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  • 8/7/2019 Codato, Adriano. As velhas questes empresariado nacional, crise do Estado e (neo)liberalismo. Segundas Jornadas

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    Asociacin Uruguaya de Historia Econmica(AUDHE)

    Segundas Jornadas de Historia Econmica

    As velhas questes:

    empresariado nacional, crise do Estado e(neo)liberalismo

    Adriano Nervo Codato

    Montevideo,21 a 23 de julho de 1999

    Trabalho apresentado nas Segundas Jornadas de Historia Econmica, Asociacin Uruguaya de

    Historia Econmica (AUDHE), Montevideo, 21 a 23 de julho de 1999 (Simposio "Estado e

    empresariado na Amrica Latina").

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    As velhas questes: empresariado nacional, crise do Estado e

    (neo)liberalismo

    Adriano Nervo Codato

    Resumo

    Periodicamente, o empresariado nacional brasileiro se engaja numa campanha

    aberta de crtica ao Estado e de defesa do liberalismo econmico. O objetivo desta

    comunicao revisitar estas conjunturas a fim de compreender melhor seus

    pressupostos ideolgicos, motivaes polticas e bases organizacionais. Tomando

    como exemplo paradigmtico desse comportamento a "campanha contra a

    estatizao", conduzida por setores importantes da burguesia brasileira em

    meados dos anos setenta, procuro esclarecer sua ao conservadora e seu

    "liberalismo instrumental" encobertos por um discurso contestador da forma e

    funo do Estado ditatorial.

    I. Introduo

    Os problemas organizativos i.e., aqueles que dizem respeito configuraoparticular do sistema institucional dos aparelhos do Estado no so meramente

    tcnicos e, tampouco, comportam uma soluo simples. O Estado est vinculado

    diretamente a uma sociedade dividida em classes e fraes e , assim,

    atravessado por conflitos de alto a baixo; mais do que isso, ele a "cristalizao"

    das relaes de dominao de classe no nvel poltico. Isso faz com que qualquer

    problema organizativo torne-se, automaticamente, um problema poltico, j que as

    modificaes nos procedimentos organizacionais tradicionais (as diversas e

    peridicas "reformas" ou alteraes mais ou menos substanciais no design)

    significam, desde logo, uma alterao nos interesses consolidados nos aparelhos

    burocrticos do Estado. Como, num regime no-democrtico, a burguesia tem

    necessariamente de estabelecer seus interesses e expressar suas reivindicaes

    atravs de redes de presena especfica no seio do aparelho do Estado

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    II. As diferentes posies da literatura

    Diversos estudos procuraram definir as razes da dissenso burguesa. Ainda

    que toda classificao seja, forosamente, arbitrria e esquemtica, alm dequase nunca fazer justia riqueza e complexidade da argumentao

    desenvolvida pelos pesquisadores, talvez fosse til, para os fins da nossa

    exposio, separar os trabalhos que se ocuparam com maior ou menor

    profundidade deste assunto em algumas classes de respostas. Assim, pode-se

    dividir a natureza das explicaes para a origem de cada um do movimento anti-

    estatista em trs causas distintas: 1) causas econmicas; 2) causas polticas; 3)

    causas ideolgicas.

    preciso salientar que nem sempre esses fatores agem sozinhos ou esto

    assim expressos nas anlises por ns consideradas, ainda que estas possam ser

    includas tendencialmente numa ou noutra categoria. Para os fins deste paper,

    gostaria de ressaltar as posies mais expressivas da literatura sem, contudo,

    deter-me na crtica de cada uma delas, apresentando suas deficincias ou

    contradies. Alm desse esforo j ter sido realizado de forma eficiente (v. Cruz,

    s.d.: 140-194)3, meu objetivo aqui to-somente encontrar uma linha de

    interpretao mais produtiva e eficaz para compreender no a oposio burguesa

    em si mesma, mas os conflitos decorrentes do modo especfico de operao do

    sistema decisrio e, particularmente, do novo perfil transmitido a ele pelo

    Conselho de Desenvolvimento Econmico (CDE), principal criao do governo

    Geisel, que acabaram, ambos, determinando alteraes importantes no

    funcionamento burocrtico do Estado ditatorial durante o governo Figueiredo

    (1979-1985). Igualmente, embora existam diferenas importantes no

    comportamento poltico das diversas fraes dominantes reunidas no bloco nopoder (e, ademais, nos grupos politicamente ativos que se destacam dessas

    fraes) diante dos problemas principais da conjuntura a transformao do

    "modelo poltico" atravs do projeto de "distenso" controlada e a redefinio do

    3 Este texto apareceu posteriormente como Cruz, 1995.

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    "modelo econmico" com a assuno definitiva por parte das elites estatais do

    projeto de "Brasil-potncia" , s poderei tomar aqui, em funo do meu interesse

    especfico, a posio de conjuntoda grande burguesia brasileira diante da

    "tecnologia organizativa" do Estado ditatorial, dispensando-me portanto de

    analisar as plataformas polticas (mais avanadas ou mais conservadoras)

    presentes nos diversos grupos ideolgicos que tiveram uma presena destacada

    na cena poltica nesse perodo.

    Nessa primeira parte, resenho as interpretaes estabelecidas sobre o episdio

    em questo. A seguir, ofereo minha prpria descrio sobre a campanha contra o

    Estado. Por ltimo, procuro estabelecer, de forma muito sumria, minha prpria

    explicao.

    * * *

    A primeira manifestao burguesa de descontentamento diante do regime

    ditatorial brasileiro, aps o movimento fracassado da "Frente Ampla" em

    1967/1968, passou a se opor abertamente, atravs de seus representantes

    ideolgicos mais destacados o economista ultra-liberal Eugnio Gudin em

    primeiro plano expanso acelerada da "interveno" estatal na economia. A

    partir do incio de 1975, foram colocados em xeque tanto a ampliao das suas

    funes empresariais (o crescimento "desordenado" das empresas pblicas

    atravs da constituio de um sem-nmero de holdingse subsidirias), quanto o

    aumento da prpria atividade regulatria do Estado.

    A tabela abaixo torna mais concreta essa afirmao.

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    Tabela 1

    Participao pblica na economia brasileira

    (1939-1983)

    ano n. de empresasestatais (total)

    setor produtivoestatal

    1939 35 11

    1950 66 -

    1960 128 42

    1970 267 100

    1980 431 2031983 440 -

    Fonte: Diniz e Lima, 1986: 28

    Para tirar uma concluso simples, v-se que foi particularmente durante a

    ditadura militar que o Estado mais se expandiu.

    Mas para alm desses dados que, se pem em evidncia o crescimento

    quantitativo do setor produtivo estatal, tambm lembram a continuidade desse

    processo ao longo de quase quarenta anos , como entender as razes da

    exploso de descontentamento que ganhou intensidade e, principalmente,

    visibilidade poltica justamente entre os anos 1975/1976, mobilizando, ainda que

    de forma diferenciada, boa parte da grande burguesia brasileira? De modo geral,

    existem trs respostas bsicas para explicar os motivos que detonaram a

    campanha contra a estatizao. Vejamos cada uma delas separadamente.

    II.1 causas ideolgicas

    Os principais "economistas de oposio" Joo Manoel Cardoso de Mello,

    Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo e Luciano Coutinho situaram os fundamentos

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    do debate sobre a "hipottica" (Belluzzo, 1977) ampliao do processo de

    estatizao da economia brasileira em meados dos anos 70, expresso no aumento

    relativo da propriedade estatal sobre os meios de produo (expanso quantitativa

    das empresas do governo), bem como na ampliao do controle pblico sobre a

    poupana privada (atravs da assuno pelas instituies financeiras pblicas dos

    fundos PIS/PASEP), em grande parte devido a uma "iluso de ptica"

    entendida aqui como um (auto-)engano do conjunto da classe dominante em

    relao aos seus objetivos concretos e adversrios reais.

    De fato, sustenta Belluzzo, o Estado noampliou sua participao relativa na

    propriedade dos meios de produo aps 1964. As novas empresas pblicas que

    progressivamente surgiram no perodo, ou cumpriram uma funo suplementar em

    relao ao processo de acumulao privada de capital, ou "simplesmente

    assum[iram] diversas funes que eram preenchidas pela administrao

    centralizada ou autrquica, com o objetivo, pelo menos declarado, de agilizar a

    administrao [pblica]. Alm disso, o crescimento do nmero de empresas no

    significou um aumento da participao relativa do Estado na propriedade dos

    ativos. O indicador mais claro disso que o Estado manteve-se praticamente nos

    mesmos setores em que [j] vinha operando, com a grande exceo da

    petroqumica, onde detm apenas um tero da propriedade dos ativos. Em outraspalavras, o grosso das empresas pblicas criadas recentemente so apenas

    subsidirias, operando nos mesmos setores, na forma de unidades

    estaduais/regionais ou perfazendo operaes de apoio (acessrias atividade

    principal da empresa-holding), no sentido de garantir insumos, matrias-primas e

    servios, ou de alargar sua atividade na comercializao dos produtos. Apesar

    disso, a taxa de expanso dos setores dominados por empresas do Estado no foi

    superior taxa de crescimento dos setores dinmicos (especialmente de bens de

    consumo durvel) onde esto concentradas as subsidirias das empresas

    internacionais. Nem foi tampouco superior taxa de expanso de determinados

    setores fornecedores de partes e produtos intermedirios, ou de bens de capital

    por encomenda, onde muito expressiva a presena de empresas privadas

    nacionais. [...] Se o critrio tomar o conjunto das grandes empresas, a ttulo de

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    demonstrar o argumento [da estatizao da economia], verifica-se que as taxas de

    crescimento das grandes empresas pblicas no foram em mdia superiores s

    das grandes empresas privadas, nacionais ou estrangeiras. Onde, pois, a

    estatizao?" (Belluzzo, 1977: 26; grifos meus)4.

    Ora, alm de esquecer-se que, sob o capitalismo monopolista, o Estado deveria

    regular, no seu mbito, a luta entre as fraes do capital e que, alm disso, nas

    condies estruturais do "capitalismo tardio", essa funo estaria necessariamente

    acompanhada por uma presena importante do setor produtivo estatal no

    Departamento I, "pela profundidade do processo de internacionalizao do

    sistema produtivo e, conseqentemente, por uma fragilidade congnita do capital

    monopolista nacional", a burguesia brasileira deveria aprender tambm que a

    "estatizao" da economia ", na realidade, o epifenmeno das novas formas de

    regulao encarnadas no Estado e que seus limites esto dados pelas

    necessidades [objetivas] da reproduo conjunta do prprio capital monopolista"

    (Mello, 1977: 16). Assim, dessa iluso em relao ao seu prprio papel histrico e

    s funes especficas do Estado capitalista que, a partir de 1974, teve de

    assumir um lugar de destaque na nova estratgia de expanso econmica ,

    surgiu um amplo movimento oposicionista no seio do empresariado nacional. A

    face mais palpvel desse "conhecimento invertido" do funcionamento global dosistema capitalista estaria expresso, de forma paradigmtica, no divrcio

    promovido pela conscincia burguesa entre os interesses particulares dos

    capitalistas individuais e o interesse geral do capitalismo, sustentado e garantido

    pelo Estado, o qual deveria, enquanto "capitalista coletivo ideal", recriar

    indefinidamente as condies para o prosseguimento da acumulao.

    Na mesma linha de argumentao, Fernando Henrique Cardoso sublinhou que

    a principal motivao da campanha contra a "estatizao" seria resultante dos

    4 Por outro lado, " verdade que o Estado utilizou seu maior poder fiscal para a constituio doschamados fundos de poupana compulsria (PIS, PASEP, FGTS etc.). Realmente o Estadoacentuou seu papel de mobilizador e concentrador do excedente, mas agiu fundamentalmentecomo mero repassador de fundos ao setor privado", como alis exemplificam os casos do BNH edo BNDE. Houve, sim, "um aumento do grau de controle sobre o processo de financiamento daacumulao" do setor privado, mas no sobre os ativos (Belluzzo, 1977: 26 e 27; grifos meus).

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    obstculos criados pela nova estratgia econmica realizao dos interesses de

    curto prazo dos capitalistas individuais. Apesar do diagnstico (essencialmente

    correto) de que deveria ser preciso corrigir as distores do modelo de

    desenvolvimento, o empresrio particular, submetido constantemente lgica da

    concorrncia, no perceberia a "inteligncia global" da economia. Ele deseja,

    simplesmente, atuar onde o retorno do seu investimento mais alto e mais rpido.

    Isso "ajuda a compreender por que, apesar das polticas governamentais

    orientarem-se a reforar o capitalismo, [...] os capitalistas, especialmente os que

    tm suas empresas situadas em So Paulo, a elas se opem" (Cardoso, 1976:

    21)5. Assim, segundo Luciano Coutinho, "por mais remota que fosse a

    possibilidade de que, neste novo esquema, as empresas estatais assumissem o

    papel de plo articulador de um tipo de crescimento autnomo, a mera ventilaode sua potencialidade foi suficiente para deflagrar uma devastadora campanha

    'antiestatizao' em 1975/76" (Coutinho, 1977: 32-33; v. tambm Cardoso, 1976:

    18).

    Contudo, para alm dessas consideraes de ordem, digamos, meramente

    "terica", havia uma base real em que se apoiava esse qiproqu ideolgico e que

    impulsionava para frente a oposio necessariamente falseada entre "privatismo"

    e "estatismo", constituindo o fundamento concreto dos protestos do empresariadonacional em meados dos anos 70: o novo comportamento assumido pela empresa

    pblica, plasmado no modelo privado do desempenho, da eficincia e da

    rentabilidade empresarial. Logo, o mvel real da campanha antiestatista situar-se-

    ia, na verdade, conforme resumiu Belluzzo, no fato de que "as grandes empresas

    estatais", tais como a PETROBRAS ou a Vale do Rio Doce, por exemplo,

    passaram progressivamente aps 1964 "a operar como corporaes privadas,

    procurando aumentar sua capacidade de autofinanciamento e diversificando seus

    investimentos. [...] Dessa forma, a grande empresa pblica no tem

    comportamento distinto da grande empresa privada e, portanto, ao invs de

    revelar estatizao, este processo bem o de 'privatizao'". Da que seja

    5 Para a mesma interpretao do processo poltico, v. Mathias, 1977: 52-53.

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    fundamentalmente em funo desse "comportamento 'privado' da empresa pblica

    que se originam os atritos na disputa por novas reas de inverso" (Belluzzo,

    1977: 27)6.

    II.2 causas econmicas

    Mas essa interpretao, se possui a grande vantagem de desfazer alguns

    equvocos persistentes acerca dos papis e funes do Estado capitalista na

    periferia do sistema, no permite apreender a dimenso propriamente polticado

    movimento oposicionista. Considerando-se a notvel persistncia e continuidade

    da "interveno" do Estado na economia brasileira, por que surgiu, em meados

    dos anos 70, um movimento com tais caractersticas? Quais as suas motivaesde fundo e seus objetivos concretos? Como ele foi conduzido? A abordagem

    proposta por Sebastio C. Velasco e Cruz , neste sentido, bem mais produtiva

    para responder essas questes, pois prope-se a ver na "operao poltico-

    ideolgica" que constituiu, no Brasil, a campanha contra a estatizao, uma ao

    polticaespecfica. Trata-se ento de apreender a crtica antiestatista no no nvel

    do seu "discurso" ideolgico, das suas representaes falsificadas do movimento

    geral da economia, mas essencialmente no campo das prticas de classe7. Assim,

    dispensando-se de julgar a validade inerente do discurso empresarial, deve-se,

    segundo este ltimo, perguntar: qual o fundamentodessas prticas? Para o autor,

    a origem da campanha contra a ampliao das funes empresariais do Estado

    no pode ser reduzida to-somente a uma mera ideologia que disfarava

    6 Claro est que este comportamento possua conseqncias econmicas importantes. "Aoformular seus programas de expanso, as empresas pblicas procuram tomar em conta,

    naturalmente, seus objetivos privados. Assim, por exemplo, na encomenda de equipamentos noh qualquer preocupao em privilegiar a compra no mercado interno, visando incentivar odesenvolvimento de empresas do setor de bens de capital ou poupar divisas frente gravesituao do balano de pagamentos. O que interessa a minimizao dos riscos, o custo doequipamento, sua qualidade tecnolgica e o prazo de entrega que deve estar ajustado a seucronograma de inverso. Esta a origem de freqentes desentendimentos com os produtoresnacionais que tm seus interesses muitas vezes desconsiderados sombra destes critrios"(Belluzzo, 1977: 27).7 Para uma fundamentao mais detalhada dessa opo, cf. Cruz, 1984: 8 e 70.

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    interesses de curto prazo, mas tem, essencialmente, uma base econmica. Seno

    vejamos.

    Na medida em que o ambicioso programa econmico do governo Geisel,

    impulsionado decisivamente pelo II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND),

    pretendia "alterar algumas das articulaes bsicas da economia brasileira,

    mediante o fomento da indstria de bens de produo e o fortalecimento do capital

    nacional, que gostaria de ver guindado a uma posio hegemnica" no interior do

    bloco das classes dominantes, ele teve de recorrer expanso do setor pblico a

    fim de dinamizar seu projeto, conferindo s empresas do Estado um papel

    destacado no processo de acumulao capitalista. Com isso, deveria surgir,

    necessariamente, uma srie de conflitos entre "privatistas" e "estatistas". Contudo,

    adverte Cruz, "esse [era] apenas um dos aspectos da estratgia" do governo e

    essas disputas, em particular, foram conseqncia quase lgica do novo papel de

    liderana desempenhado pela empresa pblica (cf. Cruz, s.d.: 167). Alm disso, o

    fundamental que "subjacente s opes do II PND estava ainda a inteno de

    modificar mais ou menos profundamente as relaes de fora que at ento

    [haviam predominado] entre as diferentes fraes do capital privado, em duas

    direes ao menos: na interao entre capital financeiro e capital produtivo, de um

    lado, e, de outro, na posio relativa dos diversos segmentos do capital industrial"(Cruz, s.d.: 167).

    Carlos Estevam Martins ressaltou, igualmente, que a redefinio das tarefas

    concretas que orientaram a acumulao capitalista no Brasil, ao determinarem,

    objetivamente, o fortalecimento do Departamento I atravs de pesadas inverses

    estatais no setor de infra-estrutura, deveria implicar uma alterao importante na

    forma do "modelo poltico"; a concentrao do poder decisrio nas mos da

    burocracia pblica transformou-se assim em "condio propiciatria" para amudana da correlao de foras no interior do bloco no poder, promovendo a

    desintegrao progressiva da coalizo "internacional-modernizadora" que se

    instalou no governo em 1964, varrendo a "coalizo nacional-populista", e erigindo

    uma outra em seu lugar, formada basicamente pelo "capital estatal" e pelos

    grupos privados nacionais. Assim, "o bloco no poder o epicentro da crise [poltica

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    que se abre em 1974] e esta decorre de certas mudanas experimentadas pela

    correlao estabelecida, em 1964, entre as foras dominantes no plano

    econmico e dirigentes no plano poltico" (Martins, 1977: 183 e 264 e segs.).

    Numa vertente bastante aproximada, Guillermo O'Donnell salientou tambm que

    as dificuldades do modelo poltico "autoritrio" surgiram exatamente quando ele se

    viu frente necessidade de incorporar a "burguesia nacional" aliana que

    sustentava o "Estado burocrtico-autoritrio" (cf. ODonnell, 1987 (1975): 44 e

    segs).

    Dessa forma, a centralizao administrativa, representada em primeiro plano

    pela criao do CDE e da Secretaria de Planejamento da Presidncia da

    Repblica (SEPLAN), aliada concentrao dos recursos de poupana forada no

    Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (BNDE), definida pela Lei

    Complementar 19 (em 25/04/1974), permitiu que o Estado dispusesse mais

    livremente do fundo pblico na direo imaginada pela nova estratgia de

    desenvolvimento, marginalizando, com isso, os interesses at ento prevalecentes

    da frao bancria em nome dos interesses do capital industrial de base local.

    Esse foi, sem dvida, segundo Sebastio Cruz, um dos pontos mais importantes

    de conflito poltico no perodo. Alm disso, preciso notar, a poltica proposta pelo

    governo Geisel "no se dirigia igualmente a todos os ramos da indstria, nem atodos os grupos que, em cada um desses ramos desenvolviam atividades"

    produtivas. Como a consolidao da indstria de base (bens de capital e insumos

    bsicos) era "a meta prioritria" do Plano e "para ela todas as facilidades"

    deveriam ser "reservadas", "o Estado, na prtica, transferi[u] recursos para os

    capitais investidos nessa esfera", atuando, assim, de forma claramente

    "discriminatria" em relao s demais fraes do bloco no poder. Logo, a

    implementao dos diversos programas de investimento que concretizariam essa

    poltica industrial exerceria um poderoso efeito de polarizao, aglutinando todas

    as demais fraes no contempladas pela nova estratgia de crescimento setor

    financeiro privado, em primeiro lugar, indstria de bens durveis, em seguida, que,

    preciso lembrar, havia liderado o ciclo expansivo anterior na campanha contra

    a "estatizao" (Cruz, s.d.: 173-174 e 178). Segundo o autor, o efeito diferencial

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    da ao do Estado sobre as diversas fraes do capital determinaria assim, por

    parte dos setores mais prejudicados, uma oposio consistente que s tenderia a

    desaparecer quando o II PND fosse definitivamente abandonado, em fins de 1976.

    Logo, a campanha em questo no alcanou um apoio uniforme no seio do

    empresariado. Setores importantes do patronato mantiveram-se margem do

    movimento antiestatista ou, mesmo, chegaram a se pronunciar abertamente

    contra seus "excessos". Esse foi o caso tpico do setor de bens de capital. A

    Associao Brasileira para o Desenvolvimento das Indstrias de Base (ABDIB),

    por exemplo, ao invs de abraar uma retrica liberal, reclamava do governo uma

    poltica industrial mais consistente e integrada e um programa de encomendas de

    mquinas e equipamentos mais definido8.

    II.3 causas polticas

    Decidido a "observar com certa ateno aquelas manifestaes polticas dos

    anos 70", Carlos Lessa viu, por sua vez, "na revivescncia ideolgica" do

    liberalismo "clssico" por amplas parcelas do empresariado nacional que

    passaram a advogar uma sorte de "Estado mnimo" sem qualquer presena

    efetiva na economia, uma espcie de "linguagem codificada que mane[jou]prudentemente pois a campanha [contra e estatizao] se desenvolveu em um

    restrito espao poltico, vigiado e cerceado pelo autoritarismo a argumentao

    do liberalismo econmico como vetor de explicitao de reivindicao das outras

    liberdades", no caso especfico, das liberdades polticas (pluralismo, democracia,

    participao etc.) (Lessa, Gazeta Mercantil, 29/04/1980, p. 32)9. Portanto, a

    origem do descontentamento da grande burguesia brasileira com o regime

    ditatorial seria, para este ltimo, muito mais polticaque propriamente econmica,

    como procurou demonstrar Sebastio Cruz, ou mesmo ideolgica. o que a

    passagem reproduzida a seguir ressalta: "Antes que fosse consensual e auto-

    8 Sobre esse ponto e sobre as diferentes posies das diversas fraes da classe dominante nacampanha antiestatista, v. Cruz, 1984: 79-108. A posio da ABDIB foi discutida detalhadamenteem Cruz, s.d.: 195-294.9 Para a mesma viso, cf. Cardoso, 1983: 14-15.

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    evidente o descenso cclico [da economia brasileira em fins dos anos 70], tanto o

    empresariado, com sua campanha antiestatizante, quanto o eleitorado urbano,

    com seu voto oposicionista, j estavam, por esses canais, expressando sua

    desconformidade [com o formato do Estado brasileiro]. Nos idos de 1974/1975,

    no havia a percepo ntida da crise econmica e da impossibilidade de

    sustentar o milagre salvo para uns tantos especialistas , e, respeitando a

    cronologia, no se poderia estabelecer a precedncia do econmico sobre o

    poltico [...]. primeira vista, aqui estaria um paradoxo para os que apreciam as

    associaes mecnicas. Aps o 'milagre' [econmico], o regime autoritrio

    administrou bem a crise [...]. Entretanto, enfrenta uma crescente oposio

    empresarial, inequivocamente a principal beneficiria desta administrao.

    campanha antiestatizante sucedem-se manifestaes multiformes que sinalizamclaramente a exigncia, pelo segmento beneficiado, de um reajuste institucional

    das regras polticas" (Lessa, Gazeta Mercantil, 29/04/1980, p. 32).

    Qual o fundamento da resposta particularmente violenta do principal

    beneficirio objetivo do "modelo econmico" seno um desgosto profundo com as

    regras bastante rgidas impostas pelo "modelo poltico"? Ademais, "para

    amplssimos segmentos empresariais, o qinqnio [1974-1979] foi francamente

    favorvel. No somente se expandiram seus lucros operacionais, como elespuderam, no circuito financeiro, obter crescentes receitas no-operacionais"

    (Lessa, Gazeta Mercantil, 29/04/1980, p. 32). Assim, contrariamente ao que

    sustentou, entre outros, Joo Quartim de Moraes, para quem a "contestao do

    papel do Estado na economia ligou-se ao desencantamento suscitado pelo fim do

    'milagre econmico brasileiro' que se manifestou bruscamente em 1974" (Moraes,

    1982: 831-832), a oposio burguesa s poderia ter uma raiz poltica que, por

    prudncia e na falta de canais mais apropriados, teria de ser encoberta pela

    retrica do liberalismo econmico.

    A assim chamada "Carta do Rio de Janeiro", aprovada pela IV Conferncia

    Nacional das Classes Produtoras (CONCLAP) em fins de 1977, uma boa

    evidncia desse tipo de raciocnio, pois sublinhava, de acordo com Carlos Lessa,

    trs atributos indispensveis para concretizar, entre ns, a "economia de mercado"

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    atravs de um regime democrtico, selando portanto, na conscincia empresarial,

    uma aliana tcita entre a liberdade econmica e a liberdade poltica. Os objetivos

    fundamentais da luta das "classes produtoras" deveriam ser: a) a associao entre

    economia descentralizada e o pluralismo poltico (e "aqui aparece o j comentado

    cdigo como um denominador comum"); b) a promoo do bem-estar social como

    resultado da melhoria na distribuio da renda e da diminuio da pobreza

    absoluta; e c) a necessidade de uma menor dependncia das empresas privadas

    em relao ao Estado a partir do aumento da sua eficincia produtiva (Lessa,

    Gazeta Mercantil, 29/04/1980, p. 32)10.

    Ora, na medida em que a resposta governamental oposio burguesa

    restringia-se a adotar, a partir de 1975 notadamente, medidas tpicas para conter

    a autonomia operacional das empresas do Estado11, o empresariado aprofundava

    sua distncia em relao ao regime ditatorial. que nesse "dilogo de surdos", o

    "cdigo empresarial" por mais democraciae no exatamente por menos Estado

    "no era decifrado pelo Planalto e vice-versa". Mesmo entre o setor de bens de

    capital, "criatura favorita do II PND", alguns dos "principais fabricantes de

    equipamentos est[iveram] alinhados na vanguarda da campanha contra a

    estatizao". Logo, o erro fundamental do governo foi ter estabelecido um objetivo

    para o Pas o Brasil-potncia "sem consultar os interesses de suas basessociais de sustentao" e apoio. O Estado "autoritrio", adverte Lessa, "em uma

    hipostasia de voluntarismo, levou ao extremo um pressuposto de oniscincia do

    10 Em apoio tese de Lessa, Victrio B. Cabral, presidente da Associao Brasileira das Empresasde Capital Aberto (ABRASCA), enfatizou que o "Brasil sempre postulou uma economia de livremercado, e a uma economia aberta, por definio, dever corresponder um sistema politicamenteaberto, pluralista e descentralizado" (O Estado de S. Paulo, 10/11/1978, p. 27).11 Atendendo parcialmente a essas presses, o governo props, no mbito do CDE, o seguinte

    elenco de medidas: 1) vedar o acesso de determinadas empresas estatais obteno de aumentode capital mediante subscrio em dinheiro no mercado acionrio; 2) reduzir a correo monetriacobrada sobre os emprstimos do BNDE; 3) estabelecer a obrigatoriedade do recolhimento do IRpelas empresas governamentais; 4) proibir as empresas estatais utilizarem incentivos fiscais; 5)diminuir o volume total de recursos investidos nas empresas estatais; e, por ltimo, 6) o CDEaprovou resoluo que impunha rigorosas limitaes e submetia aprovao direta do Presidenteda Repblica as iniciativas para a criao de novas empresas estatais atravs de subsidirias deempresas j existentes, para a assuno do controle acionrio de empresas privadas ou para aexecuo de projetos por empresas governamentais fora de sua rea normal de atuao. V. OEstado de S. Paulo, 19/06/1975, p. 35.

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    Poder Executivo: saber mais do que a Nao o que bom para ela" (Lessa,

    Gazeta Mercantil, 29/04/1980, p. 33)12. Desse desencontro poltico, surgiu a

    oposio empresarial.

    Outra fonte sustenta-se, ainda que apoiada em argumentos distintos, na mesma

    vertente interpretativa. O fundamento da campanha antiestatista seria, para Eli

    Diniz e Renato Boschi, eminentemente poltico: "num debate aparentemente

    marcado por consideraes de ordem econmica, transparece, em seus

    fundamentos, uma demanda de carter essencialmente poltico" (Diniz e Boschi,

    1978: 191). Por qu? Para os autores e para Olavo Brasil de Lima Jr., essencial

    frisar, juntamente com Lessa, que "embora as motivaes econmicas tenham

    tido um peso importante, no nos parece apropriado atribuir campanha

    antiestatizante exclusivamente aos efeitos da crise econmica. Na verdade, ela

    comeou antes que tais efeitos se tornassem plenamente visveis, quando as

    elites econmicas e as autoridades governamentais ainda estavam influenciadas

    pelo clima de otimismo gerado pela era do milagre" (Diniz e Lima Jr., 1986: 61).

    Na verdade, as crticas ao crescimento "excessivo" e incontrolvel das firmas

    estatais e os protestos diante da ampliao e aprofundamento dos controles

    burocrticos (e, notadamente, financeiros) do Estado sobre a economia, "tiveram

    uma dimenso poltica bastante significativa. Alm disso, a partir de certo

    momento, as demandas polticas tornaram-se prioritrias" (Diniz e Lima Jr., 1986:

    75; grifos meus). Como isso ocorreu?

    Diferentemente de Lessa, no foi uma inclinao sbita pelo liberalismo poltico,

    mas a sensao de marginalizao crescente por parte do conjunto do

    empresariado nacional dos centros decisrios mais importantes, imposto a partir

    de 1974 com o esvaziamento dos procedimentos usuais de articulao de

    interesses e a concentrao de poder nos escales mais altos do sistema estatal, que teria, de fato, desencadeado demandas crescentes por uma maior

    12 "Creio [portanto] no exagerar ao atribuir taxativa voluntarstica de superimpor uma estratgiaque no articulava os interesses de maior peso na economia brasileira e ao estilo autoritrio quepresidiu suas medidas de implementao, um efeito catalisador ao nvel da conscincia doempresariado" (Carlos Lessa, Gazeta Mercantil, 29/04/1980, pp. 33 e 34, respectivamente). Parauma repetio pouco inspirada das mesmas teses e concluses, v. Malan, 1981.

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    participao na definio dos contedos da poltica econmica a campanha

    contra a estatizao seria, portanto, uma conseqncia mais ou menos lgica

    desse desejo explcito de disciplinar, in loco, a interveno indevida do Estado no

    mercado atravs da reedificao de mecanismos corporativistas que revertessem

    o carter "burocrtico", "fechado", "elitista" e "excludente" do processo decisrio.

    Assim, segundo Diniz e Boschi, deveria haver uma "correspondncia" significativa

    "entre as demandas polticas por maior participao e as crticas ao processo de

    estatizao, j que [era] precisamente no sentido de manter o Estado dentro [de

    certos] limites" bem especficos, em reas que no impli[cassem] qualquer tipo de

    competio com a empresa privada, "que se torna[va] crucial o controle poltico

    dos rumos de sua interveno na economia" (Diniz e Boschi, 1978: 191)13. Como

    enfatizou um protagonista do movimento, "Atualmente [isto , 1974/1975], asorganizaes de classe agem de forma limitada, sem influir na fase decisria [dos

    conselhos econmicos]. So ouvidas em carter gracioso por um ato de

    condescendncia por parte do governo, e no por direito e obrigao". Portanto,

    "restaurar a participao nos conselhos uma necessidade. uma forma de

    evitar a estatizao, dada a possibilidade do empresariado dialogar com o governo

    oficialmente e apresentar sugestes que influiriam nas decises" (Entrevista com

    empresrio realizada em 02/12/1975; apudBoschi, 1979: 159)14.

    Logo, pode-se dizer que o sentido ltimo dessa motivao antiestatizante dizia

    mais respeito natureza "autoritria" do regime poltico, reforado pela reforma

    administrativa de 1974, do que ao novo papel auto-concedido do Estado na

    economia. Embora este ltimo tivesse tornado-se, atravs de suas empresas, um

    problema crucial para as firmas privadas, no rivalizava em importncia com a

    perda de acesso privilegiado ao topo do aparelho do Estado ditatorial.

    13 Para a mesma posio, v. Boschi, 1979: 159-160: o ressentimento dos empresrios da suaexcluso do processo decisrio " talvez o fato bsico subjacente campanha contra aestatizao" (Boschi, 1979: 226). Cf. tambm Pessanha, 1981: 154-155.14 Tambm de acordo com Luciano Martins, os empresrios que protestavam contra a estatizaoestavam na verdade reclamando da perda de acesso (a partir do governo Geisel) s instnciasmais altas do processo de tomada de deciso, ou seja, do bloqueio dos canais de representaode seus interesses.Cf. Martins, 1978: 31.

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    Essa a hiptese que nos parece mais produtiva para explicar a repentina

    converso do grande empresariado brasileiro ao liberalismo poltica e econmico e

    sua contestao aberta ao "modelo poltico". Foi exatamente isso que procuramos

    demonstrar em trabalho anterior (cf. Codato, 1997: 229 e segs.).

    Antes de avanarmos, faamos, porm, um resumo das posies da literatura

    at aqui.

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    Quadro 1

    Principais explicaes sobre as causas da ecloso da campanha contra a

    estatizao da economia brasileira em meados dos anos setenta

    causas ideolgicas causas econmicas causas polticas

    o descontentamento doempresariado brasileiro

    deve-se a umconhecimento falseadodos papis e funes do

    Estado no capitalismomonopolista

    o projeto econmico dogoverno Geisel

    pretendia alterar asrelaes seja entre o

    "setor pblico" e o

    "setor privado", seja asposies relativas dosdiversos segmentos do

    capital privado

    o liberalismo econmicoadvogado na campanhacontra a estatizao foi a

    senha para a reivindicaoprincipal: o liberalismo

    poltico

    - Fernando HenriqueCardoso, 1976

    - Joo Manoel Cardosode Mello, 1977

    - Luiz Gonzaga de MelloBelluzzo, 1977

    - Luciano Coutinho,1977

    - Gilberto Mathias, 1977

    - Sebastio Cruz,1984

    - Sebastio Cruz, s.d.(1995)

    - Carlos EstevamMartins, 1977

    - Guillermo O'Donnell,1987 (1975)

    - Carlos Lessa, 1980

    - Fernando HenriqueCardoso, 1983

    o fundamento real da

    campanha antiestatista seriaa marginalizao crescentedos crculos decisrios

    governamentais imposta aogrande empresariado

    - Eli Diniz e RenatoBoschi, 1978

    - Luciano Martins, 1978

    - Renato Boschi, 1979

    - Charles Pessanha, 1981

    - Eli Diniz e Olavo Brasilde Lima Jr., 1986

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    III. A campanha antiestatista

    Pode-se sem dvida situar o ponto de partida da campanha contra a

    estatizao a partir das crticas firmadas por Eugnio Gudin publicadas na

    imprensa conservadora em fins de 1974. No discurso que pronunciou ao receber o

    ttulo de "Homem de Viso" do ano e que ganharia notvel repercusso poltica

    , Gudin alertou os empresrios para o fato de que, embora vivssemos, "em

    princpio, em sistema capitalista, [...] o capitalismo brasileiro [era] mais controlado

    pelo Estado do que o de qualquer outro pas, com exceo dos comunistas.

    Setores industriais, como os de energia eltrica, siderurgia, petrleo, navegao,

    portos, estradas de ferro, telefones, petroqumica, lcalis e grande parte do

    minrio de ferro, que nos Estados Unidos esto nas mos das empresas privadas,

    foram no Brasil absorvidos pelo Estado. Bem assim, em grande parte, a rede

    bancria que controla o crdito para as empresas privadas" (Gudin, 1975: 9).

    Essa concepo acerca do "tamanho do Estado" e da natureza da sua

    "interveno" no "sistema econmico" estava fundada numa avaliao

    particularmente crtica do processo de expanso das suas atividades produtivas

    que ganharam notvel impulso com o Decreto-lei n 200/6715. Da que a

    liberalidade crescente do "setor pblico descentralizado" diante da "administrao

    direta", a adoo de uma lgica de operao estritamente mercantil e a

    constituio, no interior das empresas governamentais, de uma camada especial

    de funcionrios os "executivos do Estado" com baixa responsabilidade

    pblica e quase nenhum controle poltico, levaria uma parcela expressiva da

    grande burguesia brasileira a discutir e questionar os limites de ao do "Estado-

    empresrio", bem como o "capitalismo sui generis", na expresso de Gudin,

    implantado no Brasil aps 1964.

    Segundo algumas vises mais radicais, como a sustentada pela AssociaoComercial de So Paulo, vivia-se mesmo o risco iminente da "socializao" dos

    15 Conforme inmeros estudos estabeleceram, o Decreto em questo ao sublinhar o princpio dadescentralizao administrativa e conferir s empresas pblicas a personalidade jurdica de direitoprivado ("sociedades de economia mista") forneceu um impulso decisivo autonomizao doaparelho econmico produtivo do Estado. Cf., por exemplo, Warlich, 1980.

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    meios de produo: "Em fase histrica no curso da qual o Estado avana, cada

    vez mais, no setor privado, tornando-se empresrio em reas at agora ocupadas

    pelos particulares, impe-se o combate, a fim de se evitar a estatizao totale,

    com ela, a socializao. Esta viria por via de conseqncia, na esteira do

    crescimento do Estado, de sua participao no PIB, de sua extenso como

    empresrio. Se j temos o Estado banqueiro, o Estado industrial, o Estado

    agricultor, no ser difcil que o poder pblico acabe por absorver a totalidade dos

    setores econmicos, impondo o planejamentotambm total. Nesse dia estaramos

    introduzidos, por inteiro, no socialismo. No , evidentemente, o projeto do

    governo atual, como no foi o dos governos emanados da Revoluo de 31 de

    maro, at agora. Mas se no se mostrar aos detentores do poder que a economia

    se beneficia somente pelo revigoramento do setor privado, pela garantia daliberdade de iniciativa, pelo direito de empresa assegurado a todos, o Leviathan

    acaba adquirindo as dimenses de um dinossauro" (Editorial ("Apresentao") de

    Digesto Econmico, 1976; grifos meus).

    Como, segundo a conscincia empresarial, havamos chegado a um ponto to

    crtico, ameaando at mesmo a "economia de mercado"? Qual seria a base

    palpvel desse processo inelutvel de multiplicao incontrolvel das atividades

    do Estado?

    No era exatamente correto sustentar, advertia Gudin, que o Estado via-se

    "forado a intervir no sistema econmico", quando, na realidade, era o "inverso"

    que se verificava. "Via de regra, o Estado cria[va] condies em que a empresa

    privada no mais podia funcionar" (Gudin, 1978: 408). Por que isso ocorreu? "

    bastante generalizada e no sem fundamento a opinio de que as vicissitudes por

    que passam os empresrios que batem s portas do BNDE decorrem

    freqentemente da mentalidade estatizante, lucrativista e burocrtica dos altosfuncionrios geralmente designados por segundo escalo, que sofrem de uma

    viso por demais introvertida da finalidade da instituio a que lealmente servem

    [...] Tive ocasio de observar este fato [o domnio da burocracia] na administrao

    das estradas de ferro e servios de utilidade pblica em que os funcionrios das

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    empresas perdiam a noo de que sua finalidade precpua era 'servir o pblico',

    mais do que defender os lucros da empresa" (Gudin, 1978: 423)16.

    Mas ao lado desse ethos"privatista" dominante na burocracia pblica havia um

    problema bem mais grave e que constitua, por assim dizer, o "pano de fundo"

    desse comportamento: a centralizao do crdito pblico e o controle, pelo

    Estado, da quase totalidade dos investimentos produtivos a partir do

    fortalecimento do "sistema BNDE". Esse era "o fator capital da estatizao"

    (Gudin, 1978: 430)17.

    Jorge Gerdau Johanpeter (do Grupo Gerdau) resumiu bastante bem essa viso:

    "Existe um [...] fenmeno que tem caracterizado a orientao do planejamento

    econmico do Pas. a conduo de toda a poupana. A poupana brasileira,

    hoje, toda compulsria. [...] Dessa forma, extremamente difcil, uma vez que o

    Estado esteja com a poupana em suas mos, fazer fluir esses recursos para

    estimular, em grande parte, as atividades empresariais privadas". isso que

    caracteriza a estatizao de "uma economia como a nossa. [...] O governo tem

    que saber reequacionar esse esquema" (O Estado de S. Paulo, 04/04/1976, pp. 4-

    05).

    A "estatizao do crdito" era, contudo, apenas a face mais visvel de uma

    questo que, de fato, mobilizava um leque bastante heterogneo de lideranas

    empresariais. Celso Lafer, da FIESP, teve o mrito de expressar as motivaes

    reais desse descontentamento difuso com o novo desenho do sistema decisrio:

    "De que modo pergunto so alocados e controlados esses recursos, fruto de

    operaes de crdito do Estado? So decises que, basicamente, esto nas mos

    do Executivo, inclusive legalmente falando, porque so decises do Conselho

    Monetrio Nacional, so decises que esto nas mos do Banco Central e assim

    16 Embora o prprio Presidente Geisel tivesse bons propsitos e reafirmasse, claramente, "aorientao antiestatizante do [...] governo", enfrentava sensveis dificuldades para implementarseus objetivos. A principal delas resultava exatamente "do poder dissimulado do segundo escalo,espcie de eminncia parda, que trava quando no distorceo pensamento do governo. sabendodisso, isto , conhecendo esse poder, que o esquerdismo procura, em suas tticas sub-reptcias,alojar elementos seus no seio do segundo escalo" (Gudin, 1978: 427).17 Sobre a centralidade dessa questo, v. tambm O Estado de S. Paulo, 02/02/1975 e 21/05/1976.V., igualmente, Cruz, 1984, passim.

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    sucessivamente. So decises tomadas, portanto, dentro do Executivo. O restante

    da sociedade civil no tem condies de articular ou sequer de propor,

    eventualmente, um esquema de realocao desses recursos de maneira

    alternativa. No existem condies porque no h o canal de comunicao direto,

    inclusive. Assim, o processo decisrio est enfeixado nas mos do Estado. Nem

    sequer transita pelo Legislativo. [...] Se esse tipo de deciso [aplicao de

    recursos pblicos em reas privadas estratgicas] ou se algumas dessas

    decises, que no so decises-chave apenas para o Estado, mas para a

    sociedade civil tambm, estivessem institucionalmente sujeitas ao crivo de uma

    discusso mais ampla, em que outros critrios fossem levados em considerao,

    no digo na deciso, mas na preparao da deciso, talvez se pudesse conduzir

    um pouco dessa poupana compulsria de maneira um pouco diferente daquelaque est sendo conduzida" (O Estado de S. Paulo, 04/04/1976, 05; grifos meus).

    S assim seria possvel reverter o processo crescente de estatizao da

    economia.

    Assim, de uma perspectiva mais ampla, o argumento central da campanha

    antiestatista, sustentado por todos os seus representantes, pode ser assim

    resumido: a paralisia da empresa privada diante do "avano da estatizao da

    economia" decorreria, basicamente, da centralizao do crdito nos bancosoficiais (BNDE e Banco do Brasil, principalmente), mediante a transferncia

    foradados fundos sociais (PIS, PASEP, FGTS) para suas respectivas rbitas,

    aliado ao baixo grau de controle "social" sobre o processo de alocao desses

    recursos em funo de um sistema decisrio bastante autnomo, do monoplio de

    setores produtivos estratgicos pelo setor pblico e do enorme poder regulador do

    Estado em "matria econmica". A atrofia da "livre iniciativa" resultante desse

    conjunto de entraves geraria, por sua vez, uma srie de "espaos vazios" na

    cadeia produtiva que teriam ento de ser preenchidos pelo prprio Estado e suas

    empresas. De acordo com esse raciocnio circular, o "intervencionismo" estatal

    produziria sempre mais intervencionismo, culminando, enfim, no cancelamento da

    economia de mercado em nome do estabelecimento de um "capitalismo de

    Estado" no Brasil (Gudin, 1978: 436). Para romper esse crculo nada virtuoso,

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    seria necessrio uma modificao radical da "tecnologia organizativa" do Estado

    ditatorial, inclusive para aperfeioar o andamento do prprio processo de

    liberalizao. Portanto, no apenas a implementao de um programa amplo de

    privatizao, mas tambm a tessitura de um novo modelo poltico exigia a

    "institucionalizao do dilogo". Poltica e economia s poderiam reformar-se s

    custas da retomada de um padro de negociao corporativo. Seno vejamos.

    Na viso de Gudin, se o processo "abrangente de estatizao da economia

    nacional" merecia muito mais do que alguns reparos pontuais, a estratgia poltica

    traada pelo governo Geisel o aperfeioamento gradual e seguro de um

    "regime democrtico" plenamente adaptado, segundo o primeiro, s

    caractersticas do Pas e conforme o estgio alcanado tanto pelo seu

    desenvolvimento social como pelo desenvolvimento poltico correspondente a este

    ltimo exigiria, para ser executada, a efetiva ampliao dos contatos entre

    empresa privada e governo e uma verdadeira promoo da participao das elites

    "responsveis" no sistema poltico. "O que tem dificultado a execuo [dessa

    estratgia] o hermetismo [...] preciso abrir o dilogo" (Gudin, 1978: 7). Esse

    "dilogo", contudo, sendo de toda forma fundamental para o encaminhamento das

    questes polticas, adquiria em economia um carter estratgico.

    A desativao dos rgos colegiados que reuniam representantes corporativos

    dos diferentes ramos da "produo" e, por isso, a ausncia de canais de

    comunicao com o Executivo impediam, sistematicamente, a interveno dos

    "setores interessados" para corrigir essas distores no modelo econmico,

    agravando assim "o gigantismo das empresas do Estado" (Gudin). Conforme

    enfatizou Claudio Bardella, presidente da ABDIB, "praticamente no h, hoje,

    participao da iniciativa privado nos rgos do governo que tm poder decisrio.

    Nossa participao de bastidores, sem influncia direta em decises que nosafetam diretamente". A reformulao do Conselho de Desenvolvimento Industrial

    (CDI), por exemplo, "deixou no condicional a participao do setor privado em

    decises governamentais na rea industrial", praticamente impedindo qualquer

    ao empresarial mais eficaz junto ao processo deliberativo da agncia

    encarregada de administrar toda sorte de incentivos fiscais. Assim, "o governo

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    deve[ria] rever sua posio, permitindo maior representao empresarial em seus

    rgos de deciso. [...] No adianta o dilogo se, no momento final, a deciso

    cabe [exclusivamente] a rgos governamentais. Desta maneira, o empresrio

    marginalizado e o dilogo [torna-se] praticamente ineficaz, apesar de existir. [...]

    Ademais, "a experincia mostra que a participao empresarial em rgos

    governamentais importante e benfica para o Pas", como no caso da Carteira

    de Comrcio Exterior (CACEX) do Banco do Brasil (Jornal do Brasil, 31/05/1976,

    p. 15)18.

    No outro lado da cena poltica, a situao no era mais confortvel, uma vez

    que a luta burguesa contra a estatizao encontrava um srio limite de

    articulao/expanso no Parlamento. O MDB, que poderia fornecer uma base

    institucional para um programa de oposio mais amplo para o movimento,

    possua uma proposta econmica que ou diferia muito pouco da matriz

    "estatizante", ou mesmo, nesse particular, no encontrava muitos motivos para

    denunciar a poltica econmica oficial (cf. Kinzo, 1988, passim). Motta lembrou que

    "no incio de 1975, o Jornal do Brasilfez uma pesquisa de opinio entre os

    congressistas. Uma das perguntas era [justamente] sobre a participao do

    Estado na economia. Entre os parlamentares do MDB, 60% eram a favor do

    aumento da presena estatal na economia, enquanto 22% defendiam sua reduoe 18% a sua manuteno nos patamares ento vigentes" (Motta, 1996: 208, n.

    13). Tambm na ARENA era difcil repercutir as demandas por "menos Estado". O

    lder da maioria, Jos Bonifcio (ARENA-MG), afirmou, por exemplo, em meados

    de 1976, que "a ARENA vai defender a presena estatal em todos os setores

    fundamentais segurana nacional ou necessrios ao desenvolvimento do Pas

    [...] Sou pela estatizao no sentido de que o Estado no deve abrir mo de

    18 Essa era, com efeito, uma demanda constante. Manoel Gomes, secretrio-geral da AssociaoBrasileira das Indstrias de Fundio de Ferro e Ao, insistiu que "a posio hoje de simplesinformantes de rgos do governo no traz a agilizao necessria ao andamento da burocraciagovernamental. O empresrio deveria participar de rgos do governo ativamente [atravs deentidades como a ABDIB e o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), inclusive "com direito a voto"],emprestando sua experincia para a soluo de problemas do setor" siderrgico. "No nosso caso,deveramos participar do CONSIDER [Conselho de No-Ferrosos e de Siderurgia]" (Jornal doBrasil, 31/05/1976, p. 15).

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    nenhuma de suas organizaes em favor dos particulares" (apudLessa, Gazeta

    Mercantil, 29/04/1980, p. 33).

    Na medida em que o conjunto da burguesia nacional via-se marginalizado do

    processo de definio da poltica econmica, e o mecanismo informal de consulta

    (o "dilogo") no conduzia efetivamente a decises concretas, s a presena

    direta nos prprios aparelhos do Estado, imaginava-se, poderia deter o processo

    crescente de estatizao da economia. Logo, a participao "em rgos do

    governo, atravs do CDE, [principalmente], seria um dos fatores essenciais para [a

    adoo efetiva de] uma poltica de desestatizao da economia nacional" (Jornal

    do Brasil, 22/05/1976)19. Por isso, vrias propostas foram feitas por diferentes

    entidades de classe com o objetivo explcito de recriar, no interior do Estado

    ditatorial, conselhos consultivos que abrigassem alguma sorte de representao

    corporativa.

    Assim, no final de julho de 1975, O Estado de S. Paulodivulgou um documento

    da Associao Comercial de So Paulo, onde se esboava uma anlise genrica

    das causas do processo "estatizante" e conclua-se que a criao de um conselho

    especial, reunindo representantes do governo, da "iniciativa privada" e da

    Universidade, seria a melhor forma de estudar o problema e oferecer medidas

    objetivas para san-lo. A Federao das Indstrias do Rio de Janeiro (FIRJAN)

    tambm props que se abrisse s "classes empresariais" algum tipo de canal que

    contemplasse uma representao corporativa onde se pudesse discutir

    amplamente o tema da estatizao da economia e implementar polticas restritivas

    ou inibidoras nesse sentido. Sugeriu-se assim a criao de uma "Comisso

    Consultiva de Desenvolvimento Empresarial (CCDE)", encarregada explicitamente

    de desenvolver no s uma "doutrina", mas antes de tudo uma prtica que

    19 Mas essa presena corporativa no estaria restrita apenas ao Conselho de DesenvolvimentoEconmico. A Federao das Indstrias do Estado de So Paulo e a Associao Comercial do Riode Janeiro sugeriram Secretaria de Planejamento da Presidncia da Repblica, na mesmapoca, uma participao mais ampla nos outros conselhos econmicos (Conselho deDesenvolvimento Industrial, Conselho de Poltica Aduaneira, Conselho de Interministerial dePreos, Conselho de Monetrio Nacional etc.), "a fim de garantir um tratamento [mais] eqitativoentre empresas pblicas e privadas" (apudGuimares, 1977: 42-43).

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    limitasse a expanso estatal e zelasse pelo cumprimento das medidas tomadas

    nessa esfera20.

    Por tudo isso, preciso notar que a questo da democracia polticano se

    colocava nos mesmos termos que a soluo proposta para reaver a liberdade

    econmica usurpada pelo "regime autoritrio". Assim, deve-se separar nitidamente

    as manifestaes de descontentamento diante do formato institucional que o

    sistema decisrio assumiu a partir da reforma administrativa liderada pela

    instituio do Conselho de Desenvolvimento Econmico da oposio forma

    ditatorial do regime poltico; e, igualmente, resistir tentao de fundir o debate

    pela restaurao de canais privilegiados de acesso ao aparelho do Estado com a

    luta pelo aprofundamento da liberalizao poltica. Foi isso, de resto, o que o

    principal lder ideolgico da campanha antiestatizante sublinhou em seu manifesto

    liberal.

    Uma vez que se evoluiu, desde o governo Castello Branco, para "uma situao

    condizente com as circunstncias, a poca e as lies da experincia", seria agora

    "uma imprudncia cedermos tentao ideolgica [...] de um regime de plena

    democracia, sem os necessrios parapeitos de resguardo contra os abusos que

    poderiam destru-la" (Gudin, 1978: 6). Ao contrrio: "Havemos de caminhar, dentro

    da filosofia exposta pelo Presidente [Geisel], para um sistema que no se afaste

    dos princpios da Constituio de 1967 [...] Comeando por devolver ao Poder

    Judicirio as garantias de inteira independncia inerente sua funo em um Pas

    civilizado. Restabelecendo a vigncia dos direitos fundamentais, mas ao mesmo

    tempo formulando e promulgando leis eficazes de salvaguarda e remdios legais,

    prontos e seguros, indispensveis garantia da ordem e da segurana para o

    exerccio do governo" (Gudin, 1978: 7)21.

    20 Cf., respectivamente, O Estado de S. Paulo, 27/07/1975 e 25/05/1976; apudCruz, 1984: 41, 165e 173, respectivamente.21 Sintomtico do processo de dissociao poltica e ideolgica entre os temas da "estatizao" eda "democratizao" entre os empresrios a revista Digesto Econmico, publicada pelaAssociao Comercial de So Paulo. Mesmo uma rpida inspeo nos seus artigos permitedetectar que, se ela participou vivamente da crtica ao "Estado-empresrio", no publicou, noperodo, qualquer artigo em defesa das "liberdades democrticas". Como seus editores fizeramquesto de enfatizar: "o Digesto Econmicotem uma constante na sua orientao: defende a livre

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    Mas a oposio empresarial, foroso notar, embora no tocasse diretamente

    na questo do autoritarismo poltico, no deve ser compreendida apenas em

    funo de uma motivao economicista. A campanha contra a estatizao, vista

    como um movimento de classe, e no s como o subproduto ideolgico de um

    desconhecimento grosseiro dos papis do Estado capitalista dependente, surgiu,

    antes, como uma reao poltica transformao radical do processo decisrio

    efetivada pelo governo Geisel. Ademais, sua prpria existncia deveria debilitar as

    bases do regime, pois a mera manifestao pblica de um dissenso, que no

    podia ser simplesmente reprimido ou ignorado, contrastava com a pretenso do

    Estado ditatorial ser o nico e verdadeiro promotor do interesse nacional (cf. Cruz

    e Martins, 1983: 54).

    Ao lado das demandas de natureza essencialmente econmica ("crescimento

    da interveno do Estado", autonomia "excessiva" das empresas estatais, padres

    desiguais de concorrncia entre as firmas privadas e as empresas do governo

    etc.), o movimento antiestatizante teve, ao que tudo indica, "uma dimenso poltica

    bastante significativa". Mas, mais do que isso: "a partir de certo momento, as

    demandas polticas tornaram-se prioritrias". O processo de centralizao do

    poder nas cpulas do Executivo federal, o acrscimo da autonomia dos

    "tecnocratas" responsveis pela poltica econmica, juntamente com a"marginalizao do empresariado do processo decisrio", propiciado pelo

    "esvaziamento dos mecanismos de articulao poltica e [pelo] bloqueio das

    estruturas de mediao entre o Estado e a sociedade", levava adoo de uma

    srie de medidas que comprometiam a "livre iniciativa" e conduziam ao

    "desvirtuamento das funes do Estado" (Diniz e Lima Jr., 1986: 75 e 62,

    respectivamente)22. A percepo ento dominante "apontava o carter fechado do

    iniciativa; admite a tese da participao do Estado na economia, supletivamente, em setores queanimem o capital privado e sejam prioritrios; est ao lado da implantao das usinas nuclearespara gerao de energia [...]; proclama, intransigentemente, os direitos da pessoa, assentadossobre os fundamentos da doutrina crist; no faz concesses de nenhuma espcie ideologiacomunista, que considera uma peste, susceptvel de arrastar tragdia sem remdio o mundomoderno [...]" (Editorial ("Apresentao") de DigestoEconmico, 1977).22 Essa interpretao particular do processo poltico pode ser confirmada a partir dos resultados dapesquisa realizada por Eli Diniz e Renato Boschi entre 1975/1976 junto aos trinta empresrios maisrepresentativos da indstria brasileira. Cf. Diniz e Boschi, 1978: 185-193, especialmente.

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    sistema decisrio, sua burocratizao crescente e a marginalizao da empresa

    privada como os principais traos do sistema poltico consolidado no Pas pelos

    governos ps-64. Segundo a viso dessa elite, a concentrao de poderes nos

    altos escales burocrticos teria reduzido o espao para a atuao poltica da

    classe empresarial, privando-a dos meios para o exerccio da influncia sobre

    decises cruciais para o pleno desenvolvimento de suas atividades" (Diniz e Lima

    Jr., 1986: 93, n. 100)23.

    Assim, a poltica encontrava-se no ponto de partida e de chegada desse

    movimento. Em meados de 1977, esse fato havia-se tornado indisfarvel. "Em

    Manaus, na abertura do XII Congresso Nacional de Bancos, uma sintomtica

    simbiose entre a profisso de f democratizante do presidente da Federao

    Nacional de Bancos, Theophilo de Azeredo Santos, a extensa exegese do modelo

    institucional feita pelo Presidente Ernesto Geisel e a renovada aposta do Ministro

    Simonsen na iniciativa privada, indi[cou] aos banqueiros presentes que estavam

    findos os tempos em que a estatizao era assunto restrito apenas s fronteiras

    da economia. Melhor seria dizer, em vista do aprofundamento ao qual o tema foi

    submetido, que atualmente difcil falar em estatizao sem falar em poltica. Seja

    pela via da interao entre a livre iniciativa e a democracia, seja pelo vis mais

    simplista de repesar a participao do empresariado no processo de obteno doconsenso, pelo menos (e por enquanto) na rea especfica de seus negcios [...]"

    (Gazeta Mercantil, 03/08/1977, p. 6, grifos meus).

    IV. Uma explicao alternativa

    Toda "reforma administrativa" produz uma srie de efeitospolticosque

    ultrapassam a mera reorganizao dos organogramas de governo.

    Nesse sentido, a constituio de um dispositivo unificador da imensa

    aparelhagem institucional do Estado ditatorial o Conselho de Desenvolvimento

    Econmico tendeu a reforar o centralismo burocrticoe os mecanismos

    23 Uma verso atualizada dessas concluses pode ser encontrada em Diniz, 1994: 198-231.

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    internos de superviso e controle, especialmente mediante a multiplicao das

    relaes de autoridade a que foram submetidos os membros mais importantes da

    administrao pblica. Mas no s. Paralelamente, a "expulso" dos

    representantes de classe de cada centro decisrio importante e, nesse

    particular, so ilustrativas as alteraes na composio do CMN, do CDI, do CIP e

    do CONSIDER permitiu um acrscimo da autonomia relativa do Estado frente

    aos interesses especficos de cada setor, grupo ou frao dominante e uma maior

    liberdade de ao dos crculos dirigentes e, especificamente, da Presidncia da

    Repblica.

    Contudo, em funo da extraordinria rigidez do Estado ditatorial, da

    cristalizao de privilgios de todo tipo no seu seio e dos mltiplos "feudos"

    burocrticos criados a partir da autonomia financeira ou administrativa das

    agncias que compunham o sistema estatal, qualquer alterao nesse arranjo,

    mesmo a mais simples, deveria atingir diretamente o ncleo dessa complexa

    "engenharia institucional", pondo assim em risco um sistema particular de

    realizao de interesses e ao de classe (cf. Poulantzas, 1975: 109). Nesse

    contexto, minha tese que o estreitamento dos canais de influncia e presso

    burguesas sobre o processo decisrio promovido pelo governo Geisel est, entre

    outros fatores, na origem da "rebelio empresarial", representada, nessaconjuntura, pelas campanhas contra a "estatizao" da economia (1974/1976) e

    pela "(re)democratizao" do sistema poltico (1977/1978).

    Evidentemente, seria arriscado (e falso) retirar da o mvel exclusivo de todos

    os conflitos entre a burguesia e seu Estado nesse perodo. Alm disso, as duas

    "campanhas" no so, certamente, como alguns estudos estabeleceram,

    acontecimentos nem contnuos, nem idnticos entre si. Mas, na srie de

    ocorrncias (ideolgicas e/ou econmicas), de importncia diversa, queconduziram, ainda que de forma hesitante e flutuante, parte significativa das

    fraes dominantes para o "campo das oposies" na segunda metade dos anos

    70, o "fechamento" do aparelho do Estado a demandas muito localizadas e

    particularistas teve, como se pretende demonstrar, um peso especfico.

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    Desse ponto de vista estrito, que relao h entre essas duas campanhas?

    Existe um fato bsico que subjaz aos dois movimentos? A partir desses poucos

    elementos acima destacados, acredito ser permitido fazer aqui uma observao.

    Do meu ponto de vista, as mudanas impostas organizao e ao modo de

    funcionamento do aparelho do Estado a partir de 1974 e suas conseqncias

    sobre o sistema de representao de interesses dominantes implicaram, em

    termos gerais, a articulao de uma srie de demandas esparsas por maior

    presena e influncia nas arenas decisrias estratgicas, culminando na

    unificao das bandeiras da "desestatizao" e da "(re)democratizao" sob o

    lema genrico da necessidade de restaurao da "participao empresarial" nos

    principais conselhos econmicos. Este foi, sem dvida, um dos elementos, cuja

    importncia no pode ser desprezada, que detonaram o movimento de oposio

    do conjunto das fraes dominantes "poltica autoritria"24.

    A relevncia dessa questo fica mais ntida luz de algumas consideraes,

    ainda que necessariamente esquemticas, sobre o padro de relao Estado-

    sociedade no Brasil ps-64. Elas permitem avaliar o alcance que a disputa em

    torno do problema da "representao de interesses" plasmado segundo o

    modelo do "corporativismo" representou nessa conjuntura em particular.

    Quando se considera essa questo preciso, todavia, insistir antes sobre um

    aspecto fundamental: se nas diferentes formas que o Estado capitalista pode

    assumir democracia representativa ou ditadura, civil ("bonapartismo") ou militar

    os partidos polticos e associaes de classe so instrumentos especficos de

    organizao das fraes dominantes, eles no so os nicos. Como notou

    Poulantzas, "para o bloco no poder [...], ainda que os partidos polticos

    permaneam o meio privilegiado de organizao, o conjunto dos ramos e

    24 Note bem: afirmar que as fraes burguesas harmonizaram seus interesses fundamentais emtorno de uma questo a "participao" no, ou melhor, a excluso do processo decisrio nosignifica, ipsofacto, dizer que no existissem interesses divergentes entre as classes dominantesno Brasil, mas que, nessa conjuntura precisa, eles no chegaram a se desenvolver politicamentede forma antagnica, o que, evidentemente, no exclui um certo grau de competio "intra-elites"pela participao privilegiada em todo o tipo de favores governamentais (financiamentossubsidiados, linhas de crdito preferenciais, indicaes polticas, postos de influncia no aparelhodo Estado etc.).

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    aparelhos de Estado que pode acessoriamente desempenhar esse papel [...]

    [Dessa forma,] o papel de organizao poltica do bloco no poder pode, portanto,

    ser preenchido, em toda forma de Estado burgus, pelo conjunto dos aparelhos de

    Estado [...] Conseqentemente, esses diversos aparelhos e ramos do Estado

    constituem, freqentemente, praas fortes e basties privilegiados de organizao

    de tal ou qual frao do bloco no poder" (Poulantzas, 1975: 120-121; grifado no

    original).

    Ocorre que, num regime caracterizado por um "pluralismo limitado" (Linz, 1979:

    320) isto , que suprimiu, atravs de uma srie de regulamentaes estritas

    sobre o sistema poltico, os representantes tradicionais das prprias fraes do

    bloco no poder (seja por meio da extino do sistema partidrio populista e sua

    substituio controlada por um outro, artificialmente bipolar, seja por meio da srie

    de cassaes, destituies e depuraes que se seguiram ao golpe poltico-

    militar), reduziu as funes do sufrgio, rebaixou as do Legislativo (notadamente

    em matria oramentria) e imps um controle severo sobre as "liberdades

    polticas" em geral , essa funo de "organizao" torna-se particularmente

    aguda. Somadas s caractersticas que o sistema estatal progressivamente

    adquiriu durante sua evoluo institucional e s atribuies que historicamente o

    aparelho do Estado no Brasil freqentemente desempenhou, as funes dasdiversas agncias burocrticas, enquanto arenas polticas de conciliao de

    demandas e expresso de interesses, atingiram, nesse contexto, seu grau

    mximo. Desse ponto de vista, no constitui exatamente uma novidade notar que

    houve, notadamente aps 1968, uma correlao positiva entre o fechamento

    progressivo da cena poltica e uma abertura cada vez mais consistente de canais

    institucionais de participao e influncia diretamente no seio dos aparelhos do

    Estado ditatorial.

    Por outro lado, assim como a ditadura militar permitiu a regulao dos conflitos

    internos do bloco no poder atravs da representao "orgnica" das diversas

    fraes da classe dominante no seio dos aparelhos do Estado, no se pode

    esquecer, porm, que a "vinculao compartimentalizada entre esferas da

    burocracia estatal e setores especficos da atividade privada" teve um impacto

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    decisivo "sobre a capacidade de coordenao do prprio Estado" (Diniz e Boschi,

    1986: 19). Dessa forma, todas as tentativas mais ou menos isoladas de disciplinar

    e enquadrar essa relao, negar a entropia do sistema estatal e hierarquizar as

    demandas no interior do processo decisrio convergiram para uma transformao

    brusca desse esquema, efetivada essencialmente a partir de 1974 com a criao

    do CDE e da SEPLAN.

    A "reforma administrativa" do governo Geisel deveria produzir, assim, para alm

    dos seus efeitos burocrticos, um desarranjo relativamente grave no sistema

    tradicional de posies relativas ocupadas pelos diferentes grupos capitalistas no

    interior do sistema estatal, dificultando, de forma crescente, sua participao direta

    no policy-making. Nesse contexto, o corporativismo das classes dominantes, que

    havia se convertido na "frmula ideal" para garantir uma presena diferenciada no

    seio do Estado ditatorial, seria ento posto em questo. As reaes burguesas

    que da se seguiram e as diversas aes para restabelecer um determinado

    formato institucional de representao de interesses so assim estratgicas no

    s para estimar o significado e o alcance das modificaes na estrutura do

    sistema de decises, mas tambm para compreender concretamente as relaes

    entre "Estado" e "sociedade" numa conjuntura decisiva da poltica brasileira.

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