código de defesa do consumidor

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Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. "Em se tratando de relação de consumo, tendo em vista o princípio da facilitação de defesa do consumidor, não prevalece o foro contratual de eleição, por ser considerada cláusula abusiva, devendo a ação ser proposta no domicílio do réu, podendo o juiz reconhecer a sua incompetência ex officio." (CC 48097 RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/04/2005, DJ 04/05/2005, p. 153) "'No caso em exame, conforme se depreende da causa de pedir e do pedido, a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público tem por escopo a tutela coletiva de interesses ou de direitos coletivos, transindividuais de grupos de consumidores, ligados entre si com a parte contrária por relação jurídica base, bem como de direitos individuais homogêneos, decorrentes de origem comum, assim definidos nos incisos II e III, do artigo 81, do Código de Proteção do Consumidor. Extraindo exegese de tais dispositivos, conclui-se que são interesses individuais homogêneos aqueles emanados de idêntica origem, constituindo-se subespécie de direitos coletivos. Ora, os interesses pertencentes aos usuários da linha telefônica Americel são individuais, eis que oriundo de relações contratuais individualizadas. Entretanto, a característica da homogeneidade emerge do contexto no qual cada pacto individual firmado entre consumidor e a fornecedora foi realizado por intermédio de instrumento idênticos de adesão, ou seja, cláusulas uniformes estipulas previamente pela Americel S.A., as quais, uma vez aderidas pelos usuários, figuram-nos em situação homogênea no tocante à possível violação de direitos.' Assim, caso os consumidores, independentes destes serem pessoas jurídicas ou físicas, sofram danos ou ameaça a direitos decorrentes de idênticas cláusulas abusivas estipuladas por fornecedor, obviamente emerge o interesse coletivo de que a nulidade de tais cláusulas seja reconhecida, fato ensejador de

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Código de Defesa Do Consumidor

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Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.

"Em se tratando de relação de consumo, tendo em vista o princípio da facilitação de defesa do consumidor, não prevalece o foro contratual de eleição, por ser considerada cláusula abusiva, devendo a ação ser proposta no domicílio do réu, podendo o juiz reconhecer a sua incompetência ex officio." (CC 48097 RJ, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/04/2005, DJ 04/05/2005, p. 153)

"'No caso em exame, conforme se depreende da causa de pedir e do pedido, a ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público tem por escopo a tutela coletiva de interesses ou de direitos coletivos, transindividuais de grupos de consumidores, ligados entre si com a parte contrária por relação jurídica base, bem como de direitos individuais homogêneos, decorrentes de origem comum, assim definidos nos incisos II e III, do artigo 81, do Código de Proteção do Consumidor. Extraindo exegese de tais dispositivos, conclui-se que são interesses individuais homogêneos aqueles emanados de idêntica origem, constituindo-se subespécie de direitos coletivos. Ora, os interesses pertencentes aos usuários da linha telefônica Americel são individuais, eis que oriundo de relações contratuais individualizadas. Entretanto, a característica da homogeneidade emerge do contexto no qual cada pacto individual firmado entre consumidor e a fornecedora foi realizado por intermédio de instrumento idênticos de adesão, ou seja, cláusulas uniformes estipulas previamente pela Americel S.A., as quais, uma vez aderidas pelos usuários, figuram-nos em situação homogênea no tocante à possível violação de direitos.' Assim, caso os consumidores, independentes destes serem pessoas jurídicas ou físicas, sofram danos ou ameaça a direitos decorrentes de idênticas cláusulas abusivas estipuladas por fornecedor, obviamente emerge o interesse coletivo de que a nulidade de tais cláusulas seja reconhecida, fato ensejador de substituição processual do MP, por intermédio de ação civil pública, em virtude de permearem interesses individuais homogêneos. Presente está, pois, a ordem pública (art. 1° do CDC), desaparecendo então qualquer característica de disponibilidade de direitos, por parte dos clientes da Americel, ainda que versem sobre direito patrimonial. Nem se diga, como pretende a recorrente, que se trata de direito individual disponível tão-só pelo fato de facultar-se ao consumidor a expedição de fatura resumida ou detalhada, pois, na realidade, o que se objetiva com a ação coletiva em cotejo é o reconhecimento do direito à obtenção do detalhamento da conta de forma gratuita, considerando-se a cobrança de taxa violação do direito do consumidor à informação clara, precisa e completa acerca dos serviços que lhe são prestados. Diante desse panorama, tratando-se da tutela de interesses individuais homogêneos, tem incidência o art. 81 do CDC (Lei n° 8.078/90), além do art. 82 deste Diploma, que legitimou o Ministério Público, dentre outros entes, a agir na defesa coletiva dos interesses e direitos dos consumidores." (REsp 684712 DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 07/11/2006, DJ 23/11/2006, p. 218)

"Centra-se o debate na interpretação dos arts. 1º, 2º e 81 da Lei 8.078/90, relativos à conceituação da relação de consumo e dos direitos passíveis de tutela coletiva. 5. Este temário foi enfrentado em aprofundado estudo a respeito justamente da 'contribuição para o custeio da iluminação pública municipal' ('Interesse Público - Revista Bimestral de Direito Público', 19/203-234), pelo eminente Procurador de Justiça do Rio Grande do Sul, Professor Paulo Valério Dal Pai Moraes. Salientando que 'o custeio da iluminação

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pública municipal é um dos assuntos mais controvertidos do direito tributário nacional, devido à complexidade das ocorrências fáticas que encerra' (p. 203) e demonstrando que a discussão do tema, em juízo, envolve, não propriamente interesses de cidadãos contribuintes, mas, sobretudo e prevalentemente, de interesses de cidadãos consumidores, lesados coletivamente (p. 227), concluiu o Professor que 'a ação coletiva de consumo é a via processual mais adequada' para a sua tutela jurisdicional (p. 234). Esta conclusão, que leva também à legitimidade do Ministério Público, deve ser prestigiada." (AgRg no Ag 515808 RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, Rel. p/ Acórdão Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/12/2003, DJ 05/04/2004, p. 208)

"Cuida-se de ação civil pública ajuizada por associações de defesa dos consumidores para discutir a fixação do prazo de validade para a utilização dos créditos adquiridos pelos usuários do serviço de telefonia celular, sob a modalidade pré-pago, cuja regulamentação foi realizada pela Norma 03/98 da ANATEL. Na aludida ação, além de ser pleiteada a obrigação dos réus de não mais limitar a validade dos referidos créditos, buscou-se também a condenação desses ao pagamento de indenização por danos morais coletivos, a ser arbitrada pelo juízo. [...] A legitimidade do Ministério Público para a defesa dos direitos individuais homogêneos está evidenciada, dada a repercussão social da matéria em exame, que se refere à prestação de serviço de telefonia, atingindo milhares de pessoas. [...] não procede a alegação da recorrente, quanto à falta de legitimidade do Ministério Público para ajuizar demandas que versem sobre direitos individuais homogêneos dos consumidores, em que se discute a existência de práticas abusivas no mercado de consumo, dada a repercussão social inerente à tutela consumerista, expressamente consagrada no art. 1º, 81, III e 82, I, da Lei 8.078/90." (REsp 855181 SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/09/2009, DJe 18/09/2009)

"Não haverá julgamento extra petita quando o juiz ou tribunal pronunciar-se de ofício sobre matérias de ordem pública, entre as quais se incluem as cláusulas contratuais consideradas abusivas (arts. 1º e 51 do CDC)." (REsp 1013562 SC, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/10/2008, DJe 05/11/2008)

"As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de 'ordem pública e interesse social'. São, portanto, indisponíveis e inafastáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da ordem jurídica do Estado Social, daí a impossibilidade de o consumidor delas abrir mão ex ante e no atacado." (REsp 586316 MG, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/04/2007, DJe 19/03/2009)

"Sentença - emitida em processo de busca e apreensão movido contra a ora autora pelo banco ora réu - foi atacada por ação rescisória. O processo resolvido pela sentença malsinada fora movido pelo banco, visando busca e apreensão de bem, objeto de alienação fiduciária. [...] A ofensa ao CDC resultaria da indisponibilidade dos direitos assegurados por esse diploma, em seu Art. 1º. [...] A leitura desse artigo revela que nele não se contém preceito consagrando uma norma. Em substância, ele expressa mera ementa, com advertência programática. Nem mesmo define, ou conceitua a expressão 'normas de ordem pública e interesse social'. Afirma-se que tais normas consagram direitos irrenunciáveis - insuscetíveis de renúncia ou, mesmo, de transigência, semelhantes aos direitos da personalidade (Código Civil, Arts. 11 e segts.). Em rigor,

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tais normas consagrariam - não direitos, mas o que o saudoso professor Oscar Stevenson denominava interesses juridicamente protegidos. A ser correta essa tese, o consumidor equipara-se aos incapazes, definidos pelos artigos 3º e 4º do Código Civil, cujos atos de vida civil só valem se forem praticados mediante representação ou sob assistência (CC art.1.634). Tal equiparação, contudo, não ocorre. Como observei acima, a incapacidade não exclui a personalidade. Ela, simplesmente impede quem dela sofre, 'de exercer pessoalmente os atos da vida civil'. Tal exercício é feito por meio de representante ou sob assistência de pessoa para tanto habilitada. O CDC não cuida de representação, nem de assistência. Se assim ocorre, ao consumidor se reconhece capacidade plena. Vale dizer: ele é livre para contratar; e se o é, pode transigir, renunciar e exercer, pessoalmente, ações e pretensões relacionadas com o contrato. Se assim ocorre, não se pode retirar da expressão utilizada pelo Art. 1º, o entendimento de que os direitos assegurados pelo o CDC ao consumidor são indisponíveis. Pelo contrário, eles são disponíveis. Tanto o são, que se expõem à decadência e à prescrição. Com efeito: a) o direito de reclamar contra defeitos aparentes decai em trinta ou noventa dias (Art. 26); b) o próprio CDC (Art. 27) declara prescritas - quando não manifestadas em cinco anos - as pretensões relacionadas com danos causados por serviços ou produtos." (REsp 767052 RS, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/06/2007, DJ 01/08/2007, p. 459)

"O pedido de declaração de nulidade da cláusula autorizadora da gravação hipotecária nos contratos de promessa de compra e venda entre ENCOL e adquirentes traduz-se em interesse coletivo, já que existe relação jurídica base (contrato de promessa de compra e venda), vinculo jurídico idêntico entre todos os consumidores; o grupo é determinável e os direitos indivisíveis - afinal 'se nula for a cláusula contratual, assim o será para todos os adquirentes das unidades imobiliárias'. O pedido de declaração de nulidade da cláusula que constitui em garantia os imóveis descritos nos contratos de financiamento entre a ENCOL e o BEMGE traduz-se também em interesse coletivo, pois a cláusula atacada, embora firmada entre ENCOL e BEMGE, fere direito de um grupo determinável de consumidores, ligados por uma mesma relação jurídica base. O pedido de declaração de ineficácia das hipotecas em relação a terceiros é pedido de direito difuso, pois objetiva a defesa de uma parcela indeterminável de consumidores da empresa ENCOL que tenham sido prejudicados pela garantia ofertada de forma ilegal (circunstância fáctica). Ademais, mesmo que os dois primeiros fossem interesses individuais homogêneos, ainda assim, caberia, pela legislação em vigor, a atuação do Parquet. Os direitos individuais homogêneos em sua essência são individuais, divisíveis e disponíveis. Contudo, não é a natureza disponível e divisível, esta aliás ínsita aos direitos individuais, que retira a homogeneidade dos interesses e lhes expurga da tutela a título coletivo, já que constatada a origem comum dos mesmos, é o interesse social na sua proteção que se transforma no divisor de águas entre o direito individual considerado em sua dimensão particular, pessoal e aquele visto sob ótica comunitária, impessoal, coletiva. Ademais, a Constituição Federal respalda a atuação do Ministério Público, incumbindo-lhe a defesa não só dos interesses individuais indisponíveis, como dos interesses sociais, do regime democrático e da ordem jurídica (art. 127). Assim ensinam, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, verbis: 'Legitimidade do MP. Pode mover qualquer ação coletiva, para a defesa de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. A CF 129, III, legitima o MP para a ACP na tutela de direitos difusos e coletivos, mas não menciona os individuais homogêneos. A CF, 129, IX autoriza a lei federal a atribuir outras funções ao MP, desde que compatíveis com seu perfil institucional. A CF 127 diz competir ao MP a defesa dos direitos e interesses

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sociais e individuais indisponíveis. Como as normas de defesa do consumidor (incluída aqui a ação coletiva tour court) são, ex vi legis, de interesse social (CDC 1º), é legítima e constitucional a autorização que o CDC 821 dá ao MP de promover a ação coletiva, ainda que na defesa de direitos individuais disponíveis. O cerne da questão é que a ação coletiva, em suas três modalidades, é de interesse social.' É, assim, atribuição constitucional do Ministério Público a defesa dos interesses sociais, cuja definição legal pode ser encontrada na própria Lei nº 8078/90 (Código de Defesa do Consumidor), mais precisamente em seu art. 82, § 1º, que trata das associações de defesa do consumidor, quando preceitua que: 'O requisito da pré-constituição pode ser dispensado pelo juiz, nas ações previstas no art. 91 e seguintes, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido.' Considerados sob este diapasão, os direitos individuais e coletivos stricto sensu de consumidores, albergados pela própria Constituição Federal, revestem-se da natureza de interesse social, já que de sua tutela depende o funcionamento regular, correto de todo um sistema jurídico e social. No caso, a empresa edifica unidades imobiliárias, utilizando-se de recursos públicos e sempre há interesse social aparente na fiscalização do uso desses recursos ao fim a que se destina." (REsp 334829 DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/11/2001, DJ 04/02/2002, p. 354)

"'Conquanto o CDC seja norma de ordem pública, não pode retroagir para alcançar o contrato que foi celebrado e produziu seus efeitos na vigência da lei anterior, sob pena de afronta ao ato jurídico perfeito.' (4ª Turma, REsp n. 248.155/SP, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, unânime, DJU de 07.08.2000)" (REsp 39156 SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 05/04/2005, DJ 09/05/2005, p. 407)

"[...] tendo em vista, o direito dos adquirentes de carros novos à aquisição de bens em perfeitas condições de uso, o Tribunal estadual corretamente fez incidir o Código de Defesa do Consumidor, lei de ordem pública, cuja aplicação, inderrogável, se faz inclusive de ofício. Nesse sentido, confira-se: 'As normas de ordem pública estabelecem valores básicos e fundamentais de nossa ordem jurídica, são normas de direito privado, mas de forte interesse público, daí serem indisponíveis e inafastáveis através de contratos. O Código de Defesa do Consumidor é claro em seu art. 1º, ao dispor que suas normas dirigem-se à proteção prioritária de um grupo social, os consumidores, e que constituem-se em normas de ordem pública, inafastáveis, portanto, pela vontade individual. São normas de interesse social, pois, como ensinava Portalis (Apud Georges Ripert, 'l'Ordre économique et la liberté contractuelle', Mélanges offert à Geny , Paris, 1959, p. 347), as leis de ordem pública são aquelas que interessam mais diretamente à sociedade que aos particulares'. (Cfr. CLÁUDIA LIMA MARQUES et. alii, 'Comentários ao Código de Defesa do Consumidor', São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1ª ed., 2004, pp. 54/55)" (REsp 441201 PR, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUARTA TURMA, julgado em 16/12/2004, DJ 28/02/2005, p. 325)

"O CDC é norma de ordem pública, que se aplica a todas as relações de consumo, mesmo quando a atividade tenha legislação específica, como ocorre com a incorporação, o parcelamento do solo, o contrato bancário, pois em todas elas, guardadas as peculiaridades de cada caso, incidem os princípios do CDC sobre abusividade, boa-fé, direito de informação, etc. Não é admissível que apenas por constituir um ramo diferenciado da atividade econômica, quer na incorporação, no

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financiamento ou no loteamento, sejam permitidas a cláusula abusiva, a má-fé, a ocultação da verdade, etc. Na realidade, o CDC tem aplicação horizontal, recaindo sua incidência sempre que caracterizada a relação de consumo, que por ele fica atingido. Mas não só nesses casos, assim como enumerados nos seus primeiros artigos, mas também quando o contratante participa de relação obrigacional em que comparece com sensível desvantagem e é submetido a práticas abusivas, na forma do art.29 do CDC." (AgRg no REsp 200385 SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 28/05/2002, DJ 26/08/2002, p. 223)

"'A evolução do direito do consumidor, com assento inclusive constitucional (art. 5o, XXXII), não mais permite que disposições legais que restrinjam a indenização por mau uso do serviço prevaleçam sobre todo o sistema legal brasileiro que, no tema da indenização, assentam que a reparação deve ser a mais ampla possível. [...] 'Ora, como já afirmamos, o art. 1o do Código de Defesa do Consumidor declara que o referido diploma estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, acrescentando serem tais normas de ordem pública e interesse social. De pronto, percebe-se que, tratando-se de relações de consumo, as normas de natureza privada e em leis esparsas deixam de ser aplicadas. O mencionado Código retira da legislação civil, bem como de outras áreas do direito, a regulamentação das atividades humanas relacionadas com o consumo, criando uma série de princípios e regras em que se sobressai não mais a igualdade formal das partes, mas a vulnerabilidade do consumidor, que deve ser protegido. Basta lembrar que a Constituição Federal de 1988 elevou a defesa do consumidor à esfera constitucional de nosso ordenamento. Em um primeiro momento, incluiu o legislador a defesa do consumidor entre os direitos e deveres individuais e coletivos, estabelecendo que 'o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor' (art. 5, XXXII), e, em um segundo momento, erigiu a defesa do consumidor à categoria de 'princípio geral da atividade econômica' (art. 170, V), emparelhando-o com princípios basilares para o modelo político-econômico brasileiro, como o da soberania nacional, da propriedade privada, da livre-concorrência e outros. Como afirma Arruda Alvim, garantia constitucional desta magnitude possui, no mínimo, como efeito imediato e emergente, irradiado da sua condição de princípio erigido em nossa Carta Magna, o condão de inquinar de inconstitucionalidade qualquer norma que possa constituir óbice à defesa desta figura fundamental das relações de consumo, que é o consumidor. Em decorrência do estabelecido no art. 1o, ou seja, a normalização tratada no Código de Defesa do Consumidor é de ordem pública e interesse social, concluindo-se que os comandos dele constantes são de natureza cogente, ou seja, não é facultado às partes a possibilidade de optar pela aplicação ou não de seus dispositivos que, portanto, não se derrogam pela simples convenção dos interessados, exceto havendo autorização legal expressa (Código do Consumidor comentado, Revista dos Tribunais, 1991, art. 1o). (Responsabilidade Civil, Saraiva, 6a edição, p. 227/228).''" (REsp 257298 SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 03/05/2001, DJ 11/06/2001, p. 229)

"A tendência [...] é de ressarcimento integral, arredando-se o protecionismo exarcebado às empresas de transporte aéreo, o que não mais se justifica nos dias de hoje em face do alto grau de tecnologia alcançado pelo setor. Não há mais, portanto, que se cogitar de qualquer modalidade de indenização tarifada, nem mesmo em hipótese de transporte aéreo. Confiram-se a respeito os escólios de Carlos Roberto Gonçalves (Responsabilidade Civil, pág. 218, 5ª ed., 1.994), de Nelson Nery Júnior, por ele citado, e Sérgio Cavalieri (Programa de Responsabilidade Civil, págs. 214 e 216/217, ed.

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1.996). Nesses termos, não mais prevalece a limitação da responsabilidade da transportadora aérea, em consonância com as disposições introduzidas no direito brasileiro pela citada Lei nº 8.078/90 (arts. 3o, § 2o, 6o, I, VI e X, 14, 22 e parágrafo único, e 25). Nem se diga que se trata de normas meramente programáticas, dependentes de regulamentação. Ao reverso, são elas autoaplicáveis, de imediato, até mesmo porque são normas de ordem pública e de interesse social (art. 1º)." (REsp 257699 SP, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 05/12/2000, DJ 19/03/2001, p. 115)

"Esta Corte já firmou entendimento no sentido da legitimidade do Ministério Público para agir na defesa de interesses coletivos, inclusive nas hipóteses de ressarcimento por dano ao erário. " (REsp 225777 SP, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEXTA TURMA, julgado em 24/09/2002, DJ 14/10/2002, p. 285)

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

"Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde." (Súmula 469, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/11/2010, DJe 06/12/2010)

"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes." (Súmula 321, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/11/2005, DJ 05/12/2005, p. 410)

"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras." (Súmula 297, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2004, DJ 09/09/2004, p. 149)

"A requerente pleiteia a homologação de sentença arbitral [...] que condenou as ora requeridas ao pagamento de danos referentes ao inadimplemento dos contratos celebrados para o fornecimento de soja, acrescidos de juros, honorários, custas e despesas da arbitragem [...] Na hipótese, para a eventual análise da alegação de que o contrato objeto da arbitragem é 'de adesão', seria necessário o exame do mérito da relação de direito material afeto ao objeto da sentença estrangeira homologanda, o que se mostra inviável na presente via. Ademais, ainda que assim não fosse entendido, escorreita a manifestação da requerente ao consignar que 'No caso em concreto, os contratos foram livremente pactuados e assinados pelas partes contratantes, constando de todos eles a cláusula compromissória - item 16 - (...). O contrato de adesão de que cuida o art. 54 do Código de Defesa do Consumidor se carateriza, no direito brasileiro, quando estabelecida unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor, hipossuficiente, possa discutir ou modificar o conteúdo. Ademais, nada tem a haver o CDC com o caso em concreto, não sendo o devedor destinatário final do produto, passível de caracterizar relação de consumo, violando qualquer direito básico do consumidor.' [...]. Quanto ao tema, destaca-se manifestação do Supremo Tribunal Federal em hipótese análoga à presente, verbis: '35. Sustenta, ainda, a contestante, que o contrato é de adesão e, por isso, a cláusula arbitral deveria estar escrita em negrito, como determina o artigo 4º, § 2º, da Lei nº 9.307/96, sob pena de nulidade. 36. Embora seja esta questão ínsita ao mérito, insuscetível de apreciação em procedimento homologatório perante este Tribunal, repondo-a. Ao compulsar-se o documento de fls. 221/222, desponta claro que a empresa vendedora foi livremente escolhida [...], nada

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obstante a existência de centenas de outros fornecedores de algodão no mercado internacional. É evidente que o contrato de adesão não é caracterizado pelo impresso com espaços em branco, como crê a requerida, mas pelas condições que uma das partes impõe a outra e não sujeitas a discussão. Na hipótese, às cláusulas insertas na avença dizem respeito ao local em que a mercadoria seria entregue, à forma de conferência de peso, à extensão do seguro, ao pagamento do frete e, finalmente, às regras de arbitragem, tudo isso sujeito a modificações, segundo entendimento prévios. Não consta que contrato de tal configuração jurídica seja de adesão ou que algumas de suas cláusulas possam ser consideradas como leoninas, matéria ademais, como disse, alheias à natureza do procedimento homologatório. De igual forma, o laudo exarado [...] nada tem a ver com o Código Nacional de Defesa do Consumidor, para escusar-se a devedora da obrigação assumida, por não se aplicar à empresa importadora de produto destinado ao consumidor final, conforme prevê o artigo 2º, que define como consumidor toda 'pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. [...]'" (SEC 507 GB, Rel. Ministro GILSON DIPP, CORTE ESPECIAL, julgado em 18/10/2006, DJ 13/11/2006, p. 204)

"Cuidam os autos de ação declaratória de nulidade cumulada com repetição de indébito ajuizada [...] em face de Brasil Telecom S/A objetivando obstar a cobrança da chamada 'assinatura mensal básica' e a sua devolução em dobro. [...] Os serviços públicos, concebidos como impróprios, são prestados sob a disciplina do Código de Defesa do Consumidor e da legislação específica que os regem. [...] No contrato de concessão firmado entre a recorrente e o poder concedente, há cláusula expressa afirmando que, 'para manutenção do direito de uso, as prestadoras estão autorizadas a cobrar tarifa de assinatura', segundo tabela fixada pelo órgão competente. Estabelece, ainda, que a tarifa de assinatura inclui uma franquia de 90 pulsos. 15. Em face do panorama supradescrito, a cobrança da tarifa de assinatura mensal é legal e contratualmente prevista. 16. A tarifa mensal de assinatura básica, incluindo o direito do consumidor a uma franquia de 90 pulsos, além de ser legal e contratual, justifica-se pela necessidade da concessionária manter disponibilizado o serviço de telefonia ao assinante, de modo contínuo e ininterrupto, o que lhe exige dispêndios financeiros para garantir a sua eficiência. 17. Não há ilegalidade na Resolução n. 85 de 30.12.1998, da Anatel, ao definir: 'XXI - Tarifa ou Preço de Assinatura - valor de trato sucessivo pago pelo assinante à prestadora, durante toda a prestação do serviço, nos termos do contrato de prestação de serviço, dando-lhe direito à fruição contínua do serviço'. 18. A Resolução n. 42/05 da Anatel estabelece, ainda, que 'para manutenção do direito de uso, caso aplicável, as Concessionárias estão autorizadas a cobrar tarifa de assinatura mensal', segundo tabela fixada. 19. A cobrança mensal de assinatura básica está amparada pelo art. 93, VII, da Lei n. 9.472, de 16.07.1997, que a autoriza, desde que prevista no Edital e no contrato de concessão, como é o caso dos autos. 20. A obrigação do usuário pagar tarifa mensal pela assinatura do serviço decorre da política tarifária instituída por lei, sendo que a Anatel pode fixá-la, por ser a reguladora do setor, tudo amparado no que consta expressamente no contrato de concessão, com respaldo no art. 103, §§ 3º e 4º, da Lei n. 9.472, de 16.07.1997. 21. O fato de existir cobrança mensal de assinatura, no serviço de telefonia, sem que chamadas sejam feitas, não constitui abuso proibido pelo Código de Defesa do Consumidor, por, primeiramente, haver amparo legal e, em segundo lugar, tratar-se de serviço que, necessariamente, é disponibilizado, de modo contínuo e ininterrupto, aos usuários. 22. O conceito de abusividade no Código de Defesa do Consumidor envolve cobrança ilícita, excessiva, que possibilita vantagem desproporcional e incompatível com os princípios da boa-fé e da eqüidade, valores

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negativos não presentes na situação em exame. 23. O STJ tem permitido, com relação ao serviço de consumo de água, a cobrança mensal de tarifa mínima, cuja natureza jurídica é a mesma da ora discutida, a qual garante ao assinante o uso de, no máximo, 90 pulsos, sem nenhum acréscimo ao valor mensal. O consumidor só pagará pelos serviços utilizados que ultrapassarem essa quantificação. [...] Diferentemente do que entendeu o aresto recorrido, não há desrespeito ao art. 39, I, do Código de Defesa do Consumidor porque há disponibilidade do serviço ao consumidor, ao qual voluntariamente fez adesão. Outrossim, é inaplicável, na espécie, o art. 51, § 1º, II, do CDC, por não ser excessivamente onerosa a cobrança mensal da assinatura básica, conforme já demonstrado." (REsp 911802 RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/10/2007, DJe 01/09/2008)

"[...] a cota de consórcio corresponde a um serviço prestado pela sociedade administradora, consubstanciado numa participação oferecida no mercado de consumo, visando ao acúmulo de capital e à futura contemplação com um crédito, que possibilitará a aquisição de um bem ou serviço de qualquer natureza. Também a figura do consumidor é de fácil identificação nos contratos de consórcio, seja na qualidade da pessoa física ou jurídica que adquire a cota de consórcio, postando-se como consumidor final, de acordo com o art. 2º do CDC; seja na qualidade de grupo consorciado, de consorciados clientes de uma mesma administradora ou até mesmo de uma coletividade indeterminada de possíveis consorciados, todos consumidores por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, do CDC. Patente, portanto, a relação de consumo que se estabelece nos contratos de consórcio, tendo como fornecedoras as sociedades administradoras e como consumidores os consorciados, potenciais ou efetivos, individualmente considerados ou já reunidos em grupo." (REsp 1119300 RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 27/08/2010)

"Os autores da ação de ressarcimento de danos, oriunda do descumprimento de contrato de financiamento para incrementação da atividade econômica de empresa, não são considerados destinatários finais, afastando-se assim, a aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao caso dos autos. - Não há abusividade na cláusula que prevê o foro de eleição em contratos de elevado valor, quando não caracterizada a hipossuficiência." (CC 39666 SP, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 26/10/2005, DJ 02/03/2006, p. 135)

"[...] inexiste relação de consumo na relação jurídica litigiosa tratada na ação cautelar preparatória de civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Pará. Urge ressaltar que essa ação foi proposta, em defesa dos torcedores, tidos como consumidores, contra o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o qual não se enquadra no conceito de fornecedor. Observem-se o art. 3º da Lei 8.078/90 (CDC) e o art. 3º da Lei 10.671/2003 (Estatuto de Defesa do Torcedor), respectivamente: 'Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.' 'Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.' Contudo, por ser o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, nos termos do art. 52 da Lei 9.615/1998, órgão integrante da Justiça

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Desportiva com competência para processar e julgar as questões previstas nos Códigos da Justiça Desportiva, constata-se que ele não se enquadra nem no conceito de fornecedor previsto no art. 3º do CDC nem no conceito de fornecedor por equiparação previsto no art. 3º do Estatuto do Torcedor." (CC 40721 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/06/2004, DJ 01/07/2004, p. 167)

"Em relação à incidência do Código de Defesa do Consumidor às instituições financeiras, em 28/3/01, no julgamento do REsp n° 106.888/PR, da relatoria do Senhor Ministro Cesar Asfor Rocha, a Segunda Seção desta Corte pacificou o entendimento de que as relações existentes entre os clientes e a instituição apresentam nítidos contornos de uma relação de consumo. Considerou-se que o § 2° do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor assevera textualmente que entre as atividades consideradas como serviço encontram-se as de natureza bancária, financeira e creditícia. Assim sendo, os serviços prestados pelos bancos a seus clientes estão garantidos pela lei de defesa do consumidor, em especial as cadernetas de poupança e os contratos tipicamente bancários de concessão de crédito, em suas diversas formas: mútuos em geral, financiamentos rural, comercial, industrial ou para exportação, contratos de câmbio, empréstimos para capital de giro, abertura de crédito em conta-corrente e abertura de crédito fixo, ou quaisquer outras modalidades do gênero. Incidente, portanto, o Código de Defesa do Consumidor no caso em tela." (REsp 271214 RS, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/03/2003, DJ 04/08/2003, p. 216)

"Na compra e venda de sofisticadíssimo equipamento destinado a realização de exames médicos - levada a efeito por pessoa jurídica nacional e pessoa jurídica estrangeira - prevalece o foro de eleição, seja ou não uma relação de consumo." (CC 32270 SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/10/2001, DJ 11/03/2002, p. 159)

"Quanto à natureza das relações bancárias com os clientes, observo que, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, mais especificamente da Seção de Direito Privado, a importante questão da aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários já foi objeto de diversos pronunciamentos, de forma pontual, em sua maioria no sentido da incidência do Código de Defesa do Consumidor, consoante se extrai dos seguintes precedentes: [...] Impende, contudo, estabelecer se o Código de Defesa do Consumidor incide sobre todas as relações e contratos pactuados entre as instituições financeiras e seus clientes, como os depósitos em caderneta de poupança, de que aqui se trata, ou se apenas na parte relativa à expedição de talonários, fornecimento de extratos, cobrança de contas, guarda de bens e outros serviços afins. É o que passo a fazer. O próprio Código de Defesa do Consumidor se ocupa em trazer as definições de consumidor, fornecedor, produto e serviço, para efeito de sua incidência nas relações consideradas como de consumo, verbis: [...] A lei é suficientemente clara ao definir o que sejam consumidores e fornecedores de produtos e serviços, enquadrando expressamente, nesses conceitos, as instituições financeiras e seus clientes. Não procede o argumento utilizado, com o fim de descaracterizar a relação de consumo, de que os depósitos em caderneta de poupança não são remunerados. Conquanto os clientes, titulares das cadernetas de poupança, não paguem diretamente às instituições financeiras pelos depósitos efetuados, o fato é que os bancos obtém a sua remuneração do próprio uso do dinheiro dos poupadores, aplicando livremente no mercado financeiro um percentual máximo determinado pelo Banco Central do Brasil, repassando apenas parte

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do lucro auferido aos verdadeiros donos do numerário. Nessa ciranda financeira, tenho por certo que os bancos depositários são remunerados por todos os seus serviços - muitas vezes regiamente, diga-se de passagem - inclusive pelos depósitos em cadernetas de poupança. O negócio é tão lucrativo que eles se servem, para angariar clientela, de todos os meios que têm à sua disposição, investindo pesado na propaganda e no marketing, inclusive com slogans que fazem expressa referência a seus produtos e serviços como sendo os mais vantajosos do mercado. Portanto, as relações existentes entre os clientes e a instituição financeira, nelas incluídas as cadernetas de poupança, apresentam nítidos contornos de uma relação de consumo. Não fosse o suficiente, o parágrafo 2o do art. 3o do CDC assevera textualmente que entre as atividades consideradas como serviço encontram-se as de natureza bancária, financeira e creditícia. Salta aos olhos, assim, que os serviços prestados pelos bancos a seus clientes estão abrangidos pela lei de defesa do consumidor, em especial as cadernetas de poupança e os contratos tipicamente bancários de concessão de crédito, em suas diversas formas: mútuos em geral, financiamentos rural, comercial, industrial ou para exportação, contratos de câmbio, empréstimos para capital de giro, abertura de crédito em conta corrente e abertura de crédito fixo, ou quaisquer outras modalidades do gênero. Registro que no voto-vista proferido no REsp 213.825-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro (julgado em 28.08.2000), eu já havia manifestado o meu posicionamento no sentido da aplicação do CDC em contrato de financiamento hipotecário. Ainda em respaldo desse entendimento, trago o REsp 160.861 - SP, Relator o eminente Ministro Costa Leite (DJ 03.08.98), versando sobre a mesma questão aqui debatida, no qual foi admitida a legitimidade ativa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor para ajuizar ação civil pública visando a cobrança de diferenças de correção monetária em cadernetas de poupança, citando-se, ainda, a jurisprudência desta Corte no sentido da existência da relação de consumo. O precedente da Terceira Turma ficou assim ementado, verbis: [...] Destarte, conclui-se que a Lei nº 8.078/90, o chamado e benfazejo Código de Defesa do Consumidor, aplica-se aos contratos de depósito de caderneta de poupança, sendo possível, portanto, a defesa dos poupadores em juízo por instituições criadas com o fim específico de dar amparo jurídico e judicial aos consumidores." (REsp 106888 PR, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/03/2001, DJ 05/08/2002, p. 196)

"O que qualifica uma pessoa jurídica como consumidora é a aquisição ou utilização de produtos ou serviços em benefício próprio; isto é, para satisfação de suas necessidades pessoais, sem ter o interesse de repassá-los a terceiros, nem empregá-los na geração de outros bens ou serviços. Desse modo, não sendo a empresa destinatária final dos bens adquiridos ou serviços prestados, não está caracterizada a relação de consumo." (AgRg no REsp 916939 MG, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 04/11/2008, DJe 03/12/2008)

"'O conceito de 'destinatário final', do Código de Defesa do Consumidor, alcança a empresa ou o profissional que adquire bens ou serviços e os utiliza em benefício próprio' [...] II - No caso em exame, a recorrente enquadra-se em tal conceituação, visto ser empresa prestadora de serviços médico-hospitalares, que utiliza a água para a manutenção predial e o desenvolvimento de suas atividades, ou seja, seu consumo é em benefício próprio. III - A empresa por ser destinatária final do fornecimento de água e, portanto, por se enquadrar no conceito de consumidora, mantém com a recorrida relação de consumo, o que torna aplicável o disposto no artigo 42, parágrafo único, da Lei 8.078/90." (REsp 1025472 SP, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA

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TURMA, julgado em 03/04/2008, DJe 30/04/2008)

"A incidência do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de financiamento para aquisição de casa própria regidos pelas regras do SFH foi decidia pela Primeira Seção no sentido de que: (i) naqueles contratos regidos pelo FCVS, cujo saldo devedor é suportado por fundo público gerido pela CEF, sua feição publica atrairá a incidência de normas do direito administrativo pertinentes, com exclusão das normas de direito privado; (ii) Ao contrário, nos contratos sem a cobertura do FCVS, sua natureza privada atrairá a incidência das normas civilistas e do Código de Defesa do Consumidor, consoante assente no âmbito da Primeira Seção deste Sodalício. [...]" (REsp 727704 PB, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/05/2007, DJ 31/05/2007, p. 334)

"O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável às execuções fiscais. [...] O art. 52, § 2º do CDC tem sua aplicação limitada às relações consumeristas, razão pela qual não pode ser invocado para embasar pedido de redução de multa fiscal." (REsp 641541 RS, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/03/2006, DJ 03/04/2006, p. 233)

"Inexiste relação de consumo entre a recorrente e a TERRACAP, porque esta não é fornecedora de produtos ou serviços nos termos do art. 3º do CDC, mas empresa pública que, na qualidade de sucessora da NOVACAP, executa as atividades imobiliárias de interesse do Distrito Federal, objeto de utilização, aquisição, administração, incorporação, oneração ou alienação de bens (Lei 5.861/72, art. 2º). 3. A alienação de bem público, quando o interesse público o justificar, deve ser precedida de licitação pública, procedimento formal obrigatório de matriz constitucional (CF/88, art. 37, XXI) e infraconstitucional (Lei 8.666/93, arts. 1º, 2º, 3º e 17), que vincula a Administração direta e indireta." (REsp 540811 DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/02/2006, DJ 13/03/2006, p. 190)

"A Ação Civil Pública não se presta como meio adequado a obstar a cobrança de tributos instituídos por Lei Municipal, face ao fato de que a relação jurídica estabelecida desenvolve-se entre a Fazenda Municipal e o contribuinte, não revestindo este último o conceito de consumidor constante do art. 21, da Lei nº 7.347/85, a autorizar o uso da referida ação. 3. Os interesses e direitos individuais homogêneos, de que trata o art. 21, da Lei nº 7.347/85, somente poderão ser tutelados, pela via da ação coletiva, quando os seus titulares sofrerem danos na condição de consumidores." (AgRg no REsp 539399 ES, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/10/2003, DJ 17/11/2003, p. 220)

"Em se tratando de relação jurídica entre condômino e condomínio, referente às despesas de implantação, manutenção e conservação estipuladas em assembléia, falece ao PROCON competência para apreciar a reclamação, por não se tratar de relação de consumo." (RMS 17605 GO, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 24/06/2010)

"'USO DE RODOVIA. PEDÁGIO. PREÇO PÚBLICO. ART. 175 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE DO USO EFETIVO. TUTELA ANTECIPADA, DEFERIDA, DETERMINANDO-SE QUE A CONCESSIONÁRIA COBRE DOS AUTORES O VALOR PROPORCIONAL DA

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TARIFA DE PEDÁGIO PELO USO DE 10 KM DE RODOVIA, CORRESPONDENTE A 7,03 %, DA TARIFA COBRADA EM TODA A EXTENSÃO, SENDO O PERCENTUAL CALCULADO SOBRE A SOMA DAS TARIFAS EXIGIDAS EM AMBAS AS PRAÇAS DE PEDÁGIO' [...] Tratando-se de serviços remunerados por tarifas ou preços públicos, as relações entre o Poder Público e os usuários são de Direito Privado, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor, ao identificarem-se os usuários como consumidores, na dicção do art. 2º do CDC." (REsp 914498 RJ, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 07/05/2009, DJe 25/05/2009)

"O Município, ora recorrido, ajuizou ação revisional contra a concessionária. As instâncias locais entenderam que o foro competente seria o do domicílio do autor, por se tratar de uma relação de consumo. O cerne da questão consiste em saber se uma pessoa jurídica de direito público interno pode ou não ser enquadrada como consumidora (art. 2º do CDC). O Código de Defesa do Consumidor se insere em uma perspectiva em que, em princípio, apenas o particular é consumidor. Tal conclusão se extrai da conjugação dos arts. 2º e 3º do CDC, em que a pessoa jurídica de direito público somente aparece na figura de 'fornecedora'. [...] Em torno da expressão 'destinatário final' (art. 2º do CDC), surgem controvérsias. Para a corrente finalista (ou subjetiva), consumidor destinatário final é, em síntese, aquele que retira um produto ou serviço do mercado de consumo para uso próprio ou de sua família, e não para revenda ou uso profissional. A teoria maximalista, por outro lado, diz que destinatário final é o que retira o produto ou serviço do mercado de consumo, não importando sua finalidade (é o destinatário final fático, ou seja, retira o bem do mercado e o utiliza, mas não o retira da cadeia produtiva). No Superior Tribunal de Justiça, notadamente no âmbito da Segunda Seção, prevalece a teoria finalista, mas de forma mitigada, para atender situações em que há vulnerabilidade do caso concreto. [...] Vê-se que um Município não se enquadra perfeitamente no conceito de 'consumidor' e 'destinatário final'. O que enquadra uma pessoa jurídica como consumidora é a utilização de produtos ou serviços em benefício próprio; ou seja, para satisfazer suas necessidades pessoais, sem repassá-los a terceiros ou empregá-los na geração de outros bens ou serviços. Um Município não é uma finalidade em si. Sua existência se justifica para a satisfação do interesse público e a prestação de serviços à população. A energia adquirida pelo ente público é inserida nessa cadeia de prestação de serviços públicos. O ente público não é, propriamente, o destinatário final da energia elétrica que ilumina ruas, escolas públicas e postos de saúde. Os consumidores são, na etapa final, os próprios cidadãos. Tanto que eles arcam indiretamente com os custos desse serviços através dos tributos arrecadados. E mesmo nos contratos regidos pelo direito privado, a relação entre o particular e o poder público envolve princípios e regras típicas de direito público (por exemplo, o princípio da continuidade do serviço público). Apenas em casos de vulnerabilidade a teoria finalista poderia ser mitigada para enquadrar o Município no art. 2º do CDC, tal qual ocorre com as pessoas jurídicas de direito privado. Esse entendimento, por via transversa, já é adotado, por exemplo, nos casos de interrupção de fornecimento de energia elétrica e água aos Municípios. Exemplifico: É indevido o corte do fornecimento de água ou de energia elétrica quando o inadimplemento do consumidor (pessoa física ou jurídica de direito privado ou pessoa jurídica de direito público) advém de contas de consumo relativas a débitos antigos e consolidados, os quais devem ser reivindicados pelas concessionárias pelas vias ordinárias de cobrança, sob pena de infringir o disposto no art. 42 do Código de Defesa do Consumidor, de seguinte teor: 'Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer

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tipo de constrangimento ou ameaça' [...]. Em outras palavras: uma pessoa jurídica de direito público não se enquadra no conceito de consumidor final, de acordo com a teoria finalista. Entretanto, assim como ocorre quanto às pessoas jurídicas de direito privado, a teoria finalista pode ser mitigada em casos de vulnerabilidade, flexibilizando o conceito de 'consumidor final' previsto no art. 2º do CDC. Ou seja, um Município, em regra, não pode requerer o tratamento privilegiado previsto no CDC, salvo quando a vulnerabilidade do caso concreto é manifesta, permitindo a mitigação da teoria finalista. É o caso, por exemplo, do corte de energia elétrica de escolas e hospitais por inadimplência do Município. Para chegar a essa conclusão, basta imaginar uma grande metrópole na mesma situação dos autos. Alguns Municípios são patrocinados por dezenas de procuradores e técnicos, além de possuírem expressivo potencial econômico. Poderia esse Município ser enquadrado como consumidor e ter em seu favor os benefícios da condição de 'hipossuficiente'? Obviamente, não. O CDC só poderia ser aplicado a um Município em situações de vulnerabilidade, sob pena de gerar ainda mais desigualdade entre as partes. No caso dos autos, pretende-se revisar o critério de quantificação da energia fornecida a título de iluminação pública à cidade. Aqui, o Município não é, propriamente, o destinatário final do serviço, bem como não se extrai do acórdão recorrido uma situação de excepcional vulnerabilidade por parte do ente público e do interesse social." (REsp 913711 SP, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 19/08/2008, DJe 16/09/2008)

"De acordo com o art. 21, XI, da CF/88 e com a Lei 9.472/97 - Lei Geral de Telecomunicações, a ANATEL detém o poder-dever de fiscalização e regulação do setor de telefonia em relação às empresas concessionárias e permissionárias, o que inclui o papel de controle sobre a fixação e o reajuste das tarifas cobradas do usuário dos serviços de telefonia, a fim de, dentro dessa linha principiológica, garantir o pleno acesso às telecomunicações a toda a população em condições adequadas e com tarifas razoáveis. 2. Nos termos do art. 175, da CF/88 e da Lei Geral de Concessões, Lei 8.987/95, a fixação das tarifas devidas em retribuição ao serviço prestado pelas concessionárias ocorre no ato de concessão, com a celebração do contrato público, precedido do indispensável procedimento de licitação, sempre buscando o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. 3. A despeito disso, não existe regra específica quanto à quantidade de tarifas ou quanto aos limites dessa cobrança, deixando a Lei Geral de Telecomunicações ao prudente arbítrio da ANATEL o papel de regulação e fiscalização dos serviços de telefonia fixa e móvel. 4. A cobrança da assinatura básica mensal está prevista na Resolução 85/98 da ANATEL e nas Portarias 217 e 226, de 3 de abril de 1997, editadas pelo Ministro de Estado das Comunicações, nas quais são observados critérios técnicos tanto para permitir a cobrança da tarifa básica quanto para assegurar ao usuário padrões mínimos e compatíveis de acessibilidade e utilização do serviço telefônico e obrigando, ainda, as prestadoras a dar publicidade aos seus planos de serviços. 5. Não existe incompatibilidade entre o sistema de regulação dos serviços públicos de titularidade do estado prestados de forma indireta e o de proteção e defesa do consumidor, havendo, ao contrário, perfeita harmonia entre ambos, sendo exemplo disso as disposições constantes dos arts. 6º, inc. X, do CDC, 7º da Lei 8.987/95 e 3º, XI; 5º e 19, XVIII, da Lei 9.472/97. 6. Os serviços públicos são prestados, na atualidade, por empresas privadas que recompõem os altos investimentos realizados no ato da concessão com o valor recebido dos usuários, através dos preços públicos ou tarifas, sendo certa a existência de um contrato estabelecido entre concessionária e usuário, de onde não ser possível a gratuidade de tais serviços, o que inclui a disponibilidade do 'tronco' telefônico na comodidade do lar dos usuários, cobrado através do plano básico

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mensal. 7. Até a edição da Lei 9.472/97, não havia qualquer previsão em lei ou em regulamento que obrigasse as concessionárias ao detalhamento dos pulsos locais excedentes, a exemplo do que ocorre com as chamadas de longa distância nacional e internacional. 8. A mudança na nova sistemática de medição e de detalhamento dos serviços de telefonia veio para dar cumprimento à também moderna tendência de transparência nas relações de consumo trazidas pelo Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 6º, III, a qual encontrou eco no art. 3º, IV, da Lei Geral de Telecomunicações. 9. O processo de modernização e digitalização das centrais de comutação do sistema iniciou-se na década de 80 e foi incentivado pelo Poder Público e, partir de sua criação, pela ANATEL, que, com base na Lei 9.472/97 e no Decreto 4.733/03, fixou, pela Resolução/ANATEL 423, de 6 de dezembro de 2005, como termo final para que as concessionárias se adaptassem à nova modalidade de cobrança dos serviços (por tempo de utilização, e não mais por pulsos), o dia 1º de agosto de 2006 (item 8.4 da Resolução), prazo que foi dilatado por mais 12 (doze) meses pela Resolução/ANATEL 432, de 23 de fevereiro de 2006. 10. Não existe incompatibilidade entre o sistema de regulação dos serviços públicos de titularidade do estado prestados de forma indireta e o de proteção e defesa do consumidor, havendo, ao contrário, perfeita harmonia entre ambos." (REsp 993511 MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/12/2007, DJe 01/12/2008)

"Cuidam os autos de ação ordinária de repetição do indébito proposta pela Fundação Hospitalar da Agro-Indústria do Açúcar e Álcool de Alagoas em face da Companhia Energética de Alagoas, ora recorrente, objetivando a declaração judicial de ilegalidade de reajuste tarifário no período de vigência das Portarias 38/86 e 04/84 do DNAEE e, conseqüentemente, a repetição dos valores pagos indevidamente durante o período de congelamento geral de preços ocorrido no ano de 1986 (Plano Cruzado). [...] Constato que o acórdão proferido no julgamento da apelação e complementado pelo julgado prolatado em sede de embargos de declaração, ao manter a sentença, determinou a inversão do ônus da prova com base no art. 6º do CDC, pois considerou a recorrida como 'consumidora industrial' de energia elétrica. Todavia, basta um exame perfunctório dos autos para aferir que o estabelecimento hospitalar, ora recorrido, não se subsume ao conceito jurídico de consumidor inserto no art. 2º da Lei n. 8.078/90. Dessa forma, não há por que imputar o ônus da prova à companhia de energia elétrica. Ademais, a inversão do ônus da prova criou dificuldade intransponível à recorrente, que se viu com a obrigação de desincumbir-se de ônus que, em princípio, não é seu. Nessa perspectiva, assiste razão à recorrente quando afirma que caberia à recorrida, pretendendo a repetição do indébito, o ônus probatório de juntar as faturas do período devidamente quitadas, comprovando a existência de pagamento indevido e, assim, demonstrando o fato constitutivo de seu direito. Desse modo, à concessionária, ré na presente demanda, ora recorrente, apenas competia constituir, a teor do disposto no art. 333 do CPC, provas dos fatos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito reclamado." (REsp 510114 AL, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 23/10/2007, DJ 23/11/2007, p. 452)

"O presente Recurso Especial cinge-se ao debate acerca da legitimidade do Ministério Público para postular em Juízo interesses e direitos de consumidores que teriam sido lesados pela Recorrida, Sociedade de Capitalização, pois esta não mantinha, como legalmente exigível, cadastro atualizado com endereços dos subscritores de títulos de capitalização (Tele Sena), com isso deixando de notificar aqueles que fossem contemplados em sorteio e entregar, como de rigor, as premiações a que tinham direito.

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[...] O CDC aplica-se aos contratos de seguro (art. 3º, § 2º), bem como aos planos de capitalização, atividade financeira a eles equiparada para fins de controle e fiscalização (art. 3º, §§ 1° e 2, do Decreto-Lei 261, de 28 de fevereiro de 1967)." (REsp 347752 SP, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/05/2007, DJe 04/11/2009)

"[...] o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) é inaplicável aos contratos de crédito educativo (regidos pela Lei n. 8.436/92)." (REsp 539381 RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/02/2007, DJ 26/02/2007, p. 570)

"'(...) no que diz com a questão de fundo, melhor sorte não socorre à recorrente, por ausência de violação ao art. 2º do CDC, eis que não há relação de consumo entre empresa de transporte de pessoas e carga e concessionária de rodovia na cobrança de pedágio. [...] adotando o atual entendimento da 2ª Seção [...] no presente caso, aplicando a teoria finalista, não há como visualizar relação de consumo no quadro-fático apresentado. Em sede doutrinária, analisando tema, já tive oportunidade de manifestar minha posição pessoal no sentido da teoria da finalista (Responsabilidade civil no Código do Consumidor e a defesa do Fornecedor/ Paulo de Tarso Vieira Sanseverino - São Paulo: Saraiva, 2002, fls. 204/207). Efetivamente, o conceito básico de consumidor fixado pelo art. 2º do CDC traz como nota característica o enquadramento fático do hipossuficiente ou vulnerável da relação como destinatário final de um produto ou serviço. Nitidamente o legislador brasileiro optou por um conceito subjetivo polarizado pela finalidade almejada pelo consumidor no ato do consumo (destinação final do produto ou serviço). Ou seja, a condição de destinatário final de um bem ou serviço constitui a principal limitação estabelecida pelo legislador para a fixação do conceito de consumidor e, consequentemente, para a própria incidência do CDC como lei especial. Há, portanto, sempre, a necessidade de se estabelecer o alcance dessa expressão, que constitui o elemento teleológico dessa definição. Destinatário final, pessoa a quem se destina o bem ou serviço para consumo. A empresa de transporte de pessoas ou cargas no pagamento do pedágio cobrado pela empresa concessionária de rodovias está a consumir o serviço prestado como destinatária final? Penso que não, pois não é a ela a quem se destinou o serviço prestado pela concessionária, mas aos seus passageiros. A finalidade da lei especial é de dar proteção ao vulnerável ou hipossuficiente, consoante orientam os princípios básicos elencados nos arts. 4º e 6º do CDC, o que impede, nesse caso, a incidência do suporte fático previsto no artigo 2º do CDC. Com razão o acórdão recorrido ao afirmar que 'as empresas de ônibus, com relação às concessionárias que cobram pedágio em suas rodovias, não são destinatárias final, pois utilizam as rodovias como meios necessários ao desempenho de sua atividade comercial' (destaquei). Portanto, tendo como norte a teoria subjetiva ou finalista adotada pela 2ª Seção deste Superior Tribunal de Justiça, não há como visualizar relação de consumo na hipótese fática trazida pelo recorrente, visto que, teleologicamente, ela não se enquadra nas condições de vulnerabilidade e hipossuficiência exigidas pelo CDC (arts. 4 e 6), para o reconhecimento de destinatária final do serviço prestado. Assim, o serviço que a recorrente alega consumir não é voltado para ela, mas para seus clientes, o que a descaracteriza como destinatária final, não havendo, assim, relação de consumo.'" (EDcl no REsp 1196541 RJ, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/03/2011, DJe 15/03/2011)

"O CDC não se aplica à regulação de contratos de serviços advocatícios." (REsp

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1155200 DF, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/02/2011, DJe 02/03/2011)

"[...] AÇÃO REGRESSIVA DA SEGURADORA CONTRA O CAUSADOR DO DANO - TRANSPORTE MARÍTIMO [...] I. A relação entre a segurada e a transportadora é de consumo. Assim, incide o Código de Defesa do Consumidor na relação entre a seguradora - que se sub-rogou nos direitos da segurada - e a transportadora, aplicando-se o prazo prescricional do artigo 27 do Código de Defesa do Consumidor." (AgRg no REsp 1202756 RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 17/02/2011)

"A empresa do ramo de construção civil que capta recursos do Sistema Financeiro da Habitação para fomentar a sua atividade comercial não pode ser considerada consumidora para efeito da aplicação das regras protetivas da Lei nº 8.078/90." (REsp 917463 RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/12/2010, DJe 16/02/2011)

" Em se tratando de contrato de aquisição de equipamento médico, não se aplica o CDC, sendo válida a cláusula que estipula a eleição de foro." (AgRg no Ag 1303218 MS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 24/11/2010)

"Tratando-se de grande produtor rural e o contrato referindo-se, na sua origem, à compra de insumos agrícolas, não se aplica o Código de Defesa do Consumidor, pois não se trata de destinatário final, conforme bem estabelece o art. 2º do CDC [...]'." (REsp 914384 MT, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/09/2010, DJe 01/10/2010)

"A questão posta a exame cinge-se em saber se a ora recorrente estaria autorizada a praticar 'taxa de desconto' superior a 1% ao mês nas operações de antecipação de pagamento dos valores das transações realizadas com cartões de crédito pelo estabelecimento recorrido. [...] conforme entendimento firmado pela Segunda Seção desta Corte, o critério a ser adotado para determinação da relação de consumo é o finalista. Desse modo, para caracterizar-se como consumidora, a parte deve ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido. Verifica-se, pois, que no presente caso não se configura essa hipótese, uma vez que o contrato firmado pelas partes constitui um instrumento para a facilitação das atividades comerciais do estabelecimento recorrido. [...] deve ser afastada a aplicação da legislação consumerista ao contrato, porquanto o posicionamento diverge da jurisprudência da Segunda Seção deste Tribunal." (REsp 910799 RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 12/11/2010)

"Aos contratos de plano de saúde, conforme o disposto no art. 35-G da Lei 9.656/98, aplicam-se as diretrizes consignadas no CDC, uma vez que a relação em exame é de consumo, porquanto visa a tutela de interesses individuais homogêneos de uma coletividade." (REsp 995995 DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/08/2010, DJe 16/11/2010)

"Os autos dão conta tratar-se de compra e venda de sementes de milho por produtor rural, destinadas ao plantio em sua propriedade para posterior colheita e

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comercialização, as quais não foram adquiridas para o próprio consumo. II - O entendimento da egrégia Segunda Seção é no sentido de que não se configura relação de consumo nas hipóteses em que o produto ou o serviço são alocados na prática de outra atividade produtiva." (REsp 1132642 PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 18/11/2010)

"Trata-se de contrato de seguro de reembolso de despesas de assistência médica e/ou hospitalar, firmado entre duas empresas. II - A figura do hipossuficiente, que o Código de Defesa do Consumidor procura proteger, não cabe para esse tipo de relação comercial firmado entre empresas, mesmo que uma delas seja maior do que a outra e é de se supor que o contrato tenha sido analisado pelos advogados de ambas as partes. III - Embora a recorrente tenha contratado um seguro de saúde de reembolso de despesas médico-hospitalares, para beneficiar seus empregados, dentro do pacote de retribuição e de benefícios que oferta a eles, a relação da contratante com a seguradora recorrida é comercial." (REsp 1102848 SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2010, DJe 25/10/2010)

"A Segunda Seção do STJ [...] optou pela concepção subjetiva ou finalista de consumidor. 2. Todavia, deve-se abrandar a teoria finalista, admitindo a aplicação das normas do CDC a determinados consumidores profissionais, desde que seja demonstrada a vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica. 3. Nos presentes autos, o que se verifica é o conflito entre uma empresa fabricante de máquinas e fornecedora de softwares, suprimentos, peças e acessórios para a atividade confeccionista e uma pessoa física que adquire uma máquina de bordar em prol da sua sobrevivência e de sua família, ficando evidenciada a sua vulnerabilidade econômica." (REsp 1010834 GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2010, DJe 13/10/2010)

"[...] a relação sob comento caracteriza-se como de consumo, reputando-se objetiva a responsabilidade pelos danos causados pela ora recorrente, haja vista ser responsável pelo vazamento do produto no mercado de consumo: 'A relação entre as partes se rege pelo direito consumerista. Isso porque, não obstante a introdução das pílulas de farinha no mercado não se tenha dado por livre e espontânea vontade, o produto foi comercializado. Por isso, a responsabilidade da Schering pelos danos causados é objetiva, ou seja, não depende de culpa (CDC, art. 12). Ainda que se tratasse de caso de responsabilidade subjetiva, ainda assim seria a Schering responsável, pois houve culpa in vigilando e in eligendo. Não tomou a empresa as medidas cabíveis para que os placebos ficassem a salvo de outras destinações que não a incineração. Suas ações e omissões deram ensejo a que outros (...) as desviassem. Assim sendo, não há por que, como pretendia a ré, responsabilizar exclusivamente o farmacêutico que forneceu as cartelas à autora, pois entre a sua conduta (negligência no armazenamento e desfazimento do produto viciado) e o dano (gravidez indesejada) há nexo de causalidade. Nada alteraria semelhante estado de coisas; nem sequer a comprovação de que o farmacêutico adquiriu as mercadorias de maneira escusa, em descumprimento de deveres profissionais.' A alegada culpa exclusiva do farmacêutico na comercialização dos placebos parte de premissa fática inadmissível e que, de qualquer modo, não teria o alcance desejado no sentido de excluir totalmente a responsabilidade do fornecedor. Deve prevalecer o entendimento da Corte a quo, no sentido de responsabilizar

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objetivamente a empresa Schering." (AgRg no Ag 1157605 SP, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2010, DJe 16/08/2010)

"[...] a atividade de ensino leva ao enquadramento da Instituição de Ensino e do seu estudante nos conceitos jurídicos de fornecedor e consumidor, nos precisos termos do art. 2º, do Código de Defesa do Consumidor, que, com efeito, considera fornecedor todos que 'desenvolvem atividade de (...) prestação de serviços', entre as quais se inclui a de prestação de serviços de ensino, ante a abrangência da qualificação de serviço, constante do § 3º do mesmo Código, como 'qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração'". (REsp 876448 RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 21/09/2010)

"[...] a autora, ora recorrida, estudante de direito e administradora de restaurante, moveu ação de reparação de danos contra o hospital, com fundamento nos arts. 20 e 14 do Código de Defesa do Consumidor (vício do serviço e fato do serviço), contra o Hospital Barra D'Or alegando que no dia 16.1.2001, 'confiante na reputação do réu, que se apresenta como um 'centro de excelência nacional nas áreas de cirurgia cardíaca, neurologia e emergência' [...], foi atendida na Unidade de Emergência do aludido hospital, com quadro de febre, cefaléia frontal e dor torácica forte, relacionada com movimentos de inspiração profunda, foi nele internada com forte cefaléia e que, após avaliação médica, realizada pela médica [...], extraídas radiografias, dispensando laudo radiológico, em menos de duas horas foi liberada com diagnóstico de simples resfriado mediante receita de medicação analgésica, mas que, 'sem embargo, o estado de saúde da Autora piorou sensível e, rapidamente, sendo necessária sua internação, dias depois, às pressas, no Hospital Rio Mar (...), onde, após os exames e análises adequados, foi constatado que a paciente apresentava nada menos do que pneumonia dupla' [...], o que 'podia ser facilmente constatado pelo seu próprio laudo radiológico, não fosse inexplicavelmente prescindido na formulação do diagnóstico', sendo que, 'houvesse uma intervenção adequada (...), seu estado clínico - já grave - não teria alcançado desdobramentos ainda maiores', com a autora, 'pessoa jovem, com excelente histórico clínico, foi compelida a permanecer internada por sete dias, com posterior fisioterapia por alguns meses [...], correndo sério risco de vida e encarando, inclusive, a possibilidade de vir a perder um de seus pulmões' e donde ter tido, ainda, 'de arcar com todas as despesas médicas decorrentes do evento, além de se ver obrigada a paralisar suas atividades habituais, dentre elas o estudo, o estágio forense e a administração do restaurante [...], mesmo após o período de internação, vez que o risco de perder um dos pulmões permanecia' [...] No que concerne à aplicação do Código de Defesa do Consumidor a entidades e prestadores de serviços de assistência médica e hospitalar, não há que se falar em inaplicabilidade do Código consumerista, eis que o referido Código, em seu artigo 2º define o fornecedor, para fins do CDC, como toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. Em seu § 3º, o aludido artigo qualifica como serviço qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. Assim, forçoso reconhecer que, ao oferecer no mercado de consumo serviços de assistência médica e hospitalar mediante remuneração, a recorrente se sujeita às disposições do CDC.'" (REsp 696284 RJ, Rel. Ministro SIDNEI

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BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/12/2009, DJe 18/12/2009)

"[...] Ação cominatória cumulada com pedido de compensação por danos morais. Plano de saúde firmado em 1992. Recusa de cobertura de gastroplastia redutora, conhecida como 'cirurgia de redução de estômago', sob alegação de ausência de cobertura contratual. Operação recomendada como tratamento médico para gravíssimo estado de saúde e não com intuito estético. Técnica operatória que passou a ser reconhecida nos meios médicos brasileiros em data posterior à realização do contrato. Acórdão que julgou improcedentes os pedidos com base na necessidade de manutenção da equivalência das prestações contratuais. Extensão da cláusula genérica relativa à cobertura de 'cirurgias gastroenterológicas' para a presente hipótese. - O CDC é aplicável à controvérsia, ao contrário do quanto afirmado pelo acórdão." (REsp 1106789 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/10/2009, DJe 18/11/2009)

"[...] incidem as normas do CDC à relação jurídica estabelecida entre as partes, nos termos dos arts. 2º e 3º, § 2º, do CDC. Alega a recorrente que não é parte legítima para figurar no polo passivo da presente ação de compensação por danos morais, porque (i) não administra cartões de crédito; (ii) não é parte no contrato firmado entre as partes; e (iii) não procedeu ao bloqueio do cartão. Assim como ocorre com o fornecimento de produtos, os fornecedores de serviços podem se organizar em uma verdadeira cadeia de fornecimento. São notórias as cadeias de distribuição de produtos, onde há fabricantes, distribuidores e varejistas, que, atuando de forma organizada, concebem, produzem e comercializam um determinado bem da vida. Nada exclui a possibilidade de o fornecimento de serviços dar-se de maneira semelhante, ou seja, com a adoção de modernos meios de gestão empresarial, que permitam repartição de tarefas e a adoção de diversos outros modos de associação, onde, através de esforços conjugados, fornecedores coloquem serviços à disposição de consumidores. Nesse sentido, é certo que a relação jurídica de consumo se estabelece entre dois polos distintos. De um lado, estão os consumidores, ou pessoas a eles equiparadas; no outro polo podem figurar um único fornecedor ou até mesmo uma multiplicidade de fornecedores que, por qualquer forma de organização empresarial, integrem determinada cadeia de prestação de serviços ou de produção. Na hipótese concreta, há uma verdadeira cadeia de fornecimento de serviços. Há clara colaboração entre a instituição financeira, a administradora do cartão de crédito e a 'bandeira' Visa, que fornecem serviços conjuntamente e de forma coordenada. Independente de manter relação contratual com o autor, não administrar cartões de crédito e não proceder ao bloqueio do cartão, as 'bandeiras', de que são exemplos Visa, Mastercard e American Express, concedem o uso de sua marca para a efetivação de serviços, em razão da credibilidade no mercado em que atuam, o que atrai consumidores e gera lucro. Por onde quer que se veja a questão, deve-se concluir que há estreita cooperação entre a instituição financeira, a administradora do cartão de crédito e a 'bandeira', pois só assim a prestação do serviço se torna viável." (REsp 1029454 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/10/2009, DJe 19/10/2009)

"Consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto como destinatário final econômico, usufruindo do produto ou do serviço em beneficio próprio. - Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de caminhão zero quilômetro, que assevera conter defeito, também poderá ser considerado consumidor, quando a vulnerabilidade estiver caracterizada por alguma hipossuficiência quer fática, técnica ou

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econômica." (REsp 1080719 MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/02/2009, DJe 17/08/2009)

"O consumidor pode propor a ação no foro do seu domicílio; é de consumo a relação entre instituição financeira e correntista." (REsp 851406 AL, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2008, DJe 05/11/2008)

"A cláusula de eleição de foro é válida quando - ajustada entre pessoas jurídicas - não resultar de uma relação de consumo. [...] No mérito, cinge-se a controvérsia à análise acerca da validade de cláusula de eleição de foro em contrato de concessão comercial firmado entre montadora de veículos e concessionária. O fundamento sempre levantado para o pleito de afastamento da cláusula é o de que esta viria, apenas, em benefício da parte economicamente mais forte. Há jurisprudência firmada, no STJ, especificamente sobre o tipo de relação jurídica estabelecida entre montadoras e concessionárias. No âmbito específico do contrato aqui relacionado, a jurisprudência tem sido mais rigorosa com a análise da aventada hipossuficiência, conforme ressaltou o i. Relator, entendendo que não há possibilidade de afastamento da cláusula eletiva apenas porque a montadora é empresa de maior porte do que a concessionária; desse fato não decorre, necessariamente, a constatação de uma dificuldade anormal para o devido acesso ao judiciário. Nesse sentido, além dos precedentes citados pelo i. Relator, há, de minha relatoria, o Ed no Ed no Ag nº 730.261/RS, citado como paradigma no recurso especial, do qual constou na ementa que 'O fato de a montadora de veículos ser empresa de maior porte do que a concessionária e o contrato ser de adesão não outorga a esta, automaticamente, a qualidade de hipossuficiente, necessária à declaração de nulidade da cláusula de eleição de foro'. No voto, ressaltei também que a hipossuficiência é 'conceito não somente fático, mas igualmente jurídico e, nesse aspecto, passível de análise em recurso especial'. Na presente hipótese, e ao contrário do que alega a recorrente em suas contra-razões de recurso especial, verifica-se não ser aplicável o CDC à lide, seja em face do entendimento mais restritivo que vem sendo adotado pela 2ª Seção acerca do que seria 'destinação final do bem ou serviço' por parte do consumidor - entendimento a respeito do qual continuo guardando reservas - seja porque o contrato em questão foi firmado em 1.970, ou seja, muito antes da vigência do próprio CDC." (REsp 972879 RJ, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJe 09/04/2008)

"Nem sempre o proprietário do terreno incorporado participa ativamente da incorporação, como incorporador. Este, não raro, firma compromisso de compra e venda com o proprietário do imóvel, assumindo a obrigação de efetuar o pagamento do preço, no todo ou em parte, com unidades do empreendimento, modalidade que encontra previsão no art. 39 da Lei nº 4.591/64 e que é denominada de 'permuta no local'. - Nessa circunstância, o proprietário do terreno assumirá o status jurídico de mero condômino, em igualdade de condições com qualquer outro adquirente de unidades da incorporação. A figura do proprietário do terreno se equipara à do consumidor, nos termos do art. 2º do CDC, tendo o incorporador como fornecedor. O dono do imóvel só difere dos demais adquirentes porque paga sua unidade autônoma com o próprio terreno no qual foi erguido o empreendimento, mas tal circunstância não tem o condão de desvirtuar a relação de consumo. - A natureza da relação entre o proprietário do terreno e os demais adquirentes, contudo, não é de consumo, mas civil, tanto na conclusão regular do empreendimento - quando serão todos condôminos - quanto na rescisão do

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contrato de alienação do terreno - hipótese em que surgirá para o seu proprietário uma obrigação de reparação civil, visando a evitar o seu enriquecimento sem causa." (REsp 686198 RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Rel. p/ Acórdão Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/10/2007, DJ 01/02/2008, p. 1)

"Bancário. contrato de financiamento com alienação fiduciária em garantia. cláusulas abusivas. cdc. aplicabilidade. [...] Aplica-se aos contratos bancários as disposição do CDC." (REsp 894385 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2007, DJ 16/04/2007, p. 199)

"A expressão destinatário final, de que trata o art. 2º, caput, do Código de Defesa do Consumidor abrange quem adquire mercadorias para fins não econômicos, e também aqueles que, destinando-os a fins econômicos, enfrentam o mercado de consumo em condições de vulnerabilidade; espécie em que caminhoneiro reclama a proteção do Código de Defesa do Consumidor porque o veículo adquirido, utilizado para prestar serviços que lhe possibilitariam sua mantença e a da família, apresentou defeitos de fabricação." (REsp 716877 SP, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/03/2007, DJ 23/04/2007, p. 257)

"No contrato de franquia, são múltiplas as possibilidades negociais e dentro de cada espécie estão, por sua vez, embutidas diversas modalidades obrigacionais. Tem disciplina própria no direito positivo a Lei nº 8.955/94. A definição legal é a de tratar-se de um 'sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca e patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício'. É fácil perceber que a própria lei embute na chamada franquia empresarial várias modalidades obrigacionais, mencionando outros contratos que estão enlaçados com o de franquia, assim, o de uso de marca e patente, o de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços, o de uso de tecnologia de implantação e administração de negócios. É um dos contratos tidos como complexos, porque prevê uma série de relações jurídicas entre o franqueador e o franqueado. E, ainda, diversos são os tipos de franquia, podendo ser de serviços, de produção, de distribuição e de indústria. Pelo menos na franquia de serviços existe a prestação de assistência técnica do franqueador ao franqueado, sem mencionar que nesses contratos há uma enorme variedade de exigências de qualidade e apresentação, como, por exemplo, as relativas ao tipo de arquitetura que deve ser utilizada, ao de mobiliário, ao de embalagem. Inclua-se, ainda, a interferência direta do franqueador em matéria de engineering, que planeja e orienta a montagem da empresa franqueada, como mostra Arnoldo Wald (Obrigações e Contratos, Saraiva, 16ª ed., revista e atualizada por Semy Glanz, 2004, pág. 686). Como ensina Waldirio Bulgarelli, trata-se de 'figura contratual atípica, decorrente de novas técnicas negociais, no campo da distribuição e venda de bens e serviços'. É, para o autor, 'operação pela qual um comerciante, titular de uma marca comum, cede seu uso, num setor geográfico definido, a outro comerciante', sendo certo que o beneficiário, isto é, o franqueado, 'fica preso à orientação e às imposições do cedente, geralmente justificadas também ingenuamente pela idéia da transferência de know how' (Contratos Mercantis, Atlas, 13ª ed., 2000, pág. 529). Anote-se que a lei especial de regência estabelece que para a formação do contrato de

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franquia, o franqueador 'deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma Circular de Oferta de Franquia, por escrito e em linguagem clara e acessível', especificando quais as informações que deve conter tanto com relação ao franqueador como ao franqueado, incluído o fornecimento do contrato-padrão de franquia adotado pelo franqueador, 'com texto completo, inclusive dos respectivos anexos e prazo de validade' (art. 3º), sendo que deverá ser entregue ao candidato 'pelo menos 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ligada a este' (art. 4º, caput). Se não for cumprida exigência legal, 'o franqueado poderá argüir a anulabilidade do contrato e exigir a devolução de todas as quantias que já houver pago ao franqueador ou a terceiros por ele indicados, a título de taxa de filiação e royalties, devidamente corrigidas, pela variação da remuneração básica dos depósitos de poupança e mais perdas e danos' (art. 4º, parágrafo único), aplicando-se igual sanção no caso do franqueador veicular 'informações falsas na sua Circular de Oferta de Franquia, sem prejuízo das sanções penais cabíveis' (art. 7º). A existência de contrato-padrão, ou seja, tecnicamente, contrato de adesão, pode induzir uma apressada conclusão para considerar o contrato de franquia subordinado ao Código de Defesa do Consumidor. O que se diz nessa direção é que esse contrato pode conter cláusulas abusivas o que daria ensejo à aplicação do art. 51 do Código de Defesa do Consumidor. Todavia, não creio que isso seja suficiente. Não se deve esquecer que o capítulo sobre a Proteção Contratual no Código de Defesa do Consumidor começa por estabelecer que os 'contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance' (art. 46). Assim, o que se deve identificar em primeiro plano é se há relação de consumo entre o franqueador e o franqueado. Pode-se equiparar o franqueado ao consumidor? Mesmo na perspectiva dita 'maximalista', ou seja, aquela que adota um conceito mais ampliado para fazer do Código de Defesa do Consumidor um código aplicável não apenas ao consumidor não-profissional, atingindo um número cada vez maior das relações de mercado, não creio que se possa responder positivamente. Vejamos. Primeiro, não me parece que o franqueado tenha condições técnicas de se enquadrar como destinatário final, nos termos do art. 2º do Código de Defesa do Consumidor. Adotado o conceito de destinatário final como aquele que retira o bem do mercado, encerrando o circuito produtivo, englobado ainda aquele que o utiliza para seu trabalho profissional, no contexto de uma interpretação dita 'finalista extensiva', não se pode afirmar que o franqueado seja o destinatário final da franquia. É que, realmente, o objeto do contrato é exatamente a passagem da franquia do titular para o mercado de consumo, utilizando a rede de franqueados, que, de fato, são substitutos daquele junto ao mercado, sob quaisquer das suas modalidades. Poder-se-ia cogitar de separar no contrato de franquia algumas modalidades obrigacionais que dariam azo a que se introduzisse a figura do consumidor à luz do art. 2º do Código de Defesa do Consumidor, como, por exemplo, no caso da franquia de serviços de assistência técnica do franqueador ao franqueado. Mas não creio que se possa chegar a tanto pela natureza do próprio contrato de franquia, que põe o uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição e de tecnologia ao alcance do franqueado com vistas ao mercado consumidor, embora deva ser considerado que embaixo outros contratos possam existir como o de locação de imóvel e de cessão de direitos. No contrato de franquia, dá-se uma transferência do direito de uso do sistema inerente à franquia conforme o tipo de franquia, sendo o franqueado claramente um elo na cadeia de consumo entre o franqueador e o consumidor. A relação entre eles não é de consumo. Esta Corte, Relator

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o Ministro Franciulli Netto, assinalou que o contrato de franquia 'não se confunde com nenhum outro contrato, porquanto possui delineamentos próprios que lhe concederam autonomia. Ainda que híbrido, não pode ser configurado como a fusão de vários contratos específicos'. E mais: 'Por ser um contrato autônomo e complexo, não há falar tão-somente na cessão de marca ou da prestação de serviços, de forma isolada. Ocorre, em verdade, um conjunto de atividades abarcadas pelo contrato de franquia, sem que se possa conceber a preponderância de uma atividade em detrimento de outra. Permitir a primazia da cessão de marca em face da prestação de serviço, data maxima venia, significa transformar o contrato de franquia em contrato de locação. Seguindo esse raciocínio, conceder preeminência à prestação de serviços em face da cessão de marca importa em transfigurar o contrato de franquia em contrato de prestação de serviços' [...]. Segundo, não enxergo fundamento suficiente para pôr o franqueado na cobertura do art. 29 do Código de Defesa do Consumidor. Embora o pressuposto da equiparação seja a mera exposição às práticas comerciais previstas, o contrato de franquia obedece ao disposto em legislação especial que regula estritamente a formação do contrato e regula as sanções possíveis. Em tal cenário, o que se deve aplicar subsidiariamente não é o Código de Defesa do Consumidor que também é lei especial sobre relações de consumo, mas, sim, o Código Civil que é a legislação matriz da disciplina contratual. Transplantar para o Código de Defesa do Consumidor um contrato regulado por lei especial e que contém regras jurídicas próprias sobre a formação do contrato, com sanções específicas, não me parece da melhor técnica. Por outro lado, valeria analisar a perspectiva da aplicação do art. 29 sob o ângulo da vulnerabilidade do franqueado diante do franqueador. É que a jurisprudência pode, em determinado momento, relevar esse aspecto, entendendo ser necessário proteger o franqueado da prática abusiva, melhor dizendo, do abuso do poder econômico, como foi o caso, por exemplo, da cobertura do comerciante mais fraco em contrato de distribuição de bebidas. Tome-se o acórdão desta Terceira Turma, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, em que se afirmou que a 'relação jurídica qualificada por ser de 'consumo' não se caracteriza pela presença de pessoa física ou jurídica em seus pólos, mas pela presença de uma parte vulnerável de um lado (consumidor), e de um fornecedor, de outro', tudo com os olhos postos na necessidade de manter o equilíbrio contratual, destacando, porém, que a 'jurisprudência deste STJ também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor do critério subjetivo do conceito de consumidor, para admitir a aplicabilidade do CDC nas relações entre fornecedores e consumidores-empresários em que fique evidenciada a relação de consumo' [...]. Todavia, não creio que seja possível aplicar o precedente no que diz com o contrato de franquia. É que a fragilidade não existe quando se sabe que o franqueador tem obrigações definidas na lei para a concessão da franquia, com indicação precisa das obrigações que assume e que o franqueado deve assumir. Ademais, o franqueado dispõe, por expresso comando legal, da Circular de Oferta de Franquia, a ser oferecida em linguagem clara e acessível, indicando, dentre outras condições, o total do investimento inicial, o valor estimado das instalações, equipamentos e do estoque inicial e suas condições de pagamento, informações sobre os pagamentos ao franqueador ou a terceiros, a remuneração pelo uso do sistema, da marca ou troca de serviços efetivamente prestados pelo franqueador ao franqueado, aluguel de equipamento ou ponto comercial, além do modelo de contrato-padrão, com texto completo. Isso, na minha compreensão, enquadrando-se todos os contratos no regime da boa-fé, conduz a comportamento que não se compadece com posterior imputação da existência de cláusulas abusivas. Se não houvesse lei com esse regramento tão minucioso, claro, capaz de levar as partes contratantes a saber com antecedência o que se vai contratar e em que condições seria possível até imaginar que o franqueado teria

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condições de invocar que foi atingido por prática abusiva prevista no Código de Defesa do Consumidor. Veja-se que Cláudia Lima Marques, essa arquiteta desbravadora da proteção do consumidor no Brasil, mostra que a idéia básica do art. 29 'é a imposição de um patamar mínimo de lealdade e boa-fé objetiva' (Cláudia Lima Marques, Antonio Hermann V. Benjamin e Bruno Miragem, Código de Defesa do Consumidor Comentado, RT, 2ª ed., 2006, pág. 452). A boa-fé opera na reciprocidade, sendo claro que aquele que contrata sabendo com antecedência aquilo que contrata, não sendo pessoa fora do mercado, hipossuficiente, ou ignorante da prática comercial da área que vai contratar, subordinado a uma lei especial que define a formação do contrato e as condições prévias da contratação, não pode invocar a proteção do Código de Defesa do Consumidor. Não se trata nem de relação de consumo, nem de consumidor, nem, no meu entender, de equiparação a consumidor. E, o que me parece relevante, não há falar em tal situação na existência de prejuízo indireto ao consumidor. Não é, portanto, caso de aplicação do Código de Defesa do Consumidor." (REsp 687322 RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2006, DJ 09/10/2006, p. 287)

"Aplica-se o CDC aos negócios jurídicos realizados entre as empresas administradoras de consórcios e seus consumidores-consorciados." (REsp 541184 PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/04/2006, DJ 20/11/2006, p. 300)

"O que qualifica uma pessoa jurídica como consumidora é a aquisição ou utilização de produtos ou serviços em benefício próprio; isto é, para satisfação de suas necessidades pessoais, sem ter o interesse de repassá-los a terceiros, nem empregá-los na geração de outros bens ou serviços. - Se a pessoa jurídica contrata o seguro visando a proteção contra roubo e furto do patrimônio próprio dela e não o dos clientes que se utilizam dos seus serviços, ela é considerada consumidora nos termos do art. 2.° do CDC." (REsp 733560 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 11/04/2006, DJ 02/05/2006, p. 315)

"[...] Conceito de consumidor. Pessoa jurídica. Excepcionalidade. Não constatação. - A jurisprudência do STJ tem evoluído no sentido de somente admitir a aplicação do CDC à pessoa jurídica empresária excepcionalmente, quando evidenciada a sua vulnerabilidade no caso concreto; ou por equiparação, nas situações previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC." (AgRg no REsp 687239 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 06/04/2006, DJ 02/05/2006, p. 307)

"A atividade notarial não é regida pelo CDC. [...] A relação de consumo é estabelecida entre aqueles que, dum lado, enquadrem-se como consumidores (Art. 2º e par. único) e, do outro, como fornecedores (Art. 3º). O conceito de consumidor está no Art. 2º do CDC ('toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.'). Conforme o Art. 3º, toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira que preste serviços é fornecedor. No que importa da definição do § 2º do Art. 3º do CDC, 'serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração' (grifei), salvo as decorrentes das relações trabalhistas. Importa saber, portanto, se, no caso, há consumidor e fornecedor. Segundo a Constituição Federal, os serviços notarias são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (Art. 236). A Lei 8.935/94, cumprindo mandamento constitucional (§ 1º, do Art. 236), veio regular as atividades notariais e de registro,

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disciplinar a responsabilidade civil e criminal dos notários e oficiais, além de regular a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. Assim, os serviços notariais e de registro submetem-se a regulação própria. A responsabilidade civil por seus atos é definida em lei especial (Art. 22 da Lei 8.935/94). Além disso, as atividades notariais e de registro são regulados e fiscalizados pelo Poder Judiciário (Arts. 37 e 38 da Lei 8.935/94). Diz o Art. 3º, da Lei 8.695/94, que 'notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.'. A 'Lei dos Cartórios' qualificou o Tabelião e o Oficial de Registro como servidores públicos delegados, ou na terminologia de Celso Antônio B. de Mello: agentes públicos particulares em colaboração com o Estado. Os serviços notariais, conforme o próprio precedente do STF [...] citado pela il. Relatora, constituem serviço público típico remunerado por taxa. Nesse sentido, destaco trecho da ementa do precedente do STF, que esclarece a natureza jurídica dos Cartórios de Notas e Registros: '(...) SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. - A atividade notarial e registral, ainda que executada no âmbito de serventias extrajudiciais não oficializadas, constitui, em decorrência de sua própria natureza, função revestida de estabilidade, sujeitando-se, por isso mesmo, a um regime estrito de direito público. A possibilidade constitucional de a execução dos serviços notariais e de registro ser efetivada 'em caráter privado, por delegação do poder público' (CF, art. 236), não descaracteriza a natureza essencialmente estatal dessas atividades de índole administrativa. - As serventias extrajudiciais, instituídas pelo Poder Público para o desempenho de funções técnico-administrativas destinadas 'a garantir a publicidade, a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos' (Lei n. 8.935/94, art. 1º), constituem órgãos públicos titularizados por agentes que se qualificam, na perspectiva das relações que mantêm com o Estado, como típicos servidores públicos. Doutrina e Jurisprudência. (...)' [...]. [...] a Quarta Turma adotou o entendimento de que o CDC não se aplica aos serviços prestados por peritos judiciais, que sendo auxiliares da jurisdição, realizam serviço público próprio do Estado, não se incluindo no mercado de consumo. [...] Nesse contexto, não se pode dizer que há serviço público prestado no 'mercado de consumo', que é regido pela lei econômica da oferta e da procura e pautado pelas liberdades de concorrência e iniciativa próprias do mercado em geral. Não existe um 'mercado de consumo de serviços notários', pois, nesse campo, não há liberdade de concorrência e iniciativa. A chamada 'mão invisível' da Economia, na célebre expressão de Adam Smith, não atua nesta seara, que é cercada de restrições legais, definições de 'emolumentos' (com natureza de taxa), delimitações territoriais de atuação, fiscalizações externas etc. Propriamente, não há concorrência de mercado entre os notários, pois a Lei e o Estado (via Poder Judiciário), dirigem e fiscalizam a atividade notarial, impedindo uma livre concorrência entre os cartórios. Capacidade de atuar livremente no mercado, sem intervencionismo estatal direto, é atributo do fornecedor. Quem presta serviço público típico (remunerado por tributo), não atua no 'mercado de consumo', insere-se num 'mercado de contribuinte', com responsabilidade civil diferenciada fixada constitucionalmente (Art. 37, § 6º). Vale dizer: a prestação de serviço público típico não traduz relação de consumo, pois fornecida fora do mercado de consumo, escapando da incidência do Código de Defesa do Consumidor. Em linhas gerais, serviço públicos típicos ou próprios são aqueles remunerados por tributos, enquanto, serviços públicos atípicos ou impróprios são retribuídos por tarifa ou preço público, podendo estar sujeitos, conforme o caso, aos ditames do CDC. Do contrário, teríamos que admitir, a União respondendo por 'fato do serviço', com base no CDC, pela má prestação de serviços judiciários, legislativos ou executivos. Em suma, conclui-se que: - aquele que se utiliza de serviços notariais ou de registro não é consumidor (Art. 2º do CDC), mas sim contribuinte, pois remunera o

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serviço mediante o pagamento de tributo [...], - os Cartórios de Notas e de Registros não são fornecedores (Art. 3º do CDC), mas prestadores de serviços públicos 'de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos' mediante o pagamento de tributos. - a prestação de serviço público típico, que é remunerado por tributo, não se submete ao regime do Código de Defesa do Consumidor, pois serviço público não configura 'atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração' (Art. 2º, § 2º, do CDC). - não há 'consumidores' nem 'fornecedores' de serviços públicos típicos, porque estes não são oferecidos no 'mercado de consumo'. Os serviços públicos são prestados dentro duma sistemática apartada das leis de mercado, remunerados por tributo, e sujeitam seus prestadores a uma responsabilidade própria na forma da Constituição (Art. 37, § 6º)." (REsp 625144 SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/03/2006, DJ 29/05/2006, p. 232)

"Resta caracterizada relação de consumo se a aeronave que caiu sobre a casa das vítimas realizava serviço de transporte de malotes para um destinatário final, ainda que pessoa jurídica, uma vez que o artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor não faz tal distinção, definindo como consumidor, para os fins protetivos da lei, '... toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final'. Abrandamento do rigor técnico do critério finalista. II - Em decorrência, pela aplicação conjugada com o artigo 17 do mesmo diploma legal, cabível, por equiparação, o enquadramento do autor, atingido em terra, no conceito de consumidor. Logo, em tese, admissível a inversão do ônus da prova em seu favor." (REsp 540235 TO, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/02/2006, DJ 06/03/2006, p. 372)

"A jurisprudência do STJ tem evoluído no sentido de somente admitir a aplicação do CDC à pessoa jurídica empresária excepcionalmente, quando evidenciada a sua vulnerabilidade no caso concreto; ou por equiparação, nas situações previstas pelos arts. 17 e 29 do CDC. - Mesmo nas hipóteses de aplicação imediata do CDC, a jurisprudência do STJ entende que deve prevalecer o foro de eleição quando verificado o expressivo porte financeiro ou econômico da pessoa tida por consumidora ou do contrato celebrado entre as partes. - É lícita a cláusula de eleição de foro, seja pela ausência de vulnerabilidade, seja porque o contrato cumpre sua função social e não ofende à boa-fé objetiva das partes, nem tampouco dele resulte inviabilidade ou especial dificuldade de acesso à Justiça." (REsp 684613 SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/06/2005, DJ 01/07/2005, p. 530)

"Ação Revisional. Contratos de abertura de crédito. Cédula de crédito comercial. [...] O Código de Defesa do Consumidor se aplica às relações jurídicas travadas entre as instituições financeiras, na posição de fornecedoras de produtos e serviços, e seus clientes/correntistas, considerados como consumidores." (REsp 256691 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2005, DJ 01/07/2005, p. 508)

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

"[...] a cota de consórcio corresponde a um serviço prestado pela sociedade administradora, consubstanciado numa participação oferecida no mercado de consumo,

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visando ao acúmulo de capital e à futura contemplação com um crédito, que possibilitará a aquisição de um bem ou serviço de qualquer natureza. Também a figura do consumidor é de fácil identificação nos contratos de consórcio, seja na qualidade da pessoa física ou jurídica que adquire a cota de consórcio, postando-se como consumidor final, de acordo com o art. 2º do CDC; seja na qualidade de grupo consorciado, de consorciados clientes de uma mesma administradora ou até mesmo de uma coletividade indeterminada de possíveis consorciados, todos consumidores por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, do CDC. Patente, portanto, a relação de consumo que se estabelece nos contratos de consórcio, tendo como fornecedoras as sociedades administradoras e como consumidores os consorciados, potenciais ou efetivos, individualmente considerados ou já reunidos em grupo." (REsp 1119300 RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 27/08/2010)

"Dessume-se dos autos que a autora da ação [...] firmou contrato de prestação de serviços com um maestro russo que veio ao Brasil para reger orquestra em apresentação da companhia russa 'Ballet Kirov'. O maestro deveria trazer partituras exclusivas para as apresentações, material esse que despachou como bagagem ao embarcar. Ocorre, contudo, que teve a bagagem extraviada e, com isso, a empresa autora, promotora do evento, teve que remarcar as datas dos espetáculos e devolver o valor do ingresso aos consumidores que assim optaram. Sentindo-se prejudicada, ingressou com a presente ação de indenização por danos materiais e morais contra a companhia aérea responsável pelo extravio da bagagem. O juízo singular e o Tribunal a quo consideraram parcialmente procedente a ação, determinando o pagamento da indenização. [...] No tocante à alegada violação aos arts. 2° e 17 do CDC, tem razão o recorrente, em parte. Enquanto o art. 2° do CDC apresenta o conceito de consumidor, o art. 17 prevê uma das possibilidades de extensão desse conceito a terceiros, especificamente em casos de acidentes de consumo, ou seja, quando defeitos no produto ou no serviço, ainda que em função do fornecimento de informações insuficiente ou inadequadas, implicam riscos à segurança ou saúde do consumidor. [...] No caso dos autos, pela moldura fática apresentada no acórdão, houve inequivocamente um defeito de conformidade, ou melhor, vício do serviço que o tornou impróprio para o consumo, nos termos do art. 20 do CDC. Logo, face a ausência de previsão legal, a autora não pode ser equiparada ao consumidor, tal qual ocorreria em casos em que fosse caracterizado o fato do produto ou do serviço. [...] Em caso de defeito de conformidade ou vício do serviço, não cabe a aplicação do art. 17, CDC, pois a Lei somente equiparou as vítimas do evento ao consumidor nas hipóteses dos arts. 12 a 16 do CDC." (REsp 753512 RJ, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 16/03/2010, DJe 10/08/2010)

"O Ministério Público Estadual não detém legitimidade para propor ação civil pública visando obstar o repasse de valores pagos ao Estado de Goiás, ao argumento de que o Ente Federativo não vem aplicando o aludido dinheiro no Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores daquele Estado - IPASGO. Tal hipótese não configura direito indisponível, mas, ao contrário, disponível, porquanto requer a provocação da parte interessada. II- Os aludidos servidores públicos estaduais não são hipossuficientes, bem como não se encaixam na definição de consumidor, a teor do disposto no art. 2º, e seu parágrafo único, da Lei 8.078/90, tornando-se inaplicável, à espécie, os arts. 81 e 82, do citado diploma legal." (AgRg no REsp 298634 GO, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 18/12/2001, DJ 25/02/2002, p. 429)

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"Os bancos, como prestadores de serviços especialmente contemplados no art. 3º, § 2º, estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor. A circunstância de o usuário dispor do bem recebido através de operação bancária, transferindo-o a terceiros, em pagamento de outros bens ou serviços, não o descaracteriza como consumidor final dos serviços prestados pela instituição. [...] A confissão de dívida refere-se a operações de crédito anteriormente efetuadas entre as partes, caracterizando, dessa forma, a relação de consumo. Isso porque a entidade bancária que firma contrato de financiamento, empréstimos e operações de crédito confessadas, recebe em retribuição encargos financeiros incidentes sobre os valores negociados, prestando um serviço àqueles que os procuram, independente o fato do produto recebido - dinheiro - destinar-se a satisfazer as necessidades do consumidor, porque inerente sua condição de bem consumível. Ademais, o CDC, para os efeitos da proteção ali estabelecida, conceituou diversos tipos de consumidores que não podem ser qualificados como destinatários finais, como se infere da análise dos arts. 2º, parágrafo único, 17 e 29, o que advém da própria complexidade das matérias ali tratadas, que envolvem responsabilidade civil, publicidade e cláusulas contratuais abusivas. Consumidor, portanto, não é apenas aquele que adquire ou utiliza produtos ou serviços, mas todas as pessoas 'expostas às práticas', previstas nessa legislação específica." (REsp 190860 MG, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/11/2000, DJ 18/12/2000, p. 183)

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes." (Súmula 321, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/11/2005, DJ 05/12/2005 p. 410)

"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras." (Súmula 297, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2004, DJ 09/09/2004 p. 149)

"FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - FALTA DE PAGAMENTO - CORTE - MUNICÍPIO COMO CONSUMIDOR. [...] Partindo para a classificação dos serviços públicos, de crucial importância para o deslinde da questão posta em apreciação no presente recurso, destacam-se aqueles próprios e gerais, prestados diretamente pelo Poder Público, sem possibilidade de identificação dos destinatários, chamados de serviços UTI UNIVERSI. Esses serviços, tradicionalmente relacionados com o exercício da soberania do Estado, como os serviços de segurança pública, de relações exteriores, de saúde e outros, são financiados pelos impostos e sua execução não pode ser objeto de delegação ao particular. Diferentemente, há os serviços públicos impróprios e individuais, cujos usuários são determinados ou determináveis, os quais permitem a aferição do quantum utilizado por cada consumidor, o que ocorre com os serviços de telefone, água e energia elétrica. Tais serviços, em contraposição aos UTI UNIVERSI, são chamados de UTI SINGULI, e podem ser remunerados por meio de espécie tributária específica, qual seja, a taxa, ou por meio de tarifa ou preço público. Assim, 'somente serviços que excedam as prestações estatais genéricas - específicos -

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podem ser taxados; serviços de exclusivo interesse público devem ser remetidos ao erário público global. Serviços como os de iluminação pública de vias e logradouros e segurança pública são prestações estatais genéricas e carecem de um requisito essencial à exigência de taxas: a divisibilidade. O beneficiário deve ser determinável. Se indeterminado, e portanto indivisível, também indeterminado e amplo deve ser o universo de pessoas responsáveis por seu custeio, e para isso já existem os impostos.' ('O conceito de serviços públicos por intermédio da distinção entre taxas e tarifas', Márcio Nunes Iorio Aranha Oliveira, in Revista de Procuradores da Fazenda Nacional, nº 4, págs. 91-102). Esses serviços divisíveis, UTI SINGULI, podem ser prestados pelo próprio Estado ou por delegação, tendo-se como traço de identificação a remuneração, que poderá variar entre a taxa e a tarifa. No magistério de HELY LOPES MEIRELLES encontramos a subdivisão dessa espécie de serviço público em duas subespécies, obrigatório e facultativo. Vejamos: 'Há que se distinguir entre o serviço obrigatório e o facultativo. Naquele, a suspensão do fornecimento é ilegal, pois, se a Administração o considera essencial, impondo-o coercitivamente ao usuário (como é a ligação domiciliar à rede de esgoto e da água e a limpeza urbana), não pode suprimi-lo por falta de pagamento; neste, é legítima, porque, sendo livre sua fruição, entende-se não essencial, e, portanto, suprimível quando o usuário deixar de remunerá-lo, sendo, entretanto, indispensável o aviso prévio. Ocorre, ainda, que se o serviço é obrigatório, sua remuneração é por taxa (tributo), e não por tarifa (preço), e a falta de pagamento de tributo não autoriza outras sanções além de sua cobrança executiva com os gravames legais (correção monetária, multa, juros, despesas judiciais).' (Direito Administrativo Brasileiro, Editora Malheiros, 1997, pág. 300). Assim, se o serviço UTI SINGULI é obrigatório, será remunerado por espécie tributária específica, a taxa, cujo pagamento é compulsório, porque decorre da lei, independentemente da vontade do contribuinte. A taxa tem por escopo remunerar um serviço público específico e divisível, posto à disposição do contribuinte e prestado diretamente pelo Poder Público. Esse serviço caracteriza-se pela obrigatoriedade,- uma vez que o contribuinte não tem opção, porque, mesmo que dele não se utilize, é obrigado a remunerá-lo,- e pela continuidade, mesmo ocorrendo a inadimplência. Trava-se, então, entre o contribuinte e o Poder Público, uma relação administrativo-tributária, solucionada pelas regras do Direito Público. Por outro lado, quando o serviço UTI SINGULI é do tipo facultativo, não essencial, prestado pelo Estado via delegação, por parceria com entes da Administração descentralizada ou da iniciativa privada, sua remuneração decorre do pagamento de tarifa ou preço público, e as relações entre o Poder Público e os usuários são de Direito Privado, aplicando-se o Código de Defesa do Consumidor, ao identificarem-se os usuários como consumidores, na dicção do art. 3º do CDC." (EREsp 721119 RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 08/08/2007, DJ 10/09/2007, p. 181)

"[...] a cota de consórcio corresponde a um serviço prestado pela sociedade administradora, consubstanciado numa participação oferecida no mercado de consumo, visando ao acúmulo de capital e à futura contemplação com um crédito, que possibilitará a aquisição de um bem ou serviço de qualquer natureza. Também a figura do consumidor é de fácil identificação nos contratos de consórcio, seja na qualidade da pessoa física ou jurídica que adquire a cota de consórcio, postando-se como consumidor final, de acordo com o art. 2º do CDC; seja na qualidade de grupo consorciado, de consorciados clientes de uma mesma administradora ou até mesmo de uma coletividade indeterminada de possíveis consorciados, todos consumidores por equiparação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, do CDC. Patente, portanto, a relação de consumo que se estabelece nos contratos de consórcio, tendo como fornecedoras as sociedades

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administradoras e como consumidores os consorciados, potenciais ou efetivos, individualmente considerados ou já reunidos em grupo." (REsp 1119300 RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/04/2010, DJe 27/08/2010)

"Na espécie, também inexiste relação de consumo na relação jurídica litigiosa tratada na ação cautelar preparatória de civil pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Pará. Urge ressaltar que essa ação foi proposta, em defesa dos torcedores, tidos como consumidores, contra o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, o qual não se enquadra no conceito de fornecedor. Observem-se o art. 3º da Lei 8.078/90 (CDC) e o art. 3º da Lei 10.671/2003 (Estatuto de Defesa do Torcedor), respectivamente: 'Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.' 'Para todos os efeitos legais, equiparam-se a fornecedor, nos termos da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, a entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.' Contudo, por ser o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, nos termos do art. 52 da Lei 9.615/1998, órgão integrante da Justiça Desportiva com competência para processar e julgar as questões previstas nos Códigos da Justiça Desportiva, constata-se que ele não se enquadra nem no conceito de fornecedor previsto no art. 3º do CDC nem no conceito de fornecedor por equiparação previsto no art. 3º do Estatuto do Torcedor." (CC 40721 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/06/2004, DJ 01/07/2004, p. 167)

"Ação de revisão. Embargos à execução. Contrato de abertura de crédito. Juros. Correção monetária. Capitalização. Comissão de permanência. Multa. [...] O Código de Defesa do Consumidor, como assentado em precedentes da Corte, aplica-se em contratos da espécie sob julgamento." (REsp 271214 RS, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, Rel. p/ Acórdão Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/03/2003, DJ 04/08/2003, p. 216)

"O recurso especial foi interposto nos autos da ação de ressarcimento por danos materiais e morais movida contra o Estado do Rio de Janeiro, em razão de suposto erro médico cometido no Hospital da Polícia Militar. O acórdão recorrido manteve a decisão monocrática do Relator que reformara a decisão interlocutória para indeferir o pedido de denunciação da lide requerido pelo Estado, ora recorrente, em relação aos profissionais da equipe médica responsável pelo atendimento da paciente. Em suma, o acórdão recorrido decidiu que, em se tratando de uma relação consumerista, não seria admissível a pretendida denunciação da lide. [...] Ao contrário do que ficou assentado no aresto recorrido, a relação jurídica existente entre a paciente e o Hospital da Polícia Militar (hospital público segundo a própria contestação), não se submete ao Código de Defesa do Consumidor. A jurisprudência vem reconhecendo que as regras do CDC devem ser invocados quando o serviço é remunerado por meio de tarifa ou preço público. Por outro lado, não se considera caracterizada a relação de consumo quando a atividade é prestada diretamente pelo Estado e custeada por meio de receitas tributárias, como na hipótese dos autos. Malgrado ali seja m ressalvadas apenas as 'relações de caráter trabalhista', observa-se que a conceituação de 'serviços' exige que a atividade seja prestada 'mediante remuneração'." (REsp 1187456 RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 16/11/2010, DJe 01/12/2010)

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"O recorrido ajuizou ação de reparação por danos materiais, em face da recorrente (empresa jornalística), pois foi vítima de crime de estelionato praticado por meio de anúncio em classificados de jornal. 2. Nos contratos de compra e venda firmados entre consumidores e anunciantes em jornal, as empresas jornalísticas não se enquadram no conceito de fornecedor, nos termos do art. 3º do CDC. 3. A responsabilidade pelo dano decorrente do crime de estelionato não pode ser imputada à empresa jornalística, visto que essa não participou da elaboração do anúncio, tampouco do contrato de compra e venda do veículo. 4. O dano sofrido pelo consumidor deu-se em razão do pagamento por um veículo que não foi entregue pelo anunciante, e não pela compra de um exemplar do jornal. Ou seja: o produto oferecido no anúncio (veículo) não tem relação com o produto oferecido pela recorrente (publicação de anúncios). 5. Assim, a empresa jornalística não pode ser responsabilizada pelos produtos ou serviços oferecidos pelos seus anunciantes, sobretudo quando dos anúncios publicados não se infere qualquer ilicitude. 6. Dessarte, inexiste nexo causal entre a conduta da empresa e o dano sofrido pela vítima do estelionato." (REsp 1046241 SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/08/2010, DJe 19/08/2010)

"A recorrente mostra-se inconformada com aplicação das regras contidas no art. 81 e seguintes do CDC e que levaram o Tribunal a quo a reconhecer, na hipótese concreta, a violação de interesses individuais homogêneos. Vem sustentando, nesse sentido, que a premissa de tal raciocínio é errônea. A relação jurídica do Seguro Obrigatório de Danos Pessoais - DPVAT não se revelaria, segundo afirma, como relação de consumo, uma vez que não se está diante de contrato bilateral e porque as vítimas beneficiárias de tal seguro não o adquirem nem o utilizam, como exigido pelo art. 2o, CDC. O recorrente parte, no entanto, de premissa equivocada. Embora seu conceito esteja definido no CDC, o conjunto dos interesses individuais homogêneos não está adstrito ao universo das relações de consumo. Com efeito, o micro-sistema de tutela dos interesses transidividuais centra-se na Lei 7.347/85 que prevê a Ação Civil Pública como meio processual adequado para a satisfação de pretensões que envolvam a reparação de danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como 'a qualquer outro interesse difuso ou coletivo' (art. 1o, IV, Lei 7.347/85). Para que se possa reconhecer outros interesses difusos e coletivos tuteláveis por meio da Ação Civil Pública, o art. 21, Lei 7.347/85, manda aplicar, no que for cabível, 'os dispositivos do Título III da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor', entre os quais se incluem os art. 81 e 82, CDC. Assim, a Lei 7.347/85 se aplica a quaisquer interesses difusos e coletivos, tal como definidos nos arts 81 e 82, CDC, mesmo que tais interesses não digam respeito a relações de consumo. A interpretação sistemática do ordenamento jurídico impede que prevaleça a tese da recorrente. Se a tutela dos interesses individuais homogêneos ficasse adstrita às relações de consumo, conforme inciso II do art. 1o, Lei 7.347/85, o texto do inciso IV do mesmo artigo, que manda aplicar a Ação Civil Pública 'a qualquer outro interesse difuso ou coletivo', seria letra morta. Por isso, para que se caracterize a legitimidade ativa do Ministério Público, é absolutamente irrelevante avaliar se o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais - DPVAT é uma relação de consumo. Ainda que não haja relação de consumo, pode o Ministério Público valer-se da Ação Civil Pública para pleitear a tutela de direito difuso, coletivo ou individual homogêneo. Não se vislumbra, portanto, qualquer violação aos arts. 2o e 3o, CDC." (REsp 855165 GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/02/2008, DJe 13/03/2008)

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§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

"A questão da aplicação do CDC aos contratos financeiros suscitou algum inconformismo, a despeito da clareza com que houve o legislador na elaboração daquele diploma, especialmente na conceituação contida no artigo 3.º e seus parágrafos, de modo a evidenciar sua abrangência sobre a atividade das instituições bancárias, inseridas não apenas na definição de prestadoras de serviço, mas também na de fornecedoras de produtos financeiros. Nesta Corte está pacificado o entendimento nesse sentido." (AgRg no REsp 314229 SP, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/05/2003, DJ 30/06/2003, p. 236)

"Evidentemente, as instituições financeiras não prestam serviços aos titulares de cadernetas de poupança. Mas, salvo melhor juízo, fornecem-lhe um produto. Até na linguagem dos que atuam no setor financeiro é este o vocábulo utilizado para designar as várias operações, sejam de investimento, sejam de crédito, que os estabelecimentos bancários oferecem ao público. E o § 1o do Código de Defesa do Consumidor não destoa disso, definindo produto como qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 'O produto da empresa de banco' - no magistério de Claudia Lima Marques - 'é o dinheiro ou o crédito, bem juridicamente consumível, sendo, portanto, fornecedora; e consumidor o mutuário ou creditado' (Contratos no Código de Defesa do Consumidor, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 3a edição, 1999, p. 202). A caderneta de poupança é um produto vendido pelas instituições financeiras. Cada qual tem, no particular, um produto próprio. Há quem credite ao poupador o valor da CPMF paga no momento do depósito, se este não for sacado no prazo mínimo estipulado. Há quem ofereça juros privilegiados no cheque especial para quem mantiver na caderneta de poupança saldo igual ao do limite do crédito daquele. Há quem proporcione ao poupador descontos nas tarifas cobradas pelos serviços bancários ou mesmo isenção, dependendo do montante do saldo do depósito da caderneta de poupança. Há quem tem a garantia do Governo Federal, contra eventual liquidação extrajudicial. E há também quem sorteie prêmios entre os poupadores. Enfim, promoções que nada se diferenciam daquelas que visam a estimular a venda de produtos materiais, Nesse contexto, as instituições financeiras que aceitam depósitos em caderneta de poupança são fornecedoras de um produto, e os poupadores, consumidores dele." (REsp 160875 SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/04/2001, DJ 17/09/2001, p. 160)

"[...] a relação contratual que se estabelece entre o cliente, mutuário ou depositante, com a instituição de crédito é uma relação de consumo. [...] O banco presta serviços, entre eles o de fornecimento de crédito nas diversas modalidades de contratos bancários, e o mutuário é o destinatário final dessa prestação, salvo se os recebe para transferir a terceiros, o que não acontece na generalidade dos casos. O banco oferece produtos, como o rendimento dos depósitos feitos pelos seus clientes, e ganha com a aplicação dos recursos a ele confiados. Em razão do contrato de depósito, estabelece-se entre ambos uma relação complexa, com diversos tipos de serviços prestados ao cliente, pelos quais há interesse recíproco. Com a abertura da caderneta de poupança, portanto, o banco presta serviços e oferece produtos, em atividade bancária e tipicamente de consumo. Tanto em uma situação como em outra, na prestação de serviços bancários e na oferta de produto, há relação regulada pelo Código do Consumidor, naquilo não submetido especificamente às regras da autoridade financeira. O poupador que deseja celebrar contrato de depósito com um banco será levado a escolher entre as diversas

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opções oferecidas pelo mercado, atendendo à segurança do negócio, ao valor da remuneração, à qualidade da informação, a eventuais serviços que o estabelecimento lhe oferece em troca, etc. O produto que o banco lhe fornece é o rendimento, com alguns serviços acessórios, e tudo isso se inclui no conceito de relação de consumo, sendo o poupador um consumidor dos serviços e dos produtos que o banco oferece. O recorrente acentua o fato de que a caderneta de poupança não é um serviço remunerado pelo poupador, e sim pelo depositário, pelo que faltaria um dos elementos do art. 3o, § 2o, do CDC. Mas o rendimento pago pelo banco tem sua fonte de recursos nas aplicações feitas por ele com o numerário do poupador. Quer dizer, o banco presta o serviço de depósito e o remunera, mas ao mesmo tempo recebe o resultado das operações ativas feitas graças aos recursos obtidos com aqueles depósitos." (REsp 198807 SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 19/04/2001, DJ 20/08/2001, p. 469)

"O banco presta serviços de muitas espécies, entre eles o de emprestar dinheiro a juro mediante a celebração de contratos de mútuo, para financiamentos diversos. Nessa atividade, o banco destina recursos próprios, ou recebidos nas suas operações passivas, ao financiamento concedido ao mutuário, que é o destinatário final dessa relação e consumidor do serviço de crédito. No mútuo bancário, o oferecimento e a prestação do crédito constitui o serviço prestado pelo banco ao cliente, serviço este que pela sua própria natureza - e por expressa disposição legal - se inclui entre as relações de consumo. Se se quiser abstrair a existência do serviço - da essência da própria atividade do banco e só por si razão de seu enquadramento no CDC - resto definir o próprio crédito posto à disposição do mutuário como o produto fornecido pelo banco ao cliente, que recebe a quantia prevista no contrato unilateral, e oneroso para a satisfação dos seus interesses e, também por isso, destinatário final dessa relação. Isto é, no financiamento, o banco é prestador de serviços e fornecedor de produtos, ambas as atividades incluídas nas relações de consumo e regidas pelo CDC." (REsp 201195 SP, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 07/12/2000, DJ 07/05/2001, p. 145)

"O acórdão recorrido manifestou-se no sentido de que as normas do Código de Defesa do Consumidor não se aplicam às relações de compra e venda de objeto totalmente diferente daquele que não se reveste da natureza do comércio exercido pelo vendedor. No caso, uma agência de viagem. Assim, quem vendeu o veículo não pode ser considerado fornecedor à luz do CDC. Correto o despacho de admissibilidade que consignou relativamente ao § 1º do art. 3º, do CDC que 'A expressão 'qualquer bem' se dirige à opção do fornecedor, antes de constituir seu ramo de negócio.' E continua, 'ao desenvolver atividade totalmente alheia a seu comércio, não estará agindo como fornecedor e, via de consequência, a ele não se aplica o Código de Defesa do Consumidor' [...]" (AgRg no Ag 150829 DF, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/03/1998, DJ 11/05/1998, p. 95)

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável à relação jurídica entre a entidade de previdência privada e seus participantes." (Súmula 321, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 23/11/2005, DJ 05/12/2005 p. 410)

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"O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras." (Súmula 297, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/05/2004, DJ 09/09/2004 p. 149)

"Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória nele prevista." (Súmula 285, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/04/2004, DJ 13/05/2004 p. 201)

"[...] cinge-se a controvérsia à incidência de Contribuição Previdenciária sobre as comissões pagas aos corretores de seguro. [...] a Lei Orgânica da Seguridade Social estabeleceu o conceito de trabalhador autônomo como aquele que 'presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de emprego'. Não faz qualquer menção, portanto, à necessidade de contrato de prestação de serviços para que a pessoa seja considerada trabalhador autônomo. Oportuno salientar que, tal como disposto no art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, serviço deve ser entendido de forma ampla, ou seja: '§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista'. Pois bem. A Lei Complementar 84/1996 exige o pagamento de Contribuição Previdenciária por pessoas jurídicas, calculada sobre o total de remunerações ou retribuições por elas pagas ou creditadas a trabalhadores autônomos e demais pessoas físicas. Há previsão legal expressa quanto à incidência da exação na hipótese dos autos. Não se trata de aplicação da norma tributária por analogia, ou de exigência de tributo sem lei que o estabeleça. Além disso, e como já afirmei, nem a LC 84/1996, nem a Lei 8.112/91 exigem vínculo contratual entre as partes como requisito para a incidência da exação, mas a simples prestação de serviços. E, no caso em análise, há sim prestação de serviços do corretor às seguradoras. Explico. Na corretagem de seguros, a função do corretor é a de intermediar o contrato entre o segurado e a seguradora, contribuindo para a obtenção do resultado econômico pretendido pela empresa, ainda que o profissional não esteja vinculado laboralmente a ela. É o que prevê a lei regulamentadora da profissão de corretor de seguros (Lei 4.594/1964): 'Art. 1º - O corretor de seguros, seja pessoa física ou jurídica, é o intermediário legalmente autorizado a angariar e a promover contratos de seguros, admitidos pela legislação vigente, entre as sociedades de seguros e as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou privado.' Repita-se: o caso é de intermediação entre as partes envolvidas, ou seja, o fato de o corretor prestar serviço também ao segurado não leva à conclusão de que não tenha prestado serviço à seguradora. Tanto é assim que, justamente em virtude dessa intermediação, a pessoa jurídica remunera o corretor mediante o pagamento de uma comissão, arbitrada com base em percentagem do contrato celebrado. Nesse sentido, transcrevo passagem pertinente do parecer do Ministério Público Federal, da lavra do então Procurador da República, Gustavo Tepedino [...]: 'O simples fato dos contratos de corretagem de seguros possuírem algumas peculiaridades se comparados com os demais - como a obrigatoriedade da intermediação do corretor, a teor do disposto na Lei n.º 4.594/94, não desfigura a natureza da comissão embutida no prêmio do seguro: contra-prestação paga pela seguradora por um serviço que lhe é efetivamente prestado pelo corretor.' De fato, muito embora a pessoa física também seja beneficiada pela atuação do corretor, não há como negar a prestação de efetivos serviços à seguradora, uma vez que o preenchimento de propostas/formulários, a realização de simulações, o cálculo dos prêmios, entre outras atividades, seguem critérios estabelecidos exclusivamente pelas companhias. A propósito, é notório que os

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corretores participam de treinamentos institucionais promovidos pelas empresas, com vistas a incrementar argumentos de vendas e a atrair o maior número de consumidores para o mercado. Recebem, inclusive, premiações pelos resultados positivos de seu trabalho. Logo, não há como deixar de reconhecer que as seguradoras utilizam a prestação de serviço (intermediação) dos corretores, e dela diretamente se beneficiam, para conseguirem os seus objetivos sociais. As regras de experiência afastam o argumento das seguradoras de que os corretores atuam por conta e ordem dos segurados. Antes, ao contrário: os segurados não possuem qualquer controle ou ingerência sobre a retribuição devida aos corretores de seguros. Apenas lhes é informado o montante do prêmio a ser pago pelo eventual negócio jurídico a ser celebrado. Essa situação não se altera em razão da vedação dos arts. 17, 'b', da Lei 4.594/64, e 125, 'b', do Decreto-Lei 73/66, relativa à impossibilidade de o corretor de seguros ser empregado ou manter relação de direção com a companhia seguradora, nos seguintes termos: 'Art . 17. É vedado aos corretores e aos prepostos: (...) b) serem sócios, administradores, procuradores, despachantes ou empregados de emprêsa de seguros.' 'Art 125. É vedado aos corretores e seus prepostos: (...) b) manter relação de emprêgo ou de direção com Sociedade Seguradora.' Aqui, observo que a vedação legal não é exclusividade da categoria dos corretores de seguro, mas também é prevista, por exemplo, para os auditores independentes (Resolução BACEN 3.198/2004) e para os auditores florestais (arts. 3º, XI, e 42 da Lei 11.284/2006). O corretor, mesmo que sua atividade beneficie ambas as partes, e especialmente a seguradora, não pode ter com esta vínculo que caracterize dependência e parcialidade no que tange à compatibilização dos interesses entre os sujeitos contratantes. A disposição legal cinge-se a deixar claro que não pode haver uma posição de subordinação hierárquica entre o profissional de seguro e as companhias. Vale dizer: a inexistência de contrato entre o corretor e a seguradora não pode ter como conseqüência a não-incidência da contribuição previdenciária, pois a tributação decorre da LC 84/96, que abrangeu na hipótese de incidência da exação todo e qualquer serviço prestado, com ou sem negócio jurídico formal. Ademais, ao invés de constituir impedimento à tributação, a inexistência de vínculo é pressuposto para a existência de prestação de serviço autônomo (fato gerador da contribuição social)". (REsp 519260 RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 09/04/2008, DJe 02/02/2009)

"Cuidam os autos de ação declaratória de nulidade cumulada com repetição de indébito ajuizada [...] em face de Brasil Telecom S/A objetivando obstar a cobrança da chamada 'assinatura mensal básica' e a sua devolução em dobro. [...] O fato de existir cobrança mensal de assinatura, no serviço de telefonia, sem que chamadas sejam feitas, não constitui abuso proibido pelo Código de Defesa do Consumidor, por, primeiramente, haver amparo legal e, em segundo lugar, tratar-se de serviço que, necessariamente, é disponibilizado, de modo contínuo e ininterrupto, aos usuários." (REsp 911802 RS, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 24/10/2007, DJe 01/09/2008)

"A atividade securitária está sob a égide do sistema de defesa do consumidor nos termos do art. 3º, § 2º, da Lei nº 8.078/90." (REsp 207789 RJ, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, Rel. p/ Acórdão Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/06/2001, DJ 24/09/2001, p. 234)

"Quanto à natureza das relações bancárias com os clientes, observo que, no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, mais especificamente da Seção de Direito Privado, a

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importante questão da aplicabilidade ou não do Código de Defesa do Consumidor aos contratos bancários já foi objeto de diversos pronunciamentos, de forma pontual, em sua maioria no sentido da incidência do Código de Defesa do Consumidor, consoante se extrai dos seguintes precedentes: [...] Impende, contudo, estabelecer se o Código de Defesa do Consumidor incide sobre todas as relações e contratos pactuados entre as instituições financeiras e seus clientes, como os depósitos em caderneta de poupança, de que aqui se trata, ou se apenas na parte relativa à expedição de talonários, fornecimento de extratos, cobrança de contas, guarda de bens e outros serviços afins. É o que passo a fazer. O próprio Código de Defesa do Consumidor se ocupa em trazer as definições de consumidor, fornecedor, produto e serviço, para efeito de sua incidência nas relações consideradas como de consumo, verbis: [...] A lei é suficientemente clara ao definir o que sejam consumidores e fornecedores de produtos e serviços, enquadrando expressamente, nesses conceitos, as instituições financeiras e seus clientes. Não procede o argumento utilizado, com o fim de descaracterizar a relação de consumo, de que os depósitos em caderneta de poupança não são remunerados. Conquanto os clientes, titulares das cadernetas de poupança, não paguem diretamente às instituições financeiras pelos depósitos efetuados, o fato é que os bancos obtém a sua remuneração do próprio uso do dinheiro dos poupadores, aplicando livremente no mercado financeiro um percentual máximo determinado pelo Banco Central do Brasil, repassando apenas parte do lucro auferido aos verdadeiros donos do numerário. Nessa ciranda financeira, tenho por certo que os bancos depositários são remunerados por todos os seus serviços - muitas vezes regiamente, diga-se de passagem - inclusive pelos depósitos em cadernetas de poupança. O negócio é tão lucrativo que eles se servem, para angariar clientela, de todos os meios que têm à sua disposição, investindo pesado na propaganda e no marketing, inclusive com slogans que fazem expressa referência a seus produtos e serviços como sendo os mais vantajosos do mercado. Portanto, as relações existentes entre os clientes e a instituição financeira, nelas incluídas as cadernetas de poupança, apresentam nítidos contornos de uma relação de consumo. Não fosse o suficiente, o parágrafo 2o do art. 3o do CDC assevera textualmente que entre as atividades consideradas como serviço encontram-se as de natureza bancária, financeira e creditícia. Salta aos olhos, assim, que os serviços prestados pelos bancos a seus clientes estão abrangidos pela lei de defesa do consumidor, em especial as cadernetas de poupança e os contratos tipicamente bancários de concessão de crédito, em suas diversas formas: mútuos em geral, financiamentos rural, comercial, industrial ou para exportação, contratos de câmbio, empréstimos para capital de giro, abertura de crédito em conta corrente e abertura de crédito fixo, ou quaisquer outras modalidades do gênero. Registro que no voto-vista proferido no REsp 213.825-RS, Relator o eminente Ministro Barros Monteiro (julgado em 28.08.2000), eu já havia manifestado o meu posicionamento no sentido da aplicação do CDC em contrato de financiamento hipotecário. Ainda em respaldo desse entendimento, trago o REsp 160.861 - SP, Relator o eminente Ministro Costa Leite (DJ 03.08.98), versando sobre a mesma questão aqui debatida, no qual foi admitida a legitimidade ativa do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor para ajuizar ação civil pública visando a cobrança de diferenças de correção monetária em cadernetas de poupança, citando-se, ainda, a jurisprudência desta Corte no sentido da existência da relação de consumo. O precedente da Terceira Turma ficou assim ementado, verbis: [...] Destarte, conclui-se que a Lei nº 8.078/90, o chamado e benfazejo Código de Defesa do Consumidor, aplica-se aos contratos de depósito de caderneta de poupança, sendo possível, portanto, a defesa dos poupadores em juízo por instituições criadas com o fim específico de dar amparo jurídico e judicial aos consumidores." (REsp 106888 PR, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA,

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SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/03/2001, DJ 05/08/2002, p. 196)

"CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - AÇÃO DE REVISÃO DE CLÁUSULA CONTRATUAL - CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - CONTRATO DE ADESÃO - RELAÇÃO DE CONSUMO - ART. 3º, § 2º, DA LEI 8078/90 [...] Os bancos ou instituições financeiras, como prestadores de serviços especialmente contemplados no art. 3º, § 2º, estão submetidos às disposições do Código de Defesa do Consumidor." (CC 29088 SP, Rel. Ministro WALDEMAR ZVEITER, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/09/2000, DJ 13/11/2000, p. 130)

"O PROCON possui legitimidade para a aplicação de sanção às seguradoras privadas, em sede de reclamação movida por consumidor versando proposta de subscrição de título de capitalização, uma vez as mesmas encontram-se na posição de fornecedoras (artigo 3º, da Lei nº 8.078/90). [...]" (RMS 24711 BA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2008, DJe 19/02/2009)

"Os contratos de prestação de serviços de telefonia, por envolver relação de consumo, estão sujeitos à regra prevista no § 1º do art. 52 do Código de Defesa do Consumidor, segundo a qual é de até 2% do valor da prestação (e não de 10%) a multa de mora decorrente do inadimplemento de obrigação no seu termo." (REsp 436224 DF, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/12/2007, DJ 11/02/2008, p. 1)

"A incidência do Código de Defesa do Consumidor nos contratos de financiamento para aquisição de casa própria regidos pelas regras do SFH foi decidia pela Primeira Seção no sentido de que: (i) naqueles contratos regidos pelo FCVS, cujo saldo devedor é suportado por fundo público gerido pela CEF, sua feição publica atrairá a incidência de normas do direito administrativo pertinentes, com exclusão das normas de direito privado; (ii) Ao contrário, nos contratos sem a cobertura do FCVS, sua natureza privada atrairá a incidência das normas civilistas e do Código de Defesa do Consumidor, consoante assente no âmbito da Primeira Seção deste Sodalício. [...]" (REsp 727704 PB, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/05/2007, DJ 31/05/2007, p. 334)

"Inexiste relação de consumo entre a recorrente e a TERRACAP, porque esta não é fornecedora de produtos ou serviços nos termos do art. 3º do CDC, mas empresa pública que, na qualidade de sucessora da NOVACAP, executa as atividades imobiliárias de interesse do Distrito Federal, objeto de utilização, aquisição, administração, incorporação, oneração ou alienação de bens (Lei 5.861/72, art. 2º). 3. A alienação de bem público, quando o interesse público o justificar, deve ser precedida de licitação pública, procedimento formal obrigatório de matriz constitucional (CF/88, art. 37, XXI) e infraconstitucional (Lei 8.666/93, arts. 1º, 2º, 3º e 17), que vincula a Administração direta e indireta." (REsp 540811 DF, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/02/2006, DJ 13/03/2006, p. 190)

"Hipótese de discussão do foro competente para processar e julgar ação indenizatória proposta contra o Estado, em face de morte causada por prestação de serviços médicos em hospital público, sob a alegação de existência de relação de consumo. 2. O conceito de 'serviço' previsto na legislação consumerista exige para a sua configuração,

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necessariamente, que a atividade seja prestada mediante remuneração (art. 3º, § 2º, do CDC). 3. Portanto, no caso dos autos, não se pode falar em prestação de serviço subordinada às regras previstas no Código de Defesa do Consumidor, pois inexistente qualquer forma de remuneração direta referente ao serviço de saúde prestado pelo hospital público, o qual pode ser classificado como uma atividade geral exercida pelo Estado à coletividade em cumprimento de garantia fundamental (art. 196 da CF). 4. Referido serviço, em face das próprias características, normalmente é prestado pelo Estado de maneira universal, o que impede a sua individualização, bem como a mensuração de remuneração específica, afastando a possibilidade da incidência das regras de competência contidas na legislação específica." (REsp 493181 SP, Rel. Ministra DENISE ARRUDA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 15/12/2005, DJ 01/02/2006, p. 431)

"Em se tratando de relação jurídica entre condômino e condomínio, referente às despesas de implantação, manutenção e conservação estipuladas em assembléia, falece ao PROCON competência para apreciar a reclamação, por não se tratar de relação de consumo." (RMS 17605 GO, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/06/2010, DJe 24/06/2010)

"Os serviços e produtos oferecidos pelas instituições financeiras são considerados do gênero consumo. Logo, quando na defesa dos usuários desses produtos e serviços, lícito é ao Ministério Público requisitar, tal como ocorrido no caso concreto, documentos e dados que não se enquadram entre os protegidos pelo sigilo bancário, pois acessíveis a todos os clientes." (REsp 1094770 DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/09/2009, DJe 18/09/2009)

"ADMINISTRATIVO - FIES - INAPLICABILIDADE DO CDC [...] 1. Na relação travada com o estudante que adere ao programa do financiamento estudantil, não se identifica relação de consumo, porque o objeto do contrato é um programa de governo, em benefício do estudante, sem conotação de serviço bancário, nos termos do art. 3º, § 2º, do CDC. Assim, na linha dos precedentes da Segunda Turma do STJ afasta-se a aplicação do CDC." (REsp 1031694 RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 19/06/2009)

"Na relação travada com o estudante que adere ao programa do crédito educativo, não se identifica relação de consumo, porque o objeto do contrato é um programa de governo, em benefício do estudante, sem conotação de serviço bancário, nos termos do art. 3º, § 2º, do CDC. 2. Assim, na linha dos precedentes da Segunda Turma do STJ afasta-se a aplicação do CDC e, em conseqüência, mantém-se a multa contratual pactuada, bem como inviável a repetição em dobro de eventuais valores pagos a maior." (REsp 831837 RS, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/06/2009, DJe 17/06/2009)

"Não há dúvida de que a concessionária, in casu, enquadra-se no conceito de fornecedor, trazido pelo art. 3º do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90, grifei): [...] Ora, na hipótese, trata-se de pessoa jurídica de direito privado, BRASIL TELECOM, que desenvolve, sob concessão da União, atividade de prestação de serviço de telefonia fixa. O usuário do serviço, por outro lado, encaixa-se perfeitamente no conceito de consumidor, constante do art. 2° do mesmo diploma: 'toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final'. Dessa

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maneira, inevitável a conclusão de que o CDC incide, plenamente, nos contratos de telefonia fixa, que são, na ótica da lei, relações de consumo. Nem mesmo a recorrente - ou os eminentes Ministros que referendam a posição da empresa acerca da cobrança de pulsos - questiona essa conclusão." (REsp 984876 MG, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 17/11/2009)

"[...] descaracterizada a relação de consumo entre condômino e condomínio, não há de se entender ser o condomínio prestador de serviços a serem tutelados pelo Código de Defesa do Consumidor, pois a atividade por ele realizada frustra a definição de prestação de serviços em dois pontos, quais sejam: remuneração e fornecimento no mercado de consumo. O condomínio insere as despesas havidas sob essa rubrica no rol mensal a ser dividido entre os condôminos. Não recebe remuneração específica para tal função e não detém relação de consumo com os seus condôminos. O condomínio, ente despersonalizado, nada mais é do que o conjunto dos moradores de uma habitação coletiva - proprietários, inquilinos ou outra modalidade de ocupação - como um prédio de apartamentos, cujo destino e orientação é traçada pelos próprios moradores. O fornecimento de água é feito aos próprios moradores, tal como ocorre na habitação individual. A mediação da estrutura condominial não o torna um fornecedor dos serviços destinados às unidades que o integram. Dessarte, resta descaracterizada a relação que seria desenvolvida entre fornecedores, na análise da cobrança de taxa de esgoto pela CEDAE, ante a inexistência de prestação de qualquer serviço. A relação de consumo existente no feito é desenvolvida entre o condomínio-consumidor e concessionária pública-fornecedora, ora recorrida. O condomínio seria o destinatário final do serviço que teria sido prestado pela CEDAE e faturado em seu CGC, considerando-o como ente unitário. Diz Rizzato Nunes: 'Consumidor é a pessoa jurídica, a pessoa natural e também a pessoa jurídica. Quanto a esta última, como a norma não faz distinção, trata-se de toda e qualquer pessoa jurídica, quer seja uma microempresa, quer seja uma multinacional, pessoa jurídica, civil ou comercial, fundação, etc. A lei emprega o vergo 'adquirir', que tem de ser interpretado em seu sentido mais lato, de obter, seja a título oneroso ou gratuito. Porém, como se percebe, não se trata apenas de adquirir, mas também utilizar o produto ou o serviço, ainda quando quem o utiliza não o tenha adquirido. Isto é, a norma define como consumidor tanto quem efetivamente adquire (obtém) o produto ou o serviço como aquele que, não o tendo adquirido, utiliza-o e o consome' ('Comentários ao Código de Defesa do Consumidor', Ed. Saraiva, 2005, 2ª ed., p. 88). Dessa definição, conclui-se que a cobrança da taxa tomou como ente uno o condomínio, que seria o eventual consumidor daquele serviço cobrado, o que per se traria sua inclusão como consumidor ainda que se entendesse que serviço seria fruído por seus condôminos." (REsp 650791 RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 06/04/2006, DJ 20/04/2006, p. 139)

"As limitações da responsabilidade subjetiva fizeram com que o legislador, ao largo do século XX, mudasse o paradigma da responsabilidade civil. Passou-se a privilegiar a reparação do dano e não a imposição de sanções à conduta culposa. Com isso, inúmeras leis fizeram com que paulatinamente fossem ampliadas as hipóteses de responsabilidade sem culpa. O Código de Defesa do Consumidor é certamente um marco entre as normas que se propõem a abraçar o paradigma do ressarcimento dos danos causados. O CDC impôs ao fornecedor a responsabilidade sem culpa, com fundamento no risco e, além disso, procurou eliminar outras barreiras que historicamente impediam o acesso da vítima à reparação. Com efeito, o código consumerista, em seu art. 3º, traz o conceito de

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fornecedor, o qual abrange a prestação de serviços, e prevê a responsabilidade desse, independentemente da existência de culpa, por danos causados aos consumidores (art. 14, caput). Neste processo, há três figuras distintas: (i) o jornal, que publicou o anúncio de venda de veículo no caderno dos classificados; (ii) o anunciante, que praticou suposto crime de estelionato; (iii) a vítima desse crime, que comprou um exemplar do jornal do recorrente e entrou em contato com o anunciante, antecipando-lhe o pagamento de um veículo que não foi entregue. O acórdão recorrido, ao reconhecer a existência de relação de consumo entre o jornal (recorrente) e a vítima do estelionato (recorrido), referente à compra do veículo, considerou que o jornal figurou nessa relação como fornecedor e que a responsabilidade desse é objetiva. Confira-se: 'a divulgação das notícias por meio de jornal com a consequente venda, caracterizam plenamente a existência de uma relação de consumo, na qual a apelante, empresa jornalística, figura como fornecedora, na modalidade de prestador de produto ou serviço, enquanto que o apelado é consumidor, aplicando-se, destarte, as disposições do Código de Defesa do Consumidor [...] No presente caso a responsabilidade é objetiva uma vez que o autor apelado é o consumidor lesado, assim caracterizado porque foi prejudicado pela imperfeição dos serviços prestados pela fornecedora (Zero Hora editora Jornalística S.A.), o que imputa a essa o dever de reparar os danos (art. 14, caput, do CDC)' [...]. Todavia, no contrato de compra e venda firmado entre o anunciante e o consumidor, o jornal não se enquadra no conceito de fornecedor, nos termos do art. 3º do CDC. Isso porque o recorrente não participou da relação de consumo havida entre os contratantes. Com efeito, o dano material não foi proveniente do jornal fornecido pela recorrente, mas pela não entrega do veículo ofertado pelo anunciante. A esse respeito, esta Terceira Turma já decidiu [...] que: 'O CDC, foi concebido para regular a relação de consumo estabelecida entre aqueles que se enquadrem como consumidores (Art. 2º e par. único) e fornecedores (Art. 3º). Assim, é que o Código, especialmente nos capítulos da oferta e publicidade, impõe deveres ao fornecedor-anunciante (Art. 3º) e não aos veículos de comunicação, propaganda e anúncios. Então, os deveres impostos nos capítulos da oferta e publicidade somente atingem os veículos de propaganda, comunicação e anúncios quando estejam na condição de fornecedores.' Assim, impõe-se o afastamento da incidência das disposições do CDC à presente hipótese e, por conseguinte, da responsabilidade objetiva do jornal com base nesse Código." (REsp 1046241 SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/08/2010, DJe 19/08/2010)

"[...] a atividade de ensino leva ao enquadramento da Instituição de Ensino e do seu estudante nos conceitos jurídicos de fornecedor e consumidor, nos precisos termos do art. 2º, do Código de Defesa do Consumidor, que, com efeito, considera fornecedor todos que 'desenvolvem atividade de (...) prestação de serviços', entre as quais se inclui a de prestação de serviços de ensino, ante a abrangência da qualificação de serviço, constante do § 3º (sic) do mesmo Código, como 'qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração'". (REsp 876448 RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/06/2010, DJe 21/09/2010)

"[...] cinge-se a controvérsia acerca da obrigatoriedade da observância dos valores e percentuais mínimos, constantes das tabelas de honorários editadas pelas seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil, na hipótese de arbitramento judicial de honorários advocatícios. Primeiramente, há que se registrar que aqui não se cuida de verba honorária devida em razão da sucumbência processual, esta sim pautada pelo artigo 20, e parágrafos, do Código de Processo Civil. Trata-se, em verdade, de honorários

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decorrentes de contrato de prestação de serviços advocatícios, envolvendo o patrono da causa e seu patrocinado. Os serviços jurídicos prestados pelos causídicos aos seus representados configuram relação de consumo, especialmente enquadrados nos parâmetros do art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. Como corolário dessa condição, os honorários advocatícios pactuados no contrato da prestação dos mesmos serviços perfazem remuneração pecuniária de serviços profissionais." (REsp 799230 RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), TERCEIRA TURMA, julgado em 10/11/2009, DJe 01/12/2009)

"RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PACOTE DE VIAGEM INCLUINDO INGRESSOS PARA OS JOGOS DA COPA DO MUNDO DE FUTEBOL. MÁ PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS. LEGITIMIDADE DA AGÊNCIA QUE COMERCIALIZA O PACOTE. [...] Sustenta a recorrente violação do art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, ao argumento de ser parte ilegítima ad causam uma vez que não foi a responsável pela montagem dos pacotes de viagens, ou seja, não é 'operadora de turismo', mas apenas 'revendedora de produtos do mercado de turismo'. [...] No tocante à ilegitimidade passiva ad causam, verifica-se que a recorrente se restringe a alegar não ser responsável pela execução dos pacotes de viagens, estando sua atuação limitada à venda deste produto aos recorridos. Entretanto, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor responde pelos defeitos do serviço (art. 14) - 'o fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos - sendo assim considerada (art. 3º) 'toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços'. Verifica-se, ainda, que o acórdão recorrido encontra-se em consonância com o entendimento desta Corte no sentido de que a agência de viagem, responsável pela comercialização e agenciamento de pacotes turísticos, responde solidariamente pelos defeitos dos serviços que integram o pacote." (AgRg no REsp 850768 SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/10/2009, DJe 23/11/2009)

"[...] incidem as normas do CDC à relação jurídica estabelecida entre as partes, nos termos dos arts. 2º e 3º, § 2º, do CDC. Alega a recorrente que não é parte legítima para figurar no polo passivo da presente ação de compensação por danos morais, porque (i) não administra cartões de crédito; (ii) não é parte no contrato firmado entre as partes; e (iii) não procedeu ao bloqueio do cartão. Assim como ocorre com o fornecimento de produtos, os fornecedores de serviços podem se organizar em uma verdadeira cadeia de fornecimento. São notórias as cadeias de distribuição de produtos, onde há fabricantes, distribuidores e varejistas, que, atuando de forma organizada, concebem, produzem e comercializam um determinado bem da vida. Nada exclui a possibilidade de o fornecimento de serviços dar-se de maneira semelhante, ou seja, com a adoção de modernos meios de gestão empresarial, que permitam repartição de tarefas e a adoção de diversos outros modos de associação, onde, através de esforços conjugados, fornecedores coloquem serviços à disposição de consumidores. Nesse sentido, é certo que a relação jurídica de consumo se estabelece entre dois polos distintos. De um lado, estão os consumidores, ou pessoas a eles equiparadas; no outro polo podem figurar um único fornecedor ou até mesmo uma multiplicidade de fornecedores que, por qualquer forma de organização empresarial, integrem determinada cadeia de prestação de

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serviços ou de produção. Na hipótese concreta, há uma verdadeira cadeia de fornecimento de serviços. Há clara colaboração entre a instituição financeira, a administradora do cartão de crédito e a 'bandeira' Visa, que fornecem serviços conjuntamente e de forma coordenada. Independente de manter relação contratual com o autor, não administrar cartões de crédito e não proceder ao bloqueio do cartão, as 'bandeiras', de que são exemplos Visa, Mastercard e American Express, concedem o uso de sua marca para a efetivação de serviços, em razão da credibilidade no mercado em que atuam, o que atrai consumidores e gera lucro. Por onde quer que se veja a questão, deve-se concluir que há estreita cooperação entre a instituição financeira, a administradora do cartão de crédito e a 'bandeira', pois só assim a prestação do serviço se torna viável." (REsp 1029454 RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/10/2009, DJe 19/10/2009)

"No concernente à suposta ofensa aos arts. 29 e 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que tratam, respectivamente, da equiparação de todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas contidas no diploma, à categoria de consumidor e da nulidade de cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações abusivas, colocando o consumidor em desvantagem exagerada, razão não assiste ao recorrente, tendo em vista que restou consignado no v. Acórdão recorrido que não se aplica à relação o Código de Defesa do Consumidor, manifestando-se nos seguintes termos [...]: 'Ainda, cumpre-me salientar que não se aplicam ao caso presente as normas referentes ao Código de Defesa do consumidor, uma que as partes não se enquadram nos estritos limites daquele microssistema legal, não havendo relação de consumo entre os litigantes.' Isso porque, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, tem-se uma relação de consumo quando, nas respectivas extremidades, figuram-se consumidor e fornecedor como figuras contrapostas. Oportuna lição de ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTÔNIO HERMAN DE VASCONCELLOS E BENJAMIN, DANIEL ROBERTO FINK, JOSÉ GERALDO BRITO FILOMENO, KAZUO WATANABE, NELSON NERY JÚNIOR e ZELMO DENARI, autores do Anteprojeto, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado, p. 26-27, 7ª edição, 2001: '... o conceito de consumidor adotado pelo Código foi exclusivamente de caráter econômico, ou seja, levando-se em consideração tão-somente o personagem que no mercado de consumo adquire ou então contrata a prestação de serviços, como destinatário final, pressupondo-se que assim age com vistas ao atendimento de um necessidade própria e não para o desenvolvimento de uma outra atividade negocial.' Já fornecedor, os mesmos autores, citando PLÁCIDO E SILVA, o definem como sendo: '... todo comerciante ou estabelecimento que abastece, ou fornece, habitualmente uma casa ou um outro estabelecimento dos gêneros e mercadorias necessárias a seu consumo. Nesse sentido, por conseguinte, é que são considerados todos quantos propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de consumo, de maneira a atender às necessidades dos consumidores, sendo despiciendo indagar-se a que título, sendo relevante, isto sim, a distinção que se deve fazer entre as várias espécies de fornecedor nos casos de responsabilização por danos causados aos consumidores, ou então para que os próprios fornecedores atuem na via regressiva e em cadeia da mesma responsabilização, visto que vital a solidariedade para a obtenção efetiva de proteção que se visa a oferecer aos mesmos consumidores.Tem-se, por conseguinte, que fornecedor é qualquer pessoa física, ou seja, qualquer um que, a título singular, mediante desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, e a jurídica, da mesma forma, mas em associação mercantil ou civil e de forma habitual.' (Ob. cit., p. 39) A COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL - CSN, de acordo com

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o Anexo à Ata da Assembléia Geral Extraordinária de 27/9/96, tem por objeto a fabricação, transformação, a comercialização, inclusive a importação e exportação de produtos siderúrgicos, bem como o estabelecimento e exploração de quaisquer outras atividades correlatas e afins, que lhe possam direta ou indiretamente interessar às finalidades da Companhia, tais como: indústrias de mineração e de transporte, atividade de operação portuária de navegação e de construção, fabricação e montagem de estruturas metálicas [...]. Assim sendo, não restou caracterizada a relação de consumo, em decorrência, principalmente, da natureza do negócio jurídico (contrato de promessa de compra e venda e cessão dos direitos de lavra) entabulado entre a ora recorrida COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL - CSN e NOVA PRÓSPERA MINERAÇÃO S/A E OUTROS, que deu origem ao título executivo em questão. Com efeito, a Companhia não se caracteriza como fornecedora, já que não demonstrado o desenvolvimento das atividades acima relacionadas, quais sejam, atividades de desenvolvimento que, conforme art. 3º, caput, Código de Defesa do Consumidor, são 'atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos', tampouco, relacionadas à prestação de serviço. Desta forma, não há que se falar na aplicação da Lei nº 8.078/90 (CDC), uma vez que inexiste, na relação jurídica que originou o título executivo em questão, a figura do fornecedor. Ressalte-se, outrossim, que as partes celebraram contrato de promessa de compra e venda e cessão dos direitos de lavra precedido de licitação." (REsp 761082 SC, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/09/2009, DJe 30/09/2009)

"'A relação de consumo caracteriza-se pelo objeto contratado, no caso a cobertura médico-hospitalar, sendo desinfluente a natureza jurídica da entidade que presta os serviços, ainda que se diga sem caráter lucrativo, mas que mantém plano de saúde remunerado' [...]. II - Reconhecida a incidência do Código de Defesa do Consumidor, impende reconhecer, também, a abusividade da cláusula contratual/estatutária que limita a quantidade de sessões anuais de rádio e de quimioterapia cobertas pelo plano. Aplicação, por analogia, da Súmula 302/STJ." (REsp 1115588 SP, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2009, DJe 16/09/2009)

"A despeito de a relação entre seguradora e segurado estar submetida às normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor (CDC, art. 3º), a responsabilidade da seguradora pela cobertura de sinistros é aquela estabelecida em contrato, cujo controle da legalidade não refoge à apreciação do Poder Judiciário, em cada caso concreto, mas sem que se lhe possa atribuir, de forma incondicional, responsabilidade objetiva por toda e qualquer cobertura que venha a ser pleiteada em Juízo." (AgRg no Ag 1134071 RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/06/2009, DJe 26/06/2009)

"O consumidor pode propor a ação no foro do seu domicílio; é de consumo a relação entre instituição financeira e correntista." (REsp 851406 AL, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, Rel. p/ Acórdão Ministro ARI PARGENDLER, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/02/2008, DJe 05/11/2008)

"A recorrente mostra-se inconformada com aplicação das regras contidas no art. 81 e seguintes do CDC e que levaram o Tribunal a quo a reconhecer, na hipótese concreta, a violação de interesses individuais homogêneos. Vem sustentando, nesse sentido, que a premissa de tal raciocínio é errônea. A relação jurídica do Seguro Obrigatório de Danos

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Pessoais - DPVAT não se revelaria, segundo afirma, como relação de consumo, uma vez que não se está diante de contrato bilateral e porque as vítimas beneficiárias de tal seguro não o adquirem nem o utilizam, como exigido pelo art. 2o, CDC. O recorrente parte, no entanto, de premissa equivocada. Embora seu conceito esteja definido no CDC, o conjunto dos interesses individuais homogêneos não está adstrito ao universo das relações de consumo. Com efeito, o micro-sistema de tutela dos interesses transidividuais centra-se na Lei 7.347/85 que prevê a Ação Civil Pública como meio processual adequado para a satisfação de pretensões que envolvam a reparação de danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, bem como 'a qualquer outro interesse difuso ou coletivo' (art. 1o, IV, Lei 7.347/85). Para que se possa reconhecer outros interesses difusos e coletivos tuteláveis por meio da Ação Civil Pública, o art. 21, Lei 7.347/85, manda aplicar, no que for cabível, 'os dispositivos do Título III da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, que instituiu o Código de Defesa do Consumidor', entre os quais se incluem os art. 81 e 82, CDC. Assim, a Lei 7.347/85 se aplica a quaisquer interesses difusos e coletivos, tal como definidos nos arts 81 e 82, CDC, mesmo que tais interesses não digam respeito a relações de consumo. A interpretação sistemática do ordenamento jurídico impede que prevaleça a tese da recorrente. Se a tutela dos interesses individuais homogêneos ficasse adstrita às relações de consumo, conforme inciso II do art. 1o, Lei 7.347/85, o texto do inciso IV do mesmo artigo, que manda aplicar a Ação Civil Pública 'a qualquer outro interesse difuso ou coletivo', seria letra morta. Por isso, para que se caracterize a legitimidade ativa do Ministério Público, é absolutamente irrelevante avaliar se o Seguro Obrigatório de Danos Pessoais - DPVAT é uma relação de consumo. Ainda que não haja relação de consumo, pode o Ministério Público valer-se da Ação Civil Pública para pleitear a tutela de direito difuso, coletivo ou individual homogêneo. Não se vislumbra, portanto, qualquer violação aos arts. 2o e 3o, CDC." (REsp 855165 GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 07/02/2008, DJe 13/03/2008)

"Ação civil pública proposta pelo PROCON e pelo Estado de São Paulo. Anticoncepcional Microvlar. Acontecimentos que se notabilizaram como o 'caso das pílulas de farinha'. Cartelas de comprimidos sem princípio ativo, utilizadas para teste de maquinário, que acabaram atingindo consumidoras e não impediram a gravidez indesejada. [...] A primeira conclusão que se tira desse contexto é que em nada socorre a empresa a alegação de que, até hoje, não foi possível verificar exatamente de que forma as pílulas-teste chegaram às mãos dos consumidores. Na verdade, o panorama fático adotado pelo acórdão e aqui delineado com precisão mostra que tal demonstração talvez seja mesmo impossível, porque eram tantos e tão graves os erros e descuidos na linha de produção e descarte de medicamentos, que não seria hipótese infundada afirmar-se, até mesmo, que tais placebos atingiram os consumidores de diversas formas ao mesmo tempo, pois, reitere-se, é possível antever, apenas com os depoimentos dos próprios trabalhadores da Schering, ao menos quatro graves manifestações de descaso com possíveis danos decorrentes da atividade de risco assumida pela empresa ao fabricar as pílulas ineficazes. Pelo mesmo motivo, torna-se inconsistente a defesa da Schering no ponto em que esta afirma não poder ser considerada 'fornecedora' nos termos do CDC, já que teria produzido, mas não teria colocado o produto ineficaz no mercado, chegando a empresa a afirmar que '(...) todo o processo desde a fabricação até a efetiva incineração dos mesmos foi devidamente concluído' [...]. Em primeiro lugar, tal assertiva não merece crédito porque vai de encontro aos próprios fatos; se todos os placebos tivessem, efetivamente, sido destruídos, só com muita dificuldade seria

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possível entender como muitas caixas desse falso produto foram parar nas mãos de vários consumidores. Embora tal constatação já seja, em si, suficiente, ainda assim, cabe analisar esse segundo argumento mais detidamente. Segundo o art. 12, § 3º, I, do CDC, 'O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar que não colocou o produto no mercado'. De pronto, verifica-se que, na verdade, a hipotética incidência desse dispositivo à hipótese não teria o alcance, como pretende a recorrente, de excluí-la do conceito de 'fornecedor'; o objetivo de tal dispositivo é, apenas, criar uma causa de exclusão de responsabilidade objetiva, sem com isso desconstituir aquele conceito. Há que se diferenciar, pois, a constatação de que determinada empresa é fornecedora daquilo que, por via de um segundo conceito jurídico aplicável apenas sequencialmente, qual seja, o de 'fato exclusivo de terceiro', leva apenas à irresponsabilidade daquela. A Schering, portanto, mesmo se admitida tal excludente, não deixaria de ser 'fornecedora' para os efeitos do CDC. Feita tal ressalva, e para esclarecer a questão, recapitulemos os seguintes pontos: a) a Schering produziu placebos idênticos ao medicamento original; b) tais medicamentos foram usados por consumidores; c) tal fato só foi possível porque a empresa agiu de forma inadequada, pelo menos: c.1) na condução dos testes que pretendeu fazer; c.2) no policiamento dos seus funcionários; c.3) no procedimento de transporte e c.4) na destruição dos placebos, permitindo que, em algum desses momentos, ou mesmo em todos eles indistintamente, a segurança e a tranqüilidade do consumidor viessem a ser lesadas. A responsabilidade da Schering como fornecedora, portanto, não é afetada pelo simples levantamento de uma hipótese, de uma dúvida, a respeito da participação de terceiros no derramamento dos medicamentos ineficazes no mercado. A excludente de responsabilidade objetiva só existe quando efetivamente configurado que a circulação da mercadoria aconteceu por ocasião de um evento no qual a empresa produtora do bem não teve qualquer participação. E, nesse contexto, é forçoso reconhecer que a participação da Schering decorre, simplesmente, dos seguintes fatos: a) a empresa manufaturou produto com capacidade altamente lesiva; b) tal produto foi indevidamente consumido, com a colaboração essencial da empresa, sendo incontáveis as provas nos autos que levam a concluir pela relevância do comportamento da Schering no desenrolar dos fatos; e c) houve danos aos consumidores. Nesses três pontos, estão latentes o fato, o nexo causal e o resultado, e tais são o quanto bastam para que a empresa responda de forma objetiva pelos prejuízos. Com isso, afasta-se não só a alegada ausência da figura do 'fornecedor', quanto eventual aplicação do art. 12, § 3º, I do CDC, porque, na hipótese, é inviável alegar que a empresa não teve participação direta nos eventos que levaram à circulação das pílulas de 'placebo' entre os consumidores. Na análise da presente hipótese, verifica-se ser inviável sustentar a idéia de que apenas a introdução consciente e voluntária do produto lesivo no mercado consumidor teria o condão de gerar a responsabilidade objetiva da empresa. A aplicação de tal premissa teria por conseqüência eximir a Schering do dever de zelar pelos produtos perniciosos que fabricou, assim como de se certificar da efetiva destruição destes, levando a uma terrível discrepância entre o nível dos riscos assumidos pela empresa em sua atividade comercial - riscos esses que são a base do lucro que ela obtém - e o padrão de cuidados que tal empresa deve ser obrigada a manter na exploração de seus mercados e na obtenção de novas tecnologias. Afinal, bastaria a alegação de que as pílulas-teste não foram voluntariamente colocadas no mercado para afastar a responsabilidade da empresa pelo destino de um produto altamente perigoso. Se é verdade que não existe prova quanto à colocação intencional das pílulas no mercado por parte da Schering, há, por outro lado, provas de que a empresa nunca se preocupou em vigiar seus funcionários; de que nunca teve a intenção de estabelecer um controle efetivo de sua área de descarga; que nunca teve a intenção de

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fiscalizar o sistema de transporte dos resíduos; e que nunca teve a intenção de fiscalizar a efetiva destruição destes. Ou seja, em resumo, se não houve vontade de colocar as pílulas no mercado, também não houve vontade por parte da empresa no sentido de impedir que tal fato acontecesse, o que leva à constatação de que a empresa participou do desenrolar dos acontecimentos que levaram à causação do dano, devendo, portanto, assumir a recorrente os riscos de sua atividade. Portanto, não se trata de questionar a responsabilidade da empresa por ter ou não colocado ela mesma o produto em circulação, mas sim de questionar a sua responsabilidade em, uma vez tendo produzido manufatura perigosa, não adotar medidas eficazes para garantir que tal produto fosse afastado de circulação. E, nesses termos, aquele que produz substância perigosa e depois não se assegura de sua eliminação é, certamente, responsável pelos danos que daquela possam advir. Recorde-se que era parte essencial do teste, conforme confessado pela própria empresa [...], que os placebos fossem produzidos de forma idêntica em comparação com o original; na verdade, buscou-se testar o novo maquinário produzindo-se pílulas-teste em perfeita identidade formal com o verdadeiro MICROVLAR. O que olvida a empresa em sua defesa é que, ao produzir em testes pílulas formalmente idênticas às originais, deu origem a um fato que, por si, aumentou incrivelmente os riscos de que uma ocorrência danosa, como a que por ora se examina, efetivamente acontecesse. Em outras palavras, fica claro que as pílulas-teste produzidas, em face do elevadíssimo grau de perfeição que alcançaram, criaram um risco extremo de confusão entre as verdadeiras pílulas e as falsas. Uma vez criado esse risco enorme pela empresa, dela passou a ser exigível, necessariamente, a adoção de medidas protetivas de mesma envergadura, de forma que tal risco fosse neutralizado por uma força contrária de igual grandeza. Não foi, contudo, o que aconteceu, pois frouxas eram as medidas adotadas pela empresa para tentar conter o risco que criara. Cite-se, nesse sentido, e apenas a título de ilustração, na medida em que sobre tal contrato nenhuma análise jurídica foi realizada na presente ação, o parágrafo segundo da cláusula quinta da avença entre a Schering e a Vega, empresa esta responsável pelo transporte do material descartado, e confronte-se o quanto ali estabelecido com a afirmação, já citada, do responsável técnico da empresa, no sentido de que efetivamente seria necessário que alguém vinculado à própria Schering acompanhasse todo o processo de descarte: 'CLÁUSULA QUINTA - PARÁGRAFO 2º - A CONTRATANTE poderá exigir o afastamento de qualquer empregado da VEGA, cuja conduta, moral ou profissional, seja considerada inconveniente na realização dos serviços ora contratados, ficando vedada expressamente a utilização de servidores da CONTRATANTE na execução dos mesmos serviços' [...]. Portanto, levando-se em conta que a própria recorrente levantou dúvida no sentido de que houvera furto do material perigoso, e que não é absurdo imaginar, por hipótese, tal fato ocorrendo durante o transporte, é de se ver que, até mesmo contratualmente, a Schering aceitou tomar parte do curso de um evento danoso aos consumidores ao aceitar sua exclusão completa do controle relativo à exclusão dos detritos. Prosseguindo na mesma hipótese, seria possível imaginar, ainda em tese, que o desvio das pílulas tenha ocorrido no processo de incineração. Pois bem, nesse ponto, sustenta a recorrente que havia autorização da CETESB, que, assim como o autor da presente ação, o PROCON, é um órgão público do Estado de São Paulo, para a incineração dos resíduos, o que atestaria a lisura do procedimento. Tal licença, contudo, tem o limite de verificar a segurança ambiental da própria incineração, e não a segurança do processo de descarte como um todo. Ou seja, a Cetesb certificou que a incineração é feita de acordo com normas ambientais, mas não que todo o produto destinado à incineração foi, efetivamente, incinerado, ainda mais quando se considera o baixo peso e volume das cartelas de remédios. Por fim, a referência feita nas razões de

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recurso especial sobre entendimento doutrinário de obra editada em Portugal no sentido de que, se o produto não era destinado ao mercado, não pode haver responsabilidade do produtor, tem relação direta apenas com a legislação consumerista daquele país, que é bem mais parcimoniosa na disciplina das possíveis excludentes de responsabilidade do produtor do que a nossa e inclui, expressamente, esse entendimento, nos termos do art. 5º, alínea 'c' do Decreto-Lei nº 383/98 (http://www.icp.pt/txt/template16.jsp?categoryId=197222, com acesso em 29.11.2006). Inexistentes, portanto, quaisquer violações aos arts. 3º, caput e § 1º do CDC, ao art. 12, § 3º, I do CDC, e ao art. 267, VI, do CPC." (REsp 866636 SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 29/11/2007, DJ 06/12/2007, p. 312)

"'Publicação de anúncios referentes a empréstimos de dinheiro - Alegação de publicidade abusiva, pois tais anúncios não informam a taxa de juros cobrada' [...] O CDC, foi concebido para regular a relação de consumo estabelecida entre aqueles que se enquadrem como consumidores (Art. 2º e par. único) e fornecedores (Art. 3º). Assim, é que o Código, especialmente nos capítulos da oferta e publicidade, impõe deveres ao fornecedor-anunciante (Art. 3º) e não aos veículos de comunicação, propaganda e anúncios. Então, os deveres impostos nos capítulos da oferta e publicidade somente atingem os veículos de propaganda, comunicação e anúncios quando estejam na condição de fornecedores. O Art. 38 do Código protecionista diz que 'os ônus da prova da veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.'. Portanto, o Art. 38 exclui a responsabilidade dos veículos de comunicação por eventual publicidade enganosa ou abusiva, pois o ônus de provar a veracidade e correção (ausência de abusividade) é do fornecedor-anunciante, que patrocina a propaganda ou anúncio, tanto que o Art. 36 impõe que mantenham, em próprio poder, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem para informação dos legítimos interessados. Nesse sentido, ainda, louvo-me do parecer do il. membro do MPF, Subprocurador-Geral da República [...] que, ao interpretar o Art. 38, diz: 'Pelo mandamento acima transcrito, no caso de anúncios publicitários de jornais, percebe-se claramente que o ônus da prova a respeito da veracidade das informações contidas nas mensagens é de inteira responsabilidade do anunciante ou do fornecedor do serviço. Logo, o veículo de comunicação não pode ser responsabilizado pelo conteúdo das publicações que não são de sua autoria.' [...]. Não é dever dos veículos de comunicação apurar, em princípio, veracidade ou abusividade do anúncio contratado, pois esse ônus é do fornecedor-anunciante, que poderá responder pelo patrocínio da eventual publicidade enganosa ou abusiva, na forma do Art. 38 do CDC. Em suma: os veículos de comunicação não respondem por eventual publicidade abusiva ou enganosa. Tal responsabilidade toca aos fornecedores-anunciantes, que a patrocinaram (CDC, Arts. 3º e 38). O Art. 6º relaciona direitos básicos do consumidor frente ao fornecedor, o que não vincula os veículos de propaganda perante os consumidores dos produtos ou serviços anunciados. Daí que o consumidor, ou quem o possa representar, deve reivindicar tais direitos perante os fornecedores-anunciantes." (REsp 604172 SP, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2007, DJ 21/05/2007, p. 568)

"Bancário. contrato de financiamento com alienação fiduciária em garantia. cláusulas abusivas. cdc. aplicabilidade. [...] Aplica-se aos contratos bancários as disposição do CDC." (REsp 894385 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2007, DJ 16/04/2007, p. 199)

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"Contrato de financiamento imobiliário. Carteira hipotecária. [...] - É de consumo a relação jurídica estabelecida entre o agente financiador e o mutuário adquirente do imóvel." (REsp 436842 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/03/2007, DJ 14/05/2007, p. 279)

"Conforme reiterada jurisprudência desta Corte, não é relação de consumo a que se estabelece entre os condôminos e o Condomínio, referente às despesas para manutenção e conservação do prédio e dos seus serviços. II - A relação firmada entre o contador (prestador de serviço) e o Condomínio (destinatário final) está embasada na legislação consumerista, porém, em nada aproveita à autora, haja vista que a prestação do serviço de contadoria fora destinada ao condomínio, como um todo, e não, individualmente, a cada um dos condôminos." (REsp 441873 DF, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/09/2006, DJ 23/10/2006, p. 295)

"Aplica-se o CDC aos negócios jurídicos realizados entre as empresas administradoras de consórcios e seus consumidores-consorciados." (REsp 541184 PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/04/2006, DJ 20/11/2006, p. 300)

"A atividade notarial não é regida pelo CDC. [...] A relação de consumo é estabelecida entre aqueles que, dum lado, enquadrem-se como consumidores (Art. 2º e par. único) e, do outro, como fornecedores (Art. 3º). O conceito de consumidor está no Art. 2º do CDC ('toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.'). Conforme o Art. 3º, toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira que preste serviços é fornecedor. No que importa da definição do § 2º do Art. 3º do CDC, 'serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração' (grifei), salvo as decorrentes das relações trabalhistas. Importa saber, portanto, se, no caso, há consumidor e fornecedor. Segundo a Constituição Federal, os serviços notarias são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (Art. 236). A Lei 8.935/94, cumprindo mandamento constitucional (§ 1º, do Art. 236), veio regular as atividades notariais e de registro, disciplinar a responsabilidade civil e criminal dos notários e oficiais, além de regular a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário. Assim, os serviços notariais e de registro submetem-se a regulação própria. A responsabilidade civil por seus atos é definida em lei especial (Art. 22 da Lei 8.935/94). Além disso, as atividades notariais e de registro são regulados e fiscalizados pelo Poder Judiciário (Arts. 37 e 38 da Lei 8.935/94). Diz o Art. 3º, da Lei 8.695/94, que 'notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.'. A 'Lei dos Cartórios' qualificou o Tabelião e o Oficial de Registro como servidores públicos delegados, ou na terminologia de Celso Antônio B. de Mello: agentes públicos particulares em colaboração com o Estado. Os serviços notariais, conforme o próprio precedente do STF [...] citado pela il. Relatora, constituem serviço público típico remunerado por taxa. Nesse sentido, destaco trecho da ementa do precedente do STF, que esclarece a natureza jurídica dos Cartórios de Notas e Registros: '(...) SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. - A atividade notarial e registral, ainda que executada no âmbito de serventias extrajudiciais não oficializadas, constitui, em decorrência de sua própria natureza, função revestida de estabilidade, sujeitando-se, por isso mesmo, a um regime estrito de direito público. A possibilidade constitucional de a execução dos serviços notariais e de registro ser efetivada 'em caráter privado, por delegação do poder público' (CF, art. 236), não descaracteriza a natureza essencialmente

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estatal dessas atividades de índole administrativa. - As serventias extrajudiciais, instituídas pelo Poder Público para o desempenho de funções técnico-administrativas destinadas 'a garantir a publicidade, a autenticidade, a segurança e a eficácia dos atos jurídicos' (Lei n. 8.935/94, art. 1º), constituem órgãos públicos titularizados por agentes que se qualificam, na perspectiva das relações que mantêm com o Estado, como típicos servidores públicos. Doutrina e Jurisprudência. [...]'. No REsp 213.799/SÁLVIO, a Quarta Turma adotou o entendimento de que o CDC não se aplica aos serviços prestados por peritos judiciais, que sendo auxiliares da jurisdição, realizam serviço público próprio do Estado, não se incluindo no mercado de consumo. Eis a ementa do julgado: [...] Nesse contexto, não se pode dizer que há serviço público prestado no 'mercado de consumo', que é regido pela lei econômica da oferta e da procura e pautado pelas liberdades de concorrência e iniciativa próprias do mercado em geral. Não existe um 'mercado de consumo de serviços notários', pois, nesse campo, não há liberdade de concorrência e iniciativa. A chamada 'mão invisível' da Economia, na célebre expressão de Adam Smith, não atua nesta seara, que é cercada de restrições legais, definições de 'emolumentos' (com natureza de taxa), delimitações territoriais de atuação, fiscalizações externas etc. Propriamente, não há concorrência de mercado entre os notários, pois a Lei e o Estado (via Poder Judiciário), dirigem e fiscalizam a atividade notarial, impedindo uma livre concorrência entre os cartórios. Capacidade de atuar livremente no mercado, sem intervencionismo estatal direto, é atributo do fornecedor. Quem presta serviço público típico (remunerado por tributo), não atua no 'mercado de consumo', insere-se num 'mercado de contribuinte', com responsabilidade civil diferenciada fixada constitucionalmente (Art. 37, § 6º). Vale dizer: a prestação de serviço público típico não traduz relação de consumo, pois fornecida fora do mercado de consumo, escapando da incidência do Código de Defesa do Consumidor. Em linhas gerais, serviço públicos típicos ou próprios são aqueles remunerados por tributos, enquanto, serviços públicos atípicos ou impróprios são retribuídos por tarifa ou preço público, podendo estar sujeitos, conforme o caso, aos ditames do CDC. Do contrário, teríamos que admitir, a União respondendo por 'fato do serviço', com base no CDC, pela má prestação de serviços judiciários, legislativos ou executivos. Em suma, conclui-se que: - aquele que se utiliza de serviços notariais ou de registro não é consumidor (Art. 2º do CDC), mas sim contribuinte, pois remunera o serviço mediante o pagamento de tributo (cf. ADIn 1.378/CELSO DE MELLO), - os Cartórios de Notas e de Registros não são fornecedores (Art. 3º do CDC), mas prestadores de serviços públicos 'de organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos' mediante o pagamento de tributos. - a prestação de serviço público típico, que é remunerado por tributo, não se submete ao regime do Código de Defesa do Consumidor, pois serviço público não configura 'atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração' (Art. 2º, § 2º, do CDC). - não há 'consumidores' nem 'fornecedores' de serviços públicos típicos, porque estes não são oferecidos no 'mercado de consumo'. Os serviços públicos são prestados dentro duma sistemática apartada das leis de mercado, remunerados por tributo, e sujeitam seus prestadores a uma responsabilidade própria na forma da Constituição (Art. 37, § 6º)." (REsp 625144 SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 14/03/2006, DJ 29/05/2006, p. 232)

"Ação Revisional. Contratos de abertura de crédito. Cédula de crédito comercial. [...] O Código de Defesa do Consumidor se aplica às relações jurídicas travadas entre as instituições financeiras, na posição de fornecedoras de produtos e serviços, e seus clientes/correntistas, considerados como consumidores." (REsp 256691 RS, Rel.

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Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/06/2005, DJ 01/07/2005, p. 508)

"Os serviços prestados pelos bancos a seus clientes estão garantidos pela lei de defesa do consumidor, em especial as cadernetas de poupança e os contratos tipicamente bancários de concessão de crédito, em suas diversas formas: mútuos em geral, financiamentos rural, comercial, industrial ou para exportação, contratos de câmbio, empréstimos para capital de giro, abertura de crédito em conta-corrente e abertura de crédito fixo, ou quaisquer outras modalidades do gênero [...]" (AgRg no REsp 671866 SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ 09/05/2005, p. 402)

"[...] trata-se de contrato de mútuo na modalidade PRESTABEMGE, tendo o primeiro executado emitido nota promissória como garantia do cumprimento da obrigação. [...] O contrato foi firmado na agência de Piratininga, sendo evidentemente um contrato de adesão, nos termos do art. 54 do Código de Defesa do Consumidor. Como é sabido, já não mais se discute nesta Corte sobre a natureza do serviço de mútuo como dentre aqueles que estão alcançados pelo art. 3o, § 2°, da lei de proteção ao consumidor." (REsp 281369 MG, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/06/2001, DJ 27/08/2001, p. 331)

"Configura-se uma relação de consumo na espécie, nos termos dos arts. 2° e 3° do CDC. Destarte, conforme decidiu a Suprema Corte na ADI 2591, que confirmou a constitucionalidade do artigo 3°, § 2°, da Lei 8.078/90 em relação aos 'serviços de natureza bancária', a relação jurídica existente entre o contratante/usuário de serviços bancários e a instituição financeira é disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor. Sobre o tema já tive a oportunidade de me manifestar ao proferir voto-vista no REsp 1014547/DF, de relatoria do e. Ministro João Otávio de Noronha, julgado em 25/08/2009, destacando que: 'Tal questão encontra-se sumulada nesta Corte, como se extrai da leitura do Enunciado 297: 'O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras'. A matéria também foi submetida à Suprema Corte, que, ao julgar a ADIn 2.591-1/DF, conhecida como 'ADIn dos Bancos', em momento algum impôs tal limitação, ficando registrado na ementa, na parte em que interessa: 'As instituições financeiras estão, todas elas, alcançadas pela incidência das normas veiculadas pelo Código de Defesa do Consumidor'. Da leitura dos votos proferidos naquela ocasião, evidencia-se que a menção aos serviços de natureza bancária deu-se no intuito de alargar o alcance do Código de Defesa do Consumidor, e não de restringir a aplicação de tal diploma às atividades bancárias. Confira-se o voto do Ministro Carlos Velloso: 'Em suma, a defesa do consumidor constitui princípio constitucional, que se realiza mediante a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, mandado elaborar pela Constituição, ADCT, art. 48. Esse diploma legal, o Código de Defesa do Consumidor, não interfere com o Sistema Financeiro Nacional, art. 192 da Constituição, em termos institucionais, já que o Código limita-se a proteger e defender o consumidor, o que não implica, repete-se, interferência no Sistema Financeiro Nacional. Protegendo e defendendo o consumidor, realiza o Código o princípio constitucional. Atualmente, o Sistema Financeiro Nacional é regulado pela Lei 4.595/64, recebida pela CF/88 como lei complementar naquilo em que ela regula e disciplina o Sistema, não existindo entre aquela lei e a Lei 8.078, de 1990 - Cód. de Defesa do Consumidor - antinomias. O Código de Defesa do Consumidor aplica-se às atividades bancárias da mesma forma que a essas atividades são aplicáveis, sempre que couber, o Cód. Civil, o Cód. Comercial, o

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Código Tributário Nacional, a Consolidação das Leis Trabalhistas e tantas outras leis. A alegação no sentido de que a norma do § 2º do art. 3º da Lei 8.078/90 - 'inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária' - seria desarrazoada, ou ofensiva ao princípio da proporcionalidade, porque estaria tratando as entidades bancárias da mesma forma como trata os demais fornecedores de produtos ou serviços, assim violadora de devido processo legal em termos substantivos - C.F., art. 5º, LIV - não tem procedência. Desarrazoado seria se o Código de Defesa do Consumidor discriminasse em favor das entidades bancárias. Aí, sim, porque inexistente fator justificador do discrímen, teríamos norma desarrazoada, ofensiva, por isso, mesmo, ao substantive due process of law, que hoje integra o Direito Constitucional positivo brasileiro (C.F., art. 5º, LIV)'. No voto do Ministro Eros Grau, ficou consignado: 'Também não resta dúvida no que tange à caracterização do cliente de instituição financeira como consumidor, para os fins do artigo 170 da Constituição do Brasil. A relação entre banco e cliente é, nitidamente, uma relação de consumo, protegida constitucionalmente (arts. 3º, XXXII, e 170, V, da CF/88). Como observei também em outra oportunidade, o Código define 'consumidor', 'fornecedor', 'produto' e 'serviço'. Entende-se como 'consumidor', como 'fornecedor', como 'produto' e como 'serviço', para os efeitos do Código de Defesa do Consumidor, o que descrito está no seu art. 2º e no seu art. 3º e §§ 1º e 2º. Inútil, diante disso, qualquer esforço retórico desenvolvido com base no senso comum ou em disciplinas científicas para negar os enunciados desses preceitos normativos. Não importa seja possível comprovar, por a + b, que tal ente ou entidade não pode ser entendido, economicamente, como consumidor ou fornecedor. O jurista, o profissional do direto não perde tempo em cogitações como tais. Diante da definição legal, força é acatá-la. Cuide apenas de pesquisar os significados dos vocábulos e expressões que compõem a definição e de apurar da sua coerência com o ordenamento constitucional. O art. 2º do Código diz que 'consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. E o § 2º do art. 3º define como serviço 'qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes de natureza trabalhista'. Assim, temos que, para os efeitos do Código do Consumidor, é 'consumidor', inquestionavelmente, toda pessoa física ou jurídica que utiliza, como destinatário final, atividade bancária, financeira e de crédito. Isso não apenas me parece, como efetivamente é, inquestionável. Por certo que as instituições financeiras estão, todas elas, sujeitas ao cumprimento das normas estatuídas pelo Código de Defesa do Consumidor'. Por fim, o Ministro Marco Aurélio arremata: 'Temos, na Constituição Federal, inúmeros dispositivos que versam sobre a proteção ao consumidor e notamos que a Carta de 1988 deu - e o fez de forma, a meu ver, no campo didático - uma ênfase maior à dignidade da pessoa humana. O que se articula nesta ação? O conflito do Código do Consumidor, vigente desde 1990, passados os cento e oitenta dias da vacatio legis, com a própria Lei Fundamental. O código é explícito ao revelar que se tem como alcançados serviços em qualquer atividade, no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive aqueles serviços de natureza bancária, financeira, de crédito e, também, os decorrentes da atuação securitária, salvo o que disser respeito às relações trabalhistas. O Código do Consumidor, a meu ver, tal como o Código Nacional de Trânsito, implicou avanço no campo social (...)' - sem grifos nos originais. Indiscutível, portanto, a aplicação do CDC aos contratos firmados pela autora, em toda sua extensão, não cabendo a restrição pretendida pelo eminente Relator.' [...]" (REsp 302265 RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/03/2010, DJe 12/04/2010)

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"[...] a aplicação ao caso ora em análise do Código de Defesa do Consumidor não se deve, como quer a recorrente, à indevida caracterização da Seguradora como consumidora da empresa ré, mas à subrogação da Seguradora nos direitos do consumidor, nos termos do art. 986, I, e 988 do CC/1916 (atuais arts. 349 e 786 do CC/2002) pressuposto, inclusive, do próprio direito de regresso. Dessa forma, uma vez caracterizado como de consumo o contrato firmado entre o segurado e o causador do dano, fabricante do produto defeituoso, ao realizar o pagamento da indenização securitária, a seguradora subroga-se nos direitos e ações que competiriam ao segurado contra o autor do sinistro, nos limites do contrato de seguro, conforme o disposto na súmula 188 do STF. Na espécie, verifica-se que o segurado [...] adquiriu o automóvel da ré, montadora de carros, como destinatário final, subrogando, posteriormente, seus direitos à Seguradora. Não é possível descaracterizar o contrato firmado [...] como contrato de consumo, visto que o primeiro era o destinatário fático e econômico do bem, consumidor, portanto (art. 2° do CDC), e o segundo o responsável pela produção e comercialização do produto, estando caracterizado como fornecedor (art. 3° do CDC). Assim, ainda que a ação tenha sido proposta pela Seguradora, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor, pois, face o pagamento da indenização pela Seguradora e consequente subrogação de direitos, a autora poderá opor à montadora os direitos do consumidor/segurado lesado." (REsp 802442 SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 02/02/2010, DJe 22/02/2010)

"No caso, o serviço se traduz, exatamente, na retirada do sangue da doadora, e inegavelmente, ela toma o serviço como destinatária final, no que se refere a esta relação exclusiva entre essas duas partes, relação esta, entretanto, que também integra uma outra entre o banco de sangue e aquele que irá utilizá-lo. É um caso atípico, mas que nem por isso pode ser apartado da proteção consumerista. São dois os serviços prestados e relações de consumo, sendo que a primeira é uma em si mesma - a captação de sangue pelo banco - , mas faz parte de uma segunda - o fornecimento de sangue pelo banco ao recebedor. A primeira tem um custeio, sim, mas indireto, posto que pela segunda o banco é remunerado de uma forma ou de outra. Ainda que peculiares as circunstâncias, há a incidência do CDC e, registro, a atipicidade, de que é fonte a própria complexidade das relações humanas e econômicas, e que não deve levar o intérprete da lei ao apego à literalidade ou a uma aplicação estritamente ortodoxa da lei. Dessa forma, pode, efetivamente, considerar-se a doadora como partícipe de uma relação de consumo, em que ela, cedendo seu sangue, usa dos serviços da empresa ré, uma sociedade limitada, que, no próprio dizer do Tribunal recorrido, 'como receptora do sangue vende ou doa' [...]. Uma importante questão surge na conceituação de 'serviço'. Reza o art. 3º, parágrafo 2º, do Código consumerista, que: '§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista'. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino traz-nos essas importantes considerações, verbis: 'Essa definição inclui a onerosidade do serviço ('mediante remuneração') como um dos seus elementos caracterizadores, o que pode ensejar dúvidas quando a atividade é prestada a título gratuito. A questão tem dividido a doutrina brasileira. Alguns autores entendem que as atividades prestadas gratuitamente não dão margem à incidência do Código do Consumidor, pois foram expressamente afastadas pelo legislador. Outros autores, entretanto, sustentam ser irrelevante o aspecto remuneratório da prestação de serviço. O importante é que o serviço prestado situe-se dentro da especialidade do fornecedor. A expressão "sem remuneração" busca apenas afastar as atividades prestadas sem caráter de habitualidade. Assim, o médico ou o

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advogado que prestem serviços gratuitamente a seus clientes respondem, com base no Código do Consumidor, pelos danos causados por eventuais defeitos de sua atividade laborativa. Esta segunda orientação apresenta-se mais correta, pois o conceito de serviço foi fixado de maneira ampla pelo legislador, abrangendo todas as atividades fornecidas com habitualidade no mercado de consumo, ainda que, eventualmente, a título gratuito. Caso contrário, ficariam excluídos, por exemplo, os danos sofridos pelo consumidor que recebe gratuitamente uma passagem aérea da empresa de transportes ou pela criança que ganha um ingresso para freqüentar um parque de diversões.' ('Responsabilidade Civil no Código do Consumidor e a defesa do Fornecedor', Saraiva, 2002, pags. 125/126). Relevante, por igual, as doutrinas de Rizzato Nunes e Cláudia Lima Marques: 'O CDC define serviço como aquela atividade fornecida mediante 'remuneração'. Antes de mais nada, consigne-se que praticamente nada é gratuito no mercado de consumo. Tudo tem, na pior das hipóteses, um custo, e este acaba, direta ou indiretamente, sendo repassado ao consumidor. Assim, se, por exemplo, um restaurante não cobra pelo cafezinho, por certo seu custo já está embutido no preço cobrado pelos demais produtos. Logo, quando a lei fala em 'remuneração' não está necessariamente se referindo a preço ou preço cobrado. Deve-se entender o aspecto 'remuneração' no sentido estrito de absolutamente qualquer tipo de cobrança ou repasse, direto ou indireto. É preço algum tipo de organização para entender o alcance da norma. Para estar diante de um serviço prestado sem remuneração, será necessário que, de fato, o prestador do serviço não tenha, de maneira alguma, se ressarcido de seus custos, ou que, em função da natureza da prestação do serviço, não tenha cobrado o preço. Por exemplo, o médico que atenda uma pessoa que está passando mal na rua e nada cobre por isso enquadra-se na hipótese legal de não-recebimento de remuneração. Já o estacionamento de um shopping no qual não se cobre pela guarda do veículo disfarça o custo, que é cobrado de forma embutida no preço das mercadorias. Por isso é que se pode e se deve classificar remuneração como repasse de custos direta ou indiretamente cobrados. No que respeita à cobrança indireta, inclusive, destaque-se que ela pode nem estar ligada ao consumidor beneficiária da suposta 'gratuidade'. No caso do cafezinho grátis, pode-se entender que seu custo está embutido na refeição haurida pelo próprio consumidor que dele se beneficiou. No do estacionamento do shopping, o beneficiário pode não adquirir qualquer produto e ainda assim tem-se de falar em custo. Nesse caso é outro consumidor que paga, ou melhor, são todos os outros consumidores que pagam.' ('Comentários ao Código de Defesa do Consumidor', Rizzatto Nunes, 3ª ed., Saraiva, 2007, pg. 123) 'Na prática, só existem três possibilidades: a) ou o serviço é remunerado diretamente pelo consumidor; b) ou o serviço não é oneroso para o consumidor, mas remunerado indiretamente, não havendo enriquecimento ilícito do fornecedor, pois o seu enriquecimento tem causa no contrato de fornecimento de serviço, causa esta que é justamente a remuneração indireta do fornecedor; c) ou o serviço não é oneroso de maneira nenhuma (serviço gratuito totalmente) e nem o fornecedor remunerado de nenhuma maneira, pois, se este fosse 'remunerado' indiretamente, haveria enriquecimento sem causa de uma das partes. Conclui-se, pois, que no mercado de consumo, em quase todos os casos, há remuneração do fornecedor, direta ou indireta, como um exame do 'enriquecimento dos fornecedores pelos serviços ditos 'gratuitos' pode comprovar.' ('Comentários ao Código de Defesa do Consumidor', Cláudia Lima Marques, 2ª ed., Ed. Revista dos Tribunais, 2006, pg. 115) Na espécie em comento, a captação de sangue é atividade contínua e permanente do hemocentro. É sua matéria prima o sangue e seus derivados. Não se cuida de um serviço que foi prestado casual e esporadicamente, porém, na verdade, constante e indispensável ao comércio praticado pelo réu com a venda do sangue a hospitais e terceiros, gerando recursos e remunerando

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aquela coleta que se fez do sangue da autora, ainda que indiretamente. Nessas circunstâncias, enquadra-se a hipótese, adequadamente, no conceito do art. 2º do CDC, de sorte que o privilégio do foro do domicílio do consumidor, assegurado no art. 101, I, da Lei n. 8.078/1990, é de ser aplicável ao processo." (REsp 540922 PR, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 15/09/2009, DJe 13/10/2009)

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

"Estão revestidas de legalidade as normas expedidas pelo CONMETRO e INMETRO, e suas respectivas infrações, com o objetivo de regulamentar a qualidade industrial e a conformidade de produtos colocados no mercado de consumo, seja porque estão esses órgãos dotados da competência legal atribuída pelas Leis 5.966/1973 e 9.933/1999, seja porque seus atos tratam de interesse público e agregam proteção aos consumidores finais. [...] Essa sistemática normativa tem como objetivo maior o respeito à dignidade humana e a harmonia dos interesses envolvidos nas relações de consumo, dando aplicabilidade a ratio do Código de Defesa do Consumidor e efetividade à chamada Teoria da Qualidade." (REsp 1102578 MG, Rel. Ministra ELIANA CALMON, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/10/2009, DJe 29/10/2009)

"[...] o fornecedor e o consumidor, ao firmarem uma relação de consumo, estão obrigados a se submeterem à política nacional estabelecida pela lei (art. 4º, da Lei 8.078/90) para tal tipo de convenção jurídica. Assim sendo, há de sempre imperar o 'atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguinte princípios: [...] Fácil, portanto, concluir-se que há obrigação do comerciante de bem informar, com precisão, clareza e de forma ostensiva, o preço do produto. Essa condição estará plenamente atendida com a colocação do preço, de forma visível, em cada produto, da mesma forma que devem ser expostos a sua composição, prazos de validade, origem, características essenciais, etc." (MS 5986 DF, Rel. Ministro GARCIA VIEIRA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 13/10/1999, DJ 29/11/1999, p. 116)

"[...] o DL nº 395/38 e a Lei nº 2.004/53 foram recepcionados pela Carta Magna. Tais dispositivos concedem ao Poder Público amplas atribuições sobre a comercialização do petróleo, pelo que pode baixar resolução para ordenar, fiscalizar e controlar a atuação das empresas envolvidas no setor. Não são, apenas, os referidos dispositivos que dão suporte aos arts. 11 e 18 das Portarias examinadas. Elas decorrem, também, dos efeitos expelidos pelos arts. 4º, inciso I, III e VI e art. 55, do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Não há como negar que a razão essencial dos dispositivos regulamentadores questionados é impor condutas a uma relação de consumo de caráter abrangente e desenvolvida em larga escala pela população. Sabido é que com a Carta Magna de 1988, a defesa do consumidor foi elevada à categoria de direito fundamental e que ao Estado foi outorgado, de modo obrigatório, a atribuição de protegê-lo, conforme se depreende do art. 5º, inc. XXXII: [...] Esse direito fundamental há de ser

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assegurado, por imposição constitucional, pelo Estado, a quem cabe, ao protegê-lo, voltar-se, também, para os princípios regedores da ordem econômica que há de se desenvolver tendo em vista a defesa do consumidor, conforme previsão do art. 170, V, CF: [...] Forte em tais determinações constitucionais, surgiu o Código de Proteção ao Consumidor que, em seu art. 4º, estabelece a Política Nacional a ser aplicada às relações de consumo de caráter obrigatório e harmonizada com a dicção do art. 170 da CF. A irresignação dos impetrantes quanto ao controle das suas atividades não tem amparo legal e nem lhes fere qualquer direito subjetivo. O controle que lhes é imposto decorre da necessidade de oferecer os produtos, considerados de utilidade pública, com rigorosa transparência, a fim de se atender aos ditames do art. 4º do Código de Proteção ao Consumidor." (MS 4138 DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/1996, DJ 21/10/1996, p. 40193, REPDJ 25/11/1996, p. 46134)

"[...] o sistema jurídico pátrio atribui competência sancionadora ao Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, tal como reconhecido pelo acórdão recorrido e pela decisão agravada. Repito os termos da decisão agravada [...]: 'Quanto à competência do PROCON para lavrar auto de infração, o recurso especial merece conhecimento, porquanto a matéria federal restou devidamente prequestionada, ainda que implicitamente. Contudo, quanto ao mérito da pretensão, não prospera o inconformismo. Com efeito, quando qualquer prestação de serviço ou colocação de produto no mercado envolver relação de consumo, exsurge, em prol da Política Nacional das Relações de Consumo estatuída nos arts. 4º e 5º do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC, que, nos termos do art. 105 do Código de Defesa do Consumidor, é integrado por órgãos federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal, além das entidades privadas que têm por objeto a defesa do consumidor. Nesse sentido, os arts. 3º e 4º, I, II, III e IV, do Decreto n. 2.181/97, combinado com os arts. 105 e 106, VIII e IX, do Código de Defesa do Consumidor, conferem aos órgãos de proteção e defesa do consumidor, como é o caso do PROCON municipal, a atribuição para fiscalizar as relações de consumo, podendo aplicar as sanções por qualquer descumprimento aos direitos básicos do consumidor, como é o caso do problema inerente à linha telefônica de consumidor descrito nos autos. Assim, a atividade fiscalizadora e normativa das agências reguladoras não exclui a atuação de outros órgãos federais, municipais, estaduais ou do Distrito Federal, como é o caso dos PROCON's ou da própria Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça, por meio de seu Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, que podem fiscalizar, apenas, qualquer pessoa física ou jurídica que se enquadre como fornecedora na relação de consumo, nos termos do art. 3º e parágrafos do Código de Defesa do Consumidor. Vale lembrar, ainda, que a legitimidade do PROCON para a aplicação da multa também se valida no caso dos autos em razão do atributo da imperatividade inerente a todo ato administrativo.'" (AgRg no REsp 1135832 RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 08/09/2010)

"ADMINISTRATIVO. PODER DE POLÍCIA. APLICAÇÃO DE MULTA PELO PROCON À EMPRESA PÚBLICA FEDERAL. POSSIBILIDADE. [...] A proteção da relação de consumo pode e deve ser feita pelo Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC - conforme dispõem os arts. 4º e 5º do CDC, e é de competência do Procon a fiscalização das operações, inclusive financeiras, no tocante às relações de consumo com seus clientes, por incidir o referido diploma legal." (REsp 1103826 RN, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em

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23/06/2009, DJe 06/08/2009)

"A tese da recorrente é a de que o Procon não teria atribuição para a aplicação de sanções administrativas às seguradoras privadas, pois, com base no Decreto n. 73/66, somente à Susep caberia a normatização e fiscalização das operações de capitalização. Assim, a multa discutida no caso dos autos implicaria verdadeiro bis in idem e enriquecimento sem causa dos Estados, uma vez que a Susep é autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda; enquanto que o Procon, às Secretarias de Justiça Estaduais. 2. Não se há falar em bis in idem ou enriquecimento sem causa do Estado porque à Susep cabe apenas a fiscalização e normatização das operações de capitalização pura e simples, nos termos do Decreto n. 73/66. Quando qualquer prestação de serviço ou colocação de produto no mercado envolver relação de consumo, exsurge, em prol da Política Nacional das Relações de Consumo estatuída nos arts. 4º e 5º do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90), o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - SNDC que, nos termos do art. 105 do Código de Defesa do Consumidor é integrado por órgãos federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal, além das entidades privadas que têm por objeto a defesa do consumidor." (RMS 26397 BA, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 01/04/2008, DJe 11/04/2008)

"A política nacional de relações de consumo tem por objetivo, dentre outros, a prestação adequada de serviços ao consumidor, o respeito aos seus direitos e a racionalização do serviço público. II - Abusivo é o ato que impõe condições ilícitas para a prestação do serviço, notadamente em se vislumbrando prejuízo para os cofres públicos. III - Não se pode compreender a insensibilidade do instituto previdenciário quando este exige, para a expedição de guia para exames, que a mulher grávida, que se consultara, às suas expensas, com especialista de sua confiança, tenha que submeter-se a novo exame, com médico credenciado." (REsp 51813 RO, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 28/04/1997, DJ 26/05/1997, p. 22543)

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

"[...] nos termos do Código de Defesa do Consumidor, estar-se-á diante de uma relação de consumo quando, nos pólos respectivos, como figuras contrapostas, apresentarem-se consumidor e fornecedor. O art. 2º, caput, de citado diploma legal, define o consumidor como 'toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final'. Neste sentido, não subsistem dúvidas quanto à inclusão do usuário de cartão de crédito no conceito de consumidor, porquanto, ao adquirir mercadorias ou serviços nos estabelecimentos credenciados ao sistema, utiliza o serviço de concessão de crédito como destinatário final, interrompendo fática e economicamente a cadeia em que inserido aludido serviço. Caracteriza-se, de regra e ademais, como a parte presumidamente vulnerável (art. 4º, I, CDC), seja técnica, fática ou juridicamente." (REsp 541867 BA, Rel. Ministro ANTÔNIO DE PÁDUA RIBEIRO, Rel. p/ Acórdão Ministro BARROS MONTEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/11/2004, DJ 16/05/2005, p. 227)

"De um lado, a liberdade de contratar, a regra do art. 1460 do Código Civil ('quando a apólice limitar ou particularizar os riscos do seguro, não responderá por outros o segurador') e a obrigação do Estado, e não da iniciativa privada, de garantir a saúde da população. De outro, a hipossuficiência do consumidor, o fato de o contrato ser de

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adesão, a nulidade de cláusula que restringe direitos e a necessidade de preservar-se o maior dos valores humanos, que é a vida. Ponderando as duas correntes, tenho que mais acertada a segunda, notadamente por não encontrar justificativa na limitação de internação imposta pelas seguradoras. Se a doença é coberta pelo contrato de seguro (e isso a recorrida não nega), não se mostra razoável a limitação a seu tratamento. Até porque o consumidor não tem como prever quanto tempo durará a sua recuperação. A propósito, colho do voto condutor do mencionado precedente da Terceira Turma: 'Na verdade, o que se está discutindo, concretamente, é a abusividade de cláusula contratual que impõe limite de tempo para a internação de segurado. O acórdão recorrido não considerou abusiva a cláusula limitativa da internação, apoiado no que dispõem os arts. 1.434, 1.435 e 1.460 do Código Civil, afastando a alegada contrariedade ao Código de Defesa do Consumidor. Cláusula abusiva, na dicção de Nelson Nery Júnior, 'é aquela que é notoriamente desfavorável à parte mais fraca na relação contratual, e, no caso de nossa análise, é o consumidor, aliás por expressa definição do art. 4o, I, do CDC' (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, Forense Universitária, 4a ed., com outros autores, 1995, pág. 339). Ora, uma cláusula que limita a internação de um segurado, apesar da causa da prorrogação decorrer de complicações da própria doença, por fato inesperado, a provocar nova internação, ainda em decorrência do mesmo fato, é, a meu juízo, efetivamente abusiva do direito do consumidor, que não é o senhor do prazo de sua recuperação, que, como é curial, depende de muitos fatores, que nem mesmo os médicos são capazes de controlar. De fato, a realização do contrato de seguro, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, aplicável, por inteiro, à espécie, pressupõe o atendimento dos serviços contratados. Ora, se a enfermidade está coberta pelo seguro, não é possível, sob pena de grave abuso, impor ao segurador que se retire da unidade de tratamento intensivo, com o risco severo de morte, porque está fora do limite temporal previsto em uma determinada cláusula. Não pode a estipulação contratual ofender o princípio da razoabilidade, e se o faz, comete abusividade vedada pelo art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor. Anote-se que a regra protetiva, expressamente, refere-se a uma desvantagem exagerada do consumidor e, ainda, a obrigações incompatíveis com a boa-fé e a eqüidade. Não há como admitir cláusula que assuma pela realidade concreta da doença uma limitação de internação. Havendo vinculação ao fato inaugural coberto pelo contrato, não pode a seguradora, pura e simplesmente, fragilizado o segurado, negar a internação pelo período necessário ao tratamento. Em outra ocasião escrevi que 'as cláusulas que limitam os dias de internação, se tal serviço está alcançado pelo contrato, como é curial, não podem ser interpretadas contra o paciente porque restringem um direito fundamental inerente à natureza do contrato, como previsto no inc. II, do § 1o, do art. 51 do Código E, ademais, é abusivo impor para uma intervenção coberta pelo serviço um determinado tempo de cura, eis que complicações operatórias podem surgir por circunstâncias imprevistas. Por exemplo, em uma cirurgia gástrica a formação de um abcesso, ou uma coleção serosa, sob o fígado ou sob o diafragma, podem ampliar, compulsoriamente, o tempo de internação. Do mesmo modo, a síndrome de pericardiotomia, após uma cirurgia cardiológica. Ou, ainda, embolias pulmonares, que podem se seguir a qualquer intervenção cirúrgica, apesar de todas as providências adotadas para evitá-las. Os citados Guersi, Weingarten e Ippolito advertem com razão que as estipulações contratuais devem adaptar-se, necessariamente, ao conteúdo técnico e científico que vigora no campo da medicina; em função de cada uma das especialidades, que nos permitam enquadrar o objeto e a finalidade da atuação médica' (Revista Forense 328/315). Essas razões, a meu juízo, são suficientes para que eu conheça do especial e passe a aplicar o direito à espécie'. Na mesma direção, aliás, assinalou o voto vencido quando do referido julgamento na

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Quarta Turma: 'A limitação do número de dias de internação não prevalece quando o doente tiver a necessidade, reconhecida pelo médico que ordenou a sua baixa em estabelecimento hospitalar, de ali permanecer por mais tempo do que o inicialmente previsto no contrato de seguro saúde. A natureza desse contrato e a especificidade do direito a que visa proteger estão a exigir sua compreensão à luz do direito do contratante que vem a necessitar do seguro para o pagamento das despesas a que não pode se furtar, como exigência do tratamento de sua saúde. Já está referida nos autos a lição do eminente Prof. Galeno Lacerda: 'O contrato de seguro saúde cria um direito absoluto. Estamos em presença, assim, de uma categoria nova de direitos sobre direitos. Nessa espécie prevalece a natureza mais importante. Ou como esclarece Ferrara, il diritto dominato assume Ia natura del diritto dominante (ob. cit p. 414). Por isso, se, no caso concreto, a seguradora, sem razão, negar cobertura à segurada, estará atentando contra direitos absolutos à saúde e à vida do paciente' (cf. Seguro de Saúde in RT 717/117)'. Não é razoável que as seguradoras operadoras nesse ramo de atividade tenham como perspectiva possível a desinternação do segurado, embora ainda doente e necessitando desses serviços com risco de vida, apenas porque terminou o prazo inicialmente previsto para a cobertura. Tanto assim que a legislação hoje em vigor (Lei nº 9.656/98), que não se aplica ao contrato antes celebrado, mas que serve de boa orientação para interpretá-lo, dispõe: 'Art. 12. São facultadas a oferta, a contratação e a vigência de planos ou seguros privados de assistência à saúde que contenham redução ou extensão da cobertura assistencial e do padrão de conforto de internação hospitalar, em relação ao plano referência definido no artigo 10, desde que observadas as seguintes exigências mínimas: I - quando incluir atendimento ambulatorial: a) cobertura de consultas médicas, em número ilimitado, em clínicas básicas e especializadas, reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina; b) cobertura de serviços de apoio diagnóstico e tratamento e demais procedimentos ambulatoriais, solicitados pelo médico assistente; II - quando incluir internação hospitalar: a) cobertura de internações hospitalares, vedada a limitação de prazo, em clínicas básicas e especializadas, reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina, admitindo-se a exclusão dos procedimentos obstétricos; b) cobertura de internações hospitalares em centro de terapia intensiva, ou similar, vedada a limitação de prazo, a critério do médico assistente.' Nesta linha, tenho por abusiva a cláusula que impõe a limitação temporal no tratamento da doença sofrida pelo segurado, levando em consideração a norma do art. 51-IV do Código de Defesa do Consumidor, a impossibilidade da previsão do tempo de cura, a irrazoabilidade da suspensão do tratamento indispensável, a vedação de restringir-se em contrato direitos fundamentais e a regra de sobredireito contida no art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil, segundo a qual, na aplicação da lei, o juiz deve atender aos fins sociais a que ela se dirige a às exigências do bem comum." (REsp 251024 SP, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 27/09/2000, DJ 04/02/2002, p. 270)

"[...] quando o consumo de água de condomínio edilício comercial ou residencial for medido através de um único aparelho medidor, a fatura deve levar em conta o volume real aferido, sendo descabida a cobrança de tarifa mínima multiplicada pelo número de economias. Eis o que foi consignado no voto condutor do mencionado julgado: '[...] O consumo mensal médio do recorrente, conforme registrado no hidrômetro, é de aproximadamente 890 m³ [...]. Pelo critério da CEDAE, o volume sobe para 1.920 m³ (um mil, novecentos e vinte metros cúbicos), porquanto o consumo mínimo por economia comercial (20 m³) é multiplicado pelo número de salas (96), ou seja, a fornecedora está cobrando o consumo mínimo de cada unidade imobiliária. Com isso, a

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contraprestação pelo serviço (tarifa) é superfaturada em até 115%. Partindo-se do pressuposto constitucional de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (CF/88, art. 5º, II), o faturamento do serviço praticado pela CEDAE é ilícito por carecer de autorização legal. Sequer existe, na verdade, relação jurídica estabelecida entre as unidades imobiliárias autônomas individualmente consideradas e o prestador do serviço, mas tão-somente entre o condomínio edilício (consumidor) e a fornecedora (CEDAE). O cálculo da CEDAE desconsidera a ratio legis subjacente à finalidade da tarifa mínima, instituída no escopo de se assegurar a viabilidade econômico-financeira do serviço, e não para proporcionar lucros arbitrários à custa dos usuários. O consumo total medido a ser pago pelo condomínio já inclui o custo do serviço, porquanto embutido no valor da tarifa (Lei 6.528/78, art. 21, § 2º), não se justificando, destarte, a fórmula de cobrança praticada. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos, entre outros, os seguintes princípios: harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; coibição/repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, que possam causar prejuízos aos consumidores (CDC, art. 4º, III e VI). São direitos básicos do consumidor a proteção contra práticas abusivas no fornecimento de serviços, a modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais e a efetiva prevenção/reparação de danos patrimoniais (CDC, art. 6º, IV, V e VI), sendo vedado ao fornecedor condicionar o fornecimento de serviço, sem justa causa, a limites quantitativos, exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva, bem como elevar sem justa causa o preço de serviços (CDC, art. 39, I, V e X). Presume-se excessiva a vantagem que: (I) ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico; (II) restringe direitos ou obrigações fundamentais de tal modo a ameaçar o equilíbrio da relação; (III) se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso (CDC, art. 51, § 1º). A Lei 8.987/95, sem prejuízo do disposto no Código de Defesa do Consumidor, garante aos usuários o direito ao serviço adequado, ou seja, aquele que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas (arts. 6º, § 1º, e 7º, I). Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin aborda, com propriedade, as vedações concernentes ao fornecimento quantitativamente casado e à exigência de vantagem excessiva: 'CONDICIONAMENTO DO FORNECIMENTO DE PRODUTO OU SERVIÇO - O Código proíbe, expressamente, duas espécies de condicionamento do fornecimento de produtos e serviços. (...) Na segunda hipótese, a condição é quantitativa, dizendo respeito ao mesmo produto ou serviço objeto do fornecimento. Para tal caso, contudo, o Código não estabelece uma proibição absoluta. O limite quantitativo é admissível desde que haja 'justa causa' para a sua imposição. Por exemplo, quando o estoque do fornecedor for limitado. A prova da excludente, evidentemente, compete ao fornecedor. A justa causa, porém, só tem aplicação aos limites quantitativos que sejam inferiores à quantidade desejada pelo consumidor. Ou seja, o fornecedor não pode obrigar o consumidor a adquirir quantidade maior que as suas necessidades. (...) A EXIGÊNCIA DE VANTAGEM EXCESSIVA - Note-se que, neste ponto, o Código mostra a sua

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aversão não apenas à vantagem excessivamente concretizada, mas também em relação à mera exigência. (...) Mas o que vem a ser vantagem excessiva? O critério para o seu julgamento é o mesmo da vantagem exagerada (art. 51, § 1º). Aliás, os dois termos não são apenas próximos. São Sinônimos.' (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover... [et al.], 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pp. 324/326, grifou-se) O Ministro Humberto Gomes de Barros, no voto condutor proferido nos EDcl no REsp 280.115/RJ, endossou o fundamento do acórdão recorrido - lavrado pelo então Desembargador Luiz Fux, hoje integrante da Primeira Turma deste Tribunal -, segundo o qual 'nos prédios ocupados com hidrômetro, razoável parece que a tarifa deva se vincular a cada hidrômetro e não a cada sala por ele servida, como entende apelante. E sendo de outra forma, estar-se-á, na verdade, reconhecendo à prestadora de serviço público o direito de calcular a tarifa de consumo de água segundo a sua exclusiva conveniência, estabelecendo prestações desproporcionais com o serviço prestado, além de compactuar-se com o indevido enriquecimento da mesma em detrimento do patrimônio do consumidor, o que é vedado, não só pelo Código Civil, como pelo Código de Proteção ao Consumidor' (grifou-se). A remuneração pelo fornecimento de água ou esgoto, embora compulsória, não tem natureza jurídica tributária (taxa), mas constitui tarifa [...] cujo valor deve guardar relação de proporcionalidade com o serviço efetivamente prestado, não podendo ser cobrada por serviço não-prestado, sob pena de enriquecimento sem causa. Há, ainda, outra objeção de ordem constitucional. A cobrança da tarifa mínima de cada unidade imobiliária, de maneira indiscriminada, conduz a situações de extrema injustiça e viola o princípio da isonomia, porque o consumo real dos condôminos é distinto. Explica-se: aquele que possui consumo efetivo superior a 20 m³ de água por mês deveria, em tese, pagar o volume medido, e não apenas a tarifa mínima; já o proprietário mais econômico, com consumo inferior ao limite legal, só deveria, em tese, pagar a tarifa mínima. Por isso, a cobrança indistinta de todos os condôminos, a pretexto de viabilizar economicamente o sistema, acaba gerando uma situação de fato completamente divorciada da vontade constitucional. Interpretação diversa implicaria desconsiderar não apenas a finalidade da tarifa mínima, o regime do serviço pelo custo, os direitos básicos do consumidor, a natureza jurídica da tarifa e a vedação ao enriquecimento sem causa, como também importante diretriz dos serviços de saneamento básico: a inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos hídricos (Lei 11.445/2007, art. 29, § 1º, IV). Desse modo, considerando-se ilegal e abusiva a cobrança da tarifa mínima multiplicada pelo número de salas, o condomínio faz jus à repetição de indébito dos valores cobrados indevidamente (CDC, arts. 6º, VII, e 22, parágrafo único). O art. 42, parágrafo único, do CDC, nessa perspectiva, diz que 'o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.' A restituição deve ser simples, e não em dobro, porquanto não-caracterizado, no caso, dolo ou má-fé da fornecedora. O critério de cobrança adotado, embora abusivo, foi produto de engano justificável, notadamente em face da controvérsia jurídica existente a respeito do objeto da cobrança [...]. Por todas essas razões, o recurso especial deve ser parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, para: (I) declarar a impossibilidade de a fornecedora multiplicar o consumo mínimo pelo número de unidades autônomas existentes no condomínio, devendo ser observado, no faturamento do serviço, o volume global de água registrado no hidrômetro; (II) julgar parcialmente procedente o pedido inicial, determinando-se, por conseguinte, a restituição simples dos valores indevidamente recolhidos pela CEDAE (com base na fórmula ilegal), desde os cinco anos anteriores à citação, conforme o pedido." (REsp

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1006403 RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 30/06/2008)

"[...] COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL. CONTROLE E FISCALIZAÇÃO PELO ESTADO. 1 - A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ATIVIDADE ECONÔMICA ENCONTRA AUTORIZAÇÃO CONSTITUCIONAL QUANDO TEM POR FINALIDADE PROTEGER O CONSUMIDOR. [...] 3 - O CÓDIGO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR (ARTS 4., I, III E IV, 6., IV E 55) DÁ SUSTENTAÇÃO JURÍDICA PARA A EDIÇÃO DAS PORTARIAS REFERIDAS, ALÉM DO DEL N. 395, DE 27/04/1938, DA LEI N. 2004, DE 03/10/1953 E LEGISLAÇÃO POSTERIOR QUE REESTRUTUROU O MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA E FIXOU AS SUAS ATRIBUIÇÕES. (MS 4138 DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/1996, DJ 21/10/1996, p. 40193, REPDJ 25/11/1996, p. 46134)

"[...] a efetiva incidência do CDC a uma relação de consumo está pautada na existência de destinação final fática e econômica do produto ou serviço, isto é, exige-se total desvinculação entre o destino do produto ou serviço consumido e qualquer atividade produtiva desempenhada pelo utente ou adquirente. Entretanto, o próprio STJ tem admitido o temperamento desta regra, com fulcro no art. 4º, I, do CDC, fazendo a lei consumerista incidir sobre situações em que, apesar do produto ou serviço ser adquirido no curso do desenvolvimento de uma atividade empresarial, haja vulnerabilidade de uma parte frente à outra. - Uma interpretação sistemática e teleológica do CDC aponta para a existência de uma vulnerabilidade presumida do consumidor, inclusive pessoas jurídicas, visto que a imposição de limites à presunção de vulnerabilidade implicaria restrição excessiva, incompatível com o próprio espírito de facilitação da defesa do consumidor e do reconhecimento de sua hipossuficiência, circunstância que não se coaduna com o princípio constitucional de defesa do consumidor, previsto nos arts. 5º, XXXII, e 170, V, da CF. Em suma, prevalece a regra geral de que a caracterização da condição de consumidor exige destinação final fática e econômica do bem ou serviço, mas a presunção de vulnerabilidade do consumidor dá margem à incidência excepcional do CDC às atividades empresariais, que só serão privadas da proteção da lei consumerista quando comprovada, pelo fornecedor, a não vulnerabilidade do consumidor pessoa jurídica. - Ao encampar a pessoa jurídica no conceito de consumidor, a intenção do legislador foi conferir proteção à empresa nas hipóteses em que, participando de uma relação jurídica na qualidade de consumidora, sua condição ordinária de fornecedora não lhe proporcione uma posição de igualdade frente à parte contrária. Em outras palavras, a pessoa jurídica deve contar com o mesmo grau de vulnerabilidade que qualquer pessoa comum se encontraria ao celebrar aquele negócio, de sorte a manter o desequilíbrio da relação de consumo. A 'paridade de armas' entre a empresa-fornecedora e a empresa-consumidora afasta a presunção de fragilidade desta. Tal consideração se mostra de extrema relevância, pois uma mesma pessoa jurídica, enquanto consumidora, pode se mostrar vulnerável em determinadas relações de consumo e em outras não." (RMS 27512 BA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/2009, DJe 23/09/2009)

"Consumidor é a pessoa física ou jurídica que adquire produto como destinatário final econômico, usufruindo do produto ou do serviço em beneficio próprio. - Excepcionalmente, o profissional freteiro, adquirente de caminhão zero quilômetro, que assevera conter defeito, também poderá ser considerado consumidor, quando a

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vulnerabilidade estiver caracterizada por alguma hipossuficiência quer fática, técnica ou econômica." (REsp 1080719 MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 10/02/2009, DJe 17/08/2009)

"Não se discute agora a força cogente da cláusula arbitral e que a sua inobservância é causa para a extinção do processo sem julgamento do mérito. Discute-se a inserção da cláusula em contrato elaborado unilateralmente pela construtora. Estamos diante de um contrato de promessa de compra e venda de imóvel, celebrado entre uma Construtora e uma pessoa física, tratando de relação de consumo entre as partes. Para a Lei 8.078/90, (Art. 54) contrato de adesão é 'aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.' Ora, nos contratos de promessa de compra e venda de imóveis, o consumidor não discute o conteúdo do contrato: ou adere ou não adquire o bem pretendido. Sobre o tema, nossa jurisprudência: [...] Na hipótese, a cláusula contratual que impôs a arbitragem foi declarada abusiva, nos termos dos artigos 4º, I e 51, IV e VII do CDC, em especial este último inciso, que considera nula cláusula contratual que torna compulsória a arbitragem. A construtora impôs como condição para celebração do contrato, a aceitação dessa cláusula compromissória, não houve liberdade de opção em relação a ela. [...] É nula a clausula de convenção de arbitragem inserta em contrato de adesão, celebrado na vigência do Código de Defesa do Consumidor." (REsp 819519 PE, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, TERCEIRA TURMA, julgado em 09/10/2007, DJ 05/11/2007, p. 264)

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

"[...] EXPORTAÇÃO DE CAFÉ. PORTARIAS MINISTERIAIS NUMS. 239, 240, 253 E 728/91. INDEFERIMENTO DE PEDIDOS E CANCELAMENTOS DE OUTROS JA AUTORIZADOS. INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO. [...] A fiscalização e controle das exportações de produtos nacionais se subsume no âmbito da conveniência da administração, com a prevalência do interesse da coletividade a ser tutelado. O Estado intervém na atividade econômica, no interesse nacional, tendo como objetivo a preservação da soberania e a defesa do consumidor. inexistencia de direito adquirido." (MS 3600 DF, Rel. Ministro DEMÓCRITO REINALDO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/02/1995, DJ 16/10/1995, p. 34600)

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

"[...] quando o consumo de água de condomínio edilício comercial ou residencial for medido através de um único aparelho medidor, a fatura deve levar em conta o volume real aferido, sendo descabida a cobrança de tarifa mínima multiplicada pelo número de

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economias. Eis o que foi consignado no voto condutor do mencionado julgado: '[...] O consumo mensal médio do recorrente, conforme registrado no hidrômetro, é de aproximadamente 890 m³ [...]. Pelo critério da CEDAE, o volume sobe para 1.920 m³ (um mil, novecentos e vinte metros cúbicos), porquanto o consumo mínimo por economia comercial (20 m³) é multiplicado pelo número de salas (96), ou seja, a fornecedora está cobrando o consumo mínimo de cada unidade imobiliária. Com isso, a contraprestação pelo serviço (tarifa) é superfaturada em até 115%. Partindo-se do pressuposto constitucional de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (CF/88, art. 5º, II), o faturamento do serviço praticado pela CEDAE é ilícito por carecer de autorização legal. Sequer existe, na verdade, relação jurídica estabelecida entre as unidades imobiliárias autônomas individualmente consideradas e o prestador do serviço, mas tão-somente entre o condomínio edilício (consumidor) e a fornecedora (CEDAE). O cálculo da CEDAE desconsidera a ratio legis subjacente à finalidade da tarifa mínima, instituída no escopo de se assegurar a viabilidade econômico-financeira do serviço, e não para proporcionar lucros arbitrários à custa dos usuários. O consumo total medido a ser pago pelo condomínio já inclui o custo do serviço, porquanto embutido no valor da tarifa (Lei 6.528/78, art. 21, § 2º), não se justificando, destarte, a fórmula de cobrança praticada. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos, entre outros, os seguintes princípios: harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; coibição/repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, que possam causar prejuízos aos consumidores (CDC, art. 4º, III e VI). São direitos básicos do consumidor a proteção contra práticas abusivas no fornecimento de serviços, a modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais e a efetiva prevenção/reparação de danos patrimoniais (CDC, art. 6º, IV, V e VI), sendo vedado ao fornecedor condicionar o fornecimento de serviço, sem justa causa, a limites quantitativos, exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva, bem como elevar sem justa causa o preço de serviços (CDC, art. 39, I, V e X). Presume-se excessiva a vantagem que: (I) ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico; (II) restringe direitos ou obrigações fundamentais de tal modo a ameaçar o equilíbrio da relação; (III) se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso (CDC, art. 51, § 1º). A Lei 8.987/95, sem prejuízo do disposto no Código de Defesa do Consumidor, garante aos usuários o direito ao serviço adequado, ou seja, aquele que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas (arts. 6º, § 1º, e 7º, I). Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin aborda, com propriedade, as vedações concernentes ao fornecimento quantitativamente casado e à exigência de vantagem excessiva: 'CONDICIONAMENTO DO FORNECIMENTO DE PRODUTO OU SERVIÇO - O Código proíbe, expressamente, duas espécies de condicionamento do fornecimento de produtos e serviços. (...) Na segunda hipótese, a condição é quantitativa, dizendo respeito ao mesmo produto ou serviço objeto do fornecimento. Para tal caso, contudo, o Código não estabelece uma proibição absoluta. O limite quantitativo é admissível desde

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que haja 'justa causa' para a sua imposição. Por exemplo, quando o estoque do fornecedor for limitado. A prova da excludente, evidentemente, compete ao fornecedor. A justa causa, porém, só tem aplicação aos limites quantitativos que sejam inferiores à quantidade desejada pelo consumidor. Ou seja, o fornecedor não pode obrigar o consumidor a adquirir quantidade maior que as suas necessidades. (...) A EXIGÊNCIA DE VANTAGEM EXCESSIVA - Note-se que, neste ponto, o Código mostra a sua aversão não apenas à vantagem excessivamente concretizada, mas também em relação à mera exigência. (...) Mas o que vem a ser vantagem excessiva? O critério para o seu julgamento é o mesmo da vantagem exagerada (art. 51, § 1º). Aliás, os dois termos não são apenas próximos. São Sinônimos.' (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover... [et al.], 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pp. 324/326, grifou-se) O Ministro Humberto Gomes de Barros, no voto condutor proferido nos EDcl no REsp 280.115/RJ, endossou o fundamento do acórdão recorrido - lavrado pelo então Desembargador Luiz Fux, hoje integrante da Primeira Turma deste Tribunal -, segundo o qual 'nos prédios ocupados com hidrômetro, razoável parece que a tarifa deva se vincular a cada hidrômetro e não a cada sala por ele servida, como entende apelante. E sendo de outra forma, estar-se-á, na verdade, reconhecendo à prestadora de serviço público o direito de calcular a tarifa de consumo de água segundo a sua exclusiva conveniência, estabelecendo prestações desproporcionais com o serviço prestado, além de compactuar-se com o indevido enriquecimento da mesma em detrimento do patrimônio do consumidor, o que é vedado, não só pelo Código Civil, como pelo Código de Proteção ao Consumidor' (grifou-se). A remuneração pelo fornecimento de água ou esgoto, embora compulsória, não tem natureza jurídica tributária (taxa), mas constitui tarifa [...] cujo valor deve guardar relação de proporcionalidade com o serviço efetivamente prestado, não podendo ser cobrada por serviço não-prestado, sob pena de enriquecimento sem causa. Há, ainda, outra objeção de ordem constitucional. A cobrança da tarifa mínima de cada unidade imobiliária, de maneira indiscriminada, conduz a situações de extrema injustiça e viola o princípio da isonomia, porque o consumo real dos condôminos é distinto. Explica-se: aquele que possui consumo efetivo superior a 20 m³ de água por mês deveria, em tese, pagar o volume medido, e não apenas a tarifa mínima; já o proprietário mais econômico, com consumo inferior ao limite legal, só deveria, em tese, pagar a tarifa mínima. Por isso, a cobrança indistinta de todos os condôminos, a pretexto de viabilizar economicamente o sistema, acaba gerando uma situação de fato completamente divorciada da vontade constitucional. Interpretação diversa implicaria desconsiderar não apenas a finalidade da tarifa mínima, o regime do serviço pelo custo, os direitos básicos do consumidor, a natureza jurídica da tarifa e a vedação ao enriquecimento sem causa, como também importante diretriz dos serviços de saneamento básico: a inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos hídricos (Lei 11.445/2007, art. 29, § 1º, IV). Desse modo, considerando-se ilegal e abusiva a cobrança da tarifa mínima multiplicada pelo número de salas, o condomínio faz jus à repetição de indébito dos valores cobrados indevidamente (CDC, arts. 6º, VII, e 22, parágrafo único). O art. 42, parágrafo único, do CDC, nessa perspectiva, diz que 'o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.' A restituição deve ser simples, e não em dobro, porquanto não-caracterizado, no caso, dolo ou má-fé da fornecedora. O critério de cobrança adotado, embora abusivo, foi produto de engano justificável, notadamente em face da controvérsia jurídica existente a respeito do objeto da cobrança [...]. Por todas essas razões, o recurso especial deve ser parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, para:

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(I) declarar a impossibilidade de a fornecedora multiplicar o consumo mínimo pelo número de unidades autônomas existentes no condomínio, devendo ser observado, no faturamento do serviço, o volume global de água registrado no hidrômetro; (II) julgar parcialmente procedente o pedido inicial, determinando-se, por conseguinte, a restituição simples dos valores indevidamente recolhidos pela CEDAE (com base na fórmula ilegal), desde os cinco anos anteriores à citação, conforme o pedido." (REsp 1006403 RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 30/06/2008)

"[...] COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL. CONTROLE E FISCALIZAÇÃO PELO ESTADO. 1 - A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ATIVIDADE ECONÔMICA ENCONTRA AUTORIZAÇÃO CONSTITUCIONAL QUANDO TEM POR FINALIDADE PROTEGER O CONSUMIDOR. [...] O CÓDIGO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR (ARTS 4., I, III E IV, 6., IV E 55) DÁ SUSTENTAÇÃO JURÍDICA PARA A EDIÇÃO DAS PORTARIAS REFERIDAS, ALÉM DO DEL N. 395, DE 27/04/1938, DA LEI N. 2004, DE 03/10/1953 E LEGISLAÇÃO POSTERIOR QUE REESTRUTUROU O MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA E FIXOU AS SUAS ATRIBUIÇÕES. (MS 4138 DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/1996, DJ 21/10/1996, p. 40193, REPDJ 25/11/1996, p. 46134)

"Cinge-se a controvérsia a determinar a validade de cláusula contratual que exclui de cobertura o sinistro decorrente de doença preexistente, inserida em seguro atrelado a mútuo habitacional regido pelo SFH. A análise da validade da cláusula se realiza à luz de peculiaridade existente na espécie, consistente no fato de não ter sido realizado, pela seguradora, exame para constatação da higidez física do mutuário à época da contratação. Destarte, não procede a alegação da recorrente, de que a não realização do exame prévio pelo segurado se justificaria pelo fato do seguro concretizar-se automaticamente, sem a intervenção da seguradora, pelo simples fechamento da operação de financiamento. Por outro lado, não se pode ignorar o entendimento de longa data pacificado nesta Corte, no sentido de que a cláusula de exclusão de cobertura por doença preexistente 'pode ser oposta pela seguradora ao segurado apenas se houver prévio exame médico ou prova inequívoca de má-fé do segurado' [...] Ainda que, na hipótese dos autos, haja a peculiaridade de se tratar de um seguro obrigatório, em relação ao qual, na perspectiva adotada pela recorrente (de que o oferecimento do seguro seria um dever do agente financeiro), inexistiria discricionariedade da seguradora quanto à aceitação da proposta, tal circunstância não se afigura suficiente para afastar a aplicabilidade dos precedentes supra. Em outras palavras, mesmo partindo da premissa de que constitui dever do agente financeiro oferecer o seguro habitacional, ainda assim, para que prevaleça cláusula de exclusão de cobertura por moléstia preexistente, subsistiria a necessidade de se submeter o segurado a prévio exame médico. Isso porque, a jurisprudência consolidada nesta Corte, de que a exclusão de cobertura por doença preexistente só é válida se precedida de perícia médica, assenta em duplo fundamento: (i) ao aceitar a proposta e passar a receber o prêmio do seguro sem qualquer exigência quanto ao conhecimento do efetivo estado de saúde do segurado, a seguradora assume o risco de sinistro decorrente de doença preexistente; e (ii) o segurado tem o direito de saber, no ato da contratação, os limites exatos de cobertura do seguro que está sendo contratado, para que não venha futuramente a ser surpreendido por causa excludente acerca da qual não teve prévia ciência. Por estarmos diante de seguro a ser obrigatoriamente oferecido pelo agente financeiro (para nos mantermos na

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linha de raciocínio desenvolvida pela recorrente), poder-se-ia até cogitar da impropriedade do primeiro argumento, visto que, em princípio, a aceitação ou não do segurado pela seguradora se afasta da esfera de arbitrariedade desta. O mesmo, contudo, não se pode dizer do segundo fundamento, pois o fato do seguro ser compulsório não ilide a obrigatoriedade de uma negociação transparente, corolário da boa-fé objetiva inerente a qualquer relação contratual, em especial aquelas que caracterizam uma relação de consumo, como ocorre na espécie. Cláudia Lima Marques, Antônio Herman Benjamin e Bruno Miragem, bem observam que o princípio da transparência é 'um reflexo da boa-fé exigida aos agentes contratuais' (Comentários ao código de defesa do consumidor. São Paulo: RT, 2003, 1ª ed., p. 151). No REsp 86.095/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJ de 22.04.1996, um dos pioneiros sobre a questão da necessidade de realização de prévio exame médico, já se frisava que 'o segurado é um leigo, que quase sempre desconhece o real significado dos termos, cláusulas e condições constantes dos formulários que lhe são apresentados. Para reconhecer a sua malícia, seria indispensável a prova de que (1) realmente, fora ele informado e esclarecido de todo o conteúdo do contrato de adesão, e, ainda, (2) estivesse ciente das características de sua eventual doença, classificação e efeitos. A exigência de um comportamento de acordo com a boa-fé recai também sobre a empresa que presta assistência, pois ela tem, mais do que ninguém, condições de conhecer as peculiaridades, as características, a álea do campo de sua atividade empresarial'. Com efeito, nas relações contratuais, a transparência afeta a própria essência do negócio, na medida em que apenas mediante informação adequada e suficiente sobre o objeto e o conteúdo do contrato é que se pode vincular a parte que a ele adere. Muito embora o CC/16, vigente à época dos fatos, não contivesse preceito expresso relativo ao dever de transparência nas relações de índole contratual, no âmbito dos contratos de seguro, o art. 1.443, cuja essência foi mantida pelo art. 765 do CC/02, dispunha que 'segurado e segurador são obrigados a guardar no contrato a mais estrita boa-fé e veracidade, assim a respeito do objeto, como das circunstâncias e declarações a ele concernentes'. Na esfera das relações de consumo, por sua vez, houve opção explícita do legislador pelo primado da transparência como reflexo do dever de boa-fé, presente em vários dispositivos do CDC, tais como nos arts. 4º, 6º, II e III, 30, 31, 54 entre outros e, em especial, no art. 46, o qual dispõe que os contratos reguladores de relações de consumo 'não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance'. Da análise sistemática dessa norma infere-se que o fornecedor deve dar ao consumidor pleno conhecimento dos termos do contrato, chamando-lhe especial atenção para cláusulas que impliquem na assunção de obrigações e na limitação de direitos. Ao interpretar o referido dispositivo legal, Nelson Nery Júnior observa que 'não satisfaz a regra do artigo a mera cognoscibilidade das bases do contrato, pois o sentido teleológico e finalístico da norma indica dever o fornecedor dar efetivo conhecimento ao consumidor de todos os direitos e deveres que decorrerão do contrato, especialmente sobre cláusulas restritivas de direitos do consumidor' (Código brasileiro de defesa do consumidor. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, 7ª ed., p. 485). Nesse contexto, conclui-se que, nos contratos de seguro, o dever de boa-fé e transparência torna insuficiente a inserção de uma cláusula geral de exclusão de cobertura; deve-se dar ao contratante ciência discriminada dos eventos efetivamente não abrangidos por aquele contrato. Na hipótese específica do seguro habitacional, mesmo sendo ele de contratação obrigatória, é crucial que a seguradora, desejando fazer valer cláusula de exclusão de cobertura por doença preexistente, dê amplo conhecimento ao segurado, via exame médico prévio, sobre eventuais moléstias que o acometam no ato de conclusão

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do negócio e que, por tal motivo, ficariam excluídas do objeto do contrato. Essa informação é imprescindível para que o segurado saiba, de antemão, o alcance exato do seguro contratado, inclusive para que, no extremo, possa desistir do próprio financiamento, acaso descubra estar acometido de doença que, não abrangida pelo seguro, possa a qualquer momento impedi-lo de dar continuidade ao pagamento do mútuo, aumentando sobremaneira os riscos do negócio. Aliás, não cabe dúvida de que um dos objetivos da impositividade do seguro habitacional é não deixar ao desamparo famílias que, com a morte repentina do mutuário, perderiam o imóvel por não terem condição de arcar com as prestações do financiamento. Assim, não se coaduna com o espírito da norma a exclusão desse benefício nos casos de doença preexistente, porém não diagnosticada ao tempo da contratação. Em tais hipóteses, ausente a má-fé do mutuário-segurado, a indenização securitária deve ser paga." (REsp 1074546 RJ, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/09/2009, DJe 04/12/2009)

"[...] reconhecido o dano (protesto indevido de título de crédito nulo e inscrição do nome da recorrente no cadastro de inadimplentes), a conduta culposa do banco-recorrido (não conferência da assinatura aposta no cheque), e o nexo causal, pois da falta de diligência do banco-recorrido resultou o evento danoso, é de rigor imputar à instituição financeira a responsabilidade civil pelo ilícito, na linha de entendimento da uníssona jurisprudência do STJ, conforme já demonstrado. Ressalte-se, ademais, que, com arrimo na aplicação do princípio da boa-fé, erigido como um dos pilares de qualquer relação contratual, quer seja pela previsão legal contida nos arts. 4º, inc. III, 51, inc. IV, do CDC, quer seja pela nova ótica constante dos arts. 113 e 422 do CC/02, tal perspectiva contém implicações para ambas as partes, dentre elas, o surgimento de deveres anexos ao contrato e que devem ser observados durante toda a relação contratual e, até mesmo, após o término desta. Assim, mesmo que de forma subjacente ao encerramento da conta bancária, incumbia à instituição financeira o dever anexo de buscar a autenticidade da assinatura aposta no cheque, para resguardar a ex-correntista do constrangimento a que foi exposta em razão da referida falta de cuidado do estabelecimento bancário, notadamente quanto ao serviço anteriormente contratado e posto à disposição da consumidora. Releva destacar, no que diz respeito aos deveres anexos cuja teoria foi introduzida no Brasil pela i. professora Cláudia Lima Marques, o enunciado número 24 do CJF: 'Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa'. Sob tal premissa, e apenas como reforço argumentativo, igualmente responde o banco pelo descumprimento do aludido dever anexo ao contrato, com os contornos mais graves dados pela responsabilidade civil objetiva." (REsp 712591 RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/11/2006, DJ 04/12/2006, p. 300)

"Embora o acórdão recorrido tivesse se inclinado no sentido da aplicação dos índices legais para a devolução dos valores pagos indevidamente pelo devedor, a decisão revela afronta ao princípio geral da eqüidade, que pressupõe tratamento igualitário das partes em suas relações contratuais. Se a instituição financeira, aplicando a taxa de juros originalmente pactuada, obteve rendimentos no mercado sobre o capital que pertencia, inicialmente, ao autor, não pode desejar que a devolução desta soma seja realizada com base em índices inferiores aos que aplicou. É o que exsurge da análise do inciso III do artigo 4º do Cód. Def. do Consumidor, apontado como malferido: [...] Com efeito, incontroverso o direito do correntista de recompor o seu patrimônio, é de se reconhecer,

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também, que a devolução dos valores deve abranger, não só o principal, mas também os frutos advindos de sua utilização pelo Banco em sua atividade financeira, sob pena de enriquecimento injustificado da instituição financeira, com ferimento ao artigo 964 do então vigente Cód. Civil. Destarte, para evitar o uso da má-fé e desequilíbrio nas relações entre fornecedores e consumidores, além de justa, é jurídica a aplicação da mesma taxa de juros praticada pela instituição financeira na devolução dos valores, ilicitamente utilizados, com o que se restabelecerá a isonomia da relação contratual, afastando qualquer solução jurídica que venha a acolher o enriquecimento ilícito de uma parte sobre a outra." (REsp 724206 MG, Rel. Ministro CASTRO FILHO, TERCEIRA TURMA, julgado em 13/09/2005, DJ 21/11/2005, p. 232)

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

"[...] COMERCIALIZAÇÃO DE COMBUSTÍVEL. CONTROLE E FISCALIZAÇÃO PELO ESTADO. 1 - A INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ATIVIDADE ECONÔMICA ENCONTRA AUTORIZAÇÃO CONSTITUCIONAL QUANDO TEM POR FINALIDADE PROTEGER O CONSUMIDOR. [...] O CÓDIGO DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR (ARTS 4., I, III E IV, 6., IV E 55) DÁ SUSTENTAÇÃO JURÍDICA PARA A EDIÇÃO DAS PORTARIAS REFERIDAS, ALÉM DO DEL N. 395, DE 27/04/1938, DA LEI N. 2004, DE 03/10/1953 E LEGISLAÇÃO POSTERIOR QUE REESTRUTUROU O MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA E FIXOU AS SUAS ATRIBUIÇÕES. (MS 4138 DF, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/1996, DJ 21/10/1996, p. 40193, REPDJ 25/11/1996, p. 46134)

"Cinge-se a controvérsia a determinar se o art. 33, § 2º, do Decreto 2.181/1997 extrapolou os limites do art. 55, § 4º, da Lei 8.078/1990, porquanto previu sanções que, segundo o Tribunal a quo, não constavam do Código de Defesa do Consumidor. O art. 33, § 2º, do Decreto 2.181/1990 assim dispõe: 'Art. 33. As práticas infrativas às normas de proteção e defesa do consumidor serão apuradas em processo administrativo, que terá início mediante: [...] § 2º A recusa à prestação das informações ou o desrespeito às determinações e convocações dos órgãos do SNDC caracterizam desobediência, na forma do art. 330 do Código Penal, ficando a autoridade administrativa com poderes para determinar a imediata cessação da prática, além da imposição das sanções administrativas e civis cabíveis' (grifei). Por sua vez, o Código de Defesa do Consumidor estabelece: Art. 55. A União, os Estados e o Distrito Federal, em caráter concorrente e nas suas respectivas áreas de atuação administrativa, baixarão normas relativas à produção, industrialização, distribuição e consumo de produtos e serviços. [...] § 4° Os órgãos oficiais poderão expedir notificações aos fornecedores para que, sob pena de desobediência, prestem informações sobre questões de interesse do consumidor, resguardado o segredo industrial (grifei). A Corte de origem entendeu que o Decreto ampliou os poderes da autoridade administrativa, exorbitando dos limites delineados no art. 55, § 4º, do CDC. Serviu-se, para tanto, de uma interpretação restritiva da lei, segundo a qual o descumprimento do dever dos fornecedores de prestar informações sobre questões de interesse do consumidor pode resultar somente na configuração do crime de desobediência. No entanto, o art. 55, § 4º, da Lei 8.078/1990 deve ser interpretado em conjunto com os demais dispositivos do CDC e à luz dos princípios do Direito do Consumidor. No caso dos autos, é de fundamental importância o princípio da informação, cristalizado no art. 4º, IV, do CDC: [...] O fornecedor que se recusa a

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prestar informações sobre questões de interesse do consumidor viola frontalmente o CDC e o princípio da informação, devendo tal atuação ser coibida pelos órgãos de defesa do consumidor. Cabe ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor atribuiu amplos poderes às autoridades administrativas no que se refere à imposição de sanções por descumprimento das normas de proteção ao consumidor. Nesse sentido, cito o enunciado do art. 56 do CDC (grifei): Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas: I - multa; II - apreensão do produto; III - inutilização do produto; IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente; V - proibição de fabricação do produto; VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço; VII - suspensão temporária de atividade; VIII - revogação de concessão ou permissão de uso; IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; XI - intervenção administrativa; XII - imposição de contrapropaganda. Parágrafo único. As sanções previstas neste artigo serão aplicadas pela autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de procedimento administrativo. Tendo em vista o princípio da informação, de fundamental importância para a transparência das relações de consumo e essencial para a defesa do consumidor, e os dispositivos legais supracitados, a melhor interpretação que se extrai do art. 55, §4º, do CDC é no sentido de que a recusa a prestar informações, além de ensejar o crime de desobediência, também sujeita o fornecedor às demais sanções administrativas previstas na Lei 8.078/1990. Com efeito, o art. 55, § 4º, ao declarar que 'os órgãos oficiais poderão expedir notificações aos fornecedores para que, sob pena de desobediência, prestem informações sobre questões de interesse do consumidor', não retirou das autoridades administrativas o poder de multar os fornecedores por infração às normas de defesa do consumidor, nas quais se inclui, a toda evidência, o dever de prestar informações. O referido artigo apenas acrescentou às sanções já previstas no art. 56 do CDC a possibilidade de caracterização do crime de desobediência por descumprimento do dever de revelar informações relevantes ao consumidor. Assim, constato que o art. 33, § 2º, do Decreto 2.181/1997 apenas concretizou aquilo que já era permitido pelo Código de Defesa do Consumidor, ou seja, a imposição de multa por infração às suas normas." (REsp 1120310/RN, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 24/08/2010, DJe 14/09/2010)

V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

"[...] quando o consumo de água de condomínio edilício comercial ou residencial for medido através de um único aparelho medidor, a fatura deve levar em conta o volume real aferido, sendo descabida a cobrança de tarifa mínima multiplicada pelo número de economias. Eis o que foi consignado no voto condutor do mencionado julgado: '[...] O consumo mensal médio do recorrente, conforme registrado no hidrômetro, é de aproximadamente 890 m³ [...]. Pelo critério da CEDAE, o volume sobe para 1.920 m³

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(um mil, novecentos e vinte metros cúbicos), porquanto o consumo mínimo por economia comercial (20 m³) é multiplicado pelo número de salas (96), ou seja, a fornecedora está cobrando o consumo mínimo de cada unidade imobiliária. Com isso, a contraprestação pelo serviço (tarifa) é superfaturada em até 115%. Partindo-se do pressuposto constitucional de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (CF/88, art. 5º, II), o faturamento do serviço praticado pela CEDAE é ilícito por carecer de autorização legal. Sequer existe, na verdade, relação jurídica estabelecida entre as unidades imobiliárias autônomas individualmente consideradas e o prestador do serviço, mas tão-somente entre o condomínio edilício (consumidor) e a fornecedora (CEDAE). O cálculo da CEDAE desconsidera a ratio legis subjacente à finalidade da tarifa mínima, instituída no escopo de se assegurar a viabilidade econômico-financeira do serviço, e não para proporcionar lucros arbitrários à custa dos usuários. O consumo total medido a ser pago pelo condomínio já inclui o custo do serviço, porquanto embutido no valor da tarifa (Lei 6.528/78, art. 21, § 2º), não se justificando, destarte, a fórmula de cobrança praticada. De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos, entre outros, os seguintes princípios: harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica, sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; coibição/repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, que possam causar prejuízos aos consumidores (CDC, art. 4º, III e VI). São direitos básicos do consumidor a proteção contra práticas abusivas no fornecimento de serviços, a modificação das cláusulas que estabeleçam prestações desproporcionais e a efetiva prevenção/reparação de danos patrimoniais (CDC, art. 6º, IV, V e VI), sendo vedado ao fornecedor condicionar o fornecimento de serviço, sem justa causa, a limites quantitativos, exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva, bem como elevar sem justa causa o preço de serviços (CDC, art. 39, I, V e X). Presume-se excessiva a vantagem que: (I) ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico; (II) restringe direitos ou obrigações fundamentais de tal modo a ameaçar o equilíbrio da relação; (III) se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso (CDC, art. 51, § 1º). A Lei 8.987/95, sem prejuízo do disposto no Código de Defesa do Consumidor, garante aos usuários o direito ao serviço adequado, ou seja, aquele que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas (arts. 6º, § 1º, e 7º, I). Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin aborda, com propriedade, as vedações concernentes ao fornecimento quantitativamente casado e à exigência de vantagem excessiva: 'CONDICIONAMENTO DO FORNECIMENTO DE PRODUTO OU SERVIÇO - O Código proíbe, expressamente, duas espécies de condicionamento do fornecimento de produtos e serviços. (...) Na segunda hipótese, a condição é quantitativa, dizendo respeito ao mesmo produto ou serviço objeto do fornecimento. Para tal caso, contudo, o Código não estabelece uma proibição absoluta. O limite quantitativo é admissível desde que haja 'justa causa' para a sua imposição. Por exemplo, quando o estoque do fornecedor for limitado. A prova da excludente, evidentemente, compete ao fornecedor. A justa causa, porém, só tem aplicação aos limites quantitativos que sejam inferiores à

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quantidade desejada pelo consumidor. Ou seja, o fornecedor não pode obrigar o consumidor a adquirir quantidade maior que as suas necessidades. (...) A EXIGÊNCIA DE VANTAGEM EXCESSIVA - Note-se que, neste ponto, o Código mostra a sua aversão não apenas à vantagem excessivamente concretizada, mas também em relação à mera exigência. (...) Mas o que vem a ser vantagem excessiva? O critério para o seu julgamento é o mesmo da vantagem exagerada (art. 51, § 1º). Aliás, os dois termos não são apenas próximos. São Sinônimos.' (Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado pelos autores do anteprojeto, Ada Pellegrini Grinover... [et al.], 7ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, pp. 324/326, grifou-se) O Ministro Humberto Gomes de Barros, no voto condutor proferido nos EDcl no REsp 280.115/RJ, endossou o fundamento do acórdão recorrido - lavrado pelo então Desembargador Luiz Fux, hoje integrante da Primeira Turma deste Tribunal -, segundo o qual 'nos prédios ocupados com hidrômetro, razoável parece que a tarifa deva se vincular a cada hidrômetro e não a cada sala por ele servida, como entende apelante. E sendo de outra forma, estar-se-á, na verdade, reconhecendo à prestadora de serviço público o direito de calcular a tarifa de consumo de água segundo a sua exclusiva conveniência, estabelecendo prestações desproporcionais com o serviço prestado, além de compactuar-se com o indevido enriquecimento da mesma em detrimento do patrimônio do consumidor, o que é vedado, não só pelo Código Civil, como pelo Código de Proteção ao Consumidor' (grifou-se). A remuneração pelo fornecimento de água ou esgoto, embora compulsória, não tem natureza jurídica tributária (taxa), mas constitui tarifa [...] cujo valor deve guardar relação de proporcionalidade com o serviço efetivamente prestado, não podendo ser cobrada por serviço não-prestado, sob pena de enriquecimento sem causa. Há, ainda, outra objeção de ordem constitucional. A cobrança da tarifa mínima de cada unidade imobiliária, de maneira indiscriminada, conduz a situações de extrema injustiça e viola o princípio da isonomia, porque o consumo real dos condôminos é distinto. Explica-se: aquele que possui consumo efetivo superior a 20 m³ de água por mês deveria, em tese, pagar o volume medido, e não apenas a tarifa mínima; já o proprietário mais econômico, com consumo inferior ao limite legal, só deveria, em tese, pagar a tarifa mínima. Por isso, a cobrança indistinta de todos os condôminos, a pretexto de viabilizar economicamente o sistema, acaba gerando uma situação de fato completamente divorciada da vontade constitucional. Interpretação diversa implicaria desconsiderar não apenas a finalidade da tarifa mínima, o regime do serviço pelo custo, os direitos básicos do consumidor, a natureza jurídica da tarifa e a vedação ao enriquecimento sem causa, como também importante diretriz dos serviços de saneamento básico: a inibição do consumo supérfluo e do desperdício de recursos hídricos (Lei 11.445/2007, art. 29, § 1º, IV). Desse modo, considerando-se ilegal e abusiva a cobrança da tarifa mínima multiplicada pelo número de salas, o condomínio faz jus à repetição de indébito dos valores cobrados indevidamente (CDC, arts. 6º, VII, e 22, parágrafo único). O art. 42, parágrafo único, do CDC, nessa perspectiva, diz que 'o consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.' A restituição deve ser simples, e não em dobro, porquanto não-caracterizado, no caso, dolo ou má-fé da fornecedora. O critério de cobrança adotado, embora abusivo, foi produto de engano justificável, notadamente em face da controvérsia jurídica existente a respeito do objeto da cobrança [...]. Por todas essas razões, o recurso especial deve ser parcialmente conhecido e, nessa parte, provido, para: (I) declarar a impossibilidade de a fornecedora multiplicar o consumo mínimo pelo número de unidades autônomas existentes no condomínio, devendo ser observado, no faturamento do serviço, o volume global de água registrado no hidrômetro; (II) julgar

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parcialmente procedente o pedido inicial, determinando-se, por conseguinte, a restituição simples dos valores indevidamente recolhidos pela CEDAE (com base na fórmula ilegal), desde os cinco anos anteriores à citação, conforme o pedido." (REsp 1006403 RJ, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/05/2008, DJe 30/06/2008)

"[...] os arts. 129 e 131 da LPI conferem ao titular de marca previamente registrada no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) o direito de seu uso exclusivo em todo o território nacional, abrangido por essa proteção o uso da marca em papéis, impressos, propagandas e documentos relativos à atividade do titular. Primeiramente, ressalte-se que a LPI, em seu art. 181, permite o registro de nome dado a país, região, ou localidade territorial - nome geográfico - desde que não constitua indicação de procedência ou denominação de origem, hipótese em que pode servir de elemento característico de marca para produto ou serviço. Nesse sentido, é essencial que o nome geográfico utilizado não induza falsa procedência. Na hipótese dos autos, o nome geográfico registrado pelos recorrentes na marca, foi usado como uma espécie de sinal evocativo. Ou seja, o termo 'Arábia' tem o objetivo de sugerir ao consumidor características do produto e serviço a ser individualizado, qual seja, a produção e venda de comida árabe. Trata-se de uma utilização do aspecto publicitário da marca. Isso quer dizer que o recorrente, ao utilizar o referido termo em sua marca, em momento algum pretende indicar que os produtos que vende ou que os serviços que presta são produzidos ou prestados na região da Arábia, ou que eles têm as mesmas características e propriedades dos produtos e serviços originados naquele meio geográfico. Portanto, legítimo é o registro do nome geográfico 'Arábia' como marca. Contudo, não é a mera utilização em uma marca de termo constante de outra previamente registrada suficiente para violar o direito de uso exclusivo de seu proprietário. A proteção conferida à marca na LPI não se limita a assegurar direitos meramente individuais de seu proprietário, mas também do grande público consumidor, ao conferir uma imagem aos produtos e serviços prestados pelo empresário. Com o tempo, ela agrega a seu significado elementos para a aferição da origem do produto e do serviço prestado. Com efeito, o art. 4º do CDC dispõe: [...] Por meio de uma interpretação conjunta do dispositivo supracitado e dos arts. 5º, XXIX e XXXII, e 170, V, da CF, 124, XIX, e 129 da LPI, pode-se chegar ao verdadeiro intuito da proteção conferida pela LPI. Evidencia-se que, em nosso ordenamento jurídico, a proteção da marca tem um duplo objetivo. Por um lado, garante o interesse de seu titular. Por outro, protege o consumidor, que não pode ser enganado quanto ao produto que compra ou ao serviço que lhe é prestado. Por essa razão, na proteção dos interesses econômicos, devem ser coibidos e reprimidos todos os abusos praticados no mercado de consumo, como a concorrência desleal e a utilização indevida de marcas que possam causar prejuízo aos consumidores. Desse modo, conclui-se, para que haja violação ao art. 129 da LPI e seja configurada a reprodução ou imitação de marca pré-registrada, é necessário que exista efetivamente risco de ocorrência de dúvida, erro ou confusão no mercado, entre os produtos ou serviços dos empresários que atuam no mesmo ramo." (REsp 989105 PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/09/2009, DJe 28/09/2009)