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COMPROMISSO PARA O CRESCIMENTO,
COMPETITIVIDADE E EMPREGO
Grupo de Trabalho “Competitividade e Crescimento”
Versão PRELIMINAR
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1 INTRODUÇÃO
No início da sua legislatura, o XIX Governo propôs encetar uma discussão em sede de
concertação social visando a possibilidade de um compromisso na área da competitividade.
Este projecto tem lugar no quadro de um substancial processo de consolidação orçamental
decorrente da implementação das obrigações subscritas pelas autoridades portuguesas em
conjunto com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central
Europeu, e da percepção em como aquele esforço deve ser acompanhado por um ambicioso
pacote de medidas tendentes a reforçar o potencial de crescimento económico e de criação de
emprego do médio e longo prazo.
Este Compromisso tem presente a necessidade de “garantir que, a par da redução do défice
orçamental em percentagem do PIB, sejam criadas as condições para uma recuperação forte e
duradoura do crescimento económico, multiplicando as oportunidades para o investimento,
para a criação de emprego e manutenção e melhoria da sua qualidade”, tendo em conta o
estabelecido no Acordo Tripartido para a Competitividade e Emprego, subscrito em Março do
corrente ano pelo anterior Governo e pelos Parceiros Sociais.
O XIX Governo tem presente que a consolidação orçamental em curso acresce às incertezas
sobre a recuperação económica da Zona Euro e de outras regiões do globo nos factores que
inibem a recuperação da actividade produtiva, bem como das rubricas da procura agregada.
Nesse contexto, torna‐se urgente contrariar o impacto daqueles elementos no ciclo económico,
implementando as medidas adequadas não só a mitigar o respectivo impacto na normal
capacidade operacional das empresas, no consumo e na capacidade exportadora, como também
a promover um aumento do crescimento potencial no médio e longo prazo, alicerçados na
recuperação do investimento e da criação de emprego, assim como no fomento de um
desenvolvimento ambiental, social e economicamente sustentável.
Em primeiro lugar, é alargado o âmbito sectorial das medidas previstas, passando a cobrir
prioridades para a indústria, a energia, e sectores de serviços com potencial de criação de valor e
de emprego, como o turismo, ausentes do Acordo assinado em Março. Em segundo lugar,
reforça‐se o destaque dado a factores transversais de competitividade, em particular o acesso ao
financiamento privado por parte das empresas, tendente não só a suavizar os constrangimentos
à liquidez das mesmas, como também a possibilitar a sua capitalização. Em terceiro lugar,
incluem‐se linhas de acção que entram em linha de conta com preocupações como a redução
das disparidades de desenvolvimento regional, a informação aos consumidores ou a promoção
da justiça tributária.
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2 PROPOSTAS PARA O REFORÇO DA COMPETITIVIDADE
As linhas orientadoras da acção que constituem a presente proposta, definidas em concertação
com os parceiros sociais, organizam‐se segundo oito eixos de intervenção, as quais se reforçam
mutuamente na promoção dos factores de competitividade tendentes a relançar o crescimento
económico e a criação de emprego:
a. Financiamento às Empresas
b. Reprogramação Estratégica do QREN
c. Apoio à Internacionalização e à captação de investimento
d. Promoção do Empreendedorismo e Inovação
e. Promoção da capacidade nacional de produção e aprofundamento do mercado interno
f. Promoção das actividades económicas
g. Redução de Custos de Contexto
h. Combate à Fraude e Evasão Fiscais
A. FINANCIAMENTO ÀS EMPRESAS
As dificuldades de financiamento associadas à dívida soberana, plasmadas no substancial
agravamento dos prémios de risco implícitos nas taxas de juro, penalizaram severamente o
acesso das empresas ao crédito bancário para viabilizar as suas operações correntes e de
investimento. Efectivamente, associado à actual fase do ciclo económico, as condições de
crédito encontram‐se claramente mais restritivas e às empresas colocam‐se dificuldades de
liquidez que importará monitorar, por forma a evitar que empresas economicamente viáveis não
encerrem por dificuldades temporárias a esse nível. Por seu turno, importa procurar aperfeiçoar
os mecanismos de apoio à consolidação do capital, essencial ao crescimento da dimensão média
do tecido produtivo e pré‐condição, na maior parte dos casos, para se atingir uma escala mínima
de produtividade e de competitividade. As iniciativas prioritárias neste domínio incluem:
Reforma do sector do capital de risco público, reorientando‐o sobretudo para PME com
potencial de inovação e de criação de emprego através da criação de um operador único
de capital de risco público e de uma sociedade de investimento para PME
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Dinamizar o recurso a fontes de financiamento para ir de encontro a dificuldades de
liquidez e para apoiar as empresas nos seus processos de crescimento e reestruturação,
nomeadamente no contexto do diálogo com o sector financeiro no sentido de promover
o crédito.
Reavaliação da política de auxílios de Estado, com o objectivo de melhor promover
investimento de qualidade, sobretudo numa perspectiva de redução das disparidades de
desenvolvimento regional e da criação de postos de trabalho.
Redução dos atrasos de pagamento do Estado aos seus fornecedores.
Reforço da divulgação e da desburocratização dos instrumentos de financiamento
postos à disposição pela União Europeia (v.g., fundos, empréstimos do BEI ou
mecanismos do Fundo Europeu de Investimento na área do capital de risco) para
reforçar a taxa de participação das empresas portuguesas.
B. REPROGRAMAÇÃO ESTRATÉGICA DO QREN
O QREN mobiliza para Portugal cerca de 21,5 mil milhões de Euros de Fundos Estruturais da
Coesão (FEDER, FSE e Fundo de Coesão) a executar no período 2007‐2015. Importa dinamizar
este Quadro no sentido de aumentar o seu contributo para responder aos constrangimentos no
financiamento da economia e potenciar a criação de emprego, a redução de disparidades, o
investimento e a inovação e, por isso, a competitividade da economia portuguesa. Para tal,
proceder‐se‐á a uma reprogramação do QREN que promova uma execução dos Programas
Operacionais (PO), permitindo o efeito reprodutivo das despesas realizadas. Essa reprogramação
será realizada nos seguintes termos:
Reforço da coerência financeira global das várias políticas públicas, através da
simplificação da estrutura dos eixos prioritários e da programação, da identificação de
elementos de ineficiência e de redundância na programação financeira, da consagração
de uma lógica de contratualização por objectivos e de um reforço da avaliação do
impacto dos apoios concedidos (em termos de criação de emprego, aumento do
conteúdo tecnológico da produção, etc).
Aumento do peso relativo dos incentivos à inovação e à competitividade direccionadas
prioritariamente para micro e PME, em domínios como o reforço da ligação
“Universidade‐Indústria”, a aceleração da internacionalização do tecido empresarial, a
promoção do empreendedorismo; reforço da dotação financeira programada para
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“Formação Avançada” e “Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social” no PO Potencial
Humano.
Reprogramação de prioridades no seio dos Programas Operacionais FEDER e Fundo de
Coesão, por reafectação de montantes afectos mas não realizados em grandes projectos
de infra‐estruturas, acompanhada de um aumento generalizado da taxa média de co‐
financiamento do investimento público
Reforço e simplificação do acesso aos sistemas de incentivos às empresas no PO
Factores de Competitividade e nos PO Regionais do Continente.
Os trabalhos a desenvolver, culminarão com a elaboração de um documento que será
sujeito a uma ampla auscultação, designadamente, junto dos parceiros sociais e em sede
de concertação social antes da sua sujeição aos órgãos próprios de gestão dos
Programas Operacionais e à Comissão Europeia, procurando‐se que venha a reflectir as
melhores opções, face aos recursos financeiros ainda disponíveis para garantia de uma
adequada execução do QREN até ao seu termo, como instrumento privilegiado de
promoção do crescimento económico, da competitividade e da criação de emprego.
C. APOIO À INTERNACIONALIZAÇÃO E À CAPTAÇÃO DE INVESTIMENTO
O crescimento da nossa economia tem que passar inevitavelmente pelo aumento da nossa
capacidade exportadora e pela renovação do nosso tecido empresarial. O desequilíbrio da nossa
balança comercial é um factor recorrente de limitação ao nosso saudável desenvolvimento
económico para além do consequente desequilíbrio ao nível de contas nacionais. Nesse sentido,
é necessário proceder‐se a uma reestruturação do acompanhamento das questões associadas à
internacionalização, no sentido de potenciar a eficácia das estratégias de internacionalização das
empresas portuguesas através das seguintes prioridades:
Consolidação da acção do Estado no âmbito do apoio à internacionalização e da
captação de investimento, com vista ao aproveitamento de sinergias entre diferentes
organismos públicos e ao reforço da eficácia da diplomacia económica
Criação de uma rede de contactos activa baseada nos portugueses expatriados e nas
comunidades portuguesas no estrangeiro, que trabalhando em coordenação com a rede
de diplomacia económica, apoiará a internacionalização das empresas portuguesas e a
angariação de investimento
Criação do “Passaporte para a exportação” que certifica a PME (não exportadora) como
empresa com potencial para a exportação
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Apoio à internacionalização dos sectores tradicionais, através de uma estratégia de
diferenciação (via pólos de competitividade/clusters e associações sectoriais), no sentido
de reforçar o valor acrescentado nacional
Promover o desenvolvimento de acções de parceria entre PME e Grandes empresas
tendo em vista a internacionalização, tirado partido das sinergias geradas no âmbito dos
pólos e clusters
Promoção do papel de Portugal enquanto “ponte” privilegiada na relação entre os países
europeus e os países de língua portuguesa
Avaliar, em conjunto com as associações representativas de agentes económicos,
modalidades de desenvolvimento de acções de parceria entre PME e Grandes empresas
tendo em vista a internacionalização das primeiras
Criação de programa de apoio plurianual, integrado, faseado e ligado aos vários sistemas
de incentivos, que reforce a capacitação para a internacionalização das PME
Fazer um acompanhamento dos projectos de investimento existentes em sectores
exportadores e com elevada incorporação de valor em Portugal, com vista ao
desenvolvimento dos clusters estratégicos nacionais
Fomentar a participação das empresas portuguesas nos principais certames
internacionais, como forma de encontrar novos mercados e reforçar mercados
existentes, através do reforço das taxas de incentivo
Promover a celebração de convenções para evitar a dupla tributação com mais parceiros
comerciais e de investimento.
Revisão da legislação aplicável ao investimento tendo em vista a sua simplificação e à
transparência dos processos
D. PROMOÇÃO DO EMPREENDEDORISMO E INOVAÇÃO
Existe um espaço para reforçar tanto a inovação como o próprio esforço de I&D no contexto
empresarial português. Assim, o desenvolvimento de competências nestas duas áreas é uma
prioridade, tendo em vista atingir um grau de sofisticação superior dos produtos e processos,
assim como uma maior capacidade de resposta a mercados cada vez mais exigentes. Para que
Portugal seja uma referência em termos de inovação nos mercados globais, é necessário reforçar
o valor de mercado da investigação, o que passa por estimular o trabalho em rede de
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universidades, centros de investigação, incubadoras e empresas, e incentivar a integração de
recursos humanos altamente qualificados nas empresas.
Por outro lado, para se criar um enquadramento favorável ao empreendedorismo e a uma
menor aversão ao risco, além da redução de custos de contexto e da promoção do acesso de
formas de financiamento ajustadas, importará começar por identificar os estrangulamentos que
se colocam às empresas na valorização económica dos resultados das actividades de I&D e de
inovação, e promover iniciativas e políticas que visem a criação de mercados para produtos,
processos e serviços inovadores.
Neste âmbito, subscrevem‐se as seguintes prioridades no domínio do empreendedorismo e da
inovação:
Criar condições mais favoráveis à participação das empresas portuguesas, especialmente
das PME, nos Programas Internacionais de I&DT e de Inovação, através de uma
participação activa e que vise salvaguardar os interesses do tecido económico nacional,
não apenas aquando da sua implementação daqueles Programas, mas também na fase
de concepção ou revisão dos mesmos.
Apoiar as empresas no registo nacional e internacional de propriedade industrial,
nomeadamente no registo e licenciamento de patentes.
Reforçar as Competências Internas das PME em Inovação através duma melhor
utilização de instrumentos específicos já existentes no âmbito do QREN/COMPETE,
nomeadamente as modalidades Núcleos de I&DT e Vales de I&DT e Vales de Inovação;
apoiar as empresas nas várias fases de Implementação de um Sistema de Gestão de I&D
e de Inovação.
Reforçar políticas de cooperação empresarial e de clustering capazes de ultrapassar as
actuais insuficiências de cooperação entre as empresas e o Sistema científico e
Tecnológico Nacional; neste contexto irá proceder‐se à avaliação das prioridades e do
modelo de governação dos Pólos de Competitividade e Tecnologia e outros Clusters
apoiados através da iniciativa Estratégias de Eficiência Colectiva do COMPETE.
Valorização e promoção dos resultados da I&D e da Inovação das empresas junto de
grandes compradores e de investidores e dos principais mercados internacionais
Reforço das competências de empreendedorismo, tanto por via da formação de
trabalhadores à procura de emprego, como pela via da integração de competências de
empreendedorismo nos curricula da educação formal de nível secundário e superior.
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Avaliação do défice de procura por fontes de financiamento além do crédito tradicional,
incluindo o recurso ao mercado de capitais e a dinamização de redes de business angels;
promoção do empreendedorismo qualificado, sobretudo em áreas tecnológicas, e
avaliação de necessidades de formação de empresários visando a familiarização com
aquelas fontes de financiamento.
E. PROMOÇÃO DA CAPACIDADE NACIONAL DE PRODUÇÃO E APROFUNDAMENTO DO MERCADO INTERNA
No actual contexto económico e social em que Portugal se encontra impõe‐se a implementação
de medidas com objectivos de recuperação da economia através da valorização dos produtos
nacionais e do consequente aumento da produção e da competitividade das empresas
portuguesas, em particular as PME.
A procura interna é um motor essencial no desenvolvimento do tecido empresarial do país,
nesse sentido, a sensibilização dos consumidores para valorizarem produtos nacionais é
essencial. Da mesma forma, a capacidade de promover a incorporação nacional nos consumos
intermédios terá um impacto directo no VAB e contribuirá para uma maior integração da cadeia
de valor. Sem prejuízo de outras iniciativas a serem desenvolvidas neste domínio, são propostas
as seguintes:
Dinamização de iniciativas de sensibilização de consumidores, empresas e entidades
públicas para a qualidade dos produtos de origem nacional, dentro do cumprimento das
regras de concorrência da União Europeia.
Adopção de medidas de estímulo à adopção de padrões e práticas de consumo mais
sustentáveis.
Combater a concorrência comercial desleal, através de medidas anti‐dumping, por forma
a assegurar o level playing field nos mercados de bens.
No âmbito europeu, pugnar pela adopção, por países terceiros, de padrões de protecção
sanitária e ambiental, entre outros, equivalentes aos que são praticados na União
Europeia.
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F. PROMOÇÃO DAS ACTIVIDADES ECONÓMICAS
SECTOR AGRÍCOLA, AGRO‐ALIMENTAR, FLORESTAL E DO MAR
A par da dinamização dos instrumentos de apoio e financiamento nacionais, promover‐se uma
adequada utilização dos fundos comunitários e de outros instrumentos de política da UE para a
agricultura e pescas. Estes são essenciais ao rendimento e competitividade do sector agrícola –
quer maximizando, no actual quadro de restrições orçamentais, a utilização dos fundos
comunitários actualmente existentes até 2013, incluindo a necessária comparticipação nacional,
quer iniciando desde já a negociação e concepção dos futuros regimes de apoio, quer de
pagamentos directo, quer de desenvolvimento rural, que após 2013 promovam a maior
competitividade e sustentabilidade dos sector agrícola nacional.
Além do pagamento atempado das Ajudas Directas no âmbito da PAC, da revisão e
implementação do sistema de gestão de riscos (Sistema Integrado Contra Aleatoriedades
Climáticas – SIPAC), ou do prolongamento dos prazos previstos para as linhas de crédito
específicas de apoio à Agricultura e às Pescas, a criação de condições de estabilidade e de
competitividade do sector, fomentando o aumento de escala e uma adequação às exigências do
mercado, requerem iniciativas adicionais no sentido de:
Dinamizar em estreita articulação com as entidades representativas dos diversos
intervenientes a celebração de acordos interprofissionais e de outras medidas tendentes
a reforçar a capacidade negocial do sector agrícola na cadeia de valor, tendente a
combater a assimetria estrutural e na distribuição do valor acrescentado existente
associada à generalidade das fileiras agro‐alimentares
Promover a internacionalização do sector agro‐alimentar, nomeadamente tendo em
conta as recomendações do relatório elaborado pelo GPP em 2010
Promover a produção florestal e diminuição dos incêndios por via do aproveitamento de
baldios e da certificação florestal, bem como da revisão dos critérios de elegibilidade do
Fundo Florestal Permanente, assegurando a comparticipação nacional das medidas
florestais do PRODER.
Negociar a reforma da Política Comum de Pescas e da Organização Comum do Mercado,
para entrar em vigor em 2013, defendendo o justo equilíbrio entre a vertente
económica, ambiental e social, as intervenções dos produtores no mercado e a
sustentabilidade dos Acordos de Pesca com Países Terceiros.
Promover o reforço da Fileira da Pesca e apoiar as iniciativas que agreguem todos os
subsectores e interesses em presença – captura, aquicultura, transformação e
comercialização ‐, contribuindo para uma melhor organização e representação do sector
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das pescas, visando a sua afirmação como motor de desenvolvimento da economia
nacional.
Lançar as bases para uma verdadeira Economia do Mar, em cumprimento da Estratégia
Nacional para o Mar, pela implementação de um programa de simplificação
administrativa transversal a todas as áreas relacionadas com a exploração e utilização de
recursos marítimos que crie condições à captação de investimento, e pela prossecução
dos trabalhos de suporte à determinação do limite exterior da Plataforma Continental,
submetida por Portugal junto das Nações Unidas.
É uma preocupação do Governo proceder à avaliação e análise das situações que possam
implicar custos de contexto desadequados, dos quais possam decorrer quebras dos níveis de
competitividade das empresas. Desta forma, propõe‐se a realização de um trabalho de fundo,
que efectue o levantamento deste tipo de situações, recorrendo nomeadamente a
benchmarking internacional, e que aponte as soluções que permitam, sem prejuízo dos
objectivos visados em cada caso, uma redução dos custos para as empresas.
De acordo com o estudo de impacto realizado pela Comissão Europeia, e apresentado em Junho
de 2011, a eventual assinatura do acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul,
terá efeitos negativos para a agricultura. Estima‐se que, em média, tais impactos provoquem
uma diminuição do nível de rendimentos dos agricultores europeus na ordem dos 2,3 a 3,2%.
Sendo este um valor médio para o conjunto de agricultores europeus, é natural que o impacto
nos agricultores portugueses seja, em média, superior.
Assim, propõe‐se:
Patrocinar os trabalhos que venham a ser necessários de forma a estimar o impacto da
eventual assinatura do acordo no tecido empresarial agrícola português, tendo em conta
a sua especificidade e diversidade;
De acordo com os resultados de tais estimativas, negociar com a UE medidas que
permitam o apoio à reestruturação dos sectores que venham a ser mais duramente
afectados em caso da assinatura do acordo.
INDÚSTRIA E SERVIÇOS
No sector industrial e de serviços, avaliar os resultados da política de clusters e de pólos
de competitividade, com vista a averiguar a necessidade de implementar melhorias à
sua governação e a potenciar os resultados.
Proceder a uma simplificação dos procedimentos inerentes ao licenciamento industrial,
reduzindo o número de organismos envolvidos no processo.
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Proceder a uma avaliação das taxas decorrentes de obrigações no domínio ambiental,
sem colocar em questão os objectivos associados àquelas, com vista a promover a sua
proporcionalidade e a salvaguardar a competitividade das empresas.
Envolvimento activo de associações e confederações que representam trabalhadores e
empresas na concepção de políticas sectoriais com forte impacto sobre a
competitividade, a saúde e segurança e/ou o ambiente, nomeadamente estimulando a
sua participação em consultas públicas sobre iniciativas legislativas da União Europeia.
Promoção de condições que estimulem a eco‐inovação nos diversos sectores de
actividade.
Rever o regime das áreas de localização empresarial por forma a fomentar o
investimento e o desenvolvimento regional
COMÉRCIO
Em conjunto com os serviços, o sector do comércio, largamente formado por pequenas e médias
empresas, dá um contributo significativo para a criação de emprego e para a reanimação e
requalificação urbana, justificando que o seu papel nas políticas de ordenamento do território e
de dinamização urbana seja valorizado. Tendo este enquadramento presente, urge:
Preparar um Plano Sectorial para o Comércio, em estreito envolvimento das
confederações e associações representativas do sector, que seja assente em critérios de
ordenamento do território, e que seja consistente com as alterações a efectuar à
legislação relativa aos solos e ao arrendamento comercial.
Acelerar o processo de revisão da Lei da Concorrência e proceder à revisão do regime
jurídico aplicável às práticas restritivas de comércio, acompanhando as práticas
comerciais na cadeia económica e reforçando a fiscalização nesta matéria.
Actualizar e simplificar os requisitos subjacentes aos vários regimes de licenciamento, e
proceder à sistematização da legislação relativamente a produtos (incluindo a legislação
referente a prazos de validade, condições de transporte e condições de comercialização)
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TURISMO
As rápidas transformações no mercado do turismo, caracterizado por uma concorrência cada vez
mais forte, um consumidor crescentemente exigente, a par das dificuldades e preocupações dos
agentes do sector, como o financiamento, o emprego, o ordenamento turístico ou a segurança,
justificam uma redefinição da estratégica nacional para o turismo, orientada para o reforço da
competitividade do tecido empresarial, a diversificação e melhoria da qualidade da procura e da
oferta, a sustentabilidade e diminuição da concentração geográfica do sector, e a redução da
sazonalidade, disponibilizando os meios que respondam de forma eficaz e específica às suas
necessidades.
Os eixos de intervenção dessa política consubstanciam‐se em:
Proceder à redefinição da Estratégia Nacional, tendo em vista garantir uma efectiva
competitividade e estruturação da actividade turística.
Prosseguir o aumento da procura turística, com reforço da despesa per capita, numa
orientação qualitativa. Para isso, será prosseguida uma dinâmica de desenvolvimento de
mercado, tanto naqueles considerados estratégicos, com destaque para a Espanha,
Reino Unido, França e Alemanha, como nos mercados emergentes, iniciando uma
actuação estruturada em mercados de forte potencial de crescimento como a China e a
Índia. Será ainda preocupação desta abordagem, promover um efeito estrutural na
diversificação de mercado, a atenuação da sazonalidade e redução das assimetrias
regionais.
Realização de planos de dinamização de segmentos de mercado – cultura e património,
natureza, religioso, sénior, saúde, portugueses e luso‐descendentes residentes no
estrangeiro, e outros – procedendo à estruturação da oferta e sua promoção, no sentido
de obter maior penetração em segmentos da procura de maior despesa per capita,
menor sazonalidade e maior distribuição geográfica.
Afirmar a marca Portugal e as marcas regionais, no mercado interno e no mercado
externo, designadamente através da realização de campanhas de publicidade e da
realização de grandes eventos de forte projecção internacional, reforçando a articulação
entre promoção e comercialização.
Desenvolver canais de promoção de ofertas comerciais nos portais de promoção
turística do Turismo de Portugal, de forma a garantir uma maior penetração de
mercado.
Promover a qualificação e diversificação da oferta turística, em alinhamento com o
ordenamento do turismo, a qualificação das infra‐estruturas, a qualificação do factor
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humano, a animação turística, entre outros, de forma a garantir o acesso a novos perfis
de consumo e, o incremento do grau de satisfação dos turistas.
Desenvolver instrumentos que promovam uma maior articulação com outros sectores,
como a cultura, o ambiente e o comércio, designadamente através de programas
específicos, no sentido de permitir o acesso a novos perfis de consumo e, o incremento
do grau de satisfação dos turistas.
Adequar os instrumentos financeiros de apoio à situação económica e financeira actual,
de forma a que sejam efectivos motores de desenvolvimento económico no sector do
turismo, e proceder a uma avaliação da proporcionalidade dos custos de determinados
fornecimentos e serviços externos. Nestes, inserem‐se os objectivos de adequação dos
instrumentos financeiros de apoio ao sector do turismo, garantindo capacidade de
financiamento.
Simplificação do acesso a profissões e actividades profissionais do turismo, bem como o
desenvolvimento de um sistema de qualificação do factor humano, ajustado às
necessidades do sector, fomentando e flexibilizando o emprego.
Revisão do quadro regulamentar do sector, designadamente no que se refere ao
processo de licenciamento de actividades turísticas.
Reforçar a acção reguladora no turismo, no sentido de combater de forma eficaz a
concorrência desleal, entre outras vertentes.
G. REDUÇÃO DE CUSTOS DE CONTEXTO
PROMOÇÃO E DEFESA DA CONCORRÊNCIA
Vai ser colocada em consulta pública uma proposta de um novo diploma de promoção e defesa
de concorrência que essencialmente se caracteriza por:
Criar uma base jurídica de muito maior simplicidade e clareza que permite à Autoridade
da Concorrência (AdC) aplicar uma política de disseminação de mercados concorrenciais,
focada na Competitividade, na Confiança e no Investimento, em sintonia com as
melhores práticas correntes no Espaço Económico Europeu.
Esta lei pretende reforçar os poderes da Autoridade da Concorrência para combater
todas as modalidades de cartelização, de abusos de posição dominante e de abusos de
dependência económica, incentivando as empresas a implementar estratégias
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competitivas, baseadas na inovação e na eficiência, observando regras claras, inspiradas
em normas homólogas correntes na União Europeia.
É desenvolvido um ambiente que facilita o redimensionamento empresarial através de
operações de fusão e de concentração, e que promove a cooperação com um balanço
económico positivo que, contribua para a melhoria da produção ou distribuição de bens
e serviços, ou, para o desenvolvimento técnico ou económico, dentro de determinadas
condições que visam manter uma efectiva concorrência nos mercados.
É assegurada a promoção e defesa do interesse público da concorrência, em linha com o
imperativo constitucional, plasmado no artigo 81º da CRP, visando o desenvolvimento
sustentável e a protecção dos interesses dos consumidores.
MELHOR REGULAMENTAÇÃO
A melhoria contínua do ambiente de negócios é essencial para a captação de novos investidores
e a geração de novos projectos de empresas já estabelecidas em Portugal. Nesse contexto,
devem centrar‐se esforços no sentido de identificar todas as oportunidades de melhoria do
contexto negocial, nomeadamente no sentido de:
Promover um modelo integrado de relacionamento das empresas com o Estado, focado
em servir as empresas na lógica de cliente e capaz de as acompanhar ao longo de todo o
seu ciclo de vida, acompanhando a sua criação, crescimento, e internacionalização, bem
como os respectivos processos de inovação e de investimento.
Promover a melhor regulamentação, a simplificação administrativa e processual; deverá
identificar‐se, em colaboração com os parceiros sociais e associações representativas
dos consumidores, situações de duplicação ou de conflito entre regras e procedimentos
administrativos e obrigações legais com que cidadãos, trabalhadores e empresas se
deparem, com vista à sua eventual eliminação.
Encetar esforços no sentido de se avaliarem os impactos em termos de competitividade,
nomeadamente sobre as PME, de novas medidas legislativas, consubstanciado na
implementação do SME Test (teste PME), conforme previsto no Small Business Act.
Concluir a alteração do código dos contratos públicos
Proceder à revisão do código de insolvência e pela maior adequação do Plano
Extrajudicial de Conciliação.
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CONDIÇÕES DE TRABALHO
A Autoridade para as Condições de Trabalho (ACT) tem por missão a promoção da melhoria das
condições de trabalho, através do controlo do cumprimento das normas em matéria laboral,
bem como a promoção de políticas de prevenção de riscos profissionais e o controlo do
cumprimento da legislação relativa à segurança e saúde no trabalho, em todos os sectores de
actividade, público ou privado.
O relevante papel de interesse público desempenhado aconselha a valorização da acção da ACT
pelo controlo efectivo das condições de trabalho. Para esse efeito, são necessárias medidas que
permitam agilizar e modernizar a relação entre os empregadores e a ACT, desde que
salvaguardado o interesse de ordem pública na melhoria das condições de trabalho e na
promoção da segurança e saúde dos trabalhadores.
Uma primeira medida consiste na dispensa do envio do regulamento interno da empresa, com
manutenção do dever de publicitação no local de trabalho, dada a necessária consulta prévia
dos representantes dos trabalhadores.
Em segundo lugar, admite‐se a dispensa do dever de comunicar os elementos relativos à
empresa antes do início de actividade e das alterações. A comunicação afigura‐se desnecessária,
dada a publicação dos actos societários em sítio na internet criado para o efeito no portal da
justiça, bem como a certidão permanente, que possibilita a consulta daqueles actos de forma
acessível e gratuita. Por outro lado, o incumprimento do pedido de informação deve ser sujeito a
contra‐ordenação.
Em terceira linha, a comunicação e o envio por correio electrónico da declaração escrita de
concordância do trabalhador e a comunicação à comissão de trabalhadores da empresa e ao
sindicato representativo do trabalhador em causa mostram‐se suficientes para a concessão
automática da autorização para redução ou exclusão de intervalo de descanso.
De igual modo se mostra dispensável o dever de comunicação do horário de trabalho, cujo
cumprimento deve ser assegurado mediante acção inspectiva no local de trabalho. No entanto,
deve ser mantida a contra‐ordenação grave em caso de incumprimento dos requisitos legais.
O dever de comunicação e envio do acordo de isenção de horário de trabalho apenas quando tal
seja solicitado parece ser suficiente, uma vez que a isenção resulta de acordo entre trabalhador
e empregador, que apenas pode ocorrer nas situações previstas na lei ou em instrumento de
regulamentação colectiva.
O Programa de Assistência Económica e Financeira consiste num conjunto de medidas e
iniciativas legislativas, incluindo de natureza estrutural, relacionadas com as finanças públicas, a
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estabilidade financeira e a competitividade, a introduzir durante um período de três anos. É
necessário adoptar medidas que visem contrariar o risco de deterioração da situação económica
e de contracção profunda e prolongada no nosso produto e do nosso tecido empresarial.
O aumento excepcional do tempo de trabalho (período normal de trabalho) visa contribuir para
a recuperação da competitividade da nossa economia e evitar o aumento significativo do
desemprego que a degradação da situação das empresas produziria. Este é um modo eficaz e
seguro de produzir um efeito de competitividade e constitui uma medida substitutiva da descida
da taxa social única, a qual exigiria condições orçamentais que Portugal não dispõe neste
momento.
Por seu lado, esta medida substitui a desvalorização fiscal, ao contribuir para a competitividade
da economia através da redução dos custos unitários do trabalho, mas sem as implicações
adicionais para as contas públicas que uma redução da taxa social única inevitavelmente teria.
Este aumento excepcional do tempo de trabalho deverá permitir a criação de uma margem
adicional de flexibilidade para as empresas que a deverão utilizar de forma a melhorar a sua
competitividade com vista a melhorarem o seu desempenho.
O aumento excepcional do tempo de trabalho, que vigorará nos anos de 2012 e 2013, não
deverá ultrapassar 30 minutos por dia e as 2h30 por semana. No caso de trabalhadores a tempo
parcial, o aumento deverá ser proporcional. O empregador deverá observar um determinado
procedimento para implementar o aumento do período normal de trabalho.
Devem ficar, no entanto, excluídos da aplicação desta medida determinados grupos de
trabalhadores por razões de protecção da saúde, das condições físicas e da juventude e de
promoção da formação e qualificação dos trabalhadores. O novo regime terá em conta a
necessidade de facilitar a conciliação das responsabilidades profissionais com as
responsabilidades familiares e académicas e com as capacidades de cada um. Deste modo, ficam
excluídos da aplicabilidade da medida os menores, as grávidas, puérperas ou lactantes, os
trabalhadores com capacidade de trabalho reduzida ou com deficiência ou doença crónica e os
trabalhadores estudantes.
O aumento do tempo de trabalho pode ser repartido por todos ou alguns dias normais de
trabalho. No caso de acordo entre o empregador e o trabalhador ou de trabalho por turnos
quando a repartição pelos dias normais de trabalho seja impraticável, o aumento do tempo de
trabalho pode ser acumulado durante um período de até quatro semanas e ser utilizado pelo
empregador na semana subsequente, em outro dia que não seja de descanso semanal
obrigatório.
Este regime excepcional mantém o procedimento previsto no Código do Trabalho para a
alteração do horário de trabalho e consagra um dever especial de informação do empregador
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aos trabalhadores sobre a sua intenção de utilizar o aumento do período normal de trabalho e a
sobre sua relevância na evolução da empresa.
ENERGIA
É fundamental garantir a Sustentabilidade do Sistema Energético e o aumento da Eficiência
Energética como suporte duma Economia mais Competitiva. Propõe‐se uma nova política
energética que promova a competitividade dos mercados e o crescimento económico através de
5 dimensões estratégicas:
1. Colocação da energia ao serviço da economia e das famílias, garantindo a
sustentabilidade dos preços
2. Aumento da eficiência energética para 25% a 2020
3. Cumprimento das metas europeias para 2020 em matéria de renováveis (31%),
renováveis nos transportes (10%) e emissões de CO2 (20%)
4. Redução da dependência energética para 60%, garantindo a segurança no
abastecimento
5. Concretização de mercados energéticos liberalizados, competitivos e saudáveis
Estas 5 dimensões compõem a política energética, sendo esta desenvolvida em diferentes
prioridades de actuação, das quais destacamos:
Promover e garantir a sustentabilidade dos preços de energia, numa óptica de
médio/longo prazo tendo como baliza o ano de 2020, limitando o crescimento anual dos
preços a 1.5% garantindo a competitividade da economia e o bem‐estar das famílias
minorando o previsível aumento no preço total de energia. Para garantir a
sustentabilidade do Sistema Eléctrico Nacional encontram‐se em análise as seguintes
medidas:
o Revisão dos custos dos Contratos de Aquisição de Energia (CAE), dos Custos de
Manutenção de Equilíbrio Contratual (CMEC), dos custos com a garantia de
potência pagos aos produtores em regime ordinário e do sistema tarifário;
o Alocação das receitas da venda de licenças de CO2;
o Diferimento dos sobrecustos da Produção em Regime Especial;
o Redução de custos da co‐geração
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Extinção das tarifas reguladas de venda de electricidade e gás natural a clientes finais,
que será concluído até 1 de Janeiro de 2013, adoptando as medidas necessárias à
protecção dos consumidores, em especial dos consumidores vulneráveis através da
criação da Tarifa Social no Gás, à semelhança do que foi efectuado para a electricidade.
Pretende‐se estimular a concorrência nos sectores indicados promovendo o
aparecimento de novos players no mercado.
Efectuar a revisão dos objectivos definidos no PNAEE ao longo do período 2008‐2010,
através da análise ao balanço dos seus programas e medidas, com o objectivo de
projectar novos objectivos e metas para 2016 e reforçar assim o cumprimento dos
objectivos definidos actualmente. Tendo por base a execução do PNAEE ao longo do
período 2008‐2010, encontram‐se em análise novos objectivos e metas para 2016 com
base na confirmação de exequibilidade de medidas em curso, na substituição de
medidas sem impacto previsível e na inclusão de novas acções, perspectivando‐se atingir
uma economia no consumo de energia final de 2.239.973 tep, equivalente a 12,1% face
ao mesmo período de referência do PNAEE inicial (2001‐2005).
Revitalização das empresas de serviços energéticos – ESCO’s, com o objectivo de
aumentar em 30% a eficiência energética nos serviços públicos, equipamentos e
organismos da Administração pública, no horizonte de 2020.
Na área dos Transportes a implementação de um sistema de eco‐condução e
monitorização da condução nos Transportes Públicos pesados de Passageiros e de
Mercadorias.
Em coerência com o Plano Estratégico dos Transportes, prevê‐se ainda avançar com algumas
iniciativas que terão impacto na eficiência energética neste sector, nomeadamente:
Na área da logística e das infra‐estruturas ferroviárias, o redimensionamento e
requalificação da rede nacional ferroviária, ponderando as necessidades do transporte
de passageiros e de mercadorias;
Na área portuária e do transporte marítimo, a melhoria do modelo de governação do
sistema portuário, a efectiva integração dos portos no sistema global de logística e
transportes e a intensificação da modernização tecnológica dos instrumentos de gestão
portuária.
Na área da Indústria entre as medidas a efectuar podemos destacar o reforço do Sistema
de Gestão dos Consumos Intensivos de Energia (SGCIE), nomeadamente através do
incentivo à adesão de empresas não abrangidas e através de estímulo das condições de
cumprimento voluntário esperando‐se assim um aumento das empresas aderentes ao
Sistema.
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INFRA‐ESTRUTURAS E TRANSPORTES
Tendo presente a situação financeira do país, a necessidade de assegurar o cumprimento dos
compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português e o objectivo de relançamento
do crescimento económico, serão estabelecidas 3 prioridades de actuação relativamente ao
sector das infra‐estruturas e transportes:
Reconhecendo a insustentabilidade financeira a que chegou o Sector Empresarial do
Estado de Transportes Terrestres – no qual a generalidade das empresas se encontram
em situação de falência técnica – torna‐se necessário proceder à sua urgente e profunda
reforma estrutural, para a qual todos os parceiros e partes envolvidas deverão dar o seu
contributo e participação activa, na viabilização futura de um sector estratégico para a
sociedade e economia nacionais, sendo a pedra basilar para a melhoria das condições de
vida das populações e para a coesão social e territorial, representando a aposta na
sustentabilidade de um sector determinante para a economia e que emprega
directamente cerca de 13.000 pessoas.
Prevê‐se assim conduzir a reestruturação e equilíbrio financeiro do Sector Empresarial
do Estado como meio para a captação de financiamento de origem externa, sem
prejuízo da prossecução do interesse público no âmbito dos Serviços de Interesse
Económico Geral.
Os limitados recursos públicos e comunitários de que o país dispõe para o investimento,
deverão ser canalizados para aqueles projectos que, comprovadamente, gerem retorno
económico e contribuam para a melhoria da competitividade das empresas e
exportações nacionais tendo aqui um papel fundamental o investimento na ferrovia
relativo ao transporte de mercadorias, enquanto motor de crescimento económico, de
modo a criar condições de competitividade para a economia nacional.
Nesta senda, será delineado um programa de longo prazo de migração de bitola ibérica
para a bitola europeia, ao longo dos grandes corredores internacionais de mercadorias,
de forma a assegurar a competitividade do transporte ferroviário de mercadorias,
integrado no mercado nacional, ibérico e europeu. Neste sentido, será priorizada a
ligação ferroviária de mercadorias entre os Portos de Sines/Lisboa/Setúbal, a Plataforma
Logística do Poceirão e Madrid/resto da Europa. A aposta terá também de ser feita na
promoção de uma ligação ferroviária para mercadorias ao longo do grande corredor
internacional Aveiro – Vilar Formoso, permitindo a ligação entre os Portos de Aveiro e
Leixões a toda a Península Ibérica e ao resto da Europa, assegurando as condições de
interoperabilidade entre as redes ferroviárias em bitola ibérica e europeia.
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Atenta a crescente importância do mar para a evolução da economia nacional, o sector
marítimo‐portuário tem vindo a desenvolver‐se progressivamente, assistindo‐se a uma
modernização de infra‐estruturas portuárias e ao aumento do investimento nos portos
portugueses. Neste contexto, o investimento neste sector é determinante para
alavancar a competitividade e o desenvolvimento da economia nacional, importando
realizar um esforço na concretização dos projectos que contribuam para aumentar a
competitividade das exportações nacionais, onde o Estado terá um papel determinante,
através do apoio público ao investimento privado. Deste modo, este sector dará um
contributo fulcral para ultrapassar a actual situação económico‐financeira do país,
impulsionando o crescimento económico sustentável e a criação de emprego.
O sector do transporte aéreo destaca‐se pelo crescimento previsto, importando que, nessa
medida, seja libertado quaisquer constrangimentos que impeçam o seu desenvolvimento e
crescimento, criando condições para que consolide a sua posição competitiva no mercado
global, nomeadamente garantindo a vanguarda em termos de gestão operacional de aeroportos,
harmonização com as melhores práticas comunitárias, pioneirismo na gestão eficiente de
recursos como modelo de desenvolvimento e implementações tecnológicas de vanguarda, num
sector que emprega cerca de 15.500 trabalhadores, ocupando por isso, um lugar de destaque na
economia portuguesa. Tirando partido da posição geográfica privilegiada de Portugal a nível
mundial, importa:
Consolidar e capitalizar também esse factor, no sentido do desenvolvimento e
crescimento do sector, onde desempenhará um papel relevante a avaliação e viabilidade
de conversão de outras infra‐estruturas aeroportuárias existentes que permitam receber
o eventual tráfego que não seja possível acomodar no aeroporto da Portela.
Desta forma, permite‐se igualmente o desenvolvimento inerente da região, com maior
captação de tráfego e aumento de capacidade na gestão aeroportuária e de tráfego
aéreo, com o desejado efeito de aumento do número de postos de trabalho, directos e
indirectos.
Dar‐se‐á, assim, especial enfoque à redução de custos de contexto e eliminação de
estrangulamentos existentes na regulamentação técnica do sector, designadamente do
transporte ferroviário e marítimo, com forte impacte na competitividade do negócio ferroviário
e marítimo de mercadorias, bem como aliviar as restrições operacionais e de capacidade no
sector dos transportes aéreos e, consequentemente aumentar a eficiência e a capacidade de
alocação de tráfego, como estratégia de desenvolvimento sectorial, impulsionando as áreas do
turismo e negócio, de extrema importância no contexto económico português. Releva também a
importância da eliminação de ineficiências de mercado associados às actividades dos principais
sectores e empresas exportadoras, nomeadamente em matéria de transportes, procedimentos
administrativos e quebras na cadeia de valor, procurando uma solução de sustentabilidade que
permita acautelar o futuro.
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A este propósito e porque as medidas de racionalidade devem ser acompanhadas de acções que
as tornem válidas, destaque‐se, em matéria de investimento público de carácter estruturante, o
investimento público:
Nos domínios da logística e intermodalidade das redes de transportes, através da
definição dos grandes corredores de acessibilidade e conectividade internacional de
Portugal Continental, sendo que é ao longo destes corredores que ligam Portugal a
Espanha e ao resto da Europa, bem como através do sistema portuário e aeroportuário,
que se concretiza a ligação ao resto do Mundo.
A terceira prioridade de actuação é o redimensionamento dos sistemas de transporte, dentro
das capacidades financeiras do País, de forma a dar uma resposta adequada à procura e às
necessidades de mobilidade e acessibilidade de pessoas e bens, privilegiando os modos de
transporte que, em cada caso, se revelem mais eficientes para o concretizar. No âmbito dos
tarifários a praticar nos serviços de transporte público, procurar‐se‐á ajustá‐los á paridade do
poder de compra dos cidadãos, sendo ainda dada continuação à reformulação dos mecanismos
de apoio social, concentrando‐os nos segmentos da população de menores rendimentos e que
deles mais necessitam, dada a actual conjuntura económica e financeira que o país atravessa.
REABILITAÇÃO URBANA
Portugal tem quase 6 milhões de alojamentos de acordo com Census 2011, ocupando o 2º lugar
em número de alojamentos por agregado familiar (1,38) se comparado com os restantes países
da Europa. Neste momento, existem cerca de 800.000 fogos a necessitar de obras, dos quais,
325.000 degradados e muito degradados. Há mais 500 mil alojamentos vagos o que representa
um desperdício económico e patrimonial. A reabilitação urbana em Portugal pesa cerca de 6%
no total da construção (Média europeia perto dos 34%).
O sector da reabilitação não mostra actualmente uma dinâmica positiva e está inclusivamente a
desacelerar. Assim sendo, a aposta na reabilitação é actualmente uma efectiva prioridade:
Criação de um fundo de investimento (JESSICA – ver anexo para mais detalhe) com
capacidade de alavancar até 1 000 milhões de investimento, destinado à reabilitação
urbana, o qual apresenta uma comparticipação tripla, do FEDER, da banca e de fundos
privados.
Este fundo será um instrumento de apoio à economia que acaba por ser uma primeira
aproximação que poderá potenciar o aparecimento de outros fundos.
O fundo auto‐sustentar‐se‐á, ou seja, o financiamento feito através do fundo não será a
fundo perdido e terá que ter retorno.
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A partição do capital deste fundo estará inserido numa rede europeia, e será constituído
da seguinte forma:
o 130 Milhões de euros do FEDER
o Cerca de 300 milhões de euros da banca
O O restante pertence a fundos privados
H. COMBATE À FRAUDE E EVASÃO FISCAIS
O combate à fraude e à evasão fiscal são essenciais para diminuir o peso da economia informal
em Portugal e, por essa via, contribuir para um reforço da justiça tributária. Nesse âmbito, tem
havido uma crescente desmaterialização de procedimentos e controlo informático respeitante
ao cumprimento das obrigações tributárias. Esta tendência tem‐se reflectido num incremento da
utilização de meios de auditoria informática dos serviços de inspecção.
Esta tendência tem permitido ganhos de eficiência que se têm traduzido numa maior capacidade
de intervenção junto dos contribuintes, o que tem permitido superar em vários exercícios o
objectivo da cobrança coerciva que foi imposta.
Não obstante, continua a existir espaço para a melhoria do desempenho da Inspecção Tributária,
concorrendo para os resultados positivos alcançados no âmbito da justiça tributária e
coadjuvando a investigação criminal.
Uma das prioridades na área fiscal será a elaboração do Plano estratégico de combate à fraude e
evasão fiscais para o período 2012 a 2014. Um dos vectores prioritários do Plano será reforçar os
meios humanos e legais no combate à fraude e evasão fiscais.
Neste enquadramento, pretende‐se:
Aumentar os meios humanos e os recursos destinados à Inspecção Tributária, incluindo
no plano aduaneiro, de modo a que passem a representar 30% do total dos activos da
DGCI, sendo que este objectivo deverá ser conseguido fundamentalmente através da
reafectação interna de trabalhadores
Aumentar os recursos destinados à Direcção de Serviços de Investigação da Fraude e de
Acções Especiais (DSIFAE), no âmbito de um reforço o combate à fraude de elevada
complexidade;
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Reforçar as inspecções e cobrança coerciva baseadas em técnicas de gestão de riscos,
através do desenvolvimento de novas aplicações informáticas e do acompanhamento
dos devedores com maior perfile de risco;
Intensificar a troca de informações com outros países, nomeadamente por via da
celebração de convenções internacionais, optimizando e aplicando o cruzamento de
informações com outras jurisdições tributárias;
Destacar os preços de transferência como área prioritária de intervenção, de modo a
corrigir operações realizadas entre entidades relacionadas e para que os preços de
mercado possam ser de facto praticados;
Promover a utilização mais frequente da cláusula geral e das cláusulas específicas
antiabuso, para combater de forma mais eficaz o planeamento fiscal mais agressivo;
Criar um quadro penal e processual mais exigente para os crimes fiscais mais graves,
com destaque para os crimes de fraude qualificada, associação criminosa e burla
tributária;
Prevenir o contencioso fiscal através da melhoria dos procedimentos inspectivos e
fundamentação das correcções, de forma a evitar litígios desnecessários com os
contribuintes e garantir o respeito estrito pelo princípio da legalidade