classificaÇÃo de risco em unidades de emergÊncia

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE DOURADOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENSINO EM SAÚDE, MESTRADO PROFISSIONAL CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA ANDRÉ LUIZ SOUSA GONÇALVES HERMENEGILDO SABINO Dourados - MS 2013

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Page 1: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE DOURADOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM ENSINO EM SAÚDE, MESTRADO PROFISSIONAL

CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

ANDRÉ LUIZ SOUSA GONÇALVES HERMENEGILDO SABINO

Dourados - MS

2013

Page 2: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

RESUMO

Nos últimos anos, o sistema brasileiro de atenção às urgências tem apresentando avanços em

relação à definição de conceitos e incorporação de novas tecnologias visando à organização

do atendimento em rede. Nesse sentido, espera-se que a população acometida por agravos

agudos seja acolhida em qualquer nível de atenção do sistema de saúde, de modo que tanto a

atenção básica quanto os serviços especializados deverão estar preparados para o acolhimento

e encaminhamento de pacientes para os demais níveis do sistema quando esgotarem-se as

possibilidades de complexidade de cada serviço.

No entanto, a atenção às urgências tem ocorrido, predominantemente, nos serviços

hospitalares e nas unidades de pronto atendimento abertos 24 horas. Assim esses serviços

enfrentam problemas com a superlotação de pacientes e a ausência de leitos suficientes para

atender essa demanda. Entretanto, a falta de informação acaba levando as pessoas que não

necessitam de tratamento aos hospitais e emergências, o sistema adotado atualmente leva em

conta o tempo de chegada e o estado em que o paciente se encontra. Sendo assim, o objetivo

do presente trabalho é levantar dados que substanciem a discussão de como se dá a formação

do enfermeiro que atua nas unidades de saúde no novo modelo apresentado pelo nível central

do SUS: “UPA – Unidade de Pronto Atendimento”, com o enfoque principal de como os

níveis de governo e as unidades de ensino tem atuado para garantir esta qualificação e, quais

são as principais demandas de capacitação apresentadas, culminando numa analise integrativa

que ira descrever e analisar a atuação do enfermeiro no acolhimento e classificação de risco

em emergências propondo novos modelos e soluções inovadoras.

Palavras- Chave: Formação. Critério seleção. Atendimento. Enfermeiro. Acolhimento em

Emergência

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o serviço de saúde voltado ao segmento de emergência vem

sofrendo com diversos problemas relacionados à superlotação, o que primeiramente vem

relacionado aos altos índices de violência nas grandes cidades, acidentes com veículos auto-

motores e em segundo passo pela grande procura do segmento por pessoas que necessitariam

de assistência relacionada a problemas de menor escala de urgência.

Sabe-se que os serviços de saúde no Brasil vivem, a partir da segunda metade dos anos

oitenta, importante período na sua reorganização e reestruturação, impulsionadas pela

Reforma Sanitária, cuja estratégia passou pela valorização da atenção primária (USF-

Unidades de Saúde da Família), porta de entrada preferencial ao sistema de saúde. No entanto,

é muito discutida a existência de distorção no fluxo de pacientes na rede de serviços de saúde

e a sobrecarga de atendimentos nos serviços de urgência e emergência. O reflexo desse

contexto é sentido no dia-a-dia dos prontos-socorros, com acúmulo de tarefas, sobrecarga de

trabalho num ambiente muitas vezes tenso.

Esses serviços respondem por situações que vão desde àquelas de sua estrita

responsabilidade, bem como um volume considerável de ocorrências não urgentes que

poderiam ser atendidas em estruturas de menor complexidade. Essas situações podem ser

identificadas na maioria das unidades públicas de urgência do Brasil e, têm interferido

consideravelmente no processo de trabalho e na qualidade do cuidado prestado à população.

Sabe-se que o trabalho em saúde caracteriza-se pelo encontro entre pessoas que trazem

um sofrimento ou necessidades de saúde e outras que dispõem de conhecimentos específicos

ou instrumentos que podem solucionar o problema apresentado. Nesse encontro, são

mobilizados sentimentos, emoções e identificações que podem dificultar ou facilitar a

aplicação dos conhecimentos do profissional na percepção das necessidades ou interpretação

das demandas trazidas pelo usuário.

Dessa maneira, o cuidado, que é o produto final do trabalho na saúde, é indissociável

do processo que o produziu, ou seja, é a própria realização da atividade, sendo consumido

pelo usuário no mesmo momento em que é produzido. A organização do trabalho, entretanto,

pode interferir no produto final do trabalho em saúde, transformando-o conforme a influência

Page 4: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

dos diferentes elementos do processo, das concepções e intenções dos agentes a respeito do

produto a ser construído. A organização tecnológica do trabalho se constitui pelos seus

elementos: o objeto de trabalho, os instrumentos e a própria atividade, assim como as relações

técnicas, sociais e de produção.

De forma que não podemos esquecer que o fruto final de toda essa engrenagem é a

formação do profissional que atua nessa rede de atenção ao sistema formado e pensado. No

ano de 2003 o Governo federal através do Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de

Atenção as Urgências e Emergências, no escopo central desta política estão as Unidades de

Pronto Atendimento - UPA 24h, que são estruturas de complexidade intermediária entre as

Unidades Básicas de Saúde e as portas de urgência hospitalares, onde em conjunto com estas

compõe uma rede organizada de Atenção às Urgências. São integrantes do componente pré-

hospitalar fixo e devem ser implantadas em locais/unidades estratégicos para a configuração

das redes de atenção à urgência, com acolhimento e classificação de risco em todas as

unidades, em conformidade com a Política Nacional de Atenção às Urgências. A estratégia de

atendimento está diretamente relacionada ao trabalho do Serviço Móvel de Urgência – SAMU

que organiza o fluxo de atendimento e encaminha o paciente ao serviço de saúde adequado à

situação.

Na contramão deste conjunto de ações e medidas estão os modelos de formação dos

profissionais que atuam nesse modal de serviço, e é neste canal que caminha o fator

motivacional de nossa pesquisa, pois diante deste modelo tão complexo e inovador o produto

humano por detrás das bancadas, mesas e ambientes de trabalho não esta sendo pensado com

a mesma intensidade.

Como esta formação esta sendo pensada? Que políticas governamentais existem para

que se apliquem as técnicas mais recentes de classificação de risco? e, de como as entidades

de ensino tem se preparado para esta nova realidade?. São questões que movem o nosso modo

de pensar.

Page 5: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Triagem e rede de urgência e emergência

O processo de triagem foi introduzido nos Serviços de Emergência para tentar

minimizar o problema da superlotação, permitindo cuidados imediatos para os pacientes mais

urgentes. Triagem (do francês trier = classificar) significa um processo sistemático para

determinar quem vai ser visto e tratado primeiro , com o objetivo de reduzir a morbidade e a

mortalidade dos pacientes. A origem remonta às guerras napoleônicas, quando Baron

Dominique Jean Larrey, cirurgião chefe de Bonaparte, priorizou os cuidados de acordo com a

gravidade de cada caso, na medida em que os pacientes eram retirados dos campos de batalha

e levados ao serviço cirúrgico em grande número.

Os departamentos de Emergência da Austrália foram os primeiros a formalizarem a

triagem estruturada.1 Hoje ela é aplicada em praticamente todas as Emergências de hospitais

do primeiro mundo, e são muitas as publicações referentes ao assunto, testando e adaptando

as escalas existentes para cada região.

.

O processo de classificação de risco, em todo o mundo, é realizado por enfermeiros,

após um treinamento específico. No Brasil o Ministério da Saúde lançou, em 2003, a Política

Nacional de Urgência e Emergência com o intuito de estruturar e organizar a rede de urgência

e emergência no país. Desde a publicação da portaria que instituiu essa política, o objetivo foi

o de integrar a atenção às urgências. Hoje a atenção primária é constituída pelas unidades

básicas de saúde e Equipes de Saúde da Família, enquanto o nível intermediário de atenção

fica a encargo do SAMU 192 (Serviço de Atendimento Móvel as Urgência), das Unidades de

Pronto Atendimento (UPA 24H), e o atendimento de média e alta complexidade é feito nos

hospitais.

1 Murray MJ. The Canadian Triage and Acuity Scale: A Canadian perspective on emergency department triage.

Emerg Med 2003; 15(1):6-10.

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A Rede de Atenção às Urgências e Emergências visa articular e integrar todos os

equipamentos de saúde para ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários

em situação de urgência/emergência nos serviços de saúde de forma ágil e oportuna.

O Objetivo das Unidades de Pronto Atendimento é diminuir as filas nos prontos-

socorros dos hospitais, evitando que casos que possam ser resolvidos nas UPAS, ou unidades

básicas de saúde, sejam encaminhados para as unidades hospitalares. As UPAs funcionam 24

horas por dia, sete dias por semana, e podem resolver grande parte das urgências e

emergências.

No entanto estas unidades atuam no modelo chamado “porta aberta” o que leva com

que esse modelo de serviço seja utilizado com o intuito de resolver queixas que poderiam ser

facilmente solucionadas no atendimento primário. Tal situação faz dos Serviços de

Emergências uma porta de entrada para o atendimento, aumentando a demanda de trabalho

dos profissionais de saúde, gerando excesso de atendimentos passiveis de resolução na rede

básica de saúde e conseqüentemente aumentando o tempo de espera para o primeiro

atendimento e superlotando os serviços de emergências.

Neste contexto complexo de porta de entrada a forma de recepção dos usuários deve

ser realizada desde o momento de sua chegada, e isso engloba o primeiro atendimento que

deve averiguar quais os motivos que o levaram a procurar aquele órgão de saúde, e

posteriormente, seu encaminhamento para atendimento até o momento em que este terá alta.

Desta maneira, o acolhimento é uma ferramenta que amplia a ação dos profissionais de saúde

que atuam no SUS, permitindo a promoção do acesso e da atenção em saúde às reais

necessidades de cada usuário. (BRASIL 2006)2.

Após o usuário ter sido acolhido e ter tido uma escuta qualificada de suas

necessidades, e constatada a necessidade de consulta de urgência/emergência, ele é

classificado conforme as cores vermelha, amarela, verde e azul, representando,

2 Ministério da Saúde (BR). Política nacional de atenção às urgências. 3ª ed. Brasília (DF): Ministério da Saúde;

2006.

Page 7: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

respectivamente, paciente com risco de morte, em estado crítico ou semi-critico, paciente que

requer observação e pacientes não graves. (MARTINEZ, 2006)3.

2.2. Classificação de Risco na Urgência e Emergência

Com relação às queixas apresentadas nos Serviços Hospitalares de Emergência que

não caracterizam necessidade de atendimento emergencial e muitos acolhimentos são feitos

de forma informal e descomprometida, o que não garante o acesso ao serviço de saúde

indicado e não otimiza a busca pelo atendimento desejado, inutilizando o conceito de contra-

referência o acolhimento com classificação de risco torna-se uma ferramenta difícil de ser

aplicada nesse cenário do Serviço Hospitalar de Emergência, seja ele adulto ou pediátrico,

uma vez que a rede de cuidados não se encontra articulada para manter a integralidade e

continuidade da assistência.

Para este estudo utilizaremos como referencial o sistema de Triagem de Manchester

que é uma metodologia científica que confere classificação de risco para os pacientes que

buscam atendimento em uma unidade de pronto atendimento. O Sistema de Classificação de

Risco (SCR) dispõe de 52 entradas, que se entende por fluxos ou algoritmos para a

classificação da gravidade, avaliação esta codificada em cores. (KEVIN, 2010)4

Mas a adoção de um protocolo de triagem resolve o problema? Obviamente que não.

Ele é um poderoso instrumento para iniciar um processo de gestão em estruturas naturalmente

desorganizadas, como os hospitais de urgência e isto é apontado na literatura mundial. Não

existe mais possibilidade de trabalhar com atenção de urgências sem um sistema de triagem

ou classificação de risco e é demonstrado, também, que alguns deles, principalmente o

Manchester que é o mais usado no mundo hoje, se relacionam com a previsão de mortalidade

nas primeiras 24 horas e na necessidade de internação.

3 Martinez-Almoyna M, Nitschke CAS, organizadores. Regulação médica dos serviços de atendimento médico

de Urgência: SAMU [online]. 1999 [acesso 2013 Nov 01]. Disponível em: http://neu.saude.

sc.gov.br/arquivos/manual_de_regulacao_medica_ de_urgencia.pdf. 4 KEVIN, Mackway-Jones, Sistema Manchester de classificação de risco, Classificação de Risco na Urgência e

Emergência, Editora Grupo Brasileiro de Classificação de Risco, tradução: JUNIOR, Welfane Cordeiro, MAFRA,

Adriana de Azevedo, 2010.

Page 8: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

No entanto, se estas estruturas ainda trabalham de forma isolada e não se organizam

com os outros pontos de atenção, o resultado da implantação de um protocolo destes é menor

do que seu potencial. Recentemente, o Dr. Kevin Macway, um dos autores do Protocolo de

Manchester, que hoje faz parte das recomendações do Advanced Life Suport Group, assim

como o ATLS e ACLS, largamente adotados no Brasil, observou que vem aumentando

anualmente a procura das urgências no Reino Unido e principalmente por pacientes que

apresentavam baixo risco após a triagem.

Os problemas, aqui no Brasil, são similares, assim como nos Estados Unidos, no

Japão, que também está adotando o Protocolo de Manchester e em toda a Europa. Qual é hoje

o grande consenso de quem trabalha nos sistemas de atenção às urgências? A solução para as

urgências está na mudança do modelo de atenção do sistema de saúde. Isto significa adotar

radicalmente um modelo que privilegie a atenção primária, não a atenção ”básica” praticada

em nosso país,que se configura como um pacote, uma cesta básica de serviços não eficazes,

mas, uma nova atenção primária, resolutiva e forte que se torna o centro de comunicação e o

alicerce mais importante de uma rede integrada de serviços de saúde. Esta é a base de outra

grande revolução.

No caminho de todas essas ponderações deve caminhar a capacitação pois é inerente

ao indivíduo buscar o conhecimento, cotidianamente os indivíduos assimilam novos

conhecimentos que lhes vão ser úteis de alguma forma. O conhecimento ao profissional de

enfermagem que atua em Unidade de Pronto Atendimento é crucial, pois lida com vidas

humanas necessitadas de recuperação física e emocional. O ambiente de uma UPA tem por

característica ser um espaço em que a ação do enfermeiro está minimamente apoiada em

ações mecânicas e técnicas, apesar de as ações serem rotineiras, é determinante que esses

profissionais estejam preparados.

Levando em deferência essa realidade, qual a realidade encontrada hoje para a garantia

desta capacitação. O ambiente hospitalar, em sua essência, reflete uma perspectiva negativa,

no sentido de que aqueles que necessitam de atendimento, de alguma forma, estão com algum

prejuízo em sua integridade física e necessitam de assistência de profissionais aptos e com

conhecimento necessário para a solução de seu problema, de modo que médicos e

Page 9: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

profissionais de enfermagem dispensem atendimento eficiente para essa conjuntura. (PITTA,

2000)5

O profissional em enfermagem é sempre o primeiro a prestar atendimento ao paciente,

é ele que realiza a abordagem inicial, preparando-o para a avaliação do médico, é crucial que

esse profissional esteja preparado, pelo fato de que, ao procurar um serviço de emergência, o

paciente, tem uma necessidade imediata afetada e necessita de conforto, como também com

os conhecimentos técnicos necessários para o trabalho de reabilitação da saúde do paciente.

Essa necessidade passa a ser muito mais relevante no atendimento. (ASPER, 2007)6

A dinâmica do espaço de uma UPA está inclinada à técnica, embora a dinâmica dos

enfermeiros esteja apoiada em paradigmas rotineiros. Crucial é que o mesmo esteja

eficientemente preparado para atuar junto ao paciente que realmente necessita de um

atendimento de urgência, tem um alto comprometimento de sua saúde, estando, em muitas

situações, na iminência da morte. O preparo do profissional em enfermagem é determinante

para que, juntamente com a atuação do médico, possa contribuir para o resgate da saúde do

paciente. (COSTA, 1999).7

3. JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA PARA O ENSINO EM SAÚDE E

EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL

O atendimento de urgência e emergência constitui uma forma diferenciada de

assistência à saúde, cujas decisões são estabelecidas num pequeno espaço de tempo. A

superlotação em serviços de urgência e emergência é um “fenômeno” contemporâneo global,

5 PITTA, A.O Hospital: Dor e Morte Como Ofício. São Paulo:Hucitec, 2000.

6 ASPER, Sérgio. Humanização na prática de enfermagem. São Paulo: Martin Claret, 2007.

7 COSTA, Mateus Teodoro. Comprometimento da enfermeira com a organização hospitalar e com a carreira:

um estudo de caso em uma organização hospitalar [dissertação]. Salvador (BA): Escola de Enfermagem,

Universidade Federal da Bahia; 1999.

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impactando fortemente sobre a gestão clínica e a qualidade assistencial (BITTENCOURT e

HORTALE, 2009) 8.

Na última década, os serviços de urgência e emergência são uma das “portas de

entrada” ao sistema de saúde, e não somente nos hospitais públicos, mas também nos

hospitais privados. Somado a isso, houve uma redução importante do número de leitos

hospitalares e aumento da expectativa de vida da população (e, conseqüentemente da

propensão ao desenvolvimento e agudização de doenças crônicas). Em uma parcela

significativa dos serviços de urgência e emergência, existe a limitação dos recursos físicos,

tecnológicos e humanos. Observa-se que os serviços estão constantemente operando acima de

sua capacidade instalada e não há gerenciamento de fluxo adequado dos pacientes.

A Classificação de Risco emerge como uma dessas medidas importantes, e propor

novos modelos de capacitação, novas tecnologias e aplicação dessas deve ser motivo de

estudo.

Os níveis de governo não tem se preocupado em manter um bom ou aceitável nível de

atualização e padronização do ensino junto aos profissionais de enfermagem. Segundo dados

oficiais do Ministério da Saúde existem hoje disponíveis nos serviços de saúde na região

Centro Oeste do Brasil um total de XXX Enfermeiros, quantos desses profissionais se sentem

capacitados para atuar nos serviços de emergência utilizando o sistema de classificação de

risco?

Se torna necessário e urgente a criação, implantação e manutenção de uma rede de

ensino capaz de suprir esta necessidade o que justifica a necessidade deste estudo sendo que

estaremos mapeando esta realidade e propondo soluções.

8 BITTENCOURT, R.J.; HORTALE, V. A.. Intervenções para solucionar a superlotação nos serviços de emergência

hospitalar: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 7, Jul, 2009.

Page 11: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

4. OBJETIVO

Requalificar o atendimento nas unidades de referência em Urgência e Emergência

através da capacitação dos profissionais que atuam no setor de enfermagem, alunos dos cursos

Técnicos, de Graduação e pós-graduação em Enfermagem no município de

Rondonópolis/MT, tendo como referencial a classificação de risco proposta no modelo

Manchester9 gerando assim, conhecimento, embasamento e mudança no atendimento de

classificação de risco, buscando soluções inovadoras na qualificação dos profissionais

envolvidos, bem como a conseqüente melhoria na qualidade dos atendimentos prestados ao

usuário.

4.1. Objetivos Específicos

a) Realizar levantamento bibliográfico sobre o sistema de classificação de risco

aplicado nas unidades de saúde e/ou a sua inexistência;

b) Realizar levantamento quantitativo e qualitativo sobre a rede de atenção a urgência

e emergência na região;

d) Propor através dos estudos realizados novos modelos e técnicas inovadoras no

atendimento aos usuários, sob a égide do modelo de classificação de risco de Manchester nas

unidades de urgência e emergência;

f) Capacitar profissionais de saúde e alunos do setor Enfermagem tanto nos níveis

técnicos como profissionais atuantes;

e) Após fundamentação teórica, aplicar um modelo piloto na unidade da UPA de

Rondonópolis no estado de Mato Grosso;

5. METODOLOGIA

Trata-se de uma proposta de capacitação de alunos dos cursos de enfermagem nos

diversos níveis educacionais bem como profissionais atuantes nos serviços de saúde no

9 KEVIN, Mackway-Jones, Sistema Manchester de classificação de risco, Classificação de Risco na Urgência e

Emergência, Editora Grupo Brasileiro de Classificação de Risco, tradução: JUNIOR, Welfane Cordeiro, MAFRA,

Adriana de Azevedo, 2010.

Page 12: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

município de Rondonópolis/MT, paralelamente a esta capacitação uma pesquisa bibliográfica

quantitativa e qualitativa que apreende a realidade de forma direta e permite a descrição

ampla do fenômeno investigado no seu contexto. O desenho metodológico da pesquisa é a

formação do profissional de enfermagem através de um estudo de caso tendo como fator

principal a “classificação de risco em unidades de Urgência e Emergência”, o qual permite um

aprofundamento da situação a ser estudada, vista na sua singularidade.

No que tange ao estudo bibliográfico as pesquisas serão realizadas nos materiais

disponíveis não cabendo aqui a sua qualificação, os mesmos serão utilizados como forma de

formação de conhecimento e opinião. O espaço de pesquisa serão as Unidades de Ensino dos

cursos de enfermagem da região de abrangência da pesquisa, tendo como base principal a

Unidade de Emergência UPA do Município de Rondonópolis no interior estado de Mato

Grosso, bem como serviços que atendem os usuários que procuram a unidade

espontaneamente, e os encaminhamentos formais e informais de unidades pré-hospitalares

fixas (Unidades Básicas de Saúde, Unidades de Saúde da Família, Ambulatórios de

Especialidades, por exemplo) do município sede da pesquisa e de unidades hospitalares,

destacando-se aqui como fator de escolha, a referência no atendimento às urgências e

emergências.

6. RESULTADOS ESPERADOS

- Melhoria da qualidade dos serviços prestados a população;

- Modelo de formação construído e aplicado;

- Desenvolvimento da gestão;

- Capacitação, desenvolvimento e progressão dos alunos e servidores;

- Qualificação dos alunos e servidores;

- Objetivos institucionais alcançados.

7. ADEQUAÇÃO A LINHA DE PESQUISA

O trabalho da Enfermagem está condicionado a fatores tecnológicos, políticos,

econômicos e sociais, os quais produzem competitividade em um mercado de trabalho

especializado. Isso acarreta a necessidade de aperfeiçoamento de habilidades profissionais e a

Page 13: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

demanda de validação de conhecimentos compatíveis com os avanços tecnológicos e

científicos.

Essa busca contínua pelo conhecimento sustenta a prática profissional e representa

importante estratégia para o fortalecimento da Enfermagem como ciência e profissão. Nesse

sentido, a pesquisa se insere na prática dos novos modelos de trabalho em urgência e

emergência e instiga os profissionais à reflexão de seus discursos e ações. Assim estimular a

formação em saúde, procurar aplicar novas técnicas estimula a produção de novos saberes.

Este grupo de novos saberes é desenvolvido por equipes que compõem o grupo

participante da pesquisa o que gera a institucionalização do saber o que por fim favorece a

produção científica.

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8. CRONOGRAMA

Este trabalho será realizado no decorrer de 2014 e de 2015, conforme cronograma abaixo.

2014 2015

ATIVIDADES mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Levantamento Bibliográfico x x x x

Desenvolvimento do Projeto x x x x x x x x x x x x

Qualificação do Projeto x

Aplicação do Projeto Piloto x x x x x

Análise dos Dados x x x

Apresentação dos resultados x x

Elaboração do documento final x

Page 15: CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UNIDADES DE EMERGÊNCIA

9. REFERÊNCIAS

ALBINO, RM; GROSSEMAN, S; RIGGENBACH, V Classificação de risco: Uma necessidade inadiável em um serviço de emergência de qualidade. Arquivos Catarinenses

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BITTENCOURT, R.J.; HORTALE, V. A. Intervenções para solucionar a superlotação nos serviços de emergência hospitalar: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública, Rio de

Janeiro, v. 25, n. 7, Jul, 2009.

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