centro de ensino superior do cearÁ faculdade … percepcao das... · 3.1 o serviço social e sua...
TRANSCRIPT
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE SERVIÇO SOCIAL
ALBA MARIA PINTO SILVA
A PERCEPÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE À MORTE E AO
MORRER, EM SUA PRÁTICA PROFISSIONAL
FORTALEZA
2014
1
ALBA MARIA PINTO SILVA
A PERCEPÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE À MORTE E AO
MORRER, EM SUA PRÁTICA PROFISSIONAL.
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora:Prof.ªMs. Flaubênia Maria Girão de Queiroz.
FORTALEZA
2014
2
ALBA MARIA PINTO SILVA
A PERCEPÇÃO DAS ASSISTENTES SOCIAIS FRENTE À MORTE E AO
MORRER, EM SUA PRÁTICA PROFISSIONAL
Monografia apresentada ao Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense FaC, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.
Data de aprovação: 30/01/2014
BANCA EXAMINADORA
__________________________________
Prof.ªMs. Flaubênia Maria Girão de Queiroz – Orientadora
Faculdade Cearense
____________________________________
Prof.ªMs. Laurinete Sales Andrade - Examinadora
Faculdade Cearense
_________________________________________
Prof.ªMs. Valney Rocha Maciel- Examinadora
Faculdade Cearense
3
A Deus, minha fortaleza... Aos meus pais, razão de minha existência. A minha família amor incondicional.
4
AGRADECIMENTOS
A Deus por crer que tudo poderia acontecer se Nele acreditasse.
Aos meus pais “Zequinha” e “Chaguinha” pessoas responsáveis pelo
ser humano que sou e mais do que ninguém acreditaram na minha vitória, me
amando todos os dias. Obrigada meu pai e minha mãe.
Ao meu esposo Carlos e meus filhos Renan e Ramon, pela
compreensão na minha ausência e por me motivarem para que eu alcançasse
meus objetivos e a transpor as adversidades da vida. O meu muito obrigada
e amor infinito!
Aos meus irmãos Claudia, Eduardo e Ednardo acreditando que para
eles sirvo de um exemplo de vida e compreensão do real sentido do que deve
ser uma família.
A todos os meus parentes, amigos e conhecidos sem elencar nomes
para não correr o risco de esquecer nenhum, ofereço minha gratidão, sempre
presentes e companheiros durante toda a minha caminhada, me apoiando
cada um a seu modo, nos momentos de exaustão, dificuldade e felicidade.
As minhas amigas de curso Andréia, Carol, Elenita, Natália, Natasha e
Paula Fahd, razão de meu orgulho por cada uma. Muito obrigada por todas
às vezes que fomos mais do que colegas de turma, pelas vezes que rimos e
choramos juntas e que nos demos às mãos para fortalecer uma a outra na
hora das adversidades. Serei eternamente grata pela amizade cativada.
A todos os mestres, pessoas importantes que ao longo do caminho se
dispuseram a dividir conosco seus conhecimentos contribuindo não só para
uma formação profissional, mas, para construção de sujeitos amadurecidos e
com um olhar de mundo diferenciado.
A professora Flaubênia Girão, mais que orientadora, tornou-se uma
amiga, me apoiou com muita paciência, acreditou na minha capacidade e me
fez uma pessoa melhor. Serei sua admiradora e eternamente grata.
5
Agradeço a todos os meus colegas de curso presentes nessa
caminhada e fizeram parte da minha história.
À banca examinadora que gentilmente aceitou nosso convite e
contribuiu para a melhoria desse trabalho.
E um agradecimento em especial a assistente social Eliene Brito por
toda disponibilidade, paciência, amizade e companheirismo, principalmente,
no momento de finalização de nosso trabalho. Deus te abençoe.
Márcia Andrade e Flávia Linhares, as promissoras Assistentes Sociais
desse nosso país, quem eu tive a grande honra de compartilhar além dos
conhecimentos, grandes laços de amizade.
E não podendo deixar de agradecer a todas assistentes sociais que tive
a honra de conhecer ao longo de meu estágio e que se dispuseram a dividir
seus conhecimentos e experiência profissional colaborando com minha
formação, obrigada!
6
“Não só a pesquisa, mas a produção científica de um modo geral mantém íntima relação com a história de vida individual, profissional, social e política do agente pesquisador, que, por estar inserido num contexto social mais amplo, guarda, nas suas experiências, influências que incidem diretamente na sua forma de construir e olhar o objeto. Conseqüentemente, o objeto é construído a partir da visão de mundo que o pesquisador adota.”
(AglairAlencarSetúbal)
7
RESUMO
A presente pesquisa, de caráter descritivo-exploratório, tem como objetivo principal analisar a percepção dos assistentes sociais frente ao processo de morte e morrer. Para isso, definiu-se os seguintes objetos específicos: descrever como os assistentes sociais percebem o processo de morte e morrer em sua prática interventiva; identificar as possibilidades e limites da prática profissional do assistente social no processo de morte e morrer e identificar o processo de morte e o morrer como intervenção constante na atuação do assistente social. O objeto da pesquisa exigiu uma abordagem qualitativa, por possibilitar maior amplitude do objeto estudado como também uma pesquisa bibliográfica e de campo. Solicitou ainda como instrumento de coleta de dados a entrevista aberta semi-estruturada com Assistente Sociais que estão inseridas no cotidiano da saúde e diante das situações de morte e morrer. A análise dos dados deu-se por meio do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), técnica que se fundamenta na Teoria das Representações Sociais.Frente aos resultados percebe-se a necessidade de uma gestão dos serviços que atentem mais para a subjetividade na intervenção profissional e academia deveria rever seus currículos aproximando-se mais do que realmente se dá na dia a dia da prática institucional.
Palavra-chave: Serviço Social. Prática profissional. Morte e morrer.
8
ABSTRACT
This research, descriptive and exploratory, aims to analyze the perception of social assistants facing the death and dying process. For this set the following specific objects: describe how social assistants perceive the process of death and dying in your interventional practice, identifying the possibilities and limits of professional practice of social assistants in the death and dying process and identify the process of death and die as constant intervention in the operation of the social assistants. The object of the research required a qualitative approach, because it allows greater range of the studied object as well as a literature and field research. Also requested as a tool for data collection interview opened with Social Assistants that are embedded in everyday health and facing the circumstances of death and dying. Data analysis was performed by means of the Collective Subject Discourse - DSC technique that is based on the Theory of Social Representations.Compared to results realizes the need for a managed services that attempt to more subjectivity in professional intervention and gym should review their curricula approaching more than actually occurs in everyday institutional practice.
Keyword: Social Service. Professional practice.Deathanddying.
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 -
Quadro 2 -
Quadro 3 -
Quadro 4 -
Quadro 5 -
Refuncionalização de princípios e diretrizes do SUS.........
Vertentes do movimento de reconceituação......................
Principais ações a serem desenvolvidas pelo assistente
social na área da saúde...................................................
Perfil dos sujeitos entrevistados.......................................
Categorias do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)............
23
29
40
52
53
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEPSS - Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social
AIDS - Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
CF - Constituição Federal
CFAS - Conselho Federal de Assistente Sociais
CFESS - Conselho Federal de Serviço Social
CNS - Conselho Nacional de Saúde
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social
DSC - Discurso do Sujeito Coletivo
ESF - Estratégia Saúde da Família
IAPS - Institutos de Aposentadorias e Pensões
INPS - Instituto Nacional de Previdência Social
OMS - Organização Mundial da Saúde
PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúdes
RSB - Reforma Sanitária Brasileira
SDD - Sistema de Desembolso Direto
SF - Saúde da Família
SUS - Sistema Único de Saúde
TFD - Tratamento Fora de Domicílio
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...................................................................................
2 A SAÚDE E O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL..................................
2.1 Breve histórico da saúde no Brasil................................................
2.2 A saúde após a Constituição Federal de 1988..............................
2.3 A saúde como alvo do ajuste neoliberal.............. ..........................
3 BREVE TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ................
3.1 O Serviço Social e sua atuação no campo da saúde.....................
3.2 O Serviço Social e a prática profissional.......................................
3.3 Desafios do Serviço Social na área da saúde...............................
3.4 Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na saúde.........
4 MORTE E O MORRER COMO PROCESSO DA VIDA.........................
4.1 Conceituando morte....................... ..............................................
4.2 As representações de morte.........................................................
4.3 Morte na hipermodernidade..........................................................
4.4 O processo de morte e morrer para o profissional da saúde..........
5 PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE DOS DADOS ..................
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................
REFERÊNCIAS.....................................................................................
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista..........................................
ANEXO A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................
12
16
16
19
21
26
31
34
35
40
44
44
46
47
48
50
72
75
80
82
12
1INTRODUÇÃO
Com o intuito de aprofundar o olhar sobre a prática do Serviço Social
surgiu o interesse de investigar como se dá a intervenção profissional junto
ao processo de morte e morrer. Esse interesse emergiu em decorrência da
experiência da pesquisadora como prof issional da área de saúde em uma
instituição hospitalar em que esta realidade é recorrente. Foi nesse ambiente
de convívio cotidiano com pessoas que chegaram a óbito, acometidas por
doenças como câncer, HIV, vítimas de trânsito e violência urbana exigindo a
atuação de vários profissionais diante do processo de morte e morrer que
chamou atenção da realidade como objeto de pesquisa. A partir do interesse
pelo tema, verificou-se existirem poucos trabalhos de pesquisa que abordam
o assunto no que diz respeito ao Serviço Social.
O estudo teve como objetivo principal analisar a percepção dos
assistentes sociais diante do processo de morte e morrer em sua prática
profissional. Buscou-se como objetivos específicos descrever como o
assistente social percebe o processo de morte e morrer, em sua prática
interventiva; identificar possibilidades e limites em lidar com o processo morte
e morrer, bem como identificar este mesmo processo como intervenção
constante na atuação do assistente social nas relações sociais.
De acordo com Bertani e Rezende (2007, p.113), o assistente social
possui sensibilidade em lidar com o tema por conseguir penetrar na
intimidade das pessoas ou porque “talvez consiga parar e ouvir as mazelas
sociais.” É fato que o profissional de Serviço Social intervém sobre as
múltiplas expressões da questão social. Desta forma, ele lida com realidades
complexas, inseridas nestas está o processo de morte e morrer em sua
prática profissional.
O campo eleito como cenário da pesquisa foi uma instituição pública de
saúde de média e alta complexidade no tratamento de doenças
infectocontagiosas, pertencente ao Governo do Estado, vinculada à
Secretaria da Saúde estadual, localizada na cidade de Fortaleza.
13
O estudo teve caráter descritivo-exploratório, com abordagem
qualitativa, por demanda do próprio objeto pesquisado. Para Minayo (1996), o
estudo qualitativo é realizado junto à realidade que não pode ser
quantificada, buscando uma aproximação com a subjetividade.
A pesquisa exploratória visa a compreensão de determinado fenômeno
ou objeto de estudo, tendo como finalidade proporcionar maiores informações
sobre determinado assunto (BASTOS, 2008).
Foi desenvolvida uma pesquisa de campo e bibliográfica atendo-se às
categorias: Serviço Social, prática profissional, morte e morrer. Segundo
Cervo e Bervian (1976) todas as pesquisas exige uma pesquisa bibliográfica
como trabalho inicial.
Já a pesquisa de campo caracteriza-se, principalmente, pela presença
do pesquisador em contato direto com o fenômeno e coleta dados no local
(BASTOS, 2008).
Na pesquisa de campo, como técnica de coleta de dados foram
utilizadas a entrevista semi-estruturada que se caracteriza pelo uso de um
roteiro previamente elaborado; e a observação não participante, onde o
pesquisador toma contato com a realidade estudada sem integrar-se a ela,
permanecendo de fora (LAKATOS; MARCONI, 2006)
A técnica de análise dos dados coletados foi o Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), a qual Lefèvre, F. e Lefèvre, A.M.C. (2005) conceitua como
uma técnica de processamento de dados, a fim de coletar e organizar por
categorias, discursos dos sujeitos em um painel de forma a sugerir a fala de
uma pessoa coletiva como se fosse um sujeito individual de discurso.
A observação foi realizada no semestre de estágio e permit iu uma
aproximação com as abordagens e relações estabelecidas entre
profissionais, pacientes e familiares. O que favoreceu uma compreensão
mínima de como os profissionais se posicionam diante do ambiente, dos seus
pares e quanto à dinâmica de atendimento em geral no que se refere à
prática profissional diante de uma realidade regada de emoções,
acompanhada da dimensão ética do fazer profissional.
14
Ao que se refere à entrevista semi-estruturada, segundo Manzini (2003,
p. 11) esta “é a utilização de um roteiro previamente elaborado”. O roteiro
contemplou questões que traçavam um perfil do sujeito pesquisado e três
perguntas norteadoras que serviram para composição do discurso dos
sujeitos participantes. O universo dos sujeitos era de 25 assistentes sociais
que trabalhavam em turnos entre: manhã, tarde e noite, nos vários setores e
unidades da instituição.
Utilizou-se como critérios de inclusão para a amostragem profissionais
plantonistas que realizam atendimento na sala do Serviço Social e assistem
diretamente aos casos de óbito, bem como aqueles que manifestaram
disponibilidade e aceitaram participar da pesquisa. O número de sujeitos
envolvidos na pesquisa chegou a cinco assistentes sociais. Atendendo à
dimensão ética da entrevista, identificou-se os entrevistados com
numerações 1, 2, 3, 4 e 5.
Quanto à escolha da quantidade de sujeitos entrevistados Martinelli
(2003) diz que o importante não é o número de sujeitos que prestarão
informações, mas, a significação que esses sujeitos têm em função do objeto
de pesquisa.
O presente estudo está dividido em introdução, a qual apresenta a
problematização, objetivos, justificativa e parte do percurso metodológico. O
primeiro capítulo apresenta um resgate histórico breve da saúde no Brasil; o
segundo capítulo traz uma pequena evolução histórica do Serviço Social no
Brasil, aproximando-se da prática profissional na saúde e no lidar com a
morte e o morrer. No terceiro, buscou-se teorizar um pouco sobre o processo
de morte e morrer. O quarto capítulo expressa o percurso metodológico e as
análises dos dados coletados realizadas a partir da técnica do Discurso do
Sujeito Coletivo.
Frente aos resultados percebe-se a necessidade de que a gestão dos
serviços considere a prática profissional para além do que é exigido
objetivamente, considerando toda subjetividade que envolve a intervenção
profissional e atentem para ações que encaminhem o sofrimento gerado,
preenchendo lacunas existentes na condução das situações de trabalho.
15
Outro fato que a pesquisa revela é a deficiente formação acadêmica no
que se refere ao lidar com o processo de morte e morrer, algo tão natural à
vida e presente na prática profissional do assistente social, mas não
considerado importante, nem legítimo à categoria. A academia deveria rever
seus currículos aproximando-se mais do que realmente se dá na dia a dia da
prática institucional.
16
2 A SAÚDE E O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
Não é objetivo principal deste estudo é focar o processo de saúde que
hoje se apresenta, mas se faz necessário conhecer como se deram as
transformações sociopolíticas no âmbito da saúde, para a partir daí continuar
o direcionamento em busca de conhecer a percepção dos assistente sociais
sobre o processo de morte e morrer na prática profissional do Serviço Social
na área da saúde,importante campo empregador da categoria.
A saúde como dever do Estado e direito de todos está expressa no
Texto Constitucional de 1988, como fruto das muitas reivindicações dos
movimentos sociais, no caso da saúde, o movimento sanitário, bem como
afirma Soares (2012, p.85):
Caracterizado em meio à tensionamento e crise do regime autocrático, o movimento sanitário integra direito universal à saúde pública, pela democratização do Estado brasileiro e por uma racionalidade política que superasse o modelo autoritário e fragmentado da política social brasileira.
2.1 Breve histórico da saúde no Brasil
No império, a situação sanitária do Brasil era bem diferente do que
pode-se ver agora. Os serviços de saúde no Período Colonial eram voltados
para os problemas de higiene, os moradores não dispunham de médicos que
viessem atender suas solicitações. Ainda no Período Imperial, foram
adotadas medidas voltadas para a higiene escolar e proteção de crianças e
adolescentes no meio fabril, nesse período iniciava-se uma nova reforma dos
serviços sanitários (PAIM, 2009).
Ao final do Período Imperial a organização sanitária não assistia aos
doentes, não respondia as epidemias e aqueles que dispunham de recursos
tinham um atendimento particular enquanto os indigentes eram assistidos
pela caridade e pela filantropia, “a assistência aos pobres ficava por conta da
caridade cristã” (PAIM, 2009, p. 27).
17
Com a Proclamação da República, os estados passam a ser
responsáveis pelas ações de saúde e, com o advento da industrialização no
Brasil (década de 30), a saúde ainda não é vista como questão social e sim
como caso de polícia, um problema de cada cidadão (BERTOLLI FILHO,
2004).
Em decorrência das epidemias, o Estado adotou medidas como
campanhas sanitárias por meio de vacinação compulsória que, juntamente
com a reforma de órgãos federais, foram marcos na saúde pública naquele
período. Sobre estas ações Paim (2009, p.29) elucida que "a realização de
campanhas lembrava uma operação militar, e muitas das ações realizadas
inspiravam-se no que se denomina polícia sanitária."
Ainda na segunda década do século XX a saúde pública quase não
existia, havendo uma grande valorização do sistema médico assistencialista.
Assim, como realidade histórica, as políticas públicas de saúde no Brasil
passam por vários momentos, fatos e acontecimentos (CUNHA; CUNHA,
1998).
Paim (2009) ressalta que a Previdência Social, responsável pela
política de saúde - criada em 1923, após aprovação da Lei Elói Chaves, veio
com o intuito de atender a elite, a força militar e o grupo de pessoas inseridas
no mercado de trabalho. Com isso, os pobres e indigentes eram atendidos
nas Santas Casas, estas mantidas pela caridade religiosa. O modelo de
saúde centrava-se no tratamento da saúde totalmente voltado para a doença.
A assistência médica da previdência teve início com as caixas de
aposentadoria e pensões expandindo-se a partir de 1930, quando foram
substituídos pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), e estava
relacionada ao caráter contributivo em que gerava uma divisão da população
brasileira, ou seja, os previdenciários - aqueles que podiam pagar os serviços
de saúde por conta própria, e os não previdenciários - aqueles que não
podiam pagar. Segundo Paim (2009, p.33):
Somente os brasileiros que estivessem vinculados ao mercado formal de trabalho e com carteira assinada tinham acesso à assistência médica da previdência social. Aos demais restavam poucas opções: pagar pelos serviços médicos e hospitalares ou
18
buscar atendimento em instituições filantrópicas, postos e hospitais de estados ou municípios. Como o direito à saúde não estava vinculado à condição de cidadania, cabia aos indivíduos a responsabilidade de resolver os seus problemas de doenças e acidentes, bem como de seus familiares.
Ademais, mesmo o trabalhador tendo sua contribuição compulsória, a
arrecadação desses impostos, eram desviados a investimentos da economia
por não ser a saúde considerada prioridade. Os recursos eram investidos em
construção de siderúrgicas, pontes, estradas e usinas ainda no período militar
(CONH, 2003).
Paim (2009) acrescenta que os recursos previdenciários foram
utilizados na construção da cidade de Brasília - governo de Juscelino
Kubitscheck, e no pagamento da dívida externa - governos de Fernando
Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva.
Nos períodos de 1940 e 1950 ocorreu a ampliação dos serviços
médicos dos IAPs, além dos contratos da previdência com hospitais
particulares e beneficentes. Na década de 60 surgiu a medicina de grupo e
as cooperativas médicas. Já na passagem de 1970 para 1980 surgem os
'seguros de saúde' e a venda de planos de saúde para o crescimento da
iniciativa privada no Brasil, caracterizado pelo pagamento do “próprio bolso”
na aquisição do serviço, compondo o chamado Sistema de Desembolso
Direto (SDD) (PAIM, 2009).
Ao longo de boa parte do século passado manteve-se a medicina
liberal, caracterizada por larga autonomia do profissional. Todavia, com o
avanço tecnológico que resultou na ampliação e utilização de equipamentos e
de meios diagnósticos, o médico liberal viu sua autonomia reduzida, perdia o
controle de sua clientela, já não fixava mais os preços das consultas nem dos
procedimentos a realizar.
Deste modo, a medicina liberal aos poucos foi substituída pela
medicina empresarial. Nos dias atuais, poucos médicos vivem apenas da
medicina liberal, dispondo-se ao emprego público ou convênios com
empresas de planos de saúde (PAIM, 2009).
19
Ocorre que tanto a medicina liberal quanto a medicina empresarial
estão submetidas a lógica do mercado, principalmente quando a procura por
serviços está condicionada ao poder de compra do consumidor e nem sempre
determinada pela necessidade do paciente.
Além da medicina liberal e empresarial, permanecia a medicina
filantrópica (Santas Casas de Misericórdia). Em todo país existiam hospitais
filantrópicos que recebiam como incentivo do Estado, a liberação das
contribuições fiscais e o pagamento pela prestação de serviços.
2.2 A saúde após a Constituição Federal de 1988
A Constituição Federal de 1988 garantiu a saúde como direito do
cidadão e dever do Estado, ficando sob a responsabilidade do governo o
custeio dos gastos do recém criado Sistema Único de Saúde (SUS). “Assim,
desde 1988 não há mais indigentes, nem serviços gratuitos prestados por
caridade” (PAIM, 2009, p.37).
O Movimento de Reforma Sanitária no Brasil (RSB) nasceu na periferia,
foi uma conquista histórica que surgiu originalmente em atendimento às
reivindicações da classe trabalhadora, após importantes embates políticos,
enquanto um ideário de um grupo de mulheres, estudantes, profissionais da
saúde, comunidades de base, sanitaristas intelectuais somados a segmentos
de representação da sociedade que se articularam conseguindo influenciar o
processo da reforma constitucional.
Surge no Brasil no final da década de 90, influenciada pelo Movimento
Sanitário, a saúde coletiva, definida como um conjunto de práticas técnicas,
científicas, culturais, ideológicas, políticas e econômicas, que se
desenvolvem no âmbito da academia, das instituições de saúde, das
organizações da sociedade civil e dos institutos de pesquisa(PAIM, 2009).
Gesta-se o entendimento de que o estado de saúde das pessoas, para
além do corpo, pode ser influenciado pela participação nos conselhos de
saúde, nas decisões da comunidade, afetividade, espiritualidade,
sexualidade, gênero, violência, discriminação, dominação, drogas, falta de
proteção no trabalho e a diversidade cultural.
20
Na atualidade (Lei 8.080/90) para uma pessoa ter saúde ela precisa de
uma alimentação adequada e suficiente, moradia digna, saneamento básico,
transporte, educação, acesso aos serviços de saúde, trabalho, renda e lazer.
E como afirma Sodré (2010), devido ao fato da saúde pública está
atrelada ao Estado, este é chamado a garantir esses direitos à população.
Esse novo conceito de saúde surgiu durante a 1ª Conferência
Internacional sobre Promoção da Saúde em Otawa - Canadá, 1986. Já no
Brasil, também em 1986, durante a VIII Conferência Nacional de Saúde,
foram sistematizados e debatidos por quase cinco mil participantes, estudos
e proposições que inspirou o Capítulo “Saúde” do Texto Constitucional,
desdobrando-se posteriormente, nas leis orgânicas da saúde (8.080/90 e
8.142/90) ocasionando a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS),
consolidado pela Constituição Federal de 1988, onde vigora a noção de
promoção da saúde, ou seja, capacitar a comunidade para atuar na melhoria
da qualidade de vida e saúde.
Segundo Mota (2006, p.3):
No Brasil, a despeito das iniciativas realizadas nos anos 40, é somente a partir dos anos 80 que a sociedade brasileira ensaia a institucionalização e constitucionalização dos primeiros passos em prol do exercício da cidadania, de formas de democracia, da constitucionalização de novos direitos sociais, trabalhistas e político.
O SUS vem assegurar ou efetivar esses direitos os quais nem mesmo a
grande maioria dos profissionais da área e demais profissionais
compreendem a dimensão desse sistema e suas propostas “[...] todos
imaginam que conhecem o sistema de saúde brasileiro. Entretanto, para
maioria das pessoas […] nem sempre tem uma idéia (sic) mais clara e correta
do SUS” (PAIM, 2009, p.12).
Para Paim (2009, p.13):
A expressão sistema de saúde pode sugerir um conjunto de serviços, estabelecimentos, profissionais, medicamentos, equipamentos etc. Juntando o entendimento de cada uma das palavras representadas na sigla SUS, fica ainda por concluir o que significa SUS no seu conjunto. O SUS é algo distinto, especial, não se reduzindo à reunião de palavras como sistema único e saúde.
21
Desta forma, tem-se a saúde como um direito social conquistado que
deve ser acessível a todo cidadão sem distinção. Compete exclusivamente ao
Estado o ônus, o dever de sua efetivação por meio de políticas sociais e
econômicas que objetivem a redução do risco de doença e de outros agravos.
O Estado tem o dever de garantir o direito à saúde e para isso, deve
promover formas de efetivá-lo, através de programas, projetos, ou
campanhas (BRASIL, 1988)
As ações e serviços para promoção, proteção e recuperação devem ser
de forma universal e igualitário, isto é, deve ser de forma igual e o tratamento
deve atender a todas as pessoas dividindo em três etapas – a promoção que
é perceptível, por exemplo, através de campanhas educacionais e de
conscientização sobre doenças; a proteção, que dá a ideia de uma ação
prévia, como é o caso da aplicação gratuita de vacinas e, por fim, a
recuperação, que ocorre na fase em que já ocorreu o agravo ou a doença,
cabe então ao Estado promover o tratamento essencial para recuperação do
mórbido. Também é garantia constitucional na saúde, ações que se destinam
a garantir as pessoas e a coletividade, condições de bem estar físico, mental
e social. (BRASIL, 1988)
2.3 A saúde como alvo do ajuste neoliberal
O SUS é constituído de um conjunto de ações e serviços de saúde,
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais,
da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder
Público (BRASIL, 1988).
O SUS concretizado na CF/1988 apresenta como princípios a
universalidade, a equidade e a integralidade. Como diretriz aponta a
descentralização, a participação da comunidade, financiamento e gestão.
A formalização da saúde como direito social chegou até o povo
brasileiro somente depois de quarenta anos da Organização Mundial da
Saúde (OMS), ser criada em 1948 e difundir no mundo inteiro o direito à
saúde (PAIM, 2009.)
22
A Reforma Sanitária Brasileira implementou uma luta tal que se
associou a vários outros movimentos para além da política de saúde.
Segundo Soares (2012, p.87):
Havia a defesa explícita da emancipação política [...]. Essa emancipação política tinha no direito à saúde um importante elemento, mas não se restringia a ele. Havia, assim, um projeto de sociedade e de Estado que fundamentavam as bandeiras de luta do movimento: com uma concepção de saúde que não estava restrita ao corpo e ao indivíduo, mas que estava centrada na coletividade, na estrutura social e nas classes.
Assim, a política pública de saúde brasileira como política social
representa um “espaço dialético de projetos contraditórios em confronto,
constituindo-se em expressão da luta de classes e das racionalidades em
disputa no âmbito do Estado e da sociedade c ivil” (SOARES 2012, p. 86).
Desta forma, tem sofrido fortes golpes da ofensiva do ajuste neoliberal.
Nesse espaço, os serviços de saúde tornaram-se formas de investimento e
lucro capitalista a partir dos anos 90. Como resultado está a “precarização do
SUS, a ampliação restrita, fragmentada e desigual do sistema” (SOARES,
2012, p.89).
Os princípios e as diretrizes do SUS sofreram alterações claras, no
entanto, na prática do dia a dia não fica tão visível nem para usuários e,
muitas vezes, nem para os profissionais a utilização de estratégias que retira
da política social seu fundamento de direito do cidadão e dever do estado.
Soares (2012) faz um quadro onde mostra as alterações de sentido e de
estrutura do SUS hoje.
23
Quadro 1 - Refuncionalização de princípios e diretrizes do SUS.
Princípios/
diretrizes
organizativas
SUS históricos SUS materializado
Universalidade
“Universalidade de acesso
aos serviços de saúde em
todos os níveis de
assistência”
Acesso focalizado nos mais
pobre e pauperizados, que
enfrentam, em geral,
extensas filas objetivas ou
virtuais, representando um
verdadeiro gargalo no
sistema, gerando um grande
número de demandas não
contempladas pelo sistema.
Equidade
Todos têm direito ao
atendimento de acordo com
a diversidade de suas
necessidades, de modo que
seja garantida a igualdade
na diferença.
Focalização precarizada do
atendimento no seguimento
populacional mais pobre, sob
a justificativa de que este é
mais “vulnerabilizado”. Fere-
se, desta forma, o princípio
da igualdade, da
universalidade e da própria
equidade.
Integralidade
“Conjunto articulado e
contínuo das ações e
serviços preventivos e
curativos, individuais e
coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de
complexidade do sistema.”
Atenção básica, média e alta
complexidade precarizadas e
focalizadas na pobreza,
principalmente através da
expansão focalizada do
PACS, da ESF e dos
atendimentos emergenciais
com fragmentação do sistema
e quebra da referência e
contra referência.
Descentralização
Descentralização político-
administrativa, com direção
única em cada nível de
governo, regionalização e
hierarquização da rede de
serviços. Portanto, com
responsabilização de todos
os níveis de acordo com as
suas especificidades
Descentralização com
desresponsabilização da
União principalmente no que
se refere ao financiamento;
Centralização do
planejamento de modelos de
atenção à saúde
padronizados, como o PACS
e o PSF.
24
(Continuação)
Princípios/
diretrizes
organizativas
SUS históricos SUS materializado
Participação da
comunidade
Direito de participação de
todos os seguimentos
envolvidos com o sistema,
em seus diversos níveis
federativos, nos espaços de
controle social, em especial
nos conselhos e
conferências, de caráter
paritário e deliberativo.
As estâncias de controle
social vêm sendo
continuamente
desvalorizadas e
burocratizadas. As
importantes decisões sobre a
política têm passado ao largo
dos conselhos e
conferências, centralizando-
se nos gabinetes de gestores
e no poder legislativo, quase
sempre ignorando
completamente as
deliberações daqueles.
Financiamento
“Financiamento solidário
entre as três esferas de
governo, conforme tamanho
da população, suas
necessidades
epidemiológicas e a
organização das ações e
serviços.”
Subfinanciamento e maior
responsabilização do nível
municipal.
Gestão
Gestão pública, com controle
social público e orientada
pelos princípios e diretrizes
públicos.
Gestão através de
organizações sociais ou
fundações estatais de direito
privado, sem controle social e
orientada pelas diretrizes e
princípios do mercado.
Fonte: Soares (2012, p.97-98).
Entre o SUS histórico e o SUS materializado encontra-se o marco legal
original do SUS e o Estado que de certa forma se omite e penaliza aqueles
que precisam da saúde, favorecendo cada dia mais a política de saúde como
forma de se obter lucro (BRASIL, 1988).
Para Soares (2012), nesse momento histórico é possível identificar três
grandes projetos em confronto na política pública de saúde: o projeto
privatista; o projeto do SUS possível; e o projeto da reforma sanitária. Para o
autor:
25
O projeto SUS possível é defendido pelas lideranças que diante dos limites da política econômica defendem a flexibilização da reforma sanitária, mas nomeiam esse processo como reatualização, modernização ou mesmo como continuidade. [...] termina por favorecer o projeto privatista [...] processo observado no Pacto pela Saúde, no Programa Mais Saúde e no Projeto das Fundações Estatais de Direito Privado. (SOARES, 2012, p. 93) .
Para quem analisa de fora o sistema de saúde não é difícil identificar
as tendências do sistema de saúde brasileiro que Soares (2012) apresenta:
tecnificação da saúde através de novas tecnologias no sistema, inclusive na
gestão apresentando inovações como o modelo de fundação ou organização
social;ampliação restritavista a partir da expansão focalizada, fragmentada e
precarizada sem conseguir atender as demandas postas;ênfase na
assistência precarizada,focalizada e emergencial expressa na incapacidade
de atender a demanda.
Por isso, volta-se para as práticas tradicionais em saúde centradas no
indivíduo, de caráter curativo e com um conteúdo emergencial, focalizada em
grupos mais pauperizados. Privatização e mercantilização da saúde pública
mostra-se pela contratação de serviços privados ou organizações ou
fundações para gerir as unidades com uso do recurso público, caracterizando
fortemente a tendência de mercantilização da vida. Precarização e
superexploração do trabalho na saúde pública retratada em novos modelos
de contratos temporários, a grande demanda pelo serviço, precarização do
vínculo e do trabalho em si. Promoção da saúde restrita quando não há a
efetivação de política pública estrutural e universal que incida sobre os
determinantes sociais. Responsabilização do indivíduo sobre o processo
saúde doença.
Considerando a área da saúde como um forte empregador dos
assistentes sociais fica claro que todas essas tendências e diferenças entre o
SUS histórico e o SUS materializado configuram e tem impactos importantes
sobre os trabalhadores do Serviço Social.
26
3 BREVE TRAJETÓRIA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL
Com a finalidade de melhor compreender o objeto de estudo é
importante realizar uma aproximação teórica ao Serviço Social, sua natureza
histórica e sua atuação.
Yazbek et al. (2008) assinalam que a profissão do Serviço Social com
gênese na Europa tem sua emergência na sociedade industrializada e
associação com a intervenção do Estado na regulação das relações sociais.
Reforçando esse argumento, Martinelli (2011, p.66-67) afirma que:
O Serviço social como profissão tem, pois, a marca do capitalismo e do conjunto de variáveis (alienação, contradição e antagonismo) [...] já surge, portanto, no cenário histórico com uma identidade atribuída, que expressava uma síntese das práticas sociais pré -capitalistas [...] importante instrumento da burguesia, que tratou de imediato de consolidar sua identidade atribuída, afastando-o da trama das relações sociais, do espaço social mais amplo da luta de classe e das contradições que as engendram e são por elas engendradas.
No Brasil, a origem do Serviço Social se deu na emergente sociedade
urbano-industrial nos anos de 1930, em pleno desenvolvimento do
capitalismo, marcada por conflitos de classe, pelo aumento da classe
operária urbana pelos movimentos de luta em defesa dos trabalhadores
explorados e pelos direitos sociais e de cidadania (YAZBEKet.al., 2008).
De acordo com Castro (1984), os elementos que mais colaboram para
o surgimento do Serviço Social têm origem na ação católica, que defende
com uma visão messiânica, a recristianização da sociedade através de um
projeto de reforma social.
Desta forma, a prática profissional, historicamente, esteve distanciada
das relações sociais e mais atrelada à ideia de caridade. Entretanto, nos dias
atuais após mudanças no interior da profissão e guiados por uma nova
concepção teórico-metodológica, desconstrói-se esse modelo de prática
(MARTINELLI, 2011).
27
É inegável que a industrialização contribuiu efetivamente para a
profissionalização do Serviço Social e propiciou sua institucionalização.
Como nova estratégia, o Estado considerando-se como “defensor dos
interesses” das classes sociais e com a missão de resgatar o que chama de
“harmonia social”, isto é, acalmar o ânimo dos trabalhadores,
responsabilizou-se em cuidar da reprodução de sua força de trabalho, aliou-
se a burguesia e a Igreja Católica e, “dividiu a tarefa de circunscrever a
hegemonia do poder ao restrito âmbito da classe dominante”. (MARTINELLI,
2011, p.122).
Segundo Martinelli (2011, p.q123), através do Serviço Social o Estado
busca “controlar o nível de tensão da sociedade”, ou seja, Serviço Social era
chamado a atuar numa nova correlação de forças: de um lado a luta de
trabalhadores e outros segmentos da sociedade também excluídos,
empobrecidos insatisfeitos e vítimas da exploração da força de trabalho,
exercida pelo capital. Do outro lado a classe dominante que além da
apropriação do trabalho, aliena o indivíduo e não permite uma interpretação
da real totalidade que se configura na exploração e coisificação do indivíduo,
característica do capitalismo.
Castro (1984) confirma que o processo de imposição da lógica da
acumulação capitalista é o eixo em torno do qual se articulam e organizam as
funções do Estado e a luta das classes sociais.
O assistente social, neste cenário, tem a missão de realizar atividades
higienista, docilizar o trabalhador na redução do absenteísmo, acalmar os
ânimos e com isso contribuir para manter a ordem e conseqüentemente
atender à “questão social” queé a matéria-prima que justifica a legitimação do
campo de atuação profissional do Assistente social na divisão social e
técnica do trabalho (YAZBEK et al., 2008).
É nesse panorama que estão os profissionais de Serviço Social,
viabilizadores de direitos, que chamam para si a responsabilidade de uma
conscientização política e uma transformação societária.
Yazbek et al. (2008, p.6) afirmam que o assistente social ocupa
posição na divisão social do trabalho, cujo campo de atuação resulta de
28
“relações históricas, sociais, políticas e econômicas que caracterizam,
definem seu objeto de estudo e seus usuários.”
Ao longo da atuação profissional do assistente social, Martinelli (2011,
p.127) acredita que “o fetiche da prática […] se apossou dos assistentes
sociais, insuflando-lhes um sentido de urgência e uma prontidão para a ação
que roubavam qualquer possibilidade de reflexão e crítica.”
A fragilidade da profissão representa uma consequência da “ausência
de identidade profissional, de projeto profissional específico, produzia uma
grande fragilidade em termos de consciência política, de consciência social”
(MARTINELLI, 2011, p. 131).
Para Yazbek et al.(2008) que em 1960 a profissão se questiona quanto
as suas referências e assume as inquietações e insatisfações de uma
conjuntura histórica de intenso movimento político cultural. Inicia -se, mais
precisamente em 1965, o Movimento de Reconceituação do Serviço Soc ial –
resposta a uma crise interna da profissão, decorrente de uma crise estrutural
e conjuntural no cenário brasileiro.
Uma nova orientação agora era colocada em pauta e é marcada pela a
experiência de profissionais vinculados a esquerda católica e a projetos de
educação popular, inspirados pelo método de alfabetização de Paulo Freire,
Educação para libertação.
O Movimento impõe à categoria profissional a necessidade de construir
um novo projeto profissional comprometido com demandas e interesses dos
menos favorecidos. É no bojo desse movimento que se confrontam diversas
tendências no interior da profissão que repercute nos seus fundamentos
teórico-metodológicos e no seu modo de atuação (YAZBEK et al., 2008).
Yazbek et al. (2008) em consonância com Netto (2001), enumera
algumas vertentes que emergiram do Movimento de Reconceituação.
29
Quadro 2 – Vertentes do movimento de reconceituação.
Vertente modernizadora
Caracterizada pela abordagem funcionalista,
estruturalista positivista, voltadas para a
modernização conservadora pela mediação do
desenvolvimento social e do enfrentamento da
marginalidade e da pobreza na perspectiva de
integração à sociedade.
Vertente da fenomenologia
Emerge como metodologia dialógica, dirige-se ao
vivido humano, colocando para o Serviço Social a
tarefa de priorizar as concepções de pessoa,
diálogo e transformação dos sujeitos.
Vertente marxista
Traz a profissão à reflexão sobre a consciência de
sua inserção na sociedade de classes, como
aproximação do marxismo, entretanto, sem o
recurso do pensamento do Marx.
Fonte:Yazbek et al. (2008).
Para Yazbek et al. (2008, p.18), é com este referencial que surge um
questionamento na prática institucional do Serviço Social .
Seus objetivos de adaptação social, inicia-sea ruptura com o Serviço
Social tradicional, termos assinalados por Netto (2001).
Na década de 80, o Serviço Social declara apropriação da teoria
marxista. Para Costa e Madeira (2013, p.103):
A profissão vem construindo uma hegemonia norteada pela teoria crítica. No desencadear desse processo histórico, o Serviço Social foi se refazendo, negando o conservadorismo, o positivismo, as práticas voluntaristas e filantrópicas, partindo para um direcionamento ético e político em prol da classe trabalhadora, na luta pelo acesso aos direitos e pela legitimação de outros segmentos sociais.
Daí para frente, o assistente social é desafiado a compreender e
intervir nas novas configurações da questão social considerando que seu
objeto de estudo e intervenção fundamenta-se na realidade social e tem
como matéria prima as múltiplas expressões dessa questão social. Assim, o
assistente social inserido nesse contexto contraditório, com prática de ordem
30
interventiva, atua na dinâmica social constituída de uma dimensão sócio
histórica e política.
Para Yazbek et al. (2008), o Serviço Social caracteriza-se nos dias
atuais como, profissão liberal, inserida na divisão social e técnica do
trabalho, amadurecida e consolidada em âmbito nacional.
Contudo, entende-se que o assistente social como trabalhador inserido
numa atividade alienada dentro de uma sociedade também alienada,
pertencente a uma economia mercadológica capitalista, torna-o um indivíduo
alheio ao que produz e reduzido à coisificação do ser (IAMAMOTO, 2012).
Como classe trabalhadora o assistente social deve considerar o que
Antunes e Alves (2004) afirmam: as classes trabalhadoras ou classe
assalariada são as classes-que-vivem-do-trabalho, destituídas dos meios de
produção.
Acrescenta também Antunes (2009) que as transformações ocorridas
no mundo do trabalho se deram a [partir do modelo taylorista/fordista,
decorrente das crises econômicas do capital, refletindo na classe
trabalhadora.
A reestruturação produtiva, assim denominada por Sennet (1999),
trata-se de um fenômeno em que ocorre a diminuição do número de
empregos formais, alto índice de trabalhadores terceirizados e explorados,
condições de trabalho precarizados e desregulamentados e extensas
jornadas de trabalho, acentuando de certa forma a desigualdade social.
Assim, o assistente social como trabalhador experimenta toda essa dinâmica
do capital.
Yazbek et al.(2008) alerta para a compreensão do que é o Serviço
Social e o que ele faz deve levar em conta o contexto das relações sociais
mais amplas. Para Raichellis (apud YAZBEK et al., 2008, p.13):
Seu significado social, suas demandas, tarefas e atribuições devem ser identificadas dentro da trama de relações que constituem a vida social e particularmente no âmbito das respostas que a sociedade e o Estado constroem frente às necessidades sociais dos homens em suas múltiplas dimensões (materiais, espirituais, culturais, subjetivas etc.). Estas dimensões constituem a sociabilidade humana e estão presentes no cotidiano da prática do assistente social .
31
Historicamente, o Serviço Social vem intervindo nos processos que
estão associados à reprodução social, atuando profissionalmente em
situações sociais de restrição e ou violação de direitos que afetam a
qualidade de vida de uma população (YAZBEK et al., 2008).
As políticas sociais, terminantemente, são a mediação fundamental
para esta intervenção a partir da diversidade de relações que se apresentam
e de elementos de cunho afetivo e emocional dos usuários.
Yazbek et al. (2008, p.7) acreditam que o resultado do trabalho do
assistente social pode produzir resultados concretos na vida dos usuários,
favorecendo seu acesso à políticas sociais como direito, alcançando “seu
modo de viver e de pensar, nas suas formas de luta de organização, suas
práticas de resistência.
Segundo Sodré (2010), o assistente social tem contribuído na
politização no campo da saúde. Trouxe como debate a reflexão sobre os
determinantes sociais e ainda hoje se insere nas frentes de trabalho na luta
por um SUS menos biomédico em suas mais diversas áreas de atendimento.
3.1 O Serviço Social e sua atuação no campo da saúde
Tendo em vista que a VIII Conferência Nacional de Saúde e o Texto
Constitucional consideram saúde não como ausência de doença, mas sim
como uma relação saúde/doença que contempla as condições de vida e
trabalho, como um direito, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) toma como
profissionais da saúde de nível superior os assistentes sociais , biólogos,
profissionais de educação física e outros.1
1 A Resolução nº 218 de 6/3/1997, do Conselho Nacional de Saúde, assim como a Resolução nº 383/1999, do Conselho Federal de Serviço Social reconhecem o Assistente Social como profissional de saúde de nível superior, in verbis: Resolução nº 218/1997, do Conselho Nacional de Saúde Resolve: Reconhecer como profissionais de saúde de nível superior as seguintes categorias: 1. Assistentes Sociais; Resolução nº 383/1999, do Conselho Federal de Serviço Social Resolve: Art. 1º - Caracterizar o assistente social como profissional de saúde. Todavia, a própria Resolução nº 383/1999 do Conselho Federal de Serviço Social reconhece que o Assistente Social não é um profissional exclusivamente da área de saúde, por estar inserido em outras áreas, dependendo do local onde atua e da natureza de suas funções [...].
32
A história da atuação do Serviço Social na saúde se dá desde a
gênesis do Serviço Social que atuava, segundo Sodré (2010), em ações
educativas de trabalhos emcomunidade.
Bravo et al. (2004, p.28) nos traz a incorporação do Assistente Social
na saúde dizendo que:
O novo conceito de saúde, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1948, enfocando os aspectos biopsicossociais determinou a requisição de outros profissionais para atuar no setor, entre eles e o Assistente Social.
Lessa (2011) diz que o grande salto da profissão na saúde, ocorreu na
década de 60, em destaque pela unificação dos institutos de pensão (IAPS),
decorrente da criação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), que
ocasionou um aumento dos postos de trabalho no complexo médico
previdenciário o que passou a ser o maior empregador na área da saúde.
Acrescenta:
No INPS, o serviço social passou a dispor de uma estrutura organizacional em nível nacional, com a criação das Coordenadorias de Serviço Social, vinculadas à Secretaria de Bem Estar da instituição, com estruturas correspondentes nas regionais, que ampliaram os programas e atividades vinculadas à profissão. Em 1972, foi aprovado o Plano Básico de Ação do Serviço Social na Previdência que traçou a política de ação do serviço social, tendo como foco “mobilizar as capacidades próprias dos indivíduos , grupos e comunidades, com vistas à integração psicossocial dos beneficiários”. (BRAVO 1996 apud LESSA, 2011, p. 20).
Ainda sobre a ampliação dos postos de trabalho para o Assistente
Social, Lessa (2011), nos diz que houve uma ampliação destes postos
decorrente da implantação do SUS.
Para o estudo em questão vai interessar a atuação dos assistentes
sociais nas unidades hospitalares, cuja prática coloca o profissional de
serviço social entre a população e a instituição com intuito de viabilizar o
acesso à serviços e benefícios, e fala ainda sobre as suas ações na
instituição que são os plantões, triagem ou seleção, encaminhamentos,
concessão de benefícios e orientação beneficiária (BRAVO et al., 2004).
33
Hoje, a grande maioria dos profissionais de Serviço Social em hospitais
trabalha em regime de plantão, isso quer dizer dias fixos sejam feriados ou
dia comum. Esse regime de trabalho busca acompanhar a dinâmica de
funcionamento contínuo da unidade hospitalar. Sobre como surgiram os
plantões Sousa (2004, p.48) afirma que:
Os plantões sociais foram instrumentos utilizados pelos assistentes sociais pioneiros, implantados pelas entidades norte-americanas, quando perceberam a necessidade de sistematizar os atendimentos assistenciais, que foram divididos em casos imediatos e casos continuados. Casos imediatos eram aqueles em que as intervenções ocorriam em momentos de vulnerabilidade, sendo estas, rápidas, enquanto os casos continuados se caracterizavam por problemas mais graves, juntos aos quais eram necessários um contato prolongado entre o assistente social e o usuário.
Ainda sobre este assunto Monteiro (2010, p.477) complementa dizendo
que:
Havia uma separação dos assistentes sociais que trabalhavam no plantão daqueles que executavam programas ou realizavam trabalhos mais continuados, ou seja, existiam profissionais especialistas em plantões sociais, que só deveriam trabalhar com enfoque de resolver o problema emergencial do usuário.
Diante das transformações da atualidade, é possível observar
mudanças pontuais no fazer profissional, conduzindo o Assistente Social a
novos fazeres e novas posturas, como afirma Lessa (2011, p.88):
[...] esses profissionais tiveram que adquirir maior flexibilidade para incorporar novas demandas, já que aquele modelo de ação profissional das décadas anteriores, segundo o qual os programas e projetos eram definidos por um núcleo central, já não respondiam as necessidades impostas pela realidade. Por consequência, tiveram que desapegar da “identidade profissional” construída nos anos anteriores e ampliar sua qualificação, não apenas técnica operativa, mas principalmente política.
Sodré (2010) compara o trabalho do assistente social em hospitais
com o trabalho em fábricas, caracterizado como prática padronizada, pontual
e sem profundidade. O registro em livro de ata visando à continuidade das
ações seria um exemplo dessa caracterização. Para o autor:
34
Atualmente, o "livro preto" está para o Serviço Social no campo da saúde como o Ford modelo T está para o fordismo — algo superado. Trata-se de um registro superficial, sem dados que venham a servir de fonte para uma sistematização qualificada. Registros pontuais realizados de acordo com a vontade, o tempo e a decisão do assistente social no momento da chegada do usuário. Uma forma padronizada de dizer "resolva no próximo plantão. (SODRE, 2010, p.454).
As demandas são tratadas como situação isolada, não considerando a
dimensão macrossocial que está presente no atendimento, “não destacando a
complexidade das manifestações da questão social naquela demanda trazida
ao campo da saúde pública, [...] fazendo com que o próprio assistente social
desqualifique seu trabalho” (SODRE, 2010, p. 457) .
Ainda comparando o hospital a uma fábrica, para Sodré (2010) o
trabalho realizado em um grande hospital assemelha-se ao formato
concebido dentro da grande fábrica. A contabilidade dos internamentos, os
atendimentos em grande quantidade, cirurgias em massa, leitos em série e
atendimentos continuados sem tempo de parada. Assim, a rotina da fábrica é
reproduzida em um trabalho que não deveria ser rotineiro.
Contudo, o Serviço Social elaborou e reproduziu normas institucionais
para dá conta de uma rotina de atendimento mecanizado daqueles que
buscavam o serviço. “Mas como não ter um texto pronto se a proposta
institucional é seriada, dividida por especialidades? ” Em cada clínica,
enfermaria ou ambulatório "apertam-se parafusos" em partes diferentes do
corpo humano” (SODRÉ, 2010, p. 457).
3.2 O Serviço Social e sua prática profissional
A aproximação da prática dos trabalhadores de hospitais com o
trabalho em fábricas chama a atenção da categoria de assistentes sociais
para tomar cuidado com o
Modelo de produção em massa, que no caso da saúde-fábrica pode ser compreendido por plantões e encaminhamentos. Aquele arquétipo resumido em uma sala, um livro preto, um assistente social e uma agenda antiga com contatos telefônicos desatualizados. O que poderia ser equiparado ao médico que só entrega receitas. Este modelo não condiz com o discurso que foi
35
criado pelo Serviço Social, que apregoa a emancipação humana como princípio. O que a instância hospitalar proporcionou à formação profissional foi uma lógica inserida na dimensão histórica maior da instituição — uma máquina de fabricar produtos sem sentidos para o seu produtor e para o seu demandante. Produtos que se esgotam em si mesmos e perdem a dimensão processual do trabalho do assistente social. (SODRE, 2010, p. 460) .
Mesmo com toda essa realidade e sabendo que o trabalho do
assistente social não deve se esgotar nos atendimentos, nem tampouco tê -
los como um fim em si mesmo, é inegável que o plantão do Serviço Social
representa, muitas vezes, a única porta aberta aos usuários que precisam
falar de suas queixas sobre os serviços da própria instituição, buscar
orientações e informações, sobre a rede de serviços e outras necessidades
(SODRE, 2010).
3.3 Desafios do Serviço Social na área da saúde
O desafio que se coloca para os assistentes sociais que trabalham na
área da saúde é atentar para o universo social onde estão inseridas as
demandas, sem esquecer o olhar sobre as subjetividades que o trabalho do
Serviço Social em saúde exige.
Martinelli (2011, p.499) afirma que no atendimento direto ao usuário do
serviço de saúde, “trabalhamos com pessoas fragilizadas que nos pedem um
gesto humano: um olhar, uma palavra, uma escuta atenta, um acolhimento,
para que possam se fortalecer na sua própria humanidade.” Ou seja:
O exercício profissional do assistente social não deve desconsiderar as dimensões subjetivas vividas pelo usuário e nem se reduzir a defesa de uma suposta particularidade entre o trabalho desenvolvido pelos assistentes sociais nas diferentes especialidades da medicina. Esta última perspectiva fragmenta a ação do assistente social na saúde e reforça a concepção de especialização nas diversas áreas médicas e distintas patologias, situação que tem sido colocada pelas demais profissões de saúde como necessária de superação. As novas diretrizes das diversas profissões têm ressaltado a importância de formar trabalhadores de saúde para o Sistema Único de Saúde, com visão generalista e não fragmentada. (CFESS, 2010, p. 25-26).
36
Contudo, as subjetividades devem ser vistas e analisadas sem perder
de vista as “condições de vida e trabalho, ou seja, a partir dos determinantes
sociais do processo saúde-doença” (CFESS, 2010, p.29).
Importa dizer que a saúde pode ser uma das políticas públicas que
expressa demandas e necessidades humanas das mais diversas, uma vez
que todos os profissionais no âmbito hospitalar buscam
desenvolver estratégias para fazer viver, ampliar a sobrevida, retirar a população que lhe demanda de uma condição de sofrimento, que na maior parte das vezes trata-se de um sofrimento físico ou psicológico. (SODRE, 2010, p. 466) .
A presença do Serviço Social nos diversos serviços da área da saúde e
a complexidade de sua intervenção favoreceu a instituição de um grupo de
trabalho denominado “Serviço Social na Saúde” iniciativa do Conselho
Federal de Serviço Social (CFESS). Como produto do trabalho e atividades
do grupo foi produzido os Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais
na Saúde publicados em 2010 com o objetivo de responder a uma histórica
solicitação da categoria no que diz respeito às orientações gerais sobre o
fazer profissional junto às demandas identificadas no cotidiano da área da
saúde.
O documento tem como direção os Projetos de Reforma Sanitária e
Ético-Político Profissional, imprimindo maior qualidade ao atendimento
prestado à população usuária dos serviços de saúde em todo o Brasil
(CFESS, 2010). Os Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na
Saúde estão estruturados em quatro intens:
O primeiro, intitulado “Saúde, Reforma Sanitária, Sistema Único de Saúde e desafios atuais”, recupera a luta por saúde nos anos de 1980, a construção do Projeto de Reforma Sanitária e apresenta os impasses vividos dos anos de 1990 até os dias atuais. Já o segundo item aborda a discussão teórica e política presente no Serviço Social na Saúde, apresentando alguns desafios postos na atual idade para o fortalecimento do projeto ético-político e profissional. Intitulado “Atuação do Assistente social na Saúde”, o terceiro item caracteriza, inicialmente, as atribuições e competências gerais do assistente social e, em um segundo momento, discute a intervenção do profissional na saúde, a partir de quatro eixos de ação, a saber: ações de atendimento direto aos usuários; ações de mobilização, participação e controle social; ações de investigação, planejamento
37
e gestão; ações de assessoria, qualificação e formação profissional. Por fim, o texto aponta para “Algumas Reflexões”, fruto da elaboração realizada. (CFESS, 2010, p. 12) .
Para os movimentos sociais há uma compreensão de que o SUS é uma
etapa da Reforma Sanitária e que esta é contínua, exigindo uma postura de
luta ininterrupta.
Na saúde, a grande bandeira continua sendo a implementação do projeto de Reforma Sanitária, construído a partir de meados dos anos de 1970, uma vez que esse projeto tem relação direta com o projeto profissional dos assistentes sociais, como já foi explicitado anteriormente. Identificar os impasses para a efetivação desses projetos deve ser uma preocupação central. (CFESS, 2010, p. 29) .
Esse entendimento exige que o assistente social vá além dos
atendimentos de rotina, da tarefa que preenche a prática, transformando-a
em ativismo. No sentido da Reforma Sanitária, o assistente social precisa
considerar dimensões maiores. É importante atentar para a
Democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às informações e estímulo à participação popular. (CFESS, 2010, p. 26).
Segundo Bravo (2006), os avanços conquistados pela profissão na
área da saúde são insuficientes, pois não foram capazes de engendrar
reformas na prática institucional. Diz o autor que:
Na saúde, os avanços conquistados pela profissão no exercício profissional são considerados insuficientes, pois o Serviço Social chega à década de 1990 ainda com uma incipiente alteração do trabalho institucional; continua enquanto categoria desarticu lada do Movimento da Reforma Sanitária, sem nenhuma explícita e organizada ocupação na máquina do Estado pelos setores progressistas da profissão (encaminhamento operacionalizado pela Reforma Sanitária) e insuficiente produção sobre “as demandas postas à prática em saúde” (BRAVO, 2006, p.76).
Para a CFESS (2010, p.13) o trabalho dos assistentes sociais na saúde
expressa possíveis lacunas da tradição marxista, apresentando também um
discurso da separação entre a teoria e a prática pela suposta necessidade da
38
construção de um saber específico na área da saúde, “que caminha tanto
para a negação da formação original em Serviço Social ou deslancha para
um trato exclusivo de estudos na perspectiva da divisão clássica da prática
médica.”
Segundo Netto (2001, p.27), há na categoria segmentos de
profissionais que se distanciam do Serviço Social e se aproximam do fazer de
sanitaristas, como também, mais fortemente, há profissionais que privilegiam
a intervenção “nas tensões produzidas subjetivamente pelos sujeitos .”
Contudo, há quem diga que o assistente social dá sua contribuição à
Reforma Sanitária e aprende com ela.
Do conhecimento acumulado nas lutas sociais, o assistente social contribuiu para a politização do campo da saúde. Inseriu o debate sobre os determinantes sociais de forma definitiva e ainda hoje se insere nas frentes de trabalho para demarcar um posicionamento macropolítico que luta por um SUS menos biomédico nas suas mais diversas redes de serviços e especialidades. [...] O nascimento do SUS é verdadeiramente um produto das lutas sociais, nas quais os assistentes sociais tiveram importante contribuição [...] . (SODRÉ, 2010, p. 454).
Como vimos no presente estudo, historicamente o Serviço Social surge
como uma profissão fundamentalmente interventiva. Com o movimento de
Reforma Sanitária do Brasil (1980) a profissão sofre transformações no que
diz respeito as suas bases teóricas e sua estruturação. Isso se dá por uma
aproximação com a teoria marxiana que favorece uma compreensão na
dinâmica das relações sociais numa visão macroestrutural. De acordo com
Netto (2001) essa mudança é aplicada à prática profissional na década de
1990 em nível teórico.
Sousa (2004) afirma que essa mudança possibilitou um romper com
uma prática meramente executiva, o assistente social passa a desempenhar
um novo atuar no âmbito do planejamento e administração das políticas
sociais. Acrescenta que a ruptura com o conservadorismo da profissão,
tornou-se necessário que a profissão se debruçasse sobre um novo
arcabouço de conhecimento que lhe permitia um olhar crítico da realidade
social e a partir daí (re)construir objetos de sua intervenção e dá respostas
as novas demandas que se apresentavam oriundas do mercado de trabalho.
39
Desse modo, Iamamoto (2004) ao analisar os desafios colocados ao
Serviço Social traz três dimensões que devem fazer parte do fazer
profissional:
- Competência ético-política: o assistente social não é um profissional
“neutro”. Realiza sua prática numa correlação de forças e relações sociais
contraditórias de uma sociedade capitalista. Para tanto, é fundamental que o
profissional tenha um posicionamento político frente às questões que
aparecem na realidade social, para uma atuação clara da sua prática.
Assumindo valores ético-morais norteados pelo Código de Ética Profissional
dos Assistentes Sociais, conforme Resolução n.º 273 (CFSS, 1993);
- Competência teórico-metodológica: para conhecer a realidade social,
política, econômica e cultural com a qual trabalha, o assistente social precisa
ser qualificado, apropriar-se de um arcabouço teórico e metodológico, para
uma apreensão da dinâmica societária, que ultrapasse os fenômenos
aparentes, com o intuito de compreender sua essência, seu movimento e as
possibilidades de construção de novas formas de atuação profissional;
- Competência técnico-operativa: o conhecimento deve fazer parte do
profissional, este deve se apropriar, e, sobretudo, desenvolver habilidades
técnicas que possibilitem desenvolver ações profissionais junto aos usuários
e às instituições contratantes (Estado, empresas, Organizações Não-
Governamentais, fundações, autarquias etc.), garantindo assim uma inserção
qualificada no mercado de trabalho, que responda às demandas colocadas
tanto pelos empregadores, quanto pelos objetivos estabelecidos pelos
profissionais e pela dinâmica da realidade social.
Para Sousa (2004 apud IAMAMOTO; CARVALHO, 2005) não pode
haver dissociação nessas três dimensões de competências – caso contrário,
ocorrerá um retrocesso no âmbito da prática profissional cairemos nas
armadilhas da fragmentação e da despolitização, tão presentes no passado
histórico do Serviço Social
40
3.4 Parâmetros para a atuação de assistentes sociais na saúde
Como um norte para os assistentes sociais que trabalham na área da
saúde, os Parâmetros para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde
trazem as principais ações a serem desenvolvidas pelo assistente social na
área da saúde:
Quadro 3 - Principais ações a serem desenvolvidas pelo assistente social na
área da saúde.
Democratizar as informações por meio de orientações (individuais e coletivas) e /ou
encaminhamentos quanto aos direitos sociais da população usuária;
Construir o perfil socioeconômico dos usuários, evidenciando as condições
determinantes e condicionantes de saúde, com vistas a possibilitar a fo rmulação de
estratégias de intervenção por meio da análise da situação socioeconômica (habitacional,
trabalhista e previdenciária) e familiar dos usuários, bem como subsidiar a prática dos
demais profissionais de saúde;
Enfatizar os determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares e acompanhantes
por meio das abordagens individual e/ou grupal;
Facilitar e possibilitar o acesso dos usuários aos serviços, bem como a garantia de
direitos na esfera da seguridade social por meio da criação de mecanismos e rotinas de
ação;
Conhecer a realidade do usuário por meio da realização de visitas domiciliares, quando
avaliada a necessidade pelo profissional do Serviço Social, procurando não invadir a
privacidade dos mesmos e esclarecendo os seus objetivos profi ssionais;
Conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar os direitos sociais
por meio de visitas institucionais, quando avaliada a necessidade pelo Serviço Social;
Fortalecer os vínculos familiares, na perspectiva de incentivar o usuário e sua família a
se tornarem sujeitos do processo de promoção, proteção, prevenção, recuperação e
reabilitação da saúde;
Organizar, normatizar e sistematizar o cotidiano do trabalho profissional por meio da
criação e implementação de protocolos e rotinas de ação;
Formular estratégias de intervenção profissional e subsidiar a equipe de saúde quanto as
informações sociais dos usuários por meio do registro no prontuário único, resguard adas
as informações sigilosas que devem ser registradas em material de uso exclusivo do
Serviço Social;
Elaborar estudos socioeconômicos dos usuários e suas famílias, com vistas a subsidiar
na construção de laudos e pareceres sociais a perspectiva de gara ntia de direitos e de
acesso aos serviços sociais e de saúde;
Buscar garantir o direito do usuário ao acesso aos serviços;
Emitir manifestação técnica em matéria de serviço social, em pareceres individuais ou
conjuntos, observando o disposto na Resolução CFESS nº 557/2009. (CFESS, 2010)
Fonte: CFESS (2010, p. 56).
41
Desta forma, tem-se a compreensão de que o Serviço Social tem o
papel de efetivar o direito social à saúde. Para tanto, conta com seu Código
de Ética Profissional que oferece ferramentas indispensáveis à prática
profissional na prestação de serviço à população, no planejamento, na
assessoria, gestão e mobilização e participação social. Para o documento do
CFSS (2010, p.30), uma atuação competente e crítica do Serviço Social na
área da saúde exigirão:
Estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de usuários que lutam pela real efetivação do SUS; conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença; facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma compromissada e criativa não submeter à operacionalização de seu trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido no projeto de Reforma Sanitária; buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da atenção em saúde; estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social, superando a fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais; tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas; elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como realizar investigações sobre temáticas relacionadas à saúde; efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim de potencializar a participação dos sujeitos sociais contribuindo no processo de democratização das políticas sociais, ampliando os canais de participação da população na formulação, fiscalização e gestão das políticas de saúde, visando ao aprofundamento dos direitos conquistados.
São denunciadas no documento dos Parâmetros (CFESS, 2010)
algumas práticas historicamente exigidas do assistente social que fogem as
suas atribuições por apresentarem um caráter eminentemente técnico-
operativo e por serem práticas que exigem outra formação técnica, não
pertencendo à formação do Serviço Social. Dentre elas:
Marcação de consultas e exames, bem como solicitação de autorização para tais procedimentos aos setores competentes; solicitação e regulação de ambulância para remoção e alta; identificação de vagas em outras unidades nas situações de necessidade de transferência hospitalar; pesagem e medição de crianças e gestantes; convocação do responsável para informar
42
sobre alta e óbito; comunicação de óbitos; emissão de declaração de comparecimento na unidade quando o atendimento for realizado por quaisquer outros profissionais que não o Assistente social; montagem de processo e preenchimento de formulários para viabilização de Tratamento Fora de Domicílio (TFD)32, medicação de alto custo e fornecimento de equipamentos (órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção), bem como a dispensação destes. (CFESS, 2010, p. 46-47).
Os Parâmetros para atuação de assistentes sociais na Política de
Assistência Social (CFESS, 2010) apontam a comunicação do óbito como
uma atribuição imprópria ao assistente social, com o argumento que tal
prática, assim como as demais citadas anteriormente, possuem um caráter
eminentemente técnico–operativo. Neste estudo, entende-se que o lidar com
o processo de morte e morrer, ou seja, comunicar um óbito a familiares, não
caracteriza um processo técnico-operativo simplesmente.
Mas, no atendimento aos usuários, o assistente social trabalha com
pessoas fragilizadas que pedem “um gesto humano: um olhar, uma palavra,
uma escuta atenta, um acolhimento, para que possam se fortalecer na sua
própria humanidade” (MARTINELLI, 2011, p. 499).
O Serviço Social na área da saúde tem por característica o trabalho em
equipe multiprofissional. Portanto, sua perspectiva de trabalho dirige-se à
interdisciplinaridade. Segundo o CFESS (2010, p.46):
O Serviço Social ao participar de trabalho em equipe na saúde dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das condições de saúde do usuário e uma competência também distinta para o encaminhamento das ações, que o diferencia do médico, do enfermeiro, do nutricionista e dos demais trabalhadores que atuam na saúde. A partir do exposto, identifica-se que cada um desses profissionais, em decorrência de sua formação, tem competências e habilidades distintas para desempenhar suas ações.
Observa-se, no entanto, que ao longo da sua prática profissional os
assistentes sociais tem tido, muitas vezes, dificuldades em se fazer
compreendidos pelos demais profissionais da equipe de saúde no que diz
respeito às suas atribuições e competências em decorrente da dinâmica de
trabalho nas instituições que ora atuam determinadas pelas pressões com
relação à demanda e à fragmentação do trabalho ainda existente. Contudo,
de certa forma essas dificuldades devem ser revertidas com realização de
43
reuniões com os demais profissionais da equipe para esclarecimento de suas
ações e determinação de suas rotinas e planos de trabalho (CFESS, 2010) .
A complexidade da intervenção do Serviço Social na saúde exige um
profissional capaz de atuar nas diversas políticas sociais de maneira que se
distancie das abordagens funcionalistas e pragmáticas que reproduzem e
reforçam as práticas conservadoras, considerando as situações sociais como
problemas pessoais isolados que podem ser encaminhadas e resolvidas
pessoalmente. Para os Parâmetros, a atuação de assistentes sociais na
política de saúde deve ser pautada no
[...] reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional (conforme estabelecido nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS, 1996), demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação das determinações sociais, econômicas e culturais das desigualdades sociais. A intervenção orientada por esta perspectiva teórico-política pressupõe: leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil, reconhecimento e fortalecimento dos espaços e formas de luta e organização dos trabalhadores em defesa de seus direitos; formulação e construção coletiva, em conjunto com os trabalhadores, de estratégias políticas e técnicas para modificação da realidade e formulação de formas de pressão sobre o Estado, com vistas a garantir os recursos financeiros, materiais, técnicos e humanos necessários à garantia e à ampliação dos direitos. (CFESS 2010, p. 34-35).
Como cita o CFESS (2010), a intervenção do assistente social deve ser
fundamentada em leitura crítica da realidade que permitirá a identificação dos
determinantes sociais, econômicos e culturais das desigualdades com as
quais se depara na prática institucional. Portanto, em relação aos processos
de morte e morrer no cotidiano da prática hospitalar, a intervenção
profissional também deve ter essa perspectiva.
44
4 MORTE E O MORRER COMO PROCESSO DA VIDA
Esse objeto de estudo traz em si uma complexidade cujo sentido deve
ser entendido pela dimensão simbólica que produz o significado para o ser
humano. Para Zola (1999 apud SOARES; DANTAS, 2006, p.91):
A realidade social comporta, em princípio, o mundo material e humano que nos rodeia, mas não há em nada um sentido a priori, salvo o que nos é dado pelos instrumentos simbólicos que utilizamos para criar sentido. Valores e significados não são determinados pelas propriedades físicas e biológicas das pessoas, mas por estruturas simbólicas que herdamos socialmente e ajudamos a elaborar e modificar ao longo de nossa existência. Por meio delas lemos o mundo, nos posicionamos frente a ele, organizando estruturas classificatórias e, estabelecemos prioridades, configuramos nossos rituais de passagem para a vida adul ta, para a velhice, rituais de casamento e de morte.
Morte e o morrer significam um mesmo fenômeno. Contudo, o processo
de morrer é intrínseco à morte e ambos fazem parte da vida humana.
Do ponto de vista biológico, a morte é um fenômeno natural. Assim
como o nascer, ela é parte do processo da vida dos humanos. Também
representa um fenômeno histórico e cultural na medida em que sua
manifestação se dá de maneira diversa variando nas diferentes sociedades.
4.1 Conceituando morte
Para compreender a questão da morte é preciso fazer uma discussão
sobre o seu significado, uma vez que tem sua identidade em cada cultura e
com isso significados distintos.
É um tema que encontra interseção com várias áreas do conhecimento,
permitindo distintos olhares, ou seja, construindo uma interdisciplinaridade
onde se aborda a questão do morrer e da morte humana.
O ser humano nasce, cresce, desenvolve-se e morre. Desta forma, a
morte esta pertence ao cotidiano humano, portanto, não representa um
elemento estranho. O fenômeno da morte é caracterizado por valores e
45
significados ligados ao contexto sócio-cultural e histórico onde se manifesta.
Assim, mesmo sendo algo comum a todas as pessoas em todos os lugares, o
tempo em que se vive e a forma como se morre não são indiscriminados, são
influenciados de forma determinante pela classe socioeconômica a que a
pessoa pertence.
A morte, não é uma característica da atualidade. Incontri e Santos
(2007), afirmam que as manifestações fúnebres antecedem ao período da
história escrita. Os mortos são retratações de que existe há muito tempo uma
preocupação humana em significá-la. Sobre os rituais há relatos que:
Em locais de enterro [...] da época dos Neandertais, que começaram a habitar a Europa há aproximadamente 150.000 anos, aparecem ornamentos de concha, implementos de pedra e comida, enterrados junto com o morto, implicando em uma crença que tais itens seriam úteis na passagem da terra dos vivos para a terra dos mortos. Em muitos desses locais de enterro, o corpo está pintado com vermelho ocre e colocado em uma postura fetal, sugerindo idéias sobre revitalização do corpo e renascimento. ( INCONTRI; SANTOS, 2007, p. 42)
Segundo Morin (1997) na pré-história, os mortos dos povos
musterenses eram cobertos por pedras, principalmente sobre o rosto e a
cabeça, tanto para proteger o cadáver dos animais, quanto para evitar que
retornassem ao mundo dos vivos. Mais tarde, eram depositados alimentos e
as armas do morto sobre a sepultura de pedras e o esqueleto era pintado
com uma substância vermelha.
Morin (1997, p.103) traz ainda que: “O não abandono dos mortos
implica a sobrevivência deles. Não existe relato de praticamente nenhum
grupo arcaico que abandone seus mortos ou que os abandone sem ritos.”
É possível compreender esta morte quando se pensa que esta faz
parte da realidade e que é inevitável e que faz parte do processo natural.
Contudo, na cultura ocidental, a não aceitação da morte faz parte da
identidade, onde há a tendência de negar o fato de que não somos imor tais
(MARANHÃO, 1996).
Combinato e Queiroz (2006) afirmam que para os ocidentais modernos
a morte passa a ser sinônimo de fracasso de impotência e de vergonha, onde
46
tentamos vencê-la a qualquer custo e quando não se atinge o objetivo, esta é
escondida e até negada.
Ainda sobre a morte para os ocidentais, Lira (2008), afirma este temor
a morte tomou proporções tão grandes que já não se tem mais medo da
própria morte, ou seja, da morte em si, mas, de suas várias apresentações,
bem como o sofrimento, a doença, o luto, ou seja, os elementos que
representam o fracasso.
Para a civilização oriental, Souza (2008) mostra que na perspectiva
budista “a morte é um processo natural”, é a aceitação da realidade,
resultado da existência terrena. E ainda, a morte e o morrer estabelecem um
ponto de encontro entre o budismo tibetano e as ciências modernas.
Os cristãos e os judeus que acreditam na ressurreição encaram a
morte como uma passagem, na certeza de uma vida eterna. Segundo Caputo
(2008, p.70):
A transposição ao eterno sofrimento e expiação (inferno), ou o acesso ao eterno gozo, reservado aos bem-aventurados (o paraíso). [...] era um estágio intermediário, um sono profundo do qual acordariam no dia da ressurreição, quando as almas voltariam a hab itar os corpos.
4.2 As representações de morte
Identificam-se através da história várias representações da morte, seus
rituais e cultos, mas foi no século XVIII que houve uma preocupação de
isolar, ou seja, excluir os mortos colocá-los longe do meio urbano e do
convívio social (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
No século XIX, marcado como era industrial,
a visão da morte e a interação com o paciente moribundo modificaram-se ainda mais radicalmente. A revolução higienista radicalizou a separação entre vivos e mortos de tal modo que o convívio entre estas duas condições passou a ser visto como uma fonte extremamente de perigo, contaminação e doença (COMBINATO; QUEIROZ, 2006, p. 210).
47
No contexto da modernidade o espaço da morte estava reservado ao
domicilio. “Na Idade Média, a morte estava na sala de visitas; hoje, ela se
esconde nos hospitais, [...] controlados por guardiões nem sempre
esclarecidos da sua penosa e socialmente determinada missão: o trabalhador
da saúde” (PITTA, 1991, p.28)
Para Lira (2009, p. 78) muito pouco se sabe sobre a morte ou
“melhor dizendo, não se sabe nada”. É algo não vivido, difícil de
definir apesar de vários conceitos que se mudam constantemente. Só é
percebida a realidade do fato ao longo dos anos, cuja compreensão demanda
“perceber a morte do outro”. Assim, entender a finitude será
sempre algo complexo, de difícil apreensão. Para Caputo (2008, p.73):
A morte é caracterizada pelo mistério, pela incerteza e, conseqüentemente, pelo medo daquilo que não se conhece, pois os que a experimentaram não tiveram chances de relatá-la aos que aqui ficaram. Todos esses atributos da morte desafiaram e desafiam as mais distintas culturas, as quais buscaram respostas nos mitos, na filosofia, na arte e nas religiões, buscando assim pontes que tornassem compreensível o desconhecido a fim de remediar a angústia gerada pela morte.
Sob o ponto de vista sociológico, a morte é uma questão
transcendental. É universal, porém os modos de morrer no seio de uma
sociedade são diversos. Como contribuição para estudos e intervenção surge
a Tanatologia, onde Escudeiro (2011, p.17) define:
Tanatologia, área de conhecimento e de aplicação, envolvendo cuidados a pessoas que vivem processos de morte pela perda de pessoas significativas, processo de adoecimento, em decorrência de comportamentos autodestrutivos, suicídios, ou por causas externas,
pela violência presente principalmente nos centros urbanos .
4.3 Morte na hipermodernidade
Para Lipovetsky (2004 apud SOARES; DANTAS, 2006, p.94) vive-se
em tempos onde impera uma lógica contraditória da sociedade hipermoderna,
acentuando o fato de esta contradição ter sido introjetada pelos indivíduos, que revelam-na através de seus conflitos e de seu medo
48
diante da incerteza, da complexidade e da imprevisibilidade do presente. Neste sentido, o que mudou principalmente foi o ambiente social e a relação que os indivíduos estabelecem com o presente. Com isso, é o medo que impera e que domina diante de um futuro incerto, onde tudo inquieta e assusta.
Na visão de Soares e Dantas (2006) o homem hipermoderno “tende a
ver a morte como traição cometida pela tecnociência, que se apresentou a
ele como onisciente e onipotente, que lhe prometeu eterna juventude e
imortalidade.
Para o presente estudo, o interesse no processo de morte e morrer
direcionam-se para a dimensão profissional. É diante do cotidiano de trabalho
em saúde, principalmente, que os desafios se apresentam, o que força a
busca de novas estratégias de enfrentamento destes desafios. E a
tanatologia como citado acima, apresenta-se como mais um recurso
importante para ajudar neste enfrentamento.
4.4 O processo de morte e morrer para o profissional da saúde
O trabalhador da área da saúde relaciona-se com a morte em seu
cotidiano. Sua visão de morte não é como um fato que faz parte da vida, vez
que a morte é relacionada ao fracasso generalizado. Na visão de Pitta (1996,
p.25):
No mundo atual de tecnologia, encontram-se profissionais desprovidos de qualquer avanço para enfrentar a morte como algo que estar por vir, posto que sua visão de morte, em ambiente hospitalar, vem acompanhado da ideia de fracasso do corpo, falência de órgãos, do sistema de saúde, da sociedade, das relações com Deus e com os homens [...].
Para Combinato e Queiroz (2006, p.212), a visão de morte para o
profissional da saúde deve estar relacionada a sua cultura e à influência
dessa cultura na sua formação, uma vez que “o sentido adquirido sobre a
morte e a maneira como o profissional da saúde interage com o paciente no
processo de terminalidade não é algo natural.”
Segundo Combinato e Queiroz (2006, p.212):
49
Assim, quando discutimos sobre a dificuldade dos profissionais da saúde em lidar com o paciente terminal em sua integralidade, devemos analisar essa dificuldade no seu processo de construção, na sua historicidade e na sua essência; processo esse que vai além de uma experiência imediata e da história individual desse profissional [...].
Compreendendo assim, é importante pensar que o significado atribuído
à morte é uma construção dialética. A realidade objetiva passa a ser subjetiva
quando internalizada. Segundo Combinato e Queiroz (2006, p.214):
No caso da morte, em cada tempo e cultura existe um significado atribuído a ela. Inicialmente, esse significado é externo ao indivíduo, pertencendo à cultura. À medida que esse significado é internalizado, transforma-se num instrumento subjetivo da relação do indivíduo consigo mesmo. E assim, o significado externo adquire um sentido pessoal para o indivíduo. [...] Através da atividade e das relações sociais que se estabelece com o meio, o indivíduo internaliza esses conteúdos e significados a partir de sua própria experiência e história de apropriações (ou seja, sua subjetividade). Dessa maneira, o conteúdo que tinha um significado externo passa por uma mediação psíquica e adquire um sentido pessoal, singular, único para cada pessoa.
A compreensão da subjetividade do profissional e da sua construção
vai exigir melhor e maior educação formal no que se refere à integralidade do
cuidado e a humanização do processo de lidar com a morte e o morrer
enquanto fenômeno físico e psicossocial. Além da subjetividade, deve ser
visto ainda o estresse experimentado na prática profissional de quem lida
constantemente com a dor, o sofrimento, a morte e o morrer sem estar
preparado para isso no que diz respeito a sua formação profissional.
(COMBINATO; QUEIROZ, 2006)
50
5 PERCURSO METODOLÓGICO E ANÁLISE DOS DADOS
Demo (2009, p.59) afirma que a metodologia é condição necessária
para a competência no fazer ciência, o que quer dizer, no processo de
realizar pesquisas, pois, “poucas coisas cristalizam incompetência mais
gritante do que a despreocupação metodológica.”
5.1 Percurso metodológico da pesquisa
O presente estudo teve caráter descritivo-exploratório, com abordagem
qualitativa, por demanda do próprio objeto pesquisado. Para Minayo (1996), o
estudo qualitativo se apodera do contexto e da vivência dos sujeitos, uma
realidade que não pode ser quantificada, busca a subjetividade, sendo
necessário um aprofundamento da realidade possibilitando uma visão real do
objeto.
A pesquisa exploratória consiste na busca de subsídios que
favorecerão a delimitação e análise de um determinado tema, visando a
compreensão de determinado fenômeno ou objeto de estudo, tendo como
finalidade proporcionar maiores informações sobre determinado assunto.
(BASTOS, 2008).
A classificação da pesquisa quanto ao tipo caracteriza-se como de
campo e bibliográfica atendo-se às categorias: Serviço Social, prática
profissional, morte de morrer. Segundo Cervo e Bervian (1976, p. 69)
“qualquer tipo de pesquisa em qualquer área do conhecimento, supõe e exige
pesquisa bibliográfica prévia, quer para o levantamento da situação em
questão, quer para a fundamentação teórica”, uma vez que é importante que
os pesquisadores conheçam as condições em que os dados secundários
foram obtidos, busquem incoerências e contradições comparando as fontes.
A pesquisa de campo caracteriza-se, principalmente, pela presença do
pesquisador em contato direto com o fenômeno e coleta dados no local.
(BASTOS, 2008)
51
Na pesquisa de campo, como técnica de coleta de dados foiutilizada a
entrevista semi-estruturada e a observação não participante que se
caracteriza pelo uso de um roteiro previamente elaborado. O roteiro
contemplou questões que favoreceu a elaboração do perfil dos sujeitos
pesquisados e três perguntas norteadoras que serviram para a composição
do discurso dos sujeitos participantes.
Foi utilizada também como coleta de dados a observação não
participante, onde o pesquisador toma contato com a realidade estudada sem
integrar-se a ela, permanecendo de fora. Presencia o fato, mas não participa
dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador.
“Isso, porém, não quer dizer que a observação não seja consciente, dirigida,
ordenada para um fim determinado. O procedimento tem caráter sistemático.”
(LAKATOS; MARCONI, 2006, p. 194).
A observação foi realizada no semestre de estágio e permitiu uma
aproximação com as abordagens e relações estabelecidas entre
profissionais, pacientes e familiares. O que favoreceu uma compreensão
mínima de como os profissionais se posicionam diante do ambiente, dos seus
pares e quanto à dinâmica de atendimento em geral no que se refere à
prática profissional diante de uma realidade regada de emoções, no entanto,
com a presença da dimensão ética do fazer profissional.
A técnica de análise dos dados coletados foi o Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC), a qual Lefévre (2005) conceitua como uma técnica de
processamento de dados a fim de coletar e organizar por categorias,
discursos dos sujeitos em um painel de forma a sugerir a fala de uma pessoa
coletiva como se fosse um sujeito individual de discurso.
O universo dos sujeitos era de 25 assistentes sociais que trabalhavam
em turnos entre: manhã, tarde e noite, nos vários setores e unidades da
instituição. Utilizou-se como critérios de inclusão para a amostragem
profissionais plantonistas com atendimento na sala do Serviço Social que
assistem diretamente os casos de óbito e aqueles que manifestaram
disponibilidade e aceitaram participar pesquisa perfazendo uma amostra de
05 (cinco) assistentes sociais. Importante ressaltar que ocorreram algumas
dificuldades na disponibilidade dos demais profissionais, diante de seus
52
horários, escalas entre outros. Diante da dimensão ética da entrevista,
identificamos os entrevistados com numerações 1,2, 3, 4 e 5 que
correspondiam ao número de entrevistas ao longo de nosso percurso e coleta
de dados dos sujeitos entrevistados.
Quanto à escolha da quantidade de sujeitos entrevistados Martinelli
(2003) diz que o importante não é o número de sujeitos que prestarão
informações, mas, a significação que esses sujeitos têm em função do objeto
de pesquisa.
Os sujeitos da pesquisa estão na faixa etária entre 30 e 65 anos; em
sua totalidade do sexo feminino, mães, com rendimentos em média mensal
de 05 salários mínimos; todas residentes na capital; 04 delas de cor branca e
01 de cor parda; todas declarantes católicas e com média de 05 a 25 anos de
trabalho na instituição, que atuam em escalas variadas.
Quadro 4 – Perfil dos sujeitos entrevistados.
SUJEITOS 1 2 3 4 5
Idade Acima de 55
anos
Entre 41 a 50
anos
Acima de 55
anos
Entre 41 a 50
anos
Entre 41 a 50
anos
Estado Civil Divorciada Casada Separada Divorciada Casada
Filhos 3 2 3 2 3
Naturalidade Amazonas Fortaleza Boa Viagem Jaguaribe Fortaleza
Residência Fortaleza Maranguape Fortaleza Fortaleza Fortaleza
Religião Espírita Católica Católica Católica Católica
Tempo e Formação
Acadêmica
34 /
Especialista
25 /
Especialista
30 /
Especialista
18 /
Especialista
27 /
Especialista
Trabalha em Outra
Instituição Sim Não Sim Sim Não
Vínculo
Empregatício Concursada Concursada Concursada Concursada Concursada
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
53
5.2 Análise dos dados coletados à luz do DSC
Como foi citada anteriormente, a técnica de análise dos dados
empregada foi a Análise do DSC, fundamentada na Teoria das
Representações Sociais. De acordo com Lefèvre e Lefèvre (2005), o método
tem a finalidade de conhecer o pensamento coletivo, traz um painel com
discursos dos sujeitos, sempre na primeira pessoa do singular, com a
finalidade de sugerir uma pessoa coletiva como se assim fosse um sujeito
único do discurso.
Por meio do discurso pode-se visualizar claramente a representação
social sob uma forma de um discurso que apresenta “o modo como os
indivíduos reais, concretos, pensam” (LEFÈVRÈ; LEFÈVRE, 2005, p.20).
Assim, no DSC, o social que fala na primeira pessoa do singular
constitui o regime natural de funcionamento das opiniões ou representações
sociais, pois “as opiniões ou representações sociais são eficientes,
funcionam, juntamente, porque os indivíduos acreditam que suas opiniões
são suas, ou seja, geradas em seus cérebros” (LEFÈVRÈ, 2006, p. 519).
Quadro 5 – Categorias do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).
CATEGORIAS SUJEITOS
1. A morte como um processo natural 1. 1, 2, 3 e 5.
2. O assistente social e o sofrimento na prática profissional. 1, 4
3.Limites na abordagem da morte na prática profissional. 2, 4, 5
4.O processo de morte e morrer como prática singular. 2, 4
5. Morrer é experimentar perdas. 1
6. O assistente social e o aprendizado do lidar com a morte. (Aprende-se a lidar com a morte na prática profissional?).
1, 2
7. Burocracia versus sensibilidade 2, 3
8. Circunstancialmente, o assistente social é o profissional mais habilitado a dar a notícia do óbito.
1, 2 e 5
9. Competência técnica-operativa do Assistente Social no processo de morte e morrer.
3
10. O Assistente Social é qualificado para falar a família enlutada. 2, 3, 5
11. O valor da formação humanística do Assistente Social no processo de morte e morrer.
1 e 4
12. Habilidade nas relações como elemento facilitador do lidar com o processo de morte e morrer.
2
13. : Competência ético-política do Assistente Social no processo de morte e morrer.
1 e 3
14. A interdisciplinaridade como possibilidade e limite no pr ocesso de morte e morrer.
1, 2, 3 e 5
Fonte: Elaborado pela pesquisadora.
54
1. CATEGORIA: A morte como um processo natural
SUJEITOS: 1, 2, 3 e 5.
DSC
Eu sou assim, uma pessoa que tenho cada vez mais dúvidas sobre a
morte, não tenho nenhuma certeza de nada, mas, eu continuo de certa forma
só tentando encarar os processos de uma forma menos traumática possível.
É uma coisa natural mesmo, a gente tá para aprender com esse processo de
nascer, crescer e morrer e espero encarar isso bem quando vier para meu
lado pessoal. Você tem que nascer, viver e morrer, é o processo natural da
vida, lógico que não é fácil, não é?! Com o outro se torna mais fácil você lidar
com isso, agora com você mesmo, é muito difícil. É que a gente vive numa
sociedade, [onde] não somos preparados para encarar a morte como um
processo natural da vida. Todos nós crescemos e um dia vamos chegar a
finitude, mas o tema morte ele ainda é muito obscuro, muito envolvido em
tabus, muito envolvido em segredos e é costume das famílias não revelar as
crianças, não falar sobre a morte, sobre a finitude sobre seus entes e comigo
não foi diferente. Eu não entendo isso como uma coisa fechada não. A morte,
eu já entendo como um fato consumado, para mim é uma coisa muito
simples, quem nasceu morre.
DISCUSSÃO
O DSC revela que os sujeitos possuem muitas dúvidas e procuram de
certa forma, encarar esse processo de forma menos traumática. Percebem
que é um produto social o fato de não encarar a morte como um processo
natural, como seqüência de um processo da vida; nascer crescer e morrer.
Essa postura está de acordo com Maranhão (1996) quando afirma que é
possível compreender a morte quando se pensa que esta faz parte da
realidade que é inevitável.
O DSC relata que é muito difícil lidar com o processo de morte e
morrer, pois é algo que não são preparados para encarar. É um tema que
desperta sentimentos variados, ainda obscuro, envolvido em tabus, segredos
55
e não discutido desde cedo, como diz é costume das famílias não revelar as
crianças, não falar sobre a morte, sobre a finitude sobre seus entes.
Mesmo sendo um fato natural, para Lira (2008) muito pouco se sabe
sobre a morte ou mesmo não se sabe nada. É algo não vivido, difícil de
definir apesar de vários conceitos que se tentam acompanhar o pensamento
da sociedade, constantemente. Só é percebida a realidade do fato ao longo
dos anos, cuja compreensão demanda perceber a morte do outro. Assim,
entender a finitude será sempre algo complexo, de difícil apreensão quando
se trata de um fenômeno da vida, e quando passa a fazer parte do fazer
profissional.
2.CATEGORIA: O assistente social e o sofrimento na prática profissional.
SUJEITOS: 1, 4
DSC
Como assistente social, quando cheguei aqui no hospital,[...] foi que
comecei a me deparar com esse sofrimento. [...] sofrimento da família e, do
paciente ele que já carrega dentro dele o estigma de que está tentando lutar
contra a morte. Eu me emociono em muitos casos, eu não consigo dissociar o
profissional do pessoal, eu me envolvo, eu me abalo perto da família. E
angústia do paciente portador de AIDS que ele já carrega dentro dele o
estigma de que está tentando lutar contra a morte. Eu me emociono em
muitos casos, eu não consigo dissociar o profissional do pessoal, eu me
envolvo, eu me abalo perto da família, inclusive já cheguei atéchorar com a
família. É fato que depois fui até chamada atenção pelas minhas colegas de
trabalho por um fato que não deveria acontecer porque o profissional ele está
isento de toda aquela questão da emoção e do sentir.
O DSC mostra que esse processo não é diferente para o profissional
assistente social, pois este também passa por um sofrimento e tem que
encará-lo no dia a dia da prática profissional. Percebe-se isso quando o
discurso expressa o quanto é doloroso ver a situação do paciente e da
própria família.
56
Destarte, Combinato e Queiroz (2006) trazem que a visão de morte
para o profissional da saúde deve estar relacionada à sua cultura e à
influência dessa cultura na sua formação, uma vez que a forma como o
profissional percebe a morte e a maneira como este interage com o indivíduo
na fase terminal não é algo natural. Daí, pode-se concluir que os
profissionais não experimentam o sofrimento na mesma medida.
CFESS (2010, p.27) afirma que há na categoria segmentos de
profissionais que se distanciam do Serviço Social, profissionais que
privilegiam a intervenção “nas tensões produzidas subjetivamente pelos
sujeitos.”
Contudo, o DSC acena que não há um privilegiamento, o que há é uma
demanda objetiva (aviso do óbito para uma série de burocracia seguinte)
sobre uma pratica subjetiva (aviso do óbito e acolhimento à dor dos
parentes), que gera sofrimento dentro do processo de atendimento da família
do paciente morto.
3.CATEGORIA: Limites na abordagem da morte na prática profiss ional
SUJEITOS: 2, 4, 5
DSC
Eu me emociono em muitos casos. Eu não consigo dissociar o
profissional do pessoal, eu me envolvo, eu me abalo perto da família,
inclusive já cheguei até chorar com a família. É fato que depois fui até
chamada atenção pelas minhas colegas de trabalho por um fato que não
deveria acontecer porque o profissional ele está isento de toda aquela
questão da emoção e do sentir. Aí, como separar o sentir do fazer se nós não
somos só razão, ou não somos só razão, ou não somos só emoção, somos
complexos humanos, complexos... eu não consigo fazer essa separação.
Então pra mim foi muito difícil essa construção, essa abordagem porque
nunca fez parte da minha prática profissional e também quanto pessoa muito
difícil também. Como assistente social, é difícil você se distanciar dessa
situação em que você está trabalhando, concorda? Não, a gente não
consegue se distanciar, separar é inevitável, você se reflete no usuário e a
57
forma como você lida com aquilo ali, é a forma como você lida na sua vida.
Você não separa, você não consegue se separar, como é que separa um
atendimento do seu sentimento? Você é inteira, você traz tudo isso ai, isso
que você está vivendo. A verdade é o que eu te digo, a gente não consegue
separar cada um, é, a gente encara de uma forma diferente [cada situação],
algumas são mais próximas, outras mais doloridas, as mais sofridas são
aquelas que conseguem tocar a gente de uma forma mais profunda, quando
a gente se aproxima mais, quando a gente ta naquele processo de
acompanhar aquele usuário. Nós estamos agora com o caso dessa
senhorinha que deu flores para a gente no dia das mães. Ela ta com um filho
na UTI, da idade do meu mais novo, porque quando a gente ta muito próximo,
vendo todo aquele processo de sofrimento, ele chegou bem, caminhando, foi
se agravando! A gente ta aqui inteira, eu to aqui inteira, quando to na minha
casa, to inteira. Quando vou para um velório, inteira. Seja de quem for o
velório, eu não consigo departamentalizar, aqui eu sou eu, lá em casa eu sou
fulana, né?! sou uma em todo canto. A gente tenta se desbloquear. Porque
quando eu tava aqui, eu tenho que deixar tudo o que eu vivenciei no dia,
aqui, para não levar para a minha casa. Hoje por exemplo, tive dois óbitos
dolorosos, duas mães, no dia das mães, e eu tento apagar, dissociar da
minha vida, mas é difícil. Eu tento porque a gente tem que deixar aqui pra
depois a gente viver outra vida fora. Hoje eu já consigo, mas foi muito difícil
no começo, separar as duas coisas, separar a [pessoa que sou] da
Assistente Social. Têm dias que eu vou elaborando no caminho, no carro, até
minha casa são quarenta minutos que eu vou elaborando, para eu deixar as
coisas que eu vivenciei aqui, e começar a viver minha vida, com minha
família. Ai são quarenta minutos que eu deixo em stand by, e eles vão
perguntando as coisas no carro e eu não respondo, que eu não tô nem lá, tô
ainda elaborando, é muito difícil. Então como Assistente Social, é difícil você
se distanciar dessa situação em que você está trabalhando, concorda? Não,
a gente não consegue se distanciar, é inevitável, você se reflete no usuário e
a forma como você lida com aquilo ali, é a forma como você lida na sua vida.
Você não separa você não consegue se separar, como é que separa um
atendimento do seu sentimento? Você é inteira, você traz tudo isso ai, isso
que você está vivendo. Como separar o sentir do fazer se nós não somos só
58
razão, ou não somos só emoção, somos complexos humanos, complexos [...]
eu não consigo fazer essa separação.Então pra mim foi muito essa
construção, essa abordagem porque nunca fez parte da minha prática
profissional e também quanto pessoa muito difícil também.
DISCUSSÃO
Quando o profissional não consegue dissociar o profissional do pessoal
ele certamente terá maiores limites na abordagem da morte em seu cotidiano
de trabalho. É possível aprender com a morte do paciente quando se
consegue viver a morte do outro e falar sobre ela, assim, provavelmente,
haveria a compreensão as limitações dos seres humanos com seres falíveis.
Contudo, o DSC expressa uma situação limite para o assistente social
e que gera muito sofrimento: a questão do distanciamento é (im)possível? O
discurso mostra um nível de dúvida que demonstra dor e sofrimento para o
profissional dentro e fora da prática de trabalho. Pensando no assistente
social como trabalhador que é, fica claro que o sofrimento gerado no
assistente social precisa ser considerado pela gestão do serviço.
Pode-se afirmar ainda que as demandas subjetivas estão presentes na
prática profissional da saúde de maneira muito forte. Lembrando que, mesmo
com toda essa realidade e sabendo que o trabalho do assistente social não
deve se esgotar nos atendimentos, nem tampouco tê-los como um fim em si
mesmo, é inegável que o plantão do Serviço Social representa, muitas vezes,
a única porta aberta aos usuários que precisam falar de suas queixas sobre
os serviços da própria instituição, buscar orientações e informações, sobre a
rede de serviços e outras necessidades (SODRE, 2010).
Também, pode citar Martinelli (2003) para uma busca de compreensão
do limite profissional em lidar com o processo tão subjetivo como a morte.
Segundo Martinelli (2003, p.13):
[O Serviço Social] Seu significado social, suas demandas, tarefas e atribuições devem ser identificadas dentro da trama de relações que constituem a vida social e particularmente no âmbito das respostas que a sociedade e o Estado constroem frente às necessidades
59
sociais dos homens em suas múltiplas dimensões (materiais, espirituais, culturais, subjetivas etc.). Estas dimensões constituem a sociabilidade humana e estão presentes no cotidiano da prática do assistente social.
4.CATEGORIA: O processo de morte e morrer como prática singular
SUJEITOS: 2, 4
DSC
[...] acolher o óbito é uma situação muito complexa, por mais, que você
já tenha dado cem avisos de óbito, sempre será novo porque a família traz
sempre prá você uma dor própria, singular, pessoal não é aquela dor que
você acompanhou ontem, é a voz de hoje, [... ] a verdade é o que a gente não
consegue separar cada um. A verdade é o que eu te digo, a gente não
consegue separar cada um, é, a gente encara de uma forma diferente,
algumas [situações] são mais próximas, outras mais doloridas, as mais
sofridas são aquelas que conseguem tocar a gente de uma forma mais
profunda, quando a gente se aproxima mais, quando a gente tá naquele
processo de acompanhar aquele usuário.
DISCUSSÃO
Observa-se que cada profissional ao lidar com a morte o faz de forma
diferente, tanto a sua atuação como a visão diante do processo é algo
peculiar. Quando é necessária uma abordagem com a família nos casos do
óbito, estes vêem como algo singular, ou seja, a cada vez será uma
experiência nova. Portanto, a percepção que o profissional tem em relação
ao processo de morte e morrer irá fundamentá-lo na compreensão dos rituais,
e no enfrentamento em sua prática diária.
É perceptível que a singularidade do atendimento está ligada à aquelas
situações onde o profissional se envolveu muito, comparou sua vida com a
do usuário e esteve acompanhando a família e o paciente há muito tempo. Os
laços são criados, e não se percebe nada que o assistente social faça para
que isso não ocorra.
60
5. CATEGORIA: Morrer é experimentar perdas
SUJEITOS: 1
DSC
O morrer é o lidar mais difícil, porque o morrer são as perdas, são os
nossos processos de perdas e ai, eu acho mais difícil porque a gente tá
perdendo todo dia. Todo dia você tá perdendo alguma coisa e isso é o que é
mais difícil das pessoas lidarem, aí quando eu digo que eu tenho medo da
morte eu acho que não é da morte que eu tenho medo eu tenho medo é das
perdas, É todo um processo, morrer é um processo, a fase que você passa
até chegar no fato consumado, que é a morte, mas é trabalhar a morte. É
fácil trabalhar com a morte, é muito difícil [trabalhar o morrer] até porque
você associa seus entes queridos que já partiram e no começo foi muito
difícil trabalhar com o óbito.
DISCUSSÃO
O DSC expressa outra questão problematizada pelos sujeitos em
relação ao morrer, pois acreditam ser o lidar mais difícil e associam a um
processo de perdas. Sabe-se que a morte e morrer significam um mesmo
fenômeno, porém, o processo de morrer é intrínseco à morte e ambos fazem
parte da vida. Contudo, o DSC revela que a prática profissional tem mais
dificuldade com o processo de morrer, ou seja, o acompanhar a família
durante o agravamento do paciente, esta exige mais da competência ética e
emocional do profissional. A morte é mais objetiva. Exige encaminhamentos
legais, declarações, formulários e orientações práticas.
6.CATEGORIA: O assistente social e o aprendizado do lidar com a morte.
(Aprende-se a lidar com a morte na prática profissional?)
SUJEITOS: 1,2
DSC
[...] a Academia, a Universidade, os livros, as Ciências nos dão só uma
compreensão, pequenininha, desse processo que a gente vivencia , e no
61
começo foi muito difícil trabalhar com o óbito, mas agora, a gente já
consegue transpor essas barreiras, já lida com mais tranquilidade. Eu
comecei elaborar melhor porque fiz o curso de Tanatologia [...] A prática no
Serviço Social ajudou, ajudou porque eu vivenciei, porque eu tinha feito o
curso de Tanatologia, então, eu tive condições de me preparar. Assim a
assistente social eu acho que seja a profissional que melhor acolha a família,
certo? Nesse processo de morrer e da morte, porque assim nós somos
qualificadas, nós temos várias cadeiras, essa parte do Direito que a gente
entende como essa parte psicológica que a gente também tem noção, então
a gente tá preparado pra fazer esse tipo de abordagem.
DISCUSSÃO
O DSC refere-se ao cotidiano de trabalho do assistente social em
saúde, onde os desafios se apresentam e forçam a busca de novas
estratégias de enfrentamento destes desafios, uma vez que na universidade,
durante a formação acadêmica pouco se estuda a respeito. Portanto, o dia a
dia profissional obriga o profissional a buscar capacitação uma vez que a
formação acadêmica não deu conta do conteúdo morte e morrer.
Acredita-se que a cada dia, essa lacuna do conhecimento de saber
lidar com a morte se torna um desafio mais urgente na formação profissional.
Aprender sobre perdas e luto, ou seja, conhecer a Tanatologia é importante
para enfrentar os medos ligados ao desconhecido e aos mistérios que
envolvem o assunto, como também, o indivíduo é capaz de ajudar outras
pessoas a se relacionarem melhor com a realidade.
Como contribuição para melhor entendimento sobre a Tanatologia
Escudeiro (2011, p.17) conceitua:
Tanatologia, [como] área de conhecimento e de aplicação, envolvendo
cuidados a pessoas que vivem processos de morte pela perda de pessoas
significativas, processo de adoecimento, em decorrência de comportamentos
autodestrutivos, suicídios, ou por causas externas, pela violência presente
principalmente nos centros urbanos.
62
Percebe-se pelo DSC que há uma prática que exige, demanda uma
qualificação do assistente social no que diz respeito a competência teórico-
metodológica, ou seja, para conhecer a realidade social, política, econômica
e cultural com a qual trabalha, o assistente social precisa ser qualificado,
apropriar-se de um arcabouço teórico e metodológico, para uma apreensão
da dinâmica societária, que ultrapasse os fenômenos aparentes, com o intuito
de compreender sua essência, seu movimento e as possibilidades de
construção de novas formas de atuação profissional.
7.CATEGORIA: Burocracia versus sensibilidade
SUJEITOS: 2,3
DSC
[...] encarar as situações de morte [...] é um momento difícil, é um
momento assim que exige muito cuidado procurar se colocar no lugar do
outro acima de qualquer coisa e não se deixar a pressa do cotidiano com a
imediaticidade A necessidade de resolver as questões que envolvem uma
série de condutas burocráticas e que as vezes passa. Você tem que dá um
tempo prá ver o lado da dor e da pessoa e imediatamente já ter a
sensibilidade pra procurar um momento certo de entrar na parte burocrática
da coisa. Então a gente tem que se policiar. Como profissional também pra
gente e, não se tornar uma pessoa com sentimentos mecânicos. [...] .
DISCUSSÃO
O DSC apresenta a preocupação com um novo atuar profissional,
novos fazeres e posturas, bem como percebe-se ser um dos desafios do
profissional na atualidade em desdobrar-se entre atuações e resoluções
dentro da prática profissional e, ao mesmo tempo, tendo que se colocar no
lugar do outro, percebendo suas necessidades, fragilidades e não permitindo
que as dinâmicas do cotidiano os tornem profissionais mecanizados
insensíveis as relações sociais que se manifestam (LESSA, 2011).
63
O que está expresso no DSC mostra que no exercício de sua
competência técnico-operativa, ou seja, desenvolvendo habilidades técnicas
que possibilitem desenvolver ações profissionais junto aos usuários e às
instituições, é exigido do assistente social ir além da técnica, não esquecer a
competência teórica e ética. O usuário busca além de um profissional que o
assista em suas mais variadas necessidades, um atendimento humanizado,
um olhar compreensivo, uma palavra, uma escuta atenta, um acolhimento
para sua dor, para que possam se fortalecer como seres humanos.
8.CATEGORIA : Circunstancialmente, o assistente social é o profissional
mais habilitado a dar a notícia do óbito
SUJEITOS: 1,2, 5
DSC
[...] Fica uma discussão [...] na Academia [...] O assistente social, não é
quem dá a notícia da morte, [...] Quem deve dar a notícia [...] é quem está
mais próximo dele, [...] eu defendo que o profissional mais habilitado é o
assistente social. Ele pode não fazer isso sozinho, pode fazer isso
acompanhado de outros profissionais [...] na sala do Serviço Social. [...] a
gente trabalha com as emoções, a gente se detém mais sobre o usuário, os
outros profissionais olham como uma parte, quem busca dar conta do
paciente como um todo é a gente. O médico ele só sabe lidar com a doença e
com o remédio, ele não sabe lidar com pessoas. [ ...] é claro que existem
médicos extremamente humanitários [...] Quem tenta e ainda se esforça, para
trabalhar com pessoas, é o assistente social, é o psicólogo, são as chamadas
profissões humanísticas, [...] Quem dá as informações é a equipe de saúde;
quem se sente mais [próximo], naquele momento, naquela determinada
situação, naquele instante, [...] quem tá mais próximo e tenha mais afinidade
com aquele usuário. [...] Na hora que não tem mais nada o que fazer, [...] e
não tem mais o coração batendo, o médico vem lá fora e dá a notícia. Mas
quando a pessoa está longe? [...] é muito circunstancial, eu acho que não
existe ninguém que detenha essa informação, o ideal seja da equipe dar a
notícia, [...] Nem sempre você pode parar o serviço, juntar a equipe, para dar
64
uma notícia. Quando ela começa a indagar, e a família tem muitas
interrogações, aí sim, ela precisa de um profissional mais acolhedor, o
sofrimento é de quem tá mais próximo.
DISCUSSÃO
O DSC vem dizer que a própria formação do assistente social
possibilita que este faça o acolhimento, o seguimento de noticiar a morte,
apesar de que acredita que esta seja uma tarefa que cabe a toda uma
equipe, entretanto nem sempre é possível reunir a equipe para passar a
notícia, então cabe aos profissionais com sua formação mais humanizada,
como o assistente social ou psicólogo, que acompanha todo o processo,
desde anterior ao diagnóstico e está mais próximo a família ou
acompanhantes, repassar essa notícia; apesar de não ser sua competência
própria dita de acordo com os Parâmetros para atuação dos assistentes
sociais, considerada por outros profissionais por não compreenderem as
reais atribuições do profissional, mas uma atribuição subjetiva do serviço
social.
Martinelli (2011) afirma que o atendimento ao usuário deve ser mais
humanizado, já que se trabalha com pessoas fragilizadas que pedem uma
atenção humanizada.
9.CATEGORIA : Competência técnica-operativa do assistente social no
processo de morte e morrer.
SUJEITOS: 3
DSC
O assistente social detém toda essa prática profissional de acolher, de
conversar, de orientar até as questões previdenciárias, os direitos
trabalhistas, os direitos de pensão, os direitos de herança. [...] Assim a
assistente social eu acho que seja a profissional que melhor acolha a família,
certo? Nesse processo de morrer [...], porque assim nós somos qualificadas,
[...] a gente tá preparado pra fazer esse tipo de abordagem, [...] porque a
gente já sabe da legislação previdenciária, a gente já sabe orientar em
65
relação a direitos, sabe bem acolher a família sempre de falar e de calar.
Todas essas práticas burocráticas e legais, a gente desenvolve [...] porque a
gente tem conhecimento há muito tempo na profissão, e eu acredito que eu
tenha essa habilidade adequada sim. A comunicação do óbito eu acredito que
seja realmente universalmente da equipe médica do hospital, até porque os
médicos têm o saber clínico e a competência que o próprio curso prepara
para a comunicação e explicação dos casos, e explicará a circunstância
desse óbito. Por outro lado, o médico gosta muito de fragmentar e
compartimentar as coisas. O médico muitas vezes na questão de comunicar o
óbito do corpo e a gente sabe que não é só a do corpo, o óbito é do ser, é do
ser humano porque ele tem uma família, [...] tem a sociedade que é histórica
e familiar. E aí o assistente social [...] aquele profissional que acompanhou
todo aquele tempo aquele paciente independente do tempo que ele passou
no hospital. [...] não tem como não haver um vínculo entre o profissional do
serviço social e o paciente e seus. [...] o assistente social detém toda essa
prática profissional de acolher, de conversar, de orientar até as questões
previdenciárias, os direitos trabalhistas, os direitos de pensão, os direitos de
herança.
10. CATEGORIA: O ASSISTENTE SOCIAL É QUALIFICADO PARA FALAR A
FAMÍLIA ENLUTADA
SUJEITOS: 2,3,5
DSC
Se não for o serviço social...! É lógico que é difícil, [...] a gente já sabe
orientar em relação a direitos. A assistente social eu acho que seja a
profissional que melhor acolha a família, [...] Nesse processo de morrer e da
morte, [...] nós temos várias cadeiras, essa parte do Direito que a gente
entende, [...] psicológica que a gente também tem noção, então a gente tá
preparado pra fazer esse tipo de abordagem, enquanto que o médico está
preparado para o diagnóstico, então o que se estuda na academia, [respalda
o] acolher melhor. As possibilidades são de tá e ficar ali perto, [...] essas
práticas burocráticas e legais, a gente desenvolve numa boa, porque a gente
66
tem conhecimento há muito tempo na profissão, [...] não ultrapassa o limite
da parte do diagnóstico, [...] a família, que sempre procura saber o porquê,
então eu tenho [...] que chamar o profissional adequado e então o meu limite
termina quando o dele começa.
DISCUSSÃO
O DSC diz que o assistente social, embasado de todo seu
conhecimento acadêmico e sua prática profissional, está capacitado a
desenvolver e explicitar todos os encaminhamentos burocráticos bem como
assegurar os direitos previdenciários dos usuários; porém no seu dia a dia,
com a vivência no setor do serviço social, assimila este momento mais
material às suas competências subjetivas.Trazer todo um acolhimento em um
momento de fragilidade da família é de suma importância, mas cabe ao
assistente social também cumprir com suas atribuições técnico-operacionais
e saber manter um equilíbrio para tal atendimento.
11.CATEGORIA : O valor da formação humanística do assistente social no
processo de morte e morrer
SUJEITOS: 1,4
DSC
A maioria das pessoas não quer encarar a morte de frente, como a
realidade [...] concreta na vida de todo ser humano [...] quando você entra na
área do Serviço Social [...] diferença é que, o médico ele trata a patologia,
[...] morreu! [...] ele não tem mais nada a fazer, é exatamente onde começa a
parte do profissional da humanização. [...] acolher o usuário na hora de uma
notícia dessas, é aqui na sala do Serviço Social. Porque a gente trabalha
com as emoções, a gente se detém mais sobre o usuário, [...] quem busca
dar conta do paciente como um todo é a gente. O médico ele [...] não sabe
lidar com pessoas. [...] tô falando é da formação dele, é claro que existem
médicos extremamente humanitários, [...] Quem tenta e ainda se esforça,
para trabalhar com pessoas, é o assistente social, é o psicólogo, [...]
67
profissões humanísticas, [...] O profissional que trabalha com o humano, [...]
que não quer ver a morte, [...] é o assistente social [...] o que mais tem
potencial pra falar sobre morte e trabalhar essa conjunção tanto a nível de
família como dentro das UTI’s nos hospita is é claro que alguns podem ter
problemas emocionais que vão impossibilitar essa etapa de risco com essa
realidade [...] se você for muito seca muito dura cientificamente [...] se você
não tiver essa mediação você não consegue confortar essa família você [...]
fazer com que essa família entenda porque é que o filho dela que é a décima
maior maravilha do mundo morreu,’ [...] ela não vai entender nunca e ai sobre
o assistente social eu acho que ele entra muito nessa questão de quando ele
tem maturidade emocional pra isso porque ele tem a amplitude, no nosso
conhecimento nos dá essa grande sabedoria de intervir de abordar essa
pessoa né tanto na questão da sutileza da coisa de saber entrar adentrar
sem mexer muito com essa pessoa sem trazer á tona o desespero [...] fazer
compreender que [...] o nascer é uma perspectiva, o morrer é a única certeza
DISCUSSÃO
O DSC revela que a negação é uma fase que ocorre no processo de
morte e morrer, é uma intolerância do ser humano em conceber a ideia de
morte; os familiares negam a morte numa tentativa de afastá-la e
consequentemente prolongar a vida do ente querido. O indivíduo não aceita,
evitando assim o sofrimento. O profissional de certa forma não é formado
para lidar com a morte.
Para o assistente social é difícil falar de morte sem um envolvimento,
sem transparecer emoções, pois naquele momento é preciso que ele tenha
habilidade e através de uma maior humanização e acima de tudo utilizando-
se de todo conhecimento adquirido em sua formação acadêmica, atue de
forma a fazer com que aquela família venha entender que a morte não
significa o fim, mas apenas uma separação física, pois as lembranças
permanecerão em seus sentimentos, equilibrando ações burocráticas
presente na profissão e exigidas no momento.
68
Nas palavras de Combinato e Queiroz (2006) a compreensão da
subjetividade profissional, vai para o seu dia a dia, mas mostrando que
deveria existir uma formação dentro da Universidade que contemple o lidar
não só com o físico, mas também com o psicossocial, o emocional.
12.CATEGORIA : Habilidade nas relações como elemento facilitador do lidar
com o processo de morte e morrer
SUJEITOS:2
DSC
O assistente social dentro do contexto de um hospital é fundamental.
Hoje eu já vejo muitas profissionais de várias categorias, eles recorrem
imediatamente ao Serviço Social não sei se é porque valorizam a qualidade
da assistência que a gente dá, se é a nossa abordagem que é a abordagem
mais satisfatória dessas nesses processos ou se também é uma forma que
eles têm certeza “comigo isso é até aqui e daqui em diante e com o
assistente social”.
DISCUSSÃO
O DSC aborda uma dúvida no que se refere à procura de outros
profissionais para resoluções imediatistas e generalistas, há uma
interrogação por parte do assistente social se essa procura deve-se ao fato
de uma valorização do profissional do serviço social ou mesmo pela falta de
conhecimento das reais atribuições da profissão. Funções estas que o
diferenciam dos demais profissionais, de acordo com suas habilidades e
competências.
É imperioso ressaltar que o assistente social tem como dimensão
profissional contribuir para a politização dos sujeitos, assegurar os direitos
dos usuários e os fazer reconhecer como sujeitos de direitos. O alto
conhecimento e esclarecimento do profissional junto à população usuária,
trabalhando sempre de forma humanizada por conhecer as mazelas sociais,
faz com que os demais profissionais os procurem como sendo o indivíduo
69
que detém todas as soluções e consequentemente as resoluções para todas
as demandas que são impostas.
O CFESS (2010) por sua vez orienta aos profissionais de Serviço
Social a realização de reuniões com os demais profissionais da equipe
institucional para esclarecimento de suas ações, competências, determinação
de suas rotinas e planos de trabalho.
13.CATEGORIA : Competência ético-política do assistente social no processo
de morte e morrer
SUJEITOS:1,3
DSC
[...] acredito que exista um diferencial na compreensão da morte e do
morrer pelo assistente social [...] junto com a família [...] permite que essas
pessoas se projetem, projetem suas dores, projetem suas falas que contém
essas dores, que contem outros elementos que eles gostariam de dizer, de
expor até mesmo como uma forma de liberar essas dores e eu acho até que a
assistente social tem essa visão diferenciada com relação a essas outras
profissionais [...] a gente tem um diferencial sempre e uma grande
importância [...] com certeza acredito que isso não é homogêneo porque nós
temos profissionais determinados, Assistentes Sociais com condutas X, Y e Z
e cada um é determinado por sua história pelos seus contextos [...] temos
uma conduta maior que a gente aprende discutindo e com todo o cabedal
teórico que a gente recebe durante que nossa formação eu acho que
contribui.
DISCUSSÃO
O DSC esclarece que o perfil humanizado do assistente social faz com
que ele oportunize ao usuário um espaço de acolhimento permitindo que este
projete em suas falas, suas angústias, dores ou outros elementos como
forma de libertação; por ser este um profissional com uma visão diferenciada
dos demais profissionais, especialmente por conhecer toda uma
70
complexidade na dinâmica social, e o contexto histórico que o indivíduo está
inserido, ressalta, entretanto que no meio existam profissionais que não
atuem da mesma forma, apesar de se apropriar de um cabedal teórico
adquirido na Universidade, que favoreça essa proximidade com o usuário.
Nas palavras de Sodré (2010) é inegável que o plantão do Serviço
Social representa muitas vezes a única porta aberta aos usuários que
precisam falar de suas queixas, buscar informações, orientações e outras
necessidades.
14. CATEGORIA: A interdisciplinaridade como possibilidade e limite no
processo de morte e morrer
SUJEITOS: 1,2,3,5
DSC
Quem dá as informações é a equipe de saúde; [...] quem tá mais
próximo naquele momento da dor, do familiar, eu acho que é a pessoa
indicada, [...] não é o médico, não é o enfermeiro, não é o psicólogo, não é o
assistente social, é quem ta mais próximo e tenha mais afinidade com aquele
usuário. [...] Na hora que não tem mais nada o que fazer, [...] o médico vem
lá fora e dá a notícia, [...] Mas quando a pessoa está longe? [...] a gente vai
sair correndo, ai familiar chega na sala do Serviço Social e vai correndo atrás
para dar a notícia. [...] que esse paciente não resistiu, é muito circunstancial,
[...] o ideal seja da equipe dar a notícia, é o ideal. [...] Quando [...] a família
têm muitas [...] indagações, [...] ela precisa de um profissional, mas acolher a
dor, o sofrimento é de quem tá mais próximo.
DISCUSSÃO
O DSC relata que a abordagem no processo de morte morrer deveria
ser feito com toda a equipe multidisciplinar, pois dentro da competência de
cada um, poderiam fazer um trabalho de mais qualidade com essa família,
porém trazem como limite para este atual profissional a questão de nem
sempre poder reunir os profissionais implicados para realizar um
71
acompanhamento adequado e com qualidade atendendo, todas as questões
físicas, psicossociais, espirituais, que estes necessitam.
Todavia percebe-se como possibilidade poder acompanhar desde a
entrada do paciente e conhecer sua história e com isso fortalecer um vínculo
com o usuário e sua família bem como garantir seus direitos no momento do
óbito. Ademais o Serviço Social também possibilita e assegura além dos
direitos a família todos os encaminhamentos pertinentes ao óbito, de como
fazer. Por priorizar a dignidade no momento do óbito.
O CFESS (2010, p.30) nos diz que para uma atuação competente e
crítica do Serviço Social é importante que, dentre outras coisas, buscar a
necessária atuação em equipe, tendo em vista a interdisciplinaridade da
atenção em saúde; estimular a intersetorialidade tendo vista realizações que
fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social, superando a
fragmentação dos serviços e do atendimento às necessidades sociais, tentar
construir e ou efetivar conjuntamente com outros trabalhadores da saúde,
espaços nas unidades que garantam a participação popular e dos
trabalhadores de saúde.
72
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar o Serviço Social ao longo de sua trajetória histórica,
percebe-se que houve avanços quanto ao acúmulo de conhecimento sobre o
seu objeto de intervenção e sobre a prática profissional. Atualmente os
desafios enfrentados pelos assistentes sociais, especialmente no campo da
saúde, dizem respeito à atuação e resoluções, para além da mera burocracia
exigida pelas políticas públicas e seus programas.
A pesquisa buscou conhecer o trabalho do assistente social
desenvolvido no processo de morte e morrer. O interesse na temática da
morte possibilitou uma aproximação com uma realidade que descortinou uma
prática complexa e conduziu a questionamentos que possibilitaram uma
investigação mais aprofundada, favorecendo analisar a intervenção do
assistente social no processo de morte e morrer, o qual faz parte de seu
atuar profissional no espaço institucional.
Desse modo, os objetivos buscados foram: analisar a percepção do
assistente social frente ao processo de morte e morrer; identificar as
possibilidades e limites da prática profissional no lidar com o referido
processo; identificar o processo de morte e morrer como intervenção
constante na atuação do assistente social.
No que se refere à percepção dos assistentes sociais foi possível
observar que existe relutância em abordar a temática, mesmo considerando a
morte algo natural, um processo natural, biológico e próprio da vida. O que
deixa claro que no meio profissional não se faz diferente essa realidade do
que seus autores apresentam, apesar dos estudos e avanços das sociedades
em tecnologias, hoje alguns profissionais não são preparados para lidar com
pessoas no processo de morte, assim como suas dores, sentimentos e
emoções, principalmente no que se refere aos sofrimentos que os atinge.
Esse fato pode estar ligado à falta de conhecimento e domínio do
assunto, pois, na própria academia há uma lacuna na formação do
profissional, como também a dimensão cultural que não possibilita a
discussão na família, alcançando o indivíduo desde a mais tenra idade.
73
Entretanto, de acordo com os sujeitos de nossa pesquisa, esse lidar é
aprimorado no dia a dia da prática profissional, porque cada atendimento é
desafiador e, por assim ser, acrescenta conhecimento. Cada caso é singular,
sempre terá um diferencial com relação ao último. Percebe-se ainda que haja
a busca por um fazer humanizado, mesmo o profissional tendo que realizar
seus encaminhamentos burocráticos, há o cuidado de oportunizar ao usuário
fragilizado, pelo acontecimento da perda e morte, um espaço para projetar
suas dores e angústias.
O estudo deixou claro que o processo de morte e morrer fazem parte
da prática profissional do assistente social que trabalha na área da saúde,
mas especificamente em hospitais. Trata-se de uma intervenção constante
marcada por limites e desafios.
A pesquisa revela que o assistente Social, mesmo sem receber uma
formação acadêmica específica, são os profissionais mais capacitados a
realizar um acolhimento mais humanizado no processo de morte e morrer
considerando sua formação humana, crítica, conhecendo como se dão as
relações num contexto social e por terem a consciência de que o ser não é
apenas uma parte, mas um todo.
Entretanto, a notícia do óbito, num consenso geral, deveria ser feita por
toda a equipe profissional que faz parte desse processo, mas, viu-se que
esse é um dos limites da prática – a falta de interdisciplinaridade no trabalho.
Como essa prática não se realiza no dia a dia, não há uma dinâmica de
trabalho em equipe construída. Assim, nem sempre é possível a todos os
profissionais noticiar a morte à família enlutada, ficando ao assistente social
essa atividade dentro de suas funções, mesmo não sendo uma atribuição
profissional reconhecida como legítima (CFESS, 2010).
Outro limite identificado está relacionado ao envolvimento com as
famílias, pairando uma dúvida sobre o envolvimento adequado junto às
famílias. O que fica claro nos discursos é que o processo de distanciamento é
mais difícil e complicado para uns do que para outros. Alguns buscam
esquecer o dia de trabalho com óbitos em um esforço buscado com muito
exercício. Outros consideram que o distanciamento impossível.
74
Frente aos resultados percebe-se a necessidade de que a gestão dos
serviços considere a prática profissional para além do que é exigido
objetivamente, considerando toda subjetividade que envolve a intervenção
profissional e atentem para ações que encaminhem o sofrimento gerado,
preenchendo lacunas existentes na condução das situações de trabalho.
Outro fato que a pesquisa revela é a deficiente formação acadêmica no
que se refere ao lidar com o processo de morte e morrer, algo tão natural à
vida e presente na prática profissional do assistente social, mas não
considerado importante, nem legítimo à categoria. A academia deveria rever
seus currículos aproximando-se mais do que realmente se dá na dia a dia da
prática institucional.
75
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Ricardo. O trabalho, sua nova morfologia e a era da precarização estrutural. Revista Theomai, n. 19. jan/ jun, 2009.
ANTUNES, Ricardo; ALVES, Giovanni. As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital. Educ. Soc., Campinas, v. 25, n. 87, p. 335-351, maio/ago. 2004.
BASTOS, Núbia Maria Garcia. Introdução à metodologia do trabalho acadêmico. 5. ed. Fortaleza: Nacional, 2008.
BERTANI, Iris Frenner; REZENDE, Regina Maura. (Orgs.) Conversas interessantes sobre saúde: programa de extensão QUAVISSS. Franca/SP: UNESP-FHDS, 2007.
BERTOLLI FILHO, Cláudio. História da saúde pública no Brasil. 4.ed. São Paulo: Ática, 2004.
BRASIL. Constituição (1988).Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
______. Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1990b.
______. Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 20 set. 1999.
BRAVO, Maria Inês Souza. Desafios atuais do controle social no Sistema Único de Saúde (SUS). Serviço Social & Sociedade. São Paulo, Cortez, v.27, n. 88, p.75-100, Nov. 2006.
BRAVO, Maria Inês Souza; GAMA, Andréa de Sousa; MONNERAT, Giselle Lavinas; VASCONCELOS, Ana Maria de. (Orgs.) Saúde e Serviço Social. São Paulo: Cortez, Rio de Janeiro: UERJ, 2004.
CAPUTO, Rodrigo Feliciano. O homem e suas representações sobre a morte e o morrer: um percurso histórico. Saber Acadêmico, n. 6, p.73-80, dez. 2008.
76
CASTRO, ManuelManrique. História do serviço social na América Latina . Tradução de José Paulo Netto e BalkysVillalobos. São Paulo: Cortez, 1984.
CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. A pesquisa: noções gerais. In: CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. São Paulo: Mc Graw-Hill do Brasil, 1976. cap. 3, p. 65-70.
COHN, Amélia. Estadoe sociedade e as reconfigurações do direito à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.9-18, 2003.
COMBINATO, Denise Stefanoni; QUEIROZ, Marcos de Sousa. Morte: uma visão psicossocial. Estudos de Psicologia, Natal, v.11, n.2, p.209-216, maio/ago. 2006.
CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais. Resolução nº 273, de 13 de março de 1993, com as alterações introduzidas pelas Resoluções CFESS nº 290/ 1994 e n, 293/ 1994.
______. Parâmetros para atuação de assistentes sociais na Política de Assistência Social. Série Trabalho e Projeto Profissional nas Políticas Sociais, n. 1. Brasília: CFSS, 2010.
COSTA, Renata Gomes da; MADEIRA, Maria Zelma de Araújo. Trabalho, práxis e Serviço Social. RevistaKatálysis. Florianópolis, v.16, n.1, p.101-110, jan./jun. 2013.
CUNHA, J.P.P., CUNHA, R.E. Sistema Único de Saúde - SUS: princípios. In: CAMPOS, F.E., OLIVEIRA JÚNIOR, M., TONON, L.M. Cadernosde saúde. planejamento e gestão em saúde. Belo Horizonte: COOPMED, 1998. Cap.2, p. 11-26.
DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais . 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2009.
ESCUDEIRO, Aroldo. Sobre o viver e o morrer. In: ESCUDEIRO, Aroldo (Org.). Tanatologia: temas impertinentes. Fortaleza: LC, 2011. p.17-27.
IAMAMOTO, Marilda Vilela; CARVALHO, Raul de. Relações sociais e serviço social no Brasil. 17. ed. São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 2005.
IAMAMOTO, Marilda Villela. Renovação e conservadorismo no serviço social: ensaios críticos. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2004.
77
IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 5. ed.São Paulo, Cortez, 2012.
INCONTRI, Dora; SANTOS, Franklin Santana. A arte de morrer: visões plurais. Bragança Paulista: Comenius, 2007.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos demetodologia científica. 6. ed. 3. reimpr. São Paulo: Atlas, 2006.
LEFÈVRE, Fernando. O sujeito coletivo que fala. Interface - comunicação, Saúde, Educação. v.10, n.20, p. 517-24, jul/dez, 2006.
LEFÈVRE, Fernando; LEFÈVRE, Ana Maria Cavalcanti. O discurso do sujeito coletivo:um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). 2. ed. Caxias do Sul, Educs, 2005.
LESSA, Ana Paula Girão. O trabalho do assistente social no SUS: desafios e perspectivas. In: COSTA, Liduína Farias Almeida da; RIBEIRO, Herta Maria Castelo Branco. (Orgs.) Políticas de saúde e serviço social: contradições, ambigüidades e possibilidade. Paraíba: EDUFCG/ Fortaleza: Ed. UECE, 2011, p. 79-90.
LIRA, Milena. A morte para o adulto. In: ESCUDEIRO, Aroldo (Org.). Reflexões sobre morte e perda. Fortaleza: LC, 2008, p.73-85.
MANZINI, E.J. Considerações sobre a elaboração de roteiro para entrevista semi-estruturada. In: MARQUEZINE: M. C.; ALMEIDA, M. A.; OMOTE; S. (Orgs.) Colóquios sobre pesquisaem educação especial. Londrina: Eduel, 2003. p.11-25.
MARANHÃO, J. L. S. O que é morte. São Paulo: Brasiliense, 1996.
MARTINELLI, Maria Lúcia. Serviço social: Identidade e alienação. 8. ed. São Paulo, Cortez, 2003.
______. O trabalho do assistente social em contextos hospitalares: desafios cotidianos. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n.107, p.497-508, 2011.
______. Serviço social: identidade e alienação. 16. ed. São Paulo, Cortez, 2011.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 4. ed. São Paulo, 1996.
78
MONTEIRO, Fernanda de Oliveira. Plantão social: espaço privilegiado para identificação/notificação de violência contra crianças e adolescentes. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n.103, p.476-502, jul./set. 2010.
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Rio de Janeiro, Imago, 1997
MOTA, Ana Elizabete. Seguridade social brasileira: desenvolvimento histórico e tendências recentes. In: MOTA, Ana Elizabete; BRAVO, Maria Inês de Souza; UCHÔA, Roberta; NOGUEIRA, Vera; MARSIGLIA, Regima; GOMES, Luciano; TEIXEIRA, Marlene. (Orgs.). Serviço social e saúde: formação e trabalho profissional. 4. ed. São Paulo, Cortez, 2009. p. 40-48.
NETTO, José Paulo. Introdução ao método na teoria social. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2001.
PAIM, JamilsonSilva. O que é o SUS? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2009.
PITTA, A. Hospital, dor e morte como ofício. 2.ed. São Paulo: Hucitec, 1991. (Saúde em Debate 34, Série “Saúdeloucura”).
PITTA, Ana Maria Fernandes. A equação humana no cuidado à doença: o doente, seu cuidador e as organizações de saúde. Saúde e Sociedade. v. 2, n.5, p. 35-60, 1996.
SENNETT, Richard. A corrosão do caráter. Tradução de Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 1999.
SOARES, Jorge Coelho; DANTAS, Marília Antunes. Considerações sobre a morte e o morrer na hipermodernidade. Revista de Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p.89-104, 2006.
SOARES, R. C. A racionalidade da contrarreforma na política de saúde e o serviço social. In: BRAVO, M. I. S. B.; MENEZES, J. S. B. Saúde, serviço social, movimentos sociais, e conselhos . São Paulo: Cortez, 2012.
SODRÉ, Francis. Serviço social e o campo da saúde: para além de plantões e encaminhamentos. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n.103, p.453-475, 2010.
SOUSA, Maria Inês Nascimento Fonseca. Oplantão do Serviço Social nas Unidades Básicas de Saúde — UBS de Franca: reflexão dessa prática sob um novo olhar. 2004. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) — Universidade Estadual de São Paulo. Franca, 2004.
79
SOUZA, Zélia Madeira Borri. Porque estudar a morte e o morrer. In: ESCUDEIRO, Aroldo (Org.). Reflexões sobre morte e perda. Fortaleza: LC, 2008, p.184-198.
YAZBEK, Maria Carmelita; MARTINELLI, Maria Lúcia; RAICHELIS, Raquel. O serviço social brasileiro em movimento:fortalecendo a profissão na defesa de direitos. Serviço Social & Sociedade, São Paulo: Cortez, ano XXIX, nº 95,2008.
80
APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA
Pesquisa de TCC: “A percepção do Assistente Social frente ao processo de
morte e morrer na sua prática profissional.”
Pesquisadores: e Alba Maria Pinto Silva eFlaubênia Maria Girão de Queiroz
(Orientadora).
Entrevista nº: Data: ___/___/___ Duração:______ Gravação: ______
PERGUNTAS
ROTEIRO DE ENTREVISTA
Entrevista nº: ____ Data: ___/___/___ Duração:______ Gravação: ______
1. DADOS DEMOGRÁFICOS, REALIDADE DE VIDA E DE TRABALHO
1) Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
2) Idade: ( )25 a 35 ( )36 a 50 ( )Acima de 51anos.
3) Estado civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Viúvo ( ) Divorciado ( ) Outro
________________
4) Tem Filhos?( )Sim Quantos?________ ( )Não
5)Naturalidade: ____________________________
6) Reside onde?____________________________
7)Espiritualidade contemplada? ( )Sim Qual a prática?____________( ) Não.
8)Tempo de sua formação acadêmica: __________________
( ) Especialidade ( )Mestrado ( )Doutorado
9) Você trabalha ema outra instituição?
81
10) Qual seu vínculo empregatício?
( )Concursado ( )Terceirizado ( )Outros________________________
2. ENTREVISTA NARRATIVA
1. Como assistente social de que forma você percebe o processo de morte e
morrer?
2. Fale sobre sua experiência profissional com situações de morte e morrer.
3.Comente sobre a importância do assistente social, suas possibilidades e
limites na prática profissional no processo de morte e morrer.
82
ANEXO A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a) para participar da Pesquisa “A percepção do
Assistente Social frente à morte e o morrer em sua prática diária.” sob
execução das pesquisadoras Flaubênia Maria Girão de Queiroz (responsável)
e Alba Maria Pinto Silva (participante), a qual pretende Analisar a percepção
do Assistente Social frente ao processo de morte e morrer na sua prática
profissional.
Sua participação é voluntária e se dará por meio de entrevista, que
consiste em respostas a perguntas apresentadas ao Sr (a) pela
pesquisadora. A entrevista será realizada na sala do Plantão do Serviço
Social, numa Instituição referência em doenças transmissíveis com duração
aproximada de 20minutos, no dia previamente marcado, de acordo com a sua
disponibilidade. Os depoimentos desta entrevista só serão gravados com seu
consentimento.
Não há riscos decorrentes da sua participação e o Sr(a) possui a
liberdade de retirar sua permissão a qualquer momento, seja antes ou depois
da coleta dos dados, independente do motivo e sem nenhum prejuízo a sua
pessoa e nem ao seu atendimentona Instituição.
Se o(a) Sr(a) aceitar participar, nos possibilitará contribuir com as
discussões sobre a percepção do Assistente frente ao processo de morte e
morrer na sua prática diária.
Ressaltamos que tem o direito de ser mantido(a) atualizado(a) sobre os
resultados parciais da pesquisa. Esclarecemos que, ao concluir a pesquisa,
você será comunicado dos resultados finais.
Não há despesas pessoais para o(a) participante em qualquer fase do
estudo. Também não há compensação financeira relacionada à sua
participação. Se existir qualquer despesa adicional, ela será paga pelo
orçamento da pesquisa.
Os pesquisadores assumem o compromisso de utilizar os dados
somente para esta pesquisa. Os resultados da pesquisa serão analisados e
83
publicados, mas sua identidade não será divulgada, sendo guardada em
sigilo.
Em qualquer etapa do estudo, poderá contatar os pesquisadores para o
esclarecimento de dúvidas ou para retirar o consentimento de utilização dos
dados coletados com a entrevista: Flaubênia Maria Girão de Queiroz
(99507922) e Alba Maria Pinto Silva(96909291)
CONSENTIMENTO PÓS–INFORMAÇÃO
Eu,________________________________________________________
___, fui informado sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da
minha colaboração, e entendi a explicação. Por isso, eu concordo em
participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso sair
quando quiser. Este documento é emitido em duas vias que serão ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador, ficando uma via com cada um de nós.
Data: ___/ ____/ ____
_______________________________ Assinatura do Participante
__________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável