comunicação, Ética e clínica psicoterápica

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UNIVERSIDADE ESTCIO DE S

Glaucia Lima de Magalhes Theophilo

RELAES ENTRE COMUNICAO, ESCUTA, PSICOLOGIA E TICA

Nova iguau - rj2014Glaucia Lima de Magalhes Theophilo

- RELAES ENTRE COMUNICAO, ESCUTA, PSICOLOGIA E TICA -

Estudo Exploratrio da disciplina de estgio Supervisionado Bsico I em Psicologia lecionada pela Prof. Maria Cristina Fontes Urrutigaray para obteno de nota parcial de AV1- Curso de Psicologia.

UNIVERSIDADE ESTCIO DE SNova iguau - rj2014- RELAES ENTRE COMUNICAO, ESCUTA, PSICOLOGIA E TICA -

IntroduoA Psicologia entende o ser humano como relacional, ou seja, compreendido por suas caractersticas biopsicossociais e culturais. Desta forma, quando se busca compreender as relaes mantidas por este homem no mundo, e suas formas de expresso e convivncia, atravs do trabalho na clnica psicoterpica, onde seu objeto de estudo parte do contato e vnculo entre terapeuta e paciente, relaes intencionais, conscientes ou inconscientes, que permeiam seus campos discursivos e de comunicao, devem ser analisadas a fim de se melhor compreender tal processo.

Processo de ComunicaoFalar em comunicao significa falar em interao humana. natural e intrnseco da natureza humana o ato de se comunicar. A linguagem constri cdigos e possibilidades de compartilhamento de ideias, pensamentos e emoes entre os indivduos e suas formataes cognitivas, culturais, psquicas e afetivas. O que parece ser to natural, na verdade envolve um refinado e complexo processo de vivncias e aprendizagens.A comunicao humana compreende mirades de formas, atravs das quais os homens transmitem e recebem ideias, impresses e imagens de toda ordem. Comunicao vem da palavras latina communicare que significa pr em comum. Comunicao convivncia, baseada no consentimento espontneo dos indivduos. Atravs da comunicao, os seres humanos e os animais partilham diferentesinformaes entre si, tornando o ato de comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. O processo de comunicao consiste na transmisso de informao entre um emissor e um receptor que decodifica (interpreta) uma determinada mensagem. A mensagem codificada num sistema de sinais definidos que podem ser gestos, sons, indcios, uma lngua natural, ou outros cdigos que possuem um significado, e transportada at o destinatrio atravs de um canal de comunicao (o meio por onde circula a mensagem). Nesse processo podem ser identificados os seguintes elementos: emissor, receptor, cdigo (sistema de sinais) e canal de comunicao. Um outro elemento presente no processo comunicativo o rudo, caracterizado por tudo aquilo que afeta o canal, perturbando a perfeita captao da mensagem. Rudos de ComunicaoComunicar-se uma tarefa essencial para a interao humana. Essa atividade precisa ser mais do que uma tarefa, precisa alcanar o nvel de habilidade e maturidade nas relaes. Comunicar no o mesmo que informar, noticiar, transmitir, apesar de passar por estes processos.Algumas pessoas pensam que esto se comunicando, quando na verdade esto monologando paralelamente. Comunicar uma atividade ativa e passiva de intercmbio mnimo entre duas pessoas que interagem palavras a partir da escuta do outro (QUIRINO, 2008).A comunicao efetuada no nvel das palavras, do emocional, do gestual e do corporal. Quem comunica, s est consciente do nvel das palavras. Quem ouve capta todos os nveis de forma consciente ou no. Mas quem comunica s consegue ouvir as prprias palavras na maioria das vezes. No mecanismo de comunicar existe uma problemtica ou fato percebido e avaliado, uma elaborao desse fato em pensamentos, a estruturao em frases junto com o tom emocional, afetivo e corporal e a comunicao propriamente dita. Em quem ouve h a audio referente a comunicao, o entendimento do fato ao qual se refere o outro, a elaborao mental do que foi expresso, a anlise mental sobre o fato relatado e a devoluo da comunicao.Percebe-se que, pelo tamanho de seu mecanismo, a comunicao uma atividade sujeita a falhas, tanto pelos nveis inconscientes, no percebidos na hora de comunicar, quanto pelos mundos diferentes que compartilham os comunicantes. Essas falhas que atrapalham a comunicao se chamam rudos. Proporcionam ouvir o que no foi dito, ocasionando julgamentos errados do outro. Proporcionam entendimento equivocado, reaes incoerentes e respostas destoantes do contexto da conversa (QUIRINO, 2008).Comunicar necessariamente expressar contedos (pensamentos, sentimentos, ideias, emoes, fatos, etc.) junto com rudos. Toda comunicao est sujeita a rudos que prejudicam o entendimento mtuo. Esses rudos podem estar tanto na comunicao quanto na mente de quem ouve. O rudo , portanto, consequncia necessria da interao entre duas falas de diferentes personalidades.Em qualquer relao necessrio desenvolver habilidade para perceber e esclarecer esses rudos. Para se comunicar eficientemente deve-se, o tempo todo, comunicar contedos e conversar sobre a forma de comunicao de todos. No basta ouvir, preciso estudar o padro de comunicao do outro. Para diminuir esses rudos, necessrio uma relao saudvel. Para lidar com esses rudos imprescindvel saber ouvir o outro. Comunicar, portanto acima de tudo ser humilde. Humilde para voltar o olhar sobre si mesmo e permitir-se uma autocrtica a partir da introspeco. Para diminuir a frequncia desses rudos da comunicao entre as pessoas necessria uma abordagem ttica centrada em empatia e introspeco. Entretanto essas tticas no funcionam se no houver disponibilidade para mudanas sobre a forma de comunicar-se. Para comunicar-se eficientemente, necessrio entender o mundo do outro, a fim de procurar entender suas necessidades e adaptar a prpria comunicao a partir dessa constatao.

Escuta AtivaA escuta ativa uma tcnica de comunicao que implica que, durante o processo de comunicao, o receptor interprete e compreenda a mensagem que o emissor lhe transmite. E importante que compreenda totalmente o significado da mensagem que recebe pois normalmente uma boa parte da informao que escutamos durante uma conversa no chega corretamente ou mal interpretada pelo ouvinte.Desta forma aprender a escutar essencial para desenvolver uma comunicao apropriada, para uma comunicao eficaz. preciso compreender a perspectiva do outro, dando a mxima ateno e estar disponvel para o que tem a dizer, preciso prestar tambm ateno aos gestos e emoes demonstrados durante o processo de comunicao. importante ter conscincia que escutar mais amplo do que ouvir, pois a escuta ativa requer um esforo consciente. Deve-se buscar escutar integralmente e com empatia o outro. Escutar uma pessoa saber que ali h um corpo que fala, alm de apenas uma palavra que diz. Escutar uma pessoa saber que existe um outro diferente de ns com o qual estamos nos relacionando. Escutar uma pessoa saber que h um indivduo perante de ns repleto de sua subjetividade complexa, tpica do ser humano.A escuta deve ser praticada de maneira integral com ateno s dimenses de palavras, pensamentos, emoes e corpo, que se expressam atravs de organizao e escolha das palavras, seleo da temtica e do aspecto da temtica da fala, tom de voz, falhas de voz, silncios, gaguejos, atos falhos, irregularidades nos volumes de voz, postura corporal, gestual, comunicao inconsciente, movimento de olhos, dentre alguns outros. essencial tambm fornecer feedback que est escutando, compreendendo e entendendo, independentemente de estar concordando ou no com as atitudes relatadas, oferecendo um ambiente isento de censura e repreenso. A utilizao da ateno flutuante tambm importante. Essa ateno flutuante a capacidade de oferecer escuta a toda a fala sem se focar numa parte dela para anlise ou reflexo. Perguntas podem ser feitas para a escuta se aprimorar. Mas que sejam perguntas que esclaream a fala da pessoa. Intervenes curtas para esclarecer no devem ser feitas no momento em que a fala representa um desabafo ou uma catarse emocional, onde o fluxo no deve ser interrompido.Para escutar com empatia importante se pr no lugar da pessoa. Todo indivduo tem o direito de sentir raiva, impulsos violentos e agressivos, afinal um ser humano. O problema o que ele faz com esses impulsos e como os controla. Por isso, essencial demonstrar uma escuta acolhedora, sem repreenso, at em momentos difceis.Aps a escuta integral da pessoa, da problemtica principal, importante oferecer questionamentos. Questionamentos que permitam pensar sobre esse momento em que se est vivendo, estimulando a encontrar a prpria soluo para a sua questo. Sugestes e caminhos podem ser sugeridos, mas nunca impostos. Antes de oferecer uma sugesto, deve-se estimular esclarecimento sobre a situao que se est inserido.

PsicoterapiasO objetivo principal das psicoterapias o de proporcionar formas de transformao do cliente na sua maneira de ser, pensar e agir, no sentido da maturao, do ultrapassar de dificuldades de gesto emocional e pessoal, de comunicao interpessoal, de resoluo de crises e manejo dos sintomas das doenas, por forma a melhor lidar com a vida na sua complexidade. Por psicoterapia compreende-se o espao no qual o paciente vai em busca de recursos para lidar com as dificuldades que ele identifica em sua vida. Nesse contexto, a interao que se instala provoca uma troca entre parceiros, cliente e psicoterapeuta, caracterizando um espao de reflexo, onde se utiliza a comunicao verbal como fonte principal de recurso. Da a relao intima entre Comunicao e Psicologia.Conforme elucida MORAIS (2010), a comunicao um aspecto central do processo psicoteraputico, desde o momento da avaliao, diagnstico e verificao da eventual indicao do paciente para este tipo de trabalho, ao processo teraputico mais formalmente estabelecido. Constitui-se, por isso, como um pano de fundo que inclui toda a complexidade do funcionamento mental interno do paciente e da sua relao interpessoal com o terapeuta. Sendo, desta relao, que se tornam possveis os procedimentos ditos teraputicos.

Comunicao e PsicologiaAtualmente, o entendimento da Comunicao refere-se a um processo circular de informao, caracterizando o comportamento humano nesta interao, seja verbal ou no-verbal, como um processo contnuo, dinmico e conjunto. Neste processo ocorre a utilizao de uma linguagem que calcada em escolhas de uma determinada cultura e dentro de um processo scio-histrico e interao com a subjetividade de cada indivduo.Compreende-se, ento, a necessidade no apenas de se compreender o o que est envolvido no processo de comunicao, mas tambm de que forma, isto , sob que condies as mensagens esto sendo elaboradas, emitidas, recebidas e entendidas, j que se relacionam com aspectos culturais e psicolgicos inerentes ao ser humano. Conforme salienta FRANCO (2006):Esse constructo terico remete ideia de uma ligao intrnseca e circular entre homem-discurso-mundo-homem, isto , a comunicao s se torna produtiva na medida em que consegue perceber e respeitar a presena e a atuao do homem no ambiente que o cerca. [...] Na Psicologia, no que concerne relao terapeuta-cliente, h, tambm, que se entender o contexto em que as mensagens so manifestadas, mas no apenas o contexto enquanto assunto abordado, mas a realidade individual e tambm contextual do paciente, isto , qual o sentido por ele atribudo a uma determinada situao e de que forma ele, paciente, se comporta ao manifest-la.

No que concerne ao trabalho psicolgico, significa que a percepo da realidade de cada paciente deve ser levada em conta, ou seja, variveis como o conjunto resultante do ambiente em que vive e do processo de construo scio-histrico em que est inserido associado a sua prpria subjetividade, num processo dinmico que o envolve, alm do momento e da forma como ele manifesta e recebe suas mensagem, enfim, todos os fatos que relacionam-se com seu discurso devem ser considerados, com o objetivo de alcanar um trabalho coeso, contextualizado e eficaz.

Comunicao AutnticaZARIFIAN (2009, p. 165 apud MARCHIOR, 2010) sugere uma comunicao autntica, definindo-a como: um processo pelo qual se instaura uma compreenso recproca e se forma um sentido compartilhado, resultando em um entendimento sobre as aes que os sujeitos envolvidos so levados a assumir juntos ou de maneira convergente. Casa sujeito que se engaja nessa comunicao j possui um certo senso daquilo que ele compreende fazer, em face de um evento ou diante da elucidao de uma questo. No entanto, esse sentido colocado em jogo e transformado no curso da comunicao, no somente pelos intercmbios de pontos de vista que se operam durante essa atividade comunicacional, mas tambm pela explicitao das necessidades comuns com as quais os sujeitos so confrontados e das quais devem, juntos, apropriar-se, em termos de pensamento e ao.

Comunicao, tica e PsicologiaSegundo AYRES e BOTELHO (2009, apud FIGUEIRDO, E.M.; OKABE, M.S.; SOTERO, T., 2009), um cdigo de tica profissional no se configura enquanto um instrumento normatizador de natureza tcnica, mas enquanto um dispositivo de reflexo e orientao. Nesse sentido, Cdigos de tica expressam sempre uma concepo de homem e de sociedade que determina a direo das relaes entre os indivduos. Os autores ainda alertam sobre as questes ticas no mbito da clnica, um ponto relevante circunscreve-se relao de escuta do terapeuta em relao paciente. Tal prtica deve acolher a demanda sem julgamentos de ordens morais, religiosas, ideolgicas, respeitando as diversidades da vida humana, no direcionando, nem mesmo estabelecendo promessas de cura no decorrer do processo de tratamento do indivduo. DUTRA (2009, apud PANTALEO e BAIA, 2012), afirma que a formao do psiclogo transcende a aprendizagem formal, terica e tcnica e que essa se relaciona mais com o desenvolvimento de uma atitude. Ou seja, envolve um modo de ser, um modo de ver e de estar no mundo, o qual se assenta numa atitude tica e poltica, que deve ser transmitida, no s pelos saberes tericos e metodolgicos, mas, sobretudo, por uma forma de estar no mundo, refletida nos saberes e fazeres do campo da Psicologia e na vida.SILVA, (2001, apud PANTALEO e BAIA, 2012) argumentando sobre tica na Psicologia clnica, nos fala sobre o cuidado, colocando que o encontro na clnica no se trata mais apenas de receber o paciente tendo a cura como promessa ou diagnosticar um mal, mas sim estar em busca de um fazer clnico que efetue intervenes nas vidas e nas relaes e subjetividades das pessoas, reconhecendo que o sujeito busca algo que o transforme. Este algo uma modalidade de relao, modo de se relacionar com o mundo e com o outro, uma tica, pois passamos por momentos crticos e precisamos clinicar com o cuidado.Para DUTRA (2004, apud PANTALEO e BAIA, 2012), o diferencial da escuta clnica est na qualidade da escuta e acolhida que se oferece a algum que apresente uma demanda psquica, um sofrimento, representando uma certa postura diante do outro, entendendo-o como sujeito que pensa, sente, fala e constri sentidos nas relaes de subjetividades. Desta forma, essencial uma clnica que reflita sobre tica e que possibilite de forma mais ampla o convvio, o acolhimento e o reconhecimento do outro, diante do que estrangeiro daquilo que nos difere como pessoas, considerando a singularidade subjetiva de cada um. A Psicologia, embora seja plural em sua diversidade de abordagens, nos permite pensar sobre algo em comum, o cuidado com o ser humano. Isso acontece no dilogo com o outro, em que a clnica pode e deve ser um espao para efetivao do cuidar. Cuidar este, direcionado atravs da teoria e tcnica de forma tica, considerando o ser humano em sua dignidade de sujeito e cidado (PANTALEO e BAIA, 2012).Como medida de controle e definio dos procedimentos da ao do profissional de psicologia, em agosto de 2005, na Resoluo do Conselho Federal de Psicologia N. 010 de 2005 foi criado o Cdigo de tica da profisso de Psicologia como forma de um instrumento disciplinar e norteador menciona em seus artigos alguns procedimentos que acreditamos serem relevantes ao tema:Art. 1 So deveres fundamentais dos psiclogos:Alnea c - Prestar servios psicolgicos de qualidade, em condies de trabalho dignas e apropriadas natureza desses servios, utilizando princpios, conhecimentos e tcnicas reconhecidamente fundamentados na cincia psicolgica, na tica e na legislao profissional;A escuta ativa, uma comunicao minimizada em rudos e autntica, a formao de vnculos, ateno flutuante so exemplos de princpios, conhecimentos e tcnicas utilizadas pelo psiclogo consciente de sua responsabilidade no ato de cuidar do outro, e tambm conhecedor dos parmetros ticos de sua profisso.Art. 2 Ao psiclogo vedado:Alnea b - Induzir a convices polticas, filosficas, morais, ideolgicas, religiosas, de orientao sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exerccio de suas funes profissionais;Deve-se observar que o psiclogo, de forma consciente ou no, gera uma influncia em seus pacientes. Desta forma, partindo da fora do vnculo formado e da capacidade de persuaso comunicacional existente, imprescindvel que jamais se imponha ou induza sobre o paciente qualquer tipo de atitude ou comportamento, j que isso nega todo o princpio tico de respeito a subjetividade alheia.Alnea j - Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vnculo com o atendido, relao que possa interferir negativamente nos objetivos do servio prestado;Muitas vezes, por conta dos vnculos, do acolhimento, da comunicao livre e isenta de crticas e julgamentos, os pacientes podem vir a confundir sentimentos, pensando se tornarem amigos ntimos de seus terapeutas. No entanto, esta relao, baseada numa transferncia, no deve acontecer, pois deixa de ser eficaz como mtodo de tratamento, contrariando princpios ticos bsicos, da a proibio acima citada.Art. 4 Ao fixar a remunerao pelo seu trabalho, o psiclogo:a) Levar em conta a justa retribuio aos servios prestados e as condies do usurio ou beneficirio;b) Estipular o valor de acordo com as caractersticas da atividade e o comunicar ao usurio ou beneficirio antes do incio do trabalho a ser realizado;c) Assegurar a qualidade dos servios oferecidos independentemente do valor acordado.Um dos primeiros momentos em que a comunicao entre o paciente e o terapeuta deve se basear na clareza e preciso, relaciona-se ao firmamento do contrato, em que sero estipuladas as normas e regras bsicas do tratamento. Isto no significa que este imutvel e rgido, no entanto, imprescindvel que a comunicao esteja limpa, a fim de impedir futuros desentendimentos.Art.9 - dever do psiclogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confiabilidade, a intimidade das pessoas, grupos, ou organizaes, a que tenha acesso no exerccio profissional.Art. 12 Nos documentos que embasam as atividades em equipe multiprofissional, o psiclogo registrar apenas as informaes necessrias para o cumprimento dos objetivos do trabalho.O sigilo profissional outro aspecto do qual no se deve descuidar, na forma de divulgao e troca de informaes entre profissionais. bastante comum e enriquecedora a apresentao/discusso de casos clnicos em supervises, congressos bem como em publicaes acadmicas. Tal prtica auxilia na atuao dos profissionais da rea, pois ressignifica olhares. Entretanto, esse intercmbio de experincias deve acontecer sob certos e rigorosos parmetros ticos, pois trata-se da delicada questo da intimidade pessoal. Lida-se com a vida de pessoas, suas histrias, seus medos. A invaso e o no consentimento dos envolvidos se configuram em falta tica, pois alm de romper com as defesas do sujeito expondo-as ao mundo, publicam sua vida, desrespeitando sua histria pessoal, sua intimidade, o que resulta em uma quebra da confiana necessria relao psicoterpica. Ruptura que, sem dvida, traz efeitos negativos ao processo teraputico.Art. 13 No atendimento criana, ao adolescente ou ao interdito, deve ser comunicado aos responsveis o estritamente essencial para se promoverem medidas em seu benefcio.A forma de comunicao estabelecida com uma criana ou adolescente, pode diferenciar conforme a faixa etria, no entanto, todas elas devem ser baseadas na confiana. Desta forma, comunicar a pais ou responsveis assuntos, pensamentos ou sentimentos de cada menor, s deve ser realizado se isto trouxer benefcios maiores ao processo teraputico, caso contrrio, deve-se abster de tal relato minucioso e sem propsito, mesmo diante de tentativas de imposies.

Foi publicada em 25 de junho de 2012, a Resoluo CFP n11/2012, que traz novas normas para os servios psicolgicos realizados pela internet. No possvel, ento, deixar de perceber a importncia dos avanos tecnolgicos no que se refere ao processo de comunicao em psicologia. Este novo tipo de atendimento psicoterpico ainda requer mais estudos exploratrios a fim de se compreender em profundidade esta nova forma de comunicao, no entanto, analisando a fora das tecnologias na vida dos seres humanos, percebe-se que tal forma de relacionamento teraputico, com certeza, chegou para ficar.

Percebe-se, ento, atravs dos exemplos citados acima, como Psicologia, tica e comunicao possuem interfaces e momentos de relao ntima, onde suas atuaes esto intrinsicamente interligadas. Alm dos exemplos acima, muitos outros podem ser citados na prtica psicolgica, como a confeco de laudos e relatrios sobre pacientes e a necessidade de uma comunicao escrita eficiente e precisa, sem falsas interpretaes; ou o psicodiagnstico, em sua relao de responsabilidade profunda tanto com a tica quanto com a comunicao de resultados. At mesmo a prpria formulao do Cdigo de tica representa a intensa fora dos processos de comunicao, pois sem ela, este jamais teria conseguido ser criado e compartilhado.

ConclusoAtravs de recursos verbais, artsticos e simblicos, o psicoterapeuta visa ajudar pessoas e grupos na busca do autoconhecimento,numa melhor percepo de seu comportamento e respectiva eficcia em relao ao ambiente e a si prprio. Quanto a pessoa menos discernir das suas motivaes, sentimentos, pensamentos, aes, percepes, mais ser mal controlado por estes e repetir padres de comportamento ineficazes. O alvio dos sintomas requer a descoberta e a incorporao no seuEU de todas estas questes no resolvidas que o impelem a mal agir e mal sentir. Virtualmente quase todas as psicoterapias atuam desta forma, expandindo a auto consciencializao.Neste processo essencial um processo de comunicao autntico e com a menor quantidade possvel de rudos, onde o trabalho baseado numa escuta ativa, formao de vnculos fortes e atuao consciente e responsvel dos envolvidos.No se pode, neste contexto, minimizar a importncia da tica profissional. O que se pretende colocar que a postura tica do psiclogo tem que estar marcada e estabelecida por um trabalho realmente produtivo, porque s se pode tocar no Outro com responsabilidade diante dos prprios atos. A escuta profissional no pode significar passividade, mas uma atitude de realizador. Em cada detalhe, em cada momento, demandada tal postura. mais que seguir um Cdigo de tica, pois a positividade deste no abarca as questes referentes a um posicionamento tico.Quando falamos do Cdigo de tica dos Psiclogos, estamos nos referindo a um conjunto de normas, de direitos e deveres que regulam a profisso dos psiclogos. Porm, falar de tica ir alm. falar de normatizao reguladora, sim, mas tambm de um outro estatuto que prprio do sujeito. sair da questo do universal e escutar o particular inclusive. No h como negar a importncia do Cdigo de tica Profissional. Esta regulao se faz essencial em nossa sociedade. Mas o fundamental us-lo de acordo com uma postura realmente tica. Tendo essa postura tica como pano de fundo, tem-se que pensar qual o papel clnico do psiclogo no atendimento de um sujeito que o procura. O terapeuta responsvel por conduzir o tratamento, introduzindo o sujeito num mundo de aceitao, liberdade e responsabilidade prprias. Assim, o que se faz necessrio promover o aparecimento da fala verdadeira, onde o sujeito se implica na sua prpria histria. O que o sujeito conquista na terapia a sua prpria lei.

Referncias

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MORAIS, R. Alguns aspectos da comunicao em psicoterapia - 2010 - Disponvel em: http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/2967/3/115-127.pdf. Acesso em: 05 de Abril de 2014.

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