ciência política

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    Srie Bibliogrfica Unit

    CINCIA POLTICA

    CINCIAP

    OLTICA

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    Cincia Poltica

    Augusto Csar Feitosa

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    Jouberto Ucha de MendonaReitor

    Amlia Maria Cerqueira UchaVice-Reitora

    Jouberto Ucha de Mendona JuniorPr-Reitoria Administrativa - PROAD

    Ihanmarck Damasceno dos SantosPr-Reitoria Acadmica - PROAC

    Domingos Svio Alcntara MachadoPr-Reitoria Adjunta de Graduao - PAGR

    Temisson Jos dos SantosPr-Reitoria Adjunta de Ps-Graduaoe Pesquisa - PAPGP

    Gilton Kennedy Sousa FragaPr-Reitoria Adjunta de Assuntos

    Comunitrios e Extenso - PAACEJane Luci Ornelas FreireGerente do Ncleo de Educao a Distncia - Nead

    Andrea Karla Ferreira NunesCoordenadora Pedaggica de Projetos - Nead

    Lucas Cerqueira do ValeCoordenador de Tecnologias Educacionais - Nead

    Equipe de Elaborao eProduo de Contedos Miditicos:Alexandre Meneses Chagas - Supervisor

    Ancjo Santana Resende - CorretorAndira Maltas dos Santos DiagramadoraBruno Costa Pinheiro - WebdesignerClaudivan da Silva Santana - DiagramadorEdilberto Marcelino da Gama Neto DiagramadorEdivan Santos Guimares - DiagramadorFbio de Rezende Cardoso - WebdesignerGeov da Silva Borges Junior - IlustradorMrcia Maria da Silva Santos - CorretoraMatheus Oliveira dos Santos - IlustradorMonique Lara Farias Alves - WebdesignerPedro Antonio Dantas P. Nou - WebdesignerRebecca Wanderley N. Agra Silva - Designer

    Rodrigo Otvio Sales Pereira Guedes - WebdesignerRodrigo Sangiovanni Lima - AssessorWalmir Oliveira Santos Jnior - Ilustrador

    Redao:Ncleo de Educao a Distncia - NeadAv. Murilo Dantas, 300 - FarolndiaPrdio da Reitoria - Sala 40CEP: 49.032-490 - Aracaju / SETel.: (79) 3218-2186E-mail: [email protected]: www.ead.unit.br

    Impresso:

    Grfica GutembergTelefone: (79) 3218-2154E-mail: [email protected]: www.unit.br

    Banco de Imagens:Shutterstock Copyright Sociedade de Educao Tiradentes

    F311c Feitosa, Augusto Cesar.Cincia poltica. / Augusto Cesar Feitosa.

    Aracaju : UNIT, 2010.152 p.: il. : 22 cm.

    Inclui bibliografia

    1. Poltica. I. Universidade Tiradentes Educao Distncia II. Titulo.

    CDU : 32

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    Prezado(a) estudante,A modernidade anda cada vez mais atrelada ao

    tempo, e a educao no pode ficar para trs. Provadisso so as nossas disciplinas on-line, que possibi-litam a voc estudar com o maior conforto e comodi-dade possvel, sem perder a qualidade do contedo.

    Por meio do nosso programa de disciplinas on-line voc pode ter acesso ao conhecimento de formarpida, prtica e eficiente, como deve ser a sua formade comunicao e interao com o mundo na moderni-dade. Fruns on-line, chats, podcasts, livespace, vde-os, MSN, tudo vlido para o seu aprendizado.

    Mesmo com tantas opes, a Universidade Tiradentes

    optou por criar a coleo de livros Srie Bibliogrfica Unitcomo mais uma opo de acesso ao conhecimento. Escritapor nossos professores, a obra contm todo o contedoda disciplina que voc est cursando na modalidade EADe representa, sobretudo, a nossa preocupao em garantiro seu acesso ao conhecimento, onde quer que voc esteja.

    Desejo a voc bom aprendizado e muito sucesso!

    Professor Jouberto Ucha de Mendona

    Reitor da Universidade Tiradentes

    Apresentao

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    Sumrio

    Parte 1: A Gnese da Poltica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Tema 1: Desmistificando a Poltica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    1.1 A Construo do Espao Pblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

    1.2 A Sociedade e o Estabelecimento das Relaes . . . . . . . 25

    1.3 Movimentos Sociais e a Construo do Discurso Poltico . . .34

    1.4 O Poder Poltico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    Tema 2: A Cincia Poltica Enquanto Cincia Social . . . . . . . . . . . . . . 51

    2.1 A Poltica e a Academia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    2.2 O Estado: Funo e Origem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    2.3 As Formas de Governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    2.4 O Sistema Representativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    Parte 2: Temas e Pensadores da Poltica. . . . . . . . . . . 85

    Tema 3: Pensadores da Poltica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .87

    3.1 Maquiavel: A Poltica Moderna . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    3.2 Hobbes: O Leviat . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

    3.3 Locke: A Propriedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

    3.4 Rousseau: A Igualdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    Tema 4: Temas de Poltica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

    4.1 A Democracia e a Participao Popular . . . . . . . . . . . . . . .122

    4.2 A Ideologia e as Palavras de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . .129

    4.3 Liberdade e Opinio Pblica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .135

    4.4 A Guerra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

    Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

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    Ementa

    Desmistificando a Poltica:A Construo do Es-pao Pblico; A Sociedade e o Estabelecimento dasRelaes; Movimentos Sociais e a Construo doDiscurso Poltico; O Poder Poltico.A Cincia Polticaenquanto Cincia Social: A Poltica e a Academia; OEstado: Origem e funo; As Formas de Governo; OSistema Representativo. Pensadores da Poltica:Ma-quiavel: A Poltica Moderna; Hobbes: O Leviat; Locke:A Propriedade; Rousseau: A Igualdade.Temas de Po-ltica:A Democracia e a Participao Popular; A Ideo-logia e as Palavras de Ordem; A Liberdade; A guerra.

    Objetivos

    Geral

    Analisar os elementos que compem o pensa-mento poltico identificando a aplicabilidade da dis-ciplina na sua formao. Traando um perfil histri-co dos principais fatos, autores e temas. As cinciassociais visam estimular o senso crtico e ampliar asferramentas de anlise social do educando.

    Especficos

    Conhecer as principais correntes ideolgicasdo pensamento poltico;

    Entender a dinmica das relaes de poderinerentes tessitura social;

    Apreender a traar um olhar crtico sobre ahistria;

    Concepo da Disciplina

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    Conhecer os principais pensadores doPensamento Poltico;

    Compreender o papel das instituies e doEstado;

    Propiciar a reflexo terico-crtica para ainterveno nas expresses da questo social.

    Orientao para Estudo

    A disciplina prope orient-lo em seus procedi-mentos de estudo e na produo de trabalhos cientfi-cos, possibilitando que voc desenvolva em seus traba-lhos pesquisas, o rigor metodolgico e o esprito crticonecessrios ao estudo.

    Tendo em vista que a experincia de estudar a

    distncia algo novo, importante que voc observealgumas orientaes:

    Cuide do seu tempo de estudo! Defina umhorrio regular para acessar todo o contedoda sua disciplina disponvel neste materialimpresso e no Ambiente Virtual de Aprendi-zagem (AVA). Organize-se de tal forma para

    que voc possa dedicar tempo suficientepara leitura e reflexo;

    Esforce-se para alcanar os objetivos pro-postos na disciplina;

    Utilize-se dos recursos tcnicos e humanosque esto ao seu dispor para buscar escla-

    recimentos e para aprofundar as suasreflexes. Estamos nos referindo ao contato

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    permanente com o professor e com os cole-gas a partir dos fruns, chats e encontrospresenciais, alm dos recursos disponveisno Ambiente Virtual de Aprendizagem AVA.

    Para que sua trajetria no curso ocorra de formatranquila, voc deve realizar as atividades propostase estar sempre em contato com o professor, alm deacessar o AVA.

    Para se estudar num curso a distncia deve-se

    ter a clareza de que a rea da Educao a Distnciapauta-se na autonomia, responsabilidade, cooperaoe colaborao por parte dos envolvidos, o que requeruma nova postura do aluno e uma nova forma de con-cepo de educao.

    Por isso, voc contar com o apoio das equipespedaggica e tcnica envolvidas na operacionalizaodo curso, alm dos recursos tecnolgicos que contri-

    buiro na mediao entre voc e o professor.

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    A GNESE DA POLTICA

    Parte 1

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    1Desmistificando a Poltica

    Quando falamos em poltica no estamos falando apenas deum fenmeno social responsvel pelo processo de escolha dos nos-sos governantes. Falamos de uma cincia que possui aspectos muitopeculiares, conforme vamos identificar no decorrer do nosso estudo.Mas para tal iniciaremos com a dissociao da poltica do aspecto

    partidrio para encontr-la no nosso cotidiano.Chamamos a este processo de desmistificao da poltica, iden-

    tificando o cotidiano da ao poltica nas coisas mais comuns com asquais lidamos. J que a poltica est no nosso cotidiano ela possuium espao muito caracterstico, este o espao pblico. Da a ne-cessidade dos polticos em organizarem comcios, em promoverempropagandas acerca dos seus projetos. Compreendendo este espaopercebemos que ele aponta o tempo todo para as relaes estabele-

    cidas na sociedade de um modo geral. Nestas relaes a tenso entregoverno e grupos sociais que reivindicam novas polticas. Por fim,analisamos o poder que um dos problemas centrais do estudo danossa disciplina.

    A Poltica um fenmeno social que nos acompanha integran-do-se de tal maneira forma como ns percebemos e lidamos com arealidade ao nosso redor, que podemos arriscar a constatao de queno teramos mais como viver sem ela. responsvel pelo que de

    mais importante existe nas nossas percepes da realidade, a saber,a tomada de conscincia.

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    A conscincia que professamos expressade forma direta a nossa postura poltica.

    Constitui um fato estritamente humano, osanimais no possuem poltica, por mais organiza-dos que alguns sejam, ela lhes estranha. Pois apoltica um exerccio de racionalidade, de pensa-mento, de ponderao, de estratgia. Convida-nosa repensar os nossos modos de ser e a mobili-zarmo-nos em prol de uma mudana social, ou deuma mudana de postura diante dos fenmenos

    que nos cercam.Construir o prprio modo de viver expressa

    uma condio poltica de extrema importncia paraa humanidade. Exemplo disso so as biografiasque lemos daqueles que nos mostram a vida poruma tica muito prpria. E embora se fale apenasde um indivduo, percebemos na sua histria arepercusso social desta vida.

    Desmistificar a compreenso de polticarestrita queles que fazem parte de um partidopoltico implica percebermos como ela estpresente no cotidiano. O que j pe rcebemoslendo as obras dos pensadores e dos poetas.Nelas expressa-se uma conscincia da realidade,ou seja, uma poltica disseminada nas coisas maissutis. A dimenso pblica de debates e discusses

    acerca de algo, sempre nos joga na esfera poltica.E neste espao se afirmam os diversos movimentossociais.

    1.1 A Construo do Espao Pblico

    Quando se trata do interesse comum, temos aa poltica. Ela algo ligado ao cotidiano das pessoas

    e est inevitavelmente presente nas atividades maissimples, mais elementares, no olhar que lanamos

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    15Tema 1 | Desmistificando a poltica

    sobre a realidade. Somos seres polticos e exerci-tamos tal funo quando nos relacionamos com aspessoas e seus bens simblicos1.

    A origem da ideia de poltica remonta aosgregos da antiguidade. Etimologicamente, a palavrapoltica um desdobramentoda palavra polis,que em grego significa cidade. Neste sentido,poltica algo que aponta para a nossa condiode cidados, de participantes da cidade. De seresque exercem a cidadania em seus desdobramentose possibilidades. Tal noo muito importante para

    os antigos gregos que constituram as bases do pen-samento ocidental, porque corresponde a um senti-mento de unicidade e familiaridade inerente a todosos que correspondem a essa funo, a de cidado2.

    Os antigos pensadores, em especialAristteles,no concebiam a ideia de um ser humano s, semos outros e sem as relaes que nos enlaam, tor-nando-nos, por vezes, to comuns ou, ao contrrio,diferenciando-nos. Paradoxalmente, o que nos fazenvolver com os outros e vivermos em uma socie-dade de massa, ou aquilo que nos impulsiona aviver de forma alternativa, parte do mesmo senti-mento de poltica.

    Em Bobbio(2004) a ideia de Poltica possuidois sentidos:

    - O clssico: o adjetivo politiks, implicanaquilo que se refere cidade. Implica nasideias de urbanidade, vida pblica, civilida-de, sociabilidade, tica.

    - O moderno: o ordenamento ou a proibio dealguma coisa em funo dos arranjos sociais.

    A vida em coletividade uma caracterstica hu-

    mana to ampla que arriscamos a afirmao de ques somos seres-com-os-outros. O hfen proposital

    1 Um bemsimblico, segundoo pensador polticoBourdieu, se confi-

    gura quando a umobjeto artstico oucultural atribudovalor mercantil,sendo consagradopelas leis domercado ao statusde mercadoria.Fonte: http://www.fmemo-ria.com.br/teoriaecritica/pgs/bens_simbolicos.htm

    2 Embora se falede cidadania importantefrisar que entre osgregos antigos OCidado apenaso homem maiorde idade. Crianas,mulheres, escravose estrangeirosestariam apartedo sistema. No

    gozariam dosprivilgios ofertadospelo Estado.Fonte: BARKER, Ernest.Teoria Poltica Grega.Brasilia: Editora da UNB,1978.

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    Cincia Poltica16

    para mostrar como a presena do outro uma marcainapagvel da humanidade. Essa percepo arrasta-se por toda e qualquer compreenso da poltica. Fa-zendo-nos lembrar que para uma vida coletiva neces-sitamos estabelecer regras, normas, diretrizes. Somoscobrados habitualmente e o grau de adequao ouinadequao a um determinado sistema, sempre vaidizer respeito a estas cobranas.

    Se as regras existem, precisamos de rgos,instituies e representantes que as observem eas exponham para todos os membros do corpo

    social. Assim, a poltica apresenta-se, num senti-do primeiro, como ocuidado com as questes dacoletividade e posteriormente como a poltica parti-dria. Exercitamos a poltica, num sentido simples,quando estas questes so identificadas e absor-vidas. Como habitualmente estamos fazendo isso,a poltica est em nosso cotidiano. Conforme po-demos visualizar no clebre poema do dramaturgo

    Bertold Brecht3que fala dessa percepo arraigadade poltica impregnada ao modo de ser de qualquerindivduo, a ponto de que no h como neg-la,recus-la. Tom-la como algo que no nos perten-ce. Se assim o for, chama-se a este indivduo deanalfabeto poltico. Vejamos o que nos diz Brecht:

    O Analfabeto Poltico

    O pior analfabeto o analfabeto poltico,Ele no ouve, no fala,

    nem participa dos acontecimentos polticos.Ele no sabe que o custo de vida,

    o preo do feijo, do peixe, da farinha,do aluguel, do sapato e do remdiodependem das decises polticas.

    O analfabeto poltico to burro que se orgulhae estufa o peito dizendo

    3 Eugen BertholdFriedrich Brecht(Augsburg, 10de Fevereiro de1898 Berlim, 14de Agosto de 1956)foi um destacadodramaturgo, poetae encenador alemodo sculo XX.Seus trabalhosartsticos e tericos

    influenciaramprofundamente oteatro contempo-rneo, tornando-omundialmenteconhecido a partirdas apresentaesde sua companhiao Berliner Ensemblerealizadas em Parisdurante os anos1954 e 1955.

    Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bertolt_Brecht

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    17Tema 1 | Desmistificando a poltica

    que odeia a poltica.No sabe o imbecil que,da sua ignorncia poltica

    nasce a prostituta, o menor abandonado,e o pior de todos os bandidos,que o poltico vigarista,

    pilantra, corrupto e o lacaiodas empresas nacionais e multinacionais.

    (Berthold Brecht4)

    Percebemos que, quando a coletividade atingida, somos atingidos tambm, somos parte.

    Participamos e vivenciamos essa participao sejana escola, seja na feira, seja na igreja. Desse modo,deixamos de pensar que poltica coisa de polticoe assumimos a condio de polticos porque somosparte dela, somos povo.

    A poltica est em nosso cotidiano. Todavia,o povo por si s no se ordena. necessria apresena do governante, que assume a condio

    de representante do povo. Nele so depositadasas expectativas e os interesses gerais e, por isso,o exerccio dessa representatividade se constituicomo a expresso por excelncia da poltica, peloseu carter institucional. Afinal, cada governanteestar aliado a um grupo de ideologias ou prticasque so avaliadas por todos, pelos eleitores. A par-tir de tais noes chamamos a poltica de arte degovernar. Nos regimes democrticos, ela manifesta-secomo a atividade dos cidados pr-ocupadoscom os assuntos pblicos, manifestando seuinteresse com o voto e com sua militncia.

    AVA: Links

    4 Leitura Complementar,Pgina 17

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    Cincia Poltica18

    O governante aquele que atende s vir-tudes e preferncias de uma dada comunidade,responsabilizando-se por identificar e empreendero status da concordncia, ou seja, as condiescom as quais vai se estabelecer o bem comum.Uma conjugao de aes e interesses, quando seconsegue fazer com que os interesses se tornemconvergentes e as diretrizes do ordenamento atin-jam o mesmo fim comum. Esta a poltica queadvm das estratgias daquele que governa. Di-versos exemplos podem ilustrar as definies aqui

    apresentadas. A histria nos enche de heris e vi-les que se envolveram nas teias da poltica. Es-tes povoam at hoje o nosso imaginrio: NelsonMandela (1918), Che Guevara (1928-1967), MahatmaGhandi (1869-1948), Fidel Castro (1926), Janio Quadros(1917-1992), Fernando Henrique Cardoso(1931),Getlio Vargas (1882-1954), entre outros.

    Poltica como a arte de governar implicano uso de recursos de manuteno dopoder para defender os direitos e os in-teresses dos cidados.

    Tanto pela dimenso cotidiana, quanto peladimenso institucional, a poltica deve conduzir aformas de direcionar e ajustar a sociedade, esta-

    belecendo aorganizao. A palavra sociedade nosd a sensao de um fenmeno coeso, mas efeitoapenas da nomenclatura, por nomearmos esse con-glomerado humano por um nico termo. Asocie-dadenos lana em mbitos diversos pelos quaisa ao poltica institui-se gerando a convinciados diferentes, tornando ordenado o que se-ria por natureza catico. Caraterstica que nos

    lana numa enorme complexidade porque habi-tualmente falamos dos nossos interesses, das

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    19Tema 1 | Desmistificando a poltica

    nossas necessidades e pensamos sempre no outrocomo aquele que sabe o que sentimos, ou quesente o mesmo que ns. Saindo dessa condioetnocntrica5, percebemos que exerccio poltico antes de qualquer coisa um exerccio de alteridade6.E neste sentido a poltica apresenta um dos seusaspectos mais importantes, atingir o outro. Um dospontos mais interessantes da vivncia poltica pelodesafio que gerado.

    Falamos do outro, em especial, porque tra-tamos do fato de que temos de dividir o mesmo

    espao. A este nos acomodamos e construmos asformas de sociabilidade. As formas de habitar, in-teragir, dividir constituem-se dentro de certas rela-es de interao. Ora, se dividimos o mesmo espa-o, inevitavelmente nos envolvemos em conflitos.Expressos tanto pelas questes de grupos, clas-ses sociais, por exemplo. E que so mais comunsquando tratamos de poltica, ou polticas. Mas os

    conflitos tambm so expressos pelas diferenasda individualidadede cada pessoa. como se ouniverso da Poltica e a ao do governante tivesseque transitar de um macrocosmo, que chamamosde sociedade, para minsculos microcosmos, ilus-trados pelos diversos grupos sociais e em ltimainstncia pela individualidade de cada indivduo.

    No podemos considerar as individualidades

    um fardo para a gerncia da vida social. Ao con-trrio, nossa individualidade reivindicada sempreque a sociedade se renove em seus parmetros.Para que novas tendncias, novos estilos sejam tra-zidos para o enlace social. Basta olharmos para ahistria e sermos surpreendidos pelo modo comque certos costumes gozavam de normalidade numdado momento. Da mesma forma como assustamos

    aos mais idosos pelos diversos arranjos socias queso constitudos na atualidade. A individualidade

    5 Tomamos umtermo da antropolo-gia que representaum olhar sobre aspessoas levandoem consideraoos nossos valores,tornando os pa-dro a ser seguido.A vida social umgrande embate devises etnocntricasda realidade

    Fonte: ROCHA,Everardo. O que etnocentrismo. SoPaulo: Brasiliense,1984 (Primeirospassos)

    6 Falamos em alteri-dade como exercciode aceitao dooutro.Fonte: ROCHA,

    Everardo. O que etnocentrismo. SoPaulo: Brasiliense,1984 (Primeirospassos)

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    Cincia Poltica20

    um bem que enriquece o espao social e por issono pode ser perdida de vista pela ao poltica.Nasorganizaes modernas a individualidade promove

    possibilidades de reorganizar as aes e construiruma nova ordem, conforme a ilustrao abaixo quepretende pensar a poltica na ao de cada indivduodentro das empresas. Da as engraadas tipificaescriadas pra identificar comportamentos gerais:

    Consequentemente,o espao pblico o lugarda diversidade, embora o termo venha carregadocom as reivindicaes dos grupos que lutam pelaquesto sexual, a diversidade o termo que melhorabrangeria nossa condio. Somos diversificados eo espao pblico o espao da diversidade. Dessemodo, no pode sucumbir s formas de intolerncia,preconceito, discriminao.

    um espao to peculiar que mesmo aqueles

    que no se dispem a participar so utilizadospelos grupos mais atentos ao ordenamento social.

    Aprenda a ser poltico

    Atitudes para melhorar sua chance de crescer na empresa

    Entenda que a poltica no sinnimo de politicagem, e quefazer poltica no o tornar mau-carter

    Pense no seu sonho de carreira e em como pretende chegar l.

    Se for ao topo, a poltica vai ser fundamental

    Observe o ambiente, perceba quais so os grupos de poder e

    como pode trafegar entre eles

    Construa uma rede de relacionamentos. Seus contatos ajudaro

    a evitar a ao dos ratos

    No tenha vergonha de divulgar seus sucessos e exaltar sua

    equipe. Se voc no fizer isso, ningum far

    Ao reconhecer um rato, tome alguns cuidados. S fale com ele

    por e-mail, de preferncia com cpia para algum

    Se o rato for seu chefe, a sada recomendada tentar, sutilmente,

    conseguir uma transferncia

    Fonte: Por Tiago Lethbridge, Sem poltica ningum sobe nas empresas

    Exame 07.10.2005

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    21Tema 1 | Desmistificando a poltica

    notrio o interesse dos polticos, quando atravsdas pesquisas eleitorais constatam o nmero devotos brancos ou indecisos. que aqueles que ge-ralmente no se interessam pela poltica, pensandoque sua manifestao nica a institucional, es-quecem-se que j esto desde o princpio previstose formam um grupo seleto aos olhos dos polticosprofissionais. que em poltica, o silncio reflete-se como a concordncia passiva diante de uma vozque clama. O egosmo e a inconscincia misturam-se formando uma mesma massa de indivduos que

    no desejam a participao. Alienam-se diante dassuas possibilidades. Nesta perspectiva, a partici-pao poltica ajusta-se necessidade de cumpri-mento moral, de identificao dos deveres e dasobrigaes, para reforar a integridade da naturezahumana. A omisso diante das situaes sugere aconivncia, a cumplicidade. (DALLARI, 2004, p.34)

    Por uma questo moral, no podemosnos alienar das questes sociais que advmda ao poltica.

    A atividade poltica revela quem ns somos,como pensamos e o que esperamos. uma formade deixar claro e evidente os princpios que nosregem e nos formam. Tal constatao aponta para

    a conscincia que possumos, ou ao contrrio, suafalta. A participao implica numa busca pelo me-lhor, pelas melhorias, pelo caminho a ser desbra-vado e a ser deixado para as geraes vindouras.Mesmo os grupos mais disprivilegiados possuemcondies de pressionar a sociedade organizadapara que seus interesses sejam visualizados e pos-teriormente atendidos. A vivncia poltica nos ensina

    que nunca se pode subestimar a fora do grupo.

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    O contrrio da poltica poderia ser a barbrie.Levando a srio essa afirmao, consideramos quefazer poltica no aceitar a violncia. um cami-nho que no busca as aes guerreiras como modode resolver os problemas e conflitos estabelecidos.Porque fora dos seus limites s nos resta o recurso fora bruta, esquecendo das possibilidades deelaborao de prmetros que norteiem os conflitose ajustem suas resolues. Quando cessa a polticase instala a guerra.

    Ainda que o espao pblico da poltica se

    estenda ao conflito, ao debate e discordncia,ele no suporta a violncia. Agir politicamente fazevidenciar formas de tolerncia, de dilogo. E sexiste violncia se a palavra no mais vigora. Perce-bam todas as manchetes que so noticiadas pelostelejornais. Nelas a violncia sempre expressoda falta de dilogo, da ausncia de possibilidadesde se assumir as contraposies como legtimas.

    Quando o discurso no mais demonstrado, quan-do argumentos no so mais avaliados, parte-separa a violncia, a palavra perde o seu valor, des-faz-se a poltica.

    Revela-se esse carter quando fazemos partedeste ou daquele grupo. Por agirmos corriqueira-mente assim, expressamos essa vocao poltica.Estamos ligados a agremiaes, times, sindicatos,

    comunidades que nos fortalecem e nos protegemde supostas ameaas. que a poltica tem a capa-cidade de nos unir ainda que pela oposio.

    Supe-se que o fim da poltica seria o prpriofim da humanidade. O fim dos bens mais valiososque reunimos at os dias atuais. O filsofoAndrComte-Sponville vai problematizar a questo queestamos a analisar com as seguintes consideraes:

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    O que poltica? a vida comume confl ituosa, sob o domniodo Estado e por seu controle;

    a arte de tomar, de conservare de utilizar o poder. tam-bm a arte de compartilh-lo,mas porque, na verdade, noh outra maneira de tom-lo.Seria um erro considerar a po-ltica uma atividade unicamen-te subalterna ou desprezvel.O contrrio que verdade,claro: ocupar-se da vida co-

    mum, do destino comum, dosconfrontos comuns uma ta-refa essencial, para todo serhumano, e ningum poderiaesquivar-se dela. Voc vai dei-xar o caminho livre para os ra-cistas, os fascistas, os demago-gos? Vai deixar uns burocratasdecidirem por voc? (COMTE-SPONVILLE, 2004, p.30)

    Portanto, sempre que falarmos em polticalevemos em considerao que ela est no nossodia a dia, embora tambm se manifeste em setoresespecficos, em rgos que a institucionalizam.Atravs dos seus desdobramentos lidamos com opoder. Ao institucionalizar-se, o poder, passa a re-presentar grupos e comunidades que reivindicam

    algo acerca da sua realidade. Da necessitarmos deum governante para ordenar a sociedade que pura diversificao. Desse modo, dirigir grupos edirigir individualidades uma atividade que acom-panha a ao poltica. De forma que passamos aser politicamente responsveis por cada ao posi-tiva, tambm por cada ao negativa que estende-mos s pessoas em geral. Somos at responsveis

    por cada ato de omisso e de indiferena. A apa-tia poltica tambm revela uma condio poltica:

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    o descaso e a falta de compromisso com o outro. por tais fatores que assentamos a ideia de quepoltica algo que vivenciamos cotidianamente eno apenas dentro das instituies, dos partidos.Assim a desmistificamos para lidar com a polticafrente a frente.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    DALLARI, Dalmo de Abreu. O que participaopoltica. So Paulo: Brasiliense, 2004. (PrimeirosPassos n.104)

    COMTE-SPONVILLE, Andr. Poltica. In:Apresentaoda filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2002.Ambas as obras buscam discutir o problema dapoltica por uma perspectiva ampla, buscando ele-mentos na cotidianidade e nos exemplos comuns

    da nossa vivncia. So leituras fceis, embora man-tenham critrios acadmicos bem definidos e queoferecem as primeiras ideias para o pesquisadoriniciante.

    PARA REFLETIR

    Participe de uma reunio da Cmara de Vereadoresdo seu municpio e descreva as ocorrncias presentesna pauta daquele dia. Identifique como as pessoasse comportam e as ideias que elas defendem.

    Exponha suas percepes no AVA para que se iden-

    tifique as diversas opinies construdas atravsdesta experincia.

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    1.2 A Sociedade e o Estabelecimento das Relaes

    Enquanto seres polticos levaremos em con-siderao um pressuposto importantssimo paraefetivao das noes que estamos a construir. Ofato que nascemos iguais, no h como mediro grau de importncia ou de qualidade de duaspessoas que acabaram de nascer, mas inevitavel-mente, a sociedade o far. Dentro das instnciassociais, passamos a assumir papis e valores quenos distinguem. Um grande artifcio ao qual nossubmetemos e, por vezes, chegamos a acreditar nasua naturalidade.

    A sociedade atual marcada por caracters-ticas muito peculiares: individualismo crescente,economia flexvel, predomnio da cultura de massa,etc. uma organizao de origem burguesa7, bemdiferente da compreenso que os medievais tinhamdo que constituiria sua estrutura, por exemplo.Desse modo, prevalecem comportamentos indi-

    vidualistas8eutilitaristas9que se desdobraramdurante os ltimos sculos, conduzindo-nos aosmoldes sociais que encontramos espalhados pelomundo.

    A origem burguesa da sociedade moderna responsvel por alguns feitos que merecem destaque:

    a formulao dos fundamentos da sociedade;

    a construo de um Estado autnomo, oque chamamos de Estado Moderno;

    as diversas formas de promoo do ethos10capitalista.

    Ao tratarmos dos fundamentos da sociedadepercebemos nuances e aspectos singulares. Aindaque a vida em sociedade seja uma necessidade da

    7 A sociedade bur-guesa responsvelpela transio doantigo regime de

    carter medieval.A burguesia inovaao desconstruiros antigos valoresaristocrticos etrazer a livre iniciati-va como valor destenovo contexto.Fonte: SALDANHA, Nelson.Pequeno dicionrio deteoria do direito e filosofiapoltica. Porto Alegre:Sergio Antonio Fabris

    Editora, 1987.

    8 Individualismo um conceitopoltico, moral esocial que exprime aafirmao e a liber-dade do indivduofrente a um grupo, sociedade e aoEstado .Fonte: http://pt.wikipedia.

    org/wiki/Individualismo

    9 Utilitarismo uma forma deconsequencialismo,ou seja, ele avaliauma ao (ou regra)unicamente emfuno de suasconsequncias.Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Utilitarismo

    10 A palavra ethosvem do grego esignifica costume,hbito, modode ser. Destapalavra vai surgir aexpresso tica, quesignifica modo deconduzir a vida.

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    nossa natureza: natureza humana. A construo davida social e as formas de sociabilidade, que nosimpulsionam ao estabelecimento de certos deter-minismos sociaisso muito sutis e complexos por-que esto constantemente a se renovar, mas aomesmo tempo, aspirando por permanncia.

    A poltica, na positividade da sua ao, o que ir romper com as diversas imposiese as diversas classificaesque se pretendempermanentes.

    O ser humano o ponto central da trama

    social, pois ela s existe em prol dela, ao tempoem que a sociedade est no centro das aes desteser. Ou seja, toda a sociedade voltada para va-lorar o humano, mas a sociedade no apenas oque est fora, mas tambm o que est dentro decada um. Carregamos a sociedade que habitamos.H uma co-pertinnciacaracterstica que acompa-nha essa relao. Ns somos a sociedade, ainda

    que estejamos a viver a precariedade de sermosapenas uma parte dela. Abstrao que acompanhaa formalizao do nosso ser socialnas instncia depoder, enquanto atores sociais que esto cumprin-do um papel. As relaes, as vivncias, as interpo-sies, os sentimentos, as ideias advm dessa con-dio comum, existem em vista das interaes;dos processos de sociabilidade: relaes de apoiomtuo, atividades filantrpicas, adeso comoodo grupo, entre outros .

    Como j foi tratado no captulo anterior, hum espectro que nos acompanha na vida social,o outro. Eu e o Outro somos a sociedade.Pressentimos sempre um mbito mais vasto, umadimenso mais abrangente que nos compartimentae nos acolhe. O outro socialrepresenta o motivopelo qual as leis e as instituies foram criadas.Este outro uma presena que se impe atravs

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    de um papel social, so os atores sociais, ou seja,aquelas funes exercidas em prol da imposiodo grupo, ou da satisfao em fazer parte de umcerto crculo.

    Darcy Azambuja (2008, p.45) fala que refle-tindo um pouco, chegaria concluso de que noobedecia propriamente a essas pessoas como ho-mens, e sim porque eram autoridades. Enquantoatores sociais tornamo-nos autoridades em algo,em alguma atividade. As pessoas que exercem

    suas funes sociaise demonstram pelo exercciodestas a autoridade, apontam para a complexida-de desse sistema, composto de diversas peas,ao qual chamamos sociedade. Isto porque nonos esgotamos num s papel. Dentro das relaessociais somos profissionais, pais, sndicos de umprdio, membros de um partido, torcedores de umcerto time de futebol. Tudo isso, ao mesmo tempo.

    A instncia ltima com a qual o indivduose depara em vista desse arranjo social o Esta-do. A sociedade encontra nele sua expresso maisexcelente. A institucionalizao da sociedade emEstado entrega-nos sregras, s ordens, sdiretrizes, com o risco

    de sofrermos o incmododa sano. Engraado que, ao contrrio disto re-percutir como negativo,uma sociedade s obtmsua sade e perfeiocom o cumprimento fielaos preceitos normativos

    acordados mutuamente,ou seja, percebendo-se refletida no Estado.

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    O Estado a concretizao da sociedadepoltica. Comunidades, associaes, formas de co-operao, remetem-nos a este rgo maior no

    seu sentido mais exemplar, atravs das polticas.Revelando-nos um plano interior que conduz o in-divduo como se a forma estabelecida de agir den-tro de seus parmetros fosse a mais natural. Eem contrapartida, todas as regulamentaes doEstado buscam assegurar o exerccio das aptidesdo cidado, sejam elas: fsicas, intelectuais, morais,entre outras.

    Compartimenta-se o conjunto dos diversosgrupos, que pelo vnculo em comum so compre-endidos todos como sociais. Esse fenmeno ressaltacomo toda forma de sociedade poltica. No existeuma sociedade isolada, ainda que assim se assuma.H uma condio poltica subjazendo ao seu estilo.Diz Azambuja (2008, p.2) que a sociedade aunio moral de seres racionais e livres, organizados

    de maneira estvel e eficaz para realizar um fimcomum e conhecido por todos.

    A finalidade comum a tnica, motivacada indivduo e gera a expectativa depermanncia. Inspirando a execuo deprojetos.

    Quando paramos para pensar no que estamosa teorizar, ao falarmos da sociedade compreendemosque cada instncia social movimenta-se de modomuito similar. Em relao frase em destaque,parece estarmos falando de um casal, ou de ide-ais imaginados por um pai para com seu filho, ouat mesmo de ocorrncias da vida de algum emrelao a alguma instncia institucional, como, por

    exemplo, algum que recebe uma bolsa de estu-dos e tem a garantia de permanncia no curso queest matriculado.

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    O bem individual est ligado aobem pblicode tal modo que um refora no outro os mesmosvotos. Intermediando estes indivduos e suas relaes,instauramos:

    o direito positivo, que vai indicar as regrase os princpios que norteiam a vida socialnum dado espao e num tempo especfico;

    as instncias organizacionais, enquanto rgosnos quais se fazem presentes as relaes

    entre membros de um grupo, ou mesmoentre grupos;

    o governo, como autoridade de uma unidadepoltica, fonte das aspiraes comuns.

    Todos primando e dedicando-se ao bempblico. O modo como o bem particular ultrapas-

    sado pelo bem pblico passa a repercutir na ma-neira de se forjar necessidades. Excedendo e ultra-passando a instncia particular, o Estado expressao tempo todo um desenvolvimento e ajuste dessasnecessidades. No fundo o Estado a prpria res-posta pelas vias da razo s carncias da nossacondio natural. Artifcio da nossa engenhosidadepara instituir a convivncia social atravs do senti-

    mento de cidadania, de partcipe.Sociedadeimplica sempre na unificao depessoas para formar um conjunto coeso e distin-to. A sua coeso s ajustada pelas relaes nor-mativas especficas e sistemticas expressas pelasleis. Atravs destas, se entende que as aes dequalquer dos integrantes repercute em respostasde repdio ou motivao por parte dos demais

    membros. A condio de sujeio s normas inten-sifica o sentimento de pertencimentocaractersticodo grupo social.

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    As normas sociais no servem paracondicionar o indivduo, para obrig-lo aalgo porque sua vontade seria outra. Taispreceitos materializam-se como a moral

    vigente, ou seja, como algo que reque-rido e esperado pelos membros do corposocial.

    Toda sociedade constri uma estrutura moralque lhe d suporte. Todavia, precisamos compreen-der esse acontecimento. A moral, ao contrrio doque pensamos, no aquilo que nos prende, comofoi dito, mas o que nos liberta. Tudo o que exigi-mos de ns mesmos est na esfera da moral. Acompreenso do bem e do mal e o modo como, aoprocedermos, associamos nossas aes a estas ba-ses. A moral implica sempre na relao que esten-do ao outro e, consequentemente, pelo bem que

    cumpro e pelo mal que no me permito exercer. Amoral erigida para levarmos em considerao osdireitos do outro. E assim, nunca nos podarmos navida social. Pois, essa condio, de vivncia inte-grada s estruturas, nos resguarda da adversidade.Sabemos o que esperar e como agir. Desse modotornamo-nos livres. (COMTE-SPONVILLE, 2002, p.19) As reivindicaes polticas apontam paraconquistas sociais que nos tornaram mais livres.

    A liberdade de expressofigura como uma dessasltimas conquistas em prol de uma sociedade maisesclarecida, mais transparente. As possibilidadesde interao e trocas tornam-se de grande valiapara as pessoas, individualmente, e para os grupossociais de um modo geral. Comunidades passam a

    interagir ainda que estejam muito distantes. O fen-meno da comunicao generalizada tem encurtado

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    distncias e possibilitado o contato com prticas emodelos sociais nunca visualizados anteriormente.O que instiga a comparao, a anlise e a buscapor novas perspectivas que ainda no tenham sidoempreendidas pelas lideranas locais. O espao deinterao no seio do corpo social caracteriza essaliberdade poltica.

    A sociedade de comunicao generaliza-da, chamada de mass media, respon-

    svel por inovaes surpreendentes nasnovas estruturas.

    A difuso e divulgao de imagens, progra-mas e relatos procuram estender a todos a reali-dade na sua mais bruta manifestao, porque seinterpreta esta como a mais verdadeira. Responsa-bilizando-se por novos comportamentos culturais evalores que passam a repercutir entre a juventude,primeiramente, disseminando-se pelas classes.

    Embora a sociedade atualse arrogue de terdesfraldado as ideologias que nos acompanharamdurante muitos anos, ela no consegue fazer comque este modelo social seja verdadeiramente trans-parente. Assim, a sociedade de hoje sendo mais

    livre e lcida, no se tornou mais transparente. Acomplexidade com a qual fomos envolvidos atravsda difuso dos meios de comunicao nos colocaem paradoxos (VATTIMO, 1992). Por exemplo, aotempo em que possumos mais meios de comu-nicao que nos apresentam verses dos aconteci-mentos correntes, a proliferao da notcia toimediata e vasta que sempre estamos condenados

    desinformao.

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    A partir desse modelo de sociedade os meiosde comunicao de massa11exercem funo primor-dial para a quebra de preconceitos e noes equi-vocadas que foram guardadas por muito tempopelo desconhecimento ou por fora da acomoda-o. Os grandes ideais que antes eram legitimadoscomo fundamentais foram levados condio deparcialidade como todo e qualquer ideal que pro-cure assumir hegemonia. Desfaz-se a expectativade construo de uma teoria poltica universal. Poristo, nesta mesma sociedade germinam questiona-

    mentos em torno dos ideais capitalistas de vida ede felicidade. Percebe-se que a lgica do consumobusca criar um clima de naturalidade e pacificida-de que no corresponde com as verdadeiras con-quistas sociais. Assim, ao pensarmos a sociedadee suas relaes no espao contemporneo identi-ficamos os mecanismos de poder que estruturamnosso comportamento, percebendo como ele est

    aliado a outros muitos e ao mesmo tempo identi-ficamos nas conquistas vigentes novas possibilida-des de sermos mais conscientes da nossa condi-o. E isso s acontece por percebermos as muitasconquistas que ainda temos que promover dentrodesse conflituoso centro social.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    AZAMBUJA, Darcy. Introduo cincia poltica. SoPaulo: Globo, 2008.

    VATTIMO, Gianni.A sociedade transparente. Lisboa:Edies 70, 2005.

    A primeira obra indicada um manual de cinciaPoltica, que possui uma estruturao bem didtica

    11 A idia desociedade de massa,mass media na qualprevalece esse tipode comunicao,representa umamudana culturalque fecha osideais modernose inaugura outros,dentro de uma novaperspectiva que oautor citado chama-r de perspectiva

    ps-moderna.Fonte: VATTIMO, Gianni.A sociedade transparente.

    Lisboa: Edies 70, 2005.

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    e inicia todo discurso acerca da questo da polticaatravs de uma identificao das instncias sociaise da forma como a sociedade se revela como umfenmeno a ser analisado. Tanto pela inconstnciados seus arranjos, quanto pela diversidade dosgrupos que a compem.

    A segunda Obra trata da anlise da sociedade con-tempornea atravs do processo de comunicaogeneralizada, explorando a questo da presenadas mdias em nosso cotidiano. O autor identifica

    que a sociedade em lugar de tornar-se mais trans-parente, complexifica-se e assume outras estruturasideolgicas de manuteno do poder.

    PARA REFLETIR

    Estruture um roteiro de entrevista com o tema ci-dadania. Desenvolva perguntas gerais, bem aber-tas. Entreviste trs pessoas de classes sociais di-ferentes e faa as mesmas perguntas. Observe asdiferentes percepes da realidade e das relaessociais motivadas pelas condies materiais de

    existncia de cada indivduo.

    Procure tabular os dados, ou seja, ter um quadroestatstico das respostas encontradas e comparecom a dos seus colegas no dia do encontro pre-sencial.

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    1.3 Movimentos Sociais e a Construo do DiscursoPoltico

    Os primeiros escritos acerca da questo dosmovimentos sociaissurgem com Lorens Von Stein(1815 - 1890) em 1840 ao tratar do movimentooperrio. Tais iniciativas concretizam-se de fato nosculo XIX e XX e representam a principal reaoao tipo de mudana social provocada pela era in-dustrial. Desse modo, os movimentos iro elegerseus interesses e propor mudanas para a socieda-de capitalista. Mas s na dcada de 60 do sculopassado que os movimentos sociais comeam aser objeto de estudo da cincia social.

    Historicamente so identificadas mobiliza-es que se proliferaram por todo o mundo. NosEstados Unidos reivindicando por direitos civis. NaEuropa o movimento estudantil de maio de 68, omovimento pacifista, o movimento ecolgico, o mo-vimento de mulheres, entre outros. Neste momentosurgem as teorias dos movimentos sociaispara darconta desse fenmeno (SELL, 2006, p.118). Tendn-cias de pensamento e escolas, dentre as quais po-demos citar:

    a Teoria da Mobilizao de Recursos (TMR)que prima por uma compreenso racional,estrutural e funcional. Considera os mo-vimentos sociais como grupos de pressoque so organizados pela comunidade paraque as necessidades vigentes sejam aten-didas.

    a Teoria dos Novos Movimentos Sociais(TNMS) que prima por uma compreensoneomarxista12. Privilegia os novos ato-res sociais emergentes: os pacifistas, osecologistas, as mulheres, os negros entre

    12 O neo-marxismofoi uma escolado sculo XX quese remonta aosprimeiros escritosde Karl Marx dantesda influncia de

    Engels, que seenfocou no idealis-mo dialtico maisque no materialismodialtico, recusandoassim o determi-nismo econmicopercebido emMarx mais adiante,preferindo enfocarseem uma revoluopsicolgica, mais

    cultural que poltica.Fonte: http://pt.wikilingue.com/es/Neomarxismo

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    outros. Direciona-se aocarter anti-intitu-cional destes atores pelo fato de buscaremresultados atravs de uma autoreinvidicaaobaseada em suas identidades.

    Dentre os principais estudiosos da temticados movimentos sociais, destaca-se o pensamentodo socilogo francs Alain Touraine, que estudaacerca destes atores e sujeitos sociais que por suaao conseguem repensar e alterar a sociedade.Para ele, o ator socialno apenas o indivduo nasociedade sofrendo as suas presses, mas aqueleque modifica o meio ambiente material e social,modificando tambm a relao de trabalho, as for-mas de deciso, as relaes de dominao e orien-tao culturais.

    Desta forma no qualquer ao coletivaque pode ser considerada um movimento social,pois devem ser distinguidos os interesses em obter

    benefcios do Estado, ou mesmo reivindicar seusdireitos.

    Os movimentos sociais para Touraine de-vem modificar, transformar a sociedade esuas formas de organizao econmica,poltica e cultural.

    Os movimentos sociais devem lutar por umasociedade renovada, e transformada. Touraine13destaca a grandeza do movimento dos operrios daera industrial, pois foi capaz de transformar aque-las pessoas em sujeitos, questionando e agindocontra a lgica do lucro e da explorao, lutandopor novas relaes sociais.

    O que deve existir num movimento para que

    minimamente ele possa se autoafirmar? So desta-cados trs elementos basilares:

    13 TORAINE,Alan. Crtica damodernidade.Petrpolis: Vozes,2005, p15-25.

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    Identidade, quando o mesmo se autodefinepor certos fatores;

    Adversrio, quando se identifica o inimigopoltico;

    Objetivo, quando se estabelece a viso ca-bvel acerca da ordem ou organizao.

    Na atualidade os atores sociais deslocam sualuta da economia para a esfera cultural, pois naera ps-industrial que vivemos, esse esforo detransformao social tem como objetivo o melhorcompartilhamento da informao e dos recursostecnolgicos, empreendidos pela sociedade da co-municao generalizada. Os novos movimentos so-ciais no limitam sua luta ao salrio ou a bradarcontra o capitalismo como o movimento operrioatuou, mas voltam-se regularmente para a relaoentre cultura e sociedade. Ampliando seu elo demobilizao, desde as velhas formas de manifesta-

    o, como o caso dos operrios, mas tambm nasnovas arrumaes de movimentos.

    Durante a transio democrtica no Brasilo tema movimentos sociais ganha des-taque, aps uma ditadura severa, flores-ce uma pluralidade de atores sociais epromessas de consolidao da democra-

    cia. O pice da reflexo terica no Brasilvem do final da dcada de 70 e ganhaintensificao nos anos 90, pois logoaps a restaurao da democracia, os mo-vimentos sociais mudaram suas prticas deatuao poltica, dando menos nfase amobilizao, e mais nfase nas polticaspblicas. Um dos grandes tericos que

    lana diretrizes para compreenso dasnovas condies Jrgen Habermas14.

    14 Clebre pensadorda Escola deFrankfurt. Pensa osmovimentos sociaiscomo formas deminar o sistemavigente, apontandopara uma novaordem no maissistmica.

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    Neste comeo de sc. XXI, surge uma srie deestudos associativos com a teoria do capital. Elestratam das contribuies dos movimentos sociaispara a implantao de polticas pblicas. E refletemacerca das nossas condies a partir de estudos decaso e teorizaes de variadas matizes. SegundoSell (2006) as teorias que mais se destacaramforam:

    a teoria sociolgicaque identifica a emer-gncia dos movimentos sociais de forma

    especfica no Brasil. Atravs da teoria mar-xista compreende que o Estado est a servi-o de uma classe dominante e capitalista, eque a populao operria e trabalhista lutae reage pelas suas necessidades sociais.Questiona o sistema autoritrio vigente.

    a teoria dos novos movimentos sociaisque

    sofre a influncia de Touraine, tem desta-que aqui no Brasil por privilegiar os movi-mentos sociais rompendo com a nfase nasclasses sociais, mostrando a diversidade desujeitos plurais, e um horizonte maior queapenas a luta por um poder. O cotidiano destacado como elemento em constantetransformao, o que repercute numa nova

    cultura poltica. A teoria da mobilizao de recursosque se

    interessa por grupos de presso que lutampor interesses e no por grandes transfor-maes. Buscam objetivos muitas vezesfragmentados, sem que isso constitua umalacuna.

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    Da histria dos movimentos sociais e dos di-versos dilogos que se abrem entre os grupos cons-titudos, passamos a precisar as redes sociais. Elasconfiguram relaes sociais que concretizam possi-bilidades de solidariedade, reciprocidade e de com-partilhamento, assumindo uma poltica mediadora.

    As ONGs que auxiliam os movimentos debase na localidade de onde surgem lidam comos processos de empoderamentode grupos, masno apenas compondo uma outra hierarquia depoder. Constituem-se com o reconhecimento da

    diversidade que quebra qualquer tipo de relaoverticalizada e passa a atuar com o processo deempoderamento atravs da horizontalidade das rei-vindicaes e aes empreendidas. Requisitos pre-vistos nas configuraes da gesto da organizaoda rede. Neste sentido, h um preparo para queos indivduos tornem-se e vejam-se como atoressociais. Envolvendo o trnsito por setores distintos,

    em funo de que o dilogo poltico seja inovadopelas inter-relaes dos diferentes grupos e institui-es, so estes:

    A Sociedade civil; O Estado; O Mercado.

    As formas de atuao nestes trmites se am-pliam. Ainda que as decises mais significativasmantenham-se nos conselhos setoriais. O que cha-mamos de participao cidad advm dessas redesorganizadas que ilustram a nova face da sociedadecivil. Promovendo um ativismo crescente, seja nasaes solidrias, seja na discusso das polticasde base. Engajamento em prol das causas sociais.

    Identificando os grupos excludos e discriminadospara propor uma democracia na diversidade.

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    Consequentemente tais iniciativas geraramna populao de um modo geral uma afirmaopositiva que se mostra emblemtica e exemplar

    em relao a polticas institucionais. Um novomodo de fazer poltica atravs de discursos queprivilegiam as camadas desprivilegiadas do corposocial. Propondo a mudana social pela margem eno mais em funo de mudanas estruturais nocentro do poder.

    A descentralizao funciona como primordialpara o acomodamento dos grupos, a reorganizao

    dos espaos e das narrativas discursivas presentesna assistncia poltica. As atividades empreendidasso geralmente apresentadas atravs de uma certatransparncia porque so ligadas ao coletiva.Ligadas ao dia a dia estendendo um caminho que in-terliga militncia poltica e cotidiano pela riqueza deexperincias emergentes. Assim, os movimentossociais atingem sua funo primordial atingindoas diferentes camadas pela diferena que lhes inerente. Desfaz-se o discurso da igualdade,no mximo ousamos falar em igualdade de pos-sibilidades, desfraldando-se todo o recurso re-trico e de dominao que prevaleceu durantedcadas em vista da to esperada igualdade. Oreconhecimento de tais diferenas alarga as con-cepes de direitos humanos e amplia as basesde mobilizao das comunidades.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    SELL, Carlos E. Introduo sociologia poltica:polticae sociedade na modernidade tardia. Petrpolis: Vozes,2006.

    TOURRAINE, Alain. Crtica da modernidade. Petrpolis:Vozes, 2002.

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    A primeira Obra revela um contexto bem amplo emque duas cincias passam a ter um ponto deencontro: a sociologia e a poltica. Expressa ideias

    atuais e desenvolve suas anlise por temas queenvolvem o mundo contemporneo.

    A segunda visa dar conta do fenmeno da moderni-dade, abrangendo as circunstncias e os principaiselementos de transformao que estiveram presentesdurante esse perodo da histria.

    PARA REFLETIR

    Identifique que grupos sociais assumem a condiode movimento social presentes na sua localidade ouna localidade mais prxima. Converse com seus lderespara saber como foi o processo de organizao e o

    porqu de esse grupo estar presente neste lugar.

    1.4 O Poder Poltico

    Tratamos agora de uma das questes princi-

    pais quando o assunto poltica, o poder. Sabemosque diversas pessoas se encantam com a polticaem tendo em vista que ela oferece oportunidadesde controle e manipulao. O fato de agir sobreos interesses comuns faz com que a ao polticaexpresse um poder muito peculiar que se desdobradesde as assertivas e imposiesexpostas por umaliderana, at as pressesfeitas por certo grupo. O

    poder requisitado por quem lidera, mas tambmpor quem liderado. Essa plasticidade faz com quea poltica torne-se sinnimo de poder.

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    um conceito fundamental, de difcil definio.Sua importncia para a cincia poltica corres-ponde a uma substncia que vivifica as relaessociais. Sem ele, no existe poltica. Mesmo nascomunidades mais simples em que a diviso socialdo trabalho no representava uma hierarquizao,o poder esteve presente. Os ritos, as premiaes,as mudanas de fases de um membro da comuni-dade, apontam o tempo todo para a questo dopoder. Ele sugere sempre:

    Uma relao bipolar e desigualitria, carac-terstica de qualquer corpo social.

    O estabelecimento das estruturas hierrquicasem funo do trabalho. Os processos deestratificao social.

    Desse modo, a energia vital que se depreen-de destas relaes implica na capacidade de agir

    e produzir efeitos sobre um grupo humano. Che-gando a determinar o prprio comportamento dooutro. Atravs dele percebemos o homem comosujeito e ao mesmo tempo objeto da sociedade.Carlos Eduardo Sell (2006) explica que para com-preendermos essa relao devemos nos questionaracerca da abrangncia da ideia de poder. Estequestionamento sugere uma anlise que passa

    por trs instncias de identificao:

    A primeira delas implica em saber o que o poder. Trat-lo como legtimo e comofenmeno. O que gera uma dimenso epis-temolgica e filosfica;

    A segunda identificar quem o agentedo poder, quem o exerce. Este exige um

    tratamento contextual para se compreenderos trmites;

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    Por ltimo, buscar compreender o seu exer-ccio, ou seja, como o poder vivenciado.Remete-nos dimenso tica, pela procurado seu sentido.

    O poder promove coeso ao grupo, reforan-do os laos de solidariedade necessrios manu-teno de uma organicidade social.

    Para sua consolidao, vrias instncias sedesdobram paralelamente. Duas destas, destacadaspor Paulo Bonavides (2010), so a fora e a com-

    petncia, cada qual inspirando aspectos do poder,conforme se pode identificar:

    poder de fato relativo predominncia dafora, trazendo como consequncia o cartercoercitivo.

    poder de direito relativo competncia,desenrola-se do consentimento do gover-nante em funo da viso que se possuide uma realidade e das possibilidades deatuao.

    Dentro do nosso sistema de governo pouco apouco o poder deixa o carter de fora para ser re-ferendado na aprovao do grupo, aspirando di-

    menso institucional, ou seja, aspirando ao Estado.J vimos que o Estado

    tambm uma forma de socie-dade, pois possui como funoo estabelecimento da organici-dade necessria ao grupo. Des-se modo, uma organizao depoder que se constitui atra-

    vs de uma coero espec-fica, possuindo capacidade de

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    43Tema 1 | Desmistificando a poltica

    auto-organizao. Esta diz respeito aos vnculosque unem os indivduos s vrias formas deestratificao 15. H uma ambincia coletiva, ouseja, motivos que emanam do ordenamento queincitam vida em coletividade. A legalidade e a legi-timidade so critrios fundamentais do poder do Estadopara o estabelecimento dessa ambincia social.

    O princpio da legalidade faz com que opoder do Estado busque integrar-se a regras jur-dicas estabelecidas, ajustando o poder ao direito,mantido na funo de regulador. A harmonia da or-dem social do Estado depende deste inteiro ajuste.Implicando numa ordem que possui desembaraoe consonncia com as regras, mesmo em meio complexidade das instituies. O poder que emergeda legalidade expressa a sintonia com os princpiosjurdicos. Conforme Bobbio (2000, p.935):

    O poder poltico pertence categoria do poder do homemsobre outro homem, no dopoder do homem sobre a na-tureza. Esta relao de poder expressa de mil maneiras,onde se reconhecem frmulastpicas da linguagem poltica.

    Compreendemos que a Legalidade advm deum sentido normativo. O legal se apresenta comoalgo correspondente ao devido, ao certo, ao acei-tvel, ao que est dentro da norma. Deste modo,a legalidade o oposto da ilegalidade. O ilegal marginal, est margem, foi identificado e tipificadocomo tal.

    Vivemos habitualmente em meio s normas.

    Diversos casos so noticiados pelos telejornais decomportamentos que expressam a marginalidade e

    15 Clebre pensadorda Escola deFrankfurt. Pensa osmovimentos sociais

    como formas deminar o sistemavigente, apontandopara uma novaordem no maissistmica.

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    outros que reforam a necessidade de normatizao.Sabemos que a complexidade dessa condio nostoca sempre que nos deparamos com situaes derenovao da estrutura social. No caso do Brasil,percebemos essa discusso quando somos ques-tionados acerca de temas muito polmicos comoa legalizao de drogas, como maconha, cocanaentre outras. Quando somos questionados acercada legalizao da pena de morte para crimes he-diondos e diversos outros exemplos podem nos

    ilustrar a responsabilidade que a sociedade carregaao legalizar algo.A legalizao o momento mximo pelo

    qual somos conduzidos normatizao. Ora, a leiexpressa o que de mais nobre foi produzido pelodireito, implicando na norma jurdica. Ligam-se aeste carter o direito costumeiro e a criao daconstituio. Toda essa racionalidade que pretende

    ordenar as relaes atravs do Estado desembocanum normativismo que persiste no percurso: dalegalidade normatizao.

    Em sentido amplo o termo legal implica oconstitucional. Este amparo na validade da norma,na base formal da lei, constitudo para promovera generalizao e garantia da validade dos atos decada cidado.

    A legalidade possui uma relao direta com alegitimidade, embora em alguns momentos sejamconfundidas. Ambas complementam-se, mas a con-dio na qual uma se ampara diferencia-se radical-mente da outra.

    O princpio da legitimidade evade esse

    aspecto formal da legalidade e apontapara uma outra experincia caratersticada nossa estrutura social. A legitimidade

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    constitui-se pela prpria legalidade expressana intencionalidade que habita o Estadolegalista de direito.

    Tal qual a legalidade, provm da lei, mas sedesdobra por elementos no formais, por exem-plo, atravs de valores. Isso lhe confere um carterqualitativo inovador. Legitimar significa justificar,estender fundamento a algo. Indica-nos um nvelmais profundo e, por isso, verdadeiro, ou melhor,originrio. Desse modo, abrange um plano norma-

    tivo, mas ultrapassando-o. Diversas so as formasde legitimao.

    A condio de ser legtimo oferece ao poderautoridade. Existe nessa condio uma completudeque satisfaz a asceno do governante, porque seconstitui com um nmero sempre menor de con-testaes.

    Em vista das diversas alteraes que circun-dam o cenrio contemporneo, as questes rela-cionadas ao poder assumem sentidos e aspectosdistintos. No nos cabe apenas saber identificar oinimigo, mas, como diz Foucault, cabe-nos perceberque o poder estende-se a todas as esferas sociais,habitando os recantos mais despretenciosos.Noberto Bobbio (2002, pp.105-116) quando anali-

    sa o poder na sociedade atual conduz-nos a umacaracterstica peculiar, que a condio deste ocultar-se. O ocultamento do poder, ou melhor, o poder ocul-to de uma potncia e amplitude que surpreendecompletamente o pensamento poltico. Trata-se, naverdade, da condio pela qual os grandes lde-res sempre buscaram se tornar mais clebres, poisquanto mais oculto, mais se potencializa sua auto-

    ridade, acresce sua importnciam, mistifica-se suapersonalidade, mitifica-se, endeusa-se. Diz Bobbio:

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    O poder tende a esconder-se. O poder tanto mais po-tente quanto menos se deixa

    ver. Deus tanto mais poten-te quanto mais invisvel for. aquele que v e no visto;que v a todos e ningum o vPense no Panopticon, de Ben-tham, ou seja, na idia de umedifcio, no qual o guarda queest no centro tudo via e nopodia ser visto. Esta idia depoder ver sem ser visto cer-

    tamente o emblema do poderde Deus. (BOBBIO,2002, p.105)

    Esta compreenso relaciona a invisibilida-de do poder oculto a um atributo que apenas osdeuses possuem. A forma mais perfeita, que nodecorrer da histria foi ensaiada pelos lderes. Ogabinete seria o lugar por excelncia no qual astomadas de deciso se efetivariam, o espao do

    ocultamento. Ainda que parea paradoxal, so asdecises secretas que viro luz num outro mo-mento, no momento certo. O poder se esconde,mas ao mesmo tempo precisa manifestar-se. Estacondio pode seguir duas condies:

    Temor Dizemos que os comportamentosatemorizados esto volta do poder. A or-dem por mais que parea absurda, deve ser

    cumprida, executada. Mas preciso ter caute-la quanto ao temor para que o lder, o sujeitodo poder no se revista das caractersticasdo dspota. Seduo Caracterstica fundamental deum lder, e contraponto necessrio para otemor. Temor e seduo conduzem o podera um ponto de equilbrio. A seduo apre-sentada habitualmente atravs da pompa e ofausto. Grandes lderes so aqueles capazes degrandes feitos. H um carter herico que o

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    acompanha porque ele justamente aqueleque foge ordem comum, aquele que possuio carter de exceo. O que encanta simples-mente pela sua presena. A figura ilustre, oilustrssimo.

    A dimenso oculta do poder tambm exerci-da para a ampliao dos interesses privados e comisso gera-se a corrupo. A simulao e a mentiraquando caracterizam esse ocultamento desvirtuama interao poltica e o seu sentido maior que o

    bem pblico.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    BOBBIO, Noberto. Dilogos em torno da repblica:os grandes temas da poltica e da cidadania. Rio de

    Janeiro, 2002.

    BONAVIDES, Paulo. Cincia poltica. So Paulo: Ma-lheiros, 2010.

    So duas obras bem distintas. A de Norberto Bo-bbio visa a fazer uma anlise da implantao darepblica e suas implicaes para a sociedade atu-

    al. O autor, um dos mais clebres pensadores dapoltica da atualidade toma especificamente o casoda Itlia e discute com seu interlocutor Viroli osltimos acontecimentos. uma boa obra para apro-fundar conceitos e ideias.

    A segunda obra um manual de poltica que vemacompanhando geraes de pensadores e estudio-sos do tema. Possui um rigor peculiar de pesquisae desdobramento de ideias.

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    PARA REFLETIR

    Faa uma pesquisa na Cmara de Vereadores e con-verse com os polticos ali presentes para saber quedecises so necessrias para melhorar as condi-es de vida da sua localidade. E quais as medidasque eles planejaram para fazer valer tais interesses.Exponha os resultados nos frum do AVA.

    RESUMO

    No decorrer das nossas leituras conseguimosestabelecer algumas convices acerca do proble-ma da poltica. Identificamos que para falar desseassunto precisamos ampliar nossa percepo iden-tificando que este fenmeno social representa algomuito maior que a participao neste ou naquelepartido. O interesse comum revela sempre a poltica.Neste sentido, ela est ligada s coisas mais coti-dianas. A origem da ideia de poltica remonta aosgregos da antiguidade. algo que aponta para anossa condio de cidados, de participantes dacidade. Aqueles que geralmente no se interessampela poltica, pensando que sua manifestao nica a institucional, esquecem-se que j esto desdeo princpio previstos e formam um grupo seletoaos olhos dos polticos profissionais. Quem pen-sa que poltica no lhe diz respeito aliena-se diantedas suas possibilidades.

    A poltica um exerccio de sociabilidade.Leva-nos a assumir papis e valores que nos dis-tinguem. Atravs da poltica compomos os movi-mentos sociaisque representam a principal reao

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    49Tema 1 | Desmistificando a poltica

    ao tipo de mudana social provocada pela era in-dustrial. Desse modo, os movimentos elegem seusinteresses e propem mudanas para a sociedade.No sculo XX temos uma multiplicao dos movi-mentos sociais que eclodem por todo o mundo.Dentre as teorias dos movimentos sociais, ressaltamosa Teoria da Mobilizao de Recursos (TMR) e aTeoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS). Taisteorias visam atingir o outro social, que repre-senta o motivo pelo qual as leis e as instituiesforam criadas. Buscamos atravs dos movimentos

    sociais um novo modo de fazer poltica, propondoa mudana social pela margem e no mais em fun-o de mudanas estruturais no centro do poder. Adescentralizao elemento primordial para cons-truo de novas polticas.

    Por mais que se trate da poltica no seu sen-tido corriqueiro, sabemos que diversas pessoas seencantam com a poltica em vista de ela oferecer

    oportunidades de controle e manipulao. Por elaoferecer a condio de singularidade para o lder. Opoder poltico fonte de assdio e disputa. O fatode agir sobre os interesses comuns faz com quea ao poltica expresse um poder muito peculiarque se desdobra de diversos modos. Diramos atque, em certos momentos, a poltica torna-se sin-nimo de poder. Este promove a coeso do grupo,reforando os laos de solidariedade necessrios manuteno de uma organicidade social. Duasformas de poder se destacam: o poder de fato, quediz respeito forae o poder de direito, que dizrespeito competncia. Tambm o poder apontapara dois princpios fundamentais: o da legalidadeque revela o aspecto formal e o vnculo que o poderpossui com as leis, e o da legitimidade.

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    2A Cincia Poltica EnquantoCincia Social

    O interesse dos captulos que se seguem apresentar a Polticaenquanto uma cincia de cunho social. Desse modo, apresentamoso que constitui a poltica enquanto um certo modo de olhar para arealidade. A poltica em seu sentido cientfico, acadmico, que seinterrelaciona com diversas reas do saber: o direito, a filosofia, etc.

    Mantendo um objeto de anlise especfico acerca do qual s ela sedebrua.

    O Estado o objeto peculiar pelo qual nasce esta cincia commtodos, conceitos e perspectivas de anlise que enriquecem o cenriocontemporneo. Fazendo-se preocupada com as relaes de poder ecom a conduo do Estado, teorizando acerca deste e apresentandoalgumas consequncias para o sistema de governo.

    A cincia poltica estuda as formas de governo e sua adequao s

    expectativas populares, s formas de soberania e s suas possibilidadesdentro do regime democrtico. Fechamos a unidade apresentando ocarter da representatividade com o qual somos contemplados pelapoltica partidria e pelos polticos eleitos.

    E assim, atravs das diretrizes de estudo dessa rea de conhe-cimento, acentuamos esse espelhamento que nos conforta e enriquecenas possibilidades abertas pela trama da estrutura social.

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    2.1 A Poltica e a Academia

    O nascimento da Cincia Poltica compar-tilhado com mais duas outras cincias: a sociologiae a antropologia. As trs caracterizam as CinciasSociais em vista de abranger tanto a integralidadedo fenmeno social, quanto pelas especificidadesque acompanham cada setor desse conhecimentoque busca atender s microestruturas e suasespecificidades.

    A cincia Poltica detm-se no estudo defenmenos sociais como organizaes, processospolticos e nos sistemas que so gerados dentrodas relaes de poder. Estes fenmenos caracterizamo que geralmente chamamos de Poltica.

    Dois elementos so destacados para assentaras bases da sua pesquisa, o Estado e o poder.Cientistas polticos se dividem em consideraese anlises para fundamentar suas posturas a partirde um ponto de origem, desdobrando diversasreflexes. Mas toda e qualquer instituio pode serobjeto de anlise desta cincia.

    Enquanto uma cincia social, a poltica visauma interveno direta na realidade. Possui umcarter prtico que a acompanha e que conduz opesquisador a desdobrar-se em meio a metodologiasvariadas, muito estudo de caso, diversas formas depesquisa participante.

    O pesquisador social procura vivenciaros fatos ao sabor da sua imediaticidade,ainda que estes possam apenas poste-riormente servir de base para reflexes.

    No raras vezes as funes de assessoria de

    partidos e candidatos, como tambm a prpriacandidatura, envolvem o entusiasta pela poltica.

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    53Tema 2 | A cincia poltica enquanto cincia social

    O processo poltico e suas implicaestornam-se ponto de questionamento e anlise.Mas a complexidade vai estar em vivenciar e aomesmo tempo descrever tais fatos e acontecimentos.O envolvimento e a torcida pelo desfecho faz comque o cientista poltico se avalie sempre, em vistadas consequncias que sua anlise possa apon-tar. Pois suas teorias so a base para reflexo earticulao de outros setores ou profissionais queno lidam com esse fenmeno de forma direta.A parcialidade de percepo gera obstculos que

    nos remete s possibilidades de neutralizao queum cientista possui em relao ao seu objeto, po-dendo, assim, validar suas concluses e afastar-sedas concepes prconcebidas. Da a importnciade uma metodologia bem estabelecida e dos pro-cessos interpretativos voltados para a plurivocidade16dos discursos. Apresentar os limites antes de afirmarqualquer ideia, pode parecer algo bem enriquecedor

    dentro desta atividade.

    Segundo Bonavides (2010, p.38), a cinciapoltica possui algumas dificuldades terminolgicasque precisam ser visualizadas para construirmos maiscertezas em torno da sua constituio e aplicao.Destas dificuldades destacam-se:

    o carter mvel e oscilante do vocabulriopoltico;

    as variaes semnticas dos termos deque se serve o cientista social de um paspara outro;

    os casos distintos, por exemplo, as vrias

    acepes de democracia, que gera umcaos aos esforos de fixao conceitual.

    16 Representa asmltiplas vozesque fazem parte daviso da realidade

    contempornea. Nomais voltada para odiscurso apenas dasclasses dominantes,mas de todos osatores sociais.

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    Parece que lhe falta uma nomenclatura quepermita s pessoas de um modo geral inteirar-se,mesmo com dificuldades, em relao a certas defi-nies conceituais inerentes, como quando se falade governo, nao, liberdade, democracia, que nose fixam numa nica terminologia. Fato que agravauma compreenso mais usual para que as questesno recaiam apenas no academicismo.

    Todavia, se problematizarmos a prpria ideiade cincia teremos nuances to distintas que pareceser essa complexidade inerente ao prprio tipo de

    explorao que se tenta esboar. Ainda mais em setratando de uma cincia relativamente jovem emvista das demais. Bonavides (2010, pp. 26-27) fazuma abordagem histrica encontrando em diferen-tes autores diretrizes variadas para compreender-mos o que seja cincia. Traando um percurso dedefinies significativas que vo de Aristteles aComte, ou seja, definies que se sucederam des-

    de o sc. III a.C at o sc. XIX, com o positivismo.Assim, os autores e suas definies so esboadosdo seguinte modo:

    Aristteles(384 a.C. 322 a.C) considera

    cincia a anlise que detinha os princpios

    e as causas por objeto.

    Santo Toms de Aquino (1225 1274)

    definiu-a como a assimilao da mente

    direcionada ao conhecimento do mundo.

    Wolff (1679 - 1754) compreendeu como

    aquilo que se liga a princpios certos e

    imutveis, apresentado pelo hbito dedemonstrar assertivas e inferncias.

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    55Tema 2 | A cincia poltica enquanto cincia social

    Kant (1724 1804) diz que a cincia tudo que possa ser objeto de certezaapodtica17, ou seja, necessrio e demons-trvel. Age sistematizando conhecimentosa partir de princpios.

    Littr (1801 1881) a cincia a gene-ralizao da experincia, e a filosofia, ageneralizao da cincia. Separando acincia da filosofia, a segunda caracte-rizada como conhecimento unificado dos

    fenmenos que servem de objeto a todaatividade cognoscitiva.

    Spencer(1820 1903) recorre simplici-dade. Segundo ele, h trs variantes doconhecimento: emprico no unificado;cientfico parcialmente unificado; e filo-sfico totalmente unificado.

    Comte (1798 1857) as cincias podemser abstratas e concretas, Estas ltimasconsideradas como cincias fundamentais.

    A caracterizao da cincia implica,segundo inumerveis autores, a tomadade determinada ordem de fenmenos, em

    cuja pluralidade se busca um princpiode unidade, investigando-se o processoevolutivo, as causas, as circunstncias, asregularidades observadas no campo feno-menolgico (BONAVIDES, 2010, p. 26).

    Atravs da anlise das polticas a cinciapoltica apresenta teses que so caracterizadascomo positivas, quando se detm no exerccio de

    anlise e normativas, quando ala previses acerca desituaes determinadas. Medir o grau de sucesso de

    17 Kant emprega-a

    no sentido dosjuzos que estoacima de qualquercontradio, queso necessariamenteverdadeiros.Fonte: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/print.php?entryID=494

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    um governo, das polticas implementadas, o graude estabilidade, elementos como justia, bem-estarsocial, paz, entre outros. So tarefas que requisi-tam ferramentas metodolgicas e pesquisas bemincisivas sobre a realidade estudada. A pesquisa,dentro desta rea pode ser desdobrada pelasseguintes perspectivas:

    Pela via terica da poltica, enquanto op-o de pesquisa de uma dada realidade,configurando-se atravs da identificao

    de certos fenmenos que so explicadosem funo dos elementos tericos quenorteiam a percepo do pesquisador.

    Pela pesquisa descritiva, de carter apenasemprico tomando o fenmeno da polticaatravs dos acontecimentos, consequen-temente procede de maneira bem maisdetida a coleta de dados, assumindo-acomo o seu ponto mais forte para apro-

    ximar-se o mximo possvel da realidade.

    Pela pesquisa comparada, que possuicomo elemento positivo a delimitao ne-cessria para o procedimento de anlisescomparativas. Elencam-se os elementose as realidades scio-histricas so media-

    das para que os dados empricos sejamverdadeiramente compreendidos dentrodas suas possibilidades, entrevistas noprprio sistema. Identificam-se elementosgeneralizveis e os singulares.

    Bonavides (2001, pp. 40-45) nos convida acompreender essa cincia por prismas diferenciados,para entendermos, para sua origem e sua abrangncia.Identificando sentidos multidisciplinares que aenvolvem.

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    57Tema 2 | A cincia poltica enquanto cincia social

    Sob o prisma filosfico:o seu estudo detm-senos acontecimentos, instituies e ideias. Tanto emsentido terico como em sentido prtico. Abran-gendo perodos histricos distintos, pois sua inves-tigao no se restringe apenas a um tempo espe-cfico. Partindo de conceitos polmicos no que dizrespeito ao mtodo e extenso de seus limites.A filosofia quando lana seu olhar sobre a cinciapoltica traz a discusso de suas proposies, dasafirmativas que lhe garantem um fundamento epis-temolgico. Polemiza sua origem, sua essncia. Di-

    versos filsofos se destacam na reflexo acerca dapoltica desde os gregos antigos at os pensadoresdo sec. XVII, os filsofos da poltica que criaram asbases para o surgimento da cincia.

    Sob o prisma sociolgico:dois autores sodestacados pela iniciativa de sua anlise, MaxWeber (1864 1920) e Vierkandt (1867 1953). Oprimeiro, Max Weber, por iniciar estudos concernen-

    tes poltica cientfica, destacando a racionaliza-o do poder e a legitimao das bases sociais.Identificando as nossas relaes com os aparelhosburocrticos do Estado. Alm do que, Weber des-creve o interior dos partidos e sua organizao,suas tcnicas de combate e liderana, entre outrosprocedimentos. As formas de autoridade e a admi-nistrao pblica, que gozam de grande privilgio

    na literatura sociolgica. O segundo, Vierkandt, ex-pe o carter classista do Estado e da sociedade, aslutas pelo poder na sociedade moderna. Explicitaos parmetros nos quais se baseiam os partidoscomo representao de interesses, e os movimentosreformistas caractersticos do sculo XX.

    Sob o prisma jurdico:destaca-se Kelsenpelos estudos que realiza acerca da teoria do

    Estado. Este autor desenvolve uma tendnciaexclusivamente jurdica para o fenmeno da

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    poltica. Para ele, o Estado se traduz como orga-nizao do poder e por isso o seu estudo deve sedesfazer de toda a substantividade. Reflete sobre oTerritrio e a populao pelos elementos materiaisque os compe. Convertendo a problemtica parao mbito espacial e o mbito pessoal de validadedo ordenamento jurdico. Atravs da sua teoria, onormativismo jurdico e o escalonamento das leisdentro do sistema tornam-se o foco principal parao estabelecimento das relaes de poder.

    Contemporaneamente uma das tendncias

    que mais tem repercutido entre os tericos da ci-ncia poltica tem sido a perspectiva do tridimen-sionalismo. Nela est presente o interesse em cons-truir uma viso unificada destes elementos que nodecorrer da histria pareciam no se ajustar nassuas tendncias epistemolgicas. Assim, em lugarde se falar de filosofia poltica ou sociologiapoltica busca-se manter como parmetro a teoria

    social jurdica e a teoria filosfica dos fatos, dasinstituies e das ideias. Expostas numa ordemenciclopdica. Mantendo-se a possibilidade deuma mesma queto mantenha emfoques distintosque no se anulam pela fora do outro.

    INDICAO DE LEITURA COMPLEMENTAR

    BOBBIO, Norberto; METEUCCI, Nicola; PASQUIRO,Gianfranco. Dicionrio de poltica. Vol. I So Paulo:Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2000.

    BOBBIO, Norberto; METEUCCI, Nicola; PASQUIRO,

    Gianfranco. Dicionrio de poltica. Vol. II So Paulo:Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2000.

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    Uma mesma obra dividida em dois volumes comverbetes, termos, indicaes de aprofundamento.Extremamente rica em casos e exemplificaes que,alm de ilustrar as situaes para o aluno, lana-ona lgica da pesquisa cientfica.

    A consulta a dicionrios especficos deve ser umaprtica implementada na graduao para que o alunoenriquea seu vocabulrio e perceba a teia de relaesque um conceito pode dispor.

    PARA REFLETIR

    Identifique os conceitos principais, rena uns cincoconceitos, que fazem parte da cincia poltica. Bus-

    que seus significados a partir de autores diferentese perceba como cada autor se apropria de formadiferente para falar do mesmo assunto.

    Exponha no frum do AVA para que seus colegaspossam comparar com as definies encontradaspor eles. Ou mesmo para identificar as definies eos autores mais procurados.

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    2.2 O Estado: Funo e Origem

    Agora que j compreendemos o que a ci-ncia da poltica enquanto uma cincia social, nosdeteremos num dos principais pontos da sua an-lise, o Estado e suas teias de laos indissolveiscom o corpo social.

    O sentido etimolgico da palavra Estado re-monta Grcia e Roma antigas, vem da palavrastatus, que significa a condio que o indivduopossua ou no enquanto participante de umaunidade poltica. A expresso estado civil queat hoje utilizamos advm dessa compreenso. Osentido moderno no qual nos movemos abandonaessa dimenso privada e cunha a ideia de Estadona esfera pblica

    Com Bodin (1530-1596), no perodo da renas-

    cena, a palavra Repblica designa o Estado, maslogo depois vai representar uma forma de governo.

    E a palavra Estado se firma como a unidade poltica

    por excelncia. O Estado de maneira geral a

    sociedade poltica, que se estabelece sobre um

    territrio e dirigida por um governo soberano.

    Max Weber pensa o Estado como uma insti-

    tuio social que possui a peculiaridade de manter

    o monoplio sobre o uso da fora. A ao precpua

    do Estado se expressa na autoridade para gerar

    e aplicar o poder coletivo. Por ser mais uma dentretantas instituies sociais, est organizado emtorno de um conjunto de funes: ordenamentos,construo de estabilidades, leis, resoluo delitgios, implementao de medidas, entre vrias

    outras funes.

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    Comumente se confunde Estado e governo,mas faz-se necessrio situar cada qual:

    Estado uma instituio social e consistena implementao de uma forma, ouum plano social, para esclarecer einstituir como vrias funes devemser desempenhadas;

    Governose entende um conjun-

    to muito particular de pesso-as, que num determinado tem-po ocupam posio poltica deautoridade dentro do prprioEstado.

    Pensa-se o Estado como uma sociedadeorganizada com governo autnomo que representao papel de uma pessoa moral. da que usamosa expresso, o papel do Estado. Ele se distingueem relao s outras sociedades anlogas com asquais est frequentemente relacionado. O Estadotambm pode ser o conjunto dos servios gerais deuma nao. Expresso maior do espao pblico emcontraposio ao privado.

    Por isso afirmamos habitualmente que quandoum mecanismo social est comprometido, a culpa do estado. Assim tambm quando somos impedi-dos do usufruto de um servio pblico.

    A tomada de decises uma caractersticado Estado que o liga poltica, fazendo desta aprpria cincia do Estado. Quando se trata da suaorigem dois percursos de entendimento so

    ressaltados, a perspectiva filosfica e a sua origemhistrica. Diversas teorias com as limitaes do seu

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    tempo so lanadas para se entender esta instituio.

    Destacamos algumas elencadas por Darcy Azambuja

    (2010, pp. 118-132) que auxiliam uma compreensomais abrangente.

    A origem familiar fundamenta o desenvol-

    vimento do Estado a partir da ampliao da fam-

    lia, considerando que a sociedade em geral adveio

    deste ncleo especfico. Tais motivos fazem com

    que se conceba a famlia como a clula-me da

    sociedade. Ainda que apresente coerncia nas suas

    premissas, esta teoria no confirmada pela obser-

    vao histrica e, por isso, no suscetvel de ge-

    neralizao. Os crticos desta teoria destacam dois

    fatores que devem ser levados em considerao. O

    primeiro que a sociedade humana e a Socieda-

    de poltica no podem ser confundidos porque no

    so sinnimos. A segunda que a autoridade pol-

    tica no pode ser comparada com a autoridade do

    chefe de famlia. Seria incompatvel com a condio

    moderna do Estado.

    A origem contratual O contratualismo pare-

    ce repercutir sempre que se pergunta pela origem

    do Estado. O contrato ou a conveno um prin-

    cpio que encantou vrios autores, no decorrer da

    histria, que arriscaram conceber esta como sua

    origem. Ou seja, o Estado teria sido gerado pela

    conveno dos grupos sociais que acordaram as

    formas e as diretrizes que passariam a ser adota-

    das por todos. Comea com Aristteles e Epicuro

    (341-271 a.C.) estendendo-se ao perodo dos pen-

    sadores jusnaturalistas. Hobbes (1588-1679), Locke

    (1632-1704), Espinoza (1632-1677), Grotius (1583-

    1645), Puffendorf (1632-1694).

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    A origem violenta Considera-se que o sur-gimento da instituio estatal adveio da violnciae da fora. Diversos autores adotam tal perspectiva,Bodin, por exemplo, admite uma origem a partir daviolncia dos mais fortes. A perspectiva Darwinianareflete na sociedade poltica a luta pela vida. E nosgovernantes, a sobrevivncia dos mais aptos. Naestrutura jurdica dos Estados, a organizao daconcorrncia. Conjuntamente Darwin (1809-1882),Gumplowicz (1838-1909) dizia que o Estado era um

    fenmeno social, derivado de aes naturais, ondeum grupo se permitia dominar por outro. Outro te-rico Oppenheimer para o qual o Estado em suatotalidade, sua natureza e organizao, era impostopor um grupo de vencedores a um grupo vencido,o objetivo do primeiro organizar sua dominao,defendendo sua autoridade contra revoltas internase externas. Outros tantos pensadores centralizarama importncia da fora como diretriz determinantede estabelecimento da autoridade, da soberania eda gesto poltica. Alguns tomando o Estado comodoutrina da fora, como teoriza lie Reclus (1827-1904). Assim, diante dos fatos acima citados,pode-se afirmar ento que a guerra, a dominaode povos vencidos, um dos modos de formao

    de novos Estados.A Formao natural Construda a partir de

    algumas inferncias lgicas em relao prpria

    composio do Estado. Se este formado por trs

    elementos: territrio, populao e governo, pois

    um Estado s existe realmente quando uma popu-

    lao se fixa em um territrio determinado, leva-se

    em considerao que a formao do Estado no

    somente a formao de um poder, mas um ajuste

    natural destes requisitos.

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    A Formao histrica Procura-se na histriaas condies e circunstncias que levaram ao seunascimento. Historicamente, existem trs modosque fundamentam a formao dos Estados:

    Os modos originrios, alegando que aformao