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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA ROBERTO SHAYER LYRA COMPUTADOR DE BAIXO CUSTO ANALISE HISTÓRICA DO DESENVOLVIMENTO DOS COMPUTADORES Brasília - DF 2002

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Page 1: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

ROBERTO SHAYER LYRA

COMPUTADOR DE BAIXO CUSTO

ANALISE HISTÓRICA DO

DESENVOLVIMENTO DOS COMPUTADORES

Brasília - DF

2002

Page 2: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

II

ROBERTO SHAYER LYRA

COMPUTADOR DE BAIXO CUSTO

ANALISE HISTÓRICA DO

DESENVOLVIMENTO DOS COMPUTADORES

Trabalho apresentado à banca

examinadora da UCB, para

conclusão do Mestrado de Gestão

e Tecnologia

Orientador: Renato Guadagnin

Brasília - df

2002

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III

Ficha bibliográfica

Page 4: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

IV

ROBERTO SHAYER LYRA

COMPUTADOR DE BAIXO CUSTO

ANALISE HISTÓRICA DO

DESENVOLVIMENTO DOS COMPUTADORES

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________

Renato Guadagnin

____________________________

[Nome do Examinador]

____________________________

[Nome do Examinador]

[Cidade], [Dia] de [mês] de 2018.

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V

Agradecimentos.

Aos professores, do trecho mais

recente do caminho. Ao Professor Prates, que

com suas perguntas ampliou este trabalho e ao

Professor Renato cuja paciência me ajudou a

fechá-lo.

As pessoas que estão há mais tempo

nesse caminho. À Jean, pela pressão, à Helena

pelo trabalho e à Tais, pelo motivo.

A quem ainda não chegou, pelo

caminho que traz.

Page 6: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

VI

Os homens rezam para que Deus lhes indique um caminho

enquanto

Deus reza para que os homens sejam sábios na escolha de seus caminhos.

Provérbio Manoi

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VII

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................... 1

2 REFLEXÃO SOBRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE ............... 3

3 MOTIVAÇÃO ............................................................................ 7

4 OBJETIVOS DA PESQUISA .................................................... 9

5 HIPÓTESE .............................................................................. 10

5.1 EVENTO PADRÃO NA HISTÓRIA DOS COMPUTADORES . 10

5.2 CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS ................................................. 15

5.3 O PDA É UMA NOVA OCORRÊNCIA DO PADRÃO .............. 27

6 METODOLOGIA ..................................................................... 28

7 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA ................................... 30

7.1 MAINFRAME: O /360 .............................................................. 30

7.2 1O EVENTO: O MINICOMPUTADOR ...................................... 36

7.3 O MINICOMPUTADOR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS ............. 40

7.4 2O EVENTO: O MICROCOMPUTADOR .................................. 45

7.5 O MICROCOMPUTADOR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS ........ 54

7.6 3O EVENTO: O PDA ................................................................ 57

7.1 GERAÇÕES DE COMPUTADORES ...................................... 66

8 RESULTADOS ........................................................................ 71

9 CONCLUSÃO ......................................................................... 76

10 PROPOSTAS PARA OUTRAS PESQUISAS ......................... 85

10.1 A PRÓXIMA ONDA.............................................................. 85

10.2 ETAPAS E CLIENTES ......................................................... 85

10.3 CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA ................................... 85

11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................... 87

12 APENDICE – PROJEÇÃO DE VENDAS ................................ 90

13 ANEXO – LEIS DA INFORMÁTICA ....................................... 95

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VIII

LISTA DE TABELAS

TABELA 1. CUSTO/BENEFÍCIO .................................................. 19

TABELA 2. CUSTO/BENEFÍCIO E COMPUTADOR DE BAIXO CUSTO. 21

TABELA 3. QUADRO RESUMO MAINFRAME / MÍNI ................. 45

TABELA 4. QUADRO RESUMO MÍNI / PC .................................. 57

TABELA 5. QUADRO RESUMO PC / PDA .................................. 66

TABELA 6. TABELA DE GERAÇÕES ......................................... 67

TABELA 7. QUADRO RESUMO COMPLETO ............................. 75

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IX

LISTA FIGURAS

FIGURA 1. ALMIRANTE GRACE HOPPER. .................................. 4

FIGURA 2. BROWNIE..................................................................... 6

FIGURA 3. CONCENTRAÇÃO ..................................................... 17

FIGURA 4. CONCENTRAÇÃO E VALOR. ................................... 18

FIGURA 5. MODELO CENTRAL. ................................................. 20

FIGURA 6. MODELO DISTRIBUÍDO. ........................................... 22

FIGURA 7. IBM /360 ..................................................................... 33

FIGURA 8. PDP-6 ......................................................................... 37

FIGURA 9. PDP – 8 ...................................................................... 39

FIGURA 10. PDP-8 E COLHEITADEIRA...................................... 43

FIGURA 11. ARPANET................................................................. 44

FIGURA 12. ALTAIR ..................................................................... 48

FIGURA 13. REVISTAS. ............................................................... 50

FIGURA 14. GO ............................................................................ 58

FIGURA 15. OMBOOK ................................................................. 60

FIGURA 16. MODELOS DE PALM ............................................... 65

FIGURA 17. CONTROLES REMOTOS ........................................ 83

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X

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1. GRÁFICO DE PUGH ............................................... 12

GRÁFICO 2. MERCADO DE MINICOMPUTADORES. ................ 41

GRÁFICO 3. VENDAS DE PC, NOTEBOOK E PDA .................... 61

GRÁFICO 4. NÚMERO DE DESENVOLVEDORES. .................... 64

GRÁFICO 5. GRÁFICO DE GORDON BELL ............................... 69

GRÁFICO 6. VARIAÇÃO DE BELL .............................................. 70

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XI

RESUMO

Na história dos computadores ocorre o surgimento periódico de um modelo

inovador que causa grande impacto na sociedade. Entre as principais inovações dessas

máquinas encontramos novas relações comerciais, uso de tecnologias existentes e

poucas inovações efetivas. Apesar disso, elas são responsáveis pelo avanço da

automação da informação dentro das empresas. Seu impacto na vida privada não é

menor. Até o momento isto ocorreu duas vezes, com os mínis e os microcomputadores.

Um terceiro evento semelhante está ocorrendo com o estabelecimento dos PDA como um

novo padrão de mercado, e terá conseqüências semelhantes, tanto para as organizações

quanto para a vida privada do cidadão.

Palavras chave: minicomputadores, microcomputadores, mainframes, handheld,

PDA, inovação tecnológica, custo, sistemas abertos.

ABSTRACT

In the history of computers, every now and again a new model appears on the

scene that has a marked impact on society. Among the main innovations introduced by

these machines, we find new commercial relations and the implementation of existing

technology, though few truly revolutionary novelties. In spite of this, they are responsible

for the advance of the automation of information in companies, and their impact on private

lives is equally significant. Until now this has happened twice, namely with minicomputers

and subsequently with microcomputers. A third phase is now being reached with the

establishment of PDAs as the market standard and it will have similar consequences, both

for organizations and the lives of private individuals.

Key word: minicomputers, microcomputers, mainframes, handheld, PDA,

technological innovation, cost, open system.

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1 INTRODUÇÃO

Computadores são algo recente na história humana. Poucos elementos se

desenvolveram tão rápido e tiveram tanto impacto. Poucas áreas geraram tanto

conhecimento em tão pouco tempo e tornaram tanto conhecimento obsoleto tão

rapidamente. Talvez a obsolescência seja a causa de tanto desinteresse por essa

história.

É fácil encontrar projeções sobre qualquer período futuro. Analistas

fornecem o numero de pessoas conectadas na Internet pelos próximos dez anos,

seja em linha comum ou banda larga. Garantem saber quais tecnologias serão

adotadas, mesmo as ainda em desenvolvimento. Tudo isso é feito baseado em

pesquisas e estudos estatísticos. Mas raramente utilizamos o passado como

referencial, como ponto de partida. Geralmente porque as mudanças foram tão

drásticas que não conseguimos traçar paralelos entre passado e presente. Com que

fato é possível traçar um paralelo da expansão atual da Internet comercial?

Parte do problema talvez seja proveniente de tratar-se de fatos muito

recentes. O IBM /360, computador que criou muitos conceitos hoje considerados

obrigatórios, ainda pode ser encontrado em atividade. Se mudarmos o foco dos

computadores para computação, teremos toda a história da lógica e do calculo,

começando com o ábaco. Passaremos pela lógica de Boole até os dias de hoje, com

certeza uma longa jornada. Mas a história dos computadores é muito curta

realmente.

Ainda assim, este estudo nasceu da certeza de que existe algo a ser

descoberto ou entendido nessa história. Algo que ajudará a entender não apenas o

panorama atual, mas estimar as mudanças futuras. Algumas dessas mudanças já

estão acontecendo, mas estamos envolvidos demais num turbilhão de informações

para apreciarmos alguns detalhes, hoje irrelevantes. Dezenas de produtos são

lançados diariamente. A grande maioria se divide entre aqueles que desaparecerão

antes de um ano ou aqueles que nada acrescentam ao que já existe. Localizar qual

a notícia que trará um verdadeiro impacto é o grande desafio.

Uma reflexão sobre tecnologia e sociedade traça algumas considerações

sobre invenções científicas e seu impacto numa sociedade.

Motivação apresenta experiências pessoais que motivaram a este caminho.

Objetivos da Pesquisa discute resultados esperados.

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Hipótese descreve as duas hipóteses que são o objetivo deste trabalho. Na

primeira é descrito um evento que ciclicamente acontece na história dos

computadores, detalhando suas características e conseqüências. A segunda fala de

uma ocorrência desse evento, que está acontecendo neste momento.

Metodologia descreve o processo de coleta de informações e sua

organização para este trabalho.

Desenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos

computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar

ocorrências dos eventos citados, e suas conseqüências. Esse capítulo conclui com a

comprovação de que estamos dentro de um novo evento, e indica o momento desse

evento que estamos vivendo.

Resultados começa com uma revisão dos dados levantados e da

averiguação da hipótese.

Conclusão discute uma visão sobre computadores, partindo da velha

classificação de gerações até chegar ao computador de baixo custo e à última milha

da informação.

Propostas para outras pesquisas finaliza com sugestões para outras linhas

de pesquisa que não puderam ser contempladas nesse trabalho.

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2 REFLEXÃO SOBRE TECNOLOGIA E SOCIEDADE

Quando um astrônomo busca novos corpos celestes, não tem pretensões de

alterar a vida das pessoas, além de fornecer material para livros educativos e ficção

científica. Mesmo que descubra um meteoro que irá colidir com a Terra, dificilmente

poderá alterar algo nesse processo. Esse é um tipo raro de cientista. Diferentemente

dos médicos, seu objetivo é um conhecimento sem uso imediato. Pesquisadores de

sistemas de informações esperam alguns resultados mais concretos, como os

médicos. Também como os médicos, eles sabem que há ações pouco científicas

que produzem grandes resultados. Os avanços nas condições sanitárias básicas

ocorridas desde o início do Século XX tiveram mais impacto do que qualquer vacina

desenvolvida. Os princípios que justificam essas medidas remontam a décadas ou

séculos. Mesmo quando falamos de vacina, é necessário separar o processo

científico de desenvolvimento da vacina da ação social para vacinação em massa.

Quando em maio de 1980 a OMS declarou que “o mundo e seus habitantes estavam

livres da varíola”, foi o resultado de uma ação social global utilizando uma invenção

cientifica.

Em abril de 1959 (SAMMET, 1978) um grupo de empresas, pesquisadores e

usuários se reuniu na Universidade da Pensilvânia para discutir a evolução das

linguagens de desenvolvimento de sistemas. Dezenas de linguagens eram

desenvolvidas naquele período. Entre outras iniciativas havia o FLOW-MATIC, o

COMTRAN (Commercial Translator), o IAL (futuro Algol). Nenhuma delas tinha

ampla aceitação no mercado. Cada uma estava restrita a um pequeno nicho, ou por

ser de uso específico demais, ou compatível com apenas uma linha de máquinas.

Essa diversidade de linguagens elevava muito o custo dos sistemas, porque, entre

outros, aumentava a necessidade de treinamento e re-desenvolvimento de códigos.

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Figura 1. Almirante Grace Hopper.

Ela teve um papel fundamental na adoção do inglês como linguagem de programação, um dos marcos do COBOL. Fonte: US Navy.

O grupo da Pensilvânia discutiu a possibilidade de criar uma linguagem para

resolver problemas diversos e que fosse independente de equipamento. Essa

linguagem seria o CBL, depois chamado de COBOL (Commom Bussines Orientaded

Language). A partir desse grupo foi formado o Codasyl1, de onde saiu a primeira

especificação do Cobol.

Mas o destino do COBOL poderia ser o mesmo do COMTRAN ou Algol,

restrito a um pequeno grupo de fabricantes e consumidores. O que mudou foi o

apoio do Departamento de Defesa através da decisão de comprar produtos,

incluindo programas, compiladores ou computadores que aceitassem COBOL. Isso

sinalizou para o mercado uma garantia de retorno para quem investisse na

linguagem, fosse fabricante, profissional, usuário, consumidor.

Dessa forma simples, mas decisiva, o governo criou aquele que seria um

dos mais fortes padrões em desenvolvimento de sistemas até hoje. A mera

existência do padrão mudou a forma de desenvolver sistemas, bem como a forma de

vendê-los. Tecnologias foram criadas em torno do COBOL, como as métricas

voltadas para medir a produção de código.

Novamente temos dois eventos: um foi o trabalho científico que levou à

elaboração da especificação do COBOL; outro, o apoio do Departamento de Defesa

1 “Committee on Data Systems Languages”, comitê que especificou a versão inicial do Cobol, antes desta tarefa pertencer a ANSI (American National Standards Institute).

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como comprador que estimulou a indústria. O primeiro criou uma inovação

tecnológica, uma linguagem de desenvolvimento de sistemas com características

únicas; o segundo direcionou o mercado para investir nessa inovação tecnológica.

Porém queremos discutir não o impacto na comunidade profissional, mas na

sociedade. O uso do COBOL permitiu que sistemas mais baratos fossem

desenvolvidos mais rapidamente2, o que também revertia em redução de custo.

Essa redução pode ter permitido o maior uso de computadores pelas empresas e

governo, o que, além desses setores, poderia beneficiar também o cidadão. Embora

seja uma relação clara, mensurar o efeito final torna-se quase impossível.

Contudo, em alguns casos o efeito sobre a sociedade é perceptível, como

nos “pratos secos” de Eastman. A partir de 1878 George Eastman produziu3 vários

avanços na fotografia, como a emulsão seca4, os equipamentos de produção de

placas de emulsão em massa5 e a substituição do vidro por películas flexíveis6.

Esses avanços, mais tecnológicos que científicos, permitiram a criação da Kodak na

virada do século. Entre os preceitos de negócios da empresa estava o foco no

cliente, embora ele ainda não existisse quando a Kodak começou. Antes da película

e da emulsão seca, a fotografia era feita em estúdios por profissionais. O fotógrafo,

que comprava produtos fotográficos, era o dono de estúdio, e o cidadão comum era

apenas um consumidor de serviços desse estúdio. Utilizando suas inovações,

Eastman lançou a Brownie, uma máquina fotográfica popular que mudou a relação

da sociedade com a fotografia7. Agora o cidadão comum poderia comprar sua

própria máquina e decidir seu uso. Deixou, então, de consumir um serviço para

controlar o processo. O cidadão era o fotógrafo.

2 O COBOL não era necessariamente mais simples para desenvolver, mas era mais fácil de aprender por usar elementos comuns de linguagem (inglês) e se tornar popular em cursos abertos ao público. 3 Algumas inovações estavam sendo lançadas tanto por Eastman como por outras pessoas, por isso nem mesmo ele se creditou o papel de inventor. 4 Pratos de emulsão seca, do original “dry plates”, melhor traduzido por placas. A fotografia era feita a partir de uma emulsão líquida que precisava ser feita, usada e processada na mesma hora. Isto implicava que fotografia só podia ser feita em estúdio. Com a emulsão seca, era possível tirar fotografias horas depois de feita a emulsão e revelar muito depois. 5 As placas eram feitas manualmente. 6 A película flexível é o filme atual. Isto reduziu o peso e tornou o equipamento menos frágil. 7 As Brownies foram o maior sucesso da Kodak. Eram vendidas com o filme de 100 poses. Ao terminar, o fotografo levava a máquina para a Kodak, que revelava e carregava novamente a máquina. Era uma nova forma de fotografar e de vender serviços.

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Figura 2. Brownie

A Brownie foi um dos maiores sucessos da Kodak. Fonte: Kodak.

Existem muitos outros exemplos de como inovações científicas e

tecnológicas causaram impactos na sociedade. Talvez a maior seja a linha de

produção de Henry Ford redesenhando as cidades durante um século.

Este trabalho se ocupa de momentos da história dos computadores, quando

esse impacto sobre a sociedade foi visível. Este trabalho fala de Brownie.

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3 MOTIVAÇÃO

Pouco depois de começar a trabalhar com sistemas de informação, na

década de 80, começaram a surgir os micros no mercado local. Nessa época eu

estava entre o estágio e o primeiro emprego. Tentava entender como funcionava

aquele mundo, não apenas os computadores e sistemas, mas como estes

interferiam na sociedade. Nossas principais referências eram os analistas mais

experientes. Alguns ainda traziam uma aparência hippie, o que lhes conferia uma

aura de gurus cibernéticos psicodélicos. Acreditávamos em tudo que diziam.

Vivíamos a transição dos grandes mainframes IBM para os mínis e super-

mínis. Maior que a IBM apenas seu tombo. Nossos líderes estavam mudando o

mundo com computadores pequenos, programas rápidos e cabelos grandes .

Com a chegada dos micros, objetos tão falados em revistas e jornais,

esperamos para ver o que nossos mentores fariam. O resultado, na maioria das

vezes foi frustrante, mas somente notamos isso muitos anos depois. Os micros eram

tratados com um misto de reverência, prazer e desprezo. A reverência vinha do fato

de um computador caber inteiro dentro daquela caixa, e do fato de que nós,

estagiários, estávamos proibidos de nos aproximarmos. A possibilidade de poder

criar programas e mexer nos componentes tornavam os micros pequenos

brinquedos, daí o prazer. Mas os analistas não conseguiam ver naquelas coisas

alternativas para seus sistemas. Enquanto solução profissional, a atitude era de

desprezo. Neste período perguntei várias vezes a diferença entre um terminal

inteligente e um micro computador. Consegui muitas respostas, mas a maioria era

de que havia pouca ou nenhuma diferença.

Não conseguíamos combinar o desânimo dentro dessas empresas com a

euforia no mercado. Havia uma clara dissonância, que não entendíamos. Mas fomos

fiéis a nossos gurus, e voltamos ao Cobol e ao Mumps. Posteriormente entendi a

diferença entre os micros e os terminais inteligentes: terminais foram aqueles que

desapareceram, enquanto os micros foram os que mudaram a forma de fazer

sistemas.

A minha motivação são aqueles analistas, símbolos de inteligência e

renovação, mas no fundo tão resistentes a mudanças. Defenderam seus pequenos

feudos profissionais como um campo de batalha. Perderam a guerra e também sua

função. Eles deveriam ser os agentes nos processos de mudanças que envolvessem

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computadores e informação, mas se tornaram parciais demais. Seu trabalho ficou

comprometido.

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4 OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo deste trabalho é montar um modelo de evento usando o míni e o

microcomputador. Este modelo se baseia em características desses eventos,

principalmente na ruptura para a computação que cada um significou em suas

respectivas épocas. O modelo é ilustrado com conseqüências desses eventos.

A segunda parte do trabalho apresenta o PDA como uma nova ocorrência do

evento, por ter as mesmas características e ampla aceitação no mercado.

Finalmente apresenta este momento como um momento de ruptura semelhante aos

anteriores.

Não é objetivo deste trabalho apresentar o PDA como um elemento positivo

em um novo cenário da computação. Não visa assumir posturas parciais a favor ou

contra essa ou qualquer outra tecnologia. Cabe aos fornecer apoio técnico para um

mercado que tem objetivos próprios, que nem sempre são conhecidos.

Embora algumas previsões sejam feitas ao final, esse também não é o

objetivo principal deste trabalho. Isso costuma ser pretensioso e ineficaz. Este

trabalho pretende fornecer um diagnostico de um momento de ruptura que está se

iniciando agora, baseado em eventos anteriores.

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5 HIPÓTESE

Esta pesquisa propõe verificar duas hipóteses.

A primeira parte do trabalho prova a existência de um evento padrão. Isso

significa que existe um determinado tipo de ocorrência na história dos computadores

com características definidas e que se repete ciclicamente, que é o lançamento de

um computador de baixo custo.

No escopo do trabalho estão as principais características do evento e

algumas conseqüências. Não será estudado o processo histórico que gera esse

evento, sua periodicidade ou motivações. Este trabalho pretende apenas constatar a

existência do evento.

O caminho para esta demonstração é uma pesquisa histórica, onde serão

analisados eventos anteriores: minis e microcomputadores.

A segunda hipótese é que o PDA é uma nova ocorrência desse evento. Isso

implica demonstrar que o PDA combina com as características descritas do evento

padrão. Mas muitos equipamentos se encaixaram nestas características ao longo

dos anos. É necessário comprovar também que o PDA se tornará um padrão de

equipamento e não apenas um equipamento restrito a um pequeno grupo de

usuários.

A seguir, essas hipóteses são descritas em detalhes.

5.1 EVENTO PADRÃO NA HISTÓRIA DOS COMPUTADORES

O evento descrito é o lançamento de uma nova classe de computador com

custo e capacidade muito abaixo das classes existentes. Esse equipamento não é

fruto apenas de avanços científicos, mas principalmente de uma nova proposta

comercial e tecnológica. Por ser muito limitado em relação aos computadores em

uso, esse equipamento não é considerado um concorrente. A conseqüência desse

evento é a maior disseminação de processos virtuais, tanto nas organizações como

na vida pessoal (ou “no dia a dia”).

A redução no custo deve ser de 90%, ou seja, ele tem um décimo do custo

de um computador padrão8. Mas existe entre os computadores padrão uma variação

8 A expressão “computador padrão” será usada neste texto como referência a um tipo de computador, um modelo existente e largamente usado na época do lançamento do computador de baixo custo. As questões de preço se referem a um modelo básico entre os disponíveis.

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de preço maior do que dez vezes. Para resolver esse problema, foi adotado como

modelo um computador básico porém completo. Ainda assim, esse valor é muito

mais uma ordem de grandeza do que um valor exato. Serve para diferenciar de

eventuais promoções ou de modelos econômicos.

A redução de capacidade desses computadores é de 99%, ou seja, ele tem

um centésimo da capacidade de um computador padrão. Estimar capacidade de

computadores tem sido um desafio constante desde o início da indústria. Embora

existam dezenas de testes, raramente eles funcionam adequadamente para

comparar modelos de plataformas distintas. Novamente o valor de 1% é uma ordem

de grandeza que pode ser observada em valores diversos, como capacidade de

armazenamento, memória volátil, etc.

Com uma redução de preço em 90% e em capacidade em 99%, há uma

deterioração na relação Custo/Benefício. Isso não é uma novidade. Emerson Pugh e

Willian Aspray afirmam que isso aconteceu quando a indústria de computadores

mudou de clientes – do governo para segmentos privados. O governo era movido

por questões de segurança nacional, o que justificava qualquer custo para atingir

suas metas. Já os primeiros clientes privados, como empresas de estradas de ferro

e de seguros, tinham limites para despesas com computadores muito abaixo dos

limites do governo. A mudança significou, então, o atendimento às expectativas de

uma clientela preocupada não apenas com o desempenho, mas também, e

principalmente, considerava os custos em suas decisões.

A lei de Grosch (CERUZZI, 2000, p. 177) afirmava que um computador duas

vezes maior (e portanto com o dobro do custo) teria um desempenho quatro vezes

maior, portanto uma melhor relação Custo/Benefício. Os clientes privados tinham

necessidades e recursos muito menores do que o governo, o que implicava

máquinas muito menores também, mesmo que isso representasse uma pior relação

Custo/Benefício, segundo a Lei de Grosch. Essa deterioração da relação

Custo/Benefício se repete a cada modelo de um computador de baixo custo. Ainda

assim eles se firmam no mercado, porque atendem a uma nova faixa de público.

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Gráfico 1. Gráfico de Pugh

No gráfico de Pugh indica que os clientes governo (segurança nacional) tinham gastos maiores e melhor relação custo benefício, enquanto os clientes “sensíveis” a custo se situavam com custos menores, desempenhos menores e pior relação Custo/Benefício. Fonte: PUGH, ASPRAY.

A redução de custos deve envolver os custos diretos e indiretos. Custos

diretos são aqueles que vão interferir diretamente no preço final, enquanto custos

indiretos são os o cliente terá que pagar, embora não estejam no preço do

computador. Aqui temos treinamento, instalações, etc.

O caminho para redução de custo passa por tecnologias conhecidas,

ambientes menos exigentes, interface de uso mais simples e mais sofisticada

internamente, arquitetura aberta e novas relações comerciais.

Tecnologia é sempre um dos pontos mais curiosos desse processo. Sempre

temos a noção de que tecnologias, como o circuito integrado e o transistor, foram os

únicos responsáveis pelas mudanças do mercado. Mas há várias barreiras entre

uma invenção tecnológica e a chegada de seus benefícios ao mercado.

Primeiro, é o receio de inovar. Os fabricantes estabelecidos têm receio de

adotar em novas tecnologias, ainda não comprovadas totalmente suas qualidades e

conhecidas suas conseqüências. Segundo, vinha o risco dessa nova tecnologia ser

muito eficiente, e tornar obsoleta toda uma linha de produtos em uso. Os próprios

usuários se sentiriam lesados por uma empresa que lhes vende uma solução, e logo

após lança outra que torna a anterior muito obsoleta. Em alguns casos, as inovações

são incluídas em linhas de produtos, mas benefícios como redução de custos, não

são repassados aos preços finais.

Os fabricantes de computadores de baixo custo têm um motivo bem mais

objetivo para se manterem longe das inovações mais recentes: o grande custo de

pesquisa e desenvolvimento. Para manterem seus preços baixos, a verba de

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pesquisa e desenvolvimento é bem menor.

Em compensação, esses equipamentos sempre adotam uma visão mais

ousada em relação às tecnologias existentes. O que for possível utilizar é utilizado

em toda sua extensão. E, se para melhor aproveitar as características dessas

tecnologias, todo um novo projeto deve ser desenvolvido, isto é feito. No final das

contas, eles não geram tanta tecnologia, mas eles a levam mais rápido ao mercado,

na tentativa de criar soluções mais baratas e melhores que os permita diferenciar

seus produtos e sobreviver no mercado.

Os computadores de baixo custo são sempre menos exigentes em relação a

geração anterior. Isso traz três vantagens: primeira, tem custos reduzidos de

instalação, começando no espaço físico necessário, porque também são menores,

até requisitos de eletricidade e refrigeração; segundo, podem estar em operação em

tempo muito menor – quanto mais rápido entrar em operação, mais rápido pagarão o

investimento feito; terceiro, podem operar em locais que a geração anterior não

podia. Nem todo ambiente é adaptável, ou o custo de adaptação pode ser de tal

ordem que não compense. Isto sem falar de distâncias, mobilidade, etc. Quanto

menos exigente, mais fácil levar o computador para perto do problema a ser

resolvido. E quanto mais perto o computador fica do problema em si, menos

problemas com meios de comunicação, atrasos nas informações, etc.

A interface não contribui com custos na compra de um computador, mas tem

implicações sérias no seu uso. Quanto mais complexa a interface maior o

treinamento necessário do pessoal que irá operar o computador. Quanto maior for

esse treinamento, mais caro. Isto traz conseqüências no custo do profissional,

porque haverá um número menor de profissionais treinados disponíveis, pois cada

empresa treinará um número menor e poucos autônomos poderão bancar este

custo. A isso podemos acrescentar o tempo desse profissional parado para

treinamento, etc.

Resumindo, uma interface complexa implica custo de treinamento e salários

maiores.

Para reduzir o custo é necessária uma interface mais simples que a anterior,

o que exige um projeto mais sofisticado internamente. A interface deverá ser mais

fácil para operar e entender. Isso significa uma linguagem mais elaborada, usar

frases completas em lugar simples códigos de erro, por exemplo. Deverá também

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ocultar a complexidade de determinadas ações sob instruções mais simples. Em

resumo, haverá uma transferência de esforço de comunicação e complexidade do

operador para a máquina: em lugar do operador se esforçar para conhecer a

máquina e suas instruções, a máquina deve trabalhar mais para ajudar a

comunicação com o operador e a execução de tarefas complexas.

É importante entender o termo “arquitetura mais aberta”.

Hoje a expressão arquitetura aberta está associada a um padrão

estabelecido por uma ou mais organizações, de uso totalmente livre, com

componentes públicos e conhecidos. Por isso a expressão usada neste trabalho é

“arquitetura MAIS aberta”, significando uma solução mais flexível e aberta que a

solução anterior. Adotar um padrão proprietário, mas que já é usado por um grande

número de empresas, é uma solução MAIS aberta do que utilizar exclusivamente

padrões proprietários próprios, que não são usados por nenhuma outra empresa.

Em termos de hardware isto permite usar soluções produzidas por várias

empresas em larga escala em lugar de soluções exclusivas, com pequenos volumes

de produção. É usar uma lâmpada de supermercado em lugar de fabricar sua

própria lâmpada. Isto reduz o custo dos componentes para o fabricante e o custo de

manutenção para o cliente.

Outro aspecto de arquiteturas mais abertas é a possibilidade de usar

softwares abertos, ou, ao menos produtos de terceiros. Isso elimina ou reduz o custo

do fabricante de desenvolvimento do sistema operacional e dos aplicativos, já

amortizado por terem sido vendidos a vários clientes antes. Outro custo é o

treinamento no uso desses softwares. Quanto mais vendidos, usados e divulgados,

mais pessoas já estarão habilitadas para o seu uso, e mais baixo será o custo do

treinamento e do profissional.

A redução drástica do custo final desse computador, da ordem de 90%,

implica mudar a relação comercial entre compradores e vendedores. Cada tipo de

venda possui embutido, de forma explícita ou não, compromissos entre as partes

que definirão o relacionamento entre cliente e fornecedor. Quanto maior o valor,

maior o compromisso. Isso trará um processo de acompanhamento do fornecedor ao

cliente, transformando uma venda num longo relacionamento. Os compromissos ao

vender uma bicicleta, um carro ou um avião são absurdamente diferentes, embora

todos sejam veículos de transporte. Mas o compromisso não é apenas do fornecedor

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para o comprador. As garantias vêm acompanhadas de regras de uso, e quanto

maiores as garantias maiores as regras associadas.

Isso traz implicações sobre a propriedade do objeto. Quanto maiores as

garantias e as regras, menor a propriedade do comprador sobre o objeto em si. Ele

pode até ser o proprietário, mas tem liberdade muito menor no uso de seu próprio

bem. Em alguns casos sequer é proprietário efetivo, sendo limitado a usá-lo nas

formas permitidas.

Se cada nova geração de computadores de baixo custo tem preços muito

menores, então diminuem as garantias e os compromissos e aumenta a propriedade

do comprador sobre o bem.

O resultado desse trabalho é uma nova classe de computadores. É um

equipamento moderno – usa tecnologias recentes – mas não avançado, mais

portável, de operação mais simples, mais fácil de ser adquirido e 90% mais barato

do que qualquer computador padrão. Mas também é um computador muito mais

limitado, cerca de 1% da capacidade do padrão.

5.2 CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS

Quando um computador de baixo custo é lançado, já existe um parque

instalado em torno dos computadores-padrão. Esse parque inclui profissionais,

sistemas, ferramentas de desenvolvimento, suporte, prestação de serviços. Todo

esse parque está baseado nos computadores existentes, incluindo seus custos e

suas capacidades. Nesse ambiente, o computador de baixo custo, com sua

capacidade de 1%, não se adequa à maioria dos usos destinados a um computador.

Profissionais e usuários não o consideram útil, sequer que seja um computador.

De fato, esse não é o mercado alvo do computador de baixo custo. Este é

projetado para um novo público, que ainda não utiliza computadores, geralmente por

não poder arcar com os custos. Este custo não é um valor tão simples como pode

parecer. Um estudante universitário não paga diretamente o custo dos

computadores de sua universidade, mas este custo terá uma influência no grau de

acesso a que ele terá direito. Por outro lado, empresas não consideram apenas o

custo, mas a relação Custo/Benefício de cada tarefa administrativa.

Esses novos usuários definirão novos usos para os computadores de baixo

custo. Na medida em que os usos se disseminam, aumenta o número de usuários

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desses computadores. Com um custo de 10% de um computador padrão, a

quantidade de usuários tende a ser muito maior, numa escala geométrica, quase

exponencial.

Com o número de empresas e indivíduos crescendo em tais proporções, a

próxima etapa é utilizarem esses mecanismos para troca de informações com outras

empresas e indivíduos. Isso é a disseminação dos processos virtuais. São processos

já existentes em sua maioria, mas que são feitos por outros mecanismos, como

papel ou presencialmente, e vão sendo substituídos por troca de informações entre

computadores.

Esses processos são estudados em duas formas: processos virtuais nas

empresas e presença digital.

Costumamos restringir a visão sobre um processo como fosse limitado

dentro de determinado ambiente, quando na verdade ele é apenas uma pequena

parte de um processo maior. O processo de fabricação de móveis está ligado ao

processo de compra de seus insumos e ao processo de distribuição e

comercialização. Todos esses processos estão inseridos dentro do processo que é a

economia de determinada região, que por sua vez está ligada a processos ainda

mais amplos.

Nesse trabalho a visão de processo empresarial atravessa toda a sociedade,

interliga vários processos. Podemos ver uma veia e como ela funciona, mas não

esquecer sua inserção em um corpo mais complexo.

Um aspecto importante é o fato dos processos se dividirem e se

concentrarem ciclicamente. Uma fábrica de móveis que tenha uma linha de

produção, cinco depósitos e duzentas lojas.O processo de fabricação se inicia em

um ponto (fábrica), se divide em cinco (depósitos) e depois em duzentos (lojas). A

última etapa são os milhares de clientes que compram os móveis. O processo de

concentração acontece nos pagamentos. Cada cliente pagará de uma forma,

através de um banco, que concentrará os pagamentos até que todos os valores se

convertam para uma conta única.

Esse modelo de divisão e reunificação acontece com a grande maioria dos

processos, quando analisados de forma mais ampla. Impostos pagos são uma etapa

pulverizada que irá se concentrar até fechar em contas públicas únicas.

Posteriormente essas contas se dividirão em pagamentos a projetos e funcionários.

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A verba de um assalariado surge em um único pagamento para se dividir em

dezenas de contas menores. Uma dessas contas é o pagamento da conta de luz,

que novamente se concentrará na conta da concessionária.

Figura 3. Concentração

Processos, quando visto conectados a outros processos, se dividem e reagrupam periodicamente.

Em ambientes estáveis dois elementos permanecem quase constantes

durantes os ciclos de divisão e concentração: valor financeiro e informação.

O valor financeiro é a soma dos valores envolvidos nos processos, seja em

dinheiro efetivamente, seja em valor das mercadorias. A quantidade de móveis

fabricados é a mesma que é armazenada e vendida. A soma de todas as

contribuições é igual ao total arrecadado. Os valores podem estar pulverizados ou

concentrados, mas seu valor total é constante.

A informação pode ser entendida como o conjunto de informações sobre o

processo. A fábrica tem todas as informações sobre os móveis fabricados, de

características a números de série. Estes dados serão distribuídos até o ponto de

venda, onde o comprador verá as informações sobre uma única peça. Mas se

vasculharmos todos os pontos de vendas, novamente teremos todas as informações

reunidas. No pagamento de uma contribuição estão as informações do valor pago

por um contribuinte específico, que será somado a todas as contribuições até criar

um grande cadastro de toda a arrecadação. Em etapas pulverizadas existe grande

número de processos paralelos, cada um com pouco valor e poucas informações.

Em etapas concentradas existe um pequeno número de processos paralelos, cada

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um com grandes valores e quantidades de informações.

Figura 4. Concentração e valor.

Nas etapas pulverizadas existe pouco valor e poucas informações em cada processo. Nas etapas concentradas aumente o valor e a quantidade de informações.

Essas variações têm um impacto direto em estudos de Custo/Benefício para

a compra de computadores.

Nessa avaliação o custo é um valor facilmente mensurável, mas o benefício

está ligado a valor e quantidade de informações tratadas em determinado ponto do

processo. Um computador será colocado para controlar o processo, evitando perda

de mercadoria ou dinheiro. Quanto maior o valor desta mercadoria ou do dinheiro,

maior o risco envolvido. O mesmo pode-se dizer sobre informações pois quanto

maior o volume de informações, maior a necessidade de um computador para

manter e organizar essas informações.

Com essa avaliação, nas etapas pulverizadas, onde existe pouco valor

agregado e poucas informações, há menos justificativa e menos necessidade do uso

de computadores: o benefício é menor. Por outro lado, nas etapas de grande

concentração, onde existe muito valor e muitas informações,há mais justificativa e

mais necessidade do uso de computadores: o benefício é maior.

Um exemplo de atividade que poderia usar computadores é a contagem de

estoque. Na fábrica – processo concentrado - essa operação controla toda a

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produção. Para repeti-la nos depósitos – processo dividido – serão feitas cinco

contagens, e outras duzentas nas lojas. A fábrica tem a maior concentração de valor

dentro de um único processo. Contagens feitas nos depósitos controlarão, cada

uma, apenas 1/5 da produção; nas lojas é 1/200 da produção. O uso de

computadores em cada um desses processos depende de um estudo de

Custo/Benefício .

Fábrica Depósito Lojas

Unidades 1 5 200

Benefício B B/5 B/200

Custo/Benefício C/B C/(B / 5) C/(B/200)

Custo total C 5 C 200 C

Tabela 1. Custo/Benefício

Nesta tabela analisamos a variação do Custo/Benefício na contagem de estoque entre fábrica e depósitos. C é o custo de informatizar uma unidade e B o benefício, proporcional ao valor e quantidade de informações. Na fábrica a relação é C/B, mas no depósito desce para C/(B/5) por que apenas 1/5 do valor e das informações estão lá. Nas lojas desce para C/(B/200). A relação custo benéfico diminui demais na medida em que o benefício (valor e informações) envolvido é divido entre os depósitos (5) ou entre as lojas (200). O custo total cresce na mesma medida.

Uma solução baseada em um único modelo de computador se torna muito

cara na medida em que o benefício (valor e informações) é dividido em

subprocessos menores. Para controlar o estoque da fábrica é necessário um único

computador de custo C, produzindo um benefício B (todo o valor produzido e toda a

informação), a relação custo benefício é C/B. Já nos depósitos a quantidade de valor

e de informações diminuiu para 1/5 o que altera a relação custo benefício para

C/(B/5). Isto quer dizer que informatizar um único depósito tem uma relação custo

benefício muito pior. E para colocar computadores em todos os depósitos seriam

necessários 5 computadores, custando 5 C. Nas lojas esses números pioram. A

relação custo benefício em cada loja é de C/(B/200) e o custo para comprar

computadores para todas as lojas é de 200 C.

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Figura 5. Modelo Central.

Modelo de computador central e informações em papel.

Isso favorece um modelo centralizado de sistema, onde todas as

informações se concentram em uma única base de informações, no caso, na fábrica.

Isso implica que os depósitos e lojas controlam seus estoques manualmente e

informam a fábrica das contagens por relatórios em papel que serão digitados. Esse

processo pode gerar um atraso de alguns dias entre a posição conhecida e a real,

sem considerar os erros de digitação.

Mas se o benefício esperado num depósito é menor do que na fábrica,

porque controla menos valores e menos informações, a tarefa de controlar esse

estoque também é menor. Isso não é apenas quantidades menores, mas menos

exigências por parte dos usuários. Esses usuários não farão projeções tão

complexas quanto a matriz, nem terão que tratar outras operações da empresa

relativas a estoque, como produção. A tarefa é mais simples, portanto talvez seja

possível utilizar equipamentos mais simples. Talvez seja possível utilizar um

computador de baixo custo.

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Matriz Depósito Lojas

Unidades 1 5 200

Benefício B B/5 B/200

Equipamento Computador padrão Computador de baixo custo Computador de baixo custo

Custo C C/10 C/10

Custo/Benefício C/B (C/10)/(B / 5) = (C/2)/B

(C/10)/(B / 200) = C/(B / 20)

Custo total C (C/10) * 5 = C / 2 (C/10) * 200 = 20 C

Tabela 2. Custo/Benefício e computador de baixo custo.

Utilizando computadores de baixo custo nos depósitos a relação custo benefício melhora pois o custo diminui. A relação custo benéfico em cada depósito cai pela metade do que é na fábrica. O custo total para equipar os depósitos é a metade do custo para equipar a fábrica. Mas para as lojas, esta redução ainda não é suficiente. Não apenas a relação custo benefício ainda é muito pior que da fábrica, mas o custo total ainda é alto.

A utilização de computadores de baixo custo nos depósitos permite reduzir o

custo em 90%. Isto muda a relação custo benefício para (C/2)/B, o que é uma

relação atraente, melhor que da fábrica. O custo total, antes 5C, passou para C/2,

menor que da fábrica. Esta melhoria não resolve todos os problemas. Comprar

computadores de baixo custo para as lojas ainda não é uma solução. Tanto a

relação custo benefício quanto o custo total ainda são altos.

Mas esse novo quadro já permite um avanço ao modelo totalmente

centralizado anterior. Não está em discussão aqui o modelo de administração

adotado. Mesmo com um modelo de administração centralizado necessita de

informações o mais rápidas e precisas possível. Nesse modelo intermediário, o

estoque das filiais é controlado com precisão e informado por meio eletrônico

rapidamente. Mesmo o estoque das lojas ganha com esse modelo, pois o trabalho

de digitação é concentrado nos depósitos e envidado para a fábrica com mais

rapidez.

Nesse exemplo o uso de computadores desceu um degrau. Antes apenas

disponível para a fábrica, ficou acessível também para os depósitos, embora ainda

seja inacessível para as lojas. Em outros casos esses degraus podem variar

bastante. Há casos em que essa redução será suficiente para atingir até o processo

mais pulverizado. Em outros não será possível descer um degrau sequer.

Uma redução de 90% é um grande impacto em qualquer estudo de

Custo/Benefício . Considerando que a grande maioria dos processos na sociedade

tem etapas com alto grau de pulverização e etapas de alta concentração, deve haver

muitas etapas intermediárias que possam se beneficiar com os computadores de

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baixo custo.

Isso abre possibilidade para que mais subprocessos migrem dos

mecanismos de troca de informações em papel para troca de informações

eletrônicas, processos virtuais. Para que isso ocorra é necessário que:

As informações existam dentro de arquivos eletrônicos;

As instituições confiem em trocar informações em lugar de documentos e

dinheiro.

A primeira etapa para que isso seja possível é tornar computadores um

recurso disponível para as instituições que participam de qualquer processo. Na

medida em que as instituições envolvidas em etapas de processos passam suas

informações para computadores, a próxima etapa será negociar protocolos e

mecanismos de comunicação.

Figura 6. Modelo distribuído.

Modelo de computador central e depósitos e informações em papel.

Nesse quadro, quanto mais barato for o computador e seus custos

associados, mais instituições poderão converter suas informações para arquivos

eletrônicos, e mais processos acontecerão entre duas instituições cujas informações

estão em arquivos eletrônicos, que terão a opção por processos virtuais.

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A disseminação de processos virtuais pode ser mais visível em sistemas

financeiros ou cujas bases de informações são muito estruturadas, como cadastros,

contas correntes. Mas essa não é a única informação que está sendo transformada.

Antes do advento da automação de escritórios, o termo “documento” se

referia a um objeto real de papel. O termo “original” se referia a um “documento” feito

por datilografia ou manuscrito e o termo “cópia” era uma reprodução mecânica desse

“documento”. A “cópia” tinha valor reduzido, pois representava um momento do

“original”, que poderia ter recebido anotações, ser refeito ou mesmo abandonado.

Hoje esses conceitos não têm o mesmo significado em qualquer ambiente.

Em muitos escritórios documento pode significar um objeto de papel ou um arquivo

eletrônico. Cópia é uma versão impressa, que também tem valor reduzido por

representar apenas um momento do original. Em alguns casos acrescentamos a

data da impressão à cópia para avaliarmos sua validade.

A grande diferença é o original, o documento de referência que deixou de

ser um documento em papel, real, para ser uma informação dentro de um

computador. Em alguns casos isso gerou um caos pela impossibilidade de distinguir

o arquivo eletrônico original de outro arquivo eletrônico, cópia deste.

Nesse caso a informação, o documento, foi transformada de objeto físico em

informação virtual. Imprimimos cópias por uma questão de conforto para a leitura e

de discussão em grupos. Mas essas cópias, mesmo com alterações que serão

passadas para o arquivo digital, não são consideradas como originais. O documento

original, a informação em si, é um arquivo eletrônico, virtual.

Conforme o tipo do documento, circulará mais ou menos, dentro e fora da

empresa. Se seu público tiver acesso a meios eletrônicos de troca de documentos, é

possível que ele circule apenas como arquivo eletrônico, e que quem o receba tenha

a opção de incluí-lo em seus próprios depósitos de arquivos eletrônicos. Talvez ele

jamais venha a ser impresso, sequer como cópia.

Novamente temos a implicação do custo do equipamento. Quanto mais

pessoas tiverem acesso a este tipo de recurso, mais documentos, antes em papel,

se tornarão arquivos virtuais, serão “entregues” e “assinados” de forma virtual.

A presença digital é um evento anterior à cidadania digital. A cidadania

discute os direitos, deveres e comportamento de um ser existente, o cidadão digital,

ou a presença de um ser real em um mundo virtual. Mas para considerarmos essa

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cidadania, precisamos considerar que essa presença é possível.

Informações pessoais em uma base de dados não são suficientes para criar

uma presença. É necessária a interação, a atuação ativa do representado. Essa

atuação pode ser relacionar-se com outras presenças digitais ou com objetos

existentes no ambiente, como servidores, BBS, etc. Esses objetos são criados e

mantidos por outras pessoas, por isso, de certa forma, também são representações

digitais de pessoas. Existe um responsável que criou e mantém uma BBS, portanto,

interagir com ela é interagir com a representação digital dessa pessoa.

Quanto maior for a interação, maior será sua presença digital.

Se o indivíduo utiliza apenas o e-mail semanalmente, esse não será o

melhor meio para contatá-lo, ou para manter uma troca de informações regular. Se o

e-mail é acessado diariamente, ele já se torna uma ferramenta mais útil. Se for

acessado várias vezes por dia, pode substituir alguns usos até do telefone. Se além

desses mecanismos o indivíduo usar sistemas de mensagens instantâneas, este

conjunto de recursos será seu canal preferencial de comunicação. Ele está presente

na internet por longos períodos. Além da comunicação direta, temos outros recursos.

Ele pode colocar currículo e trabalhos à disposição em sua página, com atualizações

regulares, fazendo da visita a sua página a forma mais recomendável para conhecê-

lo ou a seu trabalho.

Mas a presença digital não é um processo isolado. Um indivíduo não pode

de forma unilateral adotar o e-mail como forma de comunicação, é necessário que

toda uma comunidade o faça. Se apenas uma pequena parcela da comunidade tiver

acesso a computadores, as pessoas desse bloco terão que usar outros canais de

comunicação para falar com o resto da comunidade. Outro tipo de interação é do

indivíduo com serviços diversos, da loja de livros à declaração de imposto de renda.

Esses serviços também precisam de uma comunidade que os mantenham.

Essa interação está intimamente ligada à forma de uso de computadores

incluindo tempo, local e propriedade.

Tempo define quanto tempo o indivíduo tem o computador à sua disposição

Se puder acessar durante uma hora por semana, poderá apenas verificar o e-mail

uma vez por semana e essa será sua presença digital: uma hora por semana. Se

tiver acesso de 6 horas por dia, sua presença digital terá essa medida de tempo. A

conseqüência dessa variação de tempo não é apenas a quantidade de e-mails

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recebidos e enviados. Implica também a qualidade da presença digital. Serviços

como chat precisam de uma coordenação e disponibilidade de um grupo de pessoas

se conectarem em determinado horário. Um indivíduo que troca e-mails uma vez por

semana terá dificuldade de coordenar essa atividade e de conseguir que um grupo

tenha acesso no mesmo dia da semana e na mesma hora. Serviços como

mensagens instantâneas sequer fazem sentido nesse contexto.

Portanto o tempo tem uma implicação de quantidade (quantos e-mails

podem ser recebidos e respondidos em determinado tempo) e outra de qualidade

(mais tempo permite uso de canais melhores, formas mais evoluídas de

comunicação).

Local define onde a pessoa pode acessar os serviços digitais. Isso pode ser

em casa, no trabalho, etc. Se ela tiver uma lista reduzida de opções de locais, e não

estiverem muito próximos, ela terá dificuldade de visitar e utilizar os serviços. Ou

seja, a limitação de locais acaba por limitar o tempo.

Outro problema ligado a local é a coordenação de atividades. As atividades

ligadas à presença digital podem estar ligadas a outras atividades do indivíduo.

Neste caso ou ele leva o computador até onde executa as demais atividades ou leva

essas atividades até o computador. Se não puder juntar computador e atividades em

um único local, o trabalho será interrompido por idas e vindas que retardarão sua

conclusão.

A limitação de local é contraditória quando comparamos com o conceito de

que a presença digital permite a uma pessoa estar em qualquer lugar do mundo. Um

estudante que somente tenha acesso no terminal da faculdade só poderá estar em

qualquer lugar do mundo quando estiver dentro da faculdade. Quando visitar a

família ou estiver viajando em eventos perderá sua capacidade de “estar em

qualquer lugar”.

Um indivíduo tem acesso à base de dados de determinada instituição

quando acessa pela Internet em casa, mas se ele estiver dentro da instituição, talvez

não consiga acessar as mesmas informações em qualquer horário e formato,

somente disponíveis de forma digital. Resumindo, para acessar determinadas

informações da instituição ele precisa sair dela e ir para casa. Para estar em

qualquer lugar do mundo ele é obrigado a estar em um determinado lugar.

Propriedade é a qualificação do uso do computador. É definida pela relação

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do indivíduo com o equipamento quanto ao que é permitido fazer. Se o computador

for de propriedade pessoal do indivíduo, ele poderá instalar qualquer software ou

acessório, poderá guardar informações pessoais e configurar o computador para

suas preferências. Mas se ele pertencer a uma comunidade ou empresa, se tiver

regras a serem seguidas, o uso do computador pode ser restringido, proibindo a

instalação de material não autorizado, não garantindo a total privacidade dos

arquivos lá guardados, ou mesmo informações que transitem por este computador.

Nesse caso o indivíduo fica restrito ao que for permitido.

Empresas adotam políticas diversas quanto ao uso desses serviços dentro

do trabalho. Em alguns casos existe liberdade total para o funcionário; em outros,

apenas um terminal de uso comum que pode apenas acessar páginas WEB, sem

outras possibilidades. Considerando que boa parte do tempo as pessoas passam

em seus ambientes de trabalho, isso tem uma implicação direta.

O conjunto dessas limitações – tempo, local e propriedade – determinará

qual a presença digital possível.

Os requisitos do computador necessários para que o indivíduo mantenha

essas interações não são muito altos. Serviços como e-mail, manter uma página,

chat, não necessitam de pesados recursos de memória ou processamento. De fato,

alguns modelos de vídeo-games já eram capazes de enviar mensagens em 1994.

Isso abre espaço para os computadores de baixo custo. Eles alteram as questões

relacionadas a tempo, local e propriedade.

O tempo disponível fica maior, porque seu custo por hora é mais baixo, o

que permite que mais pessoas de uma instituição tenham acesso a eles, e por mais

tempo. Mais locais terão computadores, já que mais instituições, sejam empresas,

universidades ou mesmo particulares, poderão comprá-los. A propriedade aumenta,

tanto na empresa como em casa. Na empresa porque o computador já não é um

bem tão caro, que o indivíduo somente possa acessar sob regras muito rígidas.

Além disso, o evento de ter seu próprio computador em casa se torna cada vez mais

próximo.

Crescendo tempo, local e propriedade, cresce a presença digital. Para

muitas pessoas ela será criada, porque antes sequer tinham qualquer forma de

acesso. Na medida em que o indivíduo descobre que mais amigos, ou colegas,

passam a ter presenças digitais, ele terá mais motivos para aumentar a sua. Uma

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parcela cada vez maior da sua comunidade poderá compartilhar de mecanismos

como e-mail ou chat, o que tornará esses serviços mais atraentes.

5.3 O PDA É UMA NOVA OCORRÊNCIA DO PADRÃO

A segunda hipótese a ser provada é que o PDA é a nova ocorrência desse

evento padrão. Esta hipótese se divide em duas: o PDA ser um padrão de mercado

e o PDA ser um evento padrão.

Ser um padrão de mercado implica que um conjunto de produtos possui

características próprias suficientes para serem identificados como uma classe

específica de equipamentos. Implica também que o mercado adotou essa nova

classe de computador. Muitos equipamentos são lançados todos os anos, e

desaparecem ou mantêm apenas pequenas fatias. A adoção do mercado ocorre

quando existe aceitação de uma parcela significativa de compradores, e não apenas

o mínimo para sustentar uma pequena produção.

Ser um evento padrão significa que suas características se encaixam nas

características observadas nos eventos anteriores de computadores de baixo custo.

Isso possibilita afirmar que ele terá conseqüências semelhantes a esses eventos.

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6 METODOLOGIA

A primeira parte deste trabalho, sobre o evento padrão, reside totalmente

numa pesquisa histórica. Para isso houve um levantamento de fontes de informação

sobre eventos dos últimos cinqüenta anos.

Infelizmente o volume de recursos é bastante escasso. A History of Modern

Computing, de Paul E. Cerruzi e Computer e A History of the Information Machine de

Martin Campbell-Kelly e William Aspray enfocam a história da computação moderna.

O livro de Martin é extremamente rico em traçar paralelos com outros momentos

históricos, como o que ele faz entre a computação pessoal e o surgimento da radio

difusão. Mas essa mesma capacidade de gerar análises gera também alguns

equívocos. Já o livro de Cerruzi, embora menos analítico, é extremamente rico em

informações e traça um painel detalhado e apaixonado dos últimos cinqüenta anos.

Outra fonte de informação foram os livros que tratam de episódios

específicos. Em sua maioria eles abordam um episódio sob uma ótica muito

fechada. Fire in the Valley, de Paul Freiberg e Michael Swaine, conta a história do

computador pessoal sob o enfoque dos aficionados em eletrônicas e dos clubes

como o Homebrew. Paul Carroll aborda quase o mesmo período de Fire in the

Valley, mas fala da derrocada da IBM em Big Blues. Startup, A Silicon Valley

Adventure, de Jerry Kaplan mostra como foi o nascimento da computação baseada

em caneta, uma idéia que mudou de nome várias vezes antes de se tornar viável.

Da ACM (Association for Computering Machine) vieram vários documentos,

incluindo muitos sobre computação ubíqua. Algumas outras fontes acadêmicas

foram consultadas, mas com poucos resultados positivos. As empresas

impressionam pela falta de sua própria memória. A IBM pouco fornece sobre sua

história, e pouco se encontra na Compaq sobre a HP e a própria Compaq, e

praticamente nada sobre a DEC.

Esse material permitiu uma revisão sobre os eventos anteriores. Foi possível

traçar um painel histórico da evolução dos computadores sob vários aspectos,

incluindo tecnológico, comercial e social. Com a analise do papel do míni e do micro

nesse quadro alguns aspectos das hipóteses foram reformulados.

A segunda hipótese – que o PDA é uma ocorrência desse evento,

compreendia duas partes. A primeira era de que o PDA podia ser um computador de

baixo custo. Para isso bastou comparar as características do computador de baixo

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custo com as do PDA. A segunda parte é demonstrar que pó PDA se tornará um

padrão de equipamento e não ficará restrito a pequenos nichos. Essa informação

está disponível nas pesquisas das grandes consultorias. A NPD Consulting forneceu

uma pesquisa, a partir da qual é possível comparar o comportamento das vendas

entre PC, micros portáteis e PDAs nos próximos anos.

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7 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

7.1 MAINFRAME: O /360

O computador de baixo custo é uma mudança em relação a um computador

padrão existente. Para falar do primeiro computador de baixo custo é necessário

falar do primeiro computador padrão e sua época. Para entender o míni, precisamos

rever como foi o surgimento do mainframe.

Na segunda guerra surgiram os primeiros computadores, como Colossus9,

ENIAC10, MARK II11, Whirlwind12, todos sustentados pelo esforço de guerra. Nesse

quadro, os custos não eram relevantes, desde que os resultados fossem atingidos, e

para atingir determinados objetivos qualquer valor era justificado. O projeto

Whirlwind, orçado inicialmente em duzentos mil dólares quase foi cancelado por falta

de resultados positivos. Graças a explosão da bomba atômica soviética em 1949, o

projeto ganhou novo fôlego e atingiu a marca de oito milhões de dólares

(CAMPBELL-KELLY, ASPRAY,1996, p.158), um recorde para a época.

O governo norte-americano, em particular a área militar, era um cliente que

convivia muito bem com a lei de Grosch, segundo a qual um computador duas vezes

maior produzia quatro vezes mais poder de computação. As tarefas que o governo

esperava ver atendidas pelos computadores estavam no limite da tecnologia da

época, por vezes acima. A solução era concentrar esforços na pesquisa e em

computadores cada vez maiores.

Mesmo não atingindo seus objetivos principais13, essas máquinas trouxeram

grandes avanços tecnológicos. As pesquisas relacionadas geraram muitos

subprodutos. Whirlwind, por exemplo, gerou o conceito de processamento em tempo

real14 (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY,1996, p. 158).

9 Decifrador de códigos inglês desenvolvido em 1943 para quebrar códigos de guerra usados pela Alemanha (GREENIA, 2001). 10 Computador desenvolvido pelo exército americano para cálculos balísticos (GREENIA, 2001). 11 Computador desenvolvido pela marinha americana (GREENIA, 2001). 12 Projeto destinado a criar equipamentos de treinamento de pilotos de aviões de guerra. (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 157) 13 O ENIAC ficou pronto apenas em 1946, após a Segunda Guerra (GREENIA, 2001). O Whirlwind nunca chegou a apresentar resultados conclusivos (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 158). 14 Processamento em tempo real, ou real-time. Previa a resposta imediata a comandos externos, em oposição ao processamento em lote que devolvia o resultado após concluído o processamento. O desenvolvimento de sistemas em tempo real também é atribuído a outro grande projeto da época, SAGE, voltado para o monitoramento aéreo (PUGH, ASPRAY, 1996, p.13).

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Com o fim da guerra, havia uma expectativa de que o consumo de

equipamentos pelo governo decaísse e os fabricantes de computadores esperavam

uma crise. Acreditava-se que seria necessário investir mais no cliente privado, que

não tinha o mesmo poder de compra do estado, nem sua vocação para se

preocupar unicamente em atingir objetivos a qualquer custo. Na verdade, o cliente

privado se sentia muito bem atendido com as velhas perfuradoras de cartão. Na

década de 50 elas ainda eram mais vendidas do que os computadores, cuja relação

Custo/Benefício não pareceria compensadora (PUGH, ASPRAY, 1996, p. 14).

Mas a guerra fria e a corrida espacial não apenas mantiveram o ritmo de

compras do governo, como aumentaram as encomendas, em quantidade e

capacidade desejada das máquinas. A NASA poderia sustentar algumas empresas

sozinha, e talvez o tenha feito (CERUZZI, 2000, p.159).

O estado continuou a ser um cliente fixo, regular e acima de tudo, generoso.

Ele pagou pesquisas e o desenvolvimento de computadores comerciais (PUGH,

ASPRAY, 1996, p. 10). Tom Watson Jr, presidente da IBM entre 1956 e 1970 disse

que a guerra fria ajudou a IBM a se tornar o rei dos fabricantes de computadores15

(CAMPBELL-KELLY, ASPRAY,1996, p.168) (CARROL, 1994, p. 56).

Nessa fase, a produção de computadores ainda tinha uma atividade quase

artesanal, cada modelo era único. O conceito de fabricar modelos em série ainda

não fazia sentido, principalmente com um público potencial extremamente pequeno.

Apenas as grandes corporações tinham condições de investir em computadores

(CORTADA, 2001, p. 42).

Progressivamente o mercado privado cresceu e migrou das perfuradoras de

cartão para os novos computadores. Um mercado tão promissor atraiu uma grande

quantidade de empresas. Com o tempo, o número de empresas se concentrou em

apenas oito. Dessas, a IBM detinha cerca de 70% do mercado, deixando sete

empresas disputando os 30% restantes. A concentração de mercado nas mãos de

uma empresa era considerada necessária para custear os investimentos em

pesquisa. Sendo detentora de grande parte da pesquisa em computadores, a IBM

também tinha total controle sobre a velocidade em que essas inovações chegavam

ao mercado (CERUZZI, 2000, p. 111).

O grupo, formado pela IBM e suas sete principais concorrentes, ganhou o

15 “It was the cold War that helped IBM make itself the king of the computer business”.

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apelido de Branca de Neve e os Sete Anões16. Apesar do nome, o passatempo

principal dos sete anões era processar a Branca de Neve (CERUZZI, 2000, p. 143).

Na medida em que os clientes privados cresciam, o modelo de fabricação

artesanal era abandonado, embora os clientes ainda tivessem grande poder de

influenciar o desenho das máquinas. Era o cliente que definia qual o uso previsto

para a máquina, que seria projetada para esse fim especifico, a começar pela

escolha da arquitetura básica, escolha de componentes, tipos de periféricos,

sistemas de suporte a disco e aos periféricos, sistema operacional e aplicativos por

fim.

Esse modo de trabalho estava levando as empresas a uma crise,

principalmente a líder de mercado IBM. Tendo sete modelos básicos de

computadores, oferecer uma solução de software para seus clientes significava

desenvolver sete versões do mesmo software. Da mesma forma, desenvolver um

novo computador significava desenvolver dezenas de softwares para este novo

computador. A IBM sofria mais esse problema do que os fabricantes menores,

devido a sua linha maior tanto de computadores como de softwares.

Surgiu uma proposta que iria redefinir o conceito de computador. A proposta

era de um grupo de máquinas, de portes diferentes, cobrindo uma boa faixa entre a

menor e a maior, usando os mesmos softwares, periféricos, etc. Obviamente, para

que o objetivo fosse alcançado seria necessário alterar a forma de desenvolver os

softwares, os periféricos e os próprios computadores.

16 Branca de neve e os sete anões: IBM, Burroughs, UNIVAC, NCR, Control Data, Honeywell, General Eletric e RCA . Alguns anos, com a saída da General Eletric e da RCA, o grupo seria renomeado para IBM e o BUNCH (bando, gangue).

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Figura 7. IBM /360

O /360 definiu o mainframe moderno e foi o maior sucesso até então na indústria de computadores Fontes: CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, e CERUZZI.

No software seria necessário separar as camadas de programas que

acessavam o hardware das demais camadas, isolar ainda mais o sistema

operacional do software aplicativo, etc. Antes a tarefa de desenvolver um

determinado pacote de software era uma tarefa isolada do desenvolvimento dos

demais pacotes. Agora todo o desenvolvimento estava interligado, fazia parte de um

vasto painel, onde cada mudança afetava dezenas de outros projetos e sub projetos.

Os periféricos passaram por mudanças semelhantes, embora talvez não tão

drásticas.

Esse novo conceito de computador ganhou o nome de /360, uma alusão ao

fato de não ser mais um computador direcionado a um foco específico, ele atendia a

todo o espectro de solicitações.

As grandes mudanças promovidas pelo /360 podem ser definidas em

escalabilidade e compatibilidade. Estes conceitos não eram novos. Várias linhas da

própria IBM possuíam modelos maiores e menores, permitindo aos clientes escolher

entre tamanhos variados de computadores, mas essa variação não ia muito além de

um fator de duas vezes, o que não era muito. O conceito de compatibilidade também

existia e já tinha inclusive gerado o primeiro clone17. Estes conceitos podiam existir,

17 Em Dezembro de 1963, a Honeywell lança serie 200, compatível com o IBM 1401. Havia um

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mas de forma muito limitada.

O que o /360 prometia era que TODOS os computadores executariam

TODOS os softwares. A escalabilidade tinha um fator de mais de 20 vezes. O custo

de redesenvolvimento de soluções dentro das empresas seria de zero. Os

computadores de todas as áreas, engenharia, contabilidade, etc, executariam as

mesmas soluções18. O /360 definiu o mainframe moderno e foi o maior sucesso até

então na indústria de computadores. Com ele a IBM passou da posição de 25% para

70% (CARROL, 1994, p. 56), e as vendas cresceram até o limite de sua produção19.

Aos demais participantes do mercado, os sete anões, a alternativa foi

tornarem-se compatíveis com o /360. Isto não foi tão negativo. Puderam reduzir

investimento, porque não precisavam mais produzir soluções completas, apenas

pedaços de soluções que seriam encaixadas em um /360. De certa forma, o mesmo

computador que permitiu a IBM crescer, permitiu a seus concorrentes

permanecerem no mercado.

Quando o /360 estava sendo desenvolvido, duas propostas eram discutidas

no meio acadêmico: processamento em tempo real e processamento de tempo

compartilhado. O processamento em tempo real previa a possibilidade do operador

interagir com o computador durante a execução de um programa, em lugar do

habitual processamento em lotes. O processamento de tempo compartilhado previa

que um computador poderia atender a muitas pessoas ao mesmo tempo, dividindo

seu tempo em pequenas frações para cada um, dando uma ilusão de

simultaneidade. A IBM descartou as duas.

O processamento em tempo real supunha que um computador de um milhão

de dólares ficaria parado esperando o operador decidir o que ia digitar. Com os

custos de um computador IBM, otimizar o tempo do computador não era apenas

uma prioridade, era uma questão de sobrevivência. Quanto ao processamento de

tempo compartilhado, havia problemas técnicos que obrigariam a mudanças

drásticas no /360, então em desenvolvimento (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996,

p. 215). Os custos das alterações eram maiores do que a importância que a IBM

programa que permitia executar os softwares IBM, ironicamente chamado de chamado de Liberator. (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 142) 18 Nem todas as promessas foram cumpridas. A escala nunca foi tão grande, principalmente pelo insucesso em produzir os modelos menores. O sistema operacional, o OS 360 foi outro desastre, sempre com falhas e também nunca efetivamente concluído. 19 Até então a IBM tinha 70% dos “equipamentos de escritório”, o que incluía perfuradoras de cartão,

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dava a esse problema.

Sem tais recursos, o mainframe era uma máquina dedicada a

processamento em lote. Seu alto custo eliminava muitos possíveis clientes e

aplicações. O mainframe era o computador das grandes corporações executando

tarefas de missão critica20. Todas as informações eram centralizadas no CPD, que

processava e retornava informações no dia seguinte. Era um enfoque totalmente

centralizado onde apenas um ponto processava todas as informações de empresas

e organizações.

Com tão poucos fabricantes e tanta concentração na IBM, a empresa tinha o

poder para ditar as regras a seus clientes, incluindo a forma de comercializar seus

produtos. Para aumentar a vinculação de seus clientes, a IBM não vendia seus

equipamentos, aos clientes era permitido apenas usá-los segundo as rígidas regras

da própria IBM, num contrato de leasing21. Além disso, cláusulas nos contratos da

IBM dificultavam a participação de outras empresas: todos os componentes usados

nas máquinas IBM deveriam ser fornecidos pela IBM apenas. Até mesmo a água,

usada na refrigeração, era obrigatoriamente fornecida pela IBM.

Na sua própria visão, a IBM não vendia hardware, vendia soluções22. Dentro

do seu pacote de soluções ela incluía o que ela considerava necessário. O preço

final para o cliente era composto por um terço de hardware, e o resto de

programação e serviços (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p.149). O cliente não

tinha muitas opções para comprar o que realmente quisesse.

Mas a maior dificuldade no acesso a computadores ainda era o preço,

começando em um milhão de dólares. Poucas empresas dispunham desse capital, e

menos ainda tinham a coragem de investir numa área tão nova, cujos resultados

ainda pareciam mais ficção do que realidade. Mas se isoladamente não eram

capazes de bancar seus próprios computadores, em grupo puderam bancar um novo

segmento de negócios, os bureaus que compravam computadores e alugavam seu

uso por hora. Cada cliente podia comprar a quantidade de processamento que

conhecidas como máquinas de Holerit. 20 Missão critica se refere a sistemas ligados a atividade fim da empresa. Em uma fábrica são os sistemas ligados a produção, num banco serão os sistemas ligados a gerenciamento das contas, etc. 21 Após longa batalha judicial, foi aberta a opção para compra, mas com os preços oferecidos, era inviável. 22 Em 1950, Frank Cary, presidente da IBM disse: “Nós não vendemos produtos, nós vendemos soluções para problemas.” ("We don' t sell a product we sell solutions to problem.") (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 152).

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desejasse.

Neste ambiente, eram tão poucas as empresas que utilizavam

computadores que a idéia de trocar informações diretamente entre computadores

beirava a ficção. Mesmo dentro de cada empresa, isto era pouco comum, porque,

com os custo tão altos, nem todos departamentos tinham acesso aos equipamentos.

Quanto a uso pessoal de computadores, este era de fato totalmente

ficcional.

7.2 1O EVENTO: O MINICOMPUTADOR

Neste cenário surgiram equipamentos que viriam a ser conhecidos como

minicomputadores. Ceruzzi coloca o Control Data CDC 160 como o primeiro

computador, principalmente por seu tamanho e custo, 60 mil dólares (CERUZZI,

2000, p. 126). Por outro lado afirma que o quase desconhecido PDP 6 da DEC teria

sido um dos computadores mais influentes de todos os tempos (CERUZZI, 2000, p.

209), por causa das inovações em sua arquitetura. O CDC 160 foi lançado em 1960

para ser o concentrador de dados do CDC 1604, mas havia uma versão capaz de

processamento independente. Grennia cita o PDP-1 da DEC como primeiro, também

em 1960, talvez por ter um sistema de tempo compartilhado. Mas também cita o

NCR 390, lançado em 1960, teria sido o primeiro computador de mesa de baixo

custo fabricado em massa.

Martin não cita o primeiro, mas diz que apenas o PDP-8 teve sucesso

comercial para mudar a indústria de computadores (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY,

1996, p.224). Ele não apenas foi um imenso sucesso comercial, mas também reunia

todas as características que futuramente definiriam o míni. O próprio termo míni

somente começou a ser usado no final da década de 60.

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Figura 8. PDP-6

PDP 6 da DEC teria sido um dos computadores mais influentes de todos os tempos. No canto, de jeans, está Gordon Bell, que depois participaria do projeto do VAX. Fonte: CERUZZI.

Um das características mais marcantes do PDP 8 foi o preço, 18 mil dólares.

O PDP 1, custando 120 mil, era mais barato do que alguns acessórios de um modelo

IBM. Tão mais barato que a DEC preferiu chamá-lo de processador programável de

dados (“Programmed Data Processor”, aliás PDP) em lugar de usar “computador”,

porque na cultura da época, computador custava um milhão e era feito pelas

grandes empresas.

O PDP não podia concorrer com o mainframe em qualquer categoria, seja

cálculo, capacidade de armazenamento, pois estava muito abaixo desse, mas

custava menos de um décimo de um mainframe.

O PDP 8 usou um pacote de tecnologias que o permitiu ser mais barato do

que o PDP 1. Quanto ficou pronto, a DEC via duas opções: lançar com um preço

médio para sustentar as atividades de pesquisa e desenvolvimento, ou com um

preço mais baixo para ganhar mercado e lucrar menos por unidade e mais unidades.

Decidiu-se pelo preço baixo, inicial de 18 mil dólares chegando a 10 mil alguns anos

depois (CERUZZI, 2000, p. 133). Essa postura se mostrou correta, e as vendas

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superaram as expectativas e a capacidade de entrega da DEC.

A principal tecnologia adotada no PDP 8 foi o circuito integrado e

transistores de germânio. O transistor surgiu em 1959 para substituir as válvulas.

Elas não eram apenas caras, eram frágeis e de curta duração. Esta substituição já

poderia ter feito uma significativa diferença no custo de equipamentos, mas sua

importância maior foi permitir a próxima invenção. Em 1961, vindo de duas frentes

distintas surgia o circuito integrado, em parte baseado no transistor. O circuito

integrado trazia várias vantagens: era mais barato, muito mais fácil de montar,

gerava menos erros e era mais duradouro. Todas essas vantagens se traduziam em

mais produção, menos erros e enorme redução de custos.

Muitos fizeram uso do transistor e do circuito integrado. A própria IBM lançou

uma versão do IBM 709 transistorizado em 1959 (GREENIA, 2001). Alguns dos sete

anões aproveitaram para lançar equipamentos por preços mais baixos, como a linha

S-2000 da Philco, ou o Spectra, lançado pela RCA em 1964, compatível com a

recém-lançada linha /360 e com até 40% de desconto (CERUZZI, 2000, p. 163). Mas

equipamentos compatíveis não eram novidade, essa sempre foi a forma de

convivência entre Branca de Neve e os Sete Anões. Isso não constituía uma nova

classe de computadores, apenas versões com descontos.

Ao contrário de outros fabricantes, a DEC não adaptou seu micro para a

nova tecnologia, ela fez um projeto desde o início voltado para o melhor uso do

circuito integrado e do transistor. Quando a IBM lançou o 709, ela apenas substituiu

válvulas por transistores sem qualquer alteração mais significativa. Quando a DEC

usou essas tecnologias elas não eram novidade, apenas foram usadas em mais

profundidade.

Além das mudanças no hardware, havia uma série de inovações internas,

como o acesso direto à memória usado a partir do modelo PDP 1, que permitia que

dispositivos de E/S acessassem a memória diretamente. A memória foi dividida em

blocos, páginas, para acessar trechos de informação. Para endereços poderia usar

apenas 7 bits, apesar do tamanho de palavra ser de 12 bits. Para superar isso usou

um processo de endereçamento indireto, o que permitiu usar toda a extensão de 12

bits para endereços23 (CERUZZI, 2000, p.132).

23 Normalmente um endereço aponta para uma informação, e este endereço pode utilizar apenas 7 bits. Mas no PDP 8 o endereço de uma informação não apontava para a informação em si, mas para outro bloco que continha seu endereço, este com 12 bits.

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O PDP 8 funcionava em escritórios sem nenhum requisito especial de

ambiente. Isto facilitou seu uso em outras atividades como o controle de luzes de

teatro feito pelo modelo LS-8 da Eletronics Diversified, um OEM24 feito a partir do

modelo PDP-8A. Porém um dos usos mais exóticos registrados foi na colheitadeira

de batatas.

Figura 9. PDP – 8

apenas o PDP-8 teve sucesso comercial para mudar a indústria de computadores. Fontes: Instituto Smithsonian e CERUZZI.

Outro destaque da linha PDP era a interface. Greenia cita o PDP 1 como um

dos primeiros computadores a ter um teclado que “permitia ao operador falar como o

computador e mudar a programação se necessário”25. Além disso a linha PDP está

associada com o desenvolvimento dos sistemas de tempo compartilhado, desde o

PDP 6 usados nos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology) para

testes, junto com o IBM 7090 (sucessor do 709).

A documentação dos PDP, incluindo especificações internas, estava

disponível a qualquer interessado. A DEC imprimia seus manuais em papel jornal

para reduzir seu custo e poder distribuir cópias entre compradores potenciais ou

usuários. Isto fazia parte de uma nova visão comercial. A DEC vendia seus

computadores e incentivava seus clientes a conhecerem a arquitetura dos

computadores e fazerem as alterações que julgassem úteis. Isto estabelecia uma

24 OEM – “original equipment manufacturer” indica um tipo de operação comercial onde uma fábrica vende seus equipamentos para outra, que irá fazer pequenos acréscimos ou alteração e venderá sob sua marca. 25 Bell no entanto coloca o PDP 6 como 1o sistema de tempo compartilhado comercial. Não está claro se os modelos anteriores não tinham este recurso, ou se não eram funcionais.

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nova relação de propriedade dos usuários com seus equipamentos. Nos contratos

de leasing da IBM, os clientes não podiam fazer alterações em seus computadores

porque sequer eram proprietários. Agora a DEC incentivava essa postura. Mas a

maior ousadia eram os contratos de OEM, onde computadores eram comprados por

empresas diversas em revendidos sob suas próprias marcas depois de

determinadas alterações. Casos como do LS-8, onde um equipamento era

preparado para uma utilização específica, eram comuns. Não raro o produto final

sequer fazia referência a DEC, uma opção impensável para IBM.

Essas características passaram a ser encontradas em muitas máquinas no

final da década de 60 e na seguinte. Ao contrário do mercado de mainframes, o de

míni não estava restrito a uma pequena quantidade de fabricantes. Entre 1968 e

1972 surgiram mais de 100 fabricantes, lançando um modelo a cada três meses, em

média (CERUZZI, 2000, p. 192).

7.3 O MINICOMPUTADOR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Os mínis inauguraram uma nova era para os computadores. Em 1968 a IBM

alcançou a marca de 14 mil unidades instaladas do /360, uma marca impensável

para os colegas do BUNCH26 (GREENIA, 2001). Já as 50 mil unidades do PDP 8,

colocavam a DEC como um sucesso de mercado, mas sem nenhum percentual

significativo. Era um mercado de grandes quantidades e preços bem mais baixos.

Não existem números detalhados sobre número de unidades vendidas, mas Martin

fornece uma estimativa de mínis vendidos entre 1961 e 197427. A escala de venda,

antes entre centenas e unidades de milhar, passa para dezenas e centenas de

milhar.

26 Com a saída do mercado da General Eletric e RCA, os sete anões ficaram reduzidos a uma “gangue” (bunch), formado pela sigla de Burroughs, UNIVAC, NCR, Control Data e Honeywell. 27 Como a estimativa começa em 1961 e o PDP 8 somente foi lançado em 1964, devemos considerar que está incluindo nessa categoria outros modelos de computadores baratos, como o CDC 160 e o NCR 390.

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0

50.000

100.000

150.000

Mercado de Minicomputadores

Quantidade 1.000 3.600 6.700 19.000 65.000 150.000

1961 1966 1968 1969 1972 1974

Gráfico 2. Mercado de minicomputadores.

Nas décadas de 1960 e início de 1970, os mínis cresceram a uma taxa média de 50% ao ano.Fonte: CAMPBELL-KELLY, ASPRAY.

A drástica redução mudou a relação Custo/Benefício na compra de um

computador. Com o custo reduzido em 90%, muito mais processos conseguiam

justificar a compra ou uso de um computador. Muito mais empresas puderam bancar

esses custos. O mainframe era o computador das grandes corporações, o míni seria

o computador das grandes e médias empresas.

Mesmo dentro de empresas que já possuíam mainframe, os mínis tiveram

uma presença marcante. Afinal, a visão inicial da utilidade dos mínis seria de

concentradores de dados para os mainframes. Eles fariam trabalhos iniciais de

crítica, verificação e organização de massas de informação que seriam

posteriormente processadas pelo mainframe. Em alguns casos, essas tarefas

podiam se resumir a ordenar listas de nomes ou imprimir relatórios apenas. Isso

liberaria o mainframe de trabalhos mais demorados e menos complexos, otimizando

seu uso.

Eventualmente alguns departamentos descobriram que conseguiam resolver

pequenos problemas locais com aquela máquina pequena e limitada, mas que cabia

em seus orçamentos. Começaram a surgir CPD regionais ou departamentais, que

enviavam informações na forma de arquivos para o CPD central da matriz. Era o

início da transformação dos processos.

Os primeiros processos de troca eletrônica de dados, consagrando o termo

EDI (electronic data interchange) começaram nesta época. Na maioria dos casos

eram soluções específicas para uma empresa ou para um grupo de empresas, ainda

não havia a difusão de padrões gerais de formatos para troca de informações. O

meio de transmissão era a linha telefônica comum, com taxas extremamente baixas.

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Em casos de arquivos maiores, a solução era o envio de fitas ou disquetes. O

processo antes em papel foi trocado por material magnético apenas.

Mas o maior impacto dos mínis foi na presença digital.

Em meados da década de 60 foram montadas as primeiras versões da

ARPANET28, a rede do Departamento de Defesa que seria a origem da Internet. A

principal justificativa foi a possibilidade de usar melhor os mainframes instalados nas

universidades. Eram máquinas super poderosas para a época, cada uma

especializada em determinada área de pesquisa. Mas não era viável manter todos

os especialistas dessas áreas concentrados na universidade onde estivesse o

computador. A solução seria dar aos principais especialistas do país acesso aos

computadores de suas áreas, mesmo que remotamente. Desta forma, os melhores

especialistas de cada área teriam acesso a super computadores com ferramentas,

bibliotecas, programas, etc, voltados para suas pesquisas, independente do local

onde estivessem. Ou quase. A rede inicial tinha apenas poucos pontos. Era

necessário que o pesquisador estivesse em um dos pontos e o computador em

outro.

Mas uso remoto implicava mecanismos de comunicação entre

computadores. E mecanismos de comunicação são processos que ocupam muito

tempo, podendo manter um computador ocupado por horas, principalmente se ainda

não estão disponíveis soluções de tempo compartilhado, o que permitiria ao

computador controlar um processo de transmissão ao mesmo tempo em que atende

a outros processos (CERUZZI, 2000, p. 140).

Este era o problema: os mainframes eram muito caros e sua utilização devia

ser otimizada, permitindo que várias pessoas no país tivessem acesso. Mas por

serem tão caros eles não tinham recursos de tempo compartilhado e sua utilização

em processos de comunicação era inviável.

28 ARPA – Advanced Research Projects Agency. Agencia ligada ao Departamento de Defesa. A Arpanet foi a precursora da Internet.

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Figura 10. PDP-8 e Colheitadeira

Um PDP-8 montado sobre uma colheitadeira de batatas. Fonte: CERUZZI.

Esse problema foi solucionado pelo míni, isto é, pelo “concentrador de

dados”. A primeira rede montada da Arpanet era uma rede de mainframes ligados a

mínis ligados entre si.

Os mínis ofereciam uma solução viável para manter comunicação entre

computadores. Seu custo de compra e seu custo hora29 eram baixos, permitiam usá-

lo como porta de comunicação.

A ARPANET eventualmente se transformaria na Internet acadêmica. Seu

crescimento acompanhou o crescimento dos mínis. Os números da Internet

permitem supor que muitos novos nós da Internet eram constituídos apenas por

mínis, sem haver um mainframe por trás. Estar conectado a Internet com um míni já

permitia acesso a uma variedade de informações e serviços. A maioria dos serviços

era voltada para o ambiente acadêmico, como o Gopher para pesquisas ou o FTP

para transferências de arquivos. Mas o principal serviço, até hoje um dos mais

fortes, foi o e-mail.

O e-mail estabeleceu uma premissa nunca vista antes: uma identidade

pessoal eletrônica. Uma pessoal passava a ter, além de todos os identificadores

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sociais, um identificador dentro do mundo digital que funcionava fora dos muros da

universidade.

O e-mail difere totalmente de uma identificação de acesso30. A identificação

é usada para permitir acesso a recursos e informações. Permite também, em alguns

casos, a identificação do autor de determinado arquivo ou ação. A identificação não

tem como função original ser uma identificação entre usuários, embora até possa ser

usada para isso.

A função do e-mail é social, pois cria um canal de comunicação. A partir do

conhecimento do e-mail de outra pessoa, você pode manter uma conversação

privada, troca de informações e documentos.

Essa foi a primeira manifestação da existência digital: tínhamos um nome e

uma caixa de correspondência virtual.

Figura 11. Arpanet

A primeira rede montada da Arpanet era uma rede de mainframes ligados a mínis ligados entre si. Fonte: CERUZZI.

Embora muito difundido no meio acadêmico, o recurso era desconhecido

fora dessa comunidade. Mesmo dentro das universidades, nem todos tinham acesso

a esse recurso, e os que tinham não podiam usá-lo em outros lugares, apenas

29 No custo hora é necessário incluir pessoal, treinamento, energia, suprimentos, manutenção. 30 Identificação de acesso, ou ID, ou login. É um apelido usado para identificar um usuário dentro de um sistema. O usuário deve apresentar a identificação e uma senha secreta.

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dentro da universidade. Portanto a presença digital podia ser útil para trocar idéias

com colegas de outras cidades ou estados, não era tão útil dentro da própria

instituição, ou dentro de grupos menores. Mesmo dentro da universidade,

freqüentemente o e-mail levaria muito mais tempo que um contato pessoal, portanto

sua eficiência como canal de comunicação ainda era restrito.

Havia uma existência digital, mas não era para todos, não era o tempo todo

nem ampla em termos de recursos, mas existia.

Ano 1964 1964

Nome Mainframe minicomputador

Modelo /360 PDP-8

Fabricante IBM Digital

Preço 1.000.000 20.000

Redução % 98

Tecnologias Compatibilidade e escalabilidade. Circuito impresso e transistores

Ambiente Extremamente controlado em temperatura e umidade.

Ambiente de escritório refrigerado.

Peso Centenas de quilos. Dezenas de quilos.

Operação e SO

OS 360 foi um dos maiores desafios de desenvolvimento, e nunca ficou completamente concluído.

SO simplificado, incluindo processamento de tempo real e tempo compartilhado. Menos treinamento e menos qualificação.

Arquitetura aberta

Controle máximo sobre as informações internas. Dificuldade de combinar soluções IBM com produtos de terceiros.

Distribuição gratuita de manuais. Divulgação de especificações. Intervenção do cliente na máquina é aceita e incentivada.

Mecanismos comerciais.

Contratos de leasing pesados. Hardware equivale a 1/3 do valor total.

Venda do produto. Contratos de OEM.

Imagem Concentrador de dados.

Cliente Principal

Grandes corporações. Empresas grandes e médias.

Aplicação Missão crítica. Missão critica, soluções departamentais, comunicação, apoio ao mainframe.

Tabela 3. Quadro Resumo Mainframe / míni

7.4 2O EVENTO: O MICROCOMPUTADOR

No final da década de 80, num clube de fotografia da PUC do Rio de Janeiro

ouvi o seguinte dialogo:

- Lançaram uns processadores no mercado. A gente podia comprar e inventar alguma coisa com eles para o laboratório de cópias em preto em branco.

- Como assim? - Esses processadores são baratos e muito poderosos.

Podem fazer centenas de cálculos e medições. Podíamos fazer um aparelho que calculasse o tempo de exposição das fotos, por exemplo.

- E como isso funcionaria? Eu calculo o tempo de cada

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foto analisando a imagem. Como ele iria funcionar? - Não sei, mas esses processadores podem fazer TUDO.

Os microprocessadores se tornaram disponíveis no mercado a preços muito

acessíveis. Os aficionados viam um novo horizonte de possibilidades. De repente,

todo o poder dos computadores, real ou ficcional, estava disponível na eletrônica da

esquina. A questão passava a ser o que fazer com isso.

O microprocessador é um conjunto de componentes eletrônicos embutidos

numa única peça, um estágio muito avançado do circuito integrado. Agora ele se

apresenta como um pequeno bloco de cerâmica com centenas ou milhares de

componentes embutidos. Hoje estão difundidos em milhares de equipamentos

distintos, de telefones a máquinas de lavar, mas em 1970 seu uso ainda era muito

limitado. Os fabricantes de computadores (mínis e mainframes) começavam a usar

microprocessadores em seus equipamentos. Além destes, quem pagou grande parte

deste desenvolvimento foram as calculadoras eletrônicas. Eles substituíram as

antigas calculadoras mecânicas, barulhentas, pesadas e de uso complexo.

Empresas como HP e Texas já existiam, mas se tornaram populares através das

calculadoras. Mas os microprocessadores feitos para essas máquinas eram

dedicados, isto é, podiam executar apenas determinadas tarefas, aquelas

necessárias para as calculadoras.

Em 1971, a Busicom, fabricante japonesa de calculadoras, fez uma

encomenda para a Intel, então um pequeno fabricante de microprocessadores.

Como todos os microprocessadores de calculadoras, esses eram dedicados e feitos

sob medida para a Busicom. Os engenheiros da Intel começaram a achar que havia

outra forma de fazer microprocessadores. Em lugar de fazer um microprocessador a

cada encomenda, talvez fosse possível fazer um processador flexível, que pudesse

atuar tanto como uma calculadora como um terminal, ou qualquer outra função

imaginada. A solução técnica foi encontrada e o problema passou a ser o contrato

com a Busicom, proprietária do projeto. Esta, por sua vez, estava com sérios

problemas financeiros. O mercado de calculadoras eletrônicas mostrou-se tão

promissor que vários concorrentes surgiram e estavam todos em plena guerra de

preços. Como resultado começou uma guerra que reduziu os preços das

calculadoras em mais de 80% (FREIBERGER, SWAINE, 1984, p. 39). A Busicom

estava com dificuldades de honrar o contrato com a Intel e tentou negociar uma

redução no custo do microprocessador. A Intel aceitou, com a eliminação da

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cláusula de exclusividade, o que permitiria a Intel vender o microprocessador no

mercado. Embora gostassem da idéia na Intel, ninguém tinha muita certeza sobre

como seria a reação do mercado a microprocessadores.

Esse microprocessador era o Intel 4004 e a reação foi excelente

(CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 236). O fato de existir um mercado ávido

por microprocessadores incentivou a Intel a lançar outros modelos, e outros

fabricantes a também oferecerem seus produtos.

A grande maioria dos compradores era aficionada em eletrônica,

descendente dos antigos radioamadores31. Eles consumiam esse tipo de material

para montarem versões caseiras de equipamentos profissionais como osciloscópios,

receptores de rádio, etc. Para isso eles compravam kits de peças anunciadas em

revistas especializadas. Em Dezembro de 1975, a Popular Electronics publicou um

artigo sobre um kit para montar um computador, o Altair, baseado no

microprocessador 8008, uma versão avançada do 4004. O kit do Altair era vendido

pela MITS (Micro Instrumentation Telemetry System), outra vítima da guerra de

preços das calculadoras eletrônicas32.

Ao ser lançado, Altair não possuía teclado ou monitor. Para entrar com

dados e programa havia chaves no painel frontal, onde também estavam os

indicadores luminosos, única saída de informações. Os recursos de programação

eram extremamente limitados e apenas aficionados com bons conhecimentos

conseguiriam montá-lo, o que podia levar horas. Com um perfil tão restrito, chega a

ser difícil imaginar qual seria sua utilidade e quem compraria tal máquina.

Para termos a visão da importância do Altair, é importante lembrar que o

acesso a computadores era muito restrito para o público em geral. Tanto que a

revista Rolling Stones descreveu os melhores meios para conseguir isso. Os

interessados deveriam procurar universidades próximas ou parentes que tivessem

negócios grandes o bastante para utilizarem computadores. Em ambos os casos,

deveriam tentar utilizar os horários livres dessas máquinas, geralmente de

31 Os radioamadores originais montavam seus equipamentos, uma vez que não havia oferta de aparelhos prontos. Daí sua conexão com as revistas de eletrônica e com a nova geração de aficionados. 32 O Altair não foi o primeiro microcomputador nem o primeiro a ser publicado numa revista. Em 1973 André Thi Troung, um empreendedor franco-vietnamita, construiu o Micral na França, vendendo 500 unidades. Em setembro do mesmo ano outra revista a Radio Electronics publicou um artigo sobre a “TV Typewriter”, que era um terminal de teletipo conectado a televisão com capaz de operações simples (FREIBERGER, SWAINE, 1984, p. 36, 43). Os méritos do Altair eram usar uma tecnologia

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madrugada. Além disso, como era um uso concedido, haveria severas restrições

quanto ao tipo de uso. Em resumo, pouquíssima disponibilidade e nenhuma

propriedade (BRAND, 1972).

Mas em Abril de 1975, num clube de uma escola na Califórnia, um estudante

levou seu computador. Isso era inédito: ele possuía seu próprio computador. Ele era

Steve Dompier, o clube era Homebrew e o computador era o Altair.

Figura 12. Altair

O Altair não possuía teclado ou monitor. Para entrar com dados e programa havia chaves no painel frontal, onde também estavam os indicadores luminosos, as únicas fontes de saída de informações.Fonte: CERUZZI.

Ele tocou algumas músicas num aparelho de rádio usando a interferência do

Altair33. Este era o destino do Altair: experiências entre aficionados de eletrônica e

computadores, como os freqüentadores do Homebrew. Clubes como esse existiam

em vários lugares dos EUA, formados por jovens interessados em conhecer

computação. Os clubes desempenharam dois papéis importantes. Primeiro,

sustentaram uma indústria iniciante que tinha pouco a oferecer ao público geral34 -

melhor, o microprocessador 8008, e ser mais divulgado. 33 Equipamentos eletrônicos como Altair tinham pouco ou nenhum cuidado sobre interferência em outros equipamentos. Dompier usou isso para tocar ‘Fool on the Hill’ dos Beatles. A interferência que causavam em rádios e televisões tornou a vida dos pais desses jovens muito desagradável (FREIBERGER, SWAINE, 1984, p. 160). 34 Esse papel de mercado consumidor para produtos ainda não estabelecidos já havia sido desempenhado pelos aficionados em eletrônica no início do século quando os radioamadores sustentaram uma indústria iniciante de componentes e equipamentos de rádio. Nesta fase se estabeleceram as primeiras estações com programação pública, inicialmente acessível apenas para radioamadores pois não havia ainda uma indústria de aparelhos de rádio como entendemos hoje. (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 233)

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quem mais compraria um objeto tão complexo e de resultados tão vagos? -.

Segundo, foi um celeiro de idéias e conceitos que seriam perseguidos por estes

jovens.

Entre esses conceitos destacamos a visão de que computadores poderiam,

e deveriam, ser fáceis de usar. Isso porque eles deveriam estar ao alcance de todos,

de qualquer cidadão. Por que pessoas comuns desejariam usar computadores não

estava muito claro, nem o que fariam com eles. O que havia era uma expectativa de

que os computadores mudassem toda a sociedade, embora ninguém tenha sido

muito claro em definir como isso aconteceria. Alguns visionários se tornaram

famosos, como o Stewart Brand que organizou o The Whole Earth Catalog, mas

ficou famoso pelo artigo da Rolling Stones, Spacewar, ou Ted Nelson autor do

Computer Lib, libelo de protesto que defendia que todos podiam e deviam entender

computadores já. O computador representava poder levado ao cidadão comum.

Stewart Brand,

em Spacewar

Prontos ou não, os computadores estão vindo para as pessoas. Estas são boas notícias, talvez as melhores desde o psicodelismo.

Ready or not, computers are coming to the people. That’s are good news, maybe the best since psychedelics.

Ted Nelson, em

Computer Lib

Você pode e deve aprender sobre computadores agora.

You can and you must understand computers NOW.

O Homebrew não foi o único, mas com certeza foi o mais famoso devido a

alguns de seus membros, como o próprio Dompier, e alguns visitantes ocasionais

Steve Wozniak e Steven Jobs. Outro grupo foi o CCC, ou C Cubo liderados por Bill

Gates e Paul Allen, na época com 15 e 13 anos (FREIBERGER, SWAINE, 1984, p.

23)35.

Essa visão de que os computadores mudariam o mundo extrapolou os

limites dos clubes juvenis e foi adotada por toda a sociedade. Em 1982 a revista

Time elegeu o micro como o homem do ano. Entre os usos citados para um micro

estavam enviar cartas na velocidade da luz, diagnosticar um poodle doente, calcular

35 O C Cubo fez um acordo com a DEC para usar seus computadores. Enquanto o C Cubo achasse erros nos códigos do VAX, eles não precisavam pagar pelo uso dos equipamentos. Eventualmente a DEC cancelou o acordo porque descobriu que aqueles garotos nunca iam terminar, eles sempre

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seguros e testar receitas de cerveja. Sobre o envio de cartas, vale lembrar que a

Internet ainda não era aberta ao público e comunidades como AOL e Prodigy ainda

não existiam. O sonho do computador transformando a sociedade, atuando em

qualquer área não pertencia mais aos aficionados, estava se espalhado pela

sociedade.

Figura 13. Revistas.

Havia uma expectativa de que os computadores mudassem toda a sociedade, embora ninguém tenha sido muito claro em definir como isso aconteceria. A revista Byte e ao lado a capa do Computer Lib. Time elege o micro como o Homem do Ano em 1982.Fontes: CERUZZI; FREIBERGER, SWAINE, 1984 e Revista Time.

Aos poucos essa visão futurista, revolucionária e pouco realista começou a

ser substituída por algo mais concreto. Uso de editores de texto, que nada tinha de

revolucionário, estava se tornando popular em escritórios. Isso já existia nos mínis e

mainframes, mas agora estava acessível a um custo impensável. Além disso havia a

liberdade, pois o micro pertencia ao escritório, enquanto para ter um terminal de um

míni ou do mainframe, era necessário solicitar ao setor de informática e ser

considerado um usuário importante. E ainda estariam a mercê das regras dos

analistas de sistemas. O micro representava disponibilidade e propriedade também

no escritório. O micro representava liberdade.

IBM e o BUNCH ignoravam os micros porque não tinham nada a ver com

automação de escritórios, empresas reais que usavam computadores reais não

comprariam micros (CAMPBELL-KELLY, ASPRAY, 1996, p. 286). Mas estava

achavam mais erros.

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ficando difícil ignorar esse mercado. Empresas como a Micro Pro, que estava

faturando 100 milhões por ano e vendeu mais de um milhão de cópias do Word Star,

mostraram que esse mercado não era tão pequeno assim. Motivadas pela

necessidade de marcar sua presença no mercado começaram a lançar seus

modelos. Mas isso não era tão simples.

Em 1980, 5 anos depois do Altair e 2 antes do micro ser o homem do ano,

Frank Carey, presidente da IBM, perguntava a seus executivos quando conseguiriam

fazer “o seu Apple”. Ele estava incomodado pelo fato de dois adolescentes terem

criado em suas garagens o que se tornara o maior exemplo de sucesso na indústria

de computadores. A IBM já tinha feito duas tentativas de criar um micro, o

Datamaster e a Serie 5100, ambos fracassos absolutos. Enquanto isso o Apple II era

um sucesso no mercado e a firma que o criou era formada por um bando de

estudantes, não tinham os prêmios Nobel acumulados da IBM. Era uma batalha

pessoal para a direção da IBM. Nesse quadro nasceu o IBM PC, um equipamento

que quebrava algumas regras sagradas da IBM. Os computadores da IBM utilizavam

apenas componentes fabricados dentro da própria IBM e eram vendidos apenas

pela poderosa força de vendas da empresa. O PC utilizou componentes de mercado

e foi vendido na Sears (CARROL, 1994).

O IBM PC foi um sucesso acima de qualquer expectativa. Não por nenhuma

característica técnica, mas o nome IBM concedeu uma respeitabilidade e

profissionalismo que o público não via no mercado de micros. A mística da IBM,

ainda forte na época, agora chegava ao mundo dos micros. Quem ainda não

confiava nesses pequenos computadores podia contar com o aval da maior

fabricante de computadores do mundo, a IBM.

Um PC aberto e estudado no Homebrew Club (FREIBERGER, SWAINE,

1984, p. 346) surpreendeu seus membros. Era um micro muito mais poderoso do

que os que estavam no mercado, baseado num processador da Intel, o 8088, mas

isto não era a surpresa. O que não era esperado era o uso exclusivo de

componentes de mercado, o uso de um barramento aberto a expansões ou de uma

documentação técnica detalhada. Isto permitia que qualquer um fabricasse

componentes para o PC. Mas permitia também que qualquer um fabricasse um

clone. A IBM já tinha experiência anterior com clones de suas máquinas, afinal

poucas máquinas foram tão copiadas quanto o /360. A IBM acreditava que poderia

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lidar da mesma forma, usando o nome da empresa para manter os clones restritos a

uma pequena faixa do mercado. Assim funcionou tanto na época dos Sete Anões

como do BUNCH. Mas o mercado de micros era diferente. Embora mantivesse

algum controle sobre os microprocessadores da Intel, esse controle não impediu que

ela lançasse novos microprocessadores e que outros fabricantes lançassem

computadores com esses novos processadores antes da IBM. A IBM perdeu sua

posição de dianteira e de controle do PC. O padrão PC passou a ser ditado por duas

empresas, a Intel pelo controle dos processadores e a Microsoft, pelo controle do

sistema operacional36. Depois de superadas algumas dificuldades técnicas37,

qualquer empresa poderia fabricar um PC totalmente compatível. A IBM passou a

ser apenas mais um fabricante do padrão que ela mesma havia criado.

No coração do PC estão os microprocessadores da Intel, começando com o

8088 e seguindo toda a família: 80260, 386, 486 e os Pentiuns. A estrutura de

barramento difere pouco da que foi usado no Altair. Este, no entanto, não forneceu

nenhuma documentação técnica sobre funcionamento, pois pretendia ser o único a

fazer placas. Ao longo dos anos e versões, muitas modificações surgiram, como os

padrões de conectores no barramento, que passaram pelo EISA, ISA, PCI, AGP.

Estes padrões, como tudo no PC, surgem de duas formas: ou um fabricante lança

um padrão e libera para uso geral ou um grupo de empresas define um padrão

comum. Em ambos os casos nem todos os padrões definidos foram implementados

ou adotados.

Os componentes de um PC são fornecidos por um exército de fabricantes.

Existem padrões definidos para cada grupo: discos rígidos, placas de rede, etc.

O PC tem requisitos realmente mínimos para funcionar. Temperatura

ambiente, energia de uma tomada comum, etc. Alguns modelos foram adaptados

para funcionarem nos hostis ambientes de chão de fábrica, incluindo altas

temperaturas e níveis de poeira.

36 Posteriormente a Microsoft levaria o mercado a migrar do DOS ao Windows e passaríamos a denominar esta plataforma de Wintel, numa referência ao Windows e a Intel. 37 Apenas uma peça era efetivamente proprietária na arquitetura do PC, a BIOS (Basic Input and Output System). Este microprocessador controla as funções de entrada e saída do computador. No entanto, um processo de engenharia reversa resolveu isso. Na engenharia reversa, em lugar de partir de uma especificação para um produto, observa-se um produto, a BIOS do PC, para gerar uma especificação. Desta forma os engenheiros conseguiram uma especificação da BIOS superando problemas técnicos e legais. Uma das primeiras empresas a conseguir isto foi a Compaq. Logo após veio a Phoenix Technologies, que em lugar de fabricar PC, decidiu vender BIOS para os demais fabricantes. (CERUZZI, 2000, P. 277).

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O padrão mais forte do PC é o sistema operacional. Desde o primeiro IBM

PC, que veio com PC-DOS, a Microsoft tem definido o sistema operacional dos PCs.

Surgiram algumas alternativas ao longo do tempo, como o DR DOS (Digital

Research), o Unix da SCO (Santa Cruz Operations), uma versão de MUMPS e

algumas versões de Linux. Por vários motivos, a Microsoft manteve o controle do

sistema operacional do PC. Ela chegou a conduzir a migração de um ambiente

caracter (DOS) para um ambiente gráfico (WINDOWS), incluindo uma série de

recursos nesse processo. Hoje esse controle se estende mesmo sobre editores de

texto, planilhas e browsers. A Microsoft assumiu o papel que era da IBM anos antes.

Em seus tempos áureos a IBM não era um competidor, era o “ambiente”, onde as

demais empresas circulavam. Estas se adaptavam aos produtos e características da

IBM, e geravam produtos complementares (FREIBERGER, SWAINE, 1984), p. 345).

Agora era a vez da Microsoft.

O fato é que foram estabelecidos padrões em software e arquivos. O editor

de texto padrão é o Ministério da Saúde Word e o padrão de documento aberto38 é o

DOC. Planilhas seguem o Excel, etc. Produtos que tentam conseguir uma brecha

neste mercado precisam provar compatibilidade com os arquivos Microsoft, ou serão

ignorados pela imensa maioria do público. Discutir se isso é bom ou mal é uma

discussão longa e de difícil conclusão. O monopólio tem óbvios aspectos negativos,

mas também tem trazido alguns positivos, como a consolidação de padrões.

Outro aspecto positivo é que esse ambiente é mais aberto do que o anterior.

Quem desejar hoje desenvolver um computador PC encontrará todas as peças e a

documentação disponível. Fabricar um PC não é mais exclusividade de uma

empresa. Aliás, sequer a confecção dos microprocessadores está a salvo de

concorrentes. A Intel pode controlar a definição de novos microprocessadores, mas

os já existentes sofrem uma pesada concorrência de outras empresas. Na área de

software é possível até desenvolver um novo sistema operacional, porque

novamente toda a documentação necessária está disponível. Se isso é uma boa

opção comercial, é outra história. Quanto a desenvolver um editor de texto que seja

compatível com o Windows ou com os documentos do Word também é possível.

Embora estejamos vivendo um monopólio de uma empresa tão grande ou maior do

que o que a IBM tinha, hoje é possível obter muito mais informação do que jamais o

38 Aberto no sentido de um documento que pode ser alterado. Para documentos fechados para

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foi.

Com esta liberdade de acesso a componentes e informações, surgem vários

fabricantes/montadores de PC a cada ano. E todos os canais de vendas são usados.

A IBM foi quase profética ao lançar seu PC numa loja de departamentos. Hoje

podemos achá-los disputando espaço entre geladeiras e fogões em supermercados

e lojas de departamento. A relação entre o fabricante e o comprador também é

semelhante ao vendedor da geladeira, em termos de prazo de garantia, por

exemplo. Acabou a intensa relação entre fabricante e usuário que caracterizou o

mainframe e diminuiu nos mínis.

7.5 O MICROCOMPUTADOR E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

Uma coisa em comum unia tanto os visionários, a IBM, a revista Times e os

membros do Homebrew Club: todos achavam que o micro era uma ferramenta

pessoal, para ser usada mais em casa do que no trabalho. Essa imagem durou

algum tempo, mas depois algo mudou. Talvez tenha sido o endosso da IBM ao

mundo dos micros. O fato é que o PC se instalou nos escritórios como ninguém

esperava. Eventos posteriores, como as redes locais, reforçaram a utilização

profissional do PC no escritório. Ao contrário do que a IBM pensava, os micros

fizeram a verdadeira automação de escritórios.

Em muitas empresas adotou-se o padrão de um micro por funcionário. Isto

implica que todo funcionário pode enviar e receber informações por via eletrônica.

Isto também implica que toda informação que circula na empresa pode circular por

meio eletrônico. O conceito de digitação39 quase desapareceu. Muitos processos

possuem uma cópia em papel apenas como segurança, mas para todos os efeitos,

vale a informação eletrônica.

Com os mínis a maioria das empresas pode converter suas informações

para meios eletrônicos, mas esses recursos nem sempre estariam à disposição na

ponta do processo. Um gerente financeiro teria que solicitar ao CPD que preparasse

e enviasse um arquivo para outra firma, ou departamento, que seria recebido por

alterações existem outros padrões e o mais forte é o PDF, um dos poucos padrões não Microsoft. 39 Ainda existem alguns eventuais casos de digitação, mas são poucos e estão desaparecendo. A grande maioria das informações é captada direto na fonte, seja por digitação do cliente, ou do operador ou por leitura óptica. Atividades como preparação de dados ou concentração de dados desapareceram. Os 0,centros de digitação da década de 60 e 70 sumiram.

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outro CPD e convertido, talvez em papel, para o outro gerente financeiro. Com o

micro esse processo mudou. O próprio gerente pode controlar o processo. O CPD

tem agora o papel de criar e manter as ferramentas para tal, mas a operação é

executada pelos gerentes nas pontas. Em alguns casos, usando recursos como

planilhas e e-mail, não há nenhuma interferência do CPD no processo.

Outro aspecto é o das informações não estruturadas. São memorandos,

fotos, gráficos, textos, qualquer tipo de informação que não esteja dentro de uma

base de dados estruturada. Em muitas organizações o documento digital assumiu o

papel de original. O original em papel foi substituído pelo arquivo eletrônico

localizado dentro da rede. No lugar de auxiliares levando memorandos, temos e-

mails levando cópias de arquivos, ou apenas seu endereço na rede.

Mas se na empresa o micro transformou dezenas de processos em

processos virtuais, o impacto maior é na vida pessoal. O micro afetou os três

aspectos que influenciam na presença digital: tempo, localização e propriedade.

Hoje o indivíduo tem acesso a vários computadores diferentes. O primeiro é

em casa, pois o custo é perfeitamente aceitável para a classe média. Em segundo

lugar vem o do trabalho, onde tanto pode ter um equipamento dedicado ou utilizar

intervalos de colegas. Em terceiro lugar vêm vários endereços públicos, como

escolas, universidades, cafés com aluguel de micros. Existe um alto grau de

variação, dependendo do poder aquisitivo, tipo de trabalho, local da moradia, mas

nunca houve tanta oferta de acesso a computadores como hoje. O fato de uma

família ter um ou mais computadores em casa não chega a causar surpresa e

algumas estatísticas falam de 50% das casas equipadas com microcomputadores40.

Isto influencia diretamente no tempo de acesso. Serviços como e-mail são afetados

por esta disponibilidade de tempo. Se é possível enviar um e-mail e verificar a

resposta várias vezes por dia, este recurso pode ser usado para acessar pessoas

cada vez mais próximas. Trocamos telefonemas por e-mails dentro das empresas e

em nossas vidas privadas. Essa disponibilidade de equipamentos reduz o problema

de localização, da necessidade de se deslocar para ter acesso a um computador.

Por fim temos a propriedade sobre o equipamento. As regras dentro das empresas

se tornaram muito mais flexíveis. Usar o e-mail do trabalho para fins pessoais está

em pauta em todas as empresas, mas já é uma realidade. Esse é um exemplo do

40 Mais de 50% nos EUA, mais de 10% no Brasil EM 2000 (IBGE, 2000)(U.S. CENSUS, 2000).

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grau de liberdade desse funcionário sobre o equipamento. Outro aspecto é que

muitas pessoas possuem seu próprio computador em casa, sobre o qual tem total

propriedade.

O impacto deste aumento de tempo, localização e propriedade é enorme. O

uso de meios eletrônicos pela população em geral deixou de ser uma exceção para

se tornar comum. Ter um e-mail não significa mais que você está na universidade,

nem que seja um técnico em informática. Ele é um canal de comunicação comum

para muitos relacionamentos pessoais. Novas formas de comunicação eletrônica

surgiram e estão sendo adotadas rapidamente. Serviços de mensagens

instantâneas são uma das últimas modas e crescem rapidamente. Até mesmo ter

uma página pessoal não é mais tão incomum.

Mas o indivíduo não se relaciona eletronicamente apenas com outros da

comunidade. Empresas em organismos assumiram essa versão eletrônica como

algo a ser levado em consideração. Bancos oferecem serviços em suas páginas

WEB e o governo aceita declarações de renda em seu sítio. Ter uma página com

informações básicas é considerado obrigatório para qualquer nível de governo ou

empresa de certo porte. Independente do fato de ser rentável ou não, não é mais

possível ignorar o cidadão digital.

A soma de todas essas frentes levou a presença digital ao nível de

cidadania. Passamos da etapa de discutir se existe uma presença digital, estamos

na etapa de discutir o que é isso e quais são suas implicações legais e sociais.

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Ano 1964 1982

Nome minicomputador Computador pessoal

Modelo PDP-8 IBM PC

Fabricante Digital IBM

Preço 20.000 2.000

Redução % 98 90

Tecnologias Circuito impresso e transistores Processador programável.

Ambiente Ambiente de escritório refrigerado. Ambiente de escritório e residencial normal

Peso Dezenas de quilos. 10 a 5 quilos

Operação e SO

SO simplificado, incluindo processamento de tempo real e tempo compartilhado. Menos treinamento e menos qualificação.

Dispensa o profissional, pode ser operado pelo usuário. Interface gráfica.

Arquitetura aberta

Distribuição gratuita de manuais. Divulgação de especificações. Intervenção do cliente na máquina é aceita e incentivada.

Com um padrão de hardware quase independente de fabricante, há uma total independência do fabricante.

Mecanismos comerciais.

Venda do produto. Contratos de OEM.

Venda em lojas como eletrodoméstico.

Imagem Concentrador de dados. Terminal inteligente

Cliente Principal

Empresas grandes e médias. Empresas de qualquer tamanho. Cliente privado.

Aplicação Missão critica, soluções departamentais, comunicação, apoio ao mainframe.

Missão crítica, soluções departamentais, automação de escritório.

Tabela 4. Quadro Resumo míni / PC

7.6 3O EVENTO: O PDA

As inovações, principalmente as de maior sucesso, costumam ter vários

pais, a computação não foge à regra. O transistor é um raro momento de um

inventor só, mas o circuito integrado é disputado entre Robert Noyce e Jack Kilby. A

contribuição de cada membro da equipe que desenvolveu o microprocessador

programável, o 4004 da Intel, já gerou outra leva de discussões. O PDA ainda não

entrou nessa polêmica, talvez porque ainda não tenha feito tanto sucesso.

Em 1987 Mitchell Kapor, fundador da Lótus, discutia com Jerry Kaplan os

recursos a serem implementados num novo programa da empresa, o Lótus Agenda.

Era uma agenda pessoal que rodava em PC. O primeiro problema do programa

estava fora dele. Para acioná-lo era necessário ligar o micro, um potente 286 portátil

da Compaq. O tempo necessário para ligar o micro, carregar o DOS e por fim o

Lótus Agenda era desanimador. Além disso o tamanho do micro, mesmo o portátil,

obrigava o uso de uma mesa e espaço para acessar e verificar a agenda. Desta

constatação surgiu a idéia de criar um computador pequeno. “A questão é quão

pequeno e leve você pode fazer um computador portátil” disse Kaplan (KAPLAN,

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1994, p. 9).

Desse questionamento surgiu a iniciativa para fazer o primeiro computador

sem teclado, com reconhecimento de escrita manual, o GO. A empresa, depois de

várias associações, compras e recompras, foi encerrada em 1994 sem conseguir um

espaço no mercado. Durante esse tempo, no entanto, eles agitaram bastante o

mercado. O sistema operacional baseado em caneta, o Penpoint, foi licenciado pela

IBM e intensamente negociado com Microsoft e Apple.

Durante algum tempo muito se falou em computação baseada em caneta,

como o próximo e natural caminho para a interface entre homens e computadores41.

Em maio de 1992, John Sculley, CEO da Apple, apresentou o Newton como um

PDA, Personal Digital Assistant, uma convergência de vários aparelhos em um só.

Estava lançado o conceito do PDA42.

Figura 14. GO

O pioneiro Go era demasiado grande e pesado para ser efetivamente portátil. Na verdade, a proposta não era de criar um portátil, e sim uma nova forma de interface. Fonte: KAPLAN.

Os equipamentos dessa época – o Newton, o Go e o NCR3125 – sumiram

41 Meyer apresenta uma introdução muito interessante em Pen Computing, A Tecnology Overview and Vision. Entre os destaques está o conceito de “pen information” que seria um novo tipo de informação, não apenas textual, mas rabiscada. 42 Segundo Kaplan o objetivo de Sculley era dar um novo nome aos computadores baseados em caneta e sugerir que esta era uma idéia original da Apple (KAPLAN, 1994, p. 228). Seja como for, o conceito de PDA perdurou.

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sem deixar maiores lembranças. Esses equipamentos saíram de mercado por

razões diversas. O pioneiro Go, por exemplo, era demasiado grande e pesado para

ser efetivamente portátil. Na verdade, a proposta não era de criar um portátil, e sim

uma nova forma de interface.

O PDA está hoje na mesma fase que os microcomputadores na década de

80, definição de padrões. Ao contrário dos micros, onde havia uma dezena de

marcas e padrões antes do PC, o mercado de PDA se divide em duas vertentes

Windows CE e Palm. Atrás desta divisão está mais do que apenas as empresas que

sustentam as marcas, são propostas distintas, que precisam ser entendidas

separadamente.

Lançar um sistema operacional para computadores de mão já estava nos

planos da Microsoft desde 1992, guiando um time de desenvolvimento que

trabalhava no projeto de uma versão própria de algo semelhante ao Newton. A idéia,

no entanto, acabou por ser arquivada dois anos depois, na mesma época em que o

Newton começava a deslanchar (GILLET, 2002).

Em 1995 a Microsoft lançava o Windows 95, a maior modificação em seus

sistemas desde o inicio do Windows 3 em 1990. O Windows 95 trouxe grandes

mudanças nos conceitos de interface com o usuário, e novamente surgiu a idéia de

lançar uma versão para computadores de mão. Desse esforço nasceu o Windows

CE, Compact Edition. Mas o objetivo da Microsoft não era apenas computadores. O

Windows CE foi desenvolvido para qualquer aparelho eletrônico que pudesse utilizar

uma interface elaborada. A lista incluía máquinas fotográficas, televisores,

fotocopiadoras, carros, telefones com visor. O conceito era de uma interface única e

universal. Qualquer aparelho que pudesse utilizar uma interface com o usuário teria

o mesmo diálogo. Esse conceito não avançou no mercado e, além de umas poucas

demonstrações, nenhum aparelho efetivamente adotou a proposta ainda.

Mas o Windows CE encontrou um grupo de super agendas, como a linha

Omminibook da HP já disponível desde 1993. Uma evolução natural das

calculadoras, eram pequenos computadores, com planilhas, editores de texto e

outros recursos. Esses pequenos computadores tinham sistemas operacionais

proprietários desenvolvidos por fabricantes. Isto limitava a oferta de software, porque

apenas os fabricantes tinham condições e interesse em produzir software para os

pequenos computadores.

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Figura 15. Ombook

O Windows CE encontrou um grupo de super agendas, como a linha Ombook da HP, já disponível desde 1993. Fonte: Compaq.

O Windows Ce ofereceu uma opção de padrão para que fabricantes e

desenvolvedores se unissem em torno de uma nova plataforma.

O modelo de duas partes, visor sensível a toque e teclado, foi adotado por

muitas empresas além da HP, incluindo Casio, Compaq, LG, Hitachi, Ericsson e

NEC. Todas possuíam um formato muito similar. Apesar da tela sensível,

reconhecimento de escrita não estava incluído. O custo médio de um dispositivo era

de U$ 500 (GILLET, 2002).

No ano de 1996 a Palm entrou no mercado. Com menos recursos e custo

menor, a Palm conquistou uma larga fatia do mercado, o que obrigou a Microsoft e

seus parceiros a reconsiderar seus produtos. A HP foi uma das poucas que

continuaram com modelo de teclado e visor em duas partes. Um novo modelo do

Windows CE seguia os passos do Palm, que seguia os do Newton, um visor grande,

alguns botões na base e reconhecimento de escrita. Nessa nova fase entraram

novos fabricantes, como Everex e Philips.

Atualmente a linha de mais sucesso dos Windows CE é a iPaq da Compaq,

que responde pela quase totalidade das vendas de Windows CE. O sistema foi

rebatizado de Pocket PC e luta para reconquistar seu espaço no mercado.

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Vendas de PC, Notebooks PDA

-

5

10

15

20

25

30

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Mil

es

Desktops Notebooks PC PDAs

Gráfico 3. Vendas de PC, Notebook e PDA

Segundo dados da NPD, as vendas de unidades de PDA passarão as de PC (de mesa de portáteis) em 2002, após ter passado os portáteis em 2000 e emparelhado nos PC de mesa em 2001. Fonte: NDP.

A Microsoft não desistiu de um mundo de utensílios eletrônicos rodando

Windows CE, e periodicamente propõe novos produtos que adotarão esta interface.

O PDA ajuda essa iniciativa de duas formas. A primeira é de ser o único elemento

fora o PC que roda o Windows CE, a segunda é permitir que o sistema se popularize

e assim tentar levá-lo a novos horizontes.

O primeiro PDA usando o Palm OS (Palm Operation System) nasceu em

março de 1996, lançado por uma pequena empresa de componentes eletrônicos, a

US Robotics, que cresceu vendendo modem. Um ano depois a US Robotics seria

comprada pela 3Com, a grande empresa de componentes de comunicações, para

resolver um problema com protocolos de modem43. No brinde nasceu a Palm Inc,

subsidiária da 3Com que iria gerenciar os produtos Palm. (PALM SOURCE, 2002).

A filosofia original da plataforma Palm era expandir o uso do Palm OS para

além da Palm Inc. Essa era a visão dos projetistas originais Jeff Hawkins, Donna

Dubinsky, e Ed Colligan. Por isso não foi surpresa ver outras empresas lançando

PDA baseados em Palm OS.

43 A US Robotics e a 3Com haviam lançados protocolos para modens de 56K, e o mercado estava parado esperando ver quem venceria a briga. O impasse estava prejudicando todos, tanto as duas empresas como os clientes. A 3Com adotou uma solução radical, comprou a US Robotics e lançou um terceiro protocolo que reconhecia os dois anteriores.

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Em 1997 a IBM lança seu PDA baseado em Palm OS, uma clara versão

OEM dos produtos da Palm Inc. No mesmo ano a Symbol lança soluções completas,

incluindo leitor de código de barras e controle de inventários. Essa solução ainda é

muito popular em controle de passageiros nos aeroportos brasileiros. Em 1998

Hawkins, Dubinsky, e Colligan saem da Palm e fundam a Handspring, com plenos

direitos de uso da plataforma Palm OS. Hoje a lista da empresas que fabricam PDA

com Palm OS conta com nomes como Acer, HandSpring, Kyocera, Nokia, Palm,

Samsung, Sony e Symbol, TGRpro44.

Em 2000 a Palm Inc viria a se separar da 3Com.

Durante todo o processo a Palm Inc desempenhava dois papéis, de

fabricantes de equipamentos e de responsável pelo sistema operacional utilizado por

todos esses fabricantes. Era ao mesmo tempo concorrente e parceira das demais

fabricantes de PDA Palm OS. Esta situação levou a divisão da Palm Inc em duas

empresas, a Palm Inc responsável pela linha de equipamentos e a Palm Source,

responsável pelo sistema operacional Palm OS.

A proposta da plataforma Palm é simplicidade, tanto para interface com o

usuário como uma forma de reduzir custos. Para o usuário tudo deve ser o mais

simples possível, desde como acessar uma agenda a como inserir informações. Por

outro lado, a tela de baixa resolução e programas com pequeno consumo de

memória permitem uma significativa redução de custos. Outro aspecto da plataforma

é o esforço de seus fundadores em torná-la o mais acessível possível. Hawkins,

Dubinsky, e Colligan lutaram para que o Palm não fosse apenas um produto a mais

da US Robotics ou da 3Com, mas uma plataforma em que muitas empresas

pudessem entrar. Eles entendiam que este seria o único meio de crescer como um

padrão.

A batalha entre o Windows e a Palm está longe de acabar. Até o momento o

mercado está mais favorável ao Palm, detentor de 80% do mercado nos últimos

anos, apesar dos esforços intensos da Microsoft. Periodicamente, surgem artigos

dizendo que o Pocket PC está crescendo e deverá ameaçar a posição do Palm.

Estes artigos vêm sendo escritos desde 1998, e até agora os avanços não foram

duradouros.

No final de 2002 ambas as plataformas estão em disputa por melhores

44 Atualmente conhecida como HandEra.

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resultados com a nova família de microprocessadores da Intel, Xscale. Esses

microprocessadores passaram por uma longa negociação para o uso da tecnologia

ARM45. O Pocket PC saiu na frente, pois lançou primeiro seus modelos com os

novos processadores, como Compaq, Acer, HP e Toshiba. A ressalva a esses

modelos é o fato do Pocket PC não ter sido otimizado para aproveitar a nova

arquitetura, portanto não ser capaz de explorar o potencial dos microprocessadores

Xscale. A plataforma Palm também lançou seus modelos no final do ano, pela Sony

e a própria Palm. Um dos atrativos da Palm é a nova versão Palm OS 5, com várias

promessas, entre elas recursos multimídia, melhor resolução de imagem, recursos

de segurança e maior poder de processamento.

O curioso é que enquanto o Pocket PC tenta simplificar a interface, a Palm

promete recursos multimídia, melhoria na parte gráfica, etc. Aparentemente, as

plataformas se aproximam de um meio termo, talvez mais a frente não existam

tantas diferenças entre ambas. As dúvidas são se o Pocket PC poderá manter sua

interface Windows e se tornar realmente ágil e se o Palm poderá acrescentar todos

esses recursos e ainda ser simples e barato.

Como até o momento o Palm mantém 80% do mercado, este estudo o

considera padrão de PDA até o momento.

Além da questão da briga interna entre Windows CE x Palm, existe a

questão sobre como o mercado está reagindo aos PDAs. Segundo dados da NPD,

as vendas de unidades de PDA passarão as de PC (de mesa de portáteis) em 2002,

após ter passado os portáteis em 2000 e emparelhado com os PC de mesa em

200146.

Outro indicador é o número de desenvolvedores que estão trabalhando com

PDA. Inicialmente havia 2.000 desenvolvedores, em março de 1997, passando a

mais de 140.000 em quatro anos. Os números são de profissionais que se

cadastraram na Palm Soucer, que reflete apenas uma pequena parcela deste

público (PALM SOURCE, 2002).

45 ARM é uma empresa especializada em processadores RISC. Ver www.arm.com 46 Detalhes sobre este gráfico no anexo.

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Número de desenvolvedores

0

50.000

100.000

150.000

03/97 09/97 03/98 09/98 03/99 09/99 03/00 09/00

qtd 2.000 3.595 13.751 41.000 65.000 100.000 140.000

03/97 12/98 06/99 03/00 04/00 09/00 01/01

Gráfico 4. Número de desenvolvedores.

Gráfico de crescimento do numero de desenvolvedores para PDA. Fonte: Palm Source.

Alcançar as vendas do PC não significa que haverá tantos PDAs quanto

PCs, pois temos PC que estão há mais de dez anos em atividade. É extremamente

difícil calcular a quantidade de PC ainda em uso. Mas temos um novo modelo de

computador, que segue vários padrões e cujas vendas deverão passar o PC, o

computador mais popular até hoje. O PDA é o próximo computador de baixo custo.

O PDA é um computador de mão, composto por uma tela sensível a toque e

alguns botões.

A tela lembra um pouco as do antigo DOS, geralmente em preto e branco e

de baixa resolução. São sensíveis a toque, portanto é possível desenvolver

programas de desenho ou que recebam informações da tela. Para escrever na tela,

acompanha uma caneta especial47.

Pode ser alimentado por baterias internas ou por pilhas disponíveis em

qualquer banca de jornal. Duas pilhas podem durar até duas semanas de uso

ocasional. Há também uma base que o conecta a um micro. Esta conexão permite

troca de informações entre o PDA e o micro, que pode ser usado para cópia de

segurança. Existe uma porta de sinal infravermelho que permite troca de

informações com outros PDA ou outros aparelhos com o mesmo recurso.

47 Na verdade é apenas um bastão de plástico com uma ponta redonda.

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Os PDA aceitam uma variedade de cartões de expansão, de Smart Card a

Secure Cards. A Palm Source, como detentora do padrão Palm OS, está tentando

padronizar em torno do Secure Card..

Quatro botões permitem acesso direto a programas instalados. O padrão de

fábrica é diário, agenda de telefones, lista de tarefas e bloco de notas, mas esse

padrão pode ser alterado. Utilizando essa forma de acesso é possível ligar o

aparelho e acionar um programa sem sequer ver nenhuma tela do sistema

operacional.

O principal uso do Palm ainda é pessoal, no entanto começam a surgir os

primeiro usos profissionais: aparelhos com leitores de código de barra e conectados

por rádio-freqüência fazem o controle de passageiros em aeroportos, vendedores

trocam pequenos PC portáteis por PDA (Coca Cola).

Apesar de existirem vários exemplos sobre como usar um PDA, estamos

repetindo o evento da revista Times, quando elegeu o micro como Homem do Ano,

repletos de possibilidades, mas sem base para entender quais serão as reais

utilizações do PDA. De concreto temos o mesmo que a Times tinha, a certeza de

que o PDA chegou para ficar.

Figura 16. Modelos de Palm

Alguns modelos de PDA, todos PALM OS. Fonte: Palm Souce.

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Ano 1982 2002

Nome Computador pessoal Assistente digital

Modelo IBM PC Palm III

Fabricante IBM 3Com

Preço 2.000 400

Redução % 90 80

Tecnologias

Processador programável. Reconhecimento de escrita e tela sensível.

Ambiente Ambiente de escritório e residencial normal Portátil

Peso 10 a 5 quilos 200 gramas

Operação e SO

Dispensa o profissional, pode ser operado pelo usuário. Interface gráfica.

Pouca interação com o SO. Aciona aplicativos diretamente.

Arquitetura aberta

Com um padrão de hardware quase independente de fabricante, há uma total independência do fabricante.

Mecanismos comerciais.

Venda em lojas como eletrodoméstico.

Pacote hardware + SO vendidos como item único.

Imagem Terminal inteligente Agenda

Cliente Principal

Empresas de qualquer tamanho. Cliente privado.

Pessoa física e empresas.

Aplicação Missão crítica, soluções departamentais, automação de escritório.

Indefinido.

Tabela 5. Quadro Resumo PC / PDA

7.1 GERAÇÕES DE COMPUTADORES

A classificação de computadores por gerações era muito popular, fazia parte

dos currículos de ensino e das discussões acadêmicas. Ela apresentava os

computadores numa progressão de tecnologias e capacidades indicativas de quais

seria seus próximos estágios.

Geração Características Exemplos

Primeira 1944-1959

Baseados em válvulas a vácuo, cartões perfurados para entrada e saída de dados, cerca de 1000 circuitos por pés cúbicos.

Harvard Mark I (electromechanical), Whirlwind, ENIAC, EDSAC, UNIVAC I, UNIVAC II, UNIVAC 1101, NCR CRC 102A, IBM models 604, 650 (drum memory), 701, 702, 704, 705, 709

Segunda 1960-1964

Uso de transistores e cerca de 100.000 por pés.

UNIVAC 1107, UNIVAC III, IBM 7030 Stretch, IBM 7070, 7080, 7090, 1400 series, 1600 series, Control Data Corp. CDC 1604, 3600, 160A,

Terceira 1964-1975

Alta escala de integração de circuitos, cerca de 10 milhões de circuitos por pés quadrados.

Control Data 3300, 6600, 7600, IBM System/360, System 3, System 7, NCR Century Series, RCA Spectra 70 series, UNIVAC 9000 series

Quarta 1975-atual

Altíssima escala de integração, continua miniaturização e bilhões de circuitos por pés cúbicos.

IBM System 3090, IBM RISC 6000, IBM RT, ILLIAC IV, Cray 2 XMP, HP 9000

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Quinta Current and

Future

Extremamente alta escala de integração de circuitos, processamento paralelo, alta velocidade de circuitos de lógica e memória, alta performance, micro miniaturização, integração de voz e dados, plataformas de base de conhecimento, inteligência artificial, sistemas especialistas, geração de realidade virtual e conexão com satélites.

Tabela 6. Tabela de Gerações

Tabela de classificação de computadores por gerações. Fonte: GREENIA.

Essa classificação enfatizava questões técnicas, tecnologias usadas. Não

são considerados aplicações, usos ou quaisquer outros aspectos. Isso gera algumas

incongruências. O IBM 709 está na primeira geração enquanto o 7090 está na

segunda. Mas são máquinas idênticas, onde válvulas foram substituídas por

transistores. O projeto era o mesmo, o desempenho era o mesmo, o preço era o

mesmo. Sob todos os aspectos perceptíveis ao cliente, era a mesma máquina.

Outro problema foram as novas máquinas que estavam chegando ao

mercado e não se encaixavam em nenhuma categoria. Primeiro foram os mínis,

como os PDP que Grennia simplesmente omitiu de sua lista. Eles estariam na

segunda ou terceira geração, mas não podiam ser comparados as máquinas desses

grupos, como o System/360 da IBM ou os CDC 6000 da Control Data. Na verdade

eram maquinas mais avançadas, mas que tinham um resultado muito abaixo do

resto do grupo. A definição de gerações vinha embutida de uma visão de poder

crescente a cada geração de computadores, impulsionada por avanços

tecnológicos. Em parte isso aconteceu, com empresas como IBM, Control Data e

outras lançando modelos cada vez mais poderosos. Mas por outro lado vieram os

mínis e micros, máquinas que, embora usassem essas novas tecnologias,

apresentavam um resultado final muito abaixo do que já estava disponível no

mercado.

Outro problema com a definição de gerações foi o ambicioso projeto do

computador de quinta geração. Até então as gerações foram definidas baseadas em

equipamentos existentes, já desenvolvidos. Mas no início da década de 80, quando

o governo japonês anunciou um projeto de pesquisam para desenvolver um super

computador, iniciou-se a corrida para o computador de quinta geração

(HUTCHINSON, 2002)48. Depois de uma década, não apenas não havia resultados

48 Em 1981 o Ministério do Japão anunciou um esforço de 10 anos para produzir o computador de quinta geração, que teria, entre outros recursos, linguagem natural, manipulação de bases de conhecimento e reconhecimento visual em níveis humanos. Este anunciou gerou uma grande inquietação no ocidente, onde também se iniciou a corrida pelo computador de quinta geração. Hoje, no entanto, grandes partes desses objetivos ainda estão muito distantes de serem alcançados. (HUTCHINSON, 2002) (CERUZZI, 2000, P. 11)

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significativos como o mundo estava sendo invadido pelos microcomputadores. Estes

estavam mudando os conceitos de informática e estavam muito distantes dos

sonhos do computador de quinta geração.

Gordon Bell propôs uma nova visão sobre classes de computadores e sua

evolução.

Lei de Bell de classes de

computadores

Novas plataformas de computadores emergem baseadas na evolução da densidade dos processadores49.

Classes de computadores precisam de novas plataformas50, redes e cyberização51.

Novas aplicações e conteúdo são desenvolvidos em torno de cada nova classe.

Cada classe surge de uma indústria verticalmente desintegrada e de softwares padrões.

Na visão de Bell o aumento na densidade dos processadores é o

responsável direto pela criação de novas classes de computadores, num processo

onde várias mudanças quantitativas possibilitam uma mudança qualitativa. Essa

mudança deve ser acompanhada de mudanças de plataformas, redes e aplicações.

Lei de Bell da evolução das classes de computadores

Tecnologia permite dois caminhos:

Performance constante, custo decrescente.

Preço constante, performance crescente.

Essa lei descreve as opções que cada empresa tem quando surge um

significativo avanço tecnológico. Preço constante e performance crescente é

oferecer mais resultados pelo mesmo preço. Performance constante e preço

decrescente é aproveitar o avanço tecnológico na redução de preço.

49 Esta frase refere aos processadores, uma variação avançada dos circuitos integrados. Estes não estariam disponíveis antes de do final da década de 60. Antes disso, no entanto, podemos considerar a lei válida, mas se referindo à densidade de componentes eletrônicos dos computadores como um todo. 50 O termo “plataforma” aqui se refere a um conjunto de padrões incluindo sistema operacional e outros padrões. 51 O termo cyberização é uma invenção de Bell e significa a inclusão no ciber-espaço através d7e uma interface digital.

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Gráfico 5. Gráfico de Gordon Bell

Gráfico de Gordon Bell sobre o surgimento de novas classes a partir do aumento da densidade dos processadores. Fonte: BELL.

O caminho de manter o preço e aumentar a performance, para Bell, não

caracteriza uma nova classe. O mainframe, mesmo mais poderoso, continua tento

as mesmas características, incluindo plataformas, redes e aplicações. Já o míni,

onde essas características foram alteradas, pode ser considerado uma nova classe.

Na visão de Bell, novas classes têm mesma capacidade e preço menor, enquanto as

classes já existentes se distanciam aumentando suas capacidades.

Mas a abordagem de Bell também tem problemas. A proposta de oferecer o

mesmo desempenho por um preço menor não era do míni, e sim dos clones cujo

termo preferido era compatibilidade.O míni pretendia ser uma máquina menor, por

um preço muito menor. Da mesma forma aconteceu com o micro. Quando surgiu

este não pretendia competir com o míni.

Ampliando a visão de Bell, temos uma terceira opção, a de preço

decrescente e desempenho decrescente. Este é o computador de baixo custo.

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Gráfico 6. Variação de Bell

Variação do gráfico de Gordon Bell sobre o surgimento de novas classes. Junto às duas opções (preço constante e mais desempenho X preço reduzido e desempenho constante) surge a terceira opção de onde saíram os mínis: redução de preço e desempenho. Fonte: BELL.

Apesar de discordar de Bell sobre “manter desempenho pelo mesmo preço”,

as demais definições se apresentam idênticas. Cada novo computador de baixo

custo desenvolve em torno de si novas aplicações e conteúdo.

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8 RESULTADOS

A primeira hipótese é que há um evento na história dos computadores que

se repete ciclicamente. Este evento é o computador de baixo custo. As

características que o definem são em maioria comparações entre ele e os

computadores existentes na época de seu lançamento. A mais significativa é a

redução em 90% no preço. Não se trata de uma versão econômica, com uma

pequena variação no preço e algumas restrições de desempenho. É uma nova

classe de computadores produzidos por fabricantes que desejam atingir um

segmento de público, com menor poder aquisitivo.

Mas não é possível atingir essa redução no preço sem reduzir também a

capacidade de processamento, que é reduzida em 99%. Isso implica que esse

computador não será capaz de executar as tarefas que os computadores normais

executam, e terá que buscar novas aplicações.

Para atingir a redução de preço em 90%, várias soluções precisam ser

adotadas, passando por tecnologias usadas, ambiente necessário, interface com o

usuário, arquitetura interna e relações comerciais.

As tecnologias usadas são apenas as já disponíveis no mercado, cujo custo

com pesquisa e desenvolvimento já foi pago ou amortizado. As exigências de

ambiente físico para a instalação do equipamento, como temperatura e condições da

rede elétrica, devem ser menores, permitindo não apenas redução de custo indireto

mas também fornecendo mais mobilidade. Outra forma de redução de custo indireto

é uma interface mais simples para o usuário. Isso implica menos treinamento e

permite ao equipamento entrar em produção mais rapidamente. O uso de padrões

mais abertos reduz o custo de acessórios e software. Por fim, vendas mais simples,

com menos garantias e mais liberdade.

Esse pacote de soluções produz máquinas bastante limitadas em

capacidade – em torno de 99% a menos. Tão limitadas que não estão aptas para as

tarefas habituais de um computador comum. O que não é um problema, visto que

essas máquinas são projetadas para um novo público e um novo uso.

A hipótese se baseia na comparação de um novo modelo de computador

com um padrão já existente. Isto torna necessário um padrão como ponto de partida.

Escolhi com o ponto de partida um grande sucesso comercial da IBM, o /360. Ele

marcou época por alguns conceitos de escalabilidade e compatibilidade que, embora

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já existentes, ainda não haviam sido implementados tão radicalmente. Marcou

também por ser um computador projetado para uso geral, ao contrário da grande

maioria dos equipamentos anteriores, projetados para um uso específico.

É muito difícil falar do preço de um /360, devido a variedade de suas

configurações e ao segredo em torno dos contratos comerciais, mas a ordem de

grandeza de um mainframe era de um milhão de dólares.

O primeiro computador de baixo custo foi o minicomputador, cujos modelos

mais famosos foram os PDP da DEC. Custando vinte mil, o míni teve que provar que

era um computador, e não apenas um concentrador de dados. Nem mesmo Ken

Olsen, fundador da DEC, quis enfrentar essa polêmica e batizou seu equipamento

de processador de dados programável – PDP. Lançado quase junto com o /360, os

inis levaram meia década para se consolidar.

As tecnologias que mais marcaram o míni foram transistores e circuitos

integrados. Transistores já haviam sido usados no IBM 709 em 1958. Quanto a

circuitos integrados, estavam disponíveis desde o início da década. O ambiente

exigido era de um escritório refrigerado. Quanto à interface, eram os primeiros

computadores interativos, adotando conceitos de tempo compartilhado e tempo real,

permitindo ao operador “conversar” com o computador. A arquitetura mais aberta era

representada pela divulgação de manuais internos e a possibilidade de terceiros

fazerem acessórios. Por fim, nas relações comerciais, foi com os mínis que surgiu a

expressão OEM, uma forma de venda onde até o nome do fabricante poderia ser

mudado.

O próximo computador de baixo custo foi o micro, que nasceu nas revistas

de eletrônica 1975 e virou o “o homem do ano” em 1982. Semelhante a briga do

míni, o micro teve que mostrar qual seria a diferença entre ele e o terminal

inteligente. Isto ficou bem mais fácil em 1981, quando a IBM lançou aquele que seria

o padrão de microcomputador, por dois mil e oitocentos dólares.

A tecnologia sobre a qual nasceu o micro foram os microprocessadores

programáveis, uma variação dos produzidos em larga escala para as calculadoras

eletrônicas. Os micros exigiam um ambiente ainda mais simples do que os mínis,

principalmente em espaço e temperatura. A interface, mais do que interativa, se

tornou gráfica e se esforça para ser intuitiva. A arquitetura do micro é tão aberta que

qualquer um pode efetivamente comprar as peças numa loja de eletrônica e

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“fabricar” seu próprio micro52. Quanto a relações comerciais, basta citar que o micro

está instalado nos supermercados entre geladeiras e microondas.

Os dois eventos, míni e micro, seguem o padrão descrito incluindo preço,

tecnologia, ambiente, interface, arquitetura e relações comerciais. Para concluirmos

que isto define um padrão precisamos saber se essas características são

suficientes, se formam um grupo consistente de características ou é apenas uma

combinação casual de detalhes óbvios e sem importância.

As características citadas não são casuais, pois têm um papel específico na

redução de custo, diretos ou indiretos. Também não são óbvios conceitos como de

usar apenas tecnologias estabelecidas mas de forma inovadora. Isso vai contra um

senso comum de que as tecnologias por si só criam novas classes de

computadores, como afirma Bell. Também não podem ser consideradas sem

importância. A evolução da interface mudou a forma da sociedade usar o

computador, a arquitetura mais aberta tem permitido a entrada no mercado de

centenas de empresas, apenas para citar dois aspectos.

Mas dois eventos é um número muito pequeno e quarenta anos é um

período muito curto para a definição de um padrão. A biologia trabalha com períodos

de milhares de anos, mesmo de milhões, quando fala de evolução. Se a história da

computação tem milhares de anos53, a dos computadores tem apenas algumas

dezenas. Computadores comerciais são ainda mais recentes. Gordon Bell,

engenheiro chefe nos projetos do PDP, ainda está na ativa, e alguns dos projetistas

do /360 podem estar também. É necessário aceitar que os estudos na história dos

computadores estarão focados em períodos curtos e portanto mais restritos em

exemplos. Neste caso há apenas dois exemplos consolidados.

A hipótese seguinte é que o PDA é uma ocorrência desse evento. Ela se

verifica caso ele se encaixe na descrição do computador de baixo custo e se provar

que está sendo adotado pelo mercado.

As poucas tecnologias que se destacam num PDA são o reconhecimento da

escrita e a tela sensível a toque. Isto já estava disponível desde o início da década

de 1990, quando IBM, NEC, ATT e Apple falavam em computadores baseados em

caneta54. O PDA exige menos do ambiente do que um PC, afinal opera com baterias

52 Isso foi válido para o Altair e é válido para o PC. A total exceção a essa regra é a Apple. 53 Um dos marcos da computação seria o ábaco, estimado em cinco mil anos. 54 Foram exibidos muitos protótipos e uns poucos produtos reais. Em sua maioria eram equipamentos

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sem precisar de móveis ou corrente estabilizada. Além disso, pesando duzentas

gramas, é muito mais portável do que um PC portátil com dois quilos. Sua interface

está reduzida a seis botões e reconhecimento de escrita. A maior novidade de sua

arquitetura é o fim da separação de hardware e sistema operacional: quem compra

um PDA já vem com um SO e aplicativos embutidos, sem o conceito de instalação55.

Esta mesma simplicidade faz parte da relação comercial. Não é mais necessário

comprar partes distintas como hardware, SO e aplicativos. Apenas comprar e usar.

Mas muitos equipamentos poderiam ser classificados como computadores

de baixo custo, incluindo os protótipos da computação a caneta, os webfones56, os

NC (Network Computer)57, os Windows Terminal58 e muitos outros que

desaparecerão sem deixar vestígios, ou documentação. É preciso comprovar que o

PDA é mais do que uma proposta da indústria. É preciso comprovar que o PDA será

adotado pelo mercado.

As projeções de venda indicam que o PDA em breve deve passar o PC, que

é o maior sucesso de vendas da história dos computadores. Isto prova que o

mercado já está adotando o PDA, como adotou o micro na década de 80 e como

adotou o míni em 70.

muito pesados (fisicamente) e ainda não muito eficientes devido ao poder de processamento disponível na época. 55 O conceito de instalação continua para aplicativos adicionais, mas ele é plenamente funcional logo após colocar as pilhas. 56 Aparelhos telefônicos com telas de cristal liquido e recursos de browser. Surgirão e desapareceram durante a década de 90. 57 Computadores baseados no conceito de que o computador deveria ser apenas um browser WEB e todo o software seria fornecido por empresas na WEB. Seus principais defensores foram Sun e Oracle. 58 Semelhante aos NC, mas totalmente voltado para Windows. Em parte foi uma resposta da Microsoft.

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Ano 1964 1964 1982 2002

Nome Mainframe minicomputador Computador pessoal

Assistente digital

Modelo /360 PDP-8 IBM PC Palm III

Fabricante IBM Digital IBM 3Com

Preço 1.000.000 20.000 2.000 400

Redução % 98 90 80

Tecnologias Compatibilidade e escalabilidade.

Circuito impresso e transistores

Processador programável.

Reconhecimento de escrita e tela sensível.

Ambiente Extremamente controlado em temperatura e umidade.

Ambiente de escritório refrigerado.

Ambiente de escritório e residencial normal

Portátil

Peso Centenas de quilos. Dezenas de quilos. 10 a 5 quilos 200 gramas

Operação e SO

OS 360 foi um dos maiores desafios de desenvolvimento, e nunca ficou completamente concluído.

SO simplificado, incluindo processamento de tempo real e tempo compartilhado. Menos treinamento e menos qualificação.

Dispensa o profissional, pode ser operado pelo usuário. Interface gráfica.

Pouca interação com o SO. Aciona aplicativos diretamente.

Arquitetura aberta

Controle máximo sobre as informações internas. Dificuldade de combinar soluções IBM com produtos de terceiros.

Distribuição gratuita de manuais. Divulgação de especificações. Intervenção do cliente na máquina é aceita e incentivada.

Com um padrão de hardware quase independente de fabricante, há uma total independência do fabricante.

Mecanismos comerciais.

Contratos de leasing pesados. Hardware equivale a 1/3 do valor total.

Venda do produto. Contratos de OEM.

Venda em lojas como eletrodoméstico.

Pacote hardware + SO vendidos como item único.

Imagem Concentrador de dados.

Terminal inteligente Agenda

Cliente Principal

Grandes corporações.

Empresas grandes e médias.

Empresas de qualquer tamanho. Cliente privado.

Pessoa física e empresas.

Aplicação Missão crítica. Missão critica, soluções departamentais, comunicação, apoio ao mainframe.

Missão crítica, soluções departamentais, automação de escritório.

Indefinido.

Tabela 7. Quadro Resumo completo

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9 CONCLUSÃO

O computador de quinta geração prometia nos levar a “Era dos Jetson”, mas

ele não chegou e não é mais o tema central dos debates. Ainda assim algo mudou

nas últimas décadas, muita coisa mudou.

Vejamos, por exemplo, o ERP (Enterprise Resource Planning), a grande

moda empresarial dos anos 90. Ele trouxe uma visão global das corporações. Em

lugar de dezenas de processos que se relacionavam em pontos determinados, a

corporação passou a ser vista como um imenso processo, com vários aspectos e

faces, mas um processo só. Por seu porte e complexidade, o ERP visava as grandes

corporações, as mesmas que sempre fizeram uso de computadores. Mas o que

tornou o ERP possível? Podemos dizer que o ERP nasceu de uma nova visão

administrativa, sem qualquer aspecto tecnológico. Mas se isso fosse verdade, ele

não poderia ter surgido muito antes? Sim, poderia.

Para controlar cada processo dentro da organização, é necessário estar

presente em todos os processos, é necessário que cada etapa de cada processo e

subprocesso esteja ligada entre si e troquem informações. É necessário avançar na

“última milha” da informação 59. Esse é o espaço, e o tempo, entre a informação ser

capturada e inserida em um sistema. Isso pode ser a distância percorrida por um

vendedor, ou o tempo necessário para digitar a contagem de estoque.

Avançar na última milha é um processo difícil. O ambiente é cada vez mais

hostil. Às vezes não tem luz elétrica, a temperatura é alta e há pouco espaço. Outras

vezes é necessário levar o equipamento de um lugar para outro. Os usuários são

menos preparados e nem sempre objetivos. Mas nenhum desses é o pior problema.

O pior problema da última milha é que custa muito caro para recolher tão pouca

informação. Em alguns casos, toda a informação reunida não enche uma folha de

papel. São números do contador de água ou a quantidade de jornais vendidos ou

quais alunos faltaram à aula. Como justificar o uso de equipamentos, de

computadores, para controlar tão pouca informação?

Para conseguir controlar a operação por inteiro, responde o ERP. Foi o

59 A última milha é um termo usado pela área de telecomunicações para descrever o último trecho de telefonia, para descrever o trecho entre a menor central telefônica e o telefone residencial. Ela é curta, pulverizada (poucas linhas agrupada) e espalhada geograficamente. Seu custo é baixo se considerarmos o valor de uma linha, mas fica cara quando levamos em conta o conjunto. A grande dificuldade de todos os projetos de banda larga não está em ligar centrais telefônicas, mas na última milha até a residência.

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avanço na última milha na empresa que permitiu que um pedido de compra dispare

uma ordem de produção, uma reposição de estoque e contrate um serviços de

entregas para o próximo mês. Foi preciso estar presente em todos os processos.

Hoje um processo de ERP pode começar nos terminais dos clientes, passar pelo

fabricante e alcançar os fornecedores de matéria prima.

Na década de 70, quando o mainframe começava a dividir espaço com os

mínis, a visão era de que os computadores possuíam todas as informações sobre a

empresa. Então por que esperamos mais de vinte anos para termos o ERP? Por que

precisamos avançar nessa última milha para que isso funcionasse?

Desde que começamos a usar computadores, existe uma discussão sobre o

que é uma informação útil, afinal essa foi a essência do bug do milênio. Sempre

tentamos descobrir quais informações poderão ser úteis. Começamos falando em

estoque mensal e hoje discutimos logística de distribuição. Saímos do produto mais

vendido para perfil de consumo. Cada aprofundamento implica mais informação,

mais processos sendo acompanhados, avançar na última milha.

Houve um dia em que os sistemas de uma empresa terminava na porta da

fábrica. Depois conectou-se aos depósitos e as lojas. Agora tenta-se descobrir o

gosto dos clientes, o que gera uma batalha entre as forças de vendas e os

defensores do direito à privacidade.

Mas o ERP representa apenas um aspecto das mudanças, o aspecto

empresarial. O avanço na última milha trouxe outras mudanças. Algumas muito

semelhantes ao mesmo processo ocorrido na telefonia.

Era comum uma pequena cidade do interior ter um ou dois telefones. Eles

serviam para os moradores se comunicarem com outras cidades. Geralmente

ficavam em estabelecimentos públicos, na prefeitura ou na padaria. Ninguém

pensava em ter um telefone em casa, afinal não ligavam tanto assim para outras

cidades, e essa era a única utilidade do telefone. Posteriormente o número de

telefones saltava de 2 para 10 ou 20. Algumas pessoas até tinham telefone em casa,

criando dentro da cidade uma nova comunidade, a que tem novos meios e

comunicação e uma nova forma de interação. Agora a cidade está dividida entre os

que podem trocar conversas a distância e os que precisam visitar, ou serem

visitados, para se manterem em contado com a comunidade.

O avanço na última milha também cria uma nova comunidade, seja na

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empresa seja na sociedade. Ele permite não apenas que os sistemas centrais

possam atingir a ponta, mas também que uma ponta converse com outra. Isso pode

ser uma troca de planilhas de custos entre filiais ou mensagens pessoais

substituindo telefonemas e cartas em papel. Permite que uma regional acesse seus

vendedores ou um grupo de estudantes concluir um trabalho por e-mail.

O avanço sobre a última milha colocou o cidadão em contato com a Internet,

e com tudo que está nela. Isso inclui muito de seus amigos, empresas, a receita

federal, o Louvre e muitas outras opções.

Cada computador de baixo custo fez um avanço sobre a última milha, tanto

para empresas como pessoas. O míni levou o computador para os departamentos e

permitiu que estudantes universitários tivessem acessos ocasionais. Os micros

levaram um computador a cada mesa de trabalho e está levando a muitas casas.

O PDA é o novo degrau desse processo, avançando um pouco mais na

última milha.

Quando o míni e o micro começaram a ser vendidos em larga escala,

dezenas de previsões sobre seu uso e impactos foram feitas. Em sua larga maioria

estavam todas erradas. Em geral nossas projeções seguem em duas direções: a

extensão dos usos atuais e a livre criatividade. Na extensão dos usos atuais

consideramos que o computador de baixo custo fará as mesmas coisas que os

computadores já estão fazendo, apenas em outro ambiente e em escala reduzida. A

livre criatividade é vizinha da ficção e dos desejos, mas tanto a ficção como os

desejos se baseiam em uma realidade conhecida, portanto, voltamos ao fato que

estamos repetindo uma realidade em outro ambiente. Isso não aconteceu, nem no

míni nem no micro.

Esperávamos ver o míni entre ser um pequeno mainframe e a colheitadeira

de batatas. Na verdade acabou sendo o computador de departamentos e pequenas

empresas, o que até poderia ser uma extensão do mainframe. Mas a relação do míni

com seus usuários sempre foi outra, na verdade seus usuários já foram outros. O

mainframe era manipulado por técnicos altamente especializados e respondia aos

desejos da diretoria da empresa. O míni colocou terminais para estudantes e atendia

ao chefe do departamento, e a alguns usuários às vezes. A automação usou muitos

mínis, mas duvido que algum esteja ainda sobre uma colheitadeira.

O micro ia alterar todos os ramos de atividades profissionais e mudar a

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sociedade como um todo. É inegável que temos computadores em quase todas as

atividades profissionais, mas eles não causaram o impacto esperado. Opções como

transformar a casa em escritório aconteceram muito menos do que o esperado, em

parte por problemas culturais, em parte porque o microcomputador não era

realmente responsável por isso. E quanto à mudança na sociedade, ela existe, mas

está muito distante do que os visionários previram e desejaram. Eles esperavam que

as pessoas conhecessem o suficiente de computadores para serem donas e criarem

seus próprios programas, livres de empresas que diriam o que fazer com o seu

computador. Livres para criarem suas próprias conexões pelo mundo afora, criando

uma nova realidade. Durante um certo tempo acreditou-se que a Internet faria isto,

afinal uma página criada por um estudante em casa ou uma página criada por

qualquer gigante corporativo teriam o mesmo tamanho e poderiam competir em

igualdade de condições. Mas Internet está, em grande parte, repetindo o comercio

tradicional, as mesmas empresas, os mesmos mecanismos. Talvez seja possível

para o estudante criar sua página, mas a divulgação, propaganda na tevê e milhares

de anúncios em outros sites custa algo que ele não pode arcar, mas a grande

empresa pode.

Essa visão pode parecer pessimista, mas não é. Apenas representa muito

pouco, se comparada ao que os primeiros visionários esperavam. Aprender Basic ou

Assembler não mudaria realmente a vida de uma dona de casa. Certamente é útil

usar uma planilha e calcular as contas de casa e obter muito mais informações do

que se conseguia antes com papel e lápis. Ou acessar a página de uma empresa ou

do governo local e obter dezenas de informações em casa. E por fim, pressionar

para uma transparência cada vez maior tanto de empresas como do próprio Estado.

Quanto aos computadores de baixo custo, sabemos então que todas as

projeções que podemos fazer agora estarão excessivamente ligadas a realidade que

conhecemos, mas que os PDA criarão uma nova. Ainda assim, é impossível ser

humilde e não fazer algumas projeções.

Cada computador de baixo custo avançou na transformação de documentos

em arquivos eletrônicos, na mudança de processos de troca de papéis para troca de

informações. Esta é uma direção inevitável.

Como sempre, o desafio é descobrir quais informações são essas. Talvez

comecemos a imprimir menos relatórios, porque podemos levar um PDA para

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reunião, em lugar de pilhas de papéis, mas é pouco provável. Talvez alguns

pequenos pacotes de informação fiquem no PDA, mas todos preferimos ler em papel

a ler na tela. Pode-se exibir um relatório para três pessoas, mas não se pode fazer o

mesmo com a telinha do PDA.

Mas haverá alguns documentos que serão convertidos. Talvez trabalhos do

colégio, ou a lista de compras. Mas isso não parece muito emocionante ou produtivo.

O próximo computador de baixo custo vai automatizar a lista de compras?

Essa parece a visão de quem chamou o micro de terminal inteligente.

Vamos tentar ampliar essa perspectiva. Talvez a dona de casa possa levar a lista de

compras que será lida pela rede do supermercado, o qual já entregaria todos os

itens sem precisar selecioná-los um a um. Parece uma idéia interessante ainda

assim, não parece ser essa sua opção.

Estamos por demais fechados em nossa atual visão sobre computadores e

informação para entendermos as óbvias informações que serão armazenadas num

PDA.

Mas alguém vai descobrir.

Consideramos o PC como um computador pessoal, seja no trabalho seja em

casa. Mas esta definição tem algumas falhas. Se o local de trabalho, mesa ou posto,

for compartilhado por um grupo de pessoas, o PC também será. Em casa o PC será

compartilhado por todos, a não ser que se compre um para cada membro da família,

o que pode ser caro ou ocupar um espaço não disponível.

Mas outro motivo para não chamarmos o PC de pessoal é que ele não

acompanha seu usuário a maior parte do tempo. Quem quiser colocar no PC suas

atividades, sejam escolares ou profissionais, terá que anotá-las em papel e gastar

um tempo com a transcrição de notas e lembretes. Usar uma agenda dentro de um

PC é bastante complicado, a não ser para atividades restritas, como uma agenda

para tarefas de trabalho no PC do escritório e outra no PC de casa. Mas quando sair

desses ambientes, a opção é imprimir e levar uma cópia.

Em resumo, o PC não é pessoal. Primeiro porque pode ser compartilhado

por pequenas comunidades; segundo porque ele não acompanha o dono em suas

atividades.

Tempo, local e propriedade são os fatores que definem a existência digital.

O PDA muda todos.

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O tempo passa para 24 horas por dia, qualquer dia, o local é todos e a

propriedade absoluta. O fator limitante passa a ser outro, conexão.

Hoje os PDAs somente têm acesso a rede quando conectados a um PC ou a

um telefone. As redes sem fio para PDAs ainda são raras, em parte pelo alto custo e

em parte pela escassa utilidade. Enquanto o PDA não mudar isso, os parâmetros de

tempo e local são iguais ao do PC.

Mas os mínis facilitaram o desenvolvimento de protocolos de comunicação,

fosse a Arpanet ou pela transmissão direta por linha discada. Os PC impulsionaram

as redes locais e suas conexões com as grandes redes. Os PDAs também farão as

suas parte em breve. A corrida já começou, com vários tipos de soluções. Temos o

Bluetooth para pequenos grupos de conexões próximas e de baixo custo, o IEEE

802.11b para redes corporativas amplas ou a 3a geração de celulares que promete

transformar a cidade numa imensa rede. Essa será a hora de lembrarmos da Lei de

Metacalf, onde uma rede tem tanto mais valor quanto sua quantidade de pontos. 60

Entre todas estas opções, duas se destacam. Uma, que desejo

pessoalmente ver, é o fim da prisão domiciliar do cidadão digital. Ele poderá entrar

no banco para retirar dinheiro, real, e aproveitar para usar todos os recursos

eletrônicos do banco. Hoje, para usar esses recursos preciso é voltar a para casa e

acessar o mesmo banco pela Internet. O que se deseja é que a cidadania digital

possa sair de casa e ir até o banco.

A outra opção é a grande promessa dos celulares de 3a geração que

transformarão cada celular em um ponto de rede, conectando os celulares sempre

em qualquer lugar da cidade. Se isto acontecer e estiver a custos razoáveis, o

desejo de acessar o banco de dentro da agência será uma coisa insignificante, sem

graça. Afinal, pode-se acessá-lo de qualquer lugar a qualquer hora.

Nesse momento, com 24 horas de acesso, qualquer local e total

propriedade, a existência digital sofrerá uma transformação. E-mails e mensagens

de celulares serão quase a mesma coisa. Seu PDA poderá inclusive decidir quais

remetentes são importantes o suficiente para acordá-lo no meio da noite.

Com essa total ampliação da existência digital acompanhando o usuário 24

horas em qualquer lugar, a existência digital cada vez mais se confundirá com a real.

A computação ubíqua proposta por Mark Weiser é uma visão de futuro onde

60 Lei de Metacalf: O valor de uma rede é proporcional ao quadrado de seus pontos.

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haverá computadores por toda parte. O computador não seria mais um elemento

isolado do ambiente, mas parte dele. Seria quase invisível, porque sua interação

com o usuário seria “calma”61. Em seu estudo Some Computer Science Issues in

Ubiquitous Computing, ele apresenta algumas formas de interface que poderão ser

usadas, incluindo uma prancheta, uma parede para grandes volumes de informação

e um dispositivo a caneta, um PDA (WEISER, 1993).

Em outro trabalho, The Future of Integrated Design of Ubiquitous Computing

in Combined Real & Virtual Worlds, Weiser e Daniel Russell discutem um dos

problemas da computação ubíqua: a cacofonia digital. Isto aconteceria quando uma

pessoa entrasse num ambiente com vários computadores embutidos e todos eles

tentassem interagir com o usuário, ou a interação com um dispositivo disparasse

outros. É como pedir ao ar condicionado mais frio e a geladeira congelar as garrafas

de água. Na proposta de Weiser e Russel deverá haver mecanismos de

comunicação entre os diversos dispositivos para evitar este caos de comunicação

(RUSSELL, WEISER, 1998).

Aqui estamos totalmente na área da ficção e dos desejos, distante de

questões práticas. Então vamos aos desejos.

Duas coisas chamam a atenção. Primeiro, o tamanho dos dispositivos para

uma tecnologia “calma”. Haverá pouco espaço nas paredes e nas mesas depois

desses dispositivos todos. Segundo, a necessidade de interagir com dezenas de

dispositivos espalhados pelo ambiente.

Essas idéias incomodam. É bom de pensar que haverá dezenas de

dispositivos para tornar a vida mais agradável e simples, mas é desconfortável a

idéia de que a casa fosse coberta por eles. Também é incômodo se tivesse que

relacionar com cada um para dormir à tarde, portando nada de bips. Aliás, ninguém

quer saber quantos dispositivos existem em casa.

O desejável é que alguém que organize isso, relacione o que há para

resolver, o que é urgente e o que pode esperar até depois do almoço. Negociar com

cada dispositivo da casa é cansativo, e não se pode confiar ao ar condicionado

instruções para o chuveiro, eles têm entendimentos bem distintos sobre frio e

61 A tecnologia “calma” é uma antiga proposta dos pesquisadores da PARC (Palo Alto Research Center). Nela a tecnologia deveria chamar a menor atenção possível sobre si mesma, deixando o usuário mais concentrado em suas ações, e não no computador que executa estas ações. O Windows, com sons, clipes e sugestões seria o melhor exemplo de tecnologia não calma.

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quente. Essa confusão toda incomoda.

Útil será o aparelho a que se possam dizer as preferências uma única vez, e

ele converse com o resto da casa, com cada dispositivo. Uma interface única, um

interlocutor único.

Uma governanta.

A governanta eletrônica deverá ser o dispositivo mais pessoal de todos,

aquele que acompanha a qualquer lugar. Visita-se um hotel e o dispositivo pessoal

informará aos dispositivos do hotel quais são preferências. Vejam, isto é tão possível

quanto a própria computação ubíqua.

A governanta eletrônica será o PDA.

Uma etapa preliminar desse processo já pode ser vista através da

transformação dos controles remotos. Estes começaram totalmente dedicados, cada

controle cuidava de um equipamento apenas. Depois surgiram os controles

universais, capazes de controlar a tevê, som e videocassete. Agora já existem

programas para que PDA funcionem como controles remotos. Falta ainda um melhor

meio de comunicação do que o atual infravermelho. Isto pode ser melhor visto na

proposta de Nichols de um controle pessoal universal (PUC – personal universal

controler).

Figura 17. Controles Remotos

O primeiro aparelho é um modelo Pronto, controle remoto universal da Philips. O segundo é um Palm rodando o software Pronto Lite, oferecido pela própria Philips.

Devemos considerar também que este será o primeiro computador pessoal.

Este título, hoje pertencente injustamente ao PC. No ambiente do trabalho, o PC

está mais ligado ao local do que a seu usuário, podendo inclusive ser compartilhado.

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Nas residências ainda é raro ver um micro para cada usuário. Geralmente existe a

figura do micro familiar, usado em turnos por todos ou muitos. Além disso o PC não

acompanha seu proprietário em sua rotina. É muito comum uma pessoa ter um

micro em casa e outro no trabalho, com duas agendas e dois universos de

informações. O PDA privativo e poderá acompanhar todas as atividades. O PDA

será efetivamente um computador pessoal, atravessando inclusive a distinção entre

trabalho e uso pessoal.

O PDA é um fato que virá, independente de nossa opinião sobre ele. Assim

veio o uso pessoal do e-mail da empresa e a necessidade de atualizar os sistemas

operacionais tantas vezes, vieram independentes de nossa opinião. Algumas

empresas o já estão incluindo em seus orçamentos e outras talvez nunca o façam.

O profissional de computação deverá fazer o que não fez com o míni ou o

micro, aproveitar as oportunidades. Em ambos os casos usuários foram mais pró-

ativos do que os profissionais, que chegaram depois, defasados em relação a seus

próprios clientes.

Pelo alcance geográfico e social, pela mobilidade, o PDA estará em posição

inédita de criar novas oportunidades de negócios. Os profissionais de computação

devem participar deste processo e não serem dele informados posteriormente.

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10 PROPOSTAS PARA OUTRAS PESQUISAS

Este trabalho gerou muitas perguntas , que necessitam de mais informações

e tempo de dedicação. Seguem alguns exemplos.

10.1 A PRÓXIMA ONDA

Se este estudo está certo, e existem estes eventos padrões, por que o PDA

deveria ser o último? Esta é uma velha mania de acharmos que este é o momento

crucial, quando a história está acabando ou começando. Em lugar disso vamos

considerar a possibilidade de um próximo evento. Como seria? Uma estimativa

rápida indica:

Custo de menos de 50 dólares.

Tamanho de uma caneta, no máximo.

Interface vocal eficiente.

O que mais poderíamos antever desta solução?

10.2 ETAPAS E CLIENTES

Surgiu também um padrão de relação entre equipamento e clientes.

Equipamento Cliente Aplicação

Mainframe (antes 360) Estado Militar

Mainframe (depois 360) Grandes corporações Missões críticas

Mínis Empresas (grandes até pequenas)

Missão crítica e automação de negócios

PC Pessoal e micro negócios Missão crítica, automação de negócios e uso pessoal

PDA ?? ??

Pesquisar até onde essas relações são efetivas e que outras conclusões

podemos tirar são razões para mais um estudo, embora aumente a dificuldade para

coletar dados à medida que retrocedemos no tempo..

10.3 CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA

Do mainframe para o míni e deste para o PC havia um movimento de

convergência, traduzida em adoção pesada de padrões de hardware e de SO. As

soluções convergiam para uma solução profundamente homogênea, similar entre os

diversos fabricantes. Hoje o PC de um fabricante difere cada vez menos dos demais.

Diferimos mais de qualidade, entre um topo de linha e uma solução básica, mas as

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soluções topo e as soluções básicas se assemelham muito, ou muito mais do que

nas etapas anteriores (mínis e maniframes).

O PDA, no entanto, acena com um processo de divergência, onde haverá

alguns modelos de equipamentos bem distintos. A principal diferença está em ser

um celular ou apenas um PDA.

Então temos duas possibilidades: convergimos, como já vinha acontecendo

ou divergimos para uma diversidade de modelos.

Outro fator a considerar é que o padrão de hardware do PC era de máquinas

montadas, qualquer um pode comprar os componentes iguais ou similares aos da

Compaq e montar o seu PC Compaq similar. Mas o PDA é uma máquina fechada,

sem padronização aberta de componentes.

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11 BIBLIOGRAFIA

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90

12 APENDICE – PROJEÇÃO DE VENDAS

A montagem deste gráfico apresentou algumas dificuldades. Os mais graves

foram acesso a informações e definições sobre objeto pesquisado.

Informações sobre vendas de equipamentos são facilmente localizáveis nas

grandes consultorias de pesquisas de mercado. Entre essas podemos citar IDC

(International Data Corporation - www.idc.com), na NPD Group (www.npd.com) e

Gartner (www.gartner.com). Estas empresas costumam divulgar trechos de suas

pesquisas. Os dados completos estão disponíveis,a custos que variam de 500 a

5.000 dólares, conforme produtos, períodos e grau de detalhe.

Tentar montar uma planilha completa a partir dos trechos divulgados é

impossível, porque nunca são fornecidas informações suficientes para tal. Montar

com notícias de empresas distintas é um sério risco, porque varia o entendimento de

cada empresa sobre o que é o produto, segmento da sociedade e como montar a

pesquisa. Alguns se referem a dispositivos móveis, outros a handhelds e muitos a

PDAs. O termo PDA se refere ao objeto deste estudo, mas os dispositivos móveis

podem incluir telefones, conforme a visão desejada.

Algumas pesquisas apresentaram números muito maiores do que os

adotados aqui, mas com crescimento muito menor. São pesquisas onde PDA,

telefones e bipes estão todos em uma mesma categoria.

Além disso existe a questão de que números estão sendo considerados:

fabricação, venda, venda diretas, etc.

Depois de certa insistência, a NPD gentilmente forneceu uma planilha sobre

vendas (tabela 01). Ela contém números de vendas varejo e desconsidera alguns

fatores como vendas de PDA padrão Windows. Como o volume total deste somente

ainda é menos de 15%, segundo a própria NPD, consideramos essa diferença

aceitável.

A planilha começa em 1996 e vai até início de 2001, mas somente possui

informações sobre PDAs a partir de 1998.

Para montar a planilha final foram seguidos vários passos:

1. Gerar uma planilha de unidades vendidas, ignorando vendas em dólar e

percentuais de mercado (tabela 02);

2. Cortar os valor por 1000 para facilitar visualização (tabela 03);

3. Consolidar por ano, ignorando o ano de 2001 pois dele só havia o primeiro

Page 102: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

91

trimestre;

4. Criar uma nova linha: PC. Essa seria a soma de Desktop e Notebook (tabela

04);

5. Cria uma tabela secundária com as taxas de crescimento anuais para cada

item;

6. Calcular a média das taxas (tabela 05);

7. Criar a projeção A de 2001 a 2002 usando a da taxa de crescimento do último

ano;

8. Criar a projeção B de 2001 a 2002 usando a da taxa média de crescimento

(tabela 06).

As projeções de vendas são realmente impressionantes, atingindo marcas

de mais de vinte milhões de unidades em 2002. A questão é saber se essas

estimativas são realistas ou não.

Na reportagem Reports Slight growth in Handheld Sales da mesma NPD de

outubro de 2001 (NDP, 2001), é citado o aumento de vendas de 11,9% em agosto,

como sendo o pior índice do ano. Podemos concluir que houve aumento todos os

meses e que o menor foi de 11,9%. Calculando um aumento mensal de 11,9% de

janeiro até agosto teremos um acumulado de 245% de aumento no ano. Portanto,

aumento entre 130% e 166% ao ano não foram exagerados para 2001.

É possível que a depressão econômica que se instalou após setembro de

2001 afete estes números, mas com certeza também afetará as vendas de PC.

Portanto a relação entre as vendas de PDA e PC deve permanecer a mesma, PCs

sendo superados por PDAs, mesmo que leve um ou mais anos.

Tabelas

Desktops 1QTR96 2QTR96 3QTR96 4QTR96 1QTR97

units 1.953.266 1.840.571 1.987.248 2.382.987 1.946.180

units share 3,72 3,51 3,79 4,54 3,71

dollars $ 3.771.857.000 3.649.508.000 3.587.457.000 4.028.766.000 3.096.002.000

dollars share 5,64 5,46 5,37 6,03 4,63

avgprice $ 1.931 1.983 1.805 1.691 1.591

Notebooks 1QTR96 2QTR96 3QTR96 4QTR96 1QTR97

units 449.991 418.640 540.220 653.684 557.061

units share 3 3 4 4 4

dollars $ 1.508.836.000 1.493.286.000 1.826.401.000 2.189.021.000 1.719.840.000

dollars share 4 4 5 6 5

avgprice $ 3.353 3.567 3.381 3.349 3.087

Desktops 2QTR97 3QTR97 4QTR97 1QTR98 2QTR98

units 2.013.102 2.150.752 2.611.619 2.485.359 2.289.973

Page 103: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

92

units share 3,84 4,1 4,98 4,73 4,36

dollars $ 3.205.120.000 3.283.918.000 3.861.991.000 3.366.950.000 3.004.677.000

dollars share 4,8 4,91 5,78 5,04 4,5

avgprice $ 1.592 1.527 1.479 1.355 1.312

Notebooks 2QTR97 3QTR97 4QTR97 1QTR98 2QTR98

units 558.064 626.622 681.968 752.343 828.742

units share 4 4 5 5 5,61

dollars $ 1.661.924.000 1.881.913.000 1.976.070.000 1.994.802.000 2.110.630.000

dollars share 4 5 5 5 5,59

avgprice $ 2.978 3.003 2.898 2.651 2.547

PDAs 1QTR98 2QTR98

units 117.292 162.024

units share 1,83 2,52

dollars $ 34.303.980 53.338.590

dollars share 1,82 2,84

avgprice $ 292 329

Desktops 3QTR98 4QTR98 1QTR99 2QTR99 3QTR99

units 2.692.992 3.222.880 3.063.254 2.738.745 3.260.296

units share 5,13 6,14 5,84 5,22 6,21

dollars $ 3.345.943.000 3.758.897.000 3.430.908.000 3.024.311.000 3.176.184.000

dollars share 5,01 5,62 5,13 4,53 4,75

avgprice $ 1.242 1.166 1.120 1.104 974

Notebooks 3QTR98 4QTR98 1QTR99 2QTR99 3QTR99

units 820.226 810.888 789.760 761.465 859.769

units share 5,55 5,49 5,35 5,15 5,82

dollars $ 2.004.565.000 1.942.657.000 1.763.473.000 1.713.665.000 1.990.206.000

dollars share 5,31 5,15 4,67 4,54 5,27

avgprice $ 2.444 2.396 2.233 2.250 2.315

PDAs 3QTR98 4QTR98 1QTR99 2QTR99 3QTR99

units 145.151 241.176 232.396 265.657 245.755

units share 2,26 3,76 3,62 4,14 3,83

dollars $ 52.089.080 74.572.410 71.931.020 86.585.910 76.699.430

dollars share 2,77 3,97 3,83 4,61 4,08

avgprice $ 359 309 310 326 312

Desktops 4QTR99 1QTR00 2QTR00 3QTR00 4QTR00 1QTR01

units 3.342.851 2.935.847 2.161.538 2.493.092 2.633.078 2.290.815

units share 6,37 5,59 4,12 4,75 5,02 4,36

dollars $ 3.155.073.000

2.879.109.000

2.160.623.000

2.403.479.000

2.488.315.000

2.156.682.000

dollars share

4,72 4,31 3,23 3,6 3,72 3,23

avgprice $ 944 981 1.000 964 945 941

Notebooks 4QTR99 1QTR00 2QTR00 3QTR00 4QTR00 1QTR01

units 827.007 814.658 835.482 831.082 703.739 653.164

units share 5,6 5,51 5,65 5,63 4,76 4,42

dollars $ 1.873.086.000

1.764.336.000

1.827.680.000

1.769.588.000

1.472.898.000

1.265.635.000

dollars share

4,96 4,67 4,84 4,69 3,9 3,35

avgprice $ 2.265 2.166 2.188 2.129 2.093 1.938

PDAs 4QTR99 1QTR00 2QTR00 3QTR00 4QTR00 1QTR01

units 556.346 597.557 683.062 718.630 1.462.275 993.469

Page 104: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

93

units share 8,66 9,31 10,64 11,19 22,77 15,47

dollars 167.671.500 180.269.700 208.373.600 210.822.500 392.297.700 271.049.300

dollars share

8,92 9,59 11,08 11,21 20,87 14,42

avgprice $ 301 302 305 293 268 273

Tabela 01 – Tabela fornecida pelo NPD.

1QTR96 2QTR96 3QTR96 4QTR96 1QTR97 2QTR97 3QTR97 4QTR97

Desktops 1.953.266

1.840.571

1.987.248

2.382.987

1.946.180

2.013.102

2.150.752

2.611.619

Notebooks

449.991 418.640 540.220 653.684 557.061 558.064 626.622 681.968

Pdas

1QTR98 2QTR98 3QTR98 4QTR98 1QTR99 2QTR99 3QTR99 4QTR99

Desktops 2.485.359

2.289.973

2.692.992

3.222.880

3.063.254

2.738.745

3.260.296

3.342.851

Notebooks

752.343 828.742 820.226 810.888 789.760 761.465 859.769 827.007

Pdas 117.292 162.024 145.151 241.176 232.396 265.657 245.755 556.346

1QTR00 2QTR00 3QTR00 4QTR00 1QTR01

Desktops 2.935.847 2.161.538 2.493.092 2.633.078 2.290.815

Notebooks 814.658 835.482 831.082 703.739 653.164

Pdas 597.557 683.062 718.630 1.462.275 993.469

Tabela 02 – Apenas o elemento unidades (units) da tabela original (tabela

01).

1q96 2q96 3q96 4q96 1q97 2q97 3q97 4q97 1q98 2q98 3q98 4q98

Deskktops 1.953 1.841 1.987 2.383 1.946 2.013 2.151 2.612 2.485 2.290 2.693 3.223

Notebooks 450 419 540 654 557 558 627 682 752 829 820 811

Pdas 117 162 145 241

1q99 2q99 3q99 4q99 1q00 2q00 3q00 4q00 1q01

Deskktops 3.063 2.739 3.260 3.343 2.936 2.162 2.493 2.633 2.291

Notebooks 790 761 860 827 815 835 831 704 653

Pdas 232 266 246 556 598 683 719 1.462 993

Tabela 03 – Redução da tabela 02 para milhares de unidades.

1996 1997 1998 1999 2000

Desktops 8.164 8.721 10.691 12.405 10.223

Notebooks 2.062 2.423 3.212 3.238 3.184

PC 10.227 11.145 13.903 15.643 13.409

PDAs 0 0 665 1.300 3.461

Tabela 04 – consolidação anual da tabela 03, descartando o ano de 2001,

por ter apenas o primeiro trimestre. È acrescentada uma nova linha, PC, soma das

linhas Desktop e Notebook.

Page 105: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

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1997 1998 1999 2000 Média % 2000 % Média

Desktops 1,07 1,23 1,16 0,82 1,0696 -18% 7,0%

Notebooks 1,18 1,33 1,01 0,98 1,1230 -2% 12,3%

PC 1,09 1,25 1,13 0,86 1,0799 -14% 8,0%

PDAs 1,95 2,66 2,3078 166% 130,8%

Tabela 05 – Tabela de médias, entre cada ano e ano anterior. Coluna final

de média dos anos disponíveis.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Desktops A 8.164 8.722 10.691 12.405 10.224 8.426 6.944

Desktops B 8.164 8.722 10.691 12.405 10.224 10.936 11.697

Notebooks A 2.063 2.424 3.212 3.238 3.185 3.133 3.081

Notebooks B 2.063 2.424 3.212 3.238 3.185 3.577 4.017

PC A 10.227 11.145 13.903 15.643 13.409 11.493 9.851

PC B 10.227 11.145 13.903 15.643 13.409 14.480 15.637

PDAs A - - 666 1.300 3.462 9.216 24.536

PDAs B - - 666 1.300 3.462 7.989 18.436

Tabela 06 – Tabela final, com as projeções A e B.

Page 106: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

95

13 ANEXO – LEIS DA INFORMÁTICA

A maioria destas leis podem ser encontradas nos trabalhos de Godon Bell e

Jim Gray, em

www.intel.com/research/silicon/mooreslaw.htm e

research.microsoft.com/~Gray/Talks/Laws_ofCyberspace.ppt

Nu Lei de Texto Autor

1. Bell da evolução das classes de computadores

Tecnologia permite dois caminhos:

Performance constante, custo decrescente.

Preço constante, performance crescente.

Gordon Bell

2. Bell de classes de computadores

Novas plataformas de computadores emergem baseadas na evolução da densidade de chips.

Classes de computadores requerem novas plataformas, redes e cyberização.

Novas aplicações e conteúdo são desenvolvidos em torno de cada nova classe.

Cada classe surge de uma indústria verticalmente desintegrada e de softwares padrões.

Gordon Bell

3. Bill De economia de software

Preço = (custo fixo/unidades) + custo marginal

Lei de Bill Joy: não escreva software para menos de 100 mil plataformas. Preço 1.000.

Lei de Bill Gates: não escreva software para menos de 1 milhão de plataformas. Preço 100.

Bill Joy (Sun)

4. Gilder de Telcosom

O tamanho de banda triplicará a cada ano, por 25 anos. (início na década de 70)

George Gilder

5. Grosch Um computador duas vezes maior (duas vezes mais caro) tem um desempenho multiplicado por quatro.

Herbert Grosch

6. Grove da Nova indústria de Computadores

Integração é o formato da nova indústria.

Cada camada escolhe o melhor da camada abaixo.

Andy Grove

7. Grove de largura de banda

A largura de banda dobra a cada 100 anos. Andy Grove

8. Metcalf O valor de uma rede é proporcional ao quadrado de seus pontos.

Robert Metcalfe

9. Moore

Densidade de chips dobra a cada 18 meses.

Page 107: COMPUTADOR DE BAIXO CUSTODesenvolvimento da pesquisa inclui uma revisão da história dos computadores nos últimos quarenta anos. Essa revisão permite identificar ocorrências dos

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Moore 1a ou Lei de Moore revisada

Os seguintes fatores dobram a cada 18 meses:

densidade de chips

velocidade de processador

densidade de discos magnéticos

banda de comunicação

Gordon E. Moore

10. Moore 2a O custo de linha de fabricação dobra a cada geração (3 anos).

Gordon E. Moore

11. Nathan De Software

1. Software é um gás: expande-se até ocupar todo container.

2. Software cresce até ser limitado pela Lei de Moore.

3. O crescimento de software torna possível a Lei de Moore.

4. Software é limitado somente pelas ambições e expectativas humanas.

12. Paralela Duas vezes o investimento retorna duas vezes o processamento, geralmente.

Gordon Bell