cocaína, prisão, educação

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ASSINE BATE-PAPO BUSCA E-MAIL SAC SHOPPING UOL São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011 Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros TENDÊNCIAS/DEBATES Cocaína, prisão, educação MARA GABRILLI Os desafios para combater o tráfico são imensos e exigem tanta coragem e esforço quanto para que avancemos em políticas educacionais Patricia e Funani são sul-africanas. Karima é marroquina; Rodora, filipina; Ligia, moçambicana; Ireri, mexicana; Hadja e Jéssica são francesas. Estão cumprindo pena em São Paulo por tráfico de drogas. Fui apresentada a elas pelo secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo, por meio de um projeto cultural da Funap (Fundação de Amparo ao Preso) nas penitenciárias. Falei de superação e cidadania para 120 presas enquanto a ocupação do Complexo do Alemão no Rio dominava as manchetes dos jornais. Essas estrangeiras refletiram sobre liberdade e sobre serem prisioneiras de suas escolhas de modo tão profundo que percebi uma enorme diferença de acesso à educação em relação às brasileiras. Não que ir à escola impeça as escolhas erradas, mas favorece, sim, a reinserção social. O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), a avaliação educacional mais relevante do mundo, procura medir também a capacidade dos estudantes de refletir, argumentar e comunicar. A mais recente, divulgada no início de dezembro, apontou uma melhora na educação brasileira, porém ainda ocupamos a 53ª posição em leitura e ciências e a 57ª em matemática, em ranking de 65 países. 30/1/2011 Folha de S.Paulo - Mara Gabrilli: Cocaí… …uol.com.br/fsp/…/fz3001201108.htm 1/2

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São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Cocaína, prisão, educação

MARA GABRILLI

Os desafios para combater o tráfico

são imensos e exigem tanta coragem

e esforço quanto para que

avancemos em políticas

educacionais

Patricia e Funani são sul-africanas. Karima é marroquina;Rodora, filipina; Ligia, moçambicana; Ireri, mexicana; Hadja eJéssica são francesas. Estão cumprindo pena em São Paulo portráfico de drogas. Fui apresentada a elas pelo secretário de Estado da Cultura,Andrea Matarazzo, por meio de um projeto cultural da Funap(Fundação de Amparo ao Preso) nas penitenciárias. Falei desuperação e cidadania para 120 presas enquanto a ocupação doComplexo do Alemão no Rio dominava as manchetes dosjornais. Essas estrangeiras refletiram sobre liberdade e sobre seremprisioneiras de suas escolhas de modo tão profundo que percebiuma enorme diferença de acesso à educação em relação àsbrasileiras. Não que ir à escola impeça as escolhas erradas, masfavorece, sim, a reinserção social. O Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), aavaliação educacional mais relevante do mundo, procura medirtambém a capacidade dos estudantes de refletir, argumentar ecomunicar. A mais recente, divulgada no início de dezembro,apontou uma melhora na educação brasileira, porém aindaocupamos a 53ª posição em leitura e ciências e a 57ª emmatemática, em ranking de 65 países.

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A leitura é a habilidade mais valorizada. Para ter a nota mais alta,o estudante deve combinar múltiplas e diferentes partes deinformações independentes, de contexto não familiar, em ordemprecisa. Só 1,4% dos alunos atingiram esse nível. E ali estava a francesa Hadja, presa em uma penitenciária noBrasil, que resumiu minha palestra para algumas sul-africanas quenão dominavam o português e que se queixaram de que haviamperdido muito do conteúdo. Compreendeu e sintetizou diante de todos uma explanação emuma língua que não é a sua e a traduziu para um terceiro idioma.A França ocupa a 22ª posição no Pisa. Pergunto-me o que leva pessoas talentosas como Hadja, quepodem ter outras oportunidades, a violar seus corpos,carregando cocaína dentro deles. Segundo a Polícia Federal,desde 2008 as prisões por tráfico de drogas no AeroportoInternacional de Cumbica aumentaram 253%. Em 2010, a ONUapontou o Brasil como o principal corredor de cocaína domundo. Em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, a violênciaimposta pelo narcotráfico faz com que as crianças moradoras dasfavelas tenham mais problemas de aprendizagem do que seuscolegas que não moram em áreas de risco. Mas são essas ascrianças que mais precisam das oportunidades da educação parasair da pobreza. Os desafios para combater o tráfico nas cidades e nas fronteirassão imensos. Exigem tanta coragem e esforço quanto paraavançar em políticas para uma educação universal e dequalidade. Ambos são complexos, multifacetados e vitais paramelhorar a qualidade de vida, especialmente dos mais excluídos. Por isso, aguardo com ansiedade conhecer as medidas que serãotomadas pelo novo governo, já que há muito a ser feito e ainvestir nessas áreas no Brasil.

MARA GABRILLI, psicóloga, publicitária, é vereadora de São Paulo peloPSDB e deputada federal eleita.

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