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CISTO DO DUCTO NASOPALATINO: RELATO DE CASO
NASOPALATINE DUCT CYST: A CASE REPORT
Cristiane Portes Pinheiro Carrijo1; Ana Claudia Galvão de Aguiar Koubik2
1 Pós-graduanda do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e Imaginologia da
Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).
2 MSc, Professora Orientadora do Curso de Especialização de Radiologia Odontológica e
Imaginologia da Universidade Tuiuti do Paraná (Curitiba-PR).
Endereço para correspondência: [email protected]
RESUMO
O cisto do ducto nasopalatino é o cisto não odontogênico mais frequente da cavidade
oral, derivado de células remanescentes do ducto nasopalatino com proliferação
espontânea ou provocada por traumas, infecções ou processos inflamatórios.
Demonstra predileção pelo sexo masculino e sua maior incidência ocorre entre os 40 a
60 anos, sem preferência por raça. Radiograficamente apresenta-se na região anterior
da maxila como uma imagem radiolúcida, circunscrita, bem delimitada, oval, circular
ou em formato de coração. O tratamento indicado é a remoção cirúrgica, sendo a
biópsia e análise anatomopatológica imprescindíveis. No presente estudo os achados
clínicos e radiográficos, bem como tratamento de um cisto do ducto nasopalatino
foram relatados, demostrando a necessidade da identificação por um clínico geral
desde o início de sua suspeita, evitando assim erros no tratamento.
Palavras chaves: cisto do ducto nasopalatino, cisto não odontogênico, cisto de
desenvolvimento.
ABSTRACT
The nasopalatine duct cyst is the most common non-odontogenic cyst of the oral
cavity, cells derived from remnants of nasopalatine duct proliferation spontaneously or
caused by trauma, infection or inflammation. Shows a predominance of males and its
incidence is higher among 40-60 years old, without racial prevalence. Radiographically
it shows in the anterior maxilla as a radiolucent, circumscribed, well-defined, oval,
round or heart-shaped. The recommended treatment is surgical removal, biopsy and
histopathological analysis is essential. In the present study, the clinical and
radiographic findings, and treatment of nasopalatine duct cysts were reported,
demonstrating the need for identification by a general practitioner from the beginning
of his suspicion, thus avoiding mistakes in treatment.
Keywords: nasopalatine duct cyst, non-odontogenic cyst, cyst development.
1 INTRODUÇÃO
O cisto do ducto nasopalatino é
o cisto não odontogênico mais
frequente da cavidade oral,
representando 1% de todos os cistos
maxilares.¹ É um cisto de
desenvolvimento epitelial que ocorre a
partir de células remanescentes do
ducto nasopalatino frente à uma
proliferação espontânea levando à
formação da lesão ou a partir de
traumas, infecções ou ainda processos
inflamatórios.¹ São lesões 3 vezes mais
frequentes no sexo masculino e sua
maior incidência ocorre entre os 40 a
60 anos, sem predileção por raça.1
Na presença de sintomatologia,
a principal queixa do paciente é o
aumento de volume na região anterior
do palato duro, podendo ocorrer
também sensação de queimação na
região, mas na grande maioria dos
casos apresenta-se assintomático.2 O
cisto do ducto nasopalatino é
normalmente descoberto em achados
radiográficos em exames de rotina ou
exames com outras finalidades.2
Radiograficamente observa-se na
região anterior da maxila uma área
radiolúcida, circunscrita, bem
delimitada, oval, circular ou em
formato de coração.2 Pode-se ainda
notar a integridade da lâmina dura dos
dentes adjacentes à lesão, assim como
teste de vitalidade pulpar positivo.2
O tratamento indicado para o
cisto do ducto nasopalatino é a
remoção cirúrgica da lesão, entretanto
em lesões de grande extensão o
manejo inclui marsupialização previa à
sua remoção.3 A biópsia e análise
anatomopatológica também são
indicadas em todos os casos, apesar do
potencial de malignização ser ínfimo.3
O objetivo do presente estudo é
realizar uma breve revisão da literatura
sobre o cisto do ducto nasopalatino e
relatar um caso discutindo aspectos
relevantes acerca de suas
características clínicas, radiográficas e
tratamento.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Escoda et al.1 (2008) realizaram
uma análise de 22 casos e revisão de
literatura de lesões císticas do ducto
nasopalatino com confirmação
histopatológica. O período de
observação foi compreendido de 1970
a 2006 (36 anos), em todos os casos
foram analisadas radiografias
panorâmicas e tomografias
computadorizadas, assim como
ressecção cirúrgica e biópsia. Do total
de 22 pacientes, 12 eram homens e 10
mulheres, com idades entre 16 e 73
anos, sendo a média de 46 anos com
pico de incidência entre 50 e 60 anos.
Dos pacientes avaliados apenas 7
apresentavam doenças pré-existentes
como hipertensão (n=4), doença
pulmonar obstrutiva crônica (DPOC)
(n=2), úlcera gástrica (n=3),
hipercolesterolemia (n=2) e um único
paciente com histórico de três
derrames. Em 8 pacientes o cisto
estava relacionado à infecção
secundária crônica dos incisivos
centrais relacionada a trauma, doença
periodontal ou tratamento
endodôntico mal sucedido. Em 2
pacientes o ducto nasopalatino pode
ter sido infectado por via nasal, pois os
pacientes apresentavam rinite crônica
bacteriana assintomática na época do
diagnóstico. Apenas 8 pacientes não
apresentavam nenhuma patologia
associada à lesão. Em 14 casos os
pacientes se apresentavam
assintomáticos, 4 apresentaram
inflamação na região e os outros 4
reportaram dor e ulceração. Em todos
os casos o tratamento foi a completa
remoção cirúrgica da lesão, onde o
acesso palatino ocorreu em 21 casos e
o acesso vestibular em 1 caso apenas.
Na análise histológica dos casos foram
encontrados exclusivamente células
epiteliais escamosas em 15 casos
(68,18%), e nos outros 7 (31,82%) dos
casos associadas a essas células haviam
células epiteliais cilíndricas ciliadas. Foi
realizado acompanhamento
radiográfico e 20 lesões se
apresentaram completamente curadas
após um ano. Houve recidiva após três
anos em 3 casos. Acompanhamento
radiográfico anual é sugerido.
Para Cecchetti et al.2 (2013) em
seu estudo de 52 casos de retrospectiva
epidemiológica encontraram em um
período de análise de 14 anos (de 1998
a 2012) 52 casos confirmados de cisto
do ducto nasopalatino, radiografias
panorâmicas foram solicitadas em
todos os casos e TC somente em alguns
casos. Biópsias após a remoção
cirúrgica foram realizadas. Dos 52
pacientes analisados 32 pacientes
(61,5%) eram homens e 20 pacientes
(38,5%) eram mulheres. A idade média
encontrada foi a de 54,5 anos. 15
pacientes apresentaram doenças pré
existentes com interesse clínico: 6
hipertensos, 5 diabéticos tipo II, 3
apresentaram osteoporose idiopática e
1 tireoidite de Hashimoto. Em 44 casos
a localização da lesão era superficial ou
palatina, somente em 8 casos ela se
apresentou na região nasal, mais
superior. Na cirurgia de remoção da
lesão, em todos os 52 casos foi
associada a excisão cirúrgica à
dissecção piezocirúrgica.
Radiograficamente as lesões se
apresentaram radiolúcidas e bem
delimitadas, medindo entre 1 e 2 cm,
com formato circular, ovóide ou em
formato de coração. A análise
histológica mostrou células epiteliais
escamosas em 32 lesões (61,5%) e em
20 casos (38,5%) uma combinação
dessas com células cilíndricas ciliares.
Foi encontrada recidiva em 15% dos
casos. Os resultados dessas análises
confirmam que o cisto do ducto
nasopalatino é uma entidade
patológica não rara com prognóstico
favorável de tratamento, sem risco de
complicação pós cirúrgica, e com
importância do diagnóstico precoce
para evitar sintomas desagradáveis.
Conte Neto et al.3 (2010)
relataram um caso clínico de cisto do
ducto nasopalatino em um paciente do
sexo feminino, 33 anos, com achado
radiográfico em exame de rotina, na
história odontológica da paciente
consta tratamento endodôntico prévio
nos dentes 11 e 12 com insucesso no
tratamento. Anterior ao retratamento
endodôntico, a primeira radiografia
periapical mostrou uma imagem
radiolúcida, bem delimitada, em
formato de coração na região anterior
localizada entre os incisivos laterais
envolvendo os centrais, além disso,
apresentava rarefações ósseas
circunscritas às regiões periapicais dos
dentes 11 e 12. Seis meses após o
retratamento endodôntico pode-se
observar numa radiografia periapical, a
mesma imagem em formato de coração
observada na primeira radiografia
periapical, entretanto as rarefações
ósseas circunscritas aos ápices dos
dentes 11 e 12 desapareceram e houve
neoformação óssea. Os dentes 21 e 22
apresentaram teste de vitalidade
positivo. Baseado nas análises clínicas e
radiográficas a hipótese diagnóstica foi
cisto do ducto nasopalatino associada a
uma lesão inflamatória periapical. Foi
realizada a enucleação total do cisto e
enviado para análise histopatológica. O
histopatológico revelou uma cavidade
cística, delineada por epitélio cubóide e
respiratório, sustentados por tecido
conjuntivo denso, associado a nervos,
artérias, glândulas salivares e células
inflamatórias crônicas. Concluíram que
o cisto do ducto nasopalatino é o mais
comum cisto não odontogênico da
cavidade oral, usualmente detectado
em exames de rotina ou exames com
outra finalidade, independente da sua
busca. Seu diagnóstico precoce se faz
importante para evitar tratamento
endodôntico desnecessário e
complicações. Seu tratamento e a
completa remoção cirúrgica e sua
recorrência é rara.
Noleto et al.4 (2010) reportaram
caso clínico em paciente pediátrico,
sexo masculino, 10 anos de idade que
se submeteu a exames radiográficos
para tratamento ortodôntico onde se
observou imagem radiolúcida,
unilocular, bem delimitada por halo
radiopaco, de aproximadamente 1,8 cm
de diâmetro, localizada na linha média
entre os ápices dos incisivos 11 e 21.
Foi confirmada a localização através de
TC. Por se caracterizar como lesão
benigna foi feita biópsia excisional. O
exame anatomopatológico revelou
cavidade cística revestida por epitélio
pavimentoso estratificado e epitélio
colunar pseudo estratificado ciliado,
com parede fibrosa apresentando
nervos e vasos sanguíneos. Aspectos
que confirmaram a hipótese
diagnóstica de cisto do ducto
nasopalatino. Exame radiográfico após
18 meses confirmou neoformação
óssea na região. Concluiu-se que o cisto
do ducto nasopalatino é uma entidade
benigna com condição de prognóstico
favorável, sendo sua enucleação de
baixa morbidade e eficaz no
tratamento de lesões pequenas.
Para Sharma et al.5 (2012), o
cisto do ducto nasopalatino é oriundo
de remanescentes do ducto
nasopalatino, entretanto como cita
Sharma, para a Organização Mundial de
Saúde ele é classificado como cisto de
desenvolvimento, epitelial e não
odontogênico. Em seu estudo foram
avaliados dois casos clínicos de
pacientes portadores de lesões císticas,
ambos com queixa de inchaço na região
anterior do palato duro, o caso 1 com a
presença de pus e o caso 2 com queixa
de dor, ambos com dentes vitais e com
radiografias que apresentavam região
radiolúcida bem delimitada com
formato de coração na região anterior
superior da maxila, próxima aos dentes
11 e 21. Foram feitas cirurgias de
remoção da lesão e ambos
confirmaram cisto do ducto
nasopalatino. O objetivo deste trabalho
foi elucidar uma situação de inchaço
não usual do palato além de dor e um
diagnóstico diferencial do aumento
anatômico do ducto. Conclui que esses
casos por eles estudados apresentam a
necessidade de identificação clínica e
radiográfica da entidade no inchaço da
região anterior do palato.
Nelson, Linfesty6 (2010)
relataram um caso clínico de cisto do
ducto nasopalatino, em um homem de
41 anos, com achados radiográficos
característicos, lesão radiolúcida bem
delimitada com formato de coração,
sobreposta à espinha nasal anterior e
sem reabsorção radicular. As
características histológicas
apresentadas foram um cisto
delimitado por epitélio escamoso
pseudoestratificado e epitélio cubóide,
apresentando tecido conjuntivo
fibrovascular, artérias, veias, glândulas
salivares menores e nervos. Concluíram
que o melhor tratamento para o cisto é
a sua completa remoção, normalmente
por palatino, seguida de biópsia e sua
recidiva é rara.
O estudo realizado por Martins et al.7
(2007) descreveu uma paciente do sexo
feminino, 22 anos, com achado
radiográfico em região anterior da
maxila, sem histórico de trauma e sem
características clínicas visíveis com
dentes vitais. A lesão observada
apresentava formato de pêra e estava
localizada entre os ápices dos incisivos
centrais superiores, a hipótese de
diagnóstico foi cisto do ducto
nasopalatino. Foi realizada biópsia
excisional e análise anatomopatológica.
Foi encontrado tecido conjuntivo
denso, revestido parcialmente por
epitélio cuboidal, em algumas regiões
ciliado, feixes de tecido nervoso,
muscular e células adiposas. De acordo
com os achados e revisão de literatura,
a conclusão foi que o cisto do ducto
nasopalatino é o cisto não
odontogênico mais frequente da
cavidade oral e apesar de se
caracterizar por crescimento lento e
assintomático, deve ser identificado e
tratado com remoção cirúrgica tendo
em vista que seu crescimento pode
ocasionar alteração nos dentes,
expansão óssea e dor.
Manne et al.8 (2013)
apresentaram um caso de cisto do
ducto nasopalatino com variantes
quanto à sua ocorrência, a idade, o
sexo e o tamanho da lesão. O caso
ocorreu em uma paciente do sexo
feminino, 22 anos, com uma queixa de
inchaço gradual, sem outros sintomas
associados além de eventual gosto
salgado na boca, sem histórico de
trauma, de doenças ou de parafunções.
No exame clínico foi observado inchaço
de 3 x 3 cm na região anterior do palato
duro envolvendo a papila incisiva e
testes de vitalidade dos dentes
associados resultaram positivos. Foi
realizada radiografia periapical onde
identificaram lesão cística em formato
de coração entre os ápices dos incisivos
centrais superiores. Foi removida
cirurgicamente a lesão e a análise
anatomopatológica resultou em cisto
parcialmente revestido por epitélio
pseudo estratificado ciliado e
parcialmente por epitélio escamoso
não queratinizado, tecido conjuntivo
com grandes áreas hemorrágicas,
grande coleção de vasos sanguíneos,
nervos e células inflamatórias de
infiltrado crônico, compatível com
CDNP. Esse caso foi considerado
variante do comum por seus autores
por ocorrer na terceira década de vida,
num paciente sexo feminino, com
recidiva, apresentando grande
diâmetro desde o palato até o epitélio
nasal.
Oliveira et al.9 (2009), em um
relato de caso de cisto do ducto
nasopalatino de paciente sexo
masculino da clínica de odontologia da
UFVJM, avaliaram um caso associado a
tratamento endodôntico insatisfatório,
onde o paciente apresentava edema e
abaulamento das corticais ósseas
vestibulares e palatinas na região dos
11 e 21. Realizaram testes de vitalidade
pulpar e obtiveram respostas negativas.
Foi feita punção aspirativa positiva para
líquido. Indicado retratamento
endodôntico dos 11 e 21, sem melhora
clínica com o procedimento. Novo
planejamento terapêutico foi feito na
suspeita de ser uma lesão de origem
não odontogênica. A técnica cirúrgica
escolhida foi a marsupialização seguida
de biópsia. Laudo histopatológico
confirmou ser um cisto do ducto
nasopalatino. O paciente permaneceu
em preservação e ao exame
radiográfico mostrou neoformação
óssea na região que anteriormente era
ocupada pelo cisto. A conclusão é que
apesar de ser o cisto não odontogênico
mais frequente na cavidade oral, seu
diagnóstico mostra-se difícil e a falta de
conhecimento sobre o assunto pode
levar a erros de diagnóstico e conduta
terapêutica.
Bachur et al.10 (2009), em uma
análise sobre as considerações
microscópicas e de diagnóstico
diferencial do cisto do ducto
nasopalatino compararam os
diagnósticos feitos pelos cirurgiões que
atenderam pacientes com algumas
características afins, como idade do
paciente, sexo, região da lesão e o fato
de serem descobertas em radiografias
de rotina. Foram estudados 4 casos
onde apenas um apresentava aumento
de volume palatino. Os 4 casos
acometeram pacientes com idades
entre 41 e 72 anos (média de 53 anos).
A imagem radiográfica das 4 lesões se
mostravam bem delimitadas,
localizadas entre os incisivos centrais e
superiores com tamanho variando
entre 1,0 a 4,0 cm de diâmetro (média
de 2,0 cm). Todos os casos foram
tratados com remoção cirúrgica
completa da lesão. Os diagnósticos
dados pelos profissionais que trataram
os pacientes foram: 2 casos
apresentaram cisto do ducto
nasopalatino como diagnóstico, 1 caso
apresentou como cisto periapical e 1
caso apresentou como cisto. Os
pacientes com cisto do ducto
nasopalatino geralmente são
submetidos a tratamento endodôntico
dos dentes 11 e 21 em virtude de
avaliações clínico radiográficas
deficientes, falhando muitas vezes com
o teste de vitalidade pulpar e avaliação
criteriosa da integridade da lâmina dura
dos dentes associados. A conclusão é
que devem ser consideradas como
possibilidades diagnósticas nas áreas
radiolúcidas da linha média da maxila e
sua investigação deve ser
complementada por exames
radiográficos da região e por testes de
vitalidade pulpar. São tratados com
enucleação simples e análise
anatomopatológica da peça removida.
Em um estudo sobre a
prevalência, distribuição e diagnóstico
diferencial de cistos do ducto
nasopalatino Cecchetti et al.11 (2012)
descreveram que o cisto do ducto
nasopalatino é o cisto não
odontogênico mais comum na cavidade
oral, o teste de vitalidade é
imprescindível para auxiliar o
diagnóstico, o tratamento de escolha é
a remoção cirúrgica completa da lesão
seguida da análise histopatológica da
mesma, e que o diagnóstico definitivo é
estabelecido somente por análise
histológica da lesão. Relataram que
deve ser realizado acompanhamento
pós-operatório clínico e radiográfico.
Concluíram também que houve
variação considerável do tipo de
epitélio de revestimento, inclusive na
mesma lesão.
Chen et al.12 (2011) realizaram
um estudo sobre o potencial de
crescimento do cisto do ducto
nasopalatino quanto esse alcança os
espaços medulares. No seu estudo foi
relatado um caso clínico onde um
paciente do sexo masculino, 59 anos,
usuário de prótese total observou o
inchaço da região anterior do palato
duro. Em radiografia panorâmica foi
observada severa reabsorção na região
anterior da maxila, em seguida
solicitada tomografia computadorizada,
onde se observou a reabsorção, foi
realizada biópsia excisional e remoção
da lesão. A análise histopatológica
confirmou a presença de lesão cística
com epitélio bem definido com a
presença de células escamosas, células
ciliares ou uma combinação delas na
mesma peça, além de infiltrado
inflamatório e celular hemorrágicas.
Segundo este estudo o padrão de perda
óssea é lento e o potencial de
malignização é raro, mas a perda óssea
associada à lesão é extensa devendo
ser tratada o quanto antes, é indicado
acompanhamento radiográfico anual
após completo restabelecimento da
região afetada.
Cicciù et al.13
(2010) discutiram
sobre um caso raro de duplo
acometimento do cisto do ducto
nasopalatino, em ambos os canais de
Stenson, a lesão ocorreu em um
paciente do sexo masculino, 35 anos
com queixa de inchaço na região
anterior do palato duro. Foram
realizados exames radiográficos,
radiografia panorâmica e tomografia
computadorizada, foi também
realizado teste de vitalidade que
resultou positivo, o diagnóstico
diferencial da lesão foi feito com tumor
odontogênico queratocístico. O
resultado do exame
anatomopatológico foi parede fina,
com epitélio cubóide a colunar onde
foram encontradas células goblet,
células essas características de
revestimento do epitélio respiratório. O
cisto do ducto nasopalatino pode
ocorrer bilateralmente como descrito
neste caso.
Para Pavankumar et al.14 (2010)
o cisto do ducto nasopalatino tem
origem incerta, se mostra mais
prevalente entre a quarta e sexta
década de vida, não apresentam
predileções raciais e são assintomáticos
na ausência de infecção. Quando
presentes devem se evitar fatores
irritantes e remover cirurgicamente o
quanto antes. O diagnóstico diferencial
deve ser baseado nas características
clínicas e exames radiográficos além da
tomografia computadorizada. O
diagnóstico definitivo é estabelecido
somente com o estudo
anatomopatológico da lesão. Após a
remoção cirúrgica da lesão
recomendam que seja feito
acompanhamento pós-operatório de
pelo menos um ano.
Igreja et al.15 (2005) em um
estudo sobre o tratamento das lesões
de cisto do ducto nasopalatino
confirmaram que o tratamento ideal é
a enucleação cirúrgica, mas deve ser
proposto caso a caso, pois em casos de
lesões muito extensas deve ser
indicada a marsupialização da lesão
prévia à sua completa remoção para
que seja prevenida a possibilidade de
causar infecção com subsequente
perfuração óssea e formação de fístula
oro nasal. Nesse caso a marsupialização
é utilizada como primeira etapa do
tratamento, com a finalidade de
descompressão e redução do tamanho
do cisto para uma segura enucleação
da lesão.
3 RELATO DE CASO
Paciente sexo M, 67 anos de
idade, em outubro de 2012
compareceu a uma clínica odontológica
em busca de substituir a prótese total
superior por uma prótese fixa sobre
implantes. No exame extra e intra bucal
não foi visualizada nenhuma alteração.
Foi solicitado exame
radiográfico panorâmico, onde
observou-se imagem radiolúcida
delimitada unilocular, de formato oval,
na região anterior de linha média da
maxila, sugestiva de aumento do canal
nasopalatino ou cisto do ducto
nasopalatino (Figura 1). Para melhor
detalhamento da lesão e sua relação
com estruturas adjacentes optou-se
pela realização de uma tomografia
computadorizada cone beam (Figura 2).
No exame tomográfico notou-se
imagem hipodensa delimitada
localizada em região anterior de maxila.
Nos cortes sagitais visualizou-se a
mesma em íntimo contato com o canal
nasopalatino e ausência de expansão
das corticais ósseas vestibular e palatal.
O aspecto imaginológico reforçou a
hipótese de diagnóstico de cisto do
ducto nasopalatino.
Após avaliação das imagens,
suspeitando-se de lesão cística, decidiu-
se pelo exame de punção aspirativa e o
material foi enviado a um laboratório
especializado em patologia clínica. O
líquido aspirado apresentou aparência
de conteúdo de lesão cística (Figura 3),
entretanto com presença de células
sanguíneas.
Figura 1. Radiografia panorâmica, outubro de 2012
Figura 2. Resultado do exame de punção aspirativa da lesão
Punção de lesão radiolúcida - palato duro. Avaliação citopatológica: - Quadro citológico consistente com conteúdo de Lesão Cística.
Figura 3. Tomografia Computadorizada Cone Beam (cortes sagitais) da região afetada
mostrando imagem hipodensa dos cortes 19 ao 28 e Canal Nasopalatino
Foi realizada biópsia excisional (Figura
4) com enxerto ósseo imediato. A peça
foi enviada ao laboratório de patologia
clínica para análise histológica. O
resultado foi compatível com lesão
cística (Figura 5).
Figura 4. Imagem da loja cirúrgica no momento da biópsia excisional.
Figura 5. Resultado da biópsia excisional
Biópsia exame: bx13-07082 data: 16/3/2013 09:54:57 Paciente : xxxxxxxxx Espécime/topografia :
Região anterior da maxila - lesão intraóssea. Avaliação de cisto de canal naso-palatino. Interpretação
Compatível com conteúdo de lesão cística. Cid-10 : k 10.0 Nota / complemento
O quadro histopatológico é compatível com o conteúdo da lesão cística de interesse. A proliferação conjuntiva observada é entremeada por tecido adiposo e por vasos sanguíneos sem atipias.
Em julho de 2013 para avaliação pós
cirúrgica, nova tomografia
computadorizada cone beam foi
solicitada (Figura 6). Observou-se na
região anterior de maxila a presença de
enxerto ósseo, evidenciando bom
resultado frente à conduta terapêutica
adotada.
Figura 6. Tomografia Computadorizada Cone Beam (cortes sagitais) pós cirurgia de remoção da
lesão e enxerto ósseo imediato, julho de 2013
4 Discussão
Todos os autores analisados
concordam sobre a ocorrência do cisto
do ducto nasopalatino ser o cisto não
odontogênico mais comum da cavidade
oral. Afirmam também sobre a
remoção cirúrgica ser o tratamento de
escolha, entretanto para Oliveira et al.
e Igreja et al. (2005) foi indicada a
marsupialização prévia à remoção
cirúrgica devido ao fato da lesão ser
muito extensa.
Segundo Escoda et al (2008),
Sharma et al (2012) e Manne et al
(2012) a origem é devida a algum
trauma, infecção ou ainda inflamação
na região do ducto, oriunda de restos
epiteliais. Já Pavankumar (2010) relata
ter origem incerta. Entretanto, Conte
Neto (2010) confirmou a origem devido
a tratamento endodôntico mal
sucedido.
Foram achados muito
frequentes células com características
similares: epiteliais de revestimento e
ciliares em Escoda et al. (2008),
Cecchetti et al. (2013), Conte Neto et
al. (2010), Noleto et al. (2010), Nelson,
Linfesty (2010), Martins et al. (2007),
Manne et al. (2012) e Cecchetti et al.
(2012), inclusive em regiões diferentes
da mesma lesão o que confere à ela
características da região onde se
encontra, quando próximo ao soalho
do nariz apresenta células ciliares, já
em lesões mais próximas do epitélio de
revestimento do palato, apresenta
células cilíndricas de revestimento.
A sintomatologia consta nos
estudos como um fator variável, para
Escoda 14 dos 22 casos analisados se
mostraram assintomáticos. Noleto, o
caso analisado em seu estudo não
apresenta sintomatologia, foi um
achado radiográfico prévio a
tratamento ortodôntico. No estudo de
Sharma et al (2012) foram analisados
dois casos com sintomas de inchaço no
palato, um deles com a presença de
pus e o outro com dor. Manne et al
(2012) apresentou um caso com queixa
de inchaço gradual, sem outros
sintomas associados além de eventual
gosto salgado na boca. Oliveira et al
(2009) mostraram um caso no qual o
paciente apresentava edema e
abaulamento das corticais ósseas
vestibulares e palatinas. Para Bachur et
al (2009) dos 4 casos estudados apenas
1 apresentava aumento de volume
palatino. Chen et al (2011) observaram
o inchaço da região anterior do palato
duro. Nelson, Linfesty (2010) e
Martins (2007) não encontraram
sintomatologia associada à lesão. A
ocorrência de sintomas que se
apresentou nos casos estudados foi
inchaço, presença de pus, gosto
salgado na boca, ou nenhuma
sintomatologia, o que nos mostra a
evolução da lesão, seu dano ao tecido
ósseo e complicações com o
diagnóstico tardio.
A recidiva para Escoda et al.
(2008) ocorreu em 7% dos casos após
três anos. Considerada rara para Conte
Neto et al. (2010) e Nelson, Linfesty
(2010). Entretanto, Cecchetti et al.
(2013) identificou 15% de recidiva em
seu estudo. Manne et al (2012)
também observou recidiva no seu
estudo de caso.
Algumas variantes foram
observadas nos estudos de Martins et
al (2007) ocorreram em paciente do
sexo feminino aos 22 anos, Manne et al
(2012), paciente sexo feminino aos 22
anos, Conte Neto et al (2010)em
paciente sexo feminino aos 33 anos.
Noleto et al (2010) descreveram a
ocorrência do cisto em um paciente
pediátrico do gênero masculino com 10
anos. Essas variantes mostram que
apesar de muito característica a
ocorrência do cisto do ducto
nasopalatino, esta pode ser variável,
nos orientando a investigação mais
profunda, ainda que seja fora da idade
e gênero prevalentes.
5 CONCLUSÃO
Os aspectos radiográficos do cisto do
ducto nasopalatino são relevantes na
suspeita de seu diagnóstico inicial,
principalmente devido à sua
localização, devendo o cirurgião
dentista estar atento na avaliação
imaginológica. A suspeita da lesão
obrigatoriamente deve ser confirmada
pelo exame anatomopatológico, após
punção aspirativa e biópsia. O enxerto
ósseo imediato pós-excisão cirúrgica se
mostrou eficiente na rápida reparação
óssea da área da lesão.
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