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CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
MESTRADO
Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a inclusão
a partir de um trabalho com livros paradidáticos.
Andréa de Sousa Lima
Ribeirão Preto 2009
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ANDRÉA DE SOUSA LIMA
Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a inclusão
a partir de um trabalho com livros paradidáticos.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, SP, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área de Concentração: Educação Escolar Orientadora: Prof. Dra. Tárcia Regina da Silveira Dias.
Ribeirão Preto 2009
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ANDRÉA DE SOUSA LIMA
Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a inclusão
a partir de um trabalho com livros paradidáticos.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, SP, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação. Área de Concentração: Educação Escolar Orientadora: Prof. Dra. Tárcia Regina da Silveira Dias Linha de Pesquisa: Constituição do Sujeito no Contexto Escolar.
Comissão Julgadora:
__________________________________________________________________
Orientadora – Profª Drª. Tárcia Regina da Silveira Dias – (CUML, Ribeirão Preto)
___________________________________________________________________
1ª examinador – Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves -
________________________________________________________________
2º examinador - Alessandra David Moreira da Costa-
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Dedico este trabalho aos meus pais pelo exemplo de vida que são. À professora Tárcia, por toda dedicação e à professora Marlene, por sua ternura e bondade.
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Agradecimentos
A Deus pelo maior presente que Ele nos entregou: A Vida.
À minha mãe Rosa e meu pai Jerônimo por sempre me apoiarem em meus trabalhos.
Ao Jean pela paciência e incentivo nos momentos corridos do meu trabalho.
À professora Tárcia Regina da Silveira Dias, pela paciência e por nunca ter desistido de mim.
À professora Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves, pela inspiração de pessoa que ela é.
Á professora Natalina Aparecida Laguna Sicca, pela disciplina e auxílio na correção da
dissertação.
Á professora Maria Cristina da Silveira Galan Fernandes, pelas dicas na qualificação.
À professora Alessandra David Moreira da Costa, pelas sugestões dadas à dissertação na
defesa.
A todos os professores do Mestrado do Centro Universitário Moura Lacerda.
À Heloísa Gomes, secretária do Mestrado, por ser tão prestativa e amável sempre.
Aos amigos do Mestrado, principalmente o Jair, o Marcelo, a Carla, a Priscila, a Beldia, a
Suelena, a Letícia, a Tereza e a Thelma.
À Associação Paulista de Educação Adventista, especialmente o professor Marcos, a
professora Kênia e ao Cláudio.
À administração do Colégio Adventista de Ribeirão Preto, à professora Vilma, ao professor
Ricardo, ao professor Rafael, ao professor Eliezer, à Míria, à Rosane, à Sandra, à Janete e o
Daniel Vilegas.
À professora Ana Paula e Giovanna Doyle pela revisão da dissertação.
A todos os professores, funcionários e alunos do Colégio Adventista de Ribeirão Preto.
Aos meus eternos amigos, Sarah, Juliana, Angela, Joice, Carlão, Valéria, Jaína, Alexandre,
Tânia e Sandrinha.
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Deficiências
"Deficiente" é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras
pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
"Louco" é quem não procura ser feliz com o que possui.
"Cego" é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos
para seus míseros problemas e pequenas dores.
"Surdo" é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um
irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
"Mudo" é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da
hipocrisia.
"Paralítico" é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda.
"Diabético" é quem não consegue ser doce.
"Anão" é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois:
"Miseráveis" são todos que não conseguem falar com Deus.
Renata Vilella (1990)
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LIMA, Andréa de Sousa. Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a inclusão a partir de um trabalho com livros paradidáticos.Ribeirão Preto, SP: CUML, Ano 2009. Nº total de folhas 91. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Moura Lacerda.
Resumo
O objetivo deste trabalho foi analisar textos produzidos pelos alunos após leitura de livros
paradidáticos e identificar, a partir de textos, se há indícios da leitura dos paradidáticos na
posição assumida pelos alunos sobre as diferenças. Para isso, se fez necessário verificar como
estão sendo apresentadas as diferenças sociais nos livros paradidáticos e os efeitos de sua
leitura, refletido em respostas a perguntas correlacionadas à inclusão social e em dissertações
a respeito. O trabalho foi realizado num colégio particular confessional com 28 alunos de
Ensino Médio durante o horário de aulas de Português, ministradas pela professora-
pesquisadora. Os dados foram coletados de duas maneiras: primeiramente por um
questionário com cinco perguntas sobre os temas abordados nos livros paradidáticos, e, num
segundo momento, foi solicitada uma dissertação com o tema “Escola: um lugar de todos”. A
partir das questões foram definidas as seguintes categorias: multiculturalismo, Brasil - um
país multicultural, estereótipos, bullying e paradidáticos e as diferenças sociais. Nas
dissertações foram identificadas as categorias: A educação é para todos; Diferenças
consideradas nas dissertações; Por que a educação não é para todos; Do que depende uma
educação para todos; Importância da Educação na sociedade. Os resultados mostram que a
maioria dos alunos considera que o Brasil é um país multicultural, pois existem várias
culturas dentro de uma mesma localidade, também acreditam que uma raça não deve se
sobressair sobre a outra. Outro resultado observado é que os estereótipos são imagens
construídas por preconceitos e o bullying como atos de violências físicas e psicológicas para
agredir o outro discriminado. Alguns alunos consideram o bullying uma humilhação que
ocorre geralmente em escolas. Com base nas dissertações, concluiu-se, que os livros
paradidáticos estudados contribuem para a elaboração de um discurso favorável aos excluídos
e amenizador das diferenças sociais.
Palavras-chave: Livros paradidáticos. Inclusão escolar. Ensino médio.
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LIMA, Andréa de Sousa. Concepções de alunos de Ensino Médio sobre a inclusão a partir de um trabalho com livros paradidáticos.Ribeirão Preto, SP: CUML, Ano 2009. Nº total de folhas 91. Dissertação (Mestrado em Educação). Centro Universitário Moura Lacerda.
ABSTRACT
The objective of this work was to analyze texts produced for the pupils after literature reading
and to identify, from texts, if it has indications of the reading of the literature in the position
assumed for the pupils on the differences. For this, if it made necessary to verify as they are
being presented the social differences in literature and the effect of its reading, reflected in
answers the questions correlated to the social inclusion and in dissertation the respect. The
work was done in a private school with 28 high school students during hours of Portuguese
lessons given by the teacher-researcher. The information was collected in two ways: first of
all, with a questionnaire with 5 questions about the topic discussed in the books and a
dissertation was then requested from students on theme: “school, a place for everyone”. From
the question given the following categories were decided multiculturalism-Brazil – a
multicultural country, stereotypes, bullying and literature and social differences. Were
identified in the dissertations the following categories: the education is for everyone;
differences considered in the dissertation; because the education is not everyone; what
education for everyone is depended on; the importance of education in the society. The results
showed that most students think Brazil is a multicultural country. It was observed that the
stereotypes are images built by racial prejudice and bullying is a physical and psychological
violence to abuse the person who was being discriminated. Some students considered bullying
a humiliation that generally occurs in schools. Based on the dissertation, it is concludes, that
the literature studied contribute to the development of a speech favorable to the excluded and
ease of social differences.
Key Words: Literatures. School Inclusion. High School.
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SUMÁRIO
RESUMO...........................................................................................................................................7
ABSTRACT......................................................................................................................................8
INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10
1.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 EDUCAÇÃO INCLUSIVA................................................................................................13
1.2 MULTICULATURALISMO..............................................................................................20
1.3 LIVRO PARADIDÁTICO.................................................................................................26
OBJETIVOS DO ESTUDO......................................................................................................31
2.MÉTODO
2.1 Participantes........................................................................................................................33
2.2 Caracterizações dos Participantes.......................................................................................34
2.3 Local....................................................................................................................................35
2.4 Procedimentos de Coleta de Dados.....................................................................................35
2.5 Procedimentos de Análise de Dados...................................................................................35
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO.........................................................................................36
3.1 QUESTIONÁRIOS.............................................................................................................36
3.2 DISSERTAÇÕES...............................................................................................................55
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................73
REFERÊNCIAS........................................................................................................................77
ANEXOS
Anexo A. Perguntas sobre os temas trabalhados nos livros paradidáticos.................................86
Anexo B. Dissertação trabalhada com os alunos......................................................................87
Anexo C. Autorização...............................................................................................................92
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INTRODUÇÃO
O interesse deste estudo surgiu da experiência como professora de português na rede
particular de ensino com alunos de Ensino Médio ao ser trabalhado livros paradidáticos que
tratavam do tema inclusão social.
O convívio com esses jovens em sala de aula possibilitou identificar, em muitos deles,
um comportamento de auto-rejeição e rejeição ao seu semelhante, ou mesmo atitude de
grandeza e desvalorização de uns para com os outros.
Ao ser solicitado aos alunos que fizessem trabalho em grupo, havia certa resistência de
aceitar alguns deles. Os grupos, na maioria das vezes, eram formados por alunos que tinham
as melhores notas. Rejeitavam, também, colegas de outro sexo. Geralmente, os que não
tinham boas notas, ou que apresentavam dificuldades de aprendizagem, eram deixados de
lado ou, na melhor das hipóteses, constituíam o grupo dos que “sobraram”.
Tal comportamento dos alunos causava preocupação. Não era correto discriminarem
uns dos outros, ou que excluíssem aqueles que achavam que eram diferentes.
Então, foi necessário buscar ajuda nos livros, como uma forma de falar sobre as
diferenças de uma maneira descontraída e consciente, para que através das leituras sugeridas,
aos poucos, os alunos entendessem a importância de respeitar essas diferenças, ou em outras
palavras, não rejeitarem os colegas pelas suas especificidades.
É dever da escola diminuir as diferenças entre os alunos, tal como afirma
Carvalho(2004, p.109), “a escola é muito mais que um estabelecimento onde há algumas
pessoas ensinando para que outras aprendam, e que a inclusão educacional escolar tem
finalidades e objetivos muito mais amplos e abrangentes do que a presença física”.
Muito tem se discutido sobre educação inclusiva no Brasil, particularmente a partir de
1994 com a Declaração de Salamanca, em que se tratou de uma decisão entre as Nações
Unidas adotada em Assembléia Geral, a qual ratifica a Declaração Mundial de Educação para
Todos (BRASIL, 1994).
Toda criança tem direito a uma educação de qualidade. Ainda em Brasil, (1994):
- toda criança tem direito fundamental à educação, e deve ser dada a oportunidade de atingir manter o nível adequado de aprendizagem,
- toda criança possui características, interesses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas,
- sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades,
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- aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades,
- escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos; além disso, tais escolas provêem uma educação efetiva à maioria das crianças e aprimoram a eficiência e, em última instância, o custo da eficácia de todo o sistema educacional (p.1).
Por mais que a lei exija, as estruturas escolares ainda deixam a desejar quanto ao
processo de inclusão de todos os seus alunos. A maioria das escolas regulares ainda necessita
se reestruturar, quanto aos aspectos físicos, aos recursos humanos, aos curriculares, entre
outros.
Por isso, os movimentos de inclusão, para muitas pessoas se tornam incompreensíveis,
porque muitas crianças são apenas colocadas dentro da sala de aula. Segundo Skliar (1997):
“Incluir a educação das crianças especiais dentro da discussão educativa global não significa,
então, incluí-las fisicamente nas escolas comuns, mas hierarquizar os objetivos filosóficos e
pedagógicos da Educação [...]”. (p11)
Buscando a inclusão escolar a escola deveria se preocupar em produzir propostas
educativas dentro de uma diversidade cultural tão vasta quanto a do Brasil.
A escola precisa respeitar as diferenças. Fazer com que todos se sintam bem e tenham
prazer de estar lá. Cada estudante traz uma herança cultural do meio em que vive, por isso é
necessário o respeito ao próximo.
Cada pessoa traz uma herança cultural significativa, experiências e práticas, valores, características e formação específica para o exercício de suas funções e para o viver de sua própria existência, e isso determina a comunicação que trava no seu cotidiano, em todos os níveis e dimensões. Estamos falando de relações que se dão entre sujeitos que decidem construir contextos e processos de aproximação, de conhecimento recíproco e de interação. Relações que produzem mudanças em cada indivíduo, favorecendo a consciência de si e reforçando a própria identidade. Sobretudo, [que] promovem mudanças estruturais nas relações entre grupos. Estereótipos e preconceitos – legitimadores de relações de sujeição ou de exclusão – são questionados, e até mesmo superados, na medida em que sujeitos diferentes se reconhecem a partir de seus contextos, de suas histórias e de suas opções (FLEURI, 2001 p. 55-56).
É necessário trabalhar sistematicamente contra a exclusão dentro da escola. De fato,
incluir alunos e professores num processo educacional que respeite a todas as pessoas. Por
isso, é importante refletir sobre o significado de diversidade cultural e de diferença cultural na
educação.
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Somente com a desconstrução da exclusão, a escola será um lugar de igualdade para
todos.
No Brasil, nas últimas décadas, observa-se que já está havendo alguma mudança no
ambiente escolar no que diz respeito à diversidade cultural, porém há ainda a necessidade de
ampliar esse conceito, daí surgiu o interesse de desenvolver um trabalho que investigue, por
meio de livros paradidáticos, as possibilidades da escola ser patrocinadora da inclusão social.
Segundo a Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994), todas as crianças têm o direito
de ir à escola da sua comunidade, com acesso ao ensino regular, e que os sistemas
educacionais devem implementar programas, considerando a diversidade humana.
A partir do panorama identificado na sala de aula, ou seja, atitudes de discriminação,
surgiu a necessidade de verificar a partir de respostas questões e elaboração de dissertações
sobre as diferenças de indícios da leitura de dois livros paradidáticos “Como é duro ser
diferente” - Giselda Laporta Nicolelis (2005) e “Longe dos Olhos”- Ivan Jaf (2005) - editora
Ática com os alunos. Verificar a partir de respostas a perguntas específicas e nas produções de
textos atitudes inclusivas dos alunos.
O objetivo deste estudo consiste em analisar textos produzidos pelos alunos após a
leitura de paradidáticos e identificar, a partir dos textos, se há indícios da leitura dos
paradidáticos na posição assumida pelos alunos sobre as diferenças.
Para alcançar esses objetivos foi aplicado um questionário e uma dissertação com o
tema “Escola: um lugar de todos”, buscando responder as seguintes questões:
Os paradidáticos que se propõem a trabalhar as diferenças ajudarão os leitores a
aceitarem-na? Poderão ajudar os alunos a superarem a discriminação das diferenças dentro da
sala de aula?
O que se percebe é que a escola não está, muitas vezes, trabalhando para incluir as
pessoas com necessidades especiais, por isso faz-se necessário arrumar caminhos que possam
diminuir as diferenças entre os alunos dentro da sala de aula, e é nesse contexto que entram os
livros paradidáticos.
O trabalho foi organizado em quatro seções; a primeira seção descreve o
multiculturalismo e a educação inclusiva; e suas implicações dentro do contexto escolar; a
segunda seção relata o método de estudo, na terceira são apresentados os resultados e as
discussões, e por fim as considerações finais, demonstrando se há indícios das influências dos
livros paradidáticos na produção dos alunos.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Ao se falar em inclusão, é importante ressaltar que não se trata apenas de um
modismo, ou uma simples tendência recente na educação. Não é casualmente que surge a
educação inclusiva. Para entendê-la faz-se necessário entender suas origens históricas
(VOIVODIC, 2004).
Até o século XV as crianças deformadas eram jogadas nos esgotos da Roma Antiga,
os deficientes encontravam abrigos nas igrejas e nessa mesma época, os deficientes ganhavam
uma função: bobos da corte. Durante os séculos XVI ao XIX, os deficientes continuavam
separados do restante da sociedade, porém agora em asilos, conventos e albergues. Surge
então, na Europa, o primeiro hospital psiquiátrico, as instituições não passavam de prisões
sem qualquer tipo de tratamentos especializados ou programas educacionais. Já no século XX
os deficientes passam a serem vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na
sociedade (BENCINI, 2001).
No Brasil a educação dos deficientes começou em instituições especializadas, nas
quais ficavam separados do convívio com as pessoas consideradas normais.
A Constituição de 1824, à época do Brasil Império estabeleceu o direito à educação
para todos os brasileiros. Da mesma maneira, as Constituições brasileiras de 1934, 1937 e
1946 garantiam a todos os direitos à educação (BRASIL, 1988).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, aprovada pela Assembléia
Geral das Nações Unidas, declara o princípio da não-discriminação e proclama o direito de
toda pessoa à educação. Na década de 1950, com a influência dos Estados Unidos, começou
um movimento para a integração dos deficientes em escolas comuns. Nas décadas de 1960 e
1970, surgem programas voltados para integração escolar do deficiente mental, como
alternativa à institucionalização. No país a integração escolar, traduziu-se como colocar o
aluno com deficiência em classe especial ou sala de recursos na escola regular. Para muitos o
termo inclusão ainda se confunde com integração e, independente do grau e do tipo de
incapacidade, na classe regular, e em outro extremo, inclusão é apenas um sinônimo de
integração, considerando que o melhor é por o aluno deficiente na classe regular, desde que se
encaixe nos pré-requisitos da classe (VOIVODIC, 2004).
O atual texto constitucional (BRASIL, 1988) igualmente consagra, no Art. 205, a
educação como direito de todos e dever do Estado e da família.
No Art. 206, destacam-se princípios eminentemente democráticos, cujo sentido é
nortear a educação, tais como: a igualdade de condições não só para o acesso, como também
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para permanência na escola, a liberdade de aprender, ensinar e divulgar o pensamento;
pluralismo de idéias e concepções pedagógicas; a existência de ensino público gratuito e a
gestão democrática do ensino público (BRASIL/MEC, 1996).
Na Espanha, em 1994, aconteceu em Salamanca, a Conferência Mundial sobre
Necessidades Educativas Especiais (UNESCO, 1994), que reuniu delegados de 92 países e 25
organizações internacionais. O objetivo dessa conferência foi fortalecer a Declaração Mundial
de Educação para Todos (BRASIL, 1994), analisando as mudanças fundamentais de política
necessárias para favorecer o enfoque da educação integradora, capacitando as escolas a
atenderem a todas as crianças, acima de tudo, às que têm necessidades educativas especiais.
Também a Declaração de Salamanca, tem como princípio reconhecer as diferenças, o
atendimento às necessidades de cada um, a promoção da aprendizagem, o reconhecimento da
importância de “escola para todos” e a formação dos professores (GOFFREDO, 1991).
Recentemente a Declaração Internacional de Montreal (2004) sobre inclusão, sob a
liderança das Nações Unidas reconhece a importância de garantias adicionais de acesso para
os excluídos, e essas declarações intergovernamentais servem para formar novas parcerias
entre governos, trabalhadores e sociedade com o intuito de desenvolverem políticas e práticas
inclusivas em todos os ambientes, produtos e serviços (BRASIL/MEC, 2001).
A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra as Pessoas Portadoras de Deficiência por meio do Decreto Legislativo nº 198, de 13 de
junho de 200l (BRASIL, 2001), entrou em vigor, para o Brasil, em 14 de setembro de 2001.
Em seu Artigo I define:
1. Deficiência O termo "deficiência" significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social. 2. Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência a) o termo "discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência" significa toda diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais. b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a declaração de interdição, quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar, esta não constituirá discriminação (BRASIL/MEC, 2001).
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No Artigo II, afirma que esta convenção tem como objetivo prevenir e extinguir todas
as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência e proporcionar sua
total integração à sociedade (BRASIL/MEC, 2001).
Já os Artigos III e IV desta convenção enumeram as ações que os Estados Partes se
comprometem a tomar para realizar o objetivo do acordo. O conjunto de Artigos desta
convenção apresenta medidas práticas, tendo como base a eliminação de toda e qualquer
forma de discriminação (BRASIL/MEC, 2001).
Apesar das leis em debate, ainda há uma forte resistência para transformar o ensino
regular em um ambiente mais inclusivo, mais justo e de direito a todos, sem exceção.
Para muitos bastam colocar os alunos na escola e deixá-los à sua própria sorte. Muitos
ainda acham que integração é o mesmo que inclusão. Que os alunos, uma vez colocados, já
fazem parte total do contexto escolar.
Faz-se necessário distinguir os termos integração e inclusão. Na integração, a pessoa
com necessidades educacionais especiais tem que se adaptar ao sistema escolar para fazer
parte dele, já na inclusão estimula-se a autonomia das pessoas com necessidades educacionais
especiais, a escola cria meios de incluir individualmente essas crianças, valorizando sua
diversidade (VOIVODIC, 2004).
No Quadro de Sánchez (2005), aparecem as principais diferenças entre integração e
inclusão:
Quadro 1- Relações entre Integração e Inclusão
INTEGRAÇÃO INCLUSÃO Competição Cooperação/solidariedade Seleção Respeito às diferenças Individualidade Comunidade Preconceitos Valorização das diferenças Visão individualizada Melhora para todos Modelo técnico-racional Pesquisa reflexiva
A integração promove uma competição entre as pessoas, já a inclusão busca que eles
cooperem um com o outro, promovendo a solidariedade. A integração seleciona os melhores,
a inclusão respeita as diferenças entre as pessoas. Na integração a individualidade prevalece,
sendo que na inclusão a comunidade deve prevalecer. O preconceito está presente na
integração, mas as diferenças são valorizadas pela inclusão.
Para Werneck (2001), a integração propunha às pessoas deficientes estarem juntas às
pessoas comuns, não havia a necessidade de mudar ambientes, estruturas e relacionamentos
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que já existiam. A integração sugere que as pessoas estejam juntas, mas não busca uma
reforma dentro da escola.
O processo de inclusão não se refere apenas às crianças com algum tipo de deficiência,
mas a todas que sofrem qualquer tipo de discriminação, quer por sua etnia ou classe social.
Todos devem ter a oportunidade de estar na escola e participarem das atividades escolares. É
tarefa da inclusão promover a diversidade humana e as diferenças individuais para contribuir
na formação da cidadania. Pode-se dizer que incluir significa fazer parte da comunidade da
escola, ser tratado como igual, remover as barreiras do preconceito (SÁNCHEZ, 2005).
É dever da educação inclusiva atender a todos os alunos, fazendo com que eles atinjam
o máximo de seu potencial sendo capazes de terem um bom andamento do processo ensino-
aprendizagem.
Muitas pessoas têm o conceito equivocado do que é inclusão. Inclusão não é colocar
as crianças em uma escola comum sem o auxílio de um professor especializado, não é
desconsiderar as necessidades específicas das crianças, não é fazer com que todas as crianças
sigam o mesmo caminho para a aprendizagem e também não é esperar que o professor ensine
as crianças portadoras de alguma deficiência sem qualquer tipo de suporte técnico. A inclusão
deve proporcionar o aprendizado de todas as crianças nas classes comuns, embora os
objetivos e os processos sejam diferentes (MRECH, 2004).
O ideal da educação inclusiva é oferecer a todos uma escola de qualidade, sem limites
que estabeleçam a capacidade de aprendizado das pessoas, sejam elas portadoras de
deficiência ou não (CARVALHO, 2004).
A escola deve ser vista como um espaço onde pode receber todas as diferenças. Faz-se
necessário buscar no diferente a troca de aprendizado, reconhecer a igualdade de aprender
como ponto de partida e as diferenças no aprendizado como processo e ponto de chegada
(MANTOAN, 2006).
De acordo com Freitas (2006),
Há, na educação inclusiva, a introdução de outro olhar. Uma maneira nova de se ver, ver os outros e ver a Educação. Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada com base no entendimento de que é ela que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. Assim sendo, inclusão significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania (p.167).
É necessário que todos participem ativamente do processo de inclusão para se
desenvolverem e exercerem sua cidadania.
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O principal ponto da educação inclusiva é que todas as pessoas podem aprender e se
beneficiar das metodologias da inclusão. A escola é um lugar de aprendizagem para todos, por
isso, não se pode criar currículos e programas que proporcionem uma educação que privilegia
apenas uma parcela da sociedade. Por isso, faz-se necessário haver currículos e programas que
proporcionem uma educação de qualidade para todos. Para tanto, deve ser dado, aos
educadores, os instrumentos necessários para que eles possam ver a todos os seus alunos,
incluindo aos com deficiência, com um potencial ilimitado de aprender (BARBOSA, 1999).
Para Mantoan (2006, p. 186), a representação dessa escola inclusiva:
Mostra-se útil aos que ainda não compreenderam o que é primordial na escola: a
experiência com as diferenças, mas sem exclusões, diferenciações, restrições de
qualquer natureza e sempre as reconhecendo e valorizando-as como essenciais à
construção identitária.
Cabe a educação inclusiva defender simultaneamente a igualdade e as diferenças, a
igualdade se refere aos direitos que cada cidadão tem e as diferenças se referem à
singularidade de cada ser humano. Ninguém é melhor que ninguém. Cada ser humano é
único, por isso a sociedade deve ser modificada para acolher e respeitar as diferenças
(SASSAKI, 2007).
Faz-se necessário agilizar a busca de conhecimento sobre os portadores de
necessidades especiais e, realizar, na comunidade adaptações que forem necessárias para que
todos possam delas ter a oportunidade de participar (ARANHA, 2000a).
Num estudo realizado por Aranha (2000b) em um município do Estado de São Paulo,
os professores da rede municipal de ensino, que optaram por um sistema educacional de
ensino inclusivo, depois de um ano de experiência, referindo-se especificamente ao segmento
de alunos que apresentavam necessidades educacionais especiais relataram alguns aspectos
positivos observados: solidariedade dos demais alunos; boa integração social; socialização
rápida; o aluno com necessidades especiais aprende mais rapidamente o conviver em grupo;
empenho de parte dos professores; valorização de todos os envolvidos no processo; os alunos
com necessidades educacionais especiais passam a ser mais respeitados e acolhidos pelos
demais alunos. As maiores dificuldades desses alunos eram: carência de recursos técnico-
pedagógicos especializados; espaço físico inadequado; falta de preparo técnico do professor
para ensinar na diversidade; carência de suporte técnico; agressividade do aluno com
necessidades especiais; dificuldade para avaliar sua aprendizagem; número alto de crianças
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em sala de aula; dificuldade de comunicação com o aluno surdo; reclamação inicial dos pais.
Foi sugerido pelos professores aos órgãos gestores que assumissem afirmativamente as
decisões político-administrativas tomadas, e providenciassem as ações técnico-científicas
necessárias, tais como: ações de formação continuada do professor; suporte teórico e técnico
ao professor; diminuição do número de alunos por sala para 25, com um máximo de 2 alunos
que apresentam necessidades educacionais especiais; adaptação física do ambiente escolar;
conscientização e envolvimento de todos os segmentos da comunidade escolar; orientação
sobre o processo de avaliação; criação de uma equipe técnica de apoio itinerante.
Segundo Carvalho (2004), dentre os vários fatores que devem ser considerados para
que alcancemos a inclusão nas escolas, destacam-se:
- as condições sociais de nosso país e que têm acarretado a desvalorização do magistério fazendo com que, muitas vezes, as escolas funcionem com espaços de abrigar e de cuidar dos alunos em vez de serem espaços para a construção do conhecimento e de exercício de cidadania; - as condições materiais em que trabalham nossos professores; - sua formação inicial e continuada; - as condições requeridas para que a aprendizagem se efetue em “clima” prazeroso e criativo [...] (p.37).
O processo de inclusão vai além da inserção de alunos com necessidades educacionais
especiais no seio das instituições de ensino comum. A inclusão implica em um movimento
mais profundo, não apenas em conteúdos e métodos de ensino, mas também, os afetos, a
visão do mundo e de homem, dos sujeitos que interagem nesse espaço (DUEK, 2007).
Para isso acontecer o contexto da educação inclusiva deve estar baseado na
flexibilidade. É a escola que se deve adequar aos seus ciclos, ao ritmo de aprendizagem, a seu
currículo e as estratégias de ensino em relação aos alunos com necessidades de educação
especial e não o contrário, como se é visto muitas vezes (BITAR, 2006).
Segundo Duek (2007), só será possível a inclusão dos alunos com necessidades
educacionais especiais se houver um compromisso de cada um para oferecer uma educação de
qualidade para todos os alunos, não obstante suas peculiaridades.
A educação inclusiva não deve ficar restrita ao espaço físico da escola. É necessário
melhorar as respostas educativas que hoje são oferecidas.
Para Carvalho (2004 p. 113), as funções das escolas inclusivas são:
• Desenvolver culturas, políticas e práticas inclusivas, marcadas pela responsividade e acolhimento que oferece a todos os que participam do processo educacional escolar;
19
• Promover todas as condições que permitam responder às necessidades educacionais especiais para a aprendizagem de todos os alunos de sua comunidade;
• Criar espaços dialógicos entre os professores para que, semanalmente, possam reunir-se como grupos de estudo e de troca de experiências;
• Criar vínculos mais estreitos com as famílias, levando-as a participarem dos processos decisórios em relação à instituição e a seus filhos e filhas;
• Estabelecer parcerias com a comunidade sem intenção de usufruir de benefícios apenas e sim para conquistar a cumplicidade de seus membros, em relação às finalidades e objetivos educativos;
• Acolher todos os alunos, oferecendo-lhes as condições de aprender e participar; • Operacionalizar os quatro pilares estabelecidos pela UNESCO para educação deste
milênio: aprender a aprender, prender a fazer, aprender a viver junto e aprender a ser, tendo em conta que o verbo é aprender;
• Respeitar as diferenças individuais e o multiculturalismo entendendo que a diversidade é uma riqueza e que o aluno é o melhor recurso de que o professor dispõe em qualquer cenário de aprendizagem;
• Valorizar o trabalho educacional escolar, na diversidade; • Buscar todos os recursos humanos, materiais e financeiros para a melhoria da
reposta educativa da escola; • Desenvolver estudos e pesquisas que permitam ressignificar as práticas
desenvolvidas em busca de adequá-las ao mundo em que vivemos.
Os itens acima não se tratam de uma receita, mas de considerações a serem analisadas
por todos os educadores que querem contribuir para a felicidade dos educadores, alunos e a de
seus familiares (CARVALHO, 2004).
Em relação a essas funções, atividades que possam criar condições para atitudes
menos discriminatórias podem auxiliar a criar espaços entre professores que promovam
estudos e trocas de experiências em relação aos seus alunos, criar condições de todos os
alunos aprenderem e participarem em sala de aula, e respeitar as diferenças individuais e
utilizar a diversidade como uma riqueza no trabalho educacional escolar.
E é nesse sentido que o trabalho realizado pela pesquisadora em sala de aula visou
proporcionar uma melhor condição dos alunos familiarizarem-se com a inclusão por meio dos
livros paradidáticos e verificar a partir de suas respostas e de seus textos, indícios sobre a
leitura dos mesmos.
O capítulo a seguir trata sobre o multiculturalismo e suas concepções.
20
MULTICULTURALISMO
As sociedades são heterogêneas, compostas por diferentes grupos humanos, interesses
contrapostos, classes e identidades culturais em conflito. Vive-se numa sociedade nas quais os
diferentes estão quase que permanentemente em contato. Os diferentes são obrigados ao
encontro e à convivência. E são assim também as escolas.
Cada vez mais o multiculturalismo vem adquirindo maior abrangência, visibilidade e
conflitividade, no âmbito internacional e local, o que tem preocupado muitas sociedades. Na
América Latina e, particularmente no Brasil, há uma base multicultural muito forte trazida de
grupos indígenas e afro-descendentes. A história desses grupos no país foi marcada por sua
eliminação física ou por sua escravidão, mesmo assim, eles lutaram e continuam resistindo até
hoje firmando suas identidades na sociedade, “mas numa situação de relações de poder
assimétricas, de subordinação e acentuada exclusão” (CANDAU, 2002 p. 126).
No geral, a palavra multiculturalismo tem uma conotação positiva, pois se refere à
diversidade cultural, diferentes pontos de vistas, visões, atitudes, que são provenientes de
diferentes bagagens culturais. O termo é usado como etiqueta aos intelectuais, como base para
o respeito à diversidade e rejeição a todo tipo de preconceito ou hierarquia (FERNÁNDEZ,
1999).
O multiculturalismo ensina que reconhecer a diferença é reconhecer que há pessoas e
grupos que são diferentes entre si, que numa sociedade democrática é composta de uma
totalidade social heterogênea, na qual não deveria haver exclusão de nenhum elemento da
totalidade, e, portanto, toda diferença deveria ser respeitada.
Segundo Gonçalves e Silva (2000), o multiculturalismo é entendido como um
movimento de idéias que resulta de um tipo de consciência coletiva, para a qual as orientações
do agir humano se oporiam a toda forma de ‘centrismos’ culturais, ou seja, de etnocentrismos.
Em outros termos, seu ponto de partida é a pluralidade de experiências culturais, que moldam
as interações sociais por inteiro (p.14).
De acordo com Stuart Hall (2003), há pelo menos seis concepções diferentes de
multiculturalismo na atualidade:
1. Multiculturalismo conservador: os dominantes buscam assimilar as minorias diferentes às tradições e costumes da maioria; 2. Multiculturalismo liberal: os diferentes devem ser integrados como iguais na sociedade dominante. A cidadania deve ser universal e igualitária, mas no domínio privado os diferentes podem adotar suas práticas culturais específicas;
21
3. Multiculturalismo pluralista: os diferentes grupos devem viver separadamente, dentro de uma ordem política federativa; 4. Multiculturalismo comercial: a diferença entre os indivíduos e grupos deve ser resolvida nas relações de mercado e no consumo privado, sem que sejam questionadas as desigualdades de poder e riqueza; 5. Multiculturalismo corporativo (público ou privado): a diferença deve ser administrada, de modo a que os interesses culturais e econômicos das minorias subalternas não incomodem os interesses dos dominantes; 6. Multiculturalismo crítico: questiona a origem das diferenças, criticando a exclusão social, a exclusão política, as formas de privilégio e de hierarquia existentes nas sociedades contemporâneas. Apóia os movimentos de resistência e de rebelião dos dominados.
McLarem (2000), em seu livro Multiculturalismo Crítico, distingue quatro formas de
multiculturalismo: o conservador ou empresarial, o humanista liberal, o liberal de esquerda e
o multiculturalismo crítico e de resistência. Faz-se necessário explicar melhor as diferenças
entre eles.
No multiculturalismo conservador ou empresarial, ou autor se refere às visões
coloniais nas quais as pessoas afro-americanas são exemplificadas como escravos e escravas,
como serviçais e como aqueles que divertem os outros. Para o autor, essas visões estiveram
fundamentadas nas atitudes profundamente auto-elogiosas, auto-justificatórias e
profundamente imperialistas dos europeus e norte-americanos.
Segundo McLarem (2000),
Tal postura retrata a África como um continente selvagem e bárbaro ocupado pelas mais inferiores das criaturas que eram privadas das graças salvadoras da civilização ocidental. Ela também pode ser localizada nas teorias evolucionistas que apoiaram a política de destino manifesto dos Estados Unidos, a generosidade imperial e o imperialismo cristão (p.111).
Para o autor o multiculturalismo conservador deve ser recusado porque se nega a tratar
a branquidade como uma forma de etnicidade e, justamente por isso, situa a branquidade
como uma regra invisível através da qual outras etnicidades são julgadas. Os
multiculturalistas conservadores “disfarçam falsamente a igualdade cognitiva de todas as
raças e acusam as minorias malsucedidas de terem bagagens culturais inferiores” (p. 113). O
multiculturalismo conservador é totalmente monodiomático, isto é, acredita que a língua
majoritária de um país deveria ser a única língua oficial. O multiculturalismo conservador não
questiona o conhecimento elitizado, valorizado pela classe média; não questiona os regimes
dominantes de discurso e práticas culturais e sociais. Por fim, o autor destaca que o
multiculturalismo conservador deseja que todo grupo étnico desnude-se de sua própria cultura
para fazer parte das ideologias neocolonialistas e de suas práticas econômicas e sociais.
22
McLarem ainda neste mesmo livro argumenta que o multiculturalismo conservador concebe
que existe uma igualdade natural entre as pessoas brancas, afro-americanas, latinas, asiáticas e
outras populações raciais. Esta igualdade permite a competição igual entre as raças em uma
sociedade capitalista.
No multiculturalismo humanista liberal, a igualdade está ausente, devido as chances
sociais e educacionais não existirem para possibilitar a todos competir igualmente no mercado
capitalista. Diferente das concepções conservadoras, numa outra atitude multicultural, crê que
as restrições econômicas e socioculturais que existem possam ser mudadas e renovadas com o
objetivo de se alcançar uma igualdade relativa. A conseqüência direta desta visão, para o
autor, é um humanismo etnocêntrico e opressivamente universalista.
Outro tipo de multiculturalismo tratado por McLarem é o liberal de esquerda que
destaca a diferença cultural e sugere que a ênfase na igualdade das raças sufoca aquelas
diferenças culturais importantes entre elas, as que são responsáveis por comportamentos,
valores, atitudes, estilos cognitivos e práticas sociais diferentes.
Para Mclarem, “O multiculturalismo liberal de esquerda trata a diferença como uma
´essência` que existe independentemente de história, cultura e poder. Na maioria das vezes
solicita documentos de identidade antes de iniciar o diálogo” (p120). Segundo o autor, as
experiências vividas por uma pessoa, sua raça, sua classe, seu gênero e a sua história, são
importantes na formação de sua identidade política, porém há o perigo desta corrente
multicultural gerar o que ele considera como populismo elitista construído na medida em que,
por exemplo, professores de bairros pobres das grandes cidades, articuladores de sindicatos ou
aqueles engajados em políticas ativistas, estabeleçam a diferença de voz baseado na história
pessoal, classe, raça, gênero e experiência.
O último tipo de multiculturalismo que McLarem trata é o multiculturalismo crítico e
de resistência no qual, diferente dos demais, apresenta uma agenda política de transformação
social. Para McLarem:
Eu acredito que pelo fato de estarem imersas no discurso da “reforma”, as posições humanistas liberal e liberal de esquerda sobre o multiculturalismo não conseguem avançar em um projeto de transformação social. Considerando isto, estou desenvolvendo a idéia de multiculturalismo crítico. [...] A perspectiva que estou chamando de multiculturalismo crítico compreende a representação de raça, classe e gênero como resultado de lutas sociais mais amplas sobre signos e significações e, neste sentido, enfatiza não apenas o jogo textual e o deslocamento metafórico como forma de resistência (como no caso do multiculturalismo liberal de esquerda), mas enfatiza a tarefa central de transformar as relações sociais, culturais e institucionais nas quais os significados são gerados (p.122, 123).
23
Para Maclarem o multiculturalismo de resistência se recusa a ver a cultura como não-
conflitiva, harmoniosa e consensual, a partir dessa perspectiva a democracia é tida como
tensa. No multiculturalismo de resistência a diversidade é afirmada dentro de uma política
crítica, onde a diferença é sempre um produto da história, cultura, poder e ideologia. “O
multiculturalismo crítico questiona a construção da diferença e identidade em relação a uma
política radical” (p. 124).
Segundo MacLarem, “o multiculturalismo crítico e de resistência não concorda com
aqueles/as multiculturalistas liberais de esquerda que argumentam que a diferença necessita
apenas ser interrogada como uma forma de retórica [...]” (p.133).
MacLarem defende que os educadores e trabalhadores culturais devem intervir
criticamente nas relações de poder que patrocinam a diferença.
O multiculturalismo que serve como base do trabalho aqui apresentado é o
multiculturalismo crítico.
O multiculturalismo crítico toma como modelo a política cultural da diferença, rejeita
toda e qualquer forma de preconceito, está baseado no total respeito do outro, de suas
diferenças, permitindo assim, uma aproximação e não um afastamento do outro, através do
interesse, da escuta, do diálogo, da empatia por formas alternativas de vida, sempre levando
em conta o envolvimento com a diferença como requisito essencial a vida democrática na
globalização pós - moderna (SIQUEIRA, 2003).
Na perspectiva social o multiculturalismo em relação ao gênero, a família e a escola se
mostram preocupados em marcar as diferenças entre os meninos e meninas, entre os homens e
as mulheres. Tais marcas se apresentam nos corpos, através de ornamentos obrigatoriamente
femininos ou masculinos e do comportamento social de cada indivíduo. Portanto, todas as
instituições sociais e culturais fundamentam as identidades na feminilidade ou na
masculinidade através de símbolos que assinalam os gêneros e interferem no processo de
construção das identidades (ABRAMOWICZ, 2006).
Por isso, os ideais multiculturalistas, discutem e buscam resolver os problemas
gerados pela heterogeneidade cultural, política, religiosa, étnica, racial, comportamental,
econômica, tão necessário para o convívio entre as pessoas (ABRAMOWICZ, 2006).
É trabalho da escola estimular o aluno a ter contato com os mais diferentes grupos
sociais. É necessário salientar quão importante é para a escola educar na diversidade,
respeitando a identidade de cada um, aceitar e respeitar as diferenças a partir da igualdade
entre os seres humanos (FERRE, 2001).
24
A escola é marcada por pessoas que diferem por sua singularidade: características
físicas, cognitivas, sexuais. A escola é um espaço eminentemente da diferença, da
diversidade, e também de encontros, embates, conflitos, possibilidades... É um espaço do
múltiplo, onde todos devem ter a oportunidade de se desenvolver (TRINDADE, 1999).
Ao observar as relações dentro da escola, questiona-se até que ponto ela se propõe a
ser um espaço que preserva a diversidade cultural, responsável pela promoção da eqüidade. A
escola, como uma instituição que é, precisa proporcionar mecanismos que devam possibilitar
um aprendizado mais sistematizado favorecendo a ascensão profissional e pessoal de todos os
que usufruem os seus serviços (TRINDADE e SANTOS, 1999).
Muitas vezes, a exclusão poderá ser manifestada pelo discurso do outro, e parece
tomar forma a partir da observação do cotidiano escolar. Este poderá ser uma via de
disseminação do preconceito por meio da linguagem, na qual estão contidos termos
pejorativos que em geral desvalorizam a imagem do outro (TRINDADE e SANTOS, 1999).
Cabe à escola a responsabilidade do processo de socialização infantil ao qual se
estabelecem relações com pessoas de diferentes etnias. Esse contato diversificado fará da
escola o primeiro espaço de vivência das tensões raciais. A relação estabelecida entre pessoas
brancas e negras numa sala de aula pode acontecer de maneira dificultosa, ou seja,
segregando, excluindo, possibilitando que o negro adote em alguns momentos uma postura
tímida, por medo de ser rejeitado ou ridicularizado pelo seu grupo social. O discurso do
opressor pode ser incorporado por alguns membros do grupo minoritário, de modo cruel,
iniciando o processo de desvalorização de seus atributos individuais, que interferem na
construção da sua identidade (TRINDADE e SANTOS, 1999).
É responsabilidade da escola diminuir essas diferenças sociais. Promover espaços para
as crianças de outras raças, permitir que haja oportunidade de todos conviverem com
igualdade (SILVA, 1998).
Os movimentos sociais proporcionaram um novo caminho para que se possa
compreender e buscar novas possibilidades pedagógicas que permitam atuar numa perspectiva
de respeito à rica diversidade cultural. Entretanto, há ainda muita resistência quando a
diversidade cultural tende a ser incorporada dentro das organizações educacionais.
Tomando como base o multiculturalismo crítico, é necessário lembrar que a educação
inclusiva impõe um debate sobre a sociedade contemporânea e do papel da escola na
superação da lógica da exclusão, como indicada em Brasil (2007), Isto é:
25
A partir das referências para a construção de sistemas educacionais inclusivos, a organização de escolas e classes especiais passa a ser repensada, implicando uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas (p. 1).
O movimento de inclusão traz no seu bojo uma proposta de mudança social refletida
na reorganização da escola.
Para entender melhor sobre a inclusão nos livros paradidáticos foi necessário discorrer
sobre o que são livros didáticos e paradidáticos.
26
Livros paradidáticos
Os livros paradidáticos podem ser essencialmente úteis, compostos de informações
objetivas, que têm como função transmitir conhecimentos. Em geral, abordam assuntos
paralelos ligados às matérias do currículo regular, de forma a complementar aos livros
didáticos. O livro paradidático tem o intuito de passar algum tipo de lição objetiva e
esclarecedora ao leitor (AZEVEDO, 2001).
Os livros paradidáticos são utilizados para discutir temas transversais, dentre outros.
Além de desenvolverem o hábito de leitura também proporcionam um diálogo sobre vários
assuntos, como ética, consumo, trabalho, pluralidade cultural, saúde, enfim, uma grande
possibilidade de discussões que poderão ser trabalhadas a partir das obras selecionadas.
Também os livros paradidáticos podem tratar sobre assuntos ligados às matérias do currículo
regular, de forma a complementar os livros didáticos.
Segundo Munakata (1997), paradidático é um termo tipicamente brasileiro. Para esse
pesquisador, não existe a utilização desse termo em outros países, apesar da existência de
livros com características e usos semelhantes, que inclusive motivaram a publicação de livros
paradidáticos de Matemática parecidos aqui no Brasil.
Quando um livro é bem escrito, paradidático ou não, poderá ser bastante encantador.
Sobre a forma de recepção dos leitores e seu envolvimento com os livros, Bragatto Filho
(1995, p.14) enfatiza que:
[...] ao se identificarem com o texto, entregando-se ao mesmo, ou ao discordarem dele, propondo novas e diferentes leituras, elegem infinitas possibilidades de funções ao texto literário: com ele, aprende-se, reflete-se, compara-se, discerne-se, questiona-se, investiga-se, imagina-se, viaja-se, emociona-se, diverte-se, amadurece-se, transforma-se, vive-se, desenvolve-se a sensibilidade estética e a expressão lingüística, adquire-se cultura, contata-se com as mais diferentes visões de mundo, etc.
A editora Ática se tornou a pioneira em livros paradidáticos, lançando ainda na década
de 70 as séries Bom Livro, Vagalume e Para Gostar de Ler (MUNAKATA, 1997).
No início, os livros paradidáticos não conseguiram atender a todas as áreas e
disciplinas escolares, eram restritos a conteúdos de Português e História.
O termo paradidático, segundo Ramos (1987), mostra a ausência de referencial teórico
e bibliográfico sobre o tema que possa auxiliar na elaboração de um conceito mais preciso.
27
Porém, como precisava de parâmetros que a orientassem em algumas questões de pesquisa,
procurou defini-lo provisoriamente, apresentando a seguinte concepção de paradidático:
Considerava paradidáticas obras de literatura (infantil, juvenil ou sem adjetivos) de custo mais barato que a dos livros usuais que, a meu ver, deveriam ser utilizadas livremente na escola como leitura subsidiária, acompanhadas ou não de material auxiliar, contendo propostas de trabalho com o texto, orientadas para uma leitura lúdica e prazerosa, que possibilitasse a instauração de um rico e efetivo diálogo do leitor com seu texto, desvinculada de compromissos, obrigações e tarefas escolares (p. 6-7).
Para a autora as obras da literatura infantil, juvenil ou clássica como livros indicados
para leitura extra-classe, não são usados como propostas de ensinar um determinado
conteúdo, mas com a finalidade de proporcionar uma leitura.
O termo paradidático é usado como leitura extra-classe, ou seja, o livro é indicado pelo
professor para que o aluno possa lê-lo em casa, como define Ramos (1987) na citação abaixo:
Para estimular a leitura de seus alunos, muitos professores indicam os chamados livros paradidáticos, para que estes possam servir de auxílio à compreensão, interpretação e produção de texto. A intenção dos professores, porém, encontra empecilhos na própria abordagem que se dá aos paradidáticos, pois esses livros – geralmente narrativas sugeridas pelas editoras de acordo com a faixa etária – são lidos em casa e avaliados em sala [....] (p. 11).
Também Ramos (1987), refere-se ao termo paradidático àquele livro escrito por um
autor moderno que trata questões contemporâneas, em contraposição aos autores clássicos da
literatura, como consta nas citações abaixo:
[...] apenas os professores [...] selecionam os títulos, geralmente os considerados de autores clássicos ou livros classificados como “infanto-juvenil” pelos catálogos [...] Já os recém-lançados paradidáticos contêm enredos mais emocionantes, com suspense, aventura e mistério, bem ao gosto do público adolescente, porém as histórias repetem a mesma temática e são carregadas de lugares-comuns e moralismo do tipo “Quem espera sempre alcança” ou “O bem triunfa sobre o mal”. A escolha acaba ficando, portanto, entre a obra literária consagrada, considerada enfadonha pelos adolescentes, ou o paradidático, que interessa pela semelhança com a comunicação de massa representada pelos quadrinhos e novelas, de grande apelo popular [...] (p. 45).
28
Para Zamboni (1991), os livros paradidáticos são mercadorias de consumo
massivo e imediato e o que os caracteriza é a inovação na forma e não no conteúdo. De
acordo com a autora:
Para os editores, são consideradas paradidáticas as publicações que têm como objetivo subsidiar o trabalho pedagógico. Consideramos como didática toda produção usada pelo professor na sua atividade docente. A diferença que se observa entre o chamado livro didático e o paradidático é uma questão de forma e não de conteúdo (p. 11).
Para a autora, a diferença entre livro didático e paradidático é apenas uma questão de
forma e não de conteúdo. E o livro paradidático também tem como finalidade auxiliar o
professor no seu trabalho pedagógico.
No sentido geral, conclui-se que o livro paradidático é qualquer livro que se usa como
apoio didático em sala de aula.
Segundo Lima (2009), em seu artigo Introdução aos Paradidáticos, o autor esclarece as
principais finalidades da leitura de paradidáticos: acentuar o gosto pela leitura; desenvolver a
imaginação; favorecer o debate em diferentes pontos de vista; contextualizar interesses sociais
e contribuir para o desenvolvimento de si e do outro.
Neste mesmo artigo, o autor diz que ao se optar pela escolha do paradidático, o
professor deve levar em conta a realidade de sua sala de aula; a faixa etária de seus alunos, a
linguagem, a quantidade de páginas e o objetivo que se pretende alcançar com a leitura do
livro sugerido.
Quanto ao uso de paradidáticos para superar discriminações, Escanfella (2007), em
seu artigo Relações raciais na literatura infantil: uma construção de palavras e imagens,
comparou 30 livros de literatura infantil, no período de 1976 a 2000, tendo como objetivo
compreender como o setor editorial tem representado a questão étnica/ racial. Os resultados
de sua pesquisa ressaltam que a manutenção da assimetria na representação racial na produção
literária para crianças continua pouco expressivo, e o número de personagens negros no texto
e nas ilustrações continuam com sua representação estereotipada.
Foram feitos estudos também com o livro didático para investigar as relações étnicas.
Segundo Silva (2004), muitos livros didáticos expõem de maneira inferior e desumana
os negros. As expressões dos negros são descaracterizadas ou associadas a imagens de
animais. Como exemplo a autora cita a personagem Tia Nastácia, de Monteiro Lobato, que
desenhada de perfil tem os mesmos traços do Marquês de Rabicó, também personagem desse
29
autor, que é um porco. Ao associar um porco à figura do negro, sugere que ele também é sujo
e gosta de conviver com a sujeira.
Nesse mesmo livro a autora descreve que o negro é ilustrado e descrito de forma
desumanizada, exerce funções e papéis inferiores na sociedade; é ilustrado como mendigo,
favelado, serviçal, as negras como cozinheiras e domésticas e a criança negra é a filha da
empregada que executa os mesmos trabalhos de sua mãe.
Essa representação estereotipada do negro como escravo nega-lhe o direito de cidadão
após a abolição, fazendo com que se abafe toda a luta pelos seus direitos. Quando o livro
didático omite a variedade de papéis que os negros podem exercer irão criar uma imagem
preconceituosa do negro, visto muitas vezes apenas como serviçais e marginais (SILVA,
2004).
Os livros didáticos podem ser prejudiciais, pois refletem uma concepção irreal da
sociedade brasileira, muitas vezes é carregado de preconceitos, o macho branco ocupa o
centro, o negro e o índio sempre em posição secundária em relação a ele. É importante alterar
essa concepção de nação, a sociedade evoluiu, por isso é necessário mudar o livro didático
que é um simples veiculador. A mudança não é algo fácil, mas é possível (SANTOS, 1987).
Cabe ao professor mediar os estereótipos passados nos livros didáticos, saber usar os
livros como instrumento crítico, desfazendo a imagem que seus alunos têm de classe
dominante. É necessário que o professor seja “um agente desmistificador das ideologias que a
escola veicula, bem como de um ensino que evidencie os vários processos civilizatórios e
culturais existentes” (SILVA, 2004 p.75).
As leis brasileiras estão de sobreaviso à exposição de negros e indígenas nos materiais
didáticos. O assunto está sendo tratado de acordo com as principais tendências do movimento
negro, sob dois aspectos “a proibição do racismo em livros e outros materiais didáticos, a
exortação à inclusão dos aportes de negros, inclusive da África contemporânea, e indígenas na
história e construção do país” (ROSEMBERG, BASILLI e SILVA, 2003).
Em estudo feito com paradidáticos também se constatou estereótipos negativos em
relação à figura dos negros, isso também aconteceu nos livros da literatura brasileira.
Nos livros de Monteiro Lobato, o personagem saci, uma criança negra, de uma perna
só, é associado a seres sobrenaturais, que sempre pratica más ações. Também no livro de
literatura O Cortiço, de Aloizio de Azevedo, é revelado em sua obra a crueldade e a
discriminação que os negros sofriam na sociedade do século XIX (SILVA, 2004).
No presente estudo, trabalhou-se os livros paradidáticos “Como é duro ser diferente”,
da autora Giselda Laporta Nicolelis, que mostra muitos preconceitos que os negros ainda
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sofrem na família e na escola, e o livro “Longe dos Olhos”, do autor Ivan Jaf, que em seu
livro narra a história de um personagem negro que passa por muitos conflitos e preconceitos
pela sua cor. Ambos os livros procuraram conduzir o leitor a uma posição de superar as
atitudes discriminatórias.
Para o estudo realizado utilizou-se a definição de (AZEVEDO, 2001) que os livros
paradidáticos podem ser úteis, com informações objetivas, ter como função transmitir
conhecimentos e também tem o intuito de passar algum tipo de lição objetiva e esclarecedora
ao leitor.
A seguir serão apresentados os objetivos deste estudo.
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OBJETIVOS DO ESTUDO
1- OBJETIVO GERAL
O objetivo deste estudo consiste em verificar a produção de textos de alunos do Ensino
Médio a partir da leitura de livros paradidáticos.
2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para esclarecer o objetivo geral, definiram-se os objetivos específicos que são:
- Analisar textos produzidos pelos alunos após a leitura de paradidáticos;
- Identificar, a partir dos textos, se há indícios da leitura dos paradidáticos na posição
assumida pelos alunos sobre as diferenças.
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MÉTODO
O tipo de pesquisa utilizada é qualitativa, de campo e participante.
Na pesquisa qualitativa o pesquisador se introduz no campo de pesquisa para estudar o
seu contexto, acredita que suas ações serão melhores entendidas no contexto históricos do
local em que ele está pesquisando (BOGDAN e BIKLEN, 1994).
Os dados da pesquisa qualitativa são em forma de palavras ou imagens. A palavra
escrita possui grande importância na análise qualitativa. (BOGDAN e BIKLEN, 1994).
De acordo com (BOGDAN e BIKLEN, 1994),
A abordagem qualitativa, aplicada pedagogicamente, não constitui nem uma técnica terapêutica nem uma técnica de relações humanas. É, sim, um método de investigação que procura descrever e analisar experiências complexas. Partilha semelhanças com os métodos de reações humanas na medida em que, como parte do processo de recolha dos dados, devemos escutar corretamente, colocar questões pertinentes e observar detalhes (BOGDAN e BIKLEN, 1994).
A pesquisa de campo está relacionada à observação direta das atividades do grupo
estudado e de entrevistas com informantes para colher suas explicações e interpretações
relacionadas ao grupo. No geral, esses procedimentos podem estar juntos a vários outros,
assim como análise de documentos, filmagens e fotografias (GIL, 1996).
Na pesquisa participante, o trabalho é realizado em sua maioria pessoalmente pelo
pesquisador, fazendo com que ele mesmo tenha uma experiência diretamente ligada à situação
de estudo (GIL, 1996).
Para o atual estudo foram solicitados dois livros para os alunos lerem. O primeiro,
“Longe dos Olhos”, de Ivan Jaf, editora Ática, que conta a história de Oto, um estudante do
curso de Letras, negro, inimigo declarado do racismo que se apaixona por Silvia quando a vê
na praia. Tenta chamar-lhe a atenção, porém ela parece não notá-lo. Oto se revolta e forma o
estereótipo: Silvia é branca e racista. Mas isso é um engano. Sílvia é cega e os dois vão se
reencontrar numa instituição onde Oto trabalha como voluntário, lendo para deficientes.
Começa a ler O Mulato, de Aluísio de Azevedo que conta a história de Raimundo, filho de
um fazendeiro português com uma escrava. Sem saber de sua mãe e de suas origens,
Raimundo vai estudar na Europa, retornando anos mais tarde a São Luís do Maranhão para
vender as terras de seu falecido pai. Apaixona-se então pela prima Ana Rosa e há a revelação
de seu passado, de suas origens e enfrentar a crueldade da sociedade racista da época. Oto
temendo a rejeição de Sílvia, uma moça branca e de outra classe social diz que é louro de
33
olhos azuis. Assim, as desventuras do par romântico de Aluísio de Azevedo, Ana Rosa e
Raimundo, iluminam o vínculo que vai se estabelecer entre Oto e Sílvia. Apesar da distância
de um século de um casal para o outro, a despeito de todas as mudanças históricas, a idéia de
democracia racial, continua funcionando com um mito. Um mito a encobrir nossos
sentimentos mais recônditos, mostrando que ainda há muito a conquistar para além do que os
olhos vêem (JAF, 2005).
Já o segundo livro, “Como é duro ser diferente”, de Giselda Laporta Nicolelis, da
editora FTD, conta a história de Layla, uma adolescente que vive em conflitos porque se acha
diferente dos colegas do colégio. Layla se julga feia e desengonçada, um erro da natureza,
porque seus pais são muito bonitos, chega até a pensar que é filha adotiva. Porém Layla
percebe que ao seu redor existem outros colegas que também sofrem com brincadeiras cruéis
e apelidos pejorativos. Layla percebe que muitos de seus amigos são perseguidos por serem
diferentes e através dessas diferenças ela entende que cada um é um, e a diferença é que torna
as pessoas mais interessantes. No decorrer do livro a autora mostra a experiência vivida pelos
personagens, suas angústias, seus conflitos, o que faz Layla amadurecer e deixar de pensar em
si mesmo, na imagem negativa que construiu sobre a sua pessoa (Nicolelis, 2005).
2.1 Participantes
Para alcançar os objetivos propostos, participaram da análise 28 alunos, de Ensino
Médio, 1ª, 2ª e 3ª séries de 14 a 18 anos de idade, sendo 17 do sexo feminino e 11 do sexo
masculino. Os alunos pertencem à classe média baixa de um colégio particular da cidade de
Ribeirão Preto.
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2.2 Caracterizações dos Participantes
Tabela 01 - Alunos que participaram do estudo, idade, sexo e série do Ensino Médio. Participantes
Idade em anos
Sexo Série do Ensino Médio
A1 14 F 1º A2 15 F 1º A3 15 M 1º A4 15 M 1º A5 14 M 1º A6 15 F 1º A7 15 F 1º A8 15 F 1º A9 16 M 1º
A10 15 F 1º A11 16 F 2º A12 16 F 2º A13 16 M 2º A14 15 F 2º A15 15 F 2º A16 16 M 2º A17 17 M 2º A18 16 F 2º A19 15 M 2º A20 16 F 2º A21 17 F 3º A22 18 M 3º A23 17 F 3º A24 17 F 3º A25 16 F 3º A26 17 M 3º A27 17 F 3º A28 17 M 3º
Para identificar os alunos ao longo do processo de análise, foi utilizado A1 (aluno 1) a
A28.
Pela tabela observa-se que dos participantes 10 alunos estão na 1ª série, 10 alunos na
2ª série e 8 alunos estão na 3ª série do Ensino médio.Quanto à idade, dois têm 14 anos, dez
têm 15 anos, oito têm 16 anos, sete têm 17 anos e, finalmente, um deles tem 18 anos.
35
2.3 Local
A instituição escolhida para a coleta dos dados foi um colégio particular confessional,
localizado em um bairro de classe média baixa de uma cidade do interior paulista. O colégio
possui 561 alunos matriculados que estão divididos em: Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Possuem dois turnos, manhã e tarde. Os alunos têm a faixa etária de 14 aos 18 anos. A
pesquisa foi feita durante o horário das aulas de Português, aulas ministradas pela
pesquisadora.
2.4 Procedimentos de coleta de dados
No ano de 2007, 28 alunos foram orientados a ler dois livros paradidáticos “Como é
duro ser diferente”, Giselda Laporta Nicolelis e “Longe dos Olhos”, Ivan Jaf.
Pediu-se permissão ao diretor do colégio para coletar os dados, cujo consentimento foi
dado mediante assinatura do termo apresentado no apêncice A. Os dados foram coletados nos
meses de outubro e novembro de 2007, de duas formas; primeiramente por um questionário
com cinco perguntas (Apêndice B), a fim de escreverem sobre os temas abordados nos livros
paradidáticos, e num segundo momento, foi aplicada uma dissertação com o tema “Escola:
um lugar de todos” (Apêndice C).
2.5 Procedimentos de análise de dados
Depois de discussões em sala de aula sobre os livros, montou-se um questionário. A
análise dos dados foi baseada nesse questionário respondido pelos alunos (Apêndice B) e,
posteriormente em suas dissertações (Apêndice C). As respostas do questionário
possibilitaram a identificação das categorias.
Depois da análise do questionário foram definidas as seguintes categorias em tabelas:
Multiculturalismo; Brasil, país cultural; Estereótipos; Bullying e Paradidáticos e as diferenças
sociais.
Em relação às dissertações, após leituras sucessivas, foram definidas as seguintes
categorias: A escola para todos; A escola deveria ser para todos, mas não é; principais
36
diferenças citadas pelos alunos dentro da escola; O que fazer para a escola ser para todos? e A
escola e a inclusão escolar.
Após a organização por temas foi realizada uma análise do significado das respostas e
relacionando-a com os dados da literatura.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Questionários
Os resultados serão apresentados em duas etapas: dados sobre o questionário e dados
sobre a dissertação produzida pelos alunos.
Inicialmente serão disponibilizadas cinco tabelas contendo as respostas de todos os alunos
às perguntas do Anexo A. A seguir esses dados são discutidos e comparados com os
disponíveis na literatura sobre a questão solicitada e com as informações contidas nos livros
paradidáticos.
Em seguida são analisadas as dissertações de acordo com temas e subtemas considerados
relevantes para apreender a compreensão dos alunos sobre as informações disponíveis nos
livros indicados. Essa construção dos alunos também será relacionada aos dados disponíveis
pela literatura específica e pelos livros paradidáticos lidos.
A seguir será mostrado o Quadro 1, que trata sobre o conceito de multiculturalismo na
perspectiva dos alunos participantes.
Tabela 02: Multiculturalismo
Participantes Exemplos de Respostas Porcentagem de Alunos
A1, A4, A5, A6, A7, A8, A9, A10, A12, A13, A14, A15, A19, A20, A21, A22, A23, A25 e A28
É um termo que fala sobre as culturas que existem em diversos locais do mundo, etnias diferentes, como japoneses, africanos, índios, etc., sem que uma cultura predomine sobre a outra.
71,2
A2 Significa a existência de várias culturas juntas em apenas uma localidade, uma cultura de diferentes grupos humanos.
3,6
A3 É mais de uma cultura numa localidade, mas separadas geograficamente.
3,6
A16 É um termo que descreve a existência de muitas culturas em uma determinada localidade.
3,6
37
A17 É a variedade de cultura, desenvolvimento intelectual do homem, conhecimentos adquiridos pelo contato social pelos povos através do tempo.
3,6
A18 São diferentes identidades culturais em uma sociedade.
3,6
A24 É a diversidade de várias culturas em um só local.
3,6
A26 Várias culturas ou a mistura de várias culturas.
3,6
A27 Várias culturas em um mesmo local, mas nenhuma das culturas é predominante.
3,6
Pela Tabela 01, observa-se que todos os alunos compreendem o multiculturalismo,
como a existência de várias culturas prevalecentes em uma sociedade, sem que nenhuma
predomine. De acordo com o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, cultura, é
um sistema de idéias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e
atitudes que caracterizam uma determinada sociedade; estado ou estágio do desenvolvimento
cultural de um povo ou período, caracterizado pelo conjunto de obras, instalações e objetos
criados pelo homem desse povo ou período; conteúdo social.
Segundo Sá (2001),
Os elementos culturais constituem-se na mediação simbólica que torna possível a vida em comum. A cultura se expressa através da linguagem, dos juízos de valor, da arte, das motivações, etc., gerando a ordem do grupo, com seus códigos próprios, suas formas de organização, de solidariedade, etc. As culturas são recriadas em função de cada grupo que nelas se inserem (p.1).
Na escrita dos alunos, a cultura é vista como um conteúdo social que cada povo traz de
si, numa visão mais próxima ao multiculturalismo liberal.
De acordo com Freire (1979), cultura é tudo o que é criado pelo homem. Tanto uma
poesia como uma frase de saudação. A cultura consiste em recriar e não em repetir. O homem
pode fazê-lo porque tem uma consciência capaz de captar o mundo e transformá-lo (p. 30-31).
Para os alunos, a sociedade apresenta uma mistura de raças, diferentes grupos
humanos. Também descrevem que essa variedade de cultura não dá margem para que uma
sobressaia da outra. Não chegam a escrever sobre as relações de poder entre os grupos e a
política de resistência.
Pelos fatores históricos observa-se porque houve essa miscigenação no Brasil. A
composição do povo brasileiro tem como resultado a mistura de raças, o europeu, o índio, os
38
africanos, entre outros. Cada um desses povos contribuiu para a diversidade cultural do país
(FREITAS, 2008).
Para Gonçalves (2002), “Os diferentes estudos étnicos visam garantir, a educação
escolar em todos os níveis, atentando para as especificidades culturais e sociais dos diferentes
grupos sociais” (p. 52).
O A17 escreve que através do contato social entre os povos desenvolve-se a cultura,
parece que se baseou no livro “Longe dos Olhos”, onde Ivan Jaf descreve o primeiro contato
social de Oto um rapaz negro e Sílvia, uma garota branca e cega. “A primeira vez que Oto viu
a menina (Sílvia) por quem se apaixonou, ela estava sentada na amurada da praia da Urca,
olhando para a baía da praia de Guanabara” [...] (JAF, 2005).
Segundo Nunes (2007), o contato social é o primeiro passo para qualquer associação
humana, pois a convivência entre as pessoas pressupõe uma variedade de formas de contato.
Os livros analisados não tratam diretamente sobre o tema multiculturalismo, mas trata
sobre relações interculturais entre seus personagens.
Essas relações interculturais trazidas nos livros podem trazer consigo alguns conflitos,
no caso de Oto, personagem principal do livro “Longe dos Olhos”, diz a Sílvia (é cega) que é
louro por medo que ela não o aceite por sua cor.
“Eu tenho um metro e oitenta e um, sou muito magro, mas musculoso, sou louro, com
cabelo curto, tenho olhos azul-claros, [...] e a pele... bronzeada... porque ...sou surfista” (JAF,
2005 p. 41).
Durante todo o livro “Longe dos Olhos”, Oto faz Sílvia pensar que ele era branco,
embora passe por um conflito interior muito grande por negar a sua raça.
Por que mentir? Vergonha de ser negro? Medo de não ser aceito? Preconceito consigo mesmo? Então quer dizer que ele só assumia a cor de sua pele porque era inevitável? Por que a viam? Na primeira oportunidade dizia-se branco? E louro! Então era contra os estereótipos, mas quando quis inventar um novo corpo pensou logo num branco, louro de olhos azuis? Medo. Medo de não ser aceito. Uma menina criada no meio da elite do Brasil seria forçosamente racista, aquele racismo “cordial” que os brasileiros inventaram para apaziguar as consciências e adiar as revoltas? Ele fingia ter outro corpo para não afastá-la, estava apaixonado, não queria que ele dissesse que estava se encontrando com um negro. A família talvez a impedisse (JAF, 2005 p.43).
Nessa relação intercultural, desse mesmo livro, Sílvia desabafa a Oto, sobre o seu
mundo de ser cega.
39
- Se você soubesse como eu sofro quando meu tio, ou meu primo, chegam em casa arrasados por serem vítimas de algum preconceito racial […] Só os cegos compreendem como é absurdo! A cor não faz diferença, entende? Se todos fosses cegos, todas as peles seriam iguais. Se o sol fosse roxo, os corpos amarelos, vermelhos, sei lá. A cor é um luxo. É abstrata. É subjetiva! Isso tudo é uma grande bobagem. A fonte do racismo é o quê? O sol? E se a gente mudasse de cor? […] a pessoa se achar negra, branca, asiática, verde... um monte de absurdos, Oto. Simplesmente não sei do que estão falando. Eu não posso ver, acho que é por isso que sei que as pessoas são todas iguais. Pra mim pode ser amarelo com bolinhas vermelhas que tanto faz, entende? Eu não vejo o que querem me mostrar, Oto. Só sinto (JAF, 2005 p. 119).
A seguir apresenta-se a Tabela 3 que mostra as respostas dos participantes sobre:
Brasil, país multicultural;
Tabela 03: Brasil, país multicultural.
Participantes Exemplo de Respostas Porcentagem de Alunos A1, A4, A6 Brasil é um país multicultural, pois tem
uma mistura de culturas. 10,7
A2, A10, A23 O Brasil é um país multicultural desde o tempo da colonização e uma das principais características da cultura brasileira é a diversidade.
10,7
A3, A20, A21 O Brasil é onde as diversas culturas estão misturadas sem a intervenção do estado.
10,7
A5, A7, A15 O Brasil é multicultural, pois é uma mistura de raças, branco, preto, amarelo, índio, etc.
10,7
A8, A9, A11, A12, A19, A28
O Brasil é multicultural, pois há no país uma grande diversidade cultural, raças diferentes.
21,5
A13 O Brasil é multicultural porque possui uma extensa diversidade cultural.
3,6
A14 O Brasil é multicultural, pois sua cultura é composta de diferentes grupos humanos, interesses contrapostos, classes e identidades culturais em conflito.
3,6
A16 O Brasil tem diversas etnias, o processo imigratório teve grande importância na formação dessa cultura.
3,6
A17 O Brasil desde o início de sua formação pelos povos europeus tiveram que adquirir escravos de vários lugares para a mão de obra, por este motivo tem-se uma grande variedade cultural.
3,6
A18 O Brasil é multicultural, porque sua democracia tem como ideal amenizar as diferenças.
3,6
40
A22 O Brasil é multicultural, pois existem várias crenças.
3,6
A24 O Brasil sofreu colonização pelos portugueses e invasões que influenciaram a cultura do Brasil. A cultura dos africanos foi marcante aqui.
3,6
A25, A27 O Brasil é multicultural, pois predominou a miscigenação das raças.
7,2
A26 O Brasil é um país repleto de costumes e culturas diferente, por isso é multicultural.
3,6
De acordo com a Tabela 03, todos os alunos em suas respostas, admitem que o Brasil é
um país multicultural, onde se admite uma mistura de raças, classes culturais, crenças e
religiões diferentes, como discutidos por Trindade (1999) e Freitas (2008).
Para Trindade (1999), o Brasil é um país multiculturalista, com uma variedade étnica
muito grande, cuja diversidade é cantada em versos e encanta a todos.
O Brasil possui uma cultura variada e rica. Essa cultura marca seu povo revelando a
identidade de cada um, assim como a língua, sotaque, religião, costumes e tradições que são
passados de geração em geração (FREITAS, 2008).
Outros alunos, A14, A16, A17, A24, A25 e A27, apontam que o processo migratório
no Brasil teve grande importância na formação da cultura do país.
Através do processo migratório no Brasil cada povo trouxe consigo sua cultura, os
portugueses a língua materna, e a religião católica; já dos índios o hábito de tomar banho
diariamente, além da variedade culinária de outros povos, feijoada pelos africanos, massas
pelos italianos, sushi e sashimi pelos japoneses (FREITAS, 2008).
Para o A14 há conflitos nesta mistura de raças, devido à busca de diferentes interesses
dos grupos. Nota uma relação de poder. Esta resposta reflete pressupostos do
multiculturalismo críticos, isto é, os conflitos entre os diferentes grupos sociais devido a
disputa de poder entre eles.
Sobre essa relação de poder descrita por A14, o livro “Longe dos Olhos” mostra que o
mundo é feito por pessoas que enxergam. “- Então o mundo é feito por pessoas que enxergam.
[...] As frases, as expressões, as conversas, tudo é feito pelas pessoas que enxergam. Daí um
sujeito fica diante de uma pessoa cega e começa a falar um monte de coisas “politicamente
incorretas” (Jaf, 2005 p. 26). Mostrando discriminação e falta de aceitação de si, conflitos
internos refletindo os sociais externos.
41
Os alunos (A17, A24, A25 e A27) mencionam conflito da imigração negra no Brasil.
Essa imigração gerou conflitos entre o africano e o português. Na primeira metade do século
XVI, os portugueses traziam os negros africanos de sua colônia para trabalharem como
escravos na produção açucareira. Esses escravos eram tratados de maneira cruel e desumana
pelos seus senhores e ainda eram proibidos de praticar sua religião ou qualquer tipo de festa
que envolvessem rituais africanos. Deveriam praticar a religião católica, imposta pelos seus
senhores e adotar a língua portuguesa como meio de comunicação (Koshiba e Pereira, 1996).
Outro exemplo disso foi o genocídio indígena que aconteceu no Brasil com a chegada
dos colonizadores portugueses que através da guerra do extermínio, ou do desgaste no
trabalho escravo, expulsão de suas terras e um fracasso dos índios em arrumar um lugar no
meio dos brancos, os colonizadores eliminaram quase toda a população indígena (RIBEIRO,
1995).
Pelo Brasil ser um país com diversas culturas, cria muitas possibilidades de relações
interpessoais. Os alunos (A2, A10 e A23), escrevem sobre a diversidade cultural do país, mas
como no livro “Como é duro ser diferente”, nem sempre a mistura de raças é aceita por todos,
como mostra a história dos pais de Tatiana (mãe branca, pai negro) que sofreram horrores por
parte de familiares, quando começaram um relacionamento amoroso.
[…] quando os pais de Tatiana se conheceram foi paixão à primeira vista. Mas seus avós maternos, muito racistas, se opuseram com indignação ao namoro da filha branca com um rapaz negro, mesmo sendo ele uma pessoa correta, talentosa e de boa família. A mãe dela sofreu horrores com os pais; teve um esgotamento nervoso, foi parar numa clínica, de tanta pressão [...] (NICOLELIS, 2005 p. 37).
Nessas respostas o aluno não chega a mencionar esses conflitos notados no livro,
mesmo porque no livro a autora supõe que apesar das relações interculturais sofrerem
preconceitos, elas são possíveis. E ainda as pessoas podem encontrar caminhos para superar
as discriminações e essas relações podem ser bem sucedidas.
[…] (a mãe) não abriu mão do seu amor pelo namorado. Foi morar com uma irmã mais velha, e, assim que ele se formou na faculdade de direito, [...] ele se tornou um famoso advogado criminalista [...] eles se casaram. Viviam felizes desde então (NICOLELIS, 2005 p.37).
Um final diferente é trazido pelo outro livro analisado “Longe dos Olhos”. Nele o
personagem Oto está lendo o livro “O Mulato” para Sílvia, e nesse livro, o autor descreve
uma relação intercultural entre os personagens Ana Rosa (branca) e Raimundo (mulato) e que
42
eles não encontraram um caminho para superar a discriminação. A família de Ana Rosa não
aceita o relacionamento dos dois e eles combinam uma fuga, porém armam uma cilada para
eles. No final Raimundo é assassinado e Ana Rosa casa-se com Dias o assassino de
Raimundo.
Raimundo e Ana Rosa conseguiam se comunicar por cartas. E estabeleceram um plano de fuga. [...] domingo, às oito da noite, hora em que teu pais costuma conversar na botica do Vidal; quando os vizinhos caixeiros ainda estão no passeio, [...] nessa ocasião, um sujeito barbado, vestido de preso, assoviará junto à tua porta uma música conhecida. Esse sujeito sou eu (Raimundo)[...] O relógio pingou, inalteravelmente, oito badaladas roucas [...] E daí, a instantes, no silêncio da varanda, ouvia-se o assobio forte de Raimundo [...] Ana Rosa [...] com uma ligeireza de pássaro que foge da gaiola, desceu a escada na ponta dos pés; atirando-se lá embaixo nos braços de Raimundo[...] – Mas, ao transportarem a porta da rua, ela soltou um grito, e o rapaz estacou, empalidecendo. Do lado de fora, o cônego Diogo e o Dias, acompanhados por quatro soldados de polícia, saíram ao seu encontro, cortando-lhes a passagem [...] O cônego Diogo armara uma intriga para levar Ana Rosa a casar com Luís Dias [...] Raimundo toma uma decisão. Acionará a justiça. É advogado, conhece seus direitos. Ana Rosa é maior de idade. Ninguém poderá impedir o casamento. Raimundo saiu dali. [...] No dia seguinte estaria tudo pronto, e ele no primeiro vapor seguia para a Corte, acompanhado da esposa, feliz, independente! [...] Volta para casa. Mas, do vão escuro, em que se formara o limite da parede, rebentou um tiro, no momento em que dava volta à chave. Dias fechou os olhos e concentrou toda a energia o dedo que devia puxar o gatilho. A bala partiu, e Raimundo com um gemido, prostrou-se contra a parede [...] Seis anos depois disso: Dias rico, casado com Ana Rosa [...] (JAF, 2005 p. 111-112).
De maneira contrastante, os personagens Oto e Sílvia conseguem e estabelecem um relacionamento.
A Tabela 04, apresentada a seguir mostra as respostas dos alunos sobre
estereótipos. Tabela 04: Estereótipos
Participantes Exemplo de Respostas Porcentagem de Alunos A1, A5, A12, A21 É uma imagem que formulamos
de outra pessoa, com discriminação e preconceito.
10,7
A2, A20 É a primeira impressão que você classifica alguém sem conhecer.
7,2
A3 É muito usado em humorismo como manifestação de racismo.
3,6
A4, A11 São imagens preconceituosas pré-montadas pela nossa sociedade em relação a um grupo de pessoas.
7,2
A6, A7, A8, A9, A14, A22 É um tipo de pré-julgamento de alguém sem conhecer a pessoa.
21,5
43
A10, A18 Está relacionado a um preconceito que temos de alguém sem conhecê-lo de verdade.
7,2
A13, A16, A28 É uma imagem pré-concebida de determinada pessoa, coisa ou situação.
10,7
A15, A24, A26 É quando uma pessoa julga a outra sem conhecer.
10,7
A17 É um complexo de idéias aceitas sem a mais fundada crítica a respeito de uma situação, classe, raça ou grupo social particularizado.
3,6
A19
É como “julgar um livro pela capa”, ou seja, um tipo de preconceito que julga as pessoas sem conhecê-las, sem ver o que realmente é.
3,6
A23 É maltratar a pessoa por não conhecê-la, só por sua aparência.
3,6
A25 É o famoso preconceito, é você julgar as pessoas pela aparência.
3,6
A27 Uma imagem de pessoa ou situação, sem saber ao certo o que é ou como é.
3,6
Para se analisar as respostas dos alunos procurou-se definir o que são estereótipos,
preconceito e discriminação.
Segundo (MONTEIRO, 2007),
Estereótipo é um conjunto de crenças, de idéias “feitas”, que transmitem uma imagem simplista de um objeto ou pessoas. Generalizam todos os elementos de um grupo a partir do comportamento de alguns deles. Há, portanto, uma categorização, uma classificação positiva ou negativa em relação ao outro, que surge das interações sociais.
Ainda em (MONTEIRO, 2007), o preconceito é também uma atitude e tem como base o estereótipo. Através da informação do estereótipo faz uma avaliação, um pré-juízo em relação aos outros indivíduos e aos grupos que os constituem. Outra vez em Monteiro (2007),
A discriminação são os comportamentos que derivam dos estereótipos e dos preconceitos. Geralmente são negativos e podem acentuar-se em situações de crise (política, econômica, social...), variando entre o afastamento à violência e agressão.
44
Em relação à Tabela 4, os alunos escreveram que estereótipos são comportamentos
esperados dentro de um grupo social discriminado.
Para os alunos, o estereótipo está totalmente relacionado com a discriminação e o
preconceito que as pessoas têm das outras, nota-se em suas respostas que podem ter sido
influenciados pelo livro “Longe dos Olhos”, em que Oto narra a Sílvia o preconceito e o mau
trato aos negros descritos no livro “O Cortiço”,
- Os corredores de escravos examinavam, à plena luz do sol, os negros e moleques que ali estavam para ser vendidos; revistavam-lhes os dentes, os pés e as virilhas; faziam-lhes perguntas sobre perguntas, batiam-lhes com a biqueira do chapéu nos ombros e nas coxas, experimentando-lhes o vigor da musculatura, como se estivesses a comprar cavalos. Eram tratados como animais (Jaf, 2005 p.37).
Pelas respostas dos alunos nota-se que podem ter usado o livro como base de suas
respostas como no exemplo a seguir:
No livro “Longe dos Olhos”, o autor trata sobre o estereótipo do personagem
principal, Oto.
[…] Era negro, forte, alto e tinha muita raiva quando o olhavam pela primeira vez, simplesmente não viam quem ele era – automaticamente os cérebros procuravam enquadrá-lo em algum estereótipo. Se tivesse bem vestido podia ser visto como um esportista, um músico, um chofer de uma família de milionários, um empregado mauricinho tentando puxar o saco dos patrões. Se estivesse mal vestido, de bermudão, sem camisa, aí com certeza uma luz vermelha acendia dentro dos cérebros alheios avisando “perigo!perigo!, e já o viam como assaltante, traficante, os vidros dos carros começavam a se fechar.[...] O que ele era, ou pelo menos queria ser, ninguém imaginava no primeiro olhar. Não se encaixava nos estereótipos. Oto era um intelectual (JAF, 2005 p.10,11).
Também neste mesmo livro, o autor descreve a atitude preconceituosa que o
personagem Oto teve em relação à Sílvia.
[…] Tudo estava explicado. Ela (Sílvia) era uma menina rica, na certa morava numa daqueles casarões da Urca, e o chofer da família a vinha trazer e buscar daquele passeio à praia. Ele era um negro imbecil que havia feito papel de idiota, querendo se mostrar para uma branca que fez questão de ignorá-lo [...] Ele ficou com muita raiva. Aquela patricinha idiota mimada estava ali curtindo com a cara dele. Talvez tivesse vindo só para isso. Continuar a brincar com o pobre negro que não se enxergava (Jaf, 2005 p.22).
45
Oto sem conhecer Sílvia olhou-a por meio de estereótipo, branca, rica, que mora em
mansão, mostrando também que era preconceituoso ao se considerar um negro imbecil que se
interessa por uma branca.
Nesse meio tempo Oto, personagem do livro “Longe dos Olhos”, descobre que Sílvia
não lhe dera nenhuma atenção, porque ela era cega de nascença, não o havia visto na praia.
Os alunos descrevem estereótipo como uma forma de preconceito, um pré-julgamento
que se faz de alguém sem conhecê-los antes, ou mesmo tirar conclusões apressadas a respeito
dos outros.
De acordo com os alunos, estereótipos são imagens preconceituosas pré-montadas pela
nossa sociedade em relação a um grupo de pessoas, pela resposta os alunos podem ter se
baseado no livro “Como é duro ser diferente”, que conta o estereótipo que os alunos davam à
Carol, que é loira, como burra, porque na sociedade criou-se um estereótipo que toda loira é
burra.
[...] a Carol, a Bela. Por sinal, diz que está cheia de passar por miss colégio – afinal ela é uma pessoa com cérebro e os outros só a elogiam o seu exterior, sem se preocupar com o que ela pensa. Ainda mais que é loira natural, e existe aquele estereótipo idiota da “loira burra” (NICOLELIS, 2005 p. 82-83).
Há indícios do livro “Como é duro ser diferente” na resposta do A3, o estereótipo é
usado como humor para manifestar o racismo. O estereótipo é visto como uma falta de
conhecimento sobre a pessoa ou grupo, um pré – julgamento, pré - conhecimento, uma
imagem virtual. A autora do livro “Como é duro ser diferente” mostra o preconceito e atitude
machista de uma família e de um grupo de alunos em relação a Lúcio, um garoto que fazia
aulas de balé.
O Lúcio enfrenta uma barra e tanto [...] ele pensa mesmo em ser bailarino profissional, de balé clássico [...] O pai e os irmãos simplesmente deram um jeito no garoto, o pai muito preconceituoso, falou que não admitia filho afeminado dentro de casa. […] Um dia,alguém para pegar material de estudo, resolveu mexer na mochila de Lúcio[...] encontrou a malha de balé e as sapatilhas e saiu com elas pelo colégio inteiro: - Olhe a roupa da Lucinha - […] - Agora a gente sabe de onde vêm todos aqueles músculos. O “frutinha” estuda balé [...] (NICOLELIS, 2005 p. 22).
O A23 em sua resposta mostrou indícios da leitura do livro “Como é duro ser
diferente” ao definir que estereótipo é maltratar a pessoa por sua aparência ainda neste mesmo
livro a autora traz a história de um garoto chamado de Radamés que é maltratado pelos
amigos por causa de sua aparência.
46
Uma das vítimas preferidas é o Radamés, que eles consideram muito feio. Ele é grandalhão, tem olhos e orelhas grandes e uma cabeleira imensa, que parece que nunca foi penteada. A galera, maldosa como sempre, costuma dizer que, se algum Neandertal cruzasse com ele, pensaria que era um companheiro extraviado. [...] Conte aí para gente, você estava falando com a Fera? […] Viu que cara feio? [...] Ele podia fazer o papel da Fera naquele musical, não precisava nem de maquiagem (NICOLELIS, 2005 p. 71-72).
O personagem da história Radamés é julgado por sua aparência, além do fato de ter
sofrido bullying, ao ser chamado de Fera.
O A15, A24 e A26 em suas respostas demonstraram indícios da leitura desse mesmo
livro para dizer que estereótipo é formar uma idéia da pessoa sem ao menos conhecê - la.
Como se verifica no exemplo do livro “Como é duro ser diferente”,
Havia julgado Valter um motorista, só porque o sujeito era mulato. Preconceito. [...] – Você acredita que muita gente acha que ele é meu motorista particular? Só porque ele é mulato! Então um mulato não pode trabalhar e comprar seu carro e dar caronas pra prima? [...] – Não pode imaginar como Valter passa por situações constrangedoras. Ele é um gênio. É formado em matemática, ta fazendo doutorado num assunto que só meia dúzia de pessoas do mundo é capaz de entender. Mas ontem mesmo o porteiro disse que ele tinha de entrar pelo elevador de serviço (Jaf, 2005 p. 114).
No livro “Longe dos Olhos” o próprio Oto havia tido uma idéia preconceituosa a
respeito de Valter (primo de Sílvia), sem conhecê-lo.
A Tabela 5 a seguir, mostra as respostas dos alunos sobre Bullying.
Tabela 05: Bullying
Participantes Exemplo de Respostas Porcentagem de Alunos A1 Descreve atos de violência. Por
exemplo, um grupo que discrimina uma pessoa por ela ser negra ou isolada dentro de seus problemas.
3,6
A2, A4, A15, A19, A20 São atos de violência física ou psicológica, pode ser intencional, ocorre quando alguém deseja intimidar ou violentar outra pessoa que não consegue se defender.
17,8
A3, A25 Ocorre principalmente nas escolas onde os colegas tratam com indiferença alguns colegas resultando até em agressões físicas e verbais.
7,2
A4 É um tipo de violência física ou psicológica, com a intenção de
3,6
47
machucar. A5 Agressão a alguém por ter algum
defeito, pode ser fisicamente ou verbalmente.
3,6
A6, A16 É de forma resumida todo ou qualquer tipo de preconceito. Ele pode ser bastante prejudicial na escola.
7,2
A7, A11 Compreende toda e qualquer forma de agressão física ou psicológica, provocada por um “valentão” ao grupo ou apenas uma pessoa.
7,2
A8 É um termo que quer dizer violência.
3,6
A9, A10
Um preconceito que faz com que nós tratemos alguém como se fosse diferente de nós e assim fazemos piadas de mau gosto com as pessoas.
7,2
A12 Compreende a todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas que ocorre sem motivo aparente.
3,6
A13 São todas as formas de atitudes agressivas. Contaminam o ambiente escolar, causando ansiedade e medo na vítima.
3,6
A14 É quando alguém agride o outro verbalmente ou fisicamente. Isso se baseia em agressões, socos, tapas, apelidos e coisas desagradáveis.
3,6
A17 É uma atitude agressiva que ocorre sem motivação evidente, quando uma pessoa é pré-julgada.
3,6
A18 É um ato onde humilha o colega, onde o mesmo se sente mal, devido aos colegas zuá-lo.
3,6
A21 É um ato de humilhar, tirar “onda” com seus colegas, isso trazendo várias coisas ruins para a escola.
3,6
A22, A23 É o ato de humilhar os colegas com brincadeiras de mau gosto.
7,2
A24 São atos que traumatizam as pessoas fisicamente e psicologicamente.
3,6
A26 Descreve atos de violência tanto física como verbal, trazendo sempre um problema psicológico
3,6
48
para quem sofre. A27 Violência física e verbal para com
os mais fracos. 3,6
O termo bullying é encontrado na literatura anglo-saxônica que tem como conceito os
comportamentos agressivos e anti-sociais em relação ao contexto escolar. Na língua
portuguesa é definido como atitudes agressivas com intenção, pode ser causado por um aluno
ou mais alunos uns contra os outros. O bullying pode causar dor e sofrimento, magoar ou
ridicularizar, causando muitas vezes traumas físicos e psíquicos nas vítimas e levando-as à
exclusão (FANTE, 2005).
Os alunos possivelmente podem ter feito uma relação dos livros que leram ao citarem
suas respostas.
Em relação a Tabela 5, a maioria dos alunos descreve bullying como um ato de
violência física e psicológica, com intenção de machucar o outro. O A5 julga que é uma
agressão feita a partir de um defeito que a pessoa possa ter. O A 7 e o A11 descrevem que há
um “valentão” por trás dessas agressões.
De acordo com A24 essas atitudes agressivas contaminam o ambiente escolar,
causando medo, ansiedade e muitas vezes traumatizando física e psicologicamente as vítimas.
O A3 e o A25 em suas respostas mostram indícios do livro “Como é duro ser
diferente” ao dizerem que bullying ocorre principalmente nas escolas onde os colegas tratam
com indiferença alguns colegas com agressões verbais, como no caso de Reinaldo que é o
garoto mais baixinho da classe e os colegas fazem todo tipo de brincadeiras de mau gosto com
ele.
Ele (Reinaldo) é o mais baixinho da classe. O que ele agüenta de gozação não é fácil. Começa com beijos no topo da testa, que ele de-tes-ta. Continua com as brincadeiras do tipo: “Deixe o baixinho ir na frente, senão ele tropeça”, “Já resolveu o que vai ser quando crescer?” e termina com os apelidos que ele também odeia – Bebê Johnson é o melhorzinho deles. Tem também as “histórias” que ele ouve quando passa: - Sabe pra que serve gente baixinha? – Não, pra quê? – Pra enrolar tapete e ser anão de circo. A galera cai na risada, enquanto Reinaldo faz de conta que não ouve. Se “ouvisse”, teria de encarar. E como encarar com a turma em volta dele? Para não passar por covarde, o melhor é fingir que não escuta (NICOLELIS, 2005 p. 59).
De acordo com os alunos o bullying são brincadeiras de mau gosto que servem para
humilhar os colegas.
49
Nas respostas dadas pelos alunos encontram-se vários indícios a respeito do livro
“Como é duro ser diferente”, em que a autora Giselda Laporta Nicolelis narra a história de
diversos personagens que sofreram bullying no colégio.
Ora, eu já passei por vários colégios, mas nunca vi uma fauna igual à que tem aqui. É gente diferente pra caramba! Parece um circo de horror! […] Coitado dos caras, eles não têm culpa de serem feios e desengonçados […] - Põe feio e desengonçado nisso. Cada figura mais esquisita, meu. - Você viu o QIspanto? - Qispanto? Você inventa cada uma... que mania de pôr apelido em todo mundo (2005 p.13).
Neste mesmo livro, evidencia Lúcio, que sofreu bullying pelos amigos do colégio por
ser bailarino.
[...] O “frutinha” estuda balé. […] O pior foi no colégio. Ainda que o diretor tivesse tomado providências, a perseguição continuou. […] Teve uma vez que deixaram um boneco, tipo Judas, vestido com roupa de balé, sentado na carteira do Lúcio. E não adiantava a diretoria tentar descobrir o culpado; um protegia o outro (NICOLELIS, 2005 p. 23).
O presente livro retrata que o bullying é descrito de uma forma negativa. Na história
de Radamés, quando as garotas, Vânia e Liene, o chamam de Fera, a protagonista, Layla, o
defende junto com outra amiga, Carol.
- Puxa, que maldade, Vânia. O garoto é um doce. [...] – Mas admita: é o cara mais feio que você já viu na sua vida. [...] - Pelo menos ele é só feio por fora e lindo por dentro. Pior é gente que, por fora, é bela viola, e, por dentro, é bom bolorento. [...] – Olhe só, a miss do colégio resolveu ser a Bela da nossa Fera [...] (NICOLELIS, 2005 p. 72).
Em suas respostas, os alunos escrevem que o bullying traz um problema psicológico
para quem sofre, e no livro a autora trata desses problemas. O personagem Radamés tinha
uma baixa auto-estima, causada pela sua aparência incomum. Nem poderia passar pela sua
cabeça que Carol, a menina mais linda da escola, poderia estar apaixonada por ele.
O único problema do garoto (Radamés) é a baixa auto-estima, causada pela sua aparência incomum [...] Se ele soubesse o quanto é encantador! – repete ela (Carol) [...] Estou apaixonada por ele há muito tempo, ela (Carol) admite. [...] É que eu já fiz de tudo pra que ele entenda isso. Mas a auto-estima do cara é tão baixa que ele provavelmente acha que sou muito areia pro caminhãozinho dele (NICOLELIS, 2005 p. 73).
O bullying é tão prejudicial às pessoas, que elas acham que não são dignas de serem
amadas.
50
De acordo com as respostas dos alunos o bullying ocorre sem motivo aparente,
causando no ambiente escolar ansiedade e medo em suas vítimas. No mesmo livro, a autora
conta a história de Marina, que tem dislexia (dificuldade em ler e compreender a escrita), e
quando os professores propõem trabalhos em grupos, ela é sempre deixada de lado, porque os
colegas a consideram devagar demais.
Essa disputa pelos candidatos às vezes causa constrangimentos, porque os colegas mais fracos na matéria vão ficando para o fim, desprezados mesmo. O pior caso é o da Marina, que ninguém escolhe até o final. Aí vem um professor e fala que ela não pode ficar de fora de nenhuma equipe. Democraticamente todos os alunos têm de participar. Então os chefes das equipes tiram no palitinho quem vai ficar com a Marina, e não se dão o trabalho de disfarçar. Ela fica ali, esperando pra saber qual grupo vai “aceitá-la”. Acontece que Marina não é devagar porque quer. Tem um problema chamado dislexia [...] Mas o pessoal não sabe disso ou não quer saber e vai logo tirando sarro. O apelido da Marina é Tartaruga - a devagar (NICOLELIS, 2005 p.81-82).
Nesse mesmo livro a autora, assim como nas respostas dos alunos declara que a
discriminação não leva as pessoas a lugar algum. “Cada vez mais me convenço de que essa
mania de discriminar e botar apelidos nos colegas não leva a nada. Cada pessoa tem um tipo
de beleza, um talento oculto” (NICOLELIS, 2005 p. 82).
A Tabela 6 a seguir, mostra as respostas dos alunos sobre Paradidáticos e as diferenças
sociais.
Tabela 06: Paradidáticos e as diferenças sociais
Participantes Exemplos de Respostas Porcentagem de Alunos A1, A2, A8 Os livros paradidáticos trazem
histórias de pessoas que sofrem algum tipo de preconceito e formas de amenizá-los.
10,7
A3, A16 Quando você lê um livro que trata desse assunto, você se comove e começa a tratar as pessoas de uma forma melhor possível.
7,2
A4 Os livros paradidáticos nos ensinam a conviver com as diferenças sociais independentes de quais sejam elas.
3,6
A5, A6 Os livros paradidáticos podem clarear nossa mente e nos ensinam a não ser preconceituosos com os outros.
7,2
A7, A18 Os livros paradidáticos ajudam as 7,2
51
pessoas enxergarem as outras sem preconceito, como elas realmente são.
A9, A25 Os livros paradidáticos têm valor ético para diminuir o preconceito dentro da escola e conviver melhor com as pessoas.
3,6
A10 Porque quando lemos esses livros paradidáticos nos envolvemos de tal maneira que nos sentimos no lugar da pessoa que sofreu preconceito, e então nós começamos a mudar em relação aos outros.
3,6
A11 Os livros paradidáticos com uma linguagem mais fácil para adolescentes, são um estimula a nossa leitura, dessa forma aprendemos a não julgar o outro por sua diferença social.
3,6
A12, A13 Os livros paradidáticos mostram nas histórias os problemas da sociedade de maneira prática para que todos tenham conhecimento do que acontece e saibam conviver com as diferenças.
7,2
A14 Os livros paradidáticos ajudam aos alunos como é errado ter preconceito para com as pessoas. Sem os livros, talvez, os alunos teriam um conceito equivocado sobre as diferenças sociais.
3,6
A15 Os livros paradidáticos trazem um ensino fundamental para entendermos as diferenças sociais que existem entre nós.
3,6
A17 Os livros paradidáticos são bastante úteis se forem utilizados de maneira construtiva, focalizando o amor, a amizade e a aceitação ao próximo. Ensinando que a diferença é a base da vida ser tão bela. Isto levará as pessoas a raciocinarem sobre seus atos antes de cometê-los.
3,6
A19, A24 Os livros paradidáticos ajudam a adquirir cultura e também ajuda a aproximar uma cultura da outra e relacioná-la de um modo diferenciado.
7,2
A20, A26, A27 Através da leitura dos livros 10,7
52
paradidáticos diminuímos as diferenças entre as pessoas, devido aos exemplos citados no livro, por pessoas que muitas vezes passaram por algum tipo de preconceito.
A21 Os livros paradidáticos mostram que devemos conhecer as pessoas antes de criticá-las e ter preconceito contra elas.
3,6
A22 Os livros paradidáticos além de ajudar a pessoa adquirir cultura, ele pode ser um livro de auto-ajuda, como forma de ajudar o outro a aceitar as pessoas sem preconceitos, como elas realmente são.
3,6
A23 Os livros paradidáticos nos ajudam a nos colocar no lugar do outro, porque o aluno que discrimina o outro, vê que não está sendo desagradável.
3,6
A28 Os livros paradidáticos revelam a importância de termos exemplos de pessoas que passara por algum problema social e conseguiu superá-lo.
3,6
Na Tabela 6, os alunos em suas respostas descrevem que os livros paradidáticos lidos
tratam de preconceitos do dia a dia que eles têm que enfrentar.
No livro “Como é duro ser diferente”, a autora vem trazendo vários personagens que
sofreram algum tipo de preconceito, como eles reagiram e conviveram com essas situações.
Como por exemplo, quando Jéssica, a filha da secretária do colégio ganha uma bolsa de
estudos da diretora. Os pais de Jéssica não teriam condições de pagar o colégio, mas Jéssica
por ser uma aluna superesforçada é admirada pelo seu esforço por batalhar pelo seu futuro. Só
que no colégio havia sempre os que a perseguiam por ela ser pobre.
Mas o que não falta é gente preconceituosa e metida à besta. Às vezes, quando a Jéssica passa, cheia de cadernos e livros na mochila, ela tem que ouvir piadinhas do tipo: - Conte aí, princesa, quando é que você vira a Gata Borralheira? – Deve ser chato estudar num colégio cheio de riquinho e depois voltar pra sua casa na periferia, né, não? [...] Sorte que no colégio é obrigatório o uso de uniforme, senão a Jéssica sofreria ainda mais pela falta de roupa e tênis de grife. Ninguém a convida para nada, com a desculpar que ela mora longe, não tem roupa para vestir, esses argumentos bestas. Na realidade, é preconceito mesmo (NICOLELIS, 2005 p. 56).
53
Outro personagem do mesmo livro que sofre preconceito por ser negra é Tatiana, uma
menina muito bonita, de olhos verdes, mestiça de pai negro e mãe branca.
A Tatiana me mostra um batom que acabou de comprar [...] Enquanto conversamos, passa a Larissa e dispara assim, sem mais nem menos, na cara da Tatiana: - Ih, em pele escura essa cor de batom fica horrorosa! [...] Os olhos verdes de Tatiana se enchem de lágrimas. Pê da vida, vou logo retrucando, [...] – Ô , Larissa, por que essa estupidez, pra que tanta agressividade. Cada um usa a cor que gosta; não importa a cor da pele, todos têm os mesmos direitos, todos são iguais.[...] - Pois eu não acho isso - emendou Larissa. – O lugar de certas pessoas é escola pública. Só porque tem pai famoso, pensa que é gente igual à gente? [...] Azar da dita cuja. Não viu que bem atrás dela estava chegando uma professora, que também é mestiça. Indignada, ela disparou: - Racista, hein? Vou levar agora mesmo o fato à diretoria. Todos sabem que neste colégio não se admite preconceito de qualquer espécie (NICOLELIS, 2005 p. 35-36).
Segundo os alunos, o livro também sugere que você deve respeitar as diferenças
sociais. O A3 e o A16 escrevem que o livro comove a pessoa e esta passa a tratar as pessoas
de uma forma melhor possível. Os livros trazem uma linguagem de fácil entendimento e
muitas vezes a leitura faz com que a pessoa se coloque no lugar do outro. Muitas vezes se
identificando com os personagens do livro. Como no caso de Layla, personagem do livro
“Como é duro ser diferente”, que tem uma imagem negativa de sua pessoa, se achando feia e
dificilmente acreditaria que algum garoto se interessasse por ela.
- Seja franca: você me acha um tribufu?– Que é isso, Layla? Você é uma gatinha. Não tem por que se preocupar a aparência. – Gatinha, eu? Pelo amor de Deus, Tatiana, tenha dó. Com esse aparelho nos dentes, usando óculos, espinha no queixo? Eu sei que você é minha amiga do peito, mas não precisa ser baba-ovo, não. Eu tenho espelho em casa. – Não sou baba-ovo coisa nenhuma – retruca a Tatiana, zangada. – Veja se tem autoconfiança, Layla [...] (NICOLELIS, 2005 p. 53-54).
Nesse mesmo livro a autora mostra o quão importante são os escritores para serem a
voz dos excluídos aos seus leitores.
Outra coisa que eu curto muito são as aulas de português. A professora é superlegal [...] Numa das aulas ela falou que os escritores são importantes porque têm um papel social-eles dão voz aos excluídos, aos que não podem ser ouvidos. Muitos até, em seus livros, são quase profetas do futuro [...] (NICOLELIS, 2005 p.74).
Para os alunos, os livros também servem para aproximar uma cultura da outra e
raciociná-la de um modo diferenciado. De acordo com A14, talvez, sem os livros
54
paradidáticos, os alunos teriam um conceito equivocado sobre as diferenças sociais. O A 22
coloca que o livro paradidático pode ser um livro de auto-ajuda, como forma de ajudar o outro
a aceitar as pessoas sem preconceitos, como elas são. O A 28 escreve que os livros
paradidáticos podem diminuir as diferenças sociais, por trazer exemplos através dos seus
personagens, que muitas vezes passaram por algum tipo de preconceito.
Os alunos escrevem que os livros paradidáticos têm uma linguagem fácil para os
adolescentes, estimulam a leitura e fizeram com que eles tivessem um conhecimento melhor
para tratar as pessoas diferentes.
Também em sua escrita, os alunos mostram que os livros focalizam o amor, a amizade
e o amor ao próximo. Que as diferenças entre as pessoas torna a vida mais bela.
Segundo os alunos, os livros ajudam as pessoas a entender as diferenças, através dos
exemplos citados, ajudam a adquirir cultura e se aproximar de outra cultura relacionando-as
de um modo diferenciado.
Para os alunos os livros paradidáticos ensinam a conviver com outro de uma forma
respeitosa, aceitando cada um do jeito que é, porque todos são diferentes e essas diferenças é
que fazem o mundo ser mais interessante.
“Cada pessoa tem um tipo de beleza, um talento oculto” (NICOLELIS, 2005 p. 82).
55
Para a análise das dissertações serão consideradas as seguintes categorias: A escola
para todos; A escola deveria ser para todos, mas não é; Principais diferenças sociais citadas
pelos alunos dentro da escola; O que fazer para a escola ser para todos e A inclusão escolar.
- A escola para todos
Pode se observar, através de alguns exemplos da escrita dos alunos, como entendem
que a escola é para todos.
A2 “Qualquer pessoa tem o direito a uma boa educação, tem o direito de obter
diferentes tipos de conhecimento. A escola deve sim, ser um lugar para todos. Independente
das diferenças que houver entre os alunos, esse direito nunca deve ser restrito”.
A7 “A escola é um lugar para todos que tenham em si a vontade de aprender. A escola
é um lugar onde se devem agregar todos os tipos de pessoas, desde etnias diferentes, até
pessoas com deficiência física ou mental”.
A8 “Todos os tipos de deficientes tem o direito de freqüentar e serem bem sucedidos
na escola, porque as escolas foram feitas para todos”.
A10 “A escola, por exemplo, é um lugar para todas as pessoas. As pessoas não podem
distinguir-se uma das outras pela raça, ou por cor, todos devem conviver juntos”.
A13 “A escola é um lugar onde todos devem ser bem vindos, por isso a mudança, na
visão empregada pela sociedade precisa ser transformada, iniciando com professores, pais e
alunos”.
A16 “A escola é um lugar onde encontramos todos os tipos de diferenças, desde
pensamentos até características físicas, afinal é um lugar de diversidade”.
A17 “Ir á escola está cada dia mais popular, todos têm vontade de aprender e com isso
vão para a escola que para os dias de hoje é sim para todos”.
A18 “Podemos ter várias escolas para todos, sem exceção alguma, só depende do ser
humano de deixar de lado o preconceito, egoísmo e sim lutar para a igualdade”.
56
A23 “Escola é um lugar onde todos têm o direito de freqüentar, não importa sua classe
social, sua raça, todos têm direitos iguais”.
A25 “Escola é um lugar aonde todos têm o direito de aprendizado, não importando sua
raça, todos devem ser incluídos no contexto escolar”.
Em suas dissertações os alunos escrevem que a escola deve ser de direito a todas as
pessoas. Todos têm o direito ao ensino independentemente de suas diferenças, pois todos
parecem que querem aprender.
Os alunos em suas dissertações escrevem que a escola é um ambiente em que todas as
diferenças devem ser aceitas. A educação tem por lei e direito, garantir a todos e favorecer o
acesso ao conhecimento. Essa posição dos alunos está de acordo com o direito à educação
assegurado a todos os brasileiros pela Constituição Federal (BRASIL, 1988), independente da
raça, idade ou condição social. A Constituição Federal estabelece:
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Art. 208. O dever do Estado com a Educação será efetivado mediante a garantia de: III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
Além da Constituição Federal, de 1988, existem ainda duas leis que regulamentam e
complementam a o direito à Educação: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
(BRASIL, 1990); e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), (BRASIL, 1996). Juntos,
estes mecanismos abrem as portas da escola pública fundamental a todos os brasileiros, já que
nenhuma criança, jovem ou adulto pode deixar de estudar.
Para os alunos, a escola deve ser um lugar onde todos que têm a vontade de aprender
tenham a oportunidade de estudar. A escola é um lugar em que se deve agregar todos os tipos
de etnias e pessoas com qualquer tipo de deficiência. É na escola que o ser humano deve
deixar de lado todo o tipo de preconceito e egoísmo e todos devem lutar para o direito de
igualdade.
O A8, em sua escrita, diz que os deficientes têm o direito de serem bem sucedidos na
escola. É importante que haja programa de estímulos para as crianças deficientes
freqüentarem escolas comuns, dando apoio aos familiares e garantia de continuidade para que
essa criança não se perca e se desestimule.
57
Para o A10 a escola é um lugar para todos. As pessoas não podem distinguir-se uma
das outras pela raça ou cor, cada pessoa é diferente da outra, por isso cabe a escola
proporcionar um ensino diferenciado.
De acordo com os alunos, muitos deficientes são obrigados a freqüentar uma escola
especial, mas isso não deveria existir, porque a escola comum é um ambiente em que todas as
diferenças deveriam ser aceitas. Esse ponto de vista vem ao encontro das discussões que
ocorrem na literatura especializada que propõem como dever da educação proporcionar uma
escolarização básica a todas as crianças, sobretudo as crianças de classes baixas, as de grupos
marginalizados e as deficientes (COSTA, 2003).
Para os alunos a escola deveria ser um lugar onde não existe a diferença, todos os
estudantes têm o direito de participar do ensino regular, pois na escola há uma grande
diversidade cultural que engloba as diferenças culturais que existem entre as pessoas.
Assim como os alunos escreveram que a escola é um direito de todos, Goffredo (1991,
p. 1) declara que “O direito à educação para todos os brasileiros foi estabelecido na
Constituição de 1824, à época do Brasil Império”.
Os alunos, em suas produções, parecem que levaram em consideração o aprendizado
que obtiveram em sua vida escolar, mas também podem ter sido influenciados pelos livros
lidos, que sugerem que a escola deve agregar todos os tipos de etnias, deixar de lado o
preconceito.
No livro “Longe dos Olhos”, o autor comenta que Oto freqüentava a faculdade, fazia
curso de Letras, se encaixava no estereótipo de negritude, pois era negro e morava na favela.
Por outro lado, era intelectual e nem todos os negros conseguem ir para a escola, quanto mais
chegar à faculdade. As dificuldades de acesso à faculdade não deveriam acontecer para esse
grupo, pois a escola deveria ser para todos. Sob esse aspecto Oto não se encaixa no
estereótipo desse grupo:
Nascido numa favela, batalhou para estudar e entrar numa universidade pública. Com vinte anos, já havia lido muitos livros. Havia passado em sexto lugar no vestibular. A gaveta de sua escrivaninha estava cheio de ensaios sobre preconceito racial, biografia de líderes negros revoltosos e contos-denúncia. Queria ser professor de Literatura e escritor [...] (JAF, 2005 p.11).
Para o A13, na escola para todos é necessário haver mudança na sociedade,
começando pelos professores, pais e alunos. Assim como afirma Mendes (2002),
58
Ressalta-se aqui a necessidade de ensino colaborativo ou cooperativo entre professores do ensino regular e especial, e entre professores do ensino regular e consultores especialistas de áreas afins. O importante nesse contexto é que a inclusão de cada aluno com necessidade educacional seja planejada coletivamente, envolvendo, inclusive, os pais e os alunos, e seja avaliada sob as perspectivas dos envolvidos (p76).
Para A16, é na escola que se encontram todos os tipos de diferenças e é um ambiente
onde todas as diferenças devem ser aceitas, pois a escola é para todos. A escola deve oferecer
um atendimento de qualidade a todas as crianças, independente de suas características de
aprendizagem. É importante a escola abrir um espaço para que todas as crianças estejam lá,
tenham suas diferenças respeitadas, e possam aprender e se desenvolver junto com as demais
de sua idade, como comentado por Antunes (2006).
Em suas dissertações A23 e A25 escrevem que todos independentes de sua raça,
devem ser incluídos no contexto escolar. Nessa direção, Mantoan (2004) explica que é
necessário mudar o paradigma educacional atual, para que a inclusão faça parte do contexto
escolar.
As diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero enfim, a diversidade humana está sendo cada vez mais desvelada e destacada, e é condição imprescindível para entender como aprendemos e como entendemos o mundo e a nós mesmos (p.37).
A escola só será de todos se houver atividades que possam criar condições para
atitudes menos discriminatórias e espaços entre professores que promovam estudos e trocas
de experiências em relação aos seus alunos. É preciso criar condições de todos os alunos
aprenderem e participarem em sala de aula, respeitar as diferenças e utilizar a diversidade
como uma riqueza no trabalho educacional escolar.
59
- A escola deveria ser para todos, mas não é.
Será relatado abaixo o que os alunos escreveram sobre a escola não ser para todos.
A1 “Para os políticos a educação é essencial para a vida de uma pessoa; os políticos só
falam que a educação é para todos, mas na hora de mostrar na prática não fazem nada de
nada, só deixam no papel”.
A3 “Teoricamente, no belo discurso da lei, a escola é para todos, porém na prática é de
conhecimento geral, que não é bem assim que acontece”.
A4 “Na escola, um lugar que deveria ser para todas as pessoas, muitas vezes, as
crianças acabam sendo discriminadas pela sua cor, ou até mesmo pela sua classe social”.
A5 “A Lei de Diretrizes e Base – 9.394/96 (LDB), sancionada pelo presidente
Fernando Henrique Cardoso juntamente com o ministro da educação, Paulo Renato, em 1996,
foi baseada no princípio do direito universal que rege a educação para todos, teoricamente. Na
prática, infelizmente, a educação está longe de ser para todos”.
A6 “A constituição brasileira possui leis onde protege os indivíduos com algum tipo
de deficiência, dando o direito a eles as mesmas condições oferecidas para uma pessoa
considerada “normal”. Entretanto, o que acontece é completamente o oposto, onde
adolescentes e jovens enfrentam dificuldades para conseguirem vaga numa escola”.
A12 “Escola para todos, como norma, só na Constituição de 1988. O país ainda é
dominado pela desigualdade social, pela disparidade regional e por discriminações”.
A14 “Não se pode usar como título, escola um lugar de todos, estaria muito irônico
comparado às escolas no mundo. Como se sabe, existem muitas pessoas excluídas da escola”.
A19 “A estrutura educacional brasileira está totalmente sucateada. Infelizmente o
Brasil não está preparado para ter uma escola para todos”.
60
Para a maioria dos alunos a escola deveria ser de todos, mas não é, porque muitas
vezes os políticos defendem a educação em seus discursos, mas na prática não fazem nada
para que a educação seja de direito a todos.
Os alunos consideram que teoricamente há um discurso belo sobre inclusão, porém na
prática, como é de conhecimento geral de todos, não é assim que acontece, porque há muitas
crianças que ainda não estão na escola, e muitas são discriminadas pela sua cor, deficiência ou
classe social.
Segundo os alunos, a Constituição Brasileira possui leis que garantem a inclusão de
todos na escola, mas isso ainda está muito longe de acontecer. Há uma ironia achar que todas
as crianças estão incluídas dentro do contexto escolar. Infelizmente a estrutura educacional
brasileira está desvalorizada, pois na prática ainda há crianças excluídas da escola.
Esta condição prática está em desacordo com os princípios defendidos na Lei de
Diretrizes e Bases – 9.394/96 (LDB), no artigo 2º diz que:
“A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos
ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (BRASIL/MEC,
1996).
A posição dos alunos está de acordo com as discussões do livro “Como é duro ser
diferente”, onde a autora mostra que a escola deveria acolher a todos, mas há muito
preconceito por parte dos alunos, e às vezes são até cruéis para com aqueles que são
diferentes.
Parece que as pessoas imaginam que existe receita de gente. Só pode ser isso. Basta alguém ser diferente da maioria, lá vem discriminação. Eu me livro dos apelidos porque fico na média. Mas tem colegas que padecem. Uns encaram numa boa, tipo “deixa pra lá”; outros se ofendem, reclamam com os pais, por tabela, vêm exigir providências do diretor. Já aconteceu de gente mudar de colégio porque a barra pesou muito. E há os que enfrentam o preconceito da raça (NICOLELIS, 2005 p.61).
Segundo A1, os políticos só falam que a educação é para todos, mas na hora de
mostrar na prática não fazem nada de nada, só deixam no papel. Esta realidade não contempla
as discussões de Gadotti (1995) quando pontua que a educação é um dever também do
Estado. Nessa mesma linha de pensamento (GADOTTI, 1995) escreve:
61
O princípio de que a educação é dever do Estado, não implica no imobilismo da população e de cada indivíduo: a educação é também dever de todos, pais, alunos, comunidade. Com essa mobilização da população em defesa do ensino público, é possível pressionar ainda mais o Estado para que cumpra o seu dever de garantir a educação pública, gratuita e de bom nível para toda a população. Uma população acostumada a receber um bom serviço se mobilizará para continuar a tê-lo (p.7-8).
Para A3 e A5 a escola está longe de ser para todos. Há um belo discurso na lei que diz
que a educação é para todos, porém na prática não é isso que está acontecendo.
Segundo A6 o direito de ir à escola é para todos, principalmente para aqueles que têm
algum tipo de deficiência, a própria lei garante isso, porém não é isso que acontece, muitos
ainda estão fora da escola. Essa posição do aluno também não concorda com as discussões
presentes na nossa literatura científica, isto é, que todas as crianças precisam ter a mesma
chance, não devem ser discriminadas por nascerem numa cidade pequena, ou por serem
pobres, devem ter a mesma chance a uma escola de qualidade (BUARQUE, 2007).
Para A12 o país ainda é dominado pela desigualdade social, pela disparidade regional
e por discriminações, por isso muitos ainda não têm acesso à escola. Enquanto não resolver
essas desigualdades, não será possível resolver os problemas educativos do país (CURY,
2008).
De acordo com A14 é irônico usar o título escola um lugar para todos, pois muitos
ainda estão excluídos da escola. Uma solução para a exclusão escolar apontada por Rattner
(2002), é a tornar viável a inclusão social.
A inclusão torna-se viável somente quando, através da participação em ações coletivas, os excluídos são capazes de recuperar sua dignidade e conseguem - além de emprego e renda - acesso à moradia decente, facilidades culturais e serviços sociais, como educação e saúde (p.1).
Para o A19 o Brasil ainda não está preparado para ter uma escola para todos, devido a
estrutura educacional estar ´sucateada´. Só haverá uma escola para todos quando houver uma
inclusão educativa e social daqueles que têm características e qualidades de aprendizados
diferentes das padronizadas e tradicionalmente esperadas pela escola. É importante criar e
consolidar novas oportunidades e canais de participação para os alunos se expressarem e
aprenderem dentro da escola, dessa maneira a escola será para todos.
62
Principais diferenças citadas pelos alunos dentro da escola.
Um dos fatores que se percebe através da escrita dos alunos são as diferenças sociais
que existem dentro da escola. Todas as pessoas têm direito a uma boa educação.
A2 “Qualquer pessoa tem o direito de uma boa educação, tem o direito de uma boa
educação, tem o direito de obter diferentes tipos de conhecimento. E as diferenças sociais ou
raciais não devem influenciar nisso”.
A3 “Além das escolas públicas não oferecerem um ensino de qualidade, preocupando-
se apenas com a quantidade, tem pouca ou nenhuma estrutura para receber os deficientes”.
A5 “Nem todas as crianças têm acesso a uma escola decente. No caso das crianças que
moram no campo, quilômetros são percorridos diariamente para mal se aprender o be-á-bá”.
A6 “Portanto, todas as pessoas seja ela portadora ou não de deficiência, ambas devem
ter os mesmos direitos e serem respeitadas e acima de tudo poderem freqüentar uma escola
sem nenhuma discriminação”.
A7 “A escola é um lugar onde se deve agregar todos os tipos de pessoas, desde etnias
diferentes, até pessoas com algum tipo de deficiência”.
A8 “Dentro das escolas os deficientes físicos, não sofrem somente com a
discriminação, mas também com a falta de uma boa estrutura para aqueles que possuem
cadeira de rodas, muletas”.
A10 “As escolas devem ter alunos com deficiência, porque assim essas pessoas não
deixam de não ser normais por não ouvir, enxergar ou andar”.
A11 “Algumas pessoas são discriminadas na escola devido a sua religião, cor, ou
raça”.
A13 “Surgindo um grupo de excluídos da sociedade como os deficientes físicos,
mentais, visuais, auditivos e tantos outros.”.
63
A15 “É de extrema importância a escola possuir um material didático especializado
para o uso, por exemplo, dos deficientes visuais.”
A17 “As escolas devem agregar qualquer tipo de classe social, desde os mais pobres,
que não tem condição de comprar uma bolsa, até os que têm condições para estudarem numa
escola particular”.
A18 “O racismo é uma das maiores barreiras encontradas nas escolas”.
A19 “O preconceito existe em escolas contra os negros, deficientes físicos e contra
pessoas de classe baixa”.
A22 “Existem várias escolas que não aceitam crianças com deficiência”.
A23 “Há escolas que se destacam, pois aceitam e tratam as pessoas igualmente”.
Estas posições concordam com as discussões que esclarecem que o país possui uma
diversidade cultural muito grande, por isso é necessário respeitar as diferenças, garantir
direitos e buscar recursos para que todo cidadão possa viver com dignidade no país, precisa-se
de uma sociedade preparada para a diversidade humana, onde todas as pessoas estejam
incluídas, conforme propostas de Lovato e Zych (2008).
Para os participantes, se a escola pública não oferece nem um ensino de qualidade,
como poderá então receber os deficientes. Nem todos os alunos especiais têm sido respeitados
e aceitos pela escola. Muitos ainda são discriminados.
A esse respeito, o multiculturalismo pode ser um dos caminhos para combater os
preconceitos e discriminações ligadas à raça, ao gênero, às deficiências, à idade e à cultura.
Segundo Oliveira (2001, p 1),
Olhar a especificidade da diferença é instigá-la e vê-la no plano da coletividade. Pensar numa escola pública de qualidade é pensar na perspectiva de uma educação inclusiva. É questionar o cotidiano escolar, compreender e respeitar o jeito de ser negro, estudar a história do negro e assumir que a nossa sociedade é racista. Construir um currículo multicultural é respeitar as diferenças raciais, culturais, étnicas, de gêneros e outros. Pensar num currículo multicultural é opor-se ao etnocentrismo e preservar valores básicos de nossa sociedade.
O multiculturalismo vem ensinar que reconhecer a diferença é reconhecer que há
pessoas e grupos que são diferentes entre si, que numa sociedade democrática é composta de
uma totalidade heterogênea, na qual não há exclusão de nenhum elemento da totalidade, e,
portanto, toda diferença deve ser respeitada.
64
O A5 responde que as crianças que moram no campo são também excluídas, porque
moram muito longe e o acesso à escola é muito difícil. O relatório da Unicef (2009), mostra
que ainda há algumas desigualdades que o país precisa superar, especialmente as regionais,
étnico-raciais, socioeconômicas e também as de inclusão de crianças com deficiência para que
todos tenham direito à educação.A localização rural ou urbana do domicílio pode reduzir a
chance de uma criança completar o Ensino Fundamental na idade correta no Brasil. Segundo
esse mesmo relatório, a ascendências desses grupos à escola vem evoluindo nos últimos anos,
mais ainda é insuficiente em algumas faixas etárias.
O acesso à educação de parcelas da população mais vulneráveis, como afrodescendentes, indígenas, quilombolas, crianças com deficiência e as que vivem nas comunidades populares dos centros urbanos, vem evoluindo nos últimos anos. Mesmo assim, esses grupos continuam sendo os mais atingidos pelas iniqüidades do sistema educacional brasileiro. Além disso, o atendimento ainda é insuficiente para as crianças de até 5 anos na Educação Infantil e para os adolescentes de 15 a 17 anos no Ensino Médio (UNICEF, 2001 p.18)
O A10 em sua resposta sugere que as escolas devem ter alunos com deficiência,
porque essas pessoas passam a se sentirem normais. A convivência com os alunos especiais
desenvolve a tolerância e a solidariedade, melhora a qualidade dos relacionamentos, as
crianças especiais estimuladas pelas outras, podem alcançar um progresso superior aos que
teriam em escolas especializadas.
Os alunos escrevem que há muito preconceito em escolas contra os negros, deficientes
físicos e pessoas com nível sócio-econômico baixo. Que há escolas que não aceitam pessoas
com deficiência. Para os alunos A11, A17, A18 e A19 a classe social, o racismo, o
preconceito e a discriminação são barreiras que impedem as crianças de estarem na escola.
Esta realidade considerada pelos alunos concordam com o relatório da Unicef (2009) quando
diz que 450 mil crianças excluídas da escola são negras e pardas, e a maioria vive nas regiões
Norte e Nordeste, e são as que apresentam os mais altos índices de pobreza do país e as
menores taxas de escolaridade.
O A13 e o A15 dizem que há um grupo de alunos com necessidades educacionais
especiais e necessitam de colocar um material didático diferencial a todo o tipo de deficiência.
Essas discussões dos alunos vêm ao encontro da posição de Caiado (2003) quando pontua que
todos os alunos especiais devem ter condições de freqüentar a escola, por exemplo, um aluno
com deficiência visual incluído na escola regular deve ter materiais em braile, em fitas
gravadas e é necessário um professor especializado que ofereça um apoio pedagógico a esses
alunos, para que a representação da deficiência, enquanto incapacidade se altere.
65
Para o A22 ainda há muitas escolas que não aceitam as diferenças. Muitas escolas
ainda estão longe de tornar viável a inclusão, muitas até recebem os alunos com deficiência,
mas os separam dentro do próprio ambiente escolar, como no caso das salas especiais.
Já o A23 escreve que há muitas escolas que aceitam as diferenças. Segundo Mantoan
(2006), a escola tem se aberto a vários grupos sociais, porém sem reformular seus conceitos e
conhecimentos, ainda é preciso trabalhar as diferenças para que elas enriqueçam o
aprendizado de todos, deficientes ou não, com problemas de aprendizagem ou não.
Os alunos podem ter se baseado no livro para escreverem em suas dissertações sobre
as barreiras impostas a muitos alunos que têm algum tipo de deficiência ou sofrem
discriminação pela maneira que são fisicamente ou intelectualmente. Como é o caso de
Milena, personagem do livro “Como é duro ser diferente”; que sofre na escola por ser muito
magra.
A Milena tem um baita complexo por causa de sua magreza. Reclama que nenhuma roupa cai direito, fica sempre sobrando aqui e ali, que quase não tem peito nem bumbum, que as pernas são muito finas, que se põe jeans fica estranho, se coloca saia, os cambitos aparecem. E a turma não perdoa. O apelido dela no colégio é Olívia Palito e os maldosos dizem que nunca sabem se ela está de frente ou de perfil (NICOLELIS, 2005 p.62).
Entre as crianças que sofrem discriminação na escola estão os disléxicos, que são
deixados de lados pelos próprios alunos. Não os aceitam para fazer trabalho em dupla, são
muitas vezes totalmente excluídos (NICOLELIS, 2005).
Nicolelis (2005), no livro “Como é duro ser diferente” descreve o que é dislexia,
alguns famosos que são disléxicos e o que a personagem Layla fez, para que sua amiga
disléxica não se sentisse excluída dos trabalhos em grupo da escola, como apresentado em
seguida.
Marina não é devagar porque quer. Tem um problema chamado dislexia; isso causa muita dificuldade no aprendizado, principalmente na escrita: ela escreve de um jeito diferente, tudo ao contrário [...] pessoas famosas tiveram ou têm isso. O Leonardo da Vinci, um artista italiano muito respeitado e famoso [...] o ator Tom Cruise – que disse numa entrevista que não consegue ler direito os roteiros dos filmes, o que não impediu que ele tivesse sucesso e fosse indicado três vezes para o Oscar [...] Outro dia fui escolhida para ser chefe de uma equipe e fiz o contrário: escolhi a Marina em primeiro lugar [...] Ela ficou tão feliz que valeu a pena (NICOLELIS, 2005 p.82).
66
O objetivo da educação inclusiva é valorizar os alunos, desenvolver seus talentos.
Ninguém é melhor do que ninguém, cada ser humano é único, por isso a sociedade deve
respeitar as diferenças de cada um. Então, como conclui Santos (apud MANTOAN, 2006,
p.34), "é preciso que tenhamos o direito de sermos diferentes quando a igualdade nos
descaracteriza e o direito de sermos iguais quando a diferença nos inferioriza”.
67
O que fazer para a escola ser para todos?
Segundo os sujeitos, faz-se necessário reestruturar a escola, para que receba todos os
alunos, pois segundo a Constituição a escola deve ser para todos.
A1 “Se a escola é para todos, então os governantes têm que melhorar o ensino das
escolas estaduais, pois a maioria dos brasileiros não tem condição de estudar numa escola
particular”.
A2 “Os pais devem participar da vida escolar dos filhos”.
A3 “Faz-se urgentemente necessária a especialização e a capacitação de profissionais,
estrutura para atender essas pessoas diferentes, uma conscientização maior, pois todos
merecem ser tratados igualmente como cidadãos que são”.
A4 “As escolas públicas deveriam preparar melhor seus professores e funcionários
para receber esses alunos especiais, isso cabe ao governo fazer, e até mesmo ter psicólogos
para ajudar a tratar melhor a questão do preconceito dentro da escola”.
A5 “Desenvolvimento é conseqüência de educação. E no Brasil, tal fato só será
possível com a participação intensiva da sociedade. A educação é direito de todos e cabe a nós
lutar por ela”.
A6 “A escola deve oferecer professores capacitados e preparados para receber os
alunos com necessidades educacionais especiais”.
A7 “O que falta mesmo para uma escola ser um lugar de todos é o preparo nos
profissionais, para que possam ensinar a todos de modo diferente”.
A13 “Não basta matriculá-los nas escolas (alunos especiais), é preciso que as escolas
estejam preparadas profissionalmente e estruturalmente. Pois, a formação de professores
qualificados a lidar com necessidades e alternativas de ensino”.
A18 “Podemos ter várias escolas para todos, só depende do ser humano deixar de lado
o preconceito, egoísmo e lutar para acabar com a desigualdade”.
A19 “Para ter uma escola para todos, muitas mudanças terão que ser feitas, para que
todas as diferenças possam ser respeitadas e tratadas de modo correto e merecido.”
A21 “Todos têm direito de viver com segurança de suas necessidades supridas, direito
assegurado e a discriminação deve cair, para haver uma sociedade mais justa e igualitária.”
A22 “Não somente o governo, mas cada um de nós tem o dever de tentar deixar a
sociedade mais igualitária a todos”.
A26 “Há escolas que aceitam e tratam as pessoas igualmente, mesmo sendo de etnias
diferentes, habilidades diferentes ou até mesmo um físico diferente”.
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A27 “Necessitamos investir em educação, e com isso vemos a cada dia a escola se
tornar um lugar de todos.”
A28 “Campanhas de conscientização devem ser feita em todo país para todas as
camadas sociais, pois além de conscientizar os estudantes, ajudará a melhorar a qualidade de
ensino e educação do Brasil ao longo do tempo.”
Para alguns alunos, só será possível haver uma escola para todos se os governantes
melhorarem a condição nas escolas estaduais. A escola deve atender as necessidades da
comunidade, ter um bom material pedagógico e boas instalações para receberem todo tipo de
aluno.
A maioria dos alunos respondeu que para haver uma escola para todos deve
reestruturar o sistema de ensino, especializar e capacitar a todos que trabalham na escola e
melhorar o material pedagógico para que todos os alunos tenham acesso a uma educação de
qualidade.
Para A1, A4 e A5 os governantes e a sociedade têm uma participação muito grande
para melhorar a escola e fazer com que ela seja para todos. Ou mais, é necessário que os
órgãos públicos tomem consciência da importância que tem a Educação no desenvolvimento
da cidadania, assim a educação ficará mais comprometida quanto à qualidade de ensino
parafraseando Zizemer (2006).
Segundo A2 os pais devem participar da vida escolar dos filhos. Quando os pais
matriculam os filhos na escola não devem achar que a educação é responsabilidade somente
da escola, a família tem um papel fundamental na educação de seus filhos. Por melhor que
seja a escola, são os pais que têm um papel decisivo na vida escolar dos filhos. De acordo
com o pedagogo Antônio Carlos Gomes da Costa, um dos redatores do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), os pais deveriam ser chamados de Educadores Familiares ao invés de
pais. Segundo ele, "Ser pai ou mãe é uma condição biológica. Ser um Educador Familiar é
uma opção de vida” (2009, p1).
O A3, A6 e A7 escrevem que é necessário, urgentemente, fazer especialização e
capacitação de professores e funcionários para que possam ensinar e lidar com as
necessidades de cada aluno. A falta de capacitação não justifica excluir algum aluno, numa
escola para todos, os professores devem observar suas particularidades sabendo respeitá-las
para acolhê-las da melhor forma possível. Todo aluno tem necessidades educacionais
específicas às quais o professor tem que suprir pedagogicamente. Tanto os professores quanto
os funcionários devem estar preparados para que haja a inclusão (LIMA, 2008).
69
Para A13, A18 e A19 não basta matricular os alunos especiais, são necessárias
mudanças. É preciso que as escolas estejam preparadas profissionalmente e estruturalmente.
Os professores devem ter alternativa de ensino, uma formação contínua, para que a escola
possa se adequar aos alunos e não os alunos se adequarem à escola.
Segundo A21 e A22, para a escola ser de todos depende das pessoas deixarem o
preconceito de lado, respeitar e tratar de modo correto aqueles que possuem alguma diferença.
Também é necessário investir em educação, pois todos têm o direito de ter suas necessidades
educacionais supridas. A escola é palco de manifestações de preconceitos e discriminações
que precisam ser desnaturalizados, assim como afirmam Candau e Moreira (2003),
Muitos dos relatos sobre situações de discriminação mostraram, também, que a escola é palco de manifestações de preconceitos e discriminações de diversos tipos. No entanto, a cultura escolar tende a não reconhecê-los, já que está impregnada por uma representação padronizadora da igualdade - "aqui todos são iguais", "todos são tratados da mesma maneira" - e marcada por um caráter monocultural. Preconceitos e diferentes formas de discriminação estão presentes no cotidiano escolar e precisam ser problematizados, desvelados, desnaturalizados. Caso contrário, a escola estará a serviço da reprodução de padrões de conduta reforçadores dos processos discriminadores presentes na sociedade (p.11).
Para A27 e A28 é preciso investir em educação, precisa haver também campanhas de
conscientização no país. Afinal, não somente o governo, mas todos devem deixar a escola
mais igualitária e justa.
A escola tem um papel sério e um espaço privilegiado de encontro com o diferente,
um papel claro e democrático a partir do momento que garante os direitos e deveres de cada
um e faz com que os alunos sejam todos respeitados. Ela precisa ser uma instituição que tem o
objetivo no futuro (CANDAU e MOREIRA, 2003).
Pela redação dos alunos percebe-se que o livro lido “Como é duro ser diferente” pode
ter influenciado no que diz respeito a escola não estar preparada para receber os diferentes.
Nesse mesmo livro está acontecendo um debate na sala de aula sobre clonagem, quando de
repente começa a provocação. Um colega de classe diz que deveriam clonar a Bela (Carol),
devido a sua beleza e outro colega diz que deveria ser proibido clonar a Fera (Radamés), por
causa da sua feiúra.
O Debate virou um tumulto, mas o pessoal mais consciente contra-atacou: - Isso é preconceito! Quer dizer que a pessoa só vale pela aparência? E onde ficam características como inteligência, caráter, solidariedade? A beleza não é mérito pessoal; a pessoas nasce bonita e pronto. – Pronto coisa nenhuma – alguém discordou - Esqueceram as plásticas, maquiagens, botox, banhos de loja, academias? O mundo mudou muito. Só fica feio quem quer ou não tem direito pra mudar. –
70
Você é que esqueceu que beleza é um conceito cultural, que varia conforme o lugar e a época. Já teve tempo que mulher bonita era mulher gorda! – rebate outro. A discussão foi esquentando, parecia que não acabava mais, foi quando Dirceu, que é filho de um cientista, deu um cheque-mate no pessoal: - Gente, meu pai explicou que a garantia da sobrevivência dos seres humanos é a diversidade. Se todo mundo fosse igual, quando acontecesse uma pandemia, como a peste negra no século XIV, ou a gripe espanhola, em 1918, ela exterminaria toda a humanidade (NICOLELIS, 2005 p. 76-77).
A escola ao tentar ensinar somente alunos perfeitos se distancia da realidade, porque o
grupo social é heterogêneo. É necessário que os professores saibam lidar com todo o tipo de
diferença, e que possam refletir sobre a maneira como tratam seus alunos, para proporcionar
uma educação de qualidade a todos, sem qualquer tipo de discriminação (MANTOAN, 2006).
71
- A inclusão escolar
As opiniões dos alunos sobre a inclusão das diferenças na escola são apresentadas a
seguir.
A3 “Atualmente o preconceito vem sendo diminuído, mas ainda falta muito para a
escola fazer para que os alunos especiais possam ter uma vida acadêmica digna”.
A6 “A Constituição brasileira possui leis que protegem os indivíduos com algum tipo
de deficiência, dando o direito a eles às mesmas condições oferecias para uma pessoa
considerada “normal””.
A9 “Quando as escolas não oferecem estrutura e condições adequadas para que as
crianças portadoras de necessidades especiais venham freqüentar as aulas com os demais
fazem com que essas pessoas se sintam excluídas e rejeitadas pela sociedade”.
A10 “As escolas devem ter aluno com deficiência, pois a convivência com eles traz
respeito e aceitação dos demais alunos”.
A13 “A sociedade criou uma união de homens padronizados, e segue esse padrão,
contudo esqueceram de que a sociedade é formada pela diversidade entre os homens e não
pela discriminação daqueles que não seguem o padrão da maioria”.
A14 “Ajudar nunca é demais, muitas pessoas que são excluídas precisam de ajuda e
apoio moral, para que aos pouco participem do mundo, que é para todos”.
A15 “Os alunos com necessidades educacionais especiais ainda sofrem com a
discriminação por parte dos alunos, que muitas vezes são incentivados pela família para que
bloqueiem a inclusão social e futuramente a profissional. Nada justifica a discriminação, que
na maioria das vezes compromete a formação e a parte psicológica da criança.”.
A20 “O mundo de hoje está muito adaptado a estabelecer padrões de “normalidade”,
mas esses padrões não estão corretos, pois nenhuma pessoa é igual a outra e não há como
comparar pessoas que são completamente diferentes.”
A21 “Essa classificação errônea, dada àqueles que são diferentes, é uma prova clara de
discriminação, e para mudá-la é necessário mudar a mentalidade das pessoas”.
A22 “Existem várias escolas que não aceitam crianças com qualquer tipo de
deficiência, o que representa uma grande discriminação em relação às diferenças existentes”.
A26 “Na escola, pessoas discriminam as outras, a partir de uma imagem idealizada,
pois se julgam normais, mas se não existisse diferenças e todos fossem iguaiszinhos uns aos
outros, tanto na fisionomia, quanto nas qualidades, o mundo seria monótono e sem graça”.
72
A27 “Existem leis que dizem que as escolas têm que matricular alunos com
dificuldade, ou que necessitam de uma educação especial.”
A28 “A escola é um lugar onde as crianças começam a ter contato com o mundo
exterior, com pessoas diferentes. Um programa muito interessante adotado ultimamente é a
inclusão social, que promove a integração de diversas etnias, classes sociais e níveis de
limitação. A inclusão possibilita o aperfeiçoamento da educação escolar e o benefício tanto de
alunos com deficiência quanto os sem”.
Para A3 o preconceito tem diminuído na escola, porém ainda falta muito para a escola
incluir todos os alunos com necessidades educacionais especiais. Cada um tem seu valor e
deve ser respeitado em suas especificidades. Mantoan (2008), afirma que os alunos jamais
deverão ser menosprezados ou ridicularizados por serem diferentes, não importa se estão na
escola comum, como nas especiais. A escola não deve ser um lugar de discriminação, ou de
preconceitos para esses alunos.
Segundo A6 e A27 a Constituição Brasileira possui leis que garantem aos alunos
especiais a mesma condição de ensino que o aluno “normal”. O atual texto constitucional
(BRASIL, 1988), declara no Art. 205, que a educação é de direito de todos. Direito também
defendido pela Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994), que teve como objetivo fortalecer
a Educação para Todos, analisando as mudanças fundamentais de política necessárias para a
educação inclusiva, principalmente às crianças que têm necessidades educacionais especiais.
Portanto é dever da escola oferecer uma estrutura necessária para receber os alunos especiais.
O A9 escreve que a partir do momento que a escola oferecer estrutura e condições
adequadas às crianças especiais, elas não se sentirão rejeitadas ou excluídas da sociedade.
Essas crianças precisam de ajuda e apoio, para que possam participar da sociedade. É na
escola que a criança passa a ter uma vida social ativa. A escola para atender com eficácia
todos os alunos, incluindo os que possuem barreiras de aprendizado, necessita preparar seus
professores para responderem à diversidade de seus alunos, ter currículos e avaliações
diversificadas e flexíveis e ainda maior autonomia para responderem às diferentes
necessidades dos alunos (COSTA, Ana, 2003).
De acordo com A10 as escolas devem ter pessoas com necessidades educacionais
especiais, pois a familiaridade com os alunos especiais proporciona aos demais alunos a
oportunidade de conviver com as diferenças e deste modo aceitá-las e, acima de tudo,
respeitá-las. Bechtold e Weiss sugerem que “existem, indiscutivelmente, benefícios para a
sociedade, onde estão inseridos os membros da comunidade escolar, que aprendem que apesar
73
das diferenças existentes entre os cidadãos, estes têm direitos iguais dentro da sociedade”
(2003, p.6).
Todos são beneficiados e aprendem juntos sobre as diferenças quando a escola recebe
alunos com necessidades educacionais especiais, assim como afirma Perlman (2005),
As crianças que apresentam deficiência e convivem em escolas comuns têm nitidamente um desenvolvimento global muito superior àquelas que freqüentam escolas especiais e, também, lidam melhor com regras e noção social. Os alunos que recebem essas crianças têm atitudes mais condizentes e respeitosas em momentos diversos. Aceitam mais facilmente a diversidade e são mais criteriosos nos julgamentos morais e sociais. Os professores reconhecem que, no começo, há uma sobrecarga e exige-se um planejamento maior, mas em contrapartida sentem que, com o tempo, o grupo adquire uma maturidade e um espírito cooperativo que são de grande ajuda no dia-a-dia. Todos aprendem juntos que as diferenças fazem parte da vida (p.4)
Para A13 a sociedade é a responsável por criar homens padronizados e se esquecem de
que a sociedade é formada pela diversidade entre os homens. Apesar de a escola ser um local
onde se encontra a maior diversidade cultural, ainda é um lugar onde ocorre muitas
discriminações. Questiona-se até que ponto a escola promove a diversidade cultural. É dever
da escola proporcionar mecanismos que possibilitem o aprendizado do aluno (TRINDADE e
SANTOS, 1999).
Segundo A15 os alunos com necessidades educacionais especiais sofrem com a
discriminação. Nada justifica a discriminação, que muitas vezes prejudica a formação e a
parte psicológica da criança. Faz-se necessário apoiar as crianças especiais. Cabe a escola
reduzir ou eliminar os obstáculos impostos pelo meio aos alunos especiais, tais como o meio
físico e arquitetura da escola que não foram planejados para receber os alunos com cadeira de
rodas. Os alunos com deficiência mental ou com dificuldades de aprendizagem devem ter
acesso à educação de qualidade e sua formação deve ser adaptada às suas necessidades
específicas (MANTOAN, 1998).
Para A20 o mundo está acostumado a estabelecer padrões de “normalidade” que não
são corretos, porque ninguém é igual a ninguém, todas as pessoas são completamente
diferentes uma das outras. Diante dessa afirmação é difícil acreditar que os diferentes não são
aceitos, ou que todos são iguais. Como cidadãos todos são iguais diante das leis, porém
individualmente todos são diferentes. As diferenças podem e devem ser valorizadas, este é o
objetivo principal da escola inclusiva (PERLMAN,2005).
74
O A21 escreve que a classificação errônea que se dá aos diferentes, é uma prova clara
de discriminação, e para mudar isso é necessário mudar a mentalidade das pessoas.
Os alunos em sua redação escrevem que há muitas escolas que não aceitam crianças
especiais, ou ainda muitas que aceitam, porém não trabalham as diferenças sociais.
De acordo com a maioria dos alunos a escola é um lugar onde se deve promover a
inclusão social, beneficiar aqueles que são excluídos, aperfeiçoar a educação para que ela
promova a inclusão total dos alunos especiais.
Concluindo, o A 26 escreve que se todos fossem iguaiszinhos uns aos outros o mundo
seria monótono e sem graça.
Os alunos formularam suas respostas a partir da leitura dos textos e de conhecimentos
anteriores adquiridos dentro do contexto escolar, em debates em sala de aula sobre o tema
inclusão social.
O Brasil tem registrado um grande avanço na Educação nos últimos 15 anos. Milhões
de crianças estão hoje dentro da sala de aula e o analfabetismo tem diminuído a cada ano,
principalmente entre os jovens. No entanto, ainda há o grande desafio de garantir a cada
criança uma educação de qualidade e diminuir as desigualdades. Afinal ainda há grupos
vulneráveis da população que enfrentam dificuldades para ter acesso a uma escola de
qualidade e concluírem seus estudos (UNICEF, 2009).
75
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi analisar textos produzidos pelos alunos após a leitura de
livros paradidáticos e identificar, a partir dos textos, se há indícios da leitura dos paradidáticos
na posição assumida pelos alunos sobre as diferenças.
Atualmente o livro paradidático tem sido muito utilizado nas escolas, servindo para
facilitar o processo de ensino-aprendizagem. Os livros paradidáticos utilizados na pesquisa
podem ter auxiliado os alunos para o acesso às informações sobre as diferenças existentes
entre as pessoas, porque em muitas de suas produções houve indícios de fragmentos de
assuntos tratados nos livros lidos.
O conteúdo com essas informações pode ter ajudado os alunos responderem um
questionário e construirem uma dissertação.
Em suas respostas os alunos descreveram que o Brasil é um país multiculturalista, que
possui uma sociedade composta de uma mistura de raças e diferentes grupos humanos. E,
nessa variedade de raças, nenhuma raça deveria predominar sobre a outra. Porém quando as
diferenças entre as raças não são respeitadas geram conflitos. Há necessidade de respeito pela
diversidade e realização de ações conjuntas para o desenvolvimento social. Dentro do
contexto escolar, por exemplo, a educação multicultural corresponde à idéia de uma educação
livre de preconceitos e promotora da diversidade cultural e da tolerância, respeitadora da
diferença de grupos sociais, étnicos, físicos e sexuais nas atitudes dos professores, nas
políticas escolares e nas relações entre alunos.
Por não haver respeito pela diversidade cultural, muitos criam estereótipos para
determinado grupo. Os estereótipos são imagens pré-concebidas que se tem das pessoas,
geralmente usados para definir ou diminuir pessoas ou um grupo na sociedade. Na construção
dos estereótipos há generalização das atitudes de um grupo a partir do comportamento de
alguns de seus membros. Também o estereótipo serve como fonte de inspiração de muitas
piadas para manifestar, por exemplo, racismo. O estereótipo está ligado ao preconceito e a
discriminação. Para os alunos, os estereótipos estão relacionados com a discriminação e o
preconceito das pessoas. A discriminação são as atitudes que derivam dos estereótipos e dos
preconceitos. Geralmente são negativas. Os estereótipos, os preconceitos e a discriminação
envolvem um pré-julgamento que se faz do outro sem conhecê-lo.
O estereótipo traz consigo o bullying, termo encontrado na literatura anglo-saxônica
que tem como conceito os comportamentos agressivos e anti-sociais em relação ao contexto
escolar. É uma das formas de violência que mais cresce no mundo e que causa grande
76
sofrimento. As crianças que sofrem bullying são expostas a humilhações, traumas, problemas
emocionais e pode ser apontado como uma das causas do abandono escolar. O bullying
envolve cada vez mais um número maior de crianças e adolescentes, é um problema
específico e destrutivo. Segundo as respostas apresentadas pelos alunos são atos de
violência física e psicológica, com a intenção de machucar o outro, uma agressão feita a partir
de um defeito que o outro possa ter e está presente no contexto escolar. O bullying pode
causar dor e sofrimento, magoar ou ridicularizar e, muitas vezes, leva a exclusão dentro da
escola. É necessário, para evitar esses casos, haver esforços, investimentos e ações
estratégicas conjuntas, por parte de toda a escola e das autoridades competentes ligadas à
educação, à saúde e à segurança pública por meio de programas preventivos e assistenciais
(FANTE e PEDRA, 2008).
Os alunos, em suas respostas, acreditam que os livros paradidáticos que trabalham as
diferenças sociais trazem um ensino fundamental para entenderem sobre as diferenças. Para
eles os livros paradidáticos ajudam a se colocarem no lugar do outro, aceitando as pessoas
com suas diferenças. Esses livros mostram a importância de lerem exemplos de pessoas que
passaram por algum problema social e conseguiram superá-lo. Os livros paradidáticos são
úteis para transmitir conhecimento e tem o intuito de passar algum tipo de lição ao leitor.
Também o livro paradidático proporciona um diálogo sobre vários assuntos atuais e
possibilidade de discussões a serem trabalhadas a partir das obras selecionadas.
Na análise das dissertações observou-se que os alunos acreditam que a escola é um
direito de todos, que qualquer pessoa tem o direito a uma educação de qualidade. Esse
pensamento dos alunos é discutido por Aranha (2000) que afirma que a escola deve agregar
todos os tipos de etnias, quebrar preconceito, possibilitar o acesso a pessoas com qualquer
tipo de deficiência. Deve haver garantia de acesso de todos à escola, independente das
peculiaridades de cada indivíduo ou grupo social.
Para os alunos, a escola deveria ser para todos, mas não é porque há muita criança que
ainda não está dentro da escola. Muitas ainda se encontram fora por serem discriminadas por
sua cor, diferença física ou classe social. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/96,
(BRASIL, 1996) foi baseada no princípio do direito universal humano que se constitui em
uma das bases para a proposição da educação para todos. Os alunos foram capazes de
perceber que, na prática, a educação não é para todos.
Em suas dissertações, os alunos descreveram que as diferenças sociais e as raciais não
deveriam servir de empecilho para alguns não estarem na escola. A escola deve agregar todo
tipo de diferença, proporcionar condições de acesso a qualquer criança, e romper as barreiras
77
das diferenças criadas por alguns. Quando uma proposta de educação está voltada para a
diversidade cultural coloca em todos educadores o desafio de estarem atentos às diferenças e
saber administrá-las.
Segundo os alunos, para a escola ser para todos é necessário que os governantes
revejam o ensino nas escolas estaduais, organizem uma escola de qualidade, e prepararem os
professores para receberem todo e qualquer tipo de aluno com necessidades especiais ou não.
Para ter uma escola para todos é necessário deixar de lado o preconceito e o egoísmo, acabar
com a desigualdade, respeitar as diferenças e trata-las de modo correto e merecido.Um aluno
escreveu que a escola de hoje está adaptada a estabelecer padrões de normalidades, mas esses
padrões não estão corretos, pois nenhuma pessoa é igual a outra, faz-se necessário mudar a
mentalidade das pessoas, aceitar todo tipo de criança na escola, independente se é uma criança
especial ou não.
Em suas respostas os alunos não mencionam os conflitos que os personagens dos
livros sofreram, suas relações interculturais e preconceitos. Simplesmente descrevem o
significado de alguns conceitos, através de algum conhecimento que possam ter adquirido na
escola, como no caso das perguntas dos questionários, o que é multiculturalismo, e Brasil um
país multicultural.
Ao responderem a questão do estereótipo há possibilidade de indícios da leitura do
livro “Longe dos Olhos”, pois o personagem principal do livro Oto, julgava que as pessoas
criavam um estereótipo dele por ser negro e morar na favela, do mesmo modo Oto, criou
estereótipo da personagem Sílvia, por ser branca e morar numa mansão.Também Oto havia
julgado o primo de Sílvia, Valter, ser o motorista dela, pelo fato de ser negro.
Há mais indícios das respostas dos alunos no livro “Como é duro ser diferente”,
quando os alunos descrevem que o estereótipo é usado como humor para manifestar o
racismo, um problema enfrentado pelo personagem Lúcio, que se vê ridicularizado pelos
colegas da escola por fazer balé. Os alunos também descrevem que estereótipo é você
maltratar alguém por sua aparência. Nesse mesmo livro, o personagem Radamés é julgado
pelos amigos por sua aparência e sofre bullying ao ser chamado de Fera.
Outros indícios são encontrados pelas respostas dos alunos quanto à influência do livro
paradidáticos “Como é duro ser diferente”, sobre a questão do bullying. O bullying é descrito
de uma forma negativa, causa baixa auto-estima e o personagem Radamés, devido a sua
aparência incomum, acha-se impossibilitado de ser amado por uma garota bonita (Carol).
78
Para os alunos a leitura de paradidáticos faz com o leitor se coloque no lugar do
personagem e vivenciar experiências, que muitas vezes fazem parte de sua própria experiência
de vida. Tais livros são sempre uma leitura bem aceita pelos alunos.
Quanto às dissertações dos alunos, há indícios de reflexos oferecidos pelos livros
trabalhados, mesmo não se tratando de referências pontuais.Supõem-se também, que houve
influência do conhecimento escolar adquirido. De maneira geral todos crêem que a escola
deve ser para todos e as diferenças respeitadas. No livro “Como é duro ser diferente”, mostra
que os escritores são importantes para serem a voz dos excluídos aos seus leitores.
Esses dados sugerem a possibilidade de estudos que pudessem estabelecer uma relação
direta com a leitura dos livros, como poderia acontecer em uma entrevista que permitisse
investigar a origem das posições apresentadas pelos alunos. Este tipo de estudo poderia, com
certeza, complementar os dados obtidos no presente trabalho.
79
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85
ZIZEMER, Joseida Schütt. A construção da cidadania na escola pública: avanços e dificuldades. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Passo Fundo, 2006
86
ANEXO A
Perguntas sobre os temas trabalhados nos livros paradidáticos
1- O que é multiculturalismo?
2- O Brasil é um país multiculturalista? Justifique.
3- O que são estereótipos?
4- O que é bullying?
5- Qual é a importância do livro paradidático lido?
87
ANEXO B
Dissertação trabalhada com os alunos, texto apresentado pela professora
“Ser diferente não é problema; o problema são os que se julgam ´normais´ e usam essa
pseudonormalidade para discriminar os que se diferenciam da maioria. Se imaginarmos um
lugar onde todos sejam cegos, a cegueira será considerada o padrão normal- o diferente será
aquele que enxergar ao menos uma sombra...” (NICOLELIS, 1995)
Faça um texto dissertativo, considerando o pensamente acima, com o tema: Escola um lugar
de todos
Aluno: 1
Escola um lugar de todos
A Lei de Diretrizes e Base – 9.394/96 (LDB), sancionada pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso juntamente com o ministro da educação, Paulo Renato, em 1996, foi
baseada no princípio do direito universal que rege a educação para todos, teoricamente. Será
essa a verdadeira realidade da educação brasileira?
Tudo se resume em educação. Segundo inúmeros estudos, as nações mais bem
desenvolvidas são aquelas que investem em educação. A Finlândia, por exemplo, possui o
melhor sistema de ensino do mundo e, conseqüentemente, uma economia de mercado
altamente industrializada, com produção per capita maior que a do Reino Unido, França,
Alemanha e Itália. A avaliação internacional de educação é feita pela Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), através do Pisa. O último teste foi
aplicado em 400 000 alunos de 57 países. O Brasil disputa as últimas posições com países
como Tunísia e Indonésia, sendo apontado como o país com a nona maior taxa de
analfabetismo da América Latina.
O motivo pela má fama é mais que justificável: nem todos têm acesso à educação. O
que deveria ser regra passa a ser exceção. E isso é cada vez mais notável e preocupante nas
zonas rurais. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a
população de crianças de até seis anos que mora no campo ultrapassa três milhões de
indivíduos. Destes, apenas 5% estão estudando. Além disso, o MEC aponta falta de escolas
88
especializadas para o atendimento de estudantes que residem em áreas rurais. Não por acaso,
é no campo que estão os municípios e escolas com menores índices de desenvolvimento da
educação básica (Idebs).
Segundo o artigo 53 do Estatuto da Criança e do Adolescente, criada em julho de
1990, a criança e o adolescente têm DIREITO à educação, visando ao pleno desenvolvimento
de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
assegurando-lhes acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência. Se toda lei
fosse cumprida, o Brasil seria um dos melhores países para se viver. Não. Nem todas as
crianças tem acesso à uma escola decente. No caso das crianças que moram no campo,
quilômetros e quilômetros são percorridos diariamente para mal se aprender o be-á-bá. Na
prática, infelizmente, a escola está longe de ser um lugar para todos.
Desenvolvimento é conseqüência de educação. E no Brasil, tal fato só será possível
com a participação intensiva da sociedade. A educação é direito de todos, e cabe a nós lutar
por ela.
Aluno: 2
Uma escola para todos e com todos
É normal tentar se adaptar, encaixar-se, ou fazer parte de um grupo. Vive-se pensando
o quão “normal” se é, e o quão diferente se é também. Mas como em toda comparação, é
necessário se ter uma base, um padrão para se comparar. Mas o que é normal? Ou melhor,
quem ou o quê define o que é normal?
Na sociedade em que se vive não é difícil uma pessoa ser influenciada pela mídia,
muito pelo contrário, o que se vê são pessoas sendo altamente influenciadas por meios de
comunicação. Pode-se ver isso na busca incessante por corpos esculturais, na tentativa de se
obter sempre um melhor padrão de vida, e por aí vai. Sim. O perfil de uma pessoa perfeita já
está traçada automaticamente no inconsciente das pessoas desde muito cedo. E é exatamente
aí que começam as exclusões indesejáveis.
89
Quando crianças se deparam com alguém que foge aos padrões que lhe foram
concebidos de normalidade, o estranhamento é inevitável, e esse encontro geralmente
acontece na escola. A escola é o lugar onde as crianças começam a ter um contato maior com
o mundo exterior, com pessoas diferentes de que ela está habituada, e é justamente aí que se
deve investir pesado para o benefício geral.
Um programa muito interessante adotado ultimamente por escola é a inclusão social,
que promove a integração de diversas etnias, classes sociais e níveis de limitações. A inclusão
possibilita o aperfeiçoamento da educação escolar e o benefício tanto de alunos com
deficiência quanto os sem. Depende, contudo, de condições estabelecidas nos sistemas
educacionais e dos professores em geral.
É muito mais que importante o investimento da escola no programa de inclusão para
que a escola seja realmente uma escola para todos e que abrigue com perfeitas condições
esses todos.
Aluno: 3
Escola um lugar de todos
É na escola que a criança tem o seu primeiro contato com um mundo que vai além de sua
casa. Essa diferença não se restringe somente ao espaço físico, mas também as pessoas que
ela passará a conviver, pessoas que não serão seus pais ou irmãos.
Alguns jovens em seus primeiros dias choram e fazem de tudo para não ficar na escola,
tamanho é o medo de algo que é novo que é diferente do que eles estão habituados. Outros já
vêem nas diferenças motivos de gozação e não perdem a oportunidade de ridicularizar seus
companheiros. Visto isso percebemos que as pessoas não são iguais nem no modo de reagir
frente a algo que para elas seja incomum.
Essa reação infelizmente nem sempre é muito boa. A sociedade e os pais de alguns desses
meninos e meninas acabam servindo de mau exemplo, ensinando pensamentos racistas e
outros não menos preconceituosos. É lamentável quando vemos uma criança negra, pobre ou
que se encontra acima de seu peso sendo alvo de gozações, maltratada e excluída pelo simples
fato de ser diferente da maioria.
90
Muitas vezes as próprias escolas colaboram com esta divisão, por exemplo, quando não
oferecem estrutura e condições adequadas para que as crianças portadoras de necessidades
especiais venham freqüentar as aulas com as demais e tenham uma vida como a de qualquer
outra criança. Atitudes de escolas assim e de outras instituições só fazem essas pessoas se
sentirem ainda mais excluídas e rejeitadas pela sociedade, podendo ocasionar num sentimento
de inferioridade que algumas vezes é carregado por toda vida.
Devido a isso é que as pessoas precisam deixar de lado estes pensamentos ultrapassados,
preconceituosos e ignorantes de que tudo aquilo que é diferente é ruim ou inferior e conviver
com as diferenças de cada um de uma forma amigável e respeitadora.
Aluno: 4
RESPEITO ÀS DIFERENÇAS
A sociedade criou uma união de homens padronizados, e segue esse padrão. Contudo,
esqueceram de que a sociedade é formada pela diversidade de homens e não pela
discriminação daqueles que não seguem o padrão da maioria.
Surgindo um grupo excluído da sociedade como os deficientes físicos, mentais,
visuais, auditivos e de tantos outros. Que além, das diferenças que esses deficientes
enfrentam; na maioria dos casos não são apoiados, não são notados como seres humanos,
sofrendo um preconceito que talvez possa resultar em problemas psíquicos, depressão, por
exemplo. Apelidos preconceituosos acabam fazendo parte de suas vidas.
A escola desempenha um papel fundamental de inclusão social na vida desse grupo. A
educação inclusiva é um processo de integração de todas as pessoas excluídas, na rede de
ensino, visando o direito a educação, baseando-se em princípios como: a valorização do
homem, independente de sua cor, de suas deficiências, de sua etnia, dentre outras. Buscando
preservar a dignidade humana, a independência, a liberdade e um gesto de cidadania.
Entretanto, não basta matriculá-los nas escolas, é preciso que as escolas estejam
preparadas profissionalmente e estruturalmente. Pois, a formação de professores qualificados
a lidar com necessidades e alternativas de ensino, é importante tanto quanto uma adaptação da
escola, facilitando-lhes o acesso, estimulando à prática de esportes, o lazer, a cultura, a ética e
a moral. Deixando-os mais a vontade e seguros.
91
A escola é um lugar onde todos devem ser bem vindos, por isso, a mudança na visão
empregada pela sociedade precisa ser transformada, iniciando-se com os mestres, alunos e
pais. Não existem pessoas melhores que as demais, mas pessoas diferentes. Para uma
mudança a favor dos direitos iguais, o principal método é o amor ao próximo.
Aluno: 5
Escola um lugar de todos
Preconceito define-se como uma idéia pré-concebida, uma atitude de alienação a tudo
que foge dos “padrões” de uma sociedade.
Atualmente, essas barreiras vêm sendo pouco a pouco diminuídas, contudo não
deixam de existir, e o deficiente, em especial, acaba pagando um preço muito alto. Para quem
é “normal” dentro dos padrões, dificilmente enxerga ou acompanha esse drama passado por
eles, e tão pouco se interessa em saber sobre o mesmo.
Um dos maiores problemas dos deficientes é sua vida acadêmica. Teoricamente, no
belo discurso da lei, a escola é para todos, porém na prática é de conhecimento geral que não
é bem assim. Além das escolas públicas não oferecerem um ensino de qualidade,
preocupando-se apenas com a quantidade, tem pouca ou nenhuma estrutura para receber um
deficiente. Os pais dos portadores de deficiência que tem condições de pagar um colégio
particular, certamente nem cogitam a possibilidade de pô-lo em um público, mas e o que não
tem essa condição financeira? “Ah, mais quem se importa não é mesmo? Afinal, isto não afeta
em nada a vida de suma maioria”.
Sim! Essa é a mentalidade de muitas pessoas, inclusive dos governantes, do contrário
já deviriam ter tomado alguma medida. E é justamente isso o que falta: iniciativa, boas
intenções e principalmente amor ao próximo.
Portanto, faz-se urgentemente necessária a especialização e capacitação de
profissionais, estrutura para atender essas pessoas diferentes, que em momento algum deixam
de ser seres humanos, e, sobretudo, uma conscientização maior, pois merecem ser tratados
igualmente, como cidadãos que são.
92
ANEXO C
SOLICITAÇÃO
Venho através desta, solicitar à diretoria do Colégio Adventista de Ribeirão Preto autorização
e consentimento para a realização de atividades educacionais nas dependências da escola,
conjuntamente com alunos integrantes do Ensino Médio, para a realização de um projeto de
pesquisa e dissertação de mestrado. Projeto este a ser realizado pela aluna Andréa de Sousa
Lima, do Centro Universitário Moura Lacerda, com orientação da professora Dra.Tárcia
Regina da Silveira Dias, e do núcleo de Mestrado desta instituição.
Solicita também o consentimento para a divulgação dos dados obtidos no decorrer da
pesquisa, para fins inclusive de publicação científica.
Os trabalhos serão realizados, semanalmente, durante as aulas de Português, ministrada pela
pesquisadora.
Sem mais, venho agradecer a atenção.
Ribeirão Preto, _____de ___________ de 2008. _______________________________________ Andréa de Sousa Lima. RG 20.998.301-2 _______________________________________ DIRETOR Colégio Adventista de Ribeirão Preto
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