comidas está
com novidades e buscaremos também deixá-la
sempre cheia. Pedimos a todos que, para evitar
o gasto excessivo de copos plásticos que vinha
acontecendo, utilizem canecas para tomar seu
café ou água. Uma medida simples que evita o
acúmulo de lixo e preserva o meio ambiente. As
tomadas passaram por uma reforma e temos os
dois micro-ondas funcionando, visando diminuir
a fila das marmitas na hora do almoço. Temos
novidades também na sala do vídeo game,
passe lá pra conferir (e perder uma partida).
E você acha que acabou? Por último mas
não menos importante, nossas festas! Na
primeira-sexta feira do semestre, dia 8/8, nos
unimos com o CAEP, nossos maiores inimigos
(só na época de Integra), pra trazer uma grande
cervejada pra Poli, a Just Beer. No dia 22/8,
teremos a Festa Junina da Poli, organizada por
todo o Diretório. Com barracas de brincadeiras
Vigem para Itaipu 2013
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de todos os CA’s, venha prestigiar a maior festa
junina da USP! Para fechar o ano em grande
estilo, após as P3, CEC e Grêmio organizam
mais uma vez a Festa de Fim de Ano da Poli.
Estamos preparando uma festa enorme para
fechar o ano com chave de ouro.
E em Outubro, nossa grande festa do
segundo semestre, o OKTOBERCEC! Em sua
XII edição, a maior festa alemã universitária do
mundo virá mais uma vez para comemorar o
aniversário de nosso centro acadêmico. No ano
que o CEC foi campeão do Integrapoli e a
Alemanha campeã da Copa do Mundo, só
poderemos ter um OktoberCEC inigualável.
Depois de tanta coisa, acho que só nos
resta trabalhar muito para comprimirmos o que
prometemos e melhorar cada vez mais a
condição de nossos alunos. Quer ajudar?
Nossas reuniões ordinárias acontecerão às
segundas-feiras, às 11h10, na sala de reuniões
do CEC. Não tenha medo, estamos abertos a
opiniões de todos. Se ainda tiver vergonha mas
quiser participar, mande um e-mail com
sugestões para [email protected] e siga
nossas páginas no facebook.
Valeu pessoal, e nos vemos no CEC!
Igor Rossi
Vice-Presidente CEC 2014
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IV SeTEC - Gargalos de Infraestrutura
Para os desavisados: neste mês de agosto acontecerá a IV SeTEC (Semana Temática de Engenharia Civil e Ambiental), um evento de caráter acadêmico organizado por alunos da Poli-USP que visa aproximar os estudantes dos professores e profissionais das áreas de atuação das engenharias civil e ambiental, fora do ambiente de sala de aula. Ao frequenta-la, o aluno obtém melhor noção da profissão e do mercado de trabalho através do contato direto com temas relevantes e com empresas do ramo.
Para o ano de 2014, o tema escolhido para a SeTEC foi “Gargalos de Infraestrutura”. O tema está em pauta no atual cenário socioeconômico do Brasil e é gerador de dúvidas, debates e opiniões no setor da engenharia brasileira. A recente crise mundial deu sobrevida aos precários sistemas de infraestrutura encontrados no país, mas é possível notar que a economia já está voltando aos patamares anteriores e o crescimento do Brasil está maior que o crescimento dos investimentos na área.
Sendo assim, nossa intenção é abranger os problemas encontrados no país nas áreas de abastecimento de água, saneamento, logística, transportes, mobilidade urbana, geração e distribuição de energia de forma dinâmica. Pretendemos, a partir de palestras, mesas redondas, resolução de case e visitas técnicas,
fomentar o interesse pelo tema e construir um evento de desaque e impacto, que interfira positivamente na formação dos alunos das engenharias civil e ambiental e na Escola Politécnica como um todo.
A IV SeTEC contará com diversos profissionais de destaque no ramo da infraestrutura, como o ex-presidente do BNDES, ex-ministro das Comunicações e ex-diretor do Banco Central do Brasil, Luiz Carlos Mendonça de Barros e o jornalista econômico Carlos Alberto Sardenberg. O evento tem como patrocinadora diamante a construtora Camargo Corrêa, e recebeu apoio de diversas entidades parceiras. Para mais detalhes, não deixe de curtir nossa página no Facebook!
As inscrições para o evento acontecerão a partir do dia 06/08 pelo site. Todos as atividades contarão com coffee-break e os participantes inscritos terão direito a um Kit Participante e um Certificado de Participação. Confira nossa programação completa, cadastre-se no site, inscreva-se nas atividades e participe!
Página do Facebook: facebook.com/setecpoli Site: www.setecpoli.com.br
Júlia Azeredo
Diretora Acadêmica CEC 2014
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Opção de Curso: Engenharia Civil
A atuação profissional do engenheiro civil
A engenharia civil é das modalidades de
engenharia, uma das mais amplas e
abrangentes envolvendo um largo espectro de
especialidades e de atividades.
Uma maneira inicial e simples é dividir
estas especialidades em 4, coincidindo com os
4 Departamentos aqui da Civil de nossa Escola
Politécnica da USP: a) Transportes, b)
Hidráulica e Ambiental, c) Estruturas e
Geotécnica, d) Construção Civil. Percorrendo
os sites de cada um destes Departamentos é
possível conhecer os diversos temas
concernentes a cada uma dessas
especialidades, através das disciplinas
oferecidas e das pesquisas desenvolvidas.
Uma das características comuns a todas
estas especialidades é que o engenheiro civil
atua quase sempre de maneira local, com
insumos locais quer sejam eles físicos como os
materiais ou a mão-de-obra. Para esta atuação
este engenheiro deverá conhecer
profundamente este local no qual irá
desenvolver as suas atividades pois por
exemplo, as estradas, edifícios,
empreendimentos imobiliários, barragens e
redes de abastecimento de água e de
drenagem, cidades, estão todos vinculados ao
território e em consequência com os seus
aspectos ambientais.
Uma outra característica é a abrangência
da engenharia civil, envolvendo todas as etapas
dos empreendimentos, ou seja, desde o
planejamento até a sua operação e
manutenção, passando pelo projeto e a obra.
O engenheiro civil poderá atuar em
apenas uma dessas etapas ou em diversas
delas, mas o seu sucesso virá da sua
compreensão sistêmica do conjunto de ações
que um empreendimento deverá ter ao longo de
sua vida útil.
O seu sucesso também virá da sua
capacidade de trabalhar em grupo pois raras
vezes a sua atuação profissional será isolada e
individual. Este trabalhar em grupo significa
entender os aspectos colaborativos e de
liderança voltados aos resultados a serem
alcançados.
Finalmente cabe mencionar dois
importantes aspectos da engenharia civil:
- apesar de tradicionalmente ser reconhecida
com uma das modalidades com menor
conteúdo tecnológico, o desenvolvimento
observado nos últimos anos tem sido inegável
graças à aplicação da informática como
softwares de projeto, controle e automação e
particularmente os sistemas BIM, Building
Information Modelling.
- por ela envolver um grande conjunto de
variáveis técnicas, materiais, regramentos,
pessoas, o engenheiro civil desenvolve
competências de gestor e de administrador que
transcendem o exercício técnico específico do
engenheiro mas que os civis têm facilidade de
operar.
Prof. Dr. Alex Abiko
Departamento de Construção Civil
(PCC)
7
Relato de um ex POLI-FAU
Há 5 anos tomava uma decisão
importante em minha vida, ir para FAU e
preencher a lacuna que a POLI deixava em
minha formação. Para tomar essa decisão
foram anos pensando sobre o programa,
conversa com alunos da FAU, da POLI, do
programa de dupla formação, professores de
ambas as instituições e Ex-alunos formados e
não formados.
Por fim no final de dois anos
amadurecendo a ideia (2009) decidi ir para a
FAU e estender a minha graduação em dois
anos, mas havia um porém: já tinha transferido
de curso para engenharia civil e deveria fazer
tudo em OITO ANOS! Nossa 8 anos estudando,
muitas pessoas fora do meu convívio
acadêmico “tiravam onda” de mim, diziam que
eu nunca saia da faculdade... mas qualquer
politécnico sabe que isso pode muito bem
acontecer. Além disso, minha família me
pressionava para sair e ser completamente
independente financeiramente.
Acredito que tomei a decisão mais
assertiva que poderia ter tomado na época, isso
porque consegui antecipar um ano da
graduação. Foi duro, tive que sacrificar muitas
saídas, treinos... mas consegui. No primeiro
ano de FAU passei em 80 créditos e no
segundo, em 100. Mas isso é uma exceção, não
é regra e nem deveria ser, pois a ida à FAU e a
formação na mesma não se restringe apenas a
sala de aula, mas diz respeito também ao
convívio entre alunos e professores que é muito
mais intenso que na POLI (não é difícil ir
almoçar com um professor ou receber um
convite de um deles para tomar umas, pena não
beber para aceitar o convite). Mas a parte mais
importante do programa é o conhecimento
adquirido, hoje consigo conversar de igual para
igual com arquitetos e engenheiros nas
decisões de projetos e sou respeitado por
ambos.
As oportunidades profissionais, não
como estagiário, foram ampliadas pelo fato de
ter cursado o programa. Hoje trabalho em uma
incorporadora tradicional, uma empresa
familiar, onde o fundador, já falecido, era
engenheiro arquiteto formado pela Poli. Tal
curso parou de existir quando a FAU foi criada.
Quando o meu curriculum chegou à empresa o
presidente (ex-politécnico também e filho do
fundador), viu, gostou, me ligou e agendou uma
entrevista. Na entrevista, ele gostou do meu
perfil, por ser politécnico, mas também por ter
estudado na FAU. Essa formação unia os
conhecimentos que ele tinha com os
conhecimentos do pai dele. Hoje no escritório
aprovo todos os projetos, seja de arquitetura,
interiores, estrutura, hidráulica e elétrica; além
disso, algumas vezes me pedem para fazer
projetos dessas áreas. Pude assumir essa
responsabilidade graças a facilidade que tenho
com projetos, adquirida durante esses 7 anos
de estudo.
Mas nem tudo são rosas: a dupla
formação trouxe a tona o grande conflito que
existe entre engenheiros e arquitetos para
dentro de mim. Muitas soluções técnicas e
financeiramente viaveis “estragam” a
arquitetura. Não sei se esse conflito tem
solução, acho que apenas com o
amadurecimento e experiência aprenderei
melhor a lidar com essa situação vivida sempre
na história entre Engenharia e Arquitetura.
Porém, acredito que uma rivalidade histórica
não tem uma solução tão fácil.
Atualmente venho elaborando projetos e
os executando por conta própria. Também sou
muito consultado, devido, entre outras coisas, a
minha formação diferenciada no mercado.
Daniel Torres de Carvalho Puliti
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Entrevista - Benedito Braga Sistema Cantareira
A questão do abastecimento de água no Estado de São Paulo, e principalmente na cidade de São Paulo, têm sido alvo de preocupações e de polêmicas esse ano. Desde de junho o volume ativo do Sistema Cantareira está esgotado e o volume inativo está sendo utilizado. Nas últimas semanas, sem melhoras nas condições hídricas, o racionamento está sendo considerado pelas autoridades e organizações responsáveis. Diante da importância do assunto o “Cê Viu?” realizou uma entrevista com o professor doutor do PHA e presidente do Conselho Mundial de Água, Benedito Pinto Ferreira Braga Junior. O professor é referência mundial no assunto e compartilhou conosco suas opiniões, explicou os aspectos técnicos da situação e expôs as perspectivas para o futuro.
*Qual é a importância do Sistema Cantareira no abastecimento do estado de São Paulo?
O Sistema Cantareira realiza o abastecimento da região metropolitana de São Paulo, ele foi desenvolvido na década de 70, quando essa região contava com uma população de cerca de 9 milhões de habitantes. Trata-se de um sistema muito importante, pois hoje o Cantareira é responsável por metade do atendimento da demanda de água da região metropolitana.
*Qual a atual situação desse Sistema? E quais são as perspectivas para os próximos meses?
A situação do Sistema Cantareira é crítica, como tem sido amplamente divulgado pela mídia. Hoje (5 de agosto de 2014) ele está com aproximadamente 14,7% da sua capacidade total, considerando o regime morto, inativo.
Os reservatórios são projetados levando-se em conta sua vida útil. Como as vazões afluentes a eles contêm sedimentos em suspensão que se depositam devido às velocidades mais baixas, é necessário prever um volume de sedimentação ou também
chamado de volume morto ou inativo. Esse volume é assim chamado porque não é utilizado durante a vida útil do reservatório. Como chegamos a um situação climática muito crítica, tivemos que recorrer ao uso desse volume inativo, que normalmente não se usa. Contando toda a capacidade do volume ativo mais o inativo nós estamos com 14,7% do volume total, uma situação bastante crítica.
Nos próximos meses, caso a população não faça economia de água, poderemos ter problemas.
*As baixas reservas são fruto da má administração, do mal uso dos recursos pela população ou são culpa das condições climáticas?
É uma composição das 3 coisas. Esse
ano tivemos uma situação climática bastante
complicada. Em todos os registros históricos,
que datam do início do século passado, não se
observou-se nenhuma situação climática tão
desfavorável como a do último verão.
Normalmente chove bastante e o reservatório
se recupera, mas dessa vez não choveu.
9
Portanto, a situação climática foi fundamental
para essa crise.
Em relação ao padrão de consumo da
população observamos que ela não está
acostumada a economizar ou usar a água
eficientemente. A população da região
metropolitana nunca foi exposta a uma situação
tão crítica como essa, então essa população
tem costumes de uso da água em abundância,
não está acostumada a situações de seca.
Portanto juntou-se a questão climática com a
utilização da água de maneira não muito
eficiente, resultando na complicação atual.
*O senhor acredita que alguma medida poderia ter sido adotada que minimizasse a situação atual?
A situação drástica atual seria muito difícil de prever. O que poderia ter sido feito com maior intensidade seria uma conscientização da população. Acredito que a mídia deveria ter desempenhado um papel mais importante no sentido de passar para a população a criticidade da situação, incentivando essa população a usar mais eficiente a água. A mídia poderia ter tido um papel mais importante no sentido de noticiar a criticidade do evento.
*Ainda existe o risco de racionamento para o ano de 2014? Que medidas estão sendo tomadas pra controlar a situação?
Primeiro, é bom que se entenda o que significa a palavra racionamento. O que a mídia entende como racionamento é o que nós técnicos chamamos de rodízio. Significa cortar a água de um determinado setor da cidade, assim esse setor ficaria sem água na torneira por um ou dois dias.
O rodízio, ou racionamento, não é uma medida recomendada. Ela não foi tomada, e acho que acertadamente, e espero que ela não seja tomada no futuro. Isso porque quando o rodízio é implantado, há um aumento no risco de infiltração de água subterrânea nos dutos; e não conhecemos muito bem a qualidade dessa água subterrânea.
Portanto as medidas que podem ser tomadas vão na direção de restrição da demanda. Por exemplo, ao invés de oferecer somente o bônus que a Sabesp dá a quem economiza, você poderia estabelecer um limite de consumo que se entende razoável por casa, por número de pessoas que habitam uma casa. Assim, a partir do momento que esse limite de consumo fosse atingido haveria um aumento significativo na tarifa. Ou seja, se uma pessoa, ou casa, consumiu mais que um determinado limite razoável, ela poderia continuar a consumir, mas teria que pagar um preço muito alto por isso. Essa é uma medida possível, mas não muito aconselhável do ponto de vista social e do ponto de vista político, mas me parece que é uma possibilidade de reduzir consumo.
Outra medida que pode ser adotada, e parece que a companhia de água já está adotando, é reduzir a pressão na linha, nos dutos, de maneira que o consumo seja restringido durante a noite, mas sem que a tubulação fique vazia. Isso pode ser feito a noite, em horas de menor de consumo e leva a uma redução no uso da agua e com isso aumenta a chance do sistema “sobreviver” até o final do ano.
*Quais as consequências da eventual utilização do volume morto?
Não há consequência nenhuma, a
qualidade da água do volume morto é igual à do
volume vivo ou ativo. As notícias que
circularam na mídia sobre a qualidade
questionável do volume morto são infundadas.
*No contexto atual de mudanças
climáticas e aumento da demanda, devemos
estar preparados para escassezes como
essa nos próximos anos?
Sim, sem dúvida. Estamos hoje numa situação em que todas as grandes cidades brasileiras, e não só elas, mas também cidades de médio porte, principalmente no nordeste, tem que estar preparadas para o futuro. Podemos observar que, em função do crescimento populacional, há um aumentou da demanda de água nos centros urbanos e também na agricultura. E esse aumento da demanda somada com uma variabilidade muito 10
grande do clima pode levar a situações como essa cada vez mais frequentes.
*E como podemos nos preparar para situações como essa no futuro?
Podemos, de um lado aumentar a confiabilidade da oferta, construindo reservatórios, barragens, adutores. Ao mesmo tempo em que temos que utilizar a água mais eficientemente, fazendo reciclagem, reuso de agua e, com isso, diminuir o nível de dependência na oferta. A oferta é cara, é caro construir reservatórios, é complicado, então temos que trabalhar na demanda também.
Temos que ficar atentos com a situação no futuro, pois uma situação como essa pode sim se repetir nos próximos 4 anos, até mesmo no próximo ano. Não é possível fazermos previsões hidrológicas de longo prazo.
*O senhor acredita que a alta dependência brasileira de seus recursos hídricos é um problema? A matriz energética nacional deveria ser repensada?
Não, eu acho que o Brasil tem recursos hídricos abundantes que devem ser
absolutamente utilizados, o uso da hidroeletricidade é o que faz do Brasil um país único. Somos um país único no mundo onde as energias renováveis são responsáveis por uma grande parte do consumo elétrico. Então nossa matriz energética não tem que ser repensada não, ela está absolutamente certa no sentido de utilizar nossos recursos hídricos.
Essa situação da região metropolitana de São Paulo não significa que todo o Brasil também esteja ficando seco. Na região norte, por exemplo, é o contrário, está sobrando água. Então temos que gerar energia lá e através da rede elétrica, fazer com que essa energia chegue a outras regiões do país incluído aí São Paulo. Então imaginar que porque São Paulo está vivendo um período de seca a hidroeletricidade não é uma boa opção é absolutamente errado.
O Brasil é um país que tem uma diversidade hidrológica impressionante e deve explorar essa diversidade. Recentemente tivemos essa seca na região sudeste, mas tivemos também enchentes importantíssimas na região norte e na região sul, os rios dessas regiões estão transbordando, a hidroeletricidade pode ser explorada em todo país. Não há nenhum problema em ter a hidroeletricidade como carro chefe de nossa matriz energética.
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E agora, o que serão desses estádios? Veja o que serão dessas construções agora que a tão famigerada Copa Brasil 2014
chegou ao seu fim.
Alguns reformados, outros construídos
Maracanã (Rio de Janeiro), Mineirão
(Belo Horizonte), Castelão (Fortaleza), Arena
da Baixada (Curitiba) e Beira-Rio (Porto Alegre)
só tiveram que passar por algumas
reforminhas, afinal o padrão FIFA não é para
qualquer um. Mas não pense que por isso os
custos das obras foram menores. Muitas vezes
associamos a reforma com um custo menor que
a construção de um novo, mas de acordo com
a complexidade dela, os gastos podem ser
muito maiores. O custo da reforma do Mineirão
(695 milhões de reais), por exemplo, ultrapassa
o valor da construção de 4 dos 7 novos
estádios. Além disso, burocracias e problemas
estruturais à parte, as reformas no Maracanã
superaram a duração de sua construção
iniciada em 1948.
Já o Mané Garrincha (Brasília), a Arena
Pernambuco (Recife), a Arena Amazônia
(Manaus), o Itaquerão (São Paulo), a Arena
Pantanal (Cuiabá), o Fonte Nova (Salvador) e a
Arena das Dunas (Natal) são os 7 novos
estádios, alguns com um futuro mais incerto.
Aspectos interessantes sobre as obras
Içamento dos cabos do anel inferior ao mastro da nova cobertura do Maracanã. Destaque para conexão dos
cabos ao mastro.
O Maracanã ganhou uma nova cobertura
em membrana de teflon e fibra de vidro com
tecnologia autolimpante. Entretanto, ela não
segue as recomendações do COI (Comitê
Olímpico Internacional) e terá que passar por
novas reformas até 2016. O órgão pede que a
estrutura tenha capacidade de sustentar cerca
de 120 toneladas de equipamentos de som, luz
e fogos de artifício. A cobertura que foi instalada
sustenta até 81 toneladas.
Já a cobertura do Beira-Rio teve sua
nova estrutura projetada em módulos, o que
permitiu uma construção rápida e em etapas,
sem necessidade de interdição do estádio.
A fachada do Mané Garrincha é
composta por 288 pilares dispostos ao redor do
edifício, com conceito inspirado nas obras de
Oscar Niemeyer. Enquanto a fachada da Arena
da Amazônia é inspirada no cesto de palha
indígena.
Estádio Mané Garrincha em construção (janeiro de 2013)
Fachada em pilares já pronta.
No Mineirão, o campo foi rebaixado para
aumento da visibilidade e devido a inúmeras
práticas como aproveitamento de luz solar, é o
primeiro e único estádio do Brasil a conquistar
a categoria máxima na certificação Leadership
in Energy and Environmental Design (LEED).
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O futuro de cada um
Maracanã: Com o Engenhão em obras, o
estádio receberá jogos do Fluminense,
Flamengo e Botafogo. Seguirá também
recebendo grandes shows. Para quem curte, a
banda Foo Fighters está negociando um show
lá para o ano que vem. Será palco da abertura
e encerramento das olimpíadas 2016.
Mineirão: Continuará recebendo todos os
jogos do Cruzeiro e, assim como o Maracanã,
grandes shows.
Beira- Rio e Arena da Baixada: Pertencentes
ao Internacional e ao Atlético-PR
respectivamente, serão utilizados nos jogos
destes clubes. Na Arena da Baixada, as
receitas de bilheteria serão decisivas para o
clube conseguir pagar os empréstimos feitos
para a obra.
Castelão: Receberá, por contrato, partidas do
Ceará e do Fortaleza, os dois maiores clubes
do estado, nos próximos cinco anos.
Mané Garrincha: É o mais caro da Copa (2
bilhões de reais). Não há grandes clubes em
Brasília e até o fim de 2014 não há nenhum jogo
previsto para esse estádio, ou seja, se nada for
feito, possui grandes chances de virar um
elefante branco.
Itaquerão: Como todos sabem, é de mando do
Corinthians. Um casamento com 62 casais já foi
realizado em Julho. Muito provavelmente não
será utilizado para shows, pois seu gramado,
com sistema sofisticado, não foi projetado para
tal. Nos últimos jogos a média do ingressos foi
de R$60 por torcedor (contra R$15 do São
Paulo). Apesar das críticas, a diretoria acredita
que essa é uma boa política para aumentar a
renda do clube. Além disso, com dez andares,
o prédio oeste tem 59 lojas, entre lanchonetes
e outras conveniências.
Arena Pernambuco e Arena das Dunas: A
primeira é a nova casa do Náutico. A segunda
será utilizada pelo América-RN. A idéia é utilizá-
las para shows e grandes eventos como
feiras e conferências.
Arena Amazônia e Arena Pantanal: Não há
clubes no Amazonas que levariam grandes
públicos para suas arquibancadas. O governo
do estado do Amazonas ainda não definiu o que
fará com ela no futuro. Enquanto isso, os custos
com sua manutenção chegarão a 500 mil por
mês. Na Arena Pantanal, a situação é parecida
e cogita-se até receber jogos de futebol
americano.
Arena Amazônia
Arena Fonte Nova: O Clube Bahia é o que
mais a utilizará. Assim como as outras, além de
shows prevê até competições de esportes
radicais indoor.
Em resumo, ou os clubes dos
respectivos Estados utilizarão tais estádios, ou
então haja shows, eventos culturais, jogos de
futebol americano e esportes radicais indoor
para que pelo menos os financiamentos obtidos
para tais obras sejam quitados. Isso sem contar
com os custos de manutenção.
Quer saber mais sobre os estádios
construídos, reformados e sobre as
inúmeras outras obras feitas para a Copa
2014? Acesse o portal de transparência do
Governo Federal (www.transparencia.gov.
br/copa2014), lá você encontrará os
cronogramas físico-financeiros, os
relatórios fotográficos e muitas outras
informações!
Bárbara Paes
3º ano - Engenharia Civil
13
Depoimento: Duplo Diploma na França
Foram três anos de duplo diploma em
Paris, na École Nationale des Ponts et
Chaussées. Parece muito aos 21 anos. Mas na
verdade, só parece.
Não tenho como afirmar que foi a melhor
coisa que fiz porque não sei o que teria
acontecido se eu não tivesse ido. Talvez tivesse
me formado em 5 anos na Poli e hoje já fosse
gerente de projetos em alguma empresa
grande que pagasse muito bem. Não sei qual
foi meu custo de oportunidade. Mas sei que,
com certeza, eu não seria eu se nada disso
tivesse acontecido.
Sempre quis estudar em outro país,
desde pequena. Talvez pela influência dos
filmes americanos que passavam na sessão da
tarde da TV aberta. Mas, infelizmente, meus
pais nunca puderam pagar um intercâmbio.
Sempre encarei o dinheiro como o maior dos
obstáculos para atingir meus objetivos. Até
entrar na Poli.
Muitos politécnicos não gostam da Poli,
de seus métodos e seus carrascos. Eu não
posso dizer o mesmo. A Poli abre muitas portas
para aqueles que as procuram. Não me refiro
só ao tão quisto e suado diploma de engenheiro
que todos, ou quase todos, conseguem no final.
A Poli oferece muitas oportunidades para que
os alunos evoluam além do esperado, cada um
a sua maneira. E a oportunidade que agarrei
com unhas e dentes foi a de realizar um duplo
diploma.
Parti para a França sentindo receio do
novo, mas cheia de adrenalina para aproveitar
ao máximo essa oportunidade única que tive.
Ainda hoje, às vezes, não acredito que
aconteceu comigo.
Logo que cheguei, fiz o intensivo de
francês que a escola paga aos alunos
estrangeiros. Para se ter uma noção do meu
nível de francês na época, eu me deparei com
13 chineses numa sala para 14 pessoas!
Tive muita dificuldade com a língua no
começo, a fonética é praticamente impossível
de ser pronunciada impecavelmente e os
franceses são muito exigentes. Eles faziam
caretas diversas enquanto eu falava, parecia
que realmente faziam esforço pra me entender.
Mas em 6 meses eu me acostumei e não ligava
mais para as caretas! E, é lógico, meu nível de
francês evoluiu muito com o tempo. Ao final do
primeiro ano, eu já conseguia ganhar as
discussões com meu namorado francófono da
época. Foi aí que eu aprendi: você só sabe se
é fluente numa língua quando consegue discutir
com alguém estando sóbrio!
Além da língua, tive outras dificuldades.
O nível de matemática e física dos europeus e
dos orientais é elevadíssimo, por exemplo. Os
professores partiam do pressuposto que todo
mundo tinha o mesmo nível de conhecimento
nestas ciências. Só que não. Precisei estudar
muito para conseguir acompanhar o ritmo de
algumas matérias.
Fora a complexidade de alguns cursos, o
sistema francês é muito bom pra quem
ingressou num curso de engenharia sem ter
muita certeza do que queria realmente. A
porcentagem de matérias optativas é muito
maior e sem muitas restrições (fiz curso de
design industrial e tenho amigos que fizeram
curso de ética). É tão mais personalizado que o
diploma é um só para todas as engenharias,
saímos de lá todos com um Diplôme
d’Ingénieur, a única diferenciação está num
“anexo”, o qual explicita as matérias que cada
um fez e as competências que (supostamente)
adquiriu assim.
Mudar um pouco do sistema politécnico,
aprender coisas novas e até mesmo reaprender
o que eu pensava que já sabia foi o que eu
ganhei academicamente com o intercâmbio.
Mas quero deixar claro que isso não representa
nem 10% da bagagem que acumulei naqueles
3 anos.
14
A vida no exterior é solitária e ao mesmo
tempo não é. A École des Ponts recebe mais de
70 estrangeiros por ano. Todos longe de suas
famílias e, para muitos, era a primeira
experiência de sair de debaixo das asas
quentinhas e seguras de nossos pais.
Como estávamos na mesma situação,
nós nos aproximamos mais facilmente uns dos
outros e acabamos, assim, fazendo amizade
com pessoas completamente diferentes de nós
mesmos. E aprendemos muito com elas.
Conheci uma
iraniana que usou
véu a vida inteira e
precisou da
autorização de seu
pai para sair de seu
país. Fiz amizade
com um garoto do
Burkina Fasso que
estava há 6 anos
sem ver sua família
porque não tinha
dinheiro, mas como
o diploma era a
esperança de um
futuro melhor para
eles, não queria
sacrificar seus
estudos por mera
saudade. Pessoas
com culturas e
realidades tão
distintas, cada uma
com algo de
especial e precioso
para dividir. Fiz
amigos para a vida
toda.
Não conheci só pessoas maravilhosas,
não. Também conheci pessoas difíceis,
mimadas, preconceituosas, tipos que
acreditavam que sua cultura e religião eram
melhores que as minhas. Discuti e fui
subestimada por ser mulher, fui maltratada por
ser morena e fui ignorada por ser estrangeira. A
vida não foi fácil.
Todos os sentimentos eram
intensificados à flor da pele. Todo caso era
paixão e toda amizade era pra sempre. Mas
assim como todo momento de alegria era o
mais feliz de nossas vidas até então, toda
tristeza era um drama para se chorar em
conjunto! Talvez, por não ter sido simples e por
ter sido tão intenso, é que foi tão bom.
Cresci e passei a ver minha vida, as
pessoas ao meu redor e eu mesma de uma
forma diferente. Percebi que o céu parece
pequeno para quem está dentro de um poço,
mas imenso para
aquele que decide
sair.
Hoje em dia,
todo mundo faz um
intercâmbio de x
semanas numa
estação de ski ou
numa cadeia
americana de
restaurantes. E
muitas empresas
(pelo menos o RH
delas) encaram
essas experiências
da mesma forma
que encaram a
minha. Essa é a
dura realidade. Mas
o que eu carrego
comigo é muito
maior; e quem
entende o
significado de fazer
faculdade e
estagiar no exterior
sabe a diferença e a valoriza.
Por tudo isso que compartilhei aqui, e por
muito mais, que dou este conselho: se você
puder, saia da sua zona de conforto e vá
descobrir o mundo! Aproveite o que a Poli
oferece! Dê o melhor de si para que você
efetivamente se torne o melhor que pode ser.
Nem o céu é o limite!
Luana Conceição de Oliveira
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Decomposição de uma alma
Corpo que quer ver humanos, que quer ver a rua,
Que quer ouvir uma conversa de um casal na esquina,
Que quer ver um homem fumar um cigarro,
Que quer ver nada, a escuridão.
Corpo que quer escutar uma música, não pensar em nada,
Que quer sentir um beijo nos lábios, mas não corresponde,
Que sente os braços entrando em decomposição,
Corpo que mente, se mete e não se sente.
Tórax cheio, peito seco, nunca mais chorou,
Pois o corpo é cansado, preguiçoso, sem emoção.
Mãos imóveis, mortas, presas a um cadáver ainda vivo,
Vivo na flor da idade, morto pela sociedade.
Olhos que querem ver a vida, pra não pensar na sua,
Pés que querem andar, mas não têm força,
Mente tenta pensar, mas só vem amargura,
Corpo que quer levantar, mas faleceu.
Renata Stabenow Jorge
3º ano - Engenharia Civil
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