centro de ensino superior do cearÁ faculdade … dos … · nessa lógica, ao analisar a sociedade...
TRANSCRIPT
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE – FAC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
CHIRLENE MENDES MONTEIRO
ANÁLISE DOS FATORES DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO NA UNIDADE DE ABRIGO OLAVO BILAC – FORTALEZA CEARÁ
FORTALEZA 2014
CHIRLENE MENDES MONTEIRO
ANÁLISE DOS FATORES DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO NA UNIDADE
DE ABRIGO OLAVO BILAC – FORTALEZA CEARÁ.
Monografia apresentada ao curso de graduação em serviço Social da Faculdade Cearense – FAC, como requisito parcial para obtenção do titulo de bacharelado.
Orientadora: Profª Ms. Valney Rocha.
FORTALEZA 2014
CHIRLENE MENDES MONTEIRO
ANÁLISE DOS FATORES DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO NA UNIDADE
DE ABRIGO OLAVO BILAC (STDS) – FORTALEZA CEARÁ
Monografia como requisito para obtenção do título de bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Aprovada em: ____/____/________
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________
Profª. Ms. Valney Rocha Maciel – Orientadora
__________________________________________________________
Professora Ms. Maria Elia dos Santos Vieira
1ª Examinadora
__________________________________________________________
Professora Esp. Elainne Cristiane Andrade Ferreira 2ª Examinadora
A toda minha família, aos professores que
contribuíram para minha formação acadêmica, às
minhas amigas e aos idosos que participaram deste
trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, por sua infinita bondade e amor, por me fortalecer
nos momentos de angústia e de dúvidas e por me fazer acreditar que sou capaz.
Á minha maravilhosa mamãe. Leonildes Maria (in memoriam), pelo amor
incondicional que me deste, por estar do meu lado e acreditando em mim. Essa
vitória é dela também, pelos seus ensinamentos e alegria que pude compartilha a
seu lado, saudades eternas.
Ao meu pai, Raimundo Silva, a quem amo muito e me ajudou nos momentos difíceis,
que sempre acreditou em mim. Obrigada por tudo.
Às minhas avós (in memoriam). Pelos momentos maravilhosos que me
proporcionaram, estarão guardadas no meu coração.
Aos meus irmãos, Rafael e Vanderlei, por fazerem parte da minha vida e desejarem
o melhor para mim. Meus sobrinhos, Diogo e Nataely; minhas cunhadas, Cristina e
Antonia, por fazerem parte desta família tão especial que Deus me concedeu.
Á minha Tia Leoneilde, por ser tão solidária comigo em um momento tão difícil na
minha vida e por sempre acreditar no meu potencial. Sei que seu carinho por mim é
sincero e verdadeiro. Ao meu tio Sebastião e minha tia Graça, prima Leonélia e seu
esposo, Itamar. Obrigada, família.
À minha amiga Aline Cordeiro, que participou de grande parte da minha vida, nas
vitorias, nas derrotas, minha. Mais que amiga, uma irmã.
Á queridíssima Marlúcia, por ter muita paciência comigo e pelas trocas de
experiências e desabafos obrigada amiga.
Às minhas amigas Ana Célia, Raquel Aparecida, Erica Jamile, pessoas que fizeram
parte da minha caminhada na graduação, amizades que levarei por toda minha vida.
À minha querida amiga, Elma Teixeira, pelas palavras de incentivo, que nas horas
certas acalmavam meu coração e os anseios da vida.
À Monaliza, por seu apoio e contribuição para a construção desse trabalho.
Obrigada, amiga, por tudo.
Aos meus professores, que colaboraram com a minha formação profissional.
Aos idosos e aos profissionais do Abrigo para Idoso Olavo Bilac, que colaboraram
para a realização da pesquisa.
À banca examinadora, que se disponibilizou a participar desse processo final e, com
suas considerações, contribuiu para que esse trabalho se aperfeiçoasse cada vez
mais.
À minha magnífica Orientadora, Valney Rocha, por ser essa profissional excelente,
sempre aberta para os questionamentos e anseios que nos afligem na concretização
deste trabalho, comprometida com o fazer profissional e com uma conduta ética a
ser seguida, só tenho na agradecer, muito obrigada por tudo.
“A velhice, que hoje tarda bem mais do que décadas atrás,
pode ser bela na sua beleza peculiar; alegre na sua alegria
boa; alerta na medida de seus interesses; procurada e
apreciada enquanto não for amarga.”
(Lya Luft)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo analisar os fatores de institucionalização do idoso na Unidade de Abrigo Olavo Bilac, localizado em Fortaleza, Ceará. As categorias centrais explanadas foram: velhice, processo de envelhecimento, institucionalização do idoso e família. Inicialmente, abordamos um breve histórico sobre a velhice, a compreensão acerca do envelhecimento e a forma que este se apresenta atualmente em nosso país. Bem como o processo de institucionalização, as mudanças ocorridas nos idosos após o abrigamento, as motivações para a institucionalização apontadas pelos familiares, as normas e regulamentações para seu funcionamento. Destacamos, ainda, na pesquisa de campo, o significado da velhice para esses idosos, como se dão as relações dentro da instituição, como estes compreendem a institucionalização e como se davam as relações com seus familiares e como era vida antes de irem para o abrigo. No que concerne às escolhas metodológicas, a pesquisa teve caráter qualitativo e documental, tendo como técnica a coleta de dados, a entrevista e a aplicação de questionários. As análises apontam para a compreensão sobre esta temática, que ganha visibilidade com o aumento da população idosa nos últimos anos e a reflexão sobre os motivos relacionados ao processo de institucionalização. Palavras-chaves: Velhice e envelhecimento. Instituição de longa permanência para o idoso. Família.
ABSTRACT
This study aims to analyze the factors of institutionalization of the elderly unit Shelter Olavo Bilac, located in Fortaleza, Ceará. The central categories esplanades were: age, aging process, institutionalization of the elderly and family. Initially we discuss a brief history about old age, understanding about aging and the way this is currently present in our country. As well as the institutionalization process, changes in the elderly after the shelter, the motivations for the institutionalization identified by family members, the rules and regulations for its operation. We also highlight the field research the meaning of old age for these seniors, as they give the relationships within the institution, as these comprise the institutionalization and how to get along with their family relationships and life was before going to the shelter. Regarding the methodological choices, the research was qualitative and documentary, with the technical data collection, interviews and questionnaires. The analysis points to understand about this topic, it gains visibility with the increase in the elderly population in recent years, reflecting on reasons related to the institutionalization process. Keywords: Old age and aging. Long-stay institutions for the elderly. Family.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária
BPC – Benefício de Prestação Continuada
CAGE – Coordenadoria de Assistência a Grupos Especiais
CRS – Centro de Reintegração Social
FUNSESCE – Fundação dos Serviços Sociais do Estado do Ceará
ILPI – Instituições De Longa Permanência Para Idosos
IBGE – Instituto Brasileiro De Geografia e Estatística
LOAS – Lei Orgânica da Assistência
ONU – Organização Das Nações Unidas
PNAD – A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios
PNI – Política Nacional Do Idoso
IPEA – Instituto de Pesquisa e Estatística Aplicada
SEMTA – Serviço Social Especial de Mobilização de Trabalhadores
SETAS – Secretaria de Trabalho e Ação Social
STDS – Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11
1 O ENVELHECIMENTO COMO FENÔMENO UNIVERSAL ................................... 14
1.1 Um breve histórico sobre a velhice .............................................................. 14
1.2 Os idosos na Europa do século XVII ao século XIX. ................................... 16
1.3 Compreendendo o envelhecimento e a velhice .......................................... 18 1.4 O processo de envelhecimento no Brasil e Ceará. ..................................... 21
2 UM LUGAR PARA O IDOSO MORAR .................................................................. 25
2.1 As instituições de longa permanência para idosos no Brasil (ILPI). ......... 25
2.2 Normas de regulamentação para as instituições de longa permanência para idosos (ILPI) ................................................................................................. 26
2.3 O sentido de ser institucionalizado: as mudanças ocorridas na vida do idoso após a ida para uma ILPI. .......................................................................... 28
2.4 As motivações apontadas pela família sobre a institucionalização dos idosos. .................................................................................................................. 30
3 DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO METODOLÓGICO DO CAMPO DE PESQUISA ................................................................................................................ 35
3.1 A descrição da metodologia. ........................................................................ 35
3.2 O cenário da pesquisa ................................................................................... 36
3.3 A entrada no campo e as percepções do pesquisador .............................. 39 3.4 Perfis dos sujeitos da pesquisa. ................................................................... 40
3.4.1 O significado da velhice ............................................................................. 42
3.4.2 O sentido de ser institucionalizado ............................................................ 44
3.4.3 A sociabilidade no abrigo. .......................................................................... 45
3.4.4 Lembranças que machucam. A vida dos idosos antes do abrigo. ............. 46
CONSIDERAÇÔES FINAIS ...................................................................................... 51
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54
APÊNDICE 1 ............................................................................................................. 59
APÊNDICE 2 ............................................................................................................. 60 APÊNDICE 3 ............................................................................................................. 61
11
INTRODUÇÃO
A sociedade atualmente vivencia significativas mudanças nos âmbitos sociais,
econômicos e culturais. Essas transformações advêm da própria dinâmica histórica,
que em sua complexidade se reinventa a cada dia, e a população idosa não está
imune a essas transformações.
Nessa lógica, ao analisar a sociedade brasileira, constata-se a relevância de
abordar essa temática, pois outrora considerado país jovem, hoje convive com o
crescimento expressivo dessa parte da população. Dados do censo de 2010,
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE), mostram que a população
acima de 60 anos obteve um crescimento de quatro pontos percentuais, passando a
representar 18 milhões de pessoas idosas se comparado ao do ano de 2000, que
correspondeu a 14,5 milhões. (IBGE, 2012).
De acordo com Barros (2007), apesar desse aumento expressivo da
população idosa, esta passou a ser temática debatida pelas ciências sociais a partir
da década de 1960 e, na década de 1980, adquiriu visibilidade por meio da
relevância teórica e política.
Corroborando com o argumento da autora sobre esta temática ser algo
recente, buscamos exigir respostas urgentes para atender plenamente essa
demanda, pois as mudanças ocorridas no contexto social impactaram diretamente
na vida dos idosos, ocasionando a busca de alternativas que os contemple
integralmente, oferecendo meios e instrumentos para que possam viver dignamente
e com qualidade de vida.
Percebemos que a velhice representa uma das expressões da questão social,
sendo, portanto, um dos objetos sobre o qual o serviço social intervém. E, como os
demais problemas sociais, apresenta complexidades que requerem profundo estudo
e avaliação na busca de alternativas que contribuam para a possível solução dos
problemas.
Ao estudarmos acerca da institucionalização do idoso, compreendemos que a
família é fundamental para todos os atores sociais, em especial para os sujeitos da
pesquisa, pois se encontram mais vulneráveis, fragilizados, seja por decorrência de
problemas de saúde ou das mudanças que ocorrem nos aspectos biopsicossociais
na vida do idoso.
12
O presente trabalho tem como objetivo principal analisar os fatores que
propiciam a institucionalização dos idosos na Unidade de abrigo Olavo Bilac. Para
isso, se faz necessário compreender a percepção dos idosos sobre a velhice e a
permanência em uma instituição de abrigo, identificar em que contexto se deu a
vinda para o abrigo, entender como se dava o relacionamento com os seus
familiares. Para atingir esse intuito, fez-se necessário um aprofundamento na análise
do processo de envelhecimento e dos obstáculos à manutenção do vínculo familiar,
tendo como consequência principal a institucionalização dos idosos em abrigos.
O abrigo deve ser um espaço de integração do idoso em sociedade e,
especialmente, com seus familiares. Ser institucionalizado não significa ser excluído
do seu papel social, mas estar acolhido por uma instituição pública ou particular
responsável por manter o idoso em constante atividade. Nesse sentido, o Estatuto
do Idoso, em seu artigo 47, inciso I, afirma que as instituições de longa permanência
devem adotar o principio da preservação dos vínculos familiares.
Este estudo reveste-se de relevância ao propor analisar aspectos ligados à
institucionalização dos idosos em abrigo permanente. O desejo de debater acerca
dessa temática ocorreu por meio da disciplina de Gerontologia, ministrada pela
ilustre professora Mariana Aderaldo. Nessa disciplina, a questão social do idoso foi
destaque. Através desta, tivemos a oportunidade de fazer uma visita a um abrigo.
Nesse momento, o anseio de decifrar os fatores de institucionalização impulsionou a
presente pesquisa.
As categorias velhice, institucionalização e processo de envelhecimento foram
importantes no desenvolvimento da pesquisa. Primeiramente, realizou-se uma
pesquisa bibliográfica referente à temática abordada. Alcântara (2004), Beauvoir
(1900), Ramos (2002), Mascaro (2004), Camarano e Paisanato (2004), Robert
Kuatembam (1981), Minayo (2010), Gil (2011) e dentre outros, contribuíram para a
realização da pesquisa por abordarem os principais conceitos referentes à temática
em questão. O levantamento bibliográfico foi elaborado a partir de artigos,
científicos, jornal (Diário do Nordeste), livros, documentos e estudos realizados por
institutos de pesquisa.
O próximo passo foi preparar uma metodologia de pesquisa apropriada e
aplicá-la com o objetivo de obter e analisar os relatos coletados. Levando em
consideração a natureza do objeto de pesquisa, optamos por uma pesquisa com
13
abordagem qualitativa e utilizamos como instrumento de coleta de dados a
entrevista semiestruturada (roteiro em anexo).
A pesquisa de campo foi realizada durante o mês de Janeiro de 2014. Ao
todo, foram realizadas seis entrevistas durante esse período. A princípio, pretendia-
se entrevistar dez idosos, entretanto, optamos por seis devido ao fato de a maioria
dos institucionalizados apresentarem problemas de saúde, em especial mal de
Alzheimer.
O presente trabalho foi estruturado em 3 (três) capítulos. Nos dois primeiros
referenciamos a parte teórica, e no último apresentamos a metodologia utilizada e o
resultado da pesquisa.
No primeiro capítulo, denominado “O ENVELHECIMENTO COMO
FENÔMENO UNIVERSAL”, procuramos apreender aspectos que possibilitaram uma
maior compreensão acerca do fenômeno da velhice, bem como de seu contexto
histórico, além de trazermos informações sobre o envelhecimento e o avanço da
população idosa no Brasil, utilizando dados disponíveis nos documentos produzidos
pela OMS e IBGE.
No segundo capítulo, intitulado “UM LUGAR PARA O IDOSO MORAR”,
procuramos apresentar o surgimento das primeiras instituições para idosos no Brasil,
as normas de regulamentação, expondo, também, as motivações apontadas pelos
familiares para a institucionalização.
No terceiro capítulo, “DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO
METODÓLOGICO DO CAMPO DE PESQUISA”, descrevemos o cenário da
pesquisa, relatamos como se deu a entrada no campo e o período de realização
desse estudo. Descrevemos o perfil dos participantes e os caminhos metodológicos
que foram percorridos, assim como o método utilizado para a realização das
análises e interpretação dos dados e as análises dos relatos.
Concluindo a pesquisa, descrevemos as considerações finais acerca da
temática na visão da pesquisadora, porém embasada em outros autores que
discutem essa abordagem acerca das instituições de longa permanência para
idosos. Em anexo, seguem os instrumentais utilizados nesse processo de pesquisa,
entre eles: o instrumental para traçar o perfil dos idosos da Instituição e os termos de
livre consentimento.
14
1 O ENVELHECIMENTO COMO FENÔMENO UNIVERSAL
1.1 Um breve histórico sobre a velhice
Para o melhor entendimento sobre a velhice, devemos compreender a
importância de resgatar o que foi e o que está sendo debatido sobre este tema.
Dessa forma, veremos que o envelhecimento é um assunto recorrente desde os
tempos mais remotos até a contemporaneidade.
Falar sobre velhice é falar sobre o tempo, história memórias e valores. Assim, é relevante às sociedades e aos grupos humanos valer-se da imagem dos idosos e da velhice para representar a continuidade e realçar a necessidade de preservar e transmitir valores culturais básicos. (NERI, 2006, p. 21).
Percebemos que não é de hoje que a humanidade sonha com a eterna
juventude. A busca por esse sonho nos acompanha desde os primórdios. Segundo
Mascaro (2004 p.11), “essa busca incessante tem sido expressada por meios dos
mitos, das fábulas, dos rituais mágicos e das receitas dos alquimistas”. Segundo a
autora, os gregos antigos enalteciam a juventude e tinham o intuito de vencer a
morte. A velhice era vista como um castigo que aniquilava a força de um guerreiro.
No entanto, para a autora supracitada, a velhice na Antiguidade nem sempre
foi sinônimo de tristeza e sofrimento. Ela relata que, na concepção de Homero, por
exemplo, a velhice era vista, muitas vezes, como expressão de sabedoria, bondade
e vigor.
Ao iniciar os estudos a respeito da velhice em diferentes épocas históricas,
Sônia Mascaro (2004) menciona sobre o sacrifício dos historiadores para calcular a
proporção de idosos, pois as pedras tumulares eram as únicas formas de
documentação acessível e não representavam a maioria da população. Outro fato
que vale ressaltar é que, na Grécia clássica e na Roma Antiga, as mulheres e os
escravos não eram contabilizados nos cálculos populacionais e nas estratégias
políticas.
Beauvoir (1990, p. 109) corrobora com Mascaro afirmando que os dados que
se tinham faziam raramente apenas uma alusão a esse assunto: “a imagem de
velhice é incerta, confusa e contraditória”.
15
De acordo com Mascaro (2004), na Antiguidade, a velhice iniciava-se
prematuramente, pois a vida era difícil e era necessário que o individuo tivesse
saúde para resistir às inúmeras moléstias, visto que chegar à longevidade era um
privilégio para poucas pessoas devido ao fato de que somente uma minoria
abastada tinha condições de cuidar de sua saúde.
Em relação às atividades produtivas, a autora afirma que era comum começar
a trabalhar cedo e não havia uma idade correta para encerrar suas atividades
laborais. Apenas as enfermidades e a invalidez contribuíam para que o indivíduo não
fosse mais visto como mão de obra produtiva.
Segundo Mascaro (2004), a velhice, na Antiguidade, representava um
sinônimo de respeito e autoridade. A autora referencia dois filósofos gregos,
Sócrates e Platão1, afirmando que os mesmos pregavam que os jovens deviam
respeito e obediência aos mais velhos. Na Grécia, os jovens não cuidavam dos
negócios públicos.
Acerca da mulher idosa, a autora supracitada vai falar do lugar ocupado pela
avó no Império Romano, no qual a mesma poderia exercer um papel de destaque na
família, sendo confiada a ela, pelas famílias ricas, a responsabilidade de cuidar de
suas casas de campo ou mesmo de seus filhos. Já na Idade Média, as mulheres
idosas viviam uma situação bem mais atribulada, pois o envelhecimento estava, em
alguns aspectos, relacionado à viuvez e aquelas que se encontravam neste perfil
eram inferiorizadas no interior das famílias.
Na Idade Média, período em que o feudalismo2 se desenvolvia, a vida nesse
período era difícil e mais ainda para os idosos que não pertenciam à alta classe de
poder dos senhores feudais. Havia uma desvalorização do velho em relação ao
1 Sócrates (469-399 a.C.), um dos maiores pensadores de todos os tempos, pretendia nada saber e dizia que todos já possuíam o conhecimento do que era correto dentro de si. Para trazer esse conhecimento à tona, ele fazia perguntas bem dirigidas e questionava sistematicamente seus interlocutores a fim de que a sabedoria aflorasse. A suprema sabedoria seria, aparentemente, o conhecimento do bem, ou pelo menos o reconhecimento honesto da própria ignorância. Platão (429-347 a.C.), admirador e discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas, famosa escola de Filosofia em que mestre e discípulos viviam em comum, debatendo constantemente os mais variados temas. Ao lado de ideias fundamentalmente teóricas, como a contraposição das aparências à realidade, a crença na existência de uma alma eterna e na vida após a morte, Platão propunha, de forma eminentemente prática, que a cidade ideal deveria ser governada por um rei-filósofo. Disponível em filosofia grega para principiantes: <http://www.greciantiga.org/arquivo.asp/>. Acesso em 19 jan. 2014. 2 Feudalismo: Organização social, econômica e política da Idade Média, em que um nobre se obrigava a prestar serviços especiais e em troca recebia do rei terras e privilégios. Disponível em: <http://www.michaelis.uol.com.br/> Acesso em 09 de dezembro de 2013.
16
jovem, o que pode ser constatado na seguinte afirmação: “os velhos foram mais ou
menos excluídos da vida pública: os jovens conduziam o mundo.” (BEAUVOIR,
1990, p.157).
Essa exclusão da vida pública dava-se porque os jovens tinham força para
lutar e defender seus feudos, sendo este fator primordial para a sua administração.
Segundo Beauvoir (1900, p.158), “o homem idoso tem apenas nessa sociedade
(feudal), um papel apagado” e, complementando a ideia da autora acima citada,
Mascaro (2004. p. 29) afirma que “a tarefa dura dos trabalhos nos campos afasta os
velhos das atividades e a grande maioria dos idosos estava excluída da vida
pública”.
Nesta época, período em que predominava o feudalismo, a Igreja Católica3
conquistou e manteve grande poder, influenciando vários setores das atividades
humanas, a saber: o econômico, o político e social. Cabe salientar que, neste
período, a terra era o maior bem que se possuía e a Igreja era a detentora de
grande parte das terras, as quais eram doadas por aqueles que queriam ser libertos
da condenação divina. No que se refere às decisões políticas, interferia na
elaboração das leis e, no setor social, estabelecia padrões de comportamento moral
para a sociedade. Corroborando com essa afirmação, Mascaro (2004, p. 29) destaca
que
[...] Existia na sociedade da Idade Média uma identidade entre o poder patriarcal e o poder das estruturas monásticas, e os jovens obedeciam e respeitavam os mais velhos, como obedeciam a Deus.
Como podemos observa nas discussões acima citadas que a vidas dos
idosos na Antiguidade e Idade Média foram marcadas por várias dificuldades, iremos
explanar agora sobre este segmento na Europa do século XVII ao XIX.
1.2 Os idosos na Europa do século XVII ao século XIX.
Na sociedade francesa do século XVII, marcada pelo autoritarismo e
absolutismo da época, a expectativa de vida era baixa e, ao completar 50 anos, o
homem perdia seu lugar na sociedade. Um dos motivos está relacionado a não ter
3 Igreja Católica: Disponível em: <http://www.airtonbc. wordpress.com/2010/11/29/o-dominio-da-igreja-na>. Acesso em 09 de Dezembro de 2013.
17
condições físicas de continuar produtivo para o trabalho, à má alimentação e às
difíceis condições de higiene. Outro fator destacado era a posição social que o
individuo velho ocupava na sociedade. Segundo Mascaro (2004, p.31), “o idoso rico
continuava a ser respeitado em função de suas posses e não de sua longevidade”.
Na Europa do século XVIII, a velhice ainda se iniciava cedo e, de acordo com
Sônia Mascaro (2004), os idosos que não fossem considerados chefes de família,
monarcas ou sacerdotes eram distanciados da vida social. A Revolução Francesa
limitou os poderes patriarcais, porém o pai ainda mantinha seu poder, embora fosse
mais limitado, tanto no espaço público quanto no privado.
Já no século XIX, segundo a autora supracitada a vida das pessoas que
chegavam à velhice foi marcada por várias transformações, como a Revolução
Industrial, o êxodo rural, o desenvolvimento urbano e as descobertas científicas.
Com o progresso da medicina e das práticas de higiene e saúde pública, crescia a
expectativa de vida, no entanto, as chances de uma velhice saudável ainda era
privilégio dos idosos ricos, enquanto os idosos pobres tinham seu destino designado
à família, que poderia tratá-los bem ou esquecê-los abandonados.
Diante do desenvolvimento no processo de industrialização, Mascaro (2004)
afirma que era necessário também que houvesse uma capacitação da mão de obra,
o que demandava que os trabalhadores vivessem mais para compensar o que havia
sido gasto com a sua qualificação.
De acordo com Ramos (2002), antes da concretização do capitalismo, o tema
velhice não era levado em consideração e, após a sua solidificação, surgiu a
necessidade de se estudar e conhecer cada uma das fases do ser humano
(nascimento, crescimento, amadurecimento, e morte) como objetivo de disponibilizar
para o mercado de trabalho um homem ideal.
No decorrer da história, constatamos que não eram somente as sociedades
capitalistas que desvalorizavam seus velhos, outras sociedades que apresentavam
um número bem reduzido de idosos também não os aceitavam porque estes não
combinavam com sua organização. Ramos (2002, p. 19) faz um paralelo entre as
sociedades antigas com a atual:
Pode-se afirmar tranquilamente que a diferença dessas sociedades para as atuais é que não se condenam mais explicitamente os velhos à morte. Sua condenação acontece de maneira sorrateira, indireta, à medida que não são oferecidos os serviços mínimos para que tenham uma existência digna,
18
embora muitas sociedades hoje disponham de recursos suficientes para tanto.
Concordamos com o posicionamento do autor no que se refere às
circunstâncias atuais que envolvem a vida de alguns idosos que se encontram
inseridos em situações de vulnerabilidade social, sem condições, inclusive, de suprir
sua subsistência. Esta situação se compara com o sofrimento que em outras épocas
foi vivenciado.
Como vimos até aqui, em épocas distintas, a velhice apresenta-se
multifacetada. Em alguns momentos, como sinônimos de decadência e, em outros,
como representação de força e de poder. Porém, é importante destacar que essa
representação de força e poder se refere apenas àqueles que tinham posses, que
faziam parte de uma classe privilegiada como afirma Mascaro (2004, p. 32) “o
homem idoso pertencente às classes privilegiadas era visto como uma figura nobre
e reverenciada”, embora o envelhecimento populacional acontecesse de forma lenta,
uma vez que a média de vida era reduzida.
O entendimento do fenômeno da velhice se faz necessário, bem como os
fatores históricos que a identificam nas diferentes épocas e lugares, já que os
aspectos relacionados a essa temática são complexos e não existem isoladamente.
A partir da assimilação dos fatores acima relacionados, vamos avançar em
nossa pesquisa abordando as várias compreensões da velhice e do envelhecimento.
1.3 Compreendendo o envelhecimento e a velhice
Na busca da compreensão do que vem a ser o envelhecimento, faz-se
necessário discorrermos sobre alguns conceitos que o envolvem, como: idoso,
velhice e o próprio envelhecimento. Assim, O envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto cujos componentes estão intimamente relacionados. [...] o envelhecimento é conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos. (NETTO 2010, p. 10).
De acordo com o que foi exposto, Camarano e Pasinato (2002) compreendem
que o envelhecimento de uma pessoa está relacionado a um processo biológico de
19
diminuição das capacidades físicas, associado a novas debilidades psicológicas e
comportamentais.
Dialogando sobre este assunto, trago as palavras de Beauvoir (1990) quando
esta declara que o envelhecimento se trata de um fenômeno biológico, uma vez que
determinadas particularidades aparecem apenas no organismo de um individuo
velho. Entretanto, ela está relacionada também a aspectos psicológicos no sentido
de que alguns comportamentos ocorrem em virtude da idade avançada.
Para tanto, a abordagem dessa temática não inclui apenas os aspectos
biológicos, visto que, segundo Beauvoir (1990, p.20) “a velhice deve ser
compreendida em toda a sua totalidade”. Assim, levando-se em consideração
também a análise dos aspectos psicológicos, culturais e sociais relativos a valores e
preconceitos que permeiam a história das sociedades.
Para além de um fenômeno biológico que se processa no decorrer da vida e
traz mudanças físicas, é importante destacar que a velhice traz também para o ser
humano consequências psicológicas e mudanças de determinados comportamentos
que passam a ser característicos dessa fase da vida que, assim como as demais
fases, também possui suas peculiaridades. Como nos apresenta Beauvoir (1990, p.
15), “como todas as situações humanas, ela tem uma dimensão existencial: modifica
a relação do individuo com o tempo e, portanto sua relação com o mundo e com sua
própria história".
Do ponto de vista cultural e social, podemos perceber que existem várias
imagens que a sociedade faz sobre a velhice e o envelhecimento, podendo
apresentar-se de formas positivas ou negativas. Segundo Oliveira (2001, p. 3):
O processo de envelhecimento tem sido considerado historicamente através de duas fortes e opostas perspectivas: uma que o reconhece como a etapa final da vida, a fase do declínio que culmina na morte; outra que o concebe como a fase da sabedoria, da maturidade e da serenidade.
Para Beauvoir (1990), a relação do homem na velhice, assim como em
qualquer idade, lhe é imposta pela sociedade à qual pertence. E essa sociedade por
muitas vezes enxerga a velhice como uma fase negativa. Assim, as qualidades
atribuídas aos velhos são carregadas de estigmas, contrariando aquelas que são
atribuídas ao jovem, tais como: vitalidade, produtividade, beleza e força.
20
Podemos observar, também, aspectos positivos em relação à velhice
associados ao avanço da ciência e suas tecnologias na melhoria da saúde de muitos
idosos, acarretando, assim, uma melhora na qualidade de vida e o reconhecimento
da sua própria velhice. Segundo Oliveira (2001 p. 4), “um envelhecer positivo
fortalece o sentimento de identidade, sem necessariamente envolver tanta
deterioração psíquica quanto comumente se associa a essa fase”
Segundo Goldman (2000, p. 61), o processo de envelhecimento deve ser
compreendido “como multifacetado, complexo e situado no tempo, espaço e
historicamente determinado”. Por esse motivo, deve ser estudado e analisado por
diversas áreas, sobre múltiplos ângulos.
Analisamos, no decorrer da leitura, a compreensão que se faz em torno da
velhice e do processo de envelhecimento. Começaremos agora a explicar alguns
conceitos e as terminologias que envolvem este tema.
Na tentativa de suprimir o termo velho, surgem novos termos para denominar
a pessoa velha, como: terceira idade, pessoa idosa e melhor idade. Para Mascaro
(2004), esses termos foram criados por se entender que a expressão velha remete a
algo usado, antiquado ou mesmo obsoleto.
Para ajudarmos a compreender sobre o assunto, a autora supracitada afirma
que existem várias definições que podem caracterizar o envelhecimento do ser
humano, dentre as quais são destacadas a idade cronológica, a idade biológica, a
idade social e a idade psicológica. Explicando que a idade cronológica é
determinada a partir do nascimento do indivíduo; a idade social se refere às
condutas normativas, às crenças e aos modelos sociais que definem o
comportamento do idoso; a idade psicológica está relacionada às variações de
comportamento provenientes das alterações biológicas que acompanham o
processo de envelhecimento; e, finalizando, a idade biológica “é determinada pela
herança genética e pelo ambiente, e diz respeito às mudanças fisiológicas,
anatômicas, hormonais e bioquímicas do organismo.” (MASCARO 2004, p.39).
No decorrer do texto, discorremos sobre a situação da velhice em épocas
distintas e o entendimento acerca dos vários conceitos sobre o assunto.
Compreendemos a importância de estudarmos o que os idosos vivenciavam naquele
momento histórico para buscarmos entender a vida dos idosos atualmente. Contudo,
iniciaremos agora o nosso olhar para essa população no Brasil e Ceará.
21
1.4 O processo de envelhecimento no Brasil e Ceará.
O envelhecimento populacional é um fenômeno que ocorre atualmente no
mundo inteiro. Os países desenvolvidos, por exemplo, apresentam um percentual de
natalidade menor que o percentual de mortalidade. Já nos países considerados em
desenvolvimento, como o Brasil, os idosos, segundo Veras (2008, p. 549),
“aumentaram quase 700% ao considerar o período compreendido entre as décadas
de 1960 a 2000”. Ver Quadro 1.
Quadro 1- Evolução da população Idosa no Brasil nas décadas de 1960-2010.
Evolução da População Idosa no Brasil nas décadas 1960-2000 Ano Total da população
1960 3.000.000,00 milhões
1975 7.000,000, 00 milhões
2008 20.000,000, 00 milhões Fonte: Veras, 2008. Adaptada pela autora em questão.
No Brasil, a discussão sobre a população idosa encontra-se cada vez mais
presente. No espaço acadêmico e na sociedade em geral, como afirma Debert
(2004, p. 203), “desde os anos 80, a velhice e o envelhecimento vêm ocupando cada
vez mais espaço entre os temas que preocupam a sociedade Brasileira”.
A Organização Mundial de Saúde - OMS (2005) revela que até o ano de 2025
o Brasil, possivelmente, ocupará o sexto lugar em população de idosos do planeta
com 31,8 milhões de indivíduos com 60 anos ou mais, lembrando que, segundo o
Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741 de 1° de outubro de 2003, “idoso é a pessoa que
tem idade igual ou superior a 60 anos”.
Para complementar esta pesquisa, trazemos os dados do Censo Demográfico
2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE, que
revelaram um aumento da população com 65 anos ou mais, que era de 4,8% em
1991, passando a 5,9% em 2000 e chegando a 7,4% em 2010.
A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios - PNAD 2011 confirmou a
tendência de envelhecimento da população brasileira, isto é, os idosos, pessoas
com mais de 60 anos, somam 23,5 milhões dos brasileiros, mais que o dobro do
22
registrado em 1991, quando a faixa etária contabilizava 10,7 milhões de pessoas
(IBGE, 2010; PNAD, 2011).
As autoras Camarano e Pasinato (2004), ao refletirem sobre o crescimento da
população idosa brasileira, afirmam que este aumento está intimamente ligado a
dois processos: à alta fecundidade no passado, principalmente ocorrida nos anos de
1950 e 1960, comparada à baixa taxa de fecundidade nos dias de hoje, e à redução
da mortalidade. Esses fatores interligados têm como consequência o aumento da
expectativa de vida
Corroborando com as autoras, trago os dados da PNAD (2010) em relação ao
número de idosos. O Brasil computava uma população de cerca de 21 milhões de
pessoas de 60 anos ou mais de idade. Com uma taxa de fecundidade abaixo do
nível de reposição populacional, combinada ainda com outros fatores, tais como os
avanços da tecnologia, especialmente na área da saúde, atualmente o grupo de
idosos ocupa um espaço significativo na sociedade brasileira. Em relação ao perfil
socioeconômico da população idosa brasileira, pode-se afirma que: É possível traçar um breve perfil socioeconômico deste segmento populacional. As mulheres são a maioria (55,8%), assim como os brancos (55,4%), e 64,1% ocupavam a posição de pessoa de referência no domicílio. A escolaridade dos idosos brasileiros é ainda considerada baixa: 30,7% tinham menos de um ano de instrução. Pouco menos de 12,0% viviam com renda domiciliar per capita de até ½ salário mínimo e cerca de 66% já se encontravam aposentados. (IBGE 2010).
A respeito dos dados citados anteriormente, estes comprovam que a maior
parte da população idosa é formada por pessoas do sexo feminino e que enfrenta
problemas econômicos, pois a sua maioria vive com até meio salário mínimo
mensal. Além disso, existem aspectos evidentes relacionados a essa população
específica. Alguns fatores predominantes destacam-se, a saber:
Forte presença em áreas urbanas (84,1%): maioria branca (55,0%); inserção no domicilio como pessoa de referencia (63,7%); 3,9 anos de estudo em média, sendo que 32% têm menos de 1 ano de estudo; e 48,1 % têm rendimento de todas as fontes igual ou superior a 1 salário mínimo, enquanto cerca de um a cada quatro idosos reside em domicílios com rendimento mensal per capita inferior a 1salario mínimo.( IBGE 2012),
Segundo Andre Lopes (2006), esta diferença entre homens e mulheres em
relação ao envelhecimento explica, em parte, a chamada feminização da velhice.
Conforme a autora e as pesquisas gerontológicas, as mulheres de idade avançada
23
estão mais expostas a doenças e à solidão. Além disso, detêm maiores taxas de
institucionalização, possuem um maior risco de morbidade, consultam mais médicos
e têm menos oportunidades de contar com um companheiro em seus últimos anos
de vida.
Explanamos, neste tópico, um pouco sobre o envelhecimento no Brasil
referenciado nos dados do IBGE e PNAD. Agora, abordaremos esta temática,
trazendo em cena o Ceará, especialmente em relação à institucionalização dos
idosos.
De acordo com os dados atuais, observamos um aumento no número de
longevos. Segundo o IBGE (2012), a expectativa de vida dos Brasileiros ao nascer
passou para 74,6 anos, sendo que, em 2002, era de 71 anos. Este crescimento
também se refletiu na região Nordeste: A região Nordeste ainda tem, igualmente, características de uma população jovem. As crianças menores de 5 anos em 1991 correspondiam a 12,8% da população; em 2000 esse valor cai para 10,6%, chegando a 8,0% em 2010. Já a proporção de idosos passou de 5,1% em 1991 a 5,8% em 2000 e 7,2% em 2010.
No Ceará, segundo a Pesquisa Nacional de Amostra a Domicílios (2011), o
número de pessoas idosas é de 1.089 milhão, equivalente a 12% da população
cearense. Esse resultado coloca o Estado como a quinta unidade da Federação com
maior percentual de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil.
Em decorrência desse aumento da população idosa, cresce com ela várias
questões. Corroborando com este assunto, Ramos (2002, p. 24) enfatiza que a
velhice possui dimensões complexas que estão relacionadas às condições
econômicas e sociais:
Sendo a velhice um fenômeno complexo, uma vez que envolve múltiplos fatores, dentre os quais a condição econômica, o grau de instrução, a alimentação ingerida, as relações familiares, entre outros, não se torna possível desenvolver um conceito pleno de velhice, caso não se tenha em vista todos esses fatores que, em sendo considerados, propiciarão o desenvolvimento de políticas mais adequadas ao atendimento das múltiplas necessidades dos velhos que tem em comum apenas a diminuição de suas forças físicas, uma imposição da própria natureza.
Analisando a explanação do autor, reconhecemos vários avanços no que diz
respeito aos direitos dos idosos, mas evidenciamos que há muito a ser feito,
principalmente a efetivação e o aprimoramento de políticas públicas que possam
24
contemplar a todos os idosos, sem discriminação. Dentro desse contexto,
destacamos também a institucionalização e o abandono de idosos em instituições de
longa permanência. A procura por este tipo de serviço vem aumentando
gradativamente.
Uma noticia divulgada pelo jornal Diário do Nordeste (CEARÁ. 2011) afirma
que o Estado do Ceará dispõe apenas de um abrigo público, o qual é o lócus desta
pesquisa. Esta Unidade de Abrigo, denominada Olavo Bilac, esta localizada na
cidade de Fortaleza. Essa reportagem evidencia as dificuldades encontradas nesta
instituição, verificando que o equipamento não comporta a grande demanda que lhe
é solicitada todos os dias. Dessa forma, transfere-se a responsabilidade para as
instituições privadas absorverem tal demanda.
De acordo com a notícia acima citada, compreendemos que o envelhecimento
constitui-se um desafio para a sociedade e, especialmente, para o Poder Público. A
situação de desamparo sofrida pelos idosos por parte das autoridades competentes
faz com que se agravem ainda mais os problemas vivenciados por estas pessoas, já
que não possuem condições financeiras de manterem-se nem de serem providos
pela família, ficam a mercê da caridade ou benemerência da sociedade.
Entendemos, também, que esta realidade precisa ser mudada, pois é
necessário lutarmos para a efetivação e garantia dos direitos dos idosos, já que a
população de idosos continuará a crescer e arrastará com ela questões que
necessitam de respostas imediatas para a sua resolução.
Avançaremos nossa pesquisa no que diz respeito às instituições de longa
permanência para idosos, abordando um pouco como estas instituições surgiram no
Brasil, as normas para sua regulamentação e as políticas que envolvem esta
temática.
25
2 UM LUGAR PARA O IDOSO MORAR 2.1 As instituições de longa permanência para idosos no Brasil (ILPI).
Retratando sobre o contexto histórico de instituições destinadas a albergar
idosos, faz-se necessário entender que estas existem há bastante tempo. Segundo
Alcântara (2004, p. 31), “o cristianismo foi o pioneiro no amparo aos velhos: Há
registros de que o primeiro asilo foi fundado pelo Papa Pelágio II (520-590), que
transformou a sua casa em hospital para velhos”. Ainda segundo a autora, no Brasil
Colônia, por iniciativa do conde de Resende, surge em 1974, no Rio de Janeiro, a
Casa dos Inválidos, para repouso de velhos soldados que prestaram serviço à
pátria, para que tivessem uma velhice tranquila. Mais de 100 anos depois, em 1890,
surgiu no Rio de Janeiro a primeira Instituição destinada ao acolhimento de idosos
desamparados.
Atualmente, os locais de acolhimento de idosos, denominados Instituições de
Longa permanência para Idosos (ILPI), recebem várias denominações, como casa
de repouso, asilo, clínica geriátrica e são considerados um sistema social
organizacional com a função de assistir ao idoso quando verificada a inexistência de
grupo familiar. (CAMARANO; KANSO, 2010).
Nesse contexto, buscamos explanar sobre as ILPI’s no Brasil atualmente e
trazemos um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2011)
que mostra que o número de instituições públicas de acolhimento aos idosos não
acompanha o crescimento da terceira idade. Esta já chega a mais de 20 milhões de
pessoas, conforme fonte complementar do Censo de 2010. No Brasil, funcionam
3.548 asilos (públicos e privados), sendo que o número de instituições públicas são
218, considerando as esferas municipal e estadual.
Segundo pesquisas realizadas, a maioria dos Estados brasileiros conta com
apenas uma instituição pública de acolhimento aos idosos, por exemplo, Rio de
Janeiro e Ceará. As demais são filantrópicas ou privadas. O estudo apontou que
mais da metade das instituições brasileiras, 65,2%, são filantrópicas e o suporte
26
financeiro recebido do setor público cobre apenas 22% do custo operacional dessas
instituições. Cerca de 80 mil idosos vivem em asilos no Brasil, número insignificante
diante do número de idosos necessitados de abrigo. (CARLYLE Jr. 2011).
Corroborando com o autor supracitado, salientamos que o Ceará possui
vários abrigos de caráter privado e filantrópico, dentre eles destacamos o Olavo
Bilac, lócus da pesquisa, situado na cidade de Fortaleza, sendo este o único abrigo
mantido com recursos financeiros oriundos integralmente do Estado.
Diante do exposto, compreendemos que a sociedade brasileira não está
preparada para enfrentar as questões que envolvem o envelhecimento, em especial
os idosos que vivem em situação de abrigamento. Para isso, observamos a
necessidade cada vez maior de assistência do Poder Público aos idosos. A maioria
deles encontra-se em situação de vulnerabilidade à medida que seus familiares não
possuem recursos financeiros para acolhê-los de forma a manter sua integridade
física e moral ou por não estarem dispostos a cuidar de uma pessoa com idade mais
avançada.
2.2 Normas de regulamentação para as instituições de longa permanência para idosos (ILPI)
As ILPI, para funcionar, necessitam de regulamentação junto aos órgãos e
autoridades competentes para sua execução. Segundo Alcântara (2004), a Portaria
Ministerial nº 810/1989 foi a primeira a definir as Normas e Padrões de
Funcionamento de Casas de Repouso, Clínicas Geriátricas e outras instituições para
idosos.
Padronização da área física, assistência médica, odontológica, de
enfermagem, nutricional, psicológica e farmacêutica, bem como atividades de lazer e
de reabilitação física são alguns dos itens para a permissão do funcionamento das
instituições de longa permanência, conforme a supracitada portaria.
Além das normas da Portaria 810/89, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA)4 estabelece as diretrizes da Política Nacional do Idoso,
definindo as normas de funcionamento para a ILPI, de caráter residencial, 4 BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº. 283, de 26 de setembro de 2005. Aprova o Regulamento Técnico que define normas de funcionamento para as Instituições de Longa Permanência para Idosos, de caráter residencial.
27
governamental ou não governamental, destinada à moradia coletiva de pessoas com
idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar; classificando
segundo a complexidade de cuidados e definindo as características físicas de
equipamentos e recursos humanos mínimos. De forma a segurar os critérios de
acesso, resolubilidade e humanização.
Apresentaremos, agora, o grau de dependência dos idosos e os critérios de
regulamentação para as ILPI.
Grau de Dependência I - idosos independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de auto-ajuda; Grau de Dependência II - - idosos com dependência em até três atividades de auto-cuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada; Grau de Dependência III - idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de auto-cuidado para a vida diária e/ou com comprometimento cognitivo. (ANVISA, 2005).
A ILPI é responsável pela atenção ao idoso, propiciando o exercício dos
direitos humanos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e individuais) de
seus residentes. A instituição deve atender dentre outras, às seguintes premissas:
Observar os direitos e garantias dos idosos, inclusive o respeito à liberdade de credo e a liberdade de ir e vir, desde que não exista restrição determinada no Plano de Atenção à Saúde; Preservar a identidade e a privacidade do idoso, assegurando um ambiente de respeito e dignidade; Promover ambiência acolhedora; Promover a convivência mista entre os residentes de diversos graus de dependência; Promover a integração dos idosos, nas atividades desenvolvidas pela comunidade local; Favorecer o desenvolvimento de atividades conjuntas com pessoas de outras gerações; Incentivar e promover a participação da família e da comunidade na atenção ao idoso residente; Desenvolver atividades que estimulem a autonomia dos idosos; Promover condições de lazer para os idosos tais como: atividades físicas, recreativas e culturais. Desenvolver atividades e rotinas para prevenir e coibir qualquer tipo de violência e discriminação contra pessoas nela residentes. (ANVISA, 2005).
28
A PNI, no seu Art. 10, atribui como competência desses órgãos públicos a
prestação de serviços e o desenvolvimento de ações que sejam direcionadas para
“[...] estimular a criação de incentivos e de alternativas de atendimento ao idoso,
como centros de convivência, centros de cuidados diurnos, casas-lares, oficinas
abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros”.
O Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, de 1° de Outubro de 2003, é outra grande
conquista para as pessoas idosas e as entidades que lutam para a efetivação dos
direitos dos mesmos. O referido Estatuto vem confirmar o que se diz na PNI. Em seu
art. 4º, determina-se que “Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência,
discriminação, violência ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou
omissão, será punido na forma de lei”. (BRASIL, 2003, p.8).
Ainda com relação ao Estatuto (BRSIL, 2003), referendamos o artigo 49, que
trata dos princípios que regem as instituições. Destacamos um dentre eles, o que
aborda a importância da preservação dos vínculos familiares, haja vista que a família
possui um papel fundamental na vida do sujeito, requerendo o apoio e a assistência
dos seus membros. O fato de os idosos residirem numa instituição de longa
permanência não exime seus familiares de participarem desse processo, ao
contrário, sua presença é essencial para a manutenção da qualidade de vida.
Nesse sentido, a referida Lei preconiza como deve ser constituída uma ILPI
para melhor atender aos idosos residentes, que diariamente têm seus direitos
violados, seja pela família, sociedade ou instituições que prestam serviços,
estabelecendo sanções para aqueles que desrespeitarem os seus direitos.
Como vimos, a ILPI cumpre papel de abrigo para o idoso excluído da
sociedade e da família, abandonado e sem um lar fixo, podendo se tornar o único
ponto de referência para uma vida e um envelhecimento digno.
2.3 O sentido de ser institucionalizado: as mudanças ocorridas na vida do idoso após a ida para uma ILPI.
Como já foi explanado anteriormente, as instituições asilares constituem a
mais antiga modalidade de atenção ao idoso fora de sua família, mas possuem
29
como contrapartida, em sua grande maioria, conduzi-lo ao isolamento e ao
desinteresse pelas atividades cotidianas.
Segundo as autoras Siqueira e Moi (2006), a institucionalização pode ser vista
como uma situação altamente estressante, considerando o que representa em
termos de perda de papéis sociais, afastamento do grupo familiar e das relações
sociais.
Observamos que as ILPI’s são, em geral, locais com espaço e área física
semelhante a grandes alojamentos. Oferecem cuidados básicos de higiene e
alimentação, mas podem também dificultar as relações interpessoais no contexto
comunitário. Para Erving Goffman (1990, p. 11), as ILPI refletem as características
de uma instituição total, entendida como:
Um local de residência e trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla, por considerável período de tempo, leva uma vida fechada e formalmente administrada.
A transferência do próprio lar, do ambiente social em que viviam para uma
instituição é sempre um grande desafio para o idoso, pois se depara com uma
transformação muitas vezes diferente do seu estilo de vida. Muitos idosos encaram o
processo de institucionalização como perda de liberdade, abandono pelos filhos,
aproximação da morte. De acordo com Robert Kastembaum (1981, p. 102):
Essa brusca separação do meio social para o convívio com pessoas que lhe são estranhas, provoca uma serie de mudanças psicológicas no idoso, tais como medo, ansiedade, insegurança, amargura ou mesmo a resignação, a aceitação passiva às regras e normas que lhes são impostas.
Segundo o autor, durante as primeiras semanas na instituição, os idosos
mostram-se bem vulneráveis no que diz respeito aos seus sentimentos, podendo
causar depressão e, por consequência, a intensificação dos problemas de saúde.
Quando o idoso ingressa em uma instituição, este inicia todo um processo,
segundo Goffman (1990), de mortificação do eu, à medida que é levado a assumir
um novo estilo de vida, baseado em regras normativas e disciplinares que são
alheias às suas experiências sociais anteriores. O contexto do ambiente impede a
pessoa de ter o controle de sua vida. Assim, podemos entender que:
30
Existe uma forte pressão da instituição sobre o individuo, afim de que ele se enquadre á vida asilar. Todos os seus objetos são substituídos por outros padronizados. As atividades diárias seguem rigorosamente um cronograma, com horários pré-fixados. Há uma predominância do relacionamento inter-grupal. Os internos vivem sob uma constante vigilância e não têm livre acesso ao meio social mais amplo. Enfim as atividades obrigatórias são resumidas em um plano racional único. Supostamente planejado para atender os objetivos oficiais das instituições. (GOFFMAN, 1990, p. 17-18).
Compreendemos que as instituições voltadas para o abrigamento de idosos
não comportam a grande demanda que os procura. Entretanto, salientamos a
importância de conhecermos melhor este segmento de institucionalização e como
estes estão sendo prestados, pois quando a internação é algo inevitável, esta pode
se tornar uma alternativa que proporcione dignidade e qualidade de vida aos
longevos que dela necessitem, fazendo com que a instituição busque romper com
sua imagem histórica de segregação e se tornar uma saída, uma opção, na vida dos
idosos.
2.4 As motivações apontadas pela família sobre a institucionalização dos idosos.
Debatendo sobre este assunto, observamos várias motivações apontadas
pelos familiares para a institucionalização dos idosos. Para confirmar essa
afirmação, a Constituição de Federal de (1988) diz que:
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, o respeito e a convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003, p. 15).
Essa legislação prioriza a família como fundamental para assegurar a
assistência aos idosos, estando interligado a outros setores e órgãos públicos para a
garantia e efetivação dos seus direitos, dentre eles a convivência familiar, desde que
haja um respeito mútuo entre os membros e condições favoráveis que garantam a
dignidade e qualidade de vida do idoso.
É evidente que a família é essencial para o indivíduo, pois representa o
primeiro grupo no qual o sujeito encontra-se inserido e inicia o seu processo de
socialização. Dias (2009) afirma que a família é o alicerce para a construção da
31
personalidade dos indivíduos, visto que nenhum ser humano pode viver sem esta,
mesmo amando ou desprezando.
De acordo com a reflexão de Teixeira (2000), no que concerne às mudanças
ocorridas nas representações das famílias no contexto atual, exige-se novas
alternativas de convívio familiar, capazes de refletir diretamente nos valores e
conceitos. Pontuando que uma grande parcela da família brasileira se distanciou do
modelo tradicional, no qual o idoso ocupava um lugar de destaque no convívio
familiar. Diante de um quadro de mudanças estruturais societárias, é preciso
entender essas transformações sociais e culturais que afetam diretamente o
processo de envelhecimento.
Neste contexto, ao considerarmos os novos arranjos familiares, Alcântara
(2009) vai evidenciar a redução do número de membros da família, tornando-se um
desafio aos idosos envelhecer junto dos seus parentes. Diante de uma sociedade
moderna na qual os sujeitos encontram-se inseridos, o mundo do trabalho não os
permite conviver com eles. Atualmente, o espaço doméstico é restrito para o casal, a
um ou mais filhos, as mulheres foram absorvidas pelo mercado do trabalho, sendo
transferidas suas atividades domésticas, como cuidar dos filhos, dos pais e avós, às
creches e às ILPI.
Como foi visto anteriormente, as mudanças nesses novos arranjos refletem
diretamente na vida dos idosos. Segundo Teixeira (2000), é necessário que todos os
membros familiares compreendam esse processo de envelhecimento, as suas
transformações e fragilidades para, assim, modificarem a sua visão e as atitudes
que construíram acerca da velhice, contribuindo para que o idoso permaneça no
ambiente familiar e participe da sociedade.
A autora supracitada afirma, ainda, que no processo de envelhecimento, uma
das causas dos conflitos entre idosos e os filhos é acarretada, muitas vezes, pelas
fragilidades que a velhice apresenta, exigindo responsabilidades e cuidados dos
filhos para com eles. Pontuando que a família necessita de um período de
adaptação para compreender esse processo, aceitando e administrando essa nova
situação, respeitando as necessidades dos seus pais, evitando que representem um
encargo para os seus filhos.
Nesse sentido, corroborando para esse assunto, Alcântara (2009) discorre
sobre as dificuldades encontradas pelas famílias. No que se refere aos aspectos
emocionais e físicos, destaca:
32
A decisão de institucionalizar ocorre porque as tarefas de cuidar tornam-se demasiadamente difíceis, tanto do ponto de vista emocional quanto físico, por causa da doença e da consequente de pendência do velho, da constante necessidade de hospitalização, da proximidade da morte, dos conflitos entre os papeis profissionais e familiares do cuidador, das necessidades crescentes do velho e das dificuldades de relacionamento entre o cuidador e o velho. (ALCÂNTARA, 2009, p. 46).
Ao analisarmos o que a autora supracitada mencionou sobre esta questão
que envolve vários fatores, um dos que destacamos é a situação financeira
desfavorável em que se encontram uma grande parcela das famílias, que contribui
para o processo de institucionalização do idoso, sobretudo quando este idoso requer
uma atenção especial no que se refere à sua saúde.
Magalhães (1987, p. 22) ressalta que devemos analisar as condições em que
o individuo chega à velhice. “Uma velhice saudável depende da manutenção da
saúde ao longo de todo o ciclo vital, e não da adoção de procedimento paliativas no
final da vida”.
O referido autor destaca as dificuldades encontradas pelas famílias com
poucos recursos para cuidar do idoso, pois a união familiar, quando associada às
intervenções estatais, beneficiaria a situação do idoso, já que, em alguns casos, a
renda do idoso proveniente de sua aposentadoria é, às vezes, o único meio de
sobrevivência.
Referenciando o que Magalhães (1987) explanou, observamos grandes
avanços a respeito dos direitos alcançados para essa população, mas é evidente
que se necessita de uma maior intervenção do estado na efetivação das políticas e
dos equipamentos que favoreçam a melhoria de vida desses idosos.
Na discussão deste tema, encontramos outra visão acerca da relação dos
idosos e sua família. Debert (2004) relativiza a relevância da família, já que para a
autora o idoso que não mora com sua família nem sempre significa abandono ou
exclusão, haja vista que morar com os filhos não necessariamente representaria
para o idoso sentimento de prestígio, respeito, aceitação e alegria. Em alguns casos,
verificam-se os sentimentos de solidão e tristeza.
Esta realidade é bem próxima dos idosos que fazem parte meu do campo de
pesquisa, o abrigo Olavo Bilac. O perfil dos residentes do local são indivíduos que
tiveram seus direitos violados e que vivem em extrema vulnerabilidade social, que
não têm condições de serem amparados por seus familiares e, em alguns casos,
33
abandonados por eles. Como a condição social é fator importante, para muitos
idosos pobres o abrigo é um refugio que propiciam melhores condições de vida.
Entendemos que são varias as motivações para a institucionalização do
idoso, mas o que devemos buscar, segundo Teixeira (2000), é a importância de
aproximação dos vínculos familiares, pois os idosos necessitam ser valorizados para
que possam viver com dignidade, tranquilidade, recebendo a atenção e o carinho da
família.
34
35
3 DISCORRENDO SOBRE O PERCURSO METODOLÓGICO DO CAMPO DE PESQUISA
3.1 A descrição da metodologia.
A metodologia de pesquisa aplicada nesse trabalho foi a qualitativa, que diz
respeito à análise das relações, da história, das crenças, das representações, das
percepções e dos conceitos compreendidos pelo homem acerca do seu modo de
viver. Nesse sentido, a pesquisa qualitativa:
Trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2010, p. 21-22).
Com o intuito de obter o maior número possível de informações acerca do que
se pretendia pesquisar, foi utilizada a pesquisa bibliográfica, a documental, a
pesquisa de campo, bem como a observação dos participantes. De acordo com Gil
(2011, p. 50), “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de
permitir ao pesquisador o encontro com o objeto em estudo diretamente”. Nesse
sentido, as informações obtidas são bem mais abrangentes do que as informações
conseguidas por meio de pesquisas diretas realizadas pelo próprio pesquisador.
Segundo o autor supracitado, a pesquisa documental se parece com a
pesquisa bibliográfica, porém, apresenta como diferença a origem das fontes, pois a
pesquisa documental faz alusão a matérias que não obtiveram nenhum tratamento
analítico ou que ainda podem ser reconstruídos, caso haja necessidade, em
concordância com a finalidade da pesquisa.
No que se refere à pesquisa de campo Minayo, (2010, p. 202) afirma que “o
trabalho de campo é considerado uma etapa essencial na pesquisa qualitativa, onde
sem ele a mesma não poderia ser pensada”. Essa fase permite ao pesquisador uma
aproximação com os sujeitos pesquisados e ainda, segundo a autora citada, permite
criar um conhecimento a partir da realidade do campo.
A entrevista foi o instrumento selecionado para a coleta de informações no
decorrer da pesquisa e a modalidade usada foi a entrevista semiestruturada, que
deu oportunidade ao informante de abordar livremente o tema proposto com a
utilização, entretanto, de perguntas previamente formuladas pela pesquisadora.
36
Não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. Suas formas de realização podem ser de natureza individual ou coletiva. (MINAYO, 2010, p. 57).
Ainda segundo a autora, a observação participante pode ser definida como
“um processo pelo qual o pesquisador se coloca como observador de uma situação
social, com a finalidade de realizar uma investigação científica”. (MINAYO 2010 p.
59). Assim, tornou-se fundamental a pesquisadora inserir-se no campo para
participar da vida social dos sujeitos envolvidos, visando apreender os fenômenos e
compreender a estrutura organizacional de uma ILPI.
Após o exposto, no que concerne à pesquisa, algumas dificuldades se
apresentam no campo. O fato de a maioria dos idosos serem portadores de
Alzheimer e outras doenças mentais impossibilitou a realização de um número maior
de entrevistas. Inicialmente, seriam dez. Devido às dificuldades citadas, passaram
para seis entrevistas. Outro fator de limitação foi o desvio das respostas, tornando-
se repetidas as colocações dos entrevistados. Compreendemos que os sujeitos da
pesquisa são autônomos em suas explicações, devendo o pesquisador respeitar
essa característica.
Trabalhamos, nesta pesquisa, com seis entrevistas individuais, sendo quatro
mulheres e dois homens. As informações apresentadas foram obtidas com as
entrevistas, durante a qual foi feita a leitura do termo de consentimento livre de
esclarecimento e da solicitação de suas assinaturas, que consolidaram o processo
de autorização. Foi feita uma entrevista semiestruturada (vide Apêndice 1) e as
respostas foram gravadas para preservação da fidelidade dos dados, posteriormente
transcritas, servindo de fonte para a identificação das percepções dos entrevistados.
Para a preservação do anonimato, foram atribuídos aos participantes nomes
fictícios.
3.2 O cenário da pesquisa
A Unidade de Abrigo do Idoso5 situa-se na Rua Olavo Bilac, nº 1280, São
Gerardo. Sua inauguração data 10 de janeiro de 1936, com a denominação
5 Dados retirados do trabalho de especialização em Serviço Social e Saúde da Família de Cristiane Leite Fernandes (2009).
37
“Hospedaria do Imigrante”, que tinha como objetivo principal receber trabalhadores
que aguardavam sua viagem ao Estado do Acre para trabalhar nos seringais.
De acordo com Fernandes (2009), esses trabalhadores posteriormente
ficaram conhecidos como “Soldados da Borracha”, pois, durante a 2ª Guerra
Mundial, o Presidente Getúlio Vargas recrutou a tropa para a operação de
emergência que iria coletar látex para os Estados Unidos. Havia, só no Ceará, trinta
mil homens recrutados. Essa hospedaria ficou conhecida como Hospedaria Getúlio
Vargas, com capacidade de acolher 1.200 pessoas e uma alta rotatividade.
O recrutamento e o encaminhamento dos trabalhadores eram feitos
através do Serviço Social Especial de Mobilização de Trabalhadores – SEMTA, que
se aparelhou de diversos serviços (médicos, alimentação, hospedagem etc.)
capazes de proporcionar ao trabalhador migrante um sentimento de proteção frente
ao desconhecido. As vantagens apresentadas pela imprensa eram inúmeras e
seduziam aquelas pessoas que só tinham como opção a seca, visto que esse era o
ano de 1942, com severa estiagem no Nordeste.
Desde o início da década de 1950, houve o reconhecimento por parte do
Estado de que uma numerosa população adventícia afluía constantemente à capital,
ficando exposta nos arrabaldes, nas ruas, sem teto, sem higiene e sem alimentação,
tornando-se perigosa à saúde e à ordem pública. (ARAÚJO, 2000).
Ainda segundo a autora, depois da seca de 1958, o sertão pode
estruturar-se economicamente e o êxodo rural diminuiu de fluxo; a maioria das
pessoas válidas foi incorporada aos novos postos de trabalho, os quais surgiram
devido à criação de indústrias no estado e à própria agricultura. Alguns imigrantes
que não foram absorvidos pelos novos empregos passaram a ser atendidos pela
Hospedaria, já que não podiam ficar vagando pelas ruas da capital.
Nesse contexto histórico, segundo Fernandes (2009), a instituição obteve
várias denominações. Em 17 de outubro de 1972, na gestão de César Cals, a
Hospedaria do imigrante recebeu nova denominação, passou a ser chamada por
Centro de Triagem. Algumas mudanças nas instalações físicas do prédio foram
realizadas para receber uma população considerada “especial”: idosos, deficientes,
mendigos, imigrantes e carentes. Esses passaram a ser a nova população acolhida
nesse Centro.
De acordo com a autora supracitada, em 1979 a instituição passou a chamar-
se Fundação dos Serviços Sociais do Estado do Ceará – FUNSESCE. Esta
38
funcionava no mesmo prédio do Centro de Triagem do Mendigo, o qual sofreu
algumas reformas, recebeu nova denominação, passando a chamar-se Centro de
Reintegração Social – CRS.
No ano de 1986, a autora afirma que o CRS passou a ser denominado de
Coordenadoria de Assistência a Grupos Especiais – CAGE. Em 1987, muda
novamente, passando a ser denominada Unidade de Abrigo – UA, subordinada à
Secretaria do Trabalho e Ação Social – SETAS, que passou a chamar-se Secretaria
da Ação Social – SAS, em 2003. Desde 2007, atende por Secretaria do Trabalho e
Desenvolvimento Social – STDS.
Em 1995, após uma pesquisa feita para o estudo do perfil dos usuários da
Unidade de Abrigo, foram obtidas informações que subsidiaram o projeto de
reestruturação da instituição. O diagnóstico dos usuários apontou para três
situações: idosos, pacientes psiquiátricos e excluídos sociais.
Segundo Fernandes (2009), a partir destes dados foi proposto o
redirecionamento da Unidade de Abrigo, com a criação de dois serviços semi-
independentes: o Abrigo para idosos, com a capacidade asilar de 105 leitos, e a
Casa de passagem. Esta se constitui de um albergue provisório que presta
assistência emergencial a adultos (21 a 59 anos) de ambos os sexos em situação de
risco pessoal ou social, abrangendo pessoas encaminhadas por outras Instituições
que atendem a essa clientela; hospitais com pacientes que estejam realizando
algum tratamento médico, por um período estimado de sete dias, podendo ser
prorrogado em casos especiais. A Casa de Passagem fica anexa ao Abrigo e tem
capacidade para receber até 10 pessoas, sendo cinco homens e cinco mulheres.
Atualmente, a Unidade de Abrigo possui caráter permanente para idosos em
situação de abandono familiar, negligência e vítima de violência. A escolha desse
campo deu-se devido à seriedade dos profissionais e da instituição para com este
público. Ao longo de todos esses anos, a Unidade de Abrigo dos Idosos tem
participado na luta pela garantia dos direitos da pessoa idosa, zelando pelo exercício
do controle social das políticas públicas, pela otimização dos recursos e pela
garantia da qualidade dos serviços prestados, mantendo uma equipe de
profissionais humanizados e de responsabilidade com o compromisso Ético de
trabalho com os idosos no Estado do Ceará.
39
A instituição desenvolve seu trabalho em consonância com a Agência
Nacional de Vigilância Sanitário ANVISA e o com Estatuto do Idoso, o qual é
destinado a regular os direitos assegurados aos idosos da instituição.
3.3 A entrada no campo e as percepções do pesquisador
Inicialmente, realizamos uma pesquisa bibliográfica, permitindo, assim, uma
apropriação das teorias e conceitos sobre o objeto desse estudo.
O processo de pesquisa de campo transcorreu durante os meses de
Novembro de 2013 a Janeiro de 2014. A principio, foi elaborado ofício, o qual foi
encaminhado à Secretaria de Desenvolvimento Social (STDS), solicitando a
autorização da pesquisa na Unidade de Abrigo para Idoso Olavo Bilac.
Depois da autorização confirmada, partiu-se para o contato com os sujeitos
da pesquisa. A sensação de nervosismo e felicidade se misturava nesse momento.
Os profissionais do abrigo foram bastante acolhedores e contribuíram para afastar a
insegurança inicial. Fui apresentada à diretora da instituição e ao responsável pelo
setor de Serviço Social, aos quais expliquei os objetivos da pesquisa. Em seguida, a
assistente social apresentou as dependências da Unidade. Naquele instante, dentro
da pesquisadora se desfazia o “modelo” de abrigo que tinha em mente, pois
imaginava uma instituição de referência tanto na estrutura como no atendimento, já
que este é o único abrigo público no Ceará, mas não foi esta visão que encontrei. O
abrigo passava por uma reforma, a qual diminuía o espaço para o lazer, dificultando
a passagens dos idosos no local.
No decorrer da apresentação do local, a assistente social relatou que o abrigo
está sempre superlotado, com 110 idosos residentes, divididos por quartos com até
cinco idosos, onde ficam separados os homens e as mulheres. Ela afirma que a
procura é intensa, mas só atende aos idosos que fazem parte do perfil da unidade
de abrigo e que encaminha a demanda recolhida para outras instituições.
Nesse primeiro contato, observei um pouco do cotidiano da instituição e
procurei saber se teria a possibilidade de entrevistarmos 10 idosos, mas obtivemos
uma resposta um tanto insatisfatória, pois, devido ao grande número de idosos não
orientados e com doenças e demências, esta quantidade iria diminuir. Com isso,
40
indicou o nome dos idosos que poderíamos entrevistar e fomos conhecê-los e
perguntá-los se aceitariam participar.
Inicialmente, buscávamos apenas uma simples conversa, no intuito de
aproximarmos e buscarmos uma relação de confiança com os participantes. Ocorreu
uma apresentação bastante informal com os entrevistados, tentando uma
aproximação. Foi explicado o motivo de estar na instituição. Aquele momento
despertou a curiosidade dos idosos, visto que em determinada hora fui surpreendida
pela presença dos institucionalizados querendo conhecer a pesquisadora e fazer
parte da pesquisa. Confesso que fiquei tímida e sem reação por alguns segundos,
com todas aquelas pessoas ao meu redor buscando saber o que eu queria; alguns
com um olhar receoso e outros alegres por serem escolhidos dentre tantos outros
para participar de tal trabalho. Além disso, não esperava essa situação. Depois de
passado o susto, tivemos uma conversa de apresentação. Depois, voltaria para
entrevistá-los individualmente.
Voltamos para a coleta de dados das entrevistas. Todos os idosos se
mostram acessíveis para participar da pesquisa. Esse trabalho possibilitou uma
grande satisfação para a pesquisadora, que aprendeu a compreender os limites dos
entrevistados, pois nem sempre eles estão à vontade para um dialogo. Dessa forma,
buscamos respeitar a subjetividade dos mesmos, adquirindo paciência para
conquistar a confiança desses sujeitos e buscando uma imparcialidade na pesquisa
para não atrapalhar os resultados. Segundo Minayo (2010, p. 54-55),
[...] às vezes o pesquisador entra em campo considerando que tudo que vai encontrar serve para confirma o que espera já saber ao invés de compreender o campo como possibilidades de novas revelações.
3.4 Perfis dos sujeitos da pesquisa.
Os idosos selecionados para a pesquisa possuem idades entre 60 e 80 anos,
participaram das entrevistas dois homens e quatro mulheres, contabilizando o total
de seis entrevistas. Antes de adentrarem o abrigo, todos os idosos desempenhavam
uma atividade remunerada, sendo que nas mulheres predominava a função de
empregadas domesticas e, entre os homens, um era agricultor e o outro vendedor
ambulante. No que diz respeito ao grau de instrução, a grande maioria dos
41
entrevistados não foi além do ensino fundamental, revelando um baixo nível de
escolaridade. Todos relatam viverem em situação de vulnerabilidade social.
Percebemos que nenhum dos idosos recebe visitas dos familiares. Os entrevistados
serão indicados por meio de nomes fictícios para preserva sua identidade.
Margarida – 80 anos, solteira, doméstica, residia na cidade de Caucaia. Sua
entrada no abrigo deu-se depois do falecimento de sua mãe. Após este
acontecimento, passou a morar sozinha, possuía alguns parentes que vinham visita-
lá esporadicamente. Após várias denuncias feita pelos vizinhos de abandono, o
Ministério Público averiguou o caso e a encaminhou para o abrigo. Ela não aceita a
decisão de viver no brigo. Não frequentou a escola, possui religião católica. Reside
no abrigo há dois meses.
Violeta - 62 anos, separada, doméstica, morava em Quixadá, mãe de três filhos que
teve que deixar como os avôs, pois não tinha condições de mantê-los, não
frequentou a escola, religião católica. Faz dez anos que reside no abrigo. Esta idosa
entrou no abrigo aos cinquenta e dois anos, não tinha a idade para entrar no abrigo,
mas, devido viver em situação de rua por muito tempo e sofrer constantes agressões
físicas, foi abrigada.
Orquídea – 68 anos, solteira, doméstica, morava em Sobral, teve um filho aos 18
anos, mas sem condições de financeiras de criá-lo, entregou-o para um casal
conhecido adotar. Morou muito tempo na casa em que trabalhava como doméstica.
Quando envelheceu e ficou doente, sem conseguir andar, seus patrões deixaram-na
com sua irmã, que mora em Fortaleza. A mesma não tinha condições de ficar com
ela, assim, teve que deixá-la no abrigo. Frequentou até a 4º série do ensino
fundamental. Reside no abrigo há três anos.
Jasmim – 71 anos, viúva, doméstica, não teve filhos, morava em São Paulo,
estudou até a 6º série, não mantém contato com os parentes, o único conhecido é
uma afilhada que a abandonou no abrigo. Reside na instituição há dois anos e seis
meses.
Cravo – 64 anos, separado, tem duas filhas, trabalhava como vendedor ambulante
está concluindo o ensino fundamental, possui uma deficiência no pé esquerdo,
morava sozinho e era alcoólatra. Quando bebia, eram constantes as agressões
sofridas por pessoas desconhecidas. Depois de denúncias, passou a residir no
abrigo, onde está há quatro anos.
42
Lírio – 77 anos, viúvo, tem três filhos, trabalhava como agricultor, morava no Pará.
Veio para Fortaleza para morar com um irmão e trata de problemas de saúde. Bebia
muito e passou a morar sozinho. Depois de ter passado por uma cirurgia, seus
familiares não mais vieram visitá-lo. Acabou abandonado no hospital. Reside no
abrigo há quatorze anos.
3.4.1 O significado da velhice
Inúmeras são as mudanças ocorridas na vida de uma pessoa na terceira
idade. A maior delas talvez seja a aceitação do seu envelhecimento. Este despertar,
no entanto, pode acontecer de forma positiva ou negativa, isto irá depender das
atuais condições de vida desses indivíduos e suas experiências anteriores.
Ao iniciarmos as entrevistas, o primeiro questionamento fez referência ao
significado da velhice para cada um dos idosos e as respostas foram as seguintes:
“Não gosto da velhice porque a gente fica sem fazer nada e pensa muita besteira. Não pode nem trabalha por causa das dores” (Orquídea). “ora mais e eu vou empatar (risos) queria que tivesse tudo a mesma coisa novinha, mas a idade vai aumentando né? Ninguém pode ficar novo direto é o jeito ficar velho é a vida” (Margarida). “É ruim porque o jeito que era não sou mais, fico encabulada assim sabe, triste, eu não era assim quando nova. A velhice tira as lembrança da gente isso dói muito” (Violeta).
Nessas falas, são incorporadas informações que corroboram com as obtidas
no decorrer da construção de nossa pesquisa bibliográfica com relação à percepção
da velhice, no sentido de termos observado que os entrevistados apresentaram uma
espécie de estranhamento com relação ao processo de envelhecimento. A fala na
entrevista da Sr.ª Margarida expressa esse sentimento que, segundo Beauvoir
(1990, p.51), “Para cada individuo a velhice acarreta uma degradação que ele teme
[...] a atitude espontânea é de recusá-la”.
Observamos que a velhice é associada a limitações, tanto físicas como
psicológicas, tornando-se bem mais perceptível na fala da senhora Orquídea, que
associa a velhice a doenças oriundas do envelhecimento e à impossibilidade de
exercer mais o trabalho de doméstica que desempenhou por muitas décadas.
Segundo Beauvoir (1990), a velhice esta vinculada a transformações que são
43
rejeitadas pelos indivíduos, já que estas consistem em um processo irreversível e
desfavorável que sugere fatores que estimulam doenças e impotências.
No relato da senhora Violeta, percebemos que, para ela, a velhice mudou seu
modo de viver, sente-se triste devido à saudade dos seus parentes e à recordação
do seu passado, que traz lembranças boas e ruins.
Neste contexto, compreendemos que o ser humano é dotado de
subjetividade. Relembrar as vivências se torna importante na vida de todos, pois as
lembranças e os sentimentos fundamentam a existência como sujeito social: “uma
lembrança é um diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito”. (BEAUVOIR
1990, p. 121).
Analisamos, ainda, outras falas que fazem referência ao significado da
velhice, mostrando seu aspecto positivo.
“Eu gosta da minha velhice, de ser idoso, as pessoa gosta mais da gente sabe, mim dá carinho, mim respeita, coisa que eu não tinha quando era novo” (Cravo). “Quando eu era nova, não pensava em ficar velha, achava que isso não ia chega tão cedo. Mas quando fiquei velha pra mim é só coisa boa, Graças a Deus, to vivendo bem. Eu só tenho raiva dessas pessoas que maltratam os velhos, zomba da gente, porque sorte de quem chega a minha idade” (Jasmim).
Percebemos que esses idosos encaram a velhice de outra forma, buscando
aceita-lá como algo positivo. De acordo com Ramos (2002, p. 119), “os velhos não
devem se ver como seres de outro tempo. O tempo a que pertencem é o tempo de
sua existência”. As falas dos idosos Cravo e Jasmim confirmam essa declaração, já
que os mesmos afirmam que esta fase atual está bem melhor do que o período de
quando eram jovens. Sendo assim, estas pessoas estão, de fato, se apropriando do
que a velhice tem a ofertar no sentido de lhes trazer benefícios e aprendizados e, ao
mesmo tempo, elas não sentem falta de outras épocas de suas vidas.
Para Mascaro (2004), a velhice está relacionada com o ciclo natural da vida,
composto pelas fases, que são: nascimento, crescimento, amadurecimento,
envelhecimento e morte, todo esse processo é seguido de transformações que se
originam no próprio organismo e irão caracterizar a velhice. Nesse sentido, podemos
percebe na fala de um dos nossos entrevistados, o Sr. Lírio, quando esse procura
definir a velhice.
44
“A velhice pra mim é normal, faz parte da vida, a gente é criança, depois fica jovem e depois fica velho. Eu gosto, é uma coisa boa quando se tem saúde Quando se fica mais velho fica mais maduro, é só não se acomodar” (Lírio).
3.4.2 O sentido de ser institucionalizado
A admissão em uma instituição pode ocasionar transformações importantes
na vida de um idoso. Segundo Robert Kastenbaum (1981 p. 104),
[...] a pessoa idosa que adentra uma instituição pela primeira vez, sabendo que tal instituição talvez seja a última morada na terra, pode naturalmente, encarar esses aspectos da vida institucional como ataques pessoais a sua integridade.
Podemos observar essa “invasão” pessoal que afirma o autor supracitado na
fala da Sr.ª Margarida. Como entrou há pouco tempo na instituição, sente-se
revoltada e não aceita a sua situação atual.
Quando pergunto quais circunstâncias ocasionaram a ida para o abrigo,
alguns respondem com tristeza e constrangimento, pois não imaginavam que iriam
termina esta etapa da vida em uma instituição.
Outros entrevistados encontraram no abrigo um refúgio, pois passaram a
maior parte da vida em situação de vulnerabilidade, sem ter um lugar para morar,
alimentação e sem contato com familiares.
“Eu aqui estou no paraíso. Depois que eu cheguei aqui eu tenho tudo, tenho roupa, tenho meu dinheiro, e meus amigos, as pessoas gostam de mim, tô melhor que antes. Eu prefiro uma boa morte (choro) do que volta a mora com minha afilhada” (Jasmim). “Eu gosto daqui, não preciso mim procupar em pagar aluguel, aqui tem comida todo dia, tem remédio, médico, passeio e atividades com a professora de manhã, não bebo mais e ninguém mim bate” (Cravo). “Eu andava perambulando por ai, só não fumando maconha e nem roubando; eu vivia pelas casas porque não tinha pra onde eu ir, morava aonde tivesse eu pedia de favor pedia a pessoa pra dormi naquela noite depois ia pra outro canto” (Violeta). “Aqui é bom eu mim dou com todo mundo, eu acho bom” (Lírio).
Em relação aos depoimentos acima citados, Barroso (1988 apud
ALCÂNTARA, 2004 p. 44) afirma que:
Para os pobres a adaptação costuma ser mais fácil porque, para parte deles, a ida para o asilo representa ganho nas condições de sobrevivência, antes ameaçada pela fome e pela falta de abrigo. Para outros, que podiam até viver sob condições um pouco melhores, o asilamento não implica em
45
grande ruptura de status e poder, uma vez que eram pessoas desvalidas e com pouca noção de direito.
Quando perguntamos se os idosos participavam de algumas atividades
pedagógicas (pinturas, desenhar, leitura em grupo) oferecidas pela a instituição,
alguns afirmam gosta de participar, outros não mostram interesse. Notamos,
também, que a grande maioria dos idosos gostam de ouvir música, quase todos
possuem um pequeno rádio ou ficam assistindo TV. Segundo a pedagoga que
trabalha no abrigo, estas são umas das alternativas encontradas para que estes
idosos não fiquem na ociosidade. Resultando os passeios, excursões, festas em
comemoração aos aniversariantes de cada mês, buscando fortalecer os vínculos
entre eles e suprir a falta de seus familiares.
Observamos que, para muitos idosos, a ida para o abrigo proporcionou uma
melhor qualidade de vida, mas ressaltamos que não basta suprir as necessidades
básicas, como alimentação, cuidados médicos e distração com passeios. É
importante para o idoso a preservação de sua identidade social, de sua
individualidade. Pois quanto mais tempo o idoso passa na instituição, as visitas dos
seus parentes vão diminuindo, assim acarretando a possibilidade deste não sair do
abrigo.
3.4.3 A sociabilidade no abrigo.
A respeito das relações de afetividade na instituição, observamos que a
maioria dos idosos tem um bom relacionamento entre si. Os idosos na instituição
criam laços de amizade com os internos e com os profissionais do local. E com esta
convivência, tentam suprir os vínculos que foram rompidos anteriormente.
“Eu gosto do pessoal, daqui e dos idosos a gente faz amizade, mas tem uns que tem problemas na cabeça e a gente nem se mete, sabe, fora isso é bom” (Cravo). “Eu gosto de ajudar as outras idosas, que são doentes, ajudo a deixar meu quarto sempre limpo, e não quero que ninguém bagunce” (Violeta). “As pessoas daqui são legais, tem uns e outros que não gosto, gosto muito do pessoal que trabalha aqui, eles são muito bons com a gente” (Margarida).
A longa convivência na instituição permitiu aos idosos construir uma
referência afetiva junto aos funcionários e demais idosos, acabando por considerá-
46
los da família. Suas carências afetivas e sociais foram aos poucos sendo reduzidas
através da própria convivência com os demais companheiros.
[...] com efeito, os residentes sentem-se confortados pela presença de sua nova família, e o pessoal da instituição podem ir muito além do cuidado da “vovó” ou do “titio”, a quem passaram a querer bem. As situações por vezes, parecem representar um triunfo da humanidade sobre o processo impessoal das instituições. (KASTENBAUM, 1981, p. 106).
A necessidade de buscar apoio diálogo, referência de carinho, atenção,
afetividade, que na maioria das vezes não é vivenciada pelo idoso dentro do seio
familiar, faz com que o mesmo busque na instituição todas essas características. A
ausência dos familiares reforça os vínculos entre os idosos e os profissionais na
instituição, fazendo com que os idosos passem a considerar os profissionais e os
demais residentes como uma família.
“Eu era muito sozinha, não tinha um canto certo pra ficar, sinto falta dos meus filhos, mas aqui a gente é bem tratado, as doutoras são legais com todo, mundo fico feliz de mora aqui (Violeta).
Como já foram expostas anteriormente, as instituições pode representar um
alicerce, um apoio para alguns idosos, que tentam suprir a falta dos vínculos
familiares. Entendemos que este possui uma grande importância na vida desses
indivíduos que buscam reconstruir suas vidas mesmo com tantas adversidades.
3.4.4 Lembranças que machucam. A vida dos idosos antes do abrigo.
Ao abordamos este tópico, salientamos a fragilidade da relação dos idosos
com os seus familiares, fazendo compreender que o perfil dos sujeitos que residem
na instituição é de idosos vitimas de violência, abandonados ou sem situação de rua.
Estes fatos contribuíram para o rompimento dos vínculos afetivos. Observamos
também que os entrevistados não recebem visitas de seus parentes e, para alguns,
preferem não ter contato com os mesmos. Para tanto, iremos explanar como se
dava o relacionamento dos sujeitos da pesquisa com seus familiares antes de irem
para o abrigo.
Para muitos idosos, relembrar o passado traz grande satisfação; mas, para
outros, esta realidade é bem diferente, pois falar sobre histórias, que em muitos
47
casos traziam sofrimento, não é algo fácil. Principalmente quando estes sofrem
algum tipo de violência dentro da própria família.
Dentre as várias histórias sofridas, destacamos o abandono. Para discutirmos
a questão, reportar-nos-emos à visão de Toaldo e Machado (2012), os quais
salientam que uma parcela de idosos no Brasil sofre diversos tipos de abandono e
maus tratos, em grande parte ocasionados pela própria família, sendo o mais
comum o abandono de idosos em casa de saúde ou em ILPI. Afirmando que o
abandono se caracteriza de várias maneiras, tais como: físico, psicológico,
financeiro, por ação, omissão ou absoluta impossibilidade das pessoas que tem o
dever de cuidar do idoso.
Outro tipo de abandono que as autoras supracitadas mencionam é o material,
que traz consequências assim como o abandono moral e afetivo, tendo em vista que
aquele que se encontra em estado de miserabilidade também está afetivamente
esquecido e abandonado pelos seus familiares. Assim, percebe-se que o abandono
ocorre de diversas formas, acarretando resultados negativos para os sujeitos que
sofrem estes tipos de violências, deixando-os à margem da sociedade e totalmente
vulneráveis a situações diversas. Corroborando sobre esse assunto Minayo (2005,
p. 1) diz que:
[...] o abandono é caracterizado como: uma forma de violência que se manifesta pela ausência ou deserção dos responsáveis governamentais, institucionais ou familiares de prestarem socorro a uma pessoa idosa que necessite de proteção.
Podemos, assim, compreender que esta forma de violência pode trazer várias
sequelas na vida dos idosos, e mexer na ferida torna-se algo doloroso. Quando
perguntamos se eles se sentiam abandonados por seus familiares, alguns
respondiam com sentimento de desprezo.
“Eu não sinto, nenhum falta dela, sofri muito, até fome eu passava porque ela não mim dava comida, dizendo que eu iria engorda. Não sei por que ela vez isso comigo, (choro) se ela não mim queria porque foi mim buscar onde eu estava, só pra judiar de mim.” (Jasmim).
Identificamos nesta fala o que as autoras acima citadas descrevem sobre o
abandono emocional e material. Fica claro o sentimento de raiva expresso por Dona
Jasmim ao lembrar o convívio com a afilhada. Verificamos que este acontecimento,
48
entre outros, favoreceu para que esta idosa ficasse amargurada e triste, sem
perspectiva de dias melhores.
Compreendemos que os fatores para a institucionalização dos idosos
ocorrem por vários motivos, entre eles observamos que os abusos que estes
sofreram por parte dos seus familiares propiciam tais fatores, que geralmente
deixam sequela por toda uma vida.
Percebemos que a maioria dos entrevistados protegem seus familiares,
retirando a responsabilidade destes em relação ao cuidado com os mesmos.
“Eu só tenho um irmão e outros sobrinhos, só que eles pensam que ter dinheiro é tudo, acham que eu ia dar trabalho, mas eu não dou trabalho a ninguém, graças a deus que eu como, mim visto só, tenho saúde pra fazer minhas coisas, mas parece que eu não faço mais parte daquela família, tudo mudou depois que a mamãe morreu, não queria vim pra cá, mas é o jeito” (Margarida). “É, minha irmã não tem condições de ficar comigo, mas eu queria muito ficar com ela, as vezes acho que é por causa da filha dela, que não mim quer lá. Eu dou trabalho sou doente” (Lírio).
Outros citam essa situação como consequência dos seus atos praticados no
passado.
“Eu dava muito trabalho a minha família, bebia muito, ai a mulher não aguentou e foi embora com as meninas, elas foram criadas sem mim. Agora depois de velho com todo sofrimento que causei a mãe delas, não iria ser diferente. No meu caso eu tô colhendo o que plantei. Mas eu queria muito que elas gostassem de mim como pai, gostaria de ver meus netos sabe, eu ficaria muito feliz” (Cravo). “Eu não culpo ninguém, eu to velho e doente, quem quer ficar com um velho nessas condições, já que sou viúvo. No começo eu fiquei muito triste com tudo que aconteceu, mas já passou, eles não querem vir mim ver, devem esta muito ocupados com o trabalho sei lá, eu nem ligo mais, agora a minha vida é essa" (Lírio).
Quando indagamos aos entrevistados se já sofreram algum tipo de violência,
eles citam apenas as agressões físicas, não levando em consideração as outras
formas de violência. Isso ocorre por desconhecerem as legislações que os
protegem. Constatamos que a grande parte desses sujeitos era vítima de várias
formas de violência. Segundo Minayo (2005 p. 13) “as violências e os maus tratos
contra idosos se referem a abusos físicos, psicológicos e sexuais, abandono,
negligencias, abusos financeiros e auto-negligência”. Para eles, é difícil denunciar,
pois os agressores geralmente são os próprios filhos e parentes.
Em relação ao exposto no parágrafo anterior, os entrevistados relataram o
seguinte:
49
“Ela ficava com meu dinheiro, eu fiz um empresto de três mil para ela, ainda tão descontando do meu dinheiro, eu sempre ajudei e ela só mim maltratava, mim chingava, só nunca mim bateu” (Jasmim).
Notamos que esta idosa, além das outras violações de direitos, também sofria
violência financeira, que comumente é uma realidade retratada na vida de muitos
idosos, assim tornando-se cada vez mais precarizadas as suas condições de suprir
as necessidades mínimas para sobreviver com dignidade. Faleiros (2007, p. 47)
classifica como violência financeira como:
Violência financeira é a relação de poder que, implica a pressão sobre o outro para ceder dinheiro, cobrado com base em chantagens e abuso de confiança; retenção de cartão, salário, loterias, aluguel; pressão para vender a casa ou bens; expropriação de bens; falsificação de assinaturas; pressão para fazer testamentos ou doações; apropriação de compras; impedimentos de informação sobre o dinheiro e as contas.
Os idosos com 65 anos de idade residentes no abrigo recebem Benefício de
Prestação Continuada - BPC, referente a um salário mínimo de acordo com o artigo
20 da Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS. Através das informações obtidas
na instituição, no período em que foi realizada a pesquisa, constatamos que os
idosos contribuíam com 50% do seu salário para a instituição e o restante desta
quantia ficavam com os familiares, que em alguns casos só apareciam para buscar
tal quantia. Aos idosos que não tinham parentes próximos, o restante do dinheiro era
gasto com a necessidade individual de cada um dos residentes.
Os relatos a seguir irão embasar ainda mais essas questões, que para os
idosos não são fáceis de relembrar, reviver a dor da qual foram vítimas e, na maioria
das vezes, por pessoas que deveriam dar-lhes amor e atenção. Falar sobre esse
assunto é algo delicado que requer do pesquisador cautela e respeito ao
entrevistado. Percebemos nos semblante desses idosos o sentimento de tristeza,
que se reflete no choro da senhora violeta ao nos relatar esses acontecimentos.
“Eu sofri muito porque vivia mendigando uma dormida, as pessoas mim batiam, quando dormi na rua foi a pior parte da minha vida. Aqui eu ainda sofro porque sinto muita falta dos meus filhos. agente não recebe visita. È muito ruim, eu sei que vou passar o resto da minha vida aqui. Mas não vou mais apanhar de ninguém” (Violeta). “Eu nem sei por que eu apanhava, eu bebia muito , saia com os cara que diziam ser meus amigo depois mim roubavam, batiam em mim. Eu nem posso correr por causa desse meu pé que tem defeito, e o pessoal não respeita ninguém.” (Cravo).
50
“Olha eu não deixou ninguém mim bater não, eles gostam muito é de ficar falando mal de mim, fofoca dizendo coisas q não sou, mas eu nem ligo porque eu como é com o meu dinheiro e não com o deles” (Margarida).
Minayo (2005), dialogando a respeito da violência, afirma que a natureza
das violências que a população idosa sofre coincide com a violência social que a
sociedade brasileira vivencia, produz nas suas relações e introjeta na sua cultura.
Ao longo dessas entrevistas, percebemos o quanto o processo de
institucionalização do idoso pode ser encarado positiva ou negativamente. Além
disso, encontrar-se institucionalizado não necessariamente é estar excluído do
convívio social, mas, especialmente, protegido dessa sociedade que tentar isolar o
idoso, tornando-os vítimas.
Compreendemos que, para alguns idosos, morar com a família não
representa algo positivo quando esta se torna um lugar de conflitos e violência.
Nesses casos, faz-se necessário nos mobilizarmos para que o poder público possa
garantir a estes sujeitos condições dignas de vida, respeitando seus direitos, que
foram conquistados, e também o fortalecimento dos vínculos familiares, que são de
suma importância para a vida dos idosos.
51
CONSIDERAÇÔES FINAIS
O estudo apresentado teve por objetivo analisar as motivações para a
institucionalização dos idosos. Para a realização do mesmo, foram eleitos como
referência os idosos residentes na Unidade de Abrigo Olavo Bilac. Os idosos
selecionados para as entrevistas se mostraram satisfeitos por fazerem parte desta.
A partir dos objetivos específicos, foi possível perceber a compreensão que
os idosos têm sobre o envelhecimento e sua própria velhice, as circunstâncias que
propiciaram os idosos a residirem em uma instituição de longa permanência, as
motivações apontadas pelas famílias, entender como o idoso compreende acerca da
própria institucionalização.
O estudo bibliográfico realizado a partir de autores e teóricos nos deu
embasamento para compreender as principais categorias, como velhice,
envelhecimento e a institucionalização de idosos. Essas categorias possibilitaram a
contextualização da instituição do idoso no presente momento social.
No primeiro capítulo, vimos que foi abordado um breve contexto histórico
sobre a velhice, buscando compreender esse fenômeno levando em consideração o
local onde este individuo está inserido e a forma como ele é identificado e retratado
pelos integrantes da sociedade e da família em épocas distintas.
Entendemos que esta compreensão da velhice se dá por meio da análise dos
fatores econômicos, sociais, políticos e ideológicos, originados nas contradições
oriundas do sistema capitalista, não existindo apenas uma velhice, mas várias
velhices relacionadas às condições sociais do individuo.
Observamos, também, o temor de muitos indivíduos por essa fase da vida,
pois esta representa uma maior debilidade e vincula-se a mudanças vistas como
irreversíveis e desfavoráveis. Outras nomenclaturas foram criadas para que essas
questões pudessem ser amenizadas, como é o caso de terceira idade, cuja origem
se deu a partir da aposentadoria e consiste no desligamento do individuo do
processo produtivo formal.
Diante do exposto, neste capitulo constatamos ser impossível analisar a
velhice de uma forma simplista. É necessário tentar apreender todos os aspectos
que influenciam o processo do fenômeno em questão. O lugar onde este idoso está
inserido ou esteve inserido e seu contexto social contribuem significativamente no
seu comportamento diante de diferentes situações relacionadas à sua condição de
52
“velho”. A forma como ele é tratado, a sua condição biológica e psicológica, enfim,
são fatores importantes na compreensão desse sujeito social.
A questão da velhice no Brasil e no Ceará também foi identificada por meio de
dados adquiridos ao longo do presente estudo, comprovando o significativo aumento
dessa população e pontuando que a sociedade não está preparada para acolher
esta demanda que vem aumentando gradativamente.
No segundo capítulo, abordamos as instituições de longa permanência, como
surgiram e as normas de regularização dos serviços oferecidos aos idosos por meio
da implementação da Política Nacional do Idoso, bem como as diretrizes do Estatuto
do Idoso.
Ainda no segundo capítulo, buscamos compreender as motivações para a
institucionalização, os participantes da pesquisa e como estes idosos vivenciam esta
etapa das suas vidas. A mudança de residência, a falta do convívio familiar, a
adaptação ao novo ambiente e às novas pessoas são fatores fundamentais para
minimizar os transtornos do idoso nesses abrigos permanentes. Tentar inserir os
idosos nesse novo contexto torna-se primordial para fazê-los úteis nessa fase de
sua vida.
Com relação às informações colhidas e analisadas ao longo de nossa
pesquisa, pudemos constatar que os idosos encaram de forma distinta a questão do
significado da velhice e que uns demonstraram estranhamento, e outros acreditam
que essa fase está sendo melhor que na juventude. Acreditamos que este não
reconhecimento da velhice está associado ao local onde eles residem atualmente e
às doenças acometidas nos idosos.
Os idosos mostraram apego pelos profissionais e também ao abrigo.
Salientamos a existência de alguns conflitos entre os idosos, sendo compreensível
no cotidiano da instituição, à medida que estes são portadores de suas opiniões,
crenças e ideologias. Foi constatado que os idosos já sofreram vários tipo de
violência por parte dos seus familiares, contribuindo para sua permanência no
abrigo.
A Unidade de Abrigo Olavo Bilac é uma instituição pública que abriga idosos
em situação de abandono familiar, negligência e vítima de violência, vulnerabilidade
social e agressão familiar, tentando reintegrá-los à sociedade, visando à participação
dos idosos nas atividades elaboradas pela instituição, levando em consideração os
direitos e garantias do idoso, a preservação de sua identidade e oferecimento de um
53
ambiente em que haja respeito e dignidade, buscando, também, trabalhar o
fortalecimento dos vínculos familiares, que é uma dos princípios do Estatuto do
Idoso.
Uns dos desafios encontrados na instituição são os poucos recursos
financeiros para desempenhar suas atividades diárias, e a grande demanda por
vagas, fazendo-nos perceber a necessidade de uma intervenção mais eficaz do
poder publico para tratar dessa situação.
Como pesquisadora iniciante, foi uma experiência única e enriquecedora.
Aprendi muito com esse trabalho. Para além de um estudo de perspectiva teórica,
tive a oportunidade de aprender um pouco mais sobre o universo que é o
envelhecimento com os idosos com quem tive a oportunidade de conversar. Ouvir os
relatos, que geralmente caminhavam para muito além das perguntas feitas, foi muito
enriquecedor e instigante.
Compreendemos, no entanto, que o universo pesquisado nesse trabalho
representa apenas uma amostra do que representa hoje o idoso em situação de
abrigamento. Portanto, faz-se necessária a realização de muitos estudos como esse,
e certamente mais aprofundados, no sentido de compreender o processo de
envelhecimento, a institucionalização dos idosos, e no fortalecimento dos vínculos
familiares, que são de grande importância para a qualidade de vida dos mesmos.
54
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANTÁRIA (ANVISA). Resolução RDC nº 283, de 26 de setembro de 2005. Disponível em: http://www.idoso.caop.mp.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php>. Acesso em: 18 fev. 2013. ALCÂNTARA, Adriana de Oliveira. Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos. 2ª ed. São Paulo: editora Alínea, 2004. ARAÚJO, M.N de O. A Miséria e os dias: história social da mendicância no Ceará. São Paulo: HUCITEC, 2000. BEAUVOIR, Simone. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BARROS, Myriam Moraes Lins de. Velhice ou Terceira Idade? Rio de Janeiro: FGV 2007. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Brasília: Senado Federal, Subsecretária de Edições Técnicas, 2011. ______. Lei nº 10.741 de 1º de outubro de 2003: Estatuto do Idoso. Brasília/DF: Poder Legislativo, 2003. ______. Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994. Política Nacional do Idoso. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8842.htm>. Acesso em: 05 mar. 2014. ______. Lei n°8.742 de 7 de dezembro de 1993: Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Brasília/DF: Poder Legislativo. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8742.htm>. Acesso em 18 de Junho de 2014. CAMARANO, Ana Amélia; KANSO, Solange. As instituições de longa permanência para idosos no Brasil. R. Bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v.27, n.1, p.233-235 jan./jun.2010. CAMARANO, Ana Amélia; PASINATO. Maria Tereza. O envelhecimento populacional na agenda das Políticas Públicas. In: Ana Amélia Camarano (Org.). Os Novos Idosos Brasileiros: Muito Além dos 60. Rio de Janeiro: IPEA, 2004. CARLYLE Jr. Com mais de 20 milhões de idosos no Brasil tem apenas 218 asilos públicos. R7 Notícias, Rio de Janeiro, 24 de Maio, 2011. Disponível em: <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/com-mais-de-20-milhoes-de-idosos-brasil-tem-apenas-218-asilos-publicos-20110524.html>. Acesso em: 25 abr. 2014. CEARÁ tem apenas um abrigo público para idosos. Diário do Nordeste Online, Fortaleza, 23 de Maio de 2011. Disponível em:
55
<http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/cearatemapenas-um-abrigo-publico-para-idosos-1.386392. Acesso em: 28 mar. 2014. DEBERT, Guita Grin. A reinvenção da velhice: Socialização e processos de reprivatização do envelhecimento. 1ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo: FAPESP, 2004. DIAS, M. L. Vivendo em família: Relações de afeto e de conflitos. (7ªed). São Paulo: Moderna. (Coleção Polêmica). In: ALCÂNTARA, Adriana de Oliveira. Velhos institucionalizados e família: entre abafos e desabafos. 2ª ed. São Paulo: editora Alínea, 2009. FALEIROS, Vicente de Paula. Violência contra a pessoa idosa: ocorrências, vítimas e agressores. Brasília: Ed. Universa, 2007. FERNANDES, Cristiane Leite. O idoso do Grupo de Convivência São Judas Tadeu: sua percepção em relação ao envelhecimento e qualidade de vida. Fortaleza, UECE, 2009. 70p. Especialização em Políticas Públicas. Universidade Estadual do Ceará, 2009. DICIONÁRIO MICHAELIS. Verbete feudalismo. Disponível em:<http:www.michaelis.uol.com.br/>. Acesso em: 09 fev. 2014. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2011. GOFMAN, E. Manicômios, Prisões e Conventos. 7.ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. GOLDMAN, S. N. Velhice e Direitos Sociais. In: Envelhecer com Cidadania: quem sabe um dia? Rio de Janeiro: CBCISS; ANG/ Seção Rio de Janeiro, 2000. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. A Síntese dos Indicadores Sociais 2010 – Uma análise das Condições de Vida da População Brasileira. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2010/SIS_2010.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2014. _____. A Síntese dos Indicadores Sociais 2012 – Uma análise das Condições de Vida da População Brasileira. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Indicadores_Sociais/Sintese_de_Indicadores_Sociais_2012/SIS_2012.pdf> Acesso em: 20 de abril de 2014.
IGREJA CATÓLICA: O domínio da igreja católica na Idade Média. Disponível em:<http://www.airtonbc.wordpress.com/2010/11/29/o-dominio-da-igreja-na>. Acesso em 09 de Fevereiro de 2014
LOPES, Andres. Dependência, Contratos Sociais e Qualidade de Vida na Velhice. In: VON SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes; NERI, Anita Liberalesso; CALCHIONI, Meire (Orgs.). As Múltiplas Faces da Velhice no Brasil. 2ª ed. Campinas, SP: Alínea, 2006.
56
KASTEMBAUM, Robert. Velhice: Anos de Plenitude. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1981. MAGALHÃES, Dirceu. N. A Invenção Social da velhice. Rio de Janeiro: Papagaio, 1989. MASCARO, S. A. O que é velhice. São Paulo: Brasiliense, 2004. MESSY, Jack. A Pessoa Idosa Não Existe. 2ª ed. São Paulo
MINAYO, Maria Cecília. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. 29ª ed. Petrópolis: Vozes, 2010.
______. Violência contra idosos: O avesso do respeito à experiência e à sabedoria. 2ª ed. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2005.
NERI, Anita Liberalesso. As Mídias Escritas e o Processo de Envelhecimento no Brasil, in: As Múltiplas Faces da Velhice no Brasil – Orgs. Olga Rodrigues de Moraes Von Simson, Anita Liberalesso Neri e Meire Calchioni – 2 ed. Campinas, SP, Alínea, 2006
NETTO, M. P. Gerontologia: a velhice e o envelhecimento em visão globalizada. São Paulo: Ateneu, 2010.
OMS. Envelhecimento ativo: um Projeto de Saúde Pública. In: ENCONTRO MUNDIAL DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE ENVELHECIMENTO, 2., 2005. Madri. Anais... Madri: OMS, 2005.
OLIVEIRA, Erika et al.Vivências afetivas em idosos. Brasília. 2011. [online]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932001000100008> Acesso em: 14 jun. 2014.
PLATÃO E SÓCRATES. Filósofos do século IV. Disponível em: <http://www.greciantiga.org/arquivo.asp>. Acesso em: 19 jan. 2014. RAMOS, Paulo R. B. Fundamentos constitucionais do direito à velhice. Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 2002. SIRQUEIRA, M. E. C; MOI, R. C. Estimulando a Memória em Instituições de Longa Permanência. In: VON SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes; NERI, Anita Liberalesso; CALCHIONI, Meire (Orgs). As Múltiplas Faces da Velhice no Brasil. 2ª ed. Campinas, SP, Alínea, 2006 TEIXEIRA, Fátima. O idoso e a família: Os dois lados da mesma moeda. [On-Line]. São Paulo, 2000. Disponível em:<http://www.partes.com.br/terceira_idade08.html>. Acesso em: 05 out. 2014. TOALDO, Adriene Medianeira; MACHADO, Hilza Reis. Abandono afetivo do idoso pelos familiares: indenização por danos morais. Âmbito Jurídico, Rio Grande, XV,
57
n.99, abr, 2012. Disponível em: <http://www.ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leituras+artigo_id=11310>. Acesso em: 12 abr. 2013. VERAS, Renato. A longevidade da população: desafios e conquistas. Serviço Social e Sociedade, n.75, Cortez, 2003.
58
59
APÊNDICE 1 ROTEIRO DAS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADA PARA OS IDOSOS Nome:_________________________________________ Idade: ____________
Sexo: ( ) Masc. ( ) Fem. Estado civil:___________________________
Naturalidade: _________________ Profissão: __________________________
Possui filhos? ( ) Não ( ) Sim Quantos? ____________________________
1. Há quanto tempo mora na instituição?
2. Como veio morar aqui no Abrigo?
3. Com qual frequência a família vem visitá-lo?
4. Como era o seu relacionamento com a família antes de morar no Abrigo? E a
importância da família para o senhor/a?
5. Dê a sua opinião sobre o abrigo.
6. A senhora(o) já sofreu algum tipo de violência?.
7. Como se dá a relação da senhora(o) com os profissionais e ao outros idosos?
8. O que a velhice significa para a senhora (o)?
60
APÊNDICE 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa: Análise dos fatores de institucionalização do idoso na Unidade de Abrigo Olavo Bilac.
Pesquisador: Chirlene Mendes Monteiro
Orientadora: Prof.ª Ms. Valney Rocha Maciel
O Sr. (Sra.) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa que tem como
finalidade “Análise dos fatores para a institucionalização dos idosos na Unidade de Abrigo Olavo Bilac”. Tal pesquisa é requisito para a conclusão do curso de
Bacharelado em Serviço Social pela Faculdade Cearense.
Ao participar deste estudo, o/a Sr.(a) permitirá que o pesquisador utilize suas
informações para a realização desta pesquisa e fins acadêmico. Entretanto, os
dados obtidos serão mantidos em sigilo, somente o pesquisador e sua orientadora
terão conhecimento dos dados. O participante tem a liberdade de desistir a qualquer
momento do estudo caso julgue necessário, sem qualquer prejuízo. A qualquer
momento poderá pedir maiores esclarecimentos sobre a pesquisa através do
telefone do pesquisador.
O maior benefício para o participante será a sua contribuição pessoal para o
desenvolvimento de um estudo científico de grande importância, onde o pesquisador
se compromete a divulgar os resultados obtidos. O/A Sr.(a) não terá nenhum tipo de
despesa para participar desta pesquisa, bem como nada será pago por sua
participação.
Após estes esclarecimentos, solicito o seu consentimento de forma livre para
participar desta pesquisa.
61
APÊNDICE 3 CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Tendo em vista os esclarecimentos apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,
manifesto meu consentimento em participar da pesquisa.
“Análise dos fatores para a institucionalização dos idosos na Unidade de Abrigo Olavo Bilac”
____________________________________________
Nome do participante
____________________________________________
Assinatura do participante
____________________________________________
Assinatura do pesquisador
____________________________________________
Prof.ª Valney Rocha Maciel Orientadora/ Faculdade Cearense