cidade sustentável - lixo lucrativo
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Detalha como as prefeituras com menos de 50 mil habitantes podem utilizar a Lei 12.305/10 para gerar riqueza com o lixo.TRANSCRIPT
CIDADE SUSTENTÁVELLIXO LUCRATIVO
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CIDADE SUSTENTÁVELLIXO LUCRATIVO
Uma proposta rentável para a gestão dos resíduos sólidos em cidades com menos de 50 mil habitantes
Igarapava/SP, janeiro de 2012
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Dedico esta obra aos
amigos que entenderam o meu
distanciamento nestes últimos 10
meses, a minha família e a Lei
12.305/10 que me despertou o
interesse em criar uma proposta
ecologicamente viável para a
questão dos resíduos sólidos na
cidade de pequeno porte.
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SumárioApresentação......................................................7
Introdução...........................................................9
1. Definição de lixo e resíduos sólidos............... 15
1.2 Classificação dos resíduos sólidos.........17
1.2.1 Os riscos ao meio ambiente.........17
1.2.2 Quanto a origem...........................19
1.3 Características dos resíduos sólidos......31
1.4 Gestão dos resíduos sólidos no Brasil:
Contextualização............................................... 32
1.5 As formas de destinação........................ 34
1.6 Risco associado ao resíduo sólido......... 39
2. O compromisso com o desenvolvimento sustentável
nas cidades................................................. 43
2.1 O passivo social e o mercado de crédito de
carbono........................................................ 45
3. A legislação ambiental.................................... 48
4. Coleta seletiva com inclusão social................ 58
4.1 Remoção porta-a-porta.......................... 61
4.2 Remoção por intermédio de postos de entrega
voluntária – PEVs................................ 65
5. Formas de integração dos catadores............. 68
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6. As etapas da implantação da coleta seletiva..70
6.1 Caracterização dos resíduos..................71
6.2 Definição das áreas e locais para a
implantação............................................................ 74
6.3 Definição do plano de trabalho...............77
6.4 A mão-de-obra, os equipamentos e as
instalações......................................................... 84
6.5 A equipe de coordenação.......................86
6.6 Os equipamentos necessários para a
coleta.................................................................. 87
6.7 Acondicionamento adequado................. 91
7. A triagem do material...................................... 99
8. A participação de toda a comunidade.............105
8.1 A campanha de educação ambiental..... 110
9. A limpeza pública............................................ 114
9.1 Serviço de varrição.............................. 117
9.2 Utensílios, ferramentas e vestuário de
varrição.............................................................. 119
9.3 Serviços de capina e raspagem............. 120
9.4 Serviços de roçagem..............................122
9.5 Como reduzir o lixo público....................124
10. Os atores da revolução verde...................... 125
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10.1 As prefeituras....................................... 126
10.2 O catador – De excluído a parceiro......128
10.3 O momento histórico............................ 129
10.4 Incentivo as cooperativas de catadores.130
11. Modelo tradicional de usina de reciclagem.. 135
12. Estudos de viabilidade econômica............... 140
13. O mercado de recicláveis............................. 143
14. A proposta para prefeituras com menos de 50 mil
habitantes....................................................... 145
14.1 Estrutura Financeira.............................146
14.2 Controle de Custos.............................. 147
14.3 Formas de cobrança............................ 152
Anexo – Proposta FRC Consultoria................... 155
Lista de Tabelas................................................. 158
Lista de Figuras.................................................. 159
Bibliografia..........................................................160
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Apresentação
Como um todo, nós, a humanidade, não temos
cuidado bem do planeta, nem dos seres que vivem nele.
Estamos desperdiçando e usando mal os recursos, além
do que, a destinação do nosso lixo não é tratado de forma
coerente e nem tão pouco de forma correta.
A Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010, que deverá
ser um marco muito importante para a gestão dos
resíduos sólidos no Brasil mas, em suma, o que realmente
tem acontecido é uma corrida desenfreada por parte de
todas as prefeituras do Brasil apenas para criarem,
sozinhas ou em forma de consórcio intermunicipal, aterros
sanitários. Na nossa visão, estamos apenas obrigando a
população brasileira a varrer para debaixo do tapete o lixo
que será gerado.
Neste livro, detalhamos o que é resíduo sólido
urbano, quais as formas atuais de destinação “correta”
defendida pela Lei 12.305/10, como trabalhar a questão
da inclusão social dos catadores de material reciclável,
qual a participação da sociedade e do administrador
público neste processo e por último apresentamos uma
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proposta um pouco diferente do usualmente divulgado
para as cidades brasileiras.
Nossa proposta vai muito além de simplesmente
varrer o lixo para debaixo do tapete, nós mostramos que
as prefeituras tem uma oportunidade única para mudar a
visão do mundo sobre a gestão do lixo. Podemos
transformar nossas cidades em exemplo de sucesso. Só
dependemos da boa vontade e visão de futuro dos
prefeitos que estaremos elegendo em outubro deste ano.
Vale aqui uma dica para todos os eleitores Brasil
afora. Vamos identificar quais administradores públicos
estão realmente pensando no futuro de nossas cidades e
nas próximas gerações de brasileiros.
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Introdução
O surgimento de problemas socioambientais dos
lixões e aterros como ameaçadores à sobrevivência da
vida na Terra é um fenômeno relativamente antigo para a
humanidade. A medida em que o ser humano se
distanciou da natureza passou a encará-la, não mais como
um todo em equilíbrio, mas como uma gama de recursos
disponíveis, capazes de serem transformados em bens
consumíveis. Em poucas décadas eram muitos os
sintomas que indicavam que este modelo não era
sustentável.
Primeiro, os recursos naturais são finitos e
insuficientes para alimentarem as crescentes demandas
das sociedades de consumo. Segundo, o bem-estar
sedutor e ilusório do consumo, só é vivido por uma
pequena parcela da população humana, pois a maioria
luta apenas para sobreviver, tendo que enfrentar, agora,
os graves problemas ambientais causados pelo próprio
modelo econômico. Finalmente, o ser humano é uma
espécie entre milhares que depende do todo para sua
sobrevivência neste planeta. É a única que tem esta
9
consciência e o poder de intervir benéfica ou
maleficamente no ambiente e portanto, sua
responsabilidade é inegável.
O resultado tem sido perda econômica,
empobrecimento ambiental e sofrimento. No entanto, isso
não é necessário. A Terra possui recursos e riquezas para
satisfazer as necessidades de todos os seus habitantes e,
em vários pontos do planeta, há pessoas, comunidades e
nações que atuam no sentido de preservar e ampliar
esses recursos com a finalidade de usá-los de forma
produtiva.
Como estas, existem outras constatações que
parecem contraditórias: por um lado, problemas graves e,
por outro, um panorama de riquezas que talvez muitos de
nós desconheçam. Não será missão do administrador
público do futuro construir a ponte entre esses pares de
realidades?
Vejamos alguns deles:
• Diariamente cerca de 35 mil pessoas no mundo
morrem de inanição, principalmente crianças, o que
equivale à queda e destruição diária, sem sobreviventes,
de 100 grandes aviões lotados. E, também, todos os dias
10
aumenta em 220 mil o número de bocas a serem
alimentadas no planeta.
• No entanto, a cada ano, a produção mundial de
alimentos é suficiente, rica em nutrientes e variada, para
alimentar a população do mundo todo, calculada em cerca
de 7 bilhões no ano 2011.
• Diariamente perdem-se centenas de milhões de
toneladas de terra da camada superficial do solo, devido à
erosão. Isto equivale à perda anual de uma área como a
de Portugal ou Hungria. As regiões desérticas, nas
diversas partes do mundo, aumentam a cada quatro anos,
numa área equivalente à Grã-Bretanha ou à Gana.
• Todavia, a quantidade total de alimentos
produzidos pelos agricultores dobrou nestes trinta anos. Já
são conhecidas e aplicadas, tecnologias que permitem alta
produção sem degradação do solo, das águas ou da vida
silvestre do entorno.
• Um quarto do total de água doce que circula no
globo tornou-se inaproveitável, devido à poluição gerada
pelo homem. Nos países em desenvolvimento, apenas
40% da população bebe água limpa e saudável.
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• Mas, a quantidade de dinheiro necessário para
obter água limpa para o mundo todo é muito menor do que
o montante gasto com o consumo de supérfluos.
• As florestas tropicais sofrem uma perda anual
equivalente à área da Áustria, e essa degradação causa
inundações e secas, erosão do solo, assoreamento das
barragens, perda de espécies, além da destruição de
estradas, campos, assentamentos humanos e culturas
nativas. Metade das florestas da Europa Central está
morrendo devido à poluição do ar e à chuva ácida, o
mesmo acontecendo na China e na América do Norte.
• Porém, em alguns pontos do globo existem
ações que têm mostrado competência para administrar
uma produção florestal capaz de gerar suprimento para
décadas e mesmo séculos; planos de reflorestamento
estão recuperando árvores, solos, rios e toda a vida
silvestre que essas florestas abrigam.
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Concluindo, a história da cultura humana e da sua
interação com o planeta físico que a suporta é a história
de um potencial ainda não concretizado. Para ter ideia do
potencial deste magnífico planeta chamado Terra e da
raça humana que nele habita, todas as nações e povos
precisam compreender como funcionam os sistemas
naturais; precisam ter acesso à informação sobre a real
situação do planeta e precisam de técnica e instrumentos
para um gerenciamento ambiental criterioso, eficiente e
produtivo. É necessário comprometer-se a usar os
recursos terrestres com sensibilidade, de modo a permitir
a todos o acesso justo às suas riquezas.
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E aí chegamos à tarefa fundamental da educação
ambiental: desenvolver essa compreensão, difundir a
informação, os instrumentos e as técnicas, e ainda inspirar
o engajamento e o primeiro passo é aprender a aproveitar
o que descartamos diariamente. Devemos atentar para o
papel de cada um na geração e na destinação dessa
riqueza que chamamos de “lixo”.
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1. Definição de lixo e resíduos sólidos5. Resíduos Sólidos: Origem, Definição e
De acordo com o Dicionário de Aurélio Buarque de
Holanda, "lixo é tudo aquilo que não se quer mais e se
joga fora; coisas inúteis, velhas e sem valor."
Já a Associação Brasileira de Normas Técnicas –
ABNT – define o lixo como os "restos das atividades
humanas, considerados pelos geradores como inúteis,
indesejáveis ou descartáveis, podendo-se apresentar no
estado sólido, semissólido ou líquido, desde que não seja
passível de tratamento convencional."
Comumente os autores de publicações sobre
resíduos sólidos se utilizam indistintamente dos termos
"lixo" e "resíduos sólidos". Resíduo sólido ou
simplesmente "lixo" é todo material sólido ou semissólido
indesejável e que necessita ser removido por ter sido
considerado inútil por quem o descarta, em qualquer
recipiente destinado a este ato.
Devemos destacar, no entanto, a relatividade da
característica inservível do lixo, pois aquilo que já não
apresenta nenhuma serventia para quem o descarta, para
outro pode se tornar matéria-prima para um novo produto
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ou processo. Nesse sentido, a ideia do reaproveitamento
do lixo é um convite à reflexão do próprio conceito clássico
de resíduos sólidos. É como se o lixo pudesse ser
conceituado como tal somente quando da inexistência de
mais alguém para reivindicar uma nova utilização dos
elementos então descartados.
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1.2 Classificação dos resíduos sólidos
São várias as maneiras de se classificar os
resíduos sólidos. As mais comuns são quanto aos riscos
potenciais de contaminação do meio ambiente e quanto à
natureza ou origem.
1.2.1 Os riscos ao meio ambiente
De acordo com a NBR 10.004 da ABNT, os
resíduos sólidos podem ser classificados em:
Classe I ou Perigosos
São aqueles que, em função de suas
características intrínsecas de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade,
apresentam riscos à saúde pública através do aumento da
mortalidade ou da morbidade, ou ainda provocam efeitos
adversos ao meio ambiente quando manuseados ou
dispostos de forma inadequada.
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Classe II ou Não-Inertes
São os resíduos que podem apresentar
características de combustibilidade, biodegradabilidade ou
solubilidade, com possibilidade de acarretar riscos à saúde
ou ao meio ambiente, não se enquadrando nas
classificações de resíduos Classe I – Perigosos – ou
Classe III – Inertes.
Classe III ou Inertes
São aqueles que, por suas características
intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio
ambiente, e que, quando amostrados de forma
representativa, segundo a norma NBR 10.007, e
submetidos a um contato estático ou dinâmico com água
destilada ou deionizada, a temperatura ambiente,
conforme teste de solubilização segundo a norma NBR
10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes
solubilizados a concentrações superiores aos padrões de
potabilidade da água, conforme listagem nº 8 (Anexo H da
NBR 10.004), excetuando-se os padrões de aspecto, cor,
turbidez e sabor.
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1.2.2 Quanto à origem
A origem é o principal elemento para a
caracterização dos resíduos sólidos. Segundo este critério,
os diferentes tipos de lixo podem ser listados, a saber:
• Lixo doméstico ou residencial
• Lixo comercial
• Lixo público
• Lixo domiciliar especial:
• Entulho de obras
• Pilhas e baterias
• Lâmpadas fluorescentes
• Pneus
• Lixo de fontes especiais
• Lixo industrial
• Lixo radioativo
• Lixo de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários
• Lixo agrícola
• Resíduos de serviços de saúde
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Lixo Doméstico ou Residencial
São os resíduos gerados nas atividades diárias em
casas, apartamentos, condomínios e demais edificações
residenciais.
Lixo Comercial
São os resíduos gerados em estabelecimentos
comerciais, cujas características dependem da atividade
ali desenvolvida.
Nas atividades de limpeza urbana, os tipos
"doméstico" e "comercial" constituem o chamado "lixo
domiciliar", que, junto com o lixo público, representam a
maior parcela dos resíduos sólidos produzidos nas
cidades.
O grupo de lixo comercial, assim como os entulhos
de obras, pode ser dividido em subgrupos chamados de
"pequenos geradores" e "grandes geradores". O
regulamento de limpeza urbana do município poderá
definir precisamente os subgrupos de pequenos e grandes
geradores.
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Pequeno Gerador de Resíduos Comerciais é o
estabelecimento que gera até 120 litros de lixo por dia,
enquanto que Grande Gerador de Resíduos Comerciais é
o estabelecimento que gera um volume de resíduos
superior a esse limite.
Lixo Público
São os resíduos presentes nos logradouros
públicos, em geral resultantes da natureza, tais como
folhas, galhadas, poeira, terra e areia, e também aqueles
descartados irregular e indevidamente pela população,
como entulho, bens considerados inservíveis, papéis,
restos de embalagens, alimentos e móveis e
eletrodomésticos inutilizados.
Lixo Domiciliar Especial
É o grupo que compreende os entulhos de obras,
pilhas e baterias, lâmpadas fluorescentes e pneus.
Observe que os entulhos de obra, também conhecidos
como resíduos da construção civil, só estão enquadrados
nesta categoria por causa da grande quantidade de sua
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geração e pela importância que sua recuperação e
reciclagem vem assumindo no cenário nacional.
Entulhos de Obras
A indústria da construção civil é a que mais
explora recursos naturais. Além disso, a construção civil
também é a indústria que mais gera resíduos. No Brasil, a
tecnologia construtiva normalmente aplicada favorece o
desperdício na execução das novas edificações. Enquanto
em países desenvolvidos a média de resíduos proveniente
de novas edificações encontra-se abaixo de 100kg/m2. No
Brasil este índice gira em torno de 300kg/m2 edificado.
Em termos quantitativos, esse material
corresponde a algo em torno de 50% da quantidade em
peso de resíduos sólidos urbanos coletada em cidades
com mais de 500 mil habitantes de diferentes países,
inclusive o Brasil.
Em termos de composição, os resíduos da
construção civil são uma mistura de materiais inertes, tais
como concreto, argamassa, madeira, plásticos, papelão,
vidros, metais, cerâmica e terra.
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O pequeno gerador de entulho de obras é a
pessoa física ou jurídica que gera até 1.000kg ou 50 sacos
de 30 litros por dia, enquanto grande gerador de entulho é
aquele que gera um volume diário de resíduos acima
disso.
Pilhas e Baterias
As pilhas e baterias têm como princípio básico
converter energia química em energia elétrica utilizando
um metal como combustível. Apresentando-se sob várias
formas (cilíndricas, retangulares, botões), podem conter
um ou mais dos seguintes metais: chumbo (Pb), cádmio
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(Cd), mercúrio (Hg), níquel (Ni), prata (Ag), lítio (Li), zinco
(Zn), manganês (Mn) e seus compostos.
As substâncias das pilhas que contêm esses
metais possuem características de corrosividade,
reatividade e toxicidade e são classificadas como
"Resíduos Perigosos – Classe I".
As substâncias contendo cádmio, chumbo,
mercúrio, prata e níquel causam impactos negativos sobre
o meio ambiente e, em especial, sobre o homem.
Lâmpadas Fluorescentes
O pó que se torna luminoso encontrado no interior
das lâmpadas fluorescentes contém mercúrio. Isso não
está restrito apenas às lâmpadas fluorescentes comuns de
forma tubular, mas encontra-se também nas lâmpadas
fluorescentes compactas.
As lâmpadas fluorescentes liberam mercúrio
quando são quebradas, queimadas ou enterradas em
aterros sanitários, o que as transforma em resíduos
perigosos Classe I, uma vez que o mercúrio é tóxico para
o sistema nervoso humano e, quando inalado ou ingerido,
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pode causar uma enorme variedade de problemas
fisiológicos.
Uma vez lançado ao meio ambiente, o mercúrio
sofre uma "bioacumulação", isto é, ele tem suas
concentrações aumentadas nos tecidos dos peixes,
tornando-os menos saudáveis, ou mesmo perigosos se
forem comidos frequentemente. As mulheres grávidas que
se alimentam de peixe contaminado transferem o mercúrio
para os fetos, que são particularmente sensíveis aos seus
efeitos tóxicos.
A acumulação do mercúrio nos tecidos também
pode contaminar outras espécies selvagens, como
marrecos, aves aquáticas e outros animais.
Pneus
São muitos os problemas ambientais gerados pela
destinação inadequada dos pneus. Se deixados em
ambiente aberto, sujeito a chuvas, os pneus acumulam
água, servindo como local para a proliferação de
mosquitos. Se encaminhados para aterros de lixo
convencionais, provocam "ocos" na massa de resíduos,
causando a instabilidade do aterro. Se destinados em
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unidades de incineração, a queima da borracha gera
enormes quantidades de material particulado e gases
tóxicos, necessitando de um sistema de tratamento dos
gases extremamente eficiente e caro.
Por todas estas razões, o descarte de pneus é
hoje um problema ambiental grave ainda sem uma
destinação realmente eficaz. Mas já existem estudos onde
podemos utilizar a borracha tritura em misturas asfálticas,
concreto ou para a queima em fornos de indústrias de
cimento. Outra destinação é a devolução dos pneus
velhos aos fabricantes, mas esta prática não é totalmente
difundida no Brasil, apesar de legislações já indicarem
isso.
Lixo Industrial
São os resíduos gerados pelas atividades
industriais e muito variado que apresenta característica
diversificada, pois este depende do tipo de produto
manufaturado.
Devem, portanto, ser estudado caso a caso.
Adota-se a NBR 10.004 da ABNT para se classificar os
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resíduos industriais: Classe I (Perigosos), Classe II (Não-
Inertes) e Classe III (Inertes).
Lixo Radioativo
Assim considerados os resíduos que emitem
radiações acima dos limites permitidos pelas normas
ambientais. No Brasil, o manuseio, acondicionamento e
disposição final do lixo radioativo está a cargo da
Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN.
Lixo de Portos, Aeroportos e terminais
Rodoferroviários
Resíduos gerados tanto nos terminais, como
dentro dos navios, aviões e veículos de transporte. Os
resíduos dos portos e aeroportos são decorrentes do
consumo de passageiros em veículos e aeronaves e sua
periculosidade está no risco de transmissão de doenças já
erradicadas no país. A transmissão também pode se dar
através de cargas eventualmente contaminadas, tais como
animais, carnes e plantas.
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Lixo Agrícola
Formado basicamente pelos restos de
embalagens impregnados com pesticidas e fertilizantes
químicos, utilizados na agricultura, que são perigosos.
Portanto o manuseio destes resíduos segue as mesmas
rotinas e se utiliza dos mesmos recipientes e processos
empregados para os resíduos industriais Classe I.
A falta de fiscalização e de penalidades mais
rigorosas para o manuseio inadequado destes resíduos
faz com que sejam misturados aos resíduos comuns e
dispostos nos vazadouros municipais, ou – o que é pior –
sejam queimados nas fazendas e sítios mais afastados,
gerando gases tóxicos.
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Resíduos de Serviços de Saúde
Compreendendo todos os resíduos gerados nas
instituições destinadas à preservação da saúde da
população. Segundo a NBR 12.808 da ABNT, os resíduos
de serviços de saúde seguem a classificação apresentada
na Tabela 2.
29
30
1.3 Características dos resíduos sólidosAs características do lixo podem variar em função
de aspectos sociais, econômicos, culturais, geográficos e
climáticos, ou seja, os mesmos fatores que também
diferenciam as comunidades entre si e as próprias
cidades.
A Tabela 3 expressa a variação das composições
do lixo em alguns países, deduzindo-se que a participação
da matéria orgânica tende a se reduzir nos países mais
desenvolvidos ou industrializados, provavelmente em
razão da grande incidência de alimentos semipreparados
disponíveis no mercado consumidor.
Geração Per Capita
A "geração per capita" relaciona a quantidade de
resíduos urbanos gerada diariamente e o número de
habitantes de determinada região. Muitos técnicos
consideram de 0,5 a 0,8kg/hab./dia como a faixa de
variação média para o Brasil. Na ausência de dados mais
precisos, a geração per capita pode ser estimada através
da Tabela 4.
31
1.4 Gestão de Resíduos Sólidos no Brasil: Contextualização
Dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, demonstram que o Brasil apresenta uma
situação preocupante com relação ao tratamento e
disposição final dos resíduos sólidos. A maior parte dos
municípios brasileiros dispõe seus resíduos sólidos em
lixões, locais nos quais os resíduos são descarregados
sem nenhum controle ambiental.
Segundo o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, dos 5.561 municípios brasileiros, 63,6%
utilizam lixões a céu aberto, 18,4% aterros controlados e
13,8% destinam seus resíduos para aterros sanitários.
32
Outras soluções de destinações de resíduos urbanos são
a compostagem – transformação da matéria orgânica dos
resíduos sólidos em composto para ser utilizado na
agricultura; a incineração – queima controlada dos
resíduos; e as centrais de triagem – seleção dos resíduos
para a reciclagem. Essas opções ainda são pouco
difundidas no Brasil, sendo adotadas por apenas 4,2% dos
municípios (IBGE, 2000).
33
1.5 As formas de Destinação
Uma correta destinação dos resíduos sólidos
urbanos poderia reduzir de forma considerável as
emissões de gases de efeito estufa, além de resolver de
forma ambientalmente correta a questão do lixo gerado
pelos municípios. Deveríamos atentar para esta forma de
geração de receitas ainda pouco difundida no Brasil.
A ONU – Organização da Nações Unidas aprova
as seguintes metodologias de destinação final de resíduos
sólidos: a compostagem, a incineração e os aterros
sanitários.
Compostagem
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A compostagem é um processo biológico de
decomposição da matéria orgânica contida em restos de
origem animal ou vegetal. Este processo tem como
resultado final um produto – o composto orgânico – que
pode ser adicionado ao solo para melhorar suas
características para uso agrícola. Pode ser adotada em
indústrias e municípios, desde que seja feito um controle
rigoroso da qualidade do resíduo encaminhado para a
compostagem, afim de se evitar a geração de um
composto orgânico com contaminantes que podem estar
presentes nos resíduos (Felipetto, 2005).
Este tipo de destinação evita a emissão de metano
pela não disposição em aterros sanitários, onde o metano
é gerado através do processo anaeróbico.
O processo de compostagem aeróbia pode ser
dividido em duas fases.
A primeira, chamada de "bioestabilização",
caracteriza-se pela redução da temperatura da massa
orgânica que, após ter atingido temperaturas de até 65°C,
estabiliza-se na temperatura ambiente. Esta fase dura
cerca de 45 dias em sistemas de compostagem acelerada
e 60 dias nos sistemas de compostagem natural.
35
A segunda fase, chamada de "maturação", dura
mais 30 dias. Nesta fase ocorre a humificação e a
mineralização da matéria orgânica.
IncineraçãoA incineração pode ser utilizada tanto para
resíduos sólidos urbanos, como serviços de saúde, quanto
para resíduos industriais. Contudo, as características das
usinas de incineração devem ser diferentes e
dimensionadas de acordo com cada tipo específico de
resíduos.
As maiores desvantagens da incineração são o
custo elevado, a exigência de mão-de-obra qualificada, a
presença de materiais nos resíduos que geram compostos
tóxicos e corrosivos e a questão ambiental principalmente
no que tange ao controle das emissões atmosféricas.
As vantagens são a redução drástica de massa e
volume a ser descartado, a recuperação de energia, a
esterilização dos resíduos (no caso de serviços de saúde)
e a destoxicação (mediante o emprego de boas técnicas
de combustão, produtos orgânicos tóxicos industriais
podem ser destruídos) (IPT/CEMPRE, 2000).
36
Aterros Sanitários
Em aterros sanitários e em lixões, o gás gerado
pela decomposição da matéria orgânica presente nos
resíduos sólidos normalmente vai diretamente para a
atmosfera. O biogás ou gás de aterro é um subproduto da
decomposição anaeróbica de resíduos sólidos pela ação
de micro-organismos.
A sua composição típica é de 40 a 70% de
metano, 30 a 60% de gás carbônico, 0 a 1% de nitrogênio,
0 a 3% de gás sulfídrico e outros gases. O potencial do
metano é 21 vezes maior que a do gás carbônico. Desta
forma, cada tonelada de metano emitido para a atmosfera
equivale ao lançamento de 21 toneladas de gás carbônico.
Como o gás de aterro tem um grande potencial de
geração de efeito estufa, caso ele consiga ser drenado,
canalizado e encaminhado para tratamento específico (a
queima eficiente em flares transforma o metano em CO2,
cujo potencial estufa é 21 vezes menor) haverá uma
diminuição na emissão de gases de efeito estufa.
37
O que deixou de ser lançado na atmosfera pode
ser negociado como créditos de carbono ou emissões
reduzidas de carbono. Na prática, o biogás produzido não
é aproveitado em sua totalidade. Parte é emitida
diretamente para a atmosfera, como gás fugitivo; outra
parte é transportada lateralmente, concentrando-se na
periferia do aterro e uma terceira parte ainda sofre
oxidação pela ação de bactérias aeróbias existentes nas
porções mais superficiais do maciço.
38
1.6 Risco associado ao resíduo sólido
O risco político
Como a gestão de resíduos urbanos é de
competência municipal, qualquer solução ou modelo
institucional depende da política do governo local. A troca
de governos municipais a cada quatro anos pode criar
descontinuidades fatais para os projetos, que são
necessariamente de longo prazo (no mínimo, sete anos).
O risco social / catadores
Na grande maioria dos lixões no Brasil há
catadores que obtêm o seu sustento através da catação
de materiais recicláveis presentes nos resíduos sólidos.
Para que um projeto se desenvolva, é necessário que os
lixões sejam recuperados e que os resíduos sejam
cobertos. Com isso, nem no antigo lixão nem no novo
aterro sanitário haverá espaço para os catadores, o que
pode provocar fortes distúrbios sociais, capazes de
39
comprometer o sucesso do empreendimento. Esse
aspecto reforça a indução de modelos de gestão em que
os catadores, organizados em cooperativas, deixam de
atuar nos locais de disposição final dos resíduos e passam
a atuar em programas de coleta seletiva, separação,
reciclagem e valorização dos resíduos.
O risco da geração e coleta de gás
Nos estudos de viabilidade de créditos de
carbono, calcula-se a quantidade estimada de gás gerada
por um determinado volume de resíduos sólidos, através
de um modelo
matemático, e
estabelece-se um
percentual de coleta
do gás gerado.
Tanto um quanto o
outro pode variar
muito, dependendo
do tipo de resíduo, da quantidade e, principalmente, do
método de operação do aterro e do sistema de gás. Sendo
40
assim, a quantidade de créditos de carbono pode ser
significativamente menor do que a estimada, o que pode
inviabilizar o projeto.
O risco de mercado
Se a oferta de créditos de carbono aumentar e se
tornar maior que a demanda, os preços podem cair
drasticamente. Em 2012, termina o primeiro período de
compromisso do Protocolo de Quioto e todos os acordos
deverão ser reanalisados. Não se sabe ainda como ficará
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Caso não haja acordo, pode não haver mais
mercado. No Brasil, por meio de convênio entre o
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior e a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F),
criou-se o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões,
que objetiva desenvolver um sistema eficiente de
negociação de certificados de carbono. O convênio
contempla quatro ações: elaboração de um banco de
projetos; capacitação de traders (comercializadores) e
multiplicadores; criação e implementação do mercado a
41
termo de certificados de carbono e proposição de
potenciais linhas de financiamento aos projetos
apresentados.
Pode-se, alternativamente, vender diretamente os
créditos de carbono para empresas, governos e fundos
interessados. Hoje, como a procura ainda é maior do que
a oferta, não é difícil a venda direta desses certificados no
mercado internacional. Os preços atualmente variam entre
US$ 7 e US$ 14 por tonelada de CO2 equivalente.
42
2. O compromisso com o desenvolvimento sustentável nas cidades
O Protocolo de Quioto é um importante acordo
internacional relacionado à proteção do meio ambiente.
Seu objetivo primordial é minimizar as emissões globais
de gases de efeito estufa para a atmosfera e garantir a
sobrevivência do ser humano na Terra. Para isso, o
Protocolo utiliza mecanismos financeiros como o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
O que se nota hoje é que os projetos de gestão de
resíduos sólidos urbanos e a eliminação de lixões traz,
primordialmente, o desenvolvimento sustentável local.
Com os recursos dos créditos de carbono, investe-se na
recuperação de lixões que poluem a água subterrânea
justamente em regiões que normalmente não têm
abastecimento público de água. Isto é, um mecanismo
global para redução do efeito estufa está trazendo um
benefício ambiental local, diretamente relacionado ao
saneamento básico e à saúde pública.
A vinculação dos recursos captados na venda dos
43
créditos de carbono com investimentos em saneamento,
saúde, meio ambiente e educação deve ser considerada
na troca de governos municipais a cada quatro anos, e
isso seria muito interessante se as prefeituras pudessem
criar mecanismos formais para que uma parcela dos
recursos obtidos com os créditos de carbono seja
vinculada ao investimento em saneamento, saúde, meio
ambiente e educação, como contrapartida para a
sociedade.
A concretização desses mecanismos pode ser
feita mediante a elaboração de projetos ambientalmente
corretos e através de termos de compromisso, as TACs
(Termos de Ajustamento de Conduta) firmados com o
Ministério Público; ou da criação de um fundo que
receberia esses recursos e teria o propósito específico de
investi-los em projetos sociais.
A gestão sustentável dos resíduos sólidos, a partir
de parâmetros técnicos, ambientais, sociais e econômicos,
constitui um grande desafio para as prefeituras. A carência
de políticas públicas que norteiem a geração e o manejo
sustentável de resíduos sólidos tem reflexos diretos na
disposição final, que, em sua maioria, ainda é feita de
44
forma inadequada. Os impactos negativos na gestão de
resíduos sólidos são múltiplos, incluindo-se danos
ambientais e sociais muitas vezes irreversíveis.
A contaminação atmosférica, a degradação dos
solos e dos cursos d’água decorrentes do escoamento de
chorume, bem como a poluição visual, são alguns dos
impactos ambientais. Além disso, existem problemas
sociais decorrentes das condições subumanas de trabalho
e de vida das pessoas que sobrevivem de atividades
realizadas nos lixões. Tais impactos têm repercussão
direta na qualidade de vida da população em geral e,
principalmente, daquelas que habitam no entorno dos
lixões.
2.1 O passivo social e o mercado de créditos de carbono
A desativação ou remediação de lixões, bem como
a elaboração de uma politica ambientalmente correta,
pressupõe ganhos ambientais, uma vez que se refere à
implantação de estruturas mais adequadas para a
disposição final de resíduos sólidos. Já em termos sociais,
45
a obrigatoriedade passa pela criação e implementação de
alternativas de trabalho e renda para os catadores, que
não deveriam estar submetidos a essas condições
indignas de trabalho.
Um plano socioambiental que favoreça melhorias
na condição de vida por meio de práticas que promovam a
minimização de impactos ambientais, melhorias sanitárias,
desenvolvimento das condições de trabalho, geração de
empregos e capacitação, representam alternativas
sustentáveis para a inclusão social de catadores de
materiais recicláveis, quando estes se fizerem presentes
na área de disposição de resíduos, bem como a promoção
de melhorias socioambientais para população devem estar
previstas no Plano Municipal de Gestão Integrada de
Resíduos Sólidos (PMGIRS) e, consequentemente, no
cálculo de distribuição do percentual de comercialização
das Reduções Certificadas de Emissões (RCEs).
A retirada de catadores dos lixões, em função da
desativação dos mesmos, não pode ocorrer sem que
sejam apresentadas alternativas de trabalho e renda, sob
pena de agravar a situação de exclusão social que esses
indivíduos já enfrentam no trabalho nos lixões.
46
O encerramento de lixões causa impactos não só
para os catadores, mas também para as comunidades que
surgem e se estabelecem no entorno dessas áreas. Essas
comunidades, muitas vezes, são constituídas por
catadores ou por outras pessoas que desenvolvem
atividades ligadas ao beneficiamento e à comercialização
de materiais recicláveis.
Além das motivações sociais, existe uma
exigência legal que diz respeito à própria elegibilidade do
Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
(PMGIRS) para a obtenção de recursos do governo
federal e outros órgãos, com o objetivo de promover a
inclusão social para que as prefeituras possam estar aptas
a uma certificação do Ministério do Meio Ambiente e do
Ministério das Cidades.
47
3. A Legislação Ambiental
A Lei 12.305, de 2 de agosto de 2010 institui a
Política Nacional de Resíduos Sólidos e no seu Art. 18.
menciona:
“Art. 18. A elaboração de plano municipal de
gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos previstos
por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os
Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela
controlados, destinados a empreendimentos e serviços
relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos
sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou
financiamentos de entidades federais de crédito ou
fomento para tal finalidade.
§ 1º Serão priorizados no acesso aos recursos da
União referidos no caput os Municípios que:
I - optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos,
incluída a elaboração e implementação de plano
intermunicipal, ou que se inserirem de forma voluntária
48
nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos
no § 1o do art. 16;
II - implantarem a coleta seletiva com a
participação de cooperativas ou outras formas de
associação de catadores de materiais reutilizáveis e
recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda.
§ 2º Serão estabelecidas em regulamento normas
complementares sobre o acesso aos recursos da União na
forma deste artigo.”
Determina também no artigo 19 as seguintes
premissas:
“Art. 19. O plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo mínimo:
I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos
gerados no respectivo território, contendo a origem, o
volume, a caracterização dos resíduos e as formas de
destinação e disposição final adotadas;
49
II - identificação de áreas favoráveis para
disposição final ambientalmente adequada de rejeitos,
observado o plano diretor de que trata o § 1o do art. 182
da Constituição Federal e o zoneamento ambiental, se
houver;
III - identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou
compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos
critérios de economia de escala, a proximidade dos locais
estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos
ambientais;
IV - identificação dos resíduos sólidos e dos
geradores sujeitos a plano de gerenciamento específico
nos termos do art. 20 ou a sistema de logística reversa na
forma do art. 33, observadas as disposições desta Lei e de
seu regulamento, bem como as normas estabelecidas
pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;
V - procedimentos operacionais e especificações
mínimas a serem adotados nos serviços públicos de
50
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos,
incluída a disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos e observada a Lei nº 11.445, de 2007;
VI - indicadores de desempenho operacional e
ambiental dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos;
VII - regras para o transporte e outras etapas do
gerenciamento de resíduos sólidos de que trata o art. 20,
observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do
Sisnama e do SNVS e demais disposições pertinentes da
legislação federal e estadual;
VIII - definição das responsabilidades quanto à
sua implementação e operacionalização, incluídas as
etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a
que se refere o art. 20 a cargo do poder público;
IX - programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e operacionalização;
51
X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e
a reciclagem de resíduos sólidos;
XI - programas e ações para a participação dos
grupos interessados, em especial das cooperativas ou
outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de
baixa renda, se houver;
XII - mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a valorização dos
resíduos sólidos;
XIII - sistema de cálculo dos custos da prestação
dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses
serviços, observada a Lei nº 11.445, de 2007;
XIV - metas de redução, reutilização, coleta
seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a
quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final
ambientalmente adequada;
52
XV - descrição das formas e dos limites da
participação do poder público local na coleta seletiva e na
logística reversa, respeitado o disposto no art. 33, e de
outras ações relativas à responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos;
XVI - meios a serem utilizados para o controle e a
fiscalização, no âmbito local, da implementação e
operacionalização dos planos de gerenciamento de
resíduos sólidos de que trata o art. 20 e dos sistemas de
logística reversa previstos no art. 33;
XVII - ações preventivas e corretivas a serem
praticadas, incluindo programa de monitoramento;
XVIII - identificação dos passivos ambientais
relacionados aos resíduos sólidos, incluindo áreas
contaminadas, e respectivas medidas saneadoras;
XIX - periodicidade de sua revisão, observado
prioritariamente o período de vigência do plano plurianual
municipal.
53
§ 1º O plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos pode estar inserido no plano de
saneamento básico previsto no art. 19 da Lei nº 11.445, de
2007, respeitado o conteúdo mínimo previsto nos incisos
do caput e observado o disposto no § 2o, todos deste
artigo.
§ 2º Para Municípios com menos de 20.000 (vinte mil) habitantes, o plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos terá conteúdo simplificado, na forma do
regulamento.
§ 3º O disposto no § 2o não se aplica a
Municípios:
I - integrantes de áreas de especial interesse
turístico;
II - inseridos na área de influência de
empreendimentos ou atividades com significativo impacto
ambiental de âmbito regional ou nacional;
54
III - cujo território abranja, total ou parcialmente,
Unidades de Conservação.
§ 4º A existência de plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos não exime o Município ou o
Distrito Federal do licenciamento ambiental de aterros
sanitários e de outras infraestruturas e instalações
operacionais integrantes do serviço público de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos pelo órgão
competente do Sisnama.
§ 5º Na definição de responsabilidades na forma
do inciso VIII do caput deste artigo, é vedado atribuir ao
serviço público de limpeza urbana e de manejo de
resíduos sólidos a realização de etapas do gerenciamento
dos resíduos a que se refere o art. 20 em desacordo com
a respectiva licença ambiental ou com normas
estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e, se couber, do
SNVS.
§ 6º Além do disposto nos incisos I a XIX do caput deste artigo, o plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos contemplará ações específicas a serem
desenvolvidas no âmbito dos órgãos da administração
55
pública, com vistas à utilização racional dos recursos
ambientais, ao combate a todas as formas de desperdício
e à minimização da geração de resíduos sólidos.
§ 7º O conteúdo do plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos será disponibilizado para o
Sinir, na forma do regulamento.
§ 8º A inexistência do plano municipal de gestão
integrada de resíduos sólidos não pode ser utilizada para
impedir a instalação ou a operação de empreendimentos
ou atividades devidamente licenciados pelos órgãos
competentes.
§ 9º Nos termos do regulamento, o Município que
optar por soluções consorciadas intermunicipais para a
gestão dos resíduos sólidos, assegurado que o plano
intermunicipal preencha os requisitos estabelecidos nos
incisos I a XIX do caput deste artigo, pode ser dispensado
da elaboração de plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos.”
56
Levando em consideração os risco e as
oportunidades geradas pelo Plano Municipal de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) cabe ao
administrador público encontrar a melhor forma de
elaborar um projeto que contemple as questões
ambientais e sociais de seu município objetivando resolver
a questão do lixo e ao mesmo tempo gerar emprego e
renda para a população. Em vista deste desafio,
entendemos que a melhor maneira de aproveitar as
oportunidades geradas pela Lei 12.305, de 2 de agosto de
2010 em cidades com menos de 50 mil habitantes é a
implantação de um consórcio intermunicipal que
contemple os municípios vizinhos, cabendo a todos a
identificação de uma área isolada, que seja ligada por
estradas asfaltadas, que possa ser utilizada como ponto
comum para a destinação final dos resíduos sólidos
gerados diariamente.
Além disso a coleta seletiva deve passar a ser
ponto fundamental em todas as cidades brasileiras. Antes
da destinação final dos resíduos sólidos urbanos gerados
nas cidades, cabe a cada cidade realizar um gestão mais
efetiva da coleta do lixo.
57
IMAGEM POLITICA DE RESÍDUOS
4. Coleta seletiva com inclusão social
A coleta seletiva é um sistema de recolhimento de
materiais recicláveis: papéis, plásticos, vidros, metais e
orgânicos, previamente separados na fonte geradora e
que podem ser reutilizados ou reciclados. A coleta seletiva
funciona, também, como um processo de educação
ambiental na medida em que sensibiliza a comunidade
sobre os problemas do desperdício de recursos naturais e
da poluição causada pelo lixo.
58
O manejo ambientalmente saudável dos resíduos
pressupõe hierarquicamente a redução ao mínimo dos
resíduos e o aumento ao máximo da reutilização e da
reciclagem. Apesar de a prioridade centrar-se na
transformação do estilo de vida e, consequentemente, dos
padrões de produção e consumo, a reciclagem também é
preconizada como uma ação importante. Além da
reinserção de bens na cadeia produtiva, possibilitando
uma economia em matéria-prima, o processo permite
também a redução da poluição do ar e da água, e a
economia de energia (Magera, 2003).
A implantação de programas de coleta seletiva
incentiva o desvio de materiais inorgânicos que seriam
encaminhados aos aterros sanitários, maximizando as
chances de o empreendimento gerar biogás. Também
permite economias em energia a partir da reciclagem dos
materiais coletados, quando comparado a processos
tradicionais de produção.
Outro ganho importante da coleta seletiva diz
respeito à agregação de valor social, mediante a inclusão
de catadores ao programa. Embora o país venha
apresentando avanços no desenvolvimento de atividades
59
de manejo de resíduos sólidos envolvendo catadores, as
circunstâncias atuais são propícias para estreitar ainda
mais esse compromisso.
A Lei de Saneamento 11.445/2007, que modifica o
inciso XXVII do caput do art. 24 da Lei de Licitações (Lei
n° 8.666/1993). Na nova redação amplia a possibilidade
de participação de cooperativas e associações de
catadores na prestação de serviços ligados à coleta e ao
beneficiamento de materiais recicláveis, como transcrito a
seguir:
Art. 24 É dispensável à licitação: XXVII –
na contratação da coleta, processamento
e comercialização de resíduos sólidos
urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em
áreas com sistema de coleta seletiva de
lixo, efetuados por associações ou
cooperativas formadas exclusivamente
por pessoas físicas de baixa renda
reconhecidas pelo poder público como
catadores de materiais recicláveis, com o
uso de equipamentos compatíveis com as
normas técnicas, ambientais e de saúde
pública.
60
A responsabilidade pela destinação final do lixo é
da prefeitura, mas nem sempre a coleta seletiva surge
como iniciativa da administração municipal.
Frequentemente, observa-se a movimentação de
determinados segmentos da população que, tendo
desenvolvido maior consciência ambientalista, passam a
cobrar dos órgãos competentes posturas e procedimentos
mais adequados, assumindo participação ativa no
processo de preservação e/ou de recuperação ambiental.
A coleta seletiva nos municípios pode ser
realizada de duas formas básicas:
a) remoção porta-a-porta;
b) utilização de postos de entrega voluntária
(PEVs).
4.1 Remoção porta-a-porta
A remoção porta-a-porta consiste na coleta dos
materiais recicláveis gerados nos domicílios, numa
atividade semelhante à da coleta regular executada pela
maioria dos municípios brasileiros. Em dias e horários
determinados, esses materiais são depositados pelos
61
usuários na frente dos domicílios, sendo, então, removidos
pelos veículos de coleta.
A separação dos materiaisO acondicionamento e a coleta, quando realizados
sem a segregação dos resíduos na fonte, resultam na
deterioração, parcial ou total, de várias das suas frações
recicláveis. O papelão se desfaz com a umidade,
tornando-se inaproveitável; o papel, assim como o plástico
em filme (sacos e outras embalagens) sujam-se em
contato com matéria orgânica, perdendo valor; e os
recipientes de vidro e lata enchem-se com outros
materiais, dificultando sua seleção.
Também a mistura de determinados materiais à
matéria orgânica, como pilhas, cacos, tampinhas e restos
de equipamentos eletrônicos pode piorar
significativamente a qualidade do composto orgânico
produzido. Portanto, a implantação da coleta seletiva deve
prever a separação dos materiais na própria fonte
geradora, evitando o surgimento desses inconvenientes.
Para a implantação deste sistema, os resíduos gerados
pelos domicílios são separados em dois grupos:
62
Materiais Recicláveis
São materiais recicláveis, ou sucata, compostos
por papel, papelão, vidro, metal e plástico.
Materiais Não-Recicláveis
Também chamados de lixo úmido ou
simplesmente lixo, compostos pela matéria orgânica e
pelos materiais que não apresentam condições favoráveis
à reciclagem.
A relação dos materiais assim classificados pode
variar de um município para outro, uma vez que para
determinada localidade pode não ser interessante, ou
mesmo viável, a separação de determinados materiais,
por exemplo, pela simples inexistência de mercado
comprador.
Os materiais recicláveis podem ser
acondicionados em um único vasilhame, coletados e
levados para unidades de triagem, onde são separados
por tipo.
63
Vantagem: Comodidade para a população, que
pode resultar em uma maior adesão da comunidade.
Desvantagem: Custo relativamente alto e
possibilidade de ação dos catadores, que percorrem os
trechos de coleta antes dos veículos, apossando-se dos
materiais de maior valor comercial.
Na remoção porta-a-porta também pode se optar
pela separação dos recicláveis dentro dos domicílios,
pelos próprios geradores. Geralmente são separados em
vasilhames independentes apenas os materiais que
efetivamente serão reciclados, ou seja, aqueles que têm
maior valor agregado, ou aqueles que têm colocação no
mercado comprador regional.
Esta é uma alternativa pouco adotada devido às
dificuldades de participação da comunidade. Pode-se
entender que nem sempre há espaços disponíveis para
acomodação de vários recipientes nas residências e que,
naturalmente, surgem dificuldades na identificação de
certos materiais na hora de sua separação.
Como há possibilidades de mistura dos materiais,
a pré-seleção domiciliar facilita, mas não dispensa a
triagem após a coleta.
64
4.2 Remoção por intermédio de postos de entrega voluntária — PEVs
A utilização de postos de entrega voluntária
implica em uma maior participação da população. Os
veículos de coleta não se deslocam de domicílio em
domicílio. A própria população, suficientemente motivada,
deposita seus materiais recicláveis em pontos
predeterminados pela administração pública, onde são
acumulados para remoção posterior.
Plástico duro e do tipo filme, papel, papelão, vidro
e metal são depositados separadamente em recipientes
especiais, facilitando a triagem final.
Os PEVs podem ter constituição muito variada,
dependendo dos recursos disponíveis. Normalmente são
formados por conjuntos de recipientes plásticos ou
metálicos, como latões de 200 litros e contêineres, ou de
alvenaria, formando pequenas caixas ou baias, onde os
materiais são depositados. Esses recipientes, que devem
atender às exigências de capacidade e função, são
identificados por cores, seguindo as normas
internacionais, e devem ser protegidos das chuvas e
65
demais intempéries por uma pequena cobertura.
Uma boa opção tem sido a utilização de
recipientes construídos com telas metálicas que
possibilitam a visualização de seu conteúdo. Esse tipo de
recipiente facilita à população o relacionamento dos
contêineres com seu conteúdo, além de inibir a deposição
equivocada dos resíduos.
Os PEVs, preferencialmente, devem ser instalados
em lugares protegidos, de fácil acesso e visualização,
frequentados por grande número de pessoas, como
postos de gasolina, escolas, hospitais, supermercados,
terminais de transporte coletivo, conjuntos habitacionais,
associações de bairros e outros.
Vantagem: Economia na coleta e também na
separação dos materiais.
Desvantagem: Possibilidade de depredação das
instalações por vandalismo e necessidade de empenho da
população em conduzir seus materiais recicláveis até os
pontos predeterminados, podendo resultar num percentual
de participação menor que o da coleta porta-a-porta.
Os sistemas convencionais de coleta seletiva,
fundamentados exclusivamente na utilização das
66
estruturas municipais, são normalmente caros. Apesar da
utilização de recursos facilitadores, como a utilização de
pontos de entrega voluntária que resultam em maior
participação da comunidade e redução dos custos da
coleta, no geral, a atividade continua sendo onerosa e
proibitiva para grande parte dos municípios.
Assim, se de fato a administração municipal tem
como meta a implementação da coleta seletiva, deve
buscar alternativas que reduzam seus custos.
De imediato ocorre uma alternativa que cada vez
mais se consolida em nosso país, que é a inserção de
catadores na execução dos diversos procedimentos
inerentes à coleta seletiva. Se viabilizada a participação de
catadores, podem ser obtidos múltiplos benefícios, tanto à
administração municipal quanto aos catadores. A
administração municipal pode contar com a atividade
realizada com custos mínimos e os catadores podem obter
ocupação e renda da venda de recicláveis.
A comunidade como um todo também pode se
beneficiar, já que tem encaminhados problemas sociais de
inegável relevância em nosso país, graças à inserção de
segmentos marginalizados, assim como obtém ganhos
67
ambientais, graças à redução das quantidades de
resíduos a serem destinados no solo.
5. Formas de integração dos catadores
A forma de integração do catador dependerá da
natureza do projeto, das deficiências levantadas, das
possibilidades e dos resultados almejados. O catador deve
ser considerado como parceiro, e não apenas beneficiário
e receptor de ações assistencialistas, e seu envolvimento
pode ter um caráter pontual ou duradouro, individualizado
ou coletivo.
Para que o envolvimento se dê de forma mais
consistente, é recomendado que ocorra desde a fase de
concepção do projeto. Fala-se, assim, de uma construção
coletiva e participativa. Participação na identificação dos
problemas, na proposição de soluções e alternativas, e no
compromisso pela implementação das ações propostas.
Ações voltadas para a geração de trabalho e
renda para os catadores devem priorizar a experiência
por eles adquirida no campo dos resíduos sólidos.
68
A inserção do grupo em programas de coleta
seletiva é uma alternativa e pode ocorrer tanto por meio
da contratação efetiva de uma organização de catadores
como prestadora do serviço quanto por meio da
contratação individual de alguns catadores.
A melhor alternativa é a integração dos mesmos a
um sistema de tratamento e beneficiamento dos materiais,
como, por exemplo, as centrais de triagem de materiais
recicláveis. O processo de organização dependerá do
estágio em que se encontram os catadores, incluindo
desde aqueles que nunca trabalharam de forma coletiva
até aqueles que já têm experiência em cooperativismo.
Nesse sentido, é fundamental que o poder público
e demais parceiros envolvidos participem de todo o
processo de formação do grupo e ofereçam o apoio
necessário para o desempenho do trabalho de maneira
responsável e bem-sucedida.
Por outro lado, o resultado dessas iniciativas que
envolvem a participação de mais de um ator ou setor
depende de uma definição prévia das responsabilidades e
direitos de cada um deles.
A articulação intersetorial e a construção de
69
parcerias podem ocorrer ao longo de todo o projeto ou em
momentos específicos. Exemplos: a contratação de uma
organização da sociedade civil para desenvolver e
implementar um programa de educação ambiental, a
realização de cursos por uma instituição de ensino, a
prestação da coleta seletiva por organização de catadores,
a oferta de atividades desportivas para jovens, inserção
dos catadores em programas sociais de governo, entre
outras.
6. As etapas da implantação da coleta seletiva
A implantação da coleta seletiva em um município
com menos de 50 mil habitantes, mesmo que envolta em
ideais ambientalistas, deve, obrigatoriamente, estar
fundamentada em argumentos técnicos, sob pena de
sofrer interrupção logo após sua implantação.
70
6.1 Caracterização dos Resíduos
Tipos de resíduos
A caracterização quantitativa dos resíduos permite
conhecer sua composição percentual, ou seja, quais
materiais estão presentes no lixo e em que percentagem
ocorrem. Esta informação possibilita definir a viabilidade
de implantação da coleta seletiva, bem como definir as
dimensões das instalações, a equipe de trabalho e os
equipamentos necessários, além de estimar as receitas e
despesas decorrentes.
Em cidades de pequeno porte, é possível analisar
todos os resíduos produzidos.
71
O processo
A amostragem deve ser realizada num período
mínimo de uma semana, de forma a abranger as
eventuais flutuações na quantidade e composição do lixo
gerado. O importante é que essa amostragem seja
realmente representativa para a comunidade em estudo.
Para facilidade de entendimento, após a definição
do número de amostras a serem coletadas, pode ser
adotado o seguinte procedimento:
Quarteamento
1. Descarregar os resíduos em um único monte, sobre
uma área pavimentada ou lona plástica resistente;
2. Romper os sacos plásticos e demais embalagens e
homogeneizar os resíduos com o auxílio de garfos
e rastelos;
3. Formar um único monte, que deve ser mais
achatado que alto. Lembrar que o lixo é composto
por muitos vasilhames, como garrafas e latas, que
72
se separam dos demais resíduos rolando para as
bordas do monte, caso ele seja alto;
4. Quartear, isto é, dividir o monte homogeneizado em
quatro montes menores, de igual volume;
5. Descartar 2 dos 4 montes, escolhendo aqueles que
se situam em posições opostas;
6. Juntar os 2 montes restantes, homogeneizar os
resíduos e realizar novo quarteamento até obter um
volume final de aproximadamente 400 litros;
7. Separar em montes menores cada um dos
materiais presentes no lixo, tais como papel,
papelão, plástico filme, PET, PVC, vidros, latas etc.;
8. Pesar separadamente os materiais;
9. Anotar criteriosamente todos os dados obtidos em
uma planilha, conforme modelo sugerido em anexo,
e
10.Calcular os percentuais de cada material em
relação ao peso total da amostra.
A definição do nível de detalhamento da
caracterização também é um ponto importante. Embora
seja interessante conhecer o percentual de cada material
73
presente no lixo, alguns deles ficam praticamente
irreconhecíveis quando é realizada a triagem nas
condições reais. Neste grupo estão as tampinhas de
garrafa, pedaços de papel, moedas, lacres de iogurte etc.
Quando a coleta seletiva estiver implantada,
separar esses materiais nas operações rotineiras de
triagem é muito caro, sendo preferível seu descarte.
6.2 Definição das áreas e locais para implantação
As primeiras áreas a serem beneficiadas com a
coleta seletiva são muito importantes, pois funcionarão
como áreas de teste. Nelas serão experimentadas
metodologias, frequências, horários e equipamentos.
Essas áreas estarão, consequentemente, sujeitas
a um maior número de alterações e adaptações no
sistema inicialmente proposto. As informações e
experiências obtidas serão de grande valia, servindo de
base para o planejamento da coleta dos outros setores,
aumentando as possibilidades de acerto. É necessário que
as populações dessas áreas de teste sejam informadas
74
sobre os estudos e experimentações que serão realizados,
evitando que cada alteração ganhe a conotação de “falha”,
pondo em risco a assertividade do processo.
A importância da adesão de parceiros
Uma alternativa para a introdução da coleta
seletiva em uma comunidade é solicitar o apoio preliminar
das escolas. Além do aspecto educacional indispensável
nesse processo, obtém-se um efeito multiplicador
extremamente interessante. Um aluno motivado
transforma-se em elemento de divulgação e transmite para
sua família e seu grupo de convivência os novos
conhecimentos adquiridos, passando a cobrar dos
mesmos um comportamento condizente.
É importante considerar que na execução da
coleta seletiva a compreensão e a colaboração das
pessoas são condições imprescindíveis, uma vez que a
primeira etapa desse serviço que consiste na separação
dos materiais recicláveis dos não-recicláveis ocorre no
interior das residências, dependendo, portanto,
exclusivamente do empenho de seus moradores.
75
Mesmo no caso de populações com algum
conhecimento do assunto, uma série de instruções e
procedimentos deverá ser amplamente divulgada, para
que se possa obter a máxima participação dos cidadãos.
A escolha das áreas
Considerando todas as atividades a serem
desenvolvidas, conclui-se que a implantação da coleta
deverá ocorrer obrigatoriamente em etapas, dando-se
preferência aos bairros e áreas da cidade onde sejam
maiores as facilidades. Na escolha das áreas de
implantação, deverão ser considerados fatores como:
1. Nível de conscientização da população, resultante
de outras atividades anteriormente desenvolvidas;
2. Existência de escolas que já venham realizando
trabalhos de parceria por intermédio de seus
alunos;
3. Possibilidade da colaboração de entidades de
classe, líderes e representantes de bairros;
4. Facilidade de acesso;
76
5. Possibilidade de definição clara dos limites da área
para permitir avaliações posteriores;
6. Compatibilidade das dimensões das áreas com os
recursos disponíveis;
7. Configuração do sistema viário, de modo a facilitar
o planejamento dos roteiros de coleta e outros.
Após a perfeita adaptação das rotinas, da equipe
de trabalho e dos equipamentos nas áreas de teste, outras
áreas deverão ser determinadas para a ampliação do
sistema.
Em função de prioridades, ou como decorrência
das facilidades operacionais observadas, novas áreas
deverão ser beneficiadas, abrangendo paulatinamente a
cidade, de acordo com os recursos orçamentários
disponíveis da municipalidade.
6.3 Definição do Plano de Trabalho
Na determinação das rotinas a serem executadas,
o estabelecimento de normas gerais rígidas é sempre
inviável, uma vez que as cidades podem apresentar
diversidade de condições. No entanto, algumas regras
77
para o planejamento da coleta seletiva podem ser citadas
a título de diretrizes básicas, como:
O horário
A coleta seletiva na maioria das cidades é
realizada durante o período diurno. Contudo, não há
justificativa técnica para isso, pois a ação dos catadores,
considerada o principal fator interveniente, tanto pode
ocorrer à noite como durante o dia. Em qualquer dessas
hipóteses, é desejável que o veículo da coleta seletiva
anteceda o da coleta regular, nos dias em que houver
coincidência desses serviços. Dessa forma, resíduos não
recicláveis apresentados à coleta seletiva serão recolhidos
mais tarde pela coleta regular.
A frequência
A coleta seletiva pode ser realizada
semanalmente. Os resíduos recicláveis, por serem limpos
e secos, dificilmente apresentam problemas como
exalação de mau cheiro e podem ser tolerados por tempo
78
maior no interior das residências. Nas regiões onde há
predominância de edifícios de apartamentos, o acúmulo
de volumes no interior das unidades pode ser
inconveniente. Recomenda-se, nesse caso, que o
problema seja resolvido em cada edifício isoladamente,
mediante coletas internas mais frequentes.
Atualmente há cidades que realizam a coleta
seletiva na área urbana como forma única de remoção dos
resíduos. Nesses casos, em dias diferentes, são
alternadamente removidos a matéria orgânica e os
materiais recicláveis.
Os equipamentos
Na coleta deve-se dar preferência aos veículos
não compactadores que não misturam os materiais e
facilitam a operação de triagem. Como os materiais
recicláveis possuem peso específico reduzido,
recomenda-se que os veículos coletores sejam equipados
com sobreguardas altas ou fechados com tela formando
uma “gaiola”. Dessa forma, pode-se aumentar
significativamente a capacidade de carga e evitar os
79
inconvenientes do espalhamento de materiais leves
durante o deslocamento.
A determinação do número e da capacidade dos
veículos que serão utilizados pode ser obtida mediante o
conhecimento da quantidade de materiais gerados por
quilômetro de coleta. O volume de lixo gerado por dia de
coleta deve ser determinado nas áreas de teste,
avaliando-se o espaço ocupado na carroceria do veículo
coletor. Tomando-se uma planta da cidade mede-se a
extensão das ruas que serão beneficiadas em cada área
estudada.
80
Em seguida, para cada área divide-se a produção
de lixo, em volume, pelo número de quilômetros
percorridos, obtendo-se um coeficiente de produção
expresso em metros cúbicos por quilômetro. Este
coeficiente, multiplicado pela extensão de ruas a serem
coletadas em outras áreas afins da cidade, permitirá
avaliar o volume de lixo a ser gerado por elas e,
consequentemente, a capacidade mais indicada para o
veículo coletor.
81
Exemplo:
Resultados obtidos na área de teste
Extensão de ruas coletadas: 20 km
Volume de materiais coletados: 18 m3
C= 18 : 20 = 0,9 m3/km
Aplicação na nova área de coleta
Extensão de ruas a serem coletadas : 35 km
Volume estimado de recicláveis a serem removidos:
C = 0,9 m3/km (obtido na área de teste) x 35 = 31,5 ~ 32
m3
Capacidade do veículo de coleta
32 m3 - uma viagem/dia
16 m3 - duas viagens/dia
82
A equipe de trabalhoComo na coleta são utilizados veículos sem
dispositivo de compactação, recomenda-se que a equipe
de trabalho seja composta por dois ou três trabalhadores,
além do motorista. Um permanece sobre a carroceria,
ajeitando a carga para melhor aproveitamento da
capacidade do veículo, enquanto os demais executam a
coleta propriamente dita. Naturalmente, o número de
coletores deve variar de acordo com as necessidades
locais, aumentando ou diminuindo em função do relevo,
das distâncias percorridas ou da quantidade de materiais
recolhidos.
Os uniformes e os equipamentos de proteção
individual podem ser os mesmos usados pelas equipes da
coleta regular, salientando-se a importância do uso de
luvas de raspa de couro para a proteção das mãos e
braços devido à possibilidade de ocorrerem ferimentos
causados por vidro quebrado ou outros materiais cortantes
ou perfurantes. Quando possível, uma marca (ou símbolo)
da coleta seletiva estampada no uniforme é sempre bem-
vinda e chamará a atenção positivamente para o processo
implantado pela municipalidade.
83
6.4 A mão-de-obra, os equipamentos e as instalações
Para a implantação da coleta seletiva, qualquer
que seja a forma de execução adotada, serão necessários
recursos mínimos, tanto no que se refere à mão-de-obra
quanto aos equipamentos e materiais. Esses recursos,
contudo, sofrerão variações em função do modelo de
estruturação adotado, isto é, se a coleta será realizada
exclusivamente pela prefeitura ou se serão utilizadas
parcerias.
Quando a coleta for feita exclusivamente pela
prefeitura, sugere-se que seja criada uma equipe especial,
que administre essa nova atividade e que tenha ainda a
possibilidade de envolver outros setores sempre que
necessário.
Quando são utilizados os préstimos de pessoas
que não se desvinculam de suas áreas de origem, é
comum ocorrer um acúmulo de obrigações que acaba por
impossibilitar a dedicação necessária à nova tarefa,
diminuindo o estímulo e fazendo perder o interesse.
Quando são utilizadas cooperativas de catadores,
84
aos aspectos mencionados, deve ser acrescentada a
compatibilidade entre o número de pessoas envolvidas e a
quantidade de recicláveis a serem obtidos.
Esses catadores, além de ocupação, obviamente,
vislumbram a renda a ser obtida da venda dos materiais
recicláveis. Se a renda não corresponder à expectativa,
haverá uma evasão desses trabalhadores com prejuízos
aos serviços.
Assim, a equipe coordenadora dos trabalhos deve
ter clareza sobre as dimensões e limitações do projeto,
observando criteriosamente as recomendações relativas à
caracterização dos resíduos e ao dimensionamento dos
recursos. As áreas da cidade a serem beneficiadas pela
coleta devem ser proporcionais aos recursos disponíveis,
assim como o número de catadores envolvidos depende
da quantidade de recicláveis a serem recuperados.
É preferível que a coleta seja implantada de forma
gradativa e segura, na medida que os recursos são
obtidos do que frustrar as expectativas da comunidade e
também dos trabalhadores.
85
6.5 A equipe de coordenação
A equipe que coordenará a coleta seletiva tem
papel fundamental, competindo á ela:
1. Definição das metas e objetivos a serem atingidos;
2. Definição do cronograma de atividades, áreas
prioritárias e sistemática de trabalho;
3. Avaliação do sistema implantado, incluindo a
realização de pesquisas e estatísticas sobre o
andamento dos trabalhos, a opinião pública, os
materiais processados, receitas e despesa;
4. Estudo das viabilidades de expansão das áreas
atendidas;
5. Busca de mercado comprador para os produtos
recicláveis e novas possibilidades de
aproveitamento.
Em face do caráter das atividades sob sua
responsabilidade, a equipe de coordenação deverá ser
composta por representantes da prefeitura e,
evidentemente, dos diversos atores envolvidos em
eventuais parcerias.
86
6.6 Os equipamentos necessários para a coleta
Para o sucesso da coleta seletiva, deve-se dispor
de equipamentos, instalações físicas e pessoal em
qualidade e número suficientes à meta pretendida. É
compreensível que, à maioria dos municípios, a obtenção
desses recursos apresente algumas dificuldades de ordem
técnica e financeira, inviabilizando a implantação da coleta
seletiva em todo o município numa única etapa.
87
Essas questões deverão ser analisadas
atentamente, tendo-se sempre em mente os recursos
disponíveis, que poderão atuar como fator limitante,
preponderando sobre os demais.
A formação de parcerias com associações e
cooperativas de catadores não dispensa a confrontação
dos recursos humanos e materiais disponíveis com as
metas pretendidas. Aliás, em face do íntimo
relacionamento com a comunidade, independentemente
da origem da mão-de-obra, o treinamento prévio é
imprescindível.
Orientamos a adoção das duas formas de coleta
para um melhor aproveitamento do material gerado:
Na coleta porta-a-porta o recolhimento dos
materiais a serem reciclados, basicamente, são
necessários veículos de coleta semelhantes aos descritos
no item 6.3.
Preferencialmente, deverão ser utilizados veículos
sem dispositivos de compactação, com carrocerias que
possibilitem o transporte de materiais volumosos, de
reduzido peso específico aparente. Outra boa alternativa é
a utilização de caminhões equipados com carrocerias de
88
madeira fechadas por uma estrutura de tela metálica,
formando uma espécie de “gaiola” aberta na parte traseira.
Esse dispositivo possibilita o carregamento de grandes
volumes, sem que seja ultrapassada a capacidade
nominal dos veículos, evitando-se o espalhamento dos
resíduos durante os deslocamentos.
Quando equipes de catadores atuam nessa etapa
utilizando-se de carrinhos de pequeno porte, é necessário
avaliar as distâncias a serem percorridas. Se forem
grandes as distâncias a serem percorridas, será inevitável
a implantação de postos intermediários de entrega, onde
os recicláveis são concentrados para posterior
encaminhamento aos centros de triagem.
Os municípios de pequeno porte devem estudar
alternativas compatíveis com suas dimensões,
necessidades e recursos disponíveis. Os veículos
utilizados na coleta deverão ser adaptados às
circunstâncias locais, tanto no que se refere ao tipo quanto
à capacidade. Assim, carroças puxadas por animais e
carretas acopladas a tratores poderão ser boas
alternativas como veículos de coleta.
Já a coleta do material entregue nos postos de
89
entrega voluntária – PEVs, poderá ser realizada com
veículos idênticos àqueles utilizados no sistema porta-a-
porta. Contudo, deve-se considerar o esforço físico a ser
exigido dos coletores, principalmente nas operações de
levantamento e esvaziamento de recipientes muito
pesados podendo ser necessária a utilização de veículos
equipados com guincho. Nesses casos, o número de
funcionários a serem utilizados deve ser determinado em
função das exigências do equipamento de coleta.
Para caminhões equipados com carrocerias de
guardas e soleiras altas, recomenda-se que sejam
utilizadas três pessoas, ficando duas na coleta dos
recipientes e uma sobre a carroceria. Esta deve fazer uma
prévia triagem de alguns materiais, acondicionar os
vasilhames de vidro num latão, separar os objetos de
alumínio e cobre, além de romper e agrupar as
embalagens de papelão. Esse procedimento permite a
acomodação dos resíduos com melhor aproveitamento do
espaço disponível.
Por outro lado, como os resíduos são previamente
separados pela população, podem ser utilizados
caminhões com carrocerias compartimentadas que
90
possibilitem o transporte dos materiais sem misturá-los,
facilitando a triagem final, além de
diminuir a quantidade de rejeitos e perdas.
6.7 O acondicionamento adequado
Acondicionar os resíduos sólidos domiciliares
significa prepará-los para a coleta de forma sanitariamente
adequada, como ainda compatível com o tipo e a
quantidade de resíduos.
A qualidade da operação de coleta e transporte de
lixo depende da forma adequada do seu
acondicionamento, armazenamento e da disposição dos
recipientes no local, dia e horários estabelecidos pelo
órgão de limpeza urbana para a coleta. A população tem,
portanto, participação decisiva nesta operação. A
importância do acondicionamento adequado está em:
• evitar acidentes;
• evitar a proliferação de vetores;
• minimizar o impacto visual e olfativo;
• reduzir a heterogeneidade dos resíduos (no caso de
91
haver coleta seletiva);
• facilitar a realização da etapa da coleta.
A escolha do tipo de recipiente mais adequado
deve ser orientada em função:
• das características do lixo;
• da geração do lixo;
• da frequência da coleta;
• do tipo de edificação;
• do preço do recipiente.
Os recipientes adequados para acondicionar o lixo
domiciliar devem ter as seguintes características:
• peso máximo de 30kg, incluindo a carga, se a
coleta for manual;
• dispositivos que facilitem seu deslocamento no
imóvel até o local de coleta;
• serem herméticos, para evitar derramamento ou
exposição dos resíduos;
• serem seguros, para evitar que lixo cortante ou
92
perfurante possa acidentar os usuários ou os
trabalhadores da coleta;
• serem econômicos, de maneira que possam ser
adquiridos pela população;
• não produzir ruídos excessivos ao serem
manejados;
• possam ser esvaziados facilmente sem deixar
resíduos no fundo.
Pode-se concluir que os sacos plásticos são as
embalagens mais adequadas para acondicionar o lixo
quando a coleta for manual, porque:
• são facilmente amarrados nas "bocas", garantindo o
fechamento;
• são leves, sem retorno (resultando em coleta mais
produtiva) e permitem recolhimento silencioso, útil
para a coleta noturna;
• possuem preço acessível, permitindo a
padronização. Pode-se tolerar o uso de sacos
plásticos de supermercados (utilizados para
embalar os produtos adquiridos), sem custo para a
população.
93
O lixo domiciliar pode ser embalado em sacos
plásticos sem retorno, para ser descarregado nos veículos
de coleta. Os sacos plásticos a serem utilizados no
acondicionamento do lixo domiciliar devem possuir as
seguintes características:
• ter resistência para não se romper por ocasião do
manuseio;
• ter volume de 20, 30, 50 ou 100 litros;
• possuir fita para fechamento da "boca";
• ser de qualquer cor, com exceção da branca
(normalmente os sacos de cor preta são os mais
baratos).
Estas características acham-se regulamentadas
pela norma técnica NBR 9.190 da ABNT. Os sacos
plásticos utilizados no acondicionamento do lixo público
são similares aos usados para embalar o lixo domiciliar. A
única diferença está no volume, pois, para lixo público, é
aceitável o uso de sacos de 150 litros.
94
Para a coleta do lixo domiciliar de grandes
geradores ou de estabelecimentos públicos, estão
disponíveis no Brasil duas classes de contêineres de
grande porte (com capacidade superior a 360 litros):
• Contêineres providos de rodas, que são levados até
os veículos de coleta e basculados mecanicamente,
fabricados em metal ou plástico (polietileno de alta
densidade). As capacidades usuais são de 760,
1.150, 1.500 litros e outras.
• Contêineres estacionários (sem rodas), basculáveis
nos caminhões ou intercambiáveis, em geral
metálicos. O basculamento nos caminhões
coletores de carregamento traseiro é feito por meio
de cabos de aço acionados por dispositivos
hidráulicos, podendo ter capacidade para até 5m3.
Por causa de seu elevado peso específico
aparente, o entulho de obras é acondicionado,
normalmente, em contêineres metálicos estacionários de 4
ou 5m3, similares aos utilizados no acondicionamento do
lixo público.
95
Os contêineres com as baterias estocadas devem
ser selados ou vedados para se evitar liberação do gás
hidrogênio, que é explosivo em contato com o ar, devendo
ficar sobre estrados ou pallets para que as baterias se
mantenham secas.
Por causa de suas características tóxicas e da
dificuldade em se impedir seu descarte junto com o lixo
domiciliar, em 1999 foi publicada a Resolução CONAMA nº
257, que atribui a responsabilidade do acondicionamento,
coleta, transporte e disposição final de pilhas e baterias
aos comerciantes, fabricantes, importadores e à rede
autorizada de assistência técnica, como explicitado em
seus arts. 11 e 12, a seguir reproduzidos:
"Art. 11 – Os fabricantes, os
importadores, a rede autorizada de
assistência técnica e os comerciantes
de pilhas e baterias descritas no art. 1º
ficam obrigados a, no prazo de doze
meses contados a partir da vigência
desta resolução, implantar os
mecanismos operacionais para a
coleta, transporte, e armazenamento;
96
Art. 12 – Os fabricantes e os
importadores de pilhas e baterias
descritas no art. 1º ficam obrigados a,
no prazo de vinte e quatro meses,
contados a partir da vigência desta
Resolução, implantar os sistemas de
reutilização, reciclagem, tratamento ou
disposição final, obedecida a
legislação em vigor."
Os procedimentos para o manuseio de lâmpadas
que contêm mercúrio incluem as seguintes exigências:
• estocar as lâmpadas que não estejam quebradas
em uma área reservada, em caixas, de preferência
em uma bombona plástica para evitar que se
quebrem;
• rotular todos as caixas ou bombonas;
• não quebrar ou tentar mudar a forma física das
lâmpadas;
• quando houver quantidade suficiente de lâmpadas,
enviá-las para reciclagem, acompanhadas das
seguintes informações:
• nome do fornecedor (nome e endereço da empresa
97
ou instituição), da transportadora e do reciclador;
• número de lâmpadas enviadas;
• a data do carregamento;
• manter os registros dessas notas por três anos, no
mínimo;
• no caso de quebra de alguma lâmpada, os cacos
de vidro devem ser removidos e a área deve ser
lavada;
• armazenar as lâmpadas quebradas em contêineres
selados e rotulados da seguinte forma: "Lâmpadas
Fluorescentes Quebradas – Contém Mercúrio".
Por causa dos problemas relacionados à
destinação inadequada dos pneus, e a exemplo do que foi
feito para as pilhas e baterias, o CONAMA publicou em
1999 a Resolução nº 258, onde "as empresas fabricantes
e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a
coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada,
aos pneus inservíveis existentes no território nacional".
98
7. A triagem do material
Após a coleta, faz-se necessária uma separação
ou triagem dos materiais para posterior colocação no
mercado.
Local de triagem
Os locais reservados para a triagem, além de
pavimentação adequada, devem também ser protegidos
por telhado, de forma que os trabalhos se desenvolvam
em condições satisfatórias mesmo nos períodos chuvosos.
O ideal é a construção de um barracão com dimensões
suficientes para o abrigo dos operadores, máquinas e
demais dependências necessárias à realização de todas
as atividades. Dependendo do local onde estiver instalada
a unidade de triagem, devem ainda ser previstas
dependências de apoio, como um pequeno escritório, para
a contabilização das atividades, arquivo de documentos e
controle dos funcionários, banheiros com vestiário e
chuveiros para higiene e troca de roupas e um pequeno
refeitório com dispositivo para o aquecimento de refeições.
99
Processo manual
A triagem pode ser realizada de forma rudimentar,
depositando-se o produto da coleta diretamente no solo e
separando-se manualmente seus componentes. Este
sistema é
aceitável apenas para pequenas comunidades, ou quando
são realizadas amostragens em comunidades maiores,
pois a produção de cada operário alocado nesta atividade
é relativamente baixa. Nessas condições de trabalho, o
esforço e a postura física inadequada dos trabalhadores
resultam fatalmente em problemas de diversos tipos, além
da baixa produtividade.
100
Mesa de catação
Uma boa opção, embora mais cara, é a utilização
de uma correia ou esteira transportadora como mesa de
triagem, também chamada de mesa de catação. Os
materiais coletados são depositados junto a uma das
extremidades da esteira, sendo colocados sobre ela por
um operário, que se utiliza de um garfo ou de uma pá. Os
operários que realizam a triagem permanecem nas laterais
da esteira separando os diferentes tipos de materiais.
Enquanto um separa vidro, outro separa papelão, outro
metais ferrosos e assim por diante.
Os materiais que não têm interesse econômico ou
possibilidade de aproveitamento continuam até o final da
esteira sendo lançados num vasilhame para posterior
descarte como
rejeitos. Nessas
condições, a
produtividade de um
trabalhador é maior,
sendo um homem
capaz de separar
101
até 700 quilos de recicláveis por jornada de 8 horas. Além
da produtividade, a utilização da mesa de catação oferece
melhores condições de trabalho, permitindo uma postura
mais cômoda aos funcionários.
Gaiola Metálica
Outra possibilidade é a utilização de uma grande
gaiola construída em tela metálica, tipo alambrado. As
dimensões da gaiola devem ser suficientes para conter os
materiais obtidos durante um ou dois dias de coleta.
Os materiais coletados são lançados pela parte
superior da gaiola e tirados pelos operários, para a
triagem, por uma abertura situada na parte inferior da
gaiola, a mais ou menos 1,5m de altura do piso. A
produtividade de cada operário nessas condições é de
aproximadamente 250 quilos/pessoa/dia.
Os valores de produção individual foram obtidos
em algumas cidades que têm essa atividade implantada já
há algum tempo, porém, é aconselhável que sua validade
seja verificada em função das peculiaridades de cada
comunidade.
102
A estocagem dos materiais
Os materiais triados são estocados
separadamente em baias de alvenaria ou madeira,
construídas com dimensões suficientes para o acúmulo de
um volume razoável, que justifique o transporte para
venda.
Materiais que apresentam grande volume e peso
reduzido, como latas, plásticos, papéis e papelão devem
ser prensados e enfardados para maior conveniência no
armazenamento e transporte.
As embalagens de vidro devem ser separadas por
cores e até por tipo, como forma de obter-se maior valor
comercial, já que podem ser vendidas por unidade para
reuso em diversas empresas. Os frascos que estiverem
quebrados devem ser triturados para redução de volume e
maior economia de transporte. Para trituração, podem ser
usadas pequenas máquinas, acopláveis sobre latões de
200 litros, que podem ser obtidas nas próprias indústrias
que processam esse material.
Os materiais estocados devem ser abrigados das
intempéries para não acumular água de chuva e se
103
transformarem em focos de proliferação de insetos. É
comum que sejam entregues à coleta seletiva móveis e
eletrodomésticos, que quase sempre podem ser
reutilizados, encontrando utilidade em entidades
assistenciais, por exemplo. Esses materiais também
necessitam de abrigo especial.
Controle dos materiais recicláveis estocados
Para o controle da entrada e saída de materiais,
bem como para a obtenção de dados estatísticos sobre a
eficiência da coleta e percentuais de composição dos
materiais coletados, é imprescindível a unidade de triagem
disponha de uma balança com capacidade para pesar
fardos de papel ou papelão, bem como pequenas
quantidades de metais não ferrosos. As balanças
utilizadas para a pesagem de sacos de cereais adaptam-
se muito bem a esse propósito.
104
8. A participação de toda comunidade
A participação da comunidade é fundamental para
o sucesso de qualquer programa de coleta seletiva e a
educação ambiental é o melhor recurso, capaz de
contribuir para a informação, conscientização e
mobilização da população.
A educação ambiental conduz à revisão dos
conceitos ligados ao lixo, sua geração, composição e sua
importância ambiental, ensinando a população a identificar
o que é reaproveitável e a tomar consciência das
consequências do desperdício dos recursos naturais.
Um fato importante a ser lembrado é que
campanhas pontuais, como por exemplo a doação de
alimentos e agasalhos, podem mobilizar toda uma
comunidade, já que exigem pouco em termos de
participação da população.
As mobilizações que tratam da limpeza de uma
comunidade têm um caráter diferente; não bastam ações
heroicas de curta duração. Os resultados não ocorrem
imediatamente e dependem da atuação constante e
paciente dos coordenadores e demais envolvidos, uma
105
vez que visam à consolidação de uma conduta mais
disciplinada e consciente de cada cidadão, tendo como
meta o bem coletivo.
Na coleta seletiva, boa parte das
responsabilidades recai sobre a própria população
beneficiada, a quem compete a separação dos materiais,
o acondicionamento, o armazenamento e, finalmente, a
apresentação dos materiais nos dias e horários
estabelecidos.
Por isso, a divulgação do serviço a ser implantado,
bem como dos benefícios almejados é condição de vital
importância para que o processo seja bem sucedido.
A coleta seletiva pode mobilizar toda a
comunidade. No entanto, caso não seja realizada uma
preparação anterior para informar e sensibilizar a
população, serão grandes os riscos de esmorecimento e
perda de objetivos, com desgaste para a administração
municipal e a criação de uma imagem negativa para essa
atividade.
O comportamento da população, sem dúvida,
depende muito do dinamismo da municipalidade, exigindo
para sua evolução, tempo e perseverança. Assim, uma
106
única ação positiva da municipalidade, perdida ao longo
de anos de inatividade, mesmo que bem empreendida,
representa uma gota de água num oceano e, quando
muito, provoca uma momentânea e insignificante alteração
no estado geral das coisas.
Independentemente dos novos objetivos
propostos e serviços implantados, o nível de
relacionamento entre a população e a municipalidade deve
ser intenso. A comunicação periódica dos resultados
obtidos valoriza comportamentos positivos e incentiva a
população a colaborar.
Atingidas as metas e vencidas as dificuldades
decorrentes, podem ser almejados objetivos mais ousados
que deverão ser definidos pela própria administração
municipal, calçados nas experiências obtidas. Neste
sentido, os dados e informações obtidos em campo devem
ser valorizados. As pessoas que realizam a coleta, sejam
elas funcionários da prefeitura, ou catadores das
cooperativas conveniadas, têm maior contato com a
comunidade, assim, seu conhecimento não pode ser
ignorado.
A realimentação do processo também não pode
107
ser esquecida. Com o passar do tempo, verifica-se uma
tendência de “esfriamento” da motivação inicial, que pode
causar a falta de colaboração tanto por parte da
população, quanto da própria administração municipal.
Recomenda-se a realização de trabalhos
constantes que mantenham a administração mobilizada e
a população informada sobre as atividades realizadas e os
resultados e benefícios obtidos. Por isso, é importante
também que os objetivos propostos sejam exequíveis e a
propaganda veiculada seja honesta, evitando-se
confrontações desastrosas, sobretudo no que se refere às
receitas e despesas.
Além disso, a administração municipal deve
demonstrar coerência em suas ações. A coleta seletiva
tem como objetivo principal o uso racional dos recursos
naturais. Uma proposta como esta, que demonstra
preocupação com o meio ambiente é absolutamente
incompatível com a manutenção de lixões, ou de aterros e
usinas de compostagem mau operados. A administração
municipal deve transmitir uma imagem de probidade,
demonstrando à população que a sua colaboração se
soma a esforços bem planejados, que têm objetivos
108
claros, voltados à proteção do meio ambiente.
Os funcionários da prefeitura fazem parte da
própria comunidade beneficiada, logo, apresentam
características comportamentais semelhantes. Sem
capacitação e o envolvimento desses funcionários não
será possível manter em bom nível uma atividade que não
conte com o crédito de seus próprios executores.
A administração não pode deixar faltar apoio
técnico, equipamentos e demais recursos, necessários à
realização de todas as tarefas. Problemas dessa ordem
causam nos trabalhadores envolvidos a sensação de
desânimo e abandono, com repercussões negativas nas
atividades.
Se a administração municipal optar pela utilização
de ex-catadores na coleta seletiva, deve contar com a
necessidade de capacitação, treinamento e supervisão
prolongados.
Essas pessoas tendem a demonstrar uma
dificuldade natural nas atividades que exigem organização
e disciplina, logo, dependerão do apoio e paciência da
equipe que coordena os trabalhos. Essas questões são
tão importantes quanto a educação ambiental da
109
comunidade e devem ser realizadas permanentemente,
visando à valorização do trabalhador da coleta que é um
importante elo de ligação entre a comunidade
e a administração municipal.
8.1 A campanha de educação ambiental
Antes de iniciar-se o processo da coleta seletiva,
recomenda-se que sejam enviados folhetos à população,
com explicações detalhadas sobre as novas atividades,
frequências e horários de execução, bem como telefones
para informações e reclamações.
Não devem ser esquecidas normas de
procedimento que facilitem a execução das atividades e
coíbam o surgimento de problemas, como mau uso de
contenedores e outros recipientes coletivos, despejos
clandestinos de lixo em terrenos baldios etc. O material
informativo será distribuído em todas as residências, pelo
Correio ou por meio dos próprios coletores envolvidos.
Os caminhões de coleta e os contenedores
poderão ser utilizados também para afixar cartazes com
dizeres educativos, incentivando atitudes corretas e
110
orientando a população sobre as atividades da coleta
seletiva.
Uma boa alternativa é utilizar-se simultaneamente
dois ou três recursos para cada divulgação. Assim,
enquanto são afixadas faixas em vias públicas de maior
fluxo de pessoas, são também enviados folhetos para as
residências. Para evitar monotonia e saturação, os
assuntos devem ser variados, por exemplo, faixas
informando sobre a coleta seletiva e solicitando a
obediência aos horários e dias da coleta e cartazes ou
“outdoors” reforçando condutas adequadas e divulgando
resultados positivos.
A imagem da municipalidade junto à população
deve ser de atividade constante. Os cartazes e faixas não
devem ficar expostos até que se deteriorem - isto reflete
abandono e esquecimento. De tempos em tempos,
conforme o critério da equipe, faixas e cartazes devem ser
retirados e substituídos por outros, podendo ser
reutilizados em outros locais e ocasiões, desde que
estejam bem conservados.
Devido à dificuldade para vencer-se a inércia das
populações, recomenda-se que os trabalhos de
111
conscientização iniciem-se nos grupos organizados.
Palestras, campanhas, gincanas e concursos com
premiações de valores simbólicos ou efetivos poderão ser
utilizados como instrumentos de incentivo, tanto à
população como às equipes responsáveis pela execução
desse serviço.
Neste setor, toda a criatividade é bem vista e deve
ser utilizada para a obtenção e manutenção dos objetivos
almejados pela coleta seletiva.
As escolas municipais passam a ter um papel
fundamental na conscientização da população, sendo o
grande agente formador de opinião junto a população mais
jovens e cabe a secretaria municipal de educação
implementar atividades didáticas ambientais, dentre elas,
a coleta seletiva e a reciclagem dentro de seus prédios.
112
Outra oportunidade muito interessante é premiar
os cidadãos que aderem a coleta seletiva através da
criação de um “cartão cidadão” que registraria a entrega
do material reciclável e que acumularia pontos para
descontos em ingressos de shows, feiras e eventos
públicos.
113
9. A limpeza pública
Ainda no século XIX foi descoberta a relação entre
os ratos, moscas e baratas, o lançamento de lixo nas ruas
e a forma de transmissão de doenças através desses
vetores. Começaram então a ser tomadas providências
efetivas para que o lixo fosse coletado nos domicílios, em
vez de permitir que o mesmo fosse simplesmente atirado
às ruas ou em terrenos.
A pavimentação das vias públicas e o ensino de
princípios de higiene e saúde pública nas escolas também
contribuíram para a redução dos resíduos nos
logradouros.
Os principais motivos sanitários para que as ruas
sejam mantidas limpas são:
• prevenir doenças resultantes da proliferação de
vetores em depósitos de lixo nas ruas ou em
terrenos baldios;
• evitar danos à saúde resultantes de poeira em
contato com os olhos, ouvidos, nariz e garganta.
114
Uma cidade limpa instila orgulho a seus
habitantes, melhora a aparência da comunidade, ajuda a
atrair novos residentes e turistas, valoriza os imóveis e
movimenta os negócios. A limpeza das ruas é de interesse
comunitário e deve ser tratada priorizando o aspecto
coletivo em relação ao individual, respeitando os anseios
da maioria dos cidadãos.
Uma cidade limpa instila orgulho a seus
habitantes, melhora a aparência da comunidade, ajuda a
atrair novos residentes e turistas, valoriza os imóveis e
movimenta os negócios.
Os aspectos estéticos associados à limpeza de
logradouros públicos são fortes colaboradores nas
políticas e ações de incremento da imagem das cidades
turísticas. Não obstante a importância dos aspectos
históricos, paisagísticos e culturais no contexto do turismo
de uma cidade, dificilmente um visitante fará propaganda
positiva de um lugar onde tenha encontrado a estética
urbana comprometida pela falta de limpeza. Da mesma
forma que o turista cobra a limpeza da cidade, é
conveniente lembrar que, ele próprio se coloca como um
agente que contribui para o cenário oposto.
115
É importante manter as ruas limpas também por
razões de segurança:
• prevenindo danos a veículos, causados por
impedimentos ao tráfego, como galhadas e objetos
cortantes;
• promovendo a segurança do tráfego, pois a poeira
e a terra podem causar derrapagens de veículos,
assim como folhas e capim secos podem causar
incêndios;
• evitando o entupimento do sistema de drenagem de
águas pluviais.
Na realidade, os detritos que mais ferem o senso
de higiene e limpeza dos cidadãos são os papéis,
plásticos, embalagens e restos de comida atirados às
ruas. Uma sarjeta com um pouco de terra e resíduos
resultantes da abrasão da pavimentação não é
considerada "suja" para a população, e sim os papéis e
plásticos que se associam ao "lixo" (que produz mau
cheiro, tem mau aspecto e atrai animais indesejáveis).
116
Os serviços de limpeza dos logradouros
costumam cobrir atividades como:
• varrição;
• capina e raspagem;
• roçagem;
• limpeza de ralos;
• limpeza de feiras de produtores rurais;
• serviços de remoção;
• limpeza de encostas de córregos e mananciais.
Contemplam, ainda, atividades como
desobstrução de ramais e galerias, desinfestação e
desinfecções, poda de árvores, pintura de meio-fio e
lavagem de logradouros públicos.
9.1 Serviço de varrição
Nos logradouros, a maior parte dos detritos é
encontrada nas sarjetas (até cerca de 60cm do meio-fio),
devido ao deslocamento de ar causado pelos veículos,
que "empurra" o lixo para o meio-fio. Não há sujeira nas
117
pistas de rolamento, exceto se praticamente não houver
tráfego de veículos.
Além disso, as chuvas se encarregam de levar os
detritos para junto do meio-fio, na direção dos ralos,
devido à forma abaulada da seção transversal do leito das
ruas. A sarjeta é, na realidade, uma "calha", projetada para
conduzir as águas pluviais.
Como não existe processo para determinar com
certeza qual o grau, qualidade ou padrão de limpeza que
deve ser aplicado a cada logradouro, os responsáveis pela
limpeza urbana são forçados a aplicar seu próprio
julgamento e determinarão os métodos e a frequência de
limpeza e julgarão a aprovação ou desaprovação da
população pelo número e caráter das reclamações e
sugestões.
No entanto, é possível conseguir indicações
prévias do julgamento da opinião pública em relação à
limpeza efetuando pesquisa de opinião, verificando
reclamações anteriormente recebidas e consultar matérias
veiculadas pela mídia.
118
9.2 Utensílios, Ferramentas e Vestuário de varrição
As ferramentas e utensílios manuais de varrição são os
seguintes:
• vassoura grande – tipo "madeira" (usada no Rio de
Janeiro) e tipo "vassourão", usada em várias cidades.
Suas cerdas podem ser de piaçava ou de plástico;
• vassoura pequena e pá quadrada, usadas para recolher
resíduos e varrer o local;
• chaves de abertura de ralos;
• enxada para limpeza de ralos.
119
A cada varredor compete:
• recolher lixo domiciliar espalhado na rua (não
acondicionado);
• efetuar a varrição do passeio e da sarjeta no roteiro
determinado;
• esvaziar as caixas coletoras de papéis (papeleiras);
• arrancar o mato da sarjeta e ao redor das árvores e
postes (uma vez cada 15 dias);
• limpar os ralos do roteiro.
9.3 Serviços de capina e raspagem
Quando não é efetuada varrição regular, ou
quando chuvas carreiam detritos para logradouros, as
sarjetas acumulam terra, onde em geral crescem mato e
ervas daninhas.
Torna-se necessário, então, serviços de capina do
mato e de raspagem da terra das sarjetas, para
restabelecer as condições de drenagem e evitar o mau
aspecto das vias públicas. Esses serviços são executados
em geral com enxadas de 3½ libras, bem afiadas, sendo
120
os resíduos removidos com pás quadradas ou forcados de
quatro dentes. Quando a terra se encontra muito
compactada é comum o uso da enxada ou chibanca para
raspá-la. Para a lama, utiliza-se a raspadeira.
Podem ser utilizados rastelos para o acabamento
da capina. O acabamento da limpeza é feito com
vassouras. Juntamente com a capina e a raspagem, é
importante efetuar a limpeza dos ralos, que em geral se
encontram obstruídos quando as sarjetas estão cobertas
com terra e mato.
Quando a quantidade de terra é muito grande, em
geral devido a chuvas fortes em vias próximas a encostas,
utilizam-se pás mecânicas de pequeno ou grande portes
para raspagem, conforme a quantidade de resíduos e as
condições de acesso e manobra.
121
9.4 Serviços de roçagem
Quando o capim e o mato estão altos, utilizam-se
as foices do tipo roçadeira ou gavião, que também são
úteis para cortar galhos. Existem atualmente ceifadeiras
mecânicas portáteis (carregadas nas costas dos
operadores) e ceifadeiras montadas em tratores de
pequeno, médio e grande portes, que possuem elevada
qualidade e produtividade no corte da vegetação.
As ceifadeiras portáteis são mais indicadas para
terrenos acidentados e para locais de difícil acesso para
ceifadeiras maiores. Possuem rendimento aproximado de
800m2/máquina/dia.
É sempre conveniente ajuntar, no mesmo dia, o
mato cortado e o lixo (que invariavelmente fica exposto),
utilizando-se vassouras de aço ou ancinhos. O lixo deve
ser ensacado e o mato cortado pode ser amontoado, à
espera de remoção, que não deve demorar mais que um a
dois dias, para evitar queima ou espalhamento dos
resíduos. Para ajuntamento e remoção dos resíduos
devem-se utilizar os forcados de quatro a 10 dentes e
vassouras de mato.
122
As roçadeiras acionada por motor a gasolina, a
rotação é transmitida ao cabeçote de corte por um cabo
flexível. O corte pode ser feito com o emprego de lâmina,
disco ou fio de nylon, conforme o tipo de vegetação a ser
roçada. O fio de nylon é mais indicado para vegetação
leve, grama e áreas de arremate, enquanto o disco
serrilhado e a lâmina são apropriados para pequenos
arbustos em crescimento, como o capim colonião. Sua
vida útil é reduzida e estimada em apenas 2 mil horas, ao
fim da qual o custo de manutenção é muito alto.
Seu peso é de aproximadamente 11kg e devem
ser tomadas precauções quanto ao isolamento da área
próxima ao local de trabalho, pois as lâminas em alta
rotação podem lançar objetos tais como pequenas pedras
existentes sob a vegetação, com risco de ferir pessoas ou
animais.
123
9.5 Como reduzir o lixo público
A quantidade de resíduos sólidos nos logradouros
públicos pode ser reduzida, providenciando-se:
• pavimentação lisa e com declividade adequada nos leitos
das ruas, nas sarjetas e nos passeios;
• dimensionamento e manutenção corretos do sistema de
drenagem de águas pluviais;
• arborização com espécies que não percam folhas em
grandes quantidades, várias vezes por ano;
• colocação de papeleiras nas vias com maior movimento
de pedestres, nas esquinas, pontos de ônibus e em frente
a bares, lanchonetes e supermercados;
• varredura regular e remoção dos pontos de acúmulo de
resíduos ("lixo atrai lixo", enquanto "limpeza promove
limpeza");
• campanhas de motivação da cidadania, em relação à
manutenção da limpeza;
• sanções para os cidadãos que desobedecem as posturas
relativas à limpeza urbana.
124
10. Os atores da revolução verde
Consumir recursos públicos, muitas vezes
insuficientes, para coletar bens descartados pela
sociedade (mas com potencial de aproveitamento),
transportá-los a um local de disposição final e terminar por
enterrá-los não parece seguir nenhuma lógica econômica
ou administrativa, tão pouco ambiental. Tal situação torna-
se ainda mais evidente quando se considerado o fato de
que esses produtos possuem valor comercial e que
representam uma possibilidade de renda para uma parcela
significativa da população.
O poder público, na condição de agente de
desenvolvimento municipal, tem uma grande oportunidade
de modificar a lógica do sistema de gestão de resíduos
sólidos, muitas vezes já enraizada, e viabilizar políticas
públicas de incentivo a programas de coleta seletiva, com
inclusão social.
125
10.1 As prefeiturasAlgumas prefeituras brasileiras, motivadas por
diversas razões e com a exigência da nova legislação
sobre o tema “lixo”, vem implantando programas de coleta
seletiva e aterros sanitários em suas administrações, mais
com o objetivo de cumprir uma legislação que, caso não
seja obedecida, pode fechar as portas para a captação de
recursos junto ao governo federal e demais órgãos de
fomento. Tendo em vista que o país possui 5.561
municípios e que hoje temos aproximadamente 450
iniciativas espalhadas pelo país, nota-se aqui uma
oportunidade imensa de enxergar a questão da Lei
Nacional de Resíduos Sólidos de uma perspectiva
diferente do que tem sido praticado até então.
Nosso objetivo é despertar nos gestores públicos
o interesse para um modelo de gestão dos resíduos
sólidos voltado para a geração de emprego e renda, bem
como, a aplicação dos recursos oriundos da reciclagem,
em obras de interesse público voltados a melhoria da
qualidade de vida da população local, como a construção
de parques, bosques, recuperação de córregos, áreas
verdes, entre outras.
126
É preciso que todo administrador público perceba
a gestão participativa dos resíduos sólidos como uma
politica institucional e que com o apoio dos vereadores e
outros atores responsáveis trabalhem a inclusão social
dos catadores e catadoras, buscando encontrar soluções
socioambientais adequadas para a problemática dos
resíduos sólidos.
Essa vontade política e esse compromisso para
com o cidadão hoje marginalizado pela sociedade
dependem, por sua vez, de outras ações que facilitem ou
garantam a sua implementação. Dois aspectos são
fundamentais: respaldo jurídico e social.No caso do respaldo jurídico, é necessário
consultar os documentos legais do município, do estado e
da federação para que as leis não sejam interpretadas de
forma parcial, perdendo com isso uma chance muito rica
de gerar renda e emprego para uma camada da
população com pouca ou nenhuma qualificação
profissional e educacional.
127
10.2 O catador – De excluído a parceiroFalta de formação técnica, moradia e emprego,
família para sustentar... É assim que começa o relato de
vida de muitos catadores e catadoras que segundo
pesquisa realizada pelo UNICEF em 2000, estão
presentes em 3.800 municípios brasileiros, atuando em
lixões ou nas ruas do país.
Esse grupo de trabalhadores conhecidos como
catadores, trapeiros, carrinheiros e carroceiros, exercem
uma mesma função: encontrar, nos materiais descartados
por uma sociedade da qual são excluídos, um meio de
sobrevivência. Legítimos agentes ambientais, esses
profissionais são responsáveis por 90% dos materiais que
chegam as indústrias recicladoras, desviando materiais
que dispostos em lixões ou aterros das cidades como
inservíveis e reinserindo-os na cadeia produtiva como
matéria-prima secundária.
O que os diferenciam entre si é o local onde
catam, os instrumentos que usam e o nível de organização
e de articulação de que dispõem. Existem aqueles que
tem como local de trabalho o espaço de descarrego dos
caminhões nos lixões ou aterros controlados.
128
Existem também os catadores que utilizam
carrinhos para desempenhar a sua função. Eles são, na
maioria das vezes, autônomos, dependentes de depósitos
ou associados a organizações. Na triagem das sacas de
lixo ou recebimento de doações, eles encontram o
sustento da semana.
Existem ainda a classe compostas por catadores
que saíram ou não das ruas e tem nas esteiras de triagem
o seu local de trabalho. Em geral, esses trabalhadores são
membros de alguma associação de catadores, triadores
ou recicladores.
10.3 O momento histórico
O gerenciamento eficiente do lixo passou a ser
uma questão de cidadania. E, para isso, percebemos que
a forma de tratamento do lixo também precisará mudar.
Sistemas tradicionais de limpeza urbana, com um olhar
limitado a aspectos técnico- operacionais, devem ser
substituídos por uma gestão participativa e integrada dos
resíduos urbanos. Essa mudança de paradigma, com
dimensões mais amplas em termos de ações e de atores,
129
tem como reflexo mais recente a criação, em setembro de
2003, do Comitê Interministerial de Inclusão Social dos
Catadores de Lixo e a obrigatoriedade do enquadramento
de todos os municípios brasileiros a Lei 12.305, de 2 de
agosto de 2010. O administrador que estiver antenado
com as oportunidades de seu tempo tem uma
oportunidade única que mudar drasticamente a sua
cidade, tornando-a uma referência nacional e
internacional.
O segredo está nos 3 R´s:
– Reduza;
– Reaproveite;
– Recicle.
10.4 Incentivo as cooperativas de catadores
A melhor saída para os municípios têm sido dar
um apoio de cunho social aos seus programas de
reciclagem, formando cooperativas de catadores que
atuam na separação de materiais recicláveis existentes no
lixo.
130
As principais vantagens da utilização de
cooperativas de catadores são:
• geração de emprego e renda;
• resgate da cidadania dos catadores, em sua
maioria moradores de rua;
• redução das despesas com os programas de
reciclagem;
• organização do trabalho dos catadores nas ruas
evitando problemas na coleta de lixo e o
armazenamento de materiais em logradouros
públicos;
• redução de despesas com a coleta, transferência e
disposição final dos resíduos separados pelos
catadores que, portanto, não serão coletados,
transportados e dispostos em aterro pelo sistema
de limpeza urbana da cidade.
Essa economia pode e deve ser revertida às
cooperativas de catadores, não em recursos financeiros,
mas em forma de investimentos em infraestrutura (galpões
de reciclagem, carrinhos padronizados, prensas,
131
elevadores de fardos, uniformes), de modo a permitir a
valorização dos produtos catados no mercado de
recicláveis.
É importante que os municípios que optem por
esse modelo ofereçam apoio institucional para formação
das cooperativas, principalmente no que tange à cessão
de espaço físico, assistência jurídica e administrativa para
legalização e, como já dito acima, fornecimento de alguns
equipamentos básicos, tais como prensas enfardadeiras,
carrinhos etc.
Um dos principais fatores que garantem o
fortalecimento e o sucesso de uma cooperativa de
catadores é a boa comercialização dos materiais
recicláveis. Os preços de comercialização serão tão
melhores quanto menos intermediários existirem no
processo até o consumidor final, que é a indústria de
transformação (fábrica de garrafas de água sanitária, por
exemplo). Para tanto, é fundamental que sejam atendidas
as seguintes condições:
• boa qualidade dos materiais (seleção por tipo de
produto, baixa contaminação por impurezas e
132
formas adequadas de embalagem/enfardamento);
• escala de produção e de estocagem, ou seja,
quanto maior a produção ou o estoque à disposição
do comprador, melhor será a condição de
comercialização;
• regularidade na produção e/ou entrega ao
consumidor final.
Essas condições dificilmente serão obtidas por
pequenas cooperativas, sendo uma boa alternativa a
criação de centrais para tentar a negociação direta com as
indústrias transformadoras, com melhores condições de
comercialização.
Após a implantação de uma cooperativa de
catadores é importante que o poder público continue
oferecendo apoio institucional de forma a suprir carências
básicas que prejudicam o bom desempenho de uma
cooperativa, notadamente no início de sua operação.
Entre as principais ações que devem ser empreendidas no
auxílio a uma cooperativa de catadores, destacam-se:
• apoio administrativo e contábil com contratação de
133
profissional que ficará responsável pela gestão da
cooperativa;
• criação de serviço social com a atuação de
assistentes sociais junto aos catadores;
• fornecimento de uniformes e equipamentos de
proteção industrial;
• implantação de cursos de alfabetização para os
catadores;
• implantação de programas de recuperação de
dependentes químicos;
• implementação de programas de educação
ambiental para os catadores.
Em uma fase inicial, considerando a pouca
experiência das diretorias das cooperativas, o poder
público poderá também auxiliar na comercialização dos
materiais recicláveis. Caso haja dificuldades, fruto das
variações do mercado comprador, é recomendável que a
cooperativa conte com um pequeno capital de giro de
forma a assegurar um rendimento mínimo aos catadores
até o restabelecimento de melhores condições de
comercialização.
134
11. Modelo tradicional de usina de reciclagem
Uma usina de reciclagem apresenta três fases de
operação, quais sejam:
• Recepção;
• Alimentação;
• Triagem.
No estágio da recepção temos:
• aferição do peso ou volume por meio de balança ou
cálculo estimativo;
• armazenamento em silos ou depósitos adequados
com capacidade para o processamento de, pelo
menos, um dia.
No estágio da alimentação temos:
• carregamento na linha de processamento, por meio
de máquinas, tais como pás carregadeiras, pontes
rolantes, pólipos e braço hidráulico. É possível
135
adotar dispositivos que permitem a descarga do lixo
dos caminhões diretamente nas linhas de
processamento, tornando independente os
equipamentos de alimentação daqueles que
processam o lixo; assim, em caso de quebra dos
primeiros, o processamento não será afetado.
E por último, a triagem:
• dosagem do fluxo de lixo nas linhas de triagem e
processos de separação de recicláveis por tipo.
Os equipamentos de dosagem de fluxo mais
utilizados são as esteiras transportadoras metálicas,
conhecidas também como chão movediço, e os tambores
revolvedores. Os tambores são mais apropriados para
usinas de pequeno porte com capacidade, por linha, de
até 10t/h.
As esteiras de triagem devem ter velocidade entre
10m/min a 12m/min, de forma a permitir um bom
desempenho dos trabalhadores que fazem a catação
manual. Os catadores devem ser posicionados ao longo
da esteira de catação, ao lado de dutos ou contêineres,
136
separando no início da esteira os materiais mais
volumosos como papel, papelão e plástico filme para que
os materiais de menor dimensão (latas de alumínio, vidro
etc.) possam ser visualizados e separados pelos
catadores no final da linha. Geralmente a primeira posição
é ocupada por um "rasga sacos", a quem também cabe a
tarefa de espalhar os resíduos na esteira de modo a
facilitar o trabalho dos outros catadores.
Quando houver mais de uma esteira de triagem,
elas deverão ser projetadas com elevação suficiente para
permitir em sua parte de baixo a instalação de prensas
enfardadeiras e espaço suficiente para movimentação dos
materiais triados.
Com relação aos processos de seleção, estes
podem ser instalados de forma isolada ou associados
entre si. As usinas simplificadas geralmente contam
apenas com as esteiras de catação, enquanto usinas mais
sofisticadas possuem outros equipamentos que separam
diretamente os materiais recicláveis ou facilitam a catação
manual. Entre estes podem-se citar as peneiras, os
separadores balísticos, os separadores magnéticos e os
separadores pneumáticos.
137
Há ainda a possibilidade, em unidades de até 5t/h,
de se substituir a esteira de catação por uma mesa de
concreto, com pequena declividade e abas laterais que
impedem o vazamento dos resíduos; estes são
empurrados manualmente pelos catadores até o final da
mesa, com auxílio de pequenas tábuas, ao mesmo tempo
em que separam os recicláveis. Nessas unidades, o lixo
que chega da coleta é armazenado em uma pequena
depressão no solo, junto à cabeceira da mesa de catação,
e é nela colocado, também manualmente, por um
trabalhador munido de gadanho.
A escolha do material reciclável a ser separado
nas unidades de reciclagem depende sobretudo da
demanda da indústria. Todavia, na grande maioria das
unidades são separados os seguintes materiais:
• papel e papelão;
• plástico duro (PVC, polietileno de alta densidade,
PET);
• plástico filme (polietileno de baixa densidade);
• garrafas inteiras;
• vidro claro, escuro e misto;
138
• metal ferroso (latas, chaparia etc.);
• metal não-ferroso (alumínio, cobre, chumbo,
antimônio etc.)
139
12. Estudos de viabilidade econômica
A implantação de uma usina de reciclagem e
compostagem pressupõe a elaboração prévia de um
estudo de viabilidade econômica no qual devem ser
analisados os seguintes aspectos:
Investimento:
• licenciamentos ambientais;
• aquisição de terreno e legalizações fundiárias;
• projetos de arquitetura e engenharia;
• obras de engenharia;
• aquisição de máquinas e equipamentos;
• despesas de capital (juros e amortizações) e
depreciação dos equipamentos;
Custeio:
• pessoal (mão-de-obra, corpo técnico, gerencial e
administrativo);
• despesas operacionais e de manutenção;
140
• despesas de energia e tarifas das concessionárias
do serviço público;
• despesas de reposição de peças e equipamentos;
• despesas com gerenciamento e administração;
Receitas:
Diretas
• comercialização de recicláveis e composto
orgânico;
• Cobrança de Taxa ou Tributos de Lixo Gerado.
Indiretas
• economia referente à redução de custos de
transporte ao aterro;
• economia referente à redução do volume de lixo
vazado no aterro.
Ambientais
• economia de consumo de energia;
• economia no consumo de recursos naturais;
• redução da carga de resíduos poluentes no
ambiente.
141
Sociais
• oferta de emprego digno e formal para os catadores
de lixo;
• geração de renda;
• conscientização ambiental da população.
As receitas diretas dificilmente cobrirão o custeio
de uma usina de reciclagem e compostagem, nem esta
deve ser encarada como um empreendimento industrial
lucrativo segundo um ponto de vista estritamente
comercial. Todavia, o quadro se mostra altamente
favorável quando se ponderam as receitas indiretas,
ambientais e sociais com potencial expressivo de retorno
político.
142
13. O mercado de recicláveis
O mercado de materiais recicláveis no Brasil vem
crescendo rapidamente, com índices de recuperação
significativos, embora também esteja crescendo o nível de
exigência sobre a qualidade do material.
As indústrias que trabalham com matéria-prima
reciclada exigem para compra dos materiais três
condições básicas:
• escala de produção;
• regularidade no fornecimento;
• qualidade do material.
Assim, a obtenção de materiais classificados
corretamente, limpos e consequentemente com maior
valor agregado facilita a comercialização dos materiais
recicláveis obtidos nas usinas. O preço de venda de
materiais e o escoamento da produção dependem das
indústrias recicladoras presentes na área de influência da
usina.
Os preços praticados pelo mercado variam muito,
143
sofrendo influência direta do preço da matéria-prima
virgem. Além de procurar sempre por materiais limpos,
algumas cooperativas desenvolvem trabalho visando ao
beneficiamento de materiais recicláveis para agregar valor
ao produto e permitir sua comercialização direta às
industrias, eliminando agentes intermediários. Essas
tarefas envolvem, pelo menos, a separação entre os
diversos tipos e o enfardamento de papéis e papelão, latas
de alumínio e plástico duro. Também é fundamental haver
um local para acumulação de todos os materiais, de modo
a racionalizar o frete até o local de sua industrialização.
144
14. A proposta para prefeituras com menos de 50 mil habitantes
Devido ao alto custo de uma usina de reciclagem
integrada a um aterro sanitário, as cidades com menos de
50 mil habitantes deve buscar um consenso entre as
cidades limítrofes para a criação de um consórcio
intermunicipal de natureza jurídica específica para que o
projeto de torne viável financeiramente e possa resolver
de forma definitiva a questão do lixo para um número de
habitantes mais abrangente.
Recomenda-se o estudo de áreas cujo local seja o
obtido conjugando-se as distâncias dos centros produtores
e produção de resíduos, de tal forma que se minimizem os
custos de transporte até o destino de tratamento. Assim, a
escolha do terreno onde será instalada a usina e o aterro
deve ser escolhida em comum acordo entre todas as
cidades, onde os principais pontos a serem observados
são:
• deslocamento máximo entre 15 e 25 km;
• área distante de mananciais, rios e/ou nascentes;
145
• Proximidade de vias principais (<100 metros);
• Distâncias de moradias superiores a 1km;
• Distância de povoações superior a 2 km;
• Terrenos com topografia plana para evitar situações
de inundações.
14.1 Estrutura FinanceiraBoa parte dos problemas críticos da gestão dos
resíduos sólidos no Brasil está, historicamente, ligada à
falta de cobrança pelos serviços prestados. Esta
debilidade afeta a capacidade de investimentos e
manutenção das atividades dos programas executados e
mantidos pelo Poder Público. Além disso, tal fato gera
assimetrias à aplicação dos princípios da igualdade
tributária e da justiça fiscal.
Nestas condições, nem sempre o maior gerador
de resíduos paga mais pela prestação do serviço que lhe é
ofertado. Assim, torna-se imprescindível a elaboração e
manutenção de uma boa estrutura financeira que
considere os aspectos relacionados ao controle de custos;
ao controle de arrecadação; à forma de cobrança e à
forma de remuneração dos serviços.
146
14.2 Controle de custos
Proposta de estrutura de Sistema de Controle de Custos
O conceito de custo é utilizado para identificar
todo e qualquer gasto relativo à disponibilização de bens
ou serviços utilizados na elaboração e ou oferta de outros
bens e serviços. Em maio de 2000 foi sancionada a Lei
Complementar 101 (Lei de Responsabilidade Fiscal), que
inseriu definitivamente a necessidade de estruturação e
manutenção de um sistema de controle dos custos, no
âmbito das finanças públicas brasileira. Tal Lei
estabeleceu uma série de normas voltadas para a
responsabilidade na gestão fiscal, dentre as quais
algumas remetem diretamente à matéria voltada ao
controle de custos:“Art. 4º. A lei de diretrizes
orçamentárias atenderá ao disposto no
§ 2o do art. 165 da Constituição e:
I - disporá também sobre: ...
e) normas relativas ao controle de
custos e à avaliação dos resultados
dos programas financiados com
recursos dos orçamentos;”
147
O segundo dispositivo da Lei Complementar 101,
que se refere à matéria em questão é o expresso no seu
artigo 50:“Art. 50. Além de obedecer às demais
normas de contabilidade pública, a
escrituração das contas públicas
observará as seguintes: .....
§ 3º A Administração Pública manterá
sistema de custos que permita a
avaliação e o acompanhamento da
gestão orçamentária, financeira e
patrimonial”.
A última referência feita pela Lei Complementar
101 aos custos dos serviços públicos brasileiros está
inserida em sua seção VI, que trata da fiscalização da
gestão fiscal pelo Tribunal de Contas: “Art. 59º …§ 1º Os Tribunais de Contas alertarão
os Poderes ou órgãos referidos no art.
20 quando constatarem:
V - fatos que comprometam os custos
ou os resultados dos programas ou
indícios de irregularidades na gestão
orçamentária”.
148
Em síntese, podemos observar a existência de
legislação, que torna obrigatório um sistema de controle
de custos incorridos pela gestão pública, desde 1964.
Porém, na prática este sistema não é estruturado e
colocado em funcionamento. O que, então, deve ser o
foco das administrações é o desenvolvimento de uma
sistemática de custeio que possa ser a base de cálculo
para a definição das taxas ou tarifas e, quando se aplicar,
outros preços públicos a serem cobradas como forma de
remuneração dos bens e serviços prestados ou colocados
à disposição da sociedade.
Na construção dessa sistemática tomamos como
referência os estudos e avanços alcançados pela
Contabilidade ao longo do tempo, que nos possibilitam,
atualmente, a proposição de uma estrutura básica,
possível de ser aplicada na acumulação e rateio dos
custos envolvidos na prestação dos serviços que são
ofertados pela gestão pública à sociedade.
Levando tal fato em consideração, apresentamos
a estrutura de um esquema básico que considera os
custos diretos e indiretos envolvidos nas operações dos
serviços públicos de resíduos sólidos urbanos:
149
Neste esquema observamos que todos os
recursos envolvidos na operação são alocados, direta ou
indiretamente (por meio de rateios – R) aos bens e/ou
serviços demandados pela sociedade, que neste caso
seriam os produtos derivados da coleta, tratamento e
disposição final dos resíduos sólidos que absorveriam os
150
custos do período aplicados a: resíduos sólidos
domiciliares urbanos (RSU), resíduos sólidos industriais
(RSI), resíduos de serviços de saúde (RSS), resíduos da
construção e demolição (RCD) e resíduos de grandes
geradores (RGG).
Observa-se que a estrutura básica apresentada é
suficiente para atender aos requisitos e às exigências
legais acerca da aplicação de um controle de custos nas
operações governamentais, bem como é um suporte à
busca do atendimento ao princípio da eficiência no
desempenho das atividades da administração pública (art.
37 CF/88), pois possibilita a avaliação das operações
governamentais.
Considerando as observações anteriores,
destaca-se aqui que a aplicação do sistema de controle de
custos proposto proporcionará a definição da base de
cálculo para a aplicação de taxas ou tarifas que venham a
remunerar os serviços públicos de manejo de resíduos
sólidos urbanos, incluindo a coleta, transporte, tratamento
e disposição final dos resíduos.
151
14.3 Formas de cobrança
Muitas localidades do Brasil e do mundo
enfrentam hoje um problema comum: a definição de um
modelo para a distribuição, entre os beneficiários, dos
custos dos serviços de coleta, tratamento e disposição
final dos resíduos sólidos urbanos.
Entre as inúmeras práticas já experimentadas,
utilizamos algumas para exemplificar o volume de
possibilidades que se apresentam de acordo com as
características e particularidades locais:
a) Modelo de distribuição dos custos, aplicado no
Município de Campinas/SP: a base de cálculo é o valor da
prestação de serviço, sobre o qual se faz o rateio do valor
correspondente aos usuários. Os critérios utilizados para a
realização do rateio são:
• frequência do serviço prestado ou posto à
disposição;
• o volume da edificação (para imóveis edificados);
• a testada do terreno (para imóveis não edificados);
• a localização do imóvel.
152
b) Modelo de valorização da taxa, aplicado no
Município de Florianópolis/SC: neste caso se utilizam as
informações do cadastro imobiliário municipal, sendo que
a incidência da taxa ocorre somente sobre os imóveis
urbanos edificados e que se beneficiam dos serviços. A
base de cálculo para a taxa a ser cobrada considera os
seguintes critérios:
• área construída do imóvel;
• tipo do imóvel; e
• frequência de coleta.
O recolhimento da taxa ocorre juntamente com o
do IPTU.
c) Modelo de distribuição dos custos, aplicado
em outros países: mesmo não havendo consenso sobre
este assunto, o que se observa em alguns dos países
desenvolvidos é a cobrança pela quantidade de lixo
gerada. O alto custo envolvido na quantificação exata do
peso do lixo gerado individualmente e, principalmente,
pela falta de base legal, dificulta que tal modelo venha a
ser aplicado universalmente.
153
De acordo com as opções apresentadas acima,
observa-se que existem várias formas para elaboração de
metodologias de cobrança e até mesmo pode-se optar
pela não aplicação de cobrança, desde que os resíduos
separados de forma correta na etapa de triagem
represente uma receita substancial.
Por outro lado, a educação ambiental volta a ser o
ponto principal, podendo o administrador público optar por
multar quem polui e dar desconto no IPTU dos cidadãos
que aderirem ao programa de coleta seletiva e realizar a
entrega do material reciclável nos PEVs.
A decisão da taxação ou não é do administrador.
154
Anexo – Proposta FRC Consultoria
Uma das tecnologias de reciclagem criada e
promovida por uma empresa parceira da FRC Consultoria
e detentora da tecnologia de processamento de resíduos
sólidos, consiste na reciclagem do lixo através de reação
físico-química produzida pela mistura de cal viva e um
reagente químico natural, pelo qual após 4 horas de
compressão e granulométrica, obtém-se um produto
hidrofóbico sólido e inerte, na proporção de 60% de
material orgânico (fertilizante) e 40% de material
inorgânico (combustível), com a redução de 50% do
volume e 25% do peso iniciais. O processo não gera
poluição líquida ou gasosa, e suspende os metais pesados
pela modificação. Está hoje disponível em três tamanhos,
dependendo da quantidade de lixo gerada diariamente
pelos municípios interessados em resolver a questão dos
resíduos sólidos, sem o custo do aterro e com o lucro da
venda do lixo. São eles:
155
a. Processamento de 5 toneladas/hora :
Em 04 turnos de 06 horas/dia na
configuração padrão, a usina poderá vir a processar
120 toneladas de lixo diariamente ou cerca de 42
mil ton/ano. Inicialmente, a usina de reciclagem
processará 5 ton/hora de lixo. Anualmente serão
processadas 42 mil toneladas de resíduos sólidos.
Os produtos resultantes desse processamento e
suas respectivas quantidades estão descritos a
seguir: Fertilizante: 12.889 ton/ano; combustível: 19.334 ton/ano; metal: 1.680 ton/ano; vidro: 1.260 ton/ano; crédito carbono: 2.160 ton/ano;
b. Processamento de 10 toneladas/hora :
Em 04 turnos de 6 horas/dia na configuração
padrão, a usina poderá vir a processar 240 toneladas de lixo diariamente ou cerca de 84.000 mil ton/ano. Inicialmente, a usina de reciclagem
processará 10 ton/hora de lixo. Anualmente serão
processadas 84.000 mil toneladas de resíduos
sólidos. Os produtos resultantes desse
156
processamento e suas respectivas quantidades
estão descritos a seguir: Fertilizante: 26.560 ton/ano; combustível: 39.841 ton/ano; metal: 3.360 ton/ano; vidro: 2.520 ton/ano; crédito carbono: 4.320 ton/ano;
c. Processamento de 30 toneladas/hora :
Em 04 turnos de 06 horas/dia na
configuração padrão, a usina poderá vir a processar
720 toneladas de lixo diariamente ou cerca de
252.000 mil ton/ano. Os produtos resultantes desse
processamento e suas respectivas quantidades
estão descritos a seguir: Fertilizante: 93.744 ton/ano; combustível: 140.616 ton/ano; metal: 10.080 ton/ano; vidro: 7.560 ton/ano; crédito carbono: 12.450 ton/ano.
157
Lista de Tabelas
1. Composição média do entulho de obra no Brasil.
2. Classificação dos Resíduos de Saúde.
3. Composição Gravimétrica do lixo de alguns países.
4. Faixas mais utilizadas da geração per capita.
5. Código de cores dos resíduos recicláveis.
158
Lista de FigurasFigura 1 – Varrendo pra debaixo do tapete.
Figura 2 – Educação Ambiental.
Figura 3 – Contaminação do lixo.
Figura 4 – Lixo hospitalar.
Figura 5 – IBGE: Disposição dos Resíduos.
Figura 6 – Compostagem.
Figura 7 – Aterro Sanitário.
Figura 8 – Geração de Gás Metano.
Figura 9 – Crédito de Carbono.
Figura 10 – Política de Resíduos.
Figura 11 – Coleta Seletiva.
Figura 12 – Caminhão de Coleta de Resíduos.
Figura 13 – Itinerário de Coleta.
Figura 14 – Caminhão Compactador.
Figura 15 – Catação Manual.
Figura 16 – Mesa de Catação.
Figura 17 – Campanha de Educação Ambiental.
Figura 18 – Material de Varrição.
Figura 19 – Material de Capina.
Figura 20 – Material de Roçagem.
Figura 21 – Proposta de Custos.
159
Bibliografia
1. ROMANI, Andrea Pitanguy. O poder público
municipal e as organizações de catadores: formas
de diálogo e articulação. Rio de Janeiro: IBAM;
CEF, 2004.
2. Lei da Política Nacional de Saneamento Básico (Lei
nº 11.445/2007).
3. Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº
12.305/2010).
4. Protocolo de Quioto à convenção sobre mudança
do clima. Disponível em:
<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/2873
9.html>. Acessado em 15/10/2011.
5. MAGERA, Marcio. Os empresários do lixo: um
paradoxo da modernidade: análise interdisciplinar
das cooperativas de reciclagem de lixo. Campinas:
Átomo, 2003.
160
6. Höewell, Indian M. (1998). CEMPRE –
Compromisso Empresarial para Reciclagem – Viva
o Meio Ambiente com Arte na Era da Reciclagem. 3
ed. Florianópolis, agosto.
7. Russo, M.A.T., “O aterro sanitário na base de uma
gestão integrada de resíduos sólidos” VI
SILUBESA, Florianópolis, Brasil, 1994.
8. FERREIRA, Francisco C. (1996) - “A Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos em Portugal” - Instituto Politécnico de Viana do Castelo - 1º Simpósio Internacional Sobre Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos.
161