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CLÍNICA www.jornaldentistry.pt 24 INTRODUÇÃO Nos últimos 10 a 15 anos registou-se uma melhoria consi- derável na osteointegração no campo da implantologia, tan- to devido aos materiais como às plataformas. Hoje, este pro- gresso permite não só o tratamento de endentulação parcial como também o tratamento para pacientes desdentados totais. A literatura científica tem analisado a fiabilidade do tratamento de reabilitação com próteses implanto-suporta- das em conjunto com possíveis complicações, dividindo o processo em dois grupos: biológico e mecânico. O primeiro grupo é essencialmente caracterizado por peri implantites e doenças infecciosas nos tecidos moles, enquanto que o segundo grupo foca as atenções para os componentes da reabilitação protética. Este segundo grupo inclui: desapara- fusamento e fratura dos componentes, perda de retenção da prótese, fratura do pilar, fratura do implante, fratura da estrutura metálica, fratura da coroa e fratura da cerâmica. Bregger et al. (1) analisou 89 pacientes com soluções protéti- cas implanto-suportadas durante mais de 10 anos. O objeti- vo do estudo foi avaliar os diferentes motivos de insucesso considerando tanto a parte biológica como mecânica. Em 69 casos unitários de reabilitação observou sete casos (10%): cinco destes (7%) foram devido a complicações biológicas e dois (3%) por razões mecânicas. Diferentes estudos (2,3) rela- taram resultados semelhantes, demonstrando que, em 112 implantes analisados durante mais de 10 anos, 7,1% foi por razões mecânicas. O desaparafusamento foi relatado como sendo o problema mecânico mais frequente entre diferentes autores. (4-10) Este problema está associado à estabilidade da conexão, ao torque de aparafusamento e à precisão da rosca do parafuso do pilar. O desaparafusamento é determinante para o aumento de casos de fratura pelo nível do parafuso. Se o paciente não tem por hábito regressar à clínica a fim de confirmar se os parafusos estão corretamente em posição ou para os substituir, os mesmos estarão em constante pressão aumentando o risco de fratura devido a forças radiais e tan- gencias da mastigação, o que vai influenciar directamente a área do parafuso ao superar o limite de deformação plástica do material. O parafuso tende a fraturar com mais frequên- cia na região para onde a maior parte das forças são dire- cionadas. O risco de fratura parece estar relacionado com o cumprimento do parafuso. (11) A fim de garantir a estabilida- de do parafuso é preciso garantir a precisão máxima durante o aparafusamento de todos os componentes aos implantes. A interface entre o pilar e o implante tem de ter caraterís- Dr. Marco Montanari, DDS, PhD Clinical Director of the Bologna University disabled dentistry clinic. FRATURA DE PARAFUSO PROTÉTICO EM IMPLANTE OSTEOINTEGRADO: RESOLUÇÃO DE UM CASO CLÍNICO ticas anti rotacionais. O processo de resolução nestes casos clínicos pode ser difícil e pode levar à remoção do implante. (12,13) Não existe um procedimento padrão e aprovado para a remoção de um parafuso protético fraturado. Diferentes opções de técnicas têm sido apresentadas: alguns proce- dimentos sugerem o uso de pontas ultra-sónicas, a fim de desapertar o fragmento fraturado (12) , outros sugerem o uso de um kit de remoção específica para o parafuso (14) , outros autores sugerem que não se remova o parafuso e que se utilize um mais curto. (11) O objetivo deste artigo é o de rela- tar um caso de fratura de um parafuso protético mostrando o procedimento adequado de resolução com recurso a um kit de remoção específico e particular, compatível para cada marca de implante. CASO CLÍNICO Paciente com uma ponte implanto-suportada nas zonas 13-16. O implante na zona 16 é um implante de hexágono externo (3i, Biomax. Palm Beach, FL EUA), enquanto que o implante na zona 13 é um implante de conexão de cone métrico puro (Ankylos, Dentsply, York PA EUA). O paciente foi encaminhado por um médico dentista que relatou uma fra- tura do parafuso do implante na zona 13 (figura 1). A fratura do parafuso torna quase impossível o uso de pontas ultra- sónicas. Depois de uma correta avaliação da situação clínica, foi decidido utilizar o kit de extração de parafusos partidos da Rhein’83 (Bolonha-Itália) para resolver o caso. Este kit único está disponível para cada tipo de implante, permitindo a remoção do fragmento do parafuso partido ou desgastan- do até ao seu desaparecimento através de uma broca parti- cularmente agressiva e afiada. Outra caraterística importan- te do kit é o guia de centralização que permite ao usuário, durante as várias fases clínicas, isolar a área de trabalho e, em particular, permitir a centralização correta da broca sobre o implante a fim de evitar danos ao corpo do implante. Apos a remoção da ponte (figura 2) inseriu-se um guia de centra- gem (figura 3) e colocou-se a broca de garra sobre o mandril (figuras 4 e 5). Ao realizar movimentos de anti rotação ten- tou-se alcançar o fragmento do parafuso para o desapertar. Na maior parte dos casos este procedimento iria ter suces- so na remoção, no entanto, no presente caso, o parafuso estava particularmente estável (a factura ocorreu durante o aperto com chave de carraca). Depois de algumas tenta- tivas iniciais, decidiu-se montar a broca de garra sobre o dispositivo de centragem e com uma rotação baixa e torque elevado tentou-se remover o fragmento em sentido anti-ho- rário (figuras 6 a 8). Durante esta fase, foi possível sentir o parafuso a ser alcançado com a broca de garra mas sem sucesso na sua remoção. Mudando de técnica, trocou-se a broca de garra por uma broca de perfuração (figuras 9 e 10) em sentido contrário aos ponteiros do relógio. Esta broca é muita agressiva e permitirá destruir o fragmento do parafu- so fraturado. Esta operação requer uma atenção e precisão reforçada para evitar movimentos bruscos e danificar tanto a broca como o implante. Durante esta fase, surgiram alguns pequenos fragmentos de metal e com recurso a um jacto de água normal foi possível removê-los facilmente. Ao repetir esta operação mais vezes percebeu-se que o parafuso foi completamente removido, como é possível verificar através do raio-x (figura 11). Um novo pilar com o parafuso protético adequado foi inserido corretamente (figura 13 e 14). O novo parafuso foi inserido corretamente mostrando imediatamente uma excelente estabilidade. O caso clínico é finalizado ao cimentar-se a ponte já exis- tente sobre os pilares nas áreas 13 e 16 (figura 15). A satis- fação do paciente foi total uma vez que foi evitada a remo- ção do implante e a criação de uma nova solução protética, respeitando a situação existente. O médico dentista tam- Fig. 1. Fig. 2. OJDentistry N13.indd 24 11/12/14 12:20

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Page 1: CLêNICA · para o aumento de casos de fratura pelo n vel do ... CLÍNICA MAIOR RESISTÊNCIA ... O novo material em zirconio Prettau® Anterior da Zirkonzahn é o próximo passo

CLÍNICA

www.jornalden tistry.pt24

INTRODUÇÃONos últimos 10 a 15 anos registou-se uma melhoria consi-

derável na osteointegração no campo da implantologia, tan-to devido aos materiais como às plataformas. Hoje, este pro-gresso permite não só o tratamento de endentulação parcial como também o tratamento para pacientes desdentados totais. A literatura científica tem analisado a fiabilidade do tratamento de reabilitação com próteses implanto-suporta-das em conjunto com possíveis complicações, dividindo o processo em dois grupos: biológico e mecânico. O primeiro grupo é essencialmente caracterizado por peri implantites e doenças infecciosas nos tecidos moles, enquanto que o segundo grupo foca as atenções para os componentes da reabilitação protética. Este segundo grupo inclui: desapara-fusamento e fratura dos componentes, perda de retenção da prótese, fratura do pilar, fratura do implante, fratura da estrutura metálica, fratura da coroa e fratura da cerâmica. Bregger et al. (1) analisou 89 pacientes com soluções protéti-cas implanto-suportadas durante mais de 10 anos. O objeti-vo do estudo foi avaliar os diferentes motivos de insucesso considerando tanto a parte biológica como mecânica. Em 69 casos unitários de reabilitação observou sete casos (10%): cinco destes (7%) foram devido a complicações biológicas e dois (3%) por razões mecânicas. Diferentes estudos (2,3) rela-taram resultados semelhantes, demonstrando que, em 112 implantes analisados durante mais de 10 anos, 7,1% foi por razões mecânicas. O desaparafusamento foi relatado como sendo o problema mecânico mais frequente entre diferentes autores. (4-10) Este problema está associado à estabilidade da conexão, ao torque de aparafusamento e à precisão da rosca do parafuso do pilar. O desaparafusamento é determinante para o aumento de casos de fratura pelo nível do parafuso. Se o paciente não tem por hábito regressar à clínica a fim de confirmar se os parafusos estão corretamente em posição ou para os substituir, os mesmos estarão em constante pressão aumentando o risco de fratura devido a forças radiais e tan-gencias da mastigação, o que vai influenciar directamente a área do parafuso ao superar o limite de deformação plástica do material. O parafuso tende a fraturar com mais frequên-cia na região para onde a maior parte das forças são dire-cionadas. O risco de fratura parece estar relacionado com o cumprimento do parafuso. (11) A fim de garantir a estabilida-de do parafuso é preciso garantir a precisão máxima durante o aparafusamento de todos os componentes aos implantes. A interface entre o pilar e o implante tem de ter caraterís-

Dr. Marco Montanari, DDS, PhDClinical Director of the Bologna University disabled dentistry clinic.

FRATURA DE PARAFUSO PROTÉTICO EM IMPLANTE OSTEOINTEGRADO: RESOLUÇÃO DE UM CASO CLÍNICO

ticas anti rotacionais. O processo de resolução nestes casos clínicos pode ser difícil e pode levar à remoção do implante. (12,13) Não existe um procedimento padrão e aprovado para a remoção de um parafuso protético fraturado. Diferentes opções de técnicas têm sido apresentadas: alguns proce-dimentos sugerem o uso de pontas ultra-sónicas, a fim de desapertar o fragmento fraturado (12), outros sugerem o uso de um kit de remoção específica para o parafuso (14), outros autores sugerem que não se remova o parafuso e que se utilize um mais curto. (11) O objetivo deste artigo é o de rela-tar um caso de fratura de um parafuso protético mostrando o procedimento adequado de resolução com recurso a um kit de remoção específico e particular, compatível para cada marca de implante.

CASO CLÍNICOPaciente com uma ponte implanto-suportada nas zonas

13-16. O implante na zona 16 é um implante de hexágono externo (3i, Biomax. Palm Beach, FL EUA), enquanto que o implante na zona 13 é um implante de conexão de cone métrico puro (Ankylos, Dentsply, York PA EUA). O paciente foi encaminhado por um médico dentista que relatou uma fra-tura do parafuso do implante na zona 13 (figura 1). A fratura do parafuso torna quase impossível o uso de pontas ultra-sónicas. Depois de uma correta avaliação da situação clínica, foi decidido utilizar o kit de extração de parafusos partidos da Rhein’83 (Bolonha-Itália) para resolver o caso. Este kit único está disponível para cada tipo de implante, permitindo a remoção do fragmento do parafuso partido ou desgastan-do até ao seu desaparecimento através de uma broca parti-cularmente agressiva e afiada. Outra caraterística importan-te do kit é o guia de centralização que permite ao usuário, durante as várias fases clínicas, isolar a área de trabalho e, em particular, permitir a centralização correta da broca sobre

o implante a fim de evitar danos ao corpo do implante. Apos a remoção da ponte (figura 2) inseriu-se um guia de centra-gem (figura 3) e colocou-se a broca de garra sobre o mandril (figuras 4 e 5). Ao realizar movimentos de anti rotação ten-tou-se alcançar o fragmento do parafuso para o desapertar. Na maior parte dos casos este procedimento iria ter suces-so na remoção, no entanto, no presente caso, o parafuso estava particularmente estável (a factura ocorreu durante o aperto com chave de carraca). Depois de algumas tenta-tivas iniciais, decidiu-se montar a broca de garra sobre o dispositivo de centragem e com uma rotação baixa e torque elevado tentou-se remover o fragmento em sentido anti-ho-rário (figuras 6 a 8). Durante esta fase, foi possível sentir o parafuso a ser alcançado com a broca de garra mas sem sucesso na sua remoção. Mudando de técnica, trocou-se a broca de garra por uma broca de perfuração (figuras 9 e 10) em sentido contrário aos ponteiros do relógio. Esta broca é muita agressiva e permitirá destruir o fragmento do parafu-so fraturado. Esta operação requer uma atenção e precisão reforçada para evitar movimentos bruscos e danificar tanto a broca como o implante. Durante esta fase, surgiram alguns pequenos fragmentos de metal e com recurso a um jacto de água normal foi possível removê-los facilmente. Ao repetir esta operação mais vezes percebeu-se que o parafuso foi completamente removido, como é possível verificar através do raio-x (figura 11). Um novo pilar com o parafuso protético adequado foi inserido corretamente (figura 13 e 14).

O novo parafuso foi inserido corretamente mostrando imediatamente uma excelente estabilidade.

O caso clínico é finalizado ao cimentar-se a ponte já exis-tente sobre os pilares nas áreas 13 e 16 (figura 15). A satis-fação do paciente foi total uma vez que foi evitada a remo-ção do implante e a criação de uma nova solução protética, respeitando a situação existente. O médico dentista tam-

Fig. 1. Fig. 2.

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CLÍNICA

MAIOR RESISTÊNCIA À FLEXÃO E AO ENVELHECIMENTO

O novo material em zirconio Prettau® Anterior da Zirkonzahn é o próximo passo na investigação de materiais. Prettau® Anterior não é somente extremamente estético e natural OCU�VCODÃO�CNVCOGPVG�TGUKUVGPVG�´�ƀ�GZºQ�G�CQ�GPXGNJGEKOGPVQ��'O�FQKU�GUVWFQU�TGCNK\CFQU�PC�7PKXGTUKFCFG�FC�2GPUKNX¸PKC��75#��HQTCO�CVGUVCFCU�C�GUVG�OCVGTKCN�WOC�TGUKUVÄPEKC�´�ƀ�GZºQ�FG�����/2C��CUUKO�EQOQ�WOC�RCTVKEWNCTOGPVG�CNVC�TGUKUVÄPEKC�CQ�GPXGNJGEKOGPVQ�

ZIRKONZAHN Portugal – Luis Macieira – Tel +351 217 586 269 – [email protected]

ZIRKONZAHN Worldwide – Tel +39 0474 066 680 – [email protected] – www.zirkonzahn.com

NOVA ZIRCONIA

bém ficou satisfeito com o resultado alcançado através de um procedimento simples e seguro e evitando uma situação clínica muito complexa.

DISCUSSÃOOs implantes dentários são amplamente utilizados em

todo o mundo e nos últimos anos tem-se verificado um aumento do número de empresas produtoras. A média de sucesso e a possibilidade de utilizar implantes para a recu-peração da função mastigatória, apoiando a prótese remo-vível ou fixa, aumentou a distribuição e utilização. Contu-do, podem existir complicações e insucessos. A fratura do parafuso protético, como apresentado neste artigo, por ser um problema considerável, tanto para o médico dentista

como para o paciente. A rosca interna do implante pode ser danificada e por isto inutilizável. A confiança entre pacien-te e médico dentista é construída a longo prazo e pode ser penalizada quando algo corre mal, como a fratura de um parafuso. Resultados económicos também são importantes quando um procedimento a longo prazo é necessário, e o médico dentista pode perder o respeito do paciente. Este caso clínico apresenta o kit de extração de parafusos parti-dos da Rhein’83, como uma solução clínica para um parafuso protético fraturado dentro de um implante. Este kit especial, compatível ao implante, permite a extração do parafuso do interior do implante ou até, o seu desgaste até desaparecer com recurso a uma broca especial agressiva. Outra caraterís-tica importante do kit é a guia de centralização das brocas

Fig. 12. Fig. 13. Fig. 14. Fig. 15.

Fig. 3. Fig. 6.

Fig. 9.

Fig. 4.

Fig. 7. Fig. 10.

Fig. 5.

Fig. 8. Fig. 11.

que ajuda o dentista a isolar a área de trabalho a fim de evitar danos no implante. As brocas irão ser colocadas com precisão na posição correta e utilizadas devidamente, evi-tando danificar a rosca interna do implante. O kit contem duas brocas distintas para dois processos distintos: broca de garra para extração do parafuso e uma broca de corte inver-tido para desgastar o parafuso até desaparecer.

Uma vez removido o fragmento, o caso clínico foi fina-lizado com a cimentação da ponte pré existente com uma grande satisfação do paciente. A remoção do implante e a criação de uma nova prótese foi evitada. O médico dentista foi capaz de resolver este caso clínico complicado, poupando tempo e custos através do kit de extração de parafusos par-tidos da Rhein’83. �

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