conferÊncia retinopatia diabÉtica · 2018-10-18 · 25%dosdiabÉticos podeter retinopatia...

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451 milhões de pessoas (com mais de 18 anos) de portadores de diabetes 693 milhões de pessoas em 2045. 49,7% das pessoas que vivem com diabetes não são diagnosticadas. 850 mil milhões de dólares de gastos globais em saúde com diabéticos. ESPECIAL UMA VISÃO DO FUTURO Fonte: Atlas de Diabetes da International Diabetes Federation (IDF)-2018 ESTE ESPECIAL É DA INTEIRA RESPONSABILIDADE DO DEPARTAMENTO COFINA EVENTOS E FAZ PARTE INTEGRANTE DA REVISTA SÁBADO RETINOPATIA DIABÉTICA CONFERÊNCIA

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451milhõesdepessoas (commais de 18 anos) deportadoresdediabetes693milhõesdepessoasem2045.

49,7%daspessoasquevivem comdiabetesnão sãodiagnosticadas.850milmilhõesdedólaresdegastosglobaisem saúdecomdiabéticos.

ESPECIALUMAVISÃODOFUTURO

Fonte:AtlasdeDiabetesda InternationalDiabetesFederation (IDF)-2018

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RETINOPATIADIABÉTICA

CONFERÊNCIA

A RETINOPATIADIABÉTICACAUSA CEGUEIRANA VIDA ACTIVA

“A retinopatia diabética é a principal causade cegueira na vida activa”, considera RitaFlores, médicaoftalmologistano Centro Hos-pitalar Lisboa Central e professora na NOVAMedical School. “A retinopatia diabética é umdrama, porque continuaaseraprincipal cau-sa de cegueira e perda de visão na populaçãoactiva. Estas pessoas ficam incapacitadas parao trabalho e acabam porserumacargaparaosistema de segurança social”, refere João Fi-gueira, médico oftalmologista, Centro Hospi-talar da Universidade de Coimbra, investiga-dorno AIBILI, e professornaFaculdade Medi-cina da Universidade Coimbra.

Segundo dados publicados em2015 pelaSo-ciedade Portuguesade Oftalmologia, pelo me-nos 25 mil indivíduos têmperdade visão devi-do à diabetes e 13 mil estão cegos por Retino-patia Diabética em Portugal. Todos os anosmais de 3 milpessoas cegamde formairrever-sível no nosso país devido aestadoença.

Avisão e o olho são, muitas vezes, subvalo-rizados porque é um órgão pequeno, não éconsiderado vital porque a vida de uma pes-soa não depende dele. “Mas se perguntarmosaum diabético qual é acomplicação que maisteme é a cegueira ou falta de visão”, sublinhaJoão Figueira.

O que adiabetes faz ao olhoHávários tipos de diabetes, mas é o aumen-

to de glicemia, do açúcarno sangue, que pro-voca as grandes complicações oculares aoatingir um tecido muito específico do olho,que é aretinopatiadiabética. “Tem um envol-vimento mais central, emque predominamosfenómenos de edema macular, ou mais peri-

férico, predominam as complicações da is-quemia”, explica Rita Flores. No primeirocaso, “a incompetência dos vasos da retina,que deixam de funcionar correctamente, epermitem extravasar líquido do seu interiordesses vasos para o espaço da retina, o queprovoca o espessamento e o edema da reti-na”, resume João Figueira. No caso da isque-miadá-se aé oclusão destes vasos, que ficamsemsangue e aretinasemnutrição o que pro-

vocaaisquemia, aretinopatiadiabéticaproli-ferativa. “O edema macular e a retinopatiadiabéticaproliferativasão as principais causasde perda de visão nestes diabéticos”, concluiJoão Figueira.

Este professor universitário e investigadoralerta para o facto de que muitas vezes estesdoentes poderem ter edema macular ou for-mas isquémicas, e não tersintomas. “É impor-tante identificar essas pessoas, mesmo semsintomas, para que se possa fazer atempada-mente os tratamentos disponíveis, que se mo-dificaram muito nos últimos tempos e quedão outra esperança e outros resultados emtermos funcionais paraestes doentes”, assina-la João Figueira.

Nagénese estáadiabetes“A diabetes é uma doença heterogénea, e

complexa. Dizemos, até, que a diabetes não éuma doença mas um saco onde metemoshoje todo um conjunto de situações que secaracterizam pela glicemia elevada”, explicaJosé Manuel Boavida, médico endocrinologis-ta e Presidente da APDP. “Na sua origem ha-veráseguramente muitos genes, que têm vin-do a ser identificados, mas não mostram cla-ramente uma possibilidade de identificaçãoprecoce”. ParaJoão Figueira, “adiabetes atin-ge uma larga população, é uma doença cruelporque não dói, e são as complicações dadia-betes é que nos trazem os grandes problemascomo as amputações, os enfartes, os AVC, ainsuficiência renal. É uma doença com umpeso muito grande em termos sociais, de gas-tos de saúde, e é doençaque tem de serabor-dada de uma forma multidisciplinar”.

É a complicaçãomais temida pelos doentes diabéticos. Por: Filipe S. Fernandes

II

ESPECIALUMAVISÃODOFUTURO

ADIABÉTICODETIPO 1 , que surgeem doentes mais jovens, é caracteriza-da por uma destruição autoimune dascélulas no pâncreas e conduz a umadeficiência grave de insulina. Em ter-mos de visão, merecem uma atençãoespecial na vertente isquémica. Podemter uma acuidade visual, com uma má-cula saudável, sem edema, mas comumas alterações proliferativas muitomarcadas na sua retina periférica.A diabetes é considerada uma pande-mia, atinge uma população mais idosae caracteriza-se por doenças que variada resistência à insulina, à deficiência re-lativa de insulina. Os doentes de tipo 2sãomais idosos, têm uma vertente edo-matosa mais agressiva do que as com-plicações proliferativas, que tambémpodem aparecer mas que, de uma for-ma geral, não são tão agressivas.

Os tipos de diabéticose a visão

JoséManuelBoavida, Médico Endocrinologista e Presidenteda Associação Protectora dosDoentesDiabéticos

NoDiaMundial da Retina, 29 de Setembroo Jornal deNegócios a Sábadoe a Optivisão realizarama Conferência Retinopatia Diabética – UmaVisão deFuturo, uma iniciativa que reuniu especialistas

para debater esta que é a principal causa de cegueira em idade activa.

25% DOS DIABÉTICOSPODE TERRETINOPATIADIABÉTICA

A diabetes é uma pandemia e, além damortalidade elevada, «continua a ser rele-vante pela morbilidade associada de outrasdoenças e complicações, como retinopatiadiabética», referiu Marco Dutra Medeiros,Médico Oftalmologista, CHLC; APDP; NOVAMedical School.“A nível mundial com base em dados entre1980 a 2008, a prevalência global de reti-nopatia diabética foi de 35%, mas é funda-mental perceber que o estudo se baseia emestudos com métodos de inclusão diferen-tes nos quatro continentes, tanto em idadescomo em tempo com a doença da diabetes.A retinopatia diabética proliferativa, e que éa mais agressiva e que se não for tratadaleva à cegueira, tem uma prevalência totalde 7% e o edema ocular diabético de 6,8%”,referiu Marco Dutra Medeiros.Em relação a Portugal, Marco Dutra Medei-ros citou vários estudos. O ‘Estudo de pre-valência, incidência e progressão da retino-patia diabética e edema macular diabéticona região de Lisboa e Vale do Tejo’ (Retino-diab), que foi publicado em 2015, apresen-tava uma prevalência de 16,3% ao nível deretinopatia diabética global. Um outro estu-do feito no âmbito da APDP em se chegavaa uma prevalência em torno dos 20%. Nasprevisões do GER – Grupo de Estudos daRetina, de que é presidente José Henriques,a prevalência cifra-se em torno dos 25%.

O estudo da RetinodiabO estudo da Retinodiab juntou a AssociaçãoProtectora dos Diabéticos de Portugal(APDP) e a Faculdade de Ciências Médicas,para aferir a prevalência da retinopatia dia-bética em Lisboa e Vale do Tejo. Foi feito apartir de 103 mil retinografias feitas entre

2009 e outubro de 2014, que correspondema cerca de 53 mil pessoas rastreadas atravésdo programa de rastreio da retinopatia dia-bética implementado pela APDP desde2008, tendo sido validadas 96 mil retino-grafias, “o que demonstra a qualidade dorastreio”, refere Marco Dutra Medeiros.A retinopatia diabética foi referenciada em6,1% das pessoas, que «tiveram que ir parauma consulta da especialidade no hospitalcentral ou no hospital da área de modo aserem monitorizados de forma mais aper-tada e mesmo submetidos a algum tipo detratamento».Foi feito um estudo de incidência de pro-gressão, nesse mesmo rastreio, que envol-veu 110 mil retinografias classificáveis, vali-dadas em 57 mil doentes. A incidência cu-mulativa começou em 4,6% e, no final decinco anos, era de 15%. «É uma patologiaque de ano para ano aumenta de risco deagravamento, por isso os doentes têm deestar sensibilizados para a doença e para orastreio», concluiu Marco Dutra Medeiros.

A importância do rastreioEste estudo e a prática efectiva em ou-tros países mostra que a eficácia e oefeito a médio e longo prazo da im-plementação de um rastreio rigorosoe efectivo. Os países de referênciasão, não só os nórdicos, como oReino Unido. Este começou, nosanos 60, a fazer o rastreio da re-tinopatia diabética de formanacional e transversal. Compa-rando os biénios 1990-2000 e2009-10 conclui-se que no bié-nio 2009-10, pela primeira vez,a retinopatia diabética não foi

a primeira causa para o atestado de incapa-cidade para cegueira visual em idade activaem Inglaterra e País de Gales, passados 40anos da implementação do rastreio. “Quan-do implementamos políticas públicas ao ní-vel da diabetes e da retinopatia diabéticanão é expectável ter resultados a 3 ou 4anos, estes resultados que só serão visíveis a

médio e longo prazo,a 10, 20

ou 30 anos”,concluiMarco DutraMedeiros.

“NASPESSOAS com mais de 60 anostemos uma prevalência próxima dos30% de diabetes, o que são númerosassustadores ”, diz José Manuel Boavi-da, médico endocrinologista e presi-dente da APDP (Associação Protectorados Doentes Diabéticos). Recordouque a diabetes passou de uma preva-lência de 3% no anos 1980 para 13%, se-gundo um estudo de 2009 feito pelaDirecção-Geral da Saúde. Adianta que“a incidência da diabetes em Portugaltem a alguma estabilidade mas comnúmeros elevados que não se vão re-duzir nos próximos anos”.José Manuel Boavida refere que a dia-betes que aparecia depois dos 60anos, hoje aparece aos 30 /40 anos. Oque quer dizer é que as pessoas vão vi-ver trinta ou quarenta anos com diabe-tes em vez dos quinze ou vinte anos”.

Diabetes em Portugal

III

Hojenomundoexistemmaisde450milhõesdediabéticosea diabeteséa doençamaismortal com5milhõesdemortosporanocontra 1,5milhõescomHIVou a tuberculose.Por: Filipe S. Fernandes

Marco DutraMedeiros, Médico Oftalmologista, CHLC; APDP;NOVAMedical School

O RASTREIO É A CHAVEPARA O TRATAMENTO

“O tratamento de diabetes é umpouco como um iceberg. Metade dapopulação é diabética, se a que sabeé silenciosa, a que não sabe é pior”,diz João Figueira. “Por isso temos deencontrar fórmulas para encontrarprecocemente as pessoas que sãodiabéticas e que não o sabem e tra-zê-los para o sistema de controlo eterapêutico para evitar mais tarde ascomplicações”.“A retinopatia diabética tem umafase geral, que existe em muitosdoentes e que é a retinopatia diabé-tica não proliferativa, que é uma faseinicial e que não tem consequênciaspara a visão. Não tem sintomas, temumas queixas vagas, e, por isso, éenganosa para o doente. De repente,pode, em qualquer altura da sua dia-betes, pode aparecer o edema ma-cular e a retinopatia proliferativa”,descreve José Cunha-Vaz, Coorde-nador, Secção de Retinopatia Diabé-tica e de Doenças Vasculares da Re-tina do EVICR.net.

Obrigação de rastreioMas para João Figueira, “é uma obri-gação do sistema de saúde encon-trar essas pessoas”. E este tem deencontrar modelos para fazer o ras-treio. A monitorização da retinopatiadiabética consiste num controloanual através de uma consulta oftalmoló-gica, o que tem um carga e um custo ele-vado tanto para o doente como para o sis-tema porque têm de ir a centros referen-ciados em oftalmologia para fazer essecontrolo.Por outro lado, também o rastreio tinhauma estrutura pesada, como recorda JoãoFigueira. “Países como os escandinavos eo Reino Unido, por exemplo, desenvolve-ram um programa de rastreio de retinopa-

tia diabética. Estes baseiam-se em visuali-zar a retina, tirar uma fotografia que de-pois é analisada por pessoas com essacompetência, que vão fazer a classificaçãoe determinar quem tem retinopatia e setem necessidade de tratamento”.

O RetmarkerEm Portugal existe o Retmarker, umatecnologia de Inteligência Artificial quefoi desenvolvida no AIBILI, e, num estudo

independente inglês, foi comparada comoutros sistemas e “foi a que teve melhorperformance”, referiu João Figueira.Desde 2011 que está instalado em algu-mas ARS do Centro e Vale do Tejo (2016) eestão a aplicar este sistema de classifica-ção automática. Faz a seriação de doentese 85 a 90% dos doentes que vão a um ras-treio, em média, não têm retinopatia.Os restantes 10 a 15% em que foi detecta-da a doença são tratados por especialis-tas e estes decidem as que têm de ser tra-tadas que têm edema macular e retino-patia diabética proliferativa.

A tecnologia, nomeadamente com base na inteligência artificial, está ajudar amelhorar o rastreio da retinopatia diabética. EmPortugal foi desenvolvido oRetmarker, umametodologia de Inteligência Artificial que foi desenvolvida noAIBILI, e, num estu-do independente inglês, foi comparada com outros sistemas e “foi a que tevemelhor performance”, referiu João Figueira.Por: Filipe S. Fernandes

João Figueira, Médico Oftalmologista, CHUC, AIBILI;FaculdadeMedicina da Universidade Coimbra

EMSETEMBROdeste ano a Direcção-Geral Saúde emitiu as Normas deOrientação Clínica para a realização dorastreio da retinopatia diabética, quedefinem o esquema de seguimento eorientação até ao tratamento, que im-plica a criação de centros de diagnós-tico e tratamento integrado (CDTI).Os exames devem ser realizados porprofissionais de saúde treinados natécnica de retinografia, preferencial-mente técnicos de diagnóstico e ras-treio.Consiste em duas fotografias, umacentrada na mácula e outra na pupila.O retinógrafo deve ter câmara não mi-driática, para que não seja necessáriaa dilatação da pupila, e os dados de-vem ser colocado na plataforma digi-tal da gestão da retinopatia diabética.O Programa nacional da diabetes temcomo objectivo que, em 2020, todosos diabetes em Portugal, independen-temente da sua residência tenhamacesso ao rastreio da retinopatia dia-bética e está pode ser uma forma deajudar a cumprir a meta.

Comodeve ser o rastreio

ESPECIALUMAVISÃODOFUTURO

IV

O primeiro passo no tratamento da retino-patia diabética foi a utilização e a generali-zação do laser. “Era a arma terapêuticacontra a retinopatia diabética”, assegurouRita Flores. Provou-se eficaz no tratamentodos doentes diabéticos, tendo sido aplicadana periferia da retina, destruindo as áreasisquémicas. “Até há 10 anos, também seaplicava na região central para reduzir oedema, poupando os 500 micra centrais,que é a zona mais nobre que deve ser priva-da de fotocoagulação”, explica Rita Flores.«O laser era muito económico mas não eramuito bom. Os estudos mostram que comlaser perdia-se menos visão mas raramentese ganhava visão. Dizíamos aos doentes: senão fizer laser vão cegar mais depressa»,recorda João Figueira.

A mudança de paradigmaA partir de 2005, surgiram fármacos injec-táveis intravítreas, com a função de baixar

os níveis e na redução do edema macular. Otratamento do edema macular com intraví-treo foi eficaz e trouxe a esperança no con-trolo a longo prazo no tratamento destesdoentes, assinala Rita Flores. Um plano deinjecções, mesmo agressivo, implica, noprimeiro ano, cerca de 7 injecções, mas trêsanos seguintes, são suficientes uma a duasinjecções. Os doentes ficam relativamentecontrolados a partir do quarto ano.As injecções vieram mudar o paradigma,garante João Figueira. “Os doentes sãoinjectados e muitos melhoram a sua vi-são”. “Hoje deixou-se praticamente deutilizar o laser nos edemas, é marginal”,refere Rita Flores.“O laser tem também alguma eficácia nocontrolo da isquemia periférica”, asseveraRita Flores. Para a doença proliferativa, olaser ainda é uma realidade mas que podeser feito com tratamentos de associação.Existem outros fármacos que têm um papel

no tratamento do edema macular diabéticoque são os corticóides de aplicação intraví-trea. E a cirurgia surge para as complicaçõesdo hemovítreo e o deslocamento de retinatraccional.Em termos de custos, os novos fármacostêm impacto para o sistema de saúde. Se-gundo João Figueira, “o laser custa 15 mileuros e da para tratar os doentes todos deum hospital durante 15 anos. Mas com as in-jecções gasta-se 15 mil euros num mês emtratamentos no hospital”. Contudo com-pensa pois trata-se de “população activaque vai melhorar a sua capacidade de visãopara trabalhar e pagar impostos, vai evitarmais casos de cegueira, com a carga fami-liar, social, psicológica que acarreta”.João Figueira insiste que se a retinopatiadiabética “for tratada precocemente nãovai ser necessário passar para as cirur-gias, para coisas mais complexas queainda vão ser mais caras”.

O MILAGREDOS FÁRMACOSINJECTÁVEIS

José Cunha-Vaz, coordenador da secção de Retinopatia Diabética e de Doenças Vasculares da Retina do EVICR.net, professorcatedrático emérito de Oftalmologia da Universidade de Coimbra, e presidente da AIBILI - Associação para Investigação Bio-médica e Inovação em Luz e Imagem

Futuro

V

Como tratamento a laser tentava conter-se a perda de visão, com os fármacos in-jectáveis intravítreas pode recuperar-se a visãoPor: Filipe S. Fernandes

Rita Flores, Médica Oftalmologista, CHLC,NovaMedical School

AINVESTIGAÇÃO em cursoque se procura caracterizarmelhor os diferente fenótiposde retinopatia diabéticavem permitir, pela primeira vez,identificar os doentes cujaretinopatia diabética oferecerisco de progressão e podedesenvolver complicações,edema e/ou proliferação vascular.Só cerca de um quartodos pacientes que têm lesõesde retinopatia diabéticadesenvolvem estas complicaçõesnum períodode 5 anos.

“Hoje em dia com a rede de ópticas, jácom mais de 2 mil optometristas espa-lhados pelo país, é uma rede com umacapilaridade interessante, de fácil aces-so à população em geral, é um meiofundamental, rápido, simples, fácilacesso, para este rastreio e para umdiagnóstico muito precoce”, refere Elí-sio Lopes, optometrista na OptivisãoMarinha Grande, durante a mesa-re-donda “Saúde Visual: Proteger a Visãopara o futuro”, que foi moderada porAndré Veríssimo e contou ainda com apresença de Arnaud Lambert, CEO daaiVision health, e Sérgio Cabanas, di-rector tecnologias de informação evice-presidente da Associação Nacionalde Ópticas (ANO).O optometrista é um profissional decuidados básicos de saúde visual. “Paraalém de prescrever e executar as próte-ses visuais como os óculos também fazuma despistagem e o rastreio de outrosproblemas. Se estes existirem deve en-caminhar obrigatoriamente para os mé-

dicos especialistas, os oftalmologistas”,considera Elísio Lopes.A proximidade e a facilidade com quese chega a um optometrista ou ópti-co–optometrista para fazer um exameoptométrico até pela capilaridade darede de ópticas. «Actualmente cerca de20% a 25% dos consultórios de Opto-metria em Portugal têm retinógrafos, eaproximadamente metade deste já fa-zem a avaliação das imagens obtidascom recurso a inteligência artificial,através de um protocolo estabelecidoentre 3 entidades portugue-sas a AIBILI, a RetMarker ea I3O», como adianta SérgioCabanas.

Mais idas ao optometristaOs privados podem ter umpapel nas campanhas desensibilização para rastreioda retinopatia diabética ede outras doenças do olho.Mas é necessária uma maior

articulação entre optometristas e oftal-mologistas, e a integração da rede deoptometristas na rede de cuidados desaúde primários da visão. Como diz Elí-seo Lopes, “dos 13% de diabéticos emPortugal um terço foi ao oftalmologista,mas se calhar mais de metade já foi aooptometrista”.“A retinopatia diabética tem de ser dia-gnosticada por um médico oftalmolo-gista, mas o rastreio da população noque se refere à retinopatia diabéticatem de ser alargada e não ficar apenasfocada nos oftalmologistas”, defendeArnaud Lambert.No entanto, José González-Méijome,optometrista e professor e investigadorda Universidade do Minho, tem umaideia diferente.Em entrevista por e-mail, explicou quenenhuma alternativa deve ser excluída,desde que beneficie o acesso dos uten-tes ao rastreio, mas os optometristasdeveriam estar no Sistema Nacional deSaúde para se poder articular melhorcom toda a rede de cuidados primáriose especializados da visão e poder assimdesenvolver o seu máximo potencial naluta contra esta patologia que pode pre-judicar muito severamente a visão”.

O PAPELDOS PRIVADOSNO RASTREIOEm Portugal as ópticas com serviços de optometria temmuitos anos e prestam umserviço de cuidados primários da saúde da visão ao nível da retinopatia diabética,do glaucoma edeoutras patologias.Por: Filipe S. Fernandes

VI

ESPECIALUMAVISÃODOFUTURO

OsNúmeros

AndréVeríssimo, ArnautLambert, Elisio Lopes e Sérgio Cabanas na mesa redonda“SaúdeVisual: Protegera Visão para o futuro”

20% a25% dos consultóriosde Optometria em Portugaltem retinógrafos

3mil lojas na rede nacionalde ópticas

2mil optometristas

2milhões de consultasfeitas pelos optometristas

200mil consultasde oftalmologia em lista de espera

Para Arnaud Lambert esta presença da tec-nologia é muito relevante porque “Nos pró-ximos 25 anos vai haver um aumento de54% de diabéticos, e, simultaneamente, te-mos o número de oftalmologistas a crescer2%, e ainda por cima, com uma má reparti-ção geográfica destes especialistas”. Acres-centa que “a componente técnica consisteem obter a imagem ou a fotografia do fundodo olho e não é necessário que seja feita porum oftalmologista”. Entende que com algu-ma formação os profissionais de saúde po-dem operar com esta tecnologia.Em França para obter um rastreio de reti-nopatia diabética pode demorar entre 6 e 8meses para se ter uma consulta de oftal-mologia. O tempo médio fora dos grandescentros em Portugal é de mais de 12 meses.“A aivision consegue que o exame feito sobprescrição de um médico de clínica geraltenha em 12 dias os resultados e o diagnós-tico”, refere Arnaud Lambert.

Retinógrafos nas ópticas“Entre 10% a 20% das óp-ticas a nível nacional de-vem estar equipadas comretinógrafo, que representaum investimento mínimode dez mil euros, e que de-pois aumenta em valorconforme o grau de sofisti-cação dos equipamentos”,diz Sérgio Cabanas, que fazparte da direcção da Asso-ciação Nacional dos Ópti-cos que representa o maiornúmero de ópticas a nívelnacional. A rede nacionalde ópticas, cerca de 3 mil, onde estão opto-metristas, tem uma proximidade mais di-recta das populações, estando algumas li-gadas à Retmarker. Outras, como a redeOptivisão relacionam-se com AivisionHealth, uma start-up de origem francesa.

Tudo numa máquina“A inovação que a aivision traz é dupla”,

diz Arnaud Lambert. A primeira compo-nente é acelerar o diagnóstico, com algorit-mos de inteligência artificial, que foramtrabalhados com professores de oftalmolo-

gia e de matemática apli-cada à retina de faculdadesde universidades francesase, simultaneamente, rein-ventar todo o acesso aocuidado de saúde que opaciente diabético vai ter eabrir o caminho do rastreioa outras áreas fora do gabi-nete do médico oftalmolo-gista.“A tecnologia está a evoluirde uma forma bastante rá-pida e os equipamentosque vão ficando disponí-veis na área da óptica e daoftalmologia são cada vez

mais eficientes e exactos a fazer as medi-ções e mais facilitadores para os especialis-tas”, assinala Sérgio Cabanas.A outra tendência é que os vários equipa-mentos se integrem numa única máquina.“Antigamente tinha de se ter um retinó-grafo, um aparelho para medir a tensãoocular, uma máquina para fazer um exa-me refractivo, para tirar um topografia oumapa da córnea. Hoje estes começam aser integrados num único aparelho. Au-menta o preço mas reduz o investimento”,conclui Sérgio Cabanas.

O IMPLUSO DA TECNOLOGIAAs tecnologias digitais e a inteligência artificial têm umpapel cada vezmais central no rastreio e diagnóstico precoce dasdoenças doolho, nomeadamente, a retinopatia diabética. Por: Filipe S. Fernandes

VII

“ATECNOLOGIA aiVision visa re-duzir a cegueira evitável pelo queabrange o Patient Pathway “FluxoPaciente?” completo desde da pre-venção, passando pelo diagnósticoautomático até à monitorização dotratamento. A nossa tecnologia per-mite melhorar a coordenação doscuidados de saúde entre todos osprofissionais de saúde envolvidosno rastreio das doenças retinianas(oftalmologistas, médicos de clínicageral ou endocrinologistas, optome-tristas e ortoptistas). A aiVision tam-bém desenvolveu um companheirodigital no smartphone do pacienteque permite fazer rastreios oftalmo-lógicos de prevenção de doençasoculares”.

Arnaud Lambert,CEOda

AivisionHealth

O que é a tecnologiaaiVision

ArnaudLambert, CEO, aiVision

Sérgio Cabanas, DirectorTecnologiasde Informação, ANO

A Retinopatia Diabética constitui aprincipal causa de cegueira na popula-ção profissionalmente activa. Este factoé gravíssimo, não só pelas suas implica-ções pessoais, sociais e económicas, mastambém, porque poderia ser evitado, sefosse diagnosticado e tratado atempada-mente. O rastreio da Retinopatia Diabé-tica é a forma economicamente menosdispendiosa e a mais efectiva para al-cançar o objectivo de um diagnósticoprecoce.

O papel do optometristaO Optometrista é um profissional habi-

litado a examinar e avaliar o sistema vi-sual. Sendo um especialista no diagnós-tico e compensação, através de prótesesoculares, de alterações visuais de origemrefrativa. Assim, é um prestador de cui-dados primários de saúde visual queprescreve soluções para melhorar o de-sempenho visual, contribuindo destaforma para a melhoria da qualidade devida das populações.

Em Portugal, o papel do Optometristaassume uma importância ainda maior nasociedade, uma vez que o Sistema Na-cional de Saúde (SNS) não apresentauma estrutura capaz de responder à pro-cura dos seus utentes.

Verificando-se que a acessibilidade aosserviços especializados continuam a serum grave problema, quer pela presença

muito reduzida de Optometristas no SNS, quer pelo acesso aos Serviços de Oftal-mologia, provocando listas de esperainadmissíveis.

A prestação dos cuidados primários desaúde visual realizada pelos Optometris-tas apresenta claros benefícios para oSNS, não só pela proximidade e facilida-de de acesso das populações , como pelatriagem que executa.

O rastreioA retinografia não midriática é um exa-

me também realizado por Optometristas,que permite captar um conjunto de ima-gens do fundo do olho, e que posterior-mente são analisadas por oftalmologis-tas. Se diagnosticada a Retinopatia Dia-bética, a pessoa é informada e aconse-lhada a visitar o seu Médico de Famíliaou o seu Oftalmologista. Este tipo de

exame diagnostico é bastante eficaz, edada a capilaridade da rede de Ópticasem Portugal, poderá ser o melhor meiopara a realização do rastreio da Retino-patia Diabética.

Elísio Lopes é licenciado em Física-Aplicada (RamodeOptometria) pela Uni-versidade da Beira Interior , e optometrista na Optivisão daMarinha GrandePor: Filipe S. Fernandes

A prestaçãodos cuidadosprimários de saúdevisual realizadapelos Optometristasapresentaclaros benefíciospara o SNS

Elísio Lopes

SEGUNDOJosé González-Méijome, op-tometrista e professor e investigador daUniversidade do Minho, “a rede de cui-dados primários de saúde visual em Es-panha conta com o contributo essen-cial dos 17 mil optometristas existentes,tal como no Reino Unido, com os 15 mil,e nos Estados Unidos, com os 35 mil.No entanto, como assinala José Gonzá-lez-Méijome, em Portugal os mais dedois mil optometristas não foram consi-derados na Estratégia Nacional para aSaúde Visual, que esteve recentementeem discussão pública.Este investigador considera que os op-tometristas poderiam libertar os espe-cialistas em oftalmologia de muitas dastarefas rotineiras como os testes dediagnósticos básicos e avançados, re-fracção, prescrição e ajudas ópticas,etc. e “concentrar todo o seu potencialde tratamento médico-cirúrgico naatenção a estes e outros pacientes quetanto precisam deles”.

Optometristas não contamna saúde visual

VIII

ESPECIALUMAVISÃODOFUTURO

A RETINOPATIADIABÉTICANA VISÃODE UMOPTOMETRISTA

Elísio Lopes, Optometrista OptivisãoMarinha Grande