como pensar tudo …
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www.comopensartudoisto10.asa.ptCOMO PENSAR TUDO ISTO?
Manual Versão do Professor
Manual do Aluno
Caderno do Estudante
Caderno de Apoio ao Professor
Cadeerno CadeManual CManual Vdo Prof
Versão fessor d
Um manual para ensinar como pensar
Um manual adaptável a diversas necessidades
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
erno de Apoo Professor
CadeernoEstuudante
Cadeao
Mando Al
ualluno
Cdod
MILL
KANT
Os fins justificam os meios!
Discordo!
ssor d Estuudantedo Alluno dod
22
Apresentação do assunto principal
Um manual para ensinar como pensar
3
Capítulos 1 a 3 dedicados a problemas relacionados com as competências filosóficas fundamentais.
Capítulos 4 a 7 dedicados aos problemas filosóficos destacados nas Aprendizagens Essenciais.
Capítulo 8 apresenta orientações sobre como escrever um ensaio filosófico e disponibiliza o acesso direto a recursos digitais para dois temas/problemas do mundo contemporâneo. Para o professor são disponibilizados recursos para quatro temas/problemas.
Organização do manual
Capítulos 1 problemas ras competêfundamenta
Capítulos 4 aaos problemadestacados nAprendizagen
Capítulo 8 apreorientações soescrever um ene disponibiliza odireto a recursopara dois temas/do mundo contemPara o professordisponibilizados para quatro temaproblemas.
Organizdo manu
Identificação do problema central
em análise
Explicitação dos objetivos de
aprendizagem
MUITO PRAZER, SOU O INSPETOR LEBEAUX!
AO SEU SERVIÇO NO CAPÍTULO 2 DESTE PROJETO.
4
Pretende-se munir os alunos de ferramentas que os ajudem a pensar de modo crítico e fundamentado.
Ensinar aos alunos não o que pensar mas como pensar.
Os problemas filosóficos são sempre o ponto de
partida através da rubrica Laboratório mental.
nos udem e
o quear.
emas filosóficos mpre o ponto de através da rubrica ratório mental.
Laboratório mental
Durante um jantar numa mansão isolada, Mr. Boddy, o anfitrião da noite, admite que está a chantagear todos os convidados. As luzes apagam-se e Mr. Boddy aparece morto, e agora todos são suspeitos. Quem será o assassino? A jovem astuta, atraente e sedutora Miss Scarlett? O elegante e perigoso Coronel Mustard? A governanta explorada Mrs. White? O Reverendo Green, que parece ser capaz de tudo para esconder o seu segredo? A Mrs. Peacock? Ou o enigmático Professor Plum?
Todos eles tinham um motivo e eram os únicos no local do crime. Mas como resolver este mistério?
Para o Inspetor LeBeaux, que ficou responsável por resolver este caso, a solução era óbvia. Depois de examinar todas as provas disponíveis e questionar todos os suspeitos, LeBeaux obteve as seguintes informações:• Os suspeitos são: a Miss Scarlett, o Coronel
Mustard, a Mrs. White, o Reverendo Green, a Mrs. Peacock e o Professor Plum.O M B dd f i d
• Pela distribuição do veneno no prato, pode perceber-se que este foi despejado por alguém destro.
• O Professor Plum e a Mrs. Peacock são destros, mas não tiveram acesso à comida do Mr. Boddy.
• A Miss Scarlett nunca esteve sozinha com a comida do Mr. Boddy. Numa ocasião, ela e o Reverendo Green estiveram a sós na cozinha. Noutra ocasião, o Coronel Mustard tentou seduzi-la na sala de jantar antes de os outros convidados chegarem. Portanto:
• Se foi a Miss Scarlett, então o Reverendo Green ou o Coronel Mustard teriam de ser seus cúmplices.
• O Reverendo Green estava verdadeiramente apaixonado pela vítima. Portanto:
• O Reverendo Green não matou nem compactuou com ninguém para matar o Mr. Boddy.
• O Coronel Mustard é esquerdino.• A Mrs. White teve acesso à comida do
Mr. Boddy, mas não teve acesso ao veneno.Mi é i l id ! i I d i
Na pista de um assassinostribuição do veneno no prato, podeer-se que este foi despejado por alguém
fessor Plum e a Mrs. Peacock são destros, ão tiveram acesso à comida do Mr. Boddy.s Scarlett nunca esteve sozinha com a a do Mr. Boddy. Numa ocasião, ela e o ndo Green estiveram a sós na cozinha.
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O planeta seguinte era habitado por
um bêbedo. A visita durou pouco, mas
mergulhou o principezinho numa grande
tristeza.E á a fazer o quê? – perguntou ao
l d
– Para me esquecer de que tenho
vergonha – confessou o bêbedo, baixando
a cabeça.– Vergonha de quê? – tentou saber
o principezinho, cheio de vontade de o
ajudar.h de beber! – concluiu o
Laboratório mental
O principezinho e o bêbedo
Um manual para ensinar como pensar
KANT
De mim não aprendereis filosofia, mas antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar.
5
Nas suas viagens intergalácticas, o Comandante
Shepard deparou-se com uma enorme diversidade
de espécies, culturas e costumes. Por vezes, essa
diversidade deixava-o um pouco perplexo. Os
Quarian, por exemplo, expulsavam os filhos de
casa antes de estes atingirem a maioridade e só os
aceitavam de volta depois de encontrarem algo de
valioso nas suas viagens de exploração da galáxia.
Entre os Krogan, naturais do inóspito planeta
Tuchanka, apenas a agressividade e o egoísmo eram
vistos como virtudes; a compaixão e o altruísmo,
pelo contrário, eram encarados como sinais de
fraqueza que deveriam ser evitados a todo o custo.
Devido a um vírus que afetou grande parte da
população, as fêmeas férteis eram raras e muito
preciosas. Por isso, viviam numa comunidade
à parte com as crianças e só esporadicamente
recebiam a visita de alguns machos, escolhidos de
entre os mais fortes para assegurar a continuidade
da espécie. Os Asari, por sua vez, eram uma
espécie só com um género. A sua fisiologia única
proporcionava-lhes uma esperança média de
vida de cerca de mil anos e a possibilidade de se
reproduzirem com qualquer género ou espécie.
Talvez por esse motivo tenham adotado uma
atitude cooperativa relativamente às outras espécies,
valorizando a diplomacia em vez do conflito.
As suas decisões eram tomadas sobretudo com base
na razão e consideravam que as outras espécies não
se deviam deixar levar tanto pelas emoções.
Os Salarian eram uma espécie de anfíbios com
um metabolismo extremamente rápido. Isso fazia
com que fossem capazes de pensar, falar e mover-
-se mais rápido do que qualquer outra espécie.
Os Salarian valorizavam o conhecimento, o
trabalho e a eficácia e consideravam as restantes
espécies ignorantes, lentas e preguiçosas.
Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam
proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos
que conseguiam escapar a esse destino viviam
espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o
tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos
e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.
Tudo isto acabou por fazer com que o
Comandante se questionasse: “Será que o certo
e o errado dependem do planeta em que nos
encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta
lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também
no seu planeta havia diferentes noções de bem e
de mal, consoante a região e a cultura dominante.
E, no entanto, o problema parecia ser ainda
mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas
culturas havia opiniões divergentes acerca do certo
e do errado. “Será que tudo depende do ponto
de vista ou existem coisas objetivamente certas e
outras objetivamente erradas?” – interrogava-se
novamente o Comandante.
Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.
(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28
1. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?#agora_pensa
Laboratório mental
Cada planeta, sua sentença
Soluções
no Caderno de Apoio
Professor
• Animação: Cada
planeta, sua sentença
ioridade e só os ntrarem algo de ação da galáxia. spito planeta e e o egoísmo eram
ão e o altruísmo, omo sinais de dos a todo o custo. rande parte da m raras e muito a comunidade poradicamente chos, escolhidos de urar a continuidade
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rança média de possibilidade de se género ou espécie. am adotado uma
mente às outras espécies,
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ue as outras espécies não
to pelas emoções.
trabaespécies ignorantes, lentas e preguiçosas.
Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam
proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos
que conseguiam escapar a esse destino viviam
espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o
tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos
e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.
Tudo isto acabou por fazer com que o
Comandante se questionasse: “Será que o certo
e o errado dependem do planeta em que nos
encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta
lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também
no seu planeta havia diferentes noções de bem e
de mal, consoante a região e a cultura dominante.
E, no entanto, o problema parecia ser ainda
mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas
culturas havia opiniões divergentes acerca do certo
e do errado. “Será que tudo depende do ponto
de vista ou existem coisas objetivamente certas e
outras objetivamente erradas?” – interrogava-se
novamente o Comandante.
Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.
(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28
11. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?##agora_pensa
Em 2013, um surto de uma mutação de um fungo infesta os Estados Unidos, transformando os seus hospedeiros humanos em criaturas hostis, conhecidas como “infetados”.
Vinte anos mais tarde, a civilização foi dizimada pela infeção. Os poucos sobreviventes vivem em zonas de quarentena altamente policiadas, ou espalhados em pequenos povoados e grupos nómadas. Joel é um contrabandista a quem foi confiada a mais importante missão da história da humanidade: conduzir a jovem Ellie,
é indispensável para o sucesso do projeto e que, em consequência disso, acabará por morrer. Assim que ouve estas palavras, Joel irrompe pela sala de cirurgias, atacando todos aqueles que se atravessam no seu caminho, e arranca Ellie, ainda inconsciente, da mesa de operações, fugindo dali o mais depressa possível.
Quando estavam prestes a sair da cidade, Ellie recupera os sentidos e questiona Joel sobre o sucedido. Este resolve mentir-lhe e diz-lhe que os médicos chegaram à conclusão de que não era
Laboratório mental
O que resta de nós
• Animação: O que resta de nós
666
Textos filosóficos clássicos e contemporâneos para análise
direta em sala de aula.
Exposição clara e sistemática das
principais ideias e argumentos incluídos
nos textos.
Um manual adaptável a diversas necessidades
Ideia-chave identificada para
apoio à análise do texto.
7
Formulação explícita na forma canónica
dos argumentos centrais em análise.
O professor pode optar por explorar cada uma destas três possibilidades isoladamente, ou combiná-las do modo que considerar mais adequado às necessidades dos seus alunos.
TOMARA CONSEGUIR ORGANIZAR OS MEUS
PENSAMENTOS ASSIM TÃO CLARAMENTE!
De acordo com Rawls, se D2 não coin-
cidir com o tipo de distribuição exigida pelo
Princípio da Diferença, será necessário re-
distribuir o dinheiro para se voltar ao pa-
drão inicial D1, ou seja, a uma distribuição
da riqueza de acordo com o Princípio da Di-
ferença (e não meramente com base na ti-
tularidade, isto é, no direito de propriedade).
Mas, para voltar a esse padrão inicial
D1, de forma a respeitar o Princípio da Dife-
rença, será necessário o Estado redistribuir
o dinheiro de Chamberlain, por exemplo,
através de impostos.
Contudo, para Nozick isso constitui uma
interferência inaceitável do Estado, pois
viola direitos de propriedade e desrespeita
a liberdade individual de cada um gerir o
seu rendimento e riqueza como bem en-
tender. Por outras palavras, na perspetiva
de Nozick, e seguindo a ética deontológica
de Kant, o Estado estaria a tratar Cham-
berlain como um mero meio.
Nozick defende que a tributação dos
rendimentos do trabalho (isto é, cobrar
impostos sobre o salário obtido através da
realização de um trabalho) é equiparável
ao trabalho forçado. Nozick defende esta
ideia no texto que se segue:
A tributação dos rendimentos do trabalho é equiparável ao trabalho forçado. Ficar com os rendimentos de n horas de trabalho é ficar com n horas de trabalho da pessoa; é como forçar a pessoa a trabalhar n horas para os objetivos de outrem. Aqueles que se objetam ao trabalho forçado, também objetariam a obrigar cada pessoa a trabalhar cinco horas extra por semana para beneficiar os necessitados. Mas um sistema que fica com cinco horas do rendimento em impostos (normalmente) não lhes parece que force alguém a trabalhar cinco horas. O facto de outros intervirem intencionalmente, violando uma das partes, faz do sistema fiscal um sistema de trabalho forçado.
Robert Nozick. (2009). Anarquia, Estado e Utopia. Trad. Vitor Guerreiro.Lisboa: Edições 70, pp. 213-215 (com supressões e adaptado).
“
”A ideia central por detrás da argumen-
tação de Nozick é a seguinte: tributar o
trabalho é ficar com os rendimentos de
n horas do trabalho de uma pessoa, ou
seja, é como ficar com o resultado do es-
forço associado a essas n horas de traba-
lho. Ora, ficar com o resultado do esforço
associado a n horas de trabalho de uma
pessoa é como forçar essa pessoa a tra-
balhar essas n horas para garantir a satis-
fação dos objetivos de outrem. Mas isso é
equiparável a trabalho forçado. Portanto,
a tributação do trabalho é equiparável a
trabalho forçado.
Ideia-chave do texto
A tributação dos
rendimentos
do trabalho é
equiparável ao
trabalho forçado.
262 O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL
Este argumento consiste numa falácia da derrapagem. Serão as premissas do argu-
mento plausíveis?
Para melhor compreenderes a crítica de Nozick, considera o seguinte esquema:
Ações livres dos indivíduos
Interferência do Estado (impostos)
Eticamente inaceitável
Padrão (Princípio da Diferença)
Padrão quebrado
A interferência do Estado viola direitos de propriedade
e desrespeita a liberdade individual
D2D1
1
2
3
4
Analisando este esquema, podemos
tirar as seguintes conclusões:
1
O Princípio da Diferença é uma conce-
ção padronizada da justiça: a proprie-
dade deve ser distribuída de forma que
os mais desfavorecidos fiquem o me-
lhor possível. De acordo com Rawls, se
não se respeitar este padrão, então a
sociedade será injusta.
2
Mas, uma vez dado o rendimento e a ri-
queza às pessoas segundo o Princípio
da Diferença, algumas gastá-los-ão,
outras obterão mais, e assim a socie-
dade acaba por se afastar do Princípio
da Diferença. Portanto, algumas ações
livres (trocas, ofertas, apostas, seja o
que for) acabarão inevitavelmente por
quebrar o padrão.
3
Para que o padrão inicial seja reposto,
a propriedade terá de ser redistribuída.
O Estado terá de intervir através de
meios como a cobrança de impostos.
Deste modo, para se concretizar o pa-
drão do Princípio da Diferença o Estado
tira a alguns indivíduos parte daquilo
que possuem legitimamente para be-
neficiar os mais desfavorecidos.
4
Porém, de acordo com Nozick esta re-
distribuição interferirá consideravel-
mente com a liberdade e os direitos de
propriedade de que as pessoas deviam
gozar. Segundo Nozick, esta interfe-
rência do Estado é eticamente inacei-
tável, pois viola os direitos de proprie-
dade dos indivíduos e desrespeita a
liberdade individual.
263O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL
De acordo com Rawls, se D2 não coin-
cidir com o tipo de distribuição exigida pelo
Princípio da Diferença, será necessário re-
distribuir o dinheiro para se voltar ao pa-
drão inicial D1, ou seja, a uma distribuição
da riqueza de acordo com o Princípio da Di-
ferença (e não meramente com base na ti-
tularidade, isto é, no direito de propriedade).
Mas, para voltar a esse padrão inicial
D1, de forma a respeitar o Princípio da Dife-
rença, será necessário o Estado redistribuir
o dinheiro de Chamberlain, por exemplo,
através de impostos.
Contudo, para Nozick isso constitui uma
interferência inaceitável do Estado, pois
viola direitos de propriedade e desrespeita
a liberdade individual de cada um gerir o
seu rendimento e riqueza como bem en-
tender. Por outras palavras, na perspetiva
de Nozick, e seguindo a ética deontológica
de Kant, o Estado estaria a tratar Cham-
berlain como um mero meio.
Nozick defende que a tributação dos
rendimentos do trabalho (isto é, cobrar
impostos sobre o salário obtido através da
realização de um trabalho) é equiparável
ao trabalho forçado. Nozick defende esta
ideia no texto que se segue:
A tributação dos rendimentos do trabalho é equiparável ao trabalho forçado. Ficar com os rendimentos de n horas de trabalho é ficar com n horas de trabalho da pessoa; é como forçar a pessoa a trabalhar n horas para os objetivos de outrem. Aqueles que se objetam ao trabalho forçado, também objetariam a obrigar cada pessoa a trabalhar cinco horas extra por semanapara beneficiar os necessitados. Mas um sistema que fica com cinco horas do rendimentoem impostos (normalmente) não lhes parece que force alguém a trabalhar cinco horas. O facto de outros intervirem intencionalmente, violando uma das partes, faz do sistemafiscal um sistema de trabalho forçado.
Robert Nozick. (2009). Anarquia, Estado e Utopia. Trad. Vitor Guerreiro.Lisboa: Edições 70, pp. 213-215 (com supressões e adaptado).
“
”A ideia central por detrás da argumen-
tação de Nozick é a seguinte: tributar o
trabalho é ficar com os rendimentos de
Ideia-chave do texto
A tributação dos
rendimentos
do trabalho é
equiparável ao
trabalho forçado.
262 O PROBLEMA DA J
Este argumento consiste numa falácia da derrapagem. Serão as premissas do argu-
mento plausíveis?
Para melhor compreenderes a crítica de Nozick, considera o seguinte esquema:
Ações livresdos indivíduos
Interferência do Estado (impostos)
Eticamenteinaceitável
Padrão(Princípio da Diferença)
Padrão quebrado
A interferência do Estado viola direitos de propriedade
e desrespeita a liberdade individual
D2D1
1
2
3
4
Analisando este esquema, podemos
tirar as seguintes conclusões:
1
O Princípio da Diferença é uma conce-
ção padronizada da justiça: a proprie-
dade deve ser distribuída de forma que
os mais desfavorecidos fiquem o me-
lhor possível. De acordo com Rawls, se
não se respeitar este padrão, então a
sociedade será injusta.
3
Para que o padrão inicial seja reposto,
a propriedade terá de ser redistribuída.
O Estado terá de intervir através de
meios como a cobrança de impostos.
Deste modo, para se concretizar o pa-
drão do Princípio da Diferença o Estado
tira a alguns indivíduos parte daquilo
que possuem legitimamente para be-
neficiar os mais desfavorecidos.n horas do trabalho de uma pessoa, ou
seja, é como ficar com o resultado do es-
forço associado a essas n horas de traba-
USTIÇA SOCIAL
j
2
Mas, uma vez dado o rendimen e acordo com Nozick esta re-nto e a ri-
4
Porém, dç
L
,
John Stuart Mill é o defensor de uma
teoria chamada “utilitarismo”. O utili-tarismo caracteriza-se por defender que:
– a única coisa que tem valor intrínse-
co é a felicidade – teoria do valor;
– a ação correta é aquela que, de entre
as alternativas disponíveis, mais pro-
move a felicidade – teoria da obri-gação.
A felicidadeSegundo Mill, o fundamento da mora-
lidade é aquilo a que ele decidiu chamar
“Princípio da Utilidade” (ou “Princípio da Maior Felicidade”). Este princípio es-
tabelece que:
Para justificar a sua perspetiva, Mill
começa por argumentar a favor da sua
teoria do valor. Nas suas palavras:
Neste excerto, Mill começa por defen-
der que a única prova de que algo é visível
(ou audível) é o facto de ser visto (ou ouvi-
do) por alguém. Por analogia, Mill conclui
que a única prova de que algo é desejável
é o facto de ser desejado por alguém. Em
seguida, nota que a única coisa que as pes-
soas desejam, como um fim em si, é a sua
própria felicidade. Por isso, conclui que a
felicidade individual é a única coisa que é,
por si mesma, desejável para cada pessoa.
Chamemos a este argumento “ar-gumento da felicidade”. O argumento
pode ser reconstruído conforme se segue:
(1) A única prova de que algo é visível
(ou audível) é o facto de ser visto
(ou ouvido) por alguém.
(2) Logo, a única prova de que algo
é desejável é o facto de ser desejado
por alguém. (De 1, por analogia)
(3) A única coisa que cada pessoa
deseja, por si mesma, é a sua
felicidade.
(4) Se a única prova de que algo é
desejável é o facto de ser desejado
por alguém, e a única coisa que cada
pessoa deseja, por si mesma, é a
sua felicidade, então a felicidade
individual é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para cada pessoa.
(5) Logo, a felicidade individual é
a única coisa que é, por si mesma,
desejável para cada pessoa. (De 2 a 4)
No que diz respeito à premissa (1),
o que Mill está a tentar fazer é mostrar
que o tipo de prova que podemos for-
necer em relação a certos assuntos,
embora possa ser encarado por alguns
como sendo bastante limitado, é o único
tipo de prova que pode alguma vez ser
[…] as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade.
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 13
A única prova que se pode apresentar para mostrar que um objeto é visível é o facto de as pessoas efe-tivamente o verem. A única prova de que um som é audível é o facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do mesmo modo com as outras fontes da nossa experiência. Similarmente, entendo que a úni-ca evidência que se pode produzir para mostrar que uma coisa é desejável é o facto de as pessoas efetiva-mente a desejarem. […] [C]ada pessoa, na medida em que acredita que esta é alcançável, deseja a sua própria felicidade. Isto […] dá-nos […] toda a prova que é possível exigir, para mostrar que [...] a felicida-de de cada pessoa é um bem para essa pessoa […].
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 62
“
“
”
”
John Stuart Mill (1806-
1873), filósofo
e economista
inglês, foi um dos
mais importantes
reformistas sociais
do séc. XIX.
Ideia-chave do texto
A felicidade
é um bem.
2. O utilitarismo de John Stuart Mill
194 A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
,
[É] notório que as pessoas desejam coi-sas que, na linguagem comum, são de-cididamente distintas da felicidade. […]O princípio da utilidade não significa que qualquer prazer (como a música, por exemplo) ou que qualquer ausência de dor (como a saúde, por exemplo) devam ser vistos como um meio para uma coisa coletiva chamada “felicidade” e desejados nessa perspetiva – são desejados e desejá-veis em si e por si mesmos. […]Nestes casos […] [a]quilo que che-gou a ser desejado como instrumento para atingir a felicidade acabou por se tornar desejado por si mesmo. Ao ser desejado por si mesmo é, no entanto, desejado enquanto parte da felicidade.A pessoa torna-se feliz, ou pensa que se tornaria feliz, com a sua simples posse, e torna-se infeliz por não conseguir obtê-lo.
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, pp. 62-66
“
”
apresentado a esse respeito e, em certa
medida, parece ser suficiente para satis-
fazer a nossa necessidade de justificação.
Por exemplo, que outra prova posso apre-
sentar para justificar a minha convicção
de que está um livro à minha frente a não
ser a de que estou a ver o livro? Aparente-
mente, nenhuma. Mas isso não nos deixa
insatisfeitos. Pegamos no livro, folheamos
o livro, lemos o livro, sem necessitar de
qualquer outro tipo de prova de que este
efetivamente existe.
Mill considera que algo de semelhante
se passa com o facto de algo ser visível
(ou audível). Isso só pode ser demonstra-
do pelo facto de ser, efetivamente, visto
(ou ouvido) por alguém.
Com base nessa premissa, Mill infere,
por analogia, o passo (2) do seu argumen-
to: “a única prova de que algo é desejável
é o facto de ser desejado por alguém”.
A estas duas ideias, Mill acrescenta a
premissa (3), que sustenta que “a única
coisa que cada pessoa deseja, por si mes-
ma (e não apenas como um meio para
qualquer outra coisa), é a sua felicidade”.
Mas como pode Mill defender esta
ideia? Pelo menos à primeira vista, parece
haver diversas coisas que as pessoas de-
sejam independentemente da felicidade.
Por exemplo, ser boa pessoa exige, fre-
quentemente, que as pessoas sacrifi-
quem a sua felicidade individual e, no en-
tanto, há quem deseje ser boa pessoa. Há,
também, quem deseje ter dinheiro, fama
e poder, a todo o custo. Como é que Mill
explica estas possibilidades?
Mill defende que tudo o que nós de-sejamos é desejado ou como um meio para a nossa felicidade, ou porque se tornou uma parte constituinte e in-distinguível da própria felicidade. Nas
suas palavras:
De seguida, na premissa (4), Mill limita-
-se a estabelecer que as ideias defendidas
nos passos (2) e (3) implicam que “A felici-
dade individual é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para cada pessoa”.
Assim sendo, uma vez que as duas
condições que formam a antecedente des-
sa condicional parecem estar satisfeitas
(linhas (2) e (3)), Mill conclui, no passo (5),
que “A felicidade individual é a única coisa
que é, por si mesma, desejável para cada
pessoa.”
Ideia-chave do texto
Tudo aquilo que nós desejamos é parte
da nossa felicidade ou um meio para a
alcançar.
195A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
John Stuart Mill é o defensor de uma
teoria chamada “utilitarismo”. O uutili-tarismo caracteriza-se por defender que:
– a única coisa que tem valor intrínse-
co é a felicidade – teoria do valoor;
– a ação correta é aquela que, de entre
as alternativas disponíveis, mais pro-
move a felicidade – teoria da oobri-gação.
A felicidadeSegundo Mill, o fundamento da mora-
lidade é aquilo a que ele decidiu chamar
“Princípio da Utilidade” (ou “Princcípio da Maior Felicidade”). Este princípio es-
tabelece que:
Para justificar a sua perspetiva, Mill
começa por argumentar a favor da sua
teoria do valor. Nas suas palavras:
Neste excerto, Mill começa por defen-
der que a única prova de que algo é visível
(ou audível) é o facto de ser visto (ou ouvi-
do) por alguém. Por analogia, Mill conclui
que a única prova de que algo é desejável
é o facto de ser desejado por alguém. Em
seguida, nota que a única coisa que as pes-
soas desejam, como um fim em si, é a sua
própria felicidade. Por isso, conclui que a
felicidade individual é a única coisa que é,
por si mesma, desejável para cada pessoa.
Chamemos a este argumento “ar-gumentoo da feliciddade”. O argumento
pode ser reconstruído conforme se segue:
(1) A única prova de que algo é visível
(ou audível) é o facto de ser visto
(ou ouvido) por alguém.
(2) Logo, a única prova de que algo
é desejável é o facto de ser desejado
por alguém. (De 1, por analogia)
(3) A única coisa que cada pessoa
deseja, por si mesma, é a sua
felicidade.
(4) Se a única prova de que algo é
desejável é o facto de ser desejado
por alguém, e a única coisa que cada
pessoa deseja, por si mesma, é a
sua felicidade, então a felicidade
individual é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para cada pessoa.
(5) Logo, a felicidade individual é
a única coisa que é, por si mesma,
desejável para cada pessoa. (De 2 a 4)
No que diz respeito à premissa (1),
o que Mill está a tentar fazer é mostrar
que o tipo de prova que podemos for-
necer em relação a certos assuntos,
embora possa ser encarado por alguns
como sendo bastante limitado, é o único
tipo de prova que pode alguma vez ser
[…] as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a produzir o reverso da felicidade.
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 13
A única prova que se pode apresentar para mostrar que um objeto é visível é o facto de as pessoas efe-tivamente o verem. A única prova de que um som éaudível é o facto de as pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do mesmo modo com as outras fontes danossa experiência. Similarmente, entendo que a úni-ca evidência que se pode produzir para mostrar que uma coisa é desejável é o facto de as pessoas efetiva-mente a desejarem. […] [C]ada pessoa, na medida em que acredita que esta é alcançável, deseja a suaprópria felicidade. Isto […] dá-nos […] toda a provaque é possível exigir, para mostrar que [...] a felicida-de de cada pessoa é um bem para essa pessoa […].
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, p. 62
“
“
”
””
John StuartMill (1806-
1873), filósofo
e economista
inglês, foi um dos
mais importantes
reformistas sociais
do séc. XIX.
Ideia-chavedo texto
A felicidade
é um bem.
2. O utilitarismo de John Stuart Mill
194 A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
[É] notório que as pessoas desejam coi-sas que, na linguagem comum, são de-cididamente distintas da felicidade. […]O princípio da utilidade não significaque qualquer prazer (como a música, por exemplo) ou que qualquer ausência de dor (como a saúde, por exemplo) devamser vistos como um meio para uma coisacoletiva chamada “felicidade” e desejadosnessa perspetiva – são desejados e desejá-veis em si e por si mesmos. […]Nestes casos […] [a]quilo que che-gou a ser desejado como instrumento para atingir a felicidade acabou por se tornar desejado por si mesmo. Ao ser desejado por si mesmo é, no entanto, desejado enquanto parte da felicidade.A pessoa torna-se feliz, ou pensa que setornaria feliz, com a sua simples posse, e torna-se infeliz por não conseguir obtê-lo.
John Stuart Mill. (2020). Utilitarismo. Trad. Pedro Galvão. Lisboa: Book Builders, pp. 62-66
“
”
apresentado a esse respeito e, em certa
medida, parece ser suficiente para satis-
fazer a nossa necessidade de justificação.
Por exemplo, que outra prova posso apre-
sentar para justificar a minha convicção
de que está um livro à minha frente a não
ser a de que estou a ver o livro? Aparente-
mente, nenhuma. Mas isso não nos deixa
insatisfeitos. Pegamos no livro, folheamos
o livro, lemos o livro, sem necessitar de
qualquer outro tipo de prova de que este
efetivamente existe.
Mill considera que algo de semelhante
se passa com o facto de algo ser visível
(ou audível). Isso só pode ser demonstra-
do pelo facto de ser, efetivamente, visto
(ou ouvido) por alguém.
Com base nessa premissa, Mill infere,
por analogia, o passo (2) do seu argumen-
to: “a única prova de que algo é desejável
é o facto de ser desejado por alguém”.
A estas duas ideias, Mill acrescenta a
premissa (3), que sustenta que “a única
coisa que cada pessoa deseja, por si mes-
ma (e não apenas como um meio para
qualquer outra coisa), é a sua felicidade”.
Mas como pode Mill defender esta
ideia? Pelo menos à primeira vista, parece
haver diversas coisas que as pessoas de-
sejam independentemente da felicidade.
Por exemplo, ser boa pessoa exige, fre-
quentemente, que as pessoas sacrifi-
quem a sua felicidade individual e, no en-
tanto, há quem deseje ser boa pessoa. Há,
também, quem deseje ter dinheiro, fama
e poder, a todo o custo. Como é que Mill
explica estas possibilidades?
Mill defende que tudo o que nós de-sejamos é desejado ou como um meiopara a nossa felicidade, ou porque se tornou uma parte constituinte e in-distinguível da própria felicidade. Nas
suas palavras:
De seguida, na premissa (4), Mill limita-
-se a estabelecer que as ideias defendidas
nos passos (2) e (3) implicam que “A felici-
dade individual é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para cada pessoa”.
Assim sendo, uma vez que as duas
condições que formam a antecedente des-
sa condicional parecem estar satisfeitas
(linhas (2) e (3)), Mill conclui, no passo (5),
que “A felicidade individual é a única coisa
que é, por si mesma, desejável para cada
pessoa.”
Ideia-cchave do texto
Tudo aquilo que nós desejamos é parte
da nossa felicidade ou um meio para a
alcançar.
195A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
8
Avaliação crítica do argumento da boa vontadeUm utilitarista, como Mill, poderá rejeitar
a premissa (1) do argumento da boa vonta-de, defendendo que a felicidade tem valor intrínseco independentemente do facto de estar associada a uma boa vontade ou não.
De acordo com esta perspetiva, a infede é sempre intrinsecamente má (aindpossa ser instrumentalmente boa). Amesmo a infelicidade de um criminoso na melhor das hipóteses, um valor mmente instrumental (pois pode dissuadirtras pessoas de agir de forma semelhanideias em diálogo
Olá Kant! Não percebo como é que podes defender que a felicidade não é a única coisa com valor intrínseco.
Mill
Como assim? Não achas que a felicidade é algo que tem valor por si só?Mill
Na minha opinião, a felicidade é sempre intrinsecamente boa. Julgo que a única razão que podemos dar para justificar porque é que a felicidade do criminoso é uma coisa má é o facto de ela poder servir de encorajamento para outros possíveis criminosos.
Mill
Não só acho que não é a única, como nem sequer acho que ela é intrinsecamente boa.Kant
Não. Para que a felicidade tenha valor tem de ser merecida. A felicidade de um criminoso que escapou à justiça não é uma coisa boa.
Kant
Então afinal admites que alguma felicidade pode ser má?
Kant
Sim, mas se reparares limitei-me a afirmar que era instrumentalmente má, isto é, má porque pode conduzir a muita infelicidade. Nunca defendi que era intrinsecamente má.
Mill
Mill deixou de seguir-te.
Pois eu acho que seria justo ele sofrer e ser de alguma forma castigado pelo mal que fez.Kant
Queres dizer que se não houvesse maneira de essa felicidade influenciar negativamente o comportamento dos outros, não seria má de todo? Por exemplo, imagina que o criminoso fugiu em segredo para uma ilha deserta, preferias que ele vivesse feliz para o resto dos seus dias ou que viesse a sofrer de alguma forma por todo o mal que causou?
Kant
Para mim, todo o sofrimento é intrinsecamente mau, ainda que, por vezes, possa ser instrumentalmente bom. Assim, dado que nessas circunstâncias o seu sofrimento seria absolutamente inútil, penso que seria melhor que vivesse feliz sem causar mais nenhum tipo de sofrimento seja a quem for.
Mill
• Animação: Ideias em diálogo – Mill e Kant
214A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
Na minha opinião, a felicidade é sempre intrinsecamente boa. Julgo que a única razão que podemos dar para justificar porque é que a felicidade do criminoso é uma coisa má é o facto de ela poder servir de encorajamento para outros possíveis criminosos.
Mill
Não. Para que a felicidade tenha valor tem de ser merecida. A felicidade de um criminoso que escapou à justiça não é uma coisa boa.
KKaantt
Então afinal admites que alguma felicidade pode ser má?
Kant
• Animação: Ideias em diálogo – Mill e Kant
214A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PE
ideias em diálogo
Robert Nozick criou o grupo “Teoria da justiça”
Robert Nozick alterou o ícone do grupo
É uma maneira de garantir
que toda a gente tem
condições mínimas de vida. Rawls
E qual é o problema disso?
Rawls
Como assim?!
Rawls
Mas porquê?
Rawls
John Rawls foi adicionado ao grupo
por Robert Nozick
Olá, Nozick!
Rawls
Então e se alguém, como tu,
que até aqui usufruiu de bons
rendimentos fruto do seu trabalho,
sofrer algum infortúnio
Não estou de acordo com a tua
teoria da justiça.
Olá Rawls!
O teu Princípio da Diferença parece
não respeitar as nossas liberdades
fundamentais.
As pessoas são livres e fazem o
que bem entenderem com a sua
pessoa e com os seus bens (desde
que legitimamente adquiridos).
E então?!
Não vês que isso vai exigir uma
interferência constante do
Estado para repor esse padrão,
desrespeitando assim a liberdade
individual?
Imagina que duas pessoas têm a
mesma riqueza; uma delas esbanja
todo o seu dinheiro e a outra faz
investimentos que acabam por lhe
trazer mais dinheiro.
Achas justo que o Estado
redistribua esse dinheiro?
Mas isso é equiparável
a trabalho forçado!!!
O que estás a dizer é que os mais
desfavorecidos têm direito a uma
parte do meu trabalho.
E isso parece-me
simplesmente inaceitável!
Nozick
Nozick
Nozick
Nozick
Nozick
Nozick
Nozick
(um incêndio ou um
acidente, por exemplo)
fi privado do usufruto desses
Rawls
Rawls
• Animação: Ideias em diálogo – Nozick e Rawls
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
ill deixou de seguir-te.
eu acho que seria justo ele e ser de alguma forma ado pelo mal que fez.Kant
ade influenciar negativamente o comportamento dos outros, não seria má de todo? Por exemplo, imagina que o criminoso fugiu em segredo para uma ilha deserta, preferias que ele vivesse feliz para o resto dos seus dias ou que viesse a sofrer de alguma forma por todo o mal que causou?
Kant
Para mim, todo o sofrimento é intrinsecamente mau, ainda que, por vezes, possa ser instrumentalmente bom. Assim, dado que nessas circunstâncias o seu sofrimento seria absolutamente inútil, penso que seria melhor que vivesse feliz sem causar mais nenhum tipo de sofrimento seja a quem for.
AS FILOSÓFICAS
ideias em diálogo
Diálogos imaginários entre filósofos que ajudam os alunos a compreender as ideias em confronto.
Os diálogos recriam o ambiente da popular aplicação WhatsApp e trazem os filósofos e as suas ideias para o universo dos alunos.
9
elicida-
da que
Assim,
o terá,
mera-
ir ou-
nte).
o que era a justiça, elogiaram a justiça como algo da maior importância, mas acaba-
ram por não conseguir responder de forma satisfatória à pergunta. Mais ainda, de cada
vez que tentavam oferecer algo que se assemelhasse a uma definição de justiça, aca-
bavam por cair em flagrantes contradições, mostrando, assim, que afinal não sabiam
muito bem de que é que estavam a falar. Um exemplo disto é o diálogo que se segue:
Sócrates mostrou que a definição de justiça apresentada pelo seu interlocutor, se-
gundo a qual “é justo restituir a cada um o que se lhe deve”, não se aplica a todas as
situações, demonstrando que talvez este não saiba, afinal, em que consiste a justiça.
Algo de semelhante aconteceu quando se aproximou dos militares e lhes per-
guntou: “O que é a coragem?”, e também quando questionou os professores:
“O que é o conhecimento?”, ou quando perguntou aos artistas: “O que é a be-
leza?”. Enfim, aqueles que reclamavam ser especialistas nos respetivos assuntos
acabavam por revelar o seu desconhecimento a respeito dos mesmos. Foi aí que se
fez luz, e Sócrates acabou por perceber a mensagem do oráculo. Ao contrário da-
queles que julgam possuir o conhecimento, mas quando devidamente questionados
acabam por demonstrar a sua ignorância, ele pelo menos tinha consciência da sua
ignorância.
“
”
SÓCRATES: Explica então tu, […] que é que afirmas que
Simónides disse tão acertadamente acerca da justiça?
POLEMARCO: Que é justo restituir a cada um o que se lhe
deve. Parece-me que diz bem, ao fazer esta afirmação.
SÓCRATES: Sem dúvida que não é fácil deixar de dar cré-
dito a Simónides, pois é homem sábio e divino. Em todo
o caso, tu, Polemarco, sabes talvez o que ele quer dizer
com isso, ao passo que eu ignoro-o. Pois é evidente que
se alguém receber armas de um amigo em perfeito juízo,
e este, tomado de loucura, lhas reclamasse, toda a gente
diria que não se lhe deviam entregar, e que não seria justo
restituir-lhas […]. E contudo, fica-se a dever, penso eu,
uma coisa que foi entregue em depósito? Ou não?
POLEMARCO: Fica.SÓCRATES: Mas de modo algum se deve restituir, quando
alguém que esteja privado da razão reclamar?
POLEMARCO: É verdade – disse ele.
SÓCRATES: Então não é isto, mas outra coisa, ao que pa-
rece, que Simónides quer dizer, relativamente a ser justo
restituir-se o que se deve.
Platão. (2017). República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 9-10 (adaptado)
ideias em diálogo
O que é a justiça?
Sócrates
Então, se um amigo te pedir
para guardar a sua arma e
depois enlouquecer, a coisa
certa a fazer é devolver-lha?!
Sócrates
Então, afinal, o que é a justiça?
Sócrates
Polemarco saiu do grupo.
Não, nem pensar!
Polemarco
É restituir a cada um o que se lhe
deve. Polemarco
• Animação: Ideias em diálogo – Sócrates
e Polemarco
14INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR
Os mesmos diálogos estão disponíveis sob a forma de divertidas animações em Aula Digital.
QUE DIVERTIDO!
Sócrates mostrou que a definição de jus
gundo a qual “é justo restituir a cada um o
situações, demonstrando que talvez este n
Algo de semelhante aconteceu quand
guntou: “O que é a coragem?”, e tam
t ?” ou quand
Platão. (2017). República. Trad. Maria Helena da Rocha Pe
Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 9-10 (adaptado)
• Animação: Ideias em diálogo – Sócrates
e Polemarco
do perguntou aos
ser especialistas nos respetivos assu
mento a respeito dos mesmos. Foi aí qu
r a mensagem do oráculo. Ao contrári
nto, mas quando devidamente question
a, ele pelo menos tinha consciência da
Os mesmos diálogos estão disponíveis sob a forma de divertidas animações em Aula Digital.
QUE DIVERTIDO!
“O que é o conhecimento?”, ou quand
leza?”. Enfim, aqueles que reclamavam
acabavam por revelar o seu desconhecim
fez luz, e Sócrates acabou por perceber
queles que julgam possuir o conhecimen
acabam por demonstrar a sua ignorância
ignorância.
14INTRODUÇÃO À FILOSOFS EEIA E O FIAOA FIAO FIAO FIFIAO FIO SOFLOSOFLOLOLLOOOOSOFOFLOLOSOFOFLOSOFLO RARARRAAARRARAR
10
112LÓGICA INFORMAL
Negar negComecemos
ções. É fácil percgação é o mesque ela nega. Pverdade que a Mré o mesmo que dicente”. Uma tabelaideia ainda mais c“P” representa “A Mtabela de verdade pé verdade que a Mrspode ser preenchiddando os seguintes p
Em primeiro lugvalor de verdade da contra imediatamenté o operador que tem operador aplica-se ap“P”, por isso, inverte oapresenta.
A negação de proposições é outra com-petência filosófica fundamental. Como vi-mos, a negação inverte o valor de ver-dade de uma proposição, ou seja, quando
uma proposição é verdadeira, a sua negação é falsa, e vice-versa.
Isto significa que, mostrando que a negação de uma proposição é verda-deira, mostramos que essa proposição é falsa.
Assim, quando um filósofo não aceita uma dada tese, por exemplo, tem de saber negar essa proposição para saber exata-mente qual é a tese que está a defender. Si-milarmente, quando um filósofo não aceita a conclusão de um argumento válido, terá de negar (pelo menos) uma das suas premis-sas. Como as teses e as premissas dos argu-mentos surgem de todas as formas e feitios, é importante que os filósofos saibam negar todos os tipos de proposições.
3. Como negar proposições
LÓGICA FORMAL
78
Diálogos apresentados sob a forma de atraentes bandas desenhadas ajudam o aluno a captar os aspetos essenciais da discussão de uma forma didática e divertida.
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
Negar negComecemos
ções. É fácil percgação ééé é oo mesque elaa nneega. Pverdade que a Mré o mesmo que dicente”. Uma tabelaideia ainda mais c“P” representa “A Mtabela de verdade pé verdade que a Mrspode ser preenchiddando os seguintes p
Em primeiirrroo lugvalor de verdade da contra imediatamenté o operador que tem operador aplica-se ap“P”, por isso, inverte oapresent
m-
i-
-o
osições
11
gaçõess pela negação de nega-ceber que negar uma ne-smo que afirmar aquilo Por exemplo, dizer “Não é rs. White não é inocente” dizer “A Mrs. White é ino-la de verdade torna esta clara. Considerando que Mrs. White é inocente”, a para a proposição “Não s. White não é inocente” da conforme se segue passos:
ugar, determinamos o a negação que se en-te atrás de “P”, pois m menor âmbito. Este penas à proposição os valores que esta
Outros diálogos encontram-se acessíveis para os alunos através de códigos QR e também disponíveis no Caderno de Apoio ao Professor.
Este penas à proposição os valores que est
141
DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA141
DETERMINISMO E LIBERDADE NA AÇÃO HUMANA
231A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS
ar que, para
é errado”
“a minha
quando al-
está sim-
ha socie-
omummente
ativismo é o
diversidade mento:
Recurso multimédiaDiálogo sobre a
natureza da moralidade –
relativismo
Este diálogo encontra-se também disponível no Caderno de Apoio ao Professor.
12
1. De acordo com o utilitarismo de Mill, a única coisa que tem valor intrínseco é...
A. a boa vontade.
B. a felicidade.
C. o prazer espiritual.
D. o prazer corporal.
2. De acordo com o utilitarismo de Mill, uma ação é correta se, e só se, ...
A. promove a felicidade do maior número de pessoas.
B. promove o maior total de felicidade, independentemente da forma como está dis-
tribuída.
C. promove a felicidade do próprio agente.
D. promove a felicidade apenas daqueles que são dignos de ser felizes.
3. O utilitarismo de Mill…
A. é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade consiste apenas no prazer e
na ausência de dor.
B. não é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade consiste apenas no prazer
e na ausência de dor.
C. é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade não consiste apenas no prazer
e na ausência de dor.
D. não é uma teoria hedonista, pois defende que a felicidade não consiste apenas no
prazer e na ausência de dor.
4. O utilitarismo de Mill…
A. é uma teoria deontológica, pois defende que as consequências não são o único fator
relevante para determinar o estatuto moral dos atos.
B. é uma teoria deontológica, embora defenda que as consequências são o único fator
relevante para determinar o estatuto moral dos atos.
C. é uma teoria consequencialista, pois defende que as consequências são o único fa-
tor relevante para determinar o estatuto moral dos atos.
D. é uma teoria consequencialista, embora defenda que as consequências não são o
único fator relevante para determinar o estatuto moral dos atos.
consolidaconsolidaos teusos teus
conhecimentosconhecimentos
#agora_pensa_maisA necessidade de fundamentação da moral – análise comparativa de duas perspetivas filosóficas
GRUPO I · Seleciona a alternativa correta. 10 × 7 pontos = 70 pontos
Soluções no Caderno de Apoio
ao Professor.
Soluções das
questões de
escolha múltipla
exclusivamente na
edição do manual para
o professor.
• Teste interativo 1
Exclusivo do Professor• Teste interativo 2
A NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL – ANÁLISE COMPARATIVA DE DUAS PERSPETIVAS FILOSÓFICAS 239
, ç , ,
A. promove a felicidade do maior número de pessoas.
emente da forma c
nos de ser felizes.
de consiste apena
dade consiste ape
não consiste ape
dade não consi
ências não sã
equências sã
sequências s
consequênc
s atos.
#agora_pensa
REVISÃO
1. O que é a posição original?
2. O que é o véu de ignorância?
3. Como são caracterizadas as partes em confronto na posição original?
4. Indica se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações que se seguem.
a. Segundo Rawls, para que uma sociedade seja justa deve assentar em
princípios que tenham origem num acordo real e efetivo entre cidadãos
livres e racionais.
b. Segundo Rawls, as partes na posição original devem estar plenamente
informadas para que as suas escolhas sejam racionais.
c. Segundo Rawls, as partes na posição original querem salvaguardar os
seus próprios interesses.
d. Segundo Rawls, quanto mais igualitária for uma sociedade, mais justa será.
e. A teoria da justiça de Rawls é por vezes designada “justiça como equi-
dade”, porque garante que as partes na posição original partem todas
da mesma posição e, por conseguinte, são imparciais na escolha dos
princípios da justiça.
f. A teoria da justiça de Rawls é por vezes designada “justiça como equi-
dade”, porque garante que todos recebem exatamente a mesma quan-
tidade de bens primários.
g. Segundo Rawls, as partes na posição original jamais consentiriam
numa distribuição desigual de bens, ainda que todos tivessem a ganhar
com isso.
h. Segundo Rawls, as partes na posição original consentiriam numa distri-
buição desigual de bens, desde que todos tivessem a ganhar com isso.
i. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da
posição original é racional escolher como se o pior nos fosse acontecer.
j. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da
posição original é racional escolher de forma a procurar maximizar a
nossa utilidade esperada.
DISCUSSÃO
5. Imagina que A, B e C correspondem a diferentes classes sociais e que os
valores apresentados no quadro que se segue correspondem ao rendimen-
to médio anual (em milhares de euros) de cada uma dessas classes em
duas sociedades possíveis.
F
F
V
F
V
F
F
V
V
F
5.1 De acordo com Rawls, qual
seria a sociedade mais justa?
5.2 Concordas com a perspetiva
defendida por Rawls? Porquê?
A B C Total
Sociedade 1 7 36 55 98
Sociedade 2 8 10 12 30 Soluções
no Caderno de Apoio
ao Professor.
Soluções da questão
4 exclusivamente na
edição do manual
para o professor.
• Atividade interativa
254O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL
RSPETIVAS FILOSÓFICAS 239A DE DUAS PER
com as características da
posição original é racional escolher como se o pior nos fosse acontecer.
j. A regra maximin diz-nos que em situações com as características da
posição original é racional escolher de forma a procurar maximizar a
nossa utilidade esperada.
DISCUSSÃO
5. Imagina que A, B e C correspondem a diferentes classes sociais e que os
valores apresentados no quadro que se segue correspondem ao rendimen-
to médio anual (em milhares de euros) de cada uma dessas classes em
duas sociedades possíveis.
F
5.1 De acordo com Rawls, qual
seria a sociedade mais justa?
5.2 Concordas com a perspetiva
defendida por Rawls? Porquê?
A B C Totalllll
Sociedade 11111111111111 77 36 55 98
Sociedade 2222222 888 10 12 30uções
no de Apoio
sor.
da ququestão
amentente na
manual
fessor.
nterativa
O PROBLEMA DA JUSTIÇA SOCIAL
Fichas formativas complementadas por testes interativos na Aula Digital.
Questões do manual complementadas por
atividades interativas na Aula Digital.
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
13
No início deste capítulo, falámos do
Comandante Sheppard e de como este, nas
suas viagens pela galáxia, acaba por se cru-
zar com uma enorme diversidade de espé-
cies, cada uma com as suas tradições e os
seus costumes e com as suas respetivas
noções de “certo” e “errado”. Ainda que a
situação relatada seja ficcional, a verdade
é que também no mundo real, à superfí-
cie do nosso próprio planeta, encontramos
semelhante diversidade. Este facto faz-nos
questionar acerca da objetividade da mora-
lidade. Será que existem coisas objetiva-
mente certas ou erradas? Vejamos diferen-
tes formas como o Comandante Sheppard
poderia encarar essa diversidade.
Se este adotasse o não-cognitivismo,
entenderia os juízos morais como reco-
mendações, ou como manifestações de
emoções. De acordo com esta perspetiva,
poderia tentar usar esse tipo de juízos para
levar os outros a seguir essas recomenda-
ções, ou para tentar contagiá-los com emo-
ções semelhantes em relação aos mesmos
acontecimentos. Podia, por exemplo, dizer
que achava errado abandonar os filhos pela
galáxia, para tentar persuadir os Quarian
a abandonar essa prática. Ou tentar enco-
rajar os Krogan a adotarem uma postura
menos agressiva.
Se optasse pelo subjetivismo, poderia
assumir que em questões de moralidade
cada um sabe de si. Isto poderia levá-lo a
respeitar a liberdade individual de cada um
fazer aquilo que acha que está certo, inde-
pendentemente de padrões morais impos-
tos por outros. Se os Krogan gostam de
ser agressivos, que sejam. Se os Salarian
valorizam o conhecimento acima de tudo,
tudo bem. Mas se no seio destas comuni-
dades houver alguém que tem preferências
diferentes, essa pessoa deveria ter a liber-
dade de seguir a sua vida de acordo com as
mesmas.
Se aderisse ao relativismo cultural, poderia adotar a tolerância dos Asari face
às diferentes formas de vida de cada pla-
neta ou cultura, pois iria considerar que as
noções de “certo” e “errado” são sempre
relativas às diversas culturas. Se os Quarian
consideram aceitável abandonar os filhos
pela galáxia antes da idade adulta, então
isso passa a ser aceitável dentro da sua cul-
tura. O que não quer dizer que seja aceitável
para os Terráqueos. E, assim como os Ter-
ráqueos não devem interferir nos hábitos
dos Quarian, também estes devem evitar
intrometer-se nos nossos. Nenhuma cul-
tura pode ser considerada melhor (ou pior)
do que qualquer outra e, por isso, nenhuma
tem legitimidade para tentar impor os seus
próprios padrões às outras.
Se abraçasse o objetivismo, poderia
propor algo como a Declaração Interga-
láctica dos Direitos de Todas as Criaturas.
Essa Declaração poderia incluir o direito a
ser protegido pelos progenitores durante a
infância, o que significa que teria de tentar
argumentar junto dos Quarian para mostrar
por que razão essa prática não é imparcial-
mente justificável. Poderia também tentar
incluir o direito à autodeterminação e à
liberdade da tirania e da opressão, o que
dificilmente teria a aceitação dos gover-
nantes Batarian. Enfim, não parece que
fosse uma tarefa fácil unificar todos esses
planetas debaixo de um sistema mínimo de
regras comuns. Mas talvez valesse a pena
tentar!
E tu? O que pensas de tudo isto? Afi-nal, haverá coisas objetivamente cer-tas ou objetivamente erradas? Porquê?
#como_pensar_tudo_isto?
A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA 181
13
ada um
que acha que está certo, inde-
pendentemente de padrões morais impos-
tos por outros. Se os Krogan gostam de
ser agressivos, que sejam. Se os Salarian
valorizam o conhecimento acima de tudo,
tudo bem. Mas se no seio destas comuni-
dades houver alguém que tem preferências
q
ver-rverovera a aceitação dos goveover-
e que e nantes Batarian. Enfim, não parece e
esses efosse uma tarefa fácil unificar todos ee
planetas debaixo de um sistema mínimo de m
regras comuns. Mas talvez valesse a pena
tentar!
E tu? O que pensas de tudo isto? Afi-nal, haverá coisas objetivamente cer-tas ou objetivamente erradas? Porquê?
A DIMENSSSÃÃÃO PESSOÃÃ AL E SOCIAL DA ÉTICACAAAAAAAAAAAA 181
Podcasts com resumos de todas as matérias, acessíveis a partir das
páginas do manual destinadas a Síntese de capítulo.
Uma visão integradora de cada capítulo na rubrica #como_pensar_tudo_isto?, ligando as principais ideias estudadas ao Laboratório
mental inicial.
Nas suas viagens intergalácticas, o Comandante
Shepard deparou-se com uma enorme diversidade
de espécies, culturas e costumes. Por vezes, essa
diversidade deixava-o um pouco perplexo. Os
Quarian, por exemplo, expulsavam os filhos de
casa antes de estes atingirem a maioridade e só os
aceitavam de volta depois de encontrarem algo de
valioso nas suas viagens de exploração da galáxia.
Entre os Krogan, naturais do inóspito planeta
Tuchanka, apenas a agressividade e o egoísmo eram
vistos como virtudes; a compaixão e o altruísmo,
pelo contrário, eram encarados como sinais de
fraqueza que deveriam ser evitados a todo o custo.
Devido a um vírus que afetou grande parte da
população, as fêmeas férteis eram raras e muito
preciosas. Por isso, viviam numa comunidade
à parte com as crianças e só esporadicamente
recebiam a visita de alguns machos, escolhidos de
entre os mais fortes para assegurar a continuidade
da espécie. Os Asari, por sua vez, eram uma
espécie só com um género. A sua fisiologia única
proporcionava-lhes uma esperança média de
vida de cerca de mil anos e a possibilidade de se
reproduzirem com qualquer género ou espécie.
Talvez por esse motivo tenham adotado uma
atitude cooperativa relativamente às outras espécies,
valorizando a diplomacia em vez do conflito.
As suas decisões eram tomadas sobretudo com base
na razão e consideravam que as outras espécies não
se deviam deixar levar tanto pelas emoções.
Os Salarian eram uma espécie de anfíbios com
um metabolismo extremamente rápido. Isso fazia
com que fossem capazes de pensar, falar e mover-
-se mais rápido do que qualquer outra espécie.
Os Salarian valorizavam o conhecimento, o
trabalho e a eficácia e consideravam as restantes
espécies ignorantes, lentas e preguiçosas.
Os Batarian viviam sob uma ditadura e estavam
proibidos de sair do seu planeta natal. Os poucos
que conseguiam escapar a esse destino viviam
espalhados pela galáxia e dedicavam-se a todo o
tipo de práticas ilegais, como o tráfico de escravos
e narcóticos, para assegurar a sua sobrevivência.
Tudo isto acabou por fazer com que o
Comandante se questionasse: “Será que o certo
e o errado dependem do planeta em que nos
encontramos?”. Mas, assim que esta esta pergunta
lhe passou pela cabeça, ocorreu-lhe que também
no seu planeta havia diferentes noções de bem e
de mal, consoante a região e a cultura dominante.
E, no entanto, o problema parecia ser ainda
mais profundo, pois mesmo dentro das mesmas
culturas havia opiniões divergentes acerca do certo
e do errado. “Será que tudo depende do ponto
de vista ou existem coisas objetivamente certas e
outras objetivamente erradas?” – interrogava-se
novamente o Comandante.
Mass Effect, jogo RPG desenvolvido pela Bioware e pela EA e Lucien Malson.
(1988). As Crianças Selvagens. Porto: Livraria Civilização, pp. 26-28
1. Será que existem coisas objetivamente certas ou erradas? Porquê?#agora_pensa
Laboratório mental
Cada planeta, sua sentença
Soluções
no Caderno de Apoio
ao Professor.
• Animação: Cada
planeta, sua sentença
162A DIMENSÃO PESSOAL E SOCIAL DA ÉTICA
14
Salas do crime
Simulador de ética: Eticamente 1.0
Posto perante sucessivos dilemas morais, o utilizador vai fazendo as suas opções, obtendo no final um perfil (mais) deontológico ou (mais) consequencialista. Ao longo do estudo, as opções do aluno podem modificar-se e revelar evolução no seu perfil ético!
Um jogo interativo onde o aluno se serve das suas competências dedutivas para solucionar diferentes crimes, sempre sob a orientação do Inspetor LeBeaux.
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
15
Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0
Inclui uma calculadora de tabelas de verdade e de inspetores de circunstâncias que permite analisar se uma proposição é tautológica, contraditória ou contingente, verificar equivalências lógicas e analisar a validade de argumentos. Deste modo, facilita tanto o estudo autónomo como a correção de exercícios em sala de aula.
Contém, ainda, as funções de cópia e download das tabelas geradas, para o professor as poder usar na elaboração dos seus materiais.
Permite que o aluno aplique e consolide os seus conhecimentos de lógica formal através de:– classificação de formas proposicionais– classificação de formas argumentativas– completação de formas argumentativas
A grande inovação é este software ter aprendido as regras da lógica e, por isso, ser capaz de gerar um leque ilimitado de exercícios.
Novíssimo
simulador
de lógica!
NUNCA VI NADA ASSIM!
16
Orientações para o aluno
Resumos e fichas de verificação
Fichas formativas
Textos de apoio e questões de verificação
Soluções online
Caderno do Estudante
É natural pensarmos que somos livres, pois diariamente somos confrontados com a necessidade de escolher entre di-ferentes cursos de ação possíveis e pa-rece inevitável sentirmos que, em certas ocasiões, aquilo que vem a acontecer depende fundamentalmente daquilo que decidimos fazer. Mas, aparentemente, também não conseguimos viver sem as-sumir que todos os acontecimentos são causados por acontecimentos anteriores e por certas leis naturais. Existe uma ten-são entre estas duas crenças, porque, se todos os acontecimentos (incluindo as nossas ações) forem a consequência de coisas que nós não controlamos, não pa-rece haver muito espaço para a liberdade humana.
Dizer que os seres humanos são livres, neste sentido, é o mesmo que dizer que estes têm livre-arbítrio. Temos livre-ar-bítrio se, e só se, algumas das coisas que acontecem dependem, em última análi-se, da nossa vontade. À tese de que tudo o que acontece é a consequência neces-sária de acontecimentos anteriores e das leis da natureza dá-se o nome de “deter-minismo”.
Um dos principais problemas que se le-vantam a respeito do livre-arbítrio e do determinismo é o problema da compati-bilidade. Este problema pode ser formu-lado conforme se segue: “Será o livre-ar-bítrio compatível com o determinismo?”. Há duas respostas possíveis para este problema: o incompatibilismo e o com-patibilismo. O incompatibilismo é a tese de que o livre-arbítrio não é compatível com o determinismo. O compatibilismo é a tese de que o livre-arbítrio é compatí-vel com o determinismo.
Um dos argumentos centrais a favor do in-compatibilismo é o argumento da conse-quência. Este argumento pode ser resumi-damente apresentado conforme se segue:
(1) Se o determinismo é verdadeiro, então não temos possibilidades alternativas.
(2) Se não temos possibilidades alterna-tivas, então não temos livre-arbítrio.
(3) Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não temos livre-arbítrio.
Uma das estratégias mais comuns utili-
zadas pelos compatibilistas contra este
argumento consiste na rejeição da pre-
missa (1). Para isso, os compatibilistas
recorrem a uma análise condicional do
conceito de “possibilidades alternativas”.
De acordo com essa análise condicional,
“Um dado agente tinha possibilidades al-
ternativas numa dada ocasião se, e só se,
caso tivesse escolhido fazer outra coisa,
tivesse feito outra coisa (isto é, não tivesse
sido impedido de o fazer por nada nem nin-
guém).” Esta conceção de possibilidades
alternativas é compatível com o determi-
nismo, pois mesmo que todos os aconteci-
mentos sejam a consequência necessária
do passado e das leis da natureza, há si-
tuações em que, caso tivéssemos escolhi-
do fazer outra coisa, teríamos efetivamen-
te feito outra coisa (ou seja, não seriamos
impedidos de o fazer por nada nem nin-
guém). Por exemplo, o indivíduo que passa
fome no deserto, porque não tem alimen-
tos, não é livre de comer; mas o indivíduo
que faz uma greve de fome em frente da
Assembleia da República, em nome de
uma causa, é livre, porque se desejar co-
mer, come (isto é, não será impedido por
nada nem ninguém de o fazer).
Resumo do capítulo 4 – Determinismo e liberdade na ação humana
30
PARTE II Resumos e fichas de verificação
é compatíveltos, não é livre de comer; mas o indivíduo
encontrar respostas a questões filosóficas que representem um desafio.Outra razão para estudar filosofia é o facto de isso nos proporcionar uma boa maneira de aprender a pensar mais claramente sobre um vasto leque de assuntos. Os métodos do pensamento filosófico podem ser úteis
em variadíssimas situações, uma vez que, ao analisar os argumentos a favor e contra qualquer posição, adquirimos aptidões que podem ser aplicadas noutras áreas da vida. Nigel Warburton. (2007). Elementos Básicos de Filosofia.
Trad. Desidério Murcho e Aires Almeida. Lisboa: Gradiva, pp. 15-20
Questões de verificação da leitura
1. De acordo com o autor do texto, qual das seguintes tarefas não se enquadra na atividade filosófica?
A. Inventar argumentos.
B. Discutir argumentos
C. Analisar conceitos.
D. Fazer experiências laboratoriais.
2. O autor do texto defende que...
A. vale a pena estudar filosofia, porque esta disciplina lida com questões fundamentais acerca do sentido da nossa existência.
B. não vale a pena estudar filosofia, uma vez que tudo o que os filósofos fazem é discu-tir sofisticamente o significado das palavras.
C. vale a pena estudar filosofia, porque esta disciplina ajuda-nos a compreender a bio-logia humana.
D. não vale a pena estudar filosofia, uma vez que os filósofos continuam a discutir os mesmos problemas desde a antiguidade, sem nunca os resolver.
3. Qual das questões que se seguem não é um bom exemplo de uma questão fundamental acerca do sentido da nossa existência?
A. Há alguma demonstração da existência de Deus?
B Q
16
vre arbítrio. Te
bítrio se, e só se, algumas d
acontecem dependem, em
se, da nossa vontade. À tes
o que acontece é a conseq
sária de acontecimentos an
leis da natureza dá-se o nom
minismo”.
Um dos principais problem
vantam a respeito do livre
determinismo é o problema
bilidade. Este problema pod
lado conforme se segue: “Se
bítrio compatível com o det
Há duas respostas possíve
problema: o incompatibilis
patibilismo. O incompatibil
de que o livre-arbítrio não
com o determinism
é a tese de que o li
vel com o determin
30
bítrio não
mo.
vre-
nism
Ficha formativa 5
A dimensão pessoal e social da ética
GRUPO I · Seleciona a alternativa correta.
1. Atenta nos juízos que se seguem e seleciona a opção correta.
1. A Torre Eiffel está situada em Paris.
2. A Torre Eiffel é o mais belo monumento alguma vez criado.
3. Portugal descriminalizou o uso de drogas em 2001.
4. A descriminalização do uso de drogas é inaceitável.
A. As alíneas 1 e 2 correspondem a juízos de facto e as alíneas 3 e 4 correspondem a juízos
de valor.
B. As alíneas 1 e 3 correspondem a juízos de facto e as alíneas 2 e 4 correspondem a juízos
de valor.
C. As alíneas 1 e 4 correspondem a juízos de facto e as alíneas 2 e 3 correspondem a juízos
de valor.
D. As alíneas 1, 2 e 3 correspondem a juízos de facto e a alínea 4 corresponde a um juízo
de valor.
2. Se houver juízos morais objetivos, então…
A. as sociedades que tiverem valores diferentes dos nossos devem corrigir tais valores.
B. a correção, ou a incorreção, desses juízos não pode ser discutida.
C. esses juízos estão certos ou errados independentemente dos costumes.
D. as pessoas que tiverem valores diferentes dos nossos pensam e agem erradamente.
(EN 2019 2F)
3. A liberdade religiosa é a liberdade de cada um praticar a religião que é do seu agrado, ou de não
praticar qualquer religião.
Se a liberdade religiosa for um valor objetivo, então…
A. todos defendem a liberdade religiosa.
B. a liberdade religiosa é um elemento central de muitas culturas.
C. deve haver liberdade religiosa.
D. a liberdade religiosa é mais importante do que os outros valores.(EN 2017 2F)
7 pt
7 pt
7 pt
10 × 7 pontos = 70 pontos
PARTE III Fichas formativas
17
Inclui:
Apresentação
Guião de recursos multimédia
Ensino digital
Planificações
Cidadania e Desenvolvimento e DAC
Laboratórios mentais
Material complementar
Guiões de visionamento de filmes
Fichas de avaliação + Soluções/Cenários de resposta*
Questões + Soluções/Cenários de resposta
Temas/Problemas do mundo contemporâneo1. Erradicação da pobreza2. Guerra e paz
Como avaliar ensaios filosóficos
Como avaliar apresentações orais
Soluções/Cenários de resposta de #agora_pensa e #agora_pensa_mais*
17
1. INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E AO FILOSOFAR
1.1 O homem que fazia perguntas
“Há cerca de 2400 anos, em Atenas, um homem foi condenado à morte por fazer demasiadas perguntas. Houve outros filósofos antes dele, mas foi com Sócrates que a disciplina deu realmente o grande salto. [...]
De nariz arrebitado, corpo atarracado, mal vestido e um pouco estranho, Sócrates não se enquadrava com os demais. Apesar de fisicamente feio e de andar muitas vezes sujo, tinha grande carisma e uma mente brilhante. Em Atenas, toda a gente concordava que nunca houve alguém como ele e, provavelmente, nunca mais haveria. Era único. Mas era também extremamente incomodativo. Via-se como uma daquelas moscas que dão mordidas dolorosas — um moscardo. São irritantes, mas não causam problemas graves. Mas, em Atenas, nem toda a gente concordava. Alguns gostavam dele; outros consideravam-no uma influência perigosa.
Na sua juventude, Sócrates fora um bravo soldado que lutara nas guerras do Peloponeso contra os Espartanos e os seus aliados. Na sua meia- -idade, passeava-se pelo mercado, interrompendo de vez em quando as pessoas e fazendo-lhes perguntas incómodas. Era mais ou menos tudo o que fazia. As questões que colocava eram incisivas. Pareciam simples, mas não eram. [...]
Repetidamente, Sócrates demonstrava que as pessoas que encontrava no mercado não sabiam realmente aquilo que pensavam saber. [...] Sócrates gostava de revelar os limites daquilo que as pessoas realmente sabiam e de questionar os postulados em que baseavam as suas vidas Um diál
velha e sábia mulher, uma sibila, que respondia às perguntas que lhe eram feitas pelos visitantes. As suas respostas eram geralmente dadas na forma de um enigma. ‘Existe alguém mais sábio do que eu’, perguntou Querefonte. ‘Não’, respondeu o oráculo. ‘Ninguém é mais sábio’. Quando Querefonte contou isto a Sócrates, o filósofo começou por não acreditar. Ficou realmente intrigado. ‘Como posso ser o homem mais sábio de Atenas quando sei tão pouco?’, perguntava-se. Passou vários anos a questionar as pessoas para ver se alguém era mais sábio do que ele. Por fim, compreendeu aquilo que o oráculo queria dizer e percebeu que a sibila estava certa. Muitas pessoas eram competentes nas várias coisas que faziam — os carpinteiros eram bons em carpintaria e os soldados sabiam sobre a guerra. Mas nenhuma delas era verdadeiramente sábia. Não sabiam realmente aquilo de que falavam.
A palavra ‘filósofo’ vem do termo grego que significa ‘amor à sabedoria’. A tradição filosófica do Ocidente [...] difundiu-se da Grécia Antiga para muitas partes do mundo e sofreu influências de ideias vindas do Oriente. O tipo de sabedoria que valoriza baseia-se na argumentação, no raciocínio e na colocação de questões, e não na crença em coisas apenas porque alguém importante disse que eram verdadeiras. Para Sócrates, a sabedoria não consistia em saber muitos factos ou em saber como fazer alguma coisa. Significava compreender a verdadeira natureza da nossa existência, incluindo os limites daquilo que podemos conhecer. Atualmente, os filósofos fazem mais ou menos o mesmo que
1. INTRO
1.1 O ho
Laboratórios mentais
O QUE É UMA EXPERIÊNCIA MENTAL E PARA QUE SERVE?
Ao longo do manual Como Pensar Tudo Isto? recorremos frequentemente a experiências mentais (ou
experiências de pensamento) como um recurso a ser explorado na sala de aula ou em casa como auxiliar do
estudo e da investigação filosófica.
Desde sempre, cientistas e filósofos têm recorrido a este tipo de cenários imaginários para afinar as
suas ideias e testar as suas teorias. O propósito de tais experiências de pensamento é libertar-nos de tudo
aquilo que complica as coisas na vida real, para que nos possamos concentrar nos aspetos essenciais de um
problema.
Da mesma forma que os cientistas fazem uma parte da sua investigação no ambiente artificial e
controlado do laboratório, também nas experiências de pensamento que realizamos em filosofia as
situações podem ser descritas de uma forma bastante artificial, com características muito específicas, com
as quais possivelmente jamais nos depararíamos no mundo real, fora do laboratório conceptual. Contudo, a
importância de tais descrições é que, tal como acontece com as experiências científicas, permitem-nos
isolar diversas variáveis e examinar o papel que estas desempenham nas nossas teorias e na nossa
compreensão do mundo. Deste modo, este tipo de cenários permite-nos testar as nossas intuições acerca
de certos princípios, argumentos ou teorias de uma forma, mais ou menos, rigorosa.
Por exemplo, imaginemos que um cientista está a estudar os efeitos da cafeína no comportamento
humano. Para isso, o cientista precisa de ter um grupo experimental e um grupo de controlo, mantendo um
conjunto de variáveis fixo entre os dois grupos – como as horas de sono, os hábitos alimentares, a atividade
física, etc. – fazendo variar apenas a quantidade de cafeína ingerida pelos elementos do grupo experimental.
Só assim pode ter a certeza de que as diferenças (se as houver) observadas no comportamento dos
indivíduos se devem à ingestão de cafeína e não a qualquer uma das outras variáveis.
Algo de semelhante acontece nas experiências de pensamento que desenvolvemos em filosofia. Para
sabermos ao certo o que está a fazer a nossa intuição inclinar numa ou noutra direção, temos de manter
fixas certas variáveis. Por exemplo, quando enfrentamos um dilema ético na vida real há sempre muitos
fatores contingentes específicos de cada contexto que tornam a decisão muito complexa. Assim, se
queremos refletir sobre ética, podemos imaginar situações em que apenas um dos fatores relevantes difere
entre dois cenários alternativos, para determinar o seu peso relativo na nossa avaliação moral desse tipo de
casos. Isso pode levar-nos a reforçar a nossa confiança numa determinada teoria moral, a afinar a nossa
perspetiva sobre o assunto ou até mesmo a revê-la por completo.
Pensemos no célebre dilema do elétrico desgovernado, por exemplo. Na primeira versão deste
cenário hipotético, temos um elétrico que desliza descontroladamente pelos carris em direção a cinco
pessoas. Nós encontramo-nos junto a uma alavanca que pode desviar o elétrico para uma linha alternativa
apenas com uma pessoa. E a pergunta que se coloca é se seria aceitável fazê-lo?
Aquilo que se pretende testar é se estamos dispostos a aceitar que, à partida, cinco vidas valem mais
do que uma. Por isso, não é dada nenhuma informação que nos permita diferenciar os indivíduos entre si:
são todos perfeitos estranhos, presumivelmente inocentes, com a mesma probabilidade de ter vários anos
de vida feliz pela frente, etc.alunos também) é considerar que se trata de um cenário
ão apresentadas. Ou
Caderno de Apoio ao Professor
* Cenários de resposta organizados por níveis de desempenho para facilitar a correção.
á cerca de 2400 anos, em Atenas, um ondenado à morte por fazer demasiadas
tes dele, mas
velha e sábia mulher, uma sibila, que respondia às perguntas que lhe eram feitas pelos visitantes. As suas respostas eram geralmente dadas na forma de
ma. ‘Existe alguém mais sábio do que eu’, pondeu o oráculo.
u r. o
ão a
ais que tava árias s em
uerra. a. Não
go que fica do
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ciocínio e em coisas que eram
o consistia omo fazer verdadeira
o os limites almente, os mesmo que
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ue realizamos em filosofia as
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oratório conceptual. Con
ncias científicas, permi
nas nossas teorias e
estar as nossas intuiçõ
, rigorosa.
Temas/problemas do mundo contemporâneo1. ERRADICAÇÃO DA POBREZA Vivemos num mundo de grandes assimetrias socioeconómicas. Algumas pessoas vivem vidas
financeiramente desafogadas, com a possibilidade de obter bens e serviços de grande qualidade, ao passo
que outras vivem sem ter condições para satisfazer as suas necessidades mais básicas. Será que as pessoas
que vivem em melhores condições têm a obrigação de ajudar aqueles que vivem pior? Ou será que isso é
apenas algo muito recomendável, mas que não é errado não fazer? 1.1 O Problema
Assim, um importante problema filosófico que podemos discutir acerca da erradicação da pobreza é
o seguinte: “Teremos a obrigação moral de combater a pobreza absoluta?”. Para compreender melhor o
que está aqui em causa é importante esclarecer o que se entende por “obrigação moral” e o que se entende
por “pobreza absoluta”.Comecemos pelo conceito de “pobreza absoluta”. Para entender o significado deste conceito temos
de o contrastar com o de “pobreza relativa”. Uma pessoa pode ser considerada pobre por comparação com
o nível médio de vida da região onde vive. Em Portugal, por exemplo, existem pessoas carenciadas que
vivem privadas de muitas das coisas que são indispensáveis para se ter uma boa vida. Contudo, mesmo as
pessoas mais pobres que vivem em Portugal têm acesso gratuito à saúde e à educação e por isso são apenas
relativamente pobres. As pessoas que vivem na pobreza absoluta são pobres independentemente de
qualquer tipo de comparação, são absolutamente pobres.Nas palavras de Robert McNamara:“A pobreza ao nível absoluto […] é a vida nos limites da existência. Os pobres absolutos são
seres humanos com carências gravíssimas, que lutam pela sobrevivência num
circunstâncias miseráveis e degradantes, quase inconcebívei
as condições privilegiadas de que desfruta
são do mundo.
princípios, argumentos ou teorias de uma forma, mais
exemplo, imaginemos que um cientista está a estudar os efeito
Para isso, o cientista precisa de ter um grupo experimental e um g
de variáveis fixo entre os dois grupos – como as horas de sono, o
. – fazendo variar apenas a quantidade de cafeína ingerida pelos e
m pode ter a certeza de que as diferenças (se as houver) obs
os se devem à ingestão de cafeína e não a qualquer uma das outr
go de semelhante acontece nas experiências de pensamento que
os ao certo o que está a fazer a nossa intuição inclinar numa ou
rtas variáveis. Por exemplo, quando enfrentamos um dilema ét
contingentes específicos de cada contexto que tornam a de
mos refletir sobre ética, podemos imaginar situações em que apen
dois cenários alternativos, para determinar o seu peso relativo na
Isso pode levar-nos a reforçar a nossa confiança numa determ
etiva sobre o assunto ou até mesmo a revê-la por completo.
Pensemos no célebre dilema do elétrico desgovernado, por
rio hipotético, temos um elétrico que desliza descontroladame
oas. Nós encontramo-nos junto a uma alavanca que pode desviar
as com uma pessoa. E a pergunta que se coloca é se seria aceitáv
Aquilo que se pretende testar é se estamos dispostos a aceitar
que uma. Por isso, não é dada nenhuma informação que nos per
todos perfeitos estranhos, presumivelmente inocentes, com a m
vida feliz pela frente, etc.alunos também) é
os da cafeína no com
grupo de controlo, m
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nas um dos fato
nossa avaliação
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mesma pro
consider
BREZA Vivemos num mundo de granfinanceiramente desafogadas, com a poque outras vivem sem ter condições parque vivem em melhores condições têm apenas algo muito recomendável, mas qu1.1 O Problema
Assim, um importante problema filoo seguinte: “Teremos a obrigação moral dque está aqui em causa é importante esclarepor “pobreza absoluta”.
Comecemos pelo conceito de “pobrezde o contrastar com o de “pobreza relativa”. Uo nível médio de vida da região onde vive. Evivem privadas de muitas das coisas que são ipessoas mais pobres que vivem em Portugal têmrelativamente pobres. As pessoas que vivem qualquer tipo de comparação, são absolutamenNas palavras de Robert McNamara:“A pobreza ao nível absoluto […] é a vida no
seres humanos com carências gravíssimas, circunstâncias miseráveis e degradantes, quaas condições privilegiadas de que desfruta
Série: Sherlock (Episódio 1.1 – O Tirano) Título original: (Episode 1.1 – A Study in Pink) Realizador: Paul McGuiganElenco: Benedict Cumberbatch, Martin Freeman, Una Stubbs, Rupert Graves, Louise BrealeyArgumento: Steven Moffat (criador) Baseado na obra de Sir Arthur Conan DoyleAno: 2010
Duração: 88 minutos
Resumo: Sherlock é uma série britânica que consiste numa adaptação contemporânea das histórias do detetive Sherlock Holmes, escritas por Sir Arthur Conan Doyle. A série retrata um "detetive consultor", Holmes, que auxilia a Polícia Metropolitana principalmente oDetetive Inspetor Lestrade G (R
GUIÃO 2
18
Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0 Salas do crime
Animações tutoriais sobre lógica formal
Animações de diálogos entre filósofos
19
Vídeos para compreender e rever melhor a matéria
Quizzes rápidos com explicação imediata
Avaliação do progresso
Acesso em qualquer lugar
Vídea ma
QuizAva
Ace
Simulador de lógica formal: Logicamente 2.0 De entre as várias tipologias de exercícios encontram-se as seguintes: – completar tabelas de verdade para
classificar fórmulas proposicionais e argumentativas
– completar formas argumentativas de acordo com as regras de inferência estudadas
Salas do crime – um jogo interativo onde o aluno se serve das suas competências dedutivas para solucionar diferentes crimes, sempre sob a orientação do Inspetor LeBeaux
Simulador de ética: Eticamente 1.0 para construir um perfil ético em função da resposta a dilemas morais
Gerador de testes
Atividades interativas para lógica formal – exercícios com correção automática para treinar:
– quadrado da oposição– tradução– regras de inferência
Atividades interativas complementares para todas as secções de exercícios do manual
Animações tutoriais passo a passo para alguns aspetos de lógica formal
Divertidas animações de diálogos entre filósofos. Os diálogos recriam o ambiente da popular aplicação WhatsApp
Animações de Laboratórios mentais
Apresentações em Power Point para os capítulos 1 a 7
Canal YouTube do projeto com vídeos relacionados com todos os capítulos
Resumos áudio para todos os capítulos
Testes interativos para o aluno e outros exclusivos do professor
Kahoot
Conteúdos do Caderno de Apoio ao Professor em Word para facilitar a adaptação dos recursos às necessidades dos professores
O que pode encontrar?
Saber mais:
www.comopensartudoisto10.asa.ptCOMO PENSAR TUDO ISTO?
Um manual para ensinar como pensar
Um manual adaptável a diversas necessidades
Alinhamento com as Aprendizagens Essenciais,
o Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e as Provas
de Avaliação Externa de Filosofia
Recursos que tornam o ensino da filosofia estimulante e apelativo
ar
vel a des
am aa
atttiiivvvvoooo
Criatividade
Rigor
is,,
e s
ooo
VEMO-NOS DE NOVO NUMA SALA
DE AULA!