christiany mattioli sarmiento anÁlise espacial da ... · as minhas amigas: marina, lyvia, tati,...
TRANSCRIPT
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS
CHRISTIANY MATTIOLI SARMIENTO
ANÁLISE ESPACIAL DA DESIGUALDADE
AMBIENTAL URBANA DO MUNICÍPIO DE
LAVRAS-MG
ALFENAS/MG
2011
2
CHRISTIANY MATTIOLI SARMIENTO
ANÁLISE ESPACIAL DA DESIGUALDADE
AMBIENTAL URBANA DO MUNICÍPIO DE
LAVRAS-MG
Monografia apresentada como
parte dos requisitos para a obtenção
do título de Geógrafa pela
Universidade Federal de Alfenas
Orientadora: Rúbia Gomes Morato
ALFENAS/MG
2011
3
CHRISTIANY MATTIOLI SARMIENTO
ANÁLISE ESPACIAL DA DESIGUALDADE
AMBIENTAL DE LAVRAS – MG
A Banca examinadora abaixo-assinada aprova o trabalho de conclusão de curso
apresentado como parte dos requisitos para obtenção do título de Geógrafa pela
Universidade Federal de Alfenas.
Aprovada em:
Profº. Rúbia Gomes Morato
Instituição: UNIFAL-MG
Profº. Ericson Hayakawa
Instituição: UNIFAL - MG
Profº. Fernando Shinji Kawakubo
Instituição: UNIFAL-MG
4
Dedico esse trabalho de conclusão
de curso aos meus pais Emilio e
Luzia, aos meus irmãos Emilio,
Norman, Cristian e Fabrício e ao
meu amado Tio Titião, que sempre
acreditou em mim.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me proporcionar momentos de grande
importância em minha carreira profissional e pelo amparo em todos os momentos.
Ao meus pais, Emilio Sarmiento Coello e Luzia Aparecida Mattioli Sarmiento pelo
apoio no ingresso ao curso de Geografia. Aos meus tios e tias, primos e primas,
por sempre me receberem com um sorriso no rosto!
As minhas amigas: Marina, Lyvia, Tati, Rafa, Pâmela, Paula, Jaque e Aline
Candinha por me manterem presente, apesar da distância!
À Universidade Federal de Alfenas pelos recursos oferecidos. Ao curso de
Geografia Bacharelado, juntamente com seus professores e professoras e toda
sua coordenação. Ao Professor Dr. Evânio Branquinho, pela amizade e pela
disponibilidade em me emprestar as chaves do Laboratório de Planejamento
Urbano. A Professora Dra. Rúbia Gomes Morato, orientadora, pela dedicação,
conhecimentos transmitidos e confiança depositada na realização deste trabalho.
Aos colegas de sala, que se tornaram grandes amigos ao longo desse
percurso. Ao Leonardo pelas risadas e imitações da minha pessoa, me fazendo
sentir alvo de piadas nas quais eu gostava. Ao Daniel, vulgo Daninho pelo carinho
de irmão! Ao Tom pelos momentos vividos. Ao Cassiano pelo incentivo e puxões
de orelha quando eu desanimava. Ao Pedrão, Gustavo, André, Eduardo pelo
companheirismo. As meninas: Natalia,Sara, Paulinha, Iara, Laysinha mimimi,
Camila, Diely, Mayara há, Aninha, Laura e Larissa, pelas confidências ,
aprendizado e pela troca de experiências! A toda turma de Geografia bacharelado
2008/1.
Enfim, agradeço a todos que colaboraram de alguma forma nesta etapa de
minha vida.
6
RESUMO
A preocupação desta pesquisa foi o estudo da distribuição espacial da
Desigualdade Ambiental na área urbana do município de Lavras, situado na região
sul de Minas Gerais. Podemos entender que o surgimento de problemas
ambientais nas áreas urbanas não é aleatório. Ocupação desordenada e falta de
saneamento básico, esgoto a céu aberto, ausência de árvores, poluição, pragas
urbanas, enchentes e inundações são problemas típicos de uma cidade com infra-
estrutura precária e desigual. Isto ocorre em determinados pontos, afetando um
público que se constitui como um grupo vulnerável presente nestas localidades.
Tais grupos sociais menos favorecidos, carentes de recursos e infra- estrutura,
são os mais afetados por problemas ambientais, onde se observa uma correlação
entre pobreza e lugares de risco. Através disso, pôde-se avaliar a distribuição
espacial desses problemas, suas causas e conseqüências, bem como relacionar
com outros fatores sociais. No desenrolar desta pesquisa foram adotados
procedimentos de levantamento bibliográfico com o intuito de se obter uma base
concreta sobre o tema a ser pesquisado, bem como a utilização de mapas para se
obter uma relação com o espaço; Dados do Censo 2000 realizado pelo IBGE por
setor censitário para o município de Lavras-MG; Utilização do SIG – Sistema de
Informação Geográfica -Ilwis 3.4 para a confecção de mapas; Imagens orbitais do
satélite americano Landsat 5 para obtenção do NVDI (a partir das bandas 3 e 4
UTM); fotografias tiradas in loco.
Palavras-chave: Desigualdade Ambiental, Análise Ambiental, Geoprocessamento.
7
ABSTRACT
The main concern of this research was to study the spatial distribution of the
environmental inequality in the urban area of Lavras, located in southern Minas
Gerais. It can be understood that the emergence of environmental problems in
urban areas is not random. Disorderly occupation and poor sanitation, open
sewage, lack of trees, pollution, urban pests and floods are typical problems of a
city with poor and unequal infrastructure. This occurs at certain points, affecting a
public that is constituted as a vulnerable group present in these locations. Such
disadvantaged social groups are influenced by the lacking of resources and
infrastructure are the most affected by environmental problems, which we observe
a correlation between poverty and risky places. Through this, it could be evaluated
the spatial distribution of these problems, their causes and consequences, and
linking with other social factors. In the course of this research were adopted
literature procedures adopted in order to obtain a concrete base on the subject to
be searched, as well the the use of maps to get a relationship with space, Data
from the 2000 census conducted by the IBGE for the city of Lavras-MG, Use of
GIS - Geographic Information System-Ilwis 3.4 for the elaboration of the maps,
satellite images of the American satellite Landsat 5 for obtaining NVDIA (from the
UTM bands 3 and 4), the photographs were taken on the spot.
Keywords: Environmental Inequality, Environmental Analysis, GIS
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................9 1.1 CRESCIMENTO URBANO EM LAVRAS-MG....................................................9
1.2 QUALIDADE AMBIENTAL URBANA................................................................10
1.3 ÁREA DE ESTUDO..........................................................................................11
2.1 REVISÃO DA LITERATURA.............................................................................12
2.2 CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA............................................................13
2.3 JUSTIÇA AMBIENTAL......................................................................................14
2.4 PRINCIPIOS DA JUSTIÇA AMBIENTAL..........................................................14
2.5 O USO DO GEOPROCESSAMENTO..............................................................17
3. METODOLOGIA.................................................................................................18
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS..........................................................................20
5. CONCLUSÃO.....................................................................................................26
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: ÁREA DE ESTUDO..............................................................................11
FIGURA 2: INDICADORES DE DESIGUALDADE AMBIENTAL............................20
FIGURA 3: ÍNDICE DE DESIGUALDADE AMBIENTAL ........................................21
FIGURA 4: QUALIDADE DE VIDA.........................................................................23
FIGURA 5: DISTRIBUIÇÃO DA COBERTURA VEGETAL POR MEIO DE NDVI..25
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: DESIGUALDADE AMBIENTAL E RENDA...........................................22
9
1.INTRODUÇÃO
Esta pesquisa objetivou a análise espacial da Desigualdade Ambiental no
município de Lavras-MG, através de técnicas de Geoprocessamento e
Sensoriamento Remoto. Iniciando a partir de um contexto histórico, temos que o
desenvolvimento do Brasil, desde os primórdios das primeiras ocupações pós-
descobrimento, tem se dado de maneira desigual, tanto em aspectos econômicos,
quanto sociais. A concentração de renda fomentada pelo capitalismo,vem
agravando consideravelmente o quadro de miséria e pobreza de grande parte da
população, onde se destaca uma hierarquia de aspecto social e econômico.
No que tange a ocupação urbana de um modo geral, tal população excluída e
menos abastada financeiramente migrava em direção a áreas periféricas e
marginalizadas, carentes de infra-estrutura e recursos disponíveis. Em Lavras-MG,
houve um rápido crescimento urbano, devido á crescente presença de indústrias,
comércio e serviços, possibilitando a ampliação do mercado de trabalho assim
como a injeção de capital na economia. A cidade entrou em processo de
crescimento econômico e urbano, não estando preparada para oferecer todo
recurso necessário. Isso de certa forma é comum, pois em muitas cidades de
crescimento rápido, a expansão da infra-estrutura não acompanha o crescimento
da população, geralmente causando a deterioração ambiental local.
1.1 CRESCIMENTO URBANO EM LAVRAS-MG
No início do processo de crescimento urbano, a cidade estava
despreparada para oferecer a estrutura física adequada para a população que se
incorporava ao meio, mesmo com a fantasiosa oferta de loteamentos dotados de
infra-estrutura por parte das construtoras. Muitos aderiram a estas ofertas, outros
não e isso não significou melhores condições para todos. A questão determinante
que garantia condições necessárias de infra-estrutura para novos
empreendimentos foi a proximidade com o centro da cidade. Proximidade com o
centro significava alto custo, ou seja, os centros eram basicamente ocupados por
pessoas de alto padrão financeiro. E esse fator de ocupação, fez com que
10
populações de baixa renda fossem cada vez mais ocupando regiões
marginalizadas e periféricas. Por sua vez, hoje estas regiões detêm poucas
condições necessárias para a ocupação. As regiões despossuídas de infra-
estrutura se configuram como vulneráveis no ponto de vista ambiental. Possuem
falta de planejamento urbano, são susceptíveis a desmoronamento devido á
ocupação desordenada, sofrem com enchentes, pois estão contidas em planícies
de inundação, possuem pouca cobertura vegetal, saneamento básico precário,
pragas urbanas e ausência de coleta de lixo.Em sua grande maioria, o público
afetado por estas ocorrências são menos abastados financeiramente, sendo estes
vulneráveis a problemas ambientais decorrentes de falta de planejamento urbano.
A correlação entre pobreza e meio ambiente desigual se faz presente, pois uma
parcela desproporcional da população sofre ausência e /ou deficiência na
qualidade ambiental do seu espaço.
1.2 QUALIDADE AMBIENTAL URBANA
A qualidade ambiental urbana,é entendida como a provisão de condições
adequadas para o conforto e a saúde da população. Assim, incluem-se as
condições de abastecimento de água, o destino da água servida e do lixo, a
ocorrência de domicílios improvisados e a presença de cobertura vegetal (Morato,
Kawakubo, Luchiari, 2005). Sendo a qualidade ambiental deficiente em
determinados pontos, há a ocorrência de injustiça ambiental, pois os custos
ambientais e amenidades se distribuem de maneira injusta e desequilibrada na
sociedade. Portanto, a principal preocupação desta pesquisa foi o estudo da
distribuição espacial da Desigualdade Ambiental na área urbana do município de
Lavras, situado na região sul de Minas Gerais. Pode-se entender que o
surgimento de problemas ambientais nas áreas urbanas não é aleatório.
Ocupação desordenada e falta de saneamento básico, esgoto a céu aberto,
ausência de árvores, poluição, pragas urbanas, enchentes e inundações são
problemas típicos de uma cidade com infra-estrutura precária e desigual. Isto
ocorre em determinados pontos, afetando um público que se constitui como um
grupo vulnerável presente nestas localidades. Tais grupos sociais menos
11
favorecidos, carentes de recursos e infra- estrutura, são os mais afetados por
problemas ambientais, observa-se então, uma correlação entre pobreza e lugares
de risco. Através disso, pôde-se avaliar a distribuição espacial desses problemas,
suas causas e conseqüências, bem como relacionar com outros fatores sociais.
1.3 ÁREA DE ESTUDO
Figura 1:Área de estudo
Segundo o IBGE, Lavras é um município brasileiro da região Sul do Estado de
Minas Gerais. Localiza-se a uma latitude 21º 14´30 S e longitude 44º00´10 W,
estando a uma altitude de 919 metros e possuindo uma área de 564,5 kkm².
Lavras está ligada a grandes capitais por duas rodovias principais: pela Fernão
Dias, conectando-a a Belo Horizonte, a 230 quilômetros, e a São Paulo, a 370
quilômetros, e pela , BR 265 chega-se a BR 040 que dá acesso ao Rio de Janeiro,
a 420 quilômetros. Na região de Lavras predominam terrenos antigos, com duas
12
litologias dominantes, a primeira constituída por rochas gnáissicas, graníticas e
magtíticas, com eventuais diques metabásicos, e a segunda representada pelos
micaxistos e quartzitos. Verifica-se que quase todo o subsolo lavrense encontra-se
requerido, mostrando o potencial de exploração mineral da área, embora ainda
seja explorado timidamente. Seu clima é classificado como tropical de altitude pelo
IBGE. Inserida no Planalto do Sudeste, o relevo dominante pode ser caracterizado
como ondulado, com altitudes que variam entre 1259 e 822 metros em pontos
extremos. A vegetação natural da região faz parte do complexo do cerrado e pode
ser caracterizada como gramíneo-lenhosa, embora esteja atualmente bastante
modificada pelas atividades agrícolas. A produção agropecuária se destaca
especialmente pelo café e pelo gado leiteiro, apesar de ali constarem diversas
culturas agrícolas. O setor industrial se encontra em franco desenvolvimento,
graças às condições favoráveis de que a cidade dispõe. Os setores têxtil,
agroindustrial e metalúrgico são os principais ramos industriais de Lavras. O
Distrito Industrial 1, com 561.000 m², encontra-se quase totalmente ocupado. A
cidade, como pólo regional, possui um comércio bastante ativo e diversificado.
2.1 REVISÃO DA LITERATURA
Estudos sobre análise espacial visam compreender as propriedades e
relacionamentos de um fenômeno em determinada localização espacial,
incorporando o espaço á análise que se deseja fazer. Assim sendo, este estudo se
focou na problemática da Desigualdade Ambiental Urbana, analisada
espacialmente no município de Lavras-MG.
Local onde há a maior concentração populacional, o meio urbano é o lócus do
capital e da reprodução da força de trabalho, lugar da presença e/ou ausência de
políticas públicas e das práticas sociais. É o espaço onde pessoas são
condicionadas a problemas urbanos, a exemplo de enchentes e inundações,
ausência de cobertura vegetal abrangente, concentração de renda, bem como
13
habitações com infra-estrutura precária, a exemplo de fatores de responsabilidade
pública e social como saneamento básico, tratamento da água, coleta regular do
lixo. Fatores estes que inserem a cidade de Lavras-MG dentro de questões
relacionadas a qualidade ambiental urbana, sendo ponto preponderante para
estudo da qualidade de vida .
2.2 CONCEITO DE QUALIDADE DE VIDA
O conceito de qualidade de vida surgiu nos anos 60 através de uma
corrente economicista que analisava o crescimento econômico da sociedade
através do aumento do PIB- Produto Interno Bruto. O resultado desta análise
correspondia ao montante de bens e serviços gerados, sendo um indicador de
riqueza produzida e distribuída, traduzindo de uma forma geral o crescimento
econômico de determinada sociedade. Foi possível identificar as principais áreas
que necessitavam de intervenção estatal, que careciam de medidas de redução de
desigualdades e minimização de deficiências locais. A partir de então, observou-
se a desigualdade na distribuição da riqueza produzida, o nível de satisfação
básica e o grau de bem estar desta população. Assim, entende- se que o conceito
de qualidade de vida engloba diversos aspectos, que se interligam, e que vão
desde questões materiais, ligadas à satisfação das necessidades humanas
básicas até ás questões imateriais, desde aspectos objetivos até aspectos
subjetivos, estes últimos relacionados com a percepção individual da qualidade de
vida e do bem estar dos indivíduos (Martins e Santos, 2002).
Compreender qualidade de vida através de estudos sobre desigualdade
ambiental, implica discutir justiça ambiental. É através da justiça ambiental que se
pode prever e analisar as injustiças ambientais presentes no espaço. O conceito
de Justiça Ambiental nasceu no final da década de 1970, nos Estados Unidos, em
movimentos sociais de negros, índios, latinos e populações de baixa renda,
vizinhos de depósitos de lixos químicos e radioativos e de indústrias com efluentes
poluentes (Morato et al, 2005), mas foi outubro de 1991 a data referência em que
14
foram elaborados os 17 princípios de justiça ambiental na Primeira Cúpula
Nacional de Lideranças Ambientalistas da Cor, ocorrida em Washington(EUA).
Desde então, os princípios serviram como um documento de referência para as
bases crescentes do movimento por justiça ambiental.
2.3 JUSTIÇA AMBIENTAL
Por Justiça Ambiental entende-se o conjunto de princípios que asseguram que
nenhum grupo de pessoas, sejam grupos étnicos, raciais ou de classe, suporte
uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas de
operações econômicas, de políticas e programas federais, estaduais e locais, bem
como resultantes da ausência ou omissão de tais políticas. Dito de outra forma,
trata-se da “espacialização da justiça distributiva, uma vez que diz respeito à
distribuição do meio ambiente para os seres humanos”.(LOW & GLEESON, apud
Herculano,2002). O que vem sendo observado, objeto de estudo desta pesquisa,
é a ausência da aplicação da justiça ambiental, levando á cidade de Lavras-MG a
espacialização de injustiças ambientais. Assim, Injustiças ambientais atuam como
mecanismo pelo qual sociedades desiguais destinam a maior carga dos danos
ambientais a grupos sociais de trabalhadores, populações de baixa renda, grupos
raciais marginalizadas e mais vulneráveis (Herculano, 2002). Neste trabalho,
entende-se por Injustiças sócias, o termo Desigualdade Ambiental.
2.4 PRINCÍPIOS DA JUSTIÇA AMBIENTAL
Os/as delegados/as da Primeira Cúpula Nacional de Lideranças Ambientalistas de
Cor, que ocorreu de 24 a 27 de outubro de 1991 em Washington (EUA),
elaboraram e abraçaram 17 princípios de justiça ambiental. Desde então, os
princípios serviram como um documento de referência para as bases
crescentes do movimento por justiça ambiental.
15
PREÂMBULO
NÓS, PESSOAS DE COR, reunidas nesta Primeira Cúpula Nacional de
Lideranças Ambientalistas de Cor para iniciar a construção de um movimento
nacional e internacional de todos os povos de cor para combater a degradação e
proteger nossas terras e comunidades, restabelecendo assim nossa
interdependência espiritual com a sacralidade da Mãe Terra; em respeito e
celebração a cada uma de nossas culturas, linguagens e crenças sobre o mundo
natural e os nossos papéis em curar a nós mesmos/as; para assegurar a
justiça ambiental; para promover alternativas econômicas que possam contribuir
para o desenvolvimento de meios ambientalmente seguros de subsistência; e para
garantir a liberdade política, econômica e cultural que foi nos negada ao
longo de mais de 500 anos de colonização e opressão, resultando no
envenenamento de nossas comunidades e da terra e no genocídio de nossos
povos, afirma e adota estes Princípios de Justiça Ambiental:
1) A Justiça Ambiental afirma a sacralidade da Mãe Terra, a unidade ecológica e
a interdependência entre todas a espécies, e o direito a ser livre da degradação
ecológica.
2) A Justiça Ambiental requer que as políticas públicas tenham por base respeito
e justiça mútuos para todos os povos, libertos de toda forma de discriminação ou
preconceito.
3) A Justiça Ambiental exige o direito a usos éticos, equilibrados e responsáveis
da terra e dos recursos naturais renováveis no interesse de um planeta
sustentável para seres humanos e outros entes vivos.
4) A Justiça Ambiental clama pela proteção universal frente a testes nucleares,
extração, produção e destruição de resíduos tóxicos/perigosos e venenos que
ameaçam o direito fundamental ao ar, à terra, à água e ao alimento puros.
5) A Justiça Ambiental afirma o direito fundamental à autodeterminação política,
econômica, cultural e ambiental de todos os povos.
6) A Justiça Ambiental exige o encerramento da produção de todas as toxinas,
resíduos perigosos e materiais radioativos, e que todos os produtores
16
contemporâneos e do passado sejam responsabilizados a prestar contas aos
povos para desintoxicação, e sobre o conteúdo no momento da produção.
7) A Justiça Ambiental exige o direito de participar em grau de igualdade em
todos os níveis decisórios, incluindo avaliação, planejamento, implemento,
execução e análise de necessidades.
8) A Justiça Ambiental afirma o direito de todos/as os/as trabalhadores/as a um
ambiente de trabalho seguro e saudável, sem que sejam forçados/as a escolher
entre um trabalho de risco e o desemprego. Afirma também o direito daqueles/as
que trabalham em casa de estar livres dos perigos ambientais.
9) A Justiça Ambiental protege o direito das vítimas de injustiça ambiental de
receber compensação e reparação integrais por danos, bem como o direito à
qualidade nos serviços de saúde.
10) A Justiça Ambiental considera atos governamentais de injustiça ambiental
uma violação de lei internacional: da Declaração Universal de Direitos Humanos e
da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio das
Nações Unidas.
11) A Justiça Ambiental visa o reconhecimento de um relacionamento legal e
natural especial do governo dos Estados Unidos com os povos nativos através de
tratados, acordos, pacotes e convênios afirmando sua soberania e
autodeterminação.
12) A Justiça Ambiental afirma a necessidade de políticas socioambientais
urbanas e rurais para descontaminar e reconstruir nossas cidades e áreas rurais
em equilíbrio com a natureza, honrando a integridade cultural de todas as nossas
comunidades e provendo acesso justo a todos/as à plena escala dos recursos.
13) A Justiça Ambiental clama pelo fortalecimento dos princípios de
consentimento informado, e pelo fim dos testes de procedimentos médicos e
reprodutivos e de vacinas experimentais em pessoas de cor.
14) A Justiça Ambiental se opõe às operações destrutivas das
corporações multinacionais.
15) A Justiça Ambiental se opõe à ocupação, repressão e exploração militar de
territórios, povos e culturas, e de outras formas de vida.
17
16) A Justiça Ambiental exige uma educação das gerações atuais e futuras com
ênfase em questões sociais e ambientais, com base em nossa experiência e em
uma apreciação de nossas diversas perspectivas culturais.
17) A Justiça Ambiental requer que nós, como indivíduos, façamos escolhas
pessoais e de consumo que impliquem gastar o mínimo possível de recursos da
Mãe Terra e produzir o mínimo de lixo possível, e que tomemos a decisão
consciente de desafiar e redefinir prioridades em nossos estilos de vida
para assegurar a saúde do mundo natural para as gerações atuais e futuras.
Tradução: Sabrina Lopes
2.5 O USO DO GEOPROCESSAMENTO
Estas análises são mensuradas através de técnicas de Geoprocessamento,
que se inserem cada vez mais em pesquisas para avaliação de condições
socioeconômicas e ambientais. Os SIG´s - Sistema de Informação Geográfica -
são instrumentos essenciais para medir desigualdades e identificar grupos e áreas
com maiores problemas em escala local (Loyola et al 2002). Para tanto, é
necessário a visão sistêmica, na busca por utilizar e relacionar conceitos
geográficos sobre o espaço com a realidade do local, bem como suas relações
sociais, econômicas e ambientais. Com a coleta de dados, reunião de informações
e posteriormente, o auxílio de SIG´s para a produção de mapas, que por sua vez
descrevem, explicam e prevêem padrões e processos nas escalas geográficas.
Com isso, o Geoprocessamento é freqüentemente utilizado nestes tipos de
estudos, simplificando e sintetizando resultados.
18
3. METODOLOGIA
No desenrolar desta pesquisa foram adotados procedimentos de
levantamento bibliográfico com o intuito de se obter uma base concreta sobre o
tema a ser pesquisado, bem como a utilização de mapas para se obter uma
relação com o espaço; Dados do Censo 2000 realizado pelo IBGE por setor
censitário para o município de Lavras-MG; Utilização do SIG – Sistema de
Informação Geográfica -Ilwis 3.4 para a confecção de mapas; Imagens orbitais do
satélite americano Landsat 5 para obtenção do NVDI (a partir das bandas 3 e 4
UTM); fotografias tiradas in loco.
A metodologia proposta para a avaliação da desigualdade ambiental em
áreas urbanas divide-se em duas vertentes. Na primeira, é analisada a qualidade
ambiental de cada setor censitário, a partir de indicadores considerados relevantes
para assegurar a qualidade de vida e a saúde da população. Na segunda, são
analisadas as desigualdades espaciais na distribuição dos índices de qualidade
ambiental. A qualidade ambiental urbana, neste trabalho, é entendida como a
provisão de condições adequadas para o conforto e a saúde da população. Assim,
incluem-se as condições de abastecimento de água, o destino da água servida e
do lixo e a cobertura vegetal. A quantidade de domicílios com disposição de
abastecimento de água pela rede geral; de esgotamento sanitário pela rede geral
ou fossa séptica; de domicílios improvisados e com coleta de lixo são fornecidos
pelo IBGE (2002).
Foram utilizadas as bandas do vermelho (TM3) e do infravermelho próximo
(TM4) do satélite Landsat 5 TM órbita 218 ponto 75 de 21 de agosto de 2000 para
a obtenção do Índice de Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI),bem como
dados dos setores censitários do ano de 2000(IBGE). Para tornar estes
indicadores básicos comparáveis e facilitar a posterior combinação das
informações, foram calculados índices para cada uma das variáveis. A construção
dos índices seguiu os mesmos critérios adotados pelo PNUD para o cálculo do
IDH. Assim, o valor de cada índice é igual ao quociente entre: a diferença entre o
19
valor observado e o mínimo possível; e a diferença entre os limites máximos e
mínimos possíveis.
A expressão seguinte transforma os valores para uma escala de 0 a 1:
Índiceij = (vij – vi.min) / (vi.max – vi.min)
onde:
vij = valor do indicador i no setor censitário j
vi.min = valor mínimo do indicador i entre todos os setores censitários
vi.max = valor máximo do indicador i entre todos os setores censitários
Após o cálculo dos índices básicos, foi gerado o índice sintético. O Índice de
Qualidade Ambiental Urbana é a média dos índices básicos. Os estudos de
desigualdade ambiental, ou justiça ambiental, se preocupam em mostrar o quanto
os problemas ambientais estão distribuídos de maneira desigual entre a
população. Então, para analisá-la, foram considerados os desvios em torno da
média. Os resultados encontrados foram normalizados para o intervalo entre 0 e 1,
como os demais índices. É importante ressaltar que a desigualdade foi analisada
entre os setores censitários, e não dentro deles. O software utilizado foi o Sistema
de Informação Geográfica ILWIS 3.4.
20
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Figura 2: Indicadores de Desigualdade Ambiental em Lavras-MG
Foram gerados mapas de abastecimento de água pela rede geral, de esgotamento
sanitário, de coleta de lixo e do índice de vegetação médio por setor censitário.
Para exemplificar a prática dos estudos de desigualdade, infere-se que Lavras –
MG, não possui grandes problemas com o fornecimento de água. As áreas
centrais possuem 100% de abastecimento, sendo observada uma carência nas
regiões periféricas. O mesmo ocorre com o esgotamento sanitário. O destino do
lixo também se difere de acordo com as zonas da cidade. As zonas centrais tem
100% do seu lixo coletado, sendo que há partes das zonas periféricas que não
possuem coleta. A cidade não possui separação do lixo seco do orgânico, nem
21
aterro sanitário. Sendo assim, todo o lixo coletado vai para o lixão da cidade. O
referido município apresenta uma forte carência no que tange a cobertura vegetal.
Foi analisado, que a distribuição espacial dessa vegetação se dá em
determinados locais, não mais a partir da relação centro x periferia, mas
espacialmente segregada entre regiões presentes na cidade.
Figura 3: Desigualdade Ambiental em Lavras-MG
Esses quatro mapas referentes aos indicadores foram combinados pela média
para gerar o mapa de desigualdade ambiental (figura 3). O valor médio foi de 0.72,
com o mínimo de 0.55 e máximo de 0.80. O valor médio foi associado à cor
branca. Os setores abaixo da média aparecem em tons de vermelho e os setores
22
acima da média em tons de azul. A tabela a seguir mostra como as populações
de renda mais alta possuem os melhores índices de desigualdade ambiental.
Tabela 1: Desigualdade Ambiental e Renda
Índice de
Desigualdade
Ambiental
Rendimento
Médio
Responsáveis
pelos
Domicílios (R$)
População
0.55 a 0.70 424.07 5822
0.71 a 0.75 680.56 3995
0.77 a 0.80 918.08 64479
A partir desta tabela, foi observado que a população correspondente ao índice de
0.55 a 0.70 possui um rendimento médio dos responsáveis no valor de 424,07
para uma população de 5.822 pessoas. A população correspondente ao índice de
0.71 a 0.75 possui o rendimento médio dos responsáveis de 680,56 para uma
população de 3.995 pessoas. O índice de 0.77 a 0.80 possui o maior valor no
rendimento médio, sendo de 918,08 para uma população de 64.470 pessoas. Foi
observado que em áreas de rendimento médio alto, o índice de Desigualdade
Ambiental é favorável. Em contrapartida, áreas cujo índice oscila entre 0.55 e
0.70, sendo o índice mais baixo, a população possui um rendimento médio de
424,07.
23
Figura 4: Qualidade de Vida em Lavras-MG
Qualidade de vida urbana é considerada como o grau de satisfação das
necessidades básicas para a vida humana, como o bem-estar aos habitantes de
determinada fração do espaço geográfico. Foram adotadas três dimensões: a
qualidade ambiental, o nível sócio-econômico e a educação: a qualidade
ambiental diz respeito a um meio sadio, com instalações sanitárias apropriadas e
presença de vegetação; o nível sócio-econômico está relacionado às condições
necessárias para a vida sob o aspecto material, como uma renda suficiente para a
família, uma residência de padrão adequado; e a educação está ligada ao acesso
à informação e formação, à possibilidade de aquisição de conhecimento de
diversas naturezas. Para qualidade ambiental, foram adotados o Índice de
Vegetação de Diferença Normalizada (NDVI) para expressar a distribuição da
cobertura vegetal, e dados do IBGE de abastecimento de água, coleta de lixo e
esgotamento sanitário. Outros dados do IBGE foram utilizados para o nível
24
socioeconômico, como o rendimento nominal mensal e pessoas por banheiro no
domicilio. Em relação a educação, foram utilizados o analfabetismo na população
com dez anos ou mais, analfabetismo entre os responsáveis pelos domicílios,
anos de estudo dos responsáveis pelos domicílios e proporção de responsáveis
que freqüentaram o ensino superior. Foi possível a identificação das áreas em que
a Qualidade de Vida é precária. Portanto, a qualidade de vida urbana apresentada
neste trabalho se mostra elevada nas áreas centrais, onde há 100% de qualidade
de acordo com o índice. As áreas localizadas nas partes nordeste e noroeste
possuem 80% de qualidade de vida, e as regiões abaixo da média se localizam a
sul de Lavras, dando ênfase na parte sudeste do município. Através desta
pesquisa foi observado que a qualidade de vida urbana ocorre de maneira
expressivamente favorável nas áreas centrais, onde há a provisão de condições
básicas de educação, qualidade ambiental e nível socioeconômico.
25
Distribuição da cobertura vegetal em Lavras-MG por meio de NDVI
Figura 5: Distribuição da cobertura vegetal no município de Lavras-MG por meio de NDVI
Analisar a distribuição da cobertura vegetal através do Índice de Vegetação por
Diferença Normalizada - NDVI – foi uma das etapas da pesquisa sobre
Desigualdade Ambiental no município de Lavras-MG. A importância da análise da
cobertura vegetal em ambientes urbanos consiste em revelar aspectos da
qualidade ambiental, podendo indicar a qualidade de vida da população presente
nestes espaços. É notório que a cobertura vegetal constitui um significativo fator
de sustentabilidade, contribuindo para a regularização do microclima urbano,
garantindo áreas de maior permeabilidade, bem como atua no auxilio do aumento
26
da circulação do ar. Porém, é observado que o meio urbano vem sofrendo
alterações devido à expansão horizontal da cidade com o aumento de áreas
construídas, pavimentação asfáltica e verticalização da área central com a
construção de prédios, causando a retração da cobertura vegetal. Há a
necessidade de se realizar o levantamento e monitoramento da vegetação na
referida área urbana, e para isto, utiliza-se o NDVI. Este índice, elaborado sob a
forma de um mapa, se torna ferramenta básica para quantificar a distribuição da
vegetação no município estudado. O referido mapa, demonstrou que na cidade de
Lavras-MG há a carência de vegetação nas áreas periféricas, não abrangendo-as
equitativamente. Sua região de entorno é composta por grande quantidade de
vegetação, porém pode-se observar que existem solos expostos, indicando a
presença de cultura de café, cana e milho. A distribuição da vegetação no referido
município não ocorre de maneira heterogênea, abrangendo apenas algumas áreas
e/ou regiões. Observa-se a característica da macrosegregação da vegetação,
sendo a mesma estabelecida de uma forma segregada por regiões.
5. CONCLUSÃO
A partir dessa pesquisa foi possível concluir que a cidade de Lavras-MG,
especificamente sua área urbana, possui uma média favorável a respeito do índice
de Desigualdade Ambiental, ficando com 0.72. Em 2000, a cidade ainda possuía
problemas com a coleta de lixo, esgotamento sanitário e com a distribuição da
cobertura vegetal na parte sudoeste da cidade. É observado também a eficiência
da análise e cruzamento dos dados do Censo do IBGE(2000) com a imagem do
satélite Landsat 5, obtendo um índice de Desigualdade Ambiental para
averiguação de áreas carentes de infra-estrutura onde há a ocupação de grupos
sociais menos abastados e excluídos da sociedade.
27
APÊNDICE
Figura 1: Bairro Pitangui, Lavras-MG
Figura 2: Bairro Novo Horizonte, Lavras-MG
Figura 3: Bairro Gato Preto, Lavras-MG
28
Fotos tiradas por Christiany M. Sarmiento
Figura 4: Bairro Pitangui, Lavras-MG
Figura 5: Bairro Alterosa, Lavras-MG
Figura 6: Centro, Lavras-MG
29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
IBGE, 2002
Manual de normalização para elaboração de trabalhos acadêmicos, dissertações e
teses da UNIFAL-MG / Sueli Leiko Takamatsu Goyatá... [ et al.]. -Alfenas, 2006. 62
f. Inclui referências.
GARCÍA, Juan Antonio Ortega; TORTAJADA, Josep Ferris i; HANSEN, Marcelo.
Justicia medioambiental: la necessidad de informar y participar. (2004)
MORATO, Rúbia Gomes. Análise Espacial e Desigualdade Ambiental
no Município de São Paulo. São Paulo, 2009.
HERCULANO, Selene. Riscos e desigualdade social: a temática da Justiça
Ambiental e sua construção no Brasil.
PEDRASSOLI , Julio César; ZACHARIAS , Andréa Aparecida.. Integração entre
Sensoriamento Remoto e Sistemas de Informação Geográfica (ISRSIG) para
análise da desigualdade ambiental em Ourinhos/SP. Anais XIV Simpósio
Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, 25-30 abril 2009, INPE, p. 771-
778.
MORATO,R.G. Análise Espacial e Desigualdade Espacial no município de
São Paulo. 2008 101. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. USP, São
Paulo, 2008.
MORATO, R.G; KAWAKUBO, F.S; LUCHIARI, A. Geografia da Desigualdade
Ambiental na Subprefeitura de Campo Limpo Município de São Paulo / SP.
Anais XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21
abril 2005, INPE, p.2281-2288.
30
http://www.fase.org.br/projetos/clientes/noar/noar/UserFiles/17/File/17_principios.p
df