centro de ciÊncias biolÓgicas e da saÚde i sssnn … · estÁgio especÍfico em psicologia do...
TRANSCRIPT
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
PROFa Dra BERENICE CARPIGIANI Diretora do CCBS
PROF. Dr. ERICH MONTANAR FRANCO
Coordenador do Curso de Psicologia
Organização
Prof. Dr. Aurélio Fabrício Torres de Melo
Profª Drª Claudia Stella
v.6,n.2.jul./dez. 2016
ANAIS
XXIV SEMINÁRIO DE PRÁTICAS
SUPERVISIONADAS
IISSSSNN 11998844--88554444
CCeennttrroo ddee CCiiêênncciiaass BBiioollóóggiiccaass ee ddaa SSaaúúddee-- CCCCBBSS
CCuurrssoo ddee PPssiiccoollooggiiaa
CCeennttrroo ddee CCiiêênncciiaass BBiioollóóggiiccaass ee ddaa SSaaúúddee-- CCCCBBSS
CCuurrssoo ddee PPssiiccoollooggiiaa
PRÁTICAS EM TEXTOS:
Relatórios de estágios em
Psicologia
psicologia
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE PSICOLOGIA
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia
XXIV Seminário de Práticas Supervisionadas
V. 6, n. 2. jun./dez. 2016. ISSN 1984-8544
3
INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE
ENTIDADE MANTENEDORA
Diretor-Presidente Jose Inácio Ramos
Diretor de Desenvolvimento Humano e Infraestrutura José Francisco Hintza Júnior
Diretor de Finanças e Responsabilidade Social José Paulo Fernandes Júnior
Diretor de Operações de Educação Básica Francisco Solano Portela Neto
Diretor de Estratégia e Negócios André Ricardo de Almeida Ribeiro
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Chanceler Rev. Dr Davi Charles Gomes
Reitor Dr Benedito Guimarães Aguiar Neto
Vice-Reitor Dr. Marco Tullio de Castro Vasconcelos
Secretário Geral Eng Nelson Callegari
PRÓ-REITORIA DECANATO DE GRADUAÇÃO E ASSUNTOS ACADÊMICOS
Dr Cleverson Pereira de Almeida
PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO E EDUCAÇÃO CONTINUADA
Dr. Sergio Lex
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Drª Helena Bonito Couto Pereira
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
Drª Berenice Carpigiani – Diretora do CCBS
Dr. Erich Montanar Franco – Coordenador do Curso de Psicologia
4
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia
XXIV Seminário de Práticas Supervisionadas
V. 6, n. 2. jul./dez. 2016. ISSN 1984-8544
5
Conselho Científico Externo Profª Drª Elisa Medici Pizão Yoshida – PUCC Profª Drª Eliana Herzberg – IPUSP Profª Drª Leila Cury Tardivo – IPUSP Prof Dr Marcelo Afonso Ribeiro – IPUSP Profª Maria da Conceição Coropus Uvaldo – IPUSP Profª Drª Maria Salete Lopes Legname Paulo – UMESP Profª Drª Tania Maria Aielo Vaisberg – PUCC Comissão Científica Interna Profª Drª Angela Biazi Freire Prof Dr Marcos Vinicius de Araújo Profª Ms Lourdes Santina Tomazella Prof Dr Luiz Renato Rodrigues Carreiro Profª Drª Berenice Carpigiani Profª Ms Susete Figueiredo Bacchereti
Editores Acadêmicos
Drª Claudia Stella
Dr José Estevam Salgueiro
Endereço para correspondência Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Rua Consolação, 930 – Edifício 38 – Térreo São Paulo – SP – 01239-902 Telefone: (11) 2114-8142 e-mail: [email protected]
Práticas em texto: relatórios de estágios em psicologia. - V. 6, n. 2. jul./dez. 2016
São Paulo: Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2016.
Semestral ISSN 1984-8544
1. Psicologia. I. Universidade Presbiteriana Mackenzie. Curso de Psicologia
6
EDITORIAL
É com prazer que apresentamos mais um número de “Práticas em Textos: relatórios de
estágios em psicologia”, com os trabalhos apresentados e discutidos no XXIV
Seminário de Práticas Supervisionadas. Realizadas por alunos em sua última etapa de
formação e supervisionadas por professores em suas áreas de atuação, as atividades
desenvolvidas em diferentes modalidades de estágios explicitam diversidades da
experiência humana e podem oferecer subsídios para a reflexão sobre o sempre
instigante desafio da atuação dos psicólogos em nossa sociedade.
Boa leitura a todos!
Claudia Stella
Aurélio Fabrício Torres de Melo
Editores Acadêmicos
7
SUMÁRIO
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL: SUPER MÁRIO: CONSTRUINDO CAMINHOS PARA O TÉRMINO DA PSICOTERAPIA. 7. ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL: MUDANÇA DE
HÁBITOS. 12.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO: PADRÃO DE
ATENDIMENTO PARA UM COMÉRCIO DE ALIMENTOS. 17.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO: DE COMO UM
PRECONCEITO É SUBJETIVADO: UMA HISTÓRIA DE REJEIÇÕES. 23.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA ANALÍTICA: O HERÓI LOBO: A SAGA DO
DESENVOLVIMENTO MASCULINO. 27.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA: VIOLÊNCIA: ATENDIMENTO
PSICOJURÍDICO NA COMUNIDADE DE VILA PRUDENTE. 33.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL: O EMPREGO DA
AUDIÊNCIA NÃO PUNITIVA COMO ESTRATÉGIA FACILITADORA NA EXPRESSÃO DO
SOFRIMENTO. 39.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA: RESGATE DA MEMÓRIA
HISTÓRICA COMO ESTRATÉGIA DE DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO. 43
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE: ESCUTA CLÍNICA E
EMPODERAMENTO: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NO CRM. 50.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: DO JOVEM AO REFUGIADO: A
DIVERSIDADE EM BUSCA DA ESCOLHA PROFISSIONAL. 54.
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DO ESPORTE: APRIMORAMENTO DA
MOTIVAÇÃO, CONTROLE EMOCIONAL E A DISTRIBUIÇÃO DE PAPÉIS EM UMA EQUIPE
DE FUTSAL MASCULINO UNIVERSITÁRIO. 59.
8
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL1
SUPER MÁRIO: CONSTRUINDO CAMINHOS PARA O TÉRMINO DA PSICOTERAPIA
Ana Carolina A. Curvo
Mariana F. Pelais
Prof.ª Dr.ª Lucia Cunha Lee
Apresentação da área de estágio
Os atendimentos clínicos em Psicoterapia Breve Infantil (PBI) realizados no Serviço-
Escola da Universidade Presbiteriana Mackenzie são acompanhados por uma dupla de
estagiários, sendo que um deles atende a criança semanalmente e o outro atende os
pais quinzenalmente.
Dessa maneira os atendimentos na área de PBI são conduzidos de forma que o
psicoterapeuta inclua manejos técnicos de intervenção que acolham as contínuas
mobilizações e demandas de ambas as partes durante o processo psicoterapêutico.
Introdução teórica
O processo psicoterápico com crianças envolve diferentes fases que são vivenciadas a
partir de um campo de trabalho que se desenvolve entre a criança e o psicoterapeuta
pautado na consolidação de uma aliança terapêutica.
Dessa forma é imprescindível que o psicoterapeuta esteja atento as características da
criança e disponível para acolher os conteúdos expressos, de diferentes formas, pelo
paciente. Nessa tarefa o psicoterapeuta permite o desenvolvimento de um espaço
continente e requer que “esteja conectado com seu mundo interno e com seus
próprios aspectos infantis, para ser receptivo com o rico e multifacetado mundo
interno da criança” (CASTRO, M; STURMER, A; 2009, p.113).
1 Supervisores da área: Lourdes Santina Tomazella, Lucia Cunha Lee, Maria Regina Brecht Albertini.
9
Além disso, é fundamental que, simultaneamente, envolva o acompanhamento dos
pais com o propósito de ajudá-los a compreender as dificuldades que se apresentam e,
assim, possam se reajustar às necessidades de desenvolvimento de seus filhos.
Ao longo do processo, psicoterapeuta e criança percorrem e vivenciam diferentes
fases até que se estabelece a decisão pelo encerramento do tratamento. Nessa
situação o psicoterapeuta avalia as condições do paciente para a finalização do
processo e, após a comunicação, se estende um período no qual são trabalhadas as
questões relacionadas ao término.
Essa fase final possibilita que o psicoterapeuta e a criança revejam o processo
psicoterápico, permitindo que avaliem “conquistas obtidas ao longo do processo, bem
como analisar objetivos que não puderam ser atingidos total ou parcialmente. É uma
etapa de ‘balanços’ e de elaboração da separação” (CASTRO, M; STURMER, A; 2009, p.
111)
A preparação para a separação, na fase final do atendimento, também marca o início
de um novo momento para o paciente em que os aspectos e conflitos trabalhados na
experiência psicoterápica possam lhe dar sustentação para enfrentar por si só as
situações diversas futuras.
Objetivos
O objetivo desse trabalho foi apresentar o processo de término de um atendimento
em Psicoterapia Breve Infantil perpassado pela construção de um jogo de tabuleiro.
Método
Sujeito
O atendimento em Psicoterapia Breve Infantil foi realizado com uma criança de 10
anos de idade e atendimento com sua mãe de 27 anos.
Instrumento
Os atendimentos foram realizados semanalmente com a criança e foram utilizadas
atividades lúdicas, jogos e desenhos visando fomentar verbalizações e associações
10
livres por parte da criança. Com a mãe, foram realizadas entrevistas quinzenais que
tiveram função exploratória e interventiva.
Procedimento
O atendimento da criança foi realizado em três fases distintas: a diagnóstica, no
primeiro semestre de 2011; a primeira fase terapêutica em PBI iniciada em 2011 e
concluída em 2012, momento em que houve o encerramento do caso.
Houve reabertura do caso, a pedido da mãe e uma nova fase terapêutica foi iniciada
em fevereiro de 2016 e encerrada em maio de 2016, período que contempla as
informações dessa comunicação. Essa fase foi composta de 13 sessões semanais com a
criança e 9 com a mãe e uma sessão conjunta com a criança, a mãe e a psicoterapeuta
para encerramento do processo de PBI.
Discussão do caso
Ao retomar os atendimentos na clínica, em 2016, iniciou-se uma nova fase terapêutica
na qual a mãe trouxe como principal queixa a agressividade, comportamento
apresentado pelo filho, tanto em casa como na escola.
O paciente chegou para os atendimentos resistindo ao contato com a estagiária, pouco
falava, mostrava sua insatisfação em estar ali, porém se envolvia com os jogos
utilizados no atendimento.
Os jogos foram a principal atividade lúdica da criança na psicoterapia e, ao longo dos
atendimentos, passou a ser um importante mediador na relação da criança com a
estagiária. No início a criança mostrava-se bastante ansiosa, não sentava para jogar,
escolhia e distribuía as peças e acompanhava o placar do jogo nas partidas como
tentativa de controlar a situação e se favorecer.
A comunicação com a estagiária era restrita e, durante as partidas, o paciente
comentava as jogadas, cantava, reproduzia bordões de programas de televisão, mas
era como se falasse sozinho e ao final das sessões ignorava a terapeuta, não se
despedia, marcando o seu distanciamento.
11
No decorrer do processo, o paciente passou a comentar as jogadas com a terapeuta,
diminuindo também o controle sobre os jogos. A criança começou a contar sobre seus
interesses, trazer brinquedos, desenhos de casa para mostrar à estagiária e passou a
responder quando a terapeuta se despedia e, com o tempo, beijá-la ao final das
sessões.
Com relação ao processo de acompanhamento da mãe, a temática inicial das sessões
focaliza a escassez de tempo que ficava em casa, devido ao horário extenuante de
trabalho que a deixava muito cansada e comprometia seu relacionamento com o filho,
pois ficava com pouca paciência. Durante os atendimentos, a mãe continuou a refletir
sobre sua relação com o filho e empenhou-se em buscar estratégias para melhorar a
comunicação e a convivência, processo que foi facilitado devido ao fato da mãe ter
sido demitida do emprego e ter mais tempo para realizar as atividades com a criança,
inclusive jogar.
Nos últimos dois meses de atendimento, a criança decidiu, junto com a estagiária,
produzir seu próprio jogo de tabuleiro baseado nos jogos de videogame do Super
Mário, personagem com o qual a terapeuta também era familiarizada. Essa atividade
estreitou a relação entre o paciente e a terapeuta, potencializando a expressão dos
desejos da criança, bem como de sua criatividade, motivação e a oportunidade de
adaptar suas ideias as reais possibilidades de execução e confecção do jogo, no
cotidiano dos encontros.
A confecção do jogo continuou como um importante mediador, quando foi
comunicado o encerramento da psicoterapia. No início a criança reagiu querendo
abandonar a construção do jogo, mas conforme a terapeuta pode enfatizar a evolução
e melhora do paciente, a construção do jogo pode ser retomada e realizada até a
última sessão. No último atendimento aconteceu uma sessão conjunta com a criança,
a mãe e a estagiária na qual o paciente pode apresentar o jogo para a mãe e convidá-la
para jogarem juntos. Ao final dessa sessão, o paciente levou o jogo para casa o que
serviu como marco para o encerramento dos atendimentos.
Considerações finais
12
Por meio desse mediador comum, o jogo, o paciente desenvolveu a capacidade de
estar junto com o outro, resolver problemas e lidar com desafios que eram
apresentados ao longo dos atendimentos.
Ao finalizar o jogo em conjunto com a estagiária, o paciente simbolizou o término da
psicoterapia, levando-o como lembrança do processo e da experiência compartilhada
com a estagiária.
Palavras chave: psicoterapia com crianças, atividades lúdicas, término da psicoterapia;
Referências
CASTRO, M.G.K, STÜRMER, A. e col. Crianças e adolescentes em psicoterapia: a
abordagem psicanalítica. Porto Alegre, Artmed, 2009.
13
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL2
MUDANÇA DE HÁBITOS
Cauê Gaal dos Santos
Fernando de Paula Ensinas
Profª. Susete Figueiredo Bacchereti
Apresentação da área de estágio
Conforme previsto pelo Conselho Federal de Psicologia, CFP (2013), atribuem-se ao
psicólogo, ao atuar na área da psicologia escolar e educacional, as funções de: analisar
o campo de relações sócio-política-pedagógicas para a melhoria das condições do
processo educacional, atuar na direção da ampliação da qualidade do processo
educacional, através de práticas coletivas que potencializem pessoas e grupos da
comunidade escolar e compartilhar a prática e o conhecimento desenvolvido pela
Psicologia, socializando saberes e ampliando as possibilidades de atuação.
O trabalho desenvolvido ao longo do estágio de psicologia escolar e educacional foi
norteado pelas atribuições destacadas acima, a fim de promover aos estagiários uma
experiência de atuação, aliando teoria e prática.
O estágio ocorre ao longo de dois semestres. O primeiro é destinado a conhecer a
instituição, levantar as demandas da mesma e criar um projeto de intervenção, com
base nas demandas observadas. No segundo semestre, o projeto de intervenção é
colocado em prática pelos estagiários.
Introdução teórica
Compreender a violência escolar é uma tarefa difícil, pois ela pode derivar de inúmeros
fatores, como: o cultural, econômico, social, histórico e individual. 2 Supervisores da área: Marcos Vinicius de Araújo; Rinaldo Molina; Roseli Fernandes Lins Caldas; Susete
Figueiredo Bacchereti.
14
Entretanto, para discuti-la é necessário, primeiramente, entender a violência fora do
âmbito escolar. Segundo Stelko-Pereira e Willian (2010), referindo-se à Organização
Mundial da Saúde, a violência é dividida em quatro tipos: física, psicológica, sexual e
por negligência. A física esta ligada a atos que levam a danificar a integridade física do
outro, como socos, tapas, arranhões, beliscões e etc. A violência psicológica é aquela
que pode causar danos emocionais, como ameaças de agressões físicas, entre outras
atitudes que podem levar ao medo, sentimento de inferioridade e etc. Violências
sexuais são atitudes sem consentimento do outro, que podem ter, ou não, a
penetração, por exemplo: acariciar a genitália, mamas, atos pornográficos. Negligência
é a omissão perante a violência cometida ao outro ou perante a destruição de
materiais em uma instituição.
Stelko-Pereira e Willian (2010) afirmam que essas formas de violência citadas acima,
dentro do âmbito escolar, caracterizam a violência escolar. Além dessa violência,
existem outras práticas que são aplicadas, normalmente, dentro do ambiente escolar,
como o bullying. O bullying, segundo os autores, é caracterizado por uma violência,
seja esta física, psicológica ou sexual, que é executada repetidamente, com o intuito
de causar sofrimento. Geralmente é cometido por crianças que tem um poder sobre o
outro, pode ser por popularidade, força física, dentre outros. O projeto de intervenção
tem o intuito de reduzir a incidência não somente do bullying, com de qualquer outra
violência na escola.
Ainda conforme Stelko-Pereira e Willians (2010) considera-se que diversos aspectos
podem gerar a violência escolar, dentre eles estão: às características do indivíduo, ou
seja, histórico de vida, convívio familiar, deficiência física ou mental, entre outros; as
características da instituição, como as ideologias da instituição e método de ensino; e a
sociedade em que a instituição de ensino está inserida, por exemplo, a presença de
muito preconceito e/ou desigualdade econômica nessa sociedade, podem ser fatores
para desencadear atos violentos.
A escola é uma das instituições que mais estimulam a socialização das crianças e
adolescentes e a aceitação dos pares é fundamental para a saúde desses jovens, no
entanto a violência escolar pode gerar um sentimento de insucesso escolar e/ou
15
profissional, menosprezo da vida e até comprometimentos emocionais (SAMDAL, DUR
e FREEMAN apud MENDES, 2010).
Conforme referido por Pereira e Neto (apud MENDES, 2010, p. 72), além desses
prejuízos, a violência pode causar:
“dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder, com
consequências negativas a curto e a longo prazo na saúde e vida de todos os
envolvidos: agressores, vítimas e observadores, as quais podem causar dificuldades
acadêmicas, sociais, emocionais e legais.”
Considera-se de suma importância realizar trabalhos e intervenções que visem reduzir
as práticas violentas na escola, a fim de promover uma melhor qualidade de
desenvolvimento escolar e pessoal, bem como um ambiente confortável, acolhedor e
seguro para estudar e interagir com seus pares.
Objetivo
O projeto de intervenção teve como objetivo reduzir a incidência de práticas de
violência, sejam estas físicas, psicológicas ou sexuais, bem como a negligência a estas.
Método
No decorrer das visitas à instituição, realizadas no primeiro semestre do estágio, foi
possível perceber uma grande preocupação dos profissionais em relação à violência na
escola, que se faz presente em todas as turmas.
Escolheu-se realizar a intervenção com a turma do quarto ano C, pois esta é
considerada pelos funcionários da escola como a turma que apresenta maior índice de
violência e, portanto, demanda maior atenção e necessidade de um trabalho voltado a
este âmbito, com o intuito de reduzir as práticas violentas e proporcionar melhores
relações.
Para tanto, no segundo semestre foram realizadas doze visitas a instituição, uma a
cada semana, sendo as duas primeiras destinadas à retomada da proposta de
intervenção, apresentada no semestre anterior, e ao reestabelecimento de vínculos, e
as dez seguintes destinadas à realização das atividades que compõe a proposta de
16
intervenção. Cada atividade possui duração aproximada de cinquenta minutos e
consiste em realizar com os alunos alguma dinâmica que evoque determinado tema e,
em seguida, realizar uma roda de conversa a fim de promover a reflexão a respeito do
tema abordado.
Discussão
A partir de uma observação interventiva, entendeu-se que o melhor a fazer era um
trabalho para diminuir a agressividade observada nos intervalos e dentro da sala de
aula. Optou-se por focar no grupo do quarto ano, pois se trata de uma turma que os
funcionários e professores possuem mais dificuldade de lidar.
Ao longo do projeto, foi possível perceber o envolvimento dos alunos, sendo a maioria
dos encontros satisfatórios em levantar a reflexão com a sala e, como consequência,
levá-los a pensar sozinhos nas questões de respeito ao colega, entender que o outro
pensa diferente e nem por isso ele é pior, ou melhor. Surgiram, também, relatos dos
problemas vividos fora da escola por parte das crianças, como briga entre os pais,
familiares presos entre outros.
Constatou-se, ainda antes do término do processo, alguns avanços significativos, por
exemplo: as crianças se sentiram com voz para falar dos seus problemas fora da
escola; a turma advertia os alunos que estavam fazendo bagunça, mostrando que eles
podem resolver alguns problemas entre si, sem violência; funcionários comentaram
sobre a melhora de alguns alunos específicos e a professora de artes afirmou que pela
primeira vez conseguiu concluir uma atividade com o quarto ano.
Além dos progressos com o quarto ano, pôde-se perceber uma diminuição
considerável nas brigas durante o intervalo de aula e que os portões que levam às
quadras passaram a ficar mais tempo abertos, sendo isso muito bom para as crianças
liberarem suas energias nos jogos e esportes.
Considerações finais
Evidencia-se que a proposta de intervenção realizada pelos estagiários foi muito bem
recebida pelos profissionais e alunos, e que foi capaz de atingir o objetivo a que se
propôs, reduzindo a incidência de práticas violentas dentro da escola.
17
Vale ressaltar que este é um trabalho que deve ter continuidade e ser estendido a
todo o ambiente escolar, uma vez que se percebe o quanto os alunos da presente
escola são vulneráveis a comportamentos violentos. A violência ocorre em todas as
turmas e, por mais que se tenha avançado em sua redução, muito ainda pode ser feito
a respeito.
É possível afirmar, também, que a experiência de estágio contribuiu significativamente
para o crescimento profissional e pessoal dos estagiários, enriquecendo seus
conhecimentos a respeito da atuação prática de um psicólogo em contexto escolar.
Palavras-chave: Psicologia educacional; Violência escolar; Estágio interventivo.
Referências
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, Referências técnicas para Atuação de
Psicólogas(os) na Educação Básica, 1. Ed. Brasília: CFP, 58p. 2013.
MENDES, C.S., “Violência na escola: conhecer para intervir”, Revista Referência, Série
II, nº 12, p. 71-82, 2010.
STELKO-PEREIRA, A.C. e WILLIAMS, L.C.A., “Reflexões sobre o conceito de violência
escolar e a busca por uma definição abrangente”, Temas em Psicologia, v. 18, n. 1, p.
45-55, 2010.
18
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO3
PADRÃO DE ATENDIMENTO PARA UM COMÉRCIO DE ALIMENTOS
Mariana Ferreira Peres Moreno e
Marianne Aparecida Martins
Prof. Dr. José Estevam Salgueiro
Apresentação da área de estágio
O projeto de intervenção que será apresentado neste texto refere-se ao estágio de
Psicologia Organizacional e do Trabalho realizado em uma Panificadora e Restaurante.
De modo geral, o termo Psicologia Organizacional e do Trabalho foi:
[...] empregado desde a década de 90 e tem por objetivo contemplar a atual
diversidade da área, de modo a propor a existência de dois grandes eixos de
fenômenos que envolvem aspectos psicossociais: as organizações, enquanto
ferramenta social formadora de coletivos humanos e o trabalho, enquanto atividade
básica do ser humano reprodutora de sua própria existência e da sociedade (BASTOS,
2003 apud TONETTO et al., 2008, p.165).
As duas áreas são importantes para atuação e pesquisa em Psicologia e dentro desse
contexto está inserido o projeto de intervenção. Durante a graduação, os alunos
adquirem aprendizagem para a formação, mas sem dúvidas, a experiência de estágio é
fundamental para uma maior amplitude dos conhecimentos providos deste processo.
3 Supervisores da área: Andréia de Conto Garbin, Daniel Branchini, Liliane de Paula Toledo, José Estevam
Salgueiro
19
A finalidade é fornecer um espaço para que os alunos tenham um contato com o
ambiente organizacional e que possam desenvolver um projeto de acordo com as
necessidades da organização e articular com elementos teóricos da formação.
Introdução teórica
A Panificadora e Restaurante onde foi realizado o estágio é parceira da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Foi inaugurada em janeiro de 2011, na zona leste da cidade
de São Paulo, abre às 06 horas e fecha às 21 horas.
A instituição é considerada de pequeno porte, foi aberta devido à oportunidade de
negócio que os sócios/irmãos encontraram, portanto, é uma empresa familiar, mas
não foi herdada. Deste modo, a organização se encontra dentro do conceito de
Bernhoeft (1991 apud FREIRE et al., 2010) em que “empresa familiar agrupa não
somente as empresas administradas há pelo menos duas gerações de uma mesma
família, mas sim, empresas que mantenham membros da família na administração”
(p.7).
A termo de curiosidade, o setor de panificação tem alta representatividade no Brasil e
de acordo com Barros et al. (2016, p.1) “tem uma participação de 7% na Indústria de
transformação. Na Indústria de Produtos Alimentares chega a representar 36,2%”.
Para conhecer a demanda existente nessa organização, optou-se por conhecer melhor
a instituição como um todo, pois como dito por Lourau (1995, p.283) “o substrato
material, a infraestrutura organizacional da instituição, sua materialidade fala mais
forte que os discursos articulados”.
Assim, o primeiro semestre de estágio possibilitou uma análise da instituição que
contou com a elaboração de um fluxograma do atendimento via balcão, cardápio e
encomenda, observação sistemática das dependências físicas (cozinha, padaria,
restaurante, local de almoço dos funcionários, banheiros, vestiários e o cartão de
ponto), como também da clientela (idade, público alvo, sexo e nível socioeconômico)
e, por último, análise dos postos balcão/copa, balcão/chapa e o buffet de alimentação
com auxílio do método de análise das condições de trabalho e perfil dos postos
20
elaborado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UNIVERSIDADE FEDERAL
DO RIO GRANDE DO SUL, 2016).
A partir da análise da instituição, a proposta de intervenção consistiu na criação de um
padrão de atendimento que, de acordo com os autores Barbosa, Trigo e Santana:
O atendimento está diretamente ligado aos negócios que uma organização pode ou
não realizar, de acordo com suas normas e regras. A qualidade no atendimento é a
porta de entrada de uma empresa, na qual a primeira impressão é a que fica. O cliente
em primeiro lugar é à base da filosofia da qualidade total, em conformidade com a
atual administração (2015, p.113).
Objetivos
9º semestre: Analisar a instituição e estabelecer uma proposta de intervenção.
10º semestre: Criar um padrão de atendimento para cada posto de trabalho
estudado.
Método
9º semestre:
Instrumentos: Observação sistemática do ambiente de trabalho, análise dos postos e a
realização de entrevistas semidirigidas para conhecer os procedimentos da dinâmica
organizacional.
Procedimentos: Os dados levantados foram registrados nos relatórios parciais de
estágios e levados para discussão no grupo de supervisão. A partir daí, procedeu-se à
elaboração de uma análise institucional, da proposta de padrão de atendimento,
escala de limpeza e da devolutiva à empresa.
10º semestre:
Instrumentos: BenchMarking - Análise do padrão de atendimento de duas
Panificadoras e restaurantes concorrentes na região e leituras bibliográficas para
auxiliar na criação do manual.
21
Procedimentos: Os dados levantados foram registrados nos relatórios parciais de
estágios e levados para discussão no grupo de supervisão. Foi construído o padrão de
atendimento para cada posto de trabalho estudado no primeiro semestre.
Discussão
Durante o estágio, foi observado que há picos de atendimento. No período do almoço,
todos os postos de trabalho estão ativos com uma frequência alta de pedidos, o qual
não pode haver erros, pois há atraso e resulta em uma insatisfação dos clientes. Posto
isso, houve a ideia da proposta de elaboração de um padrão de atendimento, para que
os funcionários tenham um direcionamento e não ocorra erros no processo.
Após o período de pico, há diminuição do atendimento, fazendo com que os
funcionários se dirijam a atividades exclusivamente de limpeza. Diante disso, foi
notado que as atendentes deixam de prestar atenção no salão para se concentrar nas
atividades desse propósito, sendo que é negativo na visão do cliente que aguarda até o
funcionário observar que ele se encontra no local. Assim, foi proposto para o gestor e
para o gerente uma escala semanal de limpeza para intervir nessa situação e eles
aceitaram.
Em última análise, foi observado rigidez na cultura organizacional que por sua vez,
Mendes (2010 apud ISRAEL, 2011, p.57) “afirma que com base na cultura
organizacional a empresa cria sua personalidade, podendo ser definida como rígida ou
flexível, apoiadora ou hostil, inovadora ou conservadora, de cultura forte ou fraca”.
Desse modo, a personalidade rígida da instituição faz com que o poder se encontre
unicamente nas mãos dos sócios, com exceção de uma autonomia maior para o
gerente, sendo esse o cargo de maior responsabilidade e com um maior número de
tarefas.
Por fim, a conclusão do estágio consistiu na entrega dos manuais de cada posto
estudado para o gestor e assim, ele dará continuidade com a aplicação. Além disso, foi
elaborado cartazes que contém itens do manual para o lançamento de campanhas e
conscientização dos funcionários.
22
Considerações finais
O estágio em Psicologia Organizacional e do Trabalho colaborou para o aprendizado
prático, ampliando a compreensão acerca dos processos de uma empresa, sem deixar
de mencionar que essa experiência em particular foi em uma empresa de pequeno
porte enquadrada no ramo alimentício e varejista. Há diferença nos processos de uma
empresa para outra, mas que sem dúvidas, não retira a grandeza do aprendizado.
Palavras-chave: padrão de atendimento, comércio alimentício, Psicologia
Organizacional e do Trabalho
Referências
BARBOSA, Talita Dantas; TRIGO, Antonio Carrera; SANTANA, Lídia Chagas de.
Qualidade no atendimento como fator de crescimento empresarial. Revista de
Iniciação Científica – Ric Cairu, Salvador, v. 2, n. 2, p.112-133, jun. 2015. Disponível
em:<http://www.cairu.br/riccairu/pdf/artigos/2/08_QUALIDADE_ATENDIMENTO_FAT
OR.pdf>. Acesso em: 15 set. 16.
BARROS, Bruna Cavalcanti et al. Análise e projeto de trabalho na Panificadora da
Arquidiocese da Paraíba. p.1-5. Projeto de Extensão -Universidade Federal da Paraíba,
PB. Disponível em: <
http://www.prac.ufpb.br/enex/trabalhos/7CTDEPPROBEX2013763.pdf> Acesso em 23
de maio de 2016.
FREIRE, Patricia de Sá et al . Processo de sucessão em empresa familiar: gestão do
conhecimento contornando resistências às mudanças organizacionais. JISTEM
J.Inf.Syst. Technol. Manag. (Online), São Paulo, v. 7, n. 3, p. 713-736, 2010.
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1807-
17752010000300011&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 22 Fev. 2016.
ISRAEL, Sheila Mirian Barbosa. Culturas organizacionais abertas: a comunicação
interna como sustentáculo. 2011, p.1-78. Trabalho de Conclusão de Curso
(Administração com habilitação em comércio exterior) – Faculdade São Miguel, Recife.
Disponível em: < http://www.faculdadesaomiguel.com.br/pdf/revista-
23
conceito/n2/administracao/culturas-organizacionais.pdf> Acesso em 23 de maio de
2016.
LOURAU, René. A análise institucional. 2. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
TONETTO, Aline Maria et al . Psicologia organizacional e do trabalho no Brasil:
desenvolvimento científico contemporâneo.Psicol. Soc., Porto Alegre , v. 20, n. 2, p.
165-173, Aug. 2008 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
71822008000200003&lng=en&nrm=iso> Acesso em 14 de setembro de 2016.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL. O perfil dos postos de trabalho:
método de análise das condições de trabalho.Disponível em: <
http://www.producao.ufrgs.br/arquivos/disciplinas/395_metodo_renault.pdf> Acesso
em: 20 de março de 2016.
24
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO4
DE COMO UM PRECONCEITO É SUBJETIVADO: UMA HISTÓRIA DE REJEIÇÕES
Carla Kitz Martins
Prof. Dr. Aurélio Fabrício Torres de Melo
Apresentação da área de estágio
A psicoterapia breve de orientação psicanalítica tem objetivos limitados de caráter
interpretativo ou de insight (elaboração do conteúdo inconsciente), podendo ser
empregada em indivíduos com suficiente capacidade egóica (BRAIER, 1991).
Contudo, apesar de não ser tão abrangente, não é menos eficaz, visto que pode causar
mudanças significativas na estrutura psíquica do paciente. Isto porque, a tomada de
consciência favorece a reflexão, podendo levar à ressignificação e à mudança de
padrões comportamentais em relação aquilo que causa sofrimento ao paciente.
Introdução teórica
O neurótico-obsessivo luta em duas frentes: contra fantasias e desejos
sadomasoquistas, fazendo com que o ego dispenda considerável energia psíquica a fim
de manter as defesas de repressão e formação reativa, bem como, luta contra um
superego cruel que exige uma conduta masoquista ou tirânica (ZIMERMAN, 2004). O
conflito pela busca do perfeccionismo é constante.
Assim, necessário se faz que o paciente desenvolva a capacidade de reconhecer seus
limites e do que é possível ser alcançado. 4 Supervisores da área: Aurélio Fabrício Torres de Melo, Maria Leonor Espinosa Enéas, Berenice
Carpigiani, Eduardo Fraga de Almeida Prado, Maria Regina Albertini
25
Neste caso, uma manifestação sintomática comum, ocorre quando sua mente é
invadida por “pensamentos estranhos” não obstante seu lado lógico se dê conta de
que esses pensamentos são irracionais. Apesar de, em um primeiro momento,
conseguir afastá-los, tais pensamentos tendem a voltar, fazendo com que o sujeito
tenha que gastar tempo e energia psíquica para conseguir afastá-los (ZIMERMAN,
2004).
Objetivos
Trabalhar o sentimento de rejeição e de inferioridade, principalmente nos
relacionamentos amorosos, criando no paciente a percepção de si, com suas
potencialidades e limitações, propiciando momentos de reflexão e visando possibilitar
mudanças nos comportamentos que lhe causam intenso sofrimento.
Método
Sujeito: sexo masculino, de 28 anos de idade.
Instrumento: psicoterapia breve adulta de abordagem psicanalítica.
Procedimento: através de interpretações do conteúdo inconsciente, tornar consciente
os padrões comportamentais que lhe causam sofrimento.
Discussão: articulação teórica
O funcionamento psíquico do paciente se pauta pela opinião do outro, assim é este
quem determina seus sentimentos e visão de mundo, fazendo com que esteja sempre
insatisfeito com a sua aparência e seu jeito de ser, tendo grande dificuldade de se
aceitar. Desta maneira, predominam os sentimentos de rejeição e inferioridade.
O paciente relata que junto com o sentimento de rejeição, surgem os sentimentos de
raiva e inveja que o fazem ter atitudes “ruins” (sic) com aquela pessoa que o fez se
sentir rejeitado e inferiorizado. Contudo, após esse comportamento, vem a culpa,
fazendo com que tente compensar o “mal” (sic) comportamento. Ao buscar essa
compensação, sente-se inferiorizado e rejeitado e volta a ter atitudes “más” (sic), que
por sua vez, geram culpa. Tal círculo vicioso ocorre, pois, “há uma exagerada carga de
26
pulsões libidinais ou agressivas que o ego não conseguiu processar“ (ZIMERMAN,
2004, p. 311).
Observou-se, também, uma dinâmica fantasiosa e autodestrutiva, fazendo com que
suas crenças se sobreponham ao fato concreto. Entretanto, ao longo das sessões o
paciente passou a identificar que muitas vezes ele se sente rejeitado, sem que de fato
essa rejeição tenha ocorrido, pois se trata de pensamentos irracionais.
Neste sentido:
“Este tipo de paciente está submetido a um superego que é rígido, cobrador e
ameaçador, cabe ao analista, por meio da atividade interpretativa e de conduta (como
pessoa real que é), gradativamente, transformar esse superego “mau”, em um
superego “bom”, ou seja, em um ego auxiliar (ZIMERMAN, 2004, p. 313).
Com o decorrer do processo terapêutico o paciente conseguiu ter alguns insights, o
que possibilitou que ele entrasse em contato com questões relativas à sua insegurança
e à crença de que as pessoas sempre o irão rejeitar.
Considerações Finais
Desde o início, o paciente formou um bom vínculo terapêutico com a estagiária, não se
mostrando o tempo todo defensivo, fato este que ajudou a não estagnar o processo
analítico. Durante o processo terapêutico, verificou-se que o paciente, de fato,
escutava as interpretações da estagiária e não só concordava com as interpretações no
intuito obsessivo de “ser um bom paciente”, visto que, demonstrava estar
efetivamente tentando fazer mudanças nos comportamentos que lhe traziam
sofrimento.
Talvez, pode-se concluir que, conscientemente o paciente busca nos outros o amor
(que não teve?) do pai. Ao mesmo tempo, espera, inconscientemente, a rejeição.
Assim se configura sua neurose-obsessiva: busca o amor do outro, a aceitação alheia,
mas acredita que não virá. E, na tentativa de reduzir a ansiedade da espera,
“providencia” antecipadamente a rejeição por meio de atuações.
27
Por fim, o estágio em Psicoterapia Breve Adulto possibilitou o contato com a prática
em psicologia clínica na abordagem psicanalítica. Desta maneira, ampliou a
compreensão em relação ao processo psicoterápico, tanto em relação aos conteúdos
trazidos em sessão, quando em relação ao manejo técnico das defesas e resistências
presentes no caso.
Palavras-chave: Psicoterapia Breve, neurose-obsessiva, rejeição.
Referências
BRAIER, E.A. Psicoterapia breve de orientação psicanalítica. São Paulo: Martins
Fontes, 1991.
ZIMERMAN, David E. Manual de Técnica Psicanalítica: uma revisão. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
28
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOTERAPIA ANALITICA5
O HERÓI LOBO: A SAGA DO DESENVOLVIMENTO MASCULINO
Tiago Pilotto Rodrigues Alves
Prof.ª Ms Sandra Amorim
Apresentação da área de estágio
Uma das áreas clínicas disponibilizadas no Serviço-Escola de Psicologia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie é a de Psicoterapia Breve Analítica. Este modelo psicoterápico
se baseia nas premissas e preceitos desenvolvidos por Carl Gustav Jung (1875-1961) e
pelos chamados “pós-junguianos”, autores vinculados a esta vertente teórica. Existem
várias formas de abordar o material do inconsciente dentro deste modelo clínico e,
muitas vezes, o próprio estagiário, a partir de discussões estabelecidas em supervisão,
poderá definir os recursos a serem utilizados durante a psicoterapia, a qual ocorre, na
maior parte dos casos, por meio do atendimento individual.
Introdução teórica
É possível afirmar que o objetivo último da psicoterapia junguiana é a auto realização
individual (Franz, 1999). Trata-se de descobrir e estabelecer um relacionamento com o
conteúdo psíquico que Jung chama de Si-mesmo (ou Self). O ego ajuda o Self a seguir
na direção da realização. Esta é denominada, na teoria da Psicologia Analítica,
“processo de individuação”.
Objetivos
O presente trabalho objetiva apresentar e discutir alguns aspectos clínicos do
desenvolvimento de um jovem de dezenove anos de idade em processo psicoterápico
de vertente analítica no período de um ano. Aqui abordaremos o seu processo de
transformação e desenvolvimento através da terapia que foi empreendida.
5 Supervisores da área: Ana Lucia R. Pandini, Sandra Amorim.
29
Método
Sujeito- M., 19 anos. O paciente foi adotado com um ano, por mãe solteira. Segundo
esta, a mãe biológica era dependente química e faleceu alguns anos depois. M. tem
uma irmã mais velha. Cursa Educação Física e está desempregado. Não namora.
Diagnosticado com TDAH, faz uso de medicamento específico. Rendimento escolar
sempre mediano. Ingressou no Serviço-Escola em Psicoterapia com a queixa de
dificuldade no relacionamento com a mãe, em 2011. Foi encaminhado para
Psicoterapia Breve Analítica no início de 2016. A queixa inicial, no período de ingresso
nesta modalidade psicoterápica, dizia respeito à fase de transição entre ensino médio
e superior, assim como a busca por autoconhecimento.
Instrumento e procedimentos
O paciente foi atendido no período compreendido entre fevereiro e novembro de
2016, em sessões sequenciais individuais. Foram utilizados Sandplay, material gráfico,
material onírico, imaginação ativa e fantasias espontâneas, além da conversação.
Discussão
A primeira sessão ocorreu no dia 23/02/2016. Expressou preocupação e ansiedade em
relação à Faculdade de Educação Física, com os novos descobrimentos que daí
acarretariam. Durante os atendimentos contou sobre seu processo de adoção, medos
e desconfianças que daí decorreram. A relação paciente-terapeuta foi positiva durante
todo o processo analítico. Na primeira sessão o paciente trouxe um sonho recorrente
sobre um lobo macho que saltava de uma encosta para longe de uma fêmea mais
velha e aterrissava em uma vasta planície. Esta imagem teve caráter norteador
durante as sessões, também porque representava uma figura de independência e
separação da mãe. M. expressava intenso mecanismo defensivo frente às próprias
emoções negativas e dolorosas. Durante a análise também foi percebido pelo
terapeuta grande desejo de M. no sentido de agradar, impressionar e receber
aprovação durante as sessões, conteúdos estes relacionados muito possivelmente a
um complexo paterno. A postura de M. era de despreocupação, falta de empatia e
30
distanciamento, assim como uma apresentação de si mesmo como alguém viril e bem-
humorado. No decorrer das sessões, emergiu um forte complexo de inferioridade
existente na psique de M. Sua inflação e tentativa de permanecer em uma posição
superior àqueles ao seu redor expressavam uma compensação de seu sentimento de
impotência e incapacidade, assim como a sensação de ser inadequado ou objeto de
desprezo, alimentadas na psique de M. desde o reconhecimento de sua adoção. Saber
que não nasceu do ventre da própria mãe, assim como o fato de ter sido abandonado,
engendraram grandes feridas em sua psique, que eram sempre reprimidas através de
humor exacerbado, inflação e arrogância. Conforme tomava consciência de seus
sentimentos reprimidos, M. começou a se afastar da fixação em uma Persona rígida e
superficial e passou a se fortalecer internamente como alguém capaz e digno de
atenção e afeto. Através da relação com o terapeuta, seu masculino está se
desenvolvendo e, agora, M. descobriu dentro de si grande força, não algo forjado, mas
sob forma de uma bravura que emana de sua própria psique de forma espontânea e
criativa. Campbell (1997) desenvolve o conceito do monomito, ou seja, um mito único
e singular que se expressa de diferentes formas dentro das mais variadas culturas. Este
monomito se refere à jornada do herói. As etapas de tal jornada são diferentes e M.,
vivenciando o padrão arquetípico, foi convidado a realizá-las, a fim de atingir seu pleno
desenvolvimento interior. A primeira etapa da jornada se dá quando o herói deve sair
de seu status quo em busca de algo que necessite e/ou deseje, quando este é
impulsionado à aventura. Pode ser um relacionamento, algum objeto precioso para o
herói ou qualquer outro objetivo pessoal. O herói deve então ingressar em um mundo
misterioso e desconhecido, no qual confronta grandes antagonistas com a ajuda de um
mentor ou guia. Passa por crises, desolamento e derrota; através de algum auxílio
“ressuscita” ou regenera-se e vence o mal. A partir daí deve voltar com a cura ou o
elixir mágico à sua realidade e, portanto, de volta ao status quo, mas em um outro
nível, mais elevado, mais desenvolvido e elaborado que o anterior. No caso do
paciente, M. foi chamado a ingressar em uma faculdade. Um mundo novo e especial
para ele, repleto de mistérios e descobertas. Teve de confrontar provas, trabalhos,
colegas, professores, amigos e toda uma série de figuras novas. Foi então derrotado,
tendo sido reprovado. Ingressou em outra faculdade, onde foi chamado a reiniciar este
ciclo de batalhas. O primeiro sonho, recorrente, tinha como personagem principal um
31
lobo. Segundo Jung (2011), todas as figuras existentes em um sonho são aspectos do
próprio sonhador. O lobo possui uma série de significados; ele expressa coragem,
lealdade, resiliência, criatividade, cuidado maternal (como no caso de Rômulo e Remo,
criados por uma loba). Em seu sentido sombrio, expressa agressividade, solidão, o
aspecto devorador (o lobo mal), assim como o lobo que devora o sol e o responsável
pela destruição do mundo (Fenrir da mitologia nórdica). No caso de M., muitos destes
aspectos duais são observáveis em seus comportamentos. Existe a independência que
está sendo desenvolvida, assim como a voracidade em relação às mulheres. Há a
criatividade no sentido de desenvolver novos hábitos e comportamentos saudáveis em
seu meio social e a solidão muito presente em seu discurso, na maioria das vezes
inconsciente. Esta é uma figura central em seu processo de desenvolvimento e aparece
também nas imagens criadas por ele durante as sessões por meio do Sandplay. Pôde-
se constatar que M. possui uma tendência ao olhar prático e pouco imaginativo.
Expressa momentos vividos e experiências em uma tentativa de representar
sentimentos e emoções. Utiliza o instrumento para contar histórias sobre si mesmo e
as ressignificar, assim como para apresentar aspectos de sua própria personalidade e
desenvolvimento. No único desenho feito por M., o paciente demonstra o forte
sentimento de solidão e não pertença ao círculo social no qual estava inserido no
momento de produção. Há também a representação simbólica de uma cruz; feita
inconscientemente pelo paciente, em uma tentativa de apresentar graficamente a rua
na qual se encontrava. Essa cruz foi traduzida naquele momento como o conflito no
qual M. se encontrava entre os opostos de aproximação e socialização versus o
afastamento dos colegas e falta de vínculos afetivos profundos. M., desde o início das
sessões, parecia perceber o terapeuta como uma figura masculina mais forte, sábia e
equilibrada do que si próprio. Durante a análise buscava apoio e aprovação, assim
como conselhos e ensinamentos. A identificação com o terapeuta era um fator
importante, assim como o vínculo afetivo que foi se estabelecendo entre os dois. É
possível acreditar que M. projete uma figura masculina paterna no terapeuta, assim
como seu próprio guia interno. Este guia, presente na terceira etapa da jornada do
herói, normalmente oferecerá auxílio através de conselhos, magias ou uma arma
especial, sendo assim de grande ajuda durante as batalhas a serem futuramente
travadas. Reconhecendo o processo arquetípico, o analista manteve-se nesta posição
32
enquanto focalizava a introjeção deste guia como uma figura presente na própria
psique do paciente, figura na qual M. poderia se apoiar, com segurança e confiança.
Considerações finais
O confronto com a figura materna tem sido bastante abordado por uma série de
motivos. É necessário tomar o sonho inicial como guia, no qual o paciente se afasta de
uma figura mais velha associada à própria mãe. Este confronto também tem o intuito
de auxiliar M. em seu contato e expressão emocional, tarefa extremamente trabalhosa
e assustadora para ele, principalmente em sua relação com a mãe. É necessário que M.
estabeleça a divisão entre a mãe arquetípica de polaridade terrível e a mãe real, que
não necessariamente reagirá de acordo com seus medos e fantasias inconscientes. M.
reiniciou o primeiro semestre de Educação Física, agora em outra faculdade. O
terapeuta o tem acompanhado durante este processo, auxiliando em seu
fortalecimento interno e confrontos relacionados aos trabalhos, provas e colegas. O
paciente também vem reavaliando sua relação com as figuras femininas, atribuindo
valor diferente às mesmas e refletindo a respeito de encontrar uma companheira para
um relacionamento. No momento, pretende continuar solteiro e se desenvolver em
outros âmbitos antes de se engajar em um compromisso, tendo em vista também a
forma como se comportou em sua primeira tentativa neste aspecto de sua vida. Na
última sessão com M., através do trabalho com Imaginação Ativa, M. fez menção a
uma figura positiva chamada “Leonardo”. Simbolicamente, Leonardo tem origem no
nome germânico Leonhard, formado pela aglutinação dos elementos Levon, leão
(representante de poder, sabedoria e justiça) e Hardu, que significa “valente, corajoso,
ousado”. Símbolo de virilidade, corresponde àquilo que M. tem buscado nestes
últimos meses. Com o descobrimento desta figura interna, M. ganhou confiança.
Presume-se que a melhora de sua autoestima poderá também acompanhar,
simultaneamente, este crescimento.
Palavras-chave: Psicoterapia Analítica; Mito; Jornada do Herói
33
Referências
CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces. [tradução de Adail Ubirajara Sobral]. São
Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997.
JUNG, Carl Gustav. Arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2011.
VON FRANZ, Marie-Louise. Psicoterapia. São Paulo: Paulus, 1999.
34
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA6
VIOLÊNCIA: ATENDIMENTO PSICOJURÍDICO NA COMUNIDADE DE VILA PRUDENTE
Jéssica Dias Fermino
João Vitor Longatti Cestavo
Stefanie Caroline de Souza
Prof. Dr. Marcelo Moreira Neumann
Apresentação da área de estágio
O estágio em psicologia jurídica oferece aos alunos de graduação a experiência
institucional do plano jurídico da profissão. Ele compreende o estudo, a explicação, a
avaliação, a prevenção, a assessoria e o tratamento dos fenômenos psicológicos,
comportamentais e relacionais que incidem no comportamento legal das pessoas. Para
tal, recorre aos métodos próprios da psicologia científica.
Entre as funções do psicólogo jurídico, destacam-se a avaliação e o diagnóstico das
condições psicológicas dos atendidos; a assessoria aos órgãos judiciais relativamente a
questões próprias da sua área; a concepção e a realização de programas para a
prevenção, o tratamento, a reabilitação e a integração dos usuários institucionais na
comunidade.
Introdução
Neste estágio, as atividades desenvolvidas não foram propriamente institucionais, ou
seja, de compreensão ou intervenção sobre as relações instituídas e sobre
funcionamento da instituição. Isso porque os estagiários realizaram atendimentos
psicojurídicos a pessoas que se encontravam na lista de espera do Pólo de Prevenção à
Violência Doméstica e Sexual de uma instituição da zona leste da capital. Dessa forma,
não há como fazer uma profunda Análise Institucional sobre a Instituição na medida
em que a interação com esta não foi a proposta do estágio realizado. Além disso, a
6 Supervisores da área: Fernando da Silveira, Leila Sueli Dutra Paiva, Marcelo Moreira Neumann, Vânia
C. Sequeira.
35
Instituição possui inúmeros serviços e atividades não sendo possível, neste estágio,
interagir com todos. Porém, é possível discorrer, minimamente, a respeito do setor de
Assistência Social da Instituição a partir da teoria de Georges Lapassade o que será
feito na Discussão deste trabalho.
Segundo Guirado (1987), Lapassade, partindo de uma abordagem embasada na
sociologia e na política do trabalho institucional, com a origem da psicossociologia ou
psicologia dos grupos, traz o conceito de Análise Institucional como forma de
compreensão e intervenção em grupos e organizações, ou seja, como forma de
entender as relações instituídas para agir sobre elas, guiando o trabalho do psicólogo.
A Análise Institucional tem raízes na Sociologia, Pedagogia e Psicologia Social,
articulando princípios marxistas e psicanalíticos. Também faz crítica às instituições,
questionando sua natureza. Desta forma, esta análise tem dois lados: um lado em que
se determina o que é uma instituição e uma teoria para analisá-la e outro lado que
busca intervenção para transformá-la e revelar sua estrutura (GUIRADO, 1987).
Objetivos
O objetivo principal deste estágio foi o de atender pessoas em situação de violência
e/ou vulnerabilidade que se encontravam inscritas na lista de espera do Pólo de
Prevenção à Violência Doméstica e Sexual da instituição. Este estágio não tinha como
objetivo realizar atendimentos clínicos, psicoterápicos, mas sim um atendimento
psicojurídico que se caracteriza por uma ajuda mais prática, focada na demanda e
interventiva, possibilitando visitas domiciliares, visitas à escolas e mediações. Apesar
de não ser uma terapia propriamente dita, o objetivo é fazer com que esse
atendimento mais prático e interventivo gere um efeito terapêutico e empodere as
pessoas atendidas. Durante os dois semestres letivos de 2016, os estagiários
atenderam diversos casos, porém, neste trabalho, será relatado apenas um caso por
estagiário.
Método
Cada estagiário realizou atendimentos individuais, centrando nas demandas trazidas
inicialmente e que tivessem questões de ameaças ou direitos violados. Portanto, a
seguir consta um breve relato de um dos casos que cada estagiário atendeu,
36
considerando que os três supervisionandos, atenderam mais de 12 casos nos dois
semestres.
Primeiramente o estagiário João Vitor apresenta: G., 17 anos. Antes de iniciar os
atendimentos com G., o estagiário teve acesso a algumas informações dele através da
leitura do seu prontuário. Neste, estava registrado que G. é portador de Deficiência
Intelectual leve. Foi lido também que G. morou desde criança até por volta dos 15 anos
em um abrigo e que na época em que foi atendido pela assistência social havia se
mudado para a casa de uma avó que se mudou da Bahia para São Paulo para cuidar
dele e de suas duas irmãs mais novas. A queixa inicial, pela qual G. foi encaminhado,
era a de agressividade e desentendimentos com a avó e com os tios que moravam com
ele. Porém depois do primeiro atendimento G. voltou a ser abrigado. Com isso, o foco
dos atendimentos passou a ser a nova mudança que ocorreria na vida de G. em
setembro quando ele completaria 18 anos e teria que sair do abrigo. Por isso,
começaram a ser trabalhados temas como autonomia, independência, nova moradia,
emprego, cursos de capacitação. Ao longo dos meses de estágio, foram marcadas
entrevistas com a psicóloga do abrigo, com a coordenadora pedagógica da escola e
com a “tia postiça” de G. que o apadrinhou. Logo no início dos atendimentos foi
descoberto que G. frequentava uma escola para pessoas com deficiência. A
coordenadora informou que desde que G. entrou na escola, ele avançou muito e que
sua principal deficiência era na leitura e escrita. Ela se queixava também de alguns
episódios de furto que ele teve. Com isso, foi trabalhada com G. a importância dos
estudos e do treino da leitura e escrita para que ele conseguisse um emprego e uma
independência. Foi trabalhada também a questão da responsabilidade que teria por si
próprio a partir dos 18 anos e que teria que responder por seus próprios atos. Depois
de algum tempo o estagiário auxiliou G. a fazer o próprio currículo contendo alguns
pequenos trabalhos que já teve e o orientou a cadastrá-lo em sites de emprego e a
distribuí-lo em locais já conhecidos por ele. A partir do mês de agosto o estagiário
começou a focar os atendimentos na mudança de moradia que G. teria que fazer em
setembro quando completaria 18 anos. Entrou-se em contato com a assistência social
para ver quais providências estavam sendo tomadas e descobriu-se que já havia uma
vaga garantida para G. em uma residência inclusiva próxima à escola e a todos os
outros lugares que costumava frequentar. No meio do segundo semestre, o estagiário
37
retornou à escola e perguntou à coordenadora como G. estava. Ela disse que ele havia
melhorado muito nos comportamentos, que os outros alunos da escola têm começado
a questionar sua deficiência, pois ele tem se destacado. Nos últimos encontros o
estagiário focou as conversas na questão da busca de um emprego para que ele
comece a se qualificar profissionalmente e consiga de fato uma independência e
pontou a importância de ele guardar o dinheiro que recebe de sua “tia postiça” para se
prevenir para o futuro. Assim, através do atendimento psicojurídico foi possível
auxiliar G. neste ano de transição e de fazê-lo refletir e entrar em contato com suas
potencialidades. Pôde-se perceber, então, que G. possui muitos projetos de vida, que
se tornou mais responsável e mais disposto a estudar, trabalhar e crescer.
Por conseguinte, a estagiária Jessica apresenta: C., mulher 36 anos e seu filho D., 5
anos. C. chegou á instituição a pedido da escola, a queixa era seu filho, D., que era
muito agressivo. Desde o primeiro atendimento foi percebido que essa mãe estava
sensível, sob pressão de um ambiente pouco facilitador. Seu marido era alcóolatra,
chegava de madrugada descontrolado, gritava, não trabalhava e não oferecia uma boa
influência para o filho. Embora a queixa tinha sido para D., a estagiária sugeriu que o
trabalho fosse conduzido para a mãe, esta estava com ideias de se mudar de casa, já
não aguentava mais os insultos do marido. C. concordou e os atendimentos se
seguiram com poucas faltas, foi pedido que ela entrasse em contato com o Conselho
Tutelar de seu bairro para avisar e legalizar a sua decisão do afastamento de seu filho e
dela do marido. Assim ela o fez, C. se mudou, percebeu notáveis mudanças no
comportamento do filho. Mesmo com anos de repetidas agressões do marido para
com ela, que já a levou a fazer um boletim de ocorrência por ele tê-la espancado, foi o
seu filho D. que lhe deu a maior motivação. A regressão de D. (uma pseudo gagueira,
enurese noturna), os seus maus comportamentos na escola “abriram” os olhos de C.
para que algo teria que ser mudado. D. foi à algumas sessões, nas quais foram
realizados observações lúdicas e aplicações de desenhos livres. Os instrumentos
utilizados para com essa família foram, de um modo geral, os recursos da psicologia
jurídica na garantia de direitos e da psicologia clínica no acolhimento e no seu
empoderamento. Ao fim do primeiro semestre, houve o encerramento dos
atendimentos, C. já na sua nova casa estava em adaptação e com perspectivas de
futuro, D. diminuiu a agressividade, não estava com tantos problemas na escola e sua
38
fala voltou ao normal. O pai e marido continuou em sua casa sem mudança da sua
condição anterior, ele visita a família aos domingos.
Por fim, a estagiária Stefanie apresenta: E., 6 anos, que chegou a instituição a pedido
da escola e de sua mãe. A queixa inicial, pela qual E. foi encaminhado, era de
agressividade, hiperatividade, desatenção na escola e dificuldades para seguir regras e
limites. Desde o primeiro contato, a mãe de E. se mostrou bastante inquieta, nervosa e
confusa, em umas das sessões chegou a relatar que é ex-usuária de drogas e que
quando recebia reclamações do filho “queria socar ele até arrancar sangue” (sic). Ao
longo dos atendimentos a estagiária foi orientando a mãe sobre outras formas de
educação, sem ser a agressão e ao mesmo tempo foi trabalhando com E. limites e
regras através de jogos de tabuleiro e brincadeiras. Em entrevista com a professora,
esta relata que E. era uma “criança problema” na escola, mas por acreditar em seu
potencial ela era a única na instituição que ainda investia nele. No decorrer do
semestre foi ficando claro que os problemas de E. estavam relacionados a
desestruturação familiar, a agressividade da mãe e a ausência do pai. A estagiária
tentou marcar entrevista com os pais, mas estes nunca compareciam e sempre davam
alguma desculpa pela falta. Como a demanda de E. era mais comportamental, a
estagiária e seu supervisor decidem encaminhá-lo para a psicoterapia a longo prazo,
para o CCA e para consulta com neurologista. Atualmente E. passa em atendimento no
CAPS Infantil e frequenta o CCA, seus problemas comportamentais aos poucos estão
melhorando. Os métodos utilizados da psicologia jurídica buscaram a garantia dos
direitos de E. por meio de orientações dadas a mãe e aos profissionais envolvidos em
sua educação, fazendo com que eles refletissem que os comportamentos de E.
estavam relacionados ao seu convívio familiar e não somente a aspectos
comportamentais.
Discussão
Segundo Lapassade (1989), um grupo é constituído por diversas pessoas que se inter-
relacionam e se unem por diversas razões como vida familiar, atividades profissionais e
culturais, e religião, por exemplo. Tendo isso em vista e pensando na instituição com o
um todo, é possível notar que o setor de Assistência Social abarca este tipo de grupo
39
já que acolhe indivíduos que procuram e se unem nesta instituição, nas diversas
atividades oferecidas (como oficinas, cursos profissionalizantes, grupos terapêuticos),
com um objetivo em comum: sair da situação de vulnerabilidade em que se
encontram.
Para firmar o conceito de Instituição, Lapassade (s.d. apud GUIRADO, 1987) traz
discussões sobre o que é instituído e instituinte. Sendo o primeiro aquilo que está
estabelecido, cristalizado nas relações; e o segundo é a capacidade de criar novas
relações. Os dois são movimentos participativos da instituição e o instituinte garante
as mudanças. Neste processo de institucionalização, o instituinte acaba por vezes a ser
instituído. Considerando os conceitos de instituído e instituinte trazidos por Lapassade,
percebe-se que estes estão presentes na instituição e que um complementa o outro. O
instituído pode ser percebido nas regras relacionadas a horários, dias e locais em que
cada atividade ocorrerá. Já o instituinte pode ser visto nas novas relações formadas a
cada semestre entre os participantes das novas turmas das oficinas, entre as
assistentes sociais e os novos voluntários e estagiários e, também, no que é produzido
e ensinado em cada oficina.
Palavras-chave: atendimento psicojurídico; violência; vulnerabilidade.
Referências
CÍRCULO DE TRABALHADORES CRISTÃOS DE VILA PRUDENTE. Revista comemorativa
de 75 anos. Círculo de Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente. Site Disponível em:
http://www.ocirculo.org.br/. Acesso em: 25 maio 2016.
GUIRADO, Marlene. Psicologia Institucional. São Paulo: EPU, 1987, 133p.
LAPASSADE, Georges. Grupos, organizações e instituições. 3. ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1989. 316 p.
40
SUPERVISÃO DE ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL7
O EMPREGO DA AUDIÊNCIA NÃO PUNITIVA COMO ESTRATÉGIA FACILITADORA NA
EXPRESSÃO DO SOFRIMENTO
Leticia Biscioni
Profa. Dra. Cristina Moreira Fonseca
Apresentação da área de estágio
A Psicoterapia Analítico-Comportamental tem a análise de contingências como o
principal instrumento de intervenção para auxiliar o cliente a desenvolver auto-
observação, autoconhecimento e mudança comportamental, a fim de reduzir o
sofrimento psicológico.
Introdução teórica
Como a terapia consiste, predominantemente, em uma interação verbal entre
terapeuta e cliente, funcionar como uma audiência não punitiva tende a aumentar a
probabilidade do relato verbal na clínica e o compartilhamento de informações
facilmente punido pelo cliente fora do setting terapêutico.
Considerando que, grande parte das queixas que chega à terapia consiste em
subprodutos do controle aversivo e, considerando, mais especificamente que a
punição consiste na redução da probabilidade de uma resposta voltar a acontecer
devido a apresentação de um estímulo aversivo, ou a retirada de um estímulo
reforçador após a emissão de um dado comportamento, torna-se ainda mais imperiosa
a atuação do terapeuta como audiência não punitiva. “A audiência não punitiva está
intimamente relacionada ao estabelecimento do vínculo terapêutico, uma vez que
implica na confiança do cliente” (MEDEIROS, 2002, p. 108).
7 Supervisores da área: Ana Carmen de Freitas Oliveira, Cássia Roberta da Cunha Tomaz, Cristina
Moreira Fonseca,
41
Atuar como uma audiência não punitiva implica, portanto, no terapeuta apresentar-se
como alguém acolhedor, reforçador, empático, além de valorizar os sentimentos do
cliente e evitar julgamentos acerca dos comportamentos emitidos no setting.
Objetivo
A partir de um recorte de um caso clínico será apresentado como a audiência não
punitiva se constituiu na principal estratégia facilitadora da expressão do sofrimento e
os resultados advindos dessa intervenção.
Método
Participaram do estudo uma cliente de 22 anos e uma terapeuta estagiária do último
ano do curso de Psicologia. A cliente trouxe como principal queixa a dificuldade em
confiar nas pessoas. Dizia “Eu quero confiar nas pessoas, mas não consigo” (sic).
Discussão
Inicialmente, a cliente trazia para a sessão, assuntos genéricos tais como política,
economia, literatura e cinema. Evitava responder às perguntas da terapeuta estagiária
e, portanto, não se aprofundava na questão que a trouxe à terapia. No decorrer dos
atendimentos foi possível perceber que a postura da terapeuta estava funcionando
como uma audiência não punitiva e se estabelecia uma boa relação terapêutica, já que
a cliente passava a revelar dificuldades no âmbito familiar. Trazia, agora, com detalhes,
as cenas de violência física, psicológica e sexual sofrida na infância e adolescência. Seus
relatos eram marcados por choro e forte emoção.
A partir da sétima sessão, revelou que aos 18 anos foi diagnosticada com DST, mais
especificamente HPV, e abandonada pelo namorado que não acreditava ter sido o
responsável pela transmissão da doença e desconfiava que a namorada tinha outros
parceiros sexuais. Várias vezes a cliente se defendeu ao falar que ele tinha sido o único
namorado e o único com quem teve relação sexual, mas nada adiantou. Nessa ocasião,
a cliente omitiu o diagnóstico de todos os familiares e dos poucos amigos que tinha,
decidindo enfrentar sozinha o tratamento. Os primeiros tratamentos foram muito
aversivos não só pelo tratamento em si (a base de ácidos, o que provocava muita dor
física), mas também pela postura dos médicos que a atenderam e insinuavam a
42
presença de comportamentos promíscuos por parte da cliente. Embora tenha sido
uma fase de grande sofrimento, chegando a questionar o sentido de continuar lutando
já que ninguém acreditava nela, procurou um outro serviço médico, onde lá,
encontrou, pela primeira vez, acolhimento em uma figura masculina, o médico.
Como mostrado acima, após o estabelecido do vínculo terapêutico por meio de um
ambiente não punitivo e a expressão pela terapeuta estagiária de comportamentos
empáticos, a cliente começou a compartilhar, gradualmente, aspectos relevantes da
sua história de vida e os seus sentimentos relacionados a eles. Como consequência
apareceu maior exposição de sentimentos nos relatos verbais, os quais foram
pontuados no setting terapêutico, o que aumentou a frequência de seu surgimento e
possibilitou o aparecimento de respostas de autoconhecimento. Nesse sentido, a
cliente passa identificar as diferentes topografias do seu comportamento (afastar-se,
isolar-se etc) bem como a função delas.
Outro assunto bastante abordado nas sessões foi o diagnóstico e tratamento do HPV,
representando um evento muito aversivo e, portanto, também alvo de intervenção.
Além de manter o diagnóstico em sigilo para a comunidade verbal e só compartilhar
essa informação com a terapeuta estagiária, após o estabelecimento do vínculo
terapêutico, o diagnóstico também funciona como uma condição para emitir
comportamentos de fuga/esquiva em situações que sinalizam possibilidade de
relacionamentos afetivos. A aversividade desse tema só não foi maior devido ao
sucesso no tratamento com o último médico, eliminando os sintomas físicos do HPV.
Com o uso da audiência não punitiva, a cliente pôde entrar em contato com todas as
lembranças do tratamento, do ex-namorado e do sofrimento físico e psicológico desde
a descoberta do diagnóstico. Desse modo, pode experimentar os sentimentos
relacionados ao ocorrido – e todas as implicações que ele teve – aceitando o
diagnóstico e criando, assim, um compromisso com o processo terapêutico.
A alta frequência com que a cliente trazia o tema do HPV e da violência familiar
durante as sessões é um indicativo de que o seu comportamento era mantido por
reforçadores como a atenção, a empatia, a ausência de punição e a validação do
sentimento compartilhado sobre seu passado. O comportamento verbal mantido pelo
43
ambiente acolhedor e não punitivo acaba por influenciar as contingências que mantém
o comportamento da cliente de falar o que sente no setting.
Considerações finais
Algumas intervenções utilizadas como descritas acima possibilitaram a criação e a
manutenção do vínculo terapêutico e da mudança comportamental, sendo a audiência
não punitiva a principal delas.
Embora o ambiente e os acontecimentos que a cliente foi submetida na infância e
adolescência sejam bastante aversivos, é importante ressaltar o seu compromisso com
o processo terapêutico, com o tratamento médico e com a intenção de mudar o seu
comportamento.
Visto que a terapia tinha função de ajudar a cliente a fazer análise de contingências de
seus comportamentos bem como ampliar o seu repertório comportamental, é possível
afirmar que a terapia foi facilitadora no processo de redução do sofrimento psicológico
e que, atrelado ao compromisso da cliente, foi possível obter os resultados presentes.
Palavras-chave: terapia analítico-comportamental, relação terapêutica, audiência não-
punitiva
Referências
MEDEIROS, C.A. Comportamento governado por regras na clínica comportamental:
algumas considerações. In: DE FARIAS, A.K. e cols (Org.). Análise comportamental na
clínica. Porto Alegre: Artmed, 2010.
MEDEIROS, C. A. Comportamento verbal na terapia analítico comportamental. Rev.
bras. ter. comport. cogn., São Paulo , v. 4, n. 2, p. 105-118, dez. 2002. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517554520020002000
04&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 01 outubro 2016.
44
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA8
RESGATE DA MEMÓRIA HISTÓRICA COMO ESTRATÉGIA DE DESCONSTRUÇÃO DO
RACISMO
Danielle Cabral Araujo
Vanessa Alice de Moura
Prof.ª Dr.ª Bruna Suruagy do Amaral Dantas
Apresentação da área de estágio
A Psicologia Comunitária, por meio de intervenções grupais, dedica-se à construção de
espaços de diálogo e ação coletiva, que favoreçam a livre manifestação de vozes
dissonantes, proporcionem a formação de consciência crítica, promovam o
fortalecimento comunitário e a criação de uma identidade coletiva, instiguem a
participação popular e desconstruam ideologias, assegurando o exercício da cidadania
ativa e a defesa de direitos fundamentais.
Introdução teórica
Nesse trabalho, apresentar-se-á uma experiência de estágio, desenvolvida em um CCA
do bairro de Heliópolis, com crianças de 06 a 07 anos, visando desconstruir o racismo
mediante o resgate da memória histórica. A observação institucional permitiu
identificar que as crianças negam a própria identidade negra, sofrendo com a violência
simbólica a que são submetidas. Alguns casos evidenciam o tamanho do sofrimento
que enfrentam cotidianamente em decorrência do racismo: 1) uma menina de 06 anos
que, mesmo sendo negra, desenha-se loira; 2) uma criança negra dissera que nasceu
branca, mas tomou muito sol e ficou negra.
A fim de enfrentar o racismo e dissolver seus fundamentos, considerou-se
imprescindível recuperar a memória histórica, a qual possibilita o encontro com as
raízes da identidade, a compreensão do presente e a construção de alternativas para
transformar o mundo. Segundo Martín-Baró (2006), as maiorias populares, em virtude
8 Supervisores da área: Adriana Rodrigues Domingues, Claudia Stella, Robson de Jesus Rusche, Erich
Montanar Franco, Bruna Suruagy do Amaral Dantas.
45
de suas necessidades prementes, acabam por aprisionar-se num presente psicológico
que aceita a realidade sem objeções, habituando-se a um discurso dominante,
naturalizante e a-histórico das condições sociais. O autor propõe como trabalho do
psicólogo a reconstrução da memória, a potencialização das virtudes populares, o
fortalecimento da identidade coletiva e o desvelamento da falsa consciência (MARTÍN-
BARÓ, 2006).
Objetivo
O objetivo da intervenção psicossocial consistiu em problematizar o racismo de modo
a facilitar o processo de conscientização das crianças para fortalecê-las a partir do
conhecimento da cultura negra e de sua própria história, garantindo, assim, a
afirmação de sua identidade.
Método
Adotou-se, como metodologia, a “Ação Investigação Participativa” (IAP), dada sua
natureza dinâmica, flexível, mutável, coletiva, dialógica, emancipadora e participativa.
A estratégia definida consistiu na contação de histórias de heróis negros com vistas a
resgatar as raízes históricas das maiorias populares, possibilitando, desse modo, a
constituição da identidade coletiva e o consequente fortalecimento de indivíduos
fragilizados por longos processos de humilhação social e exclusão. Buscou-se construir
espaços em que aqueles cujas vozes foram suprimidas, tivessem por meio do diálogo
condições de se manifestar com liberdade, o que pode desencadear uma ação
transformadora.
De acordo com Freire (1970), as palavras geradoras suscitam a reflexão de conceitos
preestabelecidos a fim de transformar a concepção da realidade para que,
reconhecendo sua atuação no mundo, o homem transforme a realidade e a si mesmo.
Conforme Martín-Baró (2006), a tarefa primordial do psicólogo é catalisar a
desideologização para favorecer a conscientização. Montero (2004) introduz no campo
da psicologia a problematização como estratégia metodológica para promover a
formação da consciência crítica. Os três autores defendem que o diálogo é o caminho
que proporciona as transformações sociais.
46
A problematização, de acordo com Freire (1970, 1979), significa analisar algo
criticamente, questionar as relações estabelecidas no mundo por meio do diálogo. É
problematizando que ocorre a construção de um saber crítico, por intermédio de um
diálogo horizontal com a comunidade, favorecendo a mobilização da consciência
(MONTERO, 2004). Em sua concepção, é imprescindível realizar a revisão crítica da
história, combatendo estereótipos, desmontando argumentos inconsistentes e
desnudando os mecanismos de poder presentes no cotidiano (MONTERO, 2004). A
problematização propicia a mobilização da consciência perante a falta de sustentação
das explicações ideológicas, sensibilizando mentes, desnaturalizando pensamentos e
indicando possibilidades concretas de ação (MONTERO, 2006).
Discussão
A partir das atividades realizadas com as crianças, percebeu-se que o resgate da
memória histórica – resultado da contação de histórias – contribuiu significativamente
com o processo de conscientização acerca da identidade negra. Nos primeiros grupos,
observou-se a emergência violenta do racismo; as crianças negras eram hostilizadas e
permaneciam em silêncio, intimidadas pelos preconceitos que emergiam. Afefe9, uma
menina negra de seis anos, ficava calada durante toda a atividade e Fári, negro
também, não participava, sempre falando que estava chato e queria brincar de outra
coisa. Angeli, de sete anos, perguntou se podia chamar a estagiária, negra, de
“sacizinho”. Ao ser indagado por que pretendia chamá-la assim, ele disse: “é porque o
saci é pretinho”. A estagiária respondeu que se essa fosse uma forma respeitosa de
chamá-la, ele poderia. Essa resposta pode ser considerada problematizadora pois,
além de sugerir respeito mútuo por meio da escuta e do diálogo (MONTERO, 2006),
devolve à criança sua pergunta para que ela reflita. O menino ficou em silêncio. Cabe
pontuar que, após esse episódio, Angeli nunca chamou a estagiária de “sacizinho”.
Para Montero (2006), as problematizações não são respostas prontas a fim de
desqualificar ou aprovar determinada resposta, mas sim um “porquê”, não
conformado com respostas usuais.
9 Os verdadeiros nomes foram substituídos por nomes fictícios em yorubá, um dos mais de 250 dialetos falados na
África ocidental, com a finalidade de homenagear a ancestralidade africana das crianças brasileiras.
47
Ao constatar que as crianças eram absorvidas pelas narrativas históricas, resolveu-se
adotar como dispositivo de intervenção a contação de história, concebendo-a como
uma forma de comunicação criativa, que favorece o diálogo e a horizontalidade. A
história da abayomi buscou resgatar a memória da diáspora africana, desconhecida
das crianças, descrevendo a vida de uma menina negra, com sua família, que foi
trazida para ser escrava no Brasil. Era uma criança livre que foi escravizada. Logo, se
começa a desconstruir a condição natural da escravidão. Esse resgate crítico do
passado, segundo Martín-Baró (2006), acaba fazendo com que uma identidade
coletiva se construa.
As tensões pareciam evidenciar-se nos primeiros encontros. Kawe e Abe, ambos com
sete anos, brigaram em razão da manifestação de preconceitos. Abe esclareceu o
motivo da discórdia: seu colega ofendera sua mãe, pois a chamara de negra. A
estagiária lhe perguntou se ser chamada de negra é uma ofensa. Ambos ficaram em
silêncio. Montero (2006) argumenta que, por vezes, o silêncio é a resposta que a
pergunta problematizadora produz, pois ela questiona os discursos ideológicos que,
vazios, ficam sem respostas, fazendo com que o sujeito mobilize sua consciência para
ir em buscar de uma. Segundo Freire (1970), por meio da relação dialógica, quanto
mais os sujeitos são desafiados a refletir, maior a confrontação com a realidade, mais a
educação se engaja.
No decorrer dos encontros, as crianças se mostravam mais atentas às histórias
narradas, reconhecendo a força dos negros e apreendendo os elementos culturais
africanos. Além das contações, as intervenções exploravam a riqueza das culturas
africana e brasileira, compartilhando símbolos relevantes, como a capoeira, o samba e
o rap, que representam a resistência dos negros a toda forma de escravidão e
opressão. Dessa forma, visava-se propiciar a potencialização das virtudes populares,
segundo o postulado de Martín-Baró (2006).
Durante as contações, as estagiárias cantavam inúmeras músicas e utilizavam
instrumentos como pandeiro e chocalho para atrair a atenção das crianças. Após as
narrativas, costumava-se propor a realização de uma atividade para problematizar
48
questões mencionadas nas histórias, como colagens, pinturas, produção de bonecas e
maquetes, confecção de instrumentos musicais afrobrasileiros com material reciclável.
Por meio das histórias de resistência negra, as crianças começavam a desnaturalizar a
escravidão. O negro é retirado da condição de passividade que lhe foi atribuída pelos
discursos oficiais, ideológicos e a-históricos. Quando a estagiária contou a história de
Dandara, uma heroína negra, guerreira e forte, Ayê, branca, disse em voz alta:
“Dandara era negra, como ela, ela e ela”, apontando para duas crianças negras, as
quais continuaram escutando a trama que estava sendo narrada, ou seja, a palavra
“negra” que, num primeiro momento, era ofensa já começa a aparecer como
identidade. Martín-Baró (2006) afirma que o resgate da memória histórica permite a
apropriação da identidade coletiva, que reforça a luta por direitos e por
transformações sociais.
Já nos últimos encontros, após a contação de história, propôs-se a construção de
quilombos em maquetes de isopor. As problematizações, elaboradas pelas estagiárias,
dirigiram-se ao quilombo que separou brancos e negros, para que não brigassem.
Surgiram inúmeras respostas, que resultaram da provocação: “Meu pai é negro e
minha mãe é branca, e até que eles vivem bem” (Beni, 7 anos). “Professora, eu sou
negra, minha mãe é negra, meu pai é negro” (Ebí, 5 anos). “Professora, eu sou negro e
minha mãe é branca” (Éwe, 7 anos). Houve várias expressões de afirmação da
identidade negra coletiva e isso aconteceu por meio do resgate da memória. Agora
negro é identidade. Verifica-se, pois, que a conscientização está em processo.
Quando a estagiária perguntou se os negros eram livres, Alamoju, de seis anos, disse:
“tia, os negros não são livres. Eles trabalham, trabalham muito, só nos finais de
semana eles ficam livres”. A estagiária seguiu problematizando; perguntou qual era o
trabalho deles. A menina disse: “moça que limpa, que cuida de criança, que corta a
carne”. A estagiária continuou perguntando: “como é a luta dos negros nos dias de
hoje?”. A menina respondeu: “Lutando para ter as coisas”. Como se pode constatar, a
criança realizou uma associação entre passado e presente, resultado da compreensão
da história dos negros e da apropriação das memórias subterrâneas em oposição à
história oficial.
49
Considerações finais
Os encontros buscaram potencializar as virtudes populares, enaltecendo os símbolos
da resistência negra: a capoeira, o samba, as cantigas de umbanda, o rap, os adereços
da cultura africana, apresentados por meio do recurso da contação, para que as
crianças se apropriassem, ainda mais, desses elementos da cultura negra que
resistiram à escravidão e resistem à segregação. Elementos que permitem o encontro
com as raízes da identidade negra coletiva. Na proposta de Ação-Investigação-
Participativa, buscou-se compartilhar com as crianças histórias que fomentassem a
reflexão sobre o mundo que as cerca.
No trabalho comunitário realizado, as crianças, por meio de seus discursos de
reconhecimento da identidade negra, mostraram que estão mobilizando sua
consciência e sendo desafiadas na relação com a realidade a partir dos pressupostos
da educação libertadora (FREIRE, 1970), adotada na intervenção. Essa proposta
horizontal, construída com a comunidade, teve sentido para as crianças, sujeitos de
direitos, com capacidade de entender e refletir sobre determinados assuntos.
Pretendeu-se com esta prática provocar o pensamento e instigar a realização de novos
trabalhos com crianças a fim de potencializá-las como sujeitos de direitos, com voz
ativa, capazes de refletir crítica e historicamente.
Palavras-chave: Racismo; Memória; Conscientização.
Referências
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 2ªedição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1970.
FREIRE, P. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Morales, 1979.
FREIRE, P. Política e educação: ensaios. 5º edição, São Paulo: Cortez Editora, 2001.
MARTÍN-BARÓ, I. Hacia una psicología de la liberación. Psicología sin fronteras: revista
electrónica de intervención psicosocial y psicología comunitaria, v. 01, n. 02, 2006.
MONTERO, M. Introducción a la psicología comunitaria: Desarrollo, conceptos y
procesos. 1ª ed. Buenos Aires: Editorial Paidós, 2004.
50
MONTERO, M. Hacer para transformar: el método en la psicología comunitaria.
Buenos Aires: Editorial Paidós, 2006.
51
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE10
ESCUTA CLÍNICA E EMPODERAMENTO: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NO CRM
Ana Carolina de Oliveira
Prof. Ms. Eduardo Fraga de Almeida Prado
Apresentação da área de estágio
O estágio na área da Psicologia da Saúde tem como objetivo promover ao aluno a
possibilidade de aplicar os conhecimentos e técnicas psicológicas aprendidos atuando
com o dispositivo clínico em uma instituição de promoção de saúde. No dispositivo
clínico, segundo Broide (2015), o atendimento individual permite uma escuta do
inconsciente, possibilitando o surgimento do sujeito do desejo.
A experiência de estágio ocorreu no Centro de Referência da Mulher (CRM). Foram
efetuados atendimentos psicológicos semanais a três usuárias do serviço, no decorrer
de dois semestres. Neste artigo refletiremos o atendimento a uma das pacientes a
quem denominarei de M.M.
Introdução teórica
Os atendimentos clínicos realizados no CRM se constituem como intervenções
psicoterápicas cujos objetivos residem em promover reflexão na usuária, no sentido de
reconstruir a situação de violência e gerar com ela a possibilidade de fazer novas
escolhas em consonância com a noção de empoderamento. Horochovski e Meirelles
(2007) consideram empoderamento um processo que associa comportamentos
proativos e individuais a políticas e mudanças sociais que proporcionem ao sujeito e à
comunidade uma participação democrática, possibilitando a estes obterem controle
de suas vidas através da visibilidade, voz, influência e capacidade para a ação.
10
Supervisores da área: Angela Biazi Freire, Martha Serôdio Dantas, Sandra Fernandes de Amorim, Sandra Ribeiro de Almeida Lopes, Eduardo Fraga de Almeida Prado, Ana L. Ramos Pandini.
52
Não raro, mulheres em situação de violência se identificam com o autor do ato pois,
por vezes, este é alguém com quem a usuária possui vínculo afetivo como o marido ou
namorado. Neste sentido, caberá ao psicólogo compreender todo o contexto no qual a
violência ocorreu, assim como seus significados para a paciente, buscando romper o
ciclo de violência e ressignificando a situação vivida.
Objetivo
Proporcionar empoderamento e autonomia da usuária através do fortalecimento,
promoção de autoestima e superação da situação de violência.
Método
A escuta clínica do psicólogo - enquanto elemento do dispositivo clínico (BROIDE,
2015) – pode funcionar como ferramenta, por meio de acolhimento e promoção de
autonomia, para gerar o enfrentamento e o empoderamento diante da situação de
violência. Para tanto, conforme já destacado, a escuta clínica do psicólogo não se
reduz apenas a situação de violência vivida, mas abrange todo o contexto de vida da
paciente.
Desenvolvimento do Processo
M.M. passou por atendimento psicológico individual pela primeira vez no CRM no
início de 2016. Na medida em que foi se sentindo mais confortável e confiante no
setting terapêutico, relatou as situações de violência verbal, patrimonial e físicas
vivenciadas por ela enquanto residia com o marido. Afirmou nunca ter requisitado
uma medida protetiva por temer as possíveis reações do marido ao tomar ciência do
fato.
Do início ao término do processo M.M. relatou que o marido a procurou por diversas
vezes para retomarem o relacionamento, desculpando-se e alegando que estava
mudado. Entretanto M.M. afirmou não ter interesse em retomar seu relacionamento,
pois acreditava que o marido nunca mudaria e continuaria violento. Em que pese este
fato, M.M também se encontrava impossibilitada de se desvincular de seu agressor
(ela se negava a divorciar-se legalmente) o que pareceu denotar certa ambivalência
emocional (o marido era, de forma concomitante, objeto de amor e de ódio). Neste
53
cenário, mais do que julgar M.M por seus sentimentos e comportamentos, fez-se
necessário convidá-la a refletir e elaborar a respeito destes.
Gradativamente a paciente passou a não mais se sentir recriminada por ainda
preocupar-se com o homem que a havia violentado. M.M. passou então a
compreender os fatos de nutrir sentimentos de cuidado e preocupação - ainda que
tendo como objeto seu ex-marido - como características positivas de si, identificando-
se como uma pessoa boa e cuidadosa e não mais culpando-se por expressar estes
sentimentos.
Com o desenrolar do processo terapêutico, M.M. também se sentiu confortável para
expressar suas expectativas e planejamentos futuros. Este cenário foi de suma
importância para que a terapeuta pudesse efetuar o encaminhamento da usuária ao
serviço de Psicologia Organizacional e do Trabalho da UPM, no qual as estagiárias
auxiliaram M.M a estudar para um curso de enfermagem e a orientaram para que ela
adquirisse sua Carteira Nacional de Habilitação.
Discussão
Como forma de se atingir o objetivo proposto foi necessário trabalhar em parceria com
outros serviços do CRM – como o grupo de empoderamento de mulheres, que busca
mostrar a usuária uma nova possibilidade de ver a si e seus papeis sociais por uma
visão não naturalista, abrindo possibilidades para M.M atuar como sujeito ativo, não
mais se prendendo a uma visão de si como alguém vitimizada.
Foi possível também desenvolver, junto a usuária, uma importante estratégia de
enfrentamento à situação de violência a partir da ampliação e fortalecimento de sua
rede de apoio social. Neste sentido, retomar a realização de algumas atividades -
inclusive remuneradas - para além do ambiente doméstico, sozinha ou com colegas, foi
possivelmente um dos principais passos em direção ao seu empoderamento e
autonomia.
Cabe reiterar que episódios importantes no decorrer de seu processo, como voltar a
estudar para tornar-se enfermeira e adquirir sua Carteira Nacional de Habilitação,
foram significativos, no sentido de expressarem o quanto a escuta da psicoterapeuta,
54
em uma perspectiva de clínica ampliada pode, de fato, auxiliar no processo de
empoderamento daquelas que se encontram em situação de violência.
Considerações Finais
A experiência de estágio em Psicologia da Saúde demonstrou o quanto o dispositivo
clínico (BROIDE, 2015) pode ser alicerçado nos mais diferentes settings. Merece ainda
destaque o fato de que a escuta clínica do terapeuta deve estar referida a um modelo
de clínica ampliada (ALMEIDA; MALAGRIS, 2011), em consonância com uma acepção
abrangente de saúde, na qual esta é compreendida como sinônimo de cidadania.
Foi a partir destes pressupostos que o acolhimento propiciado pela terapeuta- somada
a sua compreensão de que para além dos fenômenos intrapsíquicos há também que se
elaborar uma escuta atenta para todo o contexto social- possibilitou a parceria com
outros serviços e, por conseguinte, a concretização de importantes passos em direção
a autonomia da paciente.
Palavras-chave: Psicologia da Saúde – Empoderamento – Centro de Referência da
Mulher
Referências
ALMEIDA, Raquel Ayres de; MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes. A prática da
psicologia da saúde. Rev. SBPH, Rio de Janeiro , v. 14, n. 2, p. 183-202, dez. 2011.
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
08582011000200012&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 set. 2016.
BROIDE, Jorge; BROIDE, Emília Estivalet. A psicanálise em situações sociais críticas:
metodologia clínica e intervenções. São Paulo: Escuta, 2015.
HOROCHOVSKI, Rodrigo Rossi; MEIRELLES, Giselle. Problematizando o conceito de
empoderamento. Anais II do Seminário Nacional – Movimentos Sociais, Participação e
Democracia.UFSC, Florianópolis, 2007
55
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL11
DO JOVEM AO REFUGIADO: A DIVERSIDADE EM BUSCA DA ESCOLHA PROFISSIONAL
Ana Carolina Stamm Fávero
Isabella dos Santos Cassane
Profa. Dra. Liliane de Paula Toledo
Apresentação da área de estágio
A Orientação Profissional (OP) é uma vertente da Psicologia que oferece suporte na
construção da carreira, facilitando a realização de escolhas educacionais e
profissionais, além de visar à construção de um projeto futuro. O estágio em OP,
oferecido aos alunos do 5º ano do curso de Psicologia, oportuniza o desenvolvimento
de habilidades e competências para a aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos
para uma melhor condução de intervenções em instituição públicas, ONGs, escolas,
empresas e outros.
Introdução Teórica
Atualmente, as exigências profissionais têm se modificado ante transformações sociais
e tecnológicas. A complexidade do mercado de trabalho tem feito com que a escolha
de uma carreira abarque facetas subjetivas (autoconhecimento associado à busca pela
satisfação profissional) e sociais (prestígio da profissão, remuneração, oportunidades
disponíveis) (ANDRADE, MEIRA e VASCONCELOS, 2002). A carreira de um indivíduo
precisa carregar grandes marcas de sua personalidade, do que lhe é mais autêntico, já
que o trabalho passou a ocupar uma dimensão central e, em torno dele, constroem-se
projetos de vida (DUARTE, 2009).
O método clínico em OP, preconizado por Bohoslavsky (1995), almeja oferecer um
espaço para que o orientando possa expressar aspectos afetivos que influenciam a sua
tomada de decisão, como medos, expectativas e fantasias (ANDRADE, MEIRA e
11
Supervisores da área: Fabiano Fonseca da Silva, Liliane de Paula Toledo.
56
VASCONCELOS, 2002). De acordo com Lehman, Uvaldo e Silva (2006) a ideia é que o
processo ofereça uma maior “sustentação” ao orientando e os autores valem-se da
proposta de consultas terapêuticas de Winnicott como embasamento para esse
modelo que visa não apenas a aquisição de informações sobre profissões, mas
também um enfoque maior no sujeito e nas angústias próprias do processo da escolha.
Deste modo, essas angústias ganham espaço e podem dar lugar à integração de
aspectos antes dissociados, o que é extremamente importante para a estimulação do
autoconhecimento e clarificação das motivações pelas quais o orientando está se
guiando na escolha profissional (LEHMAN, UVALDO e SILVA, 2006).
No exercício da OP, o papel do terapeuta é ativo e investigação realiza-se
conjuntamente, pois é neste espaço de troca e criação de vínculo que se proporciona
ao orientando um espaço real para o olhar para si (LEHMAN, UVALDO e SILVA, 2006).
Essa concepção propulsiona um autoconhecimento mais efetivo, que ajuda o sujeito
no trajeto que vai, em algum momento, levá-lo a uma decisão profissional (SILVA e
SOARES, 2001).
Portanto, ao se dar conta de que “mais do que escolher uma profissão, a Orientação
Vocacional auxilia o jovem a adaptar-se à vida” (ANDRADE, MEIRA e VASCONCELOS,
2002) aumentamos o foco do processo de OP como um todo. Ou seja, tornamos
possível a compreensão de que, ao intervir nas decisões vinculadas ao trabalho,
intervimos em todos os outros aspectos da vida do sujeito.
Objetivos
O presente trabalho tem como objetivo descrever a vivência do estágio em OP
ocorrida em uma organização não-governamental (ONG) parceira da Universidade,
ressaltando aspectos técnicos, éticos, teóricos e práticos desta vertente da Psicologia.
Método
O estágio em OP ocorreu nessa ONG de fevereiro a novembro de 2016. Trata-se de
instituição filantrópica religiosa que oferece programas socioeducativos a mais de seis
mil pessoas: crianças, jovens e famílias em situação de vulnerabilidade social.
57
Foram realizados 26 plantões semanais com três horas de duração para atender não
somente o público jovem, tradicional em OP, mas também adultos de idades,
nacionalidades e profissões variadas.
O estágio se desenvolveu fundamentado na abordagem Clínica e utilizaram-se
instrumentos como Curtograma, Mandala, BBT, TREM®, Guia do Estudante, Manual de
OP do LabPOT, construção de planos de ação e Anagrama, além de elementos do Life
Design.
É válido pontuar que, assim como recebemos um público diversificado, as demandas
também foram variadas como ajuda na elaboração de currículo, preparação para
entrevistas, informações a respeito de serviços e políticas públicas, dúvidas com
relação a escolha e recolocação profissional.
Para cada sujeito atendido o processo de OP se deu em aproximadamente cinco
sessões de 50 minutos, sendo a primeira destinada a uma entrevista de triagem para
conhecer a demanda específica, obter elementos da psicodinâmica do sujeito e
nortear o trabalho das sessões seguintes. Assim, o processo se deu de forma singular
para cada indivíduo, não havendo etapas formais a serem seguidas, como prevê a
abordagem Clínica.
Cabe citar, como exemplo, o atendimento de E. (41 anos, sexo masculino). De origem
africana, E. já possuía clareza em relação à escolha laboral, mas veio buscar auxílio
para obter informações sobre inserção profissional, cursos em sua área e de
Português.
Discussão
De acordo com Bohoslavsky (1992, apud FEIJOO e MAGNAN 2012):
(...) a atuação do profissional de OV [requer] uma leitura interpretativa que permita
compreender o caráter sobredeterminado e multideterminado da escolha, e,
considerando a estrutura do aparelho psíquico, apreender aquilo que se expressa
através da dialética dos desejos, das identificações e das demandas sociais; assim, por
meio de suas técnicas, o psicólogo pode levar o indivíduo a uma escolha o mais livre
possível da sua vida futura (p. 359).
58
O trabalho com enfoque clínico olha então para esse sujeito como ser social, singular e
dotado de potencialidades que não podem ser reduzidas à questão final da escolha e
do fornecimento de informações sobre carreira como era feito antigamente (DUARTE,
2009). Logo, considera-se o processo como um todo mais importante que o resultado
esperado.
De fato, ao longo do trabalho desenvolvido na ONG, notamos o quanto a OP não se
restringe à escolha, mas pode servir como fonte de recursos para a elaboração de
conflitos e propiciar autoconhecimento e crescimento pessoal sólido, envolvendo a
revisão de conceitos sobre si, o mundo e a vida. Assim, nós, estagiárias de Psicologia,
tivemos como principal intuito oferecer suporte na preparação de um projeto laboral
desejante e identitário, que advém de questões profissionais e se integrava a um
projeto de vida.
Vale evidenciar que essa experiência de estágio seguiu a linha crítica assinalada por
Lehman, Uvaldo e Silva (2006) em que, olhando para o cenário atual brasileiro, seria
incongruente pensar na OP apenas como uma ferramenta para auxiliar o ingresso na
Universidade, uma vez que a grande maioria da população “(...) encontra-se em graus
variados de pobreza e, portanto, afastado do ingresso em cursos superiores”
(LEHMAN, UVALDO e SILVA, 2006). Na atuação aqui citada, houve casos diferenciados
como um refugiado e um ex-usuário de drogas, o qual possuía como demanda a
reinserção profissional e social, abarcada e discutida nos atendimentos.
Considerando as esferas individual e social citadas acima, é que se fundamenta a
importância do atendimento na perspectiva clínica. Lehman, Uvaldo e Silva (2006)
baseiam-se nos conceitos de Winnicott de “holding” e “consultas terapêuticas”
aplicados à OP, os quais referem-se a momentos em que o sujeito, por meio do vínculo
formado com o terapeuta, cria um “espaço potencial” para depositar suas dúvidas e
abrir portas para o desconhecido, além de se conhecer melhor e elaborar os conflitos
relacionados à escolha. O adulto de quarenta anos (E.), por exemplo, já sabia o que
gostaria de seguir, mas precisava de um espaço para explicitar suas angústias e traçar
um plano factível de escolha e, principalmente, elaborar o luto pelas opções que
deixou de realizar.
Considerações Finais
59
Pudemos observar os benefícios que o processo de OP forneceu aos sujeitos
atendidos, pois foi possível traçar planos e metas sólidas e plausíveis.
Palavras-chave: Orientação Profissional, Carreira, Trabalho
Referências
ANDRADE, J. M.; MEIRA, G. R. J. M; VASCONCELOS, Z. B. O processo de orientação
vocacional frente ao século XXI: perspectivas e desafios. Psicol. cienc. prof., Brasília ,
v. 22, n. 3, p. 46-53, Sept. 2002 . Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S1414-
98932002000300008>. Acesso em 13 Ago. 2016. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-
98932002000300008.
BOHOSLAVSKY, R. Orientação Vocacional – a estratégia clínica. Trad. José Maria Valeye
Bojart. São Paulo, Martins Fontes, 1995.
DUARTE, M. E. Um século depois de Frank Parsons: escolher uma profissão ou apostar
na psicologia da construção da vida? Revista Brasileira de Orientação Profissional
[online], v. 10, n. 2, pp. 5-14, 2009.
FEIJOO, A. M. L. C; MAGNAN, V. da C. Análise da escolha profissional: uma proposta
fenomenológico-existencial. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 32, n. 2, p. 356-373,
2012.
LEHMAN, Y. P.; UVALDO, M. C. C.; SILVA, F. F. O jovem e o mundo do trabalho:
consultas terapêuticas e orientação profissional. Imaginário, São Paulo , v. 12, n.
12, p. 81-96, jun. 2006. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
666X2006000100005&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 13 Ago. 2016.
SILVA, A. L. P.; SOARES, D. H. P. A Orientação Profissional como rito preliminar de
passagem: sua importância Clínica. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pe/v6n2/v6n2a16>.
60
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA DO ESPORTE
APRIMORAMENTO DA MOTIVAÇÃO, CONTROLE EMOCIONAL E A DISTRIBUIÇÃO DE
PAPÉIS EM UMA EQUIPE DE FUTSAL MASCULINO UNIVERSITÁRIO
Rafael Di Matteo
Stella Casaletti
Prof. Dr. Fabiano Fonseca da Silva
Apresentação da área de estágio
O estágio de Psicologia do Esporte trata-se de uma área responsável em propiciar aos
alunos melhor entendimento dos fatores psicológicos que influenciam no desempenho
físico dos atletas de diversas áreas, assim como, compreender o desenvolvimento
emocional acerca deste ambiente. Por meio de observações e supervisões, os
estagiários serão preparados para desenvolver um projeto de intervenção juntos às
diversas possibilidades de estágio, trabalhando a preparação psicológicas de atletas
considerando o contexto e modalidade praticada.
Introdução teórica
Samulski (2009) diz que o objetivo do treinamento psicológico é desenvolver e
melhorar as habilidades e competências psicológicas (cognitivas, motivacional,
emocional e social) de atletas, técnicos e equipes, por meio da aplicação de técnicas e
programas de treinamento psicológico, tendo como principais objetivos: desenvolver e
melhorar as capacidades cognitivas, emocionais, motivacionais e sociais de atletas e
técnicos; estabilizar o comportamento emocional durante a competição (autocontrole
emocional); acelerar e otimizar o processo de reabilitação e recuperação e melhorar os
processos de comunicação (liderança e comunicação).
Para MATIAS e GRECO (2010), a incorporação da Psicologia do Esporte na área do
treinamento desportivo pode ser decisiva para que os atletas tolerem e controlem
devidamente os elementos motivantes ou estressantes dos treinamentos ou das
61
competições, desenvolvendo e fortalecendo, assim, sua capacidade como atletas e
competidores.
Objetivos
Promover o aprimoramento da motivação, controle emocional e a distribuição de
papéis em uma equipe de futsal masculino universitário. Assim como, auxiliar na
mediação de conflitos internos, acompanhamento individual sobre o comportamento
de atletas específicos além do auxílio na organização dos treinos.
Método
O trabalho foi desenvolvido com a equipe de futsal universitário masculino, onde
abrangia alunos matriculados na área de Psicologia, Fisioterapia, Letras, Pedagogia,
Filosofia, Biologia, Farmácia, Nutrição e Gastronomia. Os instrumentos utilizados
foram: entrevista semi-estruturada, observação de treinos e jogos oficiais e reuniões
de grupo ao final dos treinos. O trabalho foi planejado e aplicado pelos estagiários e
dividiu-se em duas etapas durante o ano letivo de 2016. O primeiro semestre se deu
através do contato e apresentação da proposta de trabalho à equipe, estabelecimento
de vínculo, coleta de dados e a elaboração do projeto de intervenção. Já no segundo
semestre, foi desenvolvido a apresentação e aplicação do projeto de intervenção,
atuações pontuais frente a demandas específicas, avaliação e encerramento do
estágio.
Discussão
A partir das devidas análises e discussões em supervisão, os estagiários puderam
levantar as seguintes demandas: muitos atletas novos na equipe de futsal, perda dos
treinadores ao longo do semestre, falta de organização dentro da equipe em relação
aos treinos e materiais, ausência de atletas durantes os treinos e jogos oficiais,
diminuição da motivação, baixa expectativa da equipe em relação as metas
alcançáveis, confusão quanto aos papeis de cada atleta dento do grupo e acomodação
com as situações de derrota. Assim, foi elaborado um projeto de intervenção capaz
aperfeiçoar a motivação, desenvolver o equilíbrio emocional, principalmente dentro
de quadra e melhor distribuir os papéis de cada atleta dentro da equipe. Sendo assim,
62
foi desenvolvido um programa de motivação baseado no Fantasy Game “Cartola FC”
onde a ideia deste projeto tinha como base a criação de uma competição entre os
atletas da equipe, uma vez que pontuariam a cada treino/jogo conforme as jogadas
executadas por cada um deles. A consequência dessa competição seria, naturalmente,
que os atletas ficassem mais motivados e preocupados com a própria performance. O
registro e acompanhamento de metas objetivas para cada atleta também era uma
função dessa intervenção, uma vez que as jogadas executadas poderiam ser
quantificadas ao longo dos treinos e jogos. Foi realizado reuniões de grupo ao final de
cada treino cujo objetivo era estabelecer a melhor comunicação possível entre os
próprios atletas da equipe, uma vez que se tratava de uma demanda evidente. Outro
projeto que se mostrou necessário diz respeito a mediação de conflitos internos. Assim
como qualquer grupo, a equipe apresentava divergências entre alguns membros.
Sendo assim, esta intervenção foi necessária no processo de reconhecimento da
equipe como um grupo uniforme e mais saudável. Também ocorreu um
acompanhamento individual sobre o comportamento de atletas específicos em jogos e
treinos, pois conforme a particularidade de cada jogador, foi necessário que os
estagiários acompanhassem, de modo especial, determinados atletas da equipe com
maior descontrole emocional e menos tolerância à frustração durante os treinos e,
principalmente, jogos oficiais. Em relação a organização e devido à ausência de figuras
de liderança bem estabelecidas e técnicos, os estagiários auxiliaram pontualmente na
organização e planejamento dos atletas para treinos e jogos (mediação pela ausência
de treinador, mas sem realizar a função técnica). E, por fim, os estagiários ajudaram
na redistribuição de papéis entre os integrantes do grupo; outra intervenção focada na
resolução do problema da equipe relacionado a ausência de figuras de liderança. Bion
(1965 apud Zimerman, 2000), diz que qualquer grupo tem uma necessidade implícita
de que sempre haja uma liderança. Assim, vale destacar, também, a liderança
democrática implica numa hierarquia, com a definição de papéis e funções, e num
claro reconhecimento dos limites e das limitações de cada um.
Considerações finais
Durante o processo de acompanhamento da equipe, as mudanças positivas ocorreram
de maneira contínua e sucessiva. Ao final do estágio, foi possível elencar as alterações
63
no comportamento emocional do grupo, assim como a qualidade das relações entre
seus membros. Concluindo, os principais ganhos que foram observados pelos
estagiários e ratificados pelos atletas foram: maior entrosamento da equipe,
proporcionando uma maior empatia entre seus membros, assim como a consciência
de um grupo conciso e indissociável. Aprimoramento da comunicação dentro e fora de
quadra, de modo que foi possível, assim, aprimorar a organização do treinos e jogos
fora de quadra, como também estimular uma comunicação mais sadia dentro de
quadra, especialmente durante os jogos. Comportamento da equipe durante jogos
oficiais, evitando, deste modo, o descontrole emocional conforme resultados
negativos e, inclusive, diminuindo o número de punições sofridas pelos atletas durante
os jogos (faltas, cartões amarelos e vermelhos). Maior assiduidade e
comprometimento dos atletas nos treinos e jogos, um problema que causava muita
desmotivação nos membros do grupo em geral, uma vez que jogos e treinos chegaram
a ser cancelados por falta de atletas. Ressignificação das derrotas, permitindo que as
experiências negativas em jogos oficiais não abalassem o emocional da equipe, mas
sim pudessem ser utilizadas como aprendizado para jogos futuros. Autoestima da
equipe elevada, assim como de alguns jogadores individualmente, fazendo com que o
rendimento do grupo em geral melhorasse, tanto tecnicamente quanto nas relações
entre os atletas e assiduidade e comprometimento com a equipe. Empoderamento do
grupo frente às dificuldades e limitações, possibilitando que, apesar de qualquer
imprevisto e ameaça de perturbação ao grupo conciso, pudessem reagir de maneira
firme e positiva. Exemplo: assegurar a posse da quadra dentro da Universidade no
horário designado para os treinos.
Conforme demonstrado, os ganhos conquistados a partir dos projetos de intervenção
e acompanhamento dos estagiários trataram-se apenas do início de um trabalho que
não se encerrou com o fim do estágio. A seguir, permanece sob responsabilidade dos
atletas e futuros profissionais envolvidos que os ganhos já conquistados permanecem,
mas, sobretudo, que possam evoluir ainda mais em um trabalho contínuo de
maturação do grupo e equipe.
Palavras chave: psicologia, esporte, motivação, futsal, atleta.
64
Referências
SAMULSKI, D. Psicologia do esporte: conceitos e novas perspectivas. 2a edição.
Barueri: Manole, 2009.
MATIAS, C. J; GRECO, P.J. Cognição & ação nos jogos esportivos coletivos. Laboratório
de Psicologia do Esporte, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
Disponível em: <http://www.fontouraeditora.com.br/periodico/vol-12/Vol12n1-
2013/Vol12n1-2013-pag-07a14/Vol12n1-2013-pag-07a14.pdf>. Acesso em: 10 nov.
2016
ZIMERMAN, D. E; Fundamentos Básicos das Grupoterapias. 2. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2000.