cleide aparecida pires lazaretti a indisciplina: seus aspectos e características no ensino...
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CLEIDE APARECIDA PIRES LAZARETTICLEIDE APARECIDA PIRES LAZARETTI
A INDISCIPLINA: seus aspectos e A INDISCIPLINA: seus aspectos e características no Ensino Fundamental com características no Ensino Fundamental com
crianças de 3ª e 4ª séries.crianças de 3ª e 4ª séries.
COLORADO COLORADO
20082008
INTRDODUÇÃOINTRDODUÇÃO
A indisciplina na escola, nas salas de aula e, até mesmo, nos meios
sociais, é um fator preocupante que leva a todos nela inseridos a
pensarem e repensarem sobre suas causas e a buscarem soluções.
Mas, para que se fale de indisciplina, é necessário entender o
conceito de disciplina. Estes conceitos, no sentido geral, percebe-se
que estão diretamente ligados a todos os meios: social, moral e
intelectual, refletindo principalmente nas escolas que são
responsáveis em ajudar no desenvolvimento dos indivíduos, em
todos os seus aspectos. A grande maioria dos alunos quando vêm à
escola, não tem noção dos comportamentos que são favoráveis às
relações com seus companheiros de vida e convenientes às
conquistas que deseja realizar.
Traz o conhecimento e os hábitos próprios de sua família e de seus pares. Esses hábitos, quando trazidos para o ambiente
escolar, devem ser trabalhados e modificados para que haja um compartilhamento do espaço e consequentemente de suas
atitudes. Nem sempre esse processo de transformação acontece, ocasionando dificuldades de convivência e/ou atritos,
conflitos que podem ser interpretados como indisciplina.
Ao pensar nisso, estudar o tema da indisciplina na escola é uma tarefa difícil, porém de extrema necessidade para o entendimento
das relações existentes entre escola e pais, e entre escola e aluno.Também pelo fato do crescente numero de violência e
indisciplina em todas as esferas da sociedade, em particular no ambiente escolar. O que se busca responder com esse trabalho é
até onde a indisciplina pode prejudicar no processo ensino-aprendizagem dos alunos no ambiente escolar, visto que este
comportamento não é uma causa, mas uma consequência.
Dessa maneira será possível entender o que causa a indisciplina no âmbito escolar e como ela pode ser diminuída ou até sanada
na vida escola, no meio social e até mesmo no ambiente familiar.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICACriar os filhos, educá-los, prepará-los para agir com
responsabilidade e segurança no conturbado mundo em que
hoje vivem é uma tarefa tão exigente e desafiadora quanto
prazerosa e gratificante. Considerando que o ser humano
aprende o tempo todo, nas mais diversas instâncias que a vida
lhe apresenta, o papel da família é fundamental, pois é ela que
decide, desde cedo, o quê seus filhos precisam aprender, quais
as instituições que devem freqüentar, o que é necessário
saberem para tomarem as decisões que os beneficiem no
futuro. Escolher a escola adequada às expectativas da família e
que, ao mesmo tempo, seja do agrado da criança, é um
empreendimento cujo sucesso depende, em grande parte, da
perspicácia e habilidade dos pais ao avaliar diferentes
propostas pedagógica de cada Instituição.
Entender o indivíduo como parte de um sistema, ou todo,
organizado, com elementos que interagem entre si,
influenciando cada parte e sendo por ela influenciado, traz
uma luz à compreensão acerca do desenvolvimento
humano, contribuindo para a reflexão sobre os contextos
familiar e escolar, que tanto podem ser elementos de
continência, inclusão e segurança, como fontes de
conflitos, com ênfase nas perdas que se podem
apresentar no percurso. Família e escola são pontos de
apoio e sustentação ao ser humano; são marcos de
referência existencial. Quanto melhor for a parceria entre
ambas, mais positivos e significativos serão os resultados
na formação do sujeito. A participação dos pais na
educação formal dos filhos deve ser constante e
consciente. Vida familiar e vida escolar são simultâneas e
complementares.
Nas escolas, a mudança da sociedade, contribuiu para a
formação das novas regras e princípios que organizariam o
trabalho, onde do rigor absoluto passou-se para a democracia
que não foi bem entendida, fugindo ao controle dos envolvidos
nesse contexto. A escola idealizada e implantada para
indivíduos subordinados tornou-se incapacitada de administrar
o seu território de maneira a atender esse novo sujeito, por
não conseguir formar cidadãos que ultrapassem o senso
comum e com isso acabar educando cidadãos subalternos,
sem conhecimentos necessários para transformar-se a si
mesmos e a sociedade. (FRANCO, 1986, p. 66).
Em muitos momentos é necessário fugir da ordem ou do
padrão comportamental para que o ensino/aprendizagem
aconteça. A disciplina precisa ser entendida pelas escolas não
apenas como algo do aluno, mas de todos os envolvidos com
o processo ensino/aprendizagem, pois está relacionada à
forma como a escola organiza e desenvolve o seu trabalho. O
aluno, principal alvo das reflexões, precisa conhecer
exatamente o sentido da escola. O pensar de VASCONCELLOS
(2000, p. 57-59) faz refletir sobre a função social da escola,
que deixou de ser o lugar de busca de ascensão social e por
isso deixou também uma desorientação enorme tanto em
alunos, quanto em pais e professores que sentem dificuldades
de entender a efetiva função social da escola.
No artigo 205 da Carta Constitucional diz o seguinte:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho. (Constituição da República Federativa do
Brasil, 1988, p. 38).
A educação se transmite em qualquer lugar onde existe alguém
que ensine e alguém disponível para aprender. Professor e aluno
são os protagonistas do palco pedagógico, é entre eles que as
cenas se desenrolam e finalmente se concretizam. Aprendizagem
e disciplina estão envolvidas com estes personagens como pano
de fundo essenciais para levar a bom termo o ato educacional.
Não se pode também pensar nestes protagonistas descartando o
aspecto familiar e social. Neste sentido, a estruturação escolar
não poderá ser pensada apartada da familiar. Em verdade, são
elas as duas instituições responsáveis pelo que se denomina
educação num sentido amplo. A indisciplina instalada revela
então, um sintoma de relações familiares desagregadoras
incapazes de realizar a contento sua parcela no trabalho
educacional dos nossos adolescentes. A educação não é tão-
somente responsabilidade integral da escola.
METODOLOGIA E RESULTADOS DA PESQUISA
Foram realizadas investigações com professores, pais e alunos da
escola. As técnicas de pesquisa utilizadas foram conversas informais,
entrevistas orais, questionários escritos e observações em sala de
aula. As questões foram apresentadas para alguns professores da
escola Municipal de Cafeara. Os alunos receberam um questionário
que foi respondido em sala de aula. Estes alunos levaram um
questionário para que os pais pudessem dar sua contribuição. Dos 85
questionários enviados, retornaram 65%. Foram escolhidas para a
pesquisa as 3ª e 4ª series da referida escola por conta das intensas
reclamações por parte dos professores, bem como da incidência de
advertências, chamadas de pais ao colégio, inúmeras solicitações por
parte dos professores à administração na tentativa de amenizar os
problemas indisciplinares.
Após a leitura de todas as respostas apresentadas pelos pais,
professores e também das entrevistas, conversas informais e da
contínua observação e reflexão do problema indisciplinar que é
observado durante toda a trajetória pedagógica, partiu-se para a
reflexão embasada também na bibliografia sugerida e percebeu-
se claramente que a indisciplina, no âmbito da sala de aula,
possui determinados exógenos que prevalecem no campo da
sociedade global. Dessa forma, não se pode conceber a
indisciplina simplesmente na prática das relações sociais
escolares, pois ela transcende este espaço escolar e buscasse um
entendimento nas várias esferas dos organismos sociais.
Com base nas investigações citadas anteriormente percebe-se
que alguns dos profissionais atribuem a culpa pelo
comportamento indisciplinado do aluno, à educação recebida
na família. "Esta criança tem uma criação familiar totalmente
autoritária, está acostumada a apanhar e a receber severos
castigos, por esta razão não consegue viver em ambientes
democráticos". "Se os próprios pais não sabem dar limites, eu é
que não vou dar"; dizem alguns professores. Nestes casos, há a
transferência total do problema à família e a escola se isenta, já
que o problema é detectado fora do seu domínio.
Outros profissionais parecem compreender que a manifestação
de maior ou menor indisciplina no cotidiano escolar, está
relacionada à personalidade de cada aluno: "Fulano nasceu
rebelde, o que eu posso fazer? Sicrano é terrível, não tem
jeito!”. Deste modo a responsabilidade é transferida para o
próprio aluno. Entendem que os traços comportamentais de
cada aluno não poderão ser modificados, pois já estão definidos
desde o nascimento e que fazem parte da natureza de cada
indivíduo. Conseqüentemente, a experiência escolar não tem
nenhum poder de influência e interferência no comportamento
individual.
Ainda com relação às entrevistas e observações percebe-se
que os outros profissionais da educação (diretora,
coordenadores, orientadora educacional e supervisora
pedagógica) e alguns pais, concordam em grande parte com as
justificativas anteriormente mencionadas, atribuem também a
responsabilidade ao professor. Deste modo, a culpa que
geralmente é atribuída ao aluno, entendido como portador de
defeitos ou qualidades morais e psíquicas definidas
independentemente da escola ou à sua família, passa a ser do
professor. Nesta ótica, a origem da indisciplina está relacionada
exclusivamente à falta de autoridade do professor, de seu
poder de controle e aplicação de sanções e mesmo de
antipatias e outras dificuldades de relacionamento
professor/aluno.
É extremamente necessário, em primeiro lugar, que as regras
sejam verdadeiramente estabelecidas pelo grupo e não só o
professor as estipule, há que se compreender que o professor é
parte integrante e não externa a este, e tem a autoridade
inerente que lhe é atribuída por seu papel. Mas em segundo
lugar, é necessário que esse mesmo professor não extrapole
suas funções de membro coordenador e mediador do grupo, e
não tente ser o "dono" da sala e das regras, aquele que tudo
determina, tudo cobra, que diz quem está certo e quem está
errado, que aplica sanções e dá recompensas. Essa postura é
incoerente com os ideais democráticos de respeito mútuo e
reciprocidade.
Se um dos objetivos da educação é o de auxiliar um sujeito a
construir uma autonomia do pensamento que obrigue sua
consciência a respeitar as regras do grupo depois de raciocinar
com base em princípios de reciprocidade se aquela regra é
justa ou não, isto deverá ser alcançado por meio de relações
que não envolvam a coação e o respeito unilateral; caso
contrário, poderá se obter um comportamento desejado pelo
adulto, mas ao preço de reforçar um comportamento
heterônimo e não autônomo. Portanto, somente uma
transformação no tipo das relações estabelecidas dentro da
escola, da família e da sociedade poderá fazer com que o
problema indisciplina seja encarado sob uma perspectiva
diferente.
E a maior porcentagem está na ação do professor, é
um trabalho árduo, que requer paciência e força de
vontade e fazer com que seus objetivos e suas
regras sejam cumpridas pelo grupo (alunos e
professores de todas as disciplinas) tendo como
pressuposto os ideais democráticos de justiça e
igualdade, bem como a construção de relações que
auxiliem esses alunos a "obrigarem suas
consciência” a agirem com base no respeito a esses
princípios, e não por obediência. E assim a ação
pedagógica será levada a bom termo e em
conseqüência acabará por ser prazerosa.
Através da coleta de dados, constatou-se que os professores,
na sua maioria se vêem completamente sós neste palco e a
família delega toda a responsabilidade não só da transmissão
do saber mas também da disciplinarização da conduta. Os pais
afirmam que priorizam a disciplina familiar, mas o que se
percebe, através dos depoimentos dos alunos, é que as coisas
correm muito frouxas, em nome da falta de tempo, e não há
um estabelecimento de regras e limites no seio familiar, nem
mesmo a disponibilidade para o diálogo e a afirmação da
afetividade dos pais pelos filhos e vice-versa nem tão pouco a
efetivação e o cultivo de tais padrões éticos de conduta para
tornar a disciplinarização familiar a contento.
CONCLUSÃO
Percebe-se que o papel da escola é relevante, não para
compensar carências afetivas e disciplinares da família, mas
sim de provocar transformações e desencadear novos
processos de desenvolvimento e comportamento. Cabe
ressaltar, então que se a família, a sociedade em si e os
desmandos de alguns professores são os maiores culpados da
indisciplina escolar, entra aí a atuação do professor como
tábua de salvação de vital importância na transformação e a
saída possível está mesmo no coração da relação professor
aluno, isto é, nos nossos vínculos cotidianos e, principalmente,
na maneira com que nos posicionamos perante o nosso outro
complementar.
É papel do professor criar, junto com o aluno, o ambiente
cooperativo e fazer com que ambos compreendam a sua
importância recuperando-se assim a auto-estima nos alunos. O
lugar do professor é imediatamente relativo ao do aluno e vice-
versa. Vale lembrar que guardadas as especificidades das
atribuições de agente e clientela, ambos são parceiros de um
mesmo jogo. Devemos deixar de lado os nossos maiores rivais, a
ignorância, a pouca perplexidade e o conformismo de achar que
nada é possível e que não somos agentes de transformação. Em
suma, o ofício docente exige a negociação constante, quer com
relação às estratégias de ensino, de avaliação, de objetivos, quer
com relação à disciplina. Pois esta se imposta autoritariamente, o
aluno jamais se sentirá obrigado a cumpri-la, e a indisciplina
poderá ser um protesto em relação à autoridade e a conseqüente
falta de carinho, afetividade e compreensão.