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Composição étnica do brasil atual.
In: Cotidiano dos negros no Brasil escravista. Disponível em: <www.larramendi.es/i18n/catalogo_imagenes/grupo.cmd?path=10000209>, acesso em 20/02/2014. p. 1-26.
Sheila de Castro Faria
Sheila Siqueira de Castro Faria• Professora da Universidade Federal Fluminense desde 1985.
• Doutora em História pela UFF (1994), com a tese: A colônia em movimento: Fortuna e família no cotidiano colonial.
• Participou da elaboração do dicionário de História do Brasil Colonial (2000).
• Autora de livros paradidáticos, como: A economia Brasileira, economia e diversidade; Viver e morrer no Brasil Colonial; A economia colonial brasileira.
• Vasta produção nas áreas de História do Brasil Colonial, História Regional do RJ, História Agrária e História Demográfica.
• Pesquisa atualmente escravidão no Brasil e história da África.
Fontes:
http://lattes.cnpq.br/
http://www.historia.uff.br/ciadasindias/blog/author/sheila/
http://autorescampistas.blogspot.com.br/2012/11/sheila-de-siqueira-de-castro-faria.html
Fonte: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/caracteristicas_da_populacao/tabelas_pdf/tab3.pdf
O Brasil estaria se “branqueando”?• Mesmo com “a entrada de enormes levas de imigrantes europeus”, entre o censo de 1872 e o de 1996, a imensa maioria da população era, e é, de origem portuguesa, africana e indígena.
• Os critérios de cor são elásticos e regionalizados, diferentes dos critérios existentes nos EUA, África do Sul e Angola, por exemplo.
Estados Unidos África do Sul Angola
• Brancos (White)• Negros (Black)
• Brancos (european ou white)• Negros (african ou bantou)• “Mestiços” (coloured)
• Brancos• “De cor” (mestiços)• Banto (negros)
Gota de sangue Antes do Apartheid
Critérios de cor no Brasil: Censo de 1980, as 136 cores
Fonte: PERROT, M. História da Vida Privada. Vol. 4. In: < http://portedoree.blogspot.com.br/2009/12/o-povo-de-136-cores.html>. Acesso em: 28 mar. 2017.
• Fuga da realidade étnica e da identidade?
• Munanga: mestiço tem reais condições de ascenção social (tornar-se branco), sistema capaz de manter uma estrutura racista sem hostilidades abertaso Noção de “democracia racial”: racismo no Brasil é “menos ruim”?
o Para se tornar branco, é preciso ser muito pouco “pardo”
o Critérios de cor regionalizados: o “pardo” do sul do Brasil é bem mais “branco” que o “pardo” da Bahia
o Região com mais “pretos” é o Sudeste (7,4%), provavelmente devido ao maior engajamento político militante do movimento negro.
Critérios de cor no Brasil
Critérios de cor no Brasil• Recenseamentos têm um olhar datado e regionalizado sobre a “cor” e a condição social
• Indicação da cor “parda” no censo não significa, necessariamente, “falta de consciência étnica” ou “falta de identidade”, apenas uma consciência étnica diferente da defendida por alguns etnólogos e ativistas.
• Mestiçagem no Brasil foi efetiva: difícil hoje um brasileiro de terceira geração não ter negros ou índios entre seus antepassados. “Branqueamento” da população se exerce na auto-imagem. Importância de resgatar a herança africana.
Povoamento e ocupação:População autóctone• “Tupi-guarani”: estrutura linguística, não padrão étnico. Tupinambá, tamoio, tupiniquim, carijó, caeté, temiminó, potiguar. Litoral.
• “Tapuia”: categoria criada no contexto colonial para designar povos que não eram Tupi. Diversidade cultural e linguística. Aimoré, charrua, goitacá, tremembé, kariri, janduí, surucu, caindé, paiacu, entre outros. Interior. Descritos como os mais bárbaros.
• Estimativa: menos de 1 milhão a 8,5 milhões de indígenas, tese de que América não foi descoberta, foi invadida (Jennings).
• Categorias “índios”, “tupi-guarani”, “tapuia” são simplificações que não fazem justiça à diversidade étnica.
• “Brancos” e “africanos” também não são grupos homogêneos.
Povoamento e ocupação:“Brancos”• Portugal: apesar de reino cristão, elevado número de “cristãos-novos”, judeus convertidos forçadamente .
• Judeus: figuras de destaque no financiamento e em diversas funções das navegações.
• Além dos judeus: ciganos , muçulmanos, protestantes.
Povoamento e ocupação:“Africanos”• “Africano”: termo anacrônico para designar os negros oriundos do tráfico atlântico de escravos no período colonial e, mesmo, na primeira metade do século XIX.
• “Negros da guiné” x “negros da terra” / “negros brasis”
• “As designações dos grupos africanos escravizados são bastante complexas e dependem da época, de onde e de quem fala”, indicam “ora a procedência do porto de embarque ou da região genérica de onde eram provenientes”
• Região da Costa da Mina – “pretos mina”: oito grandes reinos - Iukassa, Ante (Ashante), Kommenda, Fetu, Asebu, Fante, Agona e Accra. Presença de muçulmanos. Enormidade de povos, entre eles, os de língua ewe (jeje), iorubá e fon.
• “Nagô”: na Bahia, a partir do século XVIII, língua ewe e iórubá.
• Congo: congo, muxicongo, loango, cabinda, monjolo
Principais regiões em que os cativos desembarcavam, todos os anosPoucos centros comerciais do mundo atlântico não foram afetados pelo tráfico de escravos, e todos os principais portos tinham estreitas ligações com ele.
Volume e direção do tráfico de escravos transatlântico, de todas as regiões africanas a todas as regiões americanas
Estimativa de cativos embarcados e desembarcados para Portugal/Brasil, entre 1500-1866.
Embarked Disembarked
1501-1600 154.191 112.738
1601-1700 1.011.192 852.037
1701-1800 2.213.003 1.991.362
1801-1900 2.469.879 2.143.678
Referência dos mapas e tabelas dos slides 14 a 20Banco de Dados do Tráfico Transatlântico de Escravos. In: <http://slavevoyages.org/>. Acesso em: 30 mar 2017.
Povoamento e ocupação:“Africanos”•Angola: cassange, loanda, rebolo, cabundá, quissamã, embaça, benguela
• Oscilação entre povos “traficantes” e escravizados
• Rivalidades étnicas, mantidas no Brasil, aproveitadas pelos escravistas. Congo-angolanos x mina, crioulos x nascidos na África.
• Mas também identidaedes e solidariedade, línguas inteligíveis entre si, termo “malungo” –companheiro/barco.
• Resumo – dois maiores contingentes:o Costa ocidental africana: guiné (XVI e XVII), mina (XVIII), nagô (XVIII e XIX) e iorubá (XIX)
o África central: região congo-angolana (XVI – XIX) e Moçambique (XIX), todos “banto”.
• Ao longo do XIX que foi aparecendo o termo “africano”.
• “Deve-se ter em mente, portanto, que o “africano” é uma construção de observadores de fora, pois os próprios “africanos”, mesmo na segunda metade do século XIX, se identificavam por sua origem. “
Tráfico atlântico e transformação do negro em escravo• Reino do Congo: “Provavelmente formado no final do século XIV, era composto por uma extensa área, dividida em províncias, algumas administradas por uma nobreza local e outras, por chefes, escolhidos pelo rei, dentre a nobreza da capital. [...]Nas cidades, os nobres controlavam a produção, resultado do trabalho escravo, que ali vigia sob duas formas: a doméstica ou de linhagem, na qual o cativeiro era resultado da guerra ou de sanções sociais, integrando-se o escravo à linhagem do senhor; a escravidão comercial, ligada à produção agrícola ou à exploração de minas.” (p. 10).
• Esquema de comércio: alianças políticas, comerciais e militares entre portugueses e as comunidades nativas. “Foi a partir da existência de sociedades mercantis já organizadas na África que o tráfico português pôde prosperar; ou, então, foi sobre os detentores do poder político africanos que se acentuaram as pressões portuguesas para aceitar o tráfico, sofrendo sérias conseqüências os que recusaram a proposta. Reis ou chefes tribais africanos, com maior ou menor poder centralizador, administraram a captura e a oferta de homens para o tráfico, ampliando sistemas já costumeiros no continente. Ao lado da exploração deste comércio ou das rotas já existentes na África negra (sul-saariana), as guerras intertribais tiveram papel estrutural no fornecimento de escravos. Muitas delas seriam mesmo motivadas, a partir do século XVI, pelos interesses do tráfico. Sem guerras não havia escravos” (p. 12).
Tráfico atlântico e transformação do negro em escravo• Estimativas: 3,3 milhões – 8 milhões de negros escravizados chegados no Brasil
• Mortalidade durante a travessia: 15% a 25% nos primeiros anos, 10% depois.
• Média de 34 dias de viagem entre a África Ocidental e o Brasil
• Miller: 40% dos negros capturados no interior da África morriam a caminho do porto costeiro, mais 10% a 12% na estada nos barracões costeiros ou nas prisões escravistas, antes de entrarem nos navios. Ou seja, metade morria antes do embarque. Destes, 9% morriam na travessia e mais da metade no período de quatro anos após o desembarque. De 1.000 africanos que saíssem da África, pouco mais de 200 se tornariam efetivamente escravos no Brasil.
• Péssimas condições de travessia e superlotamento: preços dos negros na África eram tão reduzidos que os traficantes preferiam correr o risco de perder “peças” no Atlêntico devido à superlotação.
A participação dos africanos no tráfico• Florentino: Ideia de uma “África passiva” , cujos habitantes sofreram a violência da estrutura mercantilista europeia, foi resultado da crítica geral ao sistema escravista do século XVIII.
• Final do século XVIII: argumento de que os próprios africanos tinham escravos x diferença das formas de escravidão – comercial x doméstica.
• Importância de verticalizar o entendimento das dinâmicas internas da África e da América Portuguesa.
Escravidão: indígenas x negros• Explicações clássicas: indolência indígena, inaptidão do índio para a vida sedentária da agricultura, baixa resistência física e aversão ao trabalho agrícola, número insuficiente de índios e, finalmente, interesses econômicos portugueses no tráfico africano (Novaes).
• Novas interpretações: o Escravidão indígena foi largamente utilizada no início, depois diminuição drástica da população e
migração para o interior.
oQuestão cultural: trabalho agrícola entre os indígenas era realizado pelas mulheres.
o Rentabilidade do tráfico.
Escravidão: características• Dependente do tráfico, diferente de colônias como as inglesas, onde havia crescimento endógeno.
• Proporção de 60 a 70% da população escravizada em relação à livre nas áreas mais dinâmicas da economia colonial.
• Preponderância de homens adultosentre a população escravizada.
Escravidão: trajetória da historiografia•1920-1940: darwinismo social e racismo. Gilberto Freyre rompe com esta tendência, questionando teorias racistas e dando destaque positivo à influência africana na cultura brasileira.
• 1950-1960: crítica à Freyre e sua tese da democracia racial, visão benevolente do paternalismo/patriarcalismo.
• “Escola sociológica paulista”, Florestan Fernandes, tese da “coisificação” do escravizado, humanidade = resistência = revoltas, quilombos, etc.
• 1980-1990: expansão das pesquisas, novas fontes e enfoques – existência de famílias escravas, laços culturais, resistências cotidianas, acomodações e negociações.
Identidade escrava e herança africana• Historiografia tradicional: sucesso do processo de ocidentalização e cristianização, permanência de elementos da cultura africana apenas em aspectos considerados supérfluos – expressões, comidas, etc. Hoje, consenso “não só sobre a permanência de costumes e práticas africanos entre os escravos, como também sobre o fato de que a sociedade brasileira de hoje é inexoravelmente tributária desta herança” (p. 21).
• Solidariedade x divergências étnicas. Busca dos escravistas pelo equilíbrio entre o “estado de guerra”, necessário à segurança emantido pela entrada frequente de “estrangeiros”, e a “paz”, necessária para a manutenção do trabalho e incentivada pela criação de laços de parentesco.
• Hebe Mattos: hierarquia s sociais forjadas dentro das senzalas contribuíam para a inexistência de uma “comunidade” escrava.
• Robert Slenes: sudeste na primeira metade do XIX, maioria dos escravizados de mesma origem linguística – formação de “comunidades escravas” que ameaçavam o sistema escravista.