confederação nacional dos trabalhadores na … · 2010-04-15 · estrutura no local também foram...
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A N O V I I | N Ú M E R O 6 5 | E d I ç ã O E s p E c I A l - J A N E I R O 2 010
cONfEdER AçãO NAcIONAl dOs TR AbAlhAdOREs NA AgRIculTuR A (cONTAg)
CONTAG
2º
Fe s t i v a l N a c i o n a l
da Juventude Rural - Junho
201
0
Contag faz balanço das conquistas e projeta desafios para 2010
2 0 0 9
2º festival da juventude ruralCÓDIGO FLORESTALCAMPANHA ELEITORAL
Grito da Terra Brasil
2 0 1 0
O 10º Congresso e os seminários regionais deram o norte político para a Contag nos próximos quatro anos. Em 2010, a questão ambiental, as políticas de renda,a organização do GTB e do Festival da Juventude e a participação no processo eleitoral destacam-se como prioridades do MSTTR.
BRASIL
®
Luiz Fernandes
César Ramos César Ramos
2 J o r n a l d a C o n t a g
Secretaria Geral
Jornal da Contag - Veículo informativo da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) | Diretoria Executiva – Presidente Alberto Ercílio Broch | 1º Vice-Presidente/ Secretária de Relações Internacionais Alessandra da Costa Lunas | Secretarias: Assalariados e Assalariadas Rurais Antonio Lucas Filho | Finanças e Administração Manoel José dos Santos | Formação e Organização Sindical Juraci Moreira Souto |Secretário Geral David Wylkerson Rodrigues de Souza | Jovens Trabalhadores Rurais Maria Elenice Anastácio | Meio Ambiente Rosicléia dos Santos |Mulheres Trabalhadoras Rurais Carmen Helena Ferreira Foro | Política Agrária Willian Clementino da Silva Matias | Política Agrícola Antoninho Rovaris | Políticas Sociais José Wilson Gonçalves | Terceira Idade Natalino Cassaro | Endereço SMPW Quadra 1 Conjunto 2 Lote 2 Núcleo Bandeirante CEP: 71.735-102, Brasília/DF | Telefone (61) 2102 2288 | Fax (61) 2102 2299 | E-mail [email protected] | Internet www.contag.org.br | Assessoria de Comunicação Jacumã - Soluções Criativas em Comunicação Ltda. | Edição Ronaldo de Moura | Reportagem Gil Maranhão, Iara Balduíno, Suzana Campos, Verônica Tozzi | Projeto Gráfico Wagner Ulisses e Fabrício Martins | Diagramação Fabrício Martins | Fotos Capa | Revisão Joira Coelho | Impressão Dupligráfica
expediente
Em ano de congresso, Contag realiza grandes ações
A atuação da Contag em 2009 foi marcada
pelas deliberações do 10º Congresso, pelas
conquistas do Grito da Terra e pelos resul-
tados dos seminários regionais. O saldo organizativo
do movimento sindical dos trabalhadores e trabalha-
doras rurais (MSTTR) passou por essa sequência de
ações políticas da mesma forma que a criação das
condições objetivas para viabilizar essas iniciativas
passou pelo trabalho da Secretaria Geral.
No caso do 10º Congresso Nacional da Contag,
que reuniu cerca de 3,1 mil trabalhadores e traba-
lhadoras rurais de todo o País, coube à secretária
comandada por David Wylkerson a observância do
cumprimento das regras estatutárias e regimentais
por parte dos estados e da Contag.
A convocação do congresso, a organização
da documentação, a recepção das delegações, o
acompanhamento do processo de escolha dos(as)
delegados(as) e, sobretudo, a preparação da infra-
estrutura no local também foram coordenadas pela
Secretaria Geral. “O nosso trabalho às vezes tem
pouca visibilidade, mas é essencial para a orga-
nização de congressos, plenárias e atividades de
massa do MSTTR”, explica o dirigente.
Esse papel foi cumprido à risca durante o
Grito da Terra Brasil 2009. A Secretaria Geral foi
responsável pelo diálogo político e institucional
com os poderes públicos em nível distrital e federal
e pela infraestrutura do evento, em conjunto com a
Secretaria de Finanças e Administração da Contag.
“Apesar de o Grito ter sido realizado logo depois
do congresso, tivemos de montar uma grande es-
trutura para recepcionar um dos maiores Gritos da
nossa história”, lembra David.
NOvAS TAREFAS – Além de fornecer a logística
para a organização das mobilizacões de massa e
de cuidar da preparação das atividades internas,
de forma exclusiva ou em conjunto com outras se-
cretarias, a Secretaria Geral também contribuiu na
organização das oficinas de planejamento estraté-
gico e no processo de construção da Política Na-
cional de Formação da Contag.
A indicação do secretário-geral da Contag para
o Conselho Gestor e a Coordenação Política da
Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc)
foi importante para a secretaria extrapolar as atri-
buições de caráter exclusivamente administrativas
e operacional. “Essa nova tarefa que assumimos foi
importante para aumentar a interação com o pro-
cesso formativo e gerar melhoria no trabalho orga-
nizativo da Secretaria Geral”, avalia David.
As discussões nos seminários regionais orga-
nizados pela Contag entre os meses de agosto e
novembro também sinalizaram a necessidade de
a Secretaria Geral superar os limites das tarefas
burocráticas que o Sistema Contag exige. O novo
papel das Secretarias Gerais da Contag e das Fe-
tags seria assumir a interlocução do debate político
interno do movimento sindical.
A Secretaria Geral da Contag pretende in-
vestir, em 2010, na articulação com os secre-
tários gerais das Fetags. A ideia é convocar
pelo uma reunião do conjunto desses dirigen-
tes em nível nacional. “Não conseguimos reali-
zar uma reunião com os secretários gerais por
causa das grandes ações planejadas, como
congresso, GTB e seminários regionais”, ex-
plica David.
Além da troca de experiências, o encon-
tro deve discutir a intervenção organizada
dos secretários gerais no processo eleito-
ral. “Precisamos sensibilizar nossas bases
para a importância de eleger candidatos(as)
comprometidos(as) com os trabalhadores e as
trabalhadoras rurais para a Câmara dos De-
putados e Assembléias Legislativas”, propõe.
O dirigente considera que essa tarefa é de
fundamental importância para o MSTTR: “O
que está em jogo é a consolidação e o forta-
lecimento de nosso Projeto Alternativo de De-
senvolvimento Rural Sustentável e Solidário
(PADRSS)”.
PlANEJAMENTO – Segundo David, a conclu-
são e o monitoramento do planejamento es-
tratégico é outra questão prioritária neste ano.
“Os seminário regionais já definiram as bases
e as diretrizes principais. A nossa tarefa agora
é conduzir trabalho de sistematização”, conclui
o secretário-geral da Contag.
Fortalecer o projeto político
da Contag
GANhO POlíTiCO – David Wylkerson considera
essa possibilidade como um grande desafio. “A
Secretaria Geral não tem uma atividade política
específica. Portanto, colocar esse papel de interlo-
cução em prática representa um grande desafio”,
constata o dirigente.
No entanto, David reconhece que alguns passos
já estão sendo dados nessa direção, como as tare-
fas assumidas nas reuniões preparatórias de plane-
jamento e na articulação das mobilizações de mas-
sa da Contag. “Acho que o grande ganho político
em 2009 foi a conscientização e o reconhecimento
desse papel da Secretaria Geral da Contag.”
Luiz Fernandes
David Wylkerson defende a disfiliação da Contag à CUT duirante o 10º Congresso
3J o r n a l d a C o n t a g
relaçõeS internacionaiS
Bandeiras do MSTTR ganham projeção no cenário internacional
A Contag participou ativamente, em 2009,
das principais agendas de interesse dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais no
mundo, a exemplo das conferências das mudan-
ças climáticas e da soberania e segurança alimen-
tar e nutricional. A atuação da entidade foi mais
uma vez reconhecida pelas organizações filiadas
à Confederação das Organizações de Produtores
Familiares do Mercosul Ampliado (Coprofam), que
elegeram a vice-presidente e secretária de Rela-
ções Internacionais, Alessandra Lunas, para o car-
go de secretária-geral da Coprofam.
Alessandra considera que esse reconheci-
mento é natural: “Somos a maior organização de
trabalhadores da América Latina e nosso país se
destaca como referência na construção de políti-
cas públicas para o meio rural”. A dirigente com-
preende que essa situação coloca a Contag em
posição de grande responsabilidade no âmbito
internacional.
CONFERêNCiA DA FAO – No mês anterior, em no-
vembro, a Contag integrou a delegação brasileira
na Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Se-
gurança Alimentar, em Roma. Um dos temas dis-
cutidos no encontro foi o fortalecimento da agricul-
tura familiar como forma de combate à fome. “Se
queremos acabar com a fome no mundo, é preciso
produzir alimentos e, para produzir alimentos, é
preciso políticas públicas que fortaleçam quem é
capaz de produzi-los”, defende Alessandra.
Apesar dos esforços da Organização das Na-
ções Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO) e da importância política dada pelas organi-
zações sociais de vários países, a Cúpula de Roma
não teve os resultados esperados. “Em que pesem
a participação dos chefes de Estado de mais de
170 países, os compromissos foram firmados pelos
países pobres, e não pelos que têm maior acúmulo
de riquezas”critica a dirigente.
Contag recebe reconhecimento de organizações externas e tem participação ativa na discussão de temas
globais como fome e meio ambiente
O documento final também não incluiu ações
claras para erradicar a fome mundial até 2015. No
entanto, é preciso destacar que a reforma do Co-
mitê de Segurança Alimentar Mundial das Nações
Unidas (CFS) pode permitir uma maior incidência
da sociedade civil na formulação de políticas glo-
bais de combate à fome e à desnutrição.
MERCOSUl – A Secretaria de Relações Interna-
cionais também se engajou na campanha Merco-
sul Sem Fome, coordenada pela Coprofam, em
parceria com a Action Aid. A campanha foi lançada
no Brasil no início de 2009, em Salvador.
De acordo com Alessandra, o Brasil tem partici-
pação importante na articulação da campanha. “O
Brasil é campeão nas experiências de construção
de políticas públicas para a área alimentar, a exem-
“Temos vários governos de esquerda ou de cen-
tro-esquerda na América do Sul. Portanto, o nosso
grande desafio é explorar essa conjuntura para fir-
mar acordos em torno do fortalecimento da agricul-
tura familiar e da necessidade de firmar acordos so-
ciais e não apenas comerciais”, propõe Alessandra.
Apesar da crise mundial aumentar significativa-
mente a fome no mundo, muitas oportunidades sur-
gem para a agricultura familiar, que é hoje um dos cen-
tros do debate nos principais espaços de construção
plo do Fome Zero, do Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e mais recentemente do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), lembra.
A dirigente destaca, ainda, a intervenção da
Contag nas atividades da Reunião Especializa-
da sobre Agricultura Familiar (Reaf). “Tivemos
conquistas significativas na Reaf em 2009 como,
por exemplo, a aprovação do Fundo da Agricul-
tura Familiar, que vai apoiar a participação da
sociedade civil nas reuniões no âmbito do Mer-
cosul”, comemora.
A Reaf representa atualmente a maior experi-
ência mundial na construção de políticas públicas
para agricultura familiar em espaços oficiais como
o Mercosul. Ela reúne representantes dos governos
e da sociedade civil dos países membros deste
bloco econômico.
MEiO AMBiENTE – Os dirigentes da Contag e das
Fetags participaram, em dezembro de 2009, da 15ª
Conferência das Partes sobre Mudanças Climáti-
cas (COP 15), em Copenhague, Dinamarca.
Apesar da avaliação negativa da Contag, a
COP 15 colocou o Brasil em posição de destaque
em relação ao tema. As discussões preparatórias
para a conferência do clima coincidiu com as ne-
gociações do MSTTR com o governo federal so-
bre o Código Florestal Brasileiro. “Isso demonstra
o grande desafio para a agricultura familiar quanto
ao reconhecimento de seu protagonismo na sus-
tentabilidade ambiental”, afirma Alessandra.
de políticas. “Estamos em campanha para que a ONU
estabeleça 2010 como o ano internacional da agricul-
tura familiar”, acrescenta a dirigente da Contag.
Ela também acredita que, neste ano, os temas
da fome e meio ambiente devem ser, novamente,
os principais pontos da agenda internacional dos
movimentos sociais, dos países e das organiza-
ções mundiais. “É preciso, acima de tudo, discutir
os impactos das mudanças climáticas na produção
de alimentos”, conclui.
Fortalecer a agricultura familiar na agenda internacional
César Ramos
A vice-presidente Alessandra lunas(d) foi eleita secretária-geral da Coprofam, em dezembro de 2009
4 J o r n a l d a C o n t a g
terceira idade
Organização da terceira idade cresce em todo o País
Um dos destaques da luta dos
trabalhadores e trabalhado-
ras rurais no ano passado foi
a criação da Secretaria Nacional de
Terceira Idade. A mudança do orga-
nograma da Contag foi referendada
durante o 10º Congresso Nacional da
entidade, em março do ano passado.
Apesar de 2009 ter sido o ano de
estruturação, a secretaria organizou
duas reuniões do Coletivo Nacional da
Terceira Idade e 13 encontros estadu-
ais de capacitação, que envolveram
cerca de 420 lideranças sindicais. Os
estados que ainda não promoveram
essas atividades serão contempla-
dos neste ano pelo convênio que a
Contag firmou com o Serviço Nacional
de Aprendizagem Rural (Senar).
Essa intensa mobilização mostra
o nível de organização da categoria,
que também pode ser medido pelos
seguintes números: 26 federações já
criaram Coletivos de Terceira Idade e
cerca de 50% dos STTRs já possuem
coordenações, comissão ou secre-
taria de Terceira Idade. Centenas de
sindicatos também estão organizan-
do grupos de idosos nas comunida-
des rurais.
CONqUiSTAS – Embora a organiza-
ção da categoria esteja crescendo
em nível nacional, as negociações
com o governo federal durante o
Grito da Terra 2009 não foram muito
exitosas. Contudo, Natalino lembra
que algumas políticas reivindica-
das pelo movimento sindical dos
trabalhadores e trabalhadoras rurais
(MSTTR) já estão sendo implementadas.
O Plano Técnico de Articulação
de Rede de Promoção dos Direitos
da Pessoa Idosa (Plantar), o Disque
Denúncia, o Fundo Nacional do Idoso
– criado em 20 de janeiro deste ano
por meio da Lei nº 12.213, além das
tarifas especiais de transporte para a
A criação de uma secretaria específica, a
implementação de políticas públicas e o debate
sobre o envelhecimento saudável marcaram
o ano de 2009
Natalino considera positivo o saldo
político-organizativo desde a criação
da secretaria. Porém, o dirigente es-
pera que os avanços sejam maiores
em 2010. A elaboração da pauta de
reivindicações da terceira idade para
o Grito da Terra já começou a ser de-
batida pelo Coletivo Nacional (vide
box abaixo).
O dirigente afirma ainda que o prin-
cipal desafio do MSTTR será garantir
terra ao idoso; além do acesso aos
remédios que o governo federal dis-
tribui nos municípios e nos estados.
Natalino acrescenta que as deman-
das de transporte estão se tornando
realidade, mas ainda não chegaram
a todos os estados. Ele deixa claro
que as expectativas da terceira idade
não param por aí. “Queremos propor-
cionar lazer e vamos trabalhar o pro-
cesso do envelhecimento saudável,
porque os trabalhadores e as traba-
lhadoras não param com a aposenta-
doria”, provoca.
ENDiviDAMENTO – Natalino apon-
ta outro desafio para o Sistema
Contag: o aumento exorbitante de
empréstimos consignados contrata-
dos por aposentados e pensionistas
do Instituto Nacional do Seguro So-
cial (INSS). Segundo reportagem do
Correio Braziliense, o sistema finan-
ceiro liberou empréstimos no valor de
PREPARAçãO PARA O GRiTO DA TERRA BRASil 2010R$ 22,3 bilhões no ano passado. O
montante é 152,3% maior em rela-
ção aos financiamentos concedidos
em 2008, o ano da crise econômica
mundial.
O MSTTR vê com preocupação
o endividamento dos aposentados e
pensionistas e a facilidade com que
esses empréstimos são contratados.
“Os trabalhadores e as trabalhadoras
rurais estão muito endividados e dei-
xam de se alimentar bem e de adquirir
medicamentos essenciais no processo
de envelhecimento”, explica Natalino.
terceira idade, são algumas das con-
quistas do Sistema Contag. “Estamos
trabalhando com o Ministério Público e
as reivindicações que ainda não foram
atendidas serão reapresentadas neste
ano”, garante o dirigente.
As metas que dependem somente
do MSTTR e ainda não foram imple-
mentadas em 2009, como é o caso do
Fundo Nacional de Defesa e Fortale-
cimento da Terceira Idade do MSTTR
(Fundfti), também serão retomadas
neste ano. “O importante é que essas
discussões encontram-se adiantadas
e foram bastante aprofundadas du-
rante os seminários regionais.”
AGENDA POlíTiCA – Além de par-
ticipar ativamente dos seminários re-
gionais, a secretaria se engajou em
todas as outras ações promovidas
pela Contag em 2009. “Nossa meta
agora é envolver cada vez mais as
Regionais e as Fetags na discussão
da agenda política da terceira idade”,
anuncia Natalino.
No entanto, o dirigente da Contag
ressalta que o foco da Secretaria da
Terceira Idade não ficará restrito às
questões específicas da população
idosa do campo. “Vamos trabalhar
com ênfase no processo eleitoral des-
te ano, pois a política partidária tem
importância muito grande para o mo-
vimento sindical. Sem isso não será
possível alcançar as metas“, garante
Natalino. O dirigente acrescenta que
os Coletivos da Terceira Idade devem
estabelecer planos de ação em todos
os estados do País.
PAUTA DE REiviNDiCAçõES
• Criação de política de acesso à terra para as pessoas idosas.
• Maior rigor na fiscalização dos empréstimos consignados.
• Elaboração de plano nacional para o envelhecimento saudável e ativo.
• Garantia de Política Nacional de Saúde.
César Ramos
Natalino Cassaro denuncia as fraudes do crédio consignado
5J o r n a l d a C o n t a g
políticaS SociaiS
Trabalhadores e trabalhadoras ruraisse mobilizam pelos direitos sociais
Em 2009, a luta da Contag,
Fetags e sindicatos de tra-
balhadores e trabalhadoras
rurais (STTRs) foi determinante para
conseguir importantes avanços na
saúde, educação, previdência social
e proteção infanto-juvenil.
Uma das principais conquistas
do MSTTR foi a assinatura do termo
de cooperação com o Ministério da
Previdência Social para cadastrar os
segurados especiais, diminuir a bu-
rocracia na concessão de benefícios
e capacitar lideranças sindicais para
socializar as mudanças ocorridas na
legislação da Previdenciária Rural.
O cadastramento será feito com a
participação dos STTRs. Essa medida
é importante para garantir e agilizar o
acesso aos direitos previdenciários
como auxílio-doença, aposentadoria
por idade e invalidez, pensão por
morte e salário-maternidade.
A Contag também tem estabe-
lecido uma agenda permanente de
negociação com o ministério e a dire-
ção do INSS para solucionar os con-
flitos existentes em torno da interpre-
tação das normas previdenciárias e
da melhoria do atendimento dos(as)
trabalhadores(as) rurais. Contudo, ain-
da são grandes os desafios para tornar
a Previdência Social uma política univer-
sal no campo que contemple a proteção
dos agricultores(as) familiares e, espe-
cialmente, os assalariados(as) rurais.
O secretário de Políticas Sociais da
Contag, José Wilson Gonçalves, consi-
dera que o saldo das negociações com
o governo federal em 2009 foi extrema-
mente positivo e projeta as metas para
este ano. “Nosso desafio, em 2010,
é agilizar o cadastramento dos(as)
segurados(as) especiais e assegurar
às assalariados(as) o pleno acesso aos
benefícios previdenciários.”
EDUCAçãO DO CAMPO – O diri-
gente também considera que hou-
ve, em 2009, avanços na discussão
e elaboração das políticas publicas
para a educação do campo. A Se-
cretaria de Políticas Sociais organi-
zou o 2º Fórum Contag de Educação
do Campo e participou de eventos
importantes, como a Conferência In-
ternacional de Educação de Jovens
e Adultos promovida pelo Unesco e
Ministério da Educação, e o Fórum
Internacional da Sociedade Civil so-
bre Educação.
A Contag contribuiu também com
as discussões sobre o Plano Nacional
de Educação 2011-2020 e mobilizou
o MSTTR para atuar nas mais de 300
conferências municipais e estaduais
preparatórias para a Conferência Na-
cional de Educação (Conae).
José Wilson comenta que a Con-
tag pretende, em 2010, consolidar a
educação do campo como política
pública no Plano Nacional de Edu-
cação e assegurar esse debate na
Conae. A continuidade do processo
de formação de educadores para
atuar na construção de políticas de
educação do campo nos estados,
municípios e nos territórios rurais é
outra meta da secretaria.
PROTEçãO iNFANTO-JUvENil –
Em 2009, a Contag se filiou ao Fórum
Nacional dos Direitos da Criança e
do Adolescente (FNDCA) e foi indi-
cada para a Coordenação Colegia-
da do Fórum Nacional de Prevenção
e Erradicação do Trabalho Infantil
(FNPETI). A entidade também come-
çou a participar do grupo de trabalho
do Ministério da Educação que dis-
cute Educação Integral no Campo e
conseguiu a reinserção no Pacto Um
Mundo para a Criança e o Adolescen-
te do Semiárido.
Além desses avanços, vale desta-
car a aprovação de seis diretrizes re-
lacionadas à proteção infanto-juvenil
no campo durante a VIII Conferência
Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente. O dirigente da Contag
avalia que, agora, o principal desafio
é garantir que essas diretrizes sejam
contempladas na elaboração da Po-
lítica Nacional de Proteção e Promo-
ção dos Direitos das Crianças e Ado-
lescentes para os próximos 10 anos.
Segundo José Wilson, a estratégia
da Contag na agenda de proteção
infanto-juvenil será o “aprofundamen-
to do debate no MSTTR focando as
questões relacionadas à educação, à
saúde e ao trabalho educativo”.
CONTAG DEFENDE ACESSO à SAúDE NO CAMPOO governo federal destinou cerca
de R$ 50 bilhões para o Sistema Úni-
co de Saúde (SUS) no ano passado.
Esses recursos foram determinan-
tes para ampliar o acesso dos(as)
trabalhadores(as) rurais a serviços
no âmbito da atenção básica, como
as equipes saúde bucal e da família,
farmácia popular e atendimentos de
emergência.
César Ramos
José Wilson defende políticas públicas concretas durante o II Fórum Contag de Educação do Campo
As políticas de saúde têm contribu-
ído para dinamizar a economia de mi-
lhares de municípios brasileiros. Essa
dinâmica tem exigido da Contag e das
Fetags maior participação nos espaços
de controle social e gestão participativa
por intermédio dos conselhos, confe-
rências, fóruns e comissões de saúde.
“Esses espaços são fundamentais para
as organizações sociais afirmarem o
SUS que queremos e para cobrar dos
gestores públicos a efetivação de uma
política que atenda a todas as neces-
sidades de saúde das populações do
campo e floresta”, afirma José Wilson.
A importância do SUS para o campo
levou a Contag a se engajar na Carava-
na Nacional em Defesa do SUS com o
objetivo de transformá-lo em Patrimônio
da Humanidade. O MSTTR participou,
ainda, da formulação da Política Nacio-
nal de Saúde Integral das Populações
do Campo e Floresta e na construção
da 1ª Conferência Nacional de Saúde
Ambiental. “Conseguimos incluir o tema
saúde ambiental na agenda sindical.
Agora, nosso desafio é estabelecer
um diálogo e convencer os gestores de
saúde para pactuar e implementar essa
política”, finaliza José Wilson.
6 J o r n a l d a C o n t a g
política aGrícola
2009 foi um ano bom para a agricultura familiar
As pautas de política agrícola apresenta-
das e negociadas pela Contag avança-
ram bastante em 2009. As reivindicações
levadas pelos trabalhadores e trabalhadoras ru-
rais ao governo federal durante o Grito da Terra
Brasil 2009 foram atendidas, mesmo que parcial-
mente. Os projetos de interesse da agricultura fa-
miliar também foram incluídos na agenda do Con-
gresso Nacional.
Em abril, os trabalhadores e trabalhadoras ru-
rais que participaram do Grito da Terra em Brasília
comemoraram a liberação de R$ 147 milhões para
o Programa de Assistência Técnica e Extensão Ru-
ral. A liberação desses recursos havia sido bloque-
ada pelo governo no início do ano. Outra conquista
importante foi a inclusão dos contratos de investi-
mento no Seguro da Agricultura Familiar (Seaf) de
preço e de clima. Até então apenas os contratos
para custeio de safra eram cobertos pelo seguro.
No ano passado foi criado também o Programa
de Desenvolvimento Sustentável da Unidade de
Produção Familiar, o Pronaf Sustentável. O progra-
ma visa a orientar e monitorar a implantação dos
financiamentos de agricultores familiares(as) e
assentados(as) da reforma agrária.
AliMENTAçãO ESCOlAR – Ainda durante o
Grito, o Congresso Nacional aprovou a Lei
nº11.947/09, conhecida como Lei da Alimentação Es-
colar. Ela garante que no mínimo 30% dos recursos
repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimen-
to da Educação (FNDE) para a alimentação dos estu-
dantes sejam fornecidos pela agricultura familiar. Isso
representa pelo menos R$ 850 milhões dos recursos.
No fim do ano, outra boa notícia. Em dezem-
bro o Congresso aprovou a Lei que cria a Política
Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(PNATER). Segundo o secretário de Política Agríco-
la da Contag, Antoninho Rovaris, a medida facilita
o acesso dos(as) produtores(as) aos serviços de
assistência técnica. “É uma lei importante, porque
Criação e fortalecimento de programas voltados para os agricultores e agricultoras familiares aprimoram
as condições de produção de trabalhadores e trabalhadoras rurais no País
vai desburocratizar o serviço de Ater no País”. A Lei
nº12.188/10 foi sancionada pelo presidente Lula no
dia 11 de janeiro de 2010 e será aplicada, na práti-
ca, a partir de março.
Além do fortalecimento dos programas gover-
namentais, a Secretaria de Política Agrícola conse-
guiu avançar na articulação das cooperativas de
agricultores(as) familiares e apoiar no fechamento
de negócios com empresas privadas. Um exemplo
foram os contratos com 19 empresas, entre elas a
Petrobras, para fornecimento de oleaginosas desti-
nadas ao biodiesel. “Buscamos a diversificação, não
apostando unicamente na soja e tivemos uma boa re-
ceptividade. Hoje no Semiarido brasileiro a Petrobras
está com um trabalho muito forte, especialmente com
mamona e girassol, que nos dará melhoria de condi-
ções para o próximo ano”, explica Rovaris.
O dirigente da Contag destaca, ainda, o trabalho
de criação e fortalecimento das cooperativas de cré-
dito. O Sistema Creditag que começou em dois esta-
dos – Espírito Santo e Goiás, atualmente atua em oito
Os dirigentes da Contag e das Fetags começa-
ram a definir na última reunião do Coletivo de Polí-
tica Agrícola da Contag, que ocorreu em novembro
do ano passado, algumas questões de interesse
da agricultura familiar que deverão compor a pauta
do Grito da Terra Brasil 2010.
A criação de uma política de garantia de ren-
da para os pequenos produtores é uma delas. A
ideia é que o governo federal garanta a compra
unidades da federação. A expectativa é aprofundar
parcerias com outros sistemas de cooperativas de
crédito para expandir e fortalecer as cooperativas da
agricultura familiar e economia solidária.
As características peculiares das cooperativas
de crédito – o produto principal é dinheiro deter-
minam que elas sejam regulamentadas e super-
visionadas pelo Banco Central do Brasil. “Esse
processo de controle e a responsabilidade dos
administradores faz em que as cooperativas adqui-
ram gestão profissional”, afirma Rovaris.
hABiTAçãO – O dirigente destaca, ainda, o Progra-
ma Nacional de Habitação Rural (PNHR): “Após mui-
ta luta e mobilizações, finalmente foi criado, em 2009,
um programa especifico de habitação para o meio
rural, com vistas a reduzir as necessidades de mo-
radia, hoje estimadas em 1,7 milhões de unidades”.
Rovaris acrescenta que, internamente, a secre-
taria ganhou reforços, que foram importantes para
dar continuidade aos trabalhos da equipe.
do excedente da produção que esteja compro-
metida com o pagamento de bancos. “É uma
complementação do Programa de Garantia de
Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF)”, es-
clarece Rovaris.
Outra reivindicação é a isenção de imposto
para produtos da agricultura familiar. “O governo
brasileiro tem isentado outros segmentos da so-
ciedade, por considerá-los estratégicos na ques-
tão do desenvolvimento, e nós entendemos que a
agricultura também precisa ter tratamento diferen-
ciado” avalia.
Segundo o dirigente da Contag, é preciso lu-
tar pela isenção de imposto na comercialização de
produtos para o consumo interno. Outra questão
que será negociada com o governo é a proposta
de modificação de alguns pontos da Declaração de
Aptidão ao Pronaf (DAP).
Coletivo discute pauta para o Grito da Terra
César Ramos
O secretário de Política Agrícola, Antoninho Rovaris, reivindica programas de geração de renda
para agricultura familiar durante Seminário Regional Sul, em Florianópolis
7J o r n a l d a C o n t a g
política aGrária
Contag fortalece a luta pela reforma agrária
Ao longo do ano de 2009, o Sistema
Contag promoveu dezenas de ações em
favor da reforma agrária no País, como o
fechamento de BRs em Mato Grosso do Sul e ocu-
pações da Superintendência Regional do Incra no
Distrito Federal e da unidade avançada do órgão
no município de Carlinda (MT). Além disso, o mo-
vimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras
rurais (MSTTR) organizou cerca de 300 acampa-
mentos, que envolveram mais de 25 mil famílias,
e promoveu em torno de 100 ocupações de áreas
improdutivas a partir da mobilização de aproxima-
damente duas mil famílias.
A intervenção da Contag também garantiu ou-
tras conquistas em 2009. As negociações do Grito
da Terra resultaram na liberação de recursos para
a desapropriação de 14 áreas reivindicadas pelo
MSTTR e na publicação de instruções normativas
que definiram critérios para os processos de desa-
propriação de terras.
No entanto, a pressão dos movimentos sociais
não foi suficiente para se contrapor à resistência da
bancada ruralista. “Lamentamos que a reforma agrá-
ria continue fora da agenda política do País e das
prioridades do governo Lula”, protesta o secretário de
Política Agrária da Contag, Willian Clementino.
íNDiCES DE PRODUTiviDADE – A atualização
dos índices de produtividade rural pautou par-
cialmente os esforços da secretaria em 2009. A
Contag debateu essa questão no Fórum Nacional
de Luta pela Reforma Agrária e pela Paz no Cam-
po e cobrou do presidente Lula a publicação da
portaria interministerial. O documento que define
A reforma agrária como estratégia de ampliação da agricultura familiar continua sendo o foco da atuação do movimento sindical e uma política estratégica para o enfrentamento dos problemas centrais do desenvolvimento nacional
critérios para atualização dos índices rural chegou
a ser assinado pelo ministro Guilherme Cassel, do
Desenvolvimento Agrário, mas foi engavetado no
Ministério da Agricultura.
O dirigente garante que um dos eixos do Gri-
to da Terra Brasil 2010 será a discussão sobre a
atualização dos índices de produtividade rural. “O
governo está descumprindo a lei e essa situação
não pode se arrastar indefinidamente. Vamos co-
brar em todas as instâncias o cumprimento da le-
gislação”, promete Willian.
CRéDiTO FUNDiáRiO – A Contag firmou, em
2008, um convênio com a Secretaria de Reordena-
mento Agrário (SRA) do Ministério do Desenvolvi-
mento Agrário para alavancar o Programa Nacional
do Crédito Fundiário (PNCF). O convênio permitiu
que em 2009 fosse realizado um encontro nacional,
seis seminários regionais e 21 encontros estaduais
para discutir o assunto.
Em parceria com outras instituições que com-
põe o Fórum de Luta pela Reforma Agrária, a
Contag também promoveu a retomada da Campa-
nha pelo Limite da Propriedade da Terra no Brasil.
Um evento nacional que envolveu representantes
de todos estados deu a linha para a campanha e
algumas federações colheram assinaturas para
respaldar um projeto de lei de iniciativa popular,
que vai propor limites para o tamanho das proprie-
dades rurais no Brasil.
Essa campanha ganhou o reforço da VI Marcha
da Classe Trabalhadora no final do ano passado. A
mobilização foi organizada pelas centrais sindicais
centrais sindicais para protestar contra a criminali-
Em 2010, a Contag vai continuar o trabalho
para dar maior visibilidade à luta pela reforma
agrária nos estados e municípios. “A reforma
agrária é um dos principais pilares do Projeto
Alternativo de Desenvolvimento Rural Susten-
tável e Solidário (PADRSS). Precisamos mos-
trar para a sociedade brasileira que sua imple-
mentação é primordial, não só para garantir
políticas públicas para o campo como para
produzir alimentos com qualidade para as po-
pulações urbanas e rurais”, enfatiza Willian.
Outra meta traçada pela Secretaria de Po-
lítica Agrária é desenvolver ações integradas
com outras secretarias da Contag, como a de
Jovens, Mulheres, Formação e Organização
Sindical, entre outras. “Essa articulação é es-
tratégica, porque os sujeitos que estão na re-
forma agrária são os mesmos abrangidos por
outras políticas internas do movimento sindi-
cal”, esclarece Willian.
As resoluções dos sete seminários re-
gionais promovidos pela Contag em 2009
também vão pautar as ações do Coletivo de
Política Agrária neste ano. “As demandas
apresentadas por nossa base naquelas dis-
cussões, a organização do Grito da Terra Bra-
sil 2010 e a construção do II Festival Nacional
da Juventude Rural são outras prioridades
daenossa atuação nesse ano”, conclui Willian.
Metas da Secretaria de
Política Agrária
zação dos movimentos sociais e defender a revisão
dos índices de produtividade.
ESPAçOS iNSTiTUCiONAiS – A Contag também
marcou presença nas reuniões do Comitê Nacio-
nal do Fundo de Terras, do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar
(Condraf) e da Reunião Especializada da Agricultu-
ra Familiar (Reaf).
Esses espaços juntaram representantes dos go-
vernos e da sociedade civil para discutir temas im-
portantes como política agrária, desenvolvimento ru-
ral sustentável e fortalecimento da agricultura familiar
nos países do Mercosul. “Essas parcerias foram fun-
damentais para avançarmos nas relações com outras
entidades que lutam pela reforma agrária, bem como
para fazer um contraponto às tentativas de criminali-
zação dos movimentos sociais”, lembra Willian.
César Ramos
Willian Clementino: lamentamos que a reforma agrária continue fora da agenda política do País
8 J o r n a l d a C o n t a g
aSSalariadoS e aSSalariadaS
Conquistas e desafios para os assalariados e assalariadas rurais
O Termo de Compromisso Nacional para
Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na
Cana de Açúcar foi a principal conquista
dos 4,5 milhões de assalariados e assalariadas rurais
do setor sucroalcooleiro. O documento assinado em
junho do ano passado pelo governo federal, repre-
sentantes dos usineiros,Contag e Feraesp estabelece
parâmetros para a contratação de mão de obra, re-
colocação profissional e implementação de políticas
publicas para os assalariados (as) do setor.
“Trata-se de um acordo histórico que busca
soluções para problemas gerados pela mecani-
zação da colheita, pela ação dos “gatos” na con-
tratação de mão de obra e pelo descumprimento
das cláusulas sociais das convenções coletivas
“explica Antonio Lucas, secretário de Assalaria-
dos e Assalariadas da Contag.
As negociações com o governo federal e em-
presários começaram a partir da pauta de reivindi-
cações apresentada pela Contag durante o Grito
da Terra Brasil 2008. Antonio Lucas participou di-
retamente das discussões e atualmente tem sido
convidado para falar dessa experiência em vários
países da America do Sul e da Europa. “O Termo
de Compromisso ganhou repercussão internacio-
nal em função da nossa capacidade de construir
um consenso tripartite que envolveu trabalhado-
res, empresários e governo”, explica o dirigente.
Outro ganho importante nesse processo foi
colocar o governo para discutir políticas públi-
cas para os assalariados rurais. A criação de um
projeto piloto de intermediação pública da mão
de obra rural também já está em discussão.
TRABAlhO ESCRAvO – A ação do movimento
sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais
(MSTTR) também foi decisiva para combater o traba-
lho escravo e situações análogas ao trabalho escra-
vo por meio das denúncias ao Ministério Publico do
Trabalho e da fiscalização do Ministério do Trabalho.
O MSTTR também se mobilizou para aprovar a
chamada “PEC do trabalho escravo”, que tramita
no Congresso Nacional há 18 anos. “Essa prática
só será extinta quando o assunto for realmente
tratado como crime. Não basta punir os respon-
sáveis com multa”, protesta Antonio Lucas.
MAiS AvANçOS – O acesso dos assalariados e
das assalariadas rurais à Previdência Social por
meio da Lei nº 11.718/08, que cria o contrato de
trabalhador rural por pequeno prazo e estabele-
ce normas para a aposentadoria rural, foi outra
conquista da Contag no ano passado. Antonio
Lucas considera que esse passo foi importante
para garantir inclusão social, diminuir a informa-
lidade no campo e eliminar a burocracia na con-
cessão dos direitos previdenciários aos trabalha-
dores contratados por curta duração.
As convenções coletivas cresceram não ape-
nas em número, mas também em qualidade de
negociação. Segundo Antonio Lucas, o amadu-
recimento do movimento sindical e a formação
dos dirigentes têm contribuído para melhorar
esse cenário.
iMPACTOS DA CRiSE – De acordo com estudo
da subseção na Contag do Departamento Inter-
sindical de Estatística e Estudos Socioeconômi-
cos (Dieese), a crise financeira mundial provocou
reflexos negativos de empregabilidade no meio
rural. A oferta de novos postos de trabalho diminui
significativamente e o número de contratações no
primeiro semestre de 2009 foi menor em relação
aos dois anos anteriores. Em contrapartida, Anto-
nio Lucas lembra que o número de empregados
admitidos com carteira assinada aumentou. “Esse
é um ponto muito positivo e mostra o avanço na
melhoria da qualidade de trabalho no campo”, as-
sinala o dirigente da Contag.
Já as negociações com o Ministério do Tra-
balho e Emprego (MTE) durante o Grito da Terra
2009 não foram conclusivas, mas abriram no-
vos canais para discutir políticas públicas de
saúde e segurança dos trabalhadores e das tra-
balhadoras rurais.
Nesse ano, a Secretaria de Assalariados e As-
salariadas vai dar prosseguimento na luta pela
erradicação do trabalho escravo e no trabalho de
assessoramento das Fetags e dos STTRs durante
as campanhas salariais. Também iniciará cursos de
capacitação e atualização de dirigentes sindicais.
A primeira boa noticia de 2010 vem da Região
Nordeste. A Federação dos Trabalhadores na Agri-
cultura do Estado de Sergipe (Fetase) depois de 18
anos fechou uma convenção coletiva com resultados
importantes para a categoria, como o fornecimento de
equipamentos de segurança, a definição de horários
preestabelecidos para aplicação de agrotóxico, pois tal
aplicação não se fará nos horários mais quentes do dia.
O piso salarial de R$525,00, o reconhecimen-
to de direitos da mulher e a fixação do dia 1º de
novembro como data-base também foram algumas
das conquistas dos(as) trabalhadores(as) rurais.
O secretário de Assalariados e Assalariadas
anuncia, ainda, que a Contag vai priorizar neste
ano o monitoramento do Termo de Compromisso no
setor sucroalcooleiro e a extensão desse modelo de
negociação para outras culturas. “O documento já
recebeu a adesão voluntária de 309 usinas de ál-
cool e açúcar de todo o País. O importante agora e
que as empresas cumpram à risca as cláusulas do
acordo”, assinala Antônio Lucas.
Negociações, convenções coletivas e perspectivas para 2010
César Ramos
Antonio lucas (c) fez um balanço da luta da Contag na defesa dos(as) assalariados(as) rurais
na abertura do Seminário Regional Centro-Oeste, em Goiânia
9J o r n a l d a C o n t a g
Meio aMbiente
As discussões sobre meio ambiente foram colocadas na ordem do
dia do movimento sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais
(MSTTR) no ano passado. O 10º Congresso da Contag criou uma se-
cretaria para tratar exclusivamente da questão ambiental e o foco principal do
Grito da Terra Brasil 2009 foi a criação de uma legislação ambiental específica
para a agricultura familiar.
As negociações com o Ministério do Meio Ambiente para alterar o Código
Florestal e encaminhar para o Congresso Nacional a proposta que estabelece
a remuneração pela prestação de serviços ambientais começaram em junho
e se estenderam até o fim do ano. “O MSTTR passou, finalmente, a priorizar
a questão ambiental. As negociações com o governo federal avançaram e
conseguimos muitas vitórias no ano passado”, avalia Rosicleia dos Santos,
secretaria de Meio Ambiente da Contag.
Confiram, abaixo, o balanço das ações da Contag na questão ambiental.
Código Florestal ganha destaque na agenda do MSTTR
Segundo a secretária de Meio Ambiente, a alteração do Código Florestal
e a criação de uma legislação ambiental específica para a agricultura fami-
liar são duas questões prioritárias para a Contag. “A pauta do Grito da Terra
Brasil 2010 deverá destacar esses dois pontos nas negociações com o go-
verno federal e com as lideranças políticas no Congresso Nacional”, adianta.
A Secretaria de Meio Ambiente vai acompanhar os trabalhos da Comis-
são Especial da Câmara dos Deputados, que está analisando as propostas
de mudanças no código, e também deve intervir nas discussões para a regu-
larização dos parques nacionais.
A dirigente da Contag antecipa, ainda, que a secretaria deve promover se-
minários regionais sobre educação ambiental, bem como continuar à partici-
pando dos debates sobre as mudanças climáticas. “O movimento sindical do
campo adquiriu uma consciência plena da importância da agenda ambiental
para o futuro da agricultura familiar em nosso país”, conclui Rosicleia.
Metas e desafios para 2010
Congresso da ContagO 10º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais
criou a Secretaria de Meio Ambiente e elegeu a jovem Rosicleia dos San-
tos para dirigir a nova secretaria. Os delegados e as delegadas também
aprovaram as propostas de mudanças no Código Florestal e a criação de
uma parceria entre a Contag e o Departamento de Educação Ambiental do
Ministério do Meio Ambiente.
CoP 15
A Contag participou ativamente das reuniões preparatórias paa a Confe-
rência das Partes sobre o Clima, a COP 15. A delegação brasileira incorporou
pela primeira vez uma representação da agricultura familiar numa conferência
internacional para discutir os impactos da questão climática na agricultura.
A comitiva da Contag liderada pela secretária Rosicleia dos Santos fez
uma avaliação negativa da COP 15. “Foram duas semanas de negocia-
ções em que se chegou apenas a um acordo não vinculante e sem o aval
de todos os países”, avalia.
Programa mais ambiente
O governo federal anunciou, em dezembro de 2009, o Programa Mais
Ambiente. A medida prorrogou por três anos o início do processo de regu-
larização das áreas de preservação permanente e de reserva legal, previs-
to para entrar em vigor em dezembro do ano passado.
A Contag reivindicou durante o GTB 2009 o adiamento da vigência do
decreto para os agricultores e agricultoras familiares se adequarem às no-
vas regras. Atendendo às pressões da bancada ruralista, o governo fede-
ral decidiu prorrogar o prazo tanto para a agricultura familiar como para os
grandes proprietários de terra.
eduCação ambientalEm outubro de 2009, a Contag realizou uma oficina nacional de educa-
ção ambiental e agricultura familiar, com a participação das lideranças re-
gionais. No evento foi deliberada a criação de um programa de educação
ambiental. A entidade ainda aguarda proposta do governo para análise.
grito da terra brasil
Os manifestantes defenderam a descriminalização dos(as)
agricultores(as) familiares e a compatibilização entre a produção agrícola
e a preservação do meio ambiente. A pauta de reivindicações destacou
também a alteração do Código Florestal e a criação de uma legislação
específica para a agricultura familiar.
O GTB 2009 construiu uma aliança histórica entre a Contag e as or-
ganizações ambientalistas. O governo concordou com a necessidade de
promover ajustes no Código Florestal e na criação de uma legislação es-
pecífica para a agricultura familiar.
O saldo concreto das discussões foi a publicação de três instruções
normativas, que tratam da recuperação de Áreas de Preservação Perma-
nente (APP), da Reserva Legal (RL) e do plantio de plantas nativas e exóti-
cas para recuperação de APP. As negociações culminaram com o envio de
um projeto de lei do governo ao Congresso que prevê a remuneração pela
prestação de serviços ambientais.
Parques naCionaisA Secretaria de Meio Ambiente trabalhou, ainda, para resolver os con-
flitos que envolvem os parques nacionais, a exemplo do Parque Nacio-
nal da Serra das Confusões, no Piauí. Após uma reunião entre a Contag,
Fetag/PI e o Instituto Chico Mendes, foi agendado um seminário para dis-
cutir mudanças e delimitações da área.
MARçO
SETEMBRO/OUTUBRO
DEzEMBRO
MAiO
AGOSTO
Fani Mamede
A secretária de Meio Ambiente, Rosicléia dos Santos, representou
a Contag na COP 15, em dezembro, na Dinamarca
10 J o r n a l d a C o n t a g
FinançaS e adMiniStração
Manoel dos Santos avalia gestão na Secretaria de Finanças da Contag
A Secretaria de Finanças e Administração
passou a ser comandada, desde abril de
2009, por Manoel dos Santos. O dirigente,
que presidiu a Contag por 11 anos, foi eleito du-
rante o 10º Congresso Nacional dos Trabalhadores
e Trabalhadoras Rurais para dar continuidade à
política de gestão democrática, transparente, au-
tônoma e autossustentavel do movimento sindical
dos trabalhadores e trabalhadoras rurais (MSTTR)
na área de finanças.
A primeira tarefa do novo secretário de Finanças
e Administração foi criar as condições de logística
para a Contag promover, em maio, o Grito da Ter-
ra Brasil 2009. “O tempo para a preparação dessa
mobilização de massa do MSTTR foi mínimo, mas
conseguimos superar as dificuldades e garantir a
infraestrutura necessária para receber milhares de
lideranças sindicais em Brasília”, avalia Manoel.
A primeira reunião do Coletivo de Finanças tam-
bém foi realizada em maio e discutiu a necessida-
de de o Sistema Contag aprofundar o processo de
capacitação das lideranças sindicais para padroni-
zar a política de financiamento autossustentável do
MSTTR. “O que percebemos é que há uma neces-
sidade de a Contag continuar investindo nessas
discussões de gestão e finanças, para aproximar
ao máximo as propostas, desde a entidade até o
sindicato e do sindicato até a Contag.”
CONSTRUçãO COlETivA – Segundo o dirigente,
ainda existem algumas dificuldades por parte das
direções das Fetags e dos STTRs em cumprir a de-
liberação do 10º Congresso que trata do repasse de
1% das contribuições de balcão arrecadadas pelos
sindicatos para o Sistema Contag. Manoel defende a
aplicação da resolução do congresso, mas faz a se-
guinte ponderação: “Não basta a gente enviar daqui
uma correspondência, enviar e cobrar dos STTRs,
nós precisamos construir algo com envolvimento e
participação das três instâncias do MSTTR.”
Ele considera também que as atividades do Pro-
grama Nacional de Fortalecimento das Entidades
Sindicais (PNFES) podem ser utilizadas para fazer
essa discussão. Um dos objetivos do PNFES é fa-
zer que os(as) dirigentes, conselheiros(as) fiscais
e contadores(as) do Sistema Contag aprimorem a
política de arrecadação e aplicação adequada dos
recursos do movimento sindical rural.
Manoel dos Santos também defendeu nas reu-
niões dos Coletivos de Finanças realizadas em
2009 que as campanhas de sindicalização pas-
sem a ser uma política permanente do Sistema
Contag. O objetivo é conquistar novos sócios e
buscar o retorno de quem já foi filiado e não par-
ticipa. O dirigente acredita que um dos desafios
colocados é combater a cobrança de serviços de
quem não é associado. “Se o sindicato estabelece
a cobrança de um serviço prestado a quem não
é associado, diminui a importância da campanha
de sindicalização. Isso não estimula a participa-
ção dos trabalhadores. É por isso que temos de
combater a cobrança desse serviço pontual e for-
talecer uma política de trazer o trabalhador e a
trabalhadora rural para a vida sindical”.
SEMiNáRiOS REGiONAiS – A Secretaria de Finan-
ças e Administração também teve um papel fun-
damental na organização dos seminários regionais
que discutiu, entre outros temas, o planejamento
estratégico da Contag. “O planejamento é um eixo
orientador, é um porto aonde nós queremos chegar
e que vai direcionar nossa navegação durante todo
o mandato”, avalia Manoel dos Santos.
Ao contrário dos processos anteriores, a discus-
são do planejamento das ações da Contag contou
com a participação das lideranças sindicais de
base nos sete seminários regionais organizados,
em conjunto com as Regionais da Contag e as Fe-
tags. “Essas discussões foram fundamentais para
dar o norte para o MSTTR nos próximos quatro
anos”, afirma.
O Sistema Contag vai aprofundar o debate sobre a unificação da política de financiamento e gestão
do MSTTR durante o seminário programado para os dias 9 a 11 de fevereiro. “A proposta é firmar com-
promissos entre a Contag e as Fetags de como trabalhar as políticas de arrecadação nos estados e mu-
nicípios”, esclarece Manoel dos Santos.
A Secretaria de Finanças e Administração, em conjunto com a Secretaria Geral, também vai apre-
sentar uma proposta de organização da logística do Grito da Terra Brasil 2010 e para o II Festival da
Juventude na primeira reunião do Conselheiro Deliberativo da Contag, programada para o mês de março.
Outra prioridade apontada pelo secretário de Finanças e Administração da Contag é o acompanha-
mento dos trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional propos-
ta pela bancada ruralista para criminalizar os movimentos sociais que lutam pela reforma agrária. “Temos
de intervir nesse espaço, porque a Câmara dos Deputados e o Senado Federal são dominados por forças
contrárias aos interesses dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais” justifica Manoel.
CAMPANhA ElEiTORAl – O dirigente da Contag defende, ainda, a participação organizada do MSTTR
nas eleições que vão eleger o sucessor do presidente Lula, os novos governadores e os representantes
do povo no Senado, na Câmara dos Deputados e nas Assembleias Legislativas. “A implementação do
nosso Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) depende dos re-
sultados desse processo eleitoral. O que estará em jogo serão a consolidação e a ampliação das políticas
públicas que conquistamos nos últimos anos”, conclui o secretário.
Ações prioritárias
César Ramos
Manoel de Serra (em pé) avalia as políticas de territorialidade do governo federal no Seminário
Regional Nordeste em Recife
11J o r n a l d a C o n t a g
MulhereS
Secretaria de Mulheres faz balanço das mobilizações em 2009
Na retrospectiva das ações reali-
zadas ano passado, a Secretaria
de Mulheres da Contag, relembra
como referencial a IV Plenária Nacional das
Mulheres Trabalhadoras Rurais, realizada
em novembro de 2008, Luziânia (GO).
O debate, a atualização e mobilização,
a partir desta plenária, foram fundamentais
para que no 10º. Congresso Nacional de
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais fos-
se aprovado a inclusão, no Projeto Alternati-
vo de Desenvolvimento Rural Sustentável e
Solidário (PADRSS) da Contag, a proposta
de desenvolvimento para o campo brasi-
leiro, que incluísse a busca pela igualdade
entre homens e mulheres.
No início de 2009, as trabalhadoras par-
ticiparam da preparação para o congresso.
Contribuíram o conteúdo, debateram as
pautas prioritárias com a base. Houve in-
tensa mobilização nos estados. Por conta
dessa articulação política ampliaram o nú-
mero de delegadas e todas propostas apre-
sentadas por elas foram aprovadas.
ATUAçãO POlíTiCA – Após o congresso
estiveram nas mobilizações, todas elas, in-
clusive no Grito da Terra Brasil (GTB). Ela-
boraram propostas para fortalecer os direitos hu-
manos das mulheres nas negociações do GTB. No
planejamento estratégico, a fim de garantir a trans-
versalidade em gênero, estiveram em permanente
debate. Promoveram ações para construir novos
marcos na defesa dos interesses sindicais. Essa
militância proporcionou mais de 30% das mulheres
nos Seminários Regionais, que atuaram com inter-
venções qualitativas. Contribuíram para atualizar o
PADRSS. Como resultado desta gestão, foi aponta-
do à necessidade de continuidade na valorização
da participação das mulheres em todas as instân-
cias da Contag.
JORNADA DAS MARGARiDAS – O protagonismo
das mulheres nos territórios rurais foi o tema da Jor-
nada das Margaridas, em 2009. Foram feitas refle-
xões sobre as reivindicações das margaridas e as
políticas públicas concretizadas. Entre as
atividades, a Secretaria de Mulheres realizou
o seminário ‘Protagonismo das Mulheres nos
Territórios Rurais’. Temas como PADRSS,
políticas públicas para enfrentamento da vio-
lência, assistência técnica, acesso a terra,
organização produtiva e as formas para em-
poderar as mulheres, nortearam a jornada.
Violência Além do protagonismo das
mulheres no desenvolvimento territorial, a
Secretaria realizou pesquisa sobre ‘Violên-
cia contra as mulheres trabalhadoras ru-
rais nos espaços doméstico, familiar e no
MSTTR’. Com aplicação de questionários,
perguntas computadas em programa espe-
cífico de análise quantitativa, os dados re-
velaram que 55,2% das dirigentes sindicais
já sofreram algum tipo de violência. A pes-
quisa mostra uma realidade que precisa ser
superada: “Os depoimentos das mulheres
que participaram da análise mostram que a
violência é um fato corriqueiro no interior do
movimento sindical”, denuncia Carmen.
AçãO 2010 – Durante todo o ano, a Secre-
taria de Mulheres contribuiu com os prepa-
rativos para a Ação 2010 da Marcha Mun-
dial de Mulheres. A atividade é uma ação
política que reunirá mulheres do campo e da cida-
de. As trabalhadoras rurais reivindicam um mundo
sem violência, com autonomia econômica e o meio
ambiente sustentável para as mulheres do planeta.
Cerca de 700 trabalhadoras da Contag confirma-
ram presença na caminhada. A marcha sairá de
Campinas rumo a São Paulo. Vai do dia 08 até 18
de março. “Seguiremos em marcha até que todas
sejamos livres”, anunciam as trabalhadoras.
MARChA DAS MARGARiDAS – De acordo com Carmen Foro, em 2010 todas
as ações da Secretaria de Mulheres estarão voltadas para planejar a quarta edi-
ção da Marcha das Margaridas prevista para agosto/2011. A definição dos objeti-
vos, construção da pauta, estratégia de organização, divulgação e o lançamento
da marcha são grandes desafios, a serem discutidos e aprovados este ano.
DiA iNTERNACiONAl DA MUlhER – O 08 de março é dia de luta para
as trabalhadoras rurais. Além da participação na Ação 2010, as Comissões
Estaduais irão realizar outras atividades nos estados e municípios para ce-
lebrar a data.
FORMAçãO PARA AS MUlhERES – A Secretaria aponta a realização do
programa de formação política e sindical específico para as mulheres, com
viés feminista, como um grande desafio. O curso será pela Escola de Forma-
ção da Contag (Enfoc).
ElEiçõES 2010 – Ações estratégicas serão feitas para mostrar a importância
das eleições e orientar a participação das lideranças sindicais nas eleições. “A
idéia é que a gente possa fazer as mulheres se envolverem em um debate de
qual é o Brasil que nós queremos e como incidir, democraticamente, para isso
aconteça”, disse Carmen Foro.
Desafios e planejamento para 2010
César Ramos
Carmen: a pesquisa da Contag revela que a violência infeliz-
mente é um fato corriqueiro no movimento sindical do campo
12 J o r n a l d a C o n t a g
ForMação e orGanização Sindical
Contag comemora salto na formação de lideranças sindicais
A Secretaria de Formação e Organização
Sindical, por meio da Escola Nacional
de Formação da Contag (Enfoc), capa-
citou mais de mil lideranças do movimento sin-
dical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais
(MSTTR) no ano passado. Foram cinco cursos re-
gionais, organizados em três módulos.
Os cursos de formação política para dirigen-
tes e assessores do MSTTR trataram de questões
relacionadas ao Estado e Sociedade, Concep-
ção e Prática Sindical e Desenvolvimento Rural
Sustentável e Solidário.
O secretário de Formação e Organização Sindi-
cal da Contag, Juraci Moreira, avalia que além do
aspecto quantitativo, o trabalho desenvolvido pela
Enfoc representa um grande salto qualitativo para
o Sistema Contag. “Nossos dirigentes estão valori-
zando e percebendo a importância estratégica da
formação político-sindical para o fortalecimento do
Sistema Contag”, constata Juraci.
As atividades da Enfoc também aprofundaram
os parâmetros da Política Nacional de Formação
(PNF). Segundo Juraci, a Secretaria de Forma-
ção e Organização Sindical conseguiu envolver,
em 2009, um grande número de dirigentes sindi-
A Secretaria de Formação e Organização Sindical também intensificou em 2009 o processo de regularização de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais (STTRs)
cais para aprofundar e socializar os referenciais
teóricos, políticos e ideológicos da PNF. “Essas
discussões são importantes para fortalecer a luta
da classe trabalhadora no campo, dentro de uma
visão de transformação”, esclarece.
SEMiNáRiOS REGiONAiS – O dirigente lembra
também que o tema da formação foi destaque
nos sete seminários regionais promovidos pela
Contag em conjunto com as Fetags. A Secretaria
realizou, em parceria com a subseção do Dieese
na Contag, uma pesquisa para identificar o perfil
dos dirigentes e lideranças do MSTTR presentes
nos seminários. “Ficou claro nesses encontros
que a formação é um anseio e uma reivindicação
de nossas lideranças de base”, afirma Juraci.
Além de participar de forma qualificada dos
seminários regionais, a Secretaria de Formação
e Organização Sindical promoveu, em dezembro
de 2009, o Seminário Nacional de Sistematiza-
ção da Enfoc. O seminário foi mais uma etapa
do processo de sistematização sobre a estraté-
gia formativa e vivências da escola e resultou na
produção de materiais pedagógicos, que serão
lançados no Conselho Deliberativo da Contag.
Regularização dos sindicatosA organização sindical ganhou um novo
impulso em 2009. As negociações com o mi-
nistro Carlos Lupi durante o Grito da Terra
Brasil 2009 abriram um canal de negociação
direta da Contag com a Secretaria de Rela-
ções do Trabalho.
Juraci Moreira considera que essa medida
foi essencial para destravar os processos de
análise de registro sindical e pedido de alte-
ração estatutária que estavam tramitando de
forma lenta no ministério. “A Secretaria de For-
mação e Organização da Contag vai intensifi-
car, em 2010, ações no sentido de ampliar a
personalidade sindical do movimento sindical
para o aumento da concessão do registro e al-
teração estatutária no Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE)”, explica o dirigente.
Os resultados desse trabalho, iniciado em
2009, já começaram a aparecer. “Estamos,
hoje, com percentual muito grande de sindi-
catos regularizados”, comemora o secretário
Juracy Moreira.
Outra meta da secretaria para este ano é
a ação recorrente de regularização dos sindi-
catos de trabalhadores e trabalhadoras rurais
(STTRs) filiados à Contag. “Vamos realizar en-
contros regionais de capacitação sobre o aces-
so ao Cadastro Nacional de Entidades Sindi-
cais (CNES), no primeiro semestre de 2010”
anuncia Juraci. O objetivo dessa atividade é
unificar os procedimentos da Portaria 186, que
trata da questão do registro sindical e do aces-
so ao CNES.
Metas da EnfocO Coletivo Nacional de Formação e Organi-
zação Sindical realizado em dezembro fez uma
avaliação positiva das atividades realizadas
em 2009 e traçou as metas para este ano. Uma
das ações será a realização da terceira turma
de âmbito nacional da Enfoc, prevista para o
segundo semestre, em Brasília.
A secretaria, juntamente com as Fetags,
também vai promover, no período de abril a
outubro, 27 cursos estaduais de multiplicação
criativa. Ainda no primeiro semestre, a Enfoc
vai lançar um curso de formação política espe-
cífica para as trabalhadoras rurais.
O conteúdo do programa deve incluir te-
mas como feminismo e histórico de luta das
mulheres no Brasil e no mundo. Esse curso
será direcionado para as dirigentes da Contag
e das Fetags.
César Ramos
O secretário Juraci Souto destaca importância da formação para o fortalecimento do Sistema
Contag, no Seminário Regional Norte, em Manaus
13J o r n a l d a C o n t a g
Juventude
O campo é lugar de gente jovem
Aformação de novas lideranças juvenis do
campo, a mobilização para aprovação de
projetos que tramitam no Congresso Na-
cional e a insistência pelo acesso às políticas públi-
cas foram os temas que nortearam as ações da Se-
cretaria de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais no ano passado. Todas essas ações foram
defendidas pela Contag para garantir a permanên-
cia dos jovens no campo e, consequentemente, a
sucessão rural.
Essas bandeiras foram reafirmadas na Plenária
Nacional da Juventude e levadas ao 10º Congresso
da Contag, constaram da pauta do Grito da Terra
Brasil e foram aprofundadas nas turmas do Pro-
grama Jovem Saber e nas oficinas temáticas dos
Festivais Estaduais da Juventude. “Essas ações
revelam o poder de mobilização e organização de
sujeitos políticos importantes no desenvolvimento
Contag prioriza o debate sobre a sucessão rural para garantir permanência da juventude no campo e reforça luta pelo acesso dos jovens rurais às políticas públicas
do campo e que vêm fortalecendo o movimento
sindical dos trabalhadores e trabalhadoras rurais
(MSTTR)”, esclarece Elenice Anastácio, secretária
de Jovens da Contag.
Em 2009, a ocupação de espaços na estrutura
do MSTTR começou com a eleição de 11 jovens
para a direção da Contag, sendo três para a Direto-
ria Executiva (Secretarias de Jovens, Política Agrária
e Meio Ambiente), duas no Conselho Fiscal Efetivo
e seis nas Suplências da entidade. Desse total, oito
são mulheres jovens.
Esse processo se repetiu na eleição das di-
retorias das Fetags de vários estados. As Vice-
Presidências da Fetaes, no Espírito Santo, e da
Fetagro, em Rondônia, foram assumidas por diri-
gentes jovens. “É importante que as federações
e os sindicatos cumpram a cota de juventude”,
lembra a dirigente.
A meta da Secretaria de Jovens é mobilizar 5
mil jovens para participar do 2º Festival Nacional da
Juventude Rural, programado para o período de 7
a 10 de junho, em Brasília. O lema do evento será
Sucessão rural com terra, políticas públicas, meio
ambiente sustentável, trabalho e renda.
O festival vem sendo construído pelos sindicatos,
federações e Contag. “É importante a mobilização
da juventude em todo o País para que possamos
construir um documento, a ser entregue ao governo
JOvEM SABER – A experiência de formação polí-
tico-sindical e de capacitação técnica da juventude
rural implementada por meio do Jovem Saber com-
pletou cinco anos no ano passado. A secretária de
Jovens faz um balanço positivo do programa. “O tra-
balho conjunto com as Coordenações Estaduais está
sendo totalmente exitoso. Nós registramos a partici-
pação de cerca de 30 mil participantes de 800 sin-
dicatos. É importante que outros sindicatos também
participem do programa”, conclama Elenice.
Temas como educação, esporte, cultura, aces-
so ao crédito e outros de interesse da juventude
também foram debatidos nas oficinas dos Festi-
vais Estaduais da Juventude. Esses eventos mo-
bilizaram cerca de 2,5 mil lideranças de seis es-
tados das Regiões Norte e Nordeste, de julho a
dezembro do ano passado. Vários estados estão
fazendo essa mesma discussão em 2010.
PROJETOS – O Congresso Nacional foi outra fren-
te de luta da Secretaria de Jovens da Contag. As li-
deranças que participaram do Grito da Terra Brasil
2009 pressionaram os parlamentares para acelerar
a apreciação de projetos de interesse da juventude
rural, a exemplo do Plano Nacional da Juventude.
A secretária lembra que o projeto é resultado
de duas conferências que a juventude rural ajudou
a construir. Além desse projeto, os parlamentares
estão analisando o Estatuto da Juventude, a Pro-
posta de Emenda Constitucional (PEC) da Juven-
tude, que inclui a expressão jovem como sujeito
de direito na Constituição Federal, e o projeto de
lei complementar que possibilita a compra de ter-
ra entre herdeiros. “A aprovação desses marcos
legais é importante para garantir que os governos
estaduais e municipais também assumam a res-
ponsabilidade com a juventude para que de fato
haja uma política de juventude em nosso país”,
afirma Elenice.
federal, com propostas que melhorem a vida dos jo-
vens no campo”, diz Elenice.
Segundo a secretária, o acesso à terra, a imple-
mentação de políticas publicas e as oportunidades
de trabalho e geração de renda são condições fun-
damentais para a permanência do jovem no cam-
po. A relação entre essa bandeira e a estrutura do
MSTTR será debatida durante o festival. “Vamos dis-
cutir que campo queremos e como fortalecer ainda
mais a organização da juventude rural. Isso é essen-
Prioridade total para o 2º Festival Nacional da Juventude Ruralcial para renovarmos nossos sonhos, nossas lutas e
implementar o Projeto Alternativo de Desenvolvimen-
to Rural Sustentável e Solidário”, propõe a dirigente.
No segundo semestre, uma das prioridades
será a participação da juventude no processo elei-
toral. “Temos de eleger pessoas comprometidas
com o desenvolvimento do campo e também com
as especificidades da juventude. Por isso a impor-
tância do voto consciente nas eleições de 2010”,
conclui Elenice.
César Ramos
Elenice Anastácio anuncia a pauta de reivindicações da juventude rural durante o GTB 2009
14 J o r n a l d a C o n t a g
preSidência
O ano de 2009 foi marcado por grandes ações da Contag: além do Grito da Terra Brasil e
da Jornada das Margaridas, foi realizado o 10° Congresso Nacional dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais e os seminários regionais. Esses eventos foram fundamentais para a
Contag discutir e deliberar sobre sua organização, metas e ações a serem desenvolvidas nessa
gestão. Essas ações também foram importantes para a atualização do Projeto Alternativo de
Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (PADRSS) e aproximar a direção
da entidade de sua base sindical. Além disso, houve muitas conquistas,
especialmente para os agricultores familiares. Na entrevista a seguir o
presidente da Contag, Alberto Broch, faz uma avaliação do ano e fala
sobre os desafios para 2010.
Lutar para garantir avanços em 2010
A Contag começou o ano de 2009
com a preparação e organização
do 10° Congresso. qual foi o saldo
desse processo?
Foi um dos maiores congressos
da Contag, e dentro desse congres-
so, tivemos a capacidade de cons-
truir uma chapa unitária, mantendo
um processo de unidade da Contag,
e ao mesmo tempo de fortalecimen-
to das duas centrais sindicais – CUT
e CTB – alinhadas com o movimento
sindical dos trabalhadores e trabalha-
doras rurais (MSTTR).
qual foi a importância e os resultados
dos sete seminários regionais promo-
vidos pela Contag e pelas Fetags?
Esses encontros regionais tive-
ram peso muito grande para a or-
ganicidade do movimento sindical,
trazendo a Contag mais próxima dos
sindicatos e das federações. Houve
a participação de quase duas mil li-
deranças sindicais, fizemos um de-
bate profundo sobre a atualização
do nosso projeto político, bem como
dos elementos centrais para o plane-
jamento estratégico da Contag.
E qual foi o balanço do Grito da Ter-
ra Brasil?
Sem dúvida eu destaco que o sal-
do mais positivo nesse processo de
negociação está na área da agricultu-
ra familiar. A negociação de 15 bilhões
de reais para o Plano Safra, a apro-
vação da lei da merenda escolar e o
seguro investimento para a agricultura
familiar, que é uma política nova. Ago-
ra, nem tudo isso evidentemente está
regulamentado, nem tudo está acon-
tecendo lá na ponta. Portanto, temos
enormes barreiras entre as negocia-
ções e a efetiva aplicação das políti-
cas públicas aos seus beneficiários.
A atualização dos índices de produ-
tividade rural também não saíram
do papel.
Sim. E Contag não vai parar de
lutar para que se altere a lei. Atuali-
zar os índices de produtividade nada
mais é do que cumprir a legislação,
que há mais de 30 anos não vem sen-
do cumprida. Portanto, o governo fe-
deral ainda não cumpriu a dívida com
os trabalhadores e trabalhadoras ru-
rais para garantir a democratização
do acesso à terra.
A questão das políticas de terri-
torialidade foi um tema bastante
discutido pela Contag, sobretudo
nos seminários regionais. qual a
importância de intervir nos territó-
rios rurais?
Nós estamos convencidos de que
a política de territorialidade é funda-
mental para a aplicação do nosso
projeto alternativo. Porém, temos tido
duas grandes dificuldades: uma é que
o governo tem implementado uma
política de territorialidade sem maior
articulação com o conjunto do movi-
mento sindical. A outra é a ausência
de prioridade com incidência articula-
da de parte do nosso movimento nes-
ses espaços, no momento certo. Mas
estamos convencidos de que temos
de superar esses problemas, porque
é efetivamente nos territórios que as
pessoas vivem e moram. Portanto en-
tendemos que essa é uma das gran-
des prioridades para 2010.
A Contag também está fortalecen-
do as ações regionais. qual a im-
portância desse investimento?
Estamos convencidos de que
o fortalecimento da estruturas das
Regionais da Contag representa a
consolidação cada vez maior do mo-
vimento sindical, numa gestão des-
centralizada que vem fortalecer a
democracia interrna do MSTTR. Essa
articulação política vai facilitar a hori-
zontalização das ações da Contag e
garantir que nossas conquistas sejam
efetivamente implantadas na ponta.
A relação da Contag com a CNA
foi bastante conflituosa em 2009.
Como o senhor avalia essas con-
tradições?
Nós avaliamos isso com certo grau
de normalidade. Certamente teremos
momentos de muitos conflitos, porque
defendemos projetos diferentes. Nós
temos projeto para esse país, para os
trabalhadores rurais, para a agricultu-
ra familiar e para o desenvolvimento
territorial sustentável. Eles têm outro
projeto. Como eles representam os
patrões e nós, os assalariados rurais,
precisamos sentar com a CNA, dis-
cutir como organizações civilizadas
deste país, mas avançando para que
nosso projeto seja vitorioso.
E quais são os principais desafios
da Contag para 2010?
O primeiro deles é o desafio elei-
toral. Vamos lutar para que este país
continue tendo avanços, e não retro-
cessos. Temos uma grande tarefa de
eleger um governo que dê continui-
dade a este projeto de país. Vamos
eleger nossos representantes a de-
putado estadual e federal, pessoas
orgânicas das nossas federações,
defensores do movimento sindical
junto nas esferas de governo. Ou-
tros pontos desafiadores são: cons-
truir um Grito da Terra vitorioso neste
ano eleitoral e organizar o II Festival
Nacional da Juventude. A questão
ambiental e as mudanças no Códi-
go Florestal também são prioritárias,
porque a partir da nova legislação
teremos toda uma preparação para
atualizar nossas propriedades, nos-
sos assentamentos, e isso exigirá
uma grande mobilização nacional.
Alberto ercílio broch
Wilson D
ias/ABr