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COGNIÇÃO, TECNOLOGIA E APRENDIZAGENS

Paulo Jorge Storace Rota

Modalidade: Comunicação Cientifica

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RESUMO

O texto traz uma abordagem antropológica do humano e da tecnologia: atecnologia como aspecto intrínseco da espécie humana. Mostra como oscampos do conhecimento atualmente estão se hibridizando. Conclui esteprimeiro item, da relação do humano com a tecnologia, com a noção deACOPLAMENTO. Aborda os SISTEMAS COGNITIVOS e como podemosdiversificar seus usos para melhoria da aprendizagem escolar.Traz a experiênciacognitiva dos jovens e a AUTORIA por meio de DISPOSITIVOS MÓVEIS.Problematiza a concepção de cognição bastante usual nas práticas escolares(localizando sua origem na arte do renascimento) e aborda aspectos daCOGNIÇÃO DISTRIBUÍDA como forma de se compreender a aprendizagem nocontemporâneo.

PALAVRAS-CHAVE: sistemas cognitivos - acoplamento –tecnologia –aprendizagens – dispositivos móveis .

PROBLEMA

As novas tecnologias de informação, comunicação e redes sociais temalterado a experiência e a partilha do sensível. A educação escolar, encontra-sediante de desafios para a melhoria da aprendizagem. Instituições e professorespercebem em seus estudantes dificuldade em transitar entre a aprendizagem queconstroem a partir do uso de tecnologias digitais e a aprendizagem escolar.

Diante disso, criou-se nas escolas um clima novidadeiro de uso deferramentas que, per si, solucionariam essas dificuldades: apps (aplicativos),softwares, plataformas educacionais e até drones têm sido utilizados como formade tentar transpor a experiência dos estudantes e suas aprendizagens queocorrem fora do contexto escolar para os conteúdos curriculares formais.

No entanto, nessa abordagem, a tecnologia tem sido vista como algo defora, externo ao sujeito e estranho ao espaço escolar e ao ambiente de sala deaula. Há outras formas de se compreender a tecnologia? Por outro lado, comopodemos incorporar as tecnologias digitais para melhoria da aprendizagem?Quais ferramentas e em que perspectivas pedagógicas?

OBJETIVOS

O objetivo central do texto é apresentar os sistemas cognitivos e comopodemos se valer da diversificação dos sistemas cognitivos para melhoria daaprendizagem escolar . Outro objetivo especifico é fundamentar o conceito desistemas cognitivos mediante a noção de acoplamento. Também é objetivomostrar como a sala de aula ,dita tradicional, privilegia sobretudo apenas umsistema cognitivo na organização do espaço e das atividades escolares o quenem sempre dialoga com a experiência do estudante.

METODOLOGIA

A metodologia consiste, primeiramente, na reflexão sobre o própriosentido e concepção de ser humano diante das novas tecnologias de

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informação, comunicação e redes digitais; chega-se à noção de acoplamentocomo visão de humano que carrega intrinsicamente o vínculo com objetosdesde toscos fragmentos de rochas e demais dispositivos (agora tornadodigitais). O ser humano não existe sem algum tipo de relação, de acoplamentocom dispositivos que medeiam sua relação com o mundo.

Temos o estudo dos sistemas cognitivos e das práticas usuais em sala deaula tributárias de uma determinada concepção de cognição e de aprendizagem:chegamos ao modelo frentista. Na sequência temos uma referência aoconectivismo como hipótese de modelo de aprendizagem para a era digital.

A validação da pesquisa em sala de aula consiste em atividades deestudantes de Ensino Médio na utilização de dispositivos móveis na construçãode um texto coletivo , colaborativo que trabalha o gênero argumentativo.

ESBOÇO DE FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Introdução

A presença da tecnologia na educação escolar tem levado a aproximaçõesdo estudo das Ciências da Cognição e dos modos de aprendizagem.

O filósofo Michel Serres ao se referir às novas gerações, cujos indivíduos sãochamados de Polegarzinhos, nos provoca:

“Essas crianças, então, habitam o virtual. As ciências cognitivas mostramque o uso da internet, a leitura ou a escrita de mensagens com o polegar,a consulta à Wikipédia ou o Facebook não ativam os mesmos neurôniosnem as mesmas zonas corticais que o uso do livro, do quadro-negro ou docaderno. Essas crianças podem manipular várias informações ao mesmotempo. Não conhecem, não integralizam, nem sintentizam da mesmaforma que nós, seus antepassados. Não têm mais a mesma cabeça. [...]Por celular, têm acesso a todas as pessoas; por GPS, a todos os lugares;pela internet, a todo saber: circulam, então, por um espaço topológico deaproximações, enquanto nós vivíamos em um espaço métrico referido pordistâncias. Não habitam mais o mesmo espaço. Sem que nos déssemosconta, um novo ser humano nasceu, no curto espaço de tempo que nossepara dos anos 1970. Eles não têm mais o mesmo corpo, a mesmaexpectativa de vida, não se comunicam mais da mesma maneira, nãopercebem mais o mesmo mundo, não vivem mais na mesma natureza,não habitam mais o mesmo espaço.” SERRES (2013)

“Agora distribuído por todo lugar, o saber se espalha em um espaçohomogêneo, descentrado, de movimentação livre. A sala de antigamentemorreu, mesmo que ainda a vejamos tanto, mesmo que só saibamosconstruir outras iguais, mesmo que a sociedade do espetáculo aindaprocure se impor. Os corpos então, se mobilizam, circulam, gesticulam,chamam, conversam, facilmente trocam entre si o que têm junto aoslenços. Ao silêncio se sucede a tagarelice e à balbúrdia, a imobilidade?Não, antigamente prisioneiros, os Polegarezinhos se livram das correntesda Caverna multimilenar que os prendiam, imóveis e silenciosos, no lugar,bico fechado, rabo sentado.” SERRES (2013)

Visão de humano e tecnologia: acoplamentos

Mas o que é tecnologia? Por que desperta tantos medos e receios?

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Para termos uma visão mais acolhedora e menos ameaçadora datecnologia vamos refletir sobre a própria concepção que temos de humano. Epara tal voltar à Platão, que nos traz um diálogo entre Sócrates e seu alunoFedro:

“Sócrates: ‘O que há de assustador, penso eu, na palavra escrita é que separeça tanto com a pintura. Na verdade, os seres que esta dá à luz têm oaspecto de seres vivos; todavia, se lhes fizermos qualquer pergunta,cheios de dignidade não responderão! O mesmo acontece com os escritos:julga-se que o pensamento anima o que eles dizem; interrogue-se, porém,um deles com a finalidade de nos elucidarmos sobre o que afirma, sempreresponderão a mesma coisa, a mesma sempre!

Além disso, uma vez definitivamente composto, segue um livro a suaviagem sem saber se cairá nas mãos dos sábios ou dos ignorantes e, jána partida, não sabe a quem se destina. Se alguém discordar do que diz,refutando-o injustamente, para se defender, precisa sempre da ajuda dopai que o gerou: por si só é mudo, fraco e indefeso.” (Platão, Fedro , 247c-247e .).

Assim, a visão que Sócrates tinha da escrita - e da memória provenientedos escritos - não era nada elogiosa, pelo contrário, para Sócrates, a escrita - ea memória vinculada à escrita – por não ser do interior das pessoas, ou seja, seralgo externo a elas, não teria serventia ao fortalecimento da comunidade. Essetrecho já nos fornece pistas para pensarmos nossa pergunta sobre a visão dehumano e tecnologia: Sócrates pensa a escrita como algo externo ao humano e,portanto, carregado de ameaças. Para fortalecer um pouco mais nossoargumento vamos ler um texto contemporâneo bastante esclarecedor e comvisão muito diferente da visão de Sócrates:

“Por que a fala e o gesto são sentidos como naturais e as outras técnicassão tidas como artificiais, estranhas e irreconhecíveis? [...] Fala e gestonão são naturais, são técnicas inseridas no próprio corpo, são partesintegrantes do corpo. O estranhamento e as resistências tiveram inícioquando as técnicas começaram a se lançar para fora do corpo comoextrojeções de habilidades do cérebro, a memória por exemplo na escrita,ou extrojeções do gesto, no desenho, como amplificação do sentido davisão, ou nos instrumentos musicais com amplificação do sentido daaudição. Quanto mais ligadas ou próximas ao corpo menos as técnicassão sentidas como estranhas à ele; por outro lado, quanto maisextrojetadas do corpo, quanto mais dilatadas as capacidades sensoriais ecognitivas, mais as tecnologias são percebidas como estranhas,estrangeiras, alienígenas, gerando medos, temores, resistências;atualmente essa queixa recai sobre, por exemplo, o computador, que“desumaniza“ o homem.” SANTAELLA .

Assim, temos que as técnicas são intrínsecas ao ser humano e, maisainda, as técnicas estão inseridas no próprio corpo! Estamos, portanto, dianteda noção de acoplamento, vejamos um pouco mais sobre essa ideia emseguida.

Acoplamentos

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Figura 1: cena da cerimônia de abertura das Paralimpíadas no Rio de Janeiro, em 2016, na quala dançarina Amy Purdi interage com um robô. (Disponível em <

https://www.youtube.com/watch?v=vWKvXL ych20 >)

Embora a dançarina ( figura 1) tenha uma prótese nas pernas, a ideia aotrazer essa imagem é nos ajudar a construir a noção de acoplamento pois, parapensarmos a relação do humano com a tecnologia e depois refletirmos sobre aaprendizagem e sobretudo a aprendizagem escolar, temos que reconhecer quea espécie humana se desenvolveu sempre mediante relações de acoplamentocom objetos das mais diversas naturezas: fragmentos de rocha, madeira,tecidos, animais e assim por diante, inclusive os atuais dispositivos digitaismóveis.

O humano só se produz como tal na relação, no acoplamento, e talacoplamento se realiza mediante a constituição de dispositivos de ligação, demediação e relação uma vez que a própria condição humana é tributária dosacoplamentos.

Sistemas cognitivos

A cognição pode ser considerada e conceituada como condição inata noser humano e , como tal , servir como principio explicativo de fenômenos dodesenvolvimento humano . Até os anos 1970 a ênfase da cognição erasobretudo no sentido do sujeito individual . A partir dos anos 1970 começou ase estabelecer as relações entre cognição , instituições ou tecnologiassobretudo mediante o conceito de dispositivo e mais recentemente as Ciênciasda Cognição tem trabalhado a ideia de sistemas cognitivos .

A ideia de cognição estabelecida mediante as relações entre sujeitos ,instituições ou tecnologias não suprime a ideia de sujeito individual masestabelece um contexto para o sujeito aprendente e também coloca a tecnologianão apenas como meios para aprender e conhecer , mas como parteconstitutiva dos próprios modos de conhecer e aprender . A tecnologia ,instituições e contexto , compõem a expressão criativa do homem,modificando sua forma de adquirir conhecimento e interferindo na aprendizageme na cognição.

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Há uma diferença nem sempre notada entre o ato de ler e o gesto de ler.O sistema cognitivo mais usual nas escolas , que podemos chamar de sistemaclássico , pode ser ilustrado pelas figura 2 :

Figura 2: personagem Chico Bento diante de um livro ou caderno

A figura 2 na qual aparece o personagem de histórias em quadrinhosChico Bento encarando um caderno ou um livro sobre uma mesa representa osistema clássico de experiência cognitiva de aprendizagem . Esse sistema é omais utilizado nas escolas, de certa forma é a própria representação da ideia deestudo: o gesto do corpo sentado com a cabeça e o pescoço inclinados evoltados para um livro ou caderno que repousam sobre uma mesa. Mais adianteveremos o conceito de cognição /aprendizagem que embasa essa concepção.

Figura 3: jovens estudando

Na figura 3, no primeiro plano, temos uma jovem sentada que representao mesmo sistema cognitivo das figura anterior (2), o sistema mais usual nasescolas; no segundo plano da imagem, temos um rapaz que representa umsegundo sistema cognitivo: o rapaz olha para uma tela de computador, muda ogesto, sua cabeça está ligeiramente voltada para a frente (e não mais parabaixo na direção da mesa - caderno/livro). Supondo que este computador estejaligado à internet então, nessa situação, teríamos um terceiro sistema cognitivo .

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Figura 4: jovem utilizando dispositivo móvel, deitada na grama.

Na figura 4, temos uma situação diferente das anteriores: uma jovem, a própriaPolegarzinha da qual nos contava Serres, utilizando um dispositivo móvel, o queconfigura um outro sistema cognitivo. Esse é o sistema cognitivo da experiênciade compartilhamento da maioria dos jovens que tem acesso à internet: cerca de85% dos jovens brasileiros acessam a internet por meio de dispositivos móveis(2016).

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Cognição e aprendizagem escolar

Muito se menciona que a organização do espaço da sala de aula, com ascarteiras enfileiradas, é tributária da ideia de fábrica. Pode ser, mas também háum aspecto mais ligado ao universo do conhecimento que deve ser consideradopara compreendermos a existência e a recorrência desse modelo que é aprópria concepção de cognição e aprendizagem.

1. Modelo de cognição e aprendizagem do século 19

No modelo de cognição e aprendizagem do século 19, a atenção erafocada em um único objeto (ideia anterior ao século 19 e definida nesseperíodo). A cognição e a aprendizagem estavam centradas na capacidade deatenção focada e por um longo tempo, aspectos considerados essenciais para otrabalho e para o estudo. Esse modelo epistemológico da sala de aula com ascarteiras organizadas em fila é tributário da arte do Renascimento.

Figura 5: sala de aula na perspectiva de quem olha de frente para os estudantes, na perspectivado professor

Entre tantas dicotomias que marcam o pensamento ocidental está adicotomia entre sujeito e objeto, muito presente na arte do renascimento e natécnica da perspectiva. Tal qual uma janela para o mundo, os quadrosrenascentistas marcam esse distanciamento sujeito e objeto.

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Figura 6: Rafael (1483-1520) – Escola de Atenas(1509-11)

Essa concepção renascentista de separação sujeito-objeto marca não sóa organização espacial das salas de aula (figura 6), como a própria relaçãoentre professor e aluno. Esse modelo e essa actância (relação entre os atores)é o que predomina na atual partilha dos sensível que é praticada na sala deaula.

2. Modelo cognição e aprendizagem século 21

Já no modelo de cognição e aprendizagem do século 21, a capacidadede alternar foco e distração em intervalos mais curtos de tempo talvezcorresponda mais ao mundo contemporâneo do que a habilidade de se manterfocado em um único objeto concentrado por um longo período. Como exemplo,a tela inicial de um jogo de estratégia, jogado on line com milhares de jogadoresao mesmo tempo.

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Figura 7: sala de aula com actorialização diferente do modelo de cognição do século 19

A figura 7 mostra uma espacialidade da sala de aula com outraactorialização (lugar dos atores no espaço), na qual sequer se identificaimediatamente a localização usual do professor. Há uma nova actância, ou seja,uma nova relação entre os atores: os atores são professores e estudantes, demodo que o lugar do professor mudou. O que sustenta essa nova actorialização,essa nova distribuição dos atores no espaço? Trata-se de outra concepção decognição e de aprendizagem, mas qual a fundamentação teórica dessaconcepção de cognição e aprendizagem?

Cognição distribuída

É mais provável que os seres humanos que conseguem alternarfacilmente hiper atenção e atenção profunda estejam mais bem preparadoscognitivamente para enfrentar a profusão de informações e de estímulossensoriais a que estamos submetidos do que os que estão acostumados asuspender completamente os estímulos externos para se concentrar.

Ocorre atualmente uma mudança conceitual sobre a interação entrehumanos e dispositivos tecnológicos não humanos, o foco se moveu datecnologia para os objetivos (intencionalidade) do usuário, para a experiência dousuário, interação centrada no humano. Nesse sentido, as conexões entrehumanos e máquinas só podem ser entendidas no contexto dasintencionalidades humanas.

Assim, a aprendizagem ocorre por um processo contínuo de delegação,partilha e distribuição de nossas atividades cognitivas com diversos dispositivosnão humanos, o que significa que a aprendizagem ocorre por meio deprocessos sociotécnicos distribuídos.

No Conectivismo, são as ligações coletivas entre “nós” em uma rede queresultam em novas formas de conhecimento. De acordo com Siemens (2004), oconhecimento é criado além do nível individual dos participantes humanos eestá constantemente mudando e transformando.

O conhecimento em rede não é controlado ou criado por qualquerorganização formal, embora as organizações possam e devam “ligar” estemundo de informações em fluxo constante e desenhar um significado a partirdele.

O conhecimento no conectivismo é um fenômeno caótico em mutação, àmedida que nós que vêm e vão e que a informação flui através de redes estãointer–relacionadas com uma miríade de outras redes. A importância doconectivismo é que seus defensores argumentam que a internet muda anatureza essencial do conhecimento. A seguir alguns destaques entre os dosprincípios que Siemens (2004) identifica no conectivismo:

a) a aprendizagem e o conhecimento se apoiam na diversidade de opiniões;

b) a aprendizagem é um processo de conectar nós especializados ou fontes deinformação;

c) a aprendizagem pode residir em dispositivos não humanos;

d) a tomada de decisão é, em si, um processo de aprendizagem. Escolher o queaprender e o significado da informação que nos chega é visto através de uma

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lente de uma realidade em permanente transformação. Embora haja umaresposta certa agora, ela pode estar errada amanhã, devido a alterações noambiente das informações que afetam a decisão.

Aprendizagens, cognição e tecnologias:

• efeitos cognitivos COM a tecnologia

• efeitos cognitivos DA tecnologia

• efeitos cognitivos ATRAVÉS da tecnologia

1. Efeitos cognitivos COM a tecnologia

Emergem quando certas funções intelectuais são transferidas para atecnologia: ortografia, cálculo, medida, configurando uma parceria com ousuário. Nessa parceria há uma divisão do trabalho e uma interdependência nainteração, uma distribuição das funções cognitivas; elas existem embutidas nocomputador mas poderiam ser realizadas em outros sistemas como papel ecaneta ou suportes, como o ábaco. São as atividades realizadas COM atecnologia que afetam a cognição e a aprendizagem e não a tecnologia em si.

2. Efeitos cognitivos DA tecnologia

São aqueles que persistem após o uso, quando deixamos de fazer usoda tecnologia pois aprendemos com ela. Temos como exemplos os simuladorese os bonecos utilizados no treinamento de pessoas. Depois do uso seautomatizam técnicas que prescindem do uso das ferramentas utilizadas.

3. Efeitos cognitivos ATRAVÉS da tecnologia

Transformam o modo de se fazer alguma atividade, às vezes,definitivamente. Novas tecnologias alteram substancialmente, qualitativamente,às vezes profundamente, reorganizam ou remodelam sistemas de atividades detal forma que não iremos mais fazer sem o uso destes artefatos culturais.Temos como exemplo os recursos digitais de produção de imagens e sons,editores de texto que estão transformando nosso modo de escrever, busca porcaminhos mais curtos, consulta meteorológica, assistentes pessoais:Polegarzinha e seus descendentes…

RESULTADOS OBTIDOS

Como mencionado, os conceitos explorados ao longo dessa apresentaçãoforam aplicados em uma atividade na qual estudantes de 1º ano de Ensino Médio,que utilizaram dispositivos móveis na construção de um texto coletivo quetrabalha o gênero argumentativo e a escrita de um projeto de lei com vistas aquestões ambientais, de modo colaborativo, com o uso do aplicativo Whatsapp.

Seguem depoimentos de alguns desses estudantes sobre essaexperiência de realizar um texto argumentativo por meio do WhatsApp, nocomponente curricular de Língua Portuguesa:

“Fazer uma construção colaborativa via whatsapp foi uma experiência queme ajudou a ver que, para a elaboração de um bom texto e,consequentemente, um bom trabalho, não é necessário estar presente

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fisicamente no mesmo ambiente que os demais, facilitando e tornando todoo processo mais rápido. Pude fazê-lo deitada na minha cama e achei quetoda a experiência me trouxe uma carga argumentativa fundamental” (M. M.)

“Ter a opção de fazer um texto em conjunto pelo whats app traz muitasvantagens. Normalmente os alunos teriam que combinar de se encontrar, oque causa muito trabalho e muitas vezes atrasa o texto. Além disso, comocada um pode escrever e mandar sua parte ao mesmo tempo que lê a dosoutros, fica muito mais fácil de unir as partes em um único trabalho finalpara entregá-lo.” (R. S.)

“A experiência de escrever um texto via WhatsApp foi boa, pois agilizou noprocesso, e não tinha o problema de ter que marcar com o grupo paraencontrar-se e debater. Estava fazendo o trabalho quando deitada na minhacama.” (G. R.).

CONCLUSÃO

Cognição e tecnologia: a aprendizagem ocorre por um processo contínuode delegação, partilha e distribuição de nossas atividades cognitivas inclusivecom dispositivos não humanos. O mundo digital e a internet estão criando umanova materialidade. Esse sujeito, o jovem, que frequenta as escolas, é portadorde uma subjetividade que é produzida continuamente num ambiente cultural decolaboração e comunicação. Um sujeito conectado, cuja subjetividade eexperiência no cotidiano se recria individualmente, coletivamente e socialmente.É possível utilizar diversos sistemas cognitivos para que se possa trazer aexperiência contemporânea dos jovens ao contexto escolar e promover aaprendizagem. O ambiente de compartilhamento e de colaboração (aspectosocioemocional) das redes sociais digitais e o acesso à internet por meio dedispositivos móveis amplia as possibilidades de práticas pedagógicas, dospercursos e dos itinerários formativos e nesse sentido pode ser menos distantedo jovem, sujeito esse que pouco aparece no estudante, e que possam assimser mais inspiradoras de uma curadoria do conhecimento .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATES, Tony. Educar na era digital: design, ensino e aprendizagem. São Paulo:Artesanato Educacional, 2016.CLARK,Andy. Supersizing the Mind:Embodiment, Action, and CognitiveExtension . Oxford ,University Press,2008 .JUVENTUDE CONECTADA 2. Fundação telefônica Vivo. São Paulo: Fundaçãotelefônica Vivo, 2016.SANTAELLA, Lucia. Cultura tecnológica e o corpo bio-cibernético. Disponível em< http://montagemcinema.blogspot.com.br/1999/01/cultura-tecnologica-o-corpo.html >. Acesso: 13/12/2016.SERRES, Michel. Polegarzinha – uma nova forma de viver rem harmonia, depensar as instituições, de ser e de saber. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2013.

SIEMENS, George. Conectivismo – uma teoria de aprendizagem para a idadedigital. Disponível em <

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http://usuarios.upf.br/~teixeira/livros/conectivismo%5Bsiemens%5D.pdf >. Acesso:31/10/2016.

RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível: estética e política. São Paulo:Editora 34, 2009.

RICARDO, Eleonora Jorge. Educação a distância: professores-autores emtempos de cibercultura. São Paulo: Atlas, 2013.

UNESCO. Diretrizes de políticas da UNESCO para a aprendizagem móvel. 2014.Disponível em < http://www.bibl.ita.br/UNESCO-Diretrizes.pdf >. Acesso:28/10/2016.