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Deve haver uma maneira de reconhecer a derrotasem sermos derrotadosO projeto negriano encontra “o pleno do ser comum” entre o vazio inicial e o nada final

TAGS: 189, antonio negri, Dossiê CULT, Espinosa, Giuseppe Cocco, Leopardi

Giuseppe Cocco

Cena do documentário Antonio Negri: A revolt that never ends

É sempre difícil escrever em pouco espaço sobre um autor tão complexo. Ainda mais quandose trata de um amigo e parceiro. Contudo, o que vivenciamos no Brasil desde junho de 2013torna essa tarefa mais desejável e até urgente. Não cabe aqui apresentar o conjunto dopensamento do Negri, desde sua participação na renovação heterodoxa do marxismo dadécada de 1960 até o período de seu diálogo com o pós-estruturalismo francês, passando pelaautonomia operária da década de 1970, a prisão, o exílio, e novamente a prisão. Mas podemostentar apresentar alguns pontos que nos parecem particularmente atuais na conjunturabrasileira dos desdobramentos do levante de junho de 2013, o que faremos em três momentos:(1) a persistência do perspectivismo revolucionário; (2) o método da tendência; (3) umaavaliação de algumas das teses de GlobAL, o livro que escrevemos juntos sobre o impacto daglobalização (da constituição imperial) na América Latina.

Perspectivismo revolucionário

Em seu primeiro livro dedicado à filosofia de Espinosa, A anomalia selvagem, encontramosuma afirmação que talvez resuma o projeto negriano: “Deve haver uma maneira de reconhecera derrota sem sermos derrotados”, ou seja, de “aceitar os limites da vontade sem negar a forçaprodutiva do intelecto”. No mesmo período em que o escreveu, e apoiando-se na poética deGiacomo Leopardi, também afirma que “nós viemos do nada e cairemos no vazio. Entre o vazioe o nada, se encontra o pleno do ser comum”. Negri o faz de dentro de uma prisão desegurança máxima: a derrota e o vazio não eram metáforas abstratas nem exercícios literários,mas a condição material na qual se encontrava (e por um longo período).

Trata-se de uma afirmação cheia de implicações. Por um lado, a persistência doperspectivismo da revolução não renuncia à crítica do socialismo real e de sua relação carnalcom o stalinismo. Na década de 1970, no período da militância na constelação de coletivos da“autonomia operária”, que chegará a seu auge com o formidável movimento de 1977, Negriradicaliza a crítica a toda forma de “autonomia do político”. Dentro da multiplicação difusa denovas formas de organização autônoma isso se concretizou na experimentação riquíssima denovas formas de horizontalidade. Depois da derrota e da prisão, esse mesmo esforçocontinuará com a escrita desse livro monumental que é Poder constituinte: a linha que ligaMaquiavel, Espinosa e Marx desenha uma metafísica “maldita”, aquela de uma modernidadealternativa à modernidade de Descartes, Hobbes e Hegel.

Do mesmo jeito que Mario Tronti e os operaístas diziam que todo desenvolvimento tinha como

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fonte a luta operária, Negri passa a dizer que a modernidade que interessa é aquelaconstituída pelos acontecimentos revolucionários. Por outro lado, a inflexão espinosista lhepermite afirmar que a revolução não é mais um fim, um projeto abstrato, mas uma “tarefaprática; não uma escolha, mas uma necessidade”. “Nós vivenciamos — diz Negri — a época darevolução que já aconteceu.” Isto é: “A revolução é o signo que torna ético o operar”. Serespinosista não é uma determinação, mas uma condição: não uma utopia, mas a prática da“desutopia”, a proposição realística do universo ético da revolução. Fica claro que na teorianegriana da revolução como poder constituinte não há nenhum voluntarismo e sequer o“otimismo” que alguma leitura preguiçosa e burocrática lhe atribui.

No auge dos movimentos operários da década de 1970, Negriradicalizou sua crítica a toda forma de "autonomia do político"

Tendência

O método marxista para Negri é, antes de mais nada, um método da tendência, ou seja, aprocura pela antecipação das metamorfoses em andamento dos processos constitutivos deuma nova ciência, exatamente nos termos de Thomas Kuhn, teórico dos paradigmascientíficos, que foi, nas suas próprias palavras, o “Che Guevara da Ciência. A reflexão filosóficaé sempre articulada como método histórico, busca pela causalidade e periodização, por meiode uma práxis militante que deve ser considerada como sujeito e como paradigma (ouepisteme, como diria Michel Foucault). Método e substância, forma e conteúdo funcionam emconjunto e juntos se transformam.

É com base nesse o método que o marxismo de Negri pôde se renovar como instrumentoadequado para a apreensão da transformação do paradigma industrial e sua passagem doregime de acumulação fordista para aquele pós-industrial: cognitivo, financeiro e organizadoem redes. O trabalho continua central, mas já é um trabalho totalmente outro: não mais otrabalho material organizado na separação — ditada pelo comando disciplinar do chão defábrica — entre a mente e a mão, entre concepção (intelectual) e execução (manual), mas otrabalho imaterial, qualificado por suas dimensões lingüísticas, relacionais e afetivas. Essetrabalho mobiliza o tempo de vida como um todo na esfera da circulação, que mistura aomesmo tempo produção e reprodução. Toda a vida (a vida no sentido amplo, a vida comopopulação) é investida pelo capital e a produção se torna biopolítica, uma bioprodução: o queé mobilizado é o tempo de vida da população como um todo, e o espaço dessa mobilização sãoas metrópoles, ou seja, as diferentes configurações locais e globais das redes (as finanças sãoinformação e poder, como a moeda é violência e relação).

Hoje, as novas fábricas são as universidades, os escritórios do setor terciário avançado, osmuseus, os shopping centers, os hospitais. As linhas de montagem são aquelas dos transportes(públicos e privados), as redes de logística e, obviamente, todo o sistema de comunicação, quehá mais de três décadas é marcado pela convergência digital (da telefonia, da TV e dacomputação). A produção acontece assim na circulação, entre as redes e as ruas. “A revoluçãojá aconteceu”, não há mais nenhuma transição, o socialismo acabou: o comum não é mais umfim, mas o ponto de partida sem o qual não há nem produção nem reprodução. Entre as redese as ruas, a valorização acontece nos clinamens, os desvios que atravessam a chuva dos átomosda filosofia de Epicuro: as singularidades cooperam entre si e produzem pelo e no amor dosencontros. A “chuva dos átomos singulares” só se faz como multidão no desvio, na relação, noencontro, como dizia Althusser. Curiosamente, no entanto, como já escreveu Negri numlivrinho militante de 1978 e o repetiu numa de suas cartas sobre “arte e multidão”, por trás decada átomo se encontra um policial. Não há, portanto, nenhum determinismo positivo napassagem.

O fazer-se da multidão implica a luta política, a renovação constante do processo constituinte,da relação democrática entre fonte e resultado. Dizer que a revolução já ocorreu significa dizerque, assim como a valorização do capital acontece entre as redes e as ruas da terceirização e daempregabilidade, as lutas também se organizam entre as redes e as ruas. É nas metrópoles quea multidão do trabalho luta: sobre o preço e a qualidade dos transportes, ao mesmo tempo emque clama por democracia, reunindo no processo constituinte as reivindicações dos professoresou aquelas dos metroviários, ou, ainda, organizando um novo tipo de greve selvagem que, comseus rolezinhos e rolés, conseguiu fechar vários shopping centers de São Paulo e do Rio deJaneiro, da mesma maneira que as greves articuladas fechavam as fábricas.

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A revolução não é mais um fim, um projeto abstrato, mas umanecessidade: "A revolução é o signo que torna ético o operar"

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Quando escrevemos GlobAL, um livro sobre a America Latina na era do Império e do biopoder,apreendemos as jovens experiências dos novos governos “progressistas” de uma maneira quefugia das críticas idealistas (esquerdistas), sem contudo cair na apologia do pragmatismooportunista (do próprio PT). O esquerdismo acusava o governo do PT (Lula) de terabandonado toda perspectiva de mudança da política econômica; o pragmatismo dentro dopartido e do governo transformava esse abandono em um empirismo oportunista, entre acontinuidade das políticas neoliberais e a procura por um novo desenvolvimentismo. Nósdizíamos que esse impasse tinha outro conteúdo, ou seja, novas relações de causalidade, e,nesse sentido, o neoliberalismo — por nefasto que fosse e seja — é mais uma consequência doque uma causa. Dizíamos que é a transformação material do capitalismo, em sua passagempara um regime de acumulação pós-industrial, cognitivo, imaterial, que sustenta as políticasneoliberais e não vice-versa.

Pensar que é possível mudar os rumos a partir do governo significa sobrevalorizar o papel dogoverno e do Estado e subavaliar o peso das dinâmicas materiais (estruturais) e, com isso, aslutas. O que se tratava de apreender não era a falta de vontade do PT e do governo Lula deaplicar um novo modelo, mas a ausência de um modelo alternativo para fazer desse vazio umpleno de inovação, ou seja, aprofundar a crise do neoliberalismo sem com isso voltar às ilusõesneo-desenvolvimentistas. Essa fraqueza, dizíamos, não dependia (apenas) dos compromissos eoportunismos que o PT tinha tido que aceitar ou promover, mas dos enigmas das lutas, dasmobilizações. Por isso, nem a esquerda “nominalmente” mais radical (como o PSOL) escapavado impasse. O que nos interessava nas políticas de distribuição de renda (pelo Bolsa Família),de democratização do acesso (ao crédito e ao ensino superior) e de combate ao racismo (ascotas raciais) não era a pureza de um novo projeto (e sua improvável “política de Estado”),mas o quanto elas eram atravessadas por processos de mobilização e de produção desubjetividade. O governo e o PT — por limites teóricos e sobretudo pela excessivaburocratização — acabaram enxergando apenas os efeitos eleitorais e economicamente mainstream (a emergência da chamada “nova classe média”) dessas transformações.

Assim, já antes de junho podíamos ver, na greve dos professores do Reuni em 2012, nas lutasdos índios contra Belo Monte, nas insurreições dos operários de Jirau, na resistência dosfavelados contra as remoções, a ocorrência de novos processos de subjetivação, uma novaprodução de subjetividade. Ao passo que a esquerda só a via como resultado dialético dodesenvolvimento do capital (oportunisticamente positivo para o PT e ideologicamente negativopara a esquerda de oposição), as mobilizações de junho de 2013 nos mostram a produção desubjetividade como processo constituinte, radicalmente autônomo, entre as redes e as ruas: oúnico terreno capaz de resolver o enigma do crescimento pela transmutação de todos osvalores. Hoje, o perspectivismo revolucionário é aquele da multidão do trabalho imaterial, quese apresenta como poder constituinte e produção de subjetividade, ou seja, de outros valores:no cerne desse novo horizonte de paz, a construção do direito dos pobres de participar dapolítica.

Giuseppe Coccoé Professor da Escola de Serviço Social da UFRJ. Escreveu, com Antonio Negri, GlobAL:Biopoder e lutas em uma América Latina globalizada (Record)

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