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CONGRESSO DE EDUCAÇÃO BÁSICA:Qualidade na Aprendizagem
COEB 2013
Florianópolis – SC
Fevereiro 2013
Sustentabilidade e Educação no Século XXI:
Desafios e oportunidades da democracia socioambiental
Gustavo F. da Costa Lima
1. Objetivos
1. Discutir a relação entre educação e sustentabilidade em contextos escolares destacando:
1.1.O caráter político do ato educativo;
1.2. A relação entre escolas e movimentos sociais;
1.3. Os potenciais da educação ambiental em contextos escolarizados;
2.Roteiro
1.Introdução;
2. Educação política para a sustentabilidade;
3. A contribuição da sociedade civil;
4.Os potenciais da EA em contextos escolarizados;
5.Considerações finais
1.Introdução• Múltiplas crises sociais, éticas e ambientais convocam a
educação;
• Educação tem papel relevante na mudança, mas não todo poder nem velocidade de resposta exigida;
• Relação entre educação e sustentabilidade se intensifica na RIO 92 e desdobramentos: Tessalônica 1997, Joanesburgo 2002 – Década EDS – 2005-2014;
• EDS levantou controvérsias e produziu reação de educadores ambientais de países em desenvolvimento;
1.Introdução• Para estes, DS era noção ambígua, economicista e
contraditória: como educar para algo tão vago?
• Concluem que nova proposta é retrocesso à educação socioambiental já existente em países periféricos como Brasil;
• Trata-se, portanto, de desconstruir a nova proposta de EDS e qualificá-la: o que significa educar para o DS? Reprodução ou transformação?
• A constatação de que o DS e a EDS supõe uma disputa pelo significado legítimo e pelo direito de conduzi-los evidencia seu caráter político;
2. Educação política para a sustentabilidade
• Se vivemos em contextos de crise social e ambiental: desigualdade, baixa participação, ética escassa, degradação ambiental, mudanças climáticas etc, desejamos transformar, não conservar as crises;
• EDS supõe projeto social que passa necessariamente por ética e política:
• Que sociedade desejamos?
• Sustentar o que? A economia, o ambiente, a dignidade humana?
• Para quem? Para alguns ou para todos?
• Como? Por via democrática ou autoritária?
2. Educação política para a sustentabilidade
• Ecologia política entende a crise e os problemas ambientais como conflitos entre interesses públicos e privados;
• Trata-se do acesso e uso dos recursos naturais: água, ar/atmosfera, terra, florestas, espaços de convivência, cidades, etc;
• Os problemas ambientais não são problemas da natureza, são problemas da sociedade que se manifestam na natureza e no ambiente;
2. Educação política para a sustentabilidade
• Educação política supõe qualificar a sustentabilidade;
• Diferenciar os diversos projetos sociais e os modelos de desenvolvimento pretendidos:
• em seus objetivos: visam conservar ou transformar?
• em suas orientações pedagógicas: adestrar ou estimular a autonomia e a crítica?
• em seus interesses e valores: públicos-privados, ênfase ética ou técnica, competição ou cooperação ?
3. A contribuição da sociedade civil• Sociedades capitalistas contemporâneas são regidas pela
esfera econômica:
• Pautadas pela mercantilização de quase tudo, onde consumo define a cidadania, as identidades, orienta os desejos e sonhos de felicidade, por valores de competição, eficiência, aquisitividade e individualismo;
• Globalização pós 1980 gerou duplo movimento de expansão do mercado e retração do Estado;
• Desponta importância da sociedade civil e MS como meios de conter excessos e omissões das outras esferas em defesa do público não-estatal e da democratização da sociedade e do Estado;
3. A contribuição da sociedade civil• Neste contexto, faz sentido aproximar escolas dos MS e da defesa
das causas públicas;
• EA é herdeira direta dos MS ambientalistas;
• Na ação educativa formal é possível:
• Promover parcerias, visitas, palestras, dias de campo e atividades comunitárias com diversos MS: ambientais, operários, rurais (MST), feministas, étnicos, de juventude, sem teto, etc;
• Também inserir MS como temática no currículo, estudando: o que são? Por que existem? Quais seus objetivos? Seu papel político e pedagógico? Sua relação com a educação e o ambiente?
• Supõe compromisso com cidadania e com esfera pública;
4.Os potenciais da EA nas escolas• Há caminhos possíveis de promover sustentabilidade nos currículos,
nos projetos e nas práticas escolares;
4.1.Há, em primeiro lugar, o desafio de superar os limites disciplinares, na direção da interdisciplinaridade:
• São obstáculos institucionais, culturais, epistemológicos, metodológicos e políticos de médio e longo prazos:
• Nas escolas, secretarias de educação, políticas públicas, na formação docente, na construção do conhecimento, nas universidades e no livro didático ainda prevalece o paradigma disciplinar, apesar do discurso renovador;
• EA não é só tarefa da biologia e da geografia, mas de todas as disciplinas e formas de conhecimento: de senso comum, tradicional, artístico e religioso;
4.Os potenciais da EA nas escolas4.2. Há o desafio de articular teoria e prática – práxis – incorporando a cultura, o
ambiente e os problemas locais;
• A construção da sustentabilidade não transita só pelo discurso, supõe mudanças valorativas, culturais e atitudinais. Ou seja, novas formas de ser e de estar no mundo;
• Quanto ao currículo importa considerar não só a seleção dos conteúdos definidos, mas todas as mensagens veiculadas no ambiente escolar: nas relações sociais, no espaço, nas práticas e rituais cotidianos, nas relações com a comunidade;
• Por outro lado, o currículo é inseparável da sociedade onde a escola está imersa e precisa dialogar com ela e se posicionar frente aos problemas sociais e culturais relevantes;
• O currículo, portanto, supõe, diferentes concepções de sociedade, de ser humano e de direitos (cidadania), de educação, de conhecimento, de desenvolvimento, de meio ambiente, de trabalho, e de ética;
4.Os potenciais da EA nas escolas• Inserir a sustentabilidade no currículo supõe, portanto:
• Trazer para o cotidiano da escola os problemas socioambientais presentes na realidade;
• Envolver a comunidade escolar no debate sobre esse tema;
• Promover a formação de professores para a abordagem do tema;
• Articular e apoiar as ações/projetos dos professores;
• Estimular as trocas e o diálogo entre os professores;
• Usar espaço escolar e seu entorno como laboratório de projetos através do lixo, coleta seletiva, reciclagem, compostagem, mini-viveiros de mudas, da pesquisa sobre a biodiversidade local, atual e histórica, horta e alimentação orgânica;
4.Os potenciais da EA nas escolas• Os projetos são instrumentos relevantes que permitem:
• Articular a escola e o currículo com a sociedade e os problemas socioambientais;
• Um aprofundamento das questões abordadas, evitando a abordagem pontual;
• Exercitar a pesquisa, o planejamento, a construção coletiva, a participação, o aprendizado pela experiência, a relação entre teoria e prática, o pensamento crítico, a transversalidade do saber, a problematização de conteúdos significativos e vivos, o desenvolvimento de múltiplas competências, o contato com a comunidade e os problemas locais;
• Desenvolver-se em diferentes escalas e tempos: integrar toda a escola, relacionar a escola e a comunidade, ocorrer em turmas ou grupos de alunos em prazos curtos, médios ou mais longos e produzir resultados palpáveis;
4.Os potenciais da EA nas escolas• Alguns exemplos de macro-temas para projetos socioambientais:
• O consumo e suas implicações;
• A agricultura e os agrotóxicos;
• O clima urbano e suas mudanças;
• Viver nas cidades;
• A água como base da vida;
• Os resíduos sólidos nas sociedades industriais;
• As populações tradicionais e sua relação com a natureza;
• A evolução sócio-histórica e ambiental do bairro;
• Os MS ambientalistas;
• Saúde e meio ambiente;
• População (demografia) e meio ambiente;
• A mobilidade nas cidades;
• Florestas, UCs, bio e sociodiversidade;
• Diagnóstico do bairro ou do entorno escolar;
4.Os potenciais da EA nas escolas• Com relação às práticas escolares importa que estimulem: o diálogo,
a participação, a interação entre disciplinas, a problematização, a autonomia e o trabalho em equipe;
• As práticas podem ocorrer dentro da escola, fora dela ou em associação entre turmas da escola;
• Como vimos a pedagogia de projetos permite desenvolver múltiplas habilidades e competências;
• De acordo com esses princípios básicos as práticas escolares voltadas à sustentabilidade podem desenvolver:
1. Pesquisas, levantamentos e/ou experimentos sobre temas socioambientais;
2. Debates e júris sobre temas ambientais controversos;
4.Os potenciais da EA nas escolas3.Parcerias: visitas ou convites a entidades e pessoas significativas
como:
• a comunidade de pais;
• comunidades tradicionais remanescentes – indígenas, quilombolas, caiçaras, extrativistas;
• assentamentos de reforma agrária;
• unidades de conservação, parques públicos, jardins botânicos e zoológicos, trilhas e passeios orientados;
• estações de tratamento de água e esgoto;
• aterros sanitários e lixões;
• unidades de geração de energia: convencionais e renováveis;
• Unidades fabris selecionadas;
• Sindicatos, MS e ONGs;
• Associações de catadores;
• Especialistas vinculados ao tema em questão;
4.Os potenciais da EA nas escolas4.Coordenar ações dos alunos: campanhas, abaixo-assinados,
mobilização junto aos pais, demandas a autoridades;
• Assim, currículo, projetos e práticas escolares precisam dialogar e guardar coerência quando pesquisam e refletem sobre os problemas socioambientais, articulando teoria e prática, o espaço intra e o extraescolar, o indivíduo, a escola e a sociedade, a ecologia e a política;
• Em todas essas atividades e contextos interessa: exercitar pensamento autônomo/crítico, a complexidade dos problemas, conhecer sua história, os interesses e objetivos que as motivam, os impactos que geram e eventuais conflitos;
4.Considerações finais• A educação e a EA são múltiplas e têm diversos
caminhos possíveis que servem a diferentes objetivos sociais e pedagógicos;
• Creio, contudo, que as crises expostas ao degradarem os indivíduos, a sociedade e o ambiente impõem respostas transformadoras;
• Me parece que esse projeto pedagógico transformador tem três condições mínimas: espírito crítico, abordagem complexa e participação democrática.
Referências bibliográficas• ACSELRAD, H. Cidadania e meio ambiente. In: ACSELRAD, H. (org.). Meio Ambiente e
Democracia. Rio de Janeiro: IBASE, 1992.
• BOURDIEU, P. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
• CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004.
• CAVALCANTE, L.O.H. Currículo e educação ambiental: trilhando os caminhos percorridos, entendendo as trilhas a percorrer. In: FERRARO JR, L. A. Encontros e caminhos: formação de educadoras (es) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA/DEA, 2005.
• COHEN, J. Sociedade civil e globalização: repensando categorias. Dados v.46 n.3 Rio de Janeiro, 2003.
• GOHN, M. da G. Movimentos sociais e educação. São Paulo: Cortez, 2012.
• LIMA, G. F. da C. O discurso da sustentabilidade e suas implicações para a educação. Ambiente & Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, vol. 6, nº 2, jul/dez, 2003.
• ______________. Educação ambiental e movimentos sociais: do conservacionismo ao socioambientalismo. In: PEGADO, J. A. e FLORENTINO, H. da S. Educação ambiental para o semiárido: Da pedagogia dialógica à sustentabilidade ambiental. João Pessoa, PB: Editora UEPB, 2013 (No prelo).
• MORIN, E. (org). O problema epistemológico da complexidade. Portugal: Publicações Europa-América, 1996.
• VIEIRA, L. Cidadania e globalização. Rio de Janeiro: Record, 2011.
Fim.
Obrigado.