compras públicas sustentáveis: estágio atual e janela de oportunidades
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Ambiente Jurídico – Institucional
Compras públicas sustentáveis: estágio atual e janela de oportunidades Fernando Marcato4 e Andrea C. Vasconcelos 5
Desde 2010, a sustentabilidade vem sendo utilizada como critério de seleção de bens e serviços adquiridos pela Administração Pública
federal. Esse critério foi introduzido pela Lei nº 12.349/10, que alterou o caput do art. 3º da Lei Federal nº 8.666/93 (Lei Geral de Licitações
e de Contratos Administrativos), ao inserir a expressão “desenvolvimento nacional sustentável” na referida lei. O Decreto 7.746/2012
regulamentou as licitações sustentáveis no âmbito do Governo Federal.
Em 2012, o Governo Federal gastou aproximadamente 21% do PIB, cerca de R$ 72,6 bilhões nas 231,8 mil contratações6 realizadas para
a aquisição de bens, contratação de serviços e obras públicas. Desse total, porém, somente 1.481 processos licitatórios7 , no total de R$
40 milhões, corresponderam a licitações sustentáveis.
Os números ainda são tímidos, mas há uma tendência de difusão desse mecanismo na Administração Pública. A sustentabilidade
representa, portanto, um novo elemento a ser considerado no momento do setor privado se relacionar com o Governo.
No passado, as licitações públicas consideravam como critério de julgamento das propostas o menor preço e/ou a melhor proposta técnica.
Além disso, com o intuito de assegurar a mais ampla concorrência ao certame, os Tribunais de Conta vedavam a inclusão de especificações
técnicas que pudessem excluir determinados licitantes ou favorecer outros
As licitações sustentáveis invertem, em alguma medida, essa lógica. O Decreto 7.746/2012 abre a possibilidade de previsão de exigências
de sustentabilidade nos projetos básico ou executivo, bem como na especificação dos bens e serviços a serem licitados.
Assim, desde que o Administrador comprove o caráter sustentável da exigência inserida no edital, há a possibilidade de algum nível de
restrição à concorrência ou tolerância com preços mais elevados. Se o Administrador comprovar, por exemplo, que determinada
especificação gera menor impacto sobre os recursos naturais; e/ou privilegia novas tecnologias e matérias-primas de origem local; e/ou
promove maior vida útil e menor custo de manutenção do bem e da obra, essa especificação poderá ser privilegiada, ainda que gere um
custo adicional ao processo.
A análise de custo-benefício de determinada compra pública passa, portanto, pela dimensão da sustentabilidade.
Além de positivo para incentivar o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, o mecanismo das compras públicas sustentáveis pode
representar importante janela de oportunidades para as empresas atuantes nesse setor.
Para aproveitar essa janela, as empresas precisam munir o Governo de estudos e evidências que comprovem a boa relação de custo-
benefício ambiental de determinada especificação sustentável.
Com esses elementos e outros estudos técnicos pertinentes conduzidos pelos órgãos licitantes, o Administrador Público poderá definir
quais exigências e eventuais restrições devem ser impostas nos editais de licitação visando assegurar a sustentabilidade daquela compra.
Naturalmente, essas restrições devem ser ponderadas, sendo que seus benefícios precisam sempre ser superiores a eventuais restrições
concorrências ou aumento de preços.
4 Professor da DIREITO GV (FGV/SP) e Sócio da GO Associados. 5 Advogada da GO Associados 6 Cf. Relatório de Contas Nacionais Trimestrais de Janeiro / Março de 2013 do IBGE, disponível em:
<ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Fasciculo_Indicadores_IBGE/pib-vol-val_201301caderno.pdf>. Acesso em
25.01.2014 7 Cf. Informações Gerenciais de Contratações Públicas Sustentáveis, 2012, p. 2. Disponível em:
<http://www.comprasnet.gov.br/ajuda/Manuais/03-01_A_12_INFORMATIVO%20COMPRASNET_ComprasSustentaveis.pdf>. Acesso em:
25.01.2014