claus westermann

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Leitura complementar, para aprofundar os temas apresentados nel la livro: Norbert Lohfink, Grandes manchetes de ontem e de hoje, Ediyoes PlIlI- linas. Atraves de estudo muito bem cuidado e representativo, Norberl Lohfink mostra que muitos temas hoje debatidos, ja 0 no AT. Para isso ele escolhe algumas palavras-chave mUlto em vogu _ Iiberta y 8o, unidade, pluraHsmo, hist6ri.a etc. - repor. tadas ao AT, revelam aspectos e dimensoes teo16g1cas perceptIvelS ape- nas numa analise comparativa. 6 1 PARTE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO "N/(' cl/menlo mel6dico o conceito "Deus" focalizado no titulo devera ser con- . qUencia de visao de conjunto do Antigo Testamento que 1\ I 0 que se afirma sobre Deus em cada uma das Ilia. paginas, em cada urn de seus livros, quer em separado, 1111 r na sua totalidade. Nem se devera cair no equivoco de dar preferencia aprioristica a urn setor em detrimento de uutro, nem sera feliz declarar determinado conceito como •• ndo 0 mais essencial acima de todos os restantes, tais mo Alianra, Eleiriio ou Salvariio, ou en tao inquirindo I 80 de inicio qual seja a do Antigo Testa- In nto. Acontece que 0 Novo Testamento possui seu cen- tro indiscutivel na paixao, morte e do Cristo, rara 0 qual convergeru os evangelhos e do qual procedem AI cartas apost6licas. Fugindo 0 Antigo Testamento a seme- Ihante estrutura, torna-se impraticavel transferir do Novo pura 0 Antigo Testamento a questao da verdade centra!.' Quem quiser assinalar 0 que 0 Antigo Testamento, no ICU conjunto, afirma acerca de Deus deve partir de seu uutotestemunho e de sua "0 Antigo Tes- tamento narra umahist6ria (G. v. Rad). Com isso ja ficou cvidenciada a primeira de uma Teologia do Antigo Testamento: desde que ele versa sobre Deus em for- ma de hist6ria - sendo hist6ria, neste contexto, 0 eng 0 a- mento dos eventos concretos, a estrutura de uma Teologia do Antigo Testamento deve ser realista em vez de concei- tualista. 1 G. v. Red, Theologie, I, 4' ed., 1962; R. Smend, ThSt, 101; G. F. Hasel, ZAW 86; W. Zimmerli, EvTh 35. 7

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Introdução ao Antigo Testamento

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  • Leitura complementar, para aprofundar os temas apresentados nella livro: Norbert Lohfink, Grandes manchetes de ontem e de hoje, Ediyoes PlIlI-linas. Atraves de estudo muito bem cuidado e representativo, Norberl Lohfink mostra que muitos temas hoje debatidos, ja 0 fo~am tamb~m no AT. Para isso ele escolhe algumas palavras-chave mUlto em vogu _ Iibertay8o, unidade, salva~ao, pluraHsmo, hist6ri.a etc. - q~e,. repor. tadas ao AT, revelam aspectos e dimensoes teo16g1cas perceptIvelS ape-nas numa analise comparativa.

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    1 PARTE

    DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

    "N/(' cl/menlo mel6dico o conceito "Deus" focalizado no titulo devera ser con-

    . qUencia de visao de conjunto do Antigo Testamento que 1\ I r~velara 0 que se afirma sobre Deus em cada uma das Ilia. paginas, em cada urn de seus livros, quer em separado, 1111 r na sua totalidade. Nem se devera cair no equivoco de dar preferencia aprioristica a urn setor em detrimento de uutro, nem sera feliz declarar determinado conceito como ndo 0 mais essencial acima de todos os restantes, tais

    mo Alianra, Eleiriio ou Salvariio, ou en tao inquirindo I 80 de inicio qual seja a v~dade c~ntral do Antigo Testa-In nto. Acontece que 0 Novo Testamento possui seu cen-tro indiscutivel na paixao, morte e ressurrei~ao do Cristo, rara 0 qual convergeru os evangelhos e do qual procedem AI cartas apost6licas. Fugindo 0 Antigo Testamento a seme-Ihante estrutura, torna-se impraticavel transferir do Novo pura 0 Antigo Testamento a questao da verdade centra!.'

    Quem quiser assinalar 0 que 0 Antigo Testamento, no ICU conjunto, afirma acerca de Deus deve partir de seu uutotestemunho e de sua auto-identifica~ao: "0 Antigo Tes-tamento narra umahist6ria (G. v. Rad). Com isso ja ficou cvidenciada a primeira configura~ao de uma Teologia do Antigo Testamento: desde que ele versa sobre Deus em for-ma de hist6ria - sendo hist6ria, neste contexto, 0 eng 0 a-mento dos eventos concretos, a estrutura de uma Teologia do Antigo Testamento deve ser realista em vez de concei-tualista.

    1 G. v. Red, Theologie, I, 4' ed., 1962; R. Smend, ThSt, 101; G. F. Hasel, ZAW 86; W. Zimmerli, EvTh 35.

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  • . Em que consiste, porem, uma estrutu~a r.ea~ista? A resposta e obvia. 0 teologo moderno pode!la I~m~t~r-sc II fornecer urn apanhado conciso da narra9ao hlst~n.,:a do pr6prio Antigo Testamento, de acordo. com a oplnlao de G. v. Rad: "A exposi9aO narrativa contmu.a sendo a form?, rna is legitima de se falar sobre 0 A:ntlgo. Tes:aJ?ento (1964, 126). E tal empreendime;tt? sena .. TUl.to facII, ~e 0 Antigo Testamento constasse de Unlca sequen~h()mogeneQ de capitulos historicos; contudo, nao e este 0 seu caso.

    o Antigo Testamento tern a sua origem e. foi trans~itido em triplice arranio: Tora, Profetas e Escntos, ,ou seJ~, Jivros hist6ricos, rofeticos e didaticos, cujo cer~e e constt-wido pelos Salmos. Na mentarraaae:aos trans,ml.ssores, afc: ra os livros narrativos, pertencem amda it Blbha do Anti, go Testamento as alavras divinas pronunciadas J:,ara den tro da hist6ria, bern como a res osta os ue clamam .~ Deus. A bern dizer a verdade, a narrativa a come9ar do GO;' nesis ' ate as Cronicas ja contem passagens com esta espe cie de pronunciamento divino, ao lado, de. outras passagens contendo a resposta de louvor ou de suphca; mas 0 esque-ma tresdobrado do Antigo Testamento da a entender que a hist6ria descrita ja vern determinada pelas palavras pro feridas por Deus e, por outro lado, pela rea9aO daquel~s que se sentem envolvidos diretamente nestes eventos hls-t6ricos.

    Sera, portanto, 0 proprio canon do Antigo T.estamento que indicara os elementos especificos dos sucedldos deste mesmo Antigo Testamento. Possui~os com .isso urn ponto de partida objetivo de uma Teologla do Anttgo Tes.tamento independente de posi90es antecipadas sobre 0 que seJa essen-cial e indispensavel em semelhante empresa. Ao pergunt~rmos 0 que 0 Antigo Testamento afirrna sobre Deus, a dlta triQ,a.rti9aO da Biblia hebraica indicara 0 caminho.2

    Todavia, de que maneira devera ser enfocado em, s:u coniunto, e reduzido a linhas definitiv~s tudo quando eta? variegado e multiforme? Nas teologlas veterotestamenta-

    2 B. S. Childs destaca a importancia do canon para a Teologia do Antigo Testamento; cf. G. W. CoatsB.-O~ Long.

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    "I lilllll' 0 problema foi contornado identificando-se IIU" ' llhl'C Deus com conceitos basicos tais como sal-, 1 k 0, olian9a, fe, querigma, revela9ao, soteriolo-111111 (I', CalC verbalismo fez com que 0 tratado se afas-

    1111 IIll lllIngcm realista do Antigo Testamento.' " Int.logarem-se as Iinhas deterrninantes do discurso

    1111, lem perder de vista a sua versatilidade, e preci-11~111t dUB estruturas verbais; e, para tanto, impoe-se

    r II"Milmente a mudan9a consideravel dos metodos. Dai 111111110, n narrativa veterotestamentaria ja nao sera uma

    III.h\d" do Salva9ao, no sentido de uma serie de a90es sal-III nM dc Deus, mas devera representar urn acontecer entre

    I 1111 e 0 homem, tendo como cerne a experH:ncia de salva-I '1110 ultrapassa a mera historiografia a servi90 da salva-III. 0 Pentateuco gira it volta da confissao jubi16sa dos

    IIU , wllram a salya~ao, enquanto a hist6ria do Deutero-1111011,10 (Josue ate 2 Reis) e marcada pela confissao de ,ulf,1I de to.c!os s ue ex erimentaram 0 'uizo de Deus. I I ntateuco, por sua vez, e dividido em proto-historia,

    hl. 16rla dos patriarcas e hist6ria nacional de Israel. Esta Ilhlma (Ex ate Dt) e pr~c~dida pela ex~osi9ao da~wao--

  • Chegando ao genero~apiencJal, este . nao se enquadra neste esquema basilar da I eolog!a' do Antigo Testamento, por ela nao versar propriamente sobre ocorrencias surgidas entre Deus e os homens. A Sabedoria, nos seus prim6rdios, e sobretudo profana. S6 num estagio posterior elaborar-se-a uma teologia sapiencial na base de tematica especifica, como, por exemplo, 0 contraste entre 0 justo e 0 impio. 0 habitat teol6gico da abedoria deve ser apreciadq de acor-do com a cria9ao do homem, tendo 0 Criador concedido ao homem a ca acidade de entender 0 mundo e de nele se ajeitar'

    Com isso acabamos de esb09ar algumas linhas mestras, nao perdendo de vista tudo 0 que 0 Antigo Testamento fala sobre Deus. A Teologia do Antigo Testamento tranl esta marca da hist6ria que acolheu em seu bojo a mensagem divina e que responde a dita mensagem mediante aqueles que a escutaram e ainda a escutam.

    o esquema da Teologia do Antigo Testamento sera tanto sistematico como hist6rico. Derivando-se 0 aspecto sistematico da fala constante sobre Deus que perpassa todo Q Antigo Testamento num atuar reciproco entre Deus e 0 homem, ou melhor, entre Deus e a sua obra criada, seu povo e 0 homem, reinando de parte a parte urn falar e urn agir. Nem faltam evidentemente outras formas de atua90es permanentes, como, por exemplo, 0 salvar e 0 bendizer ou , da parte do homem, a suplica e 0 louvor, ou ainda a abso-luta unidade de Deus do principio ate 0 fim.

    o aspecto hist6rico consiste no fato de Deus , no Anti- . go Testamento, se ter vinculado a hist6ria de urn p~o igual a todos os outros e. portanto, suieito as mudan9as e corctingencias hist6ricas . Explicam-se ai os altos e os bai-xos inevitaveis no relacionamento entre Deus e 0 homem, se nao na submissao, mas certamente nas formas do culto. As transforma90es ostentam ainda a identidade do Deus-juiz com 0 Deus-redent r, dependendo ambas as facetas das

    4 Ver III parte; C. Westermann no comentario a Gn 4.17-26 e ThB 55, pp. 149-161; W. Zimmerli, Grundriss der AT-Theologie. 1972, pp. 136141.

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    1 lIudoB normais em semelhantes rela90es. Apesar de liN rcStri90eS cabiveis, a hist6ria vivida entre Deus e

    u puvo ~ urn vah:em de singularidade tao modelar que II I'lll BerVlr de~o entre a religiao de Israel e as outras

    11111008.

    I. A HISTORIA

    I 0 8~nero historieo no Antigo Testarr..~nto

    o genero hist6rico no Antigo Testamento distingue-se d. qualquer outro moderno pelo fato de a hist6ria vetero-1,.lumentaria acontecer entre Deus e 0 homem, entre 0 Cria-dur c a sua obra. Portanto, 0 conceito 0elUSi6ria elaborado nil Hcculo XIX nao tern aplica9ao neste contexto porque, .'lIundo ele, fICa descartada qualquer modalidade de inter-V 11980 divina na hist6ria humana, ao pas so que no Antigo TC8tamento 0 agir e falar divinos constituem 0 fator essen-lal de qualquer evento e nem se uer se ode ima inar uma

    r ulidliOeOiTerente. M. Buber sabe de urn dialogo rea iza-!lur dillilst6ria,' tendo como razao a cria9ao do homem

    .~gundo a. imagem de Deus para ocupar 0 lugar intermedia-rio entre 0 Criador e a cria9ao.

    A questiio se 0 objetivo da Teologia do Antigo Testa-m~nto e a hist6ria real ou a religiao de Israel, parte de pre-mlssas falsas (G. v. Rad e F. Hesse).6 Nao_existe-di~en9a cntr~ _~ist6ria e religiao; no Antigo Testamento, Deus e a r~ahdaae, e a realidade e Deus. -

    Esta ai a diferen9a entre a hist6ria narrada no Antigo Testan;ento e 0 conceit.o cientifico da hist6ria modern a que se estnba sobre as reahdades politicas ou nacionais de uma sociedade organizada,1 bern como sobre os documentos a

    5 M. Buber, J923 e 1954; H. H. Schrey, Ertriige der Forschung, 1. 6 F. Hesse, KuD 4 ZThK 57; G. v. Rad, lac. c't. 7 A. Alt, )osua, KISchr. I 176-192' M Noth RGG 3' ed II 1498-1501. """ ,

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  • sua disposi9ao. Ora, .e exatamente esta documenta9ao quo supoe uma organiza9ao politica e estatal. A linha divis6rin patenteia-se na explora9ao da hist6ria primeva do genero humane da qual se ocupam outras ciencias, notadamente a etnologia que lida com os poves primitivos e isso, normal mente, sem fontes ou documentos hist6ricos, devendo fiar-se em realidades diversas dos criterios da historiografia cient!-fica. A historiografia e precedida necessariamente de narra-90es que descrevem os eventos de modo diferente, dis pen sando a verifica9ao exata por meio das normas em yoga. A cronologia, igualmente, vern depois de genealogias de valor hist6rico discutivel.

    Ambos os exemplos, 0 da narra9ao e 0 da genealogia, dizem respeito ao Antigo Testamento que abrange tanto pre-hist6ria como hist6ria. E por isso, a alternativa entre hist6ria e nao-hist6ria tern aplica9ao a certos setores de textos, embora nao a todos, servindo de exemplo a hist6ria dos patriarcas. precaria tambem a discrimina9ao entre 0 que seja estritamet.Jte hist6rico e/ou religioso.

    A diferen9a mais relevante e a atua9ao divina, uni~sal e envolvente, que abrange simplesmente todos os aeon tecimentos, do prinefmo ate 0 fim, sem que seja possivel real9ar o rigorosamente hist6rico.

    A hist6ria assim encarada desenrola-se dentro de tres efrculos de horizonte. No centro figura 0 povo de Deus cuja hist6ria politica e documentavel corresponde 11 de qualquer povo entre os povos. 0 efrculo adjacente e a hist6-ria da fgmiIy of maf!, das gera90es de familias e de seus individuos no seu meio ambiente pessoal e apolitico tal como vern sendo descrito na hist6ria dos patriarcas. 0 efr-culo exterior consiste na hist6ria da humanidade articula-da em na90es por tQda a extensao do orbe terrestre, cujo inicio e a Idade Primeva e cujo fim e a escatologia apoca-liptica. esta a conceitua9ao do Javista que retrata simul-taneamente a pre-hist6ria (Gn 1-11), a hist6ria dos patriar-cas (Gn 12-50) e a hist6ria nacional (Ex ate a conquista de Canaa). Manifesta-o logo na introdu9ao 11 hist6ria dos pa-triarcas (Gn 12,1-3) que nao pretende limitar a promessa feita a Abraao ao povo de Israel, mas a todos os povos nas-

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    du humanidade primordial (Gn 10), encerrando as dll terra na ben9aO divina: "Em ti serao aben90adas

    A gera90es da terra.

    II/.~ Idria da salvar;ao

    AN restri90eS assinaladas no concernente a historiogra-II l1Iodcrna valem tambem quanta ao conceito da assim h. muda Hist6ria da salva9ao, formulada no seculo XIX em

    .1 Ofr ncia direta do conceito cientifico da hist6ria.8 Diver-.m lite do horizonte acanhado da Hist6ria da salva9ao, 0

    1111110 Testamento nao se circunscreve a a90es salvificas II IHivas, mas se interessa por tudo quanto sucedeu entre

    II, uI C 0 homem. A hist6ria peculiar de Israel foi inaugura-.1. por uma a9ao salvadora de Deus e a fe no Deus-redentor I.ractcriza a religiao israelita ate para dentro do Novo Tes-11m nto; todavia, Deus e mais do que redentor: ele e IlIlz, ole e aquele que derrama seus beneffcios, nao podendo r cnquadrado ou subordinado a urn tipo de atua9ao sob " outr~. 0 fato recebe sua confirl{la9ao na estrutura geral till Pentateuco, cujo cerne (Ex-Nm)) versa sobre a salva ao Lllvln!!.... ao passo queamo aura" Gn e t) escreve os It ncffcios divinos. A hermeneutica a [stona dasalva9ao I'rLSSupoe a homogeneidade inalterada da atua9ao do Deus ['omo salvador em rela9ao a Israel tornado como constante, [IUando, na realidade, uma das caracterfsticas do Antigo 'I'cstamento e justamente essa de abranger universalmente toda a humanidade agrupada em torno de Israel. Todas as ~r as da atividade humana particillam do interesse de Deus:

    cono~, cultura, costumes, vipa social, 'politica, existindo nccessariamente as di erencia90es quanto as famflias da tribo em vias de estabelecimento fixo, quanto a uma cornu-nidade dedicada a agricultura ou vivendo numa corte real. Tudo tern a sua razao de ser e 0 seu determinismo conge-nere: as experiencias dos patriarcas n6mades, dos que sai-ram do Egito, no mar dos Juncos, no deserto, no Sinai, na

    8 Exposi~ao classica da autoria de K. v. Hofmann; cr. tambem F. DeIitzsch, Gen. Komm. 277-184.

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  • invasao do Canaa e na sua vivencia no pais conquistado, Tempos depois, ao elegerem seus chefes, ao toparem com 01 santuarios e cultos dos nativos, ao se certificarem das ben. 9aos divinas na agricultura com as novas formas de solen/. dades anuais, na introdu9ao da monarquia com suas expec. tativas benfazejas e fatais, ate a catastrofe final anunciada com antecedencia pelos profetas, as humilha95es do exilio e 0 come90 da novel comunjdade como provincia do impe. rio persa. A realidade polimorfa, descrita em estilo dos mais variegados, significa a a9ao divina, e acionada pelas men sagens de Deus, brotando logicamente, do meio dela, a res posta adequada.

    II . A PALAVRA DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO

    , 1. Agir e falar

    Estas duas atividades inte ram a a ao divina no seu pavo e na humanidade, conforme esta resumido em Sl 33,4:

    A palavra de J ave e reta, e a sua obra toda e verdade.

    A segunda se9ao do canon biblico, os Profetas, tratam primariamente da palavra que procede de Deus, enquanto as palavras dos prof etas individuais sao representadas no conjunto dos acontecimentos que as circundam. Mas a pala-vra di ina nao se encontra apenas nesta parte do canon, ela existe nas maneiras mais diversificadas em tudo 0 ue 0 Antigo Testamento assevera sobre Deus. Pois bem, 0 agir d~ Deus e 0 falar de Deus formam as componentes da religiao de Israel (Sl 33,4) . Se a palavra profetica constitui setor pr6prio do canon, entao e por ela estar ligada estreitamente com a hist6ria deste Antigo Testamento.

    Qual e a significa9ao da palavra de Deus no Antigo Testamento? sobretudo a intercomunicayao entre locutor

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    Into e nao tanto 0 ,conteudo. Tal acep9ao do termo I rlza a palavra profetica. Quando se diz: "A palavra

    11V6 foi dirigida a Jeremias", entao alude-se ao papel de . I lIolro encarregado de transmitir a ' palavra recebida,

    !Iv ndo-se de qualquer forma a reayao dos destinatarios. p. luvra acontece no tempo, entre dois ou mais indivi-

    IIDI. ~ essencial que a palavra seja ouvida pelos homens 1111108 e ue rovoque rea9ao ne1es! Eis a razao profunda r que a palavra de Deus pertence a hist6ria narrada na

    I' Imelra sec;ao do canon (Lei). Nao podendo ser documentada, 0 historiador moder-

    n nlo toma conhecimento da palavra procedente de Deus. I. costuma substitui-la pela consciencia subjetiva do pro-

    r. 11 que julga ter percebido uma comunica9ao divina. Com 110 procedimento, 0 historiador altera 0 significado desta Ip6cie de palavra. Parece ate que 0 concelto moderno de

    hl. t6ria nao atina com 0 fen6meno da palavra divina, se nl o 6 deturpada e diversa do texto biblico.

    Mas tambem na teologia modern a a "palavra de Deus" r.cobeu sentido diferente da Biblia, a saber, a partir de u conteudo: a palavra e aquilo que Deus falou e 0 que, Orno tal, e acessivel ao pensamento objetivo. Corn esta

    IntcrpretayaO, a palavra divina foi substituida e tornada dllponivel mediante a lexicologia.

    2. Multiformidade do falar divino A palavra divina, atraves das paginas do Antigo Tes-oadotav'arias formas de acordo corn a func;ao que

    cumpre relativamente a Deus e ao nomem. Poderfamos classihcar a quantidade destas palavras em mensagens refe-rentes a vida de cada dia e ao culto divino, quando ela , e pronunciada aos ouvidos dos que se congregaram num lugar especial e em tempo determinado com a inten9ao declarada

    9 Preva eloqliente em proverbios que versam sabre a palavra, como, por exemplo: "Ma98S de curD com enfeites de prata, e a palavra fadada em tempo oportuno ' (Pr 25.11); cE. Pr 12.18;15,23;16,24;24,26; 25,12.

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  • .I _('\llur 0 palavra de Deus, formando 0 tempo santificado II .n~l'olldade do Lugar 0 ambiente propfcio 11 escuta do

    11I1lnvro. fa a alavra destinada ao dia-a-dia e comunicado 11~1(,) mensagelro de Deus (rna/'ak Iahweh) que vai ao encon 11'0 do homem, no campo, na casa e no caminho. Restn ainda a palavra proietica que irrompe sobre 0 homem, foro do lugar sacro, de imediato e nem sempre desejada.

    De acordo com 0 conteudo, a palavra, quer profecia quer lei, po de ser ou anunciadora ou instrutiva.

    a) 0 cerne da palavra anunciador~ J ~rofe~a, embo ra nao excJusivamente, visto que ocorre tam~m nos livros hist6ricos. Anuncia, ora a saivayaoy ora 0 jufzo, promessa "ar~i'a'igi?a "o'1l cSligo rigoroso. Ambos os tipos estao Inter-ligados em todo 0 Antigo Testamento, a comeyar da hist6ria primeva, nas promessas feitas aos patriarcas, na safda do Egito e na ocupayao de Canaa, durante 0 exflio e 0 perfodo p6s-exflico ate a era apocaliptica. Promessa ou ameaya, a paiavra anunciadora e multiforme nas expressoes e nas proclamayoes. No seu conjunto, ela e formada pela hist6ria das promessas salvfficas e dos anuncios de jufzos em todo o Antigo Testamento. Em certos casos, este anuncio, born ou ameayador, coincide com a hist6ria do povo qual ele-mento propulsor desta mesma hist6ria. B que 0 anuncio desencadeia uma seqiiencia de fatos estendendo-se do Jill:. tante do proferimento ate a sua realizaya~. Numa promes.sa dirigida a Ahraao, dizem-lhe os mensageiros de Deus: "No pr6ximo ano, a este tempo, tua mulher Sara tera urn filho".

    Afa~taram-se os mensageiros, e a vida continuava como sempre. Restava, porem, a esperanya no seio da famflia ate o nascimento do filho. E, a hora do nascimento e tamMm a hora da recordayao: aconteceu deveras 0 que eles haviam dito. Comeya af a conservayao.e a transmissao do evento.

    Outro exemplo: num perfodo de prosperidade poiftica, Jeremias anuncia que Jerusalem seria tomada e destrufda pdo rei de Babel. A prediyao e contestada e impugnada, Jeremias reduzido a silencio; mas depois de cumprido, 0 anuncio e reavivado, conservado e passado para frente.

    Ambos os anuncios sao muito diferentes urn .do outro. o primeiro prediz a salvayao, 0 segundo a desgraya. O .pri-

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    rossoa no seio da famflia, 0 outro em praya pUblica . IIlTle!to e recebido com alegria, 0 outro e rechayado.

    dlsso, ambos tern em comum a criayao de conexoes, com que urn perfodo se transforme em unidade

    IIPOlIlH dos espayOS temponlrios entre anuncio e cumpri-Assim formava-se em Israel a consciencia hist6rica

    ndo e experimentando as correlayoes, inaugurava-se a 1910.10 o Evangelho de Lucas comeya, tamMm ele, com nar-

    ItVI anaLoga It hist6ria dos patriarcas: uma crianya e pro-Ida e uma crianya nasce, cumprindo-se nela a promessa .llvador. 0 povo ja havia aprendido a encarar 0 tempo

    mo conjunto que se iniciara com a promessa do filho de .Iao e se estendia ate a prediyao do salvador na epoea OIca e p6s-exilica, quando ja se havia completado 0 prazo ~ castigo anunciado pelos profetas. 0 comeyo do Evan-p lho de Lucas e acolhido It luz destes antecedentes. No rundo do outro anuncio: "Hoie nasceu-vos 0 Salvador" noontra-se a hist6ria do povo de Deus na sua caminhada

    dildo a promessa ate 0 cumprimento. B a palavra divina nl lua funyao enunciadora que acaba de vincular a hist6-rll do povo de Deus de outrora com a hist6ria do novo povo ele~i~toe.:. ___ ~

    'P~messa e cU?Jprim~to;l,i ~s 0 conceito-cha~e .d~ ~rmcn@uttca ell) Anttgo Testamento segundo a Hlstona da .alvayaoJ que pretende reduzir tudo quanto e antigoao donominadot: ':pr.omessa ", e tudo 0 que e novo ao denomi-IIldor " cumprimento". Porem, 0 cumprimento real e algo dlfcrente. Nem todas as promessas acabaram por ser cum-

    prlda~; ha uma gama impressionante de situa~oes possiveis ntre 0 cumprimento inequfvoco ate a alterayao da promes-

    la e 0 seu evidente nao-cumprimento. A grande maioria dos vaticfnios veterotestamentarios

    Ilveram sua concretizayao aindD durante a pr6pria hist6ria

    10 Ver V parte C. I. t 1 C. Westermann (f':d.) , Probleme alttestamentlicher Hermeneutik.

    In ThB 11 (1960), principaimente R. Bultmann, Weis~agung und o Er/iW-ung (pp. 28-53) e W. Zimmerli, Verheissung U/:d Er/iillung (pp. 69-101). A. H. J. Gunneweg, Hermeneutik. in ATD.

    17

  • do antigo Israel. Assim, a conquista de Canaa, muitas vit6 rias a partir do tempo dos Juizes e numerosos outros casos conhecidos que ate transpuseram as fronteiras da historia de J ave com 0 seu povo.

    Outro grupo de profecias concernentes a humanidadc ou ao mundo aguardam ainda 0 cumprimento, como, por exemplo: "ja nao havera morte", ou Jr 31,3134 que preve uma comunidade divina restaurada da qual seria banida a necessidade de admoestayao reciproca. A mesma interroga yao permanece quanto it benyao mencionada em Gn 12,1-3.

    Dos tipos de promessas a que ha alusao emergem aque las que se refere~ ao Cristo, posto que nem sempre claras e iriconte'Stes. 'B'em diverso e 0 ponto de vista do Novo Tes tamen'o ao qual so interessam promessas cumpridas na pes-soa de Jesus de Nazare, nao existindo outras senao as que se cumpriram obrigatoriamente no Cristo:

    Todas as promessas de Deus encontraram 0 seu sim: por isso, e por de que dizemos "Amem" (2Cor 1,20). A frase reflete a Teologia de Paulo para 0 qual nac

    havia outra possibilidade a nao ser 0 cumprimento no Cris to. Como entao interpretar 2Cor 1,20, se sabemos que isto nao e verdade? 0 versiculo conserva 0 seu peso desde que queiramos entender, no Antigo Testamento, um sentido ulterior no seu ambito. Neste caso, ainda que nem tudo se tenha realizado no Cristo, fica de pe a esperanya de uma salvayao de Israel na base de Is 52-53 onde aparece um individuo que morrera pelos pecados de seu povo, de morte expiatoria homologada por Deus. Por esta perspectiva teo-logiea, podemos concordar com Paulo, embora ainda com a restriyaO de que nao inc1uimos todos os vaticinios salvifi-cos do Antigo Testamento.

    Deveriamos restituir a sua signifieayao original as palavras do Antigo Testamento. 0 cumprimento no Cris-to inaugura ...Qutra iase historica, para alem das fron-!eiras do Antigo Testamento e que durara ate a sua parusia escatO!Oglca. j\- dinamiCa da historia integral con-fere ao cumprimento no Cristo uma perspectiva nova de tarefas e problemas em epocas transmundanas. In-

    18

    entao ate que ponto foram atingidas as tres rcferentes as promessas salvificas do Antigo Testa-: 0 povo de Deus, os individuos e 0 genero humano

    A resposta esta em Lc 4,16-21 cuja sentenya final: cumpriu-se aos vossos ouvidos essa passagem da

    lUI's" e aplicada a atuayao de Jesus; e este 0 cumpri-"Iu pleno dos vaticinios .

    b) A pa~ra instrutivll' ou seja~ a Tora, tomada no ""lIdu e instrxiiO;-Em tempos mais recentes, a Ton! foi

    I~.nllflcada exc usivamente com a J,eJ... No Deuteron6mio, rrom termos tais como mandamentos, preceitos, direitos que demonstram como 0 termo Lei encerra varias formas

    processos. treceito_eJe.Ln.a~sao a mesma 9isa . 0 ~cei-I u a proibiyfto sao conceitos uniformes de alocuyao dTre-II, Q leLOiforme, porquanto liga Q. fato as conseqiienCias Ju fato. A lei nasce do bojo de instituiyao revestid'a de pud r punitivo e direito de decisao; a saber, a autoridade . 110 preceituar e de legislar. 0 preceito avizinha-se da exor-

    , .~Ao (advertencia, na parenese do Deuteron6mio), expres-II com sentenyas condicionais, visando a resultados positi-YUI e negativos . Preceitos e leis tem nascedouros diferentes, ... lm C.Ql)lO tambem foram transmitidos diferentemente: Icncos de preceitos e codJgos de leis, para posteriormente

    Icrem incorporados conjuntamente nas coleyoes legislativas do Pentateuco, chegando a formar a "Lei", derivada da teo-funia do Sinai e outorgada por Deus ao seu povo.

    o discurso instruti'!:.o nao aparece apenas nos elencos do preceiWse nos codigos de leis, mas atraves de todo 0 Antigo Testamento mediante ordens, instruyoes, exortayoes: come0lndo ela l'!9ibiyao de comer do fruto da arvoreno meio 0 jar im do Eden, ate as ordenayoes dirigidas a um profeta e as diretrizes divinas reveladas a um individuo, como a Abraao: "Sai da casa de teu pai" (Gn 12,1) , ou a c.oletividade: "Nao teras falsos deuses ao meu lado" (Ex 20,3). Estes ultimos, de cunho duradouro, entraram como parte integrante no regulamento do culto.

    E preciso ainda levar em considerayao a funyao real da palavra instrutiva, e nao somente 0 seu angulo de vista teorico e abstrato. Um homem parou numa encruzilhada

    19

  • nao sabendo para onde se voltar: Nesta situac;ao vem-Ihc em socorro uma palavra orientadora e autorizada. Era a caso pessoal de Abraao ao ouvir a ordem de sair de sua terra natal; ou daquele jovem rico ao qual Jesus insinuava: "Vende tudo 0 que possuis"; ao outr~: "Toma teu leito e anda ". Em situac;oes determinadas 0 homem necessita de im erativos categ6ncos como tinica w!!!9ao. Sem estas indio cac;oes preclsas e inequfvocas, 0 caminho do homem nao conduzira 11 meta final. A palavra norteadora enviada a Abraao encetava a hist6ria dos patriarcas; revelada aos pro-fetas, inaugurava a hist6ria da profecia; do mesmo modo a palavra de Jesus: "Segue-me! ", marcou 0 inicio da hist6-ria dos ap6stolos. Sim, Deus na hist6ria de seu pov~ do ho'!!.m indiyidual: admoestando it conversao, auxiliando a urn indigente , proibindo urn culto iJegal, convidando para terras novas.

    c) A alavra cultual~e Deus situa-se no contexte de ac;ao sagrada ria resenc;a4a assembleia cultuii["IUiiciOffifn-9.0 0 sacerdote como intermediario da procJamac;ao desta palavra. Vma das palavras tipicas deste genero e a benc;ao, ou seja, a palavra sacerdotal comunicando a benc;ao divina, garantindo dom imediato, em QPosic;ao 11 palavra profetica que.Yisualiza 0 futuro , ou ao preceito e 11 lei que constituem urn imperativo. Deus abenc;oa 0 seu povo mediante a f6rmu-la pronunciada pelo sacerdote. Das mesmas caracterlsticas

    . se reveste 0 anlmcio do atendimento ou do perdao depois que 0 povo suplicou no decurso do culto; entao 0 sacerdo-te da certeza, respondendo em nome de Deus. Em certos casos , a benyao pode ceder lugar a maldic;ao , conforme se ve no Deuteron6mio. A proc1amayao dos mandamentos du-rante 0 culto tern a razao de ser na vincula9ao com a teofa- ' nia sinaitica. Note-se, entretanto, que cada preceito e cada serieoe preceitos exerceu funyao diferente. Assim, por exemplo, 0 preceito "nao mataras" e instruyao ' que inspira ao homem 0 rumo a tomar ou a nao tomar. A serie dos preceitos anunciados por ocasiao do culto divino tern 0 fito de manter vivo 0 que Deus ordenou globalmente. Por este motivo, em epocas posteriores a prodamayao dos pre-ceitos tern sido ampliada pela leitura da Tora.

    20

    . .. embleia responde diversamente ao antincio da pa-d Deus: com 0 amem, com louvor, com 0 sacrificio m n confissao. Assim, a palavra dirigida aos homens e pO~IO destes formam conjunto admiravel e s6 possivel 1I1t0 autentico. , -1',los tres funy6es do oraculo divino (a, b, c) nao repre- I:i

    11m toda a RJenitude da pala'ra, mas continuam existin-Inconfundiveis em toda a hist6ria, tendo cada uma a pr6pria hist6ria: a palavra que promete salvayao ou .~n julzo, nas profecias; 0 preceito e a lei nas formula-

    e nos elencos de preceitos enos c6digos das leis; a , llvra cultual na hist6ria do culto divino.

    Das tres funyoes da fala divina somente a palavra pro-r II recebeu ume seyao pr6pria no canon biblico; isto "I quer dizer que a profecia seja a parte central do Antigo I li men to e nem que Israel professe uma religiao prore-II I. 0 or:\Culo profetico, situ ado entre 0 discurso instrutivo

    ultual, salienta vantajosamente 0 caminho de Deus como "do uma hist6ria marcada, des de 0 inicio, por uma pala-Y I . alda de Deus. 0 mesmo oraclilo liga adequadamente os .1 I. Testamentos, participando tamMm 0 Novo Testamen-III dos vatidnios de salvac;ao e dos juizos de Deus enuncia-.1 , no Antigo Testamento.

    A divergencia essencial entre as interpretayoes judai-'I c crista do Antigo Testamento e que para os primeiros A porc;iio mais valiosa seja a instruc;ao (Tora), e ''Olio tanto II antincio profetico. A Lei, assim tomada, e a palavra divi-n l por excelencia, merce da sua vinculayao com 0 Sinai. I' rgunta-se, entretanto, por que 0 xodo precede cronologi-camente 0 Sinai, valendo 0 mesma fato para os escritos dos profetas que. figuram, no canon, antes de os da Lei terem rccebido esta designac;ao?

    o d isivo e que a fala divina fi ue ligada 11 hist6ria, Isso nas tres funQoes. 0 nllgo estamento 19nora uma

    palavra divina abstrata e objetivada que se pudesse, mais larde, converter em doutrina dogmatica. Pelo mesmo moti-YO, nenhuma das tres funyoes assinaladas deveria ser abso-lutizada, conforme foi 0 caso ao ser transformada em pala-vra divina soberana na hermeneutica rabinica, ou, na teo-

    21

  • logia crista, ao ser CLAntigo Testamento inteiro to~do unl lateralmente como romessa a ser cumprida no Cristo. Qual quer seja a modalidade de abstra~ao, a interliga~ao das tr~1 fun96es deve ser sustentada firmemente, conforme veremOI nas linhas seguintes. .

    3. Revela(:iio no Antigo Testamento No Antigo Testamento nao existe 0 conceito revela~lio

    universalmente valida; jli em teologia crista, revela~o coin cide com 0 revelado, revelaCao e aquilo que Deus reveloll, Nao assim no Antigo Testamento. Falta em hebraico . 0 ter mo abstrato e objetivado; r'~ao aflitiva. Nos primeiros tempos, este advir era acorn panllado Oe manifesta~6es grandiosas da Natureza, como, por exemplo, no mar dos Juncos ou nas batalhas da era dos Juizes. VejamoscomOexemplo 0 come~o do cantico de Debora Uz 5,4.5):

    lave! Quando saiste de Seir, quando avan(:aste nas planicies de Edom, a terra tremeu, troaram os ceus, as nuvens desfizeram-se em agua. Os montes d.%lizaram na presen(:a de lave, 0 Deus

    de Israel. Nas suplicas do povo solicita-se semelhante manifesta ~ao divina:

    22

    Tu que estas sentado sobre os querubins, aparece diante de Efraim, Ben;amim e Manasses

    (SI 80,2.3). Deus vern de Temii e 0 Santo do monte Fara ... Seu brilho e como a luz,

    ,.Iu. saam de sua mao ... I "c1ra e jaz tremer a terra ... II

  • cep9iio (11 ). A revela9lio pela hist6ria 6 apenas indlreta. Quan. do Pannenberg declara (17): "Revela9lio e a totalidade de tuda quanta acontece" J enHio eu concardo com ele, embors com 0 Antigo Testamento nlio combine que tudo seja qualificado do

    "revela~ao" . Na mesma obra de Pannenberg, R. Rendtorff fornece um

    conspecto sobre Die Offenbarungsvorstellungen des Allen Tes taments ("As conceitua90es de revela9lio no AT", 21-41). Cons tatando que 0 Antigo Testamento carece de termo especifico para exprimir a revela9iio (22) conclui: "0 autotestemunho do J ave na hist6ria de Israel e do mundo e, para Israel, 0 nasce-douro de teda a fe e de toda a teologia" _ Com esta frase ele se nproxima bastante da tese de Pannenberg, principalmente quan-do 08crcvc: "Uma teologia do Antigo Testamento, baseada na 11l'6prlO Blblia. dever6 partir sempre da concep9iio hist6rica de Ilroci c de 8\108 Iransforma90es hist6ricas"_

    III . A RESPOSTA DO HOM EM

    Chegamos a uni. dos pontos mais inte~es~a.ntes da Te,?-logia do Antigo Testamento.l2 Sendo a hlstona uma acae. reciproca, a resposta do h2mem ocupa posi~~o reJe~an!e. em tu 0 que iz respeito a De.u~ , comeyan?o Ja na ctJaya~ e estenden o-se a e' 0 Apocahpse. A rea"ao do homem e simplesmente 0 objetivo do falar e do a-glr de Deus. -

    Estes pont~s de vista tocam a teologia inteira. A teol?-_ gia ocidental tende a isolar a reay~o humana da teologla p-ropriamente dita (dogmatica), como se n?o p~ss~sse de coisasubordinada. A resposta human a no dla-a-dla mteres-sa a Itica' no culto pertence a teologia liturgica; quando 0 homem r~za, entao ele e da alyada da etica ou da liturgica. Tais atribuiyoes a areas diferentes tern por resultado certa

    12 A resposta _do homem pertence 80 que 0 AT diz sabre Deus, tambem em G . v. Rad, Theologie, I: . Israel perante lave (8 resposta de Israel). e W. Zimmerli. IV: A vida ante Deus: 16: A resposta da obediencia. 17: Louver e suplica por auxilio.

    24

    ,

    quo ]6 nno permite enlonder a resposta do homem t rne do lcologia; em oulras palavras, s6 11 Biblia

    tllzer 0 que seja oray80, culto oti ebediencia coti-A rosposta do homellL deveria..ser qualificadlLcomo

    lcmenlos mais relevantes do Antigo Testame,:to."

    IlIIme", responde /alando

    l> homem reage normal e espontaneamente por excla-m toOl de louvor, de agradecimento, por votQs, p_o ora-

    llidrgicas no temp lo(Salt6rio).,4 Os elementos dos rnol sao os mesmos dos livros hist6ricos referentes a 1I\1.~Oes diarias. Todos os itens constitutivos de urn salmo

    " lamentayao ja ocorrem no voto de Jac6 (Gn 28) ou na IIU I a de Sansao Oz 15,18): invoca

  • A prece veterotestamentl\l'io dlfere do idela COmtlnl . 'rodus as oxporlCnclas, quer pessonls queT coletl. em voga. Para n6s, a prece e algo pessoal do homem quo II Bua raiz em Deus e, pOl' isso, distinguimos entre toma a resolu9ao de oral', que pode exortar e ser exortado /I Indlvlduais e comunitarios. A correla9ao entre as orar. Esta mentalidade deriva da ora9ao liturgica que, por htHlontftneas e os salmos liturgicos liga 0 cotidiano sua vez, ja perdeu a liga9ao com a prece espontanea quO f Htlvo, 0 trabalho it solenidade. Nos salmos figuram deveria brotar naturalmente das experiencias cotidianas. A II" campos da vida normal: a casa e 0 caminho, a ora9ao ofieial dos Salmos nao passa de acumulo de e1emen. Il a ofieina, 0 leito e 0 quarto do enfermo, a vida tos instintivos que agora, no culto divino, recebem sua for. Il a idade avan9ada, varao e mulher, pais e filhos, ma artifieiosa. posto que conservando 0 sabor de ora9ao nmigos. pessoa!. No plenario da assembleia, os gritos espontan~O.9 A hlst6ria do poyo de Deus forma outro assunto pre-a Deus sao enfeixados nos Salmos, retomando os partici' III /IUS salmos. A vida tribal, a monarqUia e os prlnClpes, pantes, logo depois, a vida normal de cada dia. I rial c derrotas, cativeiro e liberdade recuperada.

    o homem reage a impressoes que Ihe sobrevem de fora, It. nfim, os salmas abarcam 0 universo inteiro. 0 SI 01'0 ogll1do, 01'8 fo lando, ora refletindo. Entre ~s numeros.as "cullvoca ao louvor divino todas as criaturas no ceu 1'00900s folodos 6 a que nos faz, inconsciente e mvoluntana I"hr a terra; alarga-se imensamente 0 horizonte dos

    l1l ~ nl cxclomor: "Or09as a Deus que voce chegou!"; "ai, II rill hist6ricos para tudo 0 que acontece entre 0 Criador I D - '" t qtl ll ITIIII'f\vl lhol"; "meu eus, agora nos matarao. e ou ras. lun obra.

    A Hnguo folada dlsp6e de bem mais alocu90es do que pensa 1110B, porquanto as interjei90es oh! e ah! intro.duzem,locu. g COcs que nao preeisam ser estritamente alocu90es. Ha uma () homem responde a~ exclama9iio que, por assim dizer, transcendentaliza a nossa I~ realidade sem que seja preeiso pensar em Deus expressa !late tipo de rea9ao comp.!eende a pratica do cotidia-mente: Eu penso na frase "Ai, meu Deus! II que brota das III~ ,em primeiro lugar, as atividades exercidas no templo, profundezas da natureza human a, fazendo-nos entender em 1I11r ludo 0 sacrifieio. que grau elevado a prece e esseneial do homem. On de quer A vida de cada dia e suposta nos livros hist6ricos cujas ~~~ ~~~ ~~a~e~sh~~=~t~rts~~~:ed~a~~~~ ~~t!~e d~~e~;~: IU'uturas . reproduzem aquilo .Eu~ Degs ordenou e 0 que , d I 'Id send.,2..posto em pratica, com toda a sua complexidade te de a90es espontaneas e refleti as. Ii I,receitos e leis. 0 Antigo Testamento supoe com razao

    Segue dal que nao podem coexistir, ao mesmo tempo, .~ r 0 homem id6neo a fazer normalmente a vontade de lamenta9ao e louvor; rir e choral' tern 0 seu tempo (Eel 3). IILIiS. DeliS ordenou a Abriio: "Sa!...!" e Abriio saill, Querelas e louvores sao, como riso e choro, passos no mes 'urrespondendo a vontade divina. 0 vidente gentio Balaao mo caminho hist6rico; prova-o a estrutura dos salmos. 0 "bOn900u Israel em vez de amaldi90a-Io, porque Deus assim que lamenta ja anteve 0 louvor mediante 0 voto; 0 que lou II displlsera . Os preceitos estao ao alcance da capaeidade va lan9a 0 olhar retrospectivo a profundeza da qual acaba humana: "Porque este mandamento que hoje te ordeno nao de elamar a Deus. Urn estado de alma segue 0 outro, sem excessivo para ti, nem esta fora do tell a1cance" (Dt 3D, coexistir assim como nao podem ser niveladas alturas e de II). Existem, e elaro, a90es obedientes e desobedientes, p.

  • para dizer sim a Deus e para agir em coerencia com este seu sim.

    O- sacrificio: 0 sacrificio, ou seja, a atuayao voltada p'ara Deus, tern longa hist6ria; esta sempre presente na Bfblia desde os tempos pre-hist6ricos ate a destruiyao c1efi-mtlva do templo em 70. d.C. 0 sacriffcio tern a seu serviyo parte consideravel de leis e regulamentos que Ihe formam a infra-estrutura institucional. ~ parte integrante da nature za humana. Em Gn 4 (Caim e Abel) e oferecido ao Deus-benfeitor, em Gn 8,20.-22 (Noe) ao Deus-redentor. mesmo congenito da nalt!reza do homem e nao somente uma pro-priedade de Israer:- Na mitologia babil6nica, 0 homem foi criado para servir aos deuses; na Bfblia, a sua tarefa cona-tural e a de lavrar a terra e conserva-Ia. Portanto, no Anti-go Testamento, a vontade divina e entendida mais ampla-mente, penetrando ate a vida de cada dia. U Mais vale obe-diencia do que sacrificio" (ISm 15,22), e nunca 0 contra rio. Nestas condiyoes, a vivencia religiosa continuava meso mo sem os sacriffcios, ap6s 0 arrasamento do templo em J e rusalem. Daquele dia em diante nao ha sacriffcio e a reli giao mosaica e praticada perfeitamente sem oferecimento de anima is, ao passo que a resposta falada, na liturgia sina-gogal, conservou a sua fUnyao permanente, ficando dai comoreensfvel 0 Iugar distinto que os Salmos ocupam den-tro do ciinon bfblico.

    IV. 0 DEUS ONICO E FAT OR UNIFICANTE

    , Acabamos de reduzir a poucas linhas mestras aquilo que 0 Antigo Testamento ensina sobre Deus. Deus e uma hist6ria a desabrochar entre ele e a sua obra criada, entre ele e 0 genero humano e 0 seu povo, desde que 0 mundo existe, ate 0 seu fim. De parte a parte existem al'ao e rea yao, pronunciamento e resposta, quais alicerces desta his t6ria. '

    o agente amalgamador para uma s6 hist6ria da imensa variedade das realidades e a unicidade do Deus de Israel:

    28

    ,Av6, noss

  • paro total que se criava a profissao de f6 mais categorica na unicidade de Deus (Is 43,10):

    Antes de mim nenhum Deus foi formado, e depois de mim nao haverd nenhum. Eu, eu sou lave, e fora de mim nao hti nenhum salvador (Is 43 ,10.11) .

    Antes do Deutero-Isaias ninguem formulara 0 do~ma da uni-Cidade de Deus com tamanha clareza; para ele e 'p.onto pa-cifico que os outros deuses nem existem. Esta umcI.da?~ de Jave e confrontada com 0 tempo, ou seja, com a hlstorla:

    Eu sou 0 primeiro e ultimo, fora de mim nao hti Deus (Is 44,6).

    o Antigo Testamento nao da importancia demasiada ,a urn monoteismo especulativo; a que pretende sustentar. e qu~ o Deus de Israd nao tern rival nem igual, e nem. t~rla cabl-mento inventar .!eog~m torno de urn Deus um~o.

    A profissao CIe16 em J ave, Deus unico e excluslvO, tern ainda outra conseqiiencia: este Deus, deve-~ ser p~ra todo~, sem exce9ao. 0 Deutero-Isaias defe~de umversahsmo reli-gioso sem precedentes. Que os israelitas qu:brantados recf-brem animo! Jave continua 0 mes~o: ~Ie nao fracassou , e e ainda e 0 criador e 0 senhor da Hlstona:

    ... Pois nao ~abes? Por acaso nao ouviste isto? lave e Deus eterno, criador das regiOes mais ro:zotas da terra. Ele nao se cansa nem se fa/lga, a sua inteligencia e insonddvel. E ele que dd forfa ao cansado, . que prodiga/iza vigor ao enfraquecldo (Is 40,12-31).

    Na pr clama,ao profetica, 0 Criador do mund~ e identic? com 0 '1Salvador de Israel, reunindo-se as duasl~lilia~ rUa ~-. . 0 Salvador de Israel e 0 Senhor da Hlstona m-

    clonals. d ' ao deste versal e 0 Criador- dO-Cosmos. Tu 0 esta na m unico Deus:-

    30

    II PARTE

    DEUS-REDENTOR E HISTORIA

    11I11I1t/llrllo

    Antigo e Novo Testamento conhecem urn Deus-reden-11111 por exemplo, na cura do cego de nascen9a (Jo 9,1): All possar Jesus viu urn homem, cego desde a nascen9a ". I III t'lIl11illho, Jesus repara num homem sofredor e 0 seu " IIir 6 de comullica9ao com 0 padecimento humano. 0 III 1110 olhar divino ocorre 110 livro do !xodo:

    liu vi, eu vi a miseria do meu povo que estd no Egito. Ouvi 0 seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conhefo as suas angustias (Ex 3,7).

    1111 10 9 os discipulos inquirem: "Rabi, quem pecou, este IIU OS pais dele, para que nascesse cego?" Eles defendem, 1 111110 se ve, a doutrina tradicional da retribui9ao: a causa du sofrimento e 0 pecado; interessa apenas saber quem seja " culpado, 0 cego ou os pais? Os amigos de Jo viram 0 so-rl'lmento pelo mesmo prisma; perspectiva essa teologica e IIAo de misericordia. Jesus respolldeu: "Nem este pecou, 110m os seus pais". Para ele, 0 sofredor e relaciollado com u Deus-salvador que reage ante 0 sofrimento de sUas cria-luras, e roi nessas cona~oes que come90u a Istoria e Israel. 0 compadecimento divino nao pergunta pela cui a. Jesus reslltui a vista ao cego e 0 episo io teve como con-leqiiencia uma disputa inesperada acerca da cura, quando 11m grupo de fariseus fanaticos ensinavam ao cego de virar 8S costas ao seu benfeitor divino: "Da gloria a Deu~! n6s sabemos que este homem e pecador" (v. 24) . Ao que 0 cego curado retruca: "Nao sei se ele e pecador. Somente sei que estive cego e agora vejo" (v. 25). A replica revela como

    31

  • a salva,ao e entendida em Israel: ela e objeto de experien. ciaessoal, nao apenas uma proclama,ao verbal; e encon tro com 0 salvador; 0 beneficiado e 0 seu salvador come,am a forinar uma unidade espiritual e ja nao importa 0 pro blema da culpa. No final do epis6dio, 0 cego curado vol ta-se aquele que 0 curou: "Creio, Senhor! , e prostrouse diante dele" (v . 38).

    I. 0 DEUSREDENTOR NO ANTIGO TESTAMENTO

    1. Na saida do Egito

    "A narra,ao do exodo do Egito e 0 cerne de tudo 0 gue e narrado no Pentateuco" (M. Noth, r94-~54).Oii1es mo vale a respeito do "pegueno Cre~o" (G. v. Rad, 1938), que resume a narrativa do livro do ~xodo. Na introdu,ao ao Decalogo (Ex 20), no oferecimento da,s primicias (Dt 26) e na evoca,ao das proezas divinas (Dt 6) este "Credo" lembra oficialmente 0 que Deus fez em favor de Israel. Existem ainda outras passagens com 0 mesmo encontro de Israel com 0 seu Deus, que marca toda a hist6ria de Israel, inaugurando 0 dialogo entre ambos.

    A libertac;ao operada por Deus no Egito, que signifiea o inicio da hist6ria naciona!, ja fora anunciada por Jose: ---- Eu vou morrer, mas Deus vos visitard e vos jard sair

    para a terra que ele prometeu, com juramenta, a Abraiio, Isaac e Jaco (Gn 50,24) .

    Neste vers1culo, a hist6ria dos patriarcas e ligada a hist6ria nacional que, por sua vez, fundamenta a religiao javista como resultado da fixa,ao e da unifica,ao das tribos em Canaa. No termino da hist6ria poHtica, esta mesma hist6ria nacional, fornecera ao DeuteroIsaias os elementos dos va ticinios sobre a liberta,ao dos exilados em Babilonia.

    Tambem 0 culto divino se reporta a liberta

  • (menos freqiientes) durante a monarquia, sendo 0 primeiro rei destinado a salvar Israel da ameac;:a dos filisteus . TodD! os casos constituiam nova prova e diferente da interVeny80 divina. As narrac;:oes confirmavam a realidade para todos os tempos vindouros. '

    A passagem pelo mar dos Juncos e seguida pelas pro. videncias tomadas na caminhada pelo deserto. Mais do que por inimigos, os israelitas ficavam apavorados pelos espec tros da fome, cia sede e da fadiga. Estava em jogo a simples sobrevivencia . . Os relatorios sobre as murmurac;:oes teste munham em que grau tais acontecimentos desagradaveis ficaram gravados na memoria de Israel, tanto assim que 0 verbo lun ("murmurar"), e empregado so nestes.contextos antigos, e nunca mais tarde. E ainda digno de nota que as revoltas populares contra Deus e 0 seu'representante,-.Moi. ses, longe de serem punidas or Deus conv_erteram~ em emejOsQe semp.fe novas mtervenyoes salvadoras. - Israel aprendeu ue Deus nao era somente 0 Salvador

    dos a uros causa oS....Qr inimigos, mas tam em dos aper tos elementares da existencia humana. Israel sabia distin guir entre 0 "pao da benyao" que cresceu durante p ano gra c;:as a colaborac;:ao humana, e o "pao da saivayao" recebido em epocas de carestia, e este como dom especial de Deus redentor (d. 2Rs 6 e 7).

    Diferentes eram os casos de salvayao durante as pas sagens pelas terras habitadas, quando os israelitas se viam na obrigayao de combater pela posse do territorio. Este pe riodo e marcado pela presenya de lideres carismaticos, reo presentantes do Deusredentor (J z 6 e 7). Geravase mudan c;:a profunda nas relayoes com Deus quando. no tempo da monarquia, as lutas defensivas contra os filisteus transfor mavamse em guerras de agressao que ja podiam con tar com a assistencia divina.

    Nao obstante essas guerras de expansao, a era dos reis ofereceu situac;:oes de sobejo para se sentir a salva~ao de cima; prova sao as lamentayoes do povo que solicitava 0 auxilio divino nas afliyoes da hora presente, evocando as proezas de Jave nos tempos de outrora (SI 80; Is 63/64).3

    3 C .. Westermann, ThB 24. pp. 306335.

    34

    "'''"111 /I Iibertayao do exilio babil6nico e descrita pelo III III Ift nfas com as cores de novo exodo.

    h) 0 d.iscu~so. v.em sendo ampliado para dentro do II\bl lli ciu vIda mdlVldual. Entra aqui 0 tema dos salmos IIdl~"hI/lJs ue brotaram das angustias e da sensayaoaese I ."Ivo das garras da morte, seguidos pelo louvor de .'.I I~l hnc11to ao Deus-salvador que "olhou para as pro

    tllllliitludcs" (SI 113,6). Repetem-se certos episodios da vid~ 1111 "lIldarcas, quando Deus interveio diretamente: a salva-... till fllh~ morrendo de sede (Gn 21); os riscos da mae

    1111 N II '!lI1~elr~ (Gn 12,1020); a salvayao de Jaco da vin- II~" do !fmao (Gn 32); a providencia divina em favor de n "1" 111 1m (Gn 37 e 44) .

    c) ~ a ao salvadora estende-se sobre todas as criaturas tllI/muo 0 diluvio, Deus, pOI' um lado, extermina as sua~ IIAluras, mas, por outro, salva urn resto da perdiyao

    II .. dguas. As yassagens apocalipticas tambem relatam per-III~no e salvayao (Is 24-27). A ayao divina nao tern limites.

    " Abrangencia do Dells-salvador

    Descrevendo 0 Antigo Testamento a salvayao nas areas 'lircrent~s do povo, do individuo e do genero humano, ele 'Iller I.nsmuar a universalidade do Deus-redentor. Todo ho-111 In Ja teve as provas dlsto, em to a a parte e em todos "' tempos. .

    A raiz da experiencia acha-se em a natureza do ser humano.

  • cedida sendo Deus 0 unico fator iri16vel. Ambos os Testa mento; concordam em que ~e e salvador or essencia. 0 tema central do Novo Testamento e a salva9ao operada pelo Cristo, 0 soter e a soteria (salvador e salva9ao). Apa rentemente diferentes, os acontecimentos redentores no xo do e no Novo Testamento tern em comum 0 Deus que efe tuou 8 salva9ao.~ -

    Desde muitos anos, 0 termo "elei9ao" ocupa 8 Teola-gia do Antigo Testamento. A palavra nao se acha nas se 90es narrativas; sua fun9ao e mais interpretativa e retros pectiva. Nao foi a elei9ao, mas sim a reden9ao que:ez de Israe 0 povo de Deus. A eleis:ao e 0 fruto de reflexaoJ!2s, terior. Vejase 0 artigo de H. Wildberger em THAT, I, 275 300: "Os exegetas concordam pratieamente em que antes do Deuteronomio nao se fala em elei9ao de Israel (284). o lugar cliissico esta em Dt 7,68:

    Foi a ti que lave teu Deus escolheu para que perten fas a ele como sou povo pr6prio, dentre !odos os po vos que existem sobre a faO!! da terra ... Nao por serdes o mais numeroso de todos os povos .. .

    Da passagem citada concluise que 0 conceito "elei9ao" e interpreta9ao post factum, ou seja, depois .qu~ Jave arra~ca ra Israel do Egito. 0 contexte de Dt 7 mSlste categonca mente na separa

  • pacto concluido, nao se menciona 0 monte Sinai. Trata-se , portanto, de amplia~5es da teofania sinaitica (L. PerJill, 190-203 e outros) que refletem a ideia da alian~a entre J av6 e Israel, sem for~a de argumenta~ao positiva em abono de uma alian~a no Sinai.

    2_ 0 segundo contra-argumento deriva do termo berit (alian~a) no Antigo Testamento e na historia_7 Todos con-cordam em que a seu significado e mais dinilmico do que cstatico; e uma a~ao, e nao uma situa~ao inerte. Traduzi-Io sempre como se fosse alian~a, e erro lexlcogra ico. Berit e 0 ate de alguem se obri ar solene e oficialmente, como se fos-se urn juramento (N. Lohfin , SBS 28)ou uma promissao vinda de Deus. Interessa, neste contexto, a locu~ao idioma-tica karat berit ("cortar" urn pacta), ao se concluir urn pacto mediante a passagem pelo meio de animais retalha-dos (Gn 15 e Jr 34).8 0 lexema parece incluir uma especie de automaldi~ao condicional juntamente com 0 consenti-mento obrigativo. As implica~5es teologicas do termo da-tam da epoca deuteron6mica (L. Perlitt, ibidem), e nem consta se a palavra tenha entrado no vocabulario biblico antes daquele tempo. Por isso, nao convem postular uma alian~a em regra em conseqiHlncia da teofania sinaitica. 0 fato e a ideia surgiram muito depois:

    lave nosso Deus concluiu conosco uma alianra no Ho-reb (Dt 5,2).

    A frase introduz 0 Decalogo e nao a celebra,ao de pacto; neste contexto, berit e sin6nimo de "lei", ao passo que em Dt 7,9 design a promessa:

    Saberas que lave teu Deus e 0 unico Deus, 0 D,~us fiel que mantem a sua alianra e 0 amor por mil geraroes ... " caracteristica teologica do Deuteron6mio que a..1!..e-

    rit e concretizada or meio de promessas _e nao de precei-tos erlitt, 63). ~

    7 A. Jepsen traduz beri! como "selene promessa", "compromisso", in Festschrift W. Rudolph; E. Kutsch, in THAT I, 339-352. com mais bibliografia.

    8 Mais bibliografia em L. Perlitt, 55-77 e C. Westermann, Gn 15.

    38

    I I It IlIltl , b rit servia para interpretar os eventos ini- ,III IllHl\ltfn de Israel. Dois textos do G" .

    I I ' . enesls exempll-"Ill II 111111 IIn~a semantlca de berit. Em Gn 157-21 _ I IIIIII ~ U M"I ne e promessa sob 'uramento' ' e a

    '''"11 It 1,1 jlnlv{lvelmente da mesm~ epoca ~gual a gt 7,9, ,iI II d~11()11l uma alian~a, urn pacto bil~ter:t em n 17

    ,:111. /I "rS 'Srael, em torno da circuncisao assi~e~~~~e~: I " /' Cl' nle ao Decalogo. Ambos os I~ d'

    1111 1I /1I11 um preceito e uma lei relatl'vosg~re~, a emalS, ~ III 1/ , a epoca pos-

    1, ~,terceiro argumento contrario consiste na . '''"l1l1ldo f6rmula pactuaria" (Bundesformel), ue e~SSIn: "II/,hl'l"oda lem a ver com 0 termo berit e nem ~o~ a i;:i: " 1/ I/Ilya. POl' exemplo:

    I1scutai a minha voz... (('lltliO sereis 0 meu povo e eu serei 0 vosso Deus Ir 11,4).

    rllrmulayao e ampliada peculiarmente em Dt 26 16 1 1'1111/ cncerrar os capitulos 12-26 dedicad '. - 9 h I Is t d 28 os aos preceItos e

    , e an es e e 29 (ben~aos e maldi~5es): Iloje. fizeste Jave declarar que ele seria 0 teu Deus c hOl~ lave te fez declarar que tu serias 0 seu po~; pr6pno.

    () resumidas aqu~ as duas se~5es principais do Deuteron6-IlIlo'Da saber, os dlscursos de Moises sobre todas as obras

    1,1 11 ells fez em favor de Israel inclusive as promessas futu-II1 Mj como outras tantas provas eoncludentes de que J ave e I 1/ ,~nente 0 Deus de Israel. A segunda seyao compreende "" Imandamentos, decretos e ordenamentos" que aceitos 1'01' srael, testemuhham a vontade de ele ser 0 p~ 6 11"'0 de fave. vo pr -

    A "for~ula yactuaria" nao se relaciona com nenhum rllu~1 ou cerlmomal de eelebra~ao Iiturgica de alian9a, oeer-fcr 0 qu~s~ q~e ,ex~lusivamente em discursos divinos para l' sar a VlvenCla mtIma entre Jave e Israel; uma celebrayao

    9 R. Smend. ThSt 68- R. Kraetzshmar, L P ,. 1619 e 8 "Bunde,forme!".' . er ttt; 102-115, Dt 26,

    39

  • das relay6es com Deus, portanto (L. Perlitt, ib., 114). 0 termo niio se compromete nem com determinado ritual nern terminologia fixa, deixando 0 caminho livre para muitas interpretay6es. A "dinamica dialetica" (M. Buber, 1954) entre Deus e Israel recebeu nesta f6rmula a sua expressao mais clara e mais resumida.

    II. 0 PROCESSO DA SALVA

  • 19: Teofania (par. 24,15-18 P) . 20: Decalogo.

    21-23: C6digo da Alian

  • ?"O), .c~m .0 suplemente (12,43-51) e a censagra~ae des pri-megemtes (13,1.2). Mas tambem esta fente acena a hist6ria da qual desabrecheu a Pascea:

    E assim que devereis comMa: com as rins cingidQs, sandaizas nos pes e vara no mao; come-Io-eis as pres-sas; e lesta para Jave (Ex 12,11).

    E.sta am'pIi~~ae em 12 e 13 tern triplice significa~iie teel6-glca. Pnmelro, a a~iie salvadera inaugurou e marceu a re-la~ae de I~rael cern seu Deus para tedes .os tempes futures; a celebra~ae pascal sera sua perpetua eveca~iie, bern ceme a eferta des primegenites, jamais emitida nes secules 'se-guintes.

    Segunde, a estreita vincula~iie entre culte divine e his-t6ria. Tante a a~iie divina atraves das esta~6es de ane, ceme .0 culte de peve estabelecide tern carater ciclice. Mas .0 culte em Israel censerveu abertura para a hist6ria retili-nea e .0 future.

    Terceire, a rela~iie entre Ex 12 e 13 e Ex 19-34 A bern dizer, ne decumente P .os regulamentes das festa's e des sacrificies decerrem da teefania sinaitica. Centude, aparecende algumas dessas erdena~6es ja per ecasiiie de exede, evidenciase a impertancia da ,!~~.o Iibertad.ora de

    D_e~s JJara a naclOna I a e e a relig[iie de Israel. A dita te.o-fama fundamenta .0 cu t.o sedentarie celebrade em santua-ri.o e~ta~elecide, ae pass.o que .0 culte em Israel niie pede prescmdlr des antecedentes nomades deste peve.

    A amplia~iie .observada em Ex 32-34 excede a hist6ria da reden~ae prepriamente faland.o. 0 epis6di.o de bezerr.o de euro acarreta .0 rempimente e a ren.ova~ii.o da alian~a c.oncluida ne capitule 24. Nl! dita amplia~ii.o faltam tante a resp.osta d.os remides (Ex 15), come .0 at.o salvader (Ex 12 e 13). Retrata-se a primeira apestasia de pev.o daquele Deu.s.a ~u~m deve a existencia. Muites interpretes lebrigam aqUi mdlclOs da futura ap.ostasia de reine setentrienal e d.o cult.o id6latra de Betel (1 Rs 12-14). Os redateres d.o Pen-tateuc.o ja centaram cern apestasias e des.obediencias futu-ras._que. iriam trazer n.ovas situa~6es de culpa e castige. A umae clmentada pela salva~iie divina e seriamente abalada 44

    pela ap.ostasia. Per esta perspectiva, Ex 32-34 censtitui .0 el.o de ligaciie de Pentateuce cern a hist.oriegrafia de Deute-ren.omista e d.os pr.ofetas que versam sebre a preblematica de culpa e castig.o. Ja fic.ou dite na intreduyiie que .0 Pen-tateuc.o e .0 resultade de c.onfissiie de l.ouv.or, assim ceme .0 Deuter.on.omista (Dtn) .0 e de c.onfissii.o de culpas. A intencae c.onsciente desta liga~iie revela-se na intr.odu~iie ae livr.o des J uizes (Dtn) ne qual celidem c.onstantemente a ap.ostasia cern a aya.o salvifica de Deus, ebservande-se uma especie de refermula~ii.o de celebre crede de Dt 26:

    Os Ii/has de Israel lizeram a que e mau aos olhos de Jave. Esqueceram a Jave seu Deus para servir aos baals e as aseras. Entao a ira de Jove se acendeu contra Israel, e as entregou as maos de Cusii-Rasataim, rei de Edam ... Os Ii/has de Israel clamaram a Jave, e Jave Ihes susci-tau um salvador que as libertou ... A terra descansou durante quarenta anos (lz 3,7-11).

    Ex 32-34 antecipa ainda alguns aspectes da profecia cemi-nat6ria. 0 intermediarie que anuncieu a Iiberta~iie t.oma-se agera prefeta de juizo divin.o, .assuminde, ae mesme tempe, .0 _apel de intercess.or. 0 Deus-red~ter transfermeu-se em

    eus-juiv. '-------

    3. Pericope sinaitica (Ex 19-34)

    Este segment.o de !x.od.o sai de esquema habitual. Fal-ta nele .0 relacienamente diret.o c.om .0 Deus-salvader, ceme alias tambem n.o cred.o (Dt 26). G. v. Rad cenclui, cern razii.o, que estes capitul.os espelham tradi~iie independente. Na teefania descrita ali, Israel recebeu .os elementes basi-ces de seu culte divine, cenferme veremes na IV parte. Se, per urn lade, a teefania fei epis6di.o pertencente ae peve em caminhe, per .outre lad.o, .0 culte regulamentade c.ombi-na cern as trib.os ja estabelecidas em Canaii (Ex 24-40, P). Igualmente, as leis e .os preceites atribuides a esta teefania enquadram-se melher nas cendi~6es de peve ja residente na

  • terra prometida. A celebrac;ao do pacto (Ex 24) representa a fase da transic;ao para a vida sedentaria.

    Os elementos eonstitutivos da saida do Egito ate a chegada em Canaa transpiiem os Iimites da hist6ria inicial de Israel para . infIuir de maneira mareante sobre amplos

    trec~os do AntIgo Testamento. :t:'!a sua salvarao, Israel pre-~en~l~u as fas;anhas p~o?igiosas de?e~sClJ'eradas, ora no mdlvl~uoJ ~ra n.a co.letIVldade. 0 anunclO da sa vac;iio criou uma. sltua~ao dlah~tlca entre promessa e cumprimentoque contInua vIva para dentro do Novo Testamento. Em face da recusa surge 0 anuncio do iuizo dlvino. J a na hist6fia do exodo sao previstos os vaticinios da salvac;ao e dos juizos. Na pessoa de Moises, alem disso, inaugura-se a longa hist6-ria dos mediadores.

    As rea",iies humanas, por sua vez, nao podem faltar em tudo 0 que e narrado no Iivro do xodo ace rca das relac;oes com D,:~s .. 0 confron!o ja .comec;ou pel os gritos dos oprimi-dos; 0.lu~llc; dos rem,dc;s Ja responde ao red en tor. Os gene-ros prmclpals do SalterIO tambem sao os da lamenta9ao e do louvor. Numa palavra, as tres seGoes do Antigo Testa-mento (Tora, Profetas e Escritos) refIetem os acontecimen-tos da saida do Egito.

    4. Conceito de hist6ria no Antigo Testamento

    Se os atos salvadores no Antigo Testamento. a partir da saida do Egito, constituissem seqiiencia continua de ac;iies, entao poder-se-ia falar de Hist6ria da sal~o. A e~trut?racao do Iivro do xodo, porem7 demonstrou que a

    hl~torIa de Deus com IsraeLe rnais do que isso, nao obstante o valor fundamental da salvacao como arcabouco da histo-ria. Mas acontece que a hist6ria evoluiu sem parar.

    J untamente com a salvaao, foi anunciado tamMm urn grande beneficio: Eu vos conduzirei 11 uma terra que trans-borda de leite e mel, incluindo-se nesta bencao a perspec-tiva do fim da vida migrat6ria. No Iivro do Deuteronomio entreabrem-se ainda mais as ben9aOS, de tal forma que a benc;ao.se torna como que a ideia mestra desse Iivro. Apenas

    transposto 0 J ordao, iniciou-se aquele periodo da hisl6rla de Israel que nao se distinguia pelas a90es do Deus-reden-tor. Os problemas haviam mud ado de feic;ao: 0 Deus-reden-tor tornou-se Deus-benfeitor.

    Nos Iivros de Josue e dos Juizes, Deus ja nao e 0 unico agente Iibertador; entram em a9ao as armas dos israelitas que decidem a sorte do povO. Em Js 1-11 a terra que for~ prometida ao sairem do Egito e eonquistada para servir de patria permanente. As narrativas adotam 0 earater etiol6gi-COl2 que esclarece algo a respeito do pais ocupado.

    No Iivro dos Juizes,1J Deus continua salvador enquan-t~ chama e incuE1be_"~lvadores-ex~utivos de sua a980 salvadora. Ambos os conjuntos narrativos, de Josue e dos Juizes, tern em eomum 0 novo estilo de apresentac;ao da interven",ao divina de acordo com as condi90es renovadas da vida do povo, eedendo-se espa",o maior as benfeitorias que prosseguem ainda nos Iivros seguintes de Samuel e dos Reis.

    Os redentores earismaticos do Iivro dos Juizes tiveram como sucessores os reis como instala9ao permanente, justi-fieada teologicamente na profecia de Nata (2Sm 7). Com Salomiio, a realeza reeebeu nova dimensao no templo de Jerusalem (IRs 6-8) , cujo eulto transformou-se em institui-",ao. A realeza de Saul constituia a transi",ao dos juizes para os reis; da mesma forma, a transferencia da area para Jerusalem por iniciativa de Davi, marcava a mudan",a essencial do culto. localizado agora firmemente na capital da monarquia e nao rna is na tenda de nomades. '4

    Dai em diante a lei e os regulamentos atinentes a vida sedentaria ficam estabelecidos ao lado do culto divino fixa-do no local determinado (C6digo da Alian",a, Ex 21-23); A alian",a entre Deus e 0 povo vigora como estavel (Ex 24); com este capitulo deve ser confrontada a confirma980 da alian9a em Siquem Us 24). A expressao mais convincente da pericope sinaitica e 0 C6digo Sacerdotal que disciplina o culto celebrado no santuario, a come9ar'na tenda, e conti-

    12 A. Alt. losua. 1936. 13 W. Richter. BBS 21. 14 L. Rost. SWANT 42 e G. V. Rad, NKZ 31.

    47

  • nuado no templo salomOnico, construldo segundo 0 modelo da tenda.

    Ex 32-34~ antecip~ndo a apostasia e 0 castigo, corres-ponde a re?a9aO postenor ~a era monarquica como hist6ria da apostasla (Deuteronomlsta), uma epoca de constantes pr?VOCa9?es e .desafios para Israel morando em contato com a Idolatna. Al entra em cena a atividade dos homens de De~s para amea9ar com os julgamentos divinos. Mas, por mals paradoxal que pare9a, 0 anuncio dos julgamentos de ' J ave era ao m,:smo temp~ o. prenuncio da salva9i!o, por-quanto J ave nao _ Eretendla )!!mais outro objetivo senao arrancar .Israel do_ pe;il1o fatal. Por outro lado, naquele tempo, a mterven9ao dlvma era obnubilada, em grande par-te, p.ela seguran9a extema garantida tanto pel a vida resi-denc181 como pelo poder estatal.

    ( 5. Retrospecto

    No Iivro do Bxodo jii se descortinam as Hnhas mestras da ~ist6ria ent~~ ~eus e 0 povo que teve como ponto de partida a, expenencla da salva9ao. Israel teve 0 seu encontro com J ave-salvador, e este permanece firme com seu povo na qualidade de salvador.

    Nas amplia90es subseqiientes sao desenvolvidas as di-menso~s _teol6gicas, tais como os beneficios, as apostasias e as p~Dl90es que caracterizam as historiografias do Deutero-nomlsta e d,os profetas. Cada urn dos Iivros hist6ricos repro-duz estes tres aspectos da reden9ao, dos beneficios e da apos-tasia seguida pe10 castigo.

    III . ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA SALVA

  • l'lfth" III "'"" '/" Ih, 111'" l'UIllUnicado por tercei-N ,I ." , .. 1111 , hllll, " ",,111 III loca com as maos a I' " ,II lilli' " "III"""".' fruto da surpresa agrada-

    I I" 1111 I ,10 111110" ,,00 " uolquer possibilidade de cons-I 'lilA" "hI iI " 111111 (1I'1 161'10s normais de percep,ao E t ill''''' '" "'Ili 1IIIIlil iu loge total mente as normas hab't s.e " ~\ "KIIII ~n", I uals

    ""III lIundo 0 SI 77, 0 milagre e essencialmente 1111.1 11" divino om hora de extrema necessidade d' d '1111111110, que consiste numa serie decircunsta~ci~er~ara~ v lI' l)SRS acompanhantes, quando a vinda de D ( . . eus acarreta l) 08 I emeclmento do cosmos do mar da ter d Il"onuncios da majestade da~uele qu~ se ap~~ ': os ;res, sh~ais concomitantes estao subordinados ao x.\ma. sses pnamente dito. Tambem nos evangelhos sin6ti~01 agre p.rlo-gres de c C t - d s, os ml a-d ur~ I? erven,ao ireta) sao bern mais importantes

    o que os smals quanto as leis da Natureza. '1 Vejamos ainda a atua,ao do Criador interpretada como

    ml agrosa em SI 139,14s:

    Eu te celebr~ por tanto prodigio, e me maravzlho com as tuas maravilhas I Conhecias ate 0 fundo 0 meu ser: . meu ossos nito Ie foram escondidos quando eu era feito, em 5\?gredo, tecido na terra mais profunda (cf. Is 28,29).

    Esta extensao combina com 0 conceito original do milagre no contexto do louvor. Acontecendo na obra do Criador prova 9ue 0 mil~gre nao foi tornado como viola,ao das lei; naturals, mas umcamente devido ao confronto surpreenden-te do homem com Deus. como quando nos quedamos empolgados em excesso ante a beleza descomunal.

    Diversamente dos milagres, os sinais testemunham a pr~veniencia divina de palavras (por exemplo, Is 7). Os si-

    n~l~ p;rt;ncem a ?:,tro genero. A iguala,ao de "sinais e pro-dlglOs e secundana.15

    15 R. Albertz, artigo pi' in THAT 413-42()' mais bibliografia em G. Quell, Festschr. W. Rudolph. ' ,

    50

    2. A ~a de Deus no Antigo Testamento o Deus-redentor e 0 Deus que vern, ja em Ex 3,8: "Eu

    descereJparasalyar", e- em toda a Biblia are Ap 1,7: "Eis ue virei em breve"; "eis que ele vern vindo!" Ou em x 5,21: - --

    Cantai a Jave, pois Si1 ergueu, lan90u ao mar cavalo e carro!

    Os versiculos falam de dois atos divinos: Deus se poe em movimwto antes de proceder a salva,ao propriamente dita. Cabem neste contexto as duas exelama,oes em volta das viagens da arca:

    Levanta-te, Jave, e sejam dispersos os teus inimigos, e fujam diante de ti os que te aborrecem! Volta, lave, para as multidoes de milhares de Israel! (Nm 10,35.36).

    Os apelos dirigidos a f ave prolongam-se no largo caudal de e1amotes populares na hora do perigo iminente. Em todos os casos, 0 ato de levantar-se e de a roximar-se compoem a interven ao do Deus e salvador.

    Durante os anos da conquista de Canaa, 0 simples verbo que indicava a vinda de Deus foi substituido pel a complexidade da epifania ou do aparecimento aparatoso de f ave: 16 fz 5,4.5; SI 18,8-16;68,8s.34; 77 ,7-20;97 ,2-5; 114; 29; Hab 3,3-5; Mq 1,3.4; Na 1,3b-6. Vejamos fz 5,4.5:

    Jave! quando saiste de Seir, quando avan9aste nas planicies de Edam, a terra tremeu, troaram os dus, as nuvens desfizeram-se em agua na presen9a de J ave, 0 do Sinai, diante de Jave, 0 Deus de Israel.

    A epifania desenrola-se em tres etapas: a vinda de Deus - os abalos c6smicos concomitantes - a interven,ao em

    16 J. Jeremias. WMANT 10 e C. Westermann, 4' ed., 1968, pp. 69-76.

    51

  • prol do lernol cOI1"'n 01 Il1lmlgos, Pode haver influxo lite-r~rlo do mod 101 roro do Isracl (ver nota 16), mas as epifa-mas do Antillo Tostomcl1to nao ostentam vestigios de mito-login. (\ntlg08, 0 dl'oma deslumbrante da chegada nao e mito, mos 61m 0 con6rio normal do evento entre Deus e 0 seu pOVO ocabrunhado pel a proximidade do perigo, Outro excmplo lemos em SI 88,2 ou em Is 63,19b-64,2a:

    o.xala que lendesses a ceu e descesl>es, dtante da tua lace as montes se abalariam; como a logo laz arder as gravetos, como a logo lerve a agua, para dares a conhecer a teu nome aos reus adversarios' as naroes tremeriam perante a tua lace, ' ao lazeres prodigios que nao esperavamos,

    o aspecto primiirio da epifiinia e a pr6pria chegada' 0 se-cundiirio, e 0 modo desta chegada que, por sua vez, ~udou de tempos em tempos, Deus desce do ceu ou de cima: Jz 5.4,5; Dt 33,2; cf, SI 18.10s; Deus aproxima-se atraves do mar: SI 77 ,20s; desde Siao: SI 50,2s, Desde os primeiros textos, a majestade divina e revelada no ato da chegada' em textos mais recentes, porem, no Deus sentado no seu tro: no e e aqui que ja se vislumbra a fase do louvor de Deus,

    Ao se iniciar 0 exilio, a vinda de Deus e remetida para futuro incerto: assim no Deutero-Isaias, desde 0 pr610go (40,9) e repetIdas outras vezes. Nos profetas p6s-exilicos:. "Eis que teu rei vern a ti, ele e justo e vitorioso" (Zc 9,9); enos Salmos:

    Que 0 campo leste;e, e a que nel,q existe! As arvores da selva gritem de alegria, diante de Jave, pois ele vem, pais ele vem para ;ulgar a terra (SI 96,12.13), ~m meio as epifanias dos tempos antigos e da expecta-tIva dos tempos mais recentes, situam-se os anuncios rofeti-os do Deus que vira para julgar Israel, por exemplo, Is 2, 12.19, Ambos os modos sao cif de urn Deus em atitude de chegar,

    52

    A vinda de Deus e a escatologia. 0 ~ntig~ Testamento, falando da vinda de Deus, e urn acontecimento externo para o homem, uma experiencia dirtita da salva~ao, 0 contrario da afli~ao que e sentida como urn Deus afastado: "Por que estas longe de mim?" Ja 0 futuro, na Biblia, nao e prima-riamente aquila que sobrevira, mas sim Aque/e que vira a mim, 0 futuro e identico com 0 Deus que vira. Sendo assim, e problematica a aplica~ao da palavra escatologia it vinda de Deus, ja pelo fato de 0 termo denotar, antes de tud?, a doutrina sobre os novissimos, ou seja, 0 acervo das COisas vindouras. Ora, a vinda de Deus nao se encaixa numa do~trina ensinavel a alguem, ou que verse sobre temas palpa-veis e disponiveis it pesquisa. . .

    No Antigo Testamento, a vinda de Deus constItUi 0 encerramento 'definitivo do futuro. Por rna is que se fale em novlssimas coisas , a vinda de Deus ultrapassa tudo 0 que se possa aventar, Deus nao se dei,xa compromissar. A su.a c~~gada rematara qualquer especle de futuro, ,quer do l~dl.vIduo, quer do povo, da humanidade, do umverso. A u~

    afirma~ao certa e que caminhamos ao~ontro de Deus_e que ele nos vern ao encontro . . " Eis que venho em ~reve" e a ultima palavra do Novo Testamento e da revela~ao.

    3. Anuncio da sa/varGo atraves do A.T.

    No inicio, a salva~ao e anunciada aos israelitas gemen-tes sob 0 juga dos trabalhos for~ados; a salva~ao pode che-gar de improviso, pode demorar, mas sempre come~a pela promessa com0.JlJll:te.Jntegrant'

  • ~a descreve os A po.rmenores da salvayao que ha de vir (Is 11,1-10): Os tres tlpOS refletem tres situayoes diferentes: o co~~romlsso pressupoe a suplica e e realizado pelo inter-riiech8rlo (Ex 3; Is 40), OU pelo sacerdote em beneficio de suplicante individual e durante 0 culto divino (oraculo sa-cerdotal). 0 anuncio r~~senta 0 vaticinio salvador dos profetas (Jr 32,I~s;28,2-4; lR~ 22,11); fora das profecias, nas ~romessas feltas aos patrlarcas. A narrativa comaet~ aos vI~entes (Gn 49,11.12; Nm 24,5-7a); as vezes liga a a profeclaus 2,1-4; 11,1-10), florescendo finalmente na lite-ratura apocaliptica.

    Outro criterio de classificayao sao os destinatarios:---Israel, 0 homem individual, 0 genero humano, 0 mundo.

    ----a) Qpox . A promessa teve seu cumprimento na posse da terra prometida a qual os israelitas se sentem particular-mente !igados,19 mais do que as outras nayoes a sua patria rcspechva. E~ta. convicyao continua viva nos anos seguintes, ~o DeuteronomlO e em todas as epocas quando a posse legi-hma sofreu contestayoes. Foram sempre de novo reavivadas as promessas feitas a Abrao, Isaac e laco:

    Enlim lose disse a seus irmfios: Eu Vall morrer, mas Deus vas visitard e vas. lard subir para a !erra que ele prometeu, com Juramenta, a Abraao, Isaac e lac6 (Gn 50,24).

    A promessa d~ ter~ e 0 elo de Iigayiio entre os patriarcas e anlstOr18 naclOnal oe Israel, por isso, Gn 12-15 foi colDCa:" ~o ~nte~ do hodo. A benyao prometida, bern como a mul-hphcayao (Gn 12,1-3 e 13,14-16) focalizam ja a historia nacional depois dos patriarcas. A quanti dade como "areia na praia do mar e como as "estrelas do ceu so tern cabi-

    ~ento na ~ist?ria nacio~al. Ao mesmo genero pertencem amda referenclas a urn fllho (Gn 15; 16; 18), a assistencia ?o ~eus presente (Gn 26,3.24;28,15) e ao espayO vital, mcluldo em Gn 12,1-3. Inseridas na vida dos patriarcas, essas promessas conservam 0 horizonte limitado da epOCa.20

    19 G. v. Rad, ThB 8, pp. 87-100. 20 Mais argumentos em C. Westennann. 1976.

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    Outras promessas rompem 0 horizonte para atingir a envergadura dos povos da terra:

    Aben90arei as que te aben90arem, amaldi90arei as que te amaldi90arem, par ti serfio benditas todas as familias da terra (Gn 12,3).

    Esta sentenya, no prologo javista da historia dos patriarcas, deve ser compreendida como transiyao da pre-historia a historia dos patriarcas,21 do mesmo modo como ela precede a hist6ria nacional de Israel. A "toda as familias da ter-ra" ja houve alusao no elenco de Gn 10. Os tres periodos sao perfeitamente encadeados entre si, tendo como fundo comum a relayiio de Deus com a humanidade. Esta mesma historia ganhani destaque nos Canticos do Servo de I ave e se estendera ate os escritos apocalipticos.

    A libertayiio da servidiio egipcia tem seu correlato na repatriayao dos exilados em Babil6nia; assim entendeu 0 Deutero-Isaias (Is 40,14-21). A saida do Egito e ate supe-rada pelo retorno a terra prometida (Is 40,18.19). A dife-renya e a novidade residem no perdao dos pecados que ne-cessariamente veio antes da volta a patria (40,1-3;43,22-28), ao pas so que a libertayao do jugo egipcio foi ate da pura contemplayao e comiserayiio de I ave. Entre ambas as libertayoes, ergue-se a montanha da culpa contraida no de-curso da historia do povo (43,22-28). Por isso, 0 Deutero-Isaias apressa-se a anunciar a garantia do perdao: "Dizei-lhe em alta voz que a sua iniqiiidade esta expiada" (40,2).

    A distin,l(ao entre as duas formas de salvayao e impor-tante, tfill'Igfaao ambas terem sua razao de ser e apresenta-rem afinidades notorias. 0 compromisso assumido por Deus e 0 mesmo (Ex 3,7s e Is 43,1-3), bem como a descri-yao atraente do pais a ser alcanyado; a terra que transborda leite e mel (Ex 3) corresponde a prosperidade da Palestina restaurada (Is 54 e 55).

    Vejamos brevemente os dois palos que delimitam a salvayao. A certeza da salvayao teve seu prolongamento nas promessas de vitorias nos conflitos que caracterizam a toma-

    21 G. v. Rad, ATD (Gn 12,3) e H. W. Wolff, ThB 22.

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  • da de Canaa, as assim chamad~s "guerras de Jave".22 Jave costumava ser consultado em vespera de empreendimentos de vulto e ele respondia ao lider carismatico mediante a for-mula da entrega; por exemplo: "Eis que entregarei as tuas maos 0 rei-de Hai" (Js 8,1). Mais comprovantes em G. v. Rad 1951, 7s.

    Posta em pnitica a vida sedentaria, advem as ben~aos divinas, seguidas, aos poucos, pelos anuncios fatais do juizo divino no periodo da monarquia, acompanhados, porem, das promessas de salva~ao que jamais si!enciaram totalmente.

    b) Promessa dirigida ao medi~ei~ relacionada com a sua fun ao no seio da co'nntnidacle- clo povo. Distinguem-se duas linhas, de acordo com as caracteristicas da pessoa do escolhido.

    Primeiro, quando a promessa e dirigida a urn varao fragi! capaz de gemer sob a peso do encargo. Era a caso

    d~ Moises e, urn pouco tambem de Josue, de Elias, de Jere-mias, do Servo de J ave. Moises receia sucumbir debaixo do cargo, Elias almeja a morte; mas as queixas mais drama-ticas sao de Jeremias e do Servo de Jave. Deus reage com reservas, assegura ao mediador a perseveran~a, mas nao a exito total; no ultimo Cantico, Deus promete ao seu Servo a fruto para alem da morte (Is 53,10-12).

    Outras vezes Deus se dirige a urn rei poderoso, como a Davi mediante 0 profeta Nata (2Sm 7), confirmando-Ihe a dura~ao da dinastia. A confirma~ao da realeza davidica constitui caso inedito na historia de Israel. Oaf em diante, as promessas sao ligadas a ulJ!a institui~ao politica. E foi justamente esta garantia que ttla1O'gflfu. a desmoronamento da casa davidica deve ter sido uma das crises mais graves para a fe em Deus. a Sl 89, que tomava a serio e textual-mente 0 vaticinio de Nata, revive tambem 0 abalo sismico causado pela anula~ao aparente desta promessa. A luz deste

    de~abamento explicam-se as assim chamadas profecias mes-sianicas que, de urn lado, sup6em a queda da monarquia, e, de outro lado, esbarram contra a nao cumprimento das profecias.

    22 G. v. Rad, 1951 e R. Smend, FRLANT 84.

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    ( As mensagens remetidas ao intermediario atingem dois

    pontos altos: as profecias atinentes a urn reino de salva~ao e as outras relativas ao Servo sofredor que alcan~ara a mesmo alva atraves da morte. Ambas as linhas convergem na pessoa de Jesus. Ele e a Messias e rei de futuro reino de paz, e tambem a medianeiro indefeso cujos padecimentos produzem a remissao dos pecados.

    c) Excurso: A Il!!:.lva9ao anunciada a individuos No Antigo Testamento 0 individuo goza do mesmo valor

    da coletlvidade ou do povo. 0 homem mdlVlduaI e ob~ do int"resse divino, e nao s6 por' ser--membro do povo eleito; as provas estao na hist6ria da cria~ao a ser humano, no livro de Jo, nos livros sapienciais e nos numerosos salmos individuais. A hist6ria primeva contempla a homem antes da discrimina~ao em povos e religi6es (Gn 1-11). 0 homem acha-se confrontado com a seu Criador e com suas pr6prias faculdades e limita~6es. Na hist6ria dos patriarcas, 0 homem, membro de familia parti-cularmente distinta, coloca as alicerces de sua fun~ao no seio do povo de Deus em forma~ao (Gn 12-50). Seguem as hist6-rias de cutras familias, com seus altos e baixos em volta do pai e dos filhos, como, par exemplo, na casa de Davi. 0 drama mais individual e, sem duvida, a vida do profeta Jeremias. No culto divino, a individuo participa plenamente no trato com Deus. Durante 0 exilio e, depois, na diaspora, a valor do indivi-duo e da familia sao simplesmente indiscutiveis. Mostra-o a figura de J 6 que, para contribuir religiosa e civicamente, a indivfduo nem precisava ser israelita. Levemos ainda em conta o tra~o humanitario que atravessa todo a Antigo Testamento: os preceitos humanos do Deuteronomio, os conselhos sapien-ciais e a marea univer.salista de muitos oraculos dirigidos as

    na~6es. Numa palavra, no Antigo Testamento, a homem indivi-dual, sua vida familiar e pessoal, e valorizado como parceiro condigno de seu Deus.2J

    Como a suplica individual sempre coexistiu ao lado das suplicas do povo, assim jamais faltou a resposta dirigi-

    23 R. Albertz, 1978.

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  • d~ ao J,\3,~I (:'i~~o supli~a!1te. ~~ epoca das grandes prafe-Clas commatonas do JUIZO dlvmo houve var6es e mulhe-r~s bene~ic!ados de palavras confortadoras nas suas angUs-!las e afh~oes, mantendo viva a uniao com 0 Deus-redentor.

    Na hist6ria dos patriarcas as mensagens divinas visa-ram ao homem no seu campo pessoal enos seus problemas pessoais: falta de herdeiro, riscos corporais e vitais, a pre-potencia dos grandes, disturbios no seio da familia . E nao f~i .diferente nos. tem~os depois dos patriarcas. A palavra dlvma sempre fOI envtada para abranger a vida pessoal, as casas, os lugares de trabalbo, os dias e as noites.

    o culto divino teve por fun

  • Nos eseritos apocalfptieos, a situa~ao final do mundo tern outro aspeeto. A prosperidade definitiva sera preeedida do julgamento universal para arrasar todos os poderes eon-trarios. S6 entlio aparecera novo ceu e nova terra, sem sofrimento e sem morte, eternamente.

    Retrospecto

    a) 0 anuncio de salva~lio, no Antigo Testamento, ja integra esta salva~ao. A mensagem cria estado de tensao e de expectativa que, ap6s 0 ato salvador, forma com este uma unidade. Estas unidades variam de acordo com os tipos de liberta,ao e de interven~ao divinas. A variedade das for-mas de anuncios caracteriza 0 Antigo Testamento e a sua hist6ria entre Deus e 0 homem. Como outrora os patriarcas nas suas jornadas nomades e sem conhecerem exatamente a meta, assim tambem 0 povo de Deus permanece fiel e eon-fiante no seu caminho, sem divisar 0 seu futuro.

    b) A fe. uma forma de resposta ao anuncio.26 Ja a primeira rea~ao Ii palavra e urn passo romo ao futuro aberto pela mensagem:

    On 12,4: ... e Abraao foi... Ex 3: Saindo do Egito para a liberdade. Jz 6-8: Partindo para a luta pela liberdade.

    o primeiro passo ja implica 0 fato da fe na mensagem, em-bora os textos nao 0 mencionem explicitamente. Mas a re-flexao retrospectiva desvenda 0 motivo da a~ao dos isra-elitas:

    Ex 4,31: Sl 106,12:

    On 15,6:

    ... e 0 povo acreditou ... Eles creram nas suas palavras e cantaram o seu louvor. Abraao acreditou e isso foi-lhe imputado como justi~a.

    Em alguns casos, a mensagem de Deus nao foi acolhida lisa-mente, conforme se eonstata na rea~ao de Sara que se riu

    26 H. Wildenberger, .rtigo 'mOl, in THAT I, pp. 177-209, com bi bliografia.

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    ao ouvir a promessa de urn fiIho e, portanto, nao acreditava de imediato. Mais evidente e a falta de fe quando 0 rei Acaz simplesmente nao ere nas palavras de Isaias (Is 7). Caso estranho esse de 0 ungido de J ave nao acreditar na palavra de J ave! 0 verbo erer reveste-se de significado todo particular na profecia de Isaias. Este verbo ('aman) e em-pr~gado onde alguem nao acredita. A atitude de crer e mencionada expressamente s6 quando alguem se recusava a crer, porque na maioria das vezes 0 ate de consenti-mento e tao evidente que nao precisa ser salientado. 0 substantivo "fe" nao existe no Antigo Testamento, e 0 verbo, como ja vimos, e usado nos casos raros em que 0 homem nao quer saber. A possibilidade da recusa deve ser levada na devida considera~ao ao se tratar de mensagens de salva~ao. Ao homem e dado fechar-se ao anuncio e ne-gar-lhe fe. J a com respeito it a~ao criadora de Deus, 0 term.o "crer" nao teria ca51mento, p~rqu~nto 0 israelita desconhe-cia aualquer fOl!lliL de altemativa excogitave!. Quem teria cm 0 0 mundo, senao Deus? Por isso, nao se fala em fe no Criador, ao menos no Antigo estamento. 1 erente e 0 problema no Novo Testamento no qual a palavra crer encer-ra a totalidade do relacionamento do homem com Deus. Figu-rando na exegese veterotestamentaria express6es tais como "a fe em Israel", "a fe dos profetas", "a fe no Criador", a terminologia entao e neotestamentaria. Ver K. Koch, Shaddai. Zum Vahiiltniss zwischen israelitischer Monola-trie und nord-westsemitischem Polytheism us (Shaddai. "Re-

    la~ao entre a monolatria israeIitica e 0 politeismo semitico noroeste"): VT 26 (1976) 299332: 0 termo hebraico ha' amin traduzido comumente por 'fe, jamais assinalava a

    diferen~a entre a religiao de Israel e as demais religi6es; nunca e empregado para destacar 0 pr6prio Deus entre os muitos outros. Refere-se sempre a promessas e vaticinios dos profetas" (On 16,6; Is 7,9; p. 301).

    Quando, porem, a mensagem e a reayao corres ondel!: ~ ado am signifi

  • Como a chuva e a neve descem do ceu e para La nao voltam, sem terem regado a terra, tornando-a tecunda e tazendo-a germinar, dando semente ao semeador e pao ao que come, tal oc6rre com a palavra que sai da minha boca: ela nao torna a mim sem truto; antes, ela cumpre a minha vontade e assegura 0 exito da missao para a qual a enviei (Is 55,10.11).

    A palavra "crer" existe nas entrelinhas dos ver~iculos ci-tados. 0 profeta insiste em que sua mensagem seJa tomada a serio. 0 termo "crer" volta literalmente no ultimo canti-co do Servo de Jave:

    Quem creu naquilo que ouvimos? (Is 53,1). Conforme 0 Deutero-Isaias emprega a palavra "crer", reco-nhece-se a transi9ao do Antigo para 0 Novo Testamento.

    4. A hist6ria do mediador

    A mensagem divina e comunicada pel a boc.a ~ mem, tal como as viagens pelo deserto eram cheflacIas por -urn IiOmem. Este intermediario nao vive num mundo irreal, mas p'ossui a ,lJr6 ria hlst6ria como parte integrante~ hist6ria de Israel com J ave, seu Deus.

    a) Na era dos patriarcas nao havia intermediario P..Q!.-que Deus Ihes falara direta e imediatamente. Logo depois surgiu Moises no papel de mediador do falar e do agir de Deus. A seguir, ja em Canaa, dividiram-se as fun90es do intermediario da paliivra e da a9aO de Deus. Pelo fim, Da pessoa do Servo de J ave, reunem-se novamente ambas as formas de media,ao. .

    A figura de Moises foi unica no seu genero em toda a hist6ria de Israel.27 A historicidade de Moises fund amen-ta-se nesta sua missao. 0 que aconteceu durante a saida

    27 Em ~pocas posteriores Josue foi transformando, de prop6sito, em sucessor de Moises.

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    do Egito nao pode ser imaginado sem a atua,ao de porta-voz de J ave e de lider eficiente do grupO.28 Moises, porem, nao foi fundador de religiao, papel que diz respeito as eta-pas posteriores da hist6ria .29 Uma religiao, no rigor do ter-mo, nao tern come,o; os fen6menos que aparentemente estao no inicio de uma religiao marcam, na realidade, esta-gios de transforma,ao social e politica.

    A saida_do E ito nao faz nenhuma exce9ao. Os tex-tos provam tratar-se mais de transi9aO do que de come'yo .. Os caps. 3 e 6 do llxodo evocam a religiao dos patriarcas apontando para a evolu9ao do nome divino. 0 Deus antigo recebe 0 nome novo de J ave, acompanhado da interpreta,ao da novidade (Ex 3,14). A denomina9aO do Deus-redentor como que brota da experiencia do encontro com ele. 0 nome confirma a continuidade dos eventos iniciados.30

    A singularidade do encargo de Moises reside no fato de ele nunca agir como chefe dos combates; ele nao era guerreiro, nem exercia poder diante do grupo que liderava; nao dispoe de expedientes executivos ou disciplinares. Ele sofre sob 0 peso do cargo e se queixa como tantos outros depois dele.

    b) Uma vez 0 povo instalado na terra prometida, a missao do medianeho e repartida entre 0 porta-voz da pa-lavra e 0 executor da a9ao de Deus. No livro do,.s J uiZ9 sao retratados os Iideres carismaticos conyocados poiJJeUs para a missao de libertar 0 l'OVO it mao armada. G. v. Rad real,a a peculiaridade destes combates n o seu livro Dqr heilige Krieg im alten Israel (" A guerra santa no Israel anti-go"); ver tamhem R. Smend, FRLANT 84. A rigor de teri1' mos nao se trata de verdadeira guerra; sao antes refregas passageiras e nunca guerra planejada e conduzida a termo com estrategia e tatica especiais. 0 que aconteceu era uma eucessao de combates travados pela sobrevivencia das tri-

    . bos, sendo as vit6rias atribuidas a J ave, invocado no auge do aperto. 0 che e teve consciencia de ter sido convocado

    28 A historicidade da figura de Moises e concebida diferentemente e~ M. Noth e S. Herrmann; cf. R. Smend. 1959.

    29 K. Koch, KuD 8. 30 W. ZimmerIi, ThB 19, pp. 11-40.

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  • por Deus e 0 povo 0 encarava e respeitava como tal. J ave falara em favor aeie'"'qITando dizia: "Eis que- te en reguei as milos 0 inimigo". AJcan9ada a vit6ria, Deus e louvado como libertador de verdade Uz 5). Em momento nenhum cogita-va-se em expansilo da autoridade do chefe. 0 cargo expira-va com ele sem passar para os filhos e descendentes mms longinquos. como era 0 caso normal em tempos de mo-narquia.

    Excurso: ruah. Nos conflitos de libertac;ao surge sempre 0 concei-to do "Espiriio de Jave" (Ruab Yhwh)ll que se apoderara do lider escolhido, capacitando-o para a sua tarefa libertadora: Jz 3,10; 6,335;11,29;14,19;15,14; ISm 11,6. A ideia basica de ruab e soprar fortemente pelas narinas, dai 0 sentido de hiilito, de ven to, de ar e"pelido contendo forc;a constatave!. Em J 0 3 ,8 top~mos com a mesma raiz etimol6gica. 0 Espirito de Deus exerce amda o seu papel no profetisrilo e"tatico, caindo sobre 0 homem, cau-sando-Ihe 0 arrebatamento prof"tico (ISm 10). No profetismo literario, a menc;ao do Espirito de Deus e mais rara. Para os tempos escatol6gicos este Espirito de Deus e objeto de promessa em beneficio tanto do Salvador prometido (Is 11,2;42,1;61,11), quanto do povo em geral (Is 32,15;43,36;59,21;63,11; Ez 36, 26s;37; JI 2,28;3,1). A ruab Yhwh vira conceito estatico (Is 11,1; Jl 3,1), identificando-se aos poucos com qualquer tipo de ac;ao divina (Ne 9,30; 2Cr 15,1;24,20; Zc 7,12). Em 0 Novo Testamento ocorrem ambas as acepc;5es, a dinamica e a estatica.

    c) Os --reis como intermediarios e 0 aspecto teol6gico da realeza. Na pessoa de Saul processa-se a transi9ilo da lideran a carismatica para a realeza, que nao podia ser outra senilo a me la

  • texto hist6rico da apostasia de J ave em favor da ido1atria ambienta1 e presente em todo este periodo. 0 rei tQ..mou-se cu1pado da desgraya de s~ llOVO intei~o ; 0 rei era 0 grande desobediente aos requisitos da benyao divina arro1ados no Deuteron6mio.

    Nao resta a menor duvida de que 0 sistema poderia ter side ju1gado