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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
MIDIÁTICA
COMUNIDADE VIRTUAL E AMBIÊNCIA RELIGIOSA:
A IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR NO CIBERESPAÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção de título de Mestre em Comunicação.
MARCOS FRANCISCO STAHL
SÃO PAULO-SP
2014
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
MIDIÁTICA
COMUNIDADE VIRTUAL E AMBIÊNCIA RELIGIOSA:
A IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR NO CIBERESPAÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção de título de Mestre em Comunicação. Orientador: Prof. Dr. Jorge Miklos
MARCOS FRANCISCO STAHL
SÃO PAULO-SP
2014
Stahl, Marcos Francisco.
Comunidade virtual e ambiência religiosa : a igreja pentecostal Deus é amor no ciberespaço / Marcos Francisco Stahl. - 2015. 86 f. : il. color. + CD-ROM.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2015. Área de Concentração: Contribuições da Mídia para Interações entre Grupos Sociais. Orientador: Prof. Dr. Jorge Miklos.
1. Comunicação e religião. 2. Cibercomunidade. 3. Mídia e religião. 4. Ciberespaço. 5. Pentecostalismo. 6. Igreja pentecostal Deus é amor. I. Miklos, Jorge (orientador). II. Título.
UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO E CULTURA
MIDIÁTICA
COMUNIDADE VIRTUAL E AMBIÊNCIA RELIGIOSA:
A IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR NO CIBERESPAÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP, para obtenção de título de Mestre em Comunicação.
Aprovado em: ___/___/____.
BANCA EXAMINADORA
______________________/___/____
Professor Dr. Heinrich Fonteles
Pontifícia Universidade Católica
______________________/___/____
Professor Dr. Jorge Miklos
Universidade Paulista – UNIP
______________________/___/____
Professor Dr. Mauricio Ribeiro da Silva
Universidade Paulista – UNIP
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus filhos, Isis Louro Stahl e Levi Louro Stahl, por
entenderem minha constante ausência para dedicação aos estudos e por sempre
terem sido companheiros em todos os desafios ao longo dos anos deste Mestrado
em Comunicação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por iluminar o caminho que tenho trilhado dentro desta
etapa acadêmica tão importante e por toda a minha vida pessoal e profissional, por
me dar forças e saúde para seguir lutando, mesmo com alguns obstáculos que, no
final das contas, superei.
Aos meus pais, irmãos, minha filha e meu filho, a toda minha família que, com
muito carinho e apoio, não mediu esforços para que eu chegasse até esta etapa de
minha vida.
Ao meu professor e orientador, Jorge Miklos, pela paciência na orientação e
incentivo que tornaram possível a conclusão desta monografia.
A todos os professores do curso, que foram tão importantes na minha vida
acadêmica e no desenvolvimento desta monografia.
Agradeço ao SEBRAE-SP, pelo apoio tão importante durante o meu período
de estudo e pesquisas, entre os anos de 2013 e 2014.
Agradeço à UNIP e à Professora Claudia Palladino por terem me inserido no
mundo acadêmico, o que me deu a possibilidade de desenvolver este trabalho.
Aos amigos e colegas do SEBRAE-SP, amigos e colegas do SENAC, ao meu
amigo e coordenador na UNIP, Professor Mestre Francisco A. Regina, pelo incentivo
e pelo apoio constante.
À colega de curso, Ariana Nascimento, pelos diálogos e auxílios que
extrapolaram o âmbito profissional e acadêmico.
“Fazer da queda um passo de dança, do medo uma
escada, do sono uma ponte, da procura um
encontro” (Fernando Sabino)
COMUNIDADE VIRTUAL E AMBIÊNCIA RELIGIOSA:
A IGREJA PENTECOSTAL DEUS É AMOR NO CIBERESPAÇO
Esta dissertação investiga a proibição do uso da TV pela cúpula da Igreja Pentecostal Deus é Amor e, procura analisar o emprego que a IPDA faz de outras mídias eletrônicas para se comunicar com seus membros no ciberespaço. O problema que instigou a pesquisa foi indagar acerca das razões que levam a IPDA a proibir o uso da TV, mantendo-a distante dos fiéis e, ao mesmo tempo, liberar o uso da Internet, que junto com outras mídias são utilizadas como dispositivo de proselitismo e comunicação. A Adoção da hipótese da liberação da internet pela IPDA advém do fato do ciberespaço, diferente da TV, além de ser um grande depositário do simbólico, é também uma dimensão de renovação de formas de sociabilidade. Grande parte das conexões é feita pelos fiéis iniciam e alimentam vínculos pessoais fortalecendo os vínculos da membresia com a comunidade IPDA. Estabeleceu-se como corpus o portal da IPDA na internet (www.IPDA.com.br), seus templos, o marketing religioso e o “Regulamento Interno” - RI - da Igreja para a efetivação da análise da pesquisa. Para este estudo foi utilizado o método científico, baseado em fundamentação teórica. O referencial teórico tem como base conceitual o campo da Comunicação e as mídias eletrônicas religiosas para abordar a relação entre o pentecostalismo praticado pela IPDA, as mídias eletrônicas e o ciberespaço com enfoque nas reflexões desenvolvidas por Miklos (2012; 2013); Cunha (2007); Campos (2005); Assmann, (1986); Alencar (2005).
Palavras-chave: Cibercomunidade; Mídia e Religião; Ciberespaço Ciber-Religião; Pentecostalismo; Igreja Pentecostal Deus é Amor
ABSTRACT
This dissertation investigates on the use of TV prohibition by the religious members
of the Igreja Pentecostal Deus é Amor, and analyzes how IPDA is managing other
electronics medias to communicate with its members in the cyberspace. The
problem instigated in this research was how to inquire about the reasons why the
IPDA prohibits the use of TV, keeping it away from the members and at the same
time, Internet use is permitted, together others medias are used as proselytism and
communication device. Adopting as hypothesis of the internet use by IPDA members
comes from cyberspace fact, different from the TV, besides to be a great symbolic
keeper, it´s also a dimension of renewal forms of sociability. The members can
connect, when they initiate and maintain personal ties strengthening the links of
membership with the IPDA community. It was established as the corpus of IPDA
portal on the Internet (www.IPDA.com.br), its temples, religious marketing and the
Church "Internal Rules" - IR in order to provide and to developing the analysis
research. In order to get a result, a scientific method was used for this study, based
on theoretical basis. The theoretical references has the conceptual the field of
Communication basis and religious electronic media to understand the relationship
between Pentecostalism practiced by IPDA, electronic media and cyberspace
focusing the thoughts developed by Miklos (2012; 2013); Wedge (2007); Fields
(2005); Assmann (1986); Alencar (2005).
Keywords: Cybercommunity; Media and Religion; Cyberspace Cyber Religion;
Pentecostalism; Igreja Pentecostal Deus é Amor
LISTA DE FIGURAS
Imagem 1 – Aimeé McPherson ................................................................................ 33
Imagem 2. Manchete do Jornal Los Angeles Times sobre o desaparecimento de Aimee McPherson ............................................................................................... 34
Imagem 3 - Aimeé Mc Pherson pregando ............................................................... 34
Imagem 4- Angelus Temple, Igreja do Evangelho Quadrangular, construído em 1923
.................................................................................................................................. 35
Imagem 5 – A casa de Aimeé McPherson em Los Angeles .................................... 35
Imagem 6 – Mc Pherson em foto disponibilizada pela própria Igreja Internacional do
Evangelho Quadrangular ......................................................................................... 36
Imagem 7– Templo típico da IPDA nas periferias das grandes cidades ................. 42
Imagem 8 – Sede mundial da IPDA, na cidade de São Paulo ................................ 47
Imagem 9 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA ........................... 48
Imagem 10 – Foto parcial da parte interna da sede mundial da IPDA .................... 48
Imagem 11 – Foto parcial da parte interna da sede mundial da IPDA .................... 49
Imagem 12 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA ......................... 49
Imagem 13 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA ........................ 50
Imagem 14– Imagem parcial do site da IPDA antigo, até 04/2014 ......................... 67
Imagem 15 – Imagem parcial do novo site da IPDA em Novembro/2014 .............. 67
Imagem 16 – Imagem parcial do Facebook da IPDA ............................................. 71
Imagem 17 – Imagem parcial do Facebook da Voz da Libertação ........................ 71
Imagem 18 – Imagem parcial do YouTube com conteúdo aprovado pela IPDA ................................................................................................................................. 75
Imagem 19 – Imagem parcial de vídeo postada no YouTube pela IPDA ............... 75
Imagem 20 – Imagem da tela inicial do Twitter da IPDA ....................................... 76
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11
1. O PENTECOSTALISMO E O ADVENTO DA IPDA........................................................ 15
1.1. Protestantes, Pentecostais e Neopentecostais .................................................................... 15
1.2. Pentecostalismo no Brasil .................................................................................................. 16
1.2.1. As Raízes Norte-Americanas.......................................................................................... 18
1.2.2. Pentecostais Históricos ................................................................................................... 19
1.2.3. A 2ª Geração – a IPDA ................................................................................................... 21
1.2.4. As Igrejas Neopentecostais ............................................................................................. 22
1.3. Pentecostalismo Midiático ................................................................................................. 24
1.3.1. Pentecostalismo Midiático nos Estados Unidos ............................................................. 24
1.3.1. Pentecostalismo Midiático no Brasil .............................................................................. 28
2. A IPDA E A MÍDIA TRADICIONAL ................................................................................ 36
2.1. A Origem da IPDA ............................................................................................................ 37
2.2. Templo como Ambiência Comunicacional ....................................................................... 40
2.3. Rádio e Vínculo Sonoro .................................................................................................... 50
2.4. A Abominação da TV ........................................................................................................ 55
3.1. Ciber-Religião ................................................................................................................... 58
3.2. Taxonomia ......................................................................................................................... 61
3.2.1. O Site da IPDA ............................................................................................................... 65
3.2.2. A IPDA no Facebook ..................................................................................................... 70
3.2.3. A IPDA no YouTube ....................................................................................................... 72
3.2.4. A IPDA no Twitter ......................................................................................................... 76
3.3. O Ciberespaço e o seu Potencial de Sociabilidade Religiosa ............................................ 76
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 83
BAITELLO, Norval Jr. A ERA DA ICONOFAGIA – ENSAIOS DE COMUNICAÇÃO E CULTURA. São Paulo: Hacker Editores, 2005. ................................................................ 83
BERG, David. Daniel Berg - Enviado por Deus. Rio de Janeiro: Editora CPAD. 1995. ........................................................................................................................................ 83
11
INTRODUÇÃO
O Protestantismo foi um movimento religioso que surgiu na Europa no século
XVI, essa designação é, na verdade, o resultado de inúmeras manifestações de
insatisfação com os rumos da Igreja Católica durante o período, encabeçada por um
padre alemão, Martinho Lutero, possibilitou a criação de novas religiões cristãs.
Dentro dessas novas denominações religiosas, o presente estudo tem como objetivo
analisar duas vertentes principais, o Pentecostalismo e o Neopentecostalismo que,
por sua vez, também abarcam diferentes grupos religiosos. Esta pesquisa procura
entender as principais diferenças existentes entre esses grupos que se formaram,
focando na fundação e desenvolvimento de um deles, a Igreja Pentecostal Deus é
Amor, a IPDA.
Com um número muito grande de adeptos, a IPDA apresenta-se como uma
vertente brasileira das igrejas pentecostais. Ainda que, nas últimas duas décadas,
diferentes igrejas evangélicas pentecostais tenham se tornado mais flexíveis com
relação à questão do controle exercido sobre os seus adeptos, a IPDA mantém-se
refratária a tais mudanças e continua a exercer um grande domínio sobre seus
membros.
O grande avanço do capitalismo globalizado e a consolidação das culturas
midiáticas e urbanas, filhas da modernidade, geraram transformações nos campos
político, social, econômico, cultural e religioso e algumas igrejas pentecostais e
neopentecostais têm sido influenciadas por tais mudanças.
Contextualmente, o campo religioso da midiatização, há uma explosão
religiosa que se manifesta na configuração de um novo modo de ser das igrejas, nas
diferentes formas de realização dos cultos, na expressão verbal e não verbal e nos
outros comportamentos construídos pelos membros fiéis, estimulados pela ampla
produção fonográfica e até pelos espetáculos de promoção dos produtos gospels, o
que de certa maneira, não acontece com os participantes da IPDA, para os quais,
por exemplo, é vetado o uso da TV, diferentemente do que ocorre com as outras
igrejas, até mesmo entre aquelas que tiveram origem dentro de uma matriz
ideológica religiosa idêntica à da IPDA.
As pesquisas acerca da imbricação entre mídia e religião vem ganhando
abundante espaço na produção da área de Comunicação. A publicação de livros,
12
artigos e monografias em diferentes espaços acadêmicos, bem como a realização
de eventos específicos sobre o assunto podem ser entendidos como indícios da
vitalidade de um tema que, longe de se esgotar, desenvolve-se em inúmeras
ramificações no mundo social, indicando trilhas de pesquisa e caminhos para a
investigação.
Marcada pela pluralidade de pontos de vista, aportes e metodologias, a
pesquisa sobre mídia e religião mostra seus vínculos com a à área de Comunicação
no sentido de compartilhar sua diversidade teórica e epistemológica, manifestada na
diversidade dos temas e aportes utilizados para se compreender o objeto.
Apesar da profusa produção acadêmica, verificamos uma escassez de
trabalhos que se debruçam sobre a IPDA e sua relação com a mídia. Exceção nesse
deserto teórico é o artigo de autoria do Prof. Dr. Gedeon Freire de Alencar:
Pentecostalismo Hitech: Uma Janela Aberta, Algumas Portas Fechadas que aborda
a IPDA sob o ponto de vista das Ciências da Religião. Esta pesquisa procurou
prosseguir as reflexões propostas pelo artigo criando um diálogo do ponto de vista
das Ciências da Comunicação.
Os meus questionamentos sobre a IPDA se aprofundavam, à medida que eu
participava dos diferentes estudos dirigidos dentro do Programa de Pós-Graduação
em Cultura Midiática da Universidade Paulista a respeito de ambiência religiosa e
devido às palestras e discussões realizadas com os pesquisadores dos programas.
Tentar entender as razões que levaram a IPDA a proibir o uso da TV,
mantendo-a distante dos fiéis e, ao mesmo tempo, liberar o uso da Internet, que
junto com outras mídias são utilizadas para substituir e evitar a tentação da TV na
IPDA passaram a ser o problema central do presente estudo.
Para que possamos aprofundar a discussão sobre os procedimentos que
ocorrem durante o convencimento sobre o não uso da TV pelos membros da IPDA,
o estudo da cultura das mídias é fundamental.
Na comunicação humana primária básica todos nós temos potencial de
desenvolver o papel do emissor. Porém, com o surgimento da comunicação de
massa o papel do emissor começo a ficar cada vez mais restrito na medida em que
os emissores eram também aqueles que eram proprietários dos grandes jornais,
emissoras de rádio, emissoras de televisão. Esse cenário leva alguns críticos
13
refutarem o conceito de meios de comunicação de massa e preferirem falar em
meios de comunicação para a massa uma vez que o poder de emissão está
concentrado nas mãos de poucas pessoas. Trata-se de monopólio ou oligopólio da
comunicação. Esse quadro tornaria a TV um meio desgastado, fechado e erodido do
ponto de vista da comunicação religiosa.
Grande parte das conexões é feita para as pessoas alimentarem ou iniciarem
vínculos pessoais. Trata-se de um elo comum entre a religião e a comunicação.
Ambas absorvem a pulsão de estar junto, de criar um sentimento de pertencimento.
A internet cria um espaço para que as pessoas dialoguem, exponham sua
subjetividade, seus desejos e suas angústias. A presença da membresia no
ciberespaço fortalece os vínculos entre os fiéis e a igreja.
A IPDA é exemplo de uma comunidade fundada anteriormente à interação e à
conexão em rede, instituída presencialmente pela participação efetiva de seus
membros. A presença no ciberespaço estimula utilizar as ferramentas da rede para
alimentar os vínculos. A direção da IPDA embora extremamente conservadora no
que diz respeito aos valores religiosos, aposta que a internet tem o poder de
fortalecer o senso comunitário.
E é em um mundo cada vez mais cercado de imagens, sons e ideias,
facilmente acessíveis, que os membros da IPDA aceitam a restrição do não acesso
à TV, tal atitude parece surpreendente, no entanto, é importante entender que esses
fiéis estão convencidos de que o RI1 ao qual são submetidos é certo e precisa
realmente ser seguido e fiscalizado, pois acreditam que, no final, serão
recompensados pelos seus esforços.
Para tentar responder a essas questões alguns textos foram fundamentais,
entre eles, a leitura do livro de Hugo Assmann, A Igreja Eletrônica e seu impacto na
América Latina, que trata da veiculação de programas religiosos pela TV e pelo
rádio; dos textos de Leonildo Silveira Campos, publicados pela REVISTA USP assim
como a leitura de sua obra Teatro, Templo e Mercado que forneceram os subsídios
necessários para entender as origens do movimento pentecostal e suas
manifestações; as obras do professor Jorge Miklos, Ciber-Religião – A construção
1 Cópia do RI em anexo, pode ser encontrado em blogs de religiosos que desejam disseminar as
regras da IPDA. Disponível em: <http://regulamentointernoIPDA.blogspot.com.br/2013/09/regulamento-interno-da-IPDA-valida-ate.html>. Acessado em: 01 out 2014.
14
de Vínculos Religiosos ajudaram a entender como as mídias eletrônicas podem ser
utilizadas pelas religiões e qual foi o papel da laicização do estado brasileiro para o
crescimento das igrejas pentecostais no país, além de esclarecer como e por que os
fiéis se submetem aos preceitos rigorosos de algumas religiões; a obra A Explosão
Gospel, de Magali do Nascimento Cunha, foi fundamental para a compreensão das
culturas pentecostais e o modo de ser gospel; a obra de Gedeão Alencar,
Protestantismo Tupiniquim – Hipóteses de (não) Contribuição Evangélica à Cultura
Brasileira forneceu informações importantes sobre a formação religiosa protestante
no Brasil.
A metodologia adotada nesta pesquisa é de caráter bibliográfico exploratório
a fim de compreender a IPDA no contexto do processo de midiatização, em
particular, das mídias de massa e das mídias de rede.
Para responder à pergunta central desta pesquisa: Como a IPDA resolve a
contradição existente entre a proibição do uso da TV pelos seus seguidores, e a
permissão e o incentivo do uso da internet? Este estudo foi dividido em três
capítulos. O primeiro capítulo, O Pentecostalismo e o Advento da IPDA, tem como
principal objetivo dar um breve panorama sobre como o Pentecostalismo
estadunidense, iniciado e desenvolvido em uma sociedade cheia de preconceitos
sociais e religiosos, migrou para o Brasil a partir de um protestantismo recriado por
novas teorias e situações socioculturais. O segundo capítulo, A IPDA e a Mídia,
discute as escassas liberdades e as proibições impostas aos membros da IPDA com
relação ao acesso às mídias eletrônicas, este capítulo também busca apontar como
e porque os membros da igreja aceitam ser controlados em vários aspectos da vida
social. O terceiro capítulo, A IPDA no Ciberespaço, descreve a presença da IPDA na
internet (site, Facebook, Twitter, YouTube) e procura refletir acerca da sociabilidade
religiosa no ciberespaço.
15
1. O PENTECOSTALISMO E O ADVENTO DA IPDA
A relevância da relação entre as igrejas pentecostais e a mídia tem se tornado
cada vez mais intensa e, atualmente, é impossível vê-las fora do campo midiático.
Entretanto, para que se possa entender essa relação, objetivo principal deste
capítulo, é necessário esclarecer alguns conceitos utilizados na definição de grupos
religiosos não católicos, muitas vezes, agrupados sob a denominação genérica de
“protestantes” e/ou “evangélicos”. Tais esclarecimentos são as premissas para o
desenvolvimento deste capítulo que busca analisar a origem desses grupos e a
midiatização do campo religioso ao qual pertencem.
1.1. Protestantes, Pentecostais e Neopentecostais
O primeiro conceito a ser definido nesta pesquisa refere-se ao
Protestantismo2. Em 1517, Martinho Lutero, um erudito católico alemão escreveu
uma carta ao seu arcebispo, nessa carta, criticava várias práticas da Igreja Católica,
entre elas, a concessão de indulgências, um pagamento feito à Igreja em troca do
perdão pelos pecados cometidos; graças à tipografia, suas ideias se difundiram e
tiveram inúmeros adeptos.
A insatisfação de Martinho Lutero com a Igreja Católica não era um caso
isolado, em várias partes da Europa, já havia dissidências religiosas. Esse
movimento de oposição às práticas impostas pela Igreja se tornou conhecido como
Reforma. Em 1529, quando Roma quis impor a religião católica aos príncipes
alemães, esses protestaram firmemente, assim surgiu o termo protestante, uma
derivação da palavra “protesto”. Os protestantes salientavam a autoridade da Bíblia
e a justificação pela fé (salvação), contra o que consideravam os erros de Roma.
Dessa maneira, neste estudo, a denominação “protestante” refere-se às
igrejas que se originaram a partir da Reforma ou àquelas que, embora tenham
surgido posteriormente, mantêm os princípios gerais do movimento. Fazem parte
desse grupo as igrejas: luterana, presbiteriana, metodista, as congregacionais, a
batista e a anglicana3.
2 HINNELLS, John R. Dicionário das Religiões, p. 208; MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O
Protestantismo no Brasil e suas Encruzilhadas, p. 49. 3 Nesta pesquisa, a Igreja Anglicana será designada como protestante, embora - como afirma
Mendonça (2005, p. 50) - tenha ficado “a meio caminho entre Roma e as igrejas protestantes, tanto luteranas como calvinistas” e “a ala propriamente dita anglicana”. A própria Igreja Anglicana recusa essa designação.
16
Outro conceito fundamental para esta pesquisa é o do Pentecostalismo
Histórico4, que recebe essa designação por suas raízes nas confissões históricas da
Reforma. Esse movimento é caracterizado pela doutrina do Espírito Santo, ou seja,
os adeptos devem assumir um segundo batismo, o batismo do Espírito Santo, que
tem como a característica, a glossolalia (o falar em línguas estranhas). No Brasil,
fazem parte dessa vertente do protestantismo as Igrejas Assembleia de Deus,
Congregação Cristã do Brasil, a Igreja Pentecostal Deus é Amor e a Igreja
Internacional do Evangelho Quadrangular.
Além do Pentecostalismo Histórico, existe o Pentecostalismo Independente
ou Neopentecostalismo5, que não possui raízes históricas na Reforma do século
XVI. As igrejas que fazem parte desse movimento surgiram desde a segunda
metade do século XX, a partir das divisões teológicas ou políticas nas denominações
históricas e têm como especificidades sua composição em torno de uma “liderança
carismática”, a pregação da “Teologia da Prosperidade” e da “Guerra Espiritual”, a
prática do exorcismo e de curas milagrosas e o rompimento com o ascetismo
pentecostal histórico.
O Pentecostalismo Independente de Renovação6 surgiu no final do século XX
e tem ganhado força no início do século XXI. Possui características muito
semelhantes às do Pentecostalismo Independente; inclusive, alguns autores tratam
esse grupo de igrejas como pertencentes ao movimento anterior, no entanto, eles se
diferem. O Pentecostalismo Independente de Renovação tem como público-alvo as
classes médias e a juventude, estruturando seu modo de ser para alcançá-los,
atenuando a ênfase no exorcismo e nos milagres e ressaltando a prosperidade e a
guerra espiritual. As igrejas Renascer em Cristo, as Comunidades Evangélicas da
Graça, Sara a Nossa Terra, Bola de Neve, entre outras, fazem parte desse grupo.
A partir da definição desses conceitos, o subcapítulo a seguir buscar traçar
uma breve trajetória do Pentecostalismo no Brasil.
1.2. Pentecostalismo no Brasil
4 CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel, p. 14.
5 Ibid., p. 15.
6 Ibidem.
17
Embora tivessem ocorrido pequenas incursões protestantes no Brasil antes
do século XIX, caso dos franceses, durante a ocupação do Rio de Janeiro, no século
XVI, e dos holandeses, no século XVII, no Nordeste; os primeiros protestantes a
chegarem ao Brasil foram os anglicanos ingleses e os luteranos alemães, nos
primeiros anos do século XIX7, quando D. João VI abriu os portos às nações amigas.
Dentro do percurso desenvolvido pelo protestantismo no Brasil, os imigrantes
luteranos são classificados como membros do “protestantismo de emigração ou
étnico”, não apresentando qualquer preocupação evangelizadora, apenas
participando, a princípio, da vida econômica do país, sem “nenhum espaço de
influência cultural”.8
Os anglicanos ingleses, que também chegaram ao Brasil em 1808, fazem
parte de outro grupo, o do “protestantismo de missão”, marcado pelo objetivo da
conversão9. Nos anos seguintes, no decorrer do século XIX, além dos anglicanos,
chegaram ao país os congregacionais, os presbiterianos, os metodistas, os batistas
e os episcopais, vindos principalmente das missões norte-americanas. Como afirma
Alencar (2005, p. 42), com esses missionários chega ao Brasil, o “protestantismo da
conversão, da mudança de vida e do proselitismo”.10
O cenário que esses missionários encontraram no país era caracterizado pelo
total domínio da Igreja Católica que, durante quatro séculos, tinha prevalecido
absoluta no Brasil, sendo declarada a religião oficial do Império brasileiro, como
afirmava o artigo 5º da Constituição de 1824: “A Religião Católica Apostólica
Romana continuará a ser a Religião do Império. Todas as outras Religiões serão
permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas,
sem forma alguma exterior do Templo.”.11
7 CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão Gospel. Um Olhar das Ciências Humanas sobre o
Cenário Evangélico no Brasil, p. 35 e 210. 8 ALENCAR, Gedeon. Protestantismo Tupiniquim, p. 40-41.
9 Ibidem.
10 Prosélitos: Do grego “proselytos” = estrangeiro recém-chegado. Referia-se, originalmente àqueles
que, vindos de outras religiões, se convertiam Judaísmo. Hoje, o termo designa todos os que mudam de religião. SCHWIKART, Georg. Dicionário Ilustrado das Religiões, p. 88. 11
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>: art. 5o, VII;
liberdade assegurada – art. 5o, VI e VIII; religioso; serviço alternativo – art. 143, § 1o ; União,
Estados, Distrito Federal, Municípios/ instituição, subvenção, embaraço ao funcionamento;
vedação/ templos; estabelecimento – art. 19, I – instituição de impostos – art. 150, VI, “b” e § 4o e
ADCT art. 34, § 1o - Acesso em: 02 jan 2015.
18
No entanto, essa situação se modificou com a Proclamação da República em
1889, quando ocorreu uma separação entre a Igreja e o Estado unidos pela
Constituição de 1824.
Os conflitos que procederam ao golpe republicano, conhecidos por A Questão Religiosa, já evidenciavam a fragilidade da união. O Republicanismo, inspirado no positivismo europeu, rompeu com o padroado e laicizou a educação. A sociedade permanecia católica, mas no horizonte político, a separação entre a Igreja e o Estado era vista como benéfica para o progresso da sociedade (MIKLOS, 2013, p.19).
Apesar da separação entre a Igreja e o Estado, a sociedade brasileira
continuava católica quando, no início do século XX, um novo grupo chegou ao país,
os pentecostais - membros de um movimento surgido e disseminado “entre os
pobres, imigrantes e deserdados nos Estados Unidos”.12
1.2.1. As Raízes Norte-Americanas
Para que se possa entender como o Pentecostalismo surgiu, se desenvolveu
nos Estados Unidos e, depois, se estendeu para além das fronteiras do país, é
fundamental lembrar qual era o contexto social, político e econômico do país,
durante o final do século XIX e início do século XX, quando as consequências da
Guerra Civil (1861-1865) ainda se refletiam na sociedade:
{...} libertação dos escravos negros; tensões raciais; crise prolongada do mundo da agricultura no sul do país; mobilidade populacional em direção às cidades do norte em processo de industrialização; chegada de milhões de imigrantes brancos, que vinham refazer na América laços rompidos pela pobreza e miséria da Europa de então.
13
Campos (2005, p. 105) afirma que a reconstrução dos Estados Unidos
ocorria ao mesmo tempo em que crescia na população a necessidade por uma vida
espiritual e, “o caminho da religião seria um dos mais criativos para isso.”. O autor
destaca que, nesse cenário, e como resultado de um longo processo de mudanças
no campo religioso dos Estados Unidos14, apareceram dois líderes carismáticos que
se tornaram “referências históricas do moderno movimento pentecostal”: Charles
Fox Parham e William Joseph Seymour.
12
CAMPOS, Leonildo Silveira. As Origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouco avaliada, p. 102. 13
CAMPOS, Leonildo Silveira. As Origens norte-americanas do pentecostalismo brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouco avaliada, p. 105. 14
Ibid., p. 113.
19
Charles Fox Parham é considerado pelo autor “uma figura emblemática entre
os pioneiros do pentecostalismo” por ter sido o “primeiro pregador a fazer a ligação
entre experiências extáticas, com manifestações de transes e glossolalias (o falar
em ‘línguas desconhecidas’) e a teoria do ‘batismo com o Espírito Santo’.”. Por outro
lado, Seymour, filho de ex-escravos foi responsável por “catalisar e de descobrir as
raízes africanas do movimento pentecostal”. Para Campos (2005, p. 112), Seymour
valorizava alguns traços da tradição negra, tais como:
{...} oralidade da liturgia; teologia e testemunhos oralmente apresentados; inclusão de êxtase, sonhos e visões nas formas públicas de adoração; holismo
15 quanto às relações corpo-alma; ênfase nos aspectos xamânicos
16
da religião; uso de coreografias e de muita música no culto {...}.
Ainda de acordo com Campos (2005), apesar de figuras fundamentais do
Pentecostalismo, tanto Parham quanto Seymour não representaram algo novo na
trajetória do movimento, mas a continuidade de um caminho religioso que já tinha
sido aberto anteriormente por outros movimentos religiosos cristãos que existiam
não somente nos Estados Unidos.
1.2.2. Pentecostais Históricos
A história dos pentecostais históricos no Brasil está relacionada ao movimento
migratório europeu e às raízes norte-americanas do Pentecostalismo.
Considerada a primeira igreja pentecostal brasileira, a Congregação Cristã foi
fundada em 1910 por um imigrante italiano recém-chegado dos Estados Unidos, é
um exemplo claro da soma desses fatores.
Para que se possa analisar esse acontecimento, é importante lembrar que no
decorrer dos séculos XIX e XX, chegaram ao Brasil cerca de um milhão e
quinhentos mil imigrantes italianos, número que, depois dos imigrantes portugueses,
foi o mais significativo.17
A vinda desses imigrantes vinculava-se a vários aspectos: na região Sudeste
do país, substituía a mão de obra escrava negra; além disso, fazia parte também de
um “projeto político de branqueamento do país” que buscava equilibrar
15
Holismo: no campo das ciências humanas e naturais, abordagem que prioriza o entendimento integral dos fenômenos. Fonte: HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa, p. 396. 16
Xamã: sacerdote com poderes mágicos para curar doentes, prever o futuro e desvendar enigmas. Fonte: HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa, p. 781. 17
PEREIRA, João Batista. Italianos no protestantismo brasileiro: a face esquecida pela história da imigração, p. 88.
20
demograficamente a população negra e a branca e refletia também a preocupação
de que não viessem ao país populações “culturalmente distantes de nosso modelo”,
como ocorrera no início do século com a chegada dos japoneses e, por fim, um fator
bastante importante que marcou a chegada dos italianos ao Brasil era o fato de
serem católicos e a sua vinda ao país poderia fortalecer a religião, separada do
Estado com o advento da República.18
De acordo com Pereira (2004), o movimento pentecostal chegou ao Brasil
através de Luigi Francescon, um italiano nascido em Udine, que tinha 27 anos em
1886, quando emigrou para os Estados e se converteu ao protestantismo, ligando-se
primeiro a uma Igreja Presbiteriana em Chicago, depois, a uma Igreja Batista. Em
1907, Francescon entrou em contato com algumas práticas religiosas centradas no
batismo do Espírito Santo, na cura divina, no exorcismo e, principalmente, na
glossolalia. Nos anos seguintes, Francescon pregou sua mensagem entre os
italianos dos Estados Unidos, reunindo-os em comunidades evangélicas.
A vinda ao Brasil ocorreu “por meio de uma decisão do Senhor”, segundo as
palavras do próprio Francescon. Em São Paulo, ele fundou a igreja primordial que
passou a ser chamada de Congregação Cristã no Brasil, no bairro do Brás,
“predominantemente habitado pelos imigrantes italianos”, onde “com o apoio de
seus patrícios, operários e industriais, consolida a sua igreja”.19
Em 1911, a história do Pentecostalismo no Brasil se cruzou com a história da
imigração europeia e com as raízes pentecostais norte-americanas, mais uma vez,
quando dois missionários suecos convertidos ao Pentecostalismo americano, Daniel
Berg e Adolf Gunnar Vingren, fundaram em Belém do Pará a Assembleia de Deus.
De acordo com a história contada por Berg (1995)20, os dois receberam abrigo
da Igreja Metodista em Belém, no entanto, depois de certo tempo, os membros da
Igreja começaram a perceber mudanças que levavam a Igreja a um caminho
diferente da sua proposta original, o que gerou uma discussão que culminou com a
expulsão de Vingren, Berg e de outros membros, que já começavam a partilhar as
18
Ibidem. 19
PEREIRA, João Batista. Italianos no protestantismo brasileiro: a face esquecida pela história da imigração, p. 88. 20
BERG, David. Daniel Berg – “Enviado por Deus” Disponível em: <http://www.editoracpad.com.br/assembleia/historia/>. Acesso em: 22 out 2014.
21
ideias pregadas por ambos. Conforme Berg (1995) descreve a expulsão da seguinte
maneira:
Acabo de tomar a decisão. De agora em diante, vocês não são mais bem-vindos aqui. Providenciem outra casa para morar e fazer seus cultos. Em seguida, voltou-se para o pequeno grupo e perguntou: Quantos estão de acordo com essas falsas doutrinas? Dezoito dos presentes levantaram as mãos, conscientes de que aquilo acabaria implicando na sua própria exclusão da igreja. (BERG, 1995, p. 97).
Assim, em 18 de junho de 1911, nascia a Missão de Fé Apostólica que, em 11
de janeiro de 1918, foi registrada oficialmente como Assembleia de Deus, embora o
nome já fosse utilizado desde 1916 pelo mesmo grupo religioso. Embora fundada
por imigrantes, era uma igreja brasileira, já que não tinha mais nenhum vínculo com
o exterior e se tornaria a maior igreja pentecostal do mundo, por isso, Vingren e Berg
são considerados pioneiros religiosos, pois deram início ao maior Movimento
Pentecostal do mundo – o Movimento das Assembleias de Deus no Brasil (ADB).
Ao longo dos anos seguintes, o número de fiéis pentecostais cresceu muito e,
como ressalta Mariano (1999, p. 23-48), a separação entre a Igreja Católica e o
Estado - que se tornara laico - foi fundamental. Até aquele momento, final do século
XIX, a atuação da Igreja Católica permeava todas as atividades da sociedade
brasileira; durante o período colonial, era agente de colonização e os padres
atuavam como servidores públicos; durante o Império, controlava as instituições de
ensino e todos os registros das pessoas, desde o seu nascimento até a sua morte,
passando por seu casamento e, embora tenham ocorrido algumas mudanças
durante o Segundo Império, como o apoio do Imperador aos vários protestantismos
(vistos como promotores do progresso), a difusão do Positivismo e da maçonaria, o
Catolicismo ainda era a religião oficial e os outros cultos religiosos só podiam se
desenvolver em ambientes privados. 21 Dessa forma, o secularismo22 possibilitou a
formação e a consolidação do pluralismo religioso no Brasil.
1.2.3. A 2ª Geração – a IPDA
21
Disponível em: <http://filosofiasocialepositivismo.blogspot.com.br/2013/09/historia-da-laicidade-no-
brasil.html>.Gustavo Biscaia de Lacerda - Acessado em: 29 dez 2014. 22
Secularismo: doutrina política que defende que o clero, as instituições e os valores religiosos não devem exercer papel algum no Estado-nação e na esfera pública, de acordo com a definição de Keddie (2003, p. 14-30).
22
Outro momento importante da história desses movimentos religiosos no Brasil
ocorreu durante as décadas de 1950 e 1960, a partir do surgimento de novas
denominações pentecostais.
Um fator pode ser apontado como determinante para essa nova fase de
expansão do Pentecostalismo no Brasil: a chegada de dois missionários norte-
americanos da International Church of The Foursquare Gospel, que fundaram em
1951, em São Paulo, a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular. Essa igreja
deu início ao evangelismo radiofônico centrado na cura divina, utilizando métodos
ousados, criados a partir dos modernos meios de comunicação de massa da época.
Nesse período, além dessa igreja, foram fundadas, entre outras, a Igreja
Evangélica Pentecostal Brasil para Cristo (1955) e a Igreja Pentecostal Deus é Amor
(1962)23. É importante destacar que essas duas últimas possuem raízes totalmente
brasileiras.
1.2.4. As Igrejas Neopentecostais
O final da década de 1970 e início dos anos 1980 marcaram o surgimento de
uma nova vertente pentecostal, o Neopentecostalismo. Como afirma Mariano (1996),
essas igrejas demonstram mais flexibilidade e adaptabilidade à sociedade de
consumo, também mostram muita eficiência no marketing e fazem um vigoroso
evangelismo através da mídia eletrônica, tendo como base para seus preceitos a
“Teologia da Prosperidade”24.
23
PEREIRA, João Batista. Italianos no protestantismo brasileiro: a face esquecida pela história da imigração, p. 88-93; MATOS, Alderi Souza. O Movimento Pentecostal: reflexões a propósito do seu primeiro centenário. 24
A “Teologia da Prosperidade” parte do princípio de que todos são filhos do Rei (Deus, Jesus) e que, portanto, recebem os benefícios dessa filiação em forma de riqueza, livramento de acidentes e catástrofes, ausência de doenças, ausência de problemas, posições de destaque etc. Essa “teologia” oferece fórmulas para que as pessoas consigam fazer com que o dinheiro renda mais, para que evitem acidentes, livrem-se de doenças e problemas, aumentem suas propriedades e vivam uma vida sem dificuldades. Para fundamentar suas ideias, são utilizadas várias passagens da Bíblia, que apontam que Deus é a causa direta da prosperidade dos justos: Gen.39.3,23; Is. 48.15; Ez. 17.9-10; Ne. 2.20. No entanto, ainda com base na própria Bíblia, a “Teologia da Prosperidade” destaca que para que se obtenha a graça e a ajuda de Deus, existe um caminho: • Pelo sofrimento e pela graça de Deus (Is. 53.10), que ensina que o começo de todo empreendimento humano bem sucedido reside na capacidade da pessoa para sofrer; • Pela fidelidade e lealdade a Deus e ao povo de Deus (Jr. 13.7-10; Dn. 6.9); • Pela busca do temor do Senhor (I Cr. 26.5); • Pela prática da justiça (Sl. 1.3); • Pela posse (descida) do Espírito de Deus (Jz. 14.6; 19; 15.14). Texto adaptado da Carta Pastoral publicada pela Igreja Metodista sobre a Teologia da Prosperidade, publicada no dia 5 de junho de 2007. Disponível em: < http://www.5re.metodista.org.br/download/195/carta_prosperidade.pdf>. Acesso em: 02 jan 2015.
23
Para Mariano (1996), no cotidiano dos cultos neopentecostais, “conhecer
Jesus, ter um encontro com Ele e seguir seus ensinamentos constituem, acima de
tudo, meios infalíveis de o converso se dar bem nesta vida e neste mundo,
relegando o velho paraíso celestial a um segundo plano” 25. Os cultos baseiam-se
em promessas e rituais para prosperidade, cura física e emocional, e a libertação de
demônios.
Nos anos 1990, o movimento pentecostal independente levou à criação de
várias outras igrejas, que também acreditam nas propostas da cura e da
prosperidade, mas que têm como público alvo as pessoas da classe média e os
jovens, criando o que Cunha (2007) designa como “formação da cultura gospel”26.
Para Cunha (2007), existe uma nova maneira de atuação dessas igrejas, que
buscam criar e alimentar interesses relacionados ao meio cristão em um público
basicamente formado por jovens de classe média, ávido por consumir.
{...} essa explosão se manifestou na configuração de um novo modo de ser das igrejas: diferentes formas de realização do culto, de expressão verbal e não verbal e de comportamento construídos pelos fiéis, estimulados pela ampla produção fonográfica e pelos espetáculos de promoção destes produtos. (CUNHA, 2007, p. 9).
25
MARIANO, Ricardo. Igreja Universal do Reino de Deus: a magia institucionalizada, p.124. 26
Magali do Nascimento Cunha destaca como consequências da formação da cultura gospel os seguintes aspectos: O privilégio ao lugar da música na prática das igrejas como principal veículo de louvor e adoração, estes compreendidos como a razão de ser cristão e da sintonia com Deus; As propostas modernizadoras para o canto congregacional que acompanham a ênfase na música, como o uso de tecnologia (especialmente a projeção eletrônica de letras ao invés de uso de impressos e a aparelhagem de som sofisticada); Entre os evangélicos, o desaparecimento dos conjuntos musicais (formados principalmente por grupos de jovens) que se apresentavam em momentos especiais nos cultos e o surgimento dos grupos ou ministérios de louvor e dos momentos de louvor no programa do culto (espaço reservado para cânticos coletivos ou não); A adoção de diferentes gêneros e estilos musicais populares (além do rock e das baladas românticas, já aceitos entre os evangélicos há algum tempo) como gêneros para o canto litúrgico, tais como o samba, o sertanejo o axé music e o frevo; Inserção de apresentação danças ou expressões corporais no culto, ao som de músicas cantadas por artistas gospel. Há figurino e maquiagem próprios. O surgimento dos “louvorzões” – programações em que pessoas vão às igrejas para cantar e ouvir a apresentação de cantores e grupos de louvor. Este espaço é mais informal e o modelo é o de espetáculo musical e animação de auditório. Os louvorzões são utilizados como lazer para a juventude e também como atividade de evangelismo. As rádios religiosas passam a ser um meio de comunicação privilegiado. Alguns ouvintes têm as rádios sintonizadas 24 horas. A música gospel disseminada pelas gravadoras especializadas é o repertório musical privilegiado. Alguns adeptos das igrejas recusam-se a ouvir outro tipo de música, e consideram a música e a programação gospel “abençoada”, “a serviço de Deus”. Além do rádio e da produção fonográfica, há outras mídias que alimentam os membros das igrejas, referenciadas na produção musical: programas de clips gospel, programas religiosos de variedades, revistas gospel. Os artistas gospel passam a ser conhecidos, comentados e copiados nos moldes dos artistas “seculares”. Os shows gospel passam a ser programa de lazer, bem como os espaços gospel (bares, livrarias, etc.), onde está liberada a expressão corporal por meio da dança e o consumo de bebidas como cerveja e vinho sem álcool. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv3_2008/t_cunha.htm>. Acesso em: 02 jan 2015.
24
Para difundir suas músicas e produtos, essas igrejas utilizam as mídias
eletrônicas com muita eficiência, entre esses grupos, pertencentes ao
Pentecostalismo Independente de Renovação, encontram-se a Igreja Evangélica da
Graça e a Igreja Renascer em Cristo. Ambas têm um alto investimento nas rádios e
TVs e também marcam sua presença na vida política do país, através da eleição de
seus pastores, seja para as Assembleias Legislativas seja para o Congresso
Nacional, onde com bancadas fortíssimas apoiam ou rejeitam projetos de lei assim
como a concessão de canais de TV, sempre de acordo com os seus interesses.
As igrejas pentecostais e neopentecostais buscam não perder o foco na
constante doutrinação de seus membros e na prospecção de novos fiéis e, para
atingir tais objetivos, utilizam diversas mídias como a internet, o rádio e a televisão.
1.3. Pentecostalismo Midiático
A história da relação entre as igrejas protestantes, pentecostais,
neopentecostais e a mídia é intensa e teve início com a origem do movimento
protestante e a popularização dos livros, no século XVI. Campos (2004, p. 148)
destaca que “{...} aliados à modernidade, os evangélicos precisaram criar, desde
cedo, estratégias para ganhar adeptos e aumentar o seu rebanho na guerra contra
outras modalidades de cristianismo, particularmente a católica.”.
Assim, o caminho para a evangelização trilhado pelos protestantes,
pentecostais e neopentecostais se confunde com a própria trajetória dos meios de
comunicação.
Para entender de que maneira esses caminhos se cruzam, principalmente,
com relação ao uso do rádio, da TV e da internet pelas igrejas pentecostais e
neopentecostais, é necessário voltar às origens norte-americanas do vínculo dessas
igrejas com a mídia.
1.3.1. Pentecostalismo Midiático nos Estados Unidos
É bem provável que no dia 18 de abril de 1906, quando um repórter do jornal
norte-americano Los Angeles Times presenciou um culto conduzido por Brother
Seymour, “o negro profeta da Azuza Street”, não tenha se dado conta da
importância da reportagem que estava realizando, mas a mídia estava registrando
naquele momento um acontecimento histórico, descrito por Campos (2005, p. 110)
como: “uma explosão emocionante de uma religião de origem protestante que
25
estava destinada a ganhar o mundo em menos de um século.”. A partir daquele ano,
Azuza Street se tornaria a “Jerusalém norte-americana”, recebendo caravanas de
pessoas ansiosas por vivenciarem uma “experiência com o Espírito Santo”.27
Entretanto, essa relação entre os pentecostais e a mídia já existia mesmo
antes das pregações de Seymour. Ainda no século XIX, Dwight L. Moody (1837-99)
se transformaria em uma figura representativa do começo da modernização da
pregação evangélica por ter sido um dos primeiros a utilizar os modernos meios de
comunicação de massa em suas pregações, conforme afirma o próprio Campos
(2004):
Entre suas estratégias estava a constituição de comitês locais com um ano de antecedência para meticulosamente planejar a campanha evangelística em uma determinada cidade. Na divulgação do evento usavam-se cartazes, folhetos volantes e publicação nos jornais, convocando a população para assembleias religiosas que reuniam centenas de milhares de pessoas em dias ou semanas para a busca do reavivamento religioso.
28
Era perfeitamente natural que a América protestante e capitalista se
transformasse na “pátria das novas tecnologias comunicacionais aplicadas ao
esforço missionário, cujo lema era ‘pregar o evangelho de Cristo no mundo todo
ainda nesta geração’.” Os Estados Unidos propiciavam um cenário perfeito para que
“ali se desenvolvesse um amplo uso da imprensa, rádio e televisão como forma
preferencial de pregação religiosa.”29
Assim, acompanhando a criação dos modernos meios de comunicação, na
véspera do Natal de 1906, os americanos ouviram uma transmissão pelo rádio pela
primeira vez e, junto com ela, a estreia dos “evangélicos”30, que rapidamente
perceberam o instrumento poderoso de que dispunham para o processo de
evangelizador.
Dois meses depois, {...} a Calvary Episcopal Church passou a transmitir seus serviços religiosos pela mesma emissora, a KDKA, operada pela Westinghouse Electric. No ano seguinte, a National Presbyterian Church de Washington colocou no ar a sua própria emissora de rádio. Também naquele mesmo ano os pentecostais estrearam no rádio por meio da
27
CAMPOS, Leonildo Silveira. As Origens Norte-americanas do Pentecostalismo Brasileiro: observações sobre uma relação ainda pouco avaliada, p. 112. 28
Idem. Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva, p. 150. 29
CAMPOS, Leonildo Silveira. Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva, p. 151. 30
Terminologia empregada por Leonildo Silveira Campos (2004) ao se referir aos protestantes, pentecostais e neopentecostais in Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva.
26
missionária Aimee McPherson (1890-1944), fundadora da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular, que se interessou tanto pela experiência que, em 1924, fundou a sua própria emissora de rádio, a KSFG, que transmitia desde o seu majestoso Angelus Temple, de Los Angeles.
31
A Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular não foi apenas uma das
pioneiras ao adquirir uma emissora de rádio para transmitir seus cultos, a sua
fundadora, Aimeé McPherson (Canadá 1890 – EUA 1944)32, sabia utilizar muito bem
os mais modernos recursos para se comunicar com seus fiéis, transformando seus
cultos em verdadeiros espetáculos que atraíam multidões.
Sua vida como missionária e sua vida pessoal se confundiam. Presença
constante da mídia, sua vida particular teve passagens muito similares às de muitos
astros pop, como o seu mal explicado desaparecimento no dia 18 de maio de 1926,
quando foi com sua assistente para Venice Beach, em Los Angeles, tomar um
banho de mar e escrever um sermão ou a sua morte em 1944 por uma overdose
acidental de pílulas para dormir.
É possível reconhecer nos cultos atuais de diferentes igrejas pentecostais e
neopentecostais, muitas das características que já estavam presentes em suas
pregações. Assim, uma análise mais atenta sobre a vida e a obra da missionária
Aimeé McPherson pode ser bastante esclarecedora para se entender a relação
dessas igrejas com a mídia.
A expressão “Evangelho Quadrangular”, que dá nome à igreja fundada por
Aimeé, vem do livro de Ezequiel, que viu Deus revelar-se com quatro diferentes
faces: um homem, um leão, um boi e uma águia, Mc Pherson equiparou-os a quatro
aspectos de Jesus.33
Matthew Sutton34, seu biógrafo, afirma que ela sabia como usar os recursos
dramáticos para atrair as plateias e, por isso, tornou-se muito popular. Ainda de
31
CAMPOS, Leonildo Silveira. Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva, p. 151. 32
Fonte: The mysterious disappearance of a celebrity preacher, by Naomi Grimley. BBC News, 25 November 2014. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa. 33
Fonte: The mysterious disappearance of a celebrity preacher, by Naomi Grimley. BBC News, 25 November 2014. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa. 34
Ibidem.
27
acordo com ele, o que lhe deu mais popularidade era sua aparente habilidade de
estender as mãos sobre os doentes e curá-los.
Em pouco tempo, McPherson, conhecida como Irmã Aimeé por seus
seguidores, transformou-se em uma sensação viajando pelos Estados Unidos
durante o início dos anos 1920. Sutton também destaca que os sermões de
McPherson não eram comuns, pareciam performances musicais. Ela tinha os
melhores atores, os melhores designers, os melhores figurinos e os melhores
profissionais para a iluminação e a maquiagem. McPherson criava histórias, dramas
nos quais as passagens bíblicas ganhavam vida. Para ver suas pregações, as
multidões eram tão grandes que as filas davam voltas no quarteirão onde se localiza
o Angelus Temple, em Los Angeles, Califórnia.
Zeleny35, arquivista do templo, afirma que os seus sermões eram os melhores
shows da cidade. Para que se tenha uma ideia de como eram esses “shows”, às
vezes, os cenários precisavam ficar prontos de uma semana para outra e, muitas
vezes, McPherson recebia a ajuda de Charlie Chaplin, seu amigo, que costumava
dar-lhe conselhos de como suas produções poderiam funcionar melhor.
Com um estilo de vida de uma superstar36, McPherson construiu uma casa,
sobre uma rocha, acima do Lago Elsinore, a 90 minutos de carro de Los Angeles. A
casa é, na verdade, um castelo influenciado por suas viagens ao Oriente Médio, com
uma passagem secreta da garagem para dentro da casa para que McPherson
pudesse evitar os repórteres, quando quisesse. Segundo Erin Funk37, um pregador
da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular e que serviu de guia para a
jornalista que escreveu o artigo sobre o desaparecimento de McPherson em 1926,
ela era constantemente seguida pelos jornalistas. De acordo com suas palavras:
“Para dar às pessoas uma ideia de como ela era popular e como as pessoas a
seguiam, seria o equivalente da Princesa Diana.”.
Apesar das polêmicas em torno do seu nome, segundo Jane Shaw,
professora de estudos religiosos da Universidade de Stanford, o maior legado de
McPherson foi o fato de ela ter combinado uma forma conservadora de religião com
35
Ibidem. 36
The mysterious disappearance of a celebrity preacher, by Naomi Grimley. BBC News, 25 November 2014. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa. 37
Ibidem.
28
as mídias da modernidade. Ainda de acordo com Shaw, sua estação de rádio, de
várias maneiras, abriu caminho para os modernos tele-evangélicos americanos.38
1.3.1. Pentecostalismo Midiático no Brasil
A combinação apontada pela professora Jane Shaw entre o conservadorismo
da religião e as mídias da modernidade também foi trazida ao Brasil, quando em
1951, a Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular chegou ao país através do
missionário Harold Williams, um ex-ator de filmes de faroeste, que fundou a primeira
igreja em São João da Boa Vista, São Paulo39. Matos (2011) afirma que a chegada
dessa igreja significou o uso “do que havia de mais moderno em termos de mídia: o
uso do rádio; além disso, esse novo ‘estilo’ de pregar levou ao surgimento de novas
igrejas pentecostais no país.”.40
Sobre a eficiência do rádio como meio de comunicação de massa, Campos
(1997, p. 272) aponta que:
A expansão rápida do rádio tornou possível que a humanidade pensasse em deixar para segundo plano a “era Gutemberg” e ingressasse na “era eletrônica”. A sua eficiência, como meio de comunicação de massa se deve, segundo Marshall McLuhan (1969:339,344), à capacidade de ser “uma câmara de eco subliminar cujo poder mágico fere cordas remotas e esquecidas”, porque “as profundidades subilimares do rádio estão carregadas daqueles ecos ressoantes das trombetas tribais e dos tambores antigos. Isso é inerente à própria natureza desse meio, com o seu poder de transformar a psique e a sociedade numa única câmara de eco”.
Entretanto, é importante destacar que antes da evangelização radiofônica
trazida pela Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular, no Brasil, os jornais e
os livros foram muito importantes. O próprio Campos (2004, p. 150-151) destaca
que, em 1865, uma das primeiras providências tomadas pelo missionário
presbiteriano Ashbel G. Simonton no país foi fundar o jornal semanal ‘Imprensa
Evangélica’.
No final do século XIX, os metodistas criaram o ‘Cathólico Metodista’, que
depois mudou o nome para ‘O Expositor Cristão’. Ainda de acordo com o autor, “a
distribuição de livros entre os protestantes foi tão intensa que, no final do século XIX,
38
Ibidem. 39
MATOS, Alderi Souza de. O Desafio do Neopentecostalismo e as Igrejas Reformadas. Disponível em: < http://www.mackenzie.br/index.php?id=7090&L=6>. Acesso em: 3 jan 2015. 40
Ibidem.
29
já circulavam no Brasil jornais dos presbiterianos, batistas, metodistas e de outros
grupos religiosos.”41.
Depois do uso dos jornais e do rádio (nos anos 1950) para a evangelização
no Brasil, o surgimento da televisão, um novo fenômeno da comunicação de
massas, levou algumas igrejas pentecostais a se adaptarem a essa nova realidade.
Inaugurada no Brasil no dia 18 de setembro de 1950, em São Paulo, por
Assis Chateaubriand, a TV Tupi-Difusora surgiu quando o rádio era o veículo de
comunicação mais popular do país, atingindo a comunidade brasileira em quase
todos os estados. Mattos (1990) explica que a televisão brasileira teve, desde o
começo, algumas características diferentes da TV americana, fundada sob a
influência do cinema. As emissoras brasileiras, com exceção das estatais, sempre
tiveram sua programação voltada para as populações urbanas e o lucro.42
Entretanto a história da televisão começara vinte anos antes nos Estados
Unidos, quando fora aperfeiçoada nos anos 1930 e, durante os anos 1940, apesar
da Segunda Guerra Mundial, transformara-se no carro-chefe da comunicação
massiva, primeiro nos EUA, depois no restante da América Latina e outras partes do
mundo. De acordo com Campos (2004, p. 157), desde o início, a televisão se
constituiu nos Estados Unidos, assim como o rádio, um meio perfeito de
comunicação de massa dentro do mercado capitalista.
Desde o início, os “evangélicos”43 perceberam o potencial da televisão como
meio para divulgar sua mensagem, porém as diferenças existentes no pensamento
da sociedade americana, durante os anos 1960, desempenharam um papel
fundamental para que eles atuassem de maneira ainda mais contundente no
processo de captação de novos seguidores e de fidelização dos antigos.
Naquele momento, havia um embate na sociedade norte-americana; de um
lado, os valores conservadores de uma sociedade branca, criada sob o espírito
protestante capitalista e, do outro, a insatisfação representada pelo desejo de
ruptura com esse modo de vida. Essa necessidade de mudança se refletia nas
41
CAMPOS, Leonildo Silveira. Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva, p. 151. 42
MATTOS, Sérgio Augusto Soares. Um perfil da TV Brasileira (40 anos de história: 1950-1990), p. 5. 43
Terminologia empregada por Leonildo Silveira Campos (2004) ao se referir aos protestantes, pentecostais e neopentecostais no texto: Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva.
30
reivindicações pelos direitos civis, nas manifestações contra a Guerra do Vietnã e
nas questões referentes à liberdade sexual e ao uso de drogas. Para Hobsbawm
(1995, p. 327), o maior significado de tais transformações para os americanos foi
que, “implícita ou explicitamente, rejeitavam a ordenação histórica e há muito
estabelecida das relações humanas em sociedade, que as convenções e proibições
expressavam, sancionavam e simbolizavam.”.
Esse contexto coincide com um período em que houve uma diminuição de
“membros nas denominações religiosas tradicionais” o que, de acordo com Campos
(2004, p. 154), aconteceu “porque as pessoas passaram a emigrar para
comunidades religiosas alternativas, de feição fundamentalista e pentecostal, como
uma forma de refúgio para uma fé ameaçada por valores liberais e secularizantes.”.
Assim, não é por acaso que o número de programas “evangélicos” tenha
aumentado significativamente durante esse período.
No Brasil, o uso da televisão pelos protestantes e pentecostais ocorreu a
partir de 1978, quando a mídia passou “a vender tempo para alguns tele-
evangelistas norte-americanos”44. Entre os mais conhecidos estavam Rex Humbard
e Jimmy Swaggart que, devido ao apoio recebido pela Assembleia de Deus
brasileira, ficou no ar por vários anos.45
Campos (2004, p. 161) aponta que, no mesmo período, os pentecostais
brasileiros também passaram a comprar horário na TV, mas logo perceberam que,
para realizar programas com qualidade, precisariam adquirir seus próprios canais de
TV. Para isso, as igrejas teriam que mudar a maneira de captar os recursos
financeiros, tornando-a mais eficiente, centralizando as ofertas em um caixa único e
aperfeiçoando as formas de gerenciar tais recursos. O autor ainda explica que esses
recursos teriam que ser livres para serem utilizados em transações acima dos cinco
milhões de dólares à vista.
Essa perspectiva somente se tornou realidade com a consolidação da IURD, fundada por Edir Macedo, Romildo Ribeiro Soares e Roberto Augusto Lopes. Macedo, um antigo membro da Igreja de Nova Vida e ex-funcionário da Loterj, a partir de 1977 começou a montar o seu próprio empreendimento religioso, alijando os seus companheiros.
46
44
CAMPOS, Leonildo Silveira. Evangélicos, pentecostais e carismáticos na mídia radiofônica e televisiva, p. 159. 45
Ibidem. 46
Ibid., p. 161.
31
Com isso, a IURD tornou-se o exemplo mais bem-sucedido dessa nova
maneira de empreendimento religioso no Brasil, cujos bons resultados também são
fruto da eficiência do marketing realizado pela igreja e que envolve vários meios de
comunicação.
{...} rádio, televisão, jornais, revistas e sites na Internet caminham juntos, empregando as mesmas ênfases para levar a qualquer custo as pessoas para o “endereço da bênção” – os templos –, transmitindo na mídia os rituais realizados nos vários templos, principalmente nos megatemplos construídos no Rio de Janeiro e em São Paulo, inserindo vinhetas e jingles, ressaltando os milagres, prodígios e resultados alcançados pela sua autoproclamada eficiência simbólica. {...} (CAMPOS, 2004, p. 161).
A IURD não foi a única a seguir esse caminho, é possível destacar outras
igrejas pentecostais e neopentecostais que se utilizam desses meios, mas que dão
ênfase especial à televisão como forma de captar recursos e novos seguidores.
Valendo-se do carisma dos seus líderes, das histórias de curas milagrosas e dos
exemplos de exorcismo, é possível citar entre os programas mais conhecidos:
Mensagem de Fé de R. R. Soares, ex-companheiro de Edir Macedo na IURD e os
programas do Apóstolo Valdermiro Santiago, fundador de uma igreja dissidente da
IURD, a Igreja Mundial do Poder de Deus – IMPD.
Trilhando o caminho inverso, a IPDA proíbe os seus membros de possuírem
aparelhos de TV em suas casas e critica constantemente a televisão, ainda que
utilize as cadeias de rádio e a internet para pregar a sua mensagem. Mas a IPDA é
uma exceção e, como afirma Campos (2008), “os pentecostais chegaram à TV para
ficar”.47
Entretanto, é importante observar que, como o próprio autor afirma, os
diferentes meios de comunicação utilizados pelas igrejas - sejam elas mais
tradicionais ou modernas - não são excludentes:
{...} o advento da imprensa não representou o abandono da fase da comunicação face-a-face; a chegada da fase da comunicação midiática incorporou as formas anteriores de comunicação. A comunicação na WEB é um bom exemplo disso. Nela a página escrita, as imagens, sons e a busca da interatividade criam condições para o que John B. Thompson (1998:159) chama de “nova ancoragem da tradição”, quando então, ao invés de destruição da tradição, há um deslocamento da mesma entre “populações migrantes”, surgindo nesse contexto “tradições nômades” e “conflitos culturais”. Por outro lado, grupos como os da Igreja Pentecostal “Deus é amor” (refratários ao uso da televisão) mantém um site na Internet. Grupos
47
Campos, Leonildo da Silva. Evangélicos e Mídia no Brasil, s/p.
32
não oficiais da Congregação Cristã no Brasil (refratários ao uso da imprensa, rádio e televisão) têm sites com músicas, notícias, fotografias, reprodução de documentos iniciais da Igreja e informações na rede mundial de computadores.
48
Para Cunha (2007), o elemento essencial nas práticas pentecostais e
neopentecostais atuais é que elas buscam atender às demandas do mundo urbano:
A pregação da prosperidade e da guerra espiritual, a oferta de cura para doenças e de exorcismo do mal são alívios diante da degradação da vida promovida pela explosão urbana. O dualismo sagrado-profano, igreja-mundo, mantido na pregação evangélica, proporcionou a criação das tribos evangélicas – jovens que unem lazer e vivência religiosa, como nas noites de sábado - e dos espaços de consumo e lazer evangélico. (Cunha, 2007, p. 66)
A autora denominou esse fenômeno de “explosão de uma cultura gospel”.
Para Ferreira (2011)49, a cultura gospel unifica as diferentes formas em que a fé se
expressa através do uso das tecnologias de informação. O autor aponta que quase
todas as igrejas do segmento gospel têm computadores:
{...} dependendo do tamanho da congregação, estas possuem redes de computadores instalados; sistemas integrados de gestão funcionando, conexão com a internet, desde comunidades virtuais em sistemas colaborativos como redes sociais a páginas institucionais que podem ser curtidas por usuários {...}
Ferreira (2011) ainda explica que essas igrejas oferecem vários serviços e
produtos pela internet e que é possível agendar casamentos, batismos, encontros de
jovens, de mulheres ou de empresários. Além disso, muitas dessas igrejas têm
livrarias internas onde são encontrados vários artigos gospel, entre eles, CDs,
DVDs, Bíblias, chaveiros, camisas com mensagens bíblicas e óleos para unções.
Para ele, “a modernização tecnológica destas igrejas é um instrumento claro de
estratégia de influência e captação do público jovem”, em que até mesmo as igrejas
mais resistentes à modernidade, como é o caso da IPDA, renderam-se ao uso dos
computadores.
Adepta do rádio como forma de captar novos seguidores e fidelizar os
antigos, a IPDA também passou a utilizar a internet sem, no entanto, abrir mão do
controle exercido sobre seus seguidores.
48
Campos, Leonildo da Silva. Evangélicos e Mídia no Brasil, s/p. 49
FERREIRA, Alexandre. O Uso das Tecnologias de Informação como instrumento de poder no pentecostalismo brasileiro, p. 10.
33
O próximo capítulo tem como objetivo principal analisar a contradição que se
estabelece entre o uso de um meio tão moderno de comunicação como a internet
pelos membros da IPDA e a proibição imposta por essa igreja aos seus seguidores
no que se refere ao acesso à televisão.
Imagem 1 – Aimeé McPherson
Fonte: Google50
50
Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa.
34
Imagem 2. Manchete do Jornal Los Angeles Times sobre o desaparecimento
de Aimee McPherson
Fonte: Google51
Imagem 3 - Aimeé Mc Pherson pregando
Fonte: Google52
51
Ibidem. 52
Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa
35
Imagem 4- Angelus Temple, Igreja do Evangelho Quadrangular, construído em 1923
Fonte: Google53
Imagem 5 – A casa de Aimeé McPherson em Los Angeles
Fonte: Google54
53
Ibidem. 54
Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015. Tradução nossa.
36
Imagem 6 – Mc Pherson em foto disponibilizada pela própria Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular
Fonte: Google55
2. A IPDA E A MÍDIA TRADICIONAL
55
Disponível em: <http://www.bbc.com/news/magazine-30148022>. Acesso em: 04 jan 2015.
37
Com o objetivo de captar novos membros, principalmente, os mais jovens e
fidelizar os antigos, a maioria das igrejas pentecostais têm se mostrado cada vez
mais flexíveis com relação ao comportamento dos seus seguidores. A IPDA, no
entanto, mantém-se fiel aos seus princípios, estabelecendo um controle rígido sobre
os fiéis, proibindo que assistam à televisão, acessem os sites considerados
impróprios pela igreja ou, até mesmo, ouçam uma rádio que não seja da Igreja.
Ainda que tenha passado a utilizar os recursos disponibilizados pela internet, a IPDA
continua irredutível a respeito de outros aspectos da modernidade. Para que se
possa entender melhor como os membros dessa igreja aceitam tal controle e de que
maneira a IPDA resolve a contradição entre o uso da internet e a proibição da TV,
principal objetivo deste capítulo, primeiro é necessário entender a estrutura
evangelizadora criada por Davi Miranda, seu fundador.
2.1. A Origem da IPDA
De acordo com as informações do site da IPDA, essa igreja foi fundada por
David Martins Miranda, nascido na cidade de Reserva, no Estado do Paraná, em
1936, onde viveu toda a sua infância e juventude. Era filho de agricultores que
frequentavam a Igreja Apostólica Católica Romana fervorosamente durante a
infância e juventude de Davi Miranda 56.
David Miranda veio para São Paulo e foi viver com sua irmã mais velha, que
já havia se convertido a uma religião protestante. A sua conversão é relatada no site
da IPDA, David Miranda conta que, durante uma caminhada, ao ouvir um cântico,
parou para ouvir o som que vinha de uma igreja onde um pastor pentecostal falava
sobre assuntos que o atraíam, pois tudo o que o pastor falava, parecia ser
direcionado diretamente à sua vida. Ainda segundo suas palavras, ao mesmo tempo
em que acabara de receber uma benção de Deus, ouviu, durante uma noite de sono,
que Deus lhe pedia para abrir uma igreja chamada “Deus é Amor”.
Antes de fundar a IPDA, Davi Miranda e seu cunhado, o Pastor Manuel Mello
(1929 – 1990), haviam participado juntos de comunidades pentecostais ligadas à
Igreja Assembleia de Deus. Seu cunhado decidiu criar um programa de rádio
chamado “A Voz do Brasil para Cristo”. Posteriormente, após um desentendimento
56
Disponível em: < http://www.IPDA.com.br/conteudo.php?submenuid=2>. Acesso em: 04 nov 2014.
38
entre eles, o Pastor Manuel Mello fundou uma nova igreja, a Igreja Pentecostal “O
Brasil para Cristo”, a primeira igreja genuinamente brasileira.
Foi nesse clima que um dos promissores participantes dessas cruzadas, Manuel de Mello, iniciou o seu próprio programa, A Voz do Brasil para Cristo, pregando a realização de milagres por meio da interação espiritual entre o locutor e ouvinte. Mello, à revelia da sua tradição de origem (Assembleia de Deus), fez do rádio a principal alavanca para a fundação da primeira igreja pentecostal, genuinamente brasileira, a Igreja Pentecostal “O Brasil para Cristo” (CAMPOS, 2004, p. 1461).
Em junho de 1962, foi a vez de David Miranda fundar sua própria igreja, a
IPDA, na Vila Maria, em São Paulo. Segundo Assmann (1986), Davi Miranda levou
suas características pessoais para a constituição de muitos ideais que regulam a
participação nessa igreja. Essa ideia se confirma no próprio site da IPDA57, onde
consta a informação de que Davi Miranda desenvolveu a igreja sob as suas próprias
regras, todas fundamentadas por ele nas escrituras bíblicas. Além da igreja, o
missionário criou o programa “A Voz da Libertação”, pagando inicialmente pela
concessão do tempo.
Seu fundador e chefe máximo, o missionário Davi Miranda, embora cunhado do Pastor Manuel de Mello, desentendeu-se e separou-se dele, montando aos poucos seu próprio império. Seu estilo pentecostal é mais agressivamente milagreiro e chocantemente comercialesco. (ASSMANN, 1986, p.129).
Pouco tempo depois de sua fundação, a igreja transferiu-se para o centro da
cidade de São Paulo e, em 1979, foi criada a “sede mundial”, o Templo da Glória de
Deus, na Baixada do Glicério, um dos maiores templos evangélicos do Brasil e o
maior da IPDA no mundo, pois, segundo as informações do site, a IPDA conta com
mais de 11 mil igrejas em 136 países58.
Criada à imagem e semelhança de seu líder, a Igreja Pentecostal Deus é
Amor tem um RI – Regulamento Interno -, como todas as instituições, nele a igreja
esclarece seu Ritual59, determinado como lei, que trata de como os fiéis devem se
vestir, portar na sociedade e na vida religiosa, além de apontar como devem viver e
participar das comunidades religiosas de sua igreja.
57
Disponível em: www.IPDA.com.br 58
Disponível em: www.IPDA.com.br 59
Ritual – Manual contendo os ritos de uma entidade religiosa ou social, e a forma de executar as cerimônias. – Há rituais para as mais diversas ocasiões: nascimentos, debutantes, casamentos, funerais e rituais para as ações diárias, no decorrer do ano, ou para determinadas ocasiões: catástrofes, inauguração etc. Schwikart, Georg. Dicionário Ilustrado Das Religiões, p. 97.
39
Apesar de outras igrejas pentecostais já se mostrarem mais flexíveis com
relação às exigências nos costumes de seus membros, a IPDA ainda mantém um
grande controle sobre seus seguidores para que não se percam ou não se
desgarrem do rebanho, que não sejam submetidos aos malefícios da sociedade
livre, dos meios de comunicação que, de acordo com o RI da igreja, podem trazer
ideias erradas e diferentes daquilo que seu líder Davi Miranda afirma aos seus fiéis
ser o melhor para suas famílias.
Assim, as leis da igreja devem ser seguidas e, quando não o são, aquele que
as desrespeita dá a impressão para os demais de que está contra o RI da IPDA e
para reverter a situação, a igreja usa de todas as mídias e estratégias para
convencer seus fiéis do caminho certo.
A respeito da submissão e do fundamentalismo60 religiosos, Miklos (2013, p.
6) afirma que: “Para um fundamentalista quem não se submete à sua crença está
contra ele. Os fundamentalistas visam instaurar uma hegemonia cultural e política da
sua própria tradição.”.
Entre as diversas regras presentes no RI da IPDA há um capítulo exclusivo
para proibir e esclarecer as “disciplinas”61 impostas aos membros que descumprem
a proibição de ter um aparelho de TV em casa.
Porém não existem apenas punições para os membros da IPDA, pois, se por
um lado a Igreja mostra-se irredutível com relação ao descumprimento das regras,
por outro, para aqueles que seguem os preceitos, a IPDA - como outras igrejas
pentecostais - oferece a certeza de que os fiéis podem se sentir amparados e
60
Fundamentalismo – Originalmente era a designação dos protestantes norte americanos, que queriam atender ao pé da letra cada versículo da Biblia. O movimento fundamentalista surgiu por volta de 1875. Aos conhecimentos científicos sobre a criação do mundo compunha a narrativa bíblica. Hoje em dia são tidas como fundamentalistas todas as correntes religiosas que se apoiam no sentido literal da Escritura Sagrada, e não desenvolvem sua doutrina em consonância com o mundo moderno e as descobertas científicas (Exegese) – Do Latin “fundamentum” = alicerce, base, fundamento. HINNELLS, John R. – Dicionário das religiões, p. 47. 61
Disciplina da Igreja – As normas cristãs para a vida religiosa e moral incluem sistemas de regras canônicas (CÂNON). Estas se desenvolveram com base nas regras dos primeiros concílios, bispos e papas, mais tarde aprimoradas como no Corpus Juris canonici do CATOLICISMO ROMANO. (A Igreja ORTODOXA desenvolveu o próprio sistema)... A maioria das igrejas elaborou regras administrativas por hierarquias de cortes eclesiásticas. Algumas, como o catolicismo romano, o anglicanismo e o PRESBITERIANISMO fizeram uso, em várias ocasiões, da excomunhão – penalidade final da exclusão dos SACRAMENTOS. Antigamente, isso supunha, outrossim, penalidades civis. O termo “anátema” foi empregado outrora em relação à exclusão da Igreja por HERESIA. HINNELLS, John, R. Dicionário das Religiões, p. 85.
40
seguros, pois sempre serão atendidos em seus pedidos, já que cada um tem o
poder de transformar sua vida, gerando riqueza e saúde.
A propósito da palavra riqueza, cabe um esclarecimento, embora a IPDA
mencione a palavra, aborda o assunto de uma maneira bem diferente da que é feita
pelos neopentecostais, adeptos da Teologia da Prosperidade. De acordo com a
visão pentecostal, compartilhada pela IPDA, Deus concede riquezas e prosperidade
a qualquer um que tenha fé e faça por merecer, mas isso não significa que todos os
crentes são ou serão ricos um dia da sua vida na terra. Para comprovar essa ideia,
baseiam seu argumento em algumas passagens bíblicas como em Mateus versículo
6, 19-33 e Timóteo versículo 6, 6-10. A IPDA afirma que tanto no Antigo, quanto no
Novo Testamento, há profetas e servos de Deus que eram pobres e que nem por
isso foram menos abençoados por ele, rejeitando, dessa maneira, a Teologia da
Prosperidade, que faz a defesa incondicional da riqueza e do sucesso para todos os
crentes.
2.2. Templo como Ambiência Comunicacional
O pentecostalismo chegou ao Brasil com o objetivo missionário e focou sua
atenção em uma população mais carente que vivia em regiões do interior do país e
no campo. Essas pessoas tinham padrões rigorosos de conduta moral que também
eram seguidos por esses missionários pentecostais, como explica Cunha (2007):
No final do século XIX e no início do século XX, as pessoas que viviam no campo eram orientadas por um rígido código moral que procurava manter cada um em seu devido lugar, o que parecia responder perfeitamente às posturas pietistas pregadas pelos missionários; tanto as elites rurais como os pobres eram orientados pela tradição. (CUNHA, 2007, p.40)
Durante as décadas de 1960 e 1970, houve um aumento significativo do
crescimento urbano no país. Desde a sua criação em 1962, a IPDA concentrou seus
esforços nas periferias das grandes cidades para onde migravam as pessoas que,
vindas do campo e do interior, buscavam uma vida melhor nas grandes cidades. Ao
construir pequenas igrejas junto a essas comunidades que se formavam, a IPDA
convertia, guiava e orientava esses indivíduos para que seguissem os costumes
tradicionais e severos da igreja, mas na verdade, o que ocorria era um reencontro
dessas pessoas com suas próprias referências morais, que ainda permaneciam as
mesmas, apesar das mudanças nos costumes.
41
Com isso, o crescimento da igreja foi inevitável, e a IPDA precisou ampliar o
controle exercido sobre seus fiéis, o que podia ser feito com tranquilidade devido ao
tamanho dos templos, esses espaços além de facilitarem a conversão permitiam que
fosse exercido um controle sobre essas pessoas. Entretanto, conforme esclarece
Oliveira (2009), essa não foi uma estratégia utilizada apenas pela IPDA, outras
igrejas pentecostais faziam e, ainda fazem o mesmo.
Pesquisadores do fenômeno religiosos vêm apontando que as igrejas pentecostais têm na periferia urbana das grandes cidades seu maior número de adeptos. Destaca-se que a presença dos pentecostais em regiões mais afastadas é algo constante. A presença avassaladora dos pentecostais na periferia pode ser relacionada a diversos fatores, dentre eles, a própria rede de sociabilidades criada pelas igrejas quando esses indivíduos se convertem em sua comunidade os sujeitos passam a ser amparados pelos irmãos criando um ambiente de sociabilidade onde, pelo menos em parte, os indivíduos se sentem amparados. A relação de convivência mais estreita, ao passo que cria indivíduos mais seguros, fortalece também o sentimento de pertença À comunidade religiosa, formando assim um círculo de convivência e partilha. Sentimentos importantes em ambiente onde a assistência do poder público é quase sempre ausente e grande parte das pessoas sobrevivem com pouco ou quase nada. (OLIVEIRA, 2009)
62
A estratégia da IPDA era alugar pequenos salões localizados nas periferias,
com pouca infraestrutura que, depois, eram transformados em templos religiosos
para disseminar suas ideias. Conforme a comunidade crescia, os templos eram
levados para locais mais estruturados, embora continuassem nas periferias.
62
Oliveira, Wellington Cardoso de. Juventude, Religião e Poder: um estudo dos conflitos geracionais na Igreja Pentecostal Deus é Amor Na periferia de Goiania. São Bernardo do Campo, 2009. Disponivel em: < file:///C:/Users/marcosfs/Desktop/Paginas%201%20a%20184.pdf>. Acessado em: 02 jan 2015.
42
Imagem 7 – Templo típico da IPDA nas periferias das grandes cidades
Fonte: www.IPDA.org.br63
Essas pequenas comunidades ainda são a base da IPDA, pois é nelas que se
aprende a doutrina, são poucas pessoas em espaços pequenos o que permite que
os próprios membros se fiscalizem, focando sempre o respeito ao RI da IPDA e às
severas penalidades chamadas de “disciplinas” (aplicadas aos fiéis que
descumprem as regras) que podem variar desde simples advertências, afastamento
temporário do dia a dia da Igreja até a expulsão.
É nessas igrejas da periferia que ocorre o vínculo com a IPDA, a proximidade
entre os membros ajuda a formar e fixar um objetivo dentro do imaginário coletivo
dos participantes dessa comunidade.
O controle exercido não é eletrônico, mas é bem rígido, cada membro tem
uma credencial de identificação em que são controlados: a frequência ao culto, a
presença à Santa Ceia, os jejuns e as doações feitas à IPDA, entre outros aspectos.
Quando ocorre qualquer descumprimento do que foi determinado, os próprios fiéis
costumam se autodenunciar (devido à “consciência pesada”) ou são delatados, em
nome de Deus, por outros membros da comunidade, preocupados com o
cumprimento das regras que levarão aquele que aceitou Deus, para o “Paraíso”.
63
Acessado em: 15 out 2014.
43
Pesavento (1997) explica de que maneira cada sociedade cria para si própria
um sistema de representação coletiva que se constrói a partir de ideais e imagens
que serão a sua referência para a vida e para a compreensão do mundo que a
cerca:
[...] toda sociedade elabora para si um sistema de representação coletiva, constituída de ideais-imagens que formam como que um esquema de referência para a vida e a compreensão do mundo. Este imaginário social, assim constituído, dá legitimidade à ordem vigente, orienta, pauta e hierarquiza valores, estabelece as metas e constrói seus mitos. (PESAVENTO, 1997, p.14).
Nesses pequenos templos, os cultos são mais constantes e interativos, pois
há uma proximidade muito grande entre todos os membros da Igreja: pastores,
obreiros e o “staff básico”64. Tudo acontece aos olhos dos dirigentes da Igreja que se
preocupam, orientam e controlam o seu rebanho. O pequeno templo permite um
controle visual absoluto sobre todos, inclusive com relação às vestimentas, às
músicas, ao consumo de produtos gospels etc. Dessa maneira, existe:
[...] a produção de um imaginário coletivo, traduzido em ideias imagens da sociedade global, pode ter ou não correspondência com o que se poderia chamar de verdade social, uma vez que ele se comporta como utopias e, em condições capitalistas da existência, liga-se ao processo de mercantilização da vida. (PESAVENTO, 1997, p. 41).
O controle exercido pelos fiéis sobre si mesmos e de uns sobre os outros é
fundamental para a sobrevivência da igreja, nenhum indivíduo pode se afastar do
grupo, todo aprendizado objetiva a sua preservação, assim, a afirmação de
Pesavento (1997, p. 14) de que: “um processo educacional, que é em si, mecanismo
de adestramento e veículo ideológico” se aplica perfeitamente nesse contexto, em
que o fiel é levado a crer que não existe mundo fora da igreja, fora da comunidade.
No caso das igrejas pentecostais, esse plano maior está relacionado à
“vontade de Deus” e há milênios tem estado presente nas culturas religiosas, que
ordenam obediência e prometem grandes benefícios em troca, seja durante a vida,
seja após a morte. Danny-Robert Dufour (2014, p, 11) afirma que vivemos durante
mais de 2000 anos, “{...} na promessa da salvação e, ao mesmo tempo, sob o julgo
64
Normalmente há apenas um pastor que se encarrega das funções mais importantes, delegando outras para membros mais ativos.
44
da grande narrativa monoteísta. Este discurso enunciava que a promessa de resgate
futuro implicava em pesados constrangimentos presentes.”.
Na relação que se estabelece entre a exposição universal e os cultos
religiosos pentecostais, o objetivo maior de conhecimento não é uma maneira
pedagógica neutra, há a intenção de que todos permaneçam dentro da Igreja. As
pessoas que frequentam os cultos são sempre as mesmas, todos os fiéis se
conhecem e formam uma comunidade quando participam desse local sagrado, todos
fazem parte de uma experiência religiosa singular. E é nesse ambiente que a IPDA
se desenvolve:
Com exceção das denominações que priorizam o evangelismo de massas e realizam cultos em grandes catedrais (...), as igrejas pentecostais tendem a formar comunidades religiosas relativamente estáveis e pequenas. Isto é, elas são compostas por congregações e pequenos templos em que todos se conhecem, residem no mesmo bairro e compartilham coletivamente crenças, saberes, práticas, emoções, valores, os mesmos modos e estilos de vida, moralidade e posição de classe. (...) São laços gerados por meio do contato pessoal, de relações face a face, estabelecidas em frequentes e sistemáticas reuniões coletivas realizadas semanalmente, ano após ano. Eles tendem, assim, a formar relações fraternais de amizade, de confiança mútua e também de solidariedade com os ‘irmãos necessitados. (MARIANO, 1999, p. 248).
Para a maioria dos membros da IPDA, que vive nas periferias das grandes
cidades, os templos da Igreja, próximos às suas casas, representam o local mais
sagrado no seu dia a dia, pois é onde aprendem sobre a religião, seguem seus
costumes, controlam e são controlados pelos outros membros da comunidade que
prezam o cumprimento das regras.
Enquanto nesses pequenos espaços a distância entre o público, os pastores
e os altares é mínima e existe muita interatividade entre todos; no Templo da Glória
de Deus, os cultos realizados causam outra impressão, não apenas devido às suas
dimensões, mas por causa da presença do Missionário fundador da igreja, Davi
Miranda. A atmosfera do templo é de profunda sacralidade, já que além de
carismático, o pastor foi o ser humano que recebeu a missão do Espírito Santo para
criar a IPDA. A história da benção que David Miranda recebeu de Deus é aceita
como verdade irrefutável por todos os seguidores da IPDA. Contada e recontada no
45
site da igreja, nos vídeos postados no YouTube65, no Facebook66 e apresentada nos
programas de rádio, convence os fiéis do motivo da existência da igreja.
Nos templos das periferias transmite-se a ideia da importância dos fiéis
assistirem aos cultos no Templo da Glória de Deus, ir ao templo é como uma
peregrinação em que ocorre uma profunda experiência de sacralidade. O peregrino67
da IPDA caminha para um lugar onde a presença de Deus é mais tangível, ir ao
Templo da Glória de Deus é viver a experiência da presença de Deus.
Durante os cultos, Davi Miranda fala para um público de mais de sessenta mil
pessoas, a partir de um altar especial, semelhante a um pedestal. Ele é o pastor, o
líder amado e idolatrado que se coloca em um altar verticalizado, mais alto que
todos os outros, o missionário parece levar o público a crer que ele seja um deus,
em um ato de sagrar68 o momento e a pessoa.
Dadas as dimensões do Templo da Glória de Deus, para que as pessoas
possam ver o seu líder e ouvi-lo são necessários inúmeros recursos midiáticos. São
usados telões e sistemas de amplificação de som, mesmo que o altar ou palco do
templo religioso tenha sido construído a quase 2 metros de altura para que todos os
fiéis presentes pudessem assistir a cerimônia religiosa, o uso de tais recursos é
fundamental, tal observação parece óbvia, no entanto, é importante lembrar que há
poucos anos, não apenas a IPDA, mas todas as igrejas pentecostais atribuíam
características demoníacas aos recursos da mídia em geral.
65
Uma teoria do significado encontrado em um site da internet, diz que o termo vem do Inglês “you”
que significa “você” e “tube” que significa “tubo” ou “canal”, mas é usado na gíria para designar
“televisão”. Portanto, o significado do termo “YouTube” poderia ser “você transmite” ou “canal feito por você”. http://www.significados.com.br/youtube/ - acesso em 2/01/2015.
66 É a mais popular rede social da história. Seu nome origina-se do apelido do livro artesanalmente
preparado que passava de mão em mão entre os calouros das universidades americanas e que servia para que eles começassem a conhecer seus colegas na instituição — um maço de páginas encadernadas de forma mais ou menos tosca, contendo fotos de estudantes e algumas informações sobre cada um. O sistema nasceu das mãos de estudantes de computação da universidade de Harvard — Mark Zuckerberg, Eduardo Saverin, Dustin Moskovitz e Chris Hughes. http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/a-origem-do-facebook-4934191 - Acesso em 19/02/2015. 67
Peregrinos – Aquele que caminha para um lugar onde a presença de Deus ou de deuses é mais palpável: templos ou igrejas, estátuas de Buda, a cidade de Meca, o Rio Ganges, mestres notadamente sábios, lugares santos e muito mais – Do Latin “peregrinus” estranho, relíquias, romaria. SCHWIKART, Georg. Dicionário Ilustrado das Religiões, p 85. 68
Sagrar – Ato de “santificar” pessoas ou coisas para o culto divino, Igrejas, cálices, também sacerdotes e bispos. HINNELLS, John R. Dicionário Ilustrado das Religiões, p.100.
46
Essa situação mudou gradativamente, algumas igrejas se tornaram mais
flexíveis e abandonaram ou alteraram completamente seus usos e costumes de
santidade na música, nas vestimentas e nas palavras para atingir um público mais
jovem e pertencente a outras classes sociais; em outros casos, as mudanças
ocorreram pela necessidade de viabilizar determinados projetos em que os recursos
da mídia eram fundamentais, caso dos cultos realizados no Templo da Glória de
Deus. Essas modificações sempre foram muito bem fundamentadas nas passagens
bíblicas e, assim, tornaram-se sagradas e aceitas por todos.
No templo principal da IPDA, além de ser colocado em um altar em forma de
pedestal, David Miranda é protegido por um vidro “supostamente a prova de balas”,
devido a um atentado69 que sofreu dentro da antiga sede da igreja, em 1992. Esse
altar fica dentro de uma área afastada da comunidade, garantida por um cordão de
seguranças que impede os fiéis de se aproximarem. E é dessa maneira que o
homem que ouviu de Deus o pedido para construir uma igreja prega para seus fiéis,
em um altar a dois metros do chão, isolado e protegido. Davi Miranda certamente
discursa como um ser “divinizado”, porque tudo o que é dito por ele, é verdade, é
sagrado e é para poucos.
No entanto, quando um fiel assiste a um culto na sede da IPDA, na verdade,
não escuta o som real, mas uma cópia absorvida e retransmitida por microfones e
câmeras eletrônicas. Segundo Obici (2006)70, “a condição da escuta é a partir das
mídias” (telefone, rádios, alto-falantes, TV, Internet etc.) e territórios sonoros
delineados pelo advento do som instantâneo ou gravado nos dias de hoje, com a
tecnologia presente em dispositivos de registro, ampliação e na difusão de Som.
Esse fenômeno é conhecido pelo termo “Esquisofonia”71.
Ainda que a entonação e a informação cheguem ao ouvinte como a Igreja
pretende esses cultos72 precisam da ajuda da tecnologia para que os presentes
possam participar do evento, já que o locutor principal se encontra em uma cápsula
69
Video disponível nos anexos e em: <https://www.youtube.com/watch?v=m4XsFV8dlKY> 70
Trabalho de OBICI (2006) “Condição da Escuta – Mídias e Territórios Sonoros”.Disponível em: <http://www.pucsp.br/nucleodesubjetividade/Textos/giuliano/condicaoescutagiuliano.pdf>. Acesso em: 15 out 2014. 71
Esquizofonia - “é formado pela justaposição de esquizo, do grego schízein, fender, separar; e fonia, do grego phoné, som, voz. Esquizofonia seria a separação entre som e sua fonte emissora”. 72
Vide Figuras 3, 5 e 7.
47
isolada do público73. Graças a esse isolamento, a impressão que os fiéis têm é de
que dentro da cápsula está o local mais sagrado do templo religioso.
Assistir aos cultos pelos telões leva os fiéis a outra dimensão que não é a do
local físico em que se encontram. Dessa forma, é possível apontar que, de maneira
geral, os membros da IPDA podem estar conectados a três níveis de sacralidade
local: o lugar próximo de onde vivem; o local descrito como sagrado e necessário: o
Templo da Glória de Deus e o local virtual da internet, onde podem estar conectados
à igreja, seus costumes e tradições.
As necessidades complementares dos cultos, os ritos e a administração das
informações da igreja também requerem o uso da tecnologia e foram inseridas na
internet, no site da IPDA, o que gerou a criação de uma sociedade virtual. Essa
sociedade não se estabeleceu apenas no imaginário dos membros da igreja, ela
mostra que a presença, ainda que à distância, nos templos considerados sagrados
pela igreja, pode aumentar a interação, a divulgação e a prospecção religiosa.
Imagem 8 – Sede mundial da IPDA, na cidade de São Paulo
Fonte: www.IPDA.org.br74
73
Vide Figura 4 e 6. 74
Acesso em: 15 out 2014.
48
Imagem 9 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA
Fonte: www.IPDA.org.br/75
Imagem 10 – Foto parcial da parte interna da sede mundial da IPDA
Fonte: https://www.google.com.br/76
75
Idem. 76
Acesso em: 15 out 2014.
49
Imagem 11 – Foto parcial da parte interna da sede mundial da IPDA
Fonte: http://colunas.gospelmais.com.br/77
Imagem 12 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA
Fonte: https://www.google.com.br/78
77
Disponível em: <http://colunas.gospelmais.com.br/pentecostal-deus-e-amor-historia-e-polemicas_5068.html>. Acessado em: 15 out 2014. 78
Acesso em: 15 out 2014.
50
Imagem 13 – Foto parcial parte interna da sede mundial da IPDA
Fonte: http://wikimapia.org79
2.3. Rádio e Vínculo Sonoro
Divulgar e consumir são aspectos fundamentais da sociedade moderna e os
meios de comunicação criaram facilidades para ver, ouvir, comprar, vender e
interagir com muitas pessoas em diferentes partes do mundo. Tais meios
proporcionaram o desenvolvimento de um novo entendimento sobre o consumo. A
Igreja para difundir suas ideias, aumentar o número de seguidores e manter a
fidelidade dos antigos vende seus bens simbólicos na mídia, como afirma Hall (2005,
p. 75): “Esses meios difundiram um pensamento consumista, contribuindo para um
‘supermercado cultural’. Dessa forma, a igreja, para difundir suas tradições, insere-
se na mídia e vende seus bens simbólicos”.
Vivemos em um mundo, onde a percepção visual é muito mais valorizada do
que os outros sentidos. Nosso mundo é devorador de imagens, deixamos de lado
outras possibilidades naturais do complexo sensorial de nossos corpos,
subutilizadas ou desprezadas por conta da facilidade que a visualização nos
permite.
Comecemos então pela “Sociedade da Imagem”. Vivemos. Profundamente, até a última das nossas fibras, dentro de um mundo da visualidade. Que evidentemente não começou agora, mas que foi se desenvolvendo e foi se
79
Disponível em: <http://wikimapia.org/727309/pt/Igreja-Pentecostal-Deus-%C3%A9-Amor-Templo-Sede>. Acessado em: 15 out 2014.
51
expandindo de tal maneira que todos nós podemos suspeitar que estamos dispensando os outros sentidos que não a visão. Exemplo disso é o valor do som, tão menor que o da imagem no nosso mundo e no nosso tempo, que este fato pode ser lido em inúmeros momentos da nossa vida e do nosso cotidiano. (BAITELLO, 2005, p. 99)
O fato de o protestantismo pentecostal ser iconoclasta, ou seja, não venerar
as imagens, sugere que a escolha do rádio como mídia preferida teve relação com
esse aspecto, já que, ao contrário da TV, o rádio não traz imagens. A transmissão
de rádio leva apenas o som aos ouvintes, sem nenhuma imagem, sem cores e sem
movimentação.
Uma das principais causas do sucesso da TV entre os meios de comunicação
mais difundidos é justamente a facilidade de receber as imagens como informações
prontas, em pacotes, sem a necessidade de muita exploração intelectual ou
interpretação por parte do telespectador. Por outro lado, o motivo do sucesso das
rádios até hoje, é justamente o fato de o rádio alcançar as pessoas em diversos
locais e momentos diferentes, conseguir ampliar a imaginação e a sensibilidade que
o sonoro traz ao ouvinte. Como a imagem não existe nas rádios, o ouvinte precisa
prestar mais atenção e imaginar mais o conteúdo recebido exclusivamente pelas
ondas sonoras, há uma imersão80 voluntária do ouvinte. O uso do rádio amplia o
sentido da audição, nos desafia a absorver uma informação por apenas um dos
nossos sentidos.81
Na cultura do ouvir, somos desafiados a repotencializar a capacidade de vibração do corpo diante dos corpos dos outros, ampliar o leque de sensorialidade hoje limitado à visão. Ir além da racionalidade que tudo quer e precisa ver, para adentrar numa situação onde todo o corpo possa ser tocado pelas ondas de outros corpos, pelas palavras que reverberam, pela canção que excita, pelas vozes que vão além dos lugares comuns e tautologias midiáticas. (MENEZES, 2007, p.81).
A prova de que o resultado da interação que o rádio tem com os ouvintes
ainda é grande, apesar da televisão, pode ser percebida pelos investimentos em
80
Etim.: do lat. immersio, imergir(-se), submergir(-se). Acepção: estado em que o indivíduo se dedica intensivamente a determinada disciplina ou assunto durante certo período. Quem ou aquele que está absorto, mergulhado em um assunto. MARCONDES FILHO, Ciro. Dicionário da Comunicação, p. 241. 81
Etim.: do lat. sensus, capacidade de perceber ou sentir as impressões e os sinais do mundo externo. Semiótica. Ideia ou conjunto de ideias que um signo ou um conjunto deles representa. MARCONDES FILHO, Ciro. Dicionário da Comunicação, p. 417.
52
propagandas divulgadas pelas rádios que não desapareceram com o crescimento da
audiência das TVs. Uma publicidade ou um programa na TV exige mais
investimentos, por exemplo, são necessários um roteiro mais detalhado, cenários,
atores ou apresentadores, cuidados com o áudio, entre outros aspectos, enquanto
que nas rádios é suficiente uma estrutura fixa para todos os eventos, um roteiro e
um locutor para uma programação. Como as propagandas e os programas nas
rádios são mais baratos, podem ser transmitidos com maior constância e levando os
ouvintes a fixarem melhor o que se pretende transmitir.
Observamos, até aqui, que os vínculos se reforçam através de sons do corpo e do rádio; que o tempo do qual tratamos enlaça tempo cronológico e tempo mitológico; que mesmo vivendo na cultura das imagens, experimentamos a importância da cultura do ouvir. Essas questões nos colocam no contexto que Dietmar Kmaper denomina percepção não exclusivamente visual do outro e do tempo. Uma forma de percepção que considere o amplo leque de sensorialidade dos corpos e, possivelmente, anuncie “uma nova época de audição. (MENEZES, 2007, p. 95).
O rádio é o meio eletrônico midiático mais utilizado pelas comunidades da
IPDA em grande parte da América Latina e em vários países do mundo, numa
padronização de seus conceitos religiosos internacionalmente. Não existe a
adequação para cada cultura onde se instala, ou seja, as regras e o RI são os
mesmos para brasileiros e sul-africanos ou para qualquer outra nação.
A IPDA é a proprietária de uma grande rede de 64 emissoras de rádio que
transmitem seus programas diariamente para o Brasil82 e 17 emissoras de rádio que
transmitem seus programas em outros países83, cada qual em sua língua. A IPDA
iniciou sua radiodifusão em Ondas Moduladas - OM, pois nessa faixa de
radiodifusão é possível levar seus programas mais longe, onde as ondas da
Frequência Modulada – FM - não podiam alcançar. Os membros da IPDA são
pessoas mais simples e a recepção em aparelhos AM e OM tinham um custo mais
baixo, ao alcance quase universal de recepção e essa mídia ia diretamente de
encontro do perfil social dos membros da IPDA.
Essa mídia não é considerada profana pela direção da IPDA, pois os fiéis são
induzidos a escutar os programas de suas rádios que apresentam uma programação
82
Link para todas as rádios da IPDA no Brasil: <http://www.IPDA.com.br/IPDA/radio/todas_radios_voz_da_libertacao_brasil.php>. Acesso em: 02 jan 2015. 83
Link para todas as rádios da IPDA para outros países clicando na aba superior do site: <http://www.IPDA.com.br/IPDA/#>.
53
completamente dirigida e desenvolvida para os adeptos religiosos da IPDA. O
programa mais importante é a “Voz da Libertação”84 que é transmitido diariamente
das 12h00 às 0h00 ou 24 horas por dia disponível na internet
(www.IPDA.com.br/radiosonline.php). Os fiéis têm a possibilidade de portar seus
aparelhos receptores a qualquer local que possam ir, seja em casa, no trabalho, no
campo ou em passeios. Não há desculpa dos membros da igreja para não escutar
as mensagens enviadas pela IPDA. Sobre a grande difusão do rádio, verificando
melhor o perfil de grande parte das comunidades da IPDA no Brasil, podemos
perceber que as demandas de rádio difusão surgiram devido às culturas iniciais mais
importantes serem nas zonas ruralistas, pois se encontravam distribuídas a
distâncias de grandes centros, onde membros necessitavam ser atingidos com uma
mídia massiva e popular. Fonseca sustenta a importância da escolha de mídias
religiosas dentro de seus dogmas, demonstra.
A concepção da religião como mercado e a consolidação de estruturas comerciais transnacionais para a sua sustentação, além de uma adequação ao secularismo e ao pluralismo religioso, são resultados da escolha da mídia como objetivo central e meio de sustentação de determinadas iniciativas religiosas. (Fonseca, 2003, p. 280).
A comunicação eletrônica pelo rádio foi a resposta da IPDA (e de muitas
outras igrejas pentecostais) para atingir um novo público com suas mensagens e
fidelizar os antigos e mais distantes.
A IPDA possui rádios próprias e também um número menor de rádios
arrendadas para a transmissão dos programas religiosos. As rádios da IPDA ainda
em 2014 operavam nas faixas em Amplitude Modulada, AM. Esse modo de
modulação radiofônica é considerado muito antigo e ultrapassado para o mercado
atual, mas tem um alcance maior que o das ondas das rádios FM e permite o uso de
menos retransmissores, o que reduz os custos. Essa linha de transmissão tem
condições de dar maior abrangência nacional, consegue alcançar muitas
comunidades distantes, separadas e excluídas do resto da população brasileira e
que se unem por uma única transmissão de radiodifusão.
Muitas rádios operam ainda hoje na modulação AM, pois o custo dos
equipamentos que recebiam as modulações em frequência modulada (FM),
considerada mais moderna, impossibilitava que adquirissem esses novos
84
Programa da IPDA falado pelo próprio Davi Miranda, disponível nas rádios e também no site da IPDA (www.IPDA.com.br).
54
equipamentos de rádio. Outra tendência que os altos custos iniciais dos
equipamentos causaram, estava na elitização das programações em FM. Os
ouvintes da AM eram excluídos da FM pelo simples fato de não terem uma
programação voltada para eles.
As programações tinham nichos especificamente escolhidos para centralizar
seus esforços publicitários e gerar o melhor retorno dos anúncios publicitários
durante a programação. Faz muito sentido a IPDA adotar e manter suas
transmissões, pois ainda durante ao ano de 2014, o programa A Voz da Libertação
tem um alto nível de audiência, é escutado e seguido fielmente com a mesma
seriedade dos cultos presenciais por um público cujos rendimentos e escolaridade
são mais baixos.
O controle sobre os ouvintes das rádios da IPDA é total, porque são ouvidas
direta ou indiretamente as palavras do missionário Davi Miranda. Os fiéis escutam
toda a programação das rádios sem descanso, ou seja, não há tempo para escutar
outras rádios que possam transmitir conteúdos inapropriados aos seguidores dessa
igreja. Conforme mencionado no regulamento interno – RI: “A IPDA orienta os
membros não ouvirem músicas e programas profanos por qualquer meio de
comunicação. Membros 60 dias de disciplina. Obreiros 120 dias de disciplina.”. (RI p.
41 G-4 – Anexo 1).
Segundo Assmann (1986, p. 129), no ano de 1986, a IPDA veiculava seu
programa A Voz da Libertação em 573 estações de rádio e, nesse período, o
programa de Davi Miranda ocupava sozinho 50% do tempo das transmissões. Ainda
segundo o autor, “Em diversas circunstâncias, Davi Miranda explicou que não
pretende ter programas de TV, fundamentando sua opção pelo rádio”.
Atualmente, a IPDA transmite o programa A Voz da Libertação para todo o
Brasil e também para muitas regiões do mundo, é um dos programas de maior
difusão pelo mundo no segmento evangélico. É transmitido também para países da
América Latina, da Europa, Estados Unidos, África e Ásia, mas também permite que
as programações sejam escutadas em todo o mundo através de seu site
(http://www.IPDA.com.br/radio/) a transmissão é feita por pastores locais em
diversas línguas.
O processo de globalização, em seu aspecto econômico e cultural, provocou sérias mudanças no universo religioso, exigindo dele que estas
55
organizações e instituições adaptassem suas maneiras de funcionar, comunicar e perpetuar suas tradições. (SOUZA, 2007, p. 243-244).
Isso significa que embora a IPDA não utilize a televisão, seu líder não está
indiferente às necessidades impostas pelas mudanças ocorridas na sociedade,
apenas quer continuar a exercer um controle rígido sobre os seus fiéis, o que é um
pouco mais fácil sem a “tentação” da televisão.
2.4. A Abominação da TV
Cada igreja criou seus ritos, e a partir de então consideram o que é sagrado
ou profano e de acordo com Martino (2003, p. 24), cabe a elas estabelecer as
fronteiras entre o sagrado e o profano, entre os ritos, objetos, pessoas e locais.
Essas fronteiras foram claramente delimitadas pela IPDA, ou seja, claramente
delimitadas pelo seu líder Davi Miranda, as mídias eletrônicas massivas foram
estudadas e separadas entre as que poderiam ou não ser utilizadas pelos membros
da IPDA. Mesmo para as mídias eletrônicas que foram liberadas, discutiu-se até que
ponto poderiam ser empregadas. Atualmente a internet pode ser usada com
conteúdo autorizado e nas rádios da igreja ouve-se o programa de rádio a Voz da
Libertação, com o próprio Davi Miranda. Assim, como afirma em seu artigo, Alencar
(2011)85, para um membro da IPDA “quase todas as demais possibilidades de
comunicação com o “mundo” lhe são proibidas”.
A IPDA afirma insistentemente que a TV não deve ser assistida por ninguém,
o missionário Davi Miranda publicou no “site da IPDA” uma matéria em que em um
breve trecho esclarece o principal motivo para não os membros da igreja não
assistirem à televisão: a TV é utilizada de maneira irresponsável pelas emissoras e
as famílias podem receber conteúdos maléficos à família.
Utilização dos meios de comunicação em massa, principalmente a televisão, para destruir valores. Mensagens subliminares são transmitidas: a tragédia e a violência são banalizadas, imagens do sexo ilícito são passadas como legítimas.
86
85
ALENCAR, Gedeon Freire de. Pentecostalismo Hi-tech: Uma janela aberta, algumas portas fechadas. Artigo publicado - Protestantismo em Revista, São Leopoldo, RS – v.26 Set-Nov 2011 p. 43 disponível em http://periodicos.est.edu.br/index.php/nepp/article/viewFile/171/260 Acesso em 19/02/2015
86 Disponível em: <http://www.IPDA.com.br/nova/n_pagina.asp?Codigo=747>. Acesso em: 17 out
2014.
56
Entre todas as igrejas pentecostais da atualidade, a IPDA é uma das mais
rígidas e com maior número de leis, apesar de outras igrejas terem se tornado mais
flexíveis com relação à rigidez dos seus regulamentos internos (RI), inclusive no que
se refere à TV, a IPDA segue com poucas mudanças no seu RI.
Davi Miranda poderia aderir à competição religiosa nas mídias televisivas, já
que outras igrejas pentecostais e neopentecostais como a “Assembleia de Deus”,
Igreja do Reino de Deus, a Universal, entre outras, já aderiram, entretanto, a própria
proibição se transformou em uma marca distintiva da IPDA, assim, não seria tão fácil
ou talvez até prudente mudar esse conceito e buscar justificativas na Bíblia para
fazê-lo.
As demais mídias eletrônicas também podem ser utilizadas, mas não são
totalmente liberadas, pois sofrem certa vigilância sobre os conteúdos permitidos ou
não pela igreja. Admitir que a Internet é parcialmente autorizada, não significa de
maneira alguma negar a “doutrina” intensamente pregada, pois se trata de uma
tecnologia, ao contrário do que se prega a respeito da TV, considerada perigosa,
nociva e pecaminosa, inserida na esfera do profano e não do Sagrado.
No Regulamento Interno da Igreja Pentecostal Deus é Amor lê-se:
“Televisores e aparelhos afins: membros que possuírem esses aparelhos ficarão
sem participar da santa ceia. Exceto quando esses aparelhos pertencerem a
familiares descrentes.”. (RI, p.40, G-3 – Anexo 1).
Os fiéis mais antigos da IPDA eram e ainda são extremamente rígidos com
relação ao Regulamento Interno da igreja, pois têm certeza de que o regulamento é
certo e precisa ser seguido, com o risco de o membro da igreja sofrer as Disciplinas
impostas a quem descumpre as regras.
No entanto algumas mudanças, ainda que pequenas, podem ser observadas
no RI da IPDA. Há alguns anos, a IPDA proibia o uso dos videocassetes, mas
atualmente, libera para seus fiéis o uso das filmadoras, dos projetores e de alguns
outros equipamentos mais modernos. Além dessas alterações, a efetiva redução do
tempo das Disciplinas em algumas situações como nas demonstrações sociais fora
do padrão, caso dos homossexuais, demonstra também certa evolução do RI.
Porém a Igreja continua preocupada em controlar seus fiéis. Nas últimas
edições mais atualizadas do RI, ficou clara a preocupação da igreja com relação ao
57
conteúdo de leituras proibidas, que agora incluem também conteúdos proibidos em
mídias eletrônicas:
Leituras imorais. Revistas pornográficas, toda espécie de literatura imoral, materiais impressos ou em mídia eletrônica com qualquer tipo de conteúdo que contrarie a sã doutrina da bíblia. Membros 60 dias de disciplina / obreiros 120 dias de disciplina. (conforme ri p. 38 f-18 – anexo 1)
Como Alencar (2011, p. 54) afirma: “O fascínio é imenso, mas o download é
lento”. Ainda que os acontecimentos e as mudanças não possam interferir
diretamente na cultura e rigidez religiosa, a igreja vai se tornando mais flexível e as
pequenas modificações são aceitas vagarosamente, sem muito alarde e mesmo as
igrejas mais resistentes às mudanças tiveram que aceitá-las, caso contrário,
perderiam muitos fiéis e, com certeza, não conquistariam os jovens.
A relação entre as igrejas pentecostais e as mídias eletrônicas veio para ficar
e é impossível analisá-las separadamente. O objetivo do próximo capítulo é
exatamente discutir quais são as perspectivas que surgem a partir dessa relação e
as possibilidades e facilidades que as igrejas oferecem para os seus seguidores
quando utilizam a internet.
58
3. A IPDA NO CIBERESPAÇO
Neste capítulo, descreveremos as mídias eletrônicas e algumas
possibilidades de interação, hoje já utilizadas pelas igrejas, suas funcionalidades
panópticas necessárias e que a internet pode possibilitar. As possibilidades que as
igrejas proporcionam aos seus seguidores, mostram que o mesmo conteúdo
doutrinal, informativo e, inclusive as prédicas de sua comunidade, podem ser
visualizadas pela Internet.
Vamos demonstrar que os cultos, os ritos e eventos religiosos, hoje são
transmitidos oficialmente pela internet e antes só eram transmitidos pelas rádios.
As redes, a Comunidade, o Hibridismo e a Sociabilidade na rede da IPDA tem
uma estrutura social moldada ao redor de redes de informação, essas redes
funcionam através da tecnologia de sistemas computacionais conectados por todo o
mundo e também conectados fora do nosso planeta. Castells (2003b, p.287) destaca
que “a Internet é muito mais que uma simples tecnologia, é o meio de comunicação
que constitui a forma organizativa de nossas sociedades”.
A Internet é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a Internet faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos. (CASTELLS, 2003b, p. 287).
As igrejas apontam o que é sagrado ou profano e estabelecem suas
fronteiras. Conforme esclarece Magali do Nascimento Cunha (2007, p. 33):
O sagrado é uma das dimensões que o político ocupa na formação social para preservar-se a si próprio como uma forma de poder, e para preservar o poder da ordem profana, a que serve e de onde retira a sua própria fração de poder religioso.
3.1. Ciber-Religião
Comunidades virtuais formadas na rede são uma estratégia para o homem
relacionado com o ciberespaço se sentir diferente entre si e entre comunidades
diante da sociedade.
59
Hall (2001) esclarece que os acontecimentos ocorridos em lugares dentro da
rede podem determinar um impacto imediato em pessoas que estão posicionadas
fisicamente em locais muito distantes.
Quanto mais a vida social se torna mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem “flutuar livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades, dentre as quais parece possível fazer uma escolha. (HALL, 2001, p. 75).
A importância da Internet para a sobrevivência das instituições e o
crescimento do número de pessoas que têm alguma crença religiosa tem tido uma
grande influência no desenvolvimento das religiões no Brasil, sobretudo em
denominações pentecostais e neopentecostais. Muitas denominações se utilizam
das mídias eletrônicas de massa, como a TV e o rádio, que se desenvolveram
recentemente em mídias eletrônicas cibernéticas, criando assim as igrejas virtuais
com o intuito de atrair mais pessoas, associando uma doutrina de Deus ao consumo
de bens de serviços em um espaço que pode ser preenchido com os ritos religiosos.
A princípio, as mídias não permitiam que os internautas interagissem com as mídias
e isso reprimia a interação.
Campos (2004, p. 148) aponta que a sociedade aceitou um meio de
comunicação, ao longo da história, os estágios da oralidade (palavra falada), da
escrita, novamente da oralidade (rádio) e agora da imagem com a televisão (a TV é
uma exceção para a IPDA). Para conseguir divulgar suas ideias e “produtos
religiosos”, as igrejas buscaram ajuda de marqueteiros de mercado para fortificar
suas posições institucionais, amplamente utilizadas em suas mídias eletrônicas.
A rede da internet começou com sites informativos, semelhantes às mídias
eletrônicas rádio e TV que, inicialmente, não permitiam a interação dos ouvintes ou
telespectadores, os internautas podiam acessar, buscar por informações disponíveis
e sair do site com alguma dúvida, caso a informação não estivesse à publicado. A
rede na Internet evoluiu e chegou à Internet 2.0 que, sem muitas alterações, mas
permite a partir dessa evolução a interação, aos movimentos de trocas de muitas
informações. Os internautas podem fazer o site evoluir e como exemplo é possível
60
mencionar o caso da enciclopédia eletrônica Wikipedia87, onde os internautas
constantemente podem ajudar a melhorar e atualizar as informações
disponibilizadas gratuitamente neste site.
Na verdade, a Web 2.0 não representa nenhuma mudança tecnológica significativa, mas uma percepção de que os Websites deveriam se integrar, deixando de ser estanques e passando a trocar conteúdos. [...] Dentro deste contexto surgiram os primeiros frameworks de portais facilitando o consumo de conteúdos produzidos externamente. (Melo Jr., 2007 p. 8)
A internet é um grande mercado de oferta de produtos e serviços, possui
diversas ferramentas que possibilitam um número muito grande de possibilidades de
comunicação, divulgação e ainda controle, estão disponíveis e cabe a cada
instituição saber qual a sua necessidade e entender como as adaptar às suas
necessidades.
A internet teve diferentes níveis de evolução durante os últimos anos, mas é
certo que a evolução depende da demanda pelas instituições. A diferença do uso
das mídias eletrônicas entre as igrejas históricas e especialmente entre as novas
denominações. As igrejas tradicionais têm utilizado há centenas de anos os meios
tradicionais de comunicação, como periódicos livros impressos, enquanto muitas
novas igrejas já surgiram em uma época onde a comunicação eletrônica era
utilizada, no meio de um contexto midiático eletrônico.
O universo específico da influência do marketing religioso na internet oferece
uma gama de possibilidades cibernéticas que possibilitam a participação à distância,
conforme observado por Miklos (2012):
Se, por um lado, os Papas e líderes de outras denominações religiosas que assistiram ao alvorecer da modernidade execravam os novos tempos por tentarem emancipar o homem de Deus: por outro lado, a tendência religiosa atual, incentivada por Bento XVI, procura utilizar os meios eletrônicos a favor da fé e aliar o digital e o espiritual em busca de espaços em que a expressões da fé atuem como poderosos coadjuvantes no dia a dia do crente, um conforto nas horas em que não se pode vivenciar um contato concreto. (MIKLOS, 2012, p. 32).
Poderemos compreender as razões que permitiram o processo de
midiatização cibernética em um ritmo mais intenso nas igrejas pentecostais do que
87
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia>.
61
nas protestantes históricas, alcançando maior visibilidade no ciberespaço quando
comparado com o protestantismo tradicional.
As igrejas para crescer e sobreviver, necessitam de divulgação o que fez com
que as Igrejas Pentecostais e neopentecostais, apesar de serem mais jovens que as
igrejas cristãs tradicionais (Católica Ap. Romana, Batista, Presbiteriana e Luterana),
já terem grande penetração em suas comunidades e também terem evoluído nas
mídias cibernéticas. Como pontua Miklos (2012) “se por um lado, líderes religiosos
abominam os valores modernos por tentarem emancipar o homem de Deus, por
outro, obedecendo à tendência atual da midiatização, procuram utilizar os meios de
comunicação eletrônicos em favor da fé e aliar o digital e o espiritual em busca de
espaços em que as expressões de fé não atuem apenas no campo simbólico e
ritualístico materiais, como nas igrejas, mas como poderoso coadjuvante no dia-a-
dia do crente, atuando como um conforto nas horas em que não se pode vivenciar
um contato concreto.”88
3.2. Taxonomia
O site da IPDA será descrito em detalhes práticos e demonstrando suas
funções que facilitam a navegação dos membros e possibilitam a interação nas
formas de sites “online religion” e “religion online”.
As manifestações na classe religion-online não permitem a interação entre o
site e os usuários, as informações são disponibilizadas e controladas pelo site. Esse
tipo de internet equivale a uma ferramenta de consulta, onde a comunicação é ‘um
todos’, mas também pode ser uma ferramenta da própria religião para focar e
controlar os conteúdos e acessos aos membros. Helland (2002) menciona em sua
obra que a taxonomia padrão na internet para as organizações terem mais êxito é a
Religion-online.
Religion-online parece ser o padrão para grupos baseados em organizações hierárquicas da igreja [...]. Para eles, o meio Internet é controlado e utilizado como uma ferramenta para transmissão de uma mensagem ao invés de como um ambiente de compartilhamento de crenças e práticas religiosas. (Helland, 2002, p. 295)
88
http://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/04/Marcos-Francisco-Stahl.pdf
62
As manifestações na classe online-religion permitem a interação de
informações, ou seja, a comunicação pode ser ‘todos todos’. Desse modo, a internet
apresenta uma tipologia como lugar ou ambiente. Segundo Helland (2000, p. 298)
“para que a online-religion possa se manifestar, um certo tipo de modelo interativo
precisa ser criado no site”. Deve ser frisado que o autor não considera as
mensagens de e-mail como interativas, pois se comunicam de ‘um todos’ e não
‘todos todos’, embora “o e-mail possa ser usado para expressar crenças religiosas e
espirituais, é uma forma de comunicação um um/todos que não tem a natureza
interativa que muitos indivíduos procuram quando querem ‘fazer’ religião na
internet”. (HELLAND, 2002, p.297)
Podemos diferenciar as manifestações entre religion-online e online-religion
como as manifestações que permitem e as que não permitem a interação com suas
contribuições pessoais a respeito de suas crenças e opiniões, no caso da IPDA,
observamos que a igreja optou pela taxonomia religion-online.
Anastasia Karaflogka (2002 p. 284-285) entende que podemos ainda dividir
as manifestações da visão da rede em religion in e religion on. Na religion on, ainda
de acordo com Karaflogka (2002, p.284-285), “a informação disponibilizada por
qualquer religião, Igreja, Indivíduo ou organização que também existe e pode ser
conseguida fora da internet”, ou seja, a internet serve apenas como uma ferramenta
que transmite informações que já existem, não permite uma criação.
Temas que complementam o presente estudo que busca as respostas sobre
as regras da proibição ao uso da TV para os membros da IPDA com a simultânea
liberação da Internet. Como o marketing religioso pode ser usado pelas igrejas na
internet é muito importante para nortear as ações que mantém a participação do seu
rebanho, como fazer com que seus membros cumpram as normas da entidade, para
a continuidade dessas entidades.
A internet possibilita uma interação e observação dos usuários, mas a noção
de mediação de uma mídia eletrônica não se refere exclusivamente a qualquer
poder dos próprios meios de comunicação, como dispositivos tecnológicos ou
empresas de transmissão, mas concentra-se em como as pessoas realmente irão
articulá-los em suas experiências de vida. Não são os próprios meios de
comunicação, mas sim como as pessoas incluem os meios de comunicação no
quadro mais amplo de suas relações interpessoais, vida no trabalho e relações
63
emocionais. Em outras palavras, como a vida humana, em todos os seus aspectos
sociais e culturais, pode ser vivida em palavras preenchidas em mensagens,
significados e sinais trocados por pessoas que usam gadgets tecnológicos.
Desde os anos 1950, a maioria das pessoas, pelo menos no Ocidente, vivem
em um ambiente cheio de meios de comunicação, como o rádio, telefone, cinema,
televisão e internet, que fazem parte dos indivíduos, dos ambientes culturais e
sociais. Entender a mídia e a comunicação como um processo cultural que não pode
ser compreendido sem uma referência permanente aos principais aspectos de
sociais onde ela ocorre. O processo de midiatização e a prática da religião em um
ambiente midiatizado vão bem além das fronteiras da própria religião
institucionalizada.
A tecnologia midiática se articula com outros elementos, esses se articulam
com as percepções das pessoas, sentidos e palavras de que a mídia está integrada
na "ecologia" de comunicação.
A midiatização, finalmente, pode ser descrita como as articulações entre a
"lógica da mídia" e outras instâncias da vida cotidiana. Além disso, a "mediação" e
“midiatização” são dois processos relacionados, e às vezes as fronteiras entre eles
não parecem muito claras.
No caso da religião, a midiatização significa estar ciente do que acontece com
a vida do seguidor fora da igreja. Em outras palavras, isso significa falar em uma
linguagem que pode ser reconhecida por pessoas que passam um bom tempo de
suas vidas em frente de uma televisão ou de um monitor virtual, ou usando seus
smartphones móveis para interagir com uma rede social na internet.
A midiatização da religião não se refere apenas à adoção dos meios de
comunicação por uma igreja particular, mas como o uso dos meios de comunicação
está relacionado com as práticas religiosas em um contexto social e cultural,
dependendo do perfil de seus membros as igrejas fazem a escolha das mídias a
serem utilizadas.
Os meios de comunicação não são apenas ferramentas para transmitir uma
mensagem, mas eles também podem interferir na forma como as pessoas se
comunicam na vida cotidiana. A ideia de "midiatização" não parece ser um novo
nome para o velho "media center".
64
Metaforicamente, a mídia é um "canal" através do qual um remetente vai
passar uma mensagem para um receptor. Essa metáfora parece realçar a
mensagem como livre das limitações do meio, uma vez que essa mídia seria
simplesmente transportar informações de um ponto a outro.
Os meios de comunicação têm a sua própria gramática para enquadrar
qualquer mensagem particular. Essa perspectiva enfatiza o fato de que a mídia pode
transmitir e compartilhar informações de acordo com sua própria forma e/ou
estrutura, e não há qualquer dicotomia desde que cada mídia enquadre a
mensagem de uma forma particular.
A IPDA tem em seu site um ambiente focado nos assuntos de interesse da
igreja, permite que os vídeos dos seus cultos sejam oferecidos pelo YouTube e o
programa da Voz da Libertação no rádio, sua mídia mais importante, através de links
no site da IPDA. Como grande parte dos membros dessa igreja não tem alto poder
financeiro e de consumo, muitos são excluídos do local virtual eletrônico, ou seja,
ainda não adquiriram ou não tem o hábito do uso de computadores, e outros
equipamentos de acesso à internet. Souza (2007) menciona em sua obra:
A presença nessa mídia tem sido a marca da igreja desde os anos 70, com espaços próprios ou comprados para retransmissão de cultos e do tradicional programa “Voz da Libertação”, produzido em estúdio montado na sede da igreja, localizada próxima ao centro da cidade de São Paulo. O investimento tem sido feito em emissoras da faixa AM, já que o público alvo da IPDA é a população de baixa renda: a retransmissão dos programas, feitas em 500 emissoras nos anos 1980, chegou em 2000 a mais de oito mil emissoras. (SOUZA, 2007, p. 62).
A IPDA nasceu em um momento de maior liberdade e luta pela liberdade
religiosa, então com exceção da IPDA, outra igreja popularizaram o culto religioso
pelas TVs e rádios, assim um maior número de pessoas poderia ter acesso aos seus
ritos, orações, procedimentos e a prédica à distância, onde “a palavra de Deus” era
dita em horários mais flexíveis, inclusive aos religiosos que não poderiam participar
de cultos e cerimônias religiosas.
Segundo Berger (2007, p.29), esclarece em sua obra a necessidade das
igrejas conhecerem as mídias, escolher as mais adaptáveis, “Precisam aprender a
ser assim para sobreviver. Ou seja, existir supõe dominar a lógica midiática”. A IPDA
utiliza-se de recursos da mídia eletrônica como internet e rádio para públicos
65
específicos de baixa renda que não têm condições e nem hábito de escutar rádios
com programação moderna. Na internet, oferece facilidades aos seus membros
como seu portal com todas as informações que a IPDA julga necessárias para um
religioso se sentir um membro participante e informado e também com o objetivo de
garantir que seus membros não busquem informações em outras mídias e locais
físicos ou virtuais.
Os internautas seguidores da IPDA têm um site completo, semelhante a um
site comercial, mas que precisa vender informações, ideias e ideais, com conteúdo
de fácil entendimento e de com fácil acesso, podendo inclusive, ser lido em duas
outras línguas estrangeiras, como o inglês e o espanhol.
Sobre esse assunto, Christa Berger é enfática, afirma em seu artigo “Tensão
entre os campos religioso e midiático” que o marketing, no caso de assuntos da
igreja, não trata de vender, mas de tornar visível (BERGER, 2007, p.26). Ao
contrário do que se imagina, as igrejas não precisam exatamente do marketing
religioso para vender seus produtos, mas para preparar o terreno afim de poder
semear ideias em terreno fértil, que traga todos os frutos da obediência e
necessidade de que os membros visualizem a importância das regras consideradas
obrigatória e “sagradas” pela instituição religiosa.
Na atualidade, as rádios ainda representam a maior parte das comunicações
eletrônicas da IPDA com as suas comunidades espalhadas pelo Brasil e pelo
mundo, alcançando locais remotos e isentos de outro modo de comunicação. Mas a
Internet já passa a ser uma das principais mídias eletrônicas que a igreja utiliza para
interagir com seus membros. A interação, o local e o controle são algumas das mais
importantes funções desta mídia.
3.2.1. O Site da IPDA
A IPDA, por meio do seu site http://www.IPDA.org.br/ construído para chamar
a atenção e manter seus seguidores religiosos, desta maneira, mesmo fora dos
templos edificados, mostra que segue com uma penetração na sociedade, que
passa a ter mais acesso a mídias eletrônicas permitidas, como os computadores e
dispositivos de comunicação portátil. O site da IPDA tenta com a taxonomia mais
correta evidenciar as possibilidades pelo ciberespaço de forma direta a todos os
seus adeptos, colocando sua estrutura, conhecimento, ritos e milagres à disposição
66
de seus seguidores religiosos. Fonseca sustenta a importância da escolha de mídias
religiosas dentro de seus dogmas.
A concepção da religião como mercado e a consolidação de estruturas comerciais transnacionais para a sua sustentação, além de uma adequação ao secularismo e ao pluralismo religioso, são resultados da escolha da mídia como objetivo central e meio de sustentação de determinadas iniciativas religiosas. (FONSECA, 2003, p. 280).
A tela inicial do site da IPDA traz de forma fácil o acesso a mensagens que os
pastores deixam constantemente aos membros da igreja. Fotos dos pastores líderes
e também de diversas comunidades, frequentemente, aparecem no site, isso facilita
muito a visibilidade de seus líderes pastorais. O site permite que qualquer pessoa
tenha acesso aos informativos diários da IPDA, podendo se cadastrar e receber
automaticamente os assuntos pertinentes às rotinas, rezas, orações e assuntos de
interesse.
Para os membros que procuram por conhecimentos sobre a fé, sobre a
religião e histórias sagradas, há um espaço onde poderão buscar essas
informações, escritas sempre sob o parecer dos conceitos da igreja.
Ao comparar os layouts antigo e atual do site da igreja, podemos observar
nas imagens 14 e 15, que o site da IPDA é constantemente atualizado, inclusive seu
layout periodicamente recebe alterações que demonstram uma atenção muito
grande da IPDA por essa mídia que está, cada vez mais, na vida de seus membros
religiosos.
Na tela inicial do novo site, podemos perceber que já há interatividade do site
com o Facebook e também com o Twitter da IPDA, os navegadores podem curtir o
site, recomendar e compartilhar. Temos na parte mais superior do site um menu com
8 abas importantes do site: a primeira remete diretamente para a Rádio Online; na
segunda, o membro da igreja pode ouvir mensagens faladas; na terceira, o membro
da IPDA pode ouvir mensagens cantadas; a quarta sobre a Família Cristã; na quinta,
é possível se ouvir a Bíblia falada; a sexta é uma aba chamada de Ouça a Visão; na
sétima, há os Pedidos de Oração e na oitava, estão o setorial e Sucursal. Existem
outro Sub-menu, ainda na parte superior do site e abaixo do símbolo da igreja, com
abas que levam os membros evangélicos a chegarem até as informações buscadas.
São inicialmente 6 abas que, quando abertas, apresentam funções de acessos a
informações, cursos, meios de comunicação, meios de identificação, lazer,
67
motivação, entre outros temas que correspondem ao bem estar dos membros da
igreja.
Imagem 14– Imagem parcial do site da IPDA antigo, até 04/2014.
Fonte: www.IPDA.com.br89
Imagem 15 – Imagem parcial do novo site da IPDA em Novembro/2014
Fonte: www.IPDA.com.br90
89
Acesso em 29 abr 2014. 90
Idem.
68
A primeira aba conta uma história da IPDA que diz como o missionário
David Miranda recebeu a missão do Espírito Santo e tenta comprovar suas histórias
por trechos da Bíblia.
A segunda aba, chamada de VOZ DA LIBERTAÇÃO, tem várias
opções de acesso como: TESTEMUNHOS, onde o membro pode contar sobre os
milagres recebidos, depois de ter orado através dos conceitos pré-determinados
pela IPDA. Outra Opção mostra as ORAÇÕES MISSIONÁRIAS, que leva o
internauta até onde poderá baixar orações da igreja em MP3. Na opção PEDIDO DE
ORAÇÕES, o fiel poderá fazer pedidos de milagres, melhoria de sua vida, entre
diversas outras necessidades da vida social. A última opção dessa aba poderá
acessar a opção PROGRAMAS VOZ DA LIBERTAÇÃO, onde o internauta poderá
ouvir programas com orações do missionário David Miranda, pedindo a Deus por
benção às famílias dos membros da Instituição Religiosa.
A partir da terceira aba MC – LOUVOR, podem ser abertas 4 outras
opções como MENSAGENS CANTADAS em cultos e outros eventos recentes e de
anos anteriores, divididos cronologicamente. A opção de HINOS ONLINE possibilita
ao membro da igreja aprender a cantar e aprender outros hinos tradicionais. A opção
MUSICAS ONLINE contém áudio daquelas músicas que, segundo a comunidade,
têm um conteúdo que comunga com as teses da IPDA. A opção ORQUESTRA
incentiva os membros a participarem, se inscreverem e ver fotos de eventos.
Aquelas que acessam o site também poderão adquirir os CDs das músicas, porém
diferentemente da modernidade e praticidade do site, a compra não é realizada por
meio de um cartão, para se adquirir um CD ou DVD neste site, inicialmente, é
necessário enviar um e-mail e, então, o comprador será informado sobre os
produtos que deseja adquirir e receberá as instruções da compra, inclusive, com um
número de conta corrente para depósito em um banco ou outro meio de pagamento.
A quarta aba é a da FUNDAÇÃO REVIVER, que mostra vários ambientes
onde acontecem diversas ações sociais e religiosas voltadas à missão da IPDA. Na
aba PALAVRAS DE DEUS, na opção ESPAÇO FAMILIAR, há um ambiente familiar,
onde as famílias cristãs da IPDA podem ler histórias da Bíblia contadas online para
que possam escutar reunidas. Na opção BÍBLIA FALADA, há para os internautas
religiosos cristãos um curso online, onde podem aprender sobre a palavra de Deus,
pela visão da IPDA, cursos bíblicos, eventos e grêmios. A Opção JORNAIS permite
69
explorar exemplares atuais e antigos de jornais da igreja, onde a história e a
caminhada da IPDA ficam registradas pela visão de seus integrantes. EXPRESSÃO
JOVEM é outra opção de mídia que, normalmente, pode ser impressa. Nessa opção,
temos uma revista eletrônica focada em jovens, com assuntos éticos e focados na
realidade que a IPDA desenha para seus seguidores. MEDITANDO NA PALAVRA é
uma das opções da aba PALAVRA DE DEUS, neste sitio, literaturas, histórias e
poemas voltados à meditação sobre vários temas da vida.
A última aba se refere a INFORMAÇÕES e fornece aos interessados detalhes
sobre CARAVANAS, EVANGELISMO, onde o internauta pode localizar todos os
contatos diretos com os líderes da IPDA, os HORÁRIOS DOS CULTOS e eventos
que a igreja realiza diariamente. EQUIPE DE VISITAS é a opção onde o cristão,
pode se inscrever e solicitar visitas de obreiros que se colocarão à disposição das
famílias para orientação social. Há também nesta aba, uma opção onde o membro
que deseja assistir à programação da igreja em locais extremamente remotos sem
programação da TV da IPDA, visualizada apenas pelo YouTube, poderá configurar
seu equipamento de recepção diretamente do satélite, e assim ter condições de
seguir participando dos movimentos da IPDA, sintonizando o canal religioso, ou
mesmo criando uma nova comunidade local.
Demonstrando a importância de aberturas de igrejas, a IPDA disponibiliza
uma opção ainda nesta aba SOLICITE UMA IPDA, onde os membros interessados
em ter uma igreja próxima à sua casa, em locais, cidades ou mesmo países onde
ainda não há um templo, podem solicitar e explicar os motivos da necessidade
dessa nova comunidade, caso o pedido seja aprovado, os trâmites são fomentados
rapidamente entre a igreja e os religiosos interessados. Para complementar o
assunto acima, há uma opção denominada CADASTRO EVANGELISTA, onde o
interessado em evangelizar as pessoas de outros países pode se cadastrar,
contanto que possua fluência em uma língua estrangeira. A opção DC APROVADOS
tem as relações da ordenação de todos os diáconos ordenados pela IPDA durante
vários períodos e épocas, além das relações, há a identificação dos membros
ordenados.
Ainda por fim, o site mostra quantas pessoas estão acessando o site no
momento em que alguém navega por esse sitio. O login para os membros, ao
contrário da maioria dos sites, fica na parte mais inferior do site.
70
3.2.2. A IPDA no Facebook
Os membros da IPDA podem discutir assuntos pertinentes a Igreja no
Facebook da igreja e ainda assistir aos vídeos permitidos pela instituição no
YouTube, assim como ouvir a Rádios oficiais das Igrejas por aparelhos receptores
de rádio, como também pela internet em qualquer parte do planeta e em diversas
línguas.
A manifestação religiosa espacial – lugar das percepções sobre a utilização
da internet proposta por Markham (apud Helland 2002),- sugere que a manifestação
religiosa espacial deva acontecer na rede da internet, mas como se fosse um lugar.
Nesses lugares acontecem as interações entre usuários, no caso, os membros
religiosos da IPDA interagem em redes sociais como o Facebook, discutindo os
rituais e práticas religiosas apresentadas pela Igreja, como se estivessem sentados
ao redor de uma mesa para trocas de informações e experiências. Neste tipo de
manifestação, a “presença” existe e é ativa, envolve mais do que apenas a escolha
por informações, mas como interagir.
A IPDA permite a formação de grupos em redes sociais, conforme imagens
das telas iniciais das contas no Facebook da IPDA e do programa “A Voz da
Libertação”, conforme figuras 10 e 11, para discussão sobre assuntos diversos, e
assim também pode balizar seus membros, saber o que discutem e encaminhá-los
aos rumos que consideram mais corretos, dentro do regulamento interno e também
em suas convicções religiosas.
A esfera pública pode ser definida como o lugar para debates das questões
relacionadas com a vida política de uma comunidade. Por "vida política", podemos
entender essas questões particulares que não estão diretamente em causa com a
vida pessoal e intimista, mas esses assuntos relevantes para o grupo.
71
Imagem 16 – Imagem parcial do Facebook da IPDA
Fonte: https://www.facebook.com/pages/IPDA/138765302935067?fref=ts91
Imagem 17 – Imagem parcial do Facebook da Voz da Libertação
Fonte: https://www.facebook.com/pages/Programa-A-Voz-da-
Liberta%C3%A7%C3%A3o/51737630837136192
91
Acesso em: 01 out 2014.
72
3.2.3. A IPDA no YouTube
O YouTube é um site na internet que tem uma ideia muito parecida com a
transmissão televisiva, pode contar com canais de vídeos como nas TVs. Permite
aos internautas assistirem e até postarem, hospedarem e compartilharem vídeos no
formato digital aberto para todos os usuários da rede. Esse site permite a exibição
de documentários religiosos ou não, de filmes, de videoclipes musicais amadores ou
profissionais, também permite a transmissão de eventos em tempo real e permite a
postagem de vídeos amadores de pessoas que explicam como fazer ou reparar
alguma coisa. Os temas dos vídeos podem ser os mais variados, existindo algumas
limitações éticas para publicação. Foi fundado em fevereiro do ano de 2005 e hoje
pertence à empresa Google.
Segundo mencionado neste trabalho e também no site da IPDA, a TV é
proibida para os membros da IPDA, pois recebe imagens e conteúdo não
controlados pela Igreja. Os fiéis não devem manter as TVs, objeto desta pesquisa,
em suas residências e locais de convívio familiar, pois elas podem trazer cenas,
histórias e informações nocivas aos bons costumes familiares. A proibição é
justificada no “RI” pela preocupação com o bem estar dos seus membros, de suas
famílias, pois, o uso da TV explica o caos da sociedade - fora da IPDA - com os
exemplos vistos nos noticiários, as estatísticas de crimes, separações familiares,
entre outros. A IPDA insere vídeos controlados pela igreja no YouTube com
conteúdo explicativo dos perigos de expor sua família a uma programação de TV. A
IPDA tem diversos vídeos postados no YouTube com conteúdo religioso que pode
ajudar aos, membros com vídeos desenvolvidos pelo staff da IPDA. Todos os vídeos
postados em nome da IPDA cujo conteúdo é aprovado pela igreja, podem ser
encontrados abertamente na internet. São vídeos amadores e, na grande maioria,
muito bem editados profissionalmente por equipes focadas nessas ações. Os
membros acreditam fielmente de que assistir vídeos no YouTube fora dos limites
impostos pela IPDA pode trazer pesados prejuízos espirituais e penalidades
impostas pela Igreja.
Como a IPDA não permite que seus fiéis assistam ou possuam TVs, seus
membros podem assistir à TV Deus é Amor postada no YouTube. Abaixo a
transcrição das declarações de uma história contada por uma mulher, membro da
92
Idem.
73
IPDA, em um programa apresentado em Slides com som e postado no YouTube
para doutrinação de seus membros.
Abaixo segue uma transcrição de um dos vídeos de declarações de fiéis
sobre a abominação das TVs, que se inicia com uma música suave de fundo e uma
pastora iniciando a conversa93 :
- Pastora: “...é impressionante ouvinte, aqui tem uma irmã que tem uma grande
revelação de Deus, uma grande visão que ela teve do senhor, sobre a obra de Deus,
sobre a televisão. Amados ouvintes, escutem essa revelação... Irmã, seu nome...”
- Membro: “Ivonete Santana de Moraes.”
- Pastora: “Conte irmã, a experiência que a irmã teve com Deus.”
- Membro: “Foi uma revelação tremenda, aleluia Jesus, foi a revelação sim em
sonho. Estava em certo lugar e estava assim uma televisão e então, mesmo a
televisão desligada, ela começou a tipo assim a se movimentar, querendo andar,
andando, em cima daquela peça e eu peguei minha mão procurando o botão assim
para desligar, pra ela pará de movimentar, né? Ai quando tava levando minha mão
nela, pegou e saiu uma cobra muito preta de dentro da televisão, assim ela não tava
ligada e saiu do aparelho aquela cobra e aquela cobra picou o meu dedo e naquela
hora eu falei assim: sai satanás e ai aquela cobra soltou do meu dedo e naquela
hora e eu assustei, assustei mesmo do meu dedo dormente e sentindo a picada da
cobra no meu dedo e ai comecei a chamar pelo sangue de Jesus e ler o Salmo 91 e
orei, tentei de novo e ai tive aquela revelação. Eu chegava juntinho da televisão e
então eu vi assim tipo assim, quando aquele povo assim é constante e vendo o
nome de Jesus de palavras a Deus, fiquei olhando e do lado tinha uma moça, era
duas moça do lado, olhando também. Uma mostrava-se católica e a outra tava
assim crente, mas crente assim meia não sei como, né? Ai uma, crente ficava assim
aguardando, assim tipo batendo palma e glorifica. A outra católica ficava assim
olhando aquele povo se transformando meio pra baixo, era figura de cobra, do meio
pra cima era figura de gente. Então fiquei abismada então, qué dizê, a revelação que
Deus, né? Não é muita gente estão caindo nesse laço, até mesmo muitos crentes,
né? Estão assim, é... comprando televisão, gente palavra de Deus conhece a
verdade da palavra de Deus, conhece que Deus é contra a televisão, mas...”
93
Incluídos nos anexos.
74
- Pastora: “Televisão é uma coisa má, né? Uma coisa má, né? Uma como diz que a
palavra de Deus, até ela condena, né?”
- Membro: “então, a palavra de Deus, assim é quem ama o mundo, o amor de Deus,
ne? Não está e que na televisão está com o mundo em casa que tudo de mau tá no
mundo tá na televisão e tá com o mundo dentro de casa, né? E passa muita coisa,
coisas que não agrada a Deus, né? Então foi isso ai a revelação, né? Que Deus me
deu, eu passei um alerta agora, né? Para todos que tiver ouvindo, cuidado com a
sua vida espiritual né? Porque Jesus está voltando, né?”
- Pastora: “Porque, minhas irmãs, hoje em dia eles fala que a doutrina do nomi, que
critica até mesmo a igreja que quer dizer que é o próprio Deus condenando a própria
palavra de Deus não é verdade, minha irmã?”
- Membro: “A própria palavra de Deus condenando, mas muitos não tão dando o
valor necessário, não tão dando ouvidos, estão até fazendo pouco caso da palavra
de Deus, que o que me mencionaram na vida, é pura verdade, porque eu assim
frequentava ministério que não tinha doutrina, né? Tem uns quatro anos que tive
nesse ministério, nada de Deus, porque não tinha doutrina né? Então eu cheguei na
igreja Deus é Amor, pela misericórdia de Deus, pela primeira vez que eu cheguei, já
se senti com a graça de Deus, a graça de Deus, por seus servos missionário Davi
Miranda, aleluia Jesus, agradeço muito a esse ministério santo e que Deus aqui
levantou na terra usando o seu ministério o missionário Davi Miranda e que aqui tem
muita gente que não dá valor, mas Deus vai cobrar no último dia.”
- Pastora: Que Deus te abençoe minha irmã. Irmã confirma o seu nome e endereço
para os ouvintes...”
- Membro: “Ivonete Santana de Moraes, é... Rua Fabiano, Estrada Fabiano, é 89, é,
Extrema Minas Gerais.”
- Pastora: ”Que Deus te abençoe por esta linda declaração que Deus passou para a
irmã. Que Deus te abençoe.”
Assim é finalizado o relato da senhora, membro da IPDA, com uma música de
forte apelo à sensação de conquista. A seguir, podemos ver as imagens dos vídeos
postados no YouTube nas figuras 12 e 13.
75
Imagem 18 – Imagem parcial do YouTube com conteúdo aprovado pela IPDA
Fonte: https://www.YouTube.com/watch?v=-f3OBoBPXLA94
Imagem 19 – Imagem parcial de vídeo postada no YouTube pela IPDA
Fonte: https://www.YouTube.com/watch?v=-f3OBoBPXLA95
94
Acesso em 12 nov 2014. 95
Acesso em 12 nov 2014.
76
3.2.4. A IPDA no Twitter
No Twitter, a IPDA insere chamadas que disponibilizam um link para suas
mensagens bíblicas, mensagens de eventos e acontecimentos institucionais,
menções religiosas e de seus vídeos no YouTube para que seus membros religiosos
que utilizam uma mídia eletrônica como a Internet não precisem buscar pela internet
os vídeos que precisam assistir. Assim seus membros seguem sempre atualizados
com todos os acontecimentos da IPDA.
Imagem 20 – Imagem da tela inicial do Twitter da IPDA
Fonte: https://twitter.com/deusamoroficial96
3.3. O Ciberespaço e o seu Potencial de Sociabilidade Religiosa
Como vimos, apesar de proibir o uso da TV a IPDA usa se vale da internet e
dos seus diferentes dispositivos (site oficial, Facebook, Twiter, YouTube) não
apenas como estratégia de proselitismo, mas também para reforçar a satanização
da TV.
A IPDA não apenas libera aos seus membros que usem os diferentes
dispositivos, mas também os estimula a isso. Como já dissemos foi justamente essa
a pergunta de partida que estimulou esta reflexão: Por que a IDPA é rigorosa na 96
Acessado em: 14 jan 2015
77
proibição do uso da TV aos seus membros e libera e estimula o uso da internet? A
explicação para essa aparente contradição não reside na doutrina religiosa, mas
está na natureza e nas diferenças cruciais existentes entre a mídia de massa e a
mídia de rede.
A comunicação existente em ambiente diferenciado do ambiente favorável da
gera comportamentos os quais merecem atenção e estudo na área de comunicação.
Como sabemos a TV é uma mídia fruto da comunicação de massa. A TV não
é um espaço midiático que propicie o encontro com o outro.
Outra grande alteração é o papel emissor-receptor que é caracterizado pela
mudança do modelo de comunicação realizado um-para-muitos para o formato
muitos-para-muitos. Assim, a Internet caracterizaria uma forma de quebra do modelo
ideal de comunicação massiva, pois traria uma ruptura monopolista do jornalismo e
da comunicação, possibilitando qualquer pessoa que possua uma ligação à Internet
ser proprietária de seu próprio órgão de comunicação.
Nesse sentido, emissor e receptor na comunicação da internet se convertem
em nós de uma grande rede. No lugar do processo comunicacional se organizar
em dois pontos emissor – receptor a internet permite um modelo de comunicação de
muitos para muitos, como já dissemos.
Uma rede de comunicação é definida como um conjunto de dois elementos:
atores (os nós da rede) e suas conexões (interações).
Nesse sentido, a internet além de representar uma mudança radical no
processo comunicacional, é uma dimensão de renovação de formas de
sociabilidade.
Howard Rheingold (1996) foi um dos primeiros a discorrer sobre a revolução
informática e analisar seus possíveis impactos na sociedade. Em “A Comunidade
Virtual”, afirmou que “as redes de computadores são necessárias para recapturar o
espírito cooperativo que tantas pessoas pareciam ter perdido quando adquiriram sua
tecnologia”, porque os computadores pessoais ligados em rede permitem a
comunicação e “podem promover uma mudança de consciência num sentido
igualitário, cooperativo e emancipatório, desde que, estejam em mãos adequadas e
a serviço de novas formas de convivência em sociedade”. (Rheingold, 1996 p. 27-
28).
78
Para Rheingold com o advento da internet tal prática parece ter sido
intensificada com a presença das redes mundiais de computadores, esses podem
aproximar indivíduos e possibilitar o surgimento de diferentes formas de relações da
sociedade, as comunidades virtuais se destacam. As comunidades virtuais foram
definidas inicialmente por Rheingold (1996) como:
(...) agregações sociais que emergem na Internet quando uma quantidade significativa de pessoas promove discussões públicas num período de tempo suficiente, com emoções suficientes, para formar teias de relações pessoais no ciberespaço.
No mesmo trilho, o sociólogo espanhol Manuel Castells afirma que a Internet
é o coração de um novo paradigma sociotécnico, que é na realidade uma base
sólida de nossas vidas e de como nossas relações são formadas. “O que a Internet
faz é processar a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a
sociedade em rede, que é a sociedade em que vivemos.” (Castells, 2003, p. 287).
Nesse sentido, para ele também as “comunidades virtuais” necessitam de ter
por base sentimentos de comunhão, confiança, compromissos, responsabilidade e
objetivos comuns conforme demonstra Manuel Castells (2003) quando propõe que:
“comunidades são redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade,
apoio, informações, e um senso de integração e identidade social” (p. 106).
As reflexões propostas por Rheingold, Castells, Costa, Recuero, Levy e Primo
acerca da participação e engajamento genuíno dos membros em uma comunidade
por meio de um veículo digital confirma que o advento da Internet trouxe a
esperança da interatividade, da interconexão e da inter-relação entre homens.
Nesse sentido, se por um lado a internet acolhe, a TV expulsa. O ciberespaço
se constitui como um lugar de encontros e de relações humanas. A necessidade
humana de “estar junto”, “de pertencer” é a força das comunidades religiosas e a
IPDA não é uma exceção. O ser humano é um ser sociável, movido por interesses
particulares, mas essencialmente depende da correlação da interação com os
outros, para a constituição dele como homem.
A dependência do homem, indivíduo em relação ao reconhecimento do outro,
a necessidade do social como forma de preenchimento dos pulsos de existência ou
a incompletude do homem em relação a sua autossuficiência e fundamentalmente a
79
importância das relações constituídas e a interação com o outro para
reconhecimento e validação de sua existência. Essa seria a premissa básica da
comunidade da IPDA que encontra na internet o seu alimento.
Numa sociedade em que as pessoas veem seus espaços de sociabilidade e
de encontro serem permanentemente circunscritos, a religião e o ciberespaço
passam a ser uma alternativa formidável. Nesse sentido, a IPDA sente-se muito à
vontade para inserir seus conteúdos na internet, procura recriar, regenerar os
vínculos sociais em uma sociedade em que o tecido social mesmo dilacerado e
esgarçado resiste a se regenerar nas relações religiosas e comunicacionais.
A presença da IPDA no ciberespaço permite-nos afirmar que a internet tem o
potencial para constituição de vínculos sociais fortalecendo relações humanas
desgastadas. Porém, é importante ressaltar que os laços sociais não se realizam no
interior do ciberespaço. Ele propicia um espaço de encontro que pode fortalecer
laços anteriormente estabelecidos na esfera social. Da mesma forma que o templo,
o ciberespaço é um espaço de encontro que permite desenvolver identificações que
estão a pedir um espaço de encontros e vínculos.
Da mesma forma que a religião, o ciberespaço tem o potencial de “re-ligar”
socialmente e não imita a mídia tradicional que manipula esses impulsos e
carências.
Esperamos que líderes religiosos e fiéis possam adquirir maior consciência
acerca de sua condição humana e trazer tanto para a religião como para a mídia a
capacidade regenerativa do laço social. Essa é uma qualidade positiva que pode ser
ampliada na cultura midiática.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao final desta pesquisa confirmando a estreita relação que existe
atualmente entre a religião e a comunicação. Como já pontuou Miklos (2012, p. 32):
“na disputa por mais fiéis, os meios eletrônicos de comunicação tornaram-se um
poderoso aliado de evangelização das igrejas.”. Dessa maneira, como o autor ainda
afirma “os meios de comunicação e religião passam a formar um conglomerado
complexo - uno e diverso -, em uma relação de interdependência.”.
A IPDA surgiu com foco em membros pobres e discriminados pela
sociedade. Com o crescimento das cidades e a chance de mudança de vida, com
promessas de melhoria social, muitas dessas pessoas, que viviam em zonas rurais
ou outras regiões pobres do Brasil, se aventuraram e se mudaram para regiões mais
promissoras, se instalando nas periferias das cidades. Esse público chegava com
carência material, sem escolaridade e profissão, tinha dificuldades para conseguir
bons empregos e sofria com o preconceito social. Muitos deixaram suas famílias nos
locais de origem com a esperança de um dia poder buscá-los para viverem em
prosperidade na nova cidade. Foi em regiões periféricas suburbanas e áreas rurais
que a IPDA instalou suas primeiras comunidades, conhecendo bem tais carências,
puderam atender a essa demanda por religião e ajuda social. Essas pequenas
igrejas ou comunidades, ainda hoje tem uma função muito importante, pois ensinam
e formatam o religioso para ser um membro da IPDA.
As igrejas passaram a partir dos anos sessenta também a utilizar a
tecnologia eletrônica para alcançar e contentar a seus membros. Nesse sentido, a
IPDA criou seu programa de rádio e o difundiu por todo Brasil por meio de espaços
alugados e, logo depois, por meio de rádios próprias. O rádio, como uma mídia
eletrônica de baixo custo, fez muito sucesso entre os membros religiosos,
especialmente entre os membros da IPDA, que podiam receber a voz do seu
Missionário e fundador David Miranda, que enfatiza durante todo o dia no Programa
“A Voz da Libertação”, a importância de se cumprirem as regras da IPDA. Esse
programa utiliza diversas ferramentas de marketing religioso como exemplos de
testemunhos verbais transmitidos pelas rádios de casos positivos de quem segue as
regras da IPDA, assim como testemunhos negativos de membros ou não membros
que não seguem as regras da IPDA. Esses programas podem ser ouvidos em locais
81
remotos, distantes e esquecidos, ainda que não haja interação direta com o
programa, proporcionam uma interação importante entre os membros que se
reúnem para escutar e, em seguida, discutir os temas abordados. Para a reprodução
de ações é preciso pessoas físicas e não apenas conexões eletrônicas.
Até hoje, essas difusões radiofônicas em AM favorecem a recepção dos
ouvintes que, devido à baixa capacidade financeira, só conseguem comprar um
rádio. Muitas igrejas usam qualquer tipo de meio para se comunicarem, assim, suas
mensagens tornaram-se mediadas. Embora as igrejas pareçam ter encontrado a sua
própria maneira de lidar com os meios de comunicação, mesmo dentro de uma
igreja, é possível encontrar pontos de vista distintos como o uso das mídias
contrastantes. No imaginário social midiatizado, a técnica é sacralizada, ocorre
dentro de um materialismo dialético que mostra os interesses dos indivíduos e o
poder das mídias, no caso do presente estudo, na difusão do pensamento do
Missionário Davi Miranda.
A IPDA passou por muitas mudanças em sua estrutura, tomou um novo
posicionamento frente aos desafios causados por não seguir a mesma evolução de
outras igrejas pentecostais, pois, ao contrário de muitas outras igrejas, segue
reprimindo totalmente investimentos em mídias televisivas para a difusão da doutrina
e da liturgia da sua igreja, mas segue investindo fortemente no uso e interação com
seus membros através da internet. A IPDA proíbe rigidamente o uso da Televisão
aos seus membros, mas libera o uso da internet.
A internet emergiu como um grande desafio para a IPDA, pois era necessário
a igreja estar na WEB o que dava a possibilidade de o membro navegar e acessar
diversos conteúdos desinteressantes na manutenção das rígidas regras impostas
aos fiéis pela igreja. Para isso, a IPDA estudou a taxonomia de suas mídias na
internet e percebeu que deveriam ter um site que permitisse uma interação muito
grande com os seus membros, ou seja, a online-religion, que proporciona maior
participação, mas também permite manter o controle sobre seus membros. Essa
taxonomia permite ao membro participar somente do que interessa à igreja,
alimentando a possibilidade de controle e fidelização deles.
Hoje já há sinais de que é provável que a IPDA se torne mais flexível com
relação ao uso de outras mídias, segundo o site de notícias pentecostais, “Rede
Pentecostal”. A IPDA não se restringe mais a publicar e utilizar somente suas mídias
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exclusivas e controladas, mas em jornais impressos e abertos ao público geral.
Atualmente, muitas igrejas pentecostais e também neopentecostais já flexibilizaram
suas regras e restrições impostas aos seus membros e a tendência é de que a IPDA
também acompanhe lentamente o caminho desbravado por outras igrejas
pentecostais anteriormente tão conservadoras. Como exemplo, a Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD) que, gradativamente, percebeu que seus membros mais
jovens pleiteavam por mais liberdade, liberou o acesso aos meios de comunicação
como a televisão, o rádio e a internet e flexibilizou seus costumes sociais.
O que se pode inferir, é que a Igreja precisa utilizar as mídias para sobreviver
e para ser uma comunidade, ela precisa interagir com seus membros, para isso,
precisa ter claramente definidas as estratégias e caminhos que sejam coerentes
com as suas regras, então também é preciso utilizar ferramentas do marketing
religioso para alcançar um resultado eficiente.
A TV é proibida para os membros da IPDA, porque as diversas emissoras de
teledifusão não podem ser controladas pela igreja, seus membros teriam acesso
ilimitado a diversos conteúdos sem aprovação da igreja, inclusive ao conteúdo e às
propostas de outras tradições religiosas. Os programas de rádio e conteúdos na
Internet são desenvolvidos e difundidos pela própria igreja apenas com os
conteúdos próprios.
A igreja tem sua estrutura de catequização, seus membros são orientados durante
muito tempo sobre a importância sagrada do cumprimento do seu Regulamento
Interno, ou seja, já tem seus membros devidamente formatados por seus meios nos
trilhos do sentido que a IPDA quer seguir. Os membros da IPDA têm em seu
imaginário coletivo a certeza de que o caminho correto é o Regulamento Interno e o
seguem fielmente, com receio de serem disciplinados, caso cedam a forças
apresentadas como negativas. Com o advento da internet, as igrejas também
começaram a utilizar mais essa mídia eletrônica, pois a IPDA também percebeu que
seus membros podem acessar diversos conteúdos e ainda serem encaminhados e
monitorados. A Igreja indica o que os membros podem acessar cujos conteúdos
desenvolvidos têm foco nos próprios seus interesses pela internet, pelo Facebook,
Twitter, YouTube e pelo seu site institucional.
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