comunicação e expressão - matematicando · comprar. a compra da nossa ... nós não podemos...

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Capítulo 1 Professor: Edson Comunicação e Expressão

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Capítulo 1

Professor: Edson

Comunicação e Expressão

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Capítulo 1

Professor: Edson

OO TTEEXXTTOO EEMM NNOOSSSSOO CCOOTTIIDDIIAANNOO

Caro aluno, seja bem-vindo!

Vamos dar início às nossas atividades discutindo alguns aspectos

interessantes a respeito da presença dos textos em nossa vida.

Você deve estar acostumado a ver e ouvir a palavra “texto”, seja no trabalho,

na faculdade, em livros, revistas etc. Então, aí vem a pergunta: você saberia dizer

quais são os conceitos, os significados e a importância do “texto” para o seu dia a

dia?

Talvez você tenha parado para pensar sobre o assunto e, no momento,

surgiram algumas dúvidas:

- Texto é um aglomerado de palavras e frases?

Roupas, caderno, lindo. Fui ontem ao cinema. O cinema do

shopping é muito bonito. No shopping tem muitas coisas para se

comprar. A compra da nossa casa não deu certo porque o banco não

aprovou o financiamento.

- Texto pode ser somente aquilo que escrevemos?

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- Texto é o que a professora ou o professor pede para a gente elaborar na

aula de redação?

- Texto é aquilo que a gente lê no jornal, no livro, na internet etc.?

Nós levantamos muitas hipóteses a respeito do que é texto. Será que alguma

das perguntas acima seria a sua real definição?

Fiorin (1996, p.16) diz que texto “é um todo organizado de sentido”, ou seja,

nós não podemos entender que o texto seja apenas um conjunto de palavras ou

frases que se juntam de forma aleatória para constituí-lo, mas, sim, que essas

palavras e frases devam estar ligadas entre si para que haja uma continuidade

entre elas, a fim de que a sua totalidade forme uma unidade de sentido. Talvez,

você esteja dizendo: “mas isso é óbvio!”, entretanto, não é essa a noção de texto

que boa parte dos estudantes emprega na prática.

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Capítulo 1

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Na escola, quando o professor ou a professora pede para que seja elaborada

uma redação é comum os alunos lhe perguntarem: “com quantas linhas?” ou “em

quantas palavras?”. Perguntas desse tipo demonstram mais preocupação em

atender às exigências de números de linhas ou palavras, do que construir um texto

que faça sentido para quem o lê.

A produção textual, nesse caso, não é concebida como um todo com unidade

de sentido, isto é, uma organização de ideias com começo, meio e fim, mas como

uma somatória de linhas, um amontoado de palavras sucessivas. Pior é que essa

concepção de texto também está presente nas atividades de leitura. Muitas vezes,

lemos apenas parte de um texto e achamos que o entendemos em sua completude.

É isso o que ocorre quando o professor nos dá um romance para ler e lemos

apenas o resumo ou partes de capítulos, imaginando que a leitura parcial seja

suficiente para ter sucesso na avaliação. Veja o texto de Ricardo Ramos:

Circuito Fechado

Ricardo Ramos1

Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água,

espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água

fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras,

calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta,

chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa,

cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro.

Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo

com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída,

vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena.

Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques,

memorandos, bilhetes, telefone, papéis.(...)

1 Ricardo Ramos nasceu em Palmeira dos Índios, em 1929, ano em que o pai Graciliano Ramos exercia a função de prefeito. Formado em Direito, destacou-se como homem da propaganda, professor de comunicação, jornalista e escritor em São Paulo. Sua obra literária é extensa: contos, romances e novelas, e representa, com destaque, a prosa contemporânea da literatura brasileira.

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Apesar do texto, em uma primeira leitura não aparentar relação entre as

palavras, se você observar atentamente, poderá perceber que se trata do cotidiano

de um indivíduo, e é possível perceber sua rotina e até mesmo seu gênero: se é

masculino ou feminino. Leia o restante do texto que complementa nossa análise e

tente buscar outras informações importantes que o texto passa para o leitor:

(...) Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos,

cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz,

lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi.

Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara.

Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e

poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone

interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel,

pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone,

papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de

cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros.

Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e

fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo.

Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.

Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.

Práticas como essas demonstram que precisamos rever o conceito de texto.

Observe o texto a seguir:

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Esse texto é uma “tirinha” publicada no jornal Folha de São Paulo, em

1/12/2008. As tirinhas são textos curtos formados por quadrinhos de texto verbal e

visual dispostos linearmente na página do jornal. Essa tira, em particular, tem dois

quadrinhos. No primeiro, temos um coelho que ao passear num parque é elogiado

por duas garotas. Diante desse elogio, ele se sente insatisfeito e não aprecia os

adjetivos que lhe são atribuídos. Já no segundo quadro, temos, no mesmo parque,

coelhas que também o elogiam, todavia, esses elogios são apreciados pelo coelho.

Se fôssemos analisar esse texto, isolando cada quadro, não entenderíamos

o humor que ali se estabelece, isto é, ficaríamos apenas na observação que

fizemos acima, sem uma ligação entre um quadro e outro. Para depreendermos a

unidade de sentido, devemos observar a relação que se estabelece entre os

elementos que constituem a tira.

Além das observações já realizadas, precisamos levar em conta que são

meninas – seres humanos – que, no primeiro quadro, estão fazendo o elogio. Elas

se utilizam do sufixo diminutivo (–inho) para qualificar o animal. Portanto, a relação

que caberia aqui, não passaria de HUMANO x ANIMAL, sendo o animal apenas um

“objeto” de manuseio e admiração do humano. Essa é uma relação que não agrada

ao coelho. Já no segundo quadro, os elogios são dados por coelhas e elas se

utilizam do sufixo aumentativo (-ão) para caracterizar o ser da mesma espécie,

enaltecendo sua macheza e virilidade. Portanto, a relação que cabe aqui é

COELHO x COELHAS, de cunho sexual, o que traz satisfação ao coelho, pois é

esse tipo de relacionamento que o interessa. Diante disso, vemos que o riso só se

dá quando comparamos um quadro ao outro.

Dessa forma, podemos chegar à seguinte conclusão:

Um texto é um todo organizado de sentido, porque o significado de uma parte depende das outras com que se relaciona de tal forma que

combinam entre si, a fim de gerar uma unidade.

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Capítulo 1

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Essa definição será fundamental para analisarmos e elaborarmos textos. Por

isso, tenham-na sempre em mente, pois já estamos de certa forma, condicionados

a analisarmos os textos de forma fragmentada, não observando todos os elementos

que estão ali presentes.

Vejamos se você compreendeu bem o que foi dito até aqui e se já conseguiu

direcionar a sua mente para entender que todos os elementos presentes no texto

são importantes para a depreensão de sentido e, para isso, vamos analisar mais

um exemplo:

Observe a propaganda a seguir retirada do site http://naweb.wordpress.com/.

Ela se constitui em três quadros. Faça a leitura mediante as questões abaixo.

a) Se você observar apenas o primeiro quadro, abaixo, qual o sentido que você

depreende?

b) Agora, observe o segundo quadro. Ele corresponde ao sentido que você

obteve do primeiro?

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c) Vamos ao terceiro quadro. Ele é uma confirmação da leitura que você fez do

primeiro e segundo quadros ou somente quando você observou o terceiro

quadro é que houve um entendimento da propaganda?

Nesse momento, observe abaixo a propaganda toda.

Edson Baeta http://naweb.wordpress.com/.

Acesso em 11/11/2009

Podemos perceber que a propaganda é um alerta acerca do consumo de

bebida alcoólica e do ato de dirigir, ou seja, os dois “não devem andar juntos”, pois

o álcool prejudica a atenção dos motoristas e aumenta a ocorrência de acidentes.

Essa leitura só é possível pela visualização e depreensão de sentido dos três

quadros juntos. Por isso, falamos que o texto é uma unidade de sentido e para

obter essa unidade é necessário observar e pensar em todos os aspectos que nele

estão envolvidos.

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Mas, talvez você deva estar se perguntando: “A propaganda acima ou

mesmo a tirinha é um texto? Mas elas são compostas por poucas palavras.!!!!!”

Eis, então, a resposta: ELAS SÃO TEXTO, pois texto, também, é toda

manifestação linguística, paralinguística e imagética que transmite uma mensagem

ou um ato de comunicação a fim de obter uma interação com o outro. Por isso,

dizemos que existem três tipos de texto: verbal, não verbal e sincrético ou misto

(verbal e não verbal). Quando dizemos manifestação linguística falamos de

recursos expressos pela palavra (que pode ser oral ou escrita); o paralinguístico é

quando usamos gestos, olhares etc.; e o imagético é formado por imagens ou

figuras.

Cotidianamente as pessoas se deparam com uma grande variedade de

palavras e imagens que apresentam características diferentes e que são

elaboradas com objetivos bem distintos. Veremos a seguir produções que

relacionam elementos expressivos verbais, não verbais e mistos.

Texto verbal

Existem várias formas de comunicação. Quando o homem se utiliza da

palavra, ou seja, da linguagem oral ou escrita, dizemos que ele está utilizando uma

linguagem verbal, pois o código usado é a língua. Tal código está presente, quando

falamos com alguém, quando lemos ou quando escrevemos. A linguagem verbal é

a forma de comunicação mais presente em nosso cotidiano. Mediante a língua

falada ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos,

comunicando-nos por meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas.

Portanto, a linguagem verbal é aquela que tem as palavras como recurso

expressivo, como exemplo: textos orais ou escritos, em prosa ou em verso. Leia o

texto:

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Resenha de filme: Crepúsculo

Luma Jatobá 18/01/2009

Baseado nos livros de Stephenie Meyer, Crepúsculo vem às telonas contar a história da jovem Isabella Swan (Kristen Stewart) que ao se mudar para a casa do pai em Forks, Washington, conhece no colégio uma família diferente: os Cullen. Por serem anti-sociais e muito reservados, são os estranhos da escola. Bella logo se apaixona por Edward Cullen (Robert Pattinson) e ele por ela. Seria algo lindo e normal se o rapaz não fosse um vampiro. E é deste meado que se desenvolve a história: o romance proibido, o segredo que não pode ser descoberto e a perseguição dos Cullen, após James (Cam Gigandet), o vampiro sanguinário, descobrir o "namoro" deles.

Agora os Cullen e a jovem Bella estão correndo perigo. A corrida é contra o relógio para acabar com o vampiro antes que o pior aconteça. A história do filme é legal e prende do início ao fim, mas falta uma trilha sonora de peso e abusa quando dão a desculpa de que vampiros não saem ao sol porque brilham como diamantes. O livro está no terceiro volume, Crepúsculo é apenas o primeiro da série que ainda trás Lua nova e Eclipse. Dizem por aí que a nova adaptação de Romeu e Julieta veio pra substituir o bruxinho Harry Potter, será?

(http://centralrocknet.com.br/index.php?news=677)

Observamos que o texto acima é uma resenha, cuja finalidade é descrever o

filme Crepúsculo, para que o leitor tenha uma visão da história, a fim de verificar se

é interessante assisti-lo. Para isso, o autor utilizou-se da linguagem verbal, pois

como vemos, utilizou-se a língua escrita para se comunicar.

Além da resenha, encontramos a linguagem verbal em textos de

propagandas; reportagens (jornais, revistas etc.); obras literárias e científicas; na

comunicação entre as pessoas; em discursos (do Presidente da República, dos

representantes de classe, de candidatos a cargos públicos etc.) e em várias outras

situações.

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Capítulo 1

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Texto não verbal

As pessoas não se comunicam apenas por palavras. Os movimentos faciais

e corporais, as cores, o desenho, a dança, os sons, os gestos, os olhares, a

entoação são também importantes: são os elementos não verbais da comunicação.

Os significados de determinados gestos e comportamentos variam muito de uma

cultura para outra e de época para época.

Portanto, o texto não verbal consiste no uso de imagens, figuras, símbolos,

tom de voz, postura corporal, pintura, música, mímica, escultura como meio de

comunicação. A linguagem não verbal pode ser até percebida nos animais. Quando

um cachorro balança a cauda quer dizer que está feliz e quando coloca a cauda

entre as pernas significa medo e tristeza. Outros exemplos: sinalização de trânsito,

semáforo, logotipos, bandeiras, uso de cores para chamar a atenção ou exprimir

uma mensagem.

Dessa forma, é muito interessante observar que para manter uma

comunicação não é preciso usar a fala e sim utilizar uma linguagem, seja ela verbal

ou não verbal.

Observe a figura ao lado. Se ela fosse

encontrada em um consultório médico, faríamos a

leitura de que, naquele local, as pessoas devem falar

baixo e, se possível, manter silêncio. A linguagem

utilizada é a não verbal, pois não utiliza a língua para

transmitir “silêncio”.

O semáforo, também, é um exemplo de texto

não verbal - um objeto cujo sentido das cores

comanda o trânsito e que é capaz de interferir na vida

do ser humano de forma extraordinária.

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Texto Sincrético ou misto (verbal e não verbal)

Falamos em texto misto – verbal e não verbal – quando os dois recursos

expressivos são utilizados em conjunto. Isso ocorre, por exemplo, em história em

quadrinhos, propagandas, filmes e outras produções que utilizam ao mesmo tempo

palavras e imagens.

Observemos a charge:

Ao observarmos o que está expresso na superfície textual, ou seja, aquilo

que é visível notamos que esse texto é formado por um tema “trabalho escravo”;

logo a seguir, há uma imagem de homens que se subdividem em dois grupos:

possíveis cortadores de cana de açúcar e o “patrão”, com um chicote na mão, junto

aos seus capatazes armados; e abaixo da imagem, temos os dizeres: “Aquele que

ficar por aí inventando esse tipo de mentira já sabe: duzentas chibatadas!”

Percebemos, portanto, que por meio da linguagem verbal e não verbal, o

texto aborda a questão do trabalho escravo, tema muito discutido no Congresso

Nacional Brasileiro, na época de publicação da charge. O governo pretendia

combater esse tipo de crime, mas encontrava resistência por parte de alguns

deputados e senadores, porque esses parlamentares eram proprietários de

algumas das fazendas investigadas.

A charge ironiza justamente essa questão: a existência do trabalho escravo

de forma não assumida. O “patrão” diz que denunciar o trabalho escravo é inventar

mentira, mas, ao mesmo tempo, encontra-se com um chicote na mão como faziam

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os senhores e feitores, na época da escravatura. É claro que essa leitura só será

possível se fizermos a junção dos dois tipos de imagens.

Portanto, o sentido desse texto, e de todos os outros que analisamos, ocorre

pela relação que um elemento mantém com os demais constituintes do todo. Esse

sentido do todo não é mera soma de partes, mas pelas várias relações que se

estabelecem entre si. Por isso, não podemos fazer a leitura somente da imagem ou

somente do que está escrito, é necessário fazermos a leitura do todo.

Além dessas questões tratadas até aqui, cabe dizer que todo texto é

produzido por um sujeito num determinado tempo e num determinado espaço.

Conforme diz Fiorin (1996, 17-18),

(...) esse sujeito, por pertencer a um grupo social num tempo e

num espaço, expõe em seus textos as idéias, os anseios, os

temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo social.

Todo texto tem um caráter histórico, não no sentido de que

narra fatos históricos, mas no de que revela os ideais e as

concepções de um grupo social numa determinada época.

Cada período histórico coloca para os homens certos

problemas e os textos pronunciam-se sobre eles.

Por isso, em um texto temos sempre a amostragem de um fato, ocorrido num

determinado momento, vista sob um ponto de vista social representado por um

sujeito. Dessa forma, ao analisarmos um texto, além de verificarmos a unidade

existente entre as partes, temos de observar o contexto.

Texto e Contexto

Quando analisamos a charge “Trabalho Escravo”, dissemos que esse

assunto estava sendo discutido no Congresso Nacional e que alguns parlamentares

apresentavam certa resistência para discutir o assunto. Ora, essas questões são

importantes para o entendimento da charge, mas elas não estão marcadas na

superfície textual. O seu sentido ocorrerá mediante o conhecimento de mundo do

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leitor, em saber em que situação ela foi produzida, ou seja, levando em conta o

CONTEXTO.

Fiorin (1994, 12) define contexto como “uma unidade linguística maior onde

se encaixa uma unidade linguística menor”. Assim, a palavra encaixa-se no

contexto da frase, esta no contexto do parágrafo, o parágrafo encaixa-se no

contexto do capítulo, o capítulo no contexto da obra toda e a obra encaixa-se no

contexto social.

Fica mais clara a questão do contexto, quando adotamos a metáfora do

iceberg. Aquilo que visualizamos é chamado ponta do iceberg, pois, como o próprio

nome diz, é uma pequena parte que fica exposta na superfície da água. Contudo,

essa ponta se apóia numa imensa parte que fica submersa, a fim de dar

sustentação. Essa parte submersa é o que chamamos de contexto, pois é ele quem

dá sustentação ao texto, que é a ponta do iceberg. Observe o texto:

Para entender essa tirinha, precisamos considerar algumas questões que

não estão explícitas, mas que fazem sentido no contexto. Vivemos, hoje, um padrão

de beleza feminino em que a mulher tem de ser considerada magra. A dieta e a

“boa forma” são um dos assuntos mais comentados. Isso não significa que sempre

tenha sido dessa forma. Na época da Renascença, o padrão “gordinha” era

sinônimo de beleza, pois demonstrava que a família da referida mulher era

abastada. Na Idade Média, a ideia de fertilidade imposta como contraponto de uma

época de matanças ocorridas nas cruzadas, trazia uma mulher de quadril largo e

ventre avolumado. Em nossos dias a beleza, assim como a moda, está relacionada

a padrões de magreza impostos pela indústria da moda, para valorizar a roupa.

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Portanto, em nossa época, quando um homem chama uma mulher de gorda, está

“comprando briga”. É o que ocorre na tirinha. E além de tudo, e o que é pior, ele

repetiu que ela havia engordado!!!!

Fiorin (1996), também traz um exemplo muito esclarecedor para

compreendermos a importância do contexto. Quando Lula disse a Collor no primeiro

debate do segundo turno das eleições presidenciais de 1989 “Eu sabia que você

era collorido por fora, mas caiado por dentro”, todos os brasileiros entenderam que

essa frase não queria dizer você tem cores por fora, mas é revestido de cal por

dentro, mas você apresentou um discurso moderno, de centro-esquerda, mas é

reacionário. Como foi possível entender a frase dessa maneira? Porque ela foi

colocada dentro do contexto dos discursos da campanha presidencial. Nele, o

adjetivo collorido significa relativo à Collor, “adepto de Collor”, ou seja, Collor

apresenta-se como um renovador, como alguém que pretendia modernizar o país,

melhorar a distribuição de renda, combater os privilégios dos mais favorecidos.

Havia também, na disputa, o candidato Ronaldo Caiado, de extrema direita que

defendia a manutenção do status quo. As frases ganham sentidos porque estão

correlacionadas umas às outras, dentro de uma situação comunicacional, que é o

contexto.

Portanto, diante do exposto, podemos entender que o contexto traz

informações importantes que acompanham o texto. Assim sendo, não basta a

leitura do texto, é preciso retomar os elementos do contexto, aqueles que estiveram

presentes na situação de sua construção. A produção e recepção de um texto estão

condicionadas à situação; daí a importância de o leitor conhecer as circunstâncias e

ambiente que motivaram a seleção e a organização dos aspectos linguísticos.

Podemos dizer que existem o contexto imediato e o situacional. O

contexto imediato relaciona-se com os elementos que seguem ou precedem o texto

imediatamente. São os chamados referentes textuais. O título de um poema pode

despertar determinadas decodificações. Esse contexto é aquele que

compreendemos em uma frase, quando a lemos no parágrafo; ou quando

entendemos o parágrafo, no momento em que lemos todo o texto. Leia o poema a

seguir:

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O que se diz Carlos Drummond de Andrade

Que frio! Que vento! Que calor! Que caro! Que absurdo! Que bacana! Que tristeza! Que tarde! Que amor! Que besteira! Que esperança! Que modos! Que noite! Que graça! Que horror! Que doçura! Que novidade! Que susto! Que pão! Que vexame! Que mentira! Que confusão! Que vida! Que talento! Que alívio! Que nada...

Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida

(http://www.portalimpacto.com.br/docs/JoanaVestF3Aula16_09.pdf)

Nesse poema, o seu sentido está tanto no título “o que se diz”, quanto no

último verso “Assim, em plena floresta de exclamações, vai se tocando a vida”, pois

são eles que nos faz compreender sobre o que poema está tratando: o fato de nós

exclamarmos todos os dias e muitas vezes não percebemos. Observe que os

elementos que nos dão sentido ao texto estão no próprio texto, por isso, falamos de

um CONTEXTO IMEDIATO.

O contexto situacional é formado por elementos exteriores ao texto. Esse

contexto acrescenta informações históricas, geográficas, sociológicas e literárias,

para maior eficácia da leitura que se imprime ao texto. Para isso, exige-se uma

postura ativa do leitor, ou seja, é necessário que ele tenha um conhecimento de

mundo, a fim de depreender o sentido exigido.

Esse conhecimento de mundo está ligado à nossa vivência, pois durante a

nossa vida, vamos armazenando informações que serão importantes para

entendermos e interpretarmos o mundo. Por isso, é fundamental a leitura,

assistirmos ao noticiário, irmos a museus, termos contato com pessoas que nos

acrescentarão conhecimento. Quando temos suporte para lermos um texto e

retirarmos dele o que está além dos seus aspectos linguísticos, a nossa leitura será

muito mais prazerosa e consequentemente, o texto será enriquecido, às vezes,

reinventado, e até recriado. Faça a leitura desta charge:

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Capítulo 1

Professor: Edson

Qual a leitura que você fez? Você a compreendeu? Do que está tratando a

charge?

Para compreendê-la é necessário que você observe todos os aspectos que

estão envolvidos na construção dessa charge: o que está escrito na lousa, o

logotipo que está abaixo da lousa, as pessoas que estão nas carteiras, o que essas

pessoas carregam em sua cintura, o que está escrito no balão, a forma como a

pessoa que está ensinando diz etc. Quando a observamos, vemos que é uma

charge que trata das olimpíadas que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Hoje, o

Rio é conhecido como uma cidade violenta e há uma grande preocupação quanto à

segurança, quando houver as olimpíadas. Nessa charge, os bandidos estão já se

preparando para esse evento, pois quando forem “atuar”, farão na língua dos

estrangeiros. É claro que para entender isso, tivemos de ativar o nosso

conhecimento das línguas portuguesa e inglesa e do nosso conhecimento de

mundo, ou seja, recorremos ao CONTEXTO SITUACIONAL.

A compreensão de um texto vai além da simples compreensão de termos

nele impressos; não basta o simples reconhecimento de palavras, parágrafos, é

preciso levar em conta em que situação ele é produzido. A compreensão exige do

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leitor uma sintonia com os fatos situados no seu dia a dia e que aparecem

subliminarmente impressos na mensagem textual.

Isso ocorre também em relação à produção textual, pois todas as vezes em

que se produz um texto, seja ele oral ou escrito, ele é determinado por uma série de

fatores que interferem, por exemplo, em sua estrutura e na organização de suas

informações. Um desses fatores é o interlocutor a quem se dirige o texto. Mesmo na

situação em que o indivíduo parece falar consigo mesmo (com os próprios botões),

a fala tem como interlocutor a representação de si mesmo que o indivíduo

construiu. Assim, sempre que se escreve e sempre que se fala isso é feito tendo em

vista um interlocutor, alguém que, obviamente, interfere na produção textual. Nas

situações reais de interação, as pessoas levam em conta, dentre outros, os

seguintes fatores:

Daí se vê que toda produção textual é construída a partir e em função

desses fatores que configuram o contexto enunciativo, ou seja, todas essas

produções textuais são marcadas e definidas pelos lugares/papéis sociais que

caracterizam, na situação de interação comunicativa.

Por que escrevo? Para quem escrevo?

De onde eu escrevo?

Que efeitos de sentido quero provocar?

Que efeitos de sentido NÃO quero provocar?

O que sei sobre o assunto de que vou tratar?