ciência e o conceito de corpo e saúde

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Introdução Na área da educação física muitas vezes a discussão epistemológica, figurativa do pensamento radical, aparece como uma questão sem valor no discurso de acadêmicos e profissionais, como pude constatar em reuniões de colegiado e nas conversas informais com colegas de trabalho, na ocasião de recém formado bacharel. Os primeiros parecem cônscios de que confrontar tal questão envolveria mover conceitos cristalizados e solidificados em suas áreas de domínio, resistindo em deixar esta “zona de conforto” conceitual para lançarem-se a este desafio. Já os últimos, muitas vezes amparados pela inobservância acadêmica, limitam-se a condenar tal debate como “um teorizar estratosférico”, muito distante da lida prática do cotidiano profissional. A epistemologia, conceituada como uma “disciplina cujo objeto de estudo é a ciência” (DUROZOI & ROUSSEL , 1993 p. 158), tem como meta estudar criticamente os “[...] princípios, as hipóteses gerais, as conclusões das várias ciências para delas apreciar o valor e o alcance objetivo” (p.158). Durozoi e Roussel (1993, p. 158) apontam ainda que figura entre as preocupações da reflexão epistemológica recente, “[...] as relações que podem existir entre a conduta científica e sua ambivalência sócio-política (financiamento das pesquisas, ligações eventuais com o poder).” Podemos postular as diferenças epistemológicas entre os racionalistas e os relativistas, usando aqui a terminologia adotada por Chalmers (1982, 1994), no que tange ao modo como avaliam teorias e realizam a distinção entre ciência e não ciência do seguinte modo: o primeiro grupo defenderá a existência de um conhecimento absoluto, pré-existente ao labor científico, cujo resultado é a descoberta do mesmo; o segundo, apontará como fundamentais a análise do contexto sócio- Motriz, Rio Claro, v.15 n.2 p.383-395, abr./jun. 2009 Artigo de Revisão Ciência e o conceito de corpo e saúde na Educação Física Caio Rotta Bradbury Novaes Holmes Place Health Club das Amoreiras, Lisboa, Portugal Resumo: O intuito deste estudo é demonstrar um fragmento da discussão epistemológica na educação física e seus reflexos para dois conceitos fundamentais da área: corpo e saúde. A atualidade desta discussão para o campo da educação física mostra-se um desafio aos pensadores deste tema, às vezes tido como “sem relevância” ou “já superado”, por muitos acadêmicos e profissionais. A intervenção profissional da educação física na área da saúde é marcada de maneira hegemônica pelo viés biológico, pautado na racionalidade médica, e de cunho privado e individual; tal visão obsta uma perspectiva globalizante do fenômeno. Assim, propõe-se uma reflexão a partir da ruptura paradigmática perspectivada pela teoria da motricidade humana, cuja singularidade não está no objeto, mas no campo de estudo que pode permitir o entrecruzar de olhares transdisciplinares sobre o próprio fenômeno do corpo e da saúde. Este estudo lançará suas reflexões a partir de uma revisão bibliográfica sobre o tema. Palavras-chave: Corpo. Saúde. Conhecimento. Science and the concept of body and health in the Physical Education Abstract: The purpose of this study is showing part of the epistemological discussion in physical education and its consequences concerning two fundamental concepts: body and health. In physical education, this discussion nowadays seems to be a challenge to the thinkers about this subject, which is, sometimes, considered “without relevance” or “done”, by lots of students and professionals. The professional intervention of physical education in the health field is shown in a hegemonic way through the biology, directed according to the medical rationality, being private and individual. That view is opposed to its global perspective. Thus, a reflection is proposed, from a paradigmatic break which takes place through the human motricity theory, whose singularity is not in the object, but in the study field which may allow some relation between the transdisciplinarity when talking about body and health. This reflection in this study will take place from a bibliographic review about the theme. Key Words: Body. Health. Knowledge.

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Na Educação Física

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  • Introduo Na rea da educao fsica muitas vezes a

    discusso epistemolgica, figurativa do pensamento radical, aparece como uma questo sem valor no discurso de acadmicos e profissionais, como pude constatar em reunies de colegiado e nas conversas informais com colegas de trabalho, na ocasio de recm formado bacharel. Os primeiros parecem cnscios de que confrontar tal questo envolveria mover conceitos cristalizados e solidificados em suas reas de domnio, resistindo em deixar esta zona de conforto conceitual para lanarem-se a este desafio. J os ltimos, muitas vezes amparados pela inobservncia acadmica, limitam-se a condenar tal debate como um teorizar estratosfrico, muito distante da lida prtica do cotidiano profissional.

    A epistemologia, conceituada como uma disciplina cujo objeto de estudo a cincia (DUROZOI & ROUSSEL, 1993 p. 158), tem como

    meta estudar criticamente os [...] princpios, as hipteses gerais, as concluses das vrias cincias para delas apreciar o valor e o alcance objetivo (p.158).

    Durozoi e Roussel (1993, p. 158) apontam ainda que figura entre as preocupaes da reflexo epistemolgica recente, [...] as relaes que podem existir entre a conduta cientfica e sua ambivalncia scio-poltica (financiamento das pesquisas, ligaes eventuais com o poder).

    Podemos postular as diferenas epistemolgicas entre os racionalistas e os relativistas, usando aqui a terminologia adotada por Chalmers (1982, 1994), no que tange ao modo como avaliam teorias e realizam a distino entre cincia e no cincia do seguinte modo: o primeiro grupo defender a existncia de um conhecimento absoluto, pr-existente ao labor cientfico, cujo resultado a descoberta do mesmo; j o segundo, apontar como fundamentais a anlise do contexto scio-

    Motriz, Rio Claro, v.15 n.2 p.383-395, abr./jun. 2009

    Artigo de Reviso

    Cincia e o conceito de corpo e sade na Educao Fsica

    Caio Rotta Bradbury Novaes Holmes Place Health Club das Amoreiras, Lisboa, Portugal

    Resumo: O intuito deste estudo demonstrar um fragmento da discusso epistemolgica na educao fsica e seus reflexos para dois conceitos fundamentais da rea: corpo e sade. A atualidade desta discusso para o campo da educao fsica mostra-se um desafio aos pensadores deste tema, s vezes tido como sem relevncia ou j superado, por muitos acadmicos e profissionais. A interveno profissional da educao fsica na rea da sade marcada de maneira hegemnica pelo vis biolgico, pautado na racionalidade mdica, e de cunho privado e individual; tal viso obsta uma perspectiva globalizante do fenmeno. Assim, prope-se uma reflexo a partir da ruptura paradigmtica perspectivada pela teoria da motricidade humana, cuja singularidade no est no objeto, mas no campo de estudo que pode permitir o entrecruzar de olhares transdisciplinares sobre o prprio fenmeno do corpo e da sade. Este estudo lanar suas reflexes a partir de uma reviso bibliogrfica sobre o tema. Palavras-chave: Corpo. Sade. Conhecimento.

    Science and the concept of body and health in the Physical Education

    Abstract: The purpose of this study is showing part of the epistemological discussion in physical education and its consequences concerning two fundamental concepts: body and health. In physical education, this discussion nowadays seems to be a challenge to the thinkers about this subject, which is, sometimes, considered without relevance or done, by lots of students and professionals. The professional intervention of physical education in the health field is shown in a hegemonic way through the biology, directed according to the medical rationality, being private and individual. That view is opposed to its global perspective. Thus, a reflection is proposed, from a paradigmatic break which takes place through the human motricity theory, whose singularity is not in the object, but in the study field which may allow some relation between the transdisciplinarity when talking about body and health. This reflection in this study will take place from a bibliographic review about the theme. Key Words: Body. Health. Knowledge.

  • C. R. B. Novaes

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    histrico no qual acontece a atividade cientfica / conhecimento, observando assim este ltimo como um construto.

    Para auxiliar tal anlise, podemos tambm levar tais diferenas ao mbito da sociologia do conhecimento, precisamente ao estatuto das cincias culturais e das cincias naturais, como Machado Neto (1979) explicita:

    [...] o fsico, o qumico, e mesmo o bilogo podem dar-se ao luxo de negligenciar a preparao epistemolgica, fiados na segurana que a comprovao experimental pode imprimir aos seus respectivos departamentos cientficos...Outro tanto no se passa com o historiador, o socilogo, o jurista, o economista ou o pedagogo, por mais promissores que tenham sido os primeiros ensaios de aplicao prtica das verdades descobertas por suas cincias... O objetivo de dominao, peculiar a toda cincia, , nelas, ao menos, muito mais projeto do que realizao, e todo exagerado otimismo, nesse ponto, s pode ser prejudicial. (MACHADO NETO, 1979, p. 31)

    Podemos assim entender a grande monta de conflitos que aflige as cincias culturais, perante a hegemonia das cincias naturais tida como juiz severo que separa a cincia da no cincia. Como coloca Machado Neto (1979), a fundamentao das humanidades ou cincias humanas seria a grande misso da filosofia contempornea.

    Sobre a epistemologia hoje, Sergio (2003a) aponta que

    As dimenses do acto epistemolgico, a partir de determinada altura, necessitam de uma inteligibilidade que mais social e filosfica do que cientfica [...] A cincia ps-normal, para mim, a cincia-cultura, onde a meditao metafsica se casa com o rigor matemtico, a observao, a experimentao e, como vimos atrs, a poesia e o sonho. (SERGIO, 2003a, p. 71-72)

    Esta abertura sociedade ser chamada por Sergio (2003a) de imaginrio ecolgico, situando o fazer cientfico ao contexto do seu tempo e de sua cultura.

    Outro pensador cuja obra considerada capital para a compreenso da atividade cientfica contempornea Pierre Bourdieu, cujas teorias j foram utilizadas no entendimento da atividade cientfica da rea da sade (LOUZADA & SILVA FILHO, 2005) e da prpria educao fsica (BRACHT, 2003; PAIVA 2003; CAMPOS 2003; NOVAES, 2006),

    Bourdieu (1989; 2004) que ao longo de sua vasta obra versou sobre diversos temas, elaborou uma consistente tessitura conceitual sobre a

    teoria dos campos e do capital especfico de cada campo. Embora estes conceitos encerrem em si uma possibilidade metodolgica de grande vigor, destaca-se aqui apenas a contribuio terica destes conceitos, que reforam a responsabilidade social que a cincia deve assumir nestes novos tempos.

    Compreende-se, portanto, que o campo quando configurado, identifica-se como um espao de lutas sociais simblicas entre grupos de dominantes e dominados em torno de um capital simblico especfico, cuja natureza varia de acordo com os valores do campo. No caso do campo acadmico, este capital simblico pode ser entendido como o prestgio pessoal, institucional, de uma teoria ou conceito, etc.

    Em pesquisa anterior, Novaes (2006) utilizando-se deste referencial explicitou como as disputas deste campo em torno do capital simblico podem influenciar na constituio de programas de ps graduao na educao fsica, muitas vezes suplantando a atividade epistemolgica que lhe seria cara.

    Compreende-se aps a ilustrao deste cenrio, a singularidade enfrentada na compreenso do campo da educao fsica, quando possui matrizes de pensamento baseadas em tradies epistemolgicas to distintas.

    A configurao identitria da educao fsica vivencia um longo conflito (TANI, 1996; BRACHT, 2001; BETTI, 1996) que coloca dificuldades no estabelecimento de sua autonomia acadmica e profissional, quesito importante na legitimao de suas propostas.

    Dados os indcios da pouca capacidade de refrao do campo acadmico da educao fsica (NOVAES, 2006), ou seja, sua habilidade de retraduzir sobre sua lgica os conflitos externos rea, os conceitos de corpo e sade que instrumentalizam a rea constituem-se a partir da cincia legtima, ou seja, o modelo biolgico de corpo e a racionalidade mdica como parmetro de sade.

    A discusso epistemolgica da educao fsica, iniciada na dcada de 80, ganhou novos contornos na atualidade a partir dos colquios sobre epistemologia promovidos pelo CONFEF (Conselho Federal de Educao fsica), bem como pelo GTT de epistemologia mantido pelo CBCE (Colgio Brasileiro de Cincias do

  • Cincia, corpo e sade

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    Esporte), demonstrando um interesse renovado pelo tema na rea. Porm, observa-se que este interesse ainda mantm-se isolado, no sendo compartido pela rea como um todo.

    Aponta-se aqui que os debates epistemolgicos da educao fsica mostram-se polarizados entre uma matriz pedaggica e uma matriz cientfica (BETTI, 1996), sendo que a matriz cientfica aponta para a perspectiva da Cinesiologia e da Motricidade humana como alternativas.

    Tal matriz aparece com mais freqncia nos discursos, embora ainda estejam mais em nvel de projetos do que realidades nos currculos. (NOVAES, 2006)

    Entretanto, mesmo quando a estrutura multi-disciplinar das propostas curriculares atuais da educao fsica no apresenta explicitamente suas referncias epistemolgicas, o teor das disciplinas e sua forma de organizar-se deixam clara a hegemonia biolgica como a cincia legtima que valorizada pela rea, no que tange ao campo da sade.

    A exclusividade da concepo de corpo biolgico, concretizada nos currculos, tende a objetivar o indivduo, colocando a sade apenas como resultado de um funcionamento fisiolgico eficaz. Porm, mesmo diante da crescente demanda pela interveno profissional da educao fsica, coloca-se a questo: estaramos de fato promovendo a sade? O conceito de corpo que instrumentaliza nossa prtica suficiente para isso?

    Na busca de algumas pistas a estas questes, prope-se uma reflexo sobre a o conceito de corpo e sade na educao fsica atual, ao que se seguir uma breve anlise sobre o referencial epistemolgico que fundamenta tais conceitos: o positivismo a partir da perspectiva biomdica. A seguir, se trar como proposta-tema para reflexes uma viso do referencial hermenutico e sua perspectiva dentro da motricidade humana, ressaltando pontos de aproximao entre este referencial e a motricidade humana.

    Aps esta sesso, se far uma breve abordagem do corte epistemolgico proposto, representando a transio da educao fsica para a cincia da motricidade humana. Como uma reflexo final, prope-se uma anlise dos conceitos de corpo e sade na perspectiva da motricidade humana, apresentando tal

    perspectiva mais como um espao de dilogo do que uma demarcao cientfica.

    Vejamos, a partir de um olhar mais prximo, como se d este trajeto.

    Cincia, corpo e sade na educao fsica

    Para abordarmos esta trade, cujos componentes interligam-se intrinsecamente, faz-se necessrio uma aproximao de cada um dos temas e de suas ligaes. A Educao Fsica, enquanto rea de interveno acadmico-profissional (BRASIL, 2004) teve de galgar importncia e status social a partir de:

    - uma demanda social impulsionada, de modo geral, pela necessidade de promoo de sade; em segundo plano, seguiram-se as intenes de formatao educacional e moral das populaes (OLIVEIRA, 2001; BETTI, 1991, CASTELANI FILHO, 1994) - tais prticas, devido crescente relevncia, tiveram de amealhar legitimidade acadmica atravs de um modelo cientfico bem institudo, (BRACHT, 2003, NOVAES, 2006);

    Assim, sua legitimidade social foi conquistada pelo vis da sade, sendo que mesmo sua entrada no ambiente escolar, no se deu primeiramente pela importncia pedaggica, como as demais disciplinas (PAIVA, 2003)

    O modelo cientfico de sade adotado o modelo biolgico, cujo mtodo, ou crivo de legitimidade o positivismo. Assim, sendo a cincia a grande organizadora do real a partir da modernidade, o conceito de corpo adotado na rea o corpo biolgico devendo esta perspectiva assumir hegemonia. Torna-se claro que a sade depende do corpo, sendo ele definido como um ser biolgico de onde surge uma psique que se inter-relaciona socialmente, simbolizando tambm seu contexto de vida. Entretanto, do ponto de vista do atual paradigma acadmico-profissional, tais caractersticas so consideradas secundrias; deste modo, a sade tambm vista meramente como um funcionamento fisiolgico normal.

    Esta perspectiva, alm de desconsiderar o corpo como fruto de seu contexto histrico e cultural, os significados e valores atribudos ao/pelo corpo em determinada sociedade, tendem a assumir uma viso unilateral sobre a assuno de um modelo de vida ativa ou

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    comportamento ativo, transmitindo a idia de que repousa somente na fora de vontade individual a prtica de atividades fsicas.

    Sobre este vis adotado pela educao fsica, Carvalho (2005) aponta que trata-se de

    [...] uma sade que se fixa em dados estatsticos, que reduz o fenmeno a uma relao causal determinada biologicamente ... e que tende a responsabilizar, nica e exclusivamente, o indivduo por sua condio de vida. Assim, a pesquisa e a interveno dirigidas a pessoas e comunidades margem do acesso ao trabalho, ao lazer, educao e sade, por exemplo, tm sido pouco priorizadas [...] (CARVALHO, p. 19, 2005)

    Assim, corre-se o risco de culpabilizao da vtima, quando ignora-se por exemplo as condies scio-econmicas daquela parcela da populao, excluda do acesso aos bens e servios ofertados no campo da sade pela iniciativa privada. Alm de que a grande parte destes servios, como ginsticas e musculao, destinam-se queles cujo cotidiano de trabalho j no o tenha privado de suas energias, o que exclui a parcela dos trabalhadores braais ou que tenham jornadas muito longas de trabalho. Assim, parece que apenas quem tem sade pode fazer atividade fsica, e no que se deve fazer atividade fsica para se ter sade. Este modo de pensar exclui todo aquele que no dispe de tempo ou dinheiro para cultivar seu corpo, ou sua sade.

    Mostra-se neste caso, a necessidade de uma viso globalizante do fenmeno corpo e sade; a aproximao da educao fsica com os conceitos da sade coletiva poderia oportunizar esta viso. Porm, o paradigma biologizante e fragmentrio da educao fsica atual obsta a adoo destes conceitos, que se baseiam em perspectivas holsticas, e por isso tambm sociais e culturais.

    Sade Coletiva compreendida como um campo de saberes e de prticas que toma como objeto as necessidades sociais de sade, com o intuito de construir possibilidades interpretativas e explicativas dos fenmenos relativos ao processo sade-doena, visando ampliar significados e formas de interveno. (CARVALHO, p. 20, 2005)

    Pelo conceito ora apresentado, notam-se dois aspectos inter-relacionados muito interessantes para nossas reflexes, que se aproximam da necessria ruptura paradigmtica anunciada pela motricidade humana:

    - a sade coletiva como um campo de saberes e prticas, que visa ampliar significados e formas de interveno

    - o intuito de construir possibilidades interpretativas e explicativas dos fenmenos relativos ao processo sade-doena;

    Quando se aponta a sade como um campo de saberes e prticas, alm de conotar a associao das teorias e das prticas, anuncia um campo em que co-existem saberes diferentes. A distncia entre o campo acadmico e profissional tende a ser diminuda quando se anuncia a necessidade de ampliar significados e intervenes.

    O intuito em construir possibilidades interpretativas e explicativas dos fenmenos entra em concordncia com um modelo epistemolgico complexo, onde diferentes tradies epistemolgicas (mtodos positivistas e mtodos hermenuticos) tenham de funcionar sem hierarquias entre si.

    Segue-se uma anlise mais prxima das perspectivas cientficas assinaladas, enquanto abordagem e enquanto mtodo.

    Positivismo e a explicao biomdica O positivismo, como veremos, influenciou de

    maneira marcante as cincias em geral e sedimentou as razes modernas do modelo de conhecimento para a Educao Fsica. Observa-se no contexto histrico do sculo XVIII, o grande desenvolvimento do poder burgus, que [...] demonstrou a eficcia do novo saber inaugurado pela cincia moderna no sculo anterior. Cincia e tcnica tornam-se aliadas, provocando modificaes no ambiente humano jamais suspeitadas [...] (ARANHA & MARTINS, p. 115, 1993). Era a revoluo industrial, que marca o cientificismo, considerando a cincia como o nico saber vlido, devendo se estender a todo campo de entendimento e ao humana. E no bojo destas questes se desenvolve, no sculo XIX, o pensamento de Augusto Comte como o principal protagonista do pensamento positivista.

    O positivismo compreendia a realidade positiva como verdadeira, em oposio ao quimrico, ou as concepes teolgicas ou metafsicas do mundo; o positivo designa o que pode ser apreendido pelos sentidos, retomando a linha do empirismo do Sculo XVII, combinado ao raciocnio (ARANHA & MARTINS, 1993) . a partir de seus critrios positivos que Comte prope uma classificao das cincias, como se segue: matemtica, astronomia, fsica, qumica, biologia e sociologia, sendo esta ltima

  • Cincia, corpo e sade

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    compreendida como uma fsica social. J para Durozoi e Roussel, (1993) as cincias privilegiadas por Comte, por sua natureza experimental, seriam cinco, a saber: astronomia, fsica, qumica, a fisiologia e a sociologia, em ordem crescente de complexidade.

    Acima de tudo, ressalta-se a idia positivista de que nos impossvel conhecer a realidade ltima das coisas (a coisa-em-si), admitindo unicamente as certezas experimentais. Isto estimulou muito a cincia no final do sculo XIX, sendo que

    [...] despertou o gosto pela histria das cincias, e inspirou a epistemologia nascente embora a ltima, contestando a linearidade do progresso cientfico ou o valor absoluto atribudo cincia tenta dele se desprender a vrias dcadas. (DUROZOI E ROUSSEL, 1993, p. 374-375).

    Na concepo comteana de cincia, esta como um saber acabado, dado revelao, como algo que j existia. (ARANHA & MARTINS, 1993).

    Porm, a grande contribuio para o positivismo veio com Spencer, na vertente do positivismo evolucionista. Como pressupostos positivistas, destacam-se que:

    - sendo a cincia o nico saber possvel, este deveria guiar toda a atividade humana, em todos os campos. - o mtodo da cincia puramente descritivo, devendo mostrar as relaes constantes entre os fatos, ou a gnese evolutiva dos fatos complexos a partir dos fatos mais simples. (ABBAGNANO, 2007)

    Assim, tomando-se o positivismo como a cincia em si, e esta como o nico saber legtimo, no h espao para contribuies de outras instncias epistmicas. A sade compreendida pelo conhecimento biomdico limita-se a encontrar apenas o que pode explicar, ou descobrir, como uma relao nova entre fatos que era desconhecida at ento.

    Quando esta atividade humana reduzida tecno-cincia, tambm se torna fcil dissimular responsabilidades sociais. A contribuio foucaultiana sobre o biopoder nunca foi to atual; o corpo esquadrinhado e disciplinado, terreno aberto aos mecanismos de controle (FOUCAULT, 2008).

    O corpo e a sade passam a ser instncias de domnio muito mais eficazes, quanto maior o conhecimento material sobre eles. Assim, o domnio pelo corpo imposto pelo sistema capitalista, de acordo com a perspectiva adotada

    por Foucault (2008), refuta a tese de que o corpo teria sido negado pela sociedade capitalista, em prol de um projeto idealista.

    E Foucault (2008) ainda destaca que o conhecimento produzido sobre o corpo, foi o mesmo que permitiu sua conscincia:

    Como sempre, nas relaes de poder, nos deparamos com fenmenos complexos que no obedecem forma hegeliana da dialtica. O domnio, a conscincia de seu prprio corpo s puderam ser adquiridos pelo efeito do investimento do corpo pelo poder: a ginstica, os exerccios, o desenvolvimento muscular, a nudez, a exaltao do belo corpo [...] (FOUCAULT, p. 146 2008)

    Deste cenrio, observa-se como a exaltao do corpo e o ideal de sade passaram pelo projeto poltico de domnio. Na perspectiva de Foucault, a sade no foi individualizada, mas massificada pelos mecanismos de controle. Apesar de um ponto de vista diferente do conceito da sade coletiva, tem-se em comum que de qualquer maneira a realidade negligenciada em favor de um fracionamento positivista.

    Sobre o tema, Luz (2005) apontar que [...] por mais paradoxal que parea a primeira vista, a prpria ideologia hedonista de valorizao do corpo, da individualidade, da beleza e da conservao da juventude associada fisicultura, ensejou o aparecimento e o desenvolvimento de novas representaes de corpo, indivduo, pessoa e saudabilidade, que tendem a se opor... s representaes e concepes desses temas classicamente ligados cultura mdica [...] (LUZ, p. 49, 2005)

    Nota-se que de maneira diversa, Luz (2005) coloca que estes ideais de sade e beleza resgatam um neo-naturismo ecolgico, que tende a contra-atacar a ameaa planetria representada pelo paradigma biomdico / farmacolgico. Estaria na verdade a interveno tecno-cientfica da educao fsica corroborando este ideal? Ou no seria este o ardil anunciado por Foucault?

    Werneck (1995) coloca que a educao fsica vem corroborando o uso do corpo pelo poder principalmente pela sua nfase esportivista, que incita valorizao do corpo dcil, do corpo forte e do corpo bonito. Segundo a autora, apoiando-se na filosofia de Thomas Hobbes, o corpo poltico deve integrar uma formatao do estado absoluto, e quando ele tratado unicamente por sua realidade biolgica, torna-se muito mais fcil

  • C. R. B. Novaes

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    de manipulao, afinal o corpo no pensa. V-se, portanto, que a perspectiva positivista de cincia como porta-voz do real culmina por permitir que a explicao biomdica do corpo torne o indivduo coisificado, e a sade loteada entre diversas reas, que brigam pelo direito de nomear sua prpria relao de causa-efeito nas diversas patologias.

    Em contraposio a estas formas de pensar, as cincias humanas foram um solo frtil onde, no sculo XX, quando a razo entra em crise e se perde a equivalncia entre o real e o racional, surge o perspectivismo como crtica s verdades absolutas. Inicia-se o despontar de perspectivas compreensivistas da realidade - fenomenolgicas ou hermenuticas. A seguir, apontaremos a abordagem hermenutica como patamar de dilogo, e as perspectivas observadas a partir da motricidade humana.

    Hermenutica e a compreenso na sade: apontamentos para a Cincia da Motricidade Humana

    Ao estabelecer-se aqui a hermenutica como recurso metodolgico escolhido para esta pesquisa, apresentam-se algumas particularidades em comum, entre a prpria configurao desta metodologia e a Cincia da Motricidade Humana (CMH). Sobre a hermenutica, Coreth (1973) lembra a origem grega da palavra, significando declarar, anunciar, interpretar e, por ltimo, traduzir.

    Pode-se destacar a partir destes termos que todos levam a um ncleo comum de entendimento, como tornar algo compreensvel, o ato ou fenmeno da compreenso. Na configurao da CMH, o Prof. Manuel Sergio coloca que a aurora desta nova cincia anuncia para sua pr-cincia, a hodierna Educao Fsica, o deslocar do eixo epistemolgico das cincias biolgicas para as cincias do homem, realando o valor da compreenso ante a explicao, enquanto procedimento hegemnico no saber cientfico da rea at ento.

    Outra caracterstica que ombreia e aproxima as investigaes entre a hermenutica e a CMH o questionamento ontolgico do homem, como destaca Sergio (2003b) no estudo da motricidade humana e da corporeidade; assim como aponta Heidegger, que segundo Coreth (1973) parte de uma compreenso inicial do ser histrico

    projetado no mundo (ser-a), chegando ao entendimento final do ser a partir da linguagem.

    O termo hermenutica pode ter surgido de Hermes, mensageiro dos deuses e criador da escrita e da leitura (CORETH, 1973). Esta origem reala o carter inicialmente religioso desta forma de saber, compreendida aqui exatamente como uma maneira; isto , o mtodo.

    Foi empregada como doutrina da boa interpretao ou arte da compreenso dos escritos bblicos, uma forma de entender corretamente a palavra divina. Entretanto os questionamentos sobre o significado da compreenso histrica, fusionada a partir da aquiescncia dos vrios horizontes de compreenso, (livre dos condicionamentos pessoais) ou o prprio desejo de entender uma verdade universal, no so novos, antecedendo textos profanos (CORETH, 1973). No ser intuito aqui historiar sua origem; servindo a este propsito inicial compreender que a hermenutica gradualmente secularizou-se, a partir de um movimento histrico crtico, que culminou com a contribuio de Heidegger e Gadamer.

    Porm, ser com Friedrich Schleiermacher que a questo do conceito de hermenutica entrar no contexto filosfico (CORETH, 1973; RICOEUR, 1976).

    Para Scheiermacher, a hermenutica [...] a arte da compreenso ou, mais exatamente, uma arte que, como tal, no visa o saber terico, mas sim o uso prtico, isto , a prxis ou a tcnica da boa interpretao de um texto falado ou escrito. Trata-se a da compreenso, que se tornou desde ento o conceito bsico e a finalidade fundamental de toda questo hermenutica. [...]. (CORETH, 1973, p. 23)

    Schleiermacher parte da idia de um contexto vital, no qual faz a distino entre uma compreenso divinatria e uma compreenso comparativa: a primeira, possuindo um forte componente subjetivo, significa uma adivinhao espontnea; a segunda apia-se nos conhecimentos objetivos, deduzindo o sentido a partir da comparao ou do contexto dos enunciados (CORETH, 1973).

    Neste momento, apresenta-se aqui um conceito-chave: o crculo hermenutico pressupe que estas duas formas de compreenso devam funcionar em uma simbiose: [...] no qual o momento divinatrio significa a projeo espontnea de uma precompreenso

  • Cincia, corpo e sade

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    (sic), graas a qual se guia a elaborao comparativa [...] como destaca Coreth, (1973, p. 19). Assim, o autor destaca que para Scheiermacher, pode-se definir a hermenutica como a reconstruo histrica e divinatria, objetiva e subjetiva, de um dado discurso.

    Ricoeur (1976) aponta que, a partir da inteno de elucidar como deciframos o discurso escrito, a explicao e a compreenso funcionam de modo dialtico, ressaltando que a dicotomia entre elas existiria em uma hermenutica romntica, na qual a explicao e a compreenso representariam formas de inteligibilidade distintas. O autor apresenta uma aproximao conceitual, no uma definio estrita destes dois fenmenos:

    A explicao encontra seu campo paradigmtico de aplicao nas cincias naturais. Quando h factos externos a observar, hipteses a submeter verificao emprica, leis gerais para cobrir tais factos, teorias para conter as leis num todo sistemtico, e a subordinao de generalizaes empricas a procedimentos hipottico-dedutivos, ento podemos dizer que explicamos. (RICOEUR, 1976, p. 84)

    Assim, este modelo de inteligibilidade tem a natureza como um horizonte comum de fatos, leis, hipteses e dedues. Sobre a compreenso, por sua vez, considera que

    [...] o seu campo originrio de aplicao (est) nas cincias humanas [...] onde a cincia tem a ver com a experincia de outros sujeitos ou de outras mentes semelhantes as nossas. Funda-se no carter significativo de formas de expresso como signos fisionmicos, gestuais vocais, ou escritos, e em documentos e monumentos que partilham com a escrita o carter geral de inscrio. [...] (RICOEUR, 1976, p. 84)

    O autor faz ainda a ressalva acerca da escrita de documentos e monumentos, sendo que estas no so menos significativas do que tipos imediatos de expresso (a fala ou o gesto, por exemplo); pois permitem um acesso indireto s experincias de outras mentes, dada a continuidade entre signos diretos e indiretos na comunicao entre ns mesmos e outras pessoas. Assim, tem sua seguridade na empatia, como princpio comum a toda forma de compreenso.

    Observa-se neste instante mais um ponto comum de aproximao entre a hermenutica e a CMH. Assim como a CMH, partindo do paradigma da complexidade e fenomenologia, prope a transposio da viso cartesiana do homem - corpo biolgico e alma imaterial (SERGIO,

    2003b), a hermenutica de Ricoeur (1976) propor um entendimento dialtico entre a explicao e compreenso, que tendem a sobrepor-se e a transitar uma para a outra (p. 84), superando a dicotomia encontrada na hermenutica romntica; esta separao para Ricoeur simultaneamente epistemolgica e ontolgica. Ope duas metodologias e duas esferas de realidade: a natureza e o esprito.(1976, p. 85)

    Assim, Ricoeur (1976) compreende as idiossincrasias de cada uma destas formas de inteligibilidade, como os processos de anlise e sntese, apontando que na explicao se desdobram as proposies e significados, e na compreenso se apreende a cadeia dos sentidos parciais como um todo, em um acto de sntese.

    Apesar desta distino, Ricoeur (1976), especificamente no caso do discurso no considera que estas diferenas obstem a simbiose dos dois fenmenos:

    [...] a compreenso, que se dirige mais para a unidade intencional do discurso, e a explicao, que visa mais a estrutura analtica do texto, tendem a tornar-se os plos distintos de uma dicotomia desenvolvida. Mas tal dicotomia no vai ao ponto de destruir a dialtica inicial do significado do locutor e da enunciao (...) Da mesma maneira, a polaridade entre explicao e compreenso na leitura no deve abordar-se em termos dualistas, mas como uma dialtica complexa e altamente mediada. [...] (RICOEUR, 1976, p. 86)

    A hermenutica assim aponta para uma epistemologia onde se observa uma aproximao entre a explicao e a compreenso, fundadas em uma ontologia de homem que no ope estas duas formas de inteligibilidade, realando a dialtica sutil que existe entre elas.

    Da observao deste cenrio, onde a aproximao com a ontologia hermenutica oportunizada e compartilhada pela motricidade humana, pode assim o corpo ser concebido como uma totalidade, compreendendo que sua natureza material e fisiolgica mostra-se insuficiente sem os significados a ela atribudos por um sistema cultural, para se entender o fenmeno da sade.

    Como exemplo desta forma de pensar, Porter (1992) nos traz o exemplo de como a mesma enfermidade pode ter interpretaes diferentes, dependendo de seu nicho cultural. Baseando-se no historiador e antroplogo da medicina Arthur Kleinman, aponta como o quadro sintomtico de

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    depresso pode ser diagnosticado de maneiras totalmente distintas, nos Estados Unidos e na China. O americano se sentir a vontade para procurar um psicoterapeuta, tratando seu mal como um tipo de neurose. Na China, uma pessoa que sofra com este problema ser tratada como possuidora de uma desordem fsica, orgnica. Somente como sofredor de uma doena fsica

    [...] permitido ao chins assumir o papel de doente, e pode, por isso, merecer simpatia e ateno. Ao contrrio, se ele alegasse, como seu correspondente americano, alguma perturbao mental, teria sido uma admisso terrvel e debilitante de defeito e desvio de carter, o que lhe teria trazido estigma e desvantagens. (PORTER, 1992, p. 307)

    Os diferentes significados atribudos ao corpo, sade e a doena, parecem tambm sofrer de uma desorientao ontolgica, nos dizeres de Gusdorf (1982). Pois se o desprezo medieval do corpo pelo homem parece ter sido superado, a disjuno entre a vida vivida, encarnada, e a vida exterior, pertinente a uma vida objetivada, ainda traz um conflito

    [...] os homens de hoje no parecem de fato ter resolvido verdadeiramente a questo de saber se o corpo o mesmo ou um outro de um indivduo cujo destino est ligado a este corpo. Praticamente, tudo se passa como se o homem possusse dois corpos; de um lado, um organismo, um objeto material, representado nos livros de anatomia, de fisiologia e de patologia, que so do domnio dos especialistas da histria natural; e de outro lado, um corpo vivido, meu corpo que eu conheo no pelo exterior, mas de dentro. (GUSDORF, p. 128, 1982)

    O maior exemplo das repercusses desta condio existencial para a sade acontece quando a patologia, enquanto situao vivida acomete o prprio mdico. O autor destaca a notoriedade de como o mdico doente perde sua capacidade de diagnstico e observao, tornando-se [...] incapaz de se cuidar porque o corpo-objeto, o dos outros, no , no todo, idntico ao corpo-sujeito, o seu prprio [...]. (GUSDORF, p. 128, 1982).

    Sobre este ponto, o autor tambm destaca que se o estado integral da vida de uma pessoa, quando debilitado, pode torn-la propensa a adoecer, se deveria pensar que o contrrio tambm pode cur-la; ou seja, quando seu estado integral melhorar, a molstia tende a desaparecer mais rapidamente. Claro fica que esta integralidade s pode ser atingida quando compreendida, isto , quando se leva em

    considerao, e na mesma medida, a psique, os valores culturais, situao social, etc.

    Assim, constata-se que a sade quando observada a partir de um referencial analtico apenas, positivista, neutraliza as percepes individuais e inter-individuais, enquanto instncias epistmicas permeadas de cdigos de significao, valores, e vivncias passadas. Para se compreender o fenmeno da sade, preciso conceber o indivduo integralmente, e tal concepo ser fruto de uma dialtica explicativa / compreensiva.

    O discurso embasado a partir das abordagens epistemolgicas deixa implcita ou explicitamente os conceitos de corpo e sade que devem nortear as intervenes profissionais, e as conseqncias polticas e sociais dos mesmos.

    Deste modo, ganha relevncia o corte epistemolgico proposto por Sergio (2003a) que, corporificado na proposta da cincia da motricidade humana, apresenta uma rea de interveno e estudos da conduta motora como promoo de sade globalmente compreendida.

    Apresenta-se a seguir uma abordagem desta proposta, a partir dos contrapontos com o paradigma vigente da educao fsica.

    Da educao fsica motricidade humana

    A perspectiva da cincia da motricidade humana, teorizada pelo Prof. Dr. Manuel Sergio, apresenta para a comunidade acadmica uma alternativa problemtica oriunda do cartesianismo e dos ditames biomdicos sobre os quais a rea da educao fsica estaria radicada. Num primeiro momento de reflexo deteve-se sobre os estudos da conduta motora, na qual

    [...] o Homem persegue a superao e o sonho, nomeadamente o desporto e a dana, mas sem esquecer a educao especial e a reabilitao, a ergonomia, o jogo desportivo tpico do lazer e recreao e a motricidade infantil. (SERGIO,2003a, p. 182).

    Em um segundo momento de reflexo concebe que a matriz terica da conduta motora a motricidade humana, entendendo a educao fsica como a pr-cincia da Cincia da Motricidade Humana; assim, seu ramo mais conhecido, o ramo pedaggico passaria a ser denominado de educao motora.

    Seus questionamentos partem da reflexo crtica sobre qual a base de conhecimento que

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    concederia cientificidade s faculdades de Educao Fsica e o seu objeto de estudo. Criticou sobremaneira a viso parcial de sade e do conceito de Homem.

    Desta maneira, a educao fsica balizada nas concepes clssicas de cincia deveria ser suplantada por uma viso holstica e ecolgica que conseguisse abordar a natureza humana dinmica e em constante interao e auto-organizao com o seu meio. Em sua crtica acerca da concepo curricular que norteava a educao fsica at ento, aponta que:

    A tradio cinqentenria de formar professores para o ensino secundrio enclausurou os currculos das Faculdades de Educao fsica e Desporto, num pedagogismo ou num biologismo, que no se pensava epistemologicamente... (apontando o escopo de estudos de sua proposta como)... o desenvolvimento humano, atravs da motricidade, pelo estudo do corpo e das suas manifestaes, na interaco dos processos biolgicos com os valores socioculturais.(SERGIO, 2003a, p. 26-27)

    Nota-se desta maneira que rejeita tanto o pensamento pedagogicista que coloca a rea da Educao Fsica como sub-campo do campo pedaggico, como o pensamento biologicista que tambm mantm a rea sob o jugo de um higienismo mdico ou a servio de um fisiologismo desportivo. Assim, somente atravs da assuno da integralidade do ser humano que se pode tangenciar tal fenmeno.

    Sobre o tema, SERGIO (1989) explica em seus primeiros estudos que somente nas cincias do homem pode radicar-se a motricidade humana, considerando esta [...] como estrutura essencial da complexidade humana (SERGIO, 1989, p 84).

    A partir da base estabelecida pelos estudos iniciais, o autor analisou de modo crtico que a educao fsica, at ento, nunca havia precisado se legitimar epistemologicamente, [...] ou seja, de encontrar em si as formas e as razes da sua prpria cientificidade, precisamente porque o Poder sempre se serviu dela e nunca a serviu como instrumento insubstituvel de conhecimento e transformao.(SERGIO 2003a, p.183). Desta feita, critica a busca de legitimidade pelo discurso da demanda social, apontando os limites de um papel meramente formativo, de conotao reprodutiva:

    [...] No podemos continuar com aquela tendncia psicolgica que adopta como critrio da legitimao o interesse da juventude pelas

    actividades corporais (nomeadamente o desporto); nem a tendncia sociolgica, que toma como critrio essencial a sua importncia na sade e no lazer das populaes; nem a tendncia pedaggica (de que se socorrem aflitivamente todos os saberes, sem autonomia) que sublinha numa disciplina to-s o seu valor formativo. [...] (SERGIO, 2003a, p. 183)

    Assim, a Cincia da Motricidade Humana seria possvel a partir de um corte epistemolgico que surgiria da transio do paradigma da simplicidade para o paradigma da complexidade; Sergio (2003a) ilustra o cenrio epistemolgico que remonta a essa transio, a partir da Idade Moderna, quando a cincia acomodou-se docilmente sob o domnio da burguesia, que, a partir de uma confrontao da natureza ou da razo ante os desgnios da Monarquia ou da Igreja, passa a ignorar paulatinamente as relaes com a totalidade, ocupando-se em uma especializao dos saberes.

    A transio da importncia do entendimento e da manipulao da energia para o domnio da informao, da revoluo industrial (a partir da segunda guerra) para a revoluo informtica (dos watts para os bits), denota que os referenciais de entendimento do mundo se transformaram, dando lugar a um universo incerto, onde a construo e a desconstruo adquirem a mesma importncia; no mbito da cincia, esta passa a compreender-se mais como uma criao do que como uma descoberta.

    Destacando os principais pontos deste cenrio, Sergio (2003a) aponta a passagem de [...] uma epistemologia do objecto observado a uma epistemologia do sujeito observador [...] ; de uma cincia da necessidade a uma cincia do jogo, e porque tudo est em jogo, emergem o acaso e a contingncia, a crise evidente. (p. 189).

    Portanto, ganha relevo a questo acerca da imanncia e da transcendncia do homem, sua existncia em opostos, e conflitos prprios de nossa sociedade em constante transformao; a necessidade de compreenso do homem a partir da motricidade humana residiria nesta incompletude, justamente neste esforo pelo vir-a-ser.

    Destaca-se que a abordagem proposta pela Cincia da Motricidade Humana para esta realidade/fenmeno o homem e sua busca pela transcendncia - aponta que a partir de um mtodo integrativo, a explicao e a

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    compreenso podem engendrar-se com a mesma importncia.

    Apresenta-se, por fim, algumas reflexes sobre as possibilidades de pensar o tema do corpo e da sade, a partir do referencial epistemolgico adotado pela motricidade humana.

    Consideraes finais Cincia, corpo e sade na Motricidade humana

    A concepo de corpo a partir da CMH ganha relevo a partir da crtica interpretao clssica, na qual a materialidade do corpo concebida como limite. Compreende o avano necessrio compreenso do homem a partir da motricidade humana, rompendo com os efeitos da profunda distino entre res cogita e res extensa, que apregoam que a mente deva ser estudada [...] atravs da introspeco e o corpo de acordo com os mtodos especficos das cincias da natureza.(SERGIO, 2003b, p. 181).

    Na compreenso do homem como um ser prxico, no especializado e carenciado, tm-se a motricidade como a prpria energia e apelo transcendncia, ao adaptar-se ao ambiente varivel do mundo; concebe ento a motricidade como prprio estatuto ontolgico; [...] processo criativo de um ser em que as prxis ldicas, agonsticas, simblicas e produtivas traduzem a vontade e as condies de o Homem se realizar como sujeito, ou seja, como autor responsvel dos seus atos. (SERGIO, 1989, p.83). Assim, da equivalncia entre corporeidade e motricidade, podemos conceber que o conceito de corpo a partir da Cincia Motricidade Humana prope uma compreenso do prprio homem a partir de sua condio corprea e da intencionalidade dos atos imanentes a esta condio, que simultaneamente tambm constroem esta condio de modo transcendente.

    O corpo assim passa a significar uma revoluo de valores tambm, quando traz consigo a ciso das tradicionais dicotomias natureza/cultura, razo/emoo, teoria/prtica, entre outras. Tais dicotomias mostram razes antigas, como destaca Sergio (2003b), ao apontar a distino entre a physis e o logos, perpetuada em nossa tradio intelectual; esta distino opera a uma hierarquizao de valores para o homem moderno:

    A definio do homem, como animal racional, sublinha bem o valor do logos e o pouco valor da physis que deveria ser conduzida pela razo, j que na physis se integravam tambm os sentimentos, as emoes, o sonho, a fantasia e o imaginrio. (SERGIO, 2003b, p. 11)

    Esta distino perpetuou-se na modernidade fazendo surgir, neste perodo, a educao fsica, com o intuito de cuidar do corpo fsico do homem; [...] de facto, a educao fsica desponta do dualismo antropolgico cartesiano e visa criao do homem-mquina. (SERGIO, 2003b, p. 12). O autor aponta ainda que, de certa maneira, a inteno de se cuidar do corpo fsico, natural, apresenta o limite da poca, pois o corpo-cultura ainda no era conhecido.

    Entretanto, Sergio (2003b) tambm permite uma ressalva acerca do excesso; o corpo manipulvel, nas mos da cincia, pode forjar um corpo ps-moderno, o corpo cyborg, que prescinde a fuso de partes mecnicas, dada a existncia de um design tecnolgico do corpo. Assim, na CMH o corpo poderia perspectivar um espao de dilogo entre os discursos oriundos do idealismo e do materialismo, a partir dos quais as modernas neurocincias, a biotecnologia e as diversas vertentes psicolgicas e filosficas podero expressar-se.

    Neste sentido o pensamento de Gusdorf (1960) permite desmascarar a dualidade ontolgica, a partir de uma perspectiva fenomenolgica sobre a suposta neutralidade cientfica, que aparece com a objetivao do corpo:

    A dualidade substancial do corpo e do organismo parece que, deste modo, se resolve em simples diferena de perspectiva entre cincia e conscincia. Ora, a cincia um momento da conscincia. Se meu pensamento, minha conscincia vivida uma rede de inteligibilidade, tambm meu corpo constitui uma rede de inteligibilidade [...] os hormnios no so somente dados biolgicos, seno que entraram de maneira mais ou menos precisa no campo da conscincia individual, e intervm na intimidade da relao vivida de cada homem com seu corpo. (GUSDORF, p. 280, 1960)

    A aproximao e o entrecruzar de saberes epistmicos distintos, como exemplificado por Gusdorf, mostra que os avanos cientficos modificam as relaes histricas e sociais do homem, sua conscincia, tanto quanto a simbolizao destes avanos tambm modifica a realidade objetiva da prpria cincia. Quando o autor aponta a cincia como um momento de conscincia, pode-se inferir a dimenso artesanal

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    da atividade cientfica como um construto humano.

    A dicotomia ontolgica do homem tem como conseqncia o j mencionado loteamento da sade, relembrando que a questo da fragmentao do conhecimento no est em sua especializao, mas sim na falta de aquiescncias conceituais mnimas entre as reas (GREENDORFER, 1987)

    O olhar que busca a apreenso global do fenmeno tende a conjugar todas as dimenses do indivduo na configurao do seu estado, saudvel ou no; inclusive, levando em considerao seu nicho social, valores culturais e morais.

    A enfermidade no pode ser compreendida como agresso puramente fsica ou biolgica, como ataque material integridade orgnica. Ela traz arena do debate a personalidade inteira, que, na medida de suas posses, resiste ao agente patognico. (GUSDORF, p. 286, 1960)

    Desta maneira, se estaria relativizando a noo causal, para a compreenso da abrangncia do fenmeno.

    Para alm do duplo jogo dos sintomas orgnicos ou psquicos, h uma essncia normativa da sade ou da enfermidade, essncia esta que define a personalidade prpria de cada homem, e que ele nunca lograr medir com exatido. Por outras palavras, admitia-se outrora que fulano ou sicrano possua mau-carter por ser doente do estmago. De pouco ou nada serviria inverter os termos e dizer que ele est doente do estmago por ter mau carter. O carter e a doena tem aqui a mesma significao: do-se-nos como duas expresses de uma situao vivida mal emprenhada na existncia e como que em equilbrio instvel. O lao causal cede o lugar ao reconhecimento da unidade de inteno (GUSDORF, p. 288, 1960)

    Quando trazemos esta situao para a interveno a partir da atividade fsica se estar aqui utilizando o vocabulrio pertinente educao fsica atual que cenrios podemos imaginar a partir disto?

    O tema levantado no incio de nossa comunicao, sobre atividade fsica e sade, nos leva a algumas questes que merecem aprofundamentos:

    - o que concorre para que uma pessoa adquira um comportamento ativo e passe a tom-lo como hbito, e outra pessoa no? Sem dvida, a esta altura do texto, espera-se que j se note o nmero de fatores a se considerar, muito alm da indolncia.

    - quais as diferenas intrnsecas entre os diversos tipos de comportamentos motores que compe nossa cultura (lutas corporais, danas, esportes, jogos, etc.) no mbito existencial; isto , o que significam para a existncia de quem se empenha nestas vivncias? Pois se admitimos que, quando se move, a pessoa denuncia um pouco de sua personalidade (seja um trao momentneo de s eu estado, ou de seu carter mais profundo), plausvel concordar que a recproca entre o gesto e o indivduo seja verdadeira.

    Assim, o que de fato sabemos sobre a influncia da prtica sistemtica de determinados gestos, componentes de um sistema prprio de significados? O que torna algum um(a) ginasta, um(a) lutador(a), um(a) bailarino(a), ou uma mergulhador(a)?

    - Considerando o grande nmero de pessoas que ingressam no culto exacerbado do corpo (obviamente considerado aqui como parcela fragmentada do eu, em algum nvel patolgico) e para isso degradam-se em prticas excessivas, dietas, e uso indiscriminado de substncias, claro fica que no se pode advogar de maneira inocente que atividade fsica sempre promova a sade. O exemplo ganha relevo quando levamos em conta a populao olmpica, que se movimenta muito mais do que o resto do planeta, mas tambm recordista no uso de drogas, cirurgias e quadros de depresso e estresse. Qual a exata ordem, ou parmetros para conceituar a relao entre movimento e sade?

    Assumindo-se assim o projeto da cincia da motricidade humana e o corte epistemolgico proposto, pode-se vislumbrar um universo de possibilidades a serem exploradas, revestindo-se tal labor de grande audcia.

    A condio ontolgica do homem a partir da CMH apresenta assim a necessidade de uma reviso curricular dos saberes que norteiam as disciplinas cientficas e as reas de conhecimento, dada a ruptura e a hierarquia entre os saberes intelectuais ou cognitivos em detrimento dos saberes prticos. Assim, intelectualidade, arte, e as diversas formas de saber gozaro de eqidade nas instncias acadmicas.

    A compreenso da necessidade de estabelecer mediaes proposta pela CMH entre as tradicionais disciplinas de sua pr-cincia, a educao fsica, mostra que a ruptura no prope a negao dos conhecimentos constitudos at ento, mas um novo olhar sobre eles.

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    Endereo: Caio Rotta Bradbury Novaes Rua Dom Joo de Castro, n. 22 apto 2E. Largo do Rio Seco Ajuda Lisboa Portugal e-mail: [email protected] Recebido em: 1 de novembro de 2008. Aceito em: 30 de maro de 2009.

    Motriz. Revista de Educao Fsica. UNESP, Rio Claro, SP, Brasil - eISSN: 1980-6574 - est licenciada sob Licena Creative Commons