cnj. fonte de efetividade à cf88

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Fabiana Augusta de Araújo Pereira Advogada, pós-graduanda em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários IBET; pós-graduanda em Direito Constitucional pela Universidade Anhaguera-Uniderp, bacharela em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, bacharela em Administração pela Universidade de Pernambuco. CNJ: FONTE DE EFETIVIDADE À CF/88 1. INTRODUÇÃO Calorosos e recentes debates acerca do jovem instituto constitucional, o Conselho Nacional de Justiça, tem ampliado à população o desejo de conhecimento do Poder Judiciário e seus órgãos. Desde 2011, com a propositura de uma ação pela Associação da Magistratura Brasileira AMB, na qual se atacava a competência e autonomia do CNJ para investigação e aplicação de pena independentemente de prévia análise pela corregedoria do Tribunal ao qual o magistrado estivesse submetido, toda a sociedade tem voltado a atenção para o discernimento das funções desse órgão - até então velado. Com efeito, a referida ação proposta pela AMB trouxe à baila a necessidade de revisitar os institutos basilares do CNJ, convidando-se o Supremo Tribunal Federal a analisar os termos da Resolução nº 135 do mesmo órgão, mormente ao que concerne à autonomia do órgão insculpida no art. 12 de tal Resolução. Acerca de tal dispositivo a Suprema Corte dividiu-se: os ministros Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Cezar Peluso e Celso de Mello foram a favor da limitação dos poderes do CNJ, propondo a invalidação do referido artigo. Já os Mins. Gilmar Mendes, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Rosa Maria Weber e José Antonio Dias Toffoli, votaram favoravelmente à autonomia do CNJ para investigação e punição independente da atuação da Corregedoria dos Tribunais de origem. A discussão denota insofismável importância, haja vista promover a retomada da análise acerca da constitucionalidade do CNJ, bem como o seu posicionamento em face do pacto federativo e da separação de poderes. 2. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

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Page 1: Cnj. fonte de efetividade à cf88

Fabiana Augusta de Araújo Pereira Advogada, pós-graduanda em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários – IBET; pós-graduanda em Direito Constitucional pela Universidade Anhaguera-Uniderp, bacharela em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, bacharela em Administração pela Universidade de Pernambuco.

CNJ: FONTE DE EFETIVIDADE À CF/88

1. INTRODUÇÃO

Calorosos e recentes debates acerca do jovem instituto constitucional, o

Conselho Nacional de Justiça, tem ampliado à população o desejo de conhecimento do

Poder Judiciário e seus órgãos.

Desde 2011, com a propositura de uma ação pela Associação da Magistratura

Brasileira – AMB, na qual se atacava a competência e autonomia do CNJ para

investigação e aplicação de pena independentemente de prévia análise pela corregedoria

do Tribunal ao qual o magistrado estivesse submetido, toda a sociedade tem voltado a

atenção para o discernimento das funções desse órgão - até então velado.

Com efeito, a referida ação proposta pela AMB trouxe à baila a necessidade de

revisitar os institutos basilares do CNJ, convidando-se o Supremo Tribunal Federal a

analisar os termos da Resolução nº 135 do mesmo órgão, mormente ao que

concerne à autonomia do órgão insculpida no art. 12 de tal Resolução.

Acerca de tal dispositivo a Suprema Corte dividiu-se: os ministros Marco

Aurélio Mello, Ricardo Lewandowski, Luiz Fux, Cezar Peluso e Celso de Mello foram

a favor da limitação dos poderes do CNJ, propondo a invalidação do referido artigo. Já

os Mins. Gilmar Mendes, Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Cármen Lúcia, Rosa Maria

Weber e José Antonio Dias Toffoli, votaram favoravelmente à autonomia do CNJ para

investigação e punição independente da atuação da Corregedoria dos Tribunais de

origem.

A discussão denota insofismável importância, haja vista promover a retomada da

análise acerca da constitucionalidade do CNJ, bem como o seu posicionamento em face

do pacto federativo e da separação de poderes.

2. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Page 2: Cnj. fonte de efetividade à cf88

Instituído através da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, o Conselho Nacional

de Justiça – CNJ - despontou com a função precípua de controle da atuação

administrativa e financeira do Poder Judiciário, visando à efetiva prestação

jurisdicional.

Em breves linhas, há que trazer à baila os termos do art. 103-B, §4º, o qual

elenca as atribuições que o CNJ desempenha: zelo da autonomia do Poder Judiciário,

bem como o cumprimento do Estatuto da Magistratura; observância do cumprimento do

disposto no art. 37, CFR/88, apreciando os atos administrativos do Poder Judiciário;

receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário,

podendo, ainda, avocar processos disciplinares em curso; representar ao Ministério

Público os casos de crime contra a Administração Pública e abuso de autoridade;

elaborar relatórios semestrais acerca dos processos e sentenças prolatadas; propor

providências necessárias ao Poder Judiciário.

2.1 CONSTITUCIONALIDADE: ENTRE O PACTO FEDERATIVO E A

SEPARAÇÃO DE PODERES

Logo em seguida à sua criação, a AMB propôs a ADI 3.367/DF, questionando a

constitucionalidade do CNJ, sustentando a violação ao princípio do pacto federativo e

da separação de poderes, notadamente no que tange aos arts. 2º e 18 da CF/88. Nada

obstante, o STF não deu guarida aos argumentos trazidos pela AMB, sendo julgada

improcedente a referida ADI.

Com efeito, contrapondo-se à tese levantada pela AMB de que o CNJ

configuraria um órgão de controle externo do Poder Judiciário – o que ofenderia a

separação de poderes e o pacto federativo -, entendeu-se pela clara intelecção do art. 92,

I-A da CF/88, o qual elenca os órgãos do Poder Judiciário, alocando o CNJ no mesmo

patamar dos demais órgãos (não havendo que se falar hierarquia superior).

Ademais, ficou assente que a presença de não magistrados no CNJ não é

elemento capaz de violar o princípio da separação de poderes, infringindo o art. 60, §4º,

III, CF/88. Ao contrário, a Suprema Corte compreendeu que a presença de não

magistrados é mínima (apenas 6 integrantes entre 15) e vantajosa, pois evita os efeitos

maléficos do corporativismo. Nessa trilha, insta ainda sopesar as palavras do Min.

Gilmar Mendes:

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O Tribunal afastou a tese de afronta ao princípio da separação de Poderes,

enfatizando que, tal como concebido, o Conselho Nacional de Justiça

configurará órgão administrativo interno do Poder Judiciário e não

instrumento de controle externo, e que, em sua maioria, os membros que o

compõem são integrantes do Poder Judiciário. Da mesma forma, não se

acolheu a impugnação quanto à afronta ao princípio federativo, tendo em

vista o perfil nacional do Poder Judiciário, fortemente enraizado na versão

original do texto constitucional de 1988. 1

Por fim, não há que olvidar o fato de que o CNJ não realiza função jurisdicional,

apenas administra a efetiva prestação jurisdicional. Neste mister, há, ainda a

possibilidade de revisão – relativamente à legalidade e razoabilidade - das decisões do

CNJ pelo STF. Nesse sentido, podem ser colacionadas os seguintes termos da ementa da

ADI 3.367/DF:

Ação direta. EC 45/2004. Poder Judiciário. CNJ. Instituição e disciplina.

Natureza meramente administrativa. Órgão interno de controle

administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura. Constitucionalidade

reconhecida. Separação e independência dos Poderes. História, significado e

alcance concreto do princípio. Ofensa a cláusula constitucional imutável

(cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio,

mediante preservação da função jurisdicional, típica do Judiciário, e das

condições materiais do seu exercício imparcial e independente. Precedentes e

Súmula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretação dos arts. 2º e 60, § 4º, III,

da CF. Ação julgada improcedente. Votos vencidos. São constitucionais as

normas que, introduzidas pela EC 45, de 8-12-2004, instituem e disciplinam

o CNJ, como órgão administrativo do Poder Judiciário nacional. Poder

Judiciário. Caráter nacional. Regime orgânico unitário. Controle

administrativo, financeiro e disciplinar. Órgão interno ou externo. Conselho

de Justiça. Criação por Estado-membro. Inadmissibilidade. Falta de

competência constitucional. Os Estados-membros carecem de competência

constitucional para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciário,

conselho destinado ao controle da atividade administrativa, financeira ou

disciplinar da respectiva Justiça. Poder Judiciário. CNJ. Órgão de natureza

exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade

administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa

apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do STF.

Preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, sobre o

Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdicional.

Inteligência dos arts. 102, caput, I, letra r, e 103-B, § 4º, da CF. O CNJ não

tem nenhuma competência sobre o STF e seus ministros, sendo esse o órgão

máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito.

(ADI 3.367, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 13-4-2005,

Plenário, DJ de 22-9-2006.)

Finalmente, há apenas que obtemperar a negativa do STF no sentido de conceder

ao poder derivado decorrente (poder dos Estados-membros de confeccionar suas

próprias constituições) a aptidão de instituir controle externo do Poder

1BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de

Direito Constitucional. SARAIVA: São Paulo. 6ª Ed. 2011.

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Judiciárioestadual. Tal entendimento ficou assente no leading case proposto na ADI

135/PB, o qual, por sua vez, deu ensejo ao enunciado nº 649 da Súmula do STF: “É

inconstitucional a criação, por constituição estadual, de órgão de controle

administrativo do Poder Judiciário do qual participem outros poderes ou entidades.”

3. CONCLUSÃO

A criação do CNJ veio dar o tom da reforma do Poder Judiciário promovida na

EC 45/2004: o referido órgão interno do Poder Judiciário nasceu do desejo de

administrar a efetividade da prestação jurisdicional.

Nesse sentido, a análise de seu campo de atribuições permite vislumbrar a

ausência de qualquer inconstitucionalidade em sua essência. Ao contrário, foi visando à

intelecção do âmago da CF/88 que despontou a necessidade de criação de órgão capaz e

controlar e uniformizar a atividade administrativa e financeira do Poder Judiciário.

Não cabe, portanto, falar em usurpação de competências jurisdicionais,

nem violação aos princípios do pacto federativo ou da separação de Poderes. O

CNJ não tem o condão de infringir qualquer norma da CF/88, o contrário, concede

efetividade ao seu texto.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRANCO, Paulo Gustavo Gonet; COELHO, Inocêncio Mártires; MENDES,

Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional.SARAIVA: São Paulo. 6ª Ed. 2011.

BULOS, UadiLammego. Curso de Direito Constitucional. São Paulo:

Saraiva. 6ª Ed. 2011

DALLARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juízes. São Paulo: Saraiva. 1996.

DINO, Flávio, MELO FILHO; Hugo, BARBOSA, Leonardo; DINO, Nicolao.

Reforma do Poder Judiciário: comentários à emenda n° 45/2004. Niterói: Impetus,

2005.