comportamento eleitoral em mueda
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Fidel Terenciano_Monografia_Trabalho de Fim de Curso CP UEM 2014TRANSCRIPT
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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
Departamento de Ciência Política e Administração Pública
Licenciatura em Ciência Política
AUTOR: FIDEL TERENCIANO
SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR JOSÉ JAIME MACUANE
CO-SUPERVISOR: PROFESSOR DOUTOR LUÍS DE BRITO
COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA:
Análise do voto leal e a persistência do Eleitorado de Mueda a favor da
FRELIMO (1994-2009)
MAPUTO, Abril de 2014
2
UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE
FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
COMPORTAMENTO ELEITORAL NO DISTRITO DE MUEDA:
Análise do voto leal e a persistência do Eleitorado de Mueda a favor da
FRELIMO (1994-2009)
Trabalho de Fim de Curso (Monografia) apresentado/a em cumprimento parcial dos requisitos
exigidos para obtenção do grau de Licenciatura em Ciência Política, na Faculdade de Letras e
Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.
AUTOR
_______________________________
FIDEL TERENCIANO
SUPERVISOR
_______________________________
PROFESSOR DOUTOR JOSÉ JAIME MACUANE
CO-SUPERVISOR
_______________________________
PROFESSOR DOUTOR LUÍS DE BRITO
PRESIDENTE DO JÚRI OPONENTE
_________________________ _________________________
Maputo, _____/________________/ 2014
I
ÍNDICE
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS ............................................................................................. I
COMPROMISSO DE HONRA ...................................................................................................... II
EPÍGRAFE ................................................................................................................................... III
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................... IV
AGRADECIMENTO ..................................................................................................................... V
ABREVIATURAS ....................................................................................................................... VII
RESUMO ................................................................................................................................... VIII
PARTE I.......................................................................................................................................... 1
CAPÍTULO I .................................................................................................................................. 1
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
1.1. Objectivos ............................................................................................................................ 3
1.1.1. Geral: ................................................................................................................................ 3
1.1.2. Específicos: ...................................................................................................................... 3
1.2. Contextualização e objecto de estudo .................................................................................. 4
1.2.1. Objecto de Estudo ............................................................................................................ 6
1.3. Problemática ........................................................................................................................ 7
1.4. Questões de Partida .............................................................................................................. 9
1.5. Hipóteses: ........................................................................................................................... 10
1.5.1. Hipótese Básica: ............................................................................................................. 10
1.5.2. Hipótese secundária 1: ................................................................................................... 10
1.5.3. Hipótese secundária 2: ................................................................................................... 10
1.6. Justificativas ....................................................................................................................... 11
CAPÍTULO II ............................................................................................................................... 13
2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO ........................................................................................ 13
2.1. Revisão da literatura .......................................................................................................... 13
2.2. QUADRO TEÓRICO ........................................................................................................ 26
2.2.1. Teoria da Lealdade partidária ......................................................................................... 26
2.2.2. Lealdade Partidária dos Eleitores .................................................................................. 27
2.3. Conceptualização ............................................................................................................... 29
II
2.4. Operacionalização das Variáveis .................................................................................. 32
Modelo de Análise .................................................................................................................... 34
CAPÍTULO III .......................................................................................................................... 35
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS....................................................................... 35
3.1. Limitações do Estudo .................................................................................................... 39
PARTE II................................................................................................................................... 41
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS................ 41
CAPÍTULO IV .......................................................................................................................... 41
4.1. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO DISTRITO DE MUEDA ............................. 41
CAPÍTULO V ........................................................................................................................... 53
5. INFLUÊNCIA DOS FACTORES SÓCIO-ECONÔMICOS E A RELAÇÃO HISTÓRICA
ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA CONFIGURAÇÃO DO
COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA .................................................................... 53
5.1. Comportamento Eleitoral em Mueda Vs. Factores Sócio-Econômicos ......................... 54
5.2. O Papel da ligação histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construção da
Identificação Partidária do Eleitorado de Mueda ...................................................................... 60
5.2.1. Inexistência de acções mobilizadoras dos Partidos da Oposição ............................... 63
5.3. Abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos expressos a favor da FRELIMO ...... 66
CAPÍTULO VI .......................................................................................................................... 70
6.1. Acções Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o Papel dos
Líderes de Opinião na Construção do Comportamento Eleitoral ............................................. 70
6.2. O impacto das Acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda ........................... 74
CAPÍTULO VII......................................................................................................................... 77
7. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS......................................................................................... 81
Anexos 1 .................................................................................................................................... 86
Anexo 2 ..................................................................................................................................... 87
Anexos 3 .................................................................................................................................... 92
I
LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS
Figura 1: Modelo de Análise………..……………………………………………………............34
Tabela 1: Distribuição dos indivíduos em sexo e o número total das entrevistas……….……….38
Tabela 2: Divisão Administrativa do distrito…………………………………………………….42
Tabela 3: Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de
Mueda 2012………...…………………………………………………...…………...……..……45
Tabela 4: Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de
Mueda, 2012.……………..………………………………………………………..………….…46
Tabela 5: Educação………………………………………………………………………………46
Tabela 6: Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de
Montepuez, 2012…………………..……………………………………………...……………...48
Tabela 7: Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de
Montepuez, 2012…………………………………………………………………………………48
Tabela 8: Votos a favor da FRELIMO e a Média de abstenção eleitoral no distrito de Mueda
1994 a 2009 ………………………………………………………………………………...……68
II
COMPROMISSO DE HONRA
Declaro que este trabalho de fim de curso nunca foi apresentado na sua essência para obtenção
de qualquer grau académico, e que constitui fruto do meu empenho e da minha investigação,
estando indicadas no texto, assim como na bibliografia, as fontes que foram utilizadas na
elaboração do mesmo.
_______________________________
Fidel Terenciano
Maputo, ____/____________/ 2014
III
EPÍGRAFE
__________________________________
‘’A instituição social que se chama eleição é um ritual regularmente repetido, que termina com a contabilização
dos votos. No entanto, a contagem dos votos é o final de um longo processo Social (...). Os diversos modelos de
explicação desse fenómeno competem entre si exactamente ao tentar reconstruir o processo social que levou a um
dado resultado eleitoral, e tentar também explicar porque ocorreu exactamente uma dada distribuição das vontades
políticas e não outra’’.
FIGUEIREDO (1991, p. 13-14).
__________________________________
IV
DEDICATÓRIA
= Aos meus pais Terenciano Lauia e Ana Rosa S. Muchichera Nicoco =
Vocês são e sempre serão a minha razão de existência e fonte de inspiração.
V
AGRADECIMENTO
Espera-se que este trabalho seja o início duma longa caminhada no mundo intelectual, e por via
disso, há que agradecer os que contribuíram na efectivação desta caminhada:
A Deus, o senhor que ordena todas as coisas na terra, agradeço seu sustento incansável.
Aos meus pais (Terenciano Lauia e Ana Rosa), que tanto amo, respeito-os, imploro-os, em fim,
eles são meu espelho. Tudo o que faço tenho em vista à experiencia deles.
Absolutos agradecimentos vão para o meu Supervisor PhD. José Jaime Macuane, que
incansavelmente deu duras críticas e comentários em cada passagem do meu trabalho. Desde o
primeiro minuto, acreditou que seria possível guiar-me na elaboração desta humilde monografia.
Agradecimentos estendem-se ao meu Co-supervisor PhD. Luís de Brito, pelos comentários
enérgicos, pelas sugestões e conselhos bem como a forma como devia abordar o tema. Também
agradeço ao departamento de CP & AP, no seu todo, aos docentes que ensinaram-me os trilhos
das Ciências Sociais, em particular a Ciência Política, entre eles, PhD. João Pereira; PhD. Isabel;
PhD. Domingos; MA. Padil; MA. Lumbela; MA. Egídio; dr Muendade, ao Chefe do
departamento Prof. Alexandrino (que é exemplo de humildade) entre outros, vocês serão sempre
um adágio a seguir.
Agradecimentos profundos vão para meus irmãos: Deva (Edelson), José, Hélder, e aos meus
terceiranistas (Edimilson, Leonel, Tobias), às minhas irmãs (Felizarda, Rita, Ancha). Obrigado
manos/manas por tudo que vocês têm proporcionado.
Pelos ensinamentos nos momentos que convivemos juntos, agradeço ao (Tio Pascoal, tia vitoria,
Tio Raimundo, vovô Nicoco) In memória…
Não devo esquecer dos meus tios: Luís, Leo (Ou simplesmente TITIO LEO), tio Cipriano,
Daniel, Abudo, Hermenegildo, e as minhas tias: (mama Tima), tia Estefânia, Cacilda, Fátima,
que tanto agradeço pelo esforço que me deram nesta etapa da vida.
VI
Aos meus sinceros amigos Achirafi, Bacar, Belafonte, Malipa, Pinda, Sineque, Stélio, Tidónio,
Pino, Ndugo, Faquiro, Amaral (minha bússola na colheita de dados em Mueda e não sei o que
seria deste trabalho sem ti) e entre outros meus manos. Obrigado perenemente por tudo.
Agradecer a presença incansável dos meus peritos (Tony, Aly Ntombe, Mano Gimo e Farlay).
Não esqueço o papel importantíssimo de ti Da Tânia, Énia e as minhas mães: Tónia e Sónia que
sempre acreditaram em mim, obrigado e estou sem palavra para vós descrever.
Aos colegas da turma de Ciência Política – 2010 (os manos Mate, Cármen, Nelson e outros que
tanto os admiro) e em especial aos colegas do meu grupo de estudos dos denodados ‘’GRUPO
1’’ (Régio, Justo, Rajú, Juvinaldo, Nascimento, Simião, Saide/Bay, Horácio), vocês me
ensinaram em prol do crescimento intelectual. Obrigado ‘’CAMARADAS’’.
A comunidade de Mueda que me recebeu com respeito e forneceu-me as informações detalhadas
que eu necessitava para o enriquecimento do trabalho. Sem vocês não sei o que seria do
fundamento deste trabalho. Obrigado aos eleitores do Planalto de Mueda.
A todos que directa ou indirectamente ajudaram na efectivação deste trabalho. Não tenho
palavras para descrever-vos, mas para já digo (obrigado) ….
VII
ABREVIATURAS
CNE Comissão Nacional de Eleições
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique/Partido
INE Instituto Nacional de Estatística
MAE Ministério de Administração Estatal
MDM Movimento Democrático de Moçambique
PEDD Plano Estratégico de Desenvolvimento Distrital
PIMO Partido Independente de Moçambique
RENAMO Resistência nacional de Moçambique/Partido
STAE Secretariado Técnico de Administração Eleitoral
VIII
RESUMO
O presente estudo tem como objectivo analisar o comportamento do eleitorado no distrito de
Mueda, a fim de perceber as dinâmicas do eleitorado de Mueda na sua relação com a FRELIMO,
sobretudo das eleições de 1994 até as eleições gerais de 2009. Nesta perspectiva, procuramos
perceber as motivações que estão por detrás da contínua tendência do eleitorado votar a favor da
FRELIMO, ou seja, procurar perceber porque a persistência do eleitorado a favor da FRELIMO.
Mais ainda, o estudo defende o pressuposto segunda a qual a persistência e lealdade do
eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO são explicadas em última instância pelo processo de
estruturação de Mueda enquanto uma entidade histórica da FRELIMO e que, por via disso, os
eleitores estão alienado pela FRELIMO. Isso tem como suportes básicos os condicionalismos
históricos-estruturais de Moçambique, desde o período colonial até após a independência.
Ademais, o estudo mostra que as vivências históricas e os valores colectivos que estão
enraizados dentro da colectividade, cuja transmissão é feita de geração em geração, constituem
um factor extremamente importante para a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a
favor da FRELIMO.
Palavras-chave: Comportamento eleitoral, eleições, Lealdade, persistência, FRELIMO.
1
PARTE I
CAPÍTULO I
1. INTRODUÇÃO
O comportamento eleitoral se forma dentro de uma cultura política vigente e as escolhas dos
eleitores não estão indiferentes a este fenómeno (Radmann, 2001).
Ora, a literatura que se debruça sobre a ciência eleitoral, teoria do voto, e o comportamento
eleitoral, não se esquece sempre dos condicionalismos históricos-estruturais, que de alguma
forma são determinantes no processo de construção da cultura política ou até da construção das
atitudes sociopolíticas (Idem).
Quiçá, fundamentar este pressuposto tendo em conta as teorias construídas na ciência política
que procuram explicar o comportamento eleitoral. Entre eles podemos destacar: a perspectiva
sociológica, psicológica, identificação partidária e escolhas racional, e nós acrescentamos a
teoria da lealdade sobre o comportamento eleitoral.
Assim, neste trabalho, o principal objectivo é compreender o comportamento eleitoral, as razões
e as motivações que estão por detrás da lealdade e persistênte do eleitorado de Mueda para com a
FRELIMO, sobretudo das eleições de 1994, até às eleições Gerais de 2009.
Vamos procurar perceber ainda as grandes motivações por detrás da contínua tendência do
eleitorado depositar seu voto a favor da FRELIMO ou seja procurar perceber porque a
persistência do eleitorado a favor da FRELIMO.
Neste perspectiva, a pesquisa foi guiada pelo pressuposto segunda a qual, a persistência e
lealdade do eleitorado a favor da FRELIMO em Mueda é explicado em última instância pelo
processo histórico de construção de Mueda enquanto uma entidade histórica da FRELIMO e que
por via disso, o eleitorado esta alienado pela FRELIMO. Isso tem como suportes bases, os
condicionalismos históricos-estruturais de Moçambique desde o período colonial até após
independência. Mais ainda, tendo como base os pressupostos sustentados pela teoria da lealdade
2
partidária, pode-se admitir que o cenário de Mueda vai comprovar os fundamentaremos da teoria
da lealdade onde nota-se relações de comprometimento e compromisso provindas quiçá, do
hábito entre o partido FRELIMO (produto normal), e os eleitores de Mueda (seus compradores
leais). Mediante estas questões, importa evidenciar que as formas e as diversas manifestações
dos eleitores em Moçambique, em particular os de Mueda, é resultante das estruturas históricos
do passado, bem como consequência directa da cultura política vigente em Moçambique antes da
implementação do multipartidarismo em 19941, isto é, o momento em que Mueda, foi e
constituía-se como o centro das poucas zonas libertadas em Moçambique sob domínio da
FRELIMO e não necessariamente uma zona libertada, visto que Mueda estava sob domínio do
exército Português.
Este trabalho encontra-se organizado da seguinte forma:
Tem duas partes, a primeira: estrutura-se da seguinte maneira: primeiro capítulo que compreende
a introdução do trabalho, os objectivos, a problemática, a pergunta de partida, as hipóteses, e a
justificativa do trabalho; O segundo capítulo engloba o enquadramento teórico que da menção a
revisão da literatura, onde apresentamos as diversas abordagem sobre o comportamento eleitoral.
Elucidámos também alguns estudos no contexto Moçambicano e igualmente engloba a
conceptualização bem como o modelo de análise; O terceiro capítulo é composto pelos
procedimentos metodológicos que foram usados na elaboração do trabalho.
A segunda parte do trabalho disserta-se sobre a análise e interpretação dos resultados e engloba
os seguintes capítulos: O quarto capítulo está dedicado a apresentação e descrição do distrito de
Mueda; O quinto capítulo faz uma análise das informações colhidas ao longo das entrevistas
sobre a Influência dos factores sócio-econômicos e a relação histórica entre a FRELIMO e o
distrito de Mueda na configuração do comportamento eleitoral em Mueda e para efeito
elaborados três subcapítulos: a questão do comportamento eleitoral em Mueda e a sua relação
com os factores sócio-econômicos; Num segundo momento discutiu-se o Papel da ligação
histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na Construção da Identificação Partidária do
Eleitorado de Mueda;
1 Nos referimos necessariamente após a independência de Moçambique e até o período da implementação do
multipartidarismo em Moçambique, com a Constituição de 1990 e a realização das primeiras eleições fundadoras.
3
Em terceiro lugar discutimos sobre não existência de acções mobilizadoras dos Partidos da
Oposição. Também dissertamos sobre a abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos
expressos a favor da FRELIMO.
No sexto capítulo da segunda parte do trabalho discutimos duas temáticas: por um lado,
abordamos sobre as acções mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o papel
dos líderes de opinião na construção do comportamento eleitoral e por outro lado, discutimos o
impacto das acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda. Finalmente o sétimo capítulo e
último capítulo ficou reservado para as conclusões do trabalho.
1.1. Objectivos
Com vista a materialização dos propósitos deste trabalho, é necessário ser dirigido por alguns
objectivos a saber:
1.1.1. Geral:
Analisar a lealdade e a persistência do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido
FRELIMO, nas eleições de 1994 até às eleições de 2009.
1.1.2. Específicos:
Identificar os pressupostos que ajudam a compreender o comportamento eleitoral em
Mueda;
Explicar os factores que determinam a persistência do eleitorado de Mueda a favor da
FRELIMO.
Mostrar a importância da trajectória histórica na formação do voto leal e persistente em
Mueda a favor da FRELIMO.
4
1.2. Contextualização e objecto de estudo
O debate sobre o distrito de Mueda e a estruturação do comportamento eleitoral, convida-nos a
reflectir sobre a história antroposociocultural, política e económica do distrito, muito antes do
período que pretendemos analisar.
Assim, o nascimento de Moçambique como nação resultou da guerra contra os colonizadores
portugueses levada a cabo pela FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) entre 1964 a
1974 (West, 2008). Isto foi auxiliado a partir das bases recuadas na recém-independente
Tanzânia de orientação socialista e a FRELIMO cedo estabeleceu a sua base central no planalto
de Mueda, geralmente entre as simpatizantes populações maconde (idem). Com apoio militar da
China, da URSS e de outros países do bloco de Leste, a Frente tinha expulsado os portugueses de
zonas substanciais das províncias setentrionais de Tete, Niassa e Cabo Delgado2 (incluindo a
maioria do planalto de Mueda) quando o golpe militar de 1974, em Lisboa, derrubou Marcelo
Caetano e abriu caminho para a independência de Moçambique, em 1975, sob o poder da
FRELIMO (Henriksen, 1983; Munslow, 1983). A orientação socialista da FRELIMO foi
consolidada em 1977, com a adopção oficial do marxismo-leninismo pelo partido (Munslow
1983 apud West, 2008).
Ora, o processo histórico da FRELIMO em Mueda foi construído desde os anos que o distrito de
Mueda constituía-se como sendo a zona rodeada pelas poucas zonas sob domínio total da
FRELIMO, ou seja, zonas libertadas. E esta proximidade que existe desde o período antes das
eleições fundadoras de 1994 está de entre os vários factores que concorrem para explicar a
ligação intrínseca entre a FRELIMO e o eleitorado de Mueda.
Mais ainda, sob a liderança do movimento de libertação (FRELIMO), Moçambique
independente tornou-se um Estado socialista de partido único baseado nos princípios do
centralismo democrático e num sistema político e administrativo altamente hierarquizado (Lina
Soiri, 1999).
2 Como tem-se destacado entre muitos autores chamam estas zonas por (zonas libertadas). Estas que foram
compreendidas como sendo as zonas que estavam sob domínio da FRELIMO, mesmo no período da Guerra da
descolonização em Moçambique. Ou seja, o aparecimento das zonas libertadas implica assim uma modificação no
conteúdo da luta; a zona libertada torna-se uma zona em que a nível de organização da vida política, económica e
das relações sociais de produção se rompe com o sistema de exploração do Homem pelo Homem. E as conquistas
revolucionárias das Zonas Libertadas são estendidas a todo o Pais, e ampliadas. Veja: GEFFRAY, C. (1990);
HANLON, J. (2004); HENRIKSEN, T. H. (1983); Noticias (1986).
5
Este período em que o Estado foi guiado pela ideologia socialista foi muito crítico e
controverso3. Para sustentar esta posição, Anne Pitcher (2003) fundamenta que atravessou-se
rapidamente um período de crise e subsequente transição, bem como mudanças ocasionais do
modelo socialista de governação, ao mesmo tempo que o Governo Socialista da FRELIMO
lutava pela sobrevivência aos dezassete4 anos de conflito contra RENAMO.
Como forma de corrigir estes problemas, inicia um processo de reformas económicas que foi
acompanhada pela liberalização política (Macuane, 1996). Esta passagem é ilustrada quando em
1989, no Vº Congresso do Partido, à FRELIMO abandonou sua ideologia marxista-leninista e
transformou-se num partido de frente mais ampla. Ademais, Macuane (op. cit) explica que isso
possibilitou um caminho aberto para que as condições estruturais e estruturantes seguissem
finalmente o modelo capitalista (Idem).
Ora, o processo de abertura política também foi caracterizado por um amplo debate sobre a
organização institucional da nova república que culminou com a promulgação da nova
Constituição em Novembro de 1990. Entre outras mudanças notáveis foi introduzido pela
primeira vez o multipartidarismo e Moçambique deixou de ser República Popular para tornar-se
simplesmente República de Moçambique5 (Macuane 1996).
Oponente duradoura da FRELIMO na guerra civil, a RENAMO assinou um Acordo Geral de Paz
em 1992 e começou a edificar um partido político e a fazer a sua campanha para as eleições.
Nestes primeiros pleitos em Moçambique, a FRELIMO ganhou com 44% dos votos para
Assembleia da Republica mas a RENAMO transformou-se numa robusta força de oposição,
ganhando 38% do voto nas eleições para a Assembleia da República de 1994.
3 Muitos debates sobre a génese do socialismo da FRELIMO foram levados a cabo por diversos académicos, como
por exemplo: Henrikson, Cahen, Brito, Geffray, Saul, Chichava, e demais. 4 O debate sobre os anos concretos da guerra civil tem sido complexo, pois para um grupo de autores como:
Chichava, Brito, Pélissier, Newitt, Rocha, Serra, Macuane, preferem dizer que a guerra civil vigorou num intervalo
de 16 anos, e outros como Pitcher, Hanlon, MacQueen, Pereira e Shenga, dizem que a guerra entre irmãos da mesma
pátria durou quase 17 anos. 5 Encontram-se diferenças substantivas e claras, pois República é uma forma de governo na qual o chefe do Estado é
eleito pelos cidadãos ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada. A eleição do chefe de Estado,
por regra chamado presidente da república, é normalmente realizada através do voto livre e secreto; enquanto
República popular é o título frequentemente utilizado por governos socialistas, em sua maioria de orientação
marxista-leninista, para designar um tipo de Estado republicano. Fonte: Wikipedia, enciclopédia livre, acesso em 12
de Abril de 2013, 04h35min.
6
Notou-se ainda que, a democratização deu um passo mais em frente com as eleições
governamentais locais de 1998 e de 2003 e com as eleições gerais em 1999 e em 2004.
1.2.1. Objecto de Estudo
O objecto de estudo do presente trabalho concentra-se sobre o comportamento eleitoral do
eleitorado de Mueda, nas eleições gerais de 1994 à 2009.
7
1.3. Problemática
O problema que se pretende analisar circunscreve-se sobre o comportamento político-eleitoral
dos eleitores do distrito de Mueda, sobretudo nas eleições gerais de 1994 à 2009. A partir dos
estudos feitos sobre o mesmo tema, apresentaremos as diversas abordagens no contexto
Moçambicano e particularmente em Mueda.
O argumento principal a apresentar é que no distrito de Mueda, na província de Cabo Delgado,
há uma permanente e contínua tendência do eleitorado depositar seu voto a favor da FRELIMO
desde as primeiras eleições gerais de 1994 até as eleições gerais de 2009. Isto é ilustrado pelos
resultados oficiais das quatro eleições gerais que indicam o seguinte: nas eleições de 1994, 1999,
2004 e 2009, a FRELIMO consegui amelharar votos nas seguintes percentagens: 92%, 86%,
94% e 96% respectivamente.
Ora, neste contexto analisar os resultados que se tem registado ao longo dos quatro pleitos (1994,
1999, 2004 e 2009) importa dizer que verificou-se uma persistência do eleitorado a favor da
FRELIMO neste distrito. Ou seja, Mueda diferentemente dos outros distritos vizinhos que a sua
tendência tem sido de baixar os níveis esmagadores que à FRELIMO tem conseguido em cada
pleito continua persistênte e leal a FRELIMO.
Este cenário demostra um domínio quase total da FRELIMO em relação ao eleitorado de Mueda.
Isso leva-nos a categorizar que os eleitores de Mueda são fiéis e persistem constantemente a
votar na FRELIMO mesmo passado quase 15 anos, isto é, desde as primeiras eleições, o
eleitorado ainda contínua leal e persistente ao partido FRELIMO.
Por exemplo, há contínuas crises de governação (altos níveis alarmantes de corrupção, nepotismo
e a identificação político-partidário dos funcionários públicos com certas agremiações políticas
(neste caso a FRELIMO) que verifica-se em Moçambique e particularmente em Mueda, que de
alguma forma periga a boa gestão da coisa pública virada aos serviços e satisfação do cidadão. A
questão da má governação sobretudo na gestão não eficiente da Rés pública, que culmina com a
tendência de depressão e empobrecimento cada vez mais da população do distrito de Mueda,
falta de serviços mínimos e também falta de oportunidades aos cidadãos de Mueda), que até
então são leais a FRELIMO e que continuamente votam a favor do mesmo partido com números
acima de 90% dos votos expressos nos quatro pleitos eleitorais como ilustramos acima.
8
Importa realçar que nesta perspectiva deu-se mais ênfase aos efeitos das políticas ou políticas
públicas conduzidas pela FRELIMO no poder ao longo dos 39 anos de governação, onde a
medida que o tempo se vai, as expectativas duma vida melhor criadas na ocasião da adesão na
FRELIMO na luta de libertação até após a independência, estão cada vez mais se desfazendo
(Brito, 1995: 487)6.
Ademais, esta forma de manifestação dos eleitores de Mueda pode também ter ligações pela
combinação dos factores conjunturais e factores históricos, estes últimos, mais estruturantes que
são parte integrante do processo de construção e consolidação do comportamento eleitoral
Mueda. Aqui dá-se mais enfase aos factores conjunturais que têm demostrado que alguns
eleitores optam continuamente em votar na FRELIMO, como uma medida destinada a manter as
dinâmicas da cultura política vigente no País e particularmente em Mueda e evitar de todas as
formas uma possível decadência do partido FRELIMO, que em parte ou no seu todo o eleitorado
de Mueda contínua leal.
Porém, um outro elemento que explica o comportamento eleitoral em Moçambique é a
distribuição regional do voto (clivagens campo vs. cidade) que reflectem na estruturação das
atitudes políticas eleitorais das zonas rurais e urbanas. Neste contexto percebe-se que a expressão
do voto e do comportamento político eleitoral em Moçambique é meramente regional em favor
de cada partido (FRELIMO e Renamo, Outros). Assim, associando esta situação a questões da
marginalização ou inclusão de alguns grupos regionais do País na máquina governamental, pode-
se constatar que há um número considerável dos principais dirigentes históricos e quadros da
FRELIMO que são oriundos das provinciais do Sul do país, e alguns relativamente oriundos da
província de Cabo Delgado, o que favorece o processo de identificação das respectivas
populações com este partido (Brito, 1995: 489).
Por outro lado, foi precisamente nas províncias Nortenhas do País (Niassa e Cabo Delgado), nas
chamadas (zonas libertadas), onde se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação cuja
presença político-militar da FRELIMO, mais se fez sentir (idem).
6 O itálico é do autor.
9
Ademais, constata-se que os melhores eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente em alguns
distritos de Maputo, na maior parte dos distritos de Gaza, e na Zona do planalto de Mueda (outro
berço histórico da FRELIMO, donde saíram muitos combatentes e quadros históricos) (Brito, op.
cit). Neste último, o partido FRELIMO conseguiu as seguintes percentagens nas votações: 1994:
92%, 1999: 86%, 2004: 94% e 2009: 96%. Contudo, estes elementos nos chamam atenção a
ideia segunda a qual apesar dos enormes problemas que forma arrolados acima, o eleitorado do
distrito de Mueda é leal e persiste em votar na FRELIMO.
1.4. Questões de Partida
Portanto, as questões pertinentes a levantar tendo em consideração a problemática apresentada
são:
1. Quais são as razões que explicam a persistência e a lealdade dos eleitores do distrito de
Mueda, ao que se refere ao voto a favor do partido FRELIMO?
2. E porque permanece a tendência do voto a favor deste partido, no eleitorado de Mueda,
apesar dos problemas da governação e ineficiência dos serviços básicos?
10
1.5. Hipóteses:
As hipóteses que tomamos como ponto de partida para a realização do estudo, são:
1.5.1. Hipótese Básica:
A Persistência e a Lealdade do eleitorado de Mueda em relação a FRELIMO é o
resultado directo do processo histórico e da ligação histórica existente entre a FRELIMO
e o distrito de Mueda desde a luta de libertação de Moçambique, até os primeiros anos da
independência.
1.5.2. Hipótese secundária 1:
A persistência do eleitorado de Mueda em votar na FRELIMO é condicionada pelas
vivências históricas e os valores colectivos que estão enraizados dentro da colectividade,
por via disso nasceu a identificação partidária com a FRELIMO.
1.5.3. Hipótese secundária 2:
O Eleitorado do distrito de Mueda persiste em votar na FRELIMO pelo facto de não
encontrar alternativas nas acções mobilizadoras dos partidos além da FRELIMO e falta
de confiança nos mesmos partidos.
11
1.6. Justificativas
Foram vários os determinantes para a escolha do tema, dentre eles destacamos: o simples
interesse de enriquecer os estudos existentes sobre à temática do comportamento eleitoral na
literatura Moçambicana, mas partindo do pressuposto das perspectivas da Ciência Política. Não
se decepando de algum modo as outras perspectivas que possam interpretar o fenómeno com
vista a enxergar o mesmo com as outras balizas e áreas do saber, como por exemplo: sociologia,
história, etc.
Pensamos que é importante e necessário realizar um estudo neste distrito que vai auxiliar a
perceber algumas dinâmicas sobre a matéria inerente ao comportamento político eleitoral em
Moçambique.
Este tema é relevante na sociedade no geral na medida em que ao procurarmos entender as
razões que determinam o comportamento do eleitorado no distrito de Mueda, percebemos que
esta situação também pode ser vista em outras pontos do País, como por exemplo o eleitorado de
Gaza, de Muidumbe, Inhambane, e alguns dos distritos de Maputo7. Mas ainda o tema é portante
na sociedade no geral e em particular os interessados, pois poderão se informar das formas de
manifestação do comportamento do eleitorado daquele ponto do País e as suas nuances relativas
as escolhas eleitorais8.
Em relação a relevância deste tema no campo de análise (das ciências sociais) e em particular a
ciência política, importa referir que o debate sobre o comportamento eleitoral, as escolhas que os
eleitores fazem, a forma como os eleitores decidem, a capacidade do eleitor avaliar e chegar a
conclusão que é este ou aquele partido que tem de escolher é explicado em grande parte pelas
diversas manifestações do comportamento eleitoral e de salientar que já existem estudos e teorias
explicativas do comportamento eleitoral.
7 Não se pretende fazer um estudo comparado, e muito menos um estudo de caso nestes locais, é uma tentativa de
demonstrar com base nos dados estatísticos e resultados oficiais das eleições dos quatro pleitos que são objecto de
análise, que em outros pontos do País, também nota-se o mesmo cenário. Seria interessante um estudo nestes locais,
para perceber, e posteriormente fazer-se um estudo comparado das razões da persistência do voto a Favor da
FRELIMO, nestes locais. 8 Escolhas eleitorais nos referimos essencialmente as escolhas que o eleitorado faz para eleger os seus
representantes, ao nível local ou ao nível nacional. Ainda percebe se como sendo as escolhas que os eleitores fazem
para a eleição do Presidente da República, que é órgão máximo no tocante a soberania nacional.
12
Entendemos ainda que este tema é de cariz importante na ciência política porque vai dar uma
dosagem sobre o debate que foi levado a cabo na ciência política dos anos 50 até actualmente ao
que se refere as escolhas eleitorais, as motivações e os determinantes dessas escolhas eleitorais.
Contudo, foram os contactos que adquiri no processo de ensino e aprendizagem, a forma de ver o
mundo, as diversas interpretações sobre o comportamento eleitoral na componente de escolhas
eleitorais, que impulsionaram no desenvolvimento deste estudo sobre as percepções e
interpretações das escolhas eleitorais em Mueda, nas eleições de 1994 à 2009.
A escolha dos pleitos dos períodos de 1994, 1999, 2004 e 2009, foi pelo facto de procuramos
harmonizar por um lado as percepções sobre comportamento eleitoral no distrito de Mueda
analisados conjuntamente com os processos eleitorais que até então já foram realizados no País e
por outro lado, pelo facto de percebermos que há tendências de similaridades nos resultados dos
pleitos acima indicados.
13
CAPÍTULO II
2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Neste capítulo, vão ser explorados vários aspectos que darão o suporte teórico ao estudo. Tendo
em vista que o foco da pesquisa é a compreensão do comportamento eleitoral, as razões e
motivações que estão por detrás da persistência e da lealdade do eleitorado de Mueda a favor da
FRELIMO sobretudo nas eleições gerais e multipartidárias no País de 1994, até as eleições
gerais de 2009. Assim os aspectos abordados são: as teorias básicas sobre o comportamento
eleitoral (Sociológica, psicossociológica/psicológica, racional, identificação partidária), a teoria
da lealdade/lealdade partidária.
2.1. Revisão da literatura
Um dos pontos mais controversos nos estudos sobre o comportamento eleitoral é a tentativa de
explicar as razões e as causas por detrás da contínua ou mudança que leva os sujeitos à alterarem
ou a permanecerem a sua opção de uma eleição à outra (Antunes, 2008). Mediante esta
colocação, importa descrever sobre os estudos que se tomam como referências teóricas na análise
sobre o comportamento eleitoral.
Portanto, Freire (2001), Antunes (2008), demonstram claramente que os estudos sobre o
comportamento eleitoral são dominados por quatro grandes abordagens: a abordagem
sociológica, com defensores como (Berelson, Lazarsfeld & Mcphee, 1954; Lipset e Rokkan,
1967; Lazarsfeld, Berelson, & Gaudet, 1994;).
Encontramos ainda à abordagem psicossociológica com defensores como (Campbell, Converse,
Miller, & Stokes, 1960; Miller & Shanks, 1996) apud (Antunes, 2008).
Vejamos que para Antunes (op. cit) estes estudos em última instância fornecem uma explicação
rígida para a estabilidade das opções do eleitorado mas que demonstram em muitos casos
algumas limitações no esclarecimento das razões que levam alguns eleitores a votar de forma
diferente em eleições consecutivas.
Mais na dianteira está à abordagem de escolha racional apadrinhada por (Arrows, 1986; Downs,
1957 e Buchanan & Tullock, 2001).
14
Embora esta abordagem como evidência Radmann (2001); Antunes (2008) forneça indícios
interessantes para melhor compreensão da volatilidade no comportamento eleitoral9, demonstra-
se insuficiente ao que se refere a explicação do facto duma considerável maioria de eleitores
votarem com uma notável persistência.
Finalmente, à abordagem da identificação partidária ou seja abordagem psicossocial, evidenciada
por Antunes (2008). Este apresenta-se a luz dos estudos actuais sobre a identidade social10
e teve
como defensores de raiz (Merton & Kitt, 1950; Hyman & Singer, 1968; Campbell, Manro &
Alford, 1986), (Idem).
Todavia, os estudos sobre o comportamento eleitoral em grande parte são guiados pelas
perspectivas teóricas que explicam este ou aquele fenómeno tendo em conta as suas ferramentas
de análise. Assim, iniciar um debate sobre as teorias dominantes que velam sobre o
comportamento eleitoral, convida-nos a trazer também os principais argumentos sustentados por
cada abordagem.
2.1.1. Comportamento eleitoral na abordagem Sociológica e psicossociológica
Uma parte significativa da literatura procura explicar as decisões eleitorais, ou seja, o
comportamento eleitoral focalizando-se na influência do contexto social e psicológico. No
mundo moderno assistimos a mudanças cada vez mais rápidas do paradigma civilizacional e do
contexto social, levando a que as teorias baseadas nesta dimensão tenham evoluído de forma a
adaptarem-se às novas realidades (Antunes, 2008). Esta parte é um roteiro histórico dos
principais desenvolvimentos nas abordagens sociais do comportamento eleitoral. Numa primeira
secção, expõe-se a abordagem sociológico do comportamento eleitoral e seguidamente vamos
expor a abordagem Psicossociológica do comportamento eleitoral.
9 Para um debate mais aprofundado sobre a temática da volatilidade eleitoral, veja: Emerson Urizzi Cervi, 2002.
10 O debate levado a cabo sobre a temática dos modelos explicativos do voto, e ao que se refere a abordagem
psicossocial ou de identidade partidária, com mais detalhes veja: a tese de Doutoramento de Antunes, Rui Jorge;
Identificação partidária e comportamento eleitoral: factores estruturais, atitudes e mudanças no sentido do voto;
Coimbra, 2008.
15
Assim, destacamos que as abordagens sociológicas e psicossociológicas mostram-se mais
relevantes e adequadas na análise do comportamento eleitoral dentro do contexto político e
social específico e com suas especificidades11
. Como forma de argumentar esta posição, daremos
mais ênfase à cultura política que acreditamos auxiliar a compreensão do comportamento dos
eleitores do distrito de Mueda, que constitui o nosso pano do fundo.
A abordagem sociológica do comportamento eleitoral teve alguns expoentes destacáveis, dentre
eles: Siegfried (1913), Lipset (1959); Lazarsfeld e outros (1965), Lipset e Rokkan (1967),
Bourdieu (1979)12
, para além de muitos outros.
O ponto de partida desta abordagem, segundo Lipset (1959) apud Freire (2001) é que uma das
preocupações da sociologia política consiste na análise das condições sociais que configuram e
reconfiguram à cultura política dentro dum contexto. Para tal, Lipset (op. cit) enfatiza que é
preciso entender as condições sociais que podem concorrer para explicar quer as divisões bem
como os consensos políticos, os traços característicos da própria cultura política.
De acordo com Figueiredo (1991) apud Freire (2001, p: 26):
``… tais condições constituem o contexto no qual as próprias instituições, as práticas, as ideologias e os
objectivos políticos se formam e actuam. Nesse sentido, para compreender o voto de um jovem ou de um
idoso, é necessário conhecer o seu contexto social e político: onde esses eleitores vivem e como vivem
nesse contexto…´´.
Segundo Castro (1992), os argumentos da abordagem sociológica mostram que o estudo do
comportamento eleitoral teve início na sociologia e foi responsável por grande parte da produção
nesta área. Neste contexto, a perspectiva original desta bordagem é macro pois parte da ideia de
que os factores históricos-estruturais e culturais globais conformam as características sociais,
económicas e políticas de uma sociedade, fazendo drenar determinadas clivagens sociais que se
expressam através de partidos específicos, com os quais sectores do eleitorado se identificam
(Idem).
11
Segundo Figueiredo (1991) apud Radmann (2001) o contexto político refere-se à conformação institucional do
sistema político e as interacções políticas institucionalizadas. Os contextos sociais referem-se às estruturas sociais e
às formas básicas de organização da vida social nas quais os indivíduos fazem parte. 12
Os estudos de Bourdieu, também podem ser enquadrados na teoria sociológica sobre o comportamento político
dos eleitores, pelo facto de dar ênfase aos determinantes sociais da acção política.
16
Mais ainda, a participação política dos indivíduos pode ser explicada pelo ambiente
socioeconómico e cultural em que vivem e pela inserção em determinados grupos sociais ou
categorias demográficas, no campo político (Castro, 1992), ou seja, os grupos sociais se
expressam através dos partidos políticos com os quais se identificam e a participação política se
processa a partir das interacções sociais dentro de um determinado contexto (Meires, 1994, apud
Radmann, 2001).
Para Figueiredo (1991, p. 21) a partir das expectativas, opiniões e atitudes individuais dos
eleitores, este modelo busca compreender o seu comportamento político, visto como uma função
do ambiente social no qual ocorre a socialização política ao longo do tempo e do conjunto de
atitudes que se consolidam nesse processo.
Os estudos de Lipset (1967), Radmann (2001), Antunes (2008), demonstram que em função das
influências que recebe nas interacções dentro dos diversos grupos de que participa, o eleitor é
levado a votar, ou não, em uma ou outra direcção, enfim, é levado a escolher um determinado
curso de acção (Figueiredo, 1991, p. 21).
Algumas conclusões de Castro (op. cit, p: 13) nos ajudam a perceber estas dinâmicas: as
conclusões mais gerais a que chegou enfatizam a ideia segunda a qual, a influência do grupo ao
qual pertence o eleitor é importante para explicarem a sua escolha partidária. Mas também, os
eleitores que trabalham ou vivem juntos votam mais provavelmente nos mesmos candidatos
(Idem). E indivíduos em situação social semelhante têm mais probabilidade de interagir; se
vivem juntas, e em condições externas iguais, as pessoas muito provavelmente podem
desenvolvam necessidades e interesses também semelhantes, e tendem a ver o mundo da mesma
maneira e ter interpretações parecidas a experiências comuns (Meires, 1994 apud Castro, 1992,
p: 17).
Os estudos feitos por Lazarsfeld et al. (1965) apud Castro (1992, p: 21) mostram que na decisão
dos eleitores em votar num determinado partido ou candidato, parece mais importante a
influência do “líder de opinião”13
que se comunica com cada eleitor dentro de seu grupo, do que
13
Para Walf (1992), os líderes de opinião, representam o sector da população mais activo na participação política e
mais decidido no processo de formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de
motivação e intelectuais dos indivíduos examinados. Neste contexto, compreendemos por líderes de opinião: os
17
os instrumentos formais de comunicação política14
(campanha política) através dos meios de
comunicação de massas15
,ou seja, as condições sociais, o meio em que o indivíduo/eleitor está
inserido são importantes na estruturação das atitudes sociopolíticas e consequentemente do
comportamento político-eleitoral (Lipset, 1959; apud Freire, 2001).
2.1.2. Abordagem psicossociológica ou modelo Michigan sobre o comportamento
eleitoral
Um dos aspectos importante a fundamentar é que em alguma literatura pode ter a designação de
Modelo de Michigan, pois foi uma teoria desenvolvida por professores da Universidade de
Michigan entre eles: (Angus Campbell; Philip Converse; Warren Miller e Donald Stoker). Isso
levou com que muita das vezes a abordagem psicossociológica do comportamento eleitoral
tivesse está designação (Freire, 2001: 41).
Radmann (2001) afirma que a corrente psicossociológica sobre o comportamento eleitoral, pode
ser considerada um ramo de orientação mais micro da corrente sociológica do comportamento
eleitoral. Sem negar a relevância da contribuição da sociologia, que considera-a insuficiente.
Por exemplo, Antunes (2008, p: 21) adianta que a influência dos factores sociais seria mais
remota, não daria conta das flutuações de curto prazo das decisões de voto.
Essa corrente propõe uma abordagem baseada nas atitudes, em que se procuram as motivações e
percepções que levariam os indivíduos imediatamente à escolha partidária e consequentemente
ao comportamento político.
Campbell et al. (1965) apud Castro (1992, p: 16) mostra que as variáveis de atitude são
consideradas intervenientes entre os factores sociais que caracterizam os indivíduos (como raça,
escolaridade ou status socioeconómico) e ou até o comportamento eleitoral propriamente dito.
chefes do bairro/quarteirões, das aldeias, das localidades, dos postos, os líderes tradicionais, curandeiros, chefes de
clã, etc. 14
Veja com mais detalhes: MESQUITA, Mário (2004). O quarto equívoco: o poder dos média na sociedade
contemporânea. 2ª Ed. Coimbra: Minerva Coimbra, p: 89. 15
Um debate mais aprofundado sobre o assunto veja: LAZARSFELD, P. PERELSON, E. & GAIDET, H. (1965),
The people's choice. Nova Iorque e Londres, Columbia University Press.
18
Assim, atitudes forneceriam uma explicação mais completa porque estariam mais próximas do
comportamento, em uma masmorra causal e temporal (Idem).
A abordagem psicossociológica sobre o comportamento eleitoral defende que a participação
política e comportamento eleitoral estão directamente ligados às percepções e motivações dos
indivíduos em relação à política e aos partidos (Radmann, 2001, p: 15).
Tendo como base as explicações da abordagem psicossociológica e a sociológica sobre o
comportamento eleitoral, é importante demonstrar que:
``… Tudo leva a crer que, para explicar o comportamento eleitoral, ao que se refere a direcção do voto,
não há como excluir variáveis de tipo social, cultural e psicológico; não há como ignorar factores
macroestruturas, que definem os diferentes contextos sociais nos quais os eleitores vivem…´´ (Castro,
1992, p: 17).16
Freire (2001) fundamenta que o modelo psicossociológico do comportamento eleitoral procurou
superar as limitações da abordagem sociológica, combinando-a com uma abordagem de carácter
mais ou menos psicológica. Nesta perspectiva o indivíduo é a unidade de análise e considera-se
mais as atitudes políticas dos eleitores que são consequência directa da cultura política bem
como a sua proximidade ao fenómeno que se pretende explicar 17
(Campbell e outros, 1960, p:
13 e 33-36; Figueiredo, 1991, p: 20 apud Freire, 2001, p: 42).
De acordo com a teoria da socialização política aliada à teoria da psicossociologia, as diversas
formas de manifestação das atitudes dos indivíduos18
e a sua relação com os fenómenos
políticos, formam-se muito antes dos indivíduos terem idade para votar e são um reflexo do
ambiente social imediato (família, grupos de vizinhança, grupos de amigos) e em especial
atenção o contexto familiar (Figueiredo, 1991, apud Freire, 2001, p: 41).
16
São conclusões que autora chegou, depois de apresentar os pressupostos da abordagem sociológica e
psicossociológica do comportamento eleitoral, no artigo (Sujeito e estrutura no comportamento eleitoral, 1992: 17). 17
O fenómeno que se pretende explicar é necessariamente o comportamento político dos eleitores ou seja o
comportamento politico-eleitoral dos eleitores. Foi as formas razoáveis que encontramos para evitar repetidamente
escrever: comportamento eleitoral. 18
Estas atitudes como fundamenta Freire (2001, p: 24) dizem respeito a forma como os indivíduos percebem os
fenómenos políticos e a conjuntura económica, social, política, cultural.
19
Assim, as atitudes adquiridas através da socialização passam necessariamente a integrar a
estrutura da personalidade dos indivíduos e tornam-se a base para a formação das opiniões,
avaliação e inclinações para a acção frente ao ambiente político mais amplo (Idem).
2.1.3. Comportamento eleitoral na abordagem de escolha racional
Em princípio, é fundamental dizer que, a obra “An Economic Theory of Democracy”, da autoria
de Downs (1999) é uma das obras que explorou e aplicou a teoria da escolha racional na Ciência
Política. Tal teoria propõe a explicação do comportamento social e político partindo do
pressuposto segundo o qual as pessoas são racionais e agem intencionalmente, calculando os
custos e os benefícios de cada acção antes de decidirem, maximizando seus ganhos (Idem).
No mesmo argumento, Oliveira (2012, p: 21) demonstra que a teoria da escolha racional sobre o
comportamento eleitoral foi desenvolvida com base nos estudos da economia política de Arrow
(1963)19
na qual enfatiza que argumentos económicos são relacionados com uma escolha ou
resultado. Presumiu-se de acordo com Arrow (op. cit) apud Oliveira (2012, p: 24) que se as
hipóteses da escolha racional são capazes de explicar o funcionamento do mercado, podem
igualmente explicar o funcionamento político. Logo por um lado, enquanto os consumidores
estão para as empresas, os votantes estão para os partidos políticos. Por outro lado, os
consumidores procuram maximizar a utilidade, as empresas o lucro, e os eleitores estão em busca
da maximização da utilidade de seu voto e os partidos buscam alavancar os ganhos eleitorais
(Idem).
Percebe-se segundo esta abordagem que os políticos agem motivados pela busca de prestígio,
poder e renda, desenvolvendo para este fim, acções que visam à maximização de seu apoio,
promovendo políticas orientadas para esta finalidade. Esta hipótese é demonstrada por Downs
(1999, p: 71) quando argumenta que os governos conquistam votos ao aumentar os gastos
públicos, porém, perdem quando elevam os impostos.
19
Mais detalhes, veja em: ARROWS, Kenneth. Social choice and individual values. New Haven: Yale University
Press, 1963.
20
Segundo Figueiredo (2008) apud Oliveira (2012) o Homus politicus da teoria downsiana é
racional, e procura sempre minimizar os efeitos da condição de incerteza da vida política movido
por razões egoístas. Assim, a maior parte dos eleitores é composta por esta concepção do Homus
politicus. Mas são irrelevante como sustenta Downs, as características psicológicas que os
eleitores possuem, embora o autor não o considere uma “máquina calculista” como na concepção
dos Homus económicos presente nas teorias utilitaristas.
Um indivíduo racional para Downs (1999, p: 28) se comporta da seguinte forma:
1. Ele sempre pode tomar uma decisão quando confrontado com uma série de alternativas;
2. Ele classifica todas as alternativas na ordem de sua preferência;
3. Seu ranking de preferência é transitivo;
4. Ele sempre escolhe entre todas as alternativas possíveis, aquela que fica em primeiro
lugar no ranking ordenado de preferência;
5. Ele sempre toma a mesma decisão quando é confrontado com as mesmas alternativas.
Para Downs (1999, p: 67) todos os que tomam decisões racionalmente no modelo proposto,
incluindo (partidos políticos, grupos de interesse e governos) possuem as mesmas qualidades.
Um homem racional, portanto, sempre opta pela alternativa que lhe proporciona maior utilidade
(Idem). Assim, um eleitor ao agir racionalmente leva em consideração os benefícios esperados,
resultantes da actividade governamental para escolher o candidato ou partido que lhe trará a
maior utilidade ou opta por abster-se de votar.
Para decidir se vai participar ou não da eleição, o eleitor realiza um cálculo que inclui a tarefa de
escolher um candidato, os custos referentes ao deslocamento e as possíveis vantagens que podem
ser obtidas caso decida votar. Se tais benefícios esperados superarem os custos, o eleitor
participa da eleição (Downs, op. cit).
Neste contexto Downs (op. cit) sugere que os partidos se posicionem ideologicamente de modo a
contemplar maior quantidade possível de grupos sociais, o que Figueiredo (2008) chama de pré-
requisitos20
para o sucesso eleitoral.
20
Mais detalhes sobre o debate a respeito dos pré-requisitos dos partidos políticos numa competição política
eleitoral, tendo em conta a abordagem de escolha racional, veja: Figueiredo (2008).
21
Contudo, as abordagens inspiradas pela teoria da escolha racional consideram a decisão do voto
como produto duma acção racional individual orientada por cálculos de interesse, que levam o
eleitor a se comportar em relação ao voto como um consumidor no mercado (Caplan, 2007:
137)21
. Neste contexto, a esfera da política é visualizada como um mercado político, onde os
políticos tentam vender seus produtos e os cidadãos assumem o papel de consumidores, que vão
escolher aqueles produtos que melhor diminuem seus custos e maximizem ou optimizem seus
ganhos22
.
2.1.4. Comportamento eleitoral na abordagem de Identidade política / Identificação
partidária
O debate sobre o processo de construção de identidades partidárias tem sido complexo para
tentar explicar a natureza das manifestações do comportamento eleitoral. Nesta perspectiva,
compreender as identidades políticas como fundamento para identificação partidária, nos chama
mais atenção ao processo de estruturação dessas identidades políticas e consequentemente a
identificação há um partido.
Assim, a identificação partidária como sugere Silveira (1998, p: 26) é a relação estabelecida em
função da lealdade, confiança e vínculos tradicionais com o partido ou com o candidato. Aqui o
voto pode ser produto de tradição familiar, pertencimento ao reduto eleitoral, bem como relações
de lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido (Idem).
Segundo Silveira (op. cit) as manifestações do comportamento eleitoral, proveniente do
personalismo tradicional podem ser compreendidos como sendo uma identificação com a qual o
eleitor cria com o partido ou candidato em função de qualidades especiais que são consideradas
como um dom destas lideranças (idem). Essa identificação pode ser da decorrência do
magnetismo carismático do líder ou de relações sociais tradicionais que se estabelecem entre o
contexto social, o eleitor e o candidato (op. cit., p. 64).
21
Um debate aprofundado, veja: CAPLAN, Bryan (2007), The Myth of the Rational Voter: Why democracies
choose bad policies, EUA, University Press, Ney Jersey. 22
Referência neste tipo de abordagem encontra-se na obra de Anthony Downs, Uma Teoria Económica da
Democracia; Tradução de Sandra Guardini Teixeira Vasconcelos. São Paulo: EDUSP, 1999.
22
Segundo Silveira (op. cit) a identificação partidária pode estar associada ao comportamento
eleitoral personalizado pela confiança e lealdade que os eleitores têm com líder. Como lembra a
autora, esta corresponde à antiga concepção duma identificação com o candidato construída em
função de admiração, magnetismo, devoção, fidelidade, lealdade pessoal, subordinação ao chefe
político local ou regional, tradição familiar ou pertencimento ao reduto eleitoral (Idem).
Muitos autores, dentre eles Freire (2001), Silveira (1998), Campbell et al (1960) fundamentam
que as atitudes políticas compreendidas na perspectiva da abordagem da identificação partidária,
podem ser vistas para:
”…Caracterizar a orientação efectiva dos indivíduos em relação a determinados grupos do seu
ambiente. Quer as teorias sobre os grupos de referência, quer os estudos sobre o comportamento em
pequenos grupos se têm referido à atracção ou repulsão em relação aos grupos como uma identificação.
O partido político surge como o grupo em relação ao qual o indivíduo pode desenvolver uma
determinada identificação, positiva ou negativa, com certo grau de intensidade…” Campbell et al
(1960) apud Freire (2001, p: 21)23
.
Outro elemento importante nas características da identidade política é a identificação grupal
tradicional. Para Silveira (1998) está refere-se ao voto definido em função da identificação com
grupos de referência (grupo étnico, comunidade religiosa, categoria profissional, género, região).
Ora, essa identificação é construída a partir de relações de lealdade, de sentimentos de
pertencimento ao grupo e de tradição24
.
23
Uma explicação mais detalhada demonstra claramente que a identificação partidária, se intensifica e isso significa
necessariamente que há uma identificação dos indivíduos com um partido. Veja com mais aprofundamento:
Campbell et al (1960), apud Freire (2001). 24
Com mais detalhes, veja: SILVEIRA, Flávio Eduardo. Factores que influenciam o voto conforme os tipos de
eleitores. In: A decisão do voto no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 122-139.
23
2.1.5. Estudos sobre comportamento eleitoral em Moçambique
Segundo Elsón (s/d) os estudos sobre o comportamento eleitoral não podem ser vistos de forma
isolada, pois devem ser considerados em seus contextos específicos de análise e em suas
singularidades. Mais ainda, há uma série de condição estruturais e conjunturais diversas que
influenciam o acto de votar. Por isso, os resultados duma eleição reflectem necessariamente um
determinado momento e situação singular do espaço político onde ocorre a eleição25
.
Assim, é importante discutir também as explicativas do comportamento eleitoral a luz do
contexto da literatura nacional.
Porém, partindo das discussões levadas a cabo a título de exemplo por Brito26
, Pereira27
e outros
estudiosos no contexto Moçambicano, na matéria inerente ao comportamento eleitoral em
Moçambique, nos convidam claramente à aceitar que o eleitorado Moçambicano esta
fragmentado e que cada ângulo compõe características próprias. Assim, por um lado
encontramos o eleitor das zonas urbanas e por outro lado encontramos o eleitor das zonas rurais e
que cada um desses possui suas características e posições diferenciadas sobre o campo político28
.
Para Baloi (2001) o comportamento eleitoral em Moçambique reflecte uma combinação de
factores conjunturais e factores históricos, estes últimos mais estruturantes. Apelando ainda para
o peso de factores conjunturais onde argumenta-se que alguns eleitores optaram pela FRELIMO
como uma medida destinada a manter o partido dentro do circuito do sistema democrático e
assim evitar qualquer desmoronamento deste partido (Idem).
Lundin (1995) avança que os limites contextuais são extremamente determinantes, pois em
última instância referenciam à importância destes elementos na decisão do eleitorado.
Os elementos contextuais e as clivagens sociais aqui consideradas são: posição socioeconómica,
trajectória social, prestígio da profissão, formação educacional, religião e cultura urbana ou rural.
25
O artigo que Elsón escreveu está intrinsecamente relacionado com as manifestações do comportamento eleitoral,
cujo título é: Comportamento político eleitoral; s/d. 26
Consultado em: BRITO, Luís. O comportamento eleitoral nas primeiras eleições multipartidárias em
Moçambique. In MAZULA, Brazão. Moçambique: Eleições, Democracia e Desenvolvimento. Maputo, Elo Gráfica,
Lda., 1995. 27
PEREIRA, João. Comportamento Eleitoral em Marromeu. Maputo, EM-Faculdade de Letras e Ciências Sociais,
Dissertação. 1996. 28
Com vista a ter uma percepção ampla sobre as dinâmicas do comportamento eleitoral em Moçambique e a sua
fragmentação, veja em: Luís de Brito, 1995; Pereira, 1996; Brito, L.; Pereira, J.; Rosário, D.; e outros, 2005; Pereira,
2007; que apresentam estudos sobre as dinâmicas do comportamento eleitoral em Moçambique.
24
Silveira (1998) apud Baloi (2001) explica que a tentativa de absorver as diversas possibilidades
de comportamento eleitoral em Moçambique, acaba levando-nos a enquadrar variadas correntes
explicativas do voto a partir do grau de importância de factores estruturais-colectivos ou
cognitivos-individuais na determinação da decisão eleitoral.
Como tem explicado Brito, em muito dos seus escritos, que uma teoria do comportamento
eleitoral pode ser capaz de prever a tendência do voto de grupo de eleitores, sem necessariamente
explicar os motivos das escolhas. Ou inversamente pode explicar o conjunto dos
comportamentos, mas ser incapaz de prever como certos eleitores agirão (Brito, s/d)29
.
Os argumentos apresentados por Brito (1995) assim como Pereira (1996) nos chamam atenção a
ideia de que o comportamento eleitoral em Moçambique pode ter fundamento básico na questão
da distribuição regional do voto, ou seja, pode ser associado aos aspectos pertencentes às
clivagens campo e cidade, que tem reflectido necessariamente na formação do voto das zonas
rural e das zonas urbano (Idem).
Assim, Brito (1995, p: 488) constatou que o debate em relação a distribuição regional do voto
pode ser demostrado pelo facto da FRELIMO em 1994, ter ganhado com uma votação superior a
75%, nos quatro círculos eleitorais do Sul do Pais (Maputo-Cidade; Maputo-Província; Gaza e
Inhambane); e dois círculos no Norte (Niassa e Cabo Delgado), enquanto a Renamo teve
domínio quase total nas províncias do Centro e Norte (Sofala, Manica, Tete, Zambézia e
Nampula), também com uma votação acima de 75%.
Neste contexto, como forma de ilustrar a persistência do voto nos dois círculos da região
nortenha do País (Cabo Delgado e Niassa), mas especificamente no distrito de Mueda, em Cabo
Delgado o partido FRELIMO teve uma votação nas seguintes percentagens: 1994: 92%; 1999:
86%; 2004: 94% e 2009: 96%.
Considerando os argumentos de Brito (op. cit) e a demostração das percentagens que a
FRELIMO conseguiu nas votações acima apresentadas, observa-se que á expressão do voto é
distribuída numa escala regional e em favor de cada partido (FRELIMO e RENAMO).
29
Estas colocações têm sido fundamentadas pelo autor Luís de Brito, nas suas discussões sobre modelos
explicativos do voto, com uma frase célebre: ´´A nossa capacidade de prever como os eleitores vão votar é muito
menor que a nossa capacidade de explicar porque é que votaram de uma determinada maneira’’.
25
Tal como é o caso da diferenciação na distribuição do voto nas zonas rurais e urbanas, também é
visível a demarcação regional do voto e das manifestações do comportamento eleitoral no País
que procuram se enquadrar na história recente do País. Neste contexto, está é uma forma de
demonstrar que a distribuição do voto e as formas de manifestação do comportamento eleitoral
pode ter ligações fortes com a recente história de Moçambique (guerra de libertação, guerra civil,
marginalização de alguns grupos da elite do Centro do País, desconfiança política da FRELIMO
em relação às populações das zonas do Centro do País, etc.)30
.
Segundo Brito (1995) a maioria dos principais dirigentes históricos e numerosos quadros da
FRELIMO são oriundos das provinciais do Sul e relativamente do Norte do País, oque favorece
o processo de identificação das respectivas populações com este partido. Por outro lado, foi
precisamente nas províncias Nortenhas do País (Niassa e Cabo Delgado) nas chamadas (zonas
libertadas) que se desenvolveu durante muito tempo a luta de libertação e onde a presença
político-militar da FRELIMO mais se fez sentir (Idem).
Como resultado disso, o comportamento eleitoral em Moçambique associado a maior afluência
do voto favorável a FRELIMO, assentou-se nestas regiões, ou seja, os melhores resultados
eleitorais da FRELIMO situam-se precisamente nos distritos onde a FRELIMO tem grande
influência, como é o caso do distrito de Mueda/nas zonas do planalto de Mueda que é um berço
histórico da FRELIMO, donde advém muitos quadros militares, onde o partido FRELIMO
obteve nas eleições de 1994 à 2009 a seguinte votação: 1994 (92%), 1999 (86%), 2004 (94%) e
2009 (96%).
30
Mais detalhes veja: Brito (1995).
26
2.2. QUADRO TEÓRICO
2.2.1. Teoria da Lealdade partidária
No presente estudo, tomou-se em consideração a teoria da lealdade partidária como a perspectiva
teórica para análise que levamos a cabo em todo trabalho, em virtude do nosso foco de análise
ser a lealdade e persistência que são parte integrante da teoria da lealdade partidária. Por outro
lado, pelo facto destes elementos (lealdade, persistência) constituírem as variáveis dependentes
do nosso estudo e que melhor explicam os fenómenos do comportamento eleitoral em estudo.
Mais ainda, a escolha desta teoria ligando aos estudos sobre o comportamento eleitoral no
contexto Moçambicano, permite-nos associar os elementos da teoria da lealdade com as
dinâmicas contextuais, conjunturais e estruturais que são importantes para compreender o
comportamento político eleitoral em Moçambique. Também por compreendermos que nesta
teoria encontram-se elementos suficientes como (lealdade, fidelidade, comprometimento,
confiança, habito) que explicam a persistência do voto em algumas regiões do País e
concretamente no distrito de Mueda.
Em relação à teoria, convém dizer que até recentemente esta teoria não atraia atenção na ciência
e grande parte de estudos detalhados sobre a lealdade surgem com escritores criativos e
académicos como (Jacoby & Chestnut31
, Goman32
, Kotler33
), fundamentalmente pelo economista
e político Hirschman (1970)34
que com um interesse particular, procurou desenvolver uma teoria
sobre a lealdade (Ewin, 1992, p: 32)35
.
Para Oliver (1999) apud Patrocínio (2012) a lealdade é a existência de um comprometimento
profundo em comprar um produto ou serviço de forma consistente no futuro.
31
Jacoby J. and Chestnut, R.W., 1978, Brand Loyalty: Measurement and Management, New York: John Wiley. 32
Obra de Goman, Carol K., 1990, The Loyalty Factor, Berkeley: KCS Publishing. 33
Kotler, Philip (2000): Administração de Marketing. São Paulo: Prentice-Hall. 34
Foi com base neste autor, nas colocações desenvolvidas por este autor, que desenvolvemos a teoria da lealdade:
Hirschman, Albert O., 1970, Exit, Voice, and Loyalty: Response to Decline in Firms, Organizations and States,
Cambridge, MA: Harvard University Press. 35
Veja-se com mais detalhes: Ewin, R.E., 1992, Loyalty and Virtues, Philosophical Quarterly, 42 (169), p: 403-19.
New York: Fordham University Press. Mais ainda, veja em: Foust, Mathew A., 2012, Loyalty to Loyalty: Josiah
Royce and the Genuine moral Life, New York: Fordham University Press.
27
Esta acção configura uma relação de compras repetidas de produtos da mesma marca ou
empresa, apesar de todas as influências situacionais e esforços de marketing da concorrência
apresentarem potencial para incitar um comportamento de mudança no consumidor (Idem).
Assim, o comprometimento do consumidor com a marca, produto, serviço ou empresa é um
importante factor na construção da fidelização e da lealdade dentro dessa relação entre o cliente e
a empresa (Patrocínio, 2012).
Olhando os pressupostos que a teoria da lealdade partidária apresenta, convém dizer que os
elementos da teoria explicam de facto a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor
da FRELIMO no período em que nos propusemos analisar. Pois, no contexto de Mueda a
lealdade partidária pode compreender-se a como um factor determinante para a existência dum
comprometimento profundo dos eleitores com o partido FRELIMO e isso se reflecte na compra
do produto (neste caso a FRELIMO e as suas propostas eleitorais, por meio do voto), duma
forma continua e consistente no futuro, e associamos esta situação com a questão da votação
persistente do eleitorado de Mueda.
2.2.2. Lealdade Partidária dos Eleitores
A lealdade do eleitor é definida como aqueles eleitores que são favoráveis as atitudes que dizem
respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido (Anderson e
Srinivasan, 2003, apud Riet, 2010, p: 28). Nesta perspectiva, os pressupostos da teoria da
lealdade partidária segundo Riet (2010), podem ser explicadas pela baixa frequência de eleições,
a baixa qualidade de controlo sobre o cumprimento de campanha e promessas eleitorais, e a
ausência de preço que são diferenças importantes que possam sugerir que a marca/partido
equitativamente desempenhem um papel mais proeminente na política.
Segundo (Riet, loc. cit) os eleitores habituais têm um baixo nível de envolvimento na política e
no comportamento eleitoral repetitivo, logo estes eleitores não parecem leais e genuínos assim
como se pressupõe. Ademais, os eleitores podem geralmente ser divididos em dois grupos, os
eleitores habituais e eleitores com alto envolvimento. Entre os eleitores habituais, a lealdade é
aumentada através da criação do conhecimento da marca (neste caso o partido), anúncios e
outras formas de dar atenção e transformar a marca em novidades (coisas novas).
28
Enquanto os eleitores com alto envolvimento são menos afectados pela percepção da marca e
respondem mais à imagem da marca forte.
As partes podem criar uma imagem da marca forte por ser distinta e única, mas também
adequadas e consistentes em suas acções e ideologias de modo a atrair o mesmo grupo de
eleitores por um longo tempo, o que irá criar o hábito neles e consequente a lealdade (Idem).
Na perspectiva deste trabalho, vai se olhar para a lealdade36
dos eleitores, usando os princípios
do marketing, como forma de demostrar como o processo da lealdade partidária no distrito de
Mueda, joga um papel crucial na cabeça dos eleitores e em ultima instância compreender a
persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda em relação a FRELIMO desde as primeiras
eleições de 1994 até as eleições de 2009, com votos expressos de uma forma esmagadora.
Contudo, os elementos como comportamento de compra repetida juntamente com uma atitude
fortemente positiva em relação à uma marca/partido, são elementos que podemos encontrar no
contexto de Mueda, pois a partir dos dados das votações de 1994, 1999, 2004 e 2009, pode-se
categorizar que o eleitorado de Mueda vota persistentemente de uma forma repetida e tem uma
relação positiva com partido FRELIMO.
Outro elemento importante na adequação desta teoria ao nosso objecto de estudo é o processo de
criação da imagem da marca ou partido na consciência dos eleitores, por meio de anúncios e
outras formas de criar atenção. No contexto de Mueda, compreendemos que a imagem do partido
FRELIMO está criada e continuamente se consolidando de algum modo com auxílio dos chefes
locais ou tradicionais que tem procurado implantar as diversas formas de anunciar a marca (o
partido FRELIMO), sobretudo por meio de acções mobilizadoras no eleitorado de Mueda. De
entre outras razões, esta patente a relação histórica existente entre o partido FRELIMO e o
eleitorado de Mueda bem como as diversas formas e acções mobilizadoras que em última
instância ajudam na criação da marca (partido FRELIMO) e consequentemente jogam um papel
fulcral para atrair este grupo de eleitores para continuar leal por um longo tempo, o que fez com
que criassem o hábito entre eles em relação ao partido FRELIMO e não confiança nos outros
partidos ou produtos.
36
Em Inglês, Loyalty, que na tradução pode ser: Lealdade ou Fidelidade. Para o nosso caso, usaremos (Lealdade).
29
2.3. Conceptualização
Conceitos principais:
Comportamento Eleitoral, Voto, Lealdade Eleitoral, Partidos Políticos.
Em busca duma explicação dos conceitos principais da nossa pesquisa, nos propusemos a
desenvolver duma forma sintetizada.
2.3.1. Comportamento Eleitoral
Segundo Limeira e Maia (2010) comportamento eleitoral é entendido como um processo social
que se desenvolve ao longo do tempo e se desdobra em três etapas, sendo que cada uma dessas
etapas sofre influências da comunicação política transmitida pela imprensa ou propaganda
eleitoral37
ou ainda por meio das interacções sociais.
Ou seja nas palavras de Limeira e Maia (loc. cit) os comportamentos políticos se expressam de
diversas formas: pode ser pelas opiniões declaradas, pelas actividades individuais cotidianas
públicas ou não ou por actividades colectivas, demonstrações e excursões. Eles se expressam
também pelo pertencimento a organizações e em última instância através do voto (Idem).
De uma forma geral o comportamento eleitoral comporta três componentes ou etapas: a primeira
que é o processo de formação de opinião sobre o processo político no seu todo e em particular
quando o eleitor obtém às informações sobre os candidatos; a segunda etapa compreende o
processo de formulação de decisão sobre quem votar e como votar; e a finalmente a terceira
etapa é o acto de votar38
.
2.3.2. Voto
Brito (1995) define o voto como sendo o acto pessoal do cidadão eleitor que assim exprime a sua
vontade, entendida outrora como livre escolha entre o conjunto de candidatos ou partidos.
37
Para uma visão mais aprofundada do assunto, veja: Tânia Limeira e Tânia Maia (2010), Comunicação política e
decisão de voto: o que as pesquisas revelam. Artigo publicado na revista Ponto e Vírgula, pág.: 42-55. 38
Cf. p: 24.
30
Para Amora (2003) apud Valverde (2006)39
compreende o voto como um modo de manifestar a
opinião num pleito eleitoral. Segundo Pinto (2003) voto é o meio pelo qual é exercida a parte
activa do direito de sufrágio40
. Mais ainda, Valverde (op. cit) compreende que o voto é o
instrumento pelo qual os eleitores expressam sua vontade, escolhendo quem os representará.
Neste contexto, é através do voto que o eleitor expressa sua confiança ou não confiança a um
determinado candidato ou partido.
2.3.3. Lealdade Eleitoral
A lealdade eleitoral é definida como uma combinação de medidas atitudinais e comportamentais
da lealdade ou seja, a lealdade eleitoral é definida como aqueles eleitores que são favoráveis as
atitudes que dizem respeito os ideais dum partido, resultante do comportamento eleitoral repetido
(Anderson e Srinivasan, 2003, apud Van Riet, 2010);
2.3.4. Partidos Políticos
Segundo Gramsci41
apud Mezzaroba (1994: 42)42
Partido Político é uma organização que é
agente da vontade colectiva. Ainda neste sentido, Acquaviva (2000)43
trazendo a perspectiva de
Edmund Burke, diz que partidos políticos são grupo de pessoas que se unem para promover num
processo de cooperação, o interesse nacional mediante o emprego dum processo específico com
o qual todos os seus membros se acham de acordo. Novamente Mezzaroba (op. cit) citando as
lições de Robert Michels, diz que partido político é uma potência oligárquica repousada sobre
uma base democrática que possibilita a dominação das elites sobre os eleitores, dos mandatários
sobre os mandantes e dos delegados sobre os que delegam.
39
Veja mais detalhes em: VALVERDE, Thiago Pellegrini. Voto no Brasil: democracia ou obrigatoriedade?
Disponível em <http://www.papiniestudos.com.br/ler_estudos.php? idNoticia=40>. Acesso no dia 3 de Setembro de
2013. 40
Mais detalhes, veja: PINTO, Djalma. Direito Eleitoral, 1a ed. São Paulo, Atlas, 2003. Pag. 68. 41
Gramsci, que é da corrente Neomarxista, a sua definição de Partido político, esta dotada de pressupostos
claramente marxistas. 42
Veja-se em: MEZZAROBA, Orides. O Partido Político: Concepção Tradicional e Orgânica. In: Revista de
Informação Legislativa. Brasília: Senado Federal Subsecretaria de Edições Técnicas, ano 31, n. 122, 1994. 43
Mais detalhes sobre este aspecto, veja-se em: ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado. 2. ed. Ver.
São Paulo: Saraiva, 2000.
31
Igualmente Bastos (2002)44
conceitua partido político como sendo uma organização de pessoas
reunidas em torno do mesmo programa político com a finalidade de assumir o poder e mantê-lo
ou, ao menos de influênciar na gestão da coisa pública através de críticas e oposição.
Para o presente trabalho, tendo em conta as colocações dos conceitos, ou seja, se inspirando na
discussão conceptual dos autores acima, compreendemos por Comportamento Eleitoral como
sendo as manifestações que se expressam por meio de opiniões políticamente declaradas, e em
última instância através do voto.
Voto no presente estudo, entende-se como sendo o acto pessoal de escolher um determinado
candidato ou partido mediante a influência ou não, do meio sociopolítico em que esta inserido.
Partidos Político para este estudo, compreendemos como sendo uma organização política de
pessoas que se reúnem em torno dum programa político e com objectivo de assumir o poder
político ou de influênciar na gestão da rés pública.
44
Veja-se com mais detalhes em: BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Celso
Bastos Editor, 2002.
32
2.4. Operacionalização das Variáveis
O presente estudo pretende ostensivamente analisar a persistência e a lealdade do eleitorado de
Mueda a favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009. E vai centrar-se
basicamente na persistência e lealdade dos eleitores de Mueda nestes pleitos.
Ora, nesta perspectiva, considerou-se dois tipos de variáveis. Por um lado temos a variável
dependente que é (persistência e lealdade dos eleitores de Mueda a Favor da FRELIMO nos
pleitos de 1994 à 2009) e por outro lado, temos as variáveis independentes (acções mobilizadoras
da FRELIMO, a falta de confiança dos outros partidos, as ligações históricas entre Mueda e a
FRELIMO; socialização política, cultura política e o papel dos líderes de opinião).
Associando estas variáveis com à teoria usada neste estudo, pode constatar-se que os elementos
que perfazem as duas variáveis, como (persistência e lealdade, a falta de confiança, as ligações
históricas entre Mueda e o partido FRELIMO, socialização e a cultura politica bem como as
acções mobilizadoras) encontramos também na interpretação que fizemos da teoria usada para a
análise dos dados e informações do presente estudo. Contudo, a imagem e as ideologias do
partido FRELIMO estão criadas e vão se consolidando com apoio dos líderes de opinião, que
procuram implantar as diferentes formas de anunciar a marca FRELIMO no contexto de Mueda,
usando diferenciados tipos de acções mobilizadoras. A persistência do eleitorado a favor da
FRELIMO em Mueda, é estruturado a partir da relação histórica-estrutural existente entre o
partido FRELIMO e o distrito de Mueda, que ajuda na criação da marca (partido FRELIMO) e
consequentemente jogam um papel fulcral para atrair que o eleitorado de Mueda persiste e
continue leal a favor da FRELIMO por um longo tempo.
Ademais, no presente estudo as variáveis independentes explicam a variável dependente. Pois a
persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da FRELIMO é resultado directo dos
factores históricos-estruturais que a FRELIMO e o distrito de Mueda ostentam, isto é, a forte
ligação que num passado recente possuíram, pelo facto da FRELIMO sobretudo nas províncias
nortenhas do País ter-se instalado com maior rigidez, aos arredores do distrito de Mueda (zonas
libertadas) bem como a mobilidade com que a população de Mueda aderiu às fileiras da
FRELIMO nos primórdios da década de 60 do século XX, cujo esta recente ligação sustenta as
relações fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO.
33
Uma outra variável independente é o papel dos líderes de opinião. E partimos do pressuposto de
que estes desempenham um papel preponderante na socialização e na transmissão dos valores
colectivos de geração para geração. Neste aspecto percebe-se que estes são determinantes na
estruturação do comportamento político eleitoral em Mueda, pois são os agentes importantes na
mobilização e na definição do voto dos eleitores do distrito de Mueda.
Mais ainda, em relação as acções mobilizadoras que evidenciamos como sendo uma das
variáveis independentes, podemos compreender que estas se referem essencialmente as
campanhas políticas eleitorais, aos comícios e as diversas reuniões que os partidos políticos
possam efectivar no contexto de Mueda, com vista a convencer e activar as predisposições
políticas latentes e transforma-los em voto manifesto para o seu partido. No contexto de Mueda,
o partido FRELIMO contam com o apoio da liderança de base (líderes comunitários, chefes do
bairro, do quarteirão, etc). Aliado a isso, está presente a ideia da confiança que maior parte do
eleitorado de Mueda tem com à FRELIMO e a total falta de confiança em relação aos partidos
além da FRELIMO que por via disso nasceu a identificação partidária do eleitorado de Mueda
com à FRELIMO.
Assim, dentre outros factores que concorrem para explicar a persistência e a lealdade dos
eleitores de Mueda a favor da FRELIMO, os mais visíveis são os que compõem o leque das
variáveis independentes acima explícitas. Ou seja, ao analisarmos está relação é importante
também não perder de vista o factor históricos-estruturais que dentro deste podemos encontrar
outras ramificações importantíssimas para compreender a persistência e a lealdade dos eleitores
de Mueda a favor da FRELIMO, a destacar: as vivências históricas, a transmissão da história do
distrito de geração para geração, laços históricos, as ligações existentes entre Mueda e a
FRELIMO, inclusão dos dirigentes históricos provenientes de Mueda na máquina administrativa
do País, entre outros.
34
Modelo de Análise
Figura: 1
VARI ÁVEIS INDEPENDENTES:
Acções mobilizadoras da
FRELIMO e falta de Confiança
nos outros partidos
Ligações históricas entre Mueda e a
FRELIMO
Outros factores:
- Socialização
- Cultura Política
- Influência dos líderes de
opinião.
Variável dependente:
PERSISTÊNCIA E A LEALDADE
DOS ELEITORES DE MUEDA A
FAVOR DA FRELIMO: 1994 a 2009
35
CAPÍTULO III
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Como diversas literaturas discutiram este ponto, os procedimentos metodológicos de acordo com
Barreto e Honorato (1998) apud Ventura (2002) podem ser compreendidos como sendo os
métodos e técnicas que se usam para a efectivação dum trabalho científico.
Em seguida abordaremos sobre: método de estudo, tipo de observação, tipo de documentação
consultada, as entrevistas, o tipo de amostragem, o método bem como a técnica usada para
analise dos resultados.
Como método de abordagem adaptamos o Dedutivo. Para Richardson (1999), Neto (2007)45
defendem que este método fundamenta-se na ideia segunda a qual é necessário que se formulem
hipóteses a partir de leis gerais, que depois estas (às hipóteses) são confrontadas com a realidade.
A opção da escolha deste método de abordagem é pelo facto de tratar-se dum método que tem
em vista estudar o objecto de estudo partindo dum conhecimento apriori sobre o problema,
alinhando-se deste modo com possíveis conjecturas (neste caso as hipóteses do trabalho). Ora, no
caso concreto, a pesquisa partiu para este estudo com um conhecimento prévio do problema,
sobre a persistência e a lealdade do eleitorado de Mueda a favor da RELIMO, desde as eleições
de 1994, 1999, 2004 e 2009, com votação nas seguintes percentagens: 92%, 86%, 94% e 96%
respectivamente. Isso de algum modo ajudou a trazermos elementos práticos e teóricos sobre o
objecto de estudo em análise.
No presente estudo, a colheita de dados foi eminentemente qualitativa, pois esta teve como
propósitos extrair o significado, percepções e interpretações dos próprios eleitores de Mueda,
sobre a persistência e a lealdade destes em votar na FRELIMO nos pleitos que nos propusemos
analisar. Todavia, este estudo foi auxiliado pela abordagem quantitativa. Neste aspecto, está
colheita de dados (qualitativo e quantitativo) se associa ao método dedutivo, no sentido de
solidificar e refutar os argumentos apresentados na construção do problema, na análise
multidimensional do objecto de estudo bem como nas hipóteses que inicialmente foram
construídas.
45
Consultado em: NETO, Carvalho (2007), Como fazer uma monografia, Fortaleza, 1ª Edição, Brasil.
36
Em relação à observação, importa dizer que o processo de observação foi realizado mediante a
participação do observador, ou seja, observação directa, com participação individual do
pesquisador, aproveitando-se desta forma das habilidades particulares46
do observador que
permitiram ter maior facilidade de contacto com os observados. Esta observação por sua vez foi
acompanhada pelas entrevistas semi-estruturadas47
.
A documentação directa intensiva que foi consultada, constituída maioritariamente por livros,
artigos científicos, monografias, periódicos, teses, dissertações bem como relatórios diversos
sobre o comportamento eleitoral no seu todo, em particular Moçambique, sobre a história do
distrito de Mueda e a história da FRELIMO.
Para além desta documentação, utilizamos também os dados quantitativos: os resultados
eleitorais constantes no apuramento estatístico feito pelo STAE dos quatro pleitos que
analisamos bem como a cartografia eleitoral elaborada por Brito (IESE)48
e a cartografia da
distribuição nacional, provincial e distrital do voto feita também por Brito (idem).
Tendo como base os dados quantitativos acima referenciados foi possível obter dados históricos
e numéricos (também quantitativos) que possibilitaram uma melhor interpretação do objecto de
estudo.
Mais ainda, foram feitas entrevistas no terreno aos líderes da opinião (chefes de bairro, chefes de
quarteirão, autoridade comunitária, chefe de posto administrativo)49
como forma de captar a
partir destes a sua capacidade de influência no processo da socialização política, bem como as
suas potencialidades de influênciar a comunidade em diversas matérias de natureza política, as
suas tendências e tendenciosidades relativas à sua identificação política partidária, que são
factores explicativos para estruturação do comportamento político-eleitoral num determinado
contexto.
46
Muitos autores preferem chamar de astúcias, do latim astutia, que significa (as habilidades, as estratégias, as
manobras, manhas, inteligência, esperteza do pesquisador com vista a permitir ter maior facilidades de contacto com
os observados). Veja em: MACEDO, J. M. C (Anselmo e a astúcia da razão), s/d. 47
Entrevistas semi-estruturadas de acordo com MARCONI, M e LAKATOS, E. (2003), são aquelas de inspiração
etnográfica, no sentido de se estabelecer um encontro construtivo fundamentado na linguagem e altos
comunicativos. 48
Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique. 49
Os líderes de opinião representam o sector da população mais activa na participação política e mais decidido no
processo de formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de motivação e
intelectuais dos indivíduos examinados.
37
Também em grosso modo foram feitas entrevistas estratificadas aos eleitores de Mueda50
que
constituem a nossa amostra por excelência.
A amostra do estudo não abrangeu os membros activos do partido FRELIMO em Mueda (chefes
de circulo, Secretária da OMM, Secretario distrital), como forma de captar destes membros da
FRELIMO as suas percepções em relação as dinâmicas do comportamento político eleitoral em
Mueda, ou seja, não foram ouvidos em forma de entrevista, alguns membros activos do partido
FRELIMO, pelo facto do estudo não prever e muito menos incluídos este extrato como parte
integrante do estudo.
No presente estudo foram realizadas 18 entrevistas. Todas elas no distrito de Mueda mas
distribuídos nos postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda e N’gapa). Contudo, no total de
18 entrevistas que englobou indivíduos de ambos sexos por um lado eleitores com idades
compreendidas a partir dos 18 a 23 anos e por outro lado eleitores com idade acima de 50 anos,
com experiencia na participação nos processos políticos eleitorais51
dos quais 4 (quatro) foram
entrevistados os líderes de opinião52
(líderes tradicionais, chefes do bairro, chefes das
localidades), dentre eles (1 mulheres e 3 homens) e 14 entrevistas foram exclusivamente
constituídos por eleitores residentes no distrito de Mueda nos respectivos postos administrativos,
dentre eles (2 Mulheres e 12 Homens)53
.
50
Não será usado a técnica de questionário ou inquérito, que claramente poderia abordar outros aspectos sobre o
comportamento eleitoral em Mueda, e também pelo facto de a priori perceber que poderiam não existir condições
para obter as informações fidedignas, desta feita, usamos as entrevistas semi-estruturadas. 51
A escolha desta estratificação deveu-se há duas razões: Por um lado os eleitores de 18 a 24 anos, engloba todos
eleitores em potência com idade de votar, salvo os casos previstos na lei, e que por meio do contexto social sofrem
influência no processo de estruturação das suas atitudes sociopolíticas e consequentemente a forma de votar. Por
outro lado, escolhemos eleitores com idade acima de 50 anos com experiência em processos políticos eleitorais, pelo
facto de englobar indivíduos com uma experiência de vida, desde à independência até os pleitos eleitorais que nos
propusemos analisar, e deste procuramos compreender o processo de estruturação do comportamento eleitoral em
Mueda e a influência que o contexto social tem em relação aos indivíduos. 52
Segundo Walf (1992), no seu livro: Teoria da Comunicação demonstra que num processo político, os líderes de
opinião, representam o sector da população mais activa na participação política e mais decidido no processo de
formação das atitudes do voto, relacionados com factores económicos, culturais, de motivação e intelectuais dos
indivíduos examinados. 53
O desequilíbrio do género deveu-se ao facto de: por um lado a pesquisa atingir um número consideravelmente
pequeno, e também por usar-se a técnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre incidiu
aos eleitores do sexo masculino, e por outro lado, as diversas vezes que incidiu em eleitores do sexo feminino, estas
na sua maioria não se disponibilizaram, alegando que não detinham informações suficientemente satisfatórias, para
conversar sobre as dinâmicas do comportamento político eleitoral em Mueda.
38
Distribuição dos indivíduos em sexo e o número total das entrevistas
Tabela 1:
SEXO
Número de
eleitores
entrevistados
Líderes de
Opinião
Total
Total em
percentagem
(%)
Masculino
12
3
15
82 %
Feminino
2
1
3
18 %
Quadro elaborado pelo autor.
O processo de selecção da unidade da amostra foi com base na amostragem não probabilística
intencional54
, ou seja, usou-se a técnica da amostragem intencional55
(esta que consistiu em
selecionar um subgrupo de população que com base nas informações disponíveis, foram
considerados ser representativos de toda a população e que também em princípio partiu-se do
pressuposto de que este subgrupo tinham um conhecimento suficiente em relação às dinâmicas
inerentes ao comportamento político eleitoral em Mueda) e partiu-se do pressuposto que tinham
informações consistente e chaves que pretendíamos colher.
Esta técnica foi auxiliada pelo critério de selecção, ou seja, técnica de selecção das unidades da
amostra bola de neve56
(que é uma técnica realista e adaptativa na qual os atores que fizeram
54
Mais detalhes, consulte: MARCONI, Marina & LAKATOS, Eva (2009) Metodologia do Trabalho Cientifico:
Procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projecto e relatório, publicações e trabalhos científicos 7ª Ed. 3ª
Reimpressão. São Paulo, Atlas. 55
Mais detalhes sobre o desenvolvimento e explicações deste tipo de amostra, Veja em: In amostra (estatística). In
Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consulta. 2013-04-12]. Disponível na www: <URL:
http://www.infopedia.pt/amostra- (estatística)>. 56
Bola de neve, do inglês snowball sampling. A amostra bola de neve é uma técnica realista e adaptativa na qual os
atores que irão fazer parte da pesquisa são indicados pelos próprios pesquisados. De acordo com tal técnica,
pergunta-se para um pré-determinado grupo de atores (zona de primeira ordem), como sugere WASSERMAN;
FAUST (1999) apud Matheus, R (2005) ou é o primeiro estágio, (ROTHENBERG, 1995), com quem ele tem laços,
resposta que serve como indicação do próximo grupo de atores na rede a ser pesquisado (segundo estágio, ou zona
de segunda ordem). Matheus (2005) fundamenta ainda que a pesquisa prossegue até que não sejam indicados novos
atores.
39
parte desta pesquisa forma indicados pelos próprios pesquisados), mas partiu-se dum ponto de
referência (sede dos bairros, nas sedes dos postos administrativos, sedes das localidades).57
Mais ainda, usou-se o estudo de caso que segundo Yin (2009) é uma investigação empírica que
investiga um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto de vida real especialmente
quando os limites entre o fenómeno e o contexto não estão claramente definidos. A escolha do
estudo do caso deveu-se ao facto do nosso método de abordagem ser o dedutivo, cujas lições que
se podem tirar do estudo de caso terem a intenções evidentemente particulares mas em algumas
vezes generalistas e pelo facto do seu propósito procurar aprofundar os conhecimentos em
relação a certos elementos de um certo objecto de estudo. Assim, o estudo de caso incidiu sobre
o distrito de Mueda.
Em relação à análise e interpretação dos resultados, usou-se a técnica de análise de conteúdo dos
resultados obtidos, recorrendo-se quase na totalidade aos aspectos qualitativos. Associadamente
recorreu-se a uma examinação profunda dos pontos básicos desenvolvidos na extensão da
revisão bibliográfica, que permitiram criarmos às categoriais que possibilitaram a colocação das
ideias, das revelação ou dos discursos dos entrevistados na ementa dos objectivos previamente
anunciados para este estudo. Isso facilitou também a organização e categorização do trabalho na
parte que se relaciona à análise e interpretação dos resultados, que apresentamos em capítulos e
subcapítulos inerentes ao comportamento político eleitoral no contexto de Mueda.
3.1. Limitações do Estudo
A representatividade das percepções femininas do total dos entrevistados foi fraca. Isso deveu-se
há duas razões: por um lado, porque a pesquisa atingiu um número consideravelmente pequeno e
também por usar-se a técnica de bola de neve, que muita das vezes o desenrolar da bola sempre
incidiu nos eleitores do sexo masculino e por outro lado, as diversas vezes que a bola calhou em
um dos eleitores do sexo feminino, na sua maioria não se disponibilizaram para a entrevista
57
De notar que o distrito de Mueda é composto por cinco postos administrativos (Chapa, Imbuho, Mueda,
Negomano e N’gapa), e estes compostos pelas seguintes localidades: Chapa (Chapa); Imbuho (Imbuho e Namaua);
Mueda (Lipelua, Litembo, Miula, Mpeme e Vila de Mueda); Negomano (Negomano); N’gapa (Chipinga, Natsenge,
N’gapa e Nonge). Fonte: INE, Cabo Delgado, Wikipédia, Enciclopédia Livre, acesso: 17 de Junho de 2013.
40
alegando que não detinham informações suficientemente satisfatórias para conversar sobre as
dinâmicas do comportamento político eleitoral em Mueda;
Mais ainda, este estudo teve como limitações o simples facto das entrevistas não serem
realizadas em todos cinco (5) postos Administrativos de Mueda, somente atingiu-se a 4 postos
administrativos, e a causa Sui generis deste incidente foi à falta de recursos financeiros.
A primeira dificuldade deste estudo é o facto de não ter tido financiamento com vista a uma
deslocação com facilidade para o local de estudo, como forma de colher os dados também duma
forma confortável. A segunda dificuldade é o facto da língua de alguns dos entrevistados ser
Maconde e que por via disso, em alguns casos recorreu-se a intérpretes para melhor
compreender-se o pano do fundo das entrevistas58
.
58
A escolha de Cabo Delgado, sobretudo o distrito de Mueda, apesar das limitações da língua, é pelo facto de ter um
interesse intrínseco sobre o tema como forma de procurar perceber a causa sui generis da persistência dos eleitores
em votar na FRELIMO. Mas também pelo facto do estudante que é autor da monografia, ser natural daquela
província Nortenha do País e uma forma de retribuir a província que lhe viu nascer.
41
PARTE II
4. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
CAPÍTULO IV
4.1. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO DISTRITO DE MUEDA
Neste capítulo as nossas intenções centrar-se-ão na localização, descrição e caracterização do
distrito de Mueda que constitui o nosso campo de estudo. Isso vai proporcionar-nos um
panorama relativamente geral da região em estudo nas diversas vertentes (política, económica,
social, cultural, etc.) que dalguma forma vai ajudar a estabelecer uma base analítica mais sólida
do nosso objecto de estudo.
Assim, sobre os limites geográficos59
o distrito de Mueda é localizado na parte norte da
Província de Cabo Delgado, demarcando a Norte com o Rio Rovuma (Fronteira com a República
Unida da Tanzânia) a Sul com os distritos de Montepuez, Meluco e Muidumbe, a Este com o
distrito de Mocímboa da Praia e a Oeste com o distrito de Mecula da Província de Niassa e pelo
rio Lugenda (PILILÃO, 1989: 24)60
.
De salientar que o distrito de Mueda integra a micro-região norte de Cabo Delgado constituída
pelos distritos de Mueda, Muidumbe, Nangade, Mocímboa da Praia e Palma (Idem). Tem uma
superfície aproximada de 14.150 Km2 e uma população estimada de cerca de 153.800
habitantes61
.
4.1.1. Divisão administrativa
Tendo em conta os dados do MAE (2005) administrativamente o distrito de Mueda está
subdividido em 5 postos Administrativos nomeadamente:
59
Vide, Atlas Geográficas, Vol. I, pág. 12. 60
Vide em Comissão Nacional do Plano. Enumeração da população e agregados familiares das cidades e alguns
distritos e postos administrativos de Moçambique, serie estimativas demográficas, Maputo, 1991, tabela No 3, p.5.
Também sobre o mesmo assunto vide: PILILÃO, Fernando., Moçambique: evolução da toponímia e da divisão
territorial, 19974-1987, Maputo, 1989. 61
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População e Habitação 2007. (INE- estatística do distrito de Mueda,
2012) Estatística Distrital (Estatísticas do Distrito de Mueda) © 2012 Instituto Nacional de Estatística.
42
Posto Administrativo de Imbuho, Chapa, Posto Sede, Negomano e N’gapa62
e estes Postos
Administrativos estão subdivididos em 14 localidades conforme ilustra o quadro abaixo:
Tabela 2: Quadro: Divisão Administrativa do distrito
Posto Administrativo Localidades
Mueda Sede 1. Mueda Sede
2. Litembo
3. Miula
4. Mpeme
Chapa 1. Chapa Sede
2. Lipelua
3. Nanhala
Imbuho 1. Imbuho Sede
2. Namaua
Negomano 1. Negomano Sede
N’gapa
1. N’gapa Sede
2. Chipingo
3. Nachitenge
4. Nonge
INE (2013), Adaptado pelo Autor.
4.1.2. Características físico-geográficas
4.1.2.1. Clima
O distrito de Mueda tem temperaturas médias anuais regra geral inferiores a 22ºC, ou seja, a
temperatura é quase a mesma em todo ano. O período húmido, quente e chuvoso vai de
Novembro ao mês de Abril, e período seco e fresco é de Abril a Novembro (MAE, 2005).
O distrito de Mueda possui um clima tropical húmido de Savana, embora localmente possam
exceder esses valores (MAE, 2005). Além disso, a precipitação média anual é superior a 1000
mm e a evapotranspiração potencial de referência está entre 1300 a 1500 mm (idem).
62
De salientar que os postos administrativos de N’gapa e Negomano ficam situados a um distância de 60 e 172 km
da Sede Distrital respectivamente.
43
4.1.2.2. Relevo e Solo
O distrito de Mueda é constituído por uma vasta plataforma de relevo ondulado com planaltos de
variedades altitudes, na qual se observam baixos planaltos com altitudes que vão de 200-500
metros a volta dos quais se estendem uma planície com altitude que varia entre 100-200 metros
(atlas geográfico, vol. I, apud Nachaque, 1998).
Podemos ainda destacar que no Distrito de Mueda podemos encontrar alguns retalhos de
planaltos médios, sendo o mais importante o planalto de Mueda, com 847 m de altitude (idem).
Em relação aos solos é importante referir que a composição dos solos no distrito de Mueda é
constituída fundamentalmente por solos arenosos avermelhados na parte nordeste do distrito,
solos franco-argilosos e argilosos vermelhos na parte ocidental do distrito (idem), ou seja, para
Daniel (1997) os solos do Planalto de Mueda não constituem um complexo homogéneo.
4.1.2.3. Recursos hídricos
Em geral, o Distrito de Mueda é conhecido como uma das regiões da Província de Cabo
Delgado, com graves carências de água à superfície. Isso deve-se pelo facto da região ser
atravessada por poucos cursos de água, dos quais os rios Rovuma, Messalo e Lugenda, são
conhecidos como principais e Muirite, Muera, Chude, Omba e N’tamba como rios secundários,
que durante os meses de Agosto e Setembro ficam completamente secos, causando deste modo
graves e sérios problemas à população da região (Nachaque, 1998).
4.1.3. Características económicas
Com este subcapítulo pretende-se descrever de forma resumida a evolução de algumas
actividades chaves que de algum modo constituem a base do desenvolvimento socioeconómico
do distrito de Mueda. Assim descrição incidirá fundamentalmente nas áreas: agricultura, infra-
estruturas e serviços.
No tocante á agricultura, nota-se que os aspectos mais marcantes se confinam necessariamente
na evolução das formas de organização do campesinato, os métodos que o campesinato usa para
o cultivo e certos rituais63
à ela ligada.
63
A semelhança das outras sociedades africanas em geral, e Moçambicanas em particular, a população de Mueda
praticam certos rituais ligados a agricultura como: Ritos de lupaleko (imunização) das machambas contra os
feiticeiros, que consiste no enterramento em qualquer dos cantos em redor da machambas, de uma cabaça ou panela
44
Mais ainda, á agricultura é a actividades económica principal. E destacam-se dentre outras
culturas: o milho, a mandioca, a mapira, o amendoim, o feijão, abobora, entre outras. E plantam
árvores de fruto como: mangueiras, cajueiros, ananaseiros, entre outros (Cooperação Suíça,
1982)64
.
No distrito de Mueda distinguem-se dois tipos de sistema agrícolas principais, nomeadamente a
agricultura itinerante que é praticada nas zonas baixas e com mais terras para o cultivo e o
sistema de rotação de culturas que é praticada nas zonas altas e com maior densidade
populacional, visando nestes aspectos o aproveitamento racional da pouca terra disponível
(idem). Na sociedade tradicional, a agricultura é desenvolvida com fins de subsistência familiar e
é feita em grosso modo dentro dum espaço pertencente a povoação familiar (Dias, 1974)65
.
4.1.3.1. Infra-estruturas
Em relação às infra-estruturas, importa fundamentar que em Mueda têm sido realizadas obras de
manutenção de rotina periódica de estradas com uso de mão-de-obra intensiva. As estradas de
terra batida são transitáveis ao longo de todo ano, excepto nos anos que se registam chuvas
intensas (MAE, 2005). Mas as viaturas de grande porte dos madeireiros têm sido as principais
causadoras da degradação das vias de acesso. Nos últimos anos tem-se registado o crescimento
do número de transportadores de passageiros e de carga respectivamente. E este facto deve-se ao
melhoramento das rodovias de/e para os outros pontos da província (idem).
Contudo, existem uma pista de aterragem asfaltada operacional, que tem permitido a
movimentação normal de aeronaves. O distrito de Mueda deste modo é servido por transporte
público terrestre, embora irregular (MAE, 2005). Mais ainda, o distrito de Mueda dispõe de
comunicação via rádio. Neste momento está em curso a fase de automatização da rede telefónica.
de barro contendo ntela e/ou inumba (droga) contra feiticeiros, para impedir que estes atentem contra os rendimentos
das machambas. O outro ritual é a proibição de assobios e conversas com estranhos durante a sementeira, para
garantir que as sementes germinem bem; e algumas pessoas dotadas de certos poderes sobrenaturais, que são
geralmente curandeiras-feiticeiros, tem a capacidade de criar cobras que protegem a machambas contra qualquer
malefício preparado por um feiticeiro e que atente contra as boas colheitas. Veja em: OLIVEIRA, Maria Ângelo R.
de, 1988. 64
COOPERAÇÃO SUÍÇA (1982): MOÇAMBIQUE: Plano a médio e longo prazo para o desenvolvimento de
Mueda. Relatório. Ministério de Agricultura, Maputo. 65
DIAS, Jorge., Os Macondes de Moçambique, Lisboa, Junta de Investigação do Ultramar, Vol. I, 1974, P. 103.
45
O distrito ressente-se pelo facto das TDM66
funcionarem apenas até as 17 horas e os correios
funcionam normalmente, embora com pouca afluência (idem).
No distrito de Mueda, o sector de água enfrenta inúmeros problemas e um pouco por todo
distrito surgem conflitos sobre este recurso. Os subsistemas existentes têm avariado
permanentemente e muitas aldeias não têm acesso a fontes de água melhorada, obrigando as
populações a percorrerem distâncias que vão até 1 dia de caminhada (MAE, 2005: 4). Contudo,
no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de água. Para tal, as
populações que habitam na zona baixa, o abastecimento é realizado através de furos, poços e em
muitas zonas, as populações vêem-se obrigados a consumir água imprópria (idem)67
.
Tabela 3:
Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de
Mueda, 2012.
FONTE DE ÁGUA
DISTRITO DE MUEDA
Número total de AF %
Água canalizada dentro de casa 29 0.1
Água canalizada fora de casa 93 0.3
Poço/furo protegido 1,109 4.1
Fontenária 4,152 15.2
Poço sem bomba (céu aberto) 14,078 51.5
Rio/Majune/Lagoa 7,448 27.2
Água da chuva 380 1.4
Água mineral 2 0.0
Outros 52 0.2
Número total 27, 343 100
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo
autor.
66
Telecomunicações de Moçambique. 67
De salientar que no distrito de Mueda, já existe o sistema de Água canalisada, mas para um número reduzido de
agregados familiar (total de 122 famílias) num total de 27,343 mil famílias (INE, 2007).
46
O sistema de fornecimento de energia eléctrica à vila de Mueda carece de reabilitação. Apesar de
terem canalizado a rede de energia eléctrica nacional (energia da Cahora Bassa), um grosso
modo de famílias ainda não usufrui desde bem precioso. Por exemplo, num universo de 27,343
famílias, somente 114 agregados familiares que usufruem deste bem.
Tabela: 4:
Agregados Familiares segundo principal fonte de Energia na habitação no distrito de
Mueda - 2012
FONTE DE ENERGIA
DISTRITO DE MUEDA
Número total de AF %
Electricidade 114 0.4
Gerador/Placa solar 74 0.3
Gás 20 0.1
Petroleo/platina/querosene 14.359 52.5
Bateria 29 0.1
Vela 872 3.2
Lenha 11.729 42.9
Outros 146 0.5
Total 27, 343 100
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, actualizado em 2012. Adaptado pelo
autor.
4.1.4. Educação
O distrito possui 91 Escolas das quais (89 do ensino primário nível 1 + 2). Como ilustrado na
Tabela: 5
ESTABELECIMENTO
DE ENSINO
DISTRITO DE MUEDA
2008 a 2010 2010 a 2012 Variação 2008-2012 em %
Número total de escolas 84 91 7.1
Escolas Primarias
(EP1 + EP2)
83 89 7.2
EP1 61 64 4.9
Publicas 61 64 4.9
Privadas/comunitárias 0 0 -
EP2 22 25 13.6
Publicas 22 25 13.6
Privadas/comunitárias 0 0 -
47
Escolas Secundarias
Gerais (ESG1 + ESG2)
2 2 0.0
ESG 1 1 1 0.0
Publicas 1 1 0.0
Privadas 0 0 -
ESG 2 0 1 0.4
Publicas 0 2 0.6
Privadas 0 0 -
Escolas Técnico-
profissional
0 0 -
Publicas 0 0 -
Pivadas 0 0 -
Fonte: MINED – Direcção de Planificação e Cooperação (2012). Adaptado pelo autor.
4.1.5. Saúde
O distrito de Mueda esta servido por 8 unidades sanitárias, que possibilitam o acesso progressivo
da população aos serviços do Sistema Nacional de Saúde, apesar de a um nível bastante
insuficiente como se conclui dos seguintes índices de cobertura media:
Uma unidade sanitária por cada 22 mil pessoas;
Uma cama por cada 1000 habitantes;
Um profissional técnico para cada 2.600 residentes no distrito (PEDD Mueda, 2012).
Ademais, apesar dos esforços realizados importa reter que o estado geral da conservação e
manutenção das infra-estruturas não é suficiente. De realçar a necessidade de manutenção da
rede de bombas de água bem como a rede de estradas e pontes que na época das chuvas tem tido
problemas de transitabilidade.
Na tentativa de demostrar a ineficiência bem como os problemas da governação no distrito de
Mueda, onde o eleitorado é leal e persiste em votar na FRELIMO, comparativamente
apresentaremos uma tabela dos dados estatísticos do distrito de Montepuez, na província de Cabo
Delgado, que vota na FRELIMO mas não de uma forma esmagadora como é o caso do distrito de
Mueda, cujos dados estatísticos do distrito de Montepuez mostram uma melhoria substantiva dos
serviços básicos, sobretudo a fonte principal de energia, água e os serviços de saúde, os mesmos
comparados com os serviços existentes no distrito de Mueda, um distrito leal e persistente ao
partido FRELIMO.
48
Tabela 6:
Agregados Familiares segundo distribuição da principal fonte de Água no distrito de
Montepuez, 2012.
FONTE DE ÁGUA
DISTRITO DE MONTEPUEZ
Número total de AF %
Água canalizada dentro de casa 400 0.8
Água canalizada fora de casa 1,268 2.4
Poço/furo protegido 7,253 22.0
Fontenária 1,768 3.4
Poço sem bomba (céu aberto) 39,429 69.1
Rio/Majune/Lagoa 1,567 3.0
Água da chuva 32 0.1
Água mineral 4 0.0
Outros 79 0.2
Número total 51,799 100
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, indicadores socio-demográficos
distritais, Província de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.
Em seguida apresentamos os dados estatísticos sobre os Agregados Familiares segundo
principal fonte de Energia na habitação no distrito de Montepuez – 2012
Tabela: 7
FONTE DE ENERGIA
DISTRITO DE MONTEPUEZ
Número total de AF %
Electricidade 2.201 3.5
Gerador/Placa solar 299 0.6
Gás 34 0.1
Petroleo/platina/querosene 23,484 41.9
Bateria 80 0.2
Vela 366 0.7
Lenha 25.232 52.6
Outros 266 0.4
Total 51, 799 100
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População, 2007, indicadores socio-demográficos
distritais, Província de Cabo Delgado, actualizado em 2012. Adaptado pelo autor.
49
Em relação aos serviços de saúde, é de extrema importância referenciar que o distrito de
Montepuez tem um total de 9 unidades sanitárias (comparativamente ao distrito de Mueda, este
distrito está relativamente melhor), pois de alguma forma permite o acesso gradual da população
aos serviços do Sistema Nacional de Saúde. Como é ilustrado da seguinte maneira:
COBERTURA MEDIA DISTRITAL
Cada uma unidade sanitária está para 5 730 mil pessoas;
Uma cama numa unidade sanitária corresponde 44 habitantes;
Um servidor do Serviço Nacional de Saúde técnico está para 423 residentes no distrito
(PEDD Montepuez, 2012).
Fazendo uma analise comparativa em relação à principal fonte de água, energia e os serviços de
saúde, entre a situação que se vive no distrito de Mueda (que têm votado persistentemente a
favor do partido FRELIMO nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009, com a votação em: 92%,
86%, 94% e 96% respectivamente), e os dados do distrito de Montepuez, de igual modo da
Província de Cabo Delgado (cuja votação a favor da FRELIMO desde os pleitos de 1994, 1999,
2004 e 2009, tem sido de 62%, 58%, 73% e 78% respectivamente), compreendemos que, apesar
do eleitorado de Montepuez não ter votado duma forma esmagadora como apresentamos acima,
o governo distrital tem sido relativamente eficiente e eficaz no provimento dos serviços mínimos
para a população daquele distrito, sobretudo a questão da fonte principal de água, energia e
serviços de saúde.
Nesta perspectiva, apesar de ter ouvido colocações dos nossos entrevistados em Mueda, que
votam na FRELIMO persistentemente pois acreditam numa mudança na forma da gestão da
coisa pública, sobretudo no provimento dos serviços básicos como é o caso do melhoramento da
fonte principal de água e de energia, bem como os serviços de saúde, compreende-se que não
tem sido muito linear, visto que, para o caso do distrito de Montepuez, mesmo com uma votação
não puramente esmagadora a favor da FRELIMO, o distrito se encontra numa situação melhor ao
que se refere aos problemas evidenciados (fonte principal de água, energia e os serviços de
saúde), e que o distrito de Mueda acredita que o simples facto de votar persistentemente na
50
FRELIMO, implicaria necessariamente no melhoramento do provimento dos serviços básicos
para a população.
Enquanto o distrito de Mueda, com a votação esmagadora que se registam nos pleitos que
analisamos, nota-se que os dados estatísticos apontam desfavoravelmente ao que tange a
provisão dos serviços públicos (fonte de água, energia e serviços de saúde).
Esta situação demostra que apesar dos diversos problemas de governação que o distrito de
Mueda enfrenta, como ilustrado nos exemplos acima (fonte principal de água; fonte principal de
energia e os serviços de saúde), o eleitorado de Mueda vota persistentemente a favor da
FRELIMO, como uma medida relacionada a lealdade partidária do eleitorado e não
necessariamente uma situação em que os eleitores fazem uma análise de custo e beneficio do
acto de ir votar num certo partido ou candidato nos moldes da perspectiva económica68
, que foi
avançada na revisão da literatura deste trabalho. Portanto, estes são os problemas de governação
referenciados.
4.1.6. Actividades Económicas e Industriais no distrito de Mueda
As actividades económicas e industriais do distrito de Mueda resumem-se à existência de agro-
processamento e turismo caseiro. Ora, no sector de indústria agro-processamento existem as
seguintes unidades: 63 moageiras, das quais 49 operacionais e 14 paralisadas, 2 maquinetas de
descasque de arroz (MAE, 2005, actualizado pelo INE, 2008). No sector da indústria madeireira,
funcionam as seguintes unidades: 3 serrações móveis e 1 carpintaria (Idem).
Existem no distrito de Mueda operadores autorizados para exploração de pedras semipreciosas
(águas marinhas). Contudo, tem-se registado um movimento de furtivos que aliciam as
populações locais com produtos diversos, em troca da exploração ilegal dos minerais (MAE,
2005 e PEDD, 2008-201269
).
68
Veja em Downs (1999). 69
Plano Estratégico do Desenvolvimento Distrito de Mueda 2008 a 2012.
51
O distrito de Mueda esta relativamente isolado dos principais centros comerciais da província.
Por exemplo a sua rede comercial é limitada, apesar de reconhecer que existem elos comerciais
agrícolas. Mesmo sendo um distrito fronteiriço, não há dados que confirmem oficialmente trocas
comerciais entre as populações do distrito de Mueda e da Tanzânia (MAE, 2005).
No distrito de Mueda funcionam dois sistemas paralelos concorrentes. Por um lado, encontramos
o comércio formal que compreende as lojas, cantinas rurais e por outro lado, o comércio
informal que envolve sobretudo os jovens e mulheres que a ela recorrem como forma de
subsistência e aumento de renda familiar (Idem). E a rede comercial está distribuída de forma
desigual, já que a maioria dos estabelecimentos comerciais está concentrada na sede do Distrito.
4.1.7. História do distrito
Os estudos feitos nos mostram claramente que a partir do último quartel do século XIX, foi se
encontrando os povoamentos dos Macondes denominados por nomes dos respectivos Régulos
como Panalidimo (actual Namaua), Panachipungu (actual Imbuho), Namachangano,
Panambavala (Miula), Mbomela, Likomantili, Ndyankali, Nanachombe e Nachilavi (MAE,
2005). Estes últimos próximos do rio Mueda, donde surgiu o topónimo do distrito Mueda.
Na era colonial, em 2 de Setembro de 1967, Mueda foi elevada a categoria de vila com a
denominação de circunscrição dos Macondes, que abrangia os actuais distritos de Muidumbe e
Nangade (MAE, 2005 e PEDD, 2008). Um ano a seguir à proclamação da Independência
Nacional em 1976, a circunscrição dos Macondes passou a chamar-se distrito de Mueda e
abrangia o actual distrito de Muidumbe (idem).
No ano de 1986 na sequência da nova divisão administrativa, Mueda passou a constituir uma
unidade administrativa separada de Muidumbe. Mueda foi crescendo de maneira heterogénea, a
partir das imigrações dos Macuas do litoral, Ngonis, Yaos, Makué e até Swahilis da terra vizinha
da República Unida da Tanzânia (MAE, 2005).
A população de Mueda é maioritariamente falante da língua Shimakonde. Outras línguas faladas:
Emacua, Kisuahil, Makué, Yao, Mtambué, Ngoni e kimuani, para além da língua oficial, o
Português.
52
Tal como acontece no resto da província a estrutura da sociedade de Mueda assenta no regime
matrilinear. As comunidades vivem em aldeias e outros aglomerados populacionais junto às vilas
(PEDD, 2012).
A dança é uma das actividades ligadas ao ciclo de vida da comunidade praticada em momentos
de dor, recordação dos antepassados, ritos de iniciação, momentos de alegria e agradecimentos
aos antepassados pelos êxitos na produção agrícola e outras benesses (PEDD Mueda, 2012).
As populações do distrito de Mueda acreditam na existência de uma força sobrenatural que está
ligada aos destinos das comunidades (chuva, sorte, morte, luz e vida). Esta percepção da vida
leva a que as populações se agreguem em organizações religiosas diversificadas que tem por fim
preparar uma vida eterna para cada indivíduo (PEDD Mueda, 2012). As seitas religiosas mais
conhecidas são agrupadas em 2 congregações nomeadamente, Cristã e Islâmica. A maior parte
da população do distrito de Mueda que não se encontra enquadrada num dos dois grupos das
congregações pratica a religião africana mais conhecida por Animista (op. cit).
4.1.7.1. Liderança tradicional
Segundo o PEDD (2012), a liderança tradicional, é assegurada pelos seguintes representantes do
poder ao nível das comunidades:
Chefe da Aldeia/ Secretário;
Chefe do bairro;
Chefe do quarteirão;
Chefe de clã Ancião;
Curandeiros;
Outras personalidades na comunidade são respeitadas e legitimadas pelo seu papel social,
cultural, económico e religioso. Na liderança tradicional existe uma espécie de divisão de
trabalho e de funções entre os diferentes líderes das comunidades. Assim, os Secretários têm hoje
como função principal a mobilização da comunidade para as tarefas sociais e económicas. Os
líderes tradicionais tratam principalmente dos aspectos tradicionais, tais como cerimónias, ritos e
conflitos sociais (PEDD Mueda, 2008).
53
CAPÍTULO V
5. INFLUÊNCIA DOS FACTORES SÓCIO-ECONÔMICOS E A RELAÇÃO
HISTÓRICA ENTRE A FRELIMO E O DISTRITO DE MUEDA NA
CONFIGURAÇÃO DO COMPORTAMENTO ELEITORAL EM MUEDA
Neste capítulo objectivamente vamos se concentrar em fazer uma análise em relação às
informações que obtivemos nas entrevistas realizadas no campo. Nesta perspectiva, vamos focar
diversos pontos, dentre eles destacamos: a questão do comportamento eleitoral aliada aos
factores sócio-econômicos ou seja a importância dos factores sócio-econômicos na configuração
e estruturação do comportamento eleitoral em Mueda; vamos ainda discutir o papel da ligação
histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na construção da identificação partidária do
eleitorado de Mueda e seguidamente vamos falar da inexistência de acções mobilizadoras dos
Partidos da Oposição. Mais ainda, iremos abordar a questão da abstenção eleitoral e a sua ligação
com os votos expressos a favor da FRELIMO.
Acreditamos que estes aspectos ajudaram a termos mais fundamento em relação ao nosso objecto
de estudo, e os resultados disso auxiliou para o estabelecimento duma base analítica mais sólida.
54
5.1. Comportamento Eleitoral em Mueda Vs. Factores Sócio-Econômicos
Nesta parte de trabalho, o nosso maior foco é explicar e argumentar como os factores sócio-
econômicos no distrito de Mueda, tem influenciado na construção do comportamento político
eleitoral em Mueda e olhar esses factores como sendo a causa sui generis da forma como tem-se
manifestado os eleitores do mesmo distrito de eleição para eleição.
Assim, partindo das colocações de Antunes (2008), quando ilustra em relação a corrente
psicológica para explicar o comportamento eleitoral, analisado a partir das expectativas, opiniões
e atitudes individuais dos eleitores, muita das vezes busca-se compreender o comportamento
político-eleitoral, dentro duma função da esfera social, na qual ocorre a socialização política ao
longo do tempo bem como o processo de percepção e análise em relação aos aspectos políticos,
económicos, sociais, culturais, etc (Idem, p. 21)70
.
Foram as várias inquietações a respeito das situações que acontecem hoje em dia no distrito
Mueda e tentamos mostrar como estes têm tentado estruturar o comportamento político-eleitoral.
De acordo com os dados do MAE (2005) e INE (2013) vê-se em termos estatísticos, claramente
existência de grandes problemas na ordem do dia. Problemas de índole económica, infra-
estruturas, saúde, água, energia, etc. que assolam um grosso modo do eleitorado de Mueda, como
por exemplo é o distrito da região de Província de Cabo Delgado, com agricultura não
mecanizada como a actividade económica principal, que devia ser uma agricultura com vista a
dar maior rendimento à população, mas o que se nota, é que os investimentos do governo distrital
estão longe de corresponder às expectativas da população71
e é um dos distritos da província com
graves carências de água na superfície e isso é visível pelo facto do sector de água enfrentar
inúmeros problemas e um pouco por todo distrito.
70
Antunes (2008). 71
É uma tese fundamentada tendo em conta os argumentos dos nossos entrevistados que declararam inúmeras vezes
que não viam claramente as acções do governo distrital, e muito menos em ajudar os camponeses a melhorar as suas
produções. Diferentemente ao que acontecia nos anos 80, onde os governos distritais eram responsáveis pela
mobilização de recursos para a produção massiva da população. Foram estes e outros discursos que nós deparamos
ao longo das nossas entrevistas no distrito de Mueda.
55
Mais ainda, de acordo com os dados do PEDD-Mueda (2012) os subsistemas existentes têm
avariado permanentemente e muitas aldeias não têm acesso a fontes de água melhorada (idem, p:
14).
Ora, no distrito de Mueda funcionam 3 pequenos sistemas de abastecimento de água. Para tal, as
populações que habitam na zona baixa, o abastecimento é realizado através de furos e poços. Em
muitas zonas, as populações vêem-se obrigados a consumir água imprópria (PEDD, 2012).
Outro problema esta relacionado ao sistema de fornecimento de energia eléctrica no distrito de
Mueda que carecem desde muito de reabilitação. Apesar de terem canalizado a rede de energia
eléctrica nacional (Cahora Bassa) somente um pequeno agregados familiar que usufrui72
.
Os problemas inerentes aos aspectos sócio-econômicos vão mais além. Pois há ainda grandes
problemas relativos as infra-estruturas, nomeadamente: estradas, pontes (MAE, 2005; INE,
2013) mas que paulatinamente estes problemas estão sendo resolvidos.
Um dos problema que mais afecta os cidadãos do distrito de Mueda, é a falta de Escolas que é
ilustrado na tabela 5 deste trabalho, onde avançam-se as informações segunda as quais em todo
distrito existem apenas 91 Escolas das quais (89 são do ensino primário do 1º e 2º nível e mais 2
Escolas Secundarias do 2º Grau). Estes dados que se apresentam são relativamente baixo tendo
em conta que a população total do distrito é estimada em 153. 80073
, na sua maioria jovens com
idade compreendida entre 11 a 18 anos de idade (INE, 2012).
Em relação ao serviço de saúde é um caso ainda crítico, visto que o distrito de Mueda tem 8
unidades sanitárias, que permitem o acesso gradual da população aos serviços da Saúde. Os
números são bastantes insuficientes para a cobertura média distrital, isto é, cada 1 unidade
sanitária esta para cada 22 mil pessoas; 1 cama por cada 1000 habitantes e 1 profissional técnico
para cada 2.600 residentes no distrito (MAE, 2005, PEDD, 2012).
72
Por exemplo, num total de 27, 343 agregados familiares, somente 114 famílias tem energia eléctrica nas suas
casas. 73
Fonte: INE – III Recenseamento Geral da População e Habitação 2007. (INE-estatística do distrito de Mueda,
2012) Estatística Distrital (Estatísticas do Distrito de Mueda) © 2012 Instituto Nacional de Estatística.
56
Assim, é relativamente importante ainda afincar que em relação aos problemas sócio-econômicos
que o distrito vive, e como estes tem reflectido na maneira como os eleitores tomam as suas
decisões políticas eleitorais, pode compreender-se de duas maneiras: temos um grupo pró (que
acredita que a FRELIMO tem feito alguma coisa e por via disso e por força do habito são
obrigados a votar na FRELIMO como forma de recompensar aquilo que a este partido tem feito
para eles) e temos outro grupo que afirma categoricamente o desagrado e o descontentamento da
governação e que ponderam mudar a sua forma de votar em caso de não se notar melhorias num
futuro muito breve.
Mais ainda, pensamos que é pertinente apresentar a trajectória histórica ou se quisermos a parte
da história de Mueda ligada a FRELIMO.
O distrito de Mueda permanece como uma ilustração do funcionamento do sistema colonial, das
suas contradições internas e da necessidade de violência que o Estado colonial tinha para se
manter quando já não era capaz de responder às pressões populares.
Neste contexto as primeiras reivindicações de independência nacional para todo Moçambique
começam nos finais da década de 50, do seculo XX, dentre outros grupos em diferentes pontos
do País, surge um grupo de camponeses macondes situados nos confins do território setentrional
de Cabo Delgado (Arquivo, 1993).
Ora, Adam (1993), explica que o processo de confrontação e fortalecimento das tropas no
planalto de Mueda começam também a partir de 1957, como forma de se precaver e tentar de
alguma forma antecipar o ambiente nacionalista acentuado pela independência de Tanzânia.
Foi neste contexto que nos finais da década de 50, do seculo XX, surgiu no planalto de Mueda o
movimento cooperativa Liguilanilu, composta por naturais locais que tinha como presidente:
Lázaro Nkavandame. Analisando o contexto, compreende-se que dentre outras razões, este
movimento surge como contestação das políticas coercivas de produção, de cultivo de plantas
(Adam, 1993).
Por exemplo, Adam (1993) mostra que o planalto de Mueda será sempre uma referência para
quem queira abordar sobre a temática relacionada a luta armada de libertação nacional, levada a
cabo pela FRELIMO, contra as tropas coloniais Portuguesas.
57
Deste modo o planalto constitui o que se pode designar por santuário dessa luta, que culminou
com a independência de Moçambique em 25 de Junho de 1975, e Mueda constitui-se como um
cenário importante da luta pela independência de Moçambique, que dentre outras figuras
proeminentes do distrito de Mueda que actualmente algumas delas são figuras influentes na
FRELIMO, destacam-se: Lázaro Nkavandame; Joaquim Alberto Chipande, Faustino Vanomba,
Raimundo Pachinuapa, João Namiba, Cornélio João Mandanda, Lago Lidhimo, entre outros
(idem).
Após o início da luta de libertação, muitos dos membros se refugiaram no interior do planalto,
quer nos centros da FRELIMO, quer nos locais independentes ou seja zonas libertadas (Adam,
1993).
Foi neste período em que a FRELIMO traçou estratégias, não só para proteger a população dos
ataques inimigos, mas também uma forma de organização de produção em moldes colectivos
(Adam, 1993). Contudo, a ideia de aldeias comunais parece ter a sua origem na experiencia
vivida nas chamadas zonas libertadas (algumas delas se encontravam em redor do distrito de
Mueda)74
, pois durante a luta armada de libertação nacional, para a FRELIMO estes tinham
constituído um modelo em termos de organização politica, económica, social (idem).
Nesta perspectiva, estes factores demostram o contexto em que ocorrem às dinâmicas do
comportamento político eleitoral no distrito de Mueda sobretudo a persistência e a lealdade do
eleitorado a favor da FRELIMO nas eleições de 1994 a 2009. Todavia, é de caracter importante
sustentar que os factores que explicam o comportamento político eleitoral (oque leva com que
alguns grupos da sociedade votem duma certa forma) são vários, mas para o presente estudo
estes são os elementos que identificamos no contexto de Mueda e se apresentam mais fortes ao
ponto de relegar para um segundo plano os factores sócio-económicos que também influenciam
de alguma forma na estruturação do comportamento político eleitoral em Mueda.
Assim, apresentamos alguns resultados das entrevistas realizadas com os eleitores de Mueda,
onde um dos entrevistados disse o seguinte:
… Apesar de reconhecer as dificuldades que muitos de nós aqui em Mueda vivemos, sobretudo a falta de
transporte, problemas de água, não termos energia e sermos esquecidos pela FRELIMO, nós ainda
74
Sobre o conceito Zonas libertadas, consulte FRELIMO, Rumo ao Socialismo, 3º Congresso, Maputo, p: 21.
58
confiamos. Mesmo com o fraco fornecimento de serviços básicos, como saúde, escolas, estradas, nós
sabemos que a FRELIMO tem feito muito para nós, pois a FRELIMO tem nós ajudado e sempre esteve
connosco desde a luta pela independência. Tudo que tenho é por causa da FRELIMO, por isso vou votar
sempre na FRELIMO e vou falar para meus filhos votarem na FRELIMO, pois nós ajuda, é nosso pai e
nasceu e cresceu aqui em Mueda…75
Ainda outro entrevistado explicou que:
… O País é grande e a FRELIMO não pode conseguir atender a todos e todas as coisas de uma única
vez. Sabemos ainda que para a construção de um País não é necessariamente insultar os governantes,
mas sim pedindo duma boa forma, e aí daremos tempo dos governantes reflectirem e resolverem os nosso
problemas e ajudar-nos naquilo que tem sido as nossas prioridades, e quando resolvem nossas
prioridades temos de votar neles porque merecem confiança…76
Perante estas palavras, compreendemos que apesar dos problemas que o distrito de Mueda vive,
o eleitorado vota persistentemente no partido no Poder, neste caso a FRELIMO, embora existam
tendências de mudança do status quo em Mueda.
Uma situação a salientar é o facto de constatarmos a existência de problemas sócio-econômicos,
mas fazendo uma análise profunda, percebe-se que estes não influenciam na forma como se
estrutura o comportamento político eleitoral em Mueda.
Isto é, apesar da insuficiência dos serviços relativamente básicos, os eleitores de Mueda
continuam leais e persistem em votar na FRELIMO. Isto é, no contexto de Mueda não se trata
necessariamente daquelas situações em que os eleitores fazem uma análise instrumental do valor
do seu voto (custo e benefício) em Mueda, mas uma situação em que votar na FRELIMO
constituiu um hábito e por via disso nasceu o comprometimento, que são condições sine qua non
para o nascimento e fortalecimento da lealdade partidária. Todavia, o voto a favor da FRELIMO
ou a persistência do eleitorado a favor da FRELIMO nesta perspectiva assemelha-se a uma
recompensa ou agradecimento por tudo que a FRELIMO tem feito naquele distrito, ou seja, pelo
facto do governo da FRELIMO prover alguns serviços mínimos então existentes, os eleitores de
Mueda sentem a necessidade de agradecer, e isso o fazem votando persistentemente na
FRELIMO.
75
Anónimo; Técnico na Administração distrital., Entrevistado em Mueda-Sede., 01 de Outubro de 2013. 76
Anónimo; Negociante. Entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
59
Seguidamente têm eleitores que não compactuavam com a ideia de votar na FRELIMO como
sinónimo de recompensa. São aqueles eleitores como explicamos anteriormente, que
ponderavam a mudança da forma de votar e de ver os processos políticos, bem como a sua
participação na política caso estes problemas prevalecessem por muito tempo. E isso é ilustrado
pelas palavras dum dos entrevistados:
.... A FRELIMO aqui em Mueda tem apoio, a FRELIMO aqui vai ganhar, e sempre votou-se na
FRELIMO, porque a FRELIMO apoia mesmo que seja de uma forma mínima. Sabemos que não satisfaz
todas coisas mas o mínimo faz, e nós não queremos o mínimo, nós aqui em Mueda por sermos filhos
próprios da FRELIMO eles deviam fazer muito mais. Hoje sabemos que o distrito de Mueda já é vasta e
tudo isso é por causa da FRELIMO. Aqui em Mueda não temos empresas e nem entidades como nos
outros distritos e é a FRELIMO que nós ajuda. Mas não ajuda muito, faz pouco. Muitos jovens já estão
revoltados, se a FRELIMO continuar a fazer somente poucas coisas vai perder um dia aqui em Mueda ou
as pessoas não irão votar…77
.
Neste contexto, compreendemos que apesar dos eleitores reconhecerem o papel que a FRELIMO
enquanto partido que faz a gestão da Rés pública desembrenha no progresso ou ate
desenvolvimento do distrito, os eleitores de Mueda querem mais, pois essa é a lei universal da
vida78
, e isso demonstra que os eleitores reconhecem que os problemas são maiores e que o facto
de votar continuamente na FRELIMO deixa este partido numa situação de relaxamento e
consequência disso não faz muito esforço com vista a resolução dos grandes problemas da ordem
do dia que assolam a comunidade de Mueda, ou seja, não tem feito quase nada para continuar a
ganhar simpatia e proximidade do eleitorado de Mueda.
Por outro lado, tendo em conta as palavras dos entrevistados, compreendemos que este cenário
poderá levar há uma situação em que se um dos partidos da oposição conseguir mobilizar um
grupo de apoiantes no distrito de Mueda e consequentemente conseguir simpatia no eleitorado de
Mueda, a forma de votar e a configuração do comportamento eleitoral em Mueda se transfigure
num outro sentido.
77
Horácio Ntchanhenga; pensionista; Entrevistado em Mueda no dia 02 de Outubro de 2013. 78
O homem sempre quer mais em detrimento dos outros, o egoísmo (vide: Thomas Hobbes, O Leviatã)
60
5.2. O Papel da ligação histórica entre à FRELIMO e o Distrito de Mueda na
Construção da Identificação Partidária do Eleitorado de Mueda
Na nossa concepção tendo em conta as colocações de Freire (2001: 45-46) o voto implica mais
do que uma escolha, pois é o reflexo do processo de adesão duma determinada situação ou a
causa, relacionado ao contexto sociocultural, económico, social em que estão inseridos
indivíduos e grupos. Para tal, votar significa expressar a adesão ou o posicionamento político do
eleitor de acordo com a ideia que ele possui acerca do campo político e o “local” que pretende e
ocupa em tal espaço (idem). Na mesma perspectiva, se o voto ou escolha é uma decisão, seja ela
individual ou coletiva, tomada com base em certos critérios e em um determinado momento, a
identificação é um processo que vai comprometendo o indivíduo, ou a família, ou alguma outra
unidade social significativa ao longo do tempo, para além do tempo da política79
(Idem).
Partindo do pressuposto de que a identificação partidária é a possível relação que pode se
estabelecer em função da lealdade, confiança e vínculos tradicionais com um certo partido ou
com o candidato. Podemos compreender que grosso modo do eleitorado de Mueda nas diversas
formas de fazer as suas escolhas políticas eleitorais, estão sempre presente os pressupostos ou
alguns elementos da identificação partidária. E isso é demostrado nas palavras dum dos
entrevistados:
… Nós aqui em Mueda somos unidos, não há nenhum outro partido além da FRELIMO que possa
arrancar as nossas raízes, porque confiamos e vamos confiar até a nossa morte. Nós aqui em Mueda,
parece que já consumimos o sangue da FRELIMO e não podemos largar. Nós somos próprios da
FRELIMO, nós somos a FRELIMO, e a FRELIMO nasce aqui e não podemos largar. A FRELIMO somos
nós, todos aqui em Mueda. Mueda são próprios da FRELIMO, e somos filhos da FRELIMO e estamos
crescendo com a FRELIMO. Nós achamos que gozamos da bênção da FRELIMO e o partido sensibilizou
muito este distrito, por isso achamos que somos primeiros filhos da FRELIMO, pois foi aqui onde
ganhou os primeiros apoiantes…80
Aqui, percebemos que a questão da lealdade é aplicável no contexto de Mueda; Mas está
lealdade deve ser associada a duas situações (comprometimento e o hábito).
79
Aplicamos o termo (tempo da política), para significar necessariamente o tempo do processo eleitoral, o tempo
das visitas governamentais, o caso das visitas abertas do Presidente da Republica, etc. 80
Félix Luís; Antigo combatente e pensionista., entrevistado em Mueda, no dia 05 de Outubro de 2013.
61
Assim, um número considerável de eleitores de Mueda, sentem estar comprometidos com a
FRELIMO e votar contra este partido significaria necessariamente uma traição, ou seja, o
comprometimento nos remete à ideia de compromisso e não votar na FRELIMO implica faltar a
palavra ou não executar o compromisso. Por isso eleição após eleição, um grosso modo do
eleitorado de Mueda sente-se auto obrigado e coagido por diversas razões a votar na FRELIMO,
como podemos ilustrar a entrevista a baixo:
… Os líderes comunitários aqui em Mueda são a base para a destruição dos partidos da oposição, não
deixam intervenção dos partidos da oposição aqui em Mueda e a nossa decisão de quem votar depende
muito deles. Pois somos unidos, e quem votar contra oque os líderes comunitários dizem é mandado
embora deste distrito ou da localidade…81
Em relação ao hábito, percebemos que o eleitorado de Mueda na sua maioria vota na FRELIMO
como sinónimo do hábito. E isso é ilustrado com um dos nossos entrevistados:
… Eu e muitos outros colegas do bairro votamos na FRELIMO porque já estamos habituados. Não
podemos trocar de partido, isso seria ofender a nós mesmos. Eu não posso votar contra a FRELIMO, já
estou habituada a ela. Desde que nasci, muito antes de conhecer mulher, já conhecia a FRELIMO, pois
ela lutou e libertou o País. Desde a juventude vivo a partir da FRELIMO e assim vai custar largar este
partido que amo. O meu hábito a FRELIMO não é porque dá-me dinheiro, mas sim porque gosto e
confio, confio muito este partido, e sou fiel a ele …82
A identificação partidária pode estar aliada a falta de alternativas ou talvez produto directo das
influências da comunidade ou tradição familiar e isso que pode ser potenciado pelas relações de
lealdade estabelecidas e gosto por um certo partido. Para tal, ao longo duma das entrevistas com
um dos eleitores, disse que:
… Aqui em Mueda, poderá ser difícil largar-se a FRELIMO, pois nós não vimos nenhum outro partido
aqui em Mueda, ou seja não existem. Isso não significa que os partidos da oposição são proibidos de
chegar aqui, ou são proibidos de instalar sua sede e exercer suas actividades livremente, oque acontece é
que eles sabem da história da FRELIMO aqui em Mueda, então os partidos sentem que não terão espaço,
e só aparecem em momentos de campanha e não são muitos partidos, é um ou dois partidos.
81
Idem. 82
Anónimo; professor, entrevistado em Mueda no dia 01 de Outubro de 2013.
62
Também não vamos largar a FRELIMO porque para nós de Mueda é como nosso pai, nossa mãe e nosso
filho. Não podemos trocar por nada…83
Porém, identificação do eleitorado de Mueda ao partido FRELIMO pode estar associada também
um comportamento eleitoral personalizado que nasceu pela confiança e lealdade que os eleitores
têm com o partido. E esta situação pode ter fundamentos na ideia de que das diversas formas de
identificação partidária, o principal aspecto para efectivação da identificação é a confiança. Isso
que quase a totalidade dos eleitores entrevistados afirmaram que confiavam levianamente na
FRELIMO e que os chefes locais ou tradicionais desempenhavam um papel preponderante na
socialização e mobilização quase total do eleitorado de Mueda em votar na FRELIMO, como
ilustra nosso entrevistado:
… Eu voto na FRELIMO, fielmente porque confio e acho que deve ser assim aqui em Mueda e em todo
País. A FRELIMO lutou por muito tempo. Por exemplo no tempo da guerra de independência, a guerra
contra a Renamo, e eles não tinham nenhum salário e sem recompensa, então eu acho que tenho de votar
na FRELIMO, como forma de pagar o sofrimento que a FRELIMO passou. E os chefes ou autoridades
tradicionais aqui em Mueda também nos chamam atenção para votarmos na FRELIMO e não em outro
partido, pois os chefes são da FRELIMO…84
Um aspecto importante nas características da identificação partidária é meramente a
identificação grupal tradicional. Esta que comporta aspectos como: voto definido em função de
identificação com um certo grupo de referência (grupo étnico, comunidade religiosa, categoria
profissional, género, região). Para o caso do eleitorado do distrito de Mueda, compreendemos
que a identificação partidária que se associa as categorias que demostramos acima, é a
identificação com o grupo de pertença regional e étnica aliada a confiança. Isso pode ser
demostrado tendo em conta uma as palavras dum dos nossos entrevistadas:
… A minha confiança com a FRELIMO é porque aqui na região de Mueda, aqui no planalto de Mueda
quase todos falam da FRELIMO e dizem muita das vezes que ela nasceu aqui em Mueda e que devemos
muito a FRELIMO, por isso tenho de ser da FRELIMO e votar sempre na FRELIMO. É o partido que
está mais próximo, nasceu aqui, e todos falam da FRELIMO… a nossa geração que têm (+ 40 anos) vai
83
Anónimo; Carpinteiro e pensionista; entrevistado em Mueda Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. 84
Napalena Nkalipa, pensionista; entrevistado em Mueda-Namaua, no dia 06 de Outubro de 2013.
63
ser difícil deixarmos de votar na FRELIMO, tornará difícil, pois tudo sentimos na FRELIMO. A não ser
a geração dos jovens, estes até poderão votar contra a FRELIMO, não sei…85
Outro entrevistado afirmou o seguinte:
… Aqui em Mueda somos pobres, as coisas são caras e a FRELIMO não faz nada. Seria bom se construi-
se uma escola profissional. Sentimos que a FRELIMO nos esqueceu, mas é um distrito histórico e a
FRELIMO não nos ajuda… apesar dos problemas, vamos votar e eu sempre vou votar na FRELIMO,
porque é nossa, é nosso filho, e nos gostamos e confiamos, e estamos habituados com eles, só que tem de
melhorar. A FRELIMO nasce aqui em Mueda e não podemos trair…86
5.2.1. Inexistência de acções mobilizadoras dos Partidos da Oposição
Um dos pressupostos que levamos em conta ao analisarmos a persistência e a lealdade dos
eleitores de Mueda a favor da FRELIMO foi a tentativa de compreender também o papel dos
partidos da oposição no contexto de Mueda, ou seja, procurarmos perceber como os partidos da
oposição se fazem ou não sentir no contexto de Mueda. Portanto os pressupostos que
avançaremos neste subcapítulo vão sustentar a hipótese segunda a qual a oposição não existe ou
não se faz sentir em Mueda e esta situação pode ser a razão relativamente principal dos votos
quase absolutos a favor da FRELIMO em Mueda.87
Assim, como forma de demostrar estes argumentos recorremos as palavras dum dos nossos
entrevistados que afirmou o seguinte:
… Aqui em Mueda a oposição não existe, não se faz sentir e nenhum partido da oposição têm sede. A
maioria dos seus apoiantes já abandonaram os partidos da oposição porque não tem sede para as suas
reuniões e nem para debater outros assuntos importantes para o distrito de Mueda. A oposição aqui em
Mueda é uma pessoa, que é representante do partido mas sem um lugar fixo para saber-se que aqui
pertence ao partido Renamo ou MDM etc…88
Mais ainda outro nosso entrevistado disse o seguinte:
… Os partidos da oposição como PIMO, RENAMO, MDM, não existem aqui em Mueda. Só existem em
tempos de eleições. E também não tem objectivos e aparecem para enganar e mentir o povo, não
85
Anónimo, domestica; entrevistado em Mueda-Imbuho Sede, no dia 31 de Setembro de 2013. 86
Fabiano Nambavila, pensionista; entrevistado em Mueda-Miula, no dia 10 de Outubro de 2013. 87
Mais detalhes a respeito deste debate, visite a cartografia eleitoral no site: WWW. IESE. AC. MZ 88
Anónima, domestica; entrevistado em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.
64
mostram os objectivos que querem alcançar, por isso está sendo e será difícil votarmos na oposição…
Nos não conhecemos os partidos da oposição, e quando a oposição vem aqui em Mueda não convence,
enquanto a FRELIMO nos convence…89
Sobre o aspecto da regionalização do voto, um dos entrevistados foi mais longe e afirmou o
seguinte:
Aqui em Mueda o nosso principal partido é a FRELIMO. Aqui em Mueda vai ser difícil deixarmos a
FRELIMO, porque a oposição não se faz sentir muito e também não sabe convencer o povo. Só no centro
do Pais, a oposição pode convencer, pois a RENAMO, MDM nasceram lá. E aqui no Norte custa muito
agente largar a FRELIMO, pois este partido está aqui na zona desde os anos 60, no tempo da luta de
libertação…90
Assim, a partir destas palavras, percebemos que por um lado, a oposição é inexistente, ou seja,
existe disfuncionalmente. Somente em alguns momentos que se fazem sentir. Porém a política
não é feita somente em tempos de campanha ou em tempos de processos eleitoral, ela é feita
continuamente. É nesta perspectiva que entendemos que está é uma das razões que leva com que
maior parte do eleitorado de Mueda continue a votar na FRELIMO.
Por outro lado, percebemos que a questão não é só de não fazer-se sentir; Oque acontecido é que
os principais quadros destes partidos da oposição e muito menos os apoiantes dos mesmos
partidos não tem feito quase nada para ganhar a simpatia de alguns eleitores no distrito de
Mueda, simplesmente em momentos de campanha ou em processos eleitorais é que tem-se feito
presentes, e isso foi ilustrado com um dos entrevistados:
… Não vou confiar em nenhum outro partido além da FRELIMO, porque não conheço, ou seja é difícil
confiar numa coisa que não conhecemos… aqui no distrito as pessoas não conhecem os partidos, porque
não estão organizados, não tem objectivos, não fazem campanha e os seus dirigentes nunca chegam aqui
em Mueda… e eu gostaria que os partidos viessem aqui em Mueda, para haver concorrência, porque
assim poderia melhorar o distrito…91
89
Anónimo; Negociante, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 02 de Outubro de 2013. 90
Anónimo; Professor, entrevistado em Mueda-Litembo, no dia 01 de Outubro de 2013. 91
Anónimo, entrevista realizada em Mueda-Chapa Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
65
Com estas palavras percebemos que apesar da não existência quase efectiva dos partidos da
oposição ou fraca actuação dos mesmos partidos em Mueda, existem aqueles defensores da ideia
do multipartidarismo efectivo onde anseiam à existência de partidos se confrontando
políticamente e ideologicamente com vista a alastrar a sua base de apoio e consequentemente
conquista da máquina governamental. Razão disso, muitos jovens como sustentou um dos
entrevistados92
, estão à espera deste momento, pois se sentem injustiçados com a maneira da
gestão da coisa pública em Mueda e aguardam que alguma coisa melhore no seio do distrito93
.
Mais ainda, a existência dos partidos da oposição significaria para alguns dos nosso entrevistados
a mudança do foco e da forma como a FRELIMO tem tratado o distrito.
92
Os jovens no distrito de Mueda são tidos como sendo os defensores do MDM, e os eleitores com idade (40 +…),
vê isso como um perigo. Apesar de reconhecer que existem eleitores que dão enfase a ideia de que devem existir
outros partidos porque a FRELIMO esqueceu Mueda, e já não trás nenhum desenvolvimento. 93
Idem.
66
5.3. Abstenção eleitoral e a sua ligação com os votos expressos a favor da FRELIMO
Nesta parte do trabalho, vamos discutir os pressupostos segundo os quais, os números dos votos
que indicam 92%, 86%, 94% e 96%, nos pleitos de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, a
favor da FRELIMO no distrito de Mueda, que combinados com os factores históricos-estruturais
no contexto do presente trabalho preferimos chamar de persistência e lealdade do eleitorado a
favor da FRELIMO, não significam necessariamente que o eleitorado de Mueda no seu todo vota
vivamente na FRELIMO, mas sim que a participação política eleitoral no tocante a abstenção
eleitoral tem se registrado em grosso modo.
Assim, começamos a apresentar as colocações de Lipset (1959) segundo as quais, são vários
factores que concorrem para explicar a maior ou a menor participação em processos eleitorais. E
ele destaca três condições: em primeiro lugar é necessariamente o ponto de contacto que o
indivíduo mantém com a política governamental; Em segundo lugar o acesso a informação94
; Em
terceiro lugar a pressão social no sentido da votação bem como a existência de pressões
múltiplas. Em termos práticos, ao que tange a participação eleitoral, a identificação partidária
tem um impacto mobilizador, pois quanto mais forte é essa identificação, maior é o
envolvimento político dos cidadãos e também maior será a sua propensão para ir votar
(Campbell et al. 1960, pag. 128).
A identificação partidária desempenha um papel fundamental no processo por um lado, de
construção e consolidação das bases de apoio dos partidos, mas também desempenham um papel
importantíssimo para mobilizar as mesmas bases de apoio a se fazerem presente nas actividades
inerentes ao processo político-eleitoral. Isso pode ser constatado e sustentado, com base nas
palavras dum dos entrevistados:
… Eu sou da FRELIMO, vivo da FRELIMO, nasci com a FRELIMO e sempre vou votar, mesmo que caia
chuva vou na mesa de voto e votarei sempre na FRELIMO. Meu sangue corre FRELIMO e votar contra,
seria trair a mim mesmo… Nunca faltei em nenhuma reunião do partido, mesmo comícios, palestras aqui
no distrito de Mueda, eu sempre me faço presente. Porque eu amo e gosto este partido…95
Fundamentou ainda:
94
Se referimos necessariamente as informações de índole política ou seja que tem alguma ligação com a política
governamental. 95
Anónimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013.
67
… Antes do dia das eleições nós reunimos para se lembrar que somente devemos votar na FRELIMO.
Nos dias de eleições nós se convidamos um ao outro e todos nós votamos no mesmo partido que é a
FRELIMO. Pelo menos nós que temos participado nas reuniões…96
A votação que atinge na média os 90% a favor da FRELIMO não significa que o eleitorado no
seu todo votou taxativamente a favor da FRELIMO. Isso é ilustrado por um lado, pelos
resultados eleitorais (níveis de abstenção media em cada pleito eleitoral que analisamos)97
pois
nota-se que em cada pleito eleitoral, há uma tendência do eleitorado se distanciar da FRELIMO,
significando em última instância a fragilidade da lealdade e da persistência a favor da FRELIMO
no contexto de Mueda. Por outro lado, a votação acima dos 90% não pode ser vista como sendo
resultados que mostram uma votação quase na totalidade dos eleitores a favor da FRELIMO,
pois estes são percentagens dos eleitores que foram votar. Isso é confirmado pelas sensibilidades
e informações que obtivemos no processo das entrevistas com alguns dos eleitores que tivemos
oportunidade de dialogar com eles. Por exemplo um dos entrevistados fundamentou o seguinte:
… Nós jovens vamos parar de votar na FRELIMO, veja que somos desempregados, não temos condições
para conseguir emprego e a FRELIMO simplesmente esqueceu nosso distrito. Para mim, seria bom se
existisse oposição aqui em Mueda, para votarmos. Pois a geração dos nossos pais, avôs, vão morrer e
nós que iremos votar contra a FRELIMO. Estes mais velhos votam porque ganham pensões e nos não
ganhamos nada, não temos nenhum benefício pelo facto de votarmos na FRELIMO…98
Mais ainda, um outro entrevistado explicou que:
… Nós jovens já começamos a convidar- se para votar num outro partido ou deixar de votar nem na
FRELIMO e nem no outro partido. Mas também sabemos que os mais velhos vão continuar a votar
sempre na FRELIMO, logo isso significa não fizer nada…99
Com estas palavras compreende-se que os jovens acreditam ainda que os mais velhos sobretudo
(avôs, pais, etc), está geração poderá desaparecer e que eles enquanto estrato que constitui
sangue novo é que vão decidir o rumo dos acontecimentos num futuro próximo. A segunda
percepção é que a FRELIMO poderá continuar tendo os votos expressos acima dos 90% ao
menos ao que se refere os votos expressos a seu favor, visto que nos momentos de votação (dias
96
Idem. 97
É de capital importante demonstrar que nos quarto pleitos eleitorais, a média de abstenção no distrito de Mueda
foi de: 1994 (8%); 1999 (39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 98
Anónimo, desempregado, entrevista em Mueda-Mpeme, no dia 01 de Outubro de 2013. 99
Anónimo, desempregado, entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 03 de Outubro de 2013.
68
de votação) um número considerável de eleitores que são simpatizantes e se identificam com a
FRELIMO sobretudo pelas acções que a FRELIMO tem encaminhado, tem-se mobilizado e vão
em massa votar na FRELIMO, enquanto um grosso número de eleitores não se fazem presente
para a votação, ou seja, se abstêm 100
.
Encontramos discursos típicos das comunidades ou aglomerados que não tem nada a perder ao
afirmarem que tinha parado de ir votar nos últimos dois pleitos eleitorais porque não enxergavam
o rendimento de ir votar, mas claramente se faziam e sempre se fazem presente nos postos de
recenseamento, reconhecendo deste modo a importância cívica do recenseamento eleitoral, como
ilustrado com palavras do entrevistado:
… Sabemos que estamos em Mueda, uma terra em que a maioria vota na FRELIMO, em que quase todos
só falam da FRELIMO, e que o partido FRELIMO é amado e gostado nesta comunidade, mas algumas
pessoas que pensam como eu, e principalmente a camada jovem, não vê a vantagem de ir votar, ou seja,
oque tem acontecido é que nos vamos votar e os mais velhos é que vão comer, recebem as pensões e nos
não, passamos fome, nas nossas casas sem comida. Temos certificados de estudos, mas não temos
emprego, os certificados apodrecem nas nossas casas, não temos e não há emprego e solução é sentar
em casa, isolar-se do que os outros vão fazer nos dias de eleições…101
Outro dos entrevistado ainda enfatizou que:
… Quando é recenseamento, nós jovens somos os primeiros a ir para lá. Porque achamos que é
obrigatório e não podemos faltar…102
Como forma de ilustrar o debate a cima, apresentamos as médias dos votos expressos a
favor da FRELIMO e abstenção eleitoral nos pleitos de 1994 a 2009 no distrito de Mueda:
Tabela 8: Votos a favor da FRELIMO e a Média de abstenção eleitoral no distrito de
Mueda (1994 a 2009).
Eleições de: 1994 1999 2004 2009
Votos expressos a favor da FRELIMO 92% 86% 94% 96%
Abstenção em Mueda 8% 39% 53% 48%
100
A média de abstenção no contexto de Mueda nas eleições que nos propusemos analisar é de: 1994 (8%); 1999
(39%); 2004 (53%) e 2009 (48%). 101
Anónimo, Comerciante, entrevistado em Mueda-M’gapa, no dia 31 de Setembro de 2013. 102
Anónimo, carpinteiro e estudante, entrevistado em Mueda-Chapa, Lipelua, no dia 01 de Outubro de 2013.
69
Assim, subentende-se que a votação nos pleitos de 1994 a 2009, a favor da FRELIMO não
significa necessariamente que os eleitores de Mueda no seu todo votam na FRELIMO, mas sim
são números que dão significado e significância aos votos expressos, ou seja, votos na urna e que
na sua maioria pertencentes a um grupo de eleitores que se identifica com as políticas
governamentais e que acreditam tirar vantagens pelo facto de se fazerem presente as mesas de
voto e votar na FRELIMO. É de notar ainda que são inúmeras pessoas que não se fazem presente
nas respectivas mesas de voto alocadas para o efeito nos dias de votação, preferindo ficar em
suas casas, pois não encontram nenhum incremento pelo facto de irem votar. Esta situação é
justificada pela falta de oportunidades, que somente é favorável a uns em detrimento da maioria.
No contexto de Mueda, ao que se refere a abstenção eleitoral, nota-se uma tendência de
acréscimo, ou seja, em Mueda de eleições após eleições, nota-se que a participação política nos
processos eleitorais tem sido baixa, estando reservada há um grosso modo de eleitores que se
identificam pelo partido FRELIMO e das políticas governamentais, como foi ilustrado em alguns
depoimentos acima.
Isso mostra a tendência dos sectores mais excluídos da sociedade se distanciarem com os
processos políticos no seu todo, e em particular aos processos eleitorais, visto que não encontram
um incremento pelo acto de ir votar. Neste caso, deu-se o exemplo mais soante que é (a questão
das pensões para os antigos combatentes da luta de libertação). Esta pensão a jovem legalmente
não tem idade para recebê-la, visto que em termos legais é para aqueles veteranos de guerra (é
um subsídio para os que participaram na luta de libertação nacional.
Assim, são vários os pressupostos que podem explicar a abstenção eleitoral em Mueda, dentre
outros, destacamos a exclusão de alguns grupos nas relações socialmente construídas no dia-a-
dia; as filiações políticas e partidárias do eleitorado de Mueda; a desconfiança bem como o
esgotamento com o governo do dia; a influência que sofrem os eleitores que se abstêm nos seus
grupos de pertença bem como a sua condição sociopolítica, económica nos momentos
precedentes a ocorrência das eleições. Contudo, em Mueda a abstenção pode ser compreendida
como sendo uma medida em que os eleitores tomam pelo facto de estarem descontentados pelas
políticas e políticas governamentais e as más condições de vida em que maior parte do eleitorado
de Mueda se encontra.
70
CAPÍTULO VI
6.1. Acções Mobilizadoras da FRELIMO em Mueda e a sua ligação com o Papel dos
Líderes de Opinião na Construção do Comportamento Eleitoral
Esta é uma temática que se enquadra numa tentativa de explicar e demostrar o papel que as
acções mobilizadoras desempenham na construção do comportamento político e eleitoral bem
como a sua relevância na persistência e na lealdade dos eleitores de Mueda a favor da
FRELIMO. E vamos de alguma forma tentar demostrar tendo em conta as entrevistas que
realizamos no local de estudo.
Assim, partindo do pressuposto de que os líderes de opinião num processo político, muita das
vezes representam o sector da população mais activo com vista a participação e mobilização em
aspectos meramente políticos, e também são o centro mais decisivo no processo de formação das
atitudes e comportamentos sobre o voto e a política. E isto consubstancia-se com as colocações
de Pereira (2007)103
, quando discutiu o processo de formação de opinião pública.
Os líderes de opinião desempenham um papel extremamente importante no processo de
construção do comportamento político eleitoral em Mueda. E isso foi demostrado por um lado
pelas entrevistas que tivemos com os líderes da opinião, e por outro lado fundamentado pelos
próprios eleitores. Como inicialmente afincou um dos líderes de opinião:
… Nós líderes comunitários somos grandes mobilizadores da população, sempre chamamos atenção a
população para ir recensear, ir votar mas não influenciamos em que votar. Temos explicado ao povo
como devemos se comportar nos dias de votação, mas nunca dissemos a eles em que devem votar,
simplesmente explicamos como devem votar e aqui em Mueda existem rumores que nós influenciamos os
eleitores para votarem na FRELIMO…104
Estas palavras foram diversas vezes postas em causa, pois na opinião de muitos dos nossos
entrevistados/eleitores, os líderes de opinião eram mobilizadores sim, mas também que
representavam a FRELIMO, pois eram da FRELIMO e que faziam de tudo para destruir a
oposição. Como ilustrou o nosso entrevistado:
103
Mais detalhes veja em: Pereira, J. C. G. (2007). Onde que os eleitores Moçambicanos adquirem as suas
informações políticas. Artigo publicado pelo IESE, Conference Paper número 30. 104
Vítor Mbonda, Líder Comunitário, entrevistado em Mueda-Sede, no dia 31 de Setembro de 2013.
71
… Os líderes tradicionais ou comunitários na minha forma de perceber são os grandes mobilizadores
para votarmos na FRELIMO. São eles que vêm nos dizer quando teremos reunião no partido, eles dizem
quem devemos votar e também eles explicam que não queremos outro partido aqui no planalto de Mueda
para além da FRELIMO…105
Mais ainda, outros dos entrevistados demostraram sempre a mesma tendenciosidade, pois os
líderes de opinião claramente influenciavam na forma como eles votavam.
Ademais, o simples facto da comunidade não ter acesso por exemplo aos manifestos, a campanha
ser restrita a um ou dois partidos, etc, percebe-se que os líderes de opinião devem ter uma voz
activa no processo de construção das atitudes políticas e consequentemente na expressão do voto.
Está posição dá importância os líderes da opinião na construção do comportamento eleitoral, e a
influência que estes têm na determinação do voto num contexto específico.
Compreendemos que estas palavras do entrevistado englobam dois aspectos importantes: por um
lado, percebemos que os líderes de opinião em Mueda são a forma motora para a fragilização
quase total dos partidos da oposição ou da sua ineficiência e inexistência no contexto de Mueda,
por outro lado, compreende-se que os líderes de opinião fortificam a FRELIMO na base e são
eles que mobilizam os eleitores e dão indicações a forma como os eleitores devem votar e em
que votar.
Outra componente importante quando analisamos o papel dos líderes de opinião em Mueda na
construção das atitudes sociopolíticas e eleitorais. De acordo com um dos eleitores entrevistados:
… Os chefes de quarteirão, os chefes do bairro, as autoridades tradicionais, são os responsáveis pela
mobilização e participação das reuniões, comícios tanto o partido FRELIMO assim como do governo.
Muitas das vezes nós percebemos ou distinguimos as reuniões com o símbolo (bandeira).
Quando a reunião é do partido FRELIMO, o líder comunitário anda de casa em casa com a bandeira da
FRELIMO e também no local da reunião ou comício colocam a bandeira da FRELIMO. Quando a
reunião é do governo ele anda com a bandeira do governo e também no local da reunião colocam a
bandeira do Governo…106
105
Anónimo; entrevistado em: 02 de Outubro de 2013. 106
Anónimo, entrevistado em: 01 de Outubro de 2013.
72
Está estratégia é de vangloriar, pois a partir destas distinções a população consegue distinguir o
tipo de reunião que será realizada e quem convocou, se é o partido ou o governo, apesar de
saber-se que não tem existido tanta rigorosidade nestas distinções como nos explicou o mesmo
do entrevistado:
… Neste distrito de Mueda, os líderes comunitários só falam da FRELIMO, não falam nem do governo
nem de outros partidos, só da FRELIMO. Por exemplo, dizem: a FRELIMO que fez escolas, hospitais,
trouxe água, portanto devemos votar nela. Mas também os líderes ocupam cargos no partido FRELIMO
aqui no distrito e para mim é um alargamento da FRELIMO e estão a controlar-nos… mesmo que nos
chamem nos comícios do governo com bandeira do governo ou identificados com roupa e bandeira do
Governo, nos sabemos que são da FRELIMO…107
Os líderes de opinião em Mueda desempenham um papel considerável na construção do
comportamento político eleitoral, este por sua vez intencional, pois têm como pressupostos bases
influênciar aos eleitores a quem devem votar. Mais ainda é importância reconhecer o papel que
esta camada desempenha no processo de consciencialização política no seu todo, que todo o
cidadão tem de participar nos processos políticos eleitorais. E esta liderança tradicional tem feito
um papel importantíssimo na mobilização e na divulgação das informações à população para se
fazerem presente em comícios, reuniões, nos recenseamentos, no dia de eleições, etc.
Há uma situação que nos foi relatada com um dos entrevistados:
… Aqui em Mueda, quando termina o recenseamento, os líderes comunitários marcam reuniões nas
escolas para levarmos os nossos cartões de eleitores para irem carimbar e ai nos informam que devemos
votar na FRELIMO, porque aquilo é confirmação de que vamos votar na FRELIMO. Mesmo este ano
(em Junho de 2013), pediram os nossos cartões para carimbar; E também eles fazem campanha para a
FRELIMO no período de campanha eleitoral…108
Estas palavras são importantes para compreender as diversas formas de mobilização, pois os
líderes de opinião no distrito de Mueda tem feito de tudo com vista a controlar o eleitorado de
Mueda e mobilizar de todas maneiras para votar na FRELIMO. Por via disso, tem-se cometido
muitas e diversificadas irregularidades como forma de ampliar a base de apoio da FRELIMO em
Mueda.
107
Idem. 108
Anónimo, entrevistado em: 03 de Outubro de 2013.
73
Estas irregularidades que não tem nenhum suporte legal na legislação eleitoral em vigor109
. O
exemplo que encontramos á a questão da obrigatoriedade que os eleitores de Mueda estão
sujeitos a levar os cartões nas células/estruturas da FRELIMO com vista a carimbar, que
significa puramente violação da periodicidade fixa do recenseamento e a devida consulta dos
cadernos eleitorais. Com esta prática, muitos eleitores compreendem que o simples facto de
deixar os seus cartões de eleitores ou seus nomes em algumas listas pertencentes ao partido
FRELIMO após o fim do período legal/normal do recenseamento significa um comprovativo de
que vão votar no mesmo partido.
109
Se referimos necessariamente à Lei Eleitoral: 5/2013- lei sobre o recenseamento eleitoral.
74
6.2. O impacto das Acções mobilizadoras na decisão do voto em Mueda
Nesta componente do trabalho, o principal objectivo é demostrar como as acções mobilizadoras
(campanhas eleitorais, mobilizações dos partidos políticos, comícios, reuniões, etc) influenciam
na forma como os eleitores de Mueda fazem as suas escolhas políticas eleitorais.
Assim, no distrito de Mueda um dos pontos que conseguimos denotar é a fraca mobilização do
eleitorado, ou seja, o eleitorado pouco ou quase nunca é mobilizado pelos partidos. E esta
situação ficou a cargo das chefaturas tradicionais. Mais ainda a ínfima mobilização política nota-
se em períodos de campanha eleitoral, quer dizer quando está próximo aos processos eleitorais.
Como afirmou um dos entrevistados:
… A FRELIMO só nos quer quando é tempo de eleições, após isto desaparece, nós esquece. Só faz duas
coisas ou três coisas durante os próximos cinco anos e quando chega no período de campanha, dizem:
nos fizemos esta estrada, nos construímos poços e nos ficamos felizes e votamos na FRELIMO
novamente. Mas eles têm de vir sempre aqui em Mueda, vir ouvir nossos problemas e tentar resolver.
Mas não fazem isso…110
Nessa perspectiva compreendemos que os partidos políticos e até a FRELIMO dificilmente se
fazem presente em Mueda. Para a FRELIMO, sai em vantagem graças as estruturas locais que
estão ao seu serviço e do governo. Por via disso conseguem fazer-se sentir. Enquanto para os
partidos da oposição a sua visibilidade fica ainda mais complicada pelo facto de por um lado,
não terem sede e nem ter representantes e por outro lado, o facto dos principais dirigentes destes
partidos não se fazerem presente ou chegam em Mueda111
.
Ademais, no distrito de Mueda tendo em conta as entrevistas realizadas, as campanhas eleitorais
apesar de serem de 1 ou 2 partidos têm um papel importante para sensibilizar e cativar o
eleitorado nas matérias inerentes ao processo político eleitoral. Em seguida demostramos como o
nosso entrevistado abordou sobre o assunto:
110
Anónimo., desempregado, entrevista realizada no dia 01 de Outubro de 2013. 111
Nesta componente, compreendemos que os dirigentes dos partidos da oposição podem não chegar em Mueda
pelo facto de evitar represálias e repreensão da comunidade local, e isso pode de facto encontrar uma explicação na
conjuntura política e histórica entre o distrito de Mueda, o partido FRELIMO e a sua relação com os partidos da
oposição.
75
… As campanhas podem fazer a FRELIMO permanecer no poder, porque é uma forma de cativar ou
recordar o povo o que a FRELIMO é e oque ela foi… e também é importante que o eleitor seja
aproximado e atendido da mesma forma como no tempo de campanha. Aqui em Mueda no tempo de
campanha chegavam carros, visitas frequentes de ministros, mas após às eleições abandonam o nosso
distrito…112
Disse ainda que:
… As campanhas são para consolidar a população a conhecer os seus direitos e também saber escolher
indivíduos da sua vontade e não pela obrigação…113
Em relação as formas como o eleitorado de Mueda tem-se informado sobre os diversos feitos do
Pais, muitos deles afirmaram que não o tinham lido nem se quer uma vez o manifesto eleitoral e
que dificilmente acompanhavam o debate político nacional, por isso davam maior confiança aos
líderes comunitários em Mueda:
… Nós confiamos os líderes comunitários porque eles informam-nos sobre coisas que acontecem no País.
Aqui em Mueda muitos não têm televisão e não leem jornal, então os líderes comunitários é que nós
informa… Por isso confiamos neles. São eles que no comunicam diversos assuntos daqui em Mueda e do
Pais. Quando o partido FRELIMO ou o governo quer informar algo, fala com os líderes comunitários e
eles vem nós informar de casa em casa...114
Com estas palavras, percebemos que os líderes de opinião desempenham um papel
preponderante no processo de construção do comportamento político-eleitoral em Mueda.
Apesar de reconhecer-se o papel destes, não deixamos de fora a possibilidade dum número
considerável de eleitores de Mueda não dar aval oque estes representantes de base do povo têm-
lhes informado no dia-pós-dia. Pois se isso não acontece-se em Mueda, não poderiam existir
divergências em relação o que alguns eleitores neste estudo demostraram e por outro lado o que
os líderes de opinião afirmaram neste estudo é muito contraditório.
Mais ainda, apesar da dimensão importante do papel dos líderes de opinião na mobilização da
população nas diversas vertentes, compreendemos duas assunções:
112
Anónimo, líder religioso. Entrevista realizada em Mueda- Sede, no dia 01 de Outubro de 2013. 113
Idem. 114
Anónimo; Pensionista. Entrevista realizada em Mueda-Sede, no dia 13 de Outubro de 2013.
76
A primeira é que o líder de opinião tem tido um papel preponderante na mobilização da
população com vista a sua participação nas diversas componentes da participação política
eleitoral e isso claramente foi confirmado por alguns dos entrevistados e no contacto feito aos
próprios líderes de opinião.
A segunda assunção é que muitos dos eleitores que entrevistamos, demonstraram que a liderança
tradicional, os chefes do bairro e diversas componentes na liderança da estrutura da comunidade,
muito que fazem é destruir outros partidos além da FRELIMO e mobilizam em forma de
comunicados e informações quase à totalidade da população de Mueda para votar
constantemente na FRELIMO, consequentemente os eleitores persistentemente estarem ligados e
leais ao partido FRELIMO.
77
CAPÍTULO VII
7. CONCLUSÕES
O trabalho desenvolvido ao longo dos capítulos anteriores tinha como objectivo analisar a
lealdade e a persistênte do eleitorado do distrito de Mueda a favor do partido FRELIMO, nas
eleições de 1994 até as eleições de 2009 e desenvolveu-se em conformidade com a seguinte
pergunta de partida: quais são as razões que explicam a persistência e a lealdade dos eleitores do
distrito de Mueda a favor da FRELIMO? E porque permanece a crença do voto a favor deste
partido, no eleitorado de Mueda?
Para a análise do objecto de estudo do trabalho, usou-se a teoria da lealdade partidária secundada
com as diversas teorias sobre o comportamento eleitoral: a teoria sociológica, psicossociológica,
a racional e a identidade partidária. Usamos também o método dedutivo, bem como o método de
estudo de caso. Mais ainda, à abordagem de colheita de dados foi eminentemente qualitativa
auxiliada pela abordagem quantitativa, bem como, usamos a técnica não probabilística de
amostragem intencional auxiliada pela técnica de bola de neve.
Como tal, partimos do pressuposto de que a persistência e a lealdade do eleitorado a favor da
FRELIMO em Mueda no período em que analisamos é resultado da ligação histórica existente
entre a FRELIMO e o distrito de Mueda bem como pelas vivências históricas e os valores
colectivos que estão enraizados dentro colectividade que são transmitidos de geração em
geração. Assim, ao procurarmos identificar a razão da persistência e da lealdade do eleitorado de
Mueda, compreendemos que dentre outras razões, é pelo facto dos eleitores confiarem
profundamente na FRELIMO e não ter alternativas nas suas escolhas eleitorais, aliado a
inexistência quiçá não funcionamento dos partidos da oposição em Mueda.
Ora, o estudo sobre o comportamento eleitoral no seu todo e especificamente para o caso de
Mueda, não pode ser compreendido duma forma generalizada pois este deve ser considerado em
seu contexto específico de análise e suas diversas singularidades, ou seja, deve-se compreender
que há um conjunto de factores estruturais e conjunturais que influenciam o simples acto de
votar no contexto de Mueda.
78
Por isso, os resultados de uma eleição em Mueda reflectem necessariamente um determinado
momento e situação singular do momento e espaço político em que ocorre a eleição.
Os resultados do trabalho nos ajudam a concluir que apesar da ineficiência da governação, pouco
ou quase inexistentes serviços públicos básicos, bem como falta de oportunidades de emprego, a
razão da persistência do eleitorado em votar na FRELIMO está associado ao hábito e por via
disso nasceu o comprometimento que são as balizas para a consolidação da lealdade partidária.
Mais ainda, da analise feita dos dados obtidos ao longo do trabalho, podemos de forma detalhada
concluir que:
1º O voto leal e a persistência do eleitorado do distrito de Mueda a favor da FRELIMO é
resultado directo da simpatia histórica que existe entre o partido FRELIMO e o distrito de
Mueda, por via disso, elementos como a socialização política bem como as acções mobilizadoras
da FRELIMO a partir dos líderes de opinião, desempenha um papel crucial na estruturação do
comportamento político eleitoral em Mueda. Isso leva com que na decisão sobre quem votar, à
análise retrospectiva do desempenho e os feitos do governo na legislatura que antecede as
eleições sejam afastados para um segundo plano. Nestes moldes, o voto do eleitorado de Mueda
é sinónimo de retribuição por tudo que a FRELIMO têm feito naquele distrito.
2º Em relação a identificação ou lealdade partidária do eleitorado a favor da FRELIMO no
distrito de Mueda e as acções mobilizadoras da FRELIMO, compreendemos por um lado que a
lealdade ou identificação partidária do eleitorado está relacionado com comportamento político
eleitoral personalizado dos eleitores, que nasceu da confiança que os eleitores têm com o partido
FRELIMO. Por outro lado, esta situação é consolidada pelos diversos mecanismos de
sensibilização e as acções mobilizadoras que a FRELIMO usa ou aplica, sobretudo usando o
papel preponderante dos chefes locais ou tradicionais.
Assim, chegamos a conclusão que os chefes locais desempenham um papel fundamental quer na
sensibilização política bem como na alienação da totalmente do eleitorado de Mueda a favor da
FRELIMO, ou seja, nesta última componente compreende-se que os chefes locais ou tradicionais
são mobilizadores por excelência (são eles responsáveis a dar informações a população, são eles
que mobilizam a população a fazer-se presente em comícios, reuniões, etc, e em quase todo
processo político-eleitoral).
79
Nesta perspectiva, a liderança comunitária desempenha um papel preponderante na
consciencialização do processo político no seu todo, por outro lado, está liderança representa a
FRELIMO nos escalões de base e que tem feito de tudo para destruir, fazer desaparecer os
partidos da oposição no distrito de Mueda.
3º Os números percentuais que apontam uma votação a favor da FRELIMO em: 92%, 86%, 94%
e 96%, nas eleições gerais de 1994, 1999, 2004 e 2009 respectivamente, não significam
meramente que os eleitores de Mueda no seu todo votam a favor da FRELIMO, mas sim deve
entender-se que uma parte do eleitorado pró-FRELIMO (eleitores simpatizantes e que se
identificam com e pelas acções da FRELIMO) tem-se mobilizado para votar na FRELIMO e por
via disso fazem-se quase todos presentes no dia de eleições e votam em coro a favor da
FRELIMO.
Por outro lado, existe um número considerável de eleitores de Mueda que não vão votar como
consequência da má governação, falta de serviços mínimos para a população, ilustrados nas
tabelas 3, 4, 5 do presente trabalho e sobretudo falta de oportunidades de emprego para muitos
cidadãos de Mueda, como evidenciaram alguns eleitores entrevistados cuja as revelações podem
ser encontradas ao longo do trabalho.
Por último, tendo como base os pressupostos da teoria da lealdade partidária, igualmente
concluímos que as dinâmicas do eleitorado de Mueda e a sua relação com a FRELIMO
evidenciam os fundamentos da teoria da lealdade partidária que foram avançados no quadro
teórico do presente trabalho, onde nota-se uma relações de comprometimento e compromisso
provindas quiçá do hábito entre o partido FRELIMO, que neste caso é (produto normal) e os
eleitores de Mueda (seus compradores leais).
Contudo, os elementos que figuram nos factores mais determinantes do voto em Mueda, tendo
em conta as diferentes colocações acima, destacamos: à influência que os eleitores sofrem no seu
contexto político (cultura politica) e social (grupo de pertença em que o eleitor está inserido); à
influência dos líderes de opinião (na estruturação do comportamento politico eleitoral), cujos
estes líderes de opinião são favoráveis ao partido FRELIMO, aliás que pertencem as estruturas
do partido FRELIMO; as percepções e motivações que os eleitores possuem em relação o partido
FRELIMO (a questão da confiança, o comprometimento, hábito) que se denota no seio do
80
eleitorado do distrito de Mueda; o papel da identificação política grupal (pelo facto de alguns
dirigentes históricos serem oriundos do distrito de Mueda, deste modo se sentem representados
na governação) e a ligação histórica existente entre Mueda e o partido FRELIMO que também
desempenha um papel fulcral na estruturação do comportamento eleitoral e sobretudo no voto.
81
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Acesso no dia 3 de Setembro de 2013.
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ANEXOS
86
Anexos 1
Lista de Pessoas Entrevistadas
Nome do Entrevistado Actividade que
exerce/Profissão
Local das
Entrevistas
Data
Anónimo Técnico na
Administração distrital
Mueda-Sede 01 de Outubro de 2013
Anónima Desempregada Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013
Anónimo Chefe do bairro Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013
Anónimo Camponês Mueda-M’gapa 31 de Setembro de 2013
Bernardo Akuseka Pensionista Mueda-Sede 13 de Outubro de 2013
Anónimo Negociante Mueda-Sede 02 de Outubro de 2013
Anónima Pensionista Mueda-Imbuho 31 de Setembro de 2013
Fabiano Nambavila Pensionista Mueda-Miula 10 de Outubro de 2013
Horácio Ntchanhenga Pensionista Mueda-Sede 02 de Outubro de 2013
Issufo Abdulahi Líder religioso Mueda-Sede 01 de Outubro de 2013
Anónimo Professor Mueda-Litembo 01 de Outubro de 2013
Anónimo Carpinteiro e Estudante Mueda-Chapa 01 de Outubro de 2013
Anónimo Desempregado Mueda-Mpeme 01 de Outubro de 2013
Anónimo Negociante Mueda-Chapa 31 de Setembro de 2013
Nkume Manuel Carpinteiro e
pensionista
Mueda Sede 01 de Outubro de 2013
Napalena Nkalipa Pensionista e chefe da
localidade
Mueda-Namaua 06 de Outubro de 2013
Vítor Mbonda Líder Comunitário Mueda-Sede 31 de Setembro de 2013
Anónimo Professor Mueda-M’gapa 01 e Outubro de 2013
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Anexo 2: Guião de Entrevistas
Guião de entrevistas
LÍDERES DE OPINIÃO
Perfil do entrevistado:
Nome do Entrevistado:
Local:
Data: Hora de Inicio: Hora de Termino:
Este guião de entrevistas enquadra-se numa pesquisa académica, e visa obter
conhecimento complementares sobre a persistência e a lealdade dos eleitores de
Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994 à 2009.
O interesse destas perguntas é exclusivamente académico, e Agradece-se
antecipadamente, toda a colaboração que possa ser dedicada.
SECÇÃO ÚNICA
1. Qual o seu papel por um lado na construção de um comportamento político por
meio da vossa actuação e consequentemente a decisão do voto?
2. Partindo do princípio de que satisfazer os eleitores é mais difícil, porque a política
envolve a tomada de compromissos, o que significa que os partidos e suas bases
eleitorais, muitas vezes não conseguem o que querem. Enquanto Líder de opinião,
qual a sua visão sobre este ponto?
3. Na influência sobre o voto, qual seu papel enquanto líder desta comunidade?
4. As suas formas de mobilização enquanto líder apartidário, não se confundem com
acções da FRELIMO?
88
5. Nas reuniões do partido aqui na comunidade, você mesmo sendo ou não um
membro do partido FRELIMO, tens participado? E qual tem sido a sua atitude?
6. Sobre as campanhas eleitorais, alguma vez já fez a favor da FRELIMO?
7. Qual é a visão que a população nesta localidade tem em relação a FRELIMO? E oque
vocês como líderes de opinião tem feito para mudar ou melhorar estas percepções?
8. Oque representa a FRELIMO para vocês líderes da opinião? e nos dias de hoje?
MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL.
2013
Observações:
89
Guião de entrevistas
ELEITORES
Perfil do entrevistado:
Nome do Entrevistado:
Local:
Data: Hora de Inicio: Hora de Termino:
Este guião de entrevistas enquadra-se numa pesquisa académica, e visa obter
conhecimento complementares sobre a persistência e a lealdade dos eleitores de
Mueda a favor da FRELIMO, nos pleitos de 1994-2009.
O interesse destas perguntas é exclusivamente académico, e Agradece-se
antecipadamente, toda a colaboração que possa ser dedicada.
SECÇÃO: A
Acções mobilizadoras da FRELIMO e falta de Confiança dos outros partidos
1. Tem sido pacífico nesta comunidade mudar as suas escolhas e recorrer a outro
partido?
2. Em sua opinião, qual a importância das campanhas eleitorais?
3. Acha que as campanhas eleitorais têm sido um ponto forte para a consolidar a
marca FRELIMO nesta comunidade?
4. Como vê as campanhas eleitorais na criação e proximidade entre o eleitorado de
Mueda e a os Partidos?
5. As campanhas eleitorais, tanto da FRELIMO, assim como de outros partidos, têm
ajudado na decisão sobre quem votar?
6. Qual a sua visão em relação aos partidos da oposição?
7. Sobre a confiança: em relação aos partidos da oposição; e em relação a FRELIMO.
90
8. O seu voto a favor de um partido, é pela confiança que tens pelo partido ou porque
não encontra outra alternativa além da FRELIMO?
SECÇÃO: B
Factores históricos-estruturais e Ligações Históricas entre a FRELIMO e o distrito
de Mueda
1. Sabendo que a FRELIMO tem uma história forte neste distrito e que já se constitui
em um hábito, será que o hábito tem tido um papel preponderante no seu voto e no
voto dentro da comunidade?
2. Qual o papel dos laços históricos que o distrito tem com a FRELIMO, na definição do
voto e na contínua votação da FRELIMO pelos eleitores de Mueda?
3. As vossas vivências, contos, histórias do vosso distrito, tem influenciado na vossa
forma de votar?
4. Será que o passado histórico do distrito de Mueda que teve ligações fortes com a
FRELIMO tem jogado um papel forte na construção do comportamento eleitoral?
5. Reconhecendo que existiram ligações fortes entre o distrito de Mueda e a FRELIMO,
em sua opinião, este factor tem influenciado na vossa persistência em votar na
FRELIMO?
6. O voto contínuo dos eleitores de Mueda para a FRELIMO tem ligações fortes pela
transmissão da história do distrito pelos seus antepassados?
7. Será que a história tem um peso na sua decisão do voto individual e colectivo?
SECÇÃO: C
Socialização Política, cultura política, influência dos líderes de opinião
1. O seu voto tem como consequência a cultura política e as formas de manifestação e
actuação do jogo político em Moçambique?
2. Tem tido oportunidades de ler os programas e assistir debates nacionais sobre a
política e como este aspecto influência na sua decisão do voto?
91
3. Será que os líderes de opinião nas suas formas de actuação (Comunicados,
informações, anúncios, etc.), tem influenciado na construção do comportamento
políticos e consequente a forma de expressão do voto na comunidade?
4. O seu voto é da sua escolha ou esta associada a influência da comunidade?
SECÇÃO:D
OUTROS
1. Em que tem votado continuamente nas eleições pós eleições pós eleições? E
porque?
2. Terá votado em diferentes partidos alguma vez? E quais as razoes? Como sentiu-
se?
3. A FRELIMO tem melhorado ou piorado algumas coisas com vista a ter mais apoio
aqui em Mueda?
4. Oque vos leva a votar continuamente num determinado partido?
5. Porque vota fielmente na FRELIMO?
6. Quais são os elementos que te levam a decisão de uma determinada forma de
votar?
7. Como decide o seu voto?
8. Como nasce a sua identificação com o partido que tem votado continuamente?
9. Toda gente vota num único partido porque?
MUITO OBRIGADO, SUAS RESPOSTAS E A SUA COLABORACAO FOI MUITO UTIL.
2013.
Observações:
92
Anexo 3:
RESULTADO DA VOTAÇÃO NO DISTRITO DE MUEDA: ELEIÇÕES DE 2004
93
RESULTADO DA VOTAÇÃO NO DISTRITO DE MUEDA: ELEIÇÕES DE 2004
RESULTADOS DAS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS 2009
94
95
CARTOGRAFIA ELEITORAL
VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 1994
VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 1999
96
VOTAÇÃO A FAVOR DA FRELIMO EM PERCENTAGEM: 2004